// LIVRO

Gravida do Viuvo Cruel.457Z

Grávida do Viúvo Cruel

Ela é vendida pela família para um mafioso, viúvo, que matou a ex-esposa. Viktoria Aidorov pensa que, algum dia, poderá ser livre como uma borboleta. Acredita que está vivendo presa dentro de um casulo e que, um dia, ganhará asas para se libertar de sua vida e de todos os traumas que carrega. Ela é criada por uma mãe ambiciosa e por um irmão ganancioso, atolado em dívidas e que, acima de tudo, nutre sentimentos impróprios por ela. Viktoria viu sua liberdade escapar pelas suas mãos ao ser prometida em casamento a um pakhan cruel. Mikhail Alekseeva é o pakhan da máfia mais poderosa, conhecido como o “urso da neve de Moscou”. Ele se vê totalmente pressionado pelo conselho a se casar para garantir sua descendência. Com isso, aceita desposar uma mulher mais jovem, inocente e humilde, planejando rejeitá-la antes mesmo de conhecêla.

Capítulo 1
VIKTORIA
Mikhail Alekseeva. Esse é o nome do homem para quem o meu
irmão me vendeu, como uma moeda de troca, para pagar as dívidas
que o consumiam como um vício implacável. Esse homem foi o
responsável pela morte da sua primeira esposa. Um resquício
sombrio de uma vida marcada por tragédias.
Como pode minha família ter me entregado a um ser tão
terrível, a um verdadeiro monstro, que parece ter saído de um
pesadelo? Não tenho outra alternativa. Fui moldada, desde o meu
nascimento, a obedecer a todas as vontades da minha mãe. Meu pai
partiu deste mundo quando eu tinha apenas 5 anos, deixando o meu
irmão mais velho, Leonad, com a posse de toda a nossa família. A
culpa sempre foi uma sombra pesada sobre ele, mas isso não
justifica o seu caráter asqueroso e essência deplorável. Pelo modo
como ele olha para mim, é como se eu fosse apenas um objeto de
desejo, uma posse que ele pode controlar à sua maneira.
Cercada pela insegurança, sempre busquei o abrigo da minha
mãe. Talvez ela saiba o abismo imoral que o seu filho esconde e, por
isso, mantém-me ao seu lado. O ciúme dele comigo e a sua
obsessão em impedir que eu me casasse quando era mais jovem era
comentado. Sempre percebi que a mistura de zelo e possessividade
em seu olhar não é amor fraternal.
No dia seguinte ao meu aniversário de 15 anos, Leonad veio
até o meu quarto. A tempestade rugia lá fora, como se o céu
refletisse a turbulência que se agigantava dentro de mim. Ele se
ajoelhou aos meus pés, implorando para que eu nunca o deixasse.
As trevas em seus olhos revelavam uma perturbação que me
assustava. Apesar de todo o desejo de me esquivar dele, meu corpo
parecia ser feito de pedra e suas mãos me agarravam com uma
força contra a qual eu não podia lutar. Ele repetia, como um mantra,
enlouquecido, que nenhum homem jamais me teria, que eu era sua.
Aquilo não era amor, era um prenúncio de calamidade.
Leonad nunca brincou comigo, como um irmão deveria fazer, e
nunca me abraçou com carinho. Seu olhar sempre carregou algo
tenebroso: um misto de malícia e imoralidade que, por ele, é tratado
como coisa comum.
Naquela noite, a nossa mãe interveio, implorando para que eu
não contasse nada a ninguém, que eu ficasse em silêncio, pelo bem
do meu irmão. Ela disse que a bebida havia distorcido a mente dele
e me prometeu que nada semelhante aconteceria novamente.
Quando eu estava prestes a completar 21 anos, soube que o
meu destino já estava selado: eu me casaria com o chefe da Bratva.
Moscou sempre foi uma cidade gelada, mas nada se compara
ao desespero que consome o meu coração. Estou sufocada dentro
do vestido branco de saia rodada. A cauda enorme se arrasta no
chão, as mangas cobrem os meus braços como grilhões invisíveis, e
a renda, um charme macabro, traz-me pensamentos sobre um
futuro que nunca desejei. A coroa de diamantes, um presente da
avó do meu futuro marido, adorna a minha cabeça com um peso
que só aumenta a cada instante. As palavras dela ecoam na minha
mente:
— Todas as mulheres da minha linhagem a usaram em seus
casamentos.
Então, essa coroa não é apenas um símbolo de status, e ela foi
usada também pela falecida esposa de Mikhail.
A esposa que ele matou.
Por quê? Porque ela era infértil. Porque não podia lhe dar filhos.
O amor deles, aos olhos das leis divinas, não passava de uma farsa.
Se a história que eu ouvi sussurrarem entre as sombras estiver
correta, a morte dela não foi um mero infortúnio, e sim um plano
premeditado que envolveu Mikhail em uma teia de traições e
decisões covardes.
Como é possível que minha própria família tenha me entregado
como uma oferenda, em uma bandeja, a um assassino? Nenhuma
outra família ousaria fazer um sacrifício semelhante, mas a minha
está disposta a tudo, especialmente quando se trata da vida do meu
irmão. Suas dívidas intermináveis com a gangue Orokov ameaçavam
a nossa existência. No desespero, Leonad me vendeu ao primeiro
homem que demonstrou interesse por mim.
A organização do meu casamento foi elaborada pela minha mãe
e pela avó de Mikhail em tempo recorde. Em menos de cinco meses,
tudo já estava decidido, como se eu fosse uma fugitiva prestes a
escapar das garras do próprio destino.
Respiro fundo, tentando reunir coragem. A música envolve o
ambiente, anunciando que a cerimônia está começando. Logo será a
minha vez de entrar na catedral e me unir a um homem cujo o rosto
eu conheço apenas por fotografias. A beleza dele, indiscutível, é
uma faca de dois gumes, porque o pensamento de passar o resto da
minha vida ao lado de alguém tão charmoso e experiente é tanto
um alçapão quanto uma boa promessa.
A preocupação com sua idade me atormenta. Vejo minha prima
casada com um homem dez anos mais velho que ela e percebo a
desarmonia que existe entre eles, assim como o incessante domínio
dele sobre ela e a sua falta de gestos românticos.
Eu também serei condenada a viver com um homem que nunca
poderei amar? Um homem que me afastará do sonho de uma vida
plena e livre?
— Você é a mais perfeita das noivas que Moscou já viu —
minha mãe me assegura, ajustando cada dobra do meu vestido com
uma obsessão meticulosa.
Durante a última semana, ela repetiu continuamente que tudo
precisava estar impecável. Que eu me casaria com um homem
poderoso e que, por ser mais jovem que ele, deveria sempre me
comportar à altura dele.
— Entenda, filha, que toda a sociedade estará de olho em você.
Todos querem saber quem é Viktoria Aidorov. Você será o centro do
mundo, minha querida. Brilhará tanto, que a inveja deles só
aumentará. Minhas amigas nunca poderão casar suas filhas com um
homem tão poderoso e importante quanto o seu marido. Eu, sem
dúvida, serei lembrada por esse feito. — Ela olha fixamente em
meus olhos.
Sei que o seu foco sempre foi a aparência, o status, e não o
quão aterrorizada estou, prestes a me casar para salvar o meu
irmão. Viverei ao lado de um assassino desconhecido.
— Viktoria, queixo erguido. Caminhe para o sucesso, querida.
— Mãe, eu não quero me casar… — minha voz falha e o choro
ameaça me engolfar.
Ela aperta minhas bochechas, em uma advertência silenciosa.
— Se manchar a maquiagem mais uma vez, serei obrigada a te
dar umas palmadas, Viktoria. Chega de bobagens! Sabe que não
pode desistir. A vida do seu irmão depende desse casamento. Graças
a essa aliança, o seu futuro marido quitou todas as nossas dívidas e
elevou o nosso status.
— E o que eu vou me tornar, aprisionada a um homem que
matou a ex-esposa?
— Silêncio! — Ela endurece o olhar, soltando as minhas
bochechas. — Fala como se fosse o fim do mundo se casar com um
bilionário, sua boba.
— Você só se importa com o meu irmão…
— E o que sugere? Cancelar o casamento? Voltar para casa e
viver sob os abusos do seu irmão? Acha que ele iria se controlar
agora, que você é uma mulher feita e atraente? Quem poderia parálo? Você? Eu? Ninguém iria pará-lo. E se você se recusasse a casar,
estaria arruinada. Esse casamento é a melhor coisa que vai te
acontecer. Apenas me agradeça e sorria.
— Mamãe, você sempre soube que o meu irmão me
importunava e ficou em silêncio?
Meu peito se aperta com sua omissão. Em momentos
anteriores, ela me fazia acreditar que Leonad se descontrolava por
causa da bebida, pois não conseguia controlar suas emoções quando
estava embriagado. Mas ela sempre soube; sempre notou seus
olhares predatórios. Quando se trata do seu filho favorito, nada mais
lhe importa.
— Fale baixo. Ou quer que alguém ouça e pense que você é
impura?
— Essa é a sua maior preocupação? O que as pessoas vão
pensar de mim?
— Impura, você não é. Eu jamais permitiria que alguém te
desonrasse.
— Até porque, depois, não conseguiria me vender a alguém no
futuro…
Limpo as lágrimas com cuidado e uso um leque para não
manchar a maquiagem, mesmo que ela esteja suave. Qualquer
imperfeição pode desfigurar o dia que deveria ser o mais importante
da minha vida.
— Estão prontas? Chegou a hora da entrada da noiva. —
Leonad entrará comigo, o meu irmão.
Encolho-me sob o olhar intenso que ele lança sobre mim como
se eu fosse um troféu, uma conquista.
— Quanta beleza. Uma verdadeira fascinação. — Ele me
estende a sua mão, esperando que eu a segure.
Antes de tocar nela, eu preferiria a morte. O simples ato de dar
a mão a ele seria horripilante. Meu corpo congela diante da ideia do
seu toque.
Se há alguém capaz de me deixar mais abalada que a minha
própria mãe, é ele. A cada vez que sou observada por aqueles olhos,
sinto-me como se estivesse desnuda e que os meus receios mais
profundos estão expostos.
Sem paciência, minha mãe toma a minha mão e a coloca na
dele.
— Vão logo com isso. Esse casamento começa agora.
Meu braço envolve o de Leonad involuntariamente. Sou guiada
ao altar sob a pressão de expectativas que pairam como uma nuvem
negra sobre mim.
— Apressem-se. Atrasar-se não é elegante — ela nos
repreende, com seu carão de mãe. — E não se esqueça: sempre use
a base para cobrir essas pintas ridículas que tem no rosto — ela se
refere às minhas sardas de nascença. — Não deixe que o seu marido
as veja, ou ele pode se assustar.
Tenho um bom número de sardas, uma característica por ser
ruiva, e minha pele é muito clara.
Mamãe sai à frente, apressada e orgulhosa, como se estivesse
desfilando a sua vitória. Em segundos, serei eu a entrar.
— Irmã, se não fosse por essa maldita dívida e pela insistência
da nossa mãe em te casar, eu jamais te entregaria a outro homem.
Suas palavras me causaram um profundo nojo. Por um
instante, permaneço em silêncio, como uma sombra indesejada. A
porta se abrirá em breve, então tento me apegar a um pensamento
reconfortante.
“Não tenho o que temer”, insisto para mim mesma. “Ele não
fará nada comigo.”
— O que mais me arrependo nesta vida é do fato de que outro
homem será o seu primeiro, e não eu. — Leonad segura a minha
mão com uma força possessiva. Seus dedos são como garras em
minha pele, provocando-me um tormento que me deixa nauseada.
— Peça a Deus para que eu não mate o seu noivo no altar; a minha
arma está carregada em minha cintura.
Olho-o, apavorada. Ele realmente planeja matar o meu noivo?
— O quê? — minha voz sai em um sussurro quase inaudível.
Estou dominada pelo terror.
— Você vai se casar, mas não pode dormir com ele. Está
proibida de compartilhar a cama com o seu marido. — Leonad está
completamente fora de si. Foge da realidade e ignora o peso de suas
próprias palavras com muita facilidade. — Me prometa, irmã, que
não vai dormir com ele. Ou juro que matarei todos naquele altar,
mas você não será entregue a Mikhail.
Um homem em tal estado de desespero é capaz das mais
loucas atrocidades. Meu coração se aperta com a revelação que ele
me fez.
— Por favor, não faça nada do que possa se arrepender. A
igreja está cercada de soldados do senhor Alekseeva. Se você o
matar, todos nós morreremos: você, nossa mãe e eu. É isso que
quer?
— Inferno! — ele esbraveja e, em seus olhos, eu vejo a chama
da loucura. Leonad sabe que seria a condenação de todos nós se ele
seguisse adiante com o seu plano. — Imaginar que outro a terá, em
vez de mim… Isso me enlouquece.
— Leonad, somos irmãos. Por que me diz essas barbaridades?
Sabe que tudo isso seria impossível.
— Se ao menos nossa mãe estivesse morta, eu seria o seu
tutor e nunca te casaria.
Um arrepio percorre a minha espinha. Ver essa situação por
esse ângulo, como se a presença da minha mãe me salvasse das
atrocidades dele, choca-me, mesmo que eu saiba que o seu amor
por mim jamais se comparará ao que ela sente por ele.
A marcha nupcial começa a tocar, ressoando como um
chamado sombrio.
— Por favor, não mate ninguém — imploro, com a voz
embargada pela emoção.
— Me prometa que se manterá virgem. — Ele aperta a minha
mão com força, desejando que eu prometa. Seus olhos estão fixos
em mim e suplicantes.
Sufocada e sem qualquer outra alternativa viável, minha única
saída é concordar.
— Eu prometo que me manterei virgem.
Essa promessa foge da minha realidade, pois o meu futuro
marido, provavelmente, irá me fazer quebrá-la ainda nesta noite.
Mas o meu irmão não precisa saber disso.
— Eu saberei se você dormir com ele. E se isso acontecer, juro
que matarei todos vocês, incluindo a nossa mãe.
Se antes eu já não tinha ânimo para esse casamento, agora o
medo transcende qualquer boa expectativa que poderia existir. O
caminho até o altar parece interminável. Quando as portas são
abertas, revelam a grandiosidade da igreja e o esplendor dos
arranjos com flores brancas e vermelhas. O tapete carmesim sob
meus pés me enche de uma opressão quase insuportável. Mil
convidados de nobres famílias do país, aliados e influentes, estão ali,
com olhos de predadores perante a presa: eu.
A pressão da coroa pesada sobre a minha cabeça me agonia e
o coque ajustado se junta à dor com um aperto excessivo. O
vestido, adornado com pedras de diamante, pinica-me e esmaga o
meu corpo de uma forma constrangedora.
Meus passos são cada vez mais pesados, arrastando-se, como
se a terra clamasse por mim. Um nó se forma em minha garganta e
a preocupação pelo que meu irmão pode fazer me assombra. Ele
não se atreverá a matar pessoas dentro de uma igreja. Não pode ser
tão bárbaro.
Piso nas pétalas que foram lançadas delicadamente pela florista
antes da minha entrada.
Assim é como se sente uma mulher forçada a se casar: com um
peso esmagador no peito, que sufoca a alma.
— Estou te entregando a ele, mas você será minha, custe o que
custar — o demônio do meu irmão sussurra, discreto.
O belo Mikhail desce os degraus para me encontrar. À medida
que nos aproximamos, a figura dele se torna mais imponente para
mim, com cerca de 2 metros de altura e uma presença majestosa. O
seu terno azul-claro, desenhado por um renomado design, acentua
sua robustez. O que mais chama a atenção, além da sua seriedade,
são os seus olhos azuis profundos, semelhantes a um mar revolto
em uma noite de tempestade, hipnotizantes e inquietantes. Seu
cabelo escuro, com um corte jovem, e a barba bem-aparada apenas
intensificam a sua beleza digna de um deus grego esculpido por
mãos habilidosas.
Por um instante, parece que só existe ele naquele altar. A sua
beleza eclipsa tudo ao redor. Seus olhos estão fixos nos meus com
uma intensidade que me desconfigura. O olhar dominante que ele
emana me faz sentir uma estranha mistura de vergonha e fascínio,
como se eu fosse uma simples dama em frente a uma obra-prima
inigualável.
— Desejo-lhes felicidades, cunhado — Leonad diz, com um tom
cínico, ao apertar a mão do meu futuro marido.
A atenção de Mikhail continua concentrada em mim. Em suas
expressões, há um mistério que me intriga. Quando sua mão se
estende em minha direção, finalmente, posso deixar a de Leonad
para segurar a dele, que é larga e ostenta algumas tatuagens que
me chamam a atenção, sendo como histórias não contadas. Neste
instante, um alívio inunda o meu ser e um calor dominador e
avassalador percorre a minha pele. Toda a igreja está silenciosa
agora. Nossos olhares dançam, conversando em um dialeto
entendível apenas entre nós.
Ele percebeu como a minha mão está gélida.
No momento em que Leonad se afasta, uma fração de
segurança se instala em mim, permitindo-me continuar a subir os
degraus restantes até o padre que iniciará a cerimônia.
Seguro o buquê com a outra mão, sentindo o seu peso como
um presságio. O fato de eu estar com a mão unida à de Mikhail me
provoca sensações estranhas que nunca experimentei. Meu coração
dispara como se quisesse escapar do peito, enquanto ele mantém
seu olhar fixo no meu. Em alguns momentos, um arrepio desliza
pela minha coluna, com a tensão do momento me envolvendo. Para
ele, o que parece importar não é o que o padre diz, e sim o contato
entre nós e a conexão silenciosa que paira no ar.
Capítulo 2
VIKTORIA
— Eu os declaro marido e mulher. O que Deus uniu, homem
algum tem o poder de separar. Vocês estão ligados por toda a vida.
Por toda a vida. Essas palavras ecoam na minha mente como
um mantra incessante. Isso pode parecer um ideal romântico, porém
significa uma realidade cruel que se arrastará interminavelmente.
Imaginar anos, talvez décadas, presa a um casamento sem amor me
paralisa de medo.
O buquê, que estava nas minhas mãos trêmulas, agora está
com a florista. Assim, eu posso segurar as duas mãos do meu
marido.
Sinto minha liberdade escapar entre os meus dedos.
A aliança em meu dedo brilha sob as luzes do altar, pesada e
fria. É feita de ouro branco, assim como a dele. Quando ele a
deslizou em meu dedo, a simplicidade do ato contrastou com a
complexidade do que estava prestes a nos envolver.
O sorriso triunfante da minha mãe confirma a vitória dela nesta
guerra invisível. Ela casou a filha com o “melhor dos partidos”, um
homem de classe social bem superior à nossa. Um feito que, há
muito tempo, parecia um sonho distante; algo que, nem nos nossos
tempos mais prósperos, poderíamos imaginar que seria capaz de
acontecer, beneficiando tanto o nosso sobrenome.
— O noivo pode beijar a noiva.
Foi um alívio eu não ter tropeçado nos saltos altos, não ter
desmaiado sob o calor sufocante do vestido volumoso e,
principalmente, não ter borrado a maquiagem. Minha mãe parece
radiante; uma estrela em seu próprio espetáculo de felicidade. Ela
deveria me dar um prêmio por aturar tudo que ela me pede. Pela
segurança da nossa família, aceitei esse enlace, sacrificando a minha
felicidade e liberdade.
Como é irritante quando alguém, que não merece uma
conquista, acaba vencendo. Leonad e mamãe terão motivos de
sobra para comemorar nesta noite.
Quando encontro os olhos de Mikhail, uma onda de confusão e
desespero toma conta de mim. O que os olhos dele querem me
dizer? Vejo um leve sorriso que não consigo decifrar.
— Ora, beijem-se logo de uma vez! — grita a avó dele, ansiosa,
na primeira fila, observando cada movimento nosso como uma
torcedora fervorosa.
Beijo? Já estamos nesse ponto da cerimônia? Olho para o
padre, que veste um sorriso complacente de quem casa um casal
apaixonado e realizado. Mas estamos tão longe dessa realidade.
Mikhail solta a minha mão direita, repousa-a em minha cintura
e me puxa para mais perto de si. Arfo, sentindo a intensidade
daquele olhar sedento. Meu coração bate descompassado, prestes a
saltar pela boca.
— Devemos impressionar os espectadores — ele sussurra, em
um tom divertido, como se tentasse quebrar a tensão.
Fecho os olhos, aceitando o que ele fará a seguir. As
expectativas são uma tempestade de nervos. Nunca beijei ninguém
e, de repente, todo o meu conhecimento sobre o que fazer em um
momento como este, evapora. A boca dele parece um convite
irresistível, mas, em vez de tocá-la em meus lábios, ele beija a
minha testa suavemente, deixando-me aturdida e maravilhada.
Por mais que eu me sinta envergonhada, sinto uma conexão
com ele e o despertar de algo diante do seu domínio.
— Ninguém precisa ser testemunha do que nós viveremos
juntos — sua voz é um sussurro carregado de promessas. — Temos
uma festa para ir agora. Mais tarde, continuaremos de onde
paramos. Só nós dois.
Nada sai dos meus lábios, mas sinto uma mistura de ansiedade
e expectativas enquanto caminhamos juntos para a saída da igreja.
O casamento foi oficializado e, a partir de agora, não há como voltar
atrás.
O carro que nos levou até a festa chegou em menos de dez
minutos. A mansão da família Alekseeva é magnífica e aterrorizante
ao mesmo tempo. É aqui que eu morarei. Um lugar espantosamente
luxuoso e muito mais confortável do que a casa da minha infância.
Mas, no fundo, é uma prisão adornada.
Mikhail está ao telefone, falando sobre o que me parece ser um
mundo paralelo, enquanto eu tento processar meus sentimentos. Até
mesmo no dia do nosso casamento, ele está absorvido pelas suas
obrigações. Um excesso de trabalho que eu considero
desproporcional.
Na entrada da mansão, minha mãe me aguarda ansiosamente,
como uma águia à espreita, pronta para se certificar de que o meu
vestido está perfeito. A aparência é tudo para ela. O desejo ardente
de me livrar dessa armadura de cetim e tule domina cada
pensamento meu. Outras noivas, talvez, usem um vestido mais leve
para a celebração, só que essa escolha não foi minha, porque minha
mãe e a avó de Mikhail decidiram por mim. Desde o começo, eu não
tenho nenhum controle sobre a minha vida.
A festa está repleta de convidados, muitos dos quais eu mal
conheço. As felicitações vêm em várias línguas, criando uma sinfonia
de vozes que se misturam aos meus ouvidos. Cada “parabéns” é
como uma gota em um balde já transbordando de pressões. Minhas
pernas começam a se cansar sobre o peso dos saltos e a
preocupação em não destroçar o vestido me deixa inquieta.
— Vamos parar por aqui, minha esposa precisa se sentar.
Agradeça a todos por nós, vovó — Mikhail declara, fazendo com que
todos parem para nos observar.
— Claro, leve sua mulher para jantar, e depois… Bem, vocês
sabem o que devem fazer depois. Mas, antes, devemos ter uma
dança — incentiva-nos a sua avó, animada.
A mão dele envolve a minha e me conduz até a nossa mesa. A
vista do jardim é deslumbrante. A decoração está, verdadeiramente,
um conto de fadas.
Após horas posando para fotos, o único desejo que está em
meu coração é o de descansar, nem que seja por um instante. Para
eu me sentar é uma luta, porque o vestido pesa, e o meu medo de
amassá-lo é palpável. Mikhail, percebendo minha agonia, puxa
cuidadosamente a cauda dele para me ajudar.
— Cuidado — aviso, com um temor genuíno na voz. — Minha
mãe vai me matar se ele amassar. Nas últimas semanas, ela não
parou de repetir o que eu deveria fazer. Esse vestido é uma das
muitas coisas que não posso estragar.
— Não deixe que ela o veja amanhã. Ela não reconhecerá o seu
vestido depois que eu o tirar.
Ele me surpreendeu com suas palavras, que saíram da sua boca
como uma promessa, pegando-me desprevenida. Minhas bochechas
ardem, incapazes de disfarçar o meu constrangimento. A perspectiva
de que ele se referiu a rasgar o meu vestido hoje à noite me deixa
aturdida.
— Ahh… — Só consegui emitir essa interjeição, sem saber
como reagir.
— Não se preocupe com o que ela diz ou pensa. A partir de
agora, você não precisará atender a essas expectativas. Poderá fazer
o que quiser, sem precisar consultá-la.
Assinto, sentindo uma onda de liberdade misturada com medo.
Durante o jantar, um silêncio confortável paira ao nosso redor.
Entretanto, mal consigo tocar nos pratos, porque cada garfada é
uma luta contra o sufocamento do meu vestido. Aliás, odeio a
maioria dessas comidas que estão sendo servidas. Meu paladar é
bastante delicado, então não consumo qualquer tipo de alimento, e
quanto mais elegante e caro ele for, menos aceito.
— Escolheu o cardápio do nosso casamento e não degustou
quase nada — Mikhail observa, olhando diretamente nos meus
olhos.
— Na verdade, não escolhi… — murmuro, sendo transparente,
e dou de ombros.
— Quem escolheu? — ele inquire, intrigado.
— Minha mãe e sua avó. Elas decidiram tudo. Absolutamente
tudo — confesso.
Nem percebi que estava verbalizando algo que não deveria.
A expressão de Mikhail muda, mas, em vez de raiva, é a
surpresa que domina o seu olhar.
— E você, o que escolheu?
— Nada.
— O vestido que usa? A decoração?
— Eu não pude escolher nem o noivo, quanto mais todas as
outras coisas.
“Estúpida! Garota estúpida! Você fala demais, Viktoria”,
repreendo-me internamente.
— Nossa! Você é bem sincera.
Ele parece ter apreciado a minha franqueza; o que me faz
questionar se a minha sinceridade será um fardo ou uma arma.
Mamãe sempre disse que uma dama não pode falar tudo que pensa.
Ela vive muito presa ao passado ancestral da máfia.
— Desculpe. Vou tentar controlar essa minha boca.
— Não precisa controlar nada.
Posso sentir a aproximação da minha mãe e da avó dele.
Perfeitamente sincronizadas, como se tivessem ensaiado. Mais uma
vez, elas estão juntas. Espero que não tenham vindo escolher a hora
que iremos consumar o nosso casamento. Sei o quão empolgadas
estão para isso.
— Como estão os recém-casados? Estão se divertindo? —
questiona a avó do meu marido.
— Vovó, por que você e a senhora Aidorov não permitiram que
minha esposa escolhesse nada do casamento? Não acharam que,
como noiva, esse direito era dela? — Mikhail pergunta como se fosse
um advogado em busca da verdade.
Instantaneamente, uma onda de vergonha me consome. O que
elas dirão? Agora, irão pensar que eu fiz intrigas. Minha mãe me
lança um olhar de reprovação e a senhora Alekseeva começa a se
explicar, mas eu mal consigo escutá-la, perdida em um turbilhão de
emoções.
— Sinto muito. Queríamos que tudo saísse perfeito.
— De agora em diante, não tomem mais decisões pela minha
esposa. O que ela decidir ou fazer não poderá ser questionado — a
determinação na voz dele me deixa abalada.
Sua avó concorda, com um olhar de aprovação.
— Essa festa já me cansou. Iremos embora. — Mikhail se
levanta.
Eu me levanto também, com o coração acelerando, ciente de
que o vestido, inevitavelmente, amassou. O que provoca um ataque
cardíaco na minha mãe. É divertido vê-la se contendo na frente do
meu marido. Se ele não estivesse aqui, ela me daria alguns
beliscões.
— Já estão indo? Não antes de uma dança, irmã — dando-me
uma indiscutível ordem, Leonad se aproxima de nós.
Encolho-me atrás do meu marido, esgueirando-me como uma
sombra, para evitar que meu irmão me alcance e me arraste para a
pista de dança. A impaciência dele é palpável, então sei que não
demorará até que ele venha até mim. Ninguém ao nosso redor
parece perceber o quanto estou apavorada com a possibilidade de
dançar com ele. Aperto-me contra o peito de Mikhail, buscando nele
o apoio que desejo, como se ele fosse um abrigo seguro em meio ao
meu turbilhão emocional.
Meu marido me olha, intrigado. Sua expressão junta
preocupação e confusão.
— Eu não quero dançar. Por favor, vamos embora — peço,
lembrando-me de que ele mencionou anteriormente que queria sair.
— Sem dança. Já estamos indo — ele responde, firme.
A voz da vó de Mikhail ressoa com uma insistência inesperada
por mim:
— Eu insisto que vocês passem a primeira noite aqui na
mansão. Preparei o quarto para vocês dois.
— E corrermos o risco de que a senhora vá nos espionar, vovó?
— retruca Mikhail, escaneando o ambiente com um olhar protetor. —
Obrigado, mas quero passar a noite sozinho com minha esposa,
longe dos barulhos das músicas e das conversas intermináveis.
As palavras dele fizeram o meu coração disparar. Ele quer
privacidade; o que significa que o que acontecerá entre nós exigirá
silêncio. Isso me deixa nervosa. Apenas nós dois em uma longa
noite juntos, com tudo que um casal pode explorar em sua noite de
núpcias.
— Vocês estão cansados. Fiquem aqui — insiste Leonad, com
um tom que mescla preocupação e firmeza. — Pode ser perigoso
pegar a estrada à noite.
— Não se preocupe. Eu não bebi nada e o motorista está
pronto para nos levar — meu marido responde, despreocupado.
— Certamente. Mas insisto, pois minha irmã está exausta. Ela é
sensível e precisa de descanso para recuperar as energias deste dia
tão cansativo. Além do mais, com este frio, talvez seja melhor deixála descansar nesta noite — Leonad alega. Sua intenção é clara.
— Não vamos passar a noite aqui — Mikhail profere, firme. Seu
tom possessivo deixa claro que ele não gostou nem um pouco do
que meu irmão insinuou.
A tensão é quase tangível no ar. Leonad queria gritar: “Não
toque na minha irmã! Não faça amor com ela!”
— Eu só queria ajudar — ele protesta, parecendo ofendido.
— Da próxima vez, não tente — Mikhail retruca, firme. — De
agora em diante, eu sei o que é melhor para a minha esposa. Agora,
vamos embora.
O veredito está dado.
Mamãe aproveita uma brecha na conversa para me puxar de
lado. Seu olhar carrega uma preocupação disfarçada de
desapontamento.
— Não deixe que ninguém perceba que o seu irmão te assusta.
Ninguém pode saber dos sentimentos dele por você. Se o seu
marido descobrir, pode haver uma grande confusão.
— Eu não vou contar nada a ele, mamãe. — Reviro os olhos,
exasperada.
— Cuidado com esse vestido, não o amasse mais. — Se ela
soubesse o que o seu genro pretende fazer com ele… — Me ouviu,
insolente?
— Sim, mamãe. — Esforcei-me para não gritar.
Até na festa do meu casamento, ela belisca o meu braço. Um
grito involuntário escapa de mim, chamando a atenção de todos.
— Olha como essa menina é desastrada, quase tropeçou — ela
dá uma desculpa qualquer apressadamente, tentando suavizar a
situação.
Como um verdadeiro cavalheiro, Mikhail se aproxima de mim
em um piscar de olhos e me segura com cuidado, inquieto com a
ideia de que eu possa cair.
— Esses sapatos devem estar te deixando cansada — ele
comenta e, para a minha surpresa, ajoelha-se diante de mim, na
frente de todos, para retirar os meus saltos.
É como um conto de fadas em que o príncipe se ajoelha ao
lado da princesa.
— Pise no blazer para que seus pés não toquem nesse chão
gelado — ele me instrui, dando um sorriso suave, e coloca o seu
blazer caro no chão, sem se importar em amassá-lo ou sujá-lo,
apenas para que meus pés não toquem na friagem.
Sigo o seu conselho, enquanto a avó dele e minha mãe
observam, admiradas, a cena encantadora que se desenrola. Meu
irmão, por outro lado, arde em fúria. Seus olhos escuros estão
cheios de um ciúme silencioso.
— Traga um par de calçados para a esposa do meu neto — a
senhora Alekseeva chama um empregado.
— Não é necessário, eu levarei a minha esposa até o carro —
Mikhail afirma e eu fico aturdida, pensando em como o carro irá se
materializar à nossa volta.
Contudo, quando ele me toma em seus braços, um leve suspiro
de surpresa escapole de mim e eu firmo minhas mãos em seu
peitoral. Estou envergonhada por ele me segurar assim na frente de
tantas pessoas.
— Mikhail, as pessoas vão comentar… — De tanto ouvir minha
mãe, também estou preocupada com os outros.
— Que olhos assustados você tem, esposa. Não se preocupe,
não vou deixar que caia — seu tom tranquilizador suaviza o meu
medo.
Se ele soubesse que esse é o menor dos meus receios…
Capítulo 3
VIKTORIA
Mikhail me coloca sentada sobre a cama king size e, no instante
em que ele afrouxa o nó da gravata, o meu coração dispara. A
velocidade com a qual ele pulsa agora supera até o momento em
que saímos do carro, na garagem do prédio, e ele me carregou nos
braços até o quarto. Um dos mais aconchegantes em que já estive,
amplo e arejado, possuindo espaço o suficiente para que eu pudesse
correr uma maratona, se quisesse. Móveis vintage adornam o
ambiente, contando histórias em cada marca e traço.
— Deveríamos ter pegado alguns itens pessoais, mas acredito
que haja toalhas e produtos de higiene no banheiro. Amanhã
providenciarei tudo que precisar — ele quebra o silêncio com sua voz
serena. — Basta me dizer o que quer, e mando trazerem para você.
— Tudo bem, não preciso de muitas coisas. — Estou desejando,
desesperadamente, livrar-me da coroa pesada sobre a minha
cabeça. — O que mais anseio agora é poder sair deste vestido.
— Esse também é o meu maior desejo — ele sussurra e lambe
os lábios como quem se prepara para a sobremesa. E acho que sou
eu essa sobremesa.
Enquanto ele começa a abrir os primeiros botões da própria
camisa, eu encontro conforto em sua atitude e o desejo de me
despir do meu vestido cresce dentro de mim. São mais de vinte
botões nas costas. Quem costurou isso tem uma paciência
extraordinária.
— Tem muitos botões. Muitos mesmo — aviso, com um sorriso
nervoso.
— Admito que tenho habilidades com botões. E sou bastante
paciente quando se trata de me livrar deles.
Essa frase ecoa em minha mente e, num instante, o seu
passado me cerca. Para ele, despir uma mulher pode ser algo
comum; talvez apenas uma repetição de experiências passadas.
— Primeiro, me ajude a tirar esse véu. Essa coroa pesa muito.
— Minha avó sempre exagera nas joias. Ela escolheu essa
relíquia de família, uma tradição que todas as mulheres usam no
casamento, acreditando que ela nos traria sorte e um matrimônio
duradouro, como os de nossos antepassados.
— Pelo visto, não funciona tão bem assim. — As palavras
escaparam antes que eu pudesse segurá-las.
— Por que diz isso? — ele indaga, com um olhar curioso.
— Se fosse assim, ainda estaria casado com sua primeira
esposa. — Neste momento, percebo que, talvez, tenha ido longe
demais.
Mikhail, em vez de se irritar, ri do meu comentário. Ele tem uma
risada muito bonita. Não é aterrorizante, como relatam. Dizem por aí
que a risada dele é diabólica, mas, pelo contrário, acho muito
divertida.
— Então, talvez seja por isso que ela não tenha usado no
casamento. — Ele sorri, com um brilho nos olhos. — Isso significa
que o nosso matrimônio será duradouro. — Ele me gira e começa a
desprender o véu que pesa sobre mim. — Confesso que não sou
muito bom com frisos. Se doer, me avise.
Eu assinto e ele começa a liberar um por um deles com tanta
delicadeza, que a minha tensão vai se dissolvendo. Quando,
finalmente, tiro a coroa da cabeça, sinto como se um peso enorme
tivesse se dissipado.
— Que alívio, meu Deus! — exclamo, colocando-a sobre a
mesinha de cabeceira. Um dia, ela guardará outras histórias de
amor.
Mikhail continua tirando os frisos que prendem o meu cabelo, e
seus dedos deslizam entre os fios.
— A cor do seu cabelo é linda — ele comenta, admirando-me
com um olhar apreciativo.
— Minha avó paterna era ruiva — falo qualquer pensamento
aleatório que atravessou a minha mente.
— Duvido que o cabelo dela era tão macio e perfumado como o
seu — ele murmura, prendendo parte dos meus fios em suas mãos.
O espelho diante de nós reflete não apenas as nossas imagens,
mas também uma conexão. Encaro sua expressão de encantamento,
incapaz de acreditar que ele esteja realmente fascinado por mim.
— Pode me ajudar com os botões agora? — a timidez tinge
minha voz.
— Com prazer — ele responde, tão calmo, e afasta o meu
cabelo para ele não se prender aos botões.
A cada botão que é aberto, meu marido revela mais da minha
pele, deixando minhas costas nuas para o seu olhar. O vestido
desliza lentamente, até que, finalmente, cai. Neste momento,
encontro-me cobrindo os seios com os braços, envergonhada. Não
posso olhar para o espelho. Meu vestido se acumula no chão e a
vergonha invade o meu ser.
— Porra, Viktoria! Perfeita! Tudo isso é para mim? — ele
pergunta, dando um sorrisinho travesso, arrematando o que restava
da minha sanidade.
— E-eu… — a timidez domina a minha resposta.
Seus dedos tocam na marca de nascença em minhas costas,
um símbolo que, sendo diferente, atrai a atenção dele. Assemelha-se
a um coração rosado em minha pele pálida.
— Linda — sua voz rouca me deixa arrepiada.
Num silêncio pleno, observamos as nossas imagens refletidas.
Atrás de mim, Mikhail parece imenso como um urso, protegendo-me
e, ao mesmo tempo, expondo-me. Sinto, em seus olhos, que ele
quer me devorar e me rasgar como um urso faminto.
— Vestiu essa lingerie para me deixar louco? Viktoria, você
conseguiu — ele fala como se isso fosse uma coisa boa.
— A lingerie é para você — a resposta à sua pergunta sai em
um sussurro, deixando o meu rosto ainda mais vermelho.
— Ficou linda em você. Porra! — Ele tenta se controlar. Está
totalmente fora de si por me ver desta maneira. — Não precisa
sentir vergonha por falar que a vestiu para mim. Se você visse como
estou aqui…
— Para. É divertido, para você, me ver assim? — retruco,
desviando o olhar dele. Sei bem ao que ele se referiu.
Suas mãos pousam sobre os meus ombros com firmeza,
fazendo com que arrepios percorram a minha espinha. Não posso
ignorar o poder do seu toque.
— Olhe para o espelho e fite os meus olhos, boneca ruiva.
Não resistindo, enfim, faço o que ele pediu. O olhar dele é
devorador, cheio de intensidade.
— Minha mãe insistiu para que eu a vestisse. — Mordo meu
lábio inferior, envergonhada.
— Dessa vez, ela acertou na ordem. Só dessa vez. Não se
esconda de mim, Viktoria. Estamos apenas nós dois aqui.
— Só nós dois. Isso é um pouco assustador para mim —
confesso, com a vulnerabilidade à flor da pele.
— Não serei um monstro com você. Não precisa ter medo. Eu
entendo que é natural se sentir um pouco desconfortável.
— Você entende isso?
— Na verdade, não, mas imagino que seja assim.
Em outro momento, eu acharia isso divertido. Talvez, mais à
frente, nós dois ríamos deste dia.
— Este é o nosso primeiro encontro e já estamos casados. —
Meu coração parece querer romper o peito.
— Exatamente. E isso significa que pertencemos um ao outro.
— O que você quer que eu faça? — pergunto, insegura.
— Que se sinta confortável na minha presença.
— Não é tão simples. Estou praticamente pelada na frente de
um homem pela primeira vez.
— Esse homem é o seu marido, o único que terá você por toda
a nossa vida. Relaxe os ombros, você está muito tensa. Respire
fundo.
Engulo em seco, tentando liberar a tensão que me domina.
— Para você, isso é fácil, Mikhail. Não é sua primeira vez. —
Procuro olhar para o chão, buscando um refúgio.
— Será a nossa primeira vez juntos. — A forma como ele se
expressa é envolvente. — Sua voz é linda e doce — elogia-me. —
Olhe para o espelho. Veja como eu venero você.
— Não me faça olhar, por favor…
— É um pedido do seu marido, baby. Você também pode me
pedir algo em troca, mas, primeiro, cumpra o meu pedido.
Eu olho para o espelho e uma onda de emoções me invade. O
olhar dele, cheio de fascínio e desejo, deixa-me atordoada.
— Podemos só dormir nesta noite? — meu pedido sai mais
como uma dúvida.
— É o que você deseja? — Balanço a cabeça, afirmando. —
Não está nem um pouco curiosa para descobrir como é ser desejada
pelo seu marido?
Sou alguém profundamente curiosa, com um coração inquieto e
com uma mente repleta de perguntas. Não é que eu não deseje
mergulhar na experiência que ele tem a me oferecer nesta noite. Na
verdade, um misto de ansiedade e expectativas me consome. Eu
sabia que, quando nos casássemos, haveria um momento como
esse. Um momento que imagino que será rápido, fugaz e permeado
de diálogos casuais, exatamente como minha mãe descreveu.
“Ele não vai levar mais do que cinco minutos, e depois te
deixará em paz”, a voz dela ecoa na minha mente como um mantra.
— O que temos que fazer não levará mais que cinco minutos, e
depois vai me deixar em paz por esta noite? — Mordisco o lábio,
sentindo as expectativas se colarem em minha pele.
— Cinco minutos? — Seus olhos se estreitam, com um brilho de
desdém, diante da minha pergunta.
— A minha mãe disse que o ato dura cinco minutos e que,
depois, você me deixaria em paz.
— A sua mãe… Inferno! — Sua frustração é palpável, quase
como se estivesse se manifestando em ondas de calor. — Como eu
te digo isso? — ele reflete, perdido em pensamentos, por um breve
momento. — Bonequinha, o que quero fazer com você não levará
apenas cinco minutos. Pelo contrário. Com a fome que estou
sentindo, pretendo amanhecer o dia mostrando a você como é ser
desejada pelo seu marido.
Céus! A simples ideia de que ele deseja passar horas
explorando cada centímetro do meu ser faz o meu coração disparar.
Seria uma bênção ou um tormento?
— Isso seria bom? Assim… Tanto tempo?
Ele ri suavemente; um riso que mistura respeito e um certo
fascínio pela minha ingenuidade. Ele sacode a cabeça, parecendo
admirar o encanto de uma alma virgem em um mundo cheio de
sombras.
— Não ria de mim. Nós, mulheres, somos criadas de forma
diferente de vocês, homens, que já nascem com liberdade.
— Tem razão — ele reconhece. Há um traço de carinho em sua
expressão. — Não se preocupe com nada, princesinha. Você não vai
querer parar depois que começar.
Suas palavras dançam em minha mente, desafiando o que eu
conheço sobre relacionamentos. As conversas que escutei da minha
mãe e de suas amigas sobre elas se entregarem aos seus maridos
nunca refletiam felicidade. Mas, nas cenas de filmes que eu assistia
secretamente pareciam haver uma beleza indescritível em
compartilhar esse momento com alguém amado. Porém, neste
cenário, não há amor entre nós.
— Não me olhe assim… por favor — imploro, constrangida com
a intensidade do seu olhar, que se fixou em mim como um fogo
ardente.
— Perdão, mas não consigo. Olha só como você está ao meu
alcance. Estou tentado a te jogar nessa cama e te devorar a noite
inteira.
Mikhail me vira delicadamente em sua direção e segura as
minhas mãos acima da minha cabeça como se eu fosse um tesouro
precioso. Seus olhos percorrem o meu corpo com uma adoração tão
profunda, que faz o meu estômago se revirar. Ele me puxa para a
cama e me senta com um cuidado quase reverente. Meu cabelo
longo cai sobre os meus seios. Estou me sentindo vulnerável,
embora também poderosa, em sua presença.
— Não se mexe. — Mikhail dá alguns passos para trás, com
uma expressão de dominação em seu rosto. — Olhe para mim o
tempo todo.
— Você não… — Sim, ele vai se despir na minha frente, sem
um pingo de pudor.
A camisa branca, com a gola levantada de uma forma que o
deixa irresistível, é a primeira a ser retirada.
— Viktoria, olhe para mim — ele ordena.
Sua voz, profunda e coaxante, puxou-me de volta ao presente
quando desviei o olhar dele por um único segundo.
Seu peitoral nu é um espetáculo à parte, coberto por músculos
esculpidos e aveludados, e adornado por tatuagens que contam
histórias que eu desejaria ouvir. São artes vivas. Meus olhos se
perdem na beleza de cada detalhe.
Sempre sonhei em fazer uma tatuagem, mas a proibição da
minha mãe pesava sobre mim como uma corrente.
Agora, Mikhail abre o cinto. Seu movimento lento e deliberado
carrega uma promessa. Em seguida, a calça é retirada com uma
elegância que só aumenta a tensão no ar. Com ele apenas de cueca
boxer preta, sinto o meu coração querer escapar pelo peito assim
que vejo o seu membro pressionando contra o tecido, como se
estivesse implorando para ser libertado.
Ele é enorme.
Seu tronco é sedutor e o peitoral é definido.
Engulo em seco. A realidade do momento me arranca dos
devaneios ingênuos.
— Pode me tocar, se quiser. — Isso foi um convite e um desafio
para mim.
Cruzo as pernas, em um gesto automático; o que faz suas veias
pulsarem, como um reflexo de sua excitação.
— Quer que eu toque em você?
— A escolha é sua, anjo.
— Então, vai levar mais do que cinco minutos.
Enquanto o admiro, o desejo dança em meus olhos. Agora, ele
não é o único com água na boca.
— Durante a cerimônia e a festa, eu pensava: “Uau, como ela é
linda. Tudo o que quero é que chegue logo a nossa noite de núpcias,
para eu devorar minha linda esposa apetitosamente, que deve ser
ainda mais linda sem esse vestido.”
Rio, encantada e, ao mesmo tempo, chocada com sua
imoralidade.
— Sério que pensou só nisso? Sua mente só conseguia pensar
em sexo?
— No que você pensava? — Sua expressão assume um ar de
incredulidade.
— “Agora eu vou ter que ir para a cama com um homem de
quem não sei nada sobre. E se a minha vida como casada for pior
que um pesadelo? E se eu estiver condenada à infelicidade por toda
a minha vida? Só se nasce uma vez, e eu nasci tão azarada.”
— O casamento, para você, é algo tão ruim assim?
— Meu pai traía a minha mãe, então… eu vi toda a infelicidade
dela.
— Eu não pretendo trair você — ele assegura com firmeza.
De alguma forma, deposito uma fração da minha crença em
suas palavras.
Enquanto o meu rosto queima de vergonha, Mikhail se mostra
destemido, livre do peso das roupas, como se a nudez fosse um
verdadeiro símbolo de liberdade para ele.
— Vem cá, Viktoria. Quero sentir o gosto dos seus lábios. Se for
tão delicioso quanto o aroma do seu cabelo, precisarei de muitos
banhos frios.
Conto até 3 mentalmente ao me levantar e me mover em
direção a ele, consciente de que a nossa noite apenas começou e
que a curiosidade e o desejo se entrelaçarão em um emaranhado
novo e ardente.
Capítulo 4
VIKTORIA
Meu olhar está fixo no seu, dominador, que me envolve e me
coloca completamente a seu dispor. Quando os seus lábios tocam
nos meus, um frio na barriga toma conta de mim, paralisando-me
por completo. Sou como uma adolescente boba experimentando o
primeiro beijo, e este momento está se revelando na noite sagrada
de núpcias do meu casamento. Seus dedos deslizam suavemente
pelo meu queixo, guiando-me.
Estar com ele é uma experiência inebriante, diferente de tudo
que já senti. Uma onda de emoções tumultuadas se espalha pelo
meu corpo e eu tenho a impressão de que o meu coração vai
explodir em fogo e paixão, simplesmente, por sua causa.
Quando o nosso beijo cessa, eu não sei bem o que estou
fazendo e o porquê de ele o ter encerrado.
— Há algo de errado comigo? — Ele está decepcionado com o
beijo?
— Tudo em você é perfeito, menina. — Seus olhos estão fixos
nos meus de maneira eletrizante. — Confie em mim — ele sussurra,
com sua voz grave, sedutora e, ao mesmo tempo, confiante a ponto
de me fazer confiar em cada palavra sua.
Seus dedos habilidosos começam a tocar na renda da minha
calcinha e eu sinto o cerne do desejo pulsando em meu corpo.
— Você está proibida de não se entregar — ele murmura e
morde o lóbulo da minha orelha. Sua barba rala roçando em mim faz
a minha pele se arrepiar. — Que perfume delicioso você usa…
Um aroma doce e quase embriagante emana de mim. Minha
mãe sempre o considerou excessivo, mas ele desperta em Mikhail
um desejo insaciável. Pela primeira vez, alguém gosta de mim sem
exigir que eu mude algo que já é meu.
— Me beije, Viktoria — ele ordena, possessivo.
Suas mãos descem pela minha cintura, acompanhando a
urgência de suas palavras. A forma como os seus lábios se apossam
dos meus é voraz, como se cada toque fosse uma degustação, como
se o meu sabor fosse um banquete no qual ele mergulha. Perco-me
na intensidade do momento, enquanto ele suga cada parte dos
meus lábios com uma fome quase animal.
Ele se mostra insaciável, igual a um doido por um pedaço de
carne, sem saber se a devora de uma vez ou se aproveita mais um
pouco antes de comê-la.
Com o contato do seu corpo no meu, sinto o seu membro
endurecido roçando no meu abdômen, fazendo o meu coração
disparar ainda mais rápido.
Quando me afasto dele um pouco para respirar, o seu calor
continua a me envolver e suas mãos se mantêm firmes segurando a
minha cintura. Ele me achará uma boba por não conseguir
acompanhar o ritmo do seu beijo.
— Desculpe. Estou transbordando de desejo desde o instante
em que segurei a sua mão na igreja. Imaginei, durante toda a
cerimônia, como seria ter você em meus braços. Meu pau está louco
para penetrar em você intensamente, mas não vou perder o
controle, prometo. Acabei me esquecendo de que era o seu primeiro
beijo — ele fala a última parte com uma satisfação dominadora, e o
rubor toma conta do meu rosto diante de sua crueza. — Não fique
envergonhada, você é minha esposa. Estará despida apenas para
mim, seu marido, o único que pode apreciar o quão linda e deliciosa
você é.
Com um gesto gentil, ele deixa a minha calcinha deslizar. Um
suspiro escapa dos meus lábios assim que sinto a brisa fria tocar em
minha pele nua.
— Podemos ir devagar? — pergunto timidamente.
— Podemos — ele concorda, dando-me um pouco de alívio. —
Mas depois que começarmos, não vou parar até que nos sintamos
completamente satisfeitos. — Seu sorriso é travesso.
Os seus lábios, agora mais delicados, buscam os meus com
uma urgência calculada. Eu sinto que poderia passar uma eternidade
o beijando assim, sem pressa, como se não existisse o tempo.
Minhas mãos começam a explorar o seu corpo, descendo ao longo
do seu peitoral musculoso. E, para a minha surpresa, não é apenas o
seu peitoral que é duro; há algo mais duro e assustador roçando em
mim como um martelo pesado.
Tento sufocar alguns gemidos enquanto sinto suas mãos
explorarem o meu corpo com um desejo quase insaciável.
Neste momento, a ideia de eu ter sido vendida para um
mafioso poderoso me atormenta. Como o idiota do meu irmão, que
me vendeu, pôde imaginar que eu não despertaria algo em Mikhail?
Que ele não exigiria os seus direitos de marido?
— Você é uma mulher irresistível, minha esposa — ele
murmura, com os olhos famintos de desejo. — Vou degustar cada
centímetro dos seus seios até que não tenha mais dúvida de que
pertence a mim.
Sinto a sua língua quente deslizar ao longo do meu pescoço,
deixando um rastro de marcas de posse onde quer que toque.
Arrepios percorrem a minha espinha.
— Gosta que eu te toque aqui? — Ele roça o nariz em um dos
meus mamilos, causando-me sensações que eu jamais imaginei ter.
— S-sim — a resposta escapa entre os meus lábios como se eu
não tivesse controle sobre a minha própria voz.
— Viktoria, quero que saiba que é minha esposa, então eu te
respeito, mas hoje vou te mostrar que um marido precisa muito mais
do que uma esposa na cama — sua voz endurece, cheia de
promessas e segredos. — Vou te devorar e te ensinar a ser uma
amante obediente. Na cama, será a minha putinha safada.
— Você quer que eu seja a sua puta?
Meu entendimento sobre esse tema está limitado ao que a
sociedade diz. Essas não são mulheres vistas com bons olhos, então
a intensidade dessa situação me causa curiosidade.
— Você vai adorar ser minha putinha, porque eu vou te dar o
meu mundo em troca da sua entrega total. Isso será o nosso
segredo escondido entre quatro paredes.
As palavras dele me deixaram maravilhada e encantada,
alimentando o fogo que já queimava dentro de mim.
Sem desviar os olhos dele, vejo sua língua dançando em cada
parte dos meus seios, combinando técnica com paixão, enquanto
suas mãos exploram o meu corpo curvilíneo e sensível.
— Ahhhh… Mikhail… — gemo, sentindo o prazer crescendo em
mim, prestes a estourar.
A pulsação em meu corpo é avassaladora conforme o sinto se
tornar parte de mim, com seus dedos dançando delicadamente em
minha intimidade.
— Que delícia, minha bonequinha. Minha esposa está tão
excitada pelo seu marido. Não sabe como isso me enlouquece. —
Seus olhos brilhantes refletem um tesão insaciável. — Ensine à
minha boca os seus lugares favoritos, princesa.
Em um movimento rápido, ele me toma nos braços e me senta
sobre o baú da cama, onde a maciez do colchão me acolhe. Minhas
costas se apoiam nele e eu abro as pernas, ficando completamente
exposta ao olhar voraz de Mikhail, que queima o meu ser com uma
intensidade ardente. Ele me observa como se eu fosse a mais
deliciosa das mulheres, e essa visão me deixa mais excitada a cada
instante.
— Vou lamber a sua boceta até você esquecer o seu nome,
querida. Mas, lembre-se: pode se esquecer do mundo, mas nunca
de mim, o homem a quem você pertence.
Ele exige o meu total compromisso; não apenas por termos nos
casado, mas também por causa de uma obsessão profunda que o
torna meu dono em todos os sentidos.
Seus olhos percorrem cada pedaço meu, fascinados e
devoradores. Ele é como um urso feroz prestes a consumar o seu
desejo. Sua língua desliza pela minha intimidade e cada movimento
me provoca um frenesi, fazendo-me transbordar de prazer.
Mordo meu dedo, gemendo, incapaz de conter o fogo que
invade o meu corpo. As habilidades de sua língua fazem a minha
razão se dissipar e a sensação de prazer se intensificar. Ele está
completamente entregue, saboreando cada momento e explorando
cada curva minha. Eu sou sua submissa para ele fazer o que quiser
comigo.
— Goze, esposinha. Lambuze a minha boca com o seu mel.
Eu estou quase lá, perto de alcançar o ápice do prazer.
Ele suga cada parte minha com uma precisão que me faz
gemer alto, sem escapar do transe que esse prazer me proporciona.
Sinto uma onda avassaladora de paixão e emoção, como se o
mundo ao nosso redor desaparecesse e tudo o que existisse
fôssemos nós dois.
— Aahhhh… Mikhail… Estou quase morrendo de tanto prazer.
Seu domínio sobre mim é evidente. Ele aperta o meu seio
enquanto o seu dedo desliza dentro de mim, intensificando as
sensações do que estamos vivendo. É como se o tempo tivesse
parado e só o que importasse fosse o calor dos nossos corpos
juntos, a paixão que queima e a esfera de deleite que nos envolve.
Quando a onda de prazer me consome, finalmente, eu percebo
que não há mais espaço para pudor ou vergonha. Libertando-me das
minhas amarras, deixo que ela flua livremente. Choramingo,
enlouquecida com a delícia que é este momento. Estou desfrutando
do mais intenso dos prazeres.
— Isso foi incrível, Mikhail.
A neblina da luxúria começa a se dissipar, mas a conexão entre
nós permanece ardente. Ele volta a me beijar com uma ternura que
contrasta com a intensidade anterior e se posiciona
confortavelmente sobre mim. Mantém a suavidade em seus toques
ao mesmo tempo em que eu sinto o seu peso protetor. Consigo
sentir o meu gosto e o meu cheiro na sua boca, e isso me causa
uma sensação diferente muito intensa.
— Agora você compreende o que me embriaga. Seu gosto é a
definição do desejo.
Eu jamais imaginei que minha primeira vez aconteceria neste
cenário dos sonhos, quase como um conto de fadas no qual o
príncipe se revela o vilão em tantas outras histórias. Aqui, neste
instante, eu vejo a possibilidade de um amor ardente aliado ao
tesão. Ele é, ao mesmo tempo, o vilão sedutor e o romance que eu
jamais esperava viver.
— E agora? Você vai fazer amor comigo? — pergunto, com os
olhos semicerrados e mergulhados na profundidade dos seus,
buscando a verdade em sua alma.
Ele me deixa deslizar sobre a maciez do colchão e o meio da
cama se torna um altar no qual se revela a nossa intimidade. Minha
cabeça repousa sobre as plumas do travesseiro, acolhida, e uma
onda de nervosismo atravessa o meu corpo. Sinto a palpitante
mistura de ansiedade e expectativas. A ideia de sentir uma dor
sombria quase me paralisa, mas uma chama de desejo queima em
mim. Não quero chorar, não quero ser a fraca. Transar não deve ser
um monstro de sete cabeças, então eu não deveria temer tanto,
especialmente depois de termos vivido um momento tão intenso
juntos. Essas memória se cravará para sempre em meu coração, e
espero que no dele também.
Mikhail me observa com um olhar de devoção, estudando-me
com uma profundidade que faz eu me sentir ainda mais exposta. O
sorriso misterioso que adorna o seu rosto me fascina, despertando a
minha curiosidade sobre os seus pensamentos.
— Sim, Viktoria, eu vou fazer amor com você agora.
Ele se posiciona sobre mim com um cuidado quase reverencial,
apoiando as mãos no colchão para evitar me esmagar sob o seu
corpo masculino e forte. Seus olhos brilham, fulminantes, com
luxúria, buscando a confirmação na vulnerabilidade dos meus.
— E será gentil comigo? — pergunto, com a voz tremendo pelo
receio.
— Serei o mais gentil dos homens, esposa.
— E paciente?
— Serei tudo que minha esposa quiser.
Meu nervosismo se transformou em palavras apressadas. Eu
confio nele para esse momento, mas, ainda assim, a procura por
certezas me domina.
— Mikhail…
— Shhhh… — ele me interrompe, silenciando-me com seu dedo
delicado sobre os meus lábios. — A partir de agora, os únicos sons
que quero ouvir são os dos seus gemidos enquanto meu pau invadir
sua boceta virgem. — Só ele consegue fazer o meu coração disparar
assim, como um pássaro preso num peito aflito. — Seu marido será
incrivelmente gentil com a bela esposa virgem dele — ele repete
essa palavra como se isso fosse um mantra para ele, alimentando o
seu prazer, que transborda. — Serei o primeiro a penetrar em você,
e também o último. Ninguém além de mim irá te tocar dessa
maneira. Ninguém.
Ele é insano.
Devasso.
Controlador.
E, inexplicavelmente, eu confio nele.
“Ele sabe o que faz”, repito para mim mesma.
É notório o esforço que ele faz para ser cuidadoso. Ao que
parece, lidar com virgens nervosas não é algo comum em sua vida,
a menos que seja um fetiche seu.
“Homens experientes desejam o controle e apreciam quando as
mulheres se entregam a eles”, são essas palavras que ecoam na
minha mente.
Sua testa toca na minha e a respiração quente dele acaricia o
meu rosto.
O aroma dele é delicioso: uma combinação amadeirada e sexy
que me deixa hipnotizada. Parece que cada fibra do meu ser está
pronta para se render a esse espetáculo de homem que promete me
mostrar o verdadeiro significado de ser desejada por um marido
devasso na cama.
Capítulo 5
MIKHAIL
O urso da neve de Moscou, o chefe da Bratva, um dos líderes
mais temidos de todo o continente, obrigado a se render ao
casamento, mais uma vez, sob pressão.
O casamento, tão esperado quanto temido, finalmente,
acontecerá, mesmo eu tendo expressado a minha recusa diante da
minha avó e do conselho. Mas, como chefe, o meu dever é
assegurar que se perpetue a existência do sobrenome da minha
família. E a possibilidade de um ataque inimigo, em meio aos
conflitos que venho enfrentando, torna isso ainda mais urgente.
Todos os meus opositores têm filhos, e mesmo eu sendo o homem
mais poderoso do país, a falta de uma descendência deixa o meu
legado vulnerável.
Sabe o que seria letal? Eu enfiar balas na cabeça de cada um
daqueles conselheiros, para eles nunca mais tentarem impor algo ao
qual sou contra.
Mas sei que estou errado, por mais que odeie admitir. Caso algo
acontecesse comigo, não haveria ninguém para ser o meu sucessor
e toda a história de glória da minha família seria apagada e
enterrada comigo. E não seria justo que o sobrenome dos Alekseeva
morresse comigo. Não serei o responsável por colocar um ponto
final na história da minha família.
Então, aceitei que minha avó, com sua astúcia e persistência,
conseguisse encontrar uma noiva adequada para mim em um curto
espaço de tempo. No entanto, não esperei que sua busca fosse ser
tão célere. Na mesma semana em que aceitei me casar, surgiu uma
candidata que, segundo ela, era perfeita para mim.
Uma jovem saudável, apta a dar à luz aos meus filhos. Mas, ao
dizer “jovem”, refiro-me a uma quase criança. Fiquei incrédulo ao
saber que minha avó queria me unir à Viktoria, uma menina ruiva
que é elogiada pela sua beleza, irmã de Leonad. O que sabíamos
sobre ele, em nosso mundo, era que ele tinha uma linda irmã.
— Não me casarei com uma criança — retruco, insatisfeito com
a ideia de que minha noiva seja uma menina que, recentemente,
deixou o colegial.
— Ela é perfeita e saudável. Você só precisa de uma mulher de
quadris largos para parir seus filhos. Será um trabalho e tanto, você
sabe. Queremos garantir o nosso sobrenome com um filho atrás do
outro. E não é assim, tão simples, conseguir uma esposa para um
homem que matou a sua primeira esposa há tão pouco tempo. As
pessoas ainda se lembram.
Aí está novamente a velha história que se transformou em uma
lenda urbana por todo o país: um homem que matou sua esposa por
ela não ser capaz de lhe dar filhos. Essa é a culpa que carrego por
muitos anos, mas não é um peso que arruinará o meu futuro, afinal,
mato pessoas quase todos os dias, de inimigos a amigos covardes.
Ninguém se surpreende com isso, pois me conhecem como o “urso
da neve de Moscou”. Sou conhecido por devorar a carne dos meus
opositores.
— O nome dela é Viktoria Aidorov. Ela é a irmã mais nova de
Leonad Aidorov. Deve se lembrar dele. O avô deles foi um grande
aliado do seu avô; o que fez com que meu marido fosse gentil com
aquela família. É uma pena que o filho desse grande amigo dele
tenha perdido praticamente tudo em jogos e Leonad tenha
arruinado o pouco que restou. Agora, eles estão quase à beira da
ruína.
— E por que devo me casar com uma mulher sem classe? — É
estranho que, logo a minha avó, queira que o nosso sobrenome se
rebaixe tanto. O desespero por um herdeiro a cega.
— Porque a família dela é a única disposta a oferecer uma filha
virgem e pura em meio a essa guerra sangrenta que estamos
travando contra os nossos inimigos. Sem contar que ela nunca te
trairá. Eu mesma verifiquei. A moça é muito submissa à mãe e às
vontades da família. Certamente, se submeterá a nós, especialmente
a você, meu neto.
Uma mulher submissa é tudo o que eu preciso. Uma esposa
que não me encha. Que não me sufoque, exigindo carinho, amor e
essas coisas banais.
Minha avó, uma mulher de caráter forte, foi uma figura
essencial em minha criação após a morte da minha mãe e do meu
pai. Eu era muito jovem na época. Desde então, sou o único
herdeiro desta família, o chefe da Bratva, o homem mais temido da
Europa.
— Pelo menos ela será submissa — cedo, considerando esse
um ponto a meu favor.
— Você também assumirá as dívidas do irmão dela e lhes dará
uma boa mesada por esse casamento. São as exigências da família
dela.
Interessante. Esta é a primeira vez que pago para ter uma
virgem.
— Então, estou comprando a minha esposa?
— Você é hábil no mundo dos negócios e nunca faz um
péssimo acordo.
Quanto a isso, ela tem razão. Sou o melhor no que faço. E o
casamento é apenas mais um negócio que assumirei para cumprir
com minhas responsabilidades.
— Então, estou comprando uma esposa — deduzo, achando
isso engraçado. — Tudo bem, irei quitar essas dívidas. E a senhora,
ensine-a a ser a mulher mais submissa do mundo para me agradar.
Lembre-lhe de que sou um homem perigoso quando não fazem o
que quero.
— Primeiro, case-se com a garota e consuma o casamento.
Depois você a assusta, se acha divertido brincar assim com as
mulheres — ela sugere, com medo de que eu perca esse acordo.
— Fique tranquila, minha avó. Vou me casar e lhe darei os
bisnetos que tanto quer. Depois disso, seguirei com meus deveres e
obrigações na máfia.
Ela concorda.
— Tenho algumas fotografias dela, pode avaliar a jovem. — Ela
está com um álbum de fotografias nas mãos?
— Não me interessa ver o álbum de uma debutante —
desdenho. — Ela sendo virgem e saudável é o que importa. Se for
bonita será um bônus. Isso não faz diferença.
O casamento foi organizado às pressas pela minha avó e minha
futura sogra, cujos objetivos se alinharam: de um lado, uma avó
casamenteira que queria garantir a continuidade de sua linhagem;
do outro, uma sogra interessada, disposta a vender a filha por uma
vida de luxo, e um irmão que não via a hora de se afogar em mais
dívidas, contando com um cunhado bilionário.
Essa família não perde por esperar.
O bônus que eu não esperava encontrar em Viktoria, uma
menina jovem demais, era a sua beleza estonteante.
Não sou o tipo de homem que se interessa por mulheres 17
anos mais novas. Sinto-me quase como um sugar daddy por estar
me unindo a uma garotinha assustada e tímida, que está aqui por
pressão da própria família. O olhar dela, carregado de medo e
insegurança, parece um convite tentador para um delicioso jogo de
sedução e submissão. Farei dela a minha esposa, concederei a ela o
meu sobrenome e lhe proporcionarei uma vida de rainha, esperando
que, em troca, ela me dê seu corpo delicado e muitos filhos.
Posso transformar este tormentoso casamento em algo
proveitoso. Aquelas madeixas ruivas, presas em um coque, sugerem
que ela pode ser ainda mais bonita do que eu previa. Há algo
encantador na presença dela. Ainda não sei dizer o que é
exatamente, mas é como se o simples fato de ela existir fosse algo
extraordinário.
Neste momento, creio que estou pensando mais com a cabeça
de baixo em vez de ouvir a minha razão. Ela é uma menina.
A mão dela está tão fria quanto a noite lá fora.
Calma, bonequinha. Acabamos de nos conhecer e você já está
tremendo de medo. Ainda nem conheceu o meu lado demoníaco.
Ela deve ter ouvido muitas coisas ruins sobre mim, pois minha
fama me precede. Sinto orgulho do que conquistei com meu esforço
e da herança que meus antecessores me deixaram.
Encaro o padre com um olhar desafiador. Ou ele apressa a
cerimônia ou eu faço com que sua vida acabe neste instante. Com
ele compreendendo o meu recado, finalmente, chega o momento
em que a cerimônia se encerra. Com isso, minha esposa agora é
minha para que eu faça dela o que bem entender.
A família dela me pediu um preço por ela, e eu paguei o valor
pedido. Agora ela é minha e carrega o meu sobrenome. Tudo que há
nela me pertence.
Sinto que estou prestes a cair do cavalo, levando para o
precipício todas as minhas ideias sobre mulheres da idade dela.
Viktoria é a noiva mais linda que já vi. A mais delicada. E por mais
sutis e simples que sejam os seus movimentos, vejo-me totalmente
deslumbrado por eles e perdido na noção do tempo. O relógio para
no momento em que seus olhos cruzam com os meus.
Como Viktoria ousou cruzar o meu caminho dessa maneira,
levando-me a repensar todas as minhas crenças? Ela não tinha esse
direito.
Todos nos felicitam pelo casamento e ela agradece, sendo
gentil, mesmo sem conhecer metade dessas pessoas. Minha esposa
é muito recatada e ingênua, mas está me deixando louco. Tudo o
que mais quero é livrá-la desse vestido e beijar cada pedacinho da
sua pele pálida. Ela é tão branquinha, que ficará marcada com o
mais leve dos chupões.
Em um certo momento, noto a maneira como a mãe dela a
olha. Está se sentindo vitoriosa por ter casado a filha comigo. O que
ela não consegue imaginar é que enviou a sua preciosa filha para a
cova do leão mais faminto desta cidade.
Quem disse que este arranjo não pode ser interessante para
mim? Agora, que sou o marido dela, o processo para eu conseguir
meus herdeiros pode ser bem mais prazeroso do que imaginei.
Capítulo 6
MIKHAIL
O momento mais esperado da noite chegou: a consumação da
nossa união. Deitado nesta cama macia, eu tenho a mulher mais
intrigante que já passou pela minha vida e a mais jovem e suculenta
que já provei. O sabor da sua boceta quente está me deixando
louco. Viktoria é deliciosa e tentadora, e o medo que ela sente de
mim excita-me tanto, que se ela soubesse, iria escondê-lo. Se bem
que está tentando, mas falha miseravelmente.
Eu a trouxe para a minha cobertura porque sabia que aqui
ninguém nos incomodaria. Os soldados estão todos avisados:
ninguém ousará me chamar para nenhuma ocorrência nesta noite, a
menos que um meteoro esteja vindo em direção à nossa cidade, no
ponto onde estamos. Caso contrário, mato qualquer um que me tirar
deste paraíso.
Não consigo desviar meus olhos dela. Viktoria é a coisa mais
fascinante que já tive em meu domínio. Não há nada que possa se
comparar a esse olhar meigo e inocente de quem anseia pelo meu
próximo passo. Para ela, tudo é uma novidade que ela está
descobrindo neste momento comigo.
Pela primeira vez, o meu mundo para. Isso acontece quando
ela pergunta se eu farei amor com ela. O que responderei para uma
menina inocente? Que não sei o que é amor? Que não sei fazer
amor, apenas foder bocetas? Minha resposta assustaria a minha
coelhinha medrosa.
Eu adoro vê-la corada e a maneira como tudo a faz sentir
timidez.
A suavidade do nosso beijo é algo do qual gosto. Foram raras
as vezes que não senti pressa em partir para os finalmentes e tomar
o corpo de uma mulher apetitosa. Ela é completamente intocada e
inexperiente, e tudo isso me deixa possesso. Não foi assim com
ninguém antes.
A pulsação do seu coração descompassado, por ela me ter em
cima de si, é algo que quero controlar com os meus beijos. Tento ser
o mais terno que consigo. Sua boceta também pulsa, implorando por
um prazer que ela não tem noção de como pode ser. A maneira
como o seu corpo reage aos meus toques me enlouquece.
Eu posso fazer o que quiser com ela.
Só Deus sabe como é difícil me segurar e não entrar de uma
vez na sua boceta virgem, que é minha, para eu a comer como
quiser. Uma foda nunca foi tão complicada para mim antes. Eu já a
teria fodido se meu lado delicado não estivesse me impedindo; um
lado que estou conhecendo apenas agora.
Minhas mãos firmes deslizam pelas curvas da sua cintura, que é
um espetáculo à parte. A silhueta modelada dela se encaixa
perfeitamente ao domínio das minhas mãos. Ela é perfeita e foi feita
exclusivamente para mim.
A respiração dela está tão ofegante quanto a minha, mas creio
que ela não percebe o quanto isso me deixa possesso por mais. Meu
tesão por ela é avassalador. Quanto mais sinto seus lábios, mais
quero devorá-los. As nossas bocas famintas e vorazes nos levam a
um ritmo sincronizado de volúpia.
A imagem dela gozando pela primeira vez na minha boca será
algo difícil de apagar da minha mente.
— Caralho… Porra… — rosno contra a sua boca ao sentir seus
seios enrijecidos. Inclino a cabeça e os abocanho, com uma sede de
leão.
Os gemidos de prazer dela a cada sucção e lambida me levam
ao delírio. Sei que minha esposa quer gozar e está pronta para
receber o meu pau pela primeira vez. Quero tudo dela! Cada
gemido, orgasmo… Tudo é meu.
Minha inquietação começa a surgir quando abro suas pernas e
admiro, mais uma vez, o paraíso que é a sua boceta. Minha boca
ainda pretende estar lá mais uma vez. Que perfeição de mulher! A
vontade incontrolável de rasgar a sua carne me consome. O corpo
dela é um convite ao prazer, uma tentação que me provoca.
Admiro a boceta que me pertence, com os olhos transbordando
luxúria. Vejo-a hesitar quando começo a me masturbar olhando para
ela.
— Vai doer um pouco, meu anjo.
Ela arregala os olhos.
— Eu sei que vai, você é enorme — o nervosismo em sua voz
denuncia a ansiedade que a sufoca.
Seu rosto angelical é o caminho para a minha ruína.
Mikhail Alekseeva totalmente vulnerável a uma boceta. Quem
diria?
Esfrego a cabeça do meu pau na sua entrada. Suas partes
íntimas são de uma cor rosada fascinante. A imagem dela deitada, à
mercê do meu domínio, é algo inigualável. Minha esposa me
proporciona uma linda visão erótica que ela mesma não sabe que é
capaz de provocar em um homem.
— Lembre-se: eu te farei gozar muito nesta noite.
Quando me afundo na sua entrada, Viktoria geme baixinho,
contendo o incômodo que é ser rasgada por 20 centímetros de pau.
Sua expressão de dor me comove, porém estou fazendo todo o
possível para que ela não sinta tanta dor assim. Às vezes esqueço
que ela é uma flor pequena e delicada que está descobrindo o
mundo do sexo pela primeira vez. Beijo seus lábios macios e mordo
o inferior. Minha coelhinha solta um gemido de prazer e eu sorrio,
percebendo que ela também gosta de um pouco de dor. Ver o
lamento de dor em seu olhar a cada investida me deixa puto porque
consigo sentir ainda mais tesão com isso. Ela não sabe o quão
sádico o seu marido é.
Saber que sou o primeiro dela me atormenta a ponto de me
cegar. Ela me cegará com sua doçura. A intensidade com a qual
devoro cada centímetro da sua boceta me faz ir até o fim de uma
única vez. Ela me agarra, abraçando-me com força, e crava as unhas
em minhas costas.
— Mikhail… — ela geme o meu nome, indicando que sentiu o
impacto da profundidade da minha investida. Quer me matar por
isso, mas também se mostra muito satisfeita, emanando um gemido
de desejo. — Ahhh… Eu…
Aperto o seu pescoço com uma mão, fazendo-a estremecer
debaixo de mim. Ela sente medo e tesão. Fascina-me como ela não
sabe conter nenhuma reação.
— Viktoria, minha putinha apetitosa — eu rosno e ela me olha,
instigada. Depois fecha os olhos, sentindo o momento a dominar. —
Olhe para mim agora — ordeno, apertando mais o seu pescoço. —
Você está gostando de ser tratada como minha putinha?
Ela tenta responder, mas, em vez de palavras, solta um gemido,
manhosa.
— Ohh… — Pelos olhos, ela diz que gosta.
Deixo-a respirar para que possa me dizer o que quer.
— Diga-me, esposa: o que você quer de mim?
— Eu quero você.
— Porra! Vou comer você até que esqueça como era o sabor da
vida antes de mim.
Atolado na sua boceta, afundo mais o meu pau lambuzado pelo
seu mel quente. Continuo a estocar sem parar. Não sinto piedade
dela, e ela não exige que eu pare, entregando-se ao prazer carnal.
Beijo-a para roubar o seu fôlego, que me pertence. Quem manda
nela, desde o ar que ela inala até os orgasmos que sente, sou eu, o
seu dono.
— Você é gostosa demais… — Gemo entre o beijo.
Viktoria me deixa louco e me faz lutar contra a fera em mim
que quer rasgá-la sem misericórdia. Quando percebo que estou
sendo duro demais, tento suavizar modestamente, para que ela não
sinta tanto desconforto amanhã. No entanto, ela é tão gostosa, que
me dá calafrios. Quero realizar todas as fantasias que ela nem sabe
que deseja e lhe ensinar que o prazer é assim, delicioso, gostoso.
Quero que ela saiba que pode sempre ter o que quiser comigo.
— Como você é perfeita, bonequinha…
Estou curioso para saber até onde ela aguentará ir nesta noite.
Se ela desmaiar de prazer em meus braços, sentirei uma satisfação
sem igual. Cada partícula sua me pertence. Sou devoto de cada
célula dela.
O prazer me invade a ponto de me fazer esquecer que existe
um mundo onde ela não está. Eu queria ter o poder de parar o
tempo e transar com Viktoria por toda a eternidade, sem pausas.
A cada “ohh” dela, eu enlouqueço um pouco mais.
Beijo cada pedacinho da sua pele, marcando cada parte do seu
corpo como minha, e quando sinto que estou prestes a gozar,
controlo-me. Não posso. Não antes de ela sentir o prazer mais
intenso da sua vida.
Sinto seus espasmos apertarem o meu pau. Ela já é apertada
demais, e fica mais ainda com tais movimentos. Eu quero apenas
meter nela com mais força.
Puxo o seu rosto para mais perto do meu. Sei que ela é
sensível, mas não me contenho.
— Viktoria, fique de joelhos na cama e empine essa bunda
grande para mim. Eu vou te comer de quatro.
Saio dela de uma vez, louco para ver o seu rabo de quatro para
mim.
Minha esposa é tímida, mas, mesmo assim, faz o que pedi.
Submissa e obediente, ajoelha-se sobre a cama e segura na barra da
cabeceira.
Viktoria está de quatro, mas quem parece que está rendido sou
eu.
Babo vendo sua boceta rosada. É como se minha mulher a
estivesse exibindo para mim. A marca nas suas costas também é
fascinante.
Agarro suas nádegas, afundo meu nariz entre elas e chupo a
sua bocetinha, que está inchada pelas minhas estocadas.
— Mikhail…
Todas as vezes que sua voz sensual emite o meu nome, sinto
uma vontade louca de dominá-la.
— Rebole essa bunda para mim, gostosa. — O estalo da minha
mão nela faz Viktoria soltar um gritinho manhoso.
Então, ela faz o que ordenei, esfregando a sua boceta quente
no meu rosto. Esse aroma me deixa cada vez mais viciado. Sem
demora, entro novamente nela e a como feito um doido. Ela é
minha! Sua carne me pertence.
— Isso, amor, goze para mim — ordeno no momento em que
envolvo minhas mãos no seu cabelo ruivo ondulado.
Ela estremece com o orgasmo que a invade, e seus gemidos
são como uma canção para os meus ouvidos; a mais suave das
melodias cantadas. É o canto de uma sereia.
Eu aumento a velocidade das arremetidas e os nossos corpos
vibram, unidos, como se fossem um só. Saciamos um ao outro. Os
sons dos nossos gemidos preenchem o quarto em uma sintonia
perfeita.
— Boa menina. Ou devo dizer “minha putinha safada e
audaciosa”?
— Sou sua putinha… — ela confirma, em um desespero
alucinante, tomada pelo êxtase de gozar dessa maneira.
Porra, eu não estava pronto para ouvi-la dizer isso.
Minha esposa treme de prazer e eu já não posso mais me
segurar. Vou gozar na sua entrada úmida. Meu orgasmo a preenche,
chegando até o fundo do seu útero. Urro ferozmente. Minha porra é
como uma avalanche a atingindo.
Nossos corpos caem sobre a cama. Viktoria se encontra fraca,
apoiando a cabeça no meu peito suado. O rosto dela está
encharcado de suor, pela sua entrega fenomenal. Ela nasceu para
ser minha putinha na cama. Minha avó talvez tivesse razão quando
disse que Viktoria seria a esposa perfeita para mim. Aquela velha
não costuma errar, e isso, eu herdei dela.
— Vem cá, minha princesinha. Você é só minha, e de mais
ninguém. — Acolho-a em meu abraço, enlaçando o corpo dela ao
meu.
No momento, tudo o que eu quero é tê-la desta maneira, para
que possa protegê-la de todos os perigos.
— Mikhail, o que eu senti agora foi indescritível… — ela diz,
ofegante, ainda assimilando o que acabou de acontecer.
— Foi bem mais do que cinco minutos, bonequinha — provocoa e a vejo esconder o rosto no meu peito. Rio da sua timidez. — Foi
uma brincadeira. Não se esconda. Não depois de ter me deixado
louco com sua boceta.
— Como quer que eu te olhe? Você só fala imoralidades — ela
resmunga, constrangida. — Preciso de alguns dias sem ver você
para agir como uma esposa normal.
— Nem pensar. Eu não vou sair de cima de você, nunca mais.
Fico possesso só de pensar que ela poderia ir para longe.
— Então, controle essa sua língua devassa.
— A única maneira de eu a controlar é você permitindo que eu
chupe a sua bocetinha de novo. Aí, sim, eu fico em silêncio.
— Ah, meu Deus! Me casei com o mais devasso dos homens. —
Minha Viktoria se enfia debaixo do cobertor, escondendo-se.
Gargalho como não fazia há muito tempo.
O que essa garota tem, que me deixa assim? Ela me faz pensar
que pode existir um mundo mais leve, onde ela estará lá para mim.
— Gatinha, prepare-se para sentir muito mais prazer nesta
noite. Seu marido ainda está faminto por você.
Ela resmunga alguma coisa debaixo do cobertor e, em seguida,
revela apenas o seu rosto.
— Mais? — pergunta, intrigada. — Não foi só isso?
— Não me diga que sua mãe falou que seria apenas uma vez.
Seu olhar acaba me confirmando. Lembrarei de me vingar
dessa velha depois. Agora, só quero a filha dela em meus braços.
— Viktoria, minha linda esposa, vou te mostrar muito mais
coisas sobre a vida íntima de um casal.
Essa é uma promessa que a deixa envolvida e curiosa. Sua
curiosidade é algo encantador, assim como tudo que há nela.
Capítulo 7
VIKTORIA
A brisa suave do mar acaricia a minha pele, trazendo consigo
um conforto inigualável. É como se cada sopro das ondas me
dissesse que minha vida não será mais um mar tempestuoso a partir
deste momento. Agora tenho um fio de esperança de dias melhores
e acredito que tudo será perfeito. Estou casada com Mikhail
Alekseeva, o homem mais poderoso e temido da Rússia, a quem
entreguei o meu coração, confiando que ele poderia ser a minha
salvação neste mundo onde eu só conhecia a dor e o medo.
Comigo, ele não demonstra a crueldade da qual todos falam.
Para mim, é o mais gentil dos maridos, fazendo-me acreditar na
possibilidade de que alguém com tanto poder pode ser carinhoso e
até amável.
Cresci ao lado do meu irmão, que era o único modelo de
homem que eu conhecia. Casar-me com alguém como ele teria sido
o meu pior pesadelo e eu me veria como a mais infeliz das esposas,
sufocada, sabendo que o amor nunca existiria.
Pelo pouco tempo que tenho de casada, eu não deveria
fantasiar um possível amor e um destino de felicidade, mas sei que
se eu fizer tudo que meu marido quer, se eu sempre lhe agradar,
poderei ter sua gentileza, e isso será o suficiente. Nunca mais terei
que voltar para o pesadelo que era a minha casa.
Ao meu lado, Mikhail tem me apresentado dias gloriosos como
o amanhecer que se apresenta à minha vista. Ontem dormimos em
um quarto luxuoso de madeira, com um dossel adornado por
estampas, à beira-mar, rodeados por palmeiras e embalados pelo
calor tropical que contrasta com o frio congelante de Moscou. Não
estamos em um resort lotado, e sim em uma ilha privada, na
América do Norte, perto do famoso Havaí. Um verdadeiro paraíso
que meu marido possui.
Na manhã seguinte ao nosso casamento, viajamos para este
refúgio. Assim, pela primeira vez, percebi o quão rica é a sua vida, já
que ele é o proprietário de uma ilha exclusiva; um privilégio que
poucos têm. É a minha primeira viagem internacional. Nunca antes
eu havia deixado a segurança da minha cidade.
Na última noite, fizemos amor sob as estrelas, e essa foi uma
das experiências mais intensas que já vivi. Senti seu corpo sobre o
meu e sua boca sedenta devorando a minha enquanto ele me
possuía com uma dança eloquente. As ondas do mar eram a nossa
sinfonia.
Meu coração dispara assim que me recordo da felicidade que
tem me invadido desde o nosso enlace. Mikhail não é o homem
exigente que minha mãe garantia que seria. Em certos momentos,
ele se esforça para parecer descontraído, tentando me mostrar um
lado mais liberal, diferente da rigidez que o cerca. Ele prometeu que
nossa lua de mel duraria uma semana, e já passamos cinco dias
neste paraíso.
É como se minha vida estivesse mergulhada em leveza, em
novas descobertas, em orgasmos e na liberdade de viver longe de
casa. Finalmente, posso fechar os olhos e dormir sem medo de que
meu irmão me ataque à noite e sem ouvir os lamentos da minha
mãe em seus momentos de descontrole, dizendo que eu deveria me
calar e entender que meu irmão não queria me machucar. Ela
sempre o defendia e me fazia sentir culpa por ser desejada por
alguém que deveria me proteger. Muitas vezes, eu tive que me
refugiar na casa da minha avó para escapar das garras dele.
Ao abrir os braços e sentir a água morna e convidativa tocar em
meus pés, entrego-me à sensação de liberdade. Minha realidade
pode mudar a qualquer momento, mas, por ora, eu sou livre e feliz,
e essa é a única coisa que ocupa os meus pensamentos.
Braços fortes me envolvem, abraçando-me com uma
intensidade única, e um sorriso surge em meu rosto assim que sinto
o aroma dele. É o meu marido. Meu coração parece querer saltar
pela boca, tomado pela segurança que sua presença me traz.
— Madrugou, esposa? — sua voz sonolenta carrega uma suave
neblina de preocupação. — Pensei que tivesse ido muito longe.
Eu me levantei antes dele, coisa que o surpreendeu.
Eu queria capturar a imagem do nascer do sol com a câmera
moderna que ele me deu de presente antes de embarcarmos no seu
jato, depois de eu ter comentado que amava fotografias. Ainda
estou aprendendo a usá-la. Sempre quis ter uma como essa.
— Desculpa, eu não queria te preocupar. — Mordo a parte
interna da minha bochecha. A última coisa que eu quero é irritá-lo.
É
— Eu queria apenas caminhar um pouco e ver o nascer do sol. É
lindo, não acha?
Ele contempla o horizonte, mantendo-me em seu abraço
acolhedor. Agora percebo a sua ereção matinal ser pressionada
contra mim. Ele sempre acorda assim, especialmente depois de
dormir sem roupas. O que não aconteceu na noite anterior, pois ele
usava um short leve.
— Lindo, mas não é exatamente o que aprecio ver. O sol está
mais brilhante porque está olhando para você, querida. — Sua
sinceridade me faz rir.
— Eu acho fascinante. Nunca vi antes.
— Nunca? — a incredulidade transparece em sua voz.
— Não. A janela do meu quarto não me deixava ver o nascer
do sol. — Limitei-me a essa explicação, sem revelar que a visão da
janela era bloqueada pela minha necessidade de me proteger do
meu irmão.
Ciente de que não conseguirei manter minha mente em paz
enquanto pensar nisso, mudo rapidamente de assunto.
— Você dormiu bem?
— Muito bem, por sinal. — Ele mordisca a minha orelha,
arrepiando todo o meu corpo.
Não posso evitar de dar uma risadinha.
— Aposto que deve estar com fome. A noite foi agitada. —
Viro-me para convidá-lo a tomar o café da manhã na mansão.
— Minha fome é de outra coisa, borboletinha. — Sua
provocação faz o meu coração disparar mais uma vez.
Diante dele, não consigo formar palavras.
Estou vestindo apenas uma camisa branca e folgada dele, que
se assemelha a um vestido em meu corpo. Estou sem calcinha, e a
blusa mostra a marca dos meus mamilos excitados.
— Minha esposa acordou mais cedo e veio caminhar na areia
com minha camisa, expondo como é deliciosa. Se algum segurança
te visse assim, eu teria que enfiar uma bala na cabeça do infeliz.
— Ninguém me viu — aviso, apressada para explicar.
— Sorte do infeliz. Ele perderia a vida se ousasse olhar para o
que é meu.
Esse é um dos traços que mais noto em Mikhail: posse. Ele
odeia que olhem para o que lhe pertence, e, nesse caso, referiu-se a
mim. Sua natureza me causa medo e sensações sufocantes, ligadas
ao terror que o seu nome evoca. O urso da neve de Moscou.
O pavor de lhe desagradar ainda ecoa em minha mente. Os
ensinamentos da minha mãe sempre moldam os meus
comportamentos e fervilham no fundo dos meus pensamentos:
“Não irrite o seu marido e sempre lhe agradeça.”
— Tudo bem com você? — O olhar penetrante dele me captura,
atento a cada movimento meu, como uma câmera. Ele está ansioso
para ler a menor das minhas emoções.
— Tudo ótimo, sim. Vou preparar a nossa refeição. — Forço um
sorriso, abrindo as portas para uma nova conversa.
— Eu já te disse para não se preocupar com isso; tem pessoas
que cuidam de tudo por nós.
Ele se referiu à nossa primeira refeição na ilha, de quando fiz
um espaguete e peguei frutas. Também, quando chegamos em casa
tarde, em outra noite, optando por não acordar a empregada,
preparei algo simples. Ele não gosta da ideia de sua esposa ter que
trabalhar.
— A menos que não goste do meu tempero, eu prefiro cozinhar
as nossas refeições.
— Seu tempero é o melhor, baby. — O duplo sentido faz o meu
coração querer pular do peito. — Mas não quero que se esforce com
nada — ele repete o seu pedido, preocupado.
— Em casa, eu sempre preparava as refeições — deixo escapar
involuntariamente, revelando um pouco da minha história.
— Você? E a empregada?
Congelo, percebendo minha desatenção. A empregada tinha
sido demitida há seis meses, então eu cozinhava a maior parte das
refeições. Mas não quero entrar nesse detalhe.
Um toque no celular de Mikhail interrompe a nossa conversa;
um sinal de alívio para mim.
— Seu celular está tocando. Deve ver quem é, porque pode ser
importante.
Minha risadinha nervosa ecoa enquanto caminhamos para a
casa. Ele atende à ligação e, percebendo a gravidade do assunto,
afasta-se de mim.
Estou habituada a servir ao meu marido primeiro e lhe oferecer
ajuda com o seu prato. Ele, gentil, agradece-me e logo começa a
comer, dando início à nossa refeição. Minha participação é por uma
mera formalidade, pois sempre como pouco, deixando sobrar mais
para ele. Contudo, como a sopa solyanka é a minha favorita, isso
está sendo um desafio. Saborear esta sopa picante e não poder
repetir o prato é uma tortura. Ela é a mais deliciosa do mundo. Já
Mikhail optou por um frango à kiev e uma salada olivier, para
manter o seu físico perfeito.
“Se você não quiser se tornar uma mulher gorda e ser trocada
por alguém mais magra, não coma muito. E agradeça a Deus se não
engordar e não ficar com a pele flácida depois de parir seus filhos.
Você não é bonita o suficiente para prender um homem como ele,
então use a cama para satisfazer as vontades dele.”
Confinada em pensamentos, pergunto-me se um dia romperei
os grilhões das dolorosas lições da minha mãe.
— Sirva mais à minha esposa, ela ainda está com fome —
Mikhail ordena à empregada, que fica hesitante por um breve
momento.
— Não. Realmente não quero mais. Estou satisfeita — afirmo
para a mulher, que me olhava, em busca de aprovação.
Meu marido faz um gesto de insistência e ela enche o meu
prato de sopa novamente com três conchas generosas.
— Obrigada — murmuro enquanto ela se afasta. — Eu já
estava satisfeita, marido — minto, temendo sua reação.
— Você olhava para a sopa como quem desejava comer mais.
Por que estava com vergonha de repetir o prato?
Ele está convencido de que é vergonha.
— Não sinto vergonha de repetir, apenas… — As expectativas
em seu olhar aumentam; o que me deixa nervosa. E quando estou
nervosa, não consigo pensar bem, não consigo fingir. — Não quero
engordar — digo de uma vez, sem pausas. — Talvez eu ganhe
bastante peso durante as minhas gravidezes, e não quero ficar com
a pele mole e sem vida. Já não sou bonita o suficiente, então preciso
me cuidar.
Seu olhar é como uma tempestade, repleto de incredulidade,
como se eu tivesse pronunciado a maior das loucuras.
— Está louca? Você não percebe o absurdo que acabou de
dizer? Por que alimenta esses pensamentos tão devastadores sobre
si mesma?
— Não alimento, Mikhail, mas sou plenamente ciente dos meus
deveres. Minha mãe sempre disse que não é fácil ficar bem depois
de tantas gestações, e eu sei o quanto você deseja muitos filhos.
Estou apenas me protegendo para não ser desprezada por um
deslize meu.
Mikhail, ainda incrédulo, deixa a colher cair sobre a mesa com
um estrondo.
— Viktoria, eu realmente quero ter muitos filhos com você,
assegurando a minha linhagem e o meu sobrenome, mas não posso
acreditar que veja a si mesma dessa forma.
— A sua avó também me disse que é o meu dever dar à luz a
muitos meninos e me cuidar para não engordar antes do tempo.
Ele não pode acreditar que ela me disse isso. Não duvida de
mim, mas sente raiva das pessoas que me fizeram pensar assim.
— Tudo bem. Estou bem com tudo isso — minha voz treme; ela
fica assim quando estou nervosa.
Estou à beira de uma crise de choro que preciso conter. Estalo
os dedos, como minha avó me ensinou, e bato o pé no chão. Que as
lágrimas não escorram pelo meu rosto.
— A sua mãe não sabe de nada. Droga! Mais uma vez a sua
mãe! — Mikhail dispara. Sua raiva alcançou um pico insustentável. —
Como ela pôde falar algo tão cruel para você? Você é filha dela —
ele ataca a minha mãe como ninguém nunca fez antes. — A minha
avó também não deveria ter te assustado. Ela é uma mulher de
idade, presa a ideias e pensamentos antigos. Ignore isso. Você
precisa parar de dar ouvidos ao que elas te disseram antes do nosso
casamento.
— Como quiser, marido — aceito sua súplica, mesmo ciente de
que não sei como satisfazer o seu desejo. As palavras da minha mãe
deixaram cicatrizes profundas no meu psicológico.
Não posso aborrecer Mikhail.
Não posso decepcionar o meu marido.
Repito isso para mim mesma enquanto ele me observa. Seus
olhos, cravados em mim, estudam cada microexpressão minha.
— Coma a sopa. Mandei a prepararem especialmente para
você, porque sei que é a sua favorita.
— Obrigada. Eu vou comer, sim. — A gratidão brota em meu
peito por ele ter tido esse cuidado a meu respeito.
Levo a mão direita à boca, perdendo o controle das minhas
emoções. Quando percebo, estou chorando, tomada pela
intensidade do que ele fez. Seu simples gesto de ter pedido para
prepararem a minha comida favorita é um carinho que ninguém
nunca teve o cuidado de me oferecer.
— Viktoria, o que está acontecendo? — sua preocupação é
palpável e quase assombrosa.
Quando Mikhail nota que os meus olhos estão marejados,
levanta-se rapidamente e vem em minha direção. Viro-me para
encará-lo, ainda sentada, enquanto ele segura a minha mão
delicadamente sobre o meu colo. Ele se abaixa, ficando quase de
joelhos, e eu vejo que o seu olhar transmite um misto de confusão e
preocupação. Ele está tentando desvendar o que provocou o meu
estado.
— Bonequinha, por que está chorando? — Não consigo
responder à sua pergunta, emocionada pelo seu gesto. — Me diga o
que aconteceu. Foi algo que eu disse? Eu não quis ser duro com
você. — Nego com a cabeça, pois ele pensa que é sua culpa. —
Então, foi o quê? Por favor, me diz. Está me deixando preocupado —
ele insiste.
A aflição que irradia dele é algo que eu nunca havia encontrado
em ninguém. Que homem é esse? Lindo, cheiroso e ainda se
preocupa comigo? Ele me mima com presentes, desde o nosso
casamento, todos os dias, sempre com algo novo para me cativar,
desde itens mais caros, como um celular de última geração e uma
câmera top, até pequenos mimos, como os bombons que trouxe
para mim ontem.
— Obrigada. — Fungo, parecendo uma idiota diante dele. Ele
deve me achar uma tola agora.
— Pelo que me agradece? — A confusão estampada em seu
rosto é evidente.
— Ninguém nunca se preocupou em mandar preparar a minha
comida favorita. Eu me emocionei com o seu gesto. — Começo a
secar as lágrimas, lutando contra um novo turbilhão de sentimentos.
Mikhail se levanta, tentando compreender o impacto de sua
ação, que me deixou tão sensível. Para ele, foi apenas um gesto
simples, mas, para mim, representou um carinho que eu nunca
havia experimentado.
— A partir de agora, você só vai comer as suas comidas
favoritas, e não importa se vai ganhar peso ou não. Prometo que, se
você engordar um quilo, eu ganharei dois. Assim, engordamos
juntos. — Ele aperta carinhosamente a minha bochecha e volta a se
sentar, segurando a minha mão como se estivesse segurando um
tesouro. — Eu não quero que você chore mais, baby. Não por algo
que merece ter. Se eu te mimo, é porque você é minha mulher e eu
quero te ver sempre sorrindo. — Ele sela a sua promessa com um
beijo suave em minha mão e faz cócegas no meu nariz, deslizando o
dedo na ponta dele.
É inevitável sorrir, mesmo eu sabendo que o meu rosto está
vermelho como um pimentão.
— Agora, deguste a sopa, boneca.
Assinto, sentindo um calor aconchegante se espalhando pelo
meu peito.
Capítulo 8
VIKTORIA
Nesta tarde, após uma breve soneca, decidimos explorar mais a
ilha. Meu lado aventureiro anseia por descobrir as maravilhas deste
lugar encantador. Fotografo cada paisagem, sonhando em eternizar
a experiência magnífica de ter pisado em uma ilha tropical.
— Como se chama este lugar? — pergunto, curiosa, gravando o
mar com meu novo iPhone. A imagem é perfeita.
— A ilha? — indaga Mikhail, com um olhar distante.
Neste momento, percebo que ele está focado em algo na tela
do celular. Quando o chamo para caminhar um pouco, noto que ele
hesita, e ao sugerir que posso ir sozinha, vejo sua disposição, de
repente, acender-se. Amanhã iremos embora, então estou
determinada a aproveitar cada instante deste paraíso, pois não sei
quando teremos a chance de voltar aqui.
— Então… Qual é o nome da sua ilha?
— O nome da nossa ilha é Moskovskiy ray (paraíso de Moscou)
— ele responde, ainda imerso em seu celular.
— Nossa ilha? Minha e sua? — sibilo, surpresa.
— Sim. Com o casamento, tudo que é meu, também é seu.
— Você tem tantas coisas para compartilhar, enquanto eu não
tenho nada. — Chego a me envergonhar.
Com o sobrenome Alekseeva, eu ganhei muito mais que poder
e posição social.
— Tudo o que preciso é ter você, esposa. Os bens materiais
que tenho são suficientes para nós dois vivermos uma vida farta por
muitos anos, sem nos preocuparmos com nada.
Aproveito a luz radiante do dia e a beleza do seu rosto sério
para fotografá-lo com minha câmera digital. Guardo o celular no
bolso do meu short jeans e capturo a imagem do seu olhar
concentrado no que ele lê. Sinto uma curiosidade crescente sobre o
que prende a sua atenção. Eu adoro quando ele se concentra
apenas em mim.
Quando Mikhail percebe que eu o fotografo, sorri
genuinamente, divertindo-se.
— É crime fotografar alguém sem o consentimento do
indivíduo, sabia? — Ele guarda o celular e cruza os braços de
maneira provocadora.
— Mesmo quando esse indivíduo é o meu marido? — simulo
uma dúvida.
— Nesse caso, se a foto me agradar, vou relevar.
— Espero que goste, então. Não quero ser presa por ter
fotografado o meu marido em nossa lua de mel. — Vou até ele para
lhe mostrar a foto, mas, em vez de olhar para a câmera, ele me fita
intensamente. — Olhe para a foto — peço, começando a me sentir
constrangida.
— Sim, senhora Alekseeva, como preferir. — Ele ri.
Essa foi a primeira vez que ele me chamou pelo sobrenome que
adquiri com o casamento.
— Senhora Alekseeva — repito, percebendo que esta é a
primeira vez que eu digo isso também. O som é agradável. —
Viktoria Alekseeva. — Adoro o poder que o meu nome exala. — Soa
muito bem.
— Esposa de Mikhail Alekseeva — ele diz, com orgulho.
— Sim, esposa dele, o rei da Bratva — eu declaro e ele reage
como se essa verdade o intrigasse.
— O que isso significa?
— Significa que ele é o dono do mundo. — Dou de ombros. —
Ele tem tudo a seus pés, como um imperador.
— Realmente, ele possui tudo que deseja. É dono da joia mais
valiosa e rara que existe — ele se refere a mim como sua joia rara e,
também, sua posse.
— Talvez essa joia preciosa esteja segura nas mãos desse
imperador. — É o que mais desejo: estar protegida. — E isso é tudo
o que ela precisa.
— Uma joia preciosa como essa não será deixada
desamparada. Sabe… Os ambiciosos podem cobiçar algo tão raro e
valioso, mas ele não permitirá que ninguém a roube.
Abraço o meu marido e sinto conforto e segurança em seus
braços. Encosto a cabeça em seu peito, grata por ele cuidar de mim
e prometer que me manterá segura. Mesmo que estivéssemos
falando de uma “joia”, era de mim que realmente falávamos.
— O que te aflige? — ele questiona.
Encaro seus olhos atentos, que estão sempre em alerta. Mikhail
é extremamente inteligente. Às vezes falo demais, e isso pode
despertar dúvidas em alguém tão sábio como ele.
— Nada me aflige enquanto você está comigo. — Sorrio,
demonstrando confiança.
— Mesmo que você não esteja preocupada, estarei sempre com
os olhos bem abertos para tudo que acontece com você. Nunca terá
nada a temer — ele me assegura.
— Eu sei disso. Obrigada. — Aqui, abraçada ao meu marido,
nada mais me importa.
O relógio marca 01h39 da manhã quando me levanto,
desejando algo doce. Na geladeira, encontro creme de leite, cacau
em pó e leite condensado, então decido preparar uma receita de
brigadeiro que aprendi na internet após assistir a uma série
brasileira, há alguns anos. Desde então, essa se tornou uma das
minhas sobremesas favoritas.
Acendo apenas as luzes que me permitem ver bem o cooktop
e, com cuidado, para não fazer barulho, mexo o brigadeiro,
preocupada em não acordar a empregada e fazê-la perder o sono.
Quando o doce atinge o ponto ideal, desligo o fogo e o ponho
para esfriar em um prato, mantendo-me na ponta dos pés. Lambo a
colher, quando, de repente, as luzes da entrada se acendem,
revelando o meu marido em pé, ao lado do interruptor, observandome com uma expressão preocupada e sonolenta.
— Mais uma vez, saiu da nossa cama e me deixou sozinho,
esposinha? — Ele está, visivelmente, chateado com minha atitude.
— O que vou fazer com você, pimentinha?
Sinto uma onda de constrangimento por ter sido flagrada
lambendo esse chocolate calórico no meio da madrugada.
— Quer um pouco também, maridinho? — provoco-o, divertida,
tentando fazê-lo esquecer a tensão. Mas não vejo nenhum sorriso
surgir em seu belo rosto. — Desculpe. É que, de repente, senti uma
vontade insaciável de comer algo doce, e não queria te acordar só
para avisar que viria à cozinha. Prometo que foi a última vez que saí
da cama e te deixei dormindo sozinho.
Quero rir. Ele é o tipo de marido que não consegue descansar
enquanto eu não estou ao seu lado. Isso é incrivelmente fofo e,
também, engraçado.
— Isso não tem graça alguma, senhora Alekseeva. Eu me
preocupo quando não sei onde você está. Penso logo que alguém a
levou de mim. Sabe que sou odiado por muitos que sempre estão
esperando o momento certo para atacarem. Não posso deixar que
você se torne um alvo dos meus inimigos.
— Nenhum deles se atreverá a tocar no que é seu, querido —
enfatizo ao ver a chama pulsar em seus olhos.
— O que você está comendo?
— Brigadeiro de chocolate. Aprendi a receita assistindo a uma
série brasileira. É uma delícia. Quer provar?
Ofereço-lhe a colher; um gesto simples que desperta a sua
curiosidade. Ele não parece o tipo de pessoa que quebra uma dieta,
mas, então, surpreende-me:
— Se você vai comer, eu também vou. — Com passos rápidos,
ele ocupa a minha frente. — É claro que vou provar. — Seus olhos
escuros me devoram, deixando-me sem jeito e sem ar. — Com
certeza, está uma delícia.
— Eu sei que não está falando só do brigadeiro, Mikhail —
retruco e tento esconder um sorriso, achando-o bobo por adorar me
ver corar.
— Não estou — ele confessa, com um brilho maroto nos olhos.
— Já que você saiu do quarto sem me avisar, me fazendo correr pela
casa como um louco, atraído pelo cheiro doce do brigadeiro, terá
que me compensar.
É neste momento que ele me mostra a arma em sua mão,
prateada e reluzente. É pesada, sem dúvida. Ao acordar e não me
encontrar, meu marido pegou essa arma, pensando que eu estava
em perigo. A visão dela me causa um nó na garganta e o medo me
paralisa. Ele, rapidamente, deposita-a no balcão, preocupado por me
ver assim.
— Está tudo bem, esposa. Não é para ferir você que eu a
usarei. — Ele segura o meu rosto delicadamente e beija a ponta do
meu nariz. — Eu jamais te machucaria, gatinha.
— Eu não estava com medo de que você me machucasse —
esclareço. — É que armas me assustam. Não gosto de ver algo tão
letal, que, em um piscar de olhos, pode acabar com uma vida. Isso
me aterroriza.
— Não farei você olhar para uma, nunca mais. Vem cá. Me
deixa provar o seu brigadeiro, minha gostosa.
Encho a colher e a levo à sua boca com delicadeza. Ele engole
toda aquela delícia, claramente, satisfeito com a receita.
— Gostou mesmo?
— Tudo que você faz é divino, menina.
Sorrio com seu elogio, mais desconcertada do que nunca.
— O que quis dizer sobre eu ter que te compensar? — provocoo e sinto seus olhos arderem de desejo. Quero que ele me tome.
— Já que está tão curiosa, baby, eu te direi. — Ele suspira e
mordisca a minha orelha. Sua respiração quente arrepia a minha
pele. — Que tal cuidar bem do seu marido preocupado? — sugere,
com malícia. — Estou tão excitado agora, e preciso que resolva esse
problema para mim.
Desço os dedos pelo seu abdômen viril, provocando-o mais.
Uma onda de coragem me domina e eu ignoro o fato de que
podemos ser flagrados. Estou vestindo sua camisa, enquanto ele usa
um short fino de dormir. Minhas mãos ágeis deslizam pelo tecido até
deixá-lo nu. O brilho em seus olhos, diante da minha ousadia,
fascina-me.
Seu membro está duro, como se não tivesse gozado antes,
apesar de termos nos entregado um ao outro duas vezes antes de
adormecermos.
— O que sugere que eu faça? Diga, e eu farei.
Ele se apoia no balcão americano, com os olhos sedentos por
mim. Meus olhos descem para o seu membro robusto, que espera
que eu faça algo para aliviá-lo.
— Que tal usar sua boca… — Ele esfrega o dedo nos meus
lábios, transbordando desejo. — Aqui? — Com a outra mão, envolve
o seu pênis excitado.
— Eu não sei bem como fazer isso — admito, tentando
encontrar uma maneira de satisfazê-lo sem parecer uma completa
desastrada. — Na verdade, não sei como fazer. — Pisco e volto a
encarar seus olhos.
Dentro de mim, o desejo pulsa intensamente. Estou ansiosa
para sentir sua presença no fundo da minha boca. Quero lhe
proporcionar prazer com a mesma intensidade que ele me oferece.
Noto o seu sorriso de lado e o rosto preenchido de malícia. Ele
segura o riso, divertindo-se com o meu nervosismo.
— Ajoelhe-se — ele ordena e sua mão suave em meu ombro
me ajuda a descer. Nossos olhares se cruzam e minha timidez se
desfaz. — Mostre o que minha putinha submissa sabe fazer.
A ousadia que ele provoca em mim desperta-me algo
desconhecido. Ouso me libertar da camisa, revelando minha nudez.
Seus olhos devoram meus seios e suas mãos possessivas os
apertam. Meu corpo inteiro formiga, ansioso e apreensivo. Ele é um
professor excepcional, e eu me esforço para ser sempre uma aluna à
sua disposição.
Começo segurando aquele pau firme, que pesa tanto dentro de
mim quanto nas minhas mãos. Como ele é enorme! Mas, se entrou
em mim, com certeza, caberá na minha boca. Quando começo a
massagear sua carne com movimentos suaves, escuto um gemido
rouco escapar dos seus lábios sedentos. Continuo e abro lentamente
a boca, enchendo-a de saliva. Depois deslizo a ponta da língua na
cabeça robusta, que pulsa bem diante do meu rosto. O cheiro forte
dele, que traz o aroma do nosso sexo de mais cedo, é inebriante; é
algo que nunca quero esquecer.
Lambo a cabeça, admirando as veias, que parecem querer
explodir sob os meus toques. Beijo aquela extensão suave e
massageio suas bolas grandes, uma em cada mão. Também as sugo
como se fossem iguarias suculentas.
Mikhail puxa o meu cabelo, prendendo-me com firmeza.
— Esse é o seu lugar, minha putinha. Você nasceu para me dar
prazer. Nunca duvide da sua missão.
Ele estapeia o meu rosto, onde será difícil esconder a marca da
sua mão. Como explicarei para os outros que foi durante o sexo e
que eu gostei? Essa dor queima e me faz gemer de excitação.
Um arrepio atravessa o meu corpo quando Mikhail emite um
grunhido profundo. Lambo sua extensão lentamente, tentando
intensificar o seu prazer, e sugo a cabeça rosada com volúpia. Os
sons da sucção ecoam. O gosto dele é intenso e inigualável.
— Perfeita, baby. Continue… Muito bem… — Ele aprova as
minhas ações.
Seus dedos se enterram em meu cabelo e eu abocanho o seu
membro o máximo que consigo, chupando-o e lambendo-o com
movimentos circulares que ele adora. Pego uma quantidade
generosa de brigadeiro e a deposito sobre o seu pau. Ele me olha,
surpreso e admirado.
— Que delícia, minha menina. Apenas continue… — meu
marido implora por mais. E eu lhe dou mais.
Mikhail arfa de desejo. Sua fúria em querer se liberar aumenta,
e logo ele começa a foder minha boca com tanta intensidade, que
parece que está comendo a minha boceta.
— Sinta o meu pau foder a sua boquinha, esposa. Nunca mais
acorde antes do seu marido e o deixe sozinho na cama. Menina
atrevida.
Sinto o líquido quente escorrer para dentro da minha boca,
entupindo-a. Engulo tudo que posso. É salgado, como uma deliciosa
gosma branca. Enquanto me lambuzo, ele captura cada momento
das minhas reações.
— Engole toda a porra do seu homem, anjinho.
Satisfeito, ele bate no meu rosto com o seu pau, que, mesmo
após ter gozado, continua duro, insaciável. Em um movimento ágil,
meu marido faz eu me sentar sobre o balcão americano e entra na
minha boceta com força. Ele é um devasso me tomando com fervor.
Apoio as mãos no balcão enquanto ele chupa meus seios como um
animal faminto. Adoro quando ele me leva a esse estado. Em poucos
minutos, já estou implorando para que Mikhail me faça gozar.
Com uma mão em meu cabelo e a outra apertando o meu
pescoço, ele me fode duro, estapeando o meu rosto de vez em
quando. Sua boca me reavive, com a fome de um leão. A entrega
intensa nos envolve em uma energia eletrizante, e quando sinto que
estou prestes a explodir, imploro:
— Por favor, me coma mais forte… Eu vou gozar…
Os estalos do seu pau na minha boceta ecoam pela casa, mas
eu não me importo. Logo ele também chega ao clímax, gozando
dentro de mim. Sei que, em breve, teremos uma “surpresa” já
esperada.
— Muito bem, pimentinha. Gostei desse seu lado mais ousado.
Você me deixou muito satisfeito, minha putinha safada. — Ele beija
os meus lábios suavemente, envolve-me em seus braços e me leva
para o nosso quarto.
O brigadeiro ficou esquecido na cozinha. Eu só quero sentir o
sabor dos lábios do meu marido, e nada mais.
Capítulo 9
VIKTORIA
Sempre estou em alerta em relação à base no meu rosto,
verificando se ela está cobrindo as sardas. Não quero assustar o
meu marido com essas pintas horríveis que sempre tentei esconder
para que não rissem de mim. Em frente ao espelho, tenho cuidado
para não deixar a maquiagem muito forte e não parecer que
exagerei. Uma vez, quando fui a um salão, a mulher me ensinou a
fazer uma maquiagem bem leve, que fica muito natural. E como
tenho as pintas mais na região das bochechas, é mais fácil escondêlas.
Depois que soube que cheguei da lua de mel, a minha mãe não
para de ligar para mim, para saber como estou. Eu respondi às suas
mensagens — todas elas —, mas ela parece querer muito ouvir a
minha voz; o que me irrita. Vejo a tela do meu celular se acender
pela quarta vez seguida. Ela não percebe que não quero atendê-la?
Durante a viagem, eu tinha a desculpa de que não queria incomodar
o meu marido, falando ao telefone, e que queria ter tempo apenas
para ele. Mas agora, que cheguei de viagem, e minha mãe já sabe,
está me enviando uma mensagem atrás da outra.
“Por que já voltaram?”
“Apenas uma semana de lua de mel? A maioria dos casais
passa um mês ou mais viajando.”
“Você aborreceu o seu marido, garota tola? Eu não te ensinei
tudo que deveria saber?”
“Me responda, filha ingrata. Diga que seu marido gostou de
você na cama. Aliás, não importa, contanto que já esteja grávida.”
“Por que fiquei sabendo por terceiros que minha filha já voltou
da lua de mel há quatro dias? Espero que não tenha feito nada de
errado, garota burra.”
Não para de chegar mensagens dela. Pela tela, consigo lê-las
sem visualizar.
Novamente, ela liga para mim. Sento-me na ponta da cama
para lhe responder.
“Bom dia, mãe. Eu estou bem. Como a senhora está?
Chegamos de viagem no domingo à noite, e eu estava descansando.
Por favor, pare de ligar para mim a cada instante, pois não queremos
aborrecer o meu marido com tantos toques de celular. Não se
preocupe, eu fiz tudo que a senhora me disse. E não aborreci o meu
marido. Pare de me acusar sem saber o que aconteceu. Mikhail é um
homem muito ocupado e, na posição dele, não pode se dar ao luxo
de ficar muito tempo longe de suas obrigações.”
Após enviar a mensagem, desligo o celular para não ver a
resposta dela de imediato. Conheço-a tão bem, que sei que no
mesmo instante que ela a recebeu, já leu e estava prestes a digitar a
resposta.
Massageio minha barriga ao sentir um desconforto abdominal.
Há dois dias, sinto essa mesma dor ao acordar. Às vezes fico
confusa, sem identificar onde está doendo. Há momentos em que
juro que é no abdômen, mas, em outros, sinto doer em um local
mais centralizado, na área pélvica.
O que há de errado comigo?
Não tenho com quem conversar sobre esses assuntos, então
pesquisei no Google uma possível dor relacionada ao ato sexual. Vi
que 40% das mulheres sentem essa dor quando, dependendo das
posições e da intensidade nas relações, o pênis fricciona com força
no colo do útero; o que causa cólicas. Em alguns casos, as lesões
podem levar ao sangramento.
Desde que me casei, faço sexo todos os dias, e com muita
intensidade. Muitas vezes, exijo que Mikhail me possua mais forte,
esquecendo-me de que ele é bem dotado.
Aproveito que o meu marido já foi trabalhar e pego o contato
da ginecologista na agenda telefônica da senhora Etevlania.
Perguntei às empregadas onde poderia encontrar contatos de
médicos, e elas me disseram que a avó de Mikhail, à moda antiga,
tinha os números anotados em uma agenda, no escritório pessoal
dela. Entrei no cômodo sem ser convidada, já que ela saiu nesta
manhã para ir à igreja, como de costume. Anoto alguns números e
agendo uma consulta com a doutora Irina Kavrok.
Em seguida, aviso ao motorista que sairemos em alguns
minutos. Tenho passe livre para ir aonde desejar, contanto que meus
seguranças pessoais me acompanhem aonde eu for. Uma equipe
com quatro deles irá comigo, mas eu lhes advirto para não avisarem
ao meu marido que estou indo ao hospital, porque se isso acontecer,
irei sugerir a demissão deles. Creio que os deixei bastante
assustados.
Aguardo a minha vez para a consulta. O consultório da doutora
Kavrok fica no centro de Moscou, em uma ala privada que é apenas
dela, no famoso Hospital das Estrelas. Ele tem esse apelido por
atender apenas as pessoas de classe social elevada, com muito
dinheiro.
— Senhora Aidorov, por favor, sente-se — ela pede gentilmente
assim que entro na sala.
A senhora Kavrok tem seus 50 e poucos anos, sendo uma
médica muito experiente em seu ramo e renomada.
Dei o meu sobrenome de solteira para não chamar a atenção
com o sobrenome conhecido do meu marido.
— Obrigada. — Sento-me.
Esta é a minha segunda consulta com uma ginecologista. A
primeira vez foi uns dias antes do casamento, quando realizei
exames de rotina. Também, a avó de Mikhail queria garantir que eu
era virgem.
— Conte-me o que a trouxe aqui, senhora.
Mesmo envergonhada, começo a falar tudo que sinto.
Respondo primeiro às suas perguntas básicas, e depois de eu
explicar tudo que aconteceu comigo nos últimos 13 dias, ela me leva
para fazer dois exames: uma colposcopia e um Papanicolau.
De antemão, ela não vê nada alarmante com que eu deva me
preocupar; o que me tranquiliza bastante.
— Sua rotina mudou muito nos últimos 13 dias. A senhora
passou a transar com muita frequência e, como disse, em um ritmo
muito intenso. Talvez, apenas deva desacelerar um pouco a vida
sexual, e tudo…
A porta é aberta com um impacto praticamente brutal. Olho
para trás e quase tenho um ataque ao ver o meu marido se
aproximar de mim com euforia. Ele parece cansado, como quem
estava correndo até chegar aqui.
— Perdão, doutora Kavrok, mas quando fui informado de que
minha esposa tinha vindo ao seu consultório, não pude evitar de vir
aqui o mais rápido possível. Peguei um trânsito e vim correndo até
Viktoria.
Está explicado a sua camisa suada e a gola mais folgada. O
terno cinza o deixa lindo. Ele está impecável.
A doutora parece entendê-lo bem e não questiona o fato de ele
ter entrado abruptamente no consultório dela, porque o conhece e
sabe quem é a família Alekseeva. Por isso não dei meu sobrenome
de casada. Mas, como ele soube que eu estava aqui?
— Querida, o que você está sentindo? Por que não me avisou
que estava vindo à médica?
Continuo sentada, sem conseguir falar nada. O desespero de
Mikhail chega a ser assustador. Quem lhe informou da minha vinda
até o hospital e o alarmou?
— Diga-me, doutora: o que minha esposa tem? É grave? — A
preocupação o faz se sentar ao meu lado.
Ele segura a minha mão sob a sua, tentando me acalmar, sendo
que é ele que está nervoso.
Droga! A doutora vai dizer o real motivo de eu ter vindo.
Quanta vergonha.
— Peço perdão por não ter reconhecido a sua esposa. Como eu
estava conversando com a senhora Alekseeva, o que ela tem é algo
que pode ser comum em uma mulher com uma vida sexual intensa:
um desconforto devido à intensidade dos atos sexuais. O que
aconteceu com Viktoria? Ela era uma mulher virgem, de 20 e poucos
anos, até cerca de 15 dias atrás. — Meu marido me olha,
apreensivo. Eu só queria sumir e me esconder, de vergonha. —
Como ela me relatou um pouco sobre a intensidade da vida sexual
que ambos têm juntos, eu a estava alertando de que, em algumas
posições do ato, esse tipo de incômodo pode ser causado quando o
pênis fricciona no colo do útero. Seu tamanho e a força com a qual
ele é penetrado podem causar essas dores. Mas não precisam se
preocupar. Como eu estava falando antes do senhor chegar,
precisam apenas descansar por, no mínimo, uma semana. Depois,
podem voltar à rotina de recém-casados normalmente.
Quando a consulta acaba e saímos da sala, a mão dele segura
a minha. Deixei o meu cabelo cair sobre os olhos um pouco, como
um esconderijo.
— Você está bem? Tem certeza de que não tem mais nada que
esteja te causando dor?
— Eu estou bem — choramingo, envergonhada. — Que
vergonha.
— Eu te machuco com a minha intensidade, e você sente
vergonha?
— Você deve pensar: “Que garota fraca. Não aguenta quase
nada e já precisa vir ao hospital.”
— Viktoria, eu perdi o controle muitas vezes com você. Serei
mais cuidadoso de agora em diante. Sentia essa dor há dois dias e
escondeu do seu marido?
— Senti vergonha — confesso.
— Deveria ter me dito que estava sentindo dor no útero. Eu
fiquei muito preocupado quando fui informado de que você estava
no hospital.
— Não queria te alarmar com algo tão simples.
— Minha mulher está machucada por minha causa. Isso não é
algo simples que eu possa, simplesmente, ignorar. — Por um
instante, ele quase gritou, preocupado com o que fez.
— Não foi algo ruim. Você não me machucou de propósito. Eu
amei todas as vezes que fizemos amor, Mikhail — não digo isso para
lhe agradar, é a verdade.
— Como consegue ser tão linda assim? — ele indaga, ficando
mais lindo do que já é.
— A doutora exagerou um pouco. Não precisamos parar de
fazer amor por uma semana. Eu já estou bem.
— Seguiremos as orientações dela.
— Mas você conseguirá ficar tanto tempo sem sexo? — O que
me preocupa é a ideia de ele buscar sexo em outro lugar porque não
terá em casa.
— Há outras maneiras de eu me saciar, baby. — Ele quer dizer
que há outras mulheres? Não contenho a expressão triste no meu
rosto. — Você precisa descansar e me prometer que sempre vai me
fazer parar quando eu estiver pegando pesado. Muitas vezes,
quando estou te possuindo, acabo me esquecendo de que são
apenas os seus primeiros dias nesta vida ativa. Promete para mim?
— Eu prometo — minha voz sai baixinha e tristonha.
— Vamos lá. Não fique assim. Não deve se envergonhar por
algo que não é sua culpa. Eu que deveria me envergonhar.
— Se envergonhar de quê? De ter o pênis grande demais? Até
onde sei, isso não é motivo de vergonha para os homens.
Ele ri da bobagem que falei e deposita um beijo suave nos
meus lábios.
— Engraçadinha. — Ele se diverte, deslizando o dedo pela
ponta do meu nariz. Um palhaço. — Por mais tentador e difícil que
vá ser ficar uma semana sem você, o que mais desejo é que fique
bem. Totalmente recuperada.
Esse episódio será difícil de esquecer. Vergonha demais para ser
contada para alguém.
— Quem avisou a você que eu estava aqui?
— Os seus seguranças. É para isso que eles são pagos: para te
protegerem quando eu não estiver presente e me informarem de
tudo que se passa com você.
Malditos. Acreditei que eles não iriam falar nada. Mas entendo
que eles obedecem a quem paga o salário deles.
Retornamos para casa juntos.
À noite, quando desço para jantar, meu marido e sua avó já
estão à mesa. Eles param de conversar no momento em que me
veem. Mas pode ser uma paranoia minha.
— Boa noite — minha voz sai baixinha, como sempre.
Sento-me ao lado do meu marido. A senhora Etevlania degusta
uma taça de champanhe, assim como ele. Algo dito por ela o deixou
irritado, pois o clima está tenso.
Quando todos são servidos, finalmente, é a minha vez de falar
à empregada o que quero comer. Golobtsi é a única coisa que quero,
por ser mais saudável e menos calórico. O prato consiste em folhas
de repolho recheadas com carne bovina, arroz e legumes. O cheiro
está incrível.
— Eu soube que foi ao hospital mais cedo, querida. Está tudo
bem com a sua saúde? — Etevlania me pergunta, intrigada.
Claro que ela soube que fui ao hospital. Mas, o que vou falar?
“O pênis do seu neto machucou o meu útero”?
— Exames de rotina, vovó. Eu a acompanhei — meu marido
responde por mim, notando o meu desconforto.
— Que alívio saber que não foi nada preocupante.
— Obrigada por se preocupar, senhora. Eu estou bem —
reforço.
— Sua mãe ligou para mim nesta tarde e perguntou quando
poderia visitar a filha — o tom da sua voz não é nada animador. —
Algo a fez pensar que você não foi visitá-la ainda porque não te
deixamos sair — ela tenta falar como se brincasse, mas ri de
nervoso.
— A minha mãe é muito exagerada.
— Uma mãe coruja. Até onde sei, você já passou muito mais
tempo fora de casa, quando ficou, por uma longa temporada, com
sua avó paterna.
— Verdade. Eu cheguei a morar com minha avó por um longo
período antes de ela falecer.
— Estou pensando em convidá-la para um café da tarde na
próxima semana. Mas, claro, você pode visitá-la antes disso,
querida.
— Um café da tarde será ótimo. Talvez eu espere para vê-la
aqui.
Mikhail me olha, intrigado. Ele nunca deixa passar nada
despercebido.
— Não sente saudade da sua casa? — Etevlania me testa de
alguma maneira.
Por que tantas perguntas?
— Sinto bastante. — Forcei-me a mentir. — Por isso não quero
ir até lá. Assim, me acostumo mais rápido com o meu novo lar e não
corremos o risco de que eu queira ficar na casa da minha família.
— Não se preocupe, querida. Mesmo se quisesse voltar para lá,
o meu neto não te deixaria viver longe do conforto da sua nova
família.
Era para ser engraçado, mas não vi nenhuma graça. Mesmo
assim, forço um sorriso amarelo, para não aborrecer a senhora.
Este jantar está me sufocando. Assim que termino de comer,
peço licença e vou para o quarto. Visto um pijama. Tudo que tenho
é de renda e sensual.
Não demorou muito para Mikhail vir para o quarto. Ele toma
uma ducha quente e sai do banheiro nu, pronto para dormir. Ele nu
é a perfeição em pessoa. Mesmo sem estar excitado, tem o pau
grande.
— Se quiser visitar a sua família, eu te levo amanhã, antes de ir
para o trabalho.
— Não precisa. Eu não quero que se atrase por minha causa —
justifico-me, chegando a gaguejar um pouco.
— Eu te levo com prazer, baby. Sei que deve sentir falta da sua
casa, afinal, cresceu ao lado da sua mãe e do seu irmão. Leonad
reclamou comigo do fato de não ver a irmã desde o casamento —
ele comenta, deitando-se na cama. — Na verdade, ele me pediu que
eu te levasse para ver a sua mãe. Eles sentem saudade de você.
Leonad disse que queria me ver, que eu fosse em casa. O que
eles menos sentem de mim é saudade, ele apenas quer comprovar
se ainda sou virgem.
— O que mais ele falou para você?
— Seu irmão é um pouco estranho. Eu diria que ciumento
quando se trata da preciosa irmãzinha caçula dele. Ele se mostrou
bastante atencioso para saber como você estava. Pensei que vocês
conversassem por mensagens ou ligações. Ele parecia preocupado.
O número de Leonad está bloqueado no meu celular para evitar
que ele me atormente com mensagens.
— Ele não é atencioso, muito menos está preocupado comigo.
Se fosse assim, não teria me vendido para quitar suas dívidas —
murmuro toda a insatisfação que sinto por ele ser o mais falso dos
irmãos.
Na frente das pessoas, ele finge que me ama, que é zeloso e
cuidadoso comigo, mas só eu sei o quanto sofri em todos esses
anos, convivendo com sua indecência. Revolta-me o fato de ele ser
cínico.
Mikhail me olha, pensativo.
— Sente raiva do seu irmão por ele ter me dado você para o
casamento? — Em vez de usar as palavras “vendida” ou “moeda de
troca”, ele foi sutil.
— Sim, eu sinto. Fui usada como moeda de troca para que ele
não fosse morto por causa de dívidas. Um irmão que ama a irmã
não faria isso com ela.
— Odeia também o seu marido, anjo, por ter aceitado você
como esposa?
— Ele me vendeu. E você me comprou — sou franca. — Eu
entendo que você precisava de uma esposa para gerar seus filhos, e,
também, seu dinheiro salvou o meu irmão da morte. Mas apenas por
um tempo, porque logo ele estará atolado em dívidas de novo e não
terá mais ninguém para vender. A minha mãe também se beneficiará
com o dinheiro que você dará a ela mensalmente.
— Não respondeu à minha pergunta. Também me odeia?
— No começo, eu odiava. Não sabia que tipo de homem era de
verdade. Todos só diziam coisas horríveis sobre você. Eu sentia tanto
medo de encontrar um homem semelhante ao meu irmão, que
pensei, diversas vezes, em fugir para não ter que me casar. Mas não
consegui ir, pois carregaria a culpa da ruína da minha casa.
Também senti medo de que Leonad me encontrasse e me
forçasse a ser sua.
— Viktoria, eu não sou um homem do bem. Sou tudo que,
possivelmente, ouviu falar de mim.
— Eu sei que você não vai me machucar — falo, confiante.
— Quero que sempre tenha certeza disso. E saiba que aqui não
é a sua prisão. Este casamento pode ter sido arranjado, mas aqui,
comigo, é a sua casa. Eu quero ser o seu lar, acima de tudo.
— Você já está sendo o meu lar. — Encosto a cabeça em seu
peito.
Se ele soubesse do que me salvou… Eu deveria lhe agradecer
todos os dias por ter me comprado.
— Boa noite, princesinha. Durma com os anjos e sonhe comigo
fodendo você.
Capítulo 10
MIKHAIL
Desde o dia em que vi Viktoria se encolher atrás de mim,
implorando para deixarmos o casamento, quando o seu irmão a
convidou para dançar, percebi que algo em sua relação familiar a
incomodava profundamente. Agora, a razão por trás disso se tornou
clara: seu irmão a vendeu para mim, em uma tentativa desesperada
de se salvar de suas próprias dívidas. E o olhar entristecido da minha
esposa revela a dor que esse ato lhe causou. Pensando bem, a ideia
de um homem, atolado em dívidas, usando a própria irmã como
moeda de troca para obter dinheiro me revolta.
Porém, eu me permito, por um breve momento, acreditar que
talvez haja algo a mais entre os dois; alguma outra questão que não
me foi revelada, que deixa a minha mulher magoada. Se existe algo,
estou determinado a descobrir. Tudo que envolve minha esposinha
merece a minha total atenção.
Embora ela seja tagarela, encanto-me com a presença dela e
quero estar sempre ao seu lado. Viktoria me faz gostar de
características que antes eu abominava. Por serem dela, hoje eu as
admiro.
Quando recebi a notícia de que ela estava indo ao hospital,
parei tudo que estava fazendo, saí de uma reunião às pressas,
enfrentei o trânsito caótico e, desesperado, deixei meu carro
estacionado no acostamento. Corri cinco quilômetros até o hospital e
fiquei surpreso com a intensidade da conexão que tínhamos, a ponto
de eu a ter machucado involuntariamente. A nossa experiência foi
mais avassaladora do que eu poderia imaginar. Acabei perdendo o
controle e me esquecendo de que ela era uma garota inexperiente.
Sou um puto, sem vergonha, por ter transado com ela todos os dias
desde que nos casamos, mais de uma vez por dia. Sua boceta
sensível não aguentou o meu ritmo, por isso devemos nos controlar.
Uma semana sem poder tocar na minha linda Viktoria será
como um prenúncio do fim do mundo. O cheiro da sua pele pálida se
tornou o meu novo vício. Sinto-me completamente perdido e viciado
em seu sabor. Às vezes, esqueço-me de que minha mulher é apenas
uma jovem inexperiente adentrando a vida sexual, guiada por mim.
Quando meu carro se aproxima da entrada de casa, o portão é
aberto e eu sou notificado, pelo rádio, que outro carro se aproxima.
As câmeras mostram que é o meu cunhado. Uma visita inesperada
— e eu detesto visitas sem aviso.
Nesta semana, conversamos por telefone e ele se mostrou
bastante invasivo, querendo saber sobre a situação da sua irmã.
“Minha irmã está bem? Ela está satisfeita com a vida de
casada?”
Sua pergunta me deixou irritado, e eu não consegui esconder
isso, então encerrei a ligação. Agora, ele se dirige à minha casa,
prestes a testar a minha paciência.
— Senhor, autorizamos a entrada dele? — pergunta-me um dos
homens, pelo rádio.
Com uma das mãos no volante, respiro fundo, exausto de um
dia cheio de problemas causados pela família Orokov, que está
atacando o meu território e interferindo nos meus negócios. Nossa
rivalidade está se tornando cada vez mais sangrenta e violenta.
Minha avó tem razão: eu os deixei ir longe demais. É hora de dar um
basta.
— Claro, ele é meu cunhado — respondo, sem qualquer
entusiasmo.
Suspeito que minha esposa o tenha convidado para o jantar; o
que explicaria a sua chegada neste horário e sem aviso prévio.
Preparo-me para recebê-lo como um bom anfitrião, mesmo que
Viktoria esteja magoada com ele. Após uma briga, o laço entre
irmãos, muitas vezes, pode se restabelecer.
Olho para o relógio e constato que são 19h10. O jantar sempre
é servido às 20h, então isso significa que ele ficará conosco para
comer, tendo sido convidado ou não.
Meus planos para a noite eram simples: voltar para casa,
encontrar minha mulher e passar horas ao seu lado. Viktoria é o
meu refúgio nos dias ruins, mesmo que não possamos nos entregar
inteiramente um ao outro ainda.
Leonad, meu cunhado, é um bad boy mimado pela mãe. Sua
imaturidade e irresponsabilidade são evidentes, e suas dívidas estão
arruinando o pouco que a família possui.
— Boa noite, cunhado. — Ele me cumprimenta com um aperto
de mão.
— Boa noite, Leonad.
— Peço desculpa por ter vindo sem avisar.
— Tudo bem. Fique e jante conosco — digo, sendo mais gentil
do que costumo ser.
— Será um prazer.
Assim que o meu cunhado recebe uma ligação, pede um
momento para a atender. Aproveito para relaxar, afrouxando a
gravata, e caminho em direção à porta. Ao abri-la, vejo Viktoria
descendo a escada, apressada e ansiosa para me receber.
— Você chegou. Bem-vindo! — Seu sorriso travesso ilumina o
ambiente.
Ela realmente parece contente por eu ter voltado mais cedo.
Que sorriso encantador! Sem dúvida, eu poderia voltar cedo todos
os dias só para ser recebido assim.
— Sentiu minha falta, bonequinha ruiva? — brinco, provocando
um rubor em seu rosto.
— Eu senti sua falta, marido. — Ela entrelaça as suas mãos nas
minhas e balança o corpo, com uma inquietação palpável. — E você?
Sentiu a minha falta?
— Claro que senti. Mal podia esperar para chegar em casa e
beijar a minha linda esposa. — Puxo-a para mais perto de mim,
observando como ela se encolhe de vergonha.
— Mikhail, a sua avó pode nos ver assim… — ela fala como se
fosse um pecado compartilharmos um beijo.
— Calma, esposinha. Você é minha mulher, e minha avó sabe
exatamente o que eu faço com minha esposinha safadinha. Aliás,
qualquer pessoa que nos veja. Não importa.
— Meu Deus, Mikhail! — ela me adverte, escondendo sua
timidez.
— Agora, venha cá e me dê um beijo. Você não tem ideia da
fome que estou sentindo por você neste momento… — Envolvo-a
pela cintura e me inclino para capturar os seus lábios macios.
A tensão em seu corpo me instiga. Minha gata sempre reage
como uma verdadeira sedutora ao menor dos meus toques. Nossos
lábios se encontram, famintos, fazendo o mundo exterior
desaparecer. Quando estamos juntos, nada mais importa. Nossas
respirações se entrelaçam e o calor dos nossos corpos arde de
desejo pelo fato de estarmos perto um do outro.
Então, um pigarro inesperado interrompe o nosso momento.
Que inferno! Porra! Eu me esqueci de que o meu cunhado estava na
mansão.
Minha esposa esconde o rosto em meu peito, como se
desejasse se apagar, e sussurra:
— Eu te avisei que alguém poderia nos ver. Quanta vergonha.
Deixo escapar uma risada ligeira.
— Meu bem, é o Leonad, seu irmão. Ele veio nos visitar.
— O meu irmão?! — Seu olhar endurece.
Viktoria paralisou. A mágoa que ela ainda carrega do irmão a
deixa sensível. Ouvir o nome dele, para ela, é como uma tragédia.
Ela se agarra ao meu braço como se eu fosse um escudo entre ela e
Leonad.
— Minha linda irmãzinha, boa noite — o tom de voz dele é
gentil e ele dá um sorriso largo, satisfeito por vê-la.
Por um instante, o rosto de Viktoria fica pálido; não apenas por
raiva, mas por um medo que me intriga.
— Boa noite, Leonad.
Ela evita o abraço cordial que, normalmente, eles trocariam.
Quando ele avança, querendo abraçá-la, ela me segura com mais
força. Eu agarro a sua cintura, buscando confortá-la, decidido a
descobrir a origem da sua angústia.
— Como você está? Senti sua falta — ele acrescenta, com um
olhar pacífico, como alguém que realmente se importa.
— Querido, estou tão cansada. Minha cabeça dói. Se você e sua
avó não se importarem, vou subir e tomar um remédio.
— Como quiser, querida — respondo.
— Leonad, desculpe, mas não estou me sentindo bem. Prometo
que conversaremos em outra ocasião, meu irmão. — Ela evita olhar
nos olhos dele.
— Descanse, irmã. Em outra hora conversamos.
— Marido, com licença. — Mesmo envergonhada, ela beija a
minha bochecha.
Toda vez que saio de casa, nós nos despedimos com um beijo
carinhoso. Sempre que posso, roubo um beijo dela.
Viktoria sai, fugindo como alguém que escapa de um demônio.
A atmosfera se tornou tensa, incomodando não apenas o meu
cunhado, mas também a mim.
— Para eu ser sincero, Viktoria sempre teve um gênio difícil —
ele comenta, colocando as mãos nos bolsos. — Ela é orgulhosa, e
vem agindo assim desde antes do casamento. Me culpa por não a
ter permitido fazer faculdade de fotografia. Algo que considerei inútil
para a vida dela. Nós a criamos para o casamento, não para
estudar.
— Ela está chateada por causa disso?
— Creio que sim. Minha irmã é complicada. Espero que ela não
esteja te perturbando com o temperamento dela.
Gênio difícil? Viktoria sempre se mostra uma mulher pacífica,
quase sempre evitando dar opiniões próprias. E ela nunca
mencionou nada sobre a faculdade, apenas diz que ama tirar fotos.
Por isso lhe comprei uma câmera de última geração.
— Sua irmã é a paz nos meus dias difíceis. Nada nela me
incomoda.
Leonad parece surpreso com minha resposta. Seu interesse em
nossa vida é evidente.
— Talvez seja melhor eu voltar outro dia. Me desculpe pelo
incômodo.
Assinto.
Algo não se encaixa.
Viktoria disse que estava chateada com o irmão porque ele a
vendeu para mim, porém Leonad afirmou que a mágoa dela veio do
fato de ele não ter permitido que ela estudasse.
Encontro minha esposa sentada na beira da cama, olhando algo
no celular. Assim que percebe minha presença, ela deixa o aparelho
de lado e me olha, confusa.
— Leonad já foi embora. Ele disse que voltaria em outro
momento.
— Hum… — O desinteresse dela é evidente.
— Baby, você está chateada com o seu irmão por ele não ter
permitido que você fizesse faculdade?
— Ele te disse isso? — ela indaga, incrédula.
— Era um segredo?
— Não é isso. É que… esse não é o maior dos meus
problemas.
— Então, você queria fazer faculdade?
— Sim, fotografia. Mas nem ele nem minha mãe aprovaram.
Eles não entendiam que eu queria trabalhar e ter o meu próprio
dinheiro.
— Não precisa se preocupar com isso, baby. Tudo que precisar,
eu proverei para você.
— Mikhail, você gosta de ter o seu próprio dinheiro? — ela
indaga, tentando ir além de uma simples pergunta.
— Sim, eu gosto.
— Eu também gostaria de ter o meu. Mas, talvez vocês não
consigam entender, porque já nasceram com o poder de fazerem o
que quiserem. Acredito que nunca ninguém te proibiu de seguir os
seus sonhos.
Compreendo o pensamento da minha esposa, mas não vou
permitir que ela trabalhe, sendo que merece ter uma vida de rainha.
— Se esse não é o maior dos seus problemas, então qual é?
— Aquele filhinho da mamãe me vendeu para você, e isso, eu
não estou disposta a perdoar tão cedo. Um irmão que vende a irmã
para se beneficiar não merece o meu perdão. Eu poderia ter sido
vendida a alguém que me machucasse, a alguém rude. Ele não
pensou em nada disso, apenas quis receber o dinheiro para se salvar
e me atirou no fogo.
Vendo por esse prisma, Viktoria tem toda a razão. Nunca parei
para pensar que, se eu não tivesse aceitado me casar com ela,
aquele idiota poderia tê-la vendido a outro, a alguém que poderia ter
destruído essa garota tão frágil. Não sou um homem bom, mas
nunca seria capaz de feri-la.
— A decisão de perdoá-lo é sua — enfatizo que a escolha é
dela. — Ontem, você me disse que não me odiava por ter aceitado
este casamento arranjado.
— Você pode usar a palavra “comprado”. Foi isso que
aconteceu, você me comprou. — Suas palavras transmitem algo que
eu ainda não compreendo.
Ela faz eu me sentir um homem horrível por ter pagado por ela.
— Lamento por ter feito parte disso — sou sincero. — Mas não
me arrependo de ter aceitado você como minha esposa.
— Quanto pagou por mim? — ela me pergunta, com um olhar
curioso e uma pitada de tristeza. — Eu perguntei à minha mãe, mas
ela não me respondeu. Fui a mercadoria vendida, mas eles não
quiseram me dizer o valor. — Seu olhar reflete a dor que ela sente.
— Você pode me contar quanto custei?
— Princesa… — Esse assunto a deixa sensível; não quero que
ela se magoe mais por isso.
— Por favor… — ela implora, com a voz quase trêmula.
— As dívidas que ele tinha no cassino eram superiores a 20
milhões.
— 20 milhões?! — Saber o valor lhe causou um impacto que a
atingiu profundamente. — E quanto é a mesada que minha mãe
recebe?
— 500 mil.
— Uau, ela vendeu a filha por 500 mil mensais. Se continuar
assim, em algumas décadas terá garantido uma vida confortável, do
jeito que gosta. E você? Esse casamento saiu caro. Não se
arrepende?
— Eu pagaria qualquer preço para ter você como minha
esposa.
— Isso só me enche de vergonha todos os dias. Sua avó sabe,
e você também. É constrangedor.
— Eles deveriam sentir vergonha, não você.
— Minha família só pensa em dinheiro. Se minha mãe tivesse
outras filhas, também as teria vendido para maridos ricos.
A dor nos olhos da minha mulher reflete a angústia que a
domina. Neste momento, não sei como confortá-la, já que é minha
culpa ela estar nesse lugar: casada com o homem que a comprou.
— Nenhuma vez pensaram: “Será que Viktoria vai ser feliz?
Alguém vai realmente amá-la? Vai cuidar dela?” — Seus olhos
marejados entregam a sua vulnerabilidade. — Eu poderia estar
vivendo um inferno agora se outro homem tivesse me comprado.
— Seja sincera comigo: você me odeia, não é? — Sinto um
temor que nunca imaginei experimentar.
Não me importo se sou amado ou odiado. Faço o meu trabalho
e ganho milhões diariamente, sem me preocupar com os
sentimentos alheios. Mas a minha esposa, tão meiga e doce, está
me levando a um estado de aflição, deixando-me aprisionado pela
dor da minha escolha de me casar e ter herdeiros. Pensei que seria
fácil lidar com esse casamento sem considerar os sentimentos dela.
No entanto, preocupo-me quando Viktoria se levanta da cama antes
de mim e não a vejo segura ao meu lado. Cancelo uma reunião
importante e corro ao hospital para saber como ela está. Preocupome se ela está se alimentando bem e se recebe o que realmente
gosta.
A loucura de sua mãe causou danos à sua saúde mental. Danos
que vou reparar um a um. Quando Viktoria estiver livre das amarras
dela, poderá conhecer o sabor da vida ao meu lado, sem se
preocupar com as opiniões dos outros.
— Antes você a um velho cruel que poderia ser o meu avô. —
Ela dá de ombros, engolindo o choro.
— Eu poderia ser o seu pai — digo, preocupado.
— Mas não é — ela retruca, aliviada. — Teria que ter sido pai
aos 17 anos para ser o meu pai. E você não parece um pai, é tão
jovem e viril. A maioria dos pais que conheci não era de tirar o
fôlego.
— Eu tiro o seu fôlego? — pergunto, animado com essa
revelação.
— Muito. Você não imagina o quanto, marido.
— Droga, Viktoria. Se você não estivesse proibida de transar
pela doutora, eu arrancaria todas as suas roupas e te mostraria o
quanto você me enlouquece, menina.
— Não posso transar, mas podemos aproveitar de outras
formas — ela sugere, maliciosa.
— Quais formas, baby?
Eu caminho até a borda da cama. Ela se aproxima de mim de
joelhos e toca nos botões da minha camisa com seus dedos
atrevidos.
— Para você, não é um tormento se entregar a mim? — o
medo fica evidente na minha voz.
E se a minha esposa estiver apenas vivendo para se salvar,
enquanto o seu coração está infeliz?
— Tormento? Você é tudo o que eu sempre quis, Mikhail. Eu
amo a maneira como faz amor comigo.
Porra, Viktoria! Eu não estava preparado para ouvi-la falar
assim. Meu desejo está transbordando.
— Talvez, algum dia, você possa se apaixonar por mim, assim
como eu estou me apaixonando por você, bonequinha. — Mordo o
seu lábio com fervor.
— Está se apaixonando por mim? — ela pergunta, cheia de
expectativas.
— Você está me deixando louco, menina. — Ela morde o meu
lábio de volta, em um movimento provocante. — Não olhe para mim
assim. Sabe que perco a cabeça quando minha linda esposa decide
ser mais ousada.
— Quero te engolir com a minha boca, marido. Quero que goze
na minha boca, como naquele dia.
— Viktoria, Viktoria… — repreendo-a, cauteloso.
— Eu sou sua esposa, faça o que quiser comigo.
Viktoria está de joelhos no azulejo do banheiro, após o meu
banho. Seus seios fartos balançam enquanto a sua boca gulosa me
engole com avidez. Os pingos d’água molham o meu cabelo e a
fumaça quente sobe pelo box. Este momento erótico transborda
uma tensão sexual. Minha esposa tem uma habilidade incrível para
me proporcionar prazer. Para alguém que mal sabia beijar, ela tem
se apresentado uma verdadeira profissional.
Oh, garota… o que eu faço com você?
As coisas não deveriam estar saindo assim do meu controle,
mas como resistir a esse olhar fascinante de menina ingênua? Eu
queria torturá-la.
— Ohh, Mikhail…
Ouvir o meu nome saindo da sua boca dessa maneira sexy e
manhosa, enquanto eu enrolo minhas mãos em seu cabelo, é um
deleite. Ela é a mulher mais desejada do mundo para mim. Neste
momento, só quero vê-la com a boca em meu pau, sendo fodida por
mim. O fogo queima entre nós.
Fodo sua boca, ouvindo seus gemidos e protestos enquanto a
deixo sem ar.
Rio e me forço contra ela até seu nariz tocar na minha pelve.
Ela tem uma fome insaciável por mim e uma devoção por me
satisfazer.
Eu sou um animal fazendo amor com um anjo.
Movimento-me mais forte, sinto minha essência a preencher e a
vejo com lágrimas nos cantos dos olhos. Que homem sou eu? Mas
ela é minha. Eu posso fazer o que quiser com Viktoria, e ela gosta.
Enquanto meu sêmen a inunda, os meus olhos a contemplam,
admirados com sua entrega. Ela engole tudo e eu aprecio a mais
bela entre as obras de arte.
Essa mulher me enlouquece.
Por fim, ela lambe os lábios, provocando-me. Bato em seu rosto
lindo com o meu pau, que está duro como se nunca tivesse
encontrado um prazer como esse, e lhe dou um tapa no mesmo
lugar, marcando sua pele, que revela pintinhas ao redor das
bochechas. Eu nunca tinha reparado nelas antes. Pequenas sardas
se revelam conforme a base se dissipa com a água.
Viktoria é linda. Toco em seu rosto, admirando suas sardas.
Durante um momento, pergunto-me por que não as notei antes.
— O que foi? — ela questiona.
— Essas pintinhas no seu rosto são…
Ela arregala os olhos e as cobre com a palma da mão.
— Preciso fazer uma coisa… — Corre para fora do banheiro,
apressada, como se tivesse cometido um erro.
Visto-me rapidamente. Ao chegar ao quarto, encontro minha
mulher aplicando mais base no rosto, vestida com um roupão,
tentando cobrir aquelas lindas pintinhas.
Como não me perguntei antes se ela não tinha sardas, que é
uma característica de pessoas ruivas como ela?
— O que você está fazendo? — pergunto.
Ela está em frente ao espelho, dentro do closet, que parece um
segundo quarto.
— Não olhe para mim… — ela pede, cobrindo o rosto
descontroladamente, após ter deixado a base cair no chão.
— Calma, querida. O que deu em você?
É como se ela estivesse escondendo uma espinha, algo que não
quer que eu veja.
— Por favor, ainda não terminei. Sai, por favor. — Viktoria
parece estar à beira das lágrimas.
Antes que eu a veja perder o controle emocional, decido sair.
— Tudo bem, vou sair. Fique tranquila.
Pode ser uma insegurança boba, mas essa é uma luta que só
uma mulher compreende.
Eu saí do quarto para atender a uma ligação. Ao retornar,
encontro Viktoria já dormindo, serena. Beijo sua testa e me deito ao
seu lado.
Capítulo 11
VIKTORIA
Em vez de um café da tarde, a senhora Etevlania me convidou,
junto com minha mãe, para almoçar no shopping e fazer algumas
compras. O restaurante escolhido foi o mesmo em que estive dias
antes do meu casamento, em um encontro com elas para
discutirmos os termos que eu deveria seguir. Sim, eu fui vendida,
mas tenho um rigoroso conjunto de regras a serem cumpridas.
“Minha filha será a esposa perfeita para o seu neto, senhora
Alekseeva. Eu a criei para isso. Ela não vai falhar.”
Essas palavras foram cruéis e refletiram apenas a falta de
preocupação da minha mãe comigo. Ela só queria salvar a vida do
seu filho preferido e garantir uma vida confortável a si mesma,
vendendo a própria filha para aquela família.
A conversa de hoje não está sendo muito diferente da que
houve naquele fatídico dia. A única mudança é que agora eu sou a
esposa de Mikhail e minha mãe venceu.
— Tenho certeza, senhora Etevlania, que minha filha logo lhe
dará um bisneto. Minha família sempre foi muito fértil. Imagine só se
essa menina for igual à mãe e às mulheres que a antecederam.
Enquanto minha mãe degusta um cafezinho pós-almoço, tenta
vender o seu “produto”, como se isso garantisse que não haverá
devolução no futuro.
— O útero dessa garota trará muitos benefícios. — O sorriso de
satisfação dela é audacioso e repleto de ganância.
Ela agora se vê como uma rainha por ter casado a filha com o
rei da máfia.
— O que mais desejo é um bisneto. Que o sobrenome do meu
neto perdure por gerações. Esse bebê será um Alekseeva e terá o
mundo aos seus pés, assim como o seu pai.
A forma como elas falam me assusta. É como se eu não
estivesse presente para ouvir. Projetam o futuro de uma criança que
ainda não existe, e minhas obrigações são claras: eu terei quantos
filhos eles quiserem, e meninos. Como se eu pudesse decidir o sexo
dos meus bebês. Se desejam tanto ter um menino, por que não
adotam um? Certamente, seria mais fácil, mas a máfia e o conselho
não aceitam bastardos.
— Mãe, a senhora quase não conseguiu engravidar do papai
nos primeiros sete anos de casada. Fez algum tratamento para que
eu e meu irmão pudéssemos nascer?
Minha indagação a deixou em silêncio e aterrorizada.
Etevlania, que estava alheia a essa informação, lança um olhar
sério para a minha mãe. A verdade é que, conforme me contou a
minha avó, mamãe sempre se orgulhou de ter dado à luz a um
menino, mas escondia os vários tratamentos que havia feito para
engravidar.
— Como você é engraçada, Viktoria. Sempre me faz rir com o
seu bom humor. — Mamãe ri como se eu tivesse contado uma piada.
— Essa criança sempre gostou de fazer graça na juventude, até que
eu a repreendi, dizendo que uma dama não deveria agir assim.
— Uma piada? Confesso que agora, que me explicou, achei
divertido. — As duas riem pateticamente.
— Como já afirmei, minha Viktoria não causará dores de cabeça
para vocês. Eu a ensinei a ser uma boa esposa. Seu neto não terá
do que reclamar. Sempre me preocupei em garantir que ela
aprendesse tudo.
Rio, cansada desta situação absurda. Preciso de ar.
— Vou ao banheiro — comunico-lhes.
— Claro, querida. Depois vamos às compras.
Esse foi um pedido do meu marido: que sua avó me
acompanhasse no shopping, garantindo que eu comprasse tudo que
desejasse.
Ele me disse na noite anterior:
“Amanhã, minha avó te levará para fazer compras. Saia um
pouco de casa e gaste o que quiser, baby.”
Na verdade, não preciso de compras para me distrair. O que eu
realmente desejo é entender por que meu marido acha que estou
cansada de ficar em casa. Se ele soubesse que aquela casa me
proporciona segurança o suficiente para viver meus dias sem medo,
talvez ficasse aliviado.
Levanto-me, tentando não enlouquecer no meio da conversa
tediosa. O teatro de mãe amorosa que se preocupa com a filha me
causa náuseas, assim como as insistências sobre eu engravidar. Se
elas soubessem que suspendemos a nossa vida sexual, surtariam.
Sinto saudade de dormir com meu marido após uma noite
ardente.
Na verdade, não estou realmente com necessidade de ir ao
banheiro, apenas quero escapar daquelas duas por um momento.
Desde que me casei, não tive um abraço da minha mãe. Desde que
nasci, para ser sincera.
“Por que você não atendeu às minhas ligações, garota burra?
Sabe o que eu vou fazer com você se arruinar esse casamento?”
Um suspiro de alívio me invade assim que fecho a porta do
banheiro. Alguns soldados me esperam no corredor.
A pressão está insuportável. Eu queria gritar, mas me contenho.
Pego o meu celular, na esperança de distrair a mente. Entre as
poucas mensagens do WhatsApp, as mais recorrentes são as de um
grupo de empregados domésticos, que sempre me perguntam sobre
as refeições do dia.
— Saia desse banheiro, garota. Não me faça esperar aqui fora
— a voz da minha mãe é insuportável.
Ela veio atrás de mim, não me deixando respirar nem por um
segundo.
Eu guardo o celular na bolsa e, no instante em que abro a
porta, ela se lança como uma sombra sobre mim e me puxa pelo
braço, quase me fazendo perder o equilíbrio. Sinto um um estalo por
causa do puxão que ela me dá, e sua mão continua a segurar a
região com força.
— Mãe, você está me machucando… — eu resmungo, mas sua
firmeza no meu pulso e a fúria insensata em seus olhos não cedem.
— O que foi aquilo lá fora? Queria me envergonhar na frente da
avó do seu marido? — Os dentes dela rangem; um aviso claro de
que sua ira está apenas começando.
— Eu disse apenas a verdade, mãe — respondo,
desconcertada, libertando-me do seu aperto.
Eu sou uma mulher casada, mas ela ainda pensa que pode me
machucar por não aprovar algo que eu disse?
— Só porque você se casou com o rei da máfia, pensa que é
alguém na vida? — Arregalo os olhos, espantada. — Você não é
ninguém, Viktoria. Coloque isso na sua cabeça de uma vez por
todas. O fato de estar casada com o senhor Alekseeva não te torna
especial. Sua única missão é parir os herdeiros dele.
Diante de suas palavras, sinto a frustração transparecer em
meu rosto. Ela não perde a oportunidade de fazer eu me sentir
insignificante. Mas, por outro lado, não posso ignorar a verdade que
ela disse: sim, eu me casei para dar à luz aos filhos de Mikhail. Mas
ela não imagina o quanto ele faz eu me sentir especial.
— Como posso me esquecer da minha obrigação, mamãe, se a
senhora me lembra disso a todo momento, pessoalmente ou por
mensagens de texto?
— Para que você não esqueça, filha. Deve manter sua posição
como esposa e mãe dos herdeiros do seu marido. — A preocupação
dela se resume a isso.
— Mãe, alguma vez, a senhora já parou para pensar em como
eu me sinto por ter sido forçada a me casar com um homem por
quem não estava apaixonada?
— Que pergunta é essa, Viktoria? — ela desdenha. Meus
sentimentos nunca lhe importaram.
— Eu poderia ter me casado com alguém que poderia ter me
destruído de várias maneiras. A senhora sabe o quanto Mikhail é
perigoso e, mesmo assim, me vendeu para ele. Acho que nunca se
importou com o fato de que ele poderia ter me ferido.
Sabemos perfeitamente que, na época, eu chorei por semanas,
com medo de morrer nas mãos daquele, até então, desconhecido
que havia matado a esposa não fazia tanto tempo.
— Bobagem. Desde que você siga tudo que eu te ensinei, o seu
marido não vai te machucar. Se a esposa for submissa e gentil, o
homem pode ser generoso. Veja, ele te mandou fazer compras e te
deu um cartão ilimitado.
Dinheiro, dinheiro… Ela só pensa em dinheiro.
— Acredito que esteja sendo uma boa esposa na cama. Por
isso, aproveite e compre mais lingeries sensuais para instigar o
desejo do seu marido.
A dor de saber que ela só se preocupa com o dinheiro é
esmagadora.
Não preciso de lingeries. Ela já comprou tantas, e ainda não
usei a metade. Também tenho roupas e acessórios em abundância.
São tantas peças novas, que nem preciso gastar mais. Vim apenas
porque Etevlania insistiu.
— Engula essa cara de choro. Deixe de ser boba e assustada;
quer chorar por qualquer motivo. Você é tão medrosa e sentimental,
Viktoria — ela fala como se eu ser quem sou fosse um castigo.
“Viktoria, a filha da minha amiga Ágatha não age assim.”
“A filha da minha amiga Katarina sabe se portar à mesa.”
“A filha de fulana não chora por qualquer motivo.”
Sempre sou comparada às filhas de outras pessoas. Minhas
qualidades nunca são valorizadas, eu sempre tenho que ser como
alguém.
— Se esquece do que eu vivia quando morava com a senhora e
o meu irmão? Depois me chama de boba e medrosa.
— Silêncio! Seu irmão e eu não causamos nada disso. Que
culpa eu tenho se você cresceu e ficou bonita aos olhos dele? Ele é
um homem! — ela justifica os erros de Leonad. — Além disso, você
usava roupas muito provocantes. Já esqueceu?
Roupas provocantes? Agora, a culpa é minha?
— Mãe, percebe o que está dizendo?
Nunca fui de usar roupas provocantes, e, mesmo se esse fosse
o caso, a culpa ainda não seria minha. A culpa do meu irmão não
ser respeitoso, agora, é minha? Ouvir isso foi como ter uma adaga
cravada no meu peito. Sinto uma dor lancinante. Até onde sua
hipocrisia vai para ela proteger seu “bebê”? E eu? Ela nunca me
protegeu. Fechar-me em um quarto não é proteção.
— Vamos encerrar esse assunto. A avó do seu marido nos
espera e pode achar estranho estarmos há tanto tempo no banheiro.
Meu peito sobe e desce. Tudo isso me cansa. Não suporto mais
esse seu lado controlador sempre a me dar ordens. Ela é o carma da
minha vida, a minha própria mãe.
Antes que eu me esqueça, digo:
— Fale para o seu filhinho não aparecer na minha casa sem
convite. Não vou recebê-lo como se ele fosse o melhor dos irmãos —
zombo. — Se ele insistir em ir lá, contarei tudo ao meu marido, e
veremos o que ele fará — ameaço. Só assim eles me deixam em
paz.
Ela ergue a mão rapidamente e acerta o meu rosto com um
estalo que me faz gemer de dor. O ardor é familiar, não foi a
primeira vez. As lágrimas molham o meu rosto e eu me vejo aflita
diante da sua crueldade.
— Ouse falar para o seu marido, e eu testemunho a favor do
seu irmão. Digo que você o provocava, e veremos em quem eles vão
acreditar: em mim, que sou sua zelosa mãe, ou na palavra de uma
ingrata. — Ela perde o controle quando se trata de Leonad. —
Garota burra!
Ela parte em minha direção e me encurrala contra a pia de
mármore. Bato-me na quina e acabo machucando as costas. Ela me
belisca e bate nos meus ombros, tentando acertar o meu rosto.
Apenas me defendo, erguendo as mãos para proteger o meu rosto,
enquanto ela continua a me agredir. Vários tapas são lançados
contra mim e suas unhas cravam na minha pele, afiadas.
— Para com isso, mãe! Para! Está doendo muito! — imploro.
Ninguém pode me ouvir. Os seguranças estão próximos, mas,
ainda assim, longe o suficiente para não perceberem o meu
desespero. Minha mãe tapa a minha boca, abafando os sons da
minha dor.
— Cale a boca! Se você ousar revelar mentiras contra o seu
irmão, eu te mato! Eu te mato!
Choro, perdendo o controle. Ela está louca, agredindo-me sem
razão. Receber ameaça de morte por não suportar mais os abusos
do meu irmão, por parte de uma mãe que deveria proteger a própria
filha, é pior do que a morte.
— Não pense que o seu marido ficará do seu lado se souber
que a esposa dele não soube lidar com o próprio irmão a ponto de
provocá-lo. Faça o que eu te disse: fique em silêncio sobre isso e
não aborreça o seu marido. Não quero que ele te devolva ou te
mate, como fez com a primeira esposa.
Então, ela admitiu que me entregou a um marido psicopata.
— Se você se importasse com a minha vida, não teria permitido
esse casamento — desabafo, com a fúria transbordando.
— Pense bem: se o seu marido te devolver, eu não poderei
mais te proteger da sede de Leonad — uma ameaça. — Agora, limpe
essas lágrimas e esconda essas pintas feias do seu rosto, ou vai
assustar a todos com elas. — Ela me deixa sozinha após sua ordem
incisiva.
Ela faz questão de infernizar a minha vida, mesmo agora, eu
estando casada.
Por quanto tempo mais serei obrigada a aguentar isso?
Depois de sair do banheiro, insisto que não quero comprar
nada. Não preciso de nada, só quero ir para casa, mas sou arrastada
a mais uma loja de grife e vejo milhares de peças que não me
agradam. Não preciso de mais uma etiqueta no meu closet. Para não
ser rude, acabo comprando uma carteira da Gucci que custa 15 mil,
a mais barata que encontrei.
Tenho que alegar que estou cansada e com dor de cabeça, para
ir para casa mais cedo. Etevlania me manda ir na frente com o
motorista e minha mãe fica, insistindo em comprar mais.
Assim que chego em casa, o meu celular vibra com uma nova
mensagem. É do meu marido.
“Te espero em meu escritório. Venha agora.”
Ele está em casa a esta hora? Tão cedo?
O que ele deseja? Está chateado comigo por ter gastado tanto
em uma carteira? Eu não deveria ter exagerado. Se ele estiver
aborrecido, posso tentar devolvê-la.
Respiro fundo, arrumando a blusa de cetim dentro da saia preta
de linho. São roupas lindas e elegantes. Os saltos deixam meus pés
cansados, então optei por usar uns que não são tão altos.
Peço à empregada para levar ao meu quarto a minha bolsa e a
sacola pequena com a única compra que fiz. Minha mãe tem razão
em apenas uma coisa: não posso aborrecer o meu marido e correr o
risco de ele me mandar de volta para aquele inferno. Nunca mais.
— Eu posso me explicar — declaro ao entrar no escritório e
fecho a porta imediatamente em seguida.
Meus dedos, tensos, eu estalo um a um. Por um instante, perco
a postura e a capacidade de raciocínio ao me deparar com a visão
dele: o colete preto sobre a camisa branca é, de fato, uma visão do
paraíso, porque três botões abertos dele revelam parte do seu
peitoral marcado por tatuagens que contam histórias silenciosas. Em
sua cintura, uma arma de cada lado me faz engolir em seco. Ele é
perfeito.
Ao me ver, Mikhail solta aqueles papéis que segurava, como se
o peso do mundo tivesse se dissipado.
— Explicar o quê? — ele pergunta, confuso, ao se aproximar de
mim. Seus passos me deixam sem ar.
— Os 15 mil que gastei com a carteira. Posso tentar devolvê-la.
Eu não deveria ter gastado tanto em uma única peça, mas a sua avó
insistiu que eu precisava comprar algo e acabei pegando o item mais
barato que encontrei na loja — justifico-me, apressada.
Com um gesto suave, ele puxa os fios de cabelo que tenho
atrás da orelha, trazendo-os para a frente do meu rosto.
— Eu não te chamei aqui por isso, bonequinha. — Sempre que
ele me chama assim, seus olhos ardentes queimam apenas por mim.
— Te chamei porque você está cansada e com dor de cabeça. Vamos
ao hospital imediatamente — sua voz carrega um fio de nervosismo
e preocupação.
— Não, não é preciso…
Como eu posso explicar que não sinto nada disso? Foi mais fácil
mentir para escapar da presença sufocante da minha mãe, mas não
imaginei que Mikhail seria avisado no mesmo instante e ficaria
preocupado.
— Eu insisto. Iremos agora mesmo. — É um veredito
inquebrável.
— Mikhail… não é necessário. — Ele precisa da verdade para
que não insista mais, ou acabaremos no hospital de qualquer jeito.
— Estou bem. Na verdade, eu menti para a sua avó. Disse que
estava indisposta só para conseguir voltar para casa — confesso,
sentindo a vergonha me invadir. — Se eu entrasse em mais uma loja
com minha mãe e sua avó, elas me enlouqueceriam.
— O que elas fizeram, para deixar você desesperada para vir
embora?
— Não se preocupe com isso, marido — peço genuinamente.
— Viktoria, realmente achou que eu ficaria chateado por você
ter gastado 15 mil? — Ele parece chocado.
— É muito dinheiro para uma carteira!
— Querida, mesmo que você quisesse comprar o shopping
inteiro, ainda assim, eu te daria tudo que me pedisse. Esse cartão é
seu. Compre o que quiser, sem se importar com o valor.
— Obrigada — murmuro.
Ele sela o agradecimento com um beijo suave na minha testa.
— Fiquei muito preocupado, senhora Alekseeva, ao ouvir que
você se sentia indisposta — seu tom de voz agora está mais
profundo. — Me diga: gosta de ver o seu marido aflito, preocupado
com a esposa? — Não consigo evitar um riso diante da dramatização
que ele incorporou. — Não ria. Agora, venha cá. Estou faminto por
um beijo. — Mikhail me segura firme e me puxa para um beijo.
No instante em que nossas bocas se encontram, um gemido de
dor escapa de mim, por ele estar apertando um ponto machucado.
Como minhas costas bateram na quina da pia daquele banheiro,
estão doendo muito.
— Ai!
Ele interrompe o beijo e olha para mim com um semblante
intrigado.
— Sente algum incômodo? — Guia-me até a poltrona de couro
mais confortável, na qual me sento.
Um novo gemido de dor me escapa, já que agora ele segura o
meu pulso. Então, ele percebe uma das origens dos meus
incômodos.
— Dói aqui? — Solta a região e me encara com uma expressão
tensa.
Mikhail abre o botão da manga da minha blusa, ignorando o
meu pequeno pedido para que ele não faça isso. Quando ele levanta
a manga, o seu olhar se enche de pavor ao ver a mancha roxa no
meu pulso. A marca da agressão deixada pela mão da minha mãe
está evidente na minha pele.
Seus olhos estão sombrios e tempestuosos.
— Quem fez isso com você? Diga o nome do miserável que
ousou tocar em você, Viktoria. A vida dessa pessoa está condenada
ao inferno.
Capítulo 12
MIKHAIL
Os olhos de Viktoria ocultam uma verdade aterradora, uma
verdade que ela teme revelar. Ela está gelada e mais pálida que o
habitual, e suas feições estão marcadas por uma angústia profunda.
Seus olhos retêm lágrimas acumuladas, que desafiam o esforço
frenético dela para não as derramar. Seu peito sobe e desce de
maneira errática, como uma folha levada por um vento impiedoso.
E eu, preso em um abismo de escuridão emocional, perguntome o motivo pelo qual ela permanece em um silêncio sepulcral,
apavorada, incapaz de pronunciar uma única palavra.
Como ela machucou o pulso sem carregar peso? Essa pergunta
reverbera em minha mente com uma urgência angustiante.
Quem fez isso com ela? Quem se atreveu?
O conflito interno que a consome, silencia sua voz, e eu me
sinto envolto por um desespero que me engole, por uma
tempestade furiosa que ameaça arrasar tudo ao meu redor. Os
seguranças sempre me mantêm informado sobre o estado dela, mas
não me revelaram nada além de que ela estava indisposta e
desejava voltar para casa. Se algum dos meus inimigos se atreveu a
se aproximar dela, garanto que ele morrerá antes mesmo de ousar
uma segunda tentativa. A inquietação que me domina é
avassaladora. Eu não suporto a ideia de não saber o que a deixou
assim.
— Onde mais está ferida? — Meu coração bate em um ritmo
frenético diante do seu silêncio ensurdecedor.
Um frio toma a minha espinha assim que imagino outras lesões
escondidas em seu corpo. Recordo-me do gemido contido que ela
deixou escapar quando toquei em seu pulso, e quando toquei em
sua cintura, um gemido de dor também desprendeu dos seus lábios.
Com uma urgência quase insana, ergo-a daquela poltrona, sentindo
o meu desespero se transformar em convicção. Como um demônio
sedento por respostas, abro os botões da blusa dela um a um,
lutando contra o seu frágil corpo, que tenta me impedir.
“É pelo seu bem, Viktoria!”, grito em meu íntimo.
O que ela poderia estar escondendo, que a deixa tão
aterrorizada?
Quando, finalmente, termino de tirar sua blusa, fico paralisado
diante do horror que se revela: marcas de corte em seu abdômen,
subindo em direção ao tórax. São marcas de unhas, profundas e
brutais, e outras formam pequenas bolhas, indícios de beliscões e
socos dados contra a sua pele delicada e sagrada.
— Quem? — a palavra escapa dos meus lábios como um
lamento.
As lágrimas escorrem pelo seu rosto gentil, transbordando uma
dor que ecoa em meu próprio coração.
Ultimamente, a pessoa que eu mais desejava matar na minha
vida era o filho mais velho dos Orokov, mas agora, vendo minha
esposa nesse estado, quem eu mais desejo matar é quem a feriu.
A incredulidade e a fúria queimam dentro de mim. Sou incapaz
de aceitar que alguém pode ter ferido a esposa do pakhan, o rei da
máfia. Com um gesto brusco, eu a viro de costas. Lá, nas sombras
do seu corpo, um machucado roxo se manifesta em sua cintura.
Que diabos fizeram com Viktoria?
Um monstro ainda pior que eu ignorou a razão e a machucou.
Colando o meu rosto ao dela, seguro as suas bochechas com
um carinho que esconde o tumulto dentro de mim. Temo que
também tenha feridas aqui.
— Amor, quem fez isso com você? — Perco-me na intensidade
dos seus olhos verdes, que refletem um pavor que incendeia um
desespero insano em meu peito. Por que minha esposa teme me
contar quem a machucou? — A minha avó… Foi ela? Me diga,
princesa. Me diga o nome, e eu farei essa pessoa desaparecer para
sempre — minhas palavras soam como um trovão no ar. Vejo como
o temor paralisa o seu ser. Ela teme pela vida da pessoa que lhe fez
isso? — Se foi a minha avó, ela também será castigada. Não sinta
medo. — Ela nega com a cabeça, afundando em um desespero que
corta o meu coração. — Então, quem foi? — A impotência me
consome.
Só consigo pensar na minha avó, que pode ser cruel quando
necessário, mas não vejo motivos para ela ter agredido a esposa que
ela mesma escolheu a dedo para mim. Viktoria é uma mulher que
não merece esse tipo de desprezo. Eu lhe deixei bem claro que a
esposa escolhida era minha. Eu a aceitei, então apenas eu posso
decidir o que fazer com ela: se vou amá-la ou odiá-la.
— Foi um acidente… — sua voz sai por um fio.
— Como isso pode ter sido um acidente? — A raiva e a
confusão se entrelaçam em meu ser.
— Foi culpa minha… — sua voz suave sai por um fio de novo,
mergulhada em medo. Ela está com dificuldade para falar.
— Sua culpa? Viktoria, o que está dizendo? Como isso pode ter
sido sua culpa? Está claro que alguém te feriu. Apenas me diga
quem, esposa. — Aproximo minha testa da sua novamente, em um
esforço para acalmar o seu coração desesperado. Não quero
aterrorizá-la com a fera que habita dentro de mim, só que a fúria se
mostra indomável e o meu tom de voz, mesmo baixo, carrega um
peso que a faz tremer. — Por que está com medo de me falar? Eu
sou o seu marido, baby. Confie em mim. Sou a única pessoa que
deseja a sua segurança neste mundo.
Diante dessa situação, sinto-me o pior dos maridos, incapaz de
proteger a minha mulher.
A tristeza em seus olhos me intriga. Ela costuma sorrir e ser
gentil, mas uma tristeza sempre paira atrás de toda a sua beleza.
Agora, começo a entender o peso que ela carrega.
— Não proteja quem fez isso com você.
Viktoria enxuga as lágrimas com as palmas das mãos,
fungando. Cada respiração dela é um grito contido.
— Eu não estou protegendo ninguém.
Sua resposta não me convenceu. Eu sei que ela não sabe
mentir.
— É péssima em esconder as coisas, meu anjo. — Seguro a sua
mão e deposito um beijo suave na sua pele macia, como se tentasse
lhe transmitir um pouco da minha força através do toque. Seja lá
quem ela está protegendo, não conseguirá fazer isso por muito
tempo. — Se não me falar o nome da pessoa, mostrarei ao mundo
por que sou conhecido como o “urso da neve de Moscou”. — Minha
esposa sabe o quão cruel é a minha fama. — Todos que estiveram
naquele shopping enquanto você esteve lá vão morrer, um a um, até
mesmo os inocentes. É uma promessa, baby — asseguro-lhe. — É
isso que você quer? Que eu mate todos eles, por esconder o nome
do verdadeiro culpado?
Aplicar terror em sua mente generosa era a última coisa que eu
queria, entretanto, eu me vi obrigado a tentar esse último recurso.
Os olhos de Viktoria se arregalam, aterrorizados pela ideia. Não
é um exagero, porque eu seria plenamente capaz de cumprir o que
prometi. O culpado não ficará impune.
— Por favor, Mikhail… Eu já disse que eu fui a culpada — ela
fala com determinação.
Percebo que não obterei a resposta que tanto quero e, decidido
a vingar minha esposa, ligo imediatamente para o meu chefe de
segurança, que me atende com a rapidez que eu esperava.
— Quero que matem todos que estiveram no shopping hoje
entre meio-dia e quatro e meia da tarde.
Viktoria segura a minha mão. Seu olhar implora para que eu
pare.
— Por favor…
Mostro-me irredutível ao seu apelo. Parte-me o coração negar
um pedido seu, quando tudo o que mais quero é segurá-la em meus
braços, beijar os seus lábios macios e mimá-la de todas as formas
que alguém pode ser mimada.
— Direi toda a verdade — ela promete, cerrando os lábios, em
um gesto de resistência e dor.
Eu confio em sua verdade.
A brutalidade dessa situação se tornou insuportável.
— Aguarde minhas ordens. Fique em alerta — aviso ao chefe
de segurança e encerro a ligação.
Volto minha atenção para ela, esperando, ansioso, pela
revelação que apenas ela possui.
— Tive uma pequena discussão com minha mãe no banheiro
feminino — Viktoria dispara de uma vez, como se uma tempestade
de insegurança a atingisse.
— Sua mãe fez isso com você?
Recuso-me a aceitar que aquela mulher tenha ferido a única
filha, que é minha esposa, acima de tudo.
— Sim. Mas, como eu disse, foi por minha culpa. Eu a
provoquei, tocando em um assunto que a feriu, e ela perdeu o
controle. Mas está tudo bem. Já nos acertamos e eu não fiquei
chateada com ela — suas palavras soam amargas, cheias de dor e
resignação. — Eu que falhei como filha e fui desrespeitosa — ela
ainda joga a culpa em si mesma, tentando me convencer de que
errou.
— Independentemente do motivo que levou sua mãe a perder
a cabeça, eu não vou permitir que ninguém, nem mesmo ela, te
machuque.
Tiro o celular do bolso novamente. A determinação pulsa em
minhas veias. Estou decidido a acabar com a presença tóxica da
minha sogra em nossas vidas.
— O que você vai fazer? — Viktoria pergunta, com os olhos
quase saltando das órbitas.
— Cumprir o que te prometi, anjo. Vou fazer a sua mãe
desaparecer das nossas vidas.
Não posso aceitar que um ato como esse não receba a punição
que merece: a mais severa de todas. Viktoria é um membro da
família Alekseeva, não pode ser tratada de qualquer jeito. Ela é uma
rainha, a dona do mundo.
— Não! — ela protesta, com sua voz tremendo de emoção. —
Ela é a minha mãe. Estamos acostumadas a ter nossas discussões,
mas já está tudo resolvido entre nós.
— Se, no passado, ela resolvia as diferenças entre vocês desse
jeito, com agressividade, era algo que não estava sob o meu
controle, mas hoje não posso aceitar que ela continue a repetir
tamanha atrocidade contra a minha mulher. Você não é mais apenas
a filha da senhora Aidorov, é a esposa do maior pakhan da Rússia.
Ninguém tem o direito de te ferir, nem mesmo a sua mãe.
Recuso-me a acreditar que minha esposa tenha suportado esse
tipo de abuso no passado, aguentando as agressões sozinha. Eu
sempre me perguntava por que Viktoria carregava uma tristeza
profunda em seu olhar. Há uma mágoa oculta por trás dos seus
olhos; algo que ela se recusa a mostrar. Agora, começo a entender o
que a leva a viver com medo de errar: o temor de ser castigada a
faz ser tão submissa, até mesmo às minhas vontades.
— Não mate a minha mãe, Mikhail. Estou implorando de joelhos
que não… — ela implora, mas eu não a deixo se ajoelhar por
alguém que nunca se preocupou em machucá-la.
— Não ouse.
— Prometo que nada assim vai se repetir. Ela me prometeu que
nunca mais me machucaria.
— Com que frequência isso acontecia quando você vivia com
sua família?
Viktoria se cala. Sei que ela tem muito a dizer, só que as
lágrimas escorrendo pelo seu rosto são a sua única resposta.
— Você não precisará mais passar por isso. Nunca mais. Não
está sozinha, querida. — Acolho-a em meus braços, envolvendo-a
em um abraço protetor. — Você tem a mim. Serei seu escudo, seu
guardião. Vou te proteger com a minha vida. Não aceite que
ninguém te desrespeite, mesmo que seja a sua mãe.
As fungadas provocadas pelo seu choro são a única resposta
que obtenho dela.
Um ódio profundo cresce dentro de mim. Como posso deixar
que a mãe dela saia ilesa à crueldade de suas ações desmedidas?
— Se você a matar, eu não conseguirei viver com essa culpa.
Por favor, marido, não faça nada contra a minha mãe. — Ela se
agarra a mim como uma criança em busca de consolo, e eu não
consigo pensar em mais nada além de respeitar a sua vontade.
Meus dedos coçam para eu ir até a casa dos Aidorov e acabar
com aquela velha cruel. Não foi a primeira vez que ela tratou a filha
dessa forma. Uma criatura tão doce e preciosa como Viktoria não
merece sofrer assim.
— Eu prometo que, se houver uma próxima vez, não implorarei
mais. Mas, por favor, apenas desta vez, não faça nada — ela suplica,
com a voz sufocada pela angústia.
Sua pele macia e adorável merece ser venerada, acariciada e
beijada com carinho; não pode ser machucada dessa forma.
— Sua mãe tem muito a agradecer, anjo. Se eu não te
respeitasse tanto, agora mesmo acabaria com a vida dela. Deixe isso
bem claro para aquela mulher: se ela ousar tocar em você, eu a
matarei. Eu a matarei sem piedade. — É mais do que uma
promessa.
A partir de agora, ficarei de olho nela. No seu primeiro deslize,
vou destruir a vida dela sem qualquer compaixão.
Já estive em guerras sangrentas, lutando na linha de frente e
decapitando cabeças como quem corta uma melancia ao meio. Corri
o risco de perder a minha vida várias vezes. Contudo, nada nunca
me paralisou como ver minha esposa chorando, encolhida nos meus
braços. Essa mulher me faz querer tantas coisas que jamais cogitei
antes.
— Por que você está sendo assim… tão bom comigo? — É
como se ela precisasse de uma prova para entender por que é
reverenciada e protegida.
— Sou o seu marido, sempre vou estar aqui para te proteger.
Capítulo 13
VIKTORIA
— Esse é o sabor da saudade, baby? — a voz rouca e
embargada de desejo do meu marido faz o meu corpo inteiro arder.
Em seguida, sinto sua língua macia deslizar de novo sobre o meu
clitóris. — Que sabor mais delicioso, gatinha.
Meus olhos se encontram com os dele, ardentes e possessivos,
enquanto ele explora a minha carne com sua língua quente. Sua
mão direita encontra um dos meus mamilos e o aperta entre os
dedos com uma pressão tão deliciosa, que me faz perder o controle.
Aqui, eu sou a sua esposa adorada. A sua esposa apetitosa. A
putinha safadinha.
E eu amo ser tudo isso… Tudo que ele deseja que eu seja.
O jeito como ele me lambe faz eu me sentir a mulher mais
desejada do mundo. Gemidos escapam dos meus lábios; ecos da
minha entrega ao meu pakhan. Sua língua desenha movimentos
circulares intensos, levando-me ao extremo. Arqueio as costas, em
um êxtase que me faz esquecer o mundo ao redor.
Porém, o nosso quarto, um santuário privado, parece sempre
cercado por uma presença invisível: a avó dele, que está na
expectativa por um bisneto. Eu até quase posso senti-la atrás da
porta.
Mikhail me tortura com cada toque da sua língua sedenta,
explorando cada parte de mim.
— Por favor… — imploro, desesperada, desejando que ele me
leve às últimas consequências.
Por um breve momento, ele para. Seus olhos faíscam de um
desejo insaciável enquanto ele aprecia o meu desespero.
— “Por favor” o que, Viktoria? — O homem saboreia a minha
súplica, dando um sorriso travesso.
Mordo o meu dedo indicador, quase chorando de desejo.
— Continue…
Ele quer mais; quer que eu implore ainda mais. Filho da mãe!
Seu sorriso malicioso me desarma.
— Eu quero a sua boca na minha boceta, Mikhail.
— Adoro quando minha esposa implora para que eu a foda com
minha língua.
Meu corpo estremece ao sentir o seu retorno. Sua língua me
penetra novamente, consumindo-me. A cada movimento, sinto-me
em chamas, pronta para gozar em sua boca quente. Um gemido
mais alto que os outros escapa, anunciando que eu, finalmente,
encontro-me satisfeita por completo.
Mikhail continua ali, saboreando o gosto da minha intimidade,
mesmo após meu clímax. Seu rosto está afundado em mim. Ele é o
único dono dos meus orgasmos e o proprietário da minha boceta.
Minhas pernas estão moles e fracas depois de eu ter gozado pela
segunda vez. A primeira vez foi com ele me comendo de quatro,
forte e impetuoso.
— Eu nunca vou me cansar de foder você, esposa — sua
promessa é carregada de intensidade.
Ele respira profundamente, como se quisesse absorver todo o
meu ser.
No banheiro, seguro o teste de gravidez nas mãos. A ansiedade
pulsa dentro de mim. Todo primeiro dia do mês, repito esse ritual,
sabendo que a avó de Mikhail aguarda ansiosamente por uma boa
nova. Este é o quinto mês que faço o teste, e o resultado nunca é o
esperado. O olhar de desapontamento dela ao ver a realidade diante
de nós é devastador.
— Sinto muito, senhora Alekseeva — murmuro.
Meu rosto é tomado pela insegurança e pelo medo de ser
descartada se não conseguir engravidar rapidamente.
A médica alertou que minha ansiedade pode estar atrapalhando
o processo de fertilidade, pois não há problemas conhecidos comigo
ou com Mikhail. Um bebê já deveria estar em meu ventre desde o
nosso primeiro mês de casados, e agora estamos prestes a
completar seis meses de matrimônio sem qualquer resultado.
— Faça outro. Gosto de ter a certeza de que esses testes não
falham. — Etevlania me entrega outra caixinha.
Vou fazer o teste mais uma vez, ciente de que não tem como
eu estar grávida, já que não tive nenhum sintoma.
Refaço todo o processo, e o resultado, mais uma vez, é o
mesmo.
Negativo.
— Sinto muito, esse deu negativo também — informo-lhe, sem
coragem de encontrar os seus olhos.
Posso sentir o desprezo que ela esconde ao ver que mais um
mês se passou e eu continuo sem ter engravidado.
— Tudo bem, querida. Pelo menos, sabemos que o problema
não está na sua fertilidade, como aconteceu com Sasha. Isso
garante que você tem mais chance de continuar com vida. — O
sorriso dela, embora gentil, não esconde a maldade. Especialmente
quando ela mencionou a primeira esposa do meu marido.
A dúvida me consome. Como Mikhail pôde matar a mulher com
quem dormia todas as noites? Ele não se apaixonou por ela em
quatro anos de casamento? O tratamento que dava a ela não era o
mesmo que ele tem comigo?
— Mikhail realmente a matou, como dizem? — A ousadia me
dominou. Por mais que eu tema a resposta, preciso ouvir a verdade
de alguém que não mente.
— Meu neto não tolera que as coisas saiam do seu controle. —
Ela toca em meu ombro, com uma expressão enigmática. — Isso
envolve muito mais do que a lei da vida. Em nosso mundo, as coisas
acontecem como os homens decidem, como Mikhail decide.
— Ele a amava? — Sinto receio da resposta.
— Bem menos do que a decisão de acabar com a vida dela. —
O sorriso maligno dela me corta como uma faca. — Homens não
amam suas esposas, eles são gentis apenas para satisfazerem suas
vontades. Portanto, não confunda desejo sexual com amor. Mikhail
não amou nem a mãe dele, quanto mais uma esposa, seja ela quem
for. — As palavras dela me atingem como se fossem uma
apunhalada. — Homens com poder não amam suas esposas, pois
sempre estão rodeados por uma variedade de mulheres lindas e
sedutoras correndo atrás deles.
Senti um nó na garganta ao escutar isso. A ideia de que Mikhail
possa ter outras mulheres me deixa vulnerável.
Nos últimos dias, refleti muito sobre os meus sentimentos e os
dele. Há momentos em que escapam dos seus lábios palavras que
debocham do que eu sinto, como “amor”, “meu amor” e “eu amo
estar dentro de você”, porque ele não parece entender o peso delas
e como eu me sinto ao ouvi-las. Perco o fôlego ao ouvi-lo me
chamar de “meu amor”, especialmente em nossos momentos íntimos
e quando ele sussurra ao meu ouvido.
“Bom dia, gatinha manhosa. Acorde, meu amor.”
Na próxima semana, comemoraremos seis meses de casados.
Um período curto para nutrir uma paixão avassaladora,
principalmente para um homem como ele. Mikhail pode, realmente,
estar apaixonado? Ou, ao dizer que está se apaixonando por mim,
está apenas movido pelo desejo sexual, como sugeriu a sua avó ao
afirmar que homens com poder não amam suas esposas?
Mikhail tem uma fome insaciável por mim. Ele não estaria tão
faminto caso saciasse sua sede com outras.
— A fome dos homens por aquilo que eles mais desejam pode
ser confundida com paixão. Mikhail quer muito um filho — Etevlania
diz e, em seguida, deixa-me sozinha, presa no tormento das suas
palavras.
Primeiro, ela me confirmou que seu neto matou a primeira
esposa, para ter outro casamento. Segundo, insinuou que homens
de poder não amam e que ainda têm muitas outras mulheres fora de
casa.
Sempre percebo que ela não suporta a minha presença e faz
questão de deixar claro que não sou totalmente bem-vinda à sua
família. Ela foi uma das pessoas que mais desejou essa união, e
agora está me torturando psicologicamente por ainda não estar
grávida.
Respiro fundo, tentando clarear minha mente.
Percebo que perdi um pouco de peso ao experimentar o vestido
de cetim com um toque de seda; um modelo estilo sereia e com um
corte ousado na perna direita. Ele será perfeito para o evento de
caridade em homenagem à generosidade da família Alekseeva com
as causas de crianças órfãs. Descobri que eles se mostram
generosos, doando milhões para essas instituições, e a senhora
Etevlania é embaixadora de uma ONG respeitada por muitos chefes
de estado, que estarão presentes no evento.
O vestido, agora mais folgado na cintura, reflete o meu
descuido com a alimentação, provocado pela ansiedade de
engravidar. Em muitos dias, esqueço-me de tomar o café da manhã,
além de que noites seguidas de insônia me deixaram debilitada.
Por sorte, não é algo muito perceptível. O tecido se modela em
meu corpo com graça.
Eu me arrumei mais cedo para não me atrasar. Asseguro-me de
que cobri bem as sardas no rosto, que se concentram nele de forma
peculiar, sem aparecer em nenhum outro lugar do corpo, e revejo as
opções. O vestido verde-oliva me agrada. Eu o combinei com saltos
plataforma brancos e uma bolsa rosa-chiclete. Meu cabelo está com
um penteado meio-preso elegante.
Quando saio do closet, encontro os olhos de Mikhail me
esperando. Por um instante, ele paralisa ao me ver, visivelmente,
mais arrumada do que o habitual: simples e sem graça.
— Uau! Como sou um sortudo por ter me casado com você,
esposa — a maneira como ele saboreia a palavra “esposa” faz o meu
corpo estremecer.
Neste momento, pergunto a mim mesma se ele realmente
sente isso apenas por causa do desejo.
Percebo que ele segura uma caixa longa de veludo. Ao se
aproximar de mim, abre-a, revelando-me uma linda pulseira de
brilhantes.
— Uma joia tão insignificante se comparada à sua beleza
extraordinária. — Ele a coloca em meu pulso.
— É linda. Obrigada.
— Nesta noite, depois que voltarmos, quero que você use
apenas ela, junto com esses saltos, enquanto eu estiver saboreando
você, minha putinha safada. — Ele me beija com volúpia, fazendo o
meu coração disparar e o desejo se acender em meu interior mais
uma vez.
O evento de gala reúne as personalidades mais poderosas e
influentes do país, criando uma atmosfera vibrante, repleta de
glamour e prestígio. Fico completamente atônita ao avistar ministros
e chefes de estado, além de celebridades renomadas que se
dedicam a causas humanitárias. A família Alekseeva, reconhecida
fora do submundo da máfia, traz um sobrenome de peso que poucos
conseguem compreender. Poucos, ao olharem para Mikhail
Alekseeva, conseguem imaginar que, por trás desse grande nome,
esconde-se o pakhan mais temido da Europa.
A cada instante, mais pessoas se aproximam para nos
cumprimentar. Neste ano, Etevlania é uma das grandes
homenageadas da noite, assim como o meu marido. Há um
majestoso cartaz na entrada do salão anunciando a impressionante
contribuição de 200 milhões em ajuda humanitária. A generosidade
que circula aqui é quase palpável.
A nossa mesa é o centro das atenções, e o primeiro-ministro do
país está sentado conosco. Ele e sua esposa, apaixonados por
questões sociais, interessaram-se intensamente pela grande causa
que estamos apoiando. Etevlania conversa animadamente com a
esposa do ministro, enquanto meu marido se dedica a discutir, com
ele, políticas e mudanças nas instituições governamentais.
Minha mente, no entanto, parece vagar, perdida entre o brilho
dos cristais e as vozes ao fundo.
Em um momento do evento, posamos para as fotos. Todos
juntos, como uma família perfeita e harmoniosa. Mikhail envolve a
minha cintura com um toque possessivo, um gesto que fala mais
que mil palavras.
Como as celebridades conseguem lidar com tanta atenção dos
flashes?
— Senhor Alekseeva, podemos fotografar apenas o senhor
agora? — pede um fotógrafo de um canal renomado.
Afasto-me, buscando sair da linha de visão das câmeras, para
que meu marido possa brilhar sozinho. Mas alguém segura a minha
mão: é Mikhail, firme em sua intenção.
— Minha esposa fica — ele declara, com sua voz determinada e
inabalável.
— Apenas uma foto, senhor — insiste o fotógrafo.
— Minha esposa me acompanhará em todas as minhas fotos. —
Ele se recusa a me deixar sair do seu lado.
Meu coração pulsa de orgulho agora.
Sem mais hesitações, os flashes voltam a iluminar os nossos
rostos e a imprensa se aglomera ao nosso redor, ávida para capturar
imagens nossas. Sorrio, com um brilho radiante.
À
À medida que voltamos à nossa mesa, encontramos um homem
alto e elegante, que se aproxima de nós com um sorriso exagerado
e uma taça de champanhe na mão. Eu não o conheço, mas percebo
que ele está um pouco embriagado e muito à vontade com Mikhail.
— Essa é a sua esposa, Mikhail? — ele dispara, sem sequer nos
cumprimentar adequadamente.
— Sim — ele afirma, seco e direto.
— Uau! — O homem solta uma risada, encontrando humor em
algo que me escapou. — Sua mulher é um espetáculo de beleza,
Mikhail. Que deslumbre! — Assobia, olhando para mim de uma
forma que me deixa desconfortável.
— Obrigada — murmuro, tentando disfarçar o embaraço.
Seus olhos azuis deslizam pelo meu corpo; não de maneira
desrespeitosa, mas com uma intensidade que faz eu me sentir
vulnerável. Mikhail aperta a minha mão e envolve a minha cintura de
forma possessiva, como se quisesse marcar território.
— Mais uma palavra sobre a minha mulher, e eu corto a sua
língua, idiota — a ameaça em sua voz é clara.
O homem, percebendo o clima pesado, recua.
— Que ciumento. Eu nunca te vi assim — ele debocha. — Até
alguns meses atrás, estávamos em Ibiza… — sua voz tropeça antes
da conclusão da frase, quando ele se dá conta de que revelaria
demais.
Isso faz eu me lembrar da conversa que tive com Etevlania
sobre Mikhail ter acesso a muitas mulheres. Eu não sou ingênua, sei
bem o quão experiente ele é. E a ideia de que ele pode sentir
saudade da vida de solteiro ou se interessar por outras opções me
assola com uma insegurança.
— Domenico… — Mikhail o adverte, com um tom de voz que
não deixa espaço para brincadeiras.
— Quando eu elogiava a beleza de Sasha, você não se
importava.
— Com Viktoria é diferente. Tire os olhos dela, ou ficará sem
eles — Mikhail o ameaça, fazendo-o recuar de novo, finalmente,
consciente do seu erro.
— Vendo vocês, percebo como está apaixonado por Viktoria. —
O olhar de Domenico sobre mim é desconcertante. — Eu não
imaginava que você gostasse de um perfil mais jovem. Uma vez
comentou que odiava garotas inexperientes e recatadas, por não ter
paciência para lhes ensinar nada.
Engulo em seco. Sou 17 anos mais nova que ele. A revelação
de que ele se casou com uma mulher mais jovem, porém prefere as
mais experientes, incomoda-me profundamente. Mikhail tem sido
paciente comigo desde o nosso primeiro dia de casados até o
momento, sendo que abomina meninas ingênuas como eu.
— Pare de falar tolices, Domenico. O evento vai começar, então
precisamos voltar para a nossa mesa — ele interrompe a conversa,
decidindo que vai encerrá-la.
— Até breve — Domenico se despede de nós enquanto nos
afastamos.
Mikhail pega em minha mão firmemente. A tristeza no meu
olhar não pode ser disfarçada assim que me lembro das palavras
cruéis do seu amigo.
— Querida, não dê ouvidos a esse idiota. Ele está bêbado e
ultrapassou todos os limites, mencionando coisas que deveriam ter
permanecido enterradas no passado — afirma o meu marido,
fazendo-me sentir que suas intenções comigo são puras.
Assinto e me sento, pronta para assistir ao evento, mas com o
peso daquela conversa em meu coração.
Capítulo 14
VIKTORIA
Se há algo capaz de arruinar o meu dia é, sem dúvida, a visita
matinal da minha mãe. Antes mesmo de eu ter a chance de
saborear o café da manhã, ela já adentrou o meu espaço com
aquele olhar crítico que me consome, dissipando toda a minha paz.
Estou tão cansada da noite passada, porque a “geladeira
Electrolux”, vulgo o meu marido, devorou-me com uma fome voraz.
Agora sou obrigada a encarar uma batalha silenciosa com minha
mãe.
— Bom dia, mãe.
Assim que seus olhos pousam em mim, ela começa a me
avaliar com uma crítica que sempre teve a meu respeito. Nada do
que faço lhe agrada, e agora ela olha para a peça de roupa que uso
com desprezo, transmitindo sua avareza.
— Que roupa é essa?
— O que há de errado com minha roupa? — retruco, sentindo
as paredes da casa, uma vez tão acolhedoras, começarem a se
fechar ao nosso redor.
— É por isso que ainda não conseguiu engravidar. Eu te disse
para usar roupas mais sexys e provocantes, não para se vestir como
uma senhora.
Mas eu não me visto como uma senhora. O que ela espera que
eu vista? Uma minissaia, em pleno frio de 8 graus negativos?
— O que a senhora deseja? Por que veio tão cedo? — Minha
impaciência está como um copo cheio prestes a transbordar.
— Depois que você se mudou para esta mansão, esqueceu-se
completamente de nós. A boa menina que criei se tornou egoísta e
rude? — ela zomba e se acomoda no sofá como se esta fosse a sua
propriedade. — A filha dos Otibok se casou mês passado e já está
grávida. O que há de errado com você, que não consegue fazer o
mesmo? Oito meses de casada e nada de um bebê?
Minha paciência com minha mãe se esvai a cada instante. Ela
só sabe me atacar. Nunca tem uma palavra de carinho para mim,
apenas comparações venenosas como facas afiadas atravessando o
meu coração.
— Quando terá um filho? — ela persiste, ignorando a dor que
suas palavras me provocam.
A pressão dela, somada à de Etevlania, deixa-me à beira da
loucura, mas admito que um fio de ciúme se entrelaça em mim por
eu ter descoberto que Catarina já está grávida. Eu tento durante oito
meses, e nada aconteceu.
— Responda à minha pergunta — ela exige, com sua voz
carregada de autoridade. — Quer saber? Esqueça. Vim te buscar
para irmos à clínica nesta manhã. A doutora fará mais exames.
Talvez ela encontre algo que ajude você a ter um filho o quanto
antes.
— Eu não vou! — Cruzo os braços. Minha recusa reflete o
desespero que me consome.
— Como não vai? Você pretende ser expulsa desta casa?
— Se me expulsarem, isso será problema meu, não seu! —
desafio-a, decidida a ser tão afiada quanto sua língua.
Por dentro, o meu coração queima em chamas, preso ao medo
do que essa expulsão poderia significar.
— Você, ao menos, está tendo relações com o seu marido? —
ela indaga, repleta de malícia e desdém. — Sabe, querida… O sexo
vai muito além de beijos e toques. Seu marido penetra em você?
Despeja o líquido dele dentro de você? Espero que esteja fazendo
sexo da maneira certa. O senhor Alekseeva é um homem experiente,
mas talvez não esteja conseguindo ser potente com uma pirralha
feia como você. — Ela veio até a minha casa para me humilhar,
cuspindo palavras de veneno em minha cara. — Se, pelo menos,
você tivesse herdado a minha beleza, como o seu irmão… Em vez
disso, parece com as pessoas da família do seu pai; é sem graça
como eles. E esse cabelo ruivo… Seu marido não deve sentir tanta
atração assim por você — desdenha. — Ao menos está escondendo
essas sardas ridículas? — Ela me faz querer gritar para que ela vá
embora — O que importa é que você garanta a nossa posição na
sociedade. Uma filha rejeitada e expulsa seria como um castigo.
Portanto, faça o seu trabalho.
Meu casamento agora é visto como um trabalho. Não aguento
mais essa pressão.
— Chega, mãe! — o grito escapa dos meus lábios com mais
força do que eu imaginava. — Saia daqui! Vá embora! — Sua
expressão de espanto diante da minha ousadia é quase satisfatória.
— Como pôde vir até a minha casa e me dizer tantas coisas
absurdas? É só com o seu ego e posição social que se importa?
Ela se levanta, prestes a perder o controle, mas, então, lembrase de que não está em seu território. Aqui, estou protegida de seus
ataques vorazes.
— Cale a boca, sua vadia! — As ofensas dela já não me ferem
como antes. — Acha que é superior? Acha que vai continuar com
esse ego nas alturas se não engravidar antes de um ano de casada?
Sasha morreu quando descobriram que ela não podia ter filhos.
Farão o mesmo com você, mesmo que seus exames não apresentem
nenhum impedimento.
— Então, se a culpa não é minha, não há nada que eu possa
fazer! — grito, sentindo minha frustração transbordar em um mar de
palavras. — A última coisa com a qual me preocupo é com a porra
da nossa posição social!
— Do mesmo modo que seu marido te colocou no lugar da
primeira esposa, pode, muito bem, colocar outra no seu lugar. —
Isso penetra em meu coração como uma faca afiada.
— Droga, mãe! Para de falar, por favor. — Tapo meus ouvidos,
desejando que a voz dela se cale.
— Aprenda a fazer as coisas direito. Tudo que você faz ou toca
vira um desastre. Uma tarefa simples, como engravidar, não é capaz
de cumprir.
Respiro fundo, ignorando a sua presença. Giro as costas para
ela e ouço seus protestos enquanto subo a escada. O desejo de me
trancar no quarto e chorar cresce em minha mente.
As lágrimas me deixam sem ar e a pressão é insuportável. Por
que não estou grávida? Por que esse bebê não se forma em meu
útero? Tanto esforço para alcançar isso, e ainda nada.
Inferno! A minha mãe é a pior pessoa que conheço. Enfio a
cabeça no travesseiro, que abafa o som do meu choro.
Os olhares de desapontamento de Etevlania e Mikhail são como
correntes que me prendem à ruína. Choro sem parar, sentindo o
peso do desespero em meu peito me consumir. Eu sei que sou capaz
de ter filhos, apenas precisava de mais uma chance.
Minhas malas estão arrumadas atrás de mim, carregando
apenas o que eu trouxe na vinda.
— Agradeça por estarmos te expulsando com vida. Se não
fosse pela benevolência do meu neto, você estaria morta, como
Sasha, por não ter conseguido nos dar um herdeiro.
Imploro, desesperada, para que não me mandem embora.
— Eu prometo que vou conseguir. Eu vou conseguir ter um
filho.
Eles riem das minhas súplicas. Mesmo que eu esteja de joelhos
diante deles, eles não têm compaixão pela minha dor.
— Meu neto tem à disposição a mulher que desejar aos seus
pés; ele não precisa de você.
O olhar de Mikhail é gélido, sem compaixão; uma frieza que me
deixa à beira da desesperança. O homem a quem entreguei meu
coração está pronto para me abandonar, e a dor rasga a minha
alma, trazendo à tona uma sensação avassaladora de perda.
— Me deixe levá-la embora de uma vez por todas — diz
Leonad, surgindo em meio à confusão, com a determinação de
quem está sedento para me levar de volta para casa.
— Não deixe ele me levar, por favor…
Mikhail ignora o meu lamento e me dá as costas, indo em
direção a duas mulheres deslumbrantes que o aguardam no pé da
escada.
Leonad me toca e, em uma fração de segundo, sinto repulsa.
Ele me arrasta contra a minha vontade, e tudo o que desejo é correr
para longe dele.
Por que você fez isso comigo, Mikhail, e com o nosso amor?
A verdade de sua avó ressoa em minha mente: ele não me
amava, apenas desejava filhos. E eu falhei em lhe dar isso, então ele
me abandonou.
— Somos só você e eu, irmãzinha. Estou louco para sentir o
sabor do seu corpo.
As mãos de Leonad me tocam e ninguém me defende. Meu
marido vai embora com aquelas mulheres lindas, que riem da minha
desgraça, assim como Etevlania.
Acordo em um sobressalto, com o rosto molhado de suor e o
coração aos pulos, como se estivesse prestes a sair pela boca.
Adormecer depois de tanto chorar me levou a um pesadelo horrível.
Minha garganta está seca, arranhando, e o meu coração continua a
palpitar, fora de controle.
Droga! Foi tão real, que quase me vejo à beira de um ataque
de pânico.
Corro até a bolsa que trouxe da farmácia na noite anterior e,
em desespero, vou ao banheiro. Meu cabelo está colado na testa e
meus dedos tremem.
Tudo está se repetindo. Mais um mês se passou e, novamente,
o teste de gravidez trouxe um resultado negativo. Eu comprei três
testes de marcas diferentes, os melhores da farmácia, já me
preparando para ter tudo em mãos quando Etevlania me pedisse
amanhã, assim que meu marido saísse para o trabalho.
Faço os três testes. Três resultados negativos.
As caixas estão espalhadas pelo balcão da pia, que está cheia
de lenços que usei para enxugar minhas lágrimas, que teimam em
cair.
Mikhail e eu transamos como coelhos, dia e noite. Eu já deveria
estar grávida, especialmente porque não há impedimentos entre
nós. Meu choro é inevitável, como uma forte tempestade. O medo
de eu perder tudo que construí se instala em meu coração.
Eu tenho um teto seguro sobre a cabeça, não posso perdê-lo.
Não posso falhar na minha principal tarefa.
O resultado dos testes me deixou ainda mais sensível e
desiludida.
Oito meses de matrimônio, fazendo amor com a intensidade de
quem abraça a própria vida, sendo que os dias em que não
dormimos juntos são uma raridade. Será que há algo de errado
comigo? Os testes podem ter apresentado um resultado falso? E se
eu não conseguir ter um resultado positivo? A ameaça de eu ser
expulsa daqui pesa como uma espada sobre a minha cabeça.
Minha cabeça começa a girar, uma vontade avassaladora de
vomitar me domina e um terror cresce a cada instante. Estarei
perdida se meu pesadelo se tornar realidade.
Tusso e, em seguida, lavo a boca com água. Depois uso um
enxaguante bucal, tentando tirar o gosto amargo da frustração.
— Droga! — protesto ao derramar parte do enxaguante no ralo
da pia. — Eu sou um desastre, minha mãe tem razão. — Soco a pia.
A dor nos meus dedos serve como um lembrete do meu
fracasso.
Em um surto de histeria, jogo as caixas dos testes no chão, até
que percebo que não estou sozinha no banheiro. Alguém me
observa, quieto. Esse alguém é Mikhail, que me olha com um misto
de confusão e preocupação. Seco as lágrimas, esforçando-me para
não chorar mais.
— Viktoria, venha cá, baby. — Ele se aproxima de mim e me
envolve em seus braços. A sensação do seu toque me deixa
balançada entre a esperança e a dor. — Tudo bem. Fique tranquila.
Tudo vai ficar bem — ele me assegura.
— Não. Nada vai ficar bem se eu não conseguir te dar um filho!
— exclamo, ainda presa no seu abraço. Depois me afasto para pegar
um dos testes e mostrar a ele. — O que há de errado comigo? —
pergunto, atenta à expressão impassível em seu rosto.
Mikhail analisa o resultado com uma seriedade que me
desconcerta. Eu não sei o que se passa em seu coração. Um misto
de decepção e tristeza? Raiva e arrependimento por ter se casado
comigo?
— Sua avó não vai ficar nada feliz quando me procurar amanhã
e souber que os testes deram negativos — resmungo em um
sussurro. — Mikhail, eu sinto muito. Você se casou com uma mulher
mais jovem, mesmo não apreciando essa faixa etária, e eu não sou
capaz de engravidar; algo que deveria ser simples.
O silêncio dele me destrói por dentro.
Diga algo, por favor.
Meus olhos imploram por uma palavra de conforto.
— Eu vou entender se você não quiser continuar casado
comigo.
Mikhail respira fundo e me envolve em seus braços. Com
delicadeza, leva-me para fora desse banheiro úmido e me senta em
nossa cama, entregando-me um lenço para secar as lágrimas que
escorrem pelo meu rosto. Aceito-o, enquanto os meus olhos se
apertam de tristeza.
Eu não quero perdê-lo. Pensar em viver em um mundo onde
Mikhail não existe me deixa aflita; não apenas pela segurança que
ele me transmite, mas também porque o meu coração é dele,
completamente dele. A paixão que cresceu nesses meses consome
todo o meu ser, por isso surto ao imaginar que ele pode buscar
companhia em outras mulheres.
Assoo o nariz e ergo o olhar para ele. Neste momento, ele me
oferece um copo de água.
— Beba. Isso vai ajudar a te acalmar. — Água nenhuma faria
isso, mas, ainda assim, tomo um gole dela. — Querida, respire
devagar. Uma, duas, três vezes. Agora, respire fundo lentamente. —
Ele acaricia o meu rosto e se senta ao meu lado.
Eu sigo o seu conselho e a minha respiração agitada vai se
acalmando aos poucos. A cada ciclo que inicio, sinto o meu coração
voltar a bater de maneira mais tranquila.
— Você se sente melhor? — ele pergunta e eu assinto,
balançando a cabeça. — Não quero que chore assim, baby. O que te
faz pensar que há algo de errado com você?
— Eu não consigo engravidar, Mikhail.
— Isso é normal, anjo. Está tudo bem entre nós. No momento
certo, o bebê virá — ele assegura, com uma suavidade que me
conforta.
— E se não… — Ele silencia as minhas angústias com um dedo
em minha boca.
— Você é perfeita, Viktoria. Perfeita. — Isso aquece o meu
coração. — Não deixe que minha avó ou sua mãe te pressionem
tanto. Eu não sabia que ela estava te pedindo para fazer testes em
todos esses meses. Ela não fará mais isso — ele promete.
— Você não está irritado comigo por eu não estar grávida?
— Quando olho para você, fico sem ar — ele confessa. — O
que me irrita é não poder olhar para você o tempo todo. Deveres me
obrigam a sair de casa e ficar longe do seu lindo olhar por horas a
fio. — Seca mais algumas das minhas lágrimas com a palma da
mão.
— Seu amigo disse que você não gosta de mulheres mais
novas…
— Domenico é um idiota, que não sabe quando calar a boca.
— Então, ele mentiu? Não parecia uma mentira.
— Não era uma mentira. Realmente, mulheres mais jovens e
inocentes nunca fizeram o meu perfil. — Sua confissão me balança.
— Mas tudo que eu ignorava ou não gostava, passei a querer no
momento em que me apaixonei por você, Viktoria. E percebi que
quero viver toda a minha vida ao seu lado.
Meu coração para por um segundo.
“Viver toda a minha vida ao seu lado.”
Essas palavras eram tudo o que eu queria ouvir, mas não sei se
estava preparada para escutá-las. O impacto foi mais intenso do que
jamais imaginei.
Uma vez, ele me disse que estava se apaixonando por mim.
Pensei que fosse apenas uma paixão passageira, motivada pelo
desejo físico.
— Quando olho para você, o meu coração acelera, bonequinha,
e essa sensação cresce a cada dia.
— Eu sinto o mesmo — admito, nervosa. — Pode parecer
bobagem, mas morro de ciúme ao pensar que você pode ter outras;
que não está satisfeito comigo e…
— Que absurdo é esse de “outras”?
— Você não tem outras mulheres?
— Por que eu teria outras mulheres, se a mais linda e
interessante do mundo me espera todos os dias com um sorriso
fascinante? Outras? — Ele transmite uma confiança que me
conforta. — Pela milésima vez: pare de ouvir o que as pessoas têm a
dizer. Eu não preciso de outras, só preciso da minha esposa, e nada
mais.
Confio em suas palavras. Elas aqueceram o meu coração.
— Mesmo assim, se casou comigo para ter seus herdeiros, e
nem isso consigo te dar. — Faço um bico, controlando as lágrimas.
Ele beija os meus lábios, tentando me acalmar. Um beijo
acolhedor, lento e carregado de paixão.
— Quantas vezes vou ter que amar você, seja nesta casa ou
em qualquer outro lugar, para que entenda o quanto é valiosa para
mim? — Fico sem ter o que falar diante da sua declaração. — Todos
os meus beijos, carícias e desejos, desde os mais românticos até os
mais profundos, não provam o quanto te quero e preciso de você na
minha vida? Não consegue sentir o quanto te quero?
— Consigo — revelo.
— Então, o que te faz se sentir tão insegura?
— Você… Você matou sua esposa… Eu…
— Tem medo de que eu faça isso com você? — Ele se levanta,
olhando para mim com desapontamento pela primeira vez.
Ele é um homem perigoso, mas acha errado eu temer que o
mesmo possa acontecer comigo? A sombra dessa história ainda
paira sobre mim.
Fico calada e abaixo o olhar para os meus dedos.
Uma respiração de frustração escapa dos lábios dele.
A paixão que ele diz sentir por mim não apaga o que aconteceu
com Sasha.
— Por hoje já conversamos. Por favor, não pense mais nessas
bobagens.
Mikhail deposita um beijo suave em minha testa e sai. Mesmo
sem ele dizer, o seu olhar mostrou que ele ficou triste comigo.
Capítulo 15
VIKTORIA
A família Alekseeva é reduzida, quase diminuta, porém os que
existem são fortes e poderosos como explosões nucleares. Meu
marido, sem tios, irmãos ou primos, está quase vazio de laços
sanguíneos, por exceção de Adrina, neta de Etevlania, última
herança da sua falecida filha. Ela esteve ausente no nosso
casamento, e o motivo disso permanece sendo um mistério para
mim. Amanhã, no entanto, ela se casará aqui na mansão, em uma
cerimônia íntima, com um pakhan de uma máfia aliada. Seu
casamento será uma aliança.
Diferente de mim, ela é alguém importante. Um tesouro da
família Alekseeva, que será entregue a alguém de total confiança
deles.
Quando ela chega à casa, acompanhada pelo crepúsculo, nós já
a esperamos na sala. Da janela, observo-a descer do carro. Ela é
deslumbrante, alta e esguia. Está envolta por um vestido negro,
quase parecendo de luto, como se estivesse a caminho de um
velório.
Ouvi murmúrios sobre sua vida em Moscou. Adrina herdou as
propriedades que pertenciam à sua mãe, mas, por ela ser mulher, é
sua avó que controla tudo. Etevlania é diferente: como o seu marido
está morto, nenhum homem tem o poder de mandar nela. Seu neto
é o único que pode fazer isso, mas ele a respeita, e também coloca
limites sempre que necessário.
A dor da perda de uma mãe vive em Etevlania, e isso é
palpável. Seus dois únicos filhos perderam a vida em um trágico
acidente que também ceifou a vida da mãe de Mikhail e do pai de
Adrina. Seus netos são o que restam de seus filhos. Apenas ecos de
lembranças. As duas preciosidades da família.
Assim que os saltos de Adrina ecoam pela sala, nós nos
levantamos. O vestido que ela usa, negro e abaixo dos joelhos,
combina com os saltos e com a bolsa que ela segura. Um conjunto
sombrio que acentua a sua beleza e carrega uma tensão latente ao
mesmo tempo.
— Minha querida neta, como estou feliz em te rever — a voz de
Etevlania transborda afeto. Ela está repleta de alegria por receber a
neta.
Penso em quanto tempo se passou desde que elas se viram
pela última vez. Mesmo que ambas vivam na mesma cidade, parece
que a eternidade se instalou entre elas. Em dez meses que vivo
nesta casa, nunca vi Adrina vindo aqui.
— Como eu não estaria aqui, vovó, se o meu casamento é
amanhã? — Ela vira o rosto, evitando receber um beijo da avó, e dá
um passo para trás, como se quisesse evitar qualquer aproximação.
Um ressentimento evidente paira no ar; uma mágoa que não se
esconde.
— Está cansada, meu bem? Seu quarto está preparado. Se
quiser tomar um banho…
— Duas horas de carro não matam ninguém — ela corta
Etevlenia, rude como uma lâmina. — Também não preciso de um
banho. O que eu mais quero é ver o meu primo, Mikhail. Ele está em
casa? — a frieza na sua voz me lembra o gelo. É cortante e
distante.
Notei que ela tem urgência em ver o primo.
— Ele ainda não retornou do trabalho. — Etevlania luta para
conter sua severidade, como se sentisse o peso da culpa pela rudeza
da neta.
A relação entre elas parece gélida. Pergunto-me o que pode ter
ocorrido entre as duas.
— Seu cabelo… — Sua avó lhe lança um olhar de surpresa,
desaprovando o que vê.
— Sim, eu fiz luzes — ela comenta, sem se importar com o que
a senhora pensa.
Adrina me observa com um olhar de desdém que me incomoda,
mas me esforço para sorrir gentilmente, como fui orientada pela sua
avó, mesmo que sua postura não seja nada gentil. Nós todos nos
preparamos para a explosão que seria a sua presença.
— Olá, Adrina. Como vai? — Mantenho um sorriso sincero e,
diante do seu silêncio, continuo a falar. — Sou Viktoria, a…
— Eu sei quem você é. Seu rosto saiu em todas as manchetes
no dia seguinte ao casamento.
Ela parece ser bem informada sobre mim. Mas, por que não
teve a decência de comparecer ao casamento?
— Por favor, sinta-se à vontade. Se precisar de algo, é só dizer,
que providenciarei na hora — informo-lhe, mesmo que não possa
esperar reciprocidade.
— Vovó. — Ela encara a avó, intrigada. — Que lugar ocupa a
esposa do meu primo nesta família? — Sua pergunta me pega de
surpresa. — Porque parece que ela é mais uma governanta do que
outra coisa. — Adrina tem uma língua cortante.
Mantenho-me em silêncio para evitar conflitos desnecessários,
afinal, ela só ficará aqui por essa noite. No dia seguinte, estará
longe e casada.
— Eu quis dizer que…
— Eu sei o que quis dizer — ela me interrompe de imediato. —
Vovó, como se sente sabendo que não é mais a dona desta casa? A
senhora sempre agiu como a rainha absoluta da Bratva. Até quando
Mikhail estava casado com Sasha, a pobrezinha não mandava em
nada. É assim também com essa aí? Ou ela dirige a máfia em seu
lugar?
A intenção de Adrina é clara: provocar uma rivalidade entre
mim e sua avó. Seu discurso criou um clima desconfortável entre
nós. Ela se lembrou de Sasha com uma dor evidente. Elas eram
próximas?
— Bem… Pelo seu silêncio, vovó, eu já entendi tudo. A senhora,
enfim, aprendeu o seu lugar. É uma pena que não foi Sasha a te
ensinar — ela fala com uma tristeza profunda, como se simpatizasse
com a falecida esposa do meu marido.
O clima entre mim e Etevlania está afetado desde que o seu
neto lhe pediu para parar de me submeter a testes de gravidez
mensalmente. Desde então, há apenas silêncios entre nós. Quando a
cumprimento pela manhã, ela não me responde e nem ao menos
balança a cabeça. Durante o jantar, somos duas estranhas a uma
mesa.
— Bem, eu já estou indo para o meu quarto. Quando o meu
primo chegar, avise-o para ir me ver. Sinto muito a falta dele — sua
fala é um ataque pessoal contra mim. — Você pode não saber,
Viviana, mas eu e Mikhail somos muito próximos. — Seu sorriso é
carregado de provocação, e a malícia transparece no seu olhar. Ela
disse o meu nome errado intencionalmente. — Não se esqueçam de
avisar a ele para subir.
Essa megera não fez o meu coração acelerar com paranoias em
relação ao meu marido e ela, mas é fato que sua presença é uma
ameaça e está claro que ela veio disposta a provocar.
— É Viktoria — corrijo-a, colocando-me em seu caminho antes
que ela suba a escada.
Ela me encara, confusa.
— O que disse?
— Você me chamou de Viviana; esse não é o meu nome —
explico, fechando o cerco. — “Viktoria” carrega um som forte e
inconfundível. Mas imagino que, por estar cansada da viagem ou por
não ter estado presente no meu casamento, tenha se confundido.
Ou pode ter lido o meu nome errado em alguma matéria online.
Agora, da próxima vez, se lembrará de como pronunciá-lo. — Sorrio
e solto uma risadinha suave, mas, por dentro, arde a minha
necessidade de atacá-la como ela me ataca.
Ela também ri, como se entendesse o que eu quis dizer.
Adrina pode ser neta de Etevlania, mas eu sou a rainha da
máfia, a esposa do rei.
— Nos vemos no jantar, se até lá o meu primo não tiver
chegado. Temos muito a conversar. — Ela sorri.
Tudo o que sinto é um impulso violento de puxar o seu cabelo
pintado. Essa loira provocadora quer me ver perder o controle, mas
não vai conseguir.
Resfolego, segurando a raiva que ela me causou.
Mikhail está imerso em problemas, com os ataques constantes
da máfia Orokov. Ele não me mantém informada sobre a verdadeira
gravidade da situação, então o que ouço são apenas os sussurros
dos empregados e fragmentos de conversas entre Etevlania e a
governanta.
No silêncio da casa, podem ser ouvidos os gritos de Mikhail ao
se afastar da mesa para atender a telefonemas importantes.
A senhora Kirav, a governanta, sabe mais desse assunto do que
eu, a esposa do rei da máfia. As coisas estão se tornando
extremamente sérias.
Estou preparada para o jantar. Etevlania convocou a todos para
celebrarmos a última noite de solteira de sua neta adorada.
Mikhail e Adrina acabaram se atrasando; uma característica
comum entre eles, herdada, aparentemente, do mesmo sangue. À
mesa, estamos apenas Etevlania e eu. O silêncio é pesado entre nós.
Só me serviram água. Eu me alimentei bem à tarde, senão
estaria achando esse jejum insuportável. O jantar estava para
acontecer às 20h, mas já passaram das 21h e, ao que tudo indica,
aqueles dois não estão preocupados se vamos nos alimentar ou
não.
Preocupo-me com o fato de Mikhail ter se atrasado. Ele nunca
se atrasa sem me avisar.
— Creio que nenhum deles virá — sou direta.
— Claro que virão — Etevlania responde, confiante.
— Já tem mais de uma hora de atraso.
— Não se preocupe, eles estão juntos — ela fala como se isso
fosse motivo de alívio.
— Estão juntos? — indago, com a mente atordoada.
Mikhail e Adrina juntos? No mesmo lugar? Apenas os dois?
— O que você esperava? Eles se amam — ela afirma,
indiferente ao impacto que isso causa em mim.
— Se amam? — pergunto, insegura, lutando contra as imagens
que brotam em minha cabeça.
— Eles são primos — ela menciona a importância sanguínea
que os liga. — Dois Alekseeva legítimos.
Eles se amam como primos, certo? Não é como eu amo Mikhail.
Não podem amar um ao outro dessa forma. Deve ser uma conexão
sanguínea, um carinho familiar inocente. Mas, por que eles estão
precisando de tanto tempo a sós?
— Onde eles estão? — pergunto, incerta e insegura sobre o que
está acontecendo.
— Lá em cima. — Ela sorve a água como se nada estivesse
acontecendo.
Eu preciso parar de pensar em besteiras. Como a loira
provocadora tentou criar insinuações maldosas, minha mente se
afunda em um ciúme frustrante. Adrina vai se casar no dia seguinte,
então não há razões para eles estarem juntos dessa forma.
Ouço risadas se aproximando da sala de jantar; risos que
exalam intimidade e cumplicidade. Mikhail vem na frente, rindo de
algo que Adrina disse, e ela toca no ombro dele de maneira
possessiva, como se ele fosse dela. Ambos se recompõem quando
chegam à mesa.
— Perdão pelo atraso — pede Adrina, com um tom doce que
não transmite sinceridade. Ela ainda usa preto, mas não parece mais
estar de luto. — Tínhamos muito o que conversar. — A mulher me
lança um olhar direto, contando com o impacto de suas palavras
sobre mim.
— Boa noite, baby — Mikhail se inclina e beija a minha
bochecha com carinho. — Desculpa pelo atraso. Eu te mantive
esperando muito? Estava preocupado com você sem jantar.
Ele se preocupa por eu não ter comido ainda? Por causa da
demora? Mas, o que eles tinham para discutir por tanto tempo? Por
que levaram horas?
— Sirvam o jantar — ordena Etevlania, e as empregadas se
movem rapidamente.
À mesa, Mikhail se senta no lado oposto ao de sua avó, junto
de mim. Enquanto Adrina, em um ato deliberado, senta-se bem ao
lado do meu marido também, como se quisesse deixar claro que não
está disposta a criar uma distância entre eles.
— Deveríamos abrir alguns presentes de casamento seus,
Adrina — digo, chamando a atenção dela e de todos ao redor. —
Eles estão guardados ao lado do escritório. Chegaram assim que
você se recolheu no seu quarto. Mas sei que você pode querer abrilos com o seu marido. Deve estar ansiosa para amanhã. Também,
abrir presentes poderia tomar bastante tempo e atrapalhar a sua
bela noite de sono, afinal, você não iria querer acordar com olheiras
em um dia tão importante.
Surpreendo-me com a maldade da minha observação. Lembrome de ter ficado tão nervosa no meu casamento, que, se não tivesse
sido pela maquiagem, com certeza, eu estaria com olheiras bem
marcantes.
Sei que Adrina não deseja se casar amanhã. Ouvi sua avó
conversando com a senhora Kirav, e ela mencionou que os soldados
reforçariam a segurança da sua neta, para que ela não fugisse.
Ainda assim, aqui estou eu, provocando-a, mesmo sabendo o quão
difícil é se casar sem amor, por obrigação. Parece que fui longe
demais, totalmente cega pelo ciúme.
Talvez tudo isso seja só uma projeção da minha mente. Pode
ser que Adrina esteja apenas sendo rebelde por não aceitar o
casamento.
Ela, simplesmente, sorri e assente. Bem diferente da postura
soberba que apresentou aqui mais cedo.
— Obrigada pela preocupação, Viktoria. Pensei em te chamar
para conversar após o jantar, porque eu gostaria que você visse
algumas das roupas que eu trouxe para a lua de mel. Queria a sua
opinião — ela fala como se minha opinião fosse importante.
— Será um prazer te ajudar no que precisar. Vejo que está
muito radiante com a ideia do casamento. Estou muito feliz por
você.
— Meu primo me levará até o altar amanhã. Ele escolheu o
melhor partido para mim. Sendo uma Alekseeva, eu me casarei com
um homem à minha altura. Sabe… Você tem muita sorte de ter se
casado com o meu primo, ele é uma preciosidade. — Ela pisca para
ele, que sorri da maneira como ela falou.
Eles são íntimos e cheios de códigos que não entendo.
Claro que este jantar está sendo um poço de chateação. A todo
momento, vejo essa vadia loira chamar a atenção do meu marido,
falando sobre quando eles iam à fazenda e brincavam no lago, junto
com seus pais, quando ela era criança. Adrina é mais velha que eu
três anos. Sinto ciúme dessa época porque não estava presente na
vida de Mikhail.
Após o jantar, subo com Adrina, que insiste em me mostrar
algumas de suas roupas.
Assim que fecho a porta do seu quarto, sou surpreendida: ela
está com os braços cruzados, encarando-me com uma fúria que não
consigo entender.
— O que você tem contra mim, Adrina? — indago, confusa.
Nós nos conhecemos há apenas algumas horas e ela já deixou
claro que não me suporta.
— Contra você? — ela responde, fingindo desdém.
— Por favor, somos mulheres. — Ela não me engana, e sabe
disso.
— Eu odeio o fato de você estar feliz com ele — ela confessa,
tomada por uma raiva que eu não compreendo.
Por que minha felicidade com Mikhail a incomoda? Ela está
apaixonada por ele?
— Por que isso te incomoda? Você, por acaso, é apaixonada
pelo seu primo?
Não vejo outro motivo coerente para a sua obsessão por
Mikhail e para a vontade que ela tem de me ver bem longe dele.
Ela ri de mim, desdenhando.
— É tão louca, que não sabe a besteira que diz. — A louca aqui
é ela. — Esse lugar não é seu. Nunca deveria ter sido — a raiva
transparece em suas palavras. — Era o lugar da Sasha. Agora, outra
vive a vida que deveria ser dela.
Adrina fala como se eu tivesse sido responsável pela morte de
Sasha. Seu ressentimento revela o quanto ela se importava com a
falecida esposa do meu marido.
Então, ela não é apaixonada pelo primo, apenas sente raiva por
eu ter me casado com ele, quando ele ainda deveria estar casado
com Sasha.
— Vocês eram próximas?
— Como irmãs — sua voz sai carregada de dor. — Eu ainda
vivia aqui quando ela morava nesta casa. Éramos amigas desde a
escola.
Nunca parei para pensar que esta era a casa de Sasha e que eu
realmente estou vivendo no lugar que antes foi dela. O laço entre as
duas era imensamente forte.
— Sinto muito pela sua perda.
— Você vive a vida dela e diz “sinto muito”? — Ela me encara e,
pela sua expressão, é como se dissesse que sou hipócrita.
— Você sabe que eu não a matei, não é? Não tenho culpa de
estar casada com o marido dela. Amanhã, você também se casará
contra a sua vontade, então sabe bem o que vivi.
— Se casou contra a sua vontade, mas sei que vocês são
felizes. Meu primo te respeita muito e, possivelmente, está
apaixonado por você.
Agora faz sentido: ela não foi ao nosso casamento em sinal de
apoio à amiga.
— Sim, é verdade, estamos apaixonados um pelo outro — não
escondo a verdade. — Mas não entendo o seu ódio. Você já chegou
me atacando sem nem me conhecer.
— Porque você é uma vadia vivendo no lugar dela! — Adrina
desfere um golpe em meu rosto. O impacto ardente me pegou
desprevenida. — Vadia! — sua voz transborda ódio.
Conto até 3 para me acalmar, no entanto, a raiva toma conta
de mim e eu acerto o seu rosto com um tapa também.
— Não ouse colocar suas mãos em mim, vadia! — repreendo-a
na mesma intensidade. — Você pode ser a prima de Mikhail, mas eu
sou a esposa dele. Me deve respeito, sua vaca! — Ela segura a
bochecha que golpeei, com os olhos ardendo de ódio e desejo de
vingança. — Agradeça por eu manter isso entre nós duas. Se não
fosse pelo seu casamento amanhã e pelo fato de que você vai
desaparecer de nossas vidas, estaria em sérios apuros, sua vaca.
Viro as costas para ela, deixando-a sozinha com sua raiva e
ignorando seus olhos repletos de fúria. Adrina realmente era amiga
de Sasha e a amava, mas eu não tenho culpa pela morte dela.
Vadia louca!
Capítulo 16
VIKTORIA
A cerimônia de casamento se desenrolará em instantes em um
ambiente intimista, mergulhado em uma atmosfera de tensão.
Apenas os familiares e amigos mais próximos estão presentes.
A presença da minha mãe e do meu irmão parece ser um peso
insuportável para mim. Depois dos meses que se passaram, imaginei
que teria controle sobre as minhas emoções ao encarar Leonad
novamente. Porém, todo esse esforço desmoronou no instante em
que aquele olhar asqueroso se fixou em mim. A nauseante mistura
de aversão e desprezo inundou o meu ser.
Enquanto Mikhail cumprimenta cordialmente os pais do noivo
da sua prima, eu permaneço paralisada, como se estivesse ancorada
a um ponto fixo, prevendo que aquele verme se aproximará de mim
até que a distância entre nós seja reduzida a nada. Seus olhos
deslizam pelo meu corpo, sedentos. Estou usando um longo vestido
azul royal, que marca a minha cintura e tem um leve decote na
região do busto, o qual atrai a atenção dele. Percebo que ele se
perde em sua contemplação por um instante excessivamente longo.
— Quanto tempo, irmã — sua voz, embargada por um desejo
vergonhoso, ecoa no ar, provocando calafrios em minha espinha.
Ele levanta a taça de champanhe e a bebe. É como se a bebida
pudesse captar e refletir o meu gosto.
— Não toque em mim! — exijo e estapeio a sua mão, que se
atrevia a se aproximar do meu rosto.
O espanto estampado em seu semblante é um testemunho do
impacto da minha desobediência. Segundo ele, eu deveria ser
sempre pacífica e deixá-lo fazer o que quisesse comigo.
— Ora… Você agora tem coragem para me enfrentar? É isso?
Onde está o respeito por mim?
Na verdade, ele quis falar do medo que eu sempre senti dele.
Jamais respeitei um ser tão desprezível.
— Fique longe de mim! — grito, sentindo minha paciência se
esgotando. — Agora eu tenho alguém para me proteger de você,
seu monstro.
— Eu te disse para não se entregar a ele. — Pelo seu olhar
doentio, noto que ele luta contra as sombras da sua mente
perturbada. — Deixou que ele te tocasse. Esqueceu a quem você
pertence, Viktoria? — ele indaga, com sangue nos olhos.
— O que você queria? Me vendeu para Mikhail; era óbvio que
ele iria conferir a sua “mercadoria”. E como conferiu. — provoco-o e
vejo o ódio se espalhar em seu rosto. Ele mereceu ouvir isso — Meu
marido é um homem incrível — evidencio o quanto Mikhail me
satisfaz.
— Precisarei te mostrar quem é o seu verdadeiro dono? —
Arqueia uma sobrancelha. — Se lembra daquela vez em que você se
cobria, enquanto eu tentava te mostrar que não era errado estar
despida diante de mim?
Recordações daquela noite invadem a minha mente como uma
onda furiosa ameaçando me afogar.
Leonad pula a janela do meu quarto quando estou apenas de
calcinha, prestes a me trocar para dormir. Seu aparecimento
repentino faz o meu coração disparar e me leva a gritar de terror. A
porta está trancada e a chave está com minha mãe. Ela acredita que
se me trancar, pode me proteger, evitando que ele tente entrar aqui,
como fez tantas outras vezes para me observar dormindo.
— Saia daqui, Leonad! — imploro, apavorada.
A sede em seus olhos é insana, quase primitiva.
— Tudo bem, princesinha. Tudo bem. — Ele tenta me acalmar,
mas o cinismo em sua voz só aumenta o meu desespero. — Você é
tão linda. — Seus olhos estão transbordando de fascínio. — Me deixe
tocar em você. E não grite, por favor.
Como eu poderia gritar em meio ao pânico que me domina? As
palavras estão retidas em minha garganta, sufocadas pelo medo.
Essa lembrança me atormenta agora. Lembrar-me dessa noite
me deixou paralisada. Eu era uma criança, e ele estava me faltando
com respeito.
Sua voz me desperta de volta para o agora:
— Você não gritou naquela noite porque também queria — sua
provocação é cruel.
Ele sabe que não é verdade. Eu não queria nada, só estava
paralisada pelo medo.
Um sorriso arrogante se espalha em sua boca, apenas
ratificando a distorção de sua mente doentia. Na sua mente
corrompida, eu sempre o desejei, apenas me fazia de difícil. Aquele
momento poderia ter se desdobrado de maneira ainda mais trágica,
se não tivesse sido pela chegada inesperada da nossa mãe, que
conseguiu impedir que o meu irmão me violentasse. A tempestade
do lado de fora parecia um reflexo da tempestade interna que eu
experienciava. Relâmpagos e trovões eram os ecos da dor que eu
sentia.
— Não se preocupe. Mesmo você não sendo mais pura, eu
ainda te quero. — Ele se cala abruptamente quando Mikhail aparece
e disfarça a tensão. — Cunhado, eu estava comentando com minha
irmã sobre como o casamento a fez bem — ele diz, com um toque
de sarcasmo. — Ela está mais bonita e mais feliz desde que vocês se
casaram. Tão feliz, que se esqueceu da raiva que sentia por eu a ter
casado com você.
Mikhail sorri, satisfeito, sem perceber o desconforto que Leonad
me causa. Ele está tão absorvido nas complicações da máfia, que
não nota o abismo que existe entre mim e meu irmão.
— Faço o possível para ver a minha esposa feliz. — A
determinação dele é palpável.
— É um homem de sorte — a voz de Leonad transparece um
incômodo disfarçado e ele toma um gole do champanhe. — Eu
soube que os Orokov estão ultrapassando todos os limites.
Felizmente, você não estava naquele galpão, cunhado, quando a
explosão matou aqueles homens.
Explosão? Houve um ataque recentemente, e só agora estou
sabendo? Gelo no mesmo instante e busco alguma ferida em meu
marido que evidencie que ele sofreu algum arranhão, mas me
lembro de que não vi nenhuma no seu corpo nesses dias.
— Sim. Acredito que toda a Moscou esteja ciente da audácia
daqueles miseráveis. — O descontentamento de Mikhail é evidente.
— Lamento pela perda dos 40 soldados no ataque.
O que foi esse ataque? Até onde meu marido está envolvido
nesse jogo perigoso? Temores extremos emergem em meu coração
assim que penso no perigo que ele pode estar enfrentando, e eu
estava alheia a tudo isso.
— Aqueles desgraçados nos surpreenderam com a explosão —
a incredulidade se mistura à raiva em sua voz.
— Eu soube que foi difícil até mesmo contar os corpos, que
estavam carbonizados — Leonad fala como se soubesse mais do que
deveria.
— As pessoas comentam muito. — Meu marido costuma afastar
os rumores e deixar essas conversas para lá.
Quando Leonad se retira, desaparece como uma sombra em
meio às sombras que já carrega.
Cruzando os braços, encaro Mikhail. A tensão me corrói e a
preocupação se espalha por cada fibra do meu ser. Sinto o medo
pela sua segurança ameaçar me dominar.
— Você não deveria ter ouvido, querida.
— Meu Deus, Mikhail! Como você pôde esconder algo tão
preocupante de mim? — As lágrimas ameaçam escorregar pelo meu
rosto e logo não consigo contê-las. — Você poderia ter perdido a
vida, e eu nem soube! — afirmo, transmitindo um turbilhão de
emoções, enquanto seco as lágrimas, tentando não chamar a
atenção das pessoas espalhadas pelo jardim.
— Eu estou bem, princesa. Por favor, não chore. Foi
exatamente essa razão que me fez optar por não te contar.
— Você poderia ter morrido. E eu? Sem você, como eu ficaria?
Como estaria agora, sem a sua presença? — Alarmada, abraço-o,
desejando nunca o deixar ir.
A verdade é que, sem ele, eu não gostaria de viver. A ideia de
continuar a respirar sem o seu amor me causa um vazio
insuportável.
— Eu estou aqui, esposa. Estou aqui — sua voz é como um
bálsamo para mim, tentando me acalmar. — Não é tão fácil assim
me matar. — A confiança estampada em seu rosto é reconfortante.
— Ei, olhe para mim. — Ergo o olhar e encontro segurança em seus
olhos. — Acha que eu deixaria a minha linda esposa sozinha neste
mundo? Nem suporto a ideia de ficar longe de você. Não vou morrer
tão cedo, baby.
— Não me esconda mais nada, querido. Eu sou sua esposa. A
senhora Kirav sabe mais sobre a máfia do que eu. — Minha
frustração transborda. — Você pensa que sou frágil e delicada, mas
não sou feita de vidro. Sou a mulher do pakhan. Mesmo sem saber
lutar, quero ser o seu porto seguro. Converse comigo; não carregue
todo o peso das suas obrigações sozinho.
— Você já é o meu porto seguro, bonequinha. A simples ideia
de você existir já alivia o peso deste mundo para mim, porque, no
momento em que encontro os seus olhos de pêssego, tudo de ruim
desaparece. O meu mundo é você, esposa.
— O meu mundo também é você, marido.
Ele me beija suavemente. No calor dos seus lábios, o alívio
inunda o meu corpo.
Em poucos minutos, Adrina se casará com Piervel, pakhan de
São Petersburgo, um dos aliados mais poderosos da Bratva. Quando
vou verificar como ela está, cruzo com sua avó ao subir a escada. A
matriarca não me faz graça alguma, ignora a minha presença como
se eu fosse uma simples sombra em seu caminho.
Bato na porta do quarto e a abro em seguida. Encontro Adrina
sentada na cama, com as pernas cruzadas, vestindo um roupão
branco. A noiva ainda não está pronta. Considerando que o “sim”
deve acontecer dentro de 20 minutos, é surpreendente que o seu
vestido esplêndido esteja ignorado. O modelo tomara-que-caia,
enfeitado como o de uma verdadeira princesa, está lá, imponente,
aguardando ansiosamente pelo seu momento.
— Eu me perguntei se você não viria me ver antes da
cerimônia, senhora Alekseeva. — Seu sorriso debochado é irritante
demais e provocador. — Considerando que a senhora parece mais
ansiosa pelo meu casamento do que eu própria, que sou a noiva. —
Seu desdém não me passa despercebido.
Ela sempre acha uma maneira de me atacar, e agora eu sei por
que age assim.
— Apenas vim saber como você estava e se precisava de
alguma ajuda. — Mostro um gesto de solidariedade, embora, na
verdade, eu esteja contando os minutos para o “sim” diante do
padre, torcendo para poder vê-la partir com o marido e deixar este
lugar onde os fantasmas do passado ainda sussurram ao seu redor.
Ela se ergue da cama. Antes estava sentada, com as pernas
cruzadas. Um olhar de louca está explícito em seu rosto. Vejo-a
caminhar até o vestido, segurando uma tesoura nas mãos. O que a
loucura a levará a fazer?
— Sabe… Esse modelo me lembra muito o vestido que Sasha
usou no casamento dela. — Ela analisa a peça como se fosse a
primeira vez que a visse. Mais uma vez, tocou no assunto “Sasha”.
— Eu não o escolhi — sua tristeza ecoa. — Não escolhi o meu
próprio vestido.
Sempre que pode, ela se lembra de sua amiga Sasha, como se
a culpa pela morte dela estivesse em suas mãos.
E eu a entendo em relação à tristeza com o casamento.
Também não escolhi o meu vestido.
— Você escolheu o seu? — ela me pergunta, deixando a
curiosidade transparecer em seu tom. — Acho que não. Sonsa como
é, não teria sido capaz de escolher um modelo tão bonito quanto o
que usou.
Então, ela prestou atenção no modelo do meu vestido. Se não
fosse tão arrogante, teria vindo ao meu casamento.
— Sua avó escolheu — digo, ignorando a ofensa que ela
direcionou a mim.
Logo ela estará casada e será levada para uma cidade bem
longe daqui: São Petersburgo.
— É bem a cara dela. O meu, também, foi ela quem escolheu.
— Seu semblante se entristece. — Mas sabe o que eu vou fazer com
a escolha dela? — Suspira, exausta. — Eu a mandarei para o
inferno! — ela grita e usa a tesoura para cortar o seu vestido, em
um delírio de loucura.
Impotente diante da raiva e da insatisfação que a consome,
Adrina rasga a peça com a ponta da tesoura, desferindo golpes
repetidos, até que, finalmente, consegue puxar com as mãos o
tecido de crepe e linho. Ela é boa no que faz. Está destruindo o
vestido de casamento poucos minutos antes da cerimônia,
complicando sua vida, como se nada disso importasse.
— Olha o que eu faço com a porra desse vestido, vovó
Etevlania! — ela grita, lutando contra as lágrimas que ameaçam
escorrer.
Sinto pena do estado de Adrina. Eu me vejo nela e relembro a
coragem que não tive de rasgar o meu vestido horas antes do
casamento. Mesmo com aquela tesoura em mãos, não encontrei
coragem em meu coração.
Aproximo-me dela, decidida a ser mais louca que a sua própria
loucura. Sua dor é gritante, mesmo quando ela está em silêncio.
Assim que me aproximo dela, o seu olhar aflito me alcança.
— O quê? Vai lá. Corre e chama a minha avó. Conhecendo-me
bem, ela deve ter outro vestido guardado, só para garantir que nada
saísse errado neste dia que ela planejou.
— Tudo bem. Não vou chamar ninguém. Se quiser, podemos
encontrar o outro vestido e destruí-lo também. Eu te ajudo —
prontifico-me, oferecendo-lhe o meu apoio.
— Você me ajuda? — Ela desconfia. — Por que, Madre Teresa?
— Porque eu teria gostado que alguém tivesse me ajudado
quando eu não queria me casar.
Agora ela pode me entender, assim como eu a entendo.
— Se eu pudesse fugir, já teria feito isso. Não é fácil ser uma
Alekseeva. — Compreendo-a bem, pois também sou uma e conheço
os meus deveres. — Você ainda não engravidou — ela toca no meu
ponto mais sensível. — Minha avó está irritada com você. Com
certeza, é por isso.
Ela é astuta, percebe tudo ao seu redor.
— Talvez ela me odeie.
— Você tem sorte do meu primo te amar. — Pela primeira vez,
ela não falou disso com desdém. — Isso te mantém segura da
maldade da vovó.
A maldade que Adrina mencionou, eu ainda não conheço como
ela parece conhecer.
— Vem cá — convido-a para um abraço. — Eu não vou te ferir.
— Olho para a tesoura em suas mãos.
— Até porque sou eu que seguro a tesoura — ela retruca.
Adrina cede ao abraço fraterno que lhe ofereço, permitindo-se
chorar. Vejo em seu choro o meu próprio lamento, aquele que eu
guardei naquele dia. O som da tesoura caindo no chão ecoa como
uma desistência do que ela estava prestes a fazer consigo mesma.
Ela pensava em cometer uma loucura para se livrar do casamento.
— O que posso fazer para te ajudar a escapar dessa união?
— Não há nada que possa fazer. Ontem conversei com Mikhail e
insisti para que ele não permitisse esse casamento, mas ele não me
ouviu; disse que era para o meu bem.
Por isso, eles passaram horas juntos, conversando. E eu com
ciúme.
— Posso tentar falar com ele…
— A família Salvatore, da Itália, quer se vingar do meu primo
por ele ter matado a prima deles. Sasha não era uma mulher
comum, era protegida pela família, e agora eles querem a mim para
se vingar. Por isso meu primo está me obrigando a casar
Capítulo 17
VIKTORIA
As lágrimas escorrem pelo meu rosto enquanto corro
desesperadamente, procurando, entre a multidão, o meu marido.
Meu coração parece querer saltar pela boca. A imagem de Adrina
desmaiada no chão, com o rosto ferido e o sangue escorrendo pelo
nariz, dilacera-me por dentro. Minha aflição aumenta, enquanto as
pessoas me olham com compaixão. Mas não consigo ver quase nada
ao meu redor, pois minha mente está repleta de vozes e do terror da
cena que presenciei.
Só paro de correr quando encontro Mikhail, que, segurando
meus braços com firmeza, detém-me. Ele me olha com uma
expressão tensa, intrigado, sem entender o que pode ter me deixado
tão abalada. Seus olhos refletem uma mistura de ansiedade e
angústia. Sei que expus todas as minhas emoções diante de tantos
estranhos.
Quando suas mãos tocam nas minhas, eu desejo gritar e
desabafar tudo que está sufocando o meu peito.
— Adrina… — consigo pronunciar, percebendo a tensão em
seus olhos. — Ela está ferida… Por favor, vá até ela…
Por um instante, ele me encara, buscando algum sinal de
ferimento em mim.
— Você está machucada? — ele pergunta, preocupado.
— Não, eu não estou. — Seco as lágrimas e suplico para que
ele vá atrás de Adrina.
A preocupação cresce em meu peito a cada instante. O rosto
dela está ensanguentado e ela está desmaiada.
— Código azul — ele anuncia no rádio, dando um comando.
Em segundos, uma equipe de soldados aparece.
Sinto a atmosfera de um ataque de guerra. O medo de que
algo ainda mais grave aconteça me consome.
— Preciso que você fique segura. Não saia do meu campo de
visão.
— Vou com você. Não quero te deixar sozinho. — Seguro a sua
mão.
Alguns soldados sobem para investigar a casa e garantir que o
andar de cima esteja seguro. Tremo dos pés à cabeça, com o
coração pulsando descontroladamente. Só desejo que tudo isso
tenha um fim.
Eu queria acompanhar o meu marido, mas ele não permite que
eu nem Etevlania subamos a escada até que ele e os soldados
retornem, incluindo o noivo de Adrina.
— O que aconteceu com minha neta? Você realmente não viu
quem a feriu? — Etevlania segura o meu braço com força, quase me
ferindo.
— Já falei que não…
— Malditos! Eu não deveria tê-la deixado sozinha.
No canto, minha mãe gesticula para que eu me aproxime dela,
temendo vir até nós, devido aos seguranças que nos cerca. Leonad
também mantém distância, como se algo além da situação atual o
preocupasse. Há algo estranho nele, mas não é isso que me
atormenta neste momento, e sim o fato de Adrina estar ferida. Eu
preciso ter certeza de que ela ficará bem.
Todos aqui acreditam que existem inimigos em nossa casa. A
atmosfera do ambiente ainda se assemelha a um cenário de guerra.
A bomba foi lançada e as cinzas da catástrofe pairam no ar.
— Mãe, por que você não vai para casa? — pergunto.
— Seja lá o que estiver acontecendo com essa família, acha
mesmo que eles permitirão que alguém vá embora até tudo ser
esclarecido?
Ela tem razão. Odeio quando ela está certa.
— Você teve sorte de não ter se machucado. Imagine se
estivesse com Adrina no momento em que tudo aconteceu. Também
poderia ter se ferido.
O que a preocupa? O fato de eu ser ferida por alguém?
— E desde quando você se preocupa comigo?
Por um momento, cheguei a acreditar que ela se importasse
com a minha segurança, mas logo me lembrei de quem é minha
mãe: a sua preocupação é somente consigo mesma.
— Desde que você se casou com o pakhan e precisa garantir a
segurança da sua família — ela responde, irritada.
Claro que ela não estava pensando em mim.
— A mamãe perderia a mesada se você morresse, irmãzinha —
Leonad diz, com as mãos enfiadas nos bolsos e um olhar atento. —
Foi por isso que ela te vendeu para essa família.
— Para pagar as suas dívidas, não se esqueça — ela reforça,
com uma amargura que corta o ar.
Mamãe odiando o seu filho favorito? Estamos mesmo vivendo
tempos sombrios.
— Fiquem longe de problemas — peço. — Eu vou subir e ver
como Adrina está.
— Cuidado, garota. Não se meta em assuntos que não lhe
dizem respeito. — Minha mãe me lança um olhar que eu odeio.
Ela não me vê como uma filha amada, mas, mesmo assim,
sabe quando algo não vai bem comigo.
— Você não está por trás disso, não é? — Ela sabe.
Deixo-a para trás. Aproveito o momento em que Etevlania sobe
a escada, para seguir em frente e descobrir o que está acontecendo.
O que vejo é uma equipe médica subindo para atender Adrina.
Pobrezinha. O rosto dela está tão ferido e ela parece estar em
um estado deplorável. A avó segura a mão da neta, permitindo que
algumas de suas lágrimas escorram.
— Encontre o maldito que fez isso com Adrina e o traga para
mim. Eu vou matá-lo — ela pede ao neto.
— Eu mesmo vou acabar com quem fez isso com minha prima
— ele garante.
Neste momento, o medo toma conta de mim.
— Bate com mais força, vai. Tem que me machucar para
convencer a todos de que alguém realmente me feriu — Adrina me
pede.
— E se descobrirem?
— Você vai apagar as gravações das câmeras. Eu sei que tem
acesso a elas. Para de ser fraca e me bate. Não disse que me
ajudaria? Relaxa, nunca vou falar que foi você. Vou dizer que um
soldado me atacou e que eu não sei quem ele é. Assim, ninguém se
ferirá além de mim.
Meus dedos ardem com os socos desferidos contra o rosto de
Adrina; um ciclo de violência que parece não ter fim. Cada golpe é
uma explosão de frustração e desespero, rasgando a sua pele
delicada e arranhando as suas costas. É como se estivéssemos
realmente engajadas em uma luta feroz entre a dor e a razão.
Meu choro, tão intenso e descontrolado, ecoa pelas paredes do
cômodo, atraindo a atenção de Etevlania e Mikhail, que se
aproximam de mim, alarmados.
— Desculpem. Ela está tão ferida. — A visão dela, machucada e
desolada, parte o meu coração em pedaços.
A culpa me consome. Eu não deveria ter acertado o seu rosto
com tanta força, chegando até a ferir um pouco as minhas mãos.
Antes de descer a escada, eu lavei o sangue dela, que estava em
mim também, e passei uma pomada para a dor.
— Senhor, as câmeras de segurança… Todos os registros de
hoje foram deletados. — O chefe dos soldados adentra o quarto,
alarmado e preocupado com o que aconteceu.
Ele não entende o que levou o sistema de segurança a
descartar todas as imagens do dia. Para garantir que tudo estivesse
resolvido, deletei tudo, usando a senha única e pessoal que meu
marido me passou.
Engulo em seco, temendo que, a qualquer momento, alguém
possa me acusar.
— Deletados? Como assim? — Mikhail não compreende e, ao
mesmo tempo, tenta assimilar o que ocorreu.
— O acesso, senhor, foi logado com senha — ele informa,
temendo ser mal interpretado.
Todos sabemos que apenas Mikhail tem esse acesso. Nem
mesmo a avó dele tem a senha geral da segurança.
— Você está dizendo que os registros foram deletados? —
Mikhail sibila, tenso. — Recupere tudo agora mesmo — ordena.
— Já tentamos, senhor, mas não foi possível, pois o login
ocorreu através do seu aparelho de acesso, que foi programado para
que não fosse possível recuperar as imagens em caso de perda total.
— Inferno! — ele esbraveja. — Então, o traidor está entre nós?
Está insinuando que alguém teve acesso ao meu dispositivo e
apagou tudo? Apenas eu tenho a senha — Mikhail declara, com sua
voz carregada de incredulidade.
No instante seguinte, seu olhar se fixa em mim como se ele
tentasse não aceitar a dolorosa verdade: que fui eu que usei a senha
de comando para ajudar Adrina. Um ato que, para ele, pode parecer
uma traição.
Somente agora percebo que fui longe demais. Não me
arrependo de ter adiado o casamento dela por um tempo que nos
dará espaço para pensar em alternativas, no entanto, trair a
confiança do meu marido era a última coisa que eu desejava.
— Encontre uma maneira, Tierry, de recuperar tudo. É o seu
dever achar sempre uma solução — Etevlania está com a voz
embargada por uma dor que só ela compreende.
Ela perdeu seus dois filhos, e agora, ver a neta ferida, traz-lhe
lembranças das quais ela não quer se recordar, por serem dolorosas
demais.
— O responsável pagará com a vida — ela enfatiza mais uma
vez. — Os Salvatore… Eu tenho certeza de que foram eles.
Os Salvatore podem ser pessoas cruéis, mas não foram eles.
Agora, inocentes levarão a culpa pelos meus atos. Não sei lidar com
isso.
— Os Orokov, senhor, não estão na cidade — Tierry informa.
Esses são outros sobre os quais a culpa pode cair também. Não
pensei nisso. Todos eles estão em guerra contra a nossa família, e
eu deixei as coisas mais tensas.
Sinto que não posso permanecer aqui. Meu marido, com seu
olhar penetrante sobre mim, está cada vez mais desconfiado. Já não
posso mais respirar neste cômodo.
Entro apressadamente em nosso quarto, fecho a porta atrás de
mim e busco um copo de água, desesperada, na esperança de
acalmar a tempestade que se aproxima. Aceitar que não tenho como
fugir da verdade me sufoca. Eu não sou boa com mentiras, e Mikhail
é muito bom com os mentirosos.
Onde eu estava com a cabeça quando abri o cofre pessoal no
nosso quarto, acessei o iPad, fiz o login no sistema de segurança e
deletei todas as imagens das câmeras de hoje?
A porta é aberta, revelando o meu marido. Pulo de susto. É ele
ou o urso da neve de Moscou, enfurecido, em busca de respostas?
Seu olhar furioso está contido por uma névoa de tranquilidade com a
qual não sei lidar.
— Quer me dizer algo, baby? — sua voz rouca soa leve. Ele
espera a verdade.
— Não, eu não quero — minha voz treme quando o vejo cruzar
os braços.
Sua expressão tranquila esconde um furor prestes a explodir.
— Certeza?
Putz! Mikhail sabe. E eu não suporto a ideia de ter que mentir
para ele.
— Mikhail… — seu nome sai como uma súplica dos meus
lábios, para que ele pare de insistir.
Vejo-o levando as mãos à cintura. Ele usa um colete. Em algum
momento, livrou-se do casaco, ficando mais à vontade e confortável
para lidar com essa situação que causamos. Adrina e eu brincamos
com fogo, em meio a uma guerra silenciosa que está acontecendo.
Agimos por impulso e conseguimos deixar Mikhail e toda a sua
família mais tensa.
— A senha que te dei foi por confiança. — Levo suas palavras
como uma pancada forte no peito. — Você é minha esposa; deveria
utilizar esse conhecimento para a sua segurança. Como pôde me
trair assim?
Traição. Pessoas perdem a vida por trair os chefes de máfia,
inclusive suas esposas.
Mikhail me olha como se fosse me esganar. Seu olhar dói mais
que as palavras que saíram dos seus lábios.
— Eu não te traí — protesto, mesmo sabendo que ele já está a
par da verdade.
— O que diabos você pensa que fez, mulher? — Sua decepção
corta os meus sentimentos como uma lâmina afiada.
Ele alterou o seu tom de voz, elevando-o para um grito agudo e
irritado, como alguém que perdeu completamente o respeito e a
empatia pelo seu inimigo. Agora ele me vê como uma inimiga, e a
decepção o corta também como uma lâmina.
— Eu só queria ajudá-la. Ela estava desesperada e não queria
se casar — a cada palavra minha, o desapontamento em seu olhar
se torna mais agudo, como se estivesse me desnudando.
— Ajudar? — Ele ri; um som repleto de sarcasmo.
Mikhail passa as mãos sobre o cabelo, preocupado com minha
“ajuda”.
— Eu não pensei que chegaria a esse extremo… — confesso,
tensa, encolhida na minha dor.
— Quem diabos é você, mulher, para achar que poderia agir
dessa maneira?! — seu grito ecoa pelo quarto e a paciência escorre
como areia entre os seus dedos.
Meu coração para. Ele gritou! Mikhail gritou comigo mais uma
vez, e aquele rugido ecoou como um trovão. Pela segunda vez, em
menos de um minuto, ele gritou.
— Os assuntos da minha família não lhe incumbem, Viktoria —
ele enfatiza “minha família” e eu sinto cada palavra dele como uma
espadada. — Eu resolvo, eu decido. Eu sei o que é melhor para a
minha prima, não você. Eu sou o chefe desta casa. Apenas eu sei o
que é melhor para cada um desta família.
— Você… Você gritou comigo? — minha voz sai trêmula, com
cada sílaba embalada pela tristeza, devido ao seu grito.
Seu olhar se torna neutro, completamente diferente de tudo
que já presenciei. Pela primeira vez, ele não se preocupa com o
estado em que estou.
— O que você quer que eu faça? Que aplauda a sua atitude?
Que diga que te perdoo, meu amor, porque você fez o que achou
certo? Se esqueceu de quem eu sou?
Quem ele é, de fato? O marido amoroso que conheço ou o urso
feroz que despertou em minha frente?
— Eu sinto muito… — lamento.
— Sente muito? Acha que isso resolve? — Sua expressão é uma
combinação de raiva e desdém. Pelo visto, meu lamento foi apenas
como uma fumaça ao vento para ele.
Mikhail não está sabendo conter a sua raiva. Ele nunca precisou
disso antes.
— Eu sei que essa ideia não surgiu na sua cabecinha ingênua.
Conheço bem Adrina. Ela te convenceu e, no final, você aceitou. Isso
é inadmissível! Você é minha esposa. A esposa do pakhan o traiu!
Ele tem razão, mesmo que não tenha o direito de gritar
comigo.
Cruzo os braços, abraçando-me, em um reflexo de medo e
vulnerabilidade. É a primeira vez que ele levanta a voz para mim.
Sinto-me como se um tapa tivesse rasgado a minha alma.
— Não pensei que você fosse se irritar tanto…
— Quantos anos você tem, Viktoria? — Diante do meu silêncio,
ele continua a falar de forma ainda mais ameaçadora. — 9 anos?
Ainda precisa ser educada e corrigida? Sua mãe não fez isso quando
você era criança? Não te ensinou a respeitar as decisões dos outros?
Eu escolhi casar Adrina com Piervel, e você não tinha o direito de
decidir o contrário.
Apenas assinto, sabendo que eu não tinha tal direito. Fiz o que
achava ser certo, mesmo que, para ele, pareça um erro colossal.
— Quer que eu me desculpe? É isso?
— Mil desculpas não seriam suficientes. O que você fez foi
gravíssimo.
— Então, me castigue, me puna por isso, porque não vou me
desculpar por algo que fiz achando que era o certo. — Ele está
atônito. Talvez eu também esteja, mas a convicção me guia. — Não
sabe o quão angustiante é ter que se casar com alguém que você
não conhece. O medo de ser maltratada…
— Adrina vem da realeza, então ninguém a machucaria. Ela
não é como… — Ele hesita, mas eu captei a mensagem.
— Como eu? Pode dizer. Eu sei que Adrina é uma Alekseeva
legítima, de sangue, e não alguém qualquer que se uniu a um
membro da realeza, como eu. Então, sim, era perfeitamente normal
eu temer o desconhecido.
— Eu quis dizer que Adrina não é uma pessoa comum, ela tem
um primo que manda na Rússia, e isso conta muito.
— Claro, foi isso então — minha resposta sai carregada de
ironia, como um eco de dor.
— Sabe de uma coisa? Vou, sim, te castigar pelo que fez. É
necessário que entenda, bonequinha, que eu sou um marido
apaixonado na cama, mas, fora dela, um homem muito perigoso e
cruel. Hoje te mostrarei isso.
O frio me percorre de forma penetrante, como se uma lâmina
de gelo tivesse sido cravada em meu peito.
Capítulo 18
VIKTORIA
Uma viagem de carro, que parecia interminável, de cerca de
duas horas e meia, trouxe-nos ao nosso destino. A vasta Moscou se
estende diante de nós, uma cidade colossal. A região em que
estamos se afasta da agitação da metrópole, cercada por montanhas
majestosas e campos densos de vegetação; uma beleza contrastante
com a atmosfera inquietante que permeia o ar.
Nós nos aproximamos cada vez mais de um galpão escuro, que
parece ter sido esquecido pelo tempo. É uma fábrica velha. Vejo
algumas máquinas no canto, enferrujadas assim como muitas partes
dali. Suas paredes desgastadas e a tinta descascando dão a
impressão de abandono.
O sentimento de apreensão começa a me consumir e um
pensamento inquietante percorre a minha mente:
O que estamos fazendo aqui?
Meu marido anda com passos largos e impacientes,
praticamente me arrastando à força, segurando a minha mão, como
se procurasse me proteger de algo invisível, sendo que ele é o maior
perigo agora. A mera imagem desse lugar me evoca cenas de um
filme de terror.
— O que estamos fazendo aqui? — minha voz treme pela
preocupação.
Mais uma vez, não obtenho resposta.
Enganei-me ao pensar que aqui se tratava apenas de um ponto
abandonado. Assim que chegamos perto da imensa porta de ferro,
que rangeu ao ser aberta, soldados emergiram do interior do local,
armados e com expressões sérias, como se estivessem se
preparando para uma guerra iminente. Os homens mantêm os olhos
baixos, talvez por medo, evitando que eles encontrem os meus.
Estão como garotos assustados que temem o que pode acontecer
caso encarem a verdade. Imagino que tenham sido proibidos de
olhar para mim. Isso acontece como forma de respeito à mulher do
poderoso pakhan.
— Senhor, está tudo pronto — anuncia Tierry, o chefe de
segurança, que parece ter chegado antes de nós.
— Não quero ser incomodado — ordena o meu marido,
impaciente.
Ele me força a seguir adiante. A escuridão domina este local
como um manto pesado. Cada canto dele parece me provocar
calafrios, especialmente quando passamos por uma porta que nos
trouxe ao subsolo. Uma escada interminável se estende diante de
nós, envolta por trevas. Percebo que a eletricidade aqui é escassa,
possivelmente, para não chamar a atenção de ninguém.
— Você não quer que eu entre nesse buraco, não é? —
pergunto, com a voz falhando. A necessidade de saber o que está
acontecendo é angustiante.
— Engula o seu medo e venha — sua ordem é como um golpe
brusco.
Um fio de esperança me invadiu assim que imaginei que ele
poderia ter se arrependido, contudo, suas palavras foram firmes. Ele
acende a lanterna do celular, iluminando a nossa descida. Conto os
degraus. 71 até, finalmente, pisarmos no último, de onde é possível
vermos um corredor extenso à nossa frente. Este ambiente me
lembra as passagens sombrias das pirâmides egípcias que vi em
documentários.
Enquanto Mikhail caminha à frente, a ilusão de proteção parece
me envolver, mas uma pergunta persistente ecoa em minha mente:
“Qual é o verdadeiro propósito da nossa vinda até aqui?” Ele falou
sobre castigo, então imagino masmorras reais, repletas de dor e
sofrimento, celas e correntes. Pergunto-me se agora sou a inimiga
dele.
Uma onda crescente de desespero me invade.
Ele me ama? Me ama, certo?
Agora, a dúvida já me corrói.
Mas ele já matou uma esposa antes…
— Silêncio, cabeça! — brigo comigo mesma, atraindo a atenção
do meu marido.
Ele para, e o seu olhar parece me indagar.
— Eu falei comigo mesma. Vamos continuar o nosso trajeto. —
Na verdade, eu queria implorar para voltarmos para casa, mas a voz
do meu medo se cala.
Após termos avançado por corredores de pedra, imponentes
como os de palácios medievais, chegamos a um local que se abre
em várias direções. A luz aqui é mais intensa, revelando muitas
portas. Cada uma escondendo mistérios que eu não ousaria explorar.
O ar está impregnado de um cheiro avassalador de enxofre e mofo,
fazendo o meu nariz arder. Luto contra espirros constantes.
Mikhail abre uma porta pesada e rústica, que parece ter séculos
de história entre suas tábuas. Ao cruzá-la, deparo-me com uma ala
de celas vazias, que mais parece ter saído de um filme de terror.
Agarro-me ao braço do meu marido, sentindo um misto de medo e
confusão pinicar o meu coração. Ele, impassível, parece flutuar entre
a crueldade e a indiferença. A sensação de haver algo selvagem e
malévolo aqui se faz palpável.
— Depressa — ele sussurra, dando uma ordem, impaciente.
Avançamos até uma das celas, que tem a porta trancada por
um cadeado enferrujado. Dentro, há três homens. Inicialmente, eu
os vejo embaçados pela penumbra, mas, com um esforço, consigo
distinguir suas feições. As marcas de tortura neles são evidentes, e
logo percebo que suas correntes os mantêm prisioneiros, um ao lado
do outro, com uma pequena distância entre os três. Essa visão me
força a tapar a boca e sufocar um grito.
O que é isso? Três homens, amarrados como se fossem feras,
apresentam feridas em suas peles pálidas. E o sangue mancha as
roupas rasgadas de um deles. Os outros exibem marcas de
espancamento e suas expressões misturam medo, angústia e terror.
O que fizeram para merecer tal destino?
Aqui, gritos e súplicas são meros ecos que se dissipam. Na
boca, eles usam algo como uma máscara de Flandres, para que não
falem, gritem ou possam pedir ajuda. O que é mais torturante do
que as algemas.
O olhar de Mikhail sobre eles é de desprezo, como se eles
fossem lixo. Uma cena que me deixa apavorada. Ele é cruel, eu
sempre soube, mas nunca tinha testemunhado sua brutalidade
diante de mim, com meus próprios olhos.
— Bem-vinda à caverna do urso, querida esposa — ele
murmura, orgulhoso, ao se voltar para mim.
Contenho as lágrimas. Não quero parecer uma criança
amedrontada.
— Você me trouxe aqui para me prender, como fez com eles? —
a pergunta ressoa o meu pavor.
Se ele for me prender assim, jamais o perdoarei. Tremo por
dentro. Essa cena de horror é como um golpe no meu estômago. Se
eu for a próxima, os meus sentimentos por ele desaparecerão em
um instante. A palma da sua mão toca em meu rosto. Esse gesto
que, geralmente, trazia-me calor, agora está carregado de uma
obscuridade ameaçadora.
— Eu te trouxe aqui para que conheça um dos meus lugares
favoritos em toda a Moscou. — O sorriso dele é perturbador. —
Espero que o aprecie tanto quanto eu. — Festeja.
— Marido, este não é um tipo de lugar do qual eu possa gostar
— minha sinceridade transborda, mas ele não parece se importar.
— Imagino que sim — ele zomba, sacrificando a verdade pela
crueldade. — Se quiser chorar, guarde algumas lágrimas para
depois. O espetáculo ainda não começou, meu anjo.
Espetáculo? Ele fala como se eu estivesse prestes a assistir a
um show de horrores, a uma performance exclusiva de terror.
Uma música sombria ecoa pelo ambiente, criando uma
atmosfera que lembra as cenas de um filme de serial killer. Não sou
a vítima, mas sinto a morte se aproximando, como uma sombra
obscura pronta para me engolir.
— Mikhail, vamos conversar em casa. Podemos esclarecer tudo
isso. Podemos resolver a situação. Se você não casar Adrina com
aquele homem, tudo voltará ao normal. — Mesmo sabendo que ele
está furioso, tento convencê-lo. — Você pode esquecer o que
aconteceu e nós duas podemos nos comportar…
— Shiiiii… — Ele pressiona o dedo indicador sobre os meus
lábios. O toque possessivo envia um arrepio pela minha espinha. —
Você ainda se atreve a afirmar que o que fizeram não foi um erro?
— A raiva em seus olhos é palpável. — Ambas merecem um castigo
severo, mas decidi que serei benevolente. Assim que Adrina se
recuperar da surra que você deu nela, cuidarei dela. Mas, por
enquanto, preocupo-me apenas com a maneira como você irá pagar
pela sua desobediência, esposa.
Eu lhe contei sobre a surra e sobre todos os outros detalhes.
Como ele já sabia da verdade, a mentira não prevaleceria mais.
Mikhail retira o seu sobretudo e o pendura em um gancho, na
parede de pedra. O ambiente está impregnado por um toque
medieval. Mesmo com a luz, as sombras do passado parecem
persistir.
— Eu pensei que você me amasse… — Minha voz falha. Meu
coração está quebrado pelas suas crueldades iminentes.
— E eu te amo, esposa. — O brilho da sua obsessão é, ao
mesmo tempo, atraente e aterrorizante. — E é por te amar tanto,
que não posso me esquecer da sua petulância. Não posso ser
brando com você. Fui gentil, e agora você pensa que pode agir
como uma heroína. Por causa da sua ousadia, terá que enfrentar as
consequências.
— Quem ama não castiga — insisto, buscando um fio de
clemência.
— Pelo contrário. O amor nem sempre é gentil e carinhoso. Às
vezes, é necessário um castigo, querida, e você terá o seu agora —
a possessividade em sua voz é inconfundível.
Meu coração sobe e desce em um ritmo frenético enquanto a
angústia se espalha por todo o meu ser. Quando ele puxa uma arma
da sua cintura, o meu sangue congela. Um grito de pânico escapa
dos meus lábios assim que vejo a arma ser girada e o cartucho ser
verificado por ele com calma e prazer. Seu olhar agora é o mesmo
que ele dá quando está dentro de mim, excitado e sendo o mais
intenso dos homens.
— Perfeito — ele murmura, admirando a arma, e a aponta para
o homem no centro.
O tiro ressoa como um trovão em um céu carregado e a cabeça
do homem explode, sendo transformada em um chuvisco grotesco
de sangue e carne. O seu corpo desaba, inerte, no chão.
Céus!
Os outros dois homens permanecem em silêncio, resignados
quanto ao destino que os espera.
Então, é assim que ele age? Mata friamente, como se
exterminasse insetos asquerosos?
O barulho do tiro me deixou paralisada, e agora é como se eu
me forçasse a não ouvir mais nada além do eco dele, que fica cada
vez mais distante.
Um som rompe o barulho ensurdecedor: um assobio agudo que
escapa dos lábios de Mikhail, cortando a quietude pesada que nos
envolvia como uma névoa opressora. Isso chama a minha atenção e
faz o tempo parecer congelar em um único instante. Com um
movimento brusco, ele tenta me entregar a arma, um objeto que eu
não desejo. Sua insistência força uma hesitação em mim e os meus
dedos relutam em se fechar em torno do metal gelado e pesado.
Esse é um fardo que pesa não apenas em minhas mãos, mas
também na minha alma. É como se uma força invisível me
empurrasse para aceitar um destino sombrio que nunca quis.
— Segura. Estou mandando — ele ordena com firmeza, quase
como se desse um comando militar. Cada palavra pontuou uma
autoridade que despontou como uma sombra sobre mim.
— Para quê? Não quero. — A insegurança transforma a minha
resposta em um eco inseguro que flutua no ar pesado.
— Sou eu que decido se você quer ou não. Tome. — Com um
movimento imperativo, ele faz a arma encontrar o meu contato.
Imediatamente, uma sensação de repulsa invade o meu ser. O
peso no meu punho parece carregar a mancha sombria de um crime
não cometido; um prenúncio de algo horrendo que ainda está por
vir. O que Mikhail espera de mim começa a se transformar em uma
imagem aterrorizante e vívida em minha mente. Eu não posso ceder
à vontade dele. Resistir é a única opção que me resta, a minha única
esperança de liberdade.
— Vamos lá. Te ensinarei a atirar. Mire no alvo e puxe o gatilho
— Mikhail me instrui.
A surrealidade desta situação aumenta a cada respiração
minha. O homem que diz me amar está dominado pelo desejo
controlador de me ensinar a acabar com uma vida. Isso é mais
aterrador do que o medo de dirigir uma moto ou um carro pela
primeira vez.
— Eu não vou matar ninguém — afirmo, sentindo a
determinação se erguer em mim como uma muralha impenetrável.
— Você vai, sim, porque eu quero. — Apenas a sua vontade
importa.
— Mikhail… — imploro. A angústia tingiu cada sílaba que
deixou os meus lábios.
— Vamos, Viktoria. Não me faça perder a paciência. — Seus
olhos escuros brilham com uma impaciência que me corta como
lâminas afiadas. — Atire de uma vez. E se errar, atire de novo, até
matar um desses homens.
— Por que eu preciso matar alguém?
Para ele é fácil acabar com uma vida, mas eu nunca fiz isso
antes.
— Porque você fará o que eu quero! — ele grita. A frustração
transformou sua voz em um rugido que reverberou na escuridão ao
meu redor.
Ele gritou comigo novamente. A dor deste confronto se
expande como um buraco negro que engolfa a luz, e a escuridão se
fecha em volta de mim.
— Me dê outro castigo — peço, quase em um sussurro de
desespero. Mas a minha proposta soa vazia. É como se eu estivesse
me agarrando a um fio invisível de esperança.
— Faça o que eu digo, Viktoria. Não vamos sair daqui até que
você mate um desses homens. — Sua insensibilidade é como uma
apunhalada cravada no abismo do meu coração.
— Quer me tornar uma assassina como você. — A minha
angústia se transmuta em revolta, que explode como a força de um
furacão. — Eu não sou como você. Vidas importam para mim!
— Você é a esposa que eu comprei, eu paguei por você, então
faça o que estou dizendo e não me faça repetir. Minha paciência não
é infinita.
Sua afirmação cortou o meu coração como um punhal afiado.
Um golpe traiçoeiro que eu não esperava. A brutalidade da sua
declaração ressoou em mim como uma verdade cruel que me deixou
em um estado de desespero e humilhação. Ele me tratou como um
objeto: a esposa comprada; a mercadoria humana adquirida para
satisfazer os desejos de um ser sem alma.
Meu coração se despedaça. Essa dor é uma ferida viva que
arde e sangra, sem a mínima esperança de cura.
Mikhail Alekseeva desprezou a essência do que sou.
Essa dor não desaparece. Eu sou, de fato, a esposa comprada,
portanto, devo me submeter a todos os seus caprichos. Uma
mercadoria a ser manipulada conforme as vontades dele.
Na única vez em que decidi algo por mim mesma, ele se
revelou o pior dos homens, destituído de coração, empatia e amor.
Ele alega sentir amor por mim, mas esse amor se confunde com
poder, com dominação. Um amor que não ressoa nas batidas de um
coração apaixonado. Um amor que rejeita, que desumaniza.
Somente vejo a frieza de quem se esqueceu do que é amar
verdadeiramente.
Outra vez me assola a lembrança de que ele me comprou.
Jamais vou me esquecer dessas palavras frias saídas da sua boca.
Fecho os olhos e puxo o gatilho em seguida, repetidas vezes,
até que não haja mais nenhuma bala na arma.
Capítulo 19
VIKTORIA
Ele deveria se ajoelhar e me implorar para que eu o
desculpasse, por ter me feito viver um dos momentos mais tensos
da minha vida. Mikhail me fez acreditar que atirei em um homem,
mesmo que esse homem fosse o pior dos infelizes a ter pisado nesta
Terra. Eu não merecia tal castigo.
Só porque passei dos limites?
Coisas boas não duram para sempre. Mikhail não é mais o
homem pacífico que conheci. Pela primeira vez, vi o seu lado
sombrio: aquele que mata sem piedade e sem remorso. Ele eliminou
a vida daqueles três homens antes mesmo que minha péssima mira
tivesse a chance de causar qualquer arrependimento que eu
carregaria para sempre. Depois disso, deixou-me em casa, sem uma
palavra, viajou e até agora não retornou.
O clima nesta mansão não é dos melhores. Adrina está sempre
cercada pela avó. Eu a vi apenas duas ou três vezes nesta semana e
ainda não conseguimos conversar, mas, pelo que ouvi, seu
casamento acontecerá. Ela se casará assim que os hematomas em
seu rosto desaparecerem. Meu marido ignorou as nossas súplicas
para que ela não se unisse a alguém que não deseja.
Bati em Adrina por nada. Lamento por vê-la ferida. No final,
nossos esforços não valeram a pena.
Acabei de sair do banho. Mamãe se convidou para jantar
comigo nesta noite. O roupão branco cobre o meu corpo e uma
toalha, na minha cabeça, seca o meu cabelo antes de eu usar o
secador.
O castigo que Mikhail me impôs foi o silêncio, pois ele sabe que
o que eu mais amo é estar com ele, conversando sobre o nosso dia,
após fazermos amor intensamente.
Aquele filho da puta, gostoso.
Com todo o respeito à minha sogra, que nunca conheci.
Perdida em meus pensamentos sobre como me vingar do meu
marido, penso que, quando ele retornar, não me terá mais à sua
disposição como antes. Se ele é frio e distante, eu também serei. É
engraçado pensar assim, porque tudo o que eu mais queria era não
me casar, e agora me vejo presa em um jogo de vingança por algo
que ele iniciou.
Dirijo-me ao closet para me vestir, quando ouço um pigarro.
Desvio o olhar para a porta da varanda, que está aberta, sendo que
a deixei fechada. O cheiro do charuto, que eu havia aprendido a
ignorar, agora invade o meu quarto.
É ele. Como ele se atreveu a invadir o meu quarto, como fazia
antes? Não estamos mais na nossa casa e ele não é mais o meu
tutor. Ou, pelo menos, pensava que era, por ser o homem da família.
Mas sabemos que ele nunca foi responsável por nós.
Eu engulo em seco e, novamente, aquela sensação de paralisia
diante da presença do homem que mais desprezo nesta vida tenta
me dominar. Tento respirar, sufocada com sua presença. Estar com
Leonad é como afundar em um oceano profundo no qual me afogo,
sem esperança de alcançar a superfície, sem conseguir me mover
para ver a luz do dia. É isso que ele provoca em mim.
— Olá, irmã. — Ele segura aquele charuto fedorento entre os
dedos.
— Não me chame de “irmã” — respondo, ríspida.
Olho para a porta, querendo estar certa de que posso sair
correndo e gritar por ajuda, mas não sei se ela está trancada, se ele
pode ter descoberto a senha. Quando a gente sente medo, não
consegue pensar claramente; alguma fumaça de preocupação cobre
os nossos pensamentos.
— Tudo bem, não te chamarei mais assim — ele zomba. —
Como te chamo? Senhora Alekseeva? — Seus olhos negros se
tornam ainda mais sombrios.
— É o meu sobrenome. — Ergo o queixo, tentando ocultar o
medo.
— Está muito corajosa desde que se casou com ele. — Traga o
seu charuto novamente. — Mas não deveria. Você se esqueceu do
que eu disse? Não pode ser a mulher dele — seu tom me arrepia. —
Sim, você se esqueceu. Acha que se der um filho a ele terá o seu
amor? Onde ele está agora, para te proteger de mim?
— Leonad, saia do meu quarto. — Ele sabe como me perturbar.
Sempre soube como me deixar aflita e assustada. — Você não
poderia ter entrado aqui. Esta casa não é sua.
— Entro e saio quando quiser. — Ele dá alguns passos à frente,
fazendo-me recuar, e ri ao perceber o medo que sinto. — Se finge
de forte, mas não passa de uma garotinha frágil com medo do seu
irmãozinho. — Sua risada é doentia. — Ultimamente, tem esquecido
a quem realmente pertence.
É uma ameaça. Um aviso.
Respiro fundo, sentindo algo pesado no peito, mas não baixo a
guarda. Sim, estou com medo, entretanto, esta é a minha casa. Os
soldados que trabalham aqui vão me proteger de quem quer que
seja.
Leonad não deveria ter entrado aqui; ele nem foi convidado
para o jantar.
— Eu já disse que você não pode vir à minha casa quando
quiser. Meu marido não está, mas temos soldados. Muitos. Basta que
eu estale os dedos, e eles virão me proteger. Você não é páreo para
cem homens armados. Se eu ordenar que eles te matem, eles farão
isso.
Os olhos dele se ampliam pela surpresa.
Esse idiota sempre teve tudo que quis, com o apoio da nossa
mãe, que passou a mão em sua cabeça a vida toda. É um
convencido, que pensa que é alguém nesta vida. Um filho… do
inferno.
— Essa foi a primeira e a última vez que você entrou no meu
quarto. A última vez que veio à minha casa sem ser convidado. Juro
que esquecerei que temos o mesmo sangue se persistir nessa ideia
louca de que sou sua. Acredite: nunca fui e nunca serei sua. A
maneira doentia como você me deseja é apenas uma ilusão na sua
mente. Na realidade, o único que me tem é Mikhail Alekseeva, o
homem que é dono de todas as minhas emoções e sentimentos.
Leonad avançou sobre mim tão rápido, que não tive tempo de
reagir. Ele me joga com força contra a parede, e o impacto nas
minhas costas e cabeça é tão forte, que grunho de dor. Ele mantém
suas mãos pesadas em meu pescoço, sufocando-me. Tento morder
seu braço, para que ele me solte, mas é em vão.
— Me escute bem e com atenção: você é minha, Viktoria, e o
que sinto por você não é doentio. Você ainda não entende, mas não
é um sentimento impuro. Um dia, saberá que sempre te amei e que
esse desejo sempre foi verdadeiro.
— M-me solta — minha voz quase falha.
Ele não me sufoca até me matar, mas a repulsa por eu estar
tão perto dele é mais sufocante do que a estrangulação que sofro.
— Se eu quisesse te possuir aqui e agora, faria isso. — Deus,
não permita que ele me faça mal. Eu imploro. — Assim como
poderia ter feito em qualquer momento durante todos os anos em
que estivemos sob o mesmo teto. Você sempre teve medo de mim,
mas eu jamais te violentei, porque você é linda e delicada. Saiba que
não foi mamãe que te protegeu em todo esse tempo; foi o meu
amor por você que me impediu de usar força e violência para te ter.
Por enquanto, irei te deixar casada com o meu cunhado por um
tempo, mas não será para sempre. Viveremos o nosso amor nesta
vida.
Puta que pariu! Leonad está cada dia mais doente por mim. Ele
pensa que podemos viver juntos como um casal, sendo que somos
irmãos. Ele acredita que isso é uma realidade ao seu alcance.
— Estou me aliando a alguém muito poderoso, irmãzinha. Não
precisa saber os detalhes, mas saiba que logo voltarei para te
buscar, e viveremos juntos para sempre.
Os dedos dele tocam em meus lábios, apertando-os com
desejo. Seus olhos ardem; um olhar penetrante que me causa asco.
Com a outra mão, ele força o meu queixo.
— Leonad, já mandei você sair! — grito mais alto do que
imaginei.
Neste momento, ele estapeia o meu rosto com tanta força, que
caio sentada no chão, aos pés dele. A dor arde. Ele ousou me bater
mais uma vez. Não, não foi a primeira. Contenho as lágrimas; não
por orgulho, mas para lhe mostrar que ele nunca mais me verá
chorar. Nunca mais derramarei uma lágrima por Leonad, seja de
medo ou de desespero.
— Veja o que você me fez fazer, com o seu atrevimento. —
Claro, a culpa sempre será minha, nunca dele.
Eu não deveria me surpreender mais com suas atitudes
impensadas, com suas atrocidades. Ele é capaz de coisas terríveis.
Nunca foi flor que se cheire.
— Sinto nojo de você. Muito nojo. — Consigo olhar em seus
olhos no momento em que ele se abaixa, tentado a tocar em meu
rosto.
O sentimento de culpa o domina por ter sido rude; como
sempre, após ele me bater. Leonad diz que foi tudo por minha culpa
e depois tenta ser gentil, como se fosse o melhor dos homens.
— Juro que não quis fazer isso. Não me proíba de tocar em
você, ou…
A porta do quarto é aberta praticamente com um estrondo,
revelando Adrina, que aparenta estar cansada, como se tivesse
corrido apressadamente até mim. Seu rosto está tenso, mas, neste
momento, não dou a devida importância a isso, só me levanto
rapidamente. Leonad, pego de surpresa, não sabe o que fazer.
— Está tudo bem? Eu te ouvi gritar.
Eu gritei algumas vezes, mas não pensei que ela pudesse ter
ouvido.
Adrina olha para mim e meu irmão com um olhar desconfiado,
como se soubesse o que aconteceu aqui dentro.
Com uma postura desajeitada e gaguejando, ele trata de
justificar suas ações:
— Vou te esperar lá embaixo para o jantar, irmã. Cuidado para
não cair novamente — ele diz com cautela. — Minha irmã é tão
desastrada. Tentei ajudá-la a se levantar, mas ela ainda está
chateada comigo por eu a ter casado com o homem que ela ama
hoje em dia.
Não é segredo que o meu casamento foi forçado, mas ele
insiste em usar essa desculpa para se livrar das consequências por
me bater. Após pedir licença, ele se retira.
Parece que o meu coração está prestes a pular para fora do
peito. A dor de ser molestada pelo meu irmão é uma ferida
dilacerante que nunca me permitirá conhecer a paz enquanto ele
estiver vivo. Já pensei, diversas vezes, em contar tudo para Mikhail,
mesmo que isso significasse que ele poderia cometer uma
atrocidade contra o meu irmão. Leonad, de fato, não merece a
minha compaixão. Mas eu nunca soube como abordar esse assunto
com meu marido, como iniciar essa conversa.
Agora, Adrina me observa com um olhar penetrante, como se
soubesse que algo está me consumindo por dentro. Desde aquele
trágico incidente que vivemos, não consegui mais me abrir com ela,
porque sempre há alguém por perto, que nos impede de ficar
sozinhas. A ordem partiu do meu marido, é claro.
— Vem cá. — Ela se aproxima de mim e me envolve em um
abraço caloroso, como se fosse uma irmã. Com esse gesto, minhas
lágrimas não conseguem mais ser contidas e desaguam em um
pranto silencioso. — Tudo bem, estou aqui. Estou aqui, Viktoria.
Pode confiar em mim.
Nunca compartilhei com ninguém o que acontece comigo.
Nunca tive uma amiga verdadeira. Minha mãe nunca foi um exemplo
de amizade e, embora a minha avó tenha sido a única a me
proteger, ela já não está mais entre nós. A perda dela ainda dói
profundamente em meu coração.
Há muito tempo, eu desejo gritar essa dor e clamar ao mundo
por socorro, esperando que alguém apareça para me proteger e me
dar o carinho que tanto anseio, assim como Adrina está fazendo
neste momento.
Soluços saem da minha garganta. Estou aturdida, cansada e
desgastada. Viver mais de duas décadas sob o peso de uma dor tão
intensa é desumano. Nenhuma garota, nenhuma mulher, merece
passar pelo que eu passo. Alguém da minha própria família, que
deveria me amar incondicionalmente, tem sentimentos distorcidos e
desejos malignos por mim. Esse é um trauma que ninguém deveria
suportar. Essa dor me consome de maneira tão potente, que parece
me sufocar.
Já desejei a morte ou uma fuga para escapar de uma culpa
que, na verdade, nunca foi minha.
“As pessoas vão acreditar que você estava se insinuando e que
a culpa foi sua”, minha mãe costumava dizer.
A culpa sempre cai sobre a mulher. Leonad afirmava que eu era
uma vadia, que o atraía com minhas roupas, sorrisos e olhares — os
quais sei que nunca lhe lancei.
Ele me fez duvidar de mim mesma tantas vezes.
Eu tinha medo de contar às pessoas e elas não acreditarem em
mim ou me acharem oferecida.
É nisso que eles querem que acreditemos, mas não podemos
nos calar. Isso, eu sei.
Sento-me na cama, tentando controlar a tempestade de
emoções que cresce dentro de mim. Meu peito dói e minha alma
carrega um peso que parece insuportável.
— Eu estou aqui — Adrina repete. — Meu primo precisa saber
de tudo — ela declara, mais do que convicta.
Adrina entende muito mais do que eu consigo verbalizar.
Congelo diante da incerteza. Como ela sabe? Como descobriu? Não
faço ideia.
— Tudo bem, não fique nervosa. Não se preocupe por eu
saber.
— Adrina… — Pela primeira vez alguém sabe, e eu não sei o
que fazer.
Eu queria muito que alguém me entendesse e me ajudasse,
mas nunca pensei que esse momento chegaria.
— Meu primo precisa saber; ele tomará as providências
necessárias.
— Não fala nada, por favor… — suplico, atormentada.
— Não o proteja — a raiva pulsa em sua voz. Ela se revoltou. —
Há quanto tempo isso acontece?
— Há muito tempo. — Em um gesto de desânimo, dou de
ombros, incapaz de avaliar quantos anos já se passaram. — Não
consigo me lembrar do momento exato em que tudo começou.
Desde que entendo o que é a vida, Leonad é essa criatura
asquerosa.
— Filho da puta! — ela exclama, e é impossível eu não
concordar. Se pudesse, ela o mataria. — Como ele pode fazer algo
assim? Você era uma menina! Eu sinto a sua dor. — Seu olhar reflete
um coração apertado transbordando empatia.
— Como você descobriu?
Ela se senta ao meu lado, preocupada comigo.
— Eu percebi que você nunca o mencionava. Também notei sua
mágoa porque ele te casou contra a sua vontade, mas agora, que
você ama o seu marido, a raiva deveria ter desaparecido. — Ela é
esperta, acertou em cheio. — Também vi quando ele se aproximou
do seu quarto e fiquei por perto. Ouvi seu grito e corri depressa para
ver o que acontecia aqui. Escutei quando ele disse que você era
dele. Me pergunto como o meu primo ainda não percebeu. Os
homens nunca compreendem o coração das mulheres.
Não é fácil para Mikhail perceber. Não quando nunca dei sinais.
E ele vive com um milhão de pensamentos na mente dele.
— Não conte a ele. Quero eu mesma falar sobre isso; mas
ainda não é o momento. Não faço isso para proteger o meu irmão,
mas para ter a certeza de que, no momento certo, ele pagará. —
Agora isso é uma realidade.
— Por favor, não me peça para guardar algo assim… — Isso é
algo que ela não sabe como guardar. Sente muito medo de que algo
me aconteça e ela seja a culpada depois por ter guardado silêncio.
— Estou implorando. Eu te ajudei com o casamento, e meu
marido me odeia agora. Faça isso por mim.
— Tudo bem, eu não direi nada. Mas você precisa falar logo.
Não guarde esse fardo por tanto tempo. E, sempre que quiser
desabafar, eu estarei aqui. Aliás, acredite: meu primo não te odeia;
ele apenas é orgulhoso e não suporta ser contrariado. Em breve,
voltará a ser o marido babão de antes. — Quero tanto que ela esteja
certa. — Me abrace, por favor. E, me perdoe por ter sido tão
insuportável com você, sendo que você não tem culpa de nada pelo
que te culpei. — Ela parece sentir o peso da verdade.
— No seu lugar, eu também protegeria a minha amiga.
Respeito demais a amizade que vocês duas tiveram no passado. Não
há nada que eu precise perdoar, apenas lamento por não ter
conseguido impedir o seu casamento e me desculpo por ter te
agredido.
E aqui estamos, duas mulheres adultas expressando toda a dor
que carregamos dentro de nós, como crianças que foram privadas
do seu doce favorito.
Capítulo 20
VIKTORIA
O teste de gravidez brilha com o anúncio de um novo mundo
que se revela. O resultado positivo explode em minha mente. A
palavra “grávida” parece pesar sobre mim como uma benção e uma
maldição. Leio, em letras pequenas, “3+ semanas”, e o meu coração
acelera; não por alegria, mas por um emaranhado de emoções.
Mesmo após o meu marido ter proibido a sua avó de me
submeter a fazer testes mensalmente, a minha curiosidade me levou
à farmácia. Fui como uma sombra, esgueirando-me entre as
prateleiras para garantir um último teste, em um momento em que
os seguranças não estavam atentos.
Agora, segurando-o entre os meus dedos trêmulos, não consigo
decidir se devo gritar e anunciar ao mundo essa nova vida que pulsa
dentro de mim. Todos, em meses, esperaram ansiosamente por essa
notícia, mas eu, presa em um labirinto de incertezas, só consigo
manter uma expressão neutra. Meus dedos ainda tremem. A
verdade é que me acostumei a ver o negativo, e quando notei o
“positivo”, a expressão do meu rosto não mudou. É como se a
felicidade tivesse me abandonado na curva do caminho.
Hoje completam 20 dias desde que Mikhail saiu de casa, sem
previsão de retorno. Ele ainda está furioso comigo, mas, mesmo
assim, não mudou a senha que me forneceu, responsável pelas
“chaves” do nosso mundo. Eu continuo tendo acesso a tudo, só que
o vazio que ele deixou toma os meus pensamentos.
As três batidas na porta são específicas e decididas, como sua
dona. É Adrina. Ela entra e me convida para um dia de compras no
shopping. Quando descemos, ela fala com sua avó:
— Estou entediada e quero gastar dinheiro à toa.
Assim, ela recebe a permissão da senhora Etevlania.
É irônico que, com as idades que temos, ainda precisemos de
autorização para sair de casa. Uma constante em nossas vidas de
mulheres na máfia. Na nossa realidade, cada saída é um risco. Até o
menor dos passeios, um momento mais tranquilo, pode se
transformar em algo ameaçador.
Prometemos não tocar no assunto do meu irmão por enquanto.
Também, preciso de um tempo para decidir como contar a Mikhail
sobre a gravidez quando ele voltar.
De loja em loja, as nossas sacolas de compras vão sendo
carregadas por soldados. Nós, as estrelas do lugar, chamamos a
atenção de todos. “Compras excessivas”, eles pensam. E é neste
momento que a ideia surge em minha mente, como um relâmpago.
— Adrina, será que eu consigo estourar o limite do meu cartão?
— Um sorriso travesso brota no meu rosto enquanto eu seguro o
meu cartão black como se ele fosse a chave para um mundo de
possibilidades.
— Você querendo gastar dinheiro? Está tudo bem? — A
preocupação dela é evidente. Ela toca em minha testa como se eu
pudesse ter febre. Quando dou de ombros, ela me entende. —
Vamos com tudo. Quem sabe assim meu primo decide dar sinal de
vida?
Rimos juntas, mas são risos frágeis.
Cada mensagem que recebo de Mikhail é um lembrete de que
ele está bem, mesmo distante. Ele está resolvendo “assuntos
importantes” em uma região remota onde não tem sinal de celular.
Grande coisa. Ele deveria ter aproveitado essas mensagens para
implorar pelo meu perdão.
Meu marido afirmou que eu poderia gastar quanto quisesse, e
assim faço, deixando as compras se acumularem, sem pensar nos
valores, só para que, de alguma forma, ele perceba o que estou
fazendo.
Mas, acima de tudo, eu me preocupo, mesmo irritada com sua
ausência. Ocorre-me que, para eu não irritar o nosso bebê, devo
tentar relaxar.
Em seguida, vamos ao SPA, onde desfrutaremos de uma hora e
meia de aconchego. Uma fuga agradável, longe da tensão de casa.
Aqui, temos a liberdade de fofocar, longe de olhos e ouvidos
indiscretos. Seria uma oportunidade boa até para escaparmos, se
quiséssemos.
— Eu não escapo agora porque não quero complicar você,
sabia? — Adrina comenta.
Observo-a deitada na hidromassagem, com os olhos fechados e
o rosto sereno.
Fugir? Espero por um comentário brincalhão, mas ele não vem.
— Fala isso por causa do casamento?
— Falo isso por mim mesma. E também pelo casamento. Um
mês! Um mês até a cerimônia. Dessa vez será um casamento no
religioso. Sabe o que isso significa? — Ela espera que eu
compreenda. — Que eu nunca mais poderei ser feliz. Na verdade,
deixa eu pensar… Calma… Respira… Eu nunca fui feliz mesmo nesta
vida. — Leva a taça de champanhe aos lábios e o bebe em um único
gole.
— Lamento. — Cruzo os braços, sabendo que não posso fazer
nada por ela.
— Não lamente. Se tem algo que repudio é a pena que alguém
possa ter por mim. Você já fez o que pôde para me ajudar, e não
funcionou. Agora, só posso aceitar, e pronto. Talvez o meu futuro
marido possa ser tão bobo e apaixonado quanto o seu.
Rimos da bobagem dela. Que paixão é essa, que desaparece
com o tempo?
Mikhail me disse um dia que, às vezes, a máfia consome muito
do seu tempo. Agora eu o espero, grávida e angustiada. E não posso
compartilhar isso nem com minha mãe, porque ela não ficaria feliz
pelos motivos certos.
Depois do SPA, passamos em mais duas lojas de grife famosas,
deixando para trás nada menos que 2 milhões em compras. Aliás,
adicionei as compras de Adrina às minhas; um merecido tributo à
nossa amizade. Ver os seguranças levarem todas as sacolas em uma
van, porque elas não caberiam em nosso carro, causa-me muita
satisfação.
Uma gargalhada escapole de mim enquanto caminho em
direção ao carro, no entanto, sou despertada por uma voz
arrebatadora, que me chama, fazendo o meu coração acelerar.
Adrina já está dentro do veículo, aguardando-me, e fica tensa ao
avistar o que se aproxima.
— Esse maldito! — ela grita, indignada.
— Fica aí. Deixa que eu resolvo — peço, determinada a encarar
esse verme mais uma vez.
Os seguranças barram a passagem dele, mesmo que ele seja o
meu irmão. Pedi que eles não deixassem que ninguém se
aproximasse sem minha autorização. Um deles olha para mim,
esperando por um sinal, e eu assinto.
— Eu vou com você — afirma Adrina, impaciente.
Ela o odeia, e eu entendo.
Caminho, cerca de 12 passos após o carro, até Leonad. Ele
veste um sobretudo longo e o seu olho direito está machucado com
um corte que grita confusão. Um lembrete de que ele sempre se
coloca em situações complicadas. É inegável que tudo isso é
resultado dos seus vícios.
— O que você quer? — Cruzo os braços, cansada de ele surgir
sempre para provocar mais caos na minha vida. — Meu tempo livre
não é para você.
Ele ri como se me entendesse, mas é um riso vazio.
— Eu já te disse para me desbloquear no seu celular. Tenho
algo importante para falar com você. — Range os dentes,
impaciente.
— Dinheiro? — Essa dedução se tornou inevitável, e ele não
nega. — Esqueça, não te daremos mais dinheiro. Você já pegou tudo
que tinha para pegar quando me vendeu.
— Quem disse que é você quem decide? Fale para o seu marido
que estou precisando, que é um caso de vida ou morte.
— Por mim, pode morrer sob os meus olhos, que eu não irei ao
seu velório nem derramarei uma lágrima. Acha que me preocupo
com você?
— Vadia! Está muito ousada, Viktoria. — Ele precisa se
controlar, já que os seguranças não estão longe o bastante para não
o escutar. — Você vai me dar o dinheiro que preciso: 1 milhão. Eu
soube que gastou 2 milhões hoje em apenas duas lojas, então pode,
muito bem, transferir esse dinheiro para mim.
Como ele sabe que gastei tanto dinheiro?
— Leonad, você passou o dia me seguindo?
— Eu sempre estou te observando, Viktoria. Pensa que aquela
mansão te protege? Afinal, onde está o seu marido? — ele traz à
tona uma pergunta que me machuca, uma ferida que não sara.
Seus olhos, meramente insensíveis, não me intimidam, mas o
seu golpe certeiro me fez hesitar, mesmo que involuntariamente.
— Hoje é um dia especial para você, e ele não está aqui. —
Essa verdade me dói. Um dia de celebração em que me sinto
sozinha. — Seu marido não se importa com você, irmã.
— Pare de se preocupar com minha vida de casada, isso não é
da sua conta.
De fato, essa é uma realidade que eu não quero engolir, vinda
dos seus lábios. Ele pode ser um verme, mas o que disse tem um fio
de verdade. A presença de Mikhail está faltando neste dia
importante, que deveria ser ensolarado.
— Então, faça por onde. Pare de bancar a esnobe poderosa e
me dê o dinheiro do qual preciso.
— Mesmo que você estivesse gravemente doente, eu não te
daria. Fez tudo que fez e ainda acha que terá um tostão meu?
Mikhail não vai te dar mais um centavo, pois eu não vou permitir. Vá
pedir a ele, e verá como o deixará irritado. Então, Leonad, me deixe
em paz. — Viro-lhe as costas. Uma chama de poder surge em mim
por eu ter dito o que sempre desejei. — Ah… Antes que eu me
esqueça: lamento que você não tenha outra irmã para vender.
— Isso não vai ficar assim. Eu te disse que encontraria um jeito
de te trazer para mim. E, princesa, se não tivermos dinheiro, a vida
será muito difícil.
Ignoro as besteiras dele, entro no carro e sigo em direção à
minha casa.
Chega a ser ridículo eu ficar olhando para esse celular. Meu
marido não vai me enviar mensagens, não vai me parabenizar. É o
meu aniversário. Essa verdade dolorosa passa entre os meus
pensamentos. Não é como se ele fosse voltar por causa disso. Ele
não ama a gente tanto quanto pensei.
Com essa desordem de sentimentos tumultuados, acaricio a
minha barriga, ainda insignificante, mas já repleta de sonhos e
esperanças. Ao mesmo tempo, um vazio profundo aperta o meu
coração por eu não ter o pai do meu bebê ao meu lado neste dia
que deveria ser especial.
Batidas na porta me fazem ir até lá. Assim que a abro, vejo um
soldado com o rosto totalmente coberto por um buquê de flores. A
voz dele sai baixa e respeitosa:
— Senhora, o senhor Alekseeva a espera.
Capítulo 21
VIKTORIA
O edifício mais alto de Moscou se ergue diante de mim como
uma sentinela do romantismo; o palco mais encantador que meus
olhos já testemunharam.
Entro pela porta e subo no elevador. Quando ele se abre, noto
um tapete de pétalas de rosa estendido à minha frente, que me
conduz a um terraço de onde a cidade se desdobra sob um manto
de luzes cintilantes. Acima de mim, a lua cheia ilumina o céu,
acompanhada por um espetáculo de estrelas, que parecem dançar
em sintonia com a ocasião.
À minha espera, uma mesa de jantar está montada com
carinho. As pontas da toalha balançam suavemente com a brisa da
noite.
Eu troquei de roupa; coloquei um vestido mais justo na cintura,
que é solto embaixo e tem um decote no busto, o qual atrai a
atenção dele instantaneamente. Ele é um homem apaixonado, mas a
sua alma ainda é de um devasso. Apenas meu! Meus saltos ressoam
no piso até que eu fique diante dele. Seus olhos azul-marinho
intensos parecem queimar os meus.
Mikhail é um verdadeiro espetáculo, um homem de beleza
impressionante. Seus ombros largos, ocultos sob um elegante
sobretudo, não deixam dúvidas da força que ele tem. Se eu não
soubesse que ele era um mafioso cruel e temido, iria confundi-lo
com um príncipe de história encantada.
— Mikhail… o que significa isso? — Cruzo os braços, em uma
tentativa de não ceder àquele olhar dominador.
Sobre a mesa, pratos finamente dispostos nos aguardam
ansiosamente, cobertos por bandejas que escondem o que iremos
jantar.
— Eu não poderia te oferecer um jantar em um restaurante
famoso, para não te expor aos olhares de quem não merece
compartilhar essa visão comigo. — Vejo a determinação em seu
olhar. — E esta noite é especial. Eu queria ter chegado mais cedo,
mas prometo que, no próximo ano, passaremos todo o dia juntos,
amor.
Com um gesto galante, ele toma a minha mão e a beija
suavemente.
Meu choque inicial foi profundo quando percebi que ele sabia
do meu aniversário. Nunca antes alguém havia se importado com
essa data. Sem bolos, sem presentes; apenas eu, presa em meu
quarto, sem vontade de comemorar o que ninguém lembrava.
As lágrimas ameaçam brotar em meus olhos, porém não quero
deixá-las escapar, embora a comoção seja inevitável.
— Viktoria, o que foi? — Sua mão acaricia o meu rosto com
ternura. — Não gostou do lugar, querida?
Nego com a cabeça e respiro fundo para não me deixar levar
pela emoção. Meu rosto aquece, denunciando minha luta interna.
— É que não estou acostumada a comemorar o meu
aniversário — confesso, deixando a mágoa transparecer. — Minha
família nunca teve o costume de celebrá-lo, então nunca tive um
antes. Esse bolo é para mim? — Aproximo-me dele para dar uma
boa olhada.
O bolo, coberto por um delicado glacê branco e adornado com
pétalas de rosa cor de lavanda, aguarda-me em um pedestal. As
velinhas, ainda apagadas, parecem ser testemunhas de uma vida
comemorativa. Mikhail as acende e diz:
— Faça um pedido, querida. Apenas não peça para viver longe
de mim, pois isso será impossível.
Eu me inclino, fecho os olhos e, com um sopro, apago todas as
velas, exceto algumas, que insistem em permanecer acesas. Então,
assopro-as repetidamente até, enfim, apagá-las. Essa cena me
lembra de algo que já vi em filmes. Achei divertido viver esse
momento pela primeira vez.
— Pediu que ficássemos juntos para sempre? — ele indaga,
curioso.
— Não posso revelar até que se realize. — Dou de ombros.
— Mas, como poderei realizar o seu desejo, se você não me
disser o que pediu?
— Agora, você é o gênio da lâmpada, marido?
— Não, mas sou aquele que quer realizar todos os seus
desejos, princesa — suas palavras cortam o meu ar.
A intensidade com a qual ele se expressa, até mesmo pelo
olhar, convence-me de que ele faria qualquer coisa por mim.
A mesa, meticulosamente preparada, aquece o meu coração.
Foi a primeira vez que alguém comprou um bolo de aniversário para
mim.
— Mikhail, eu amei. — Meu sorriso exala emoção.
Ele me puxa para um abraço apertado e os seus braços me
envolvem com força e calor. Sinto-me como se tivesse, finalmente,
encontrado abrigo após longas noites de inverno. Suas mãos
grandes afagam o meu cabelo e eu não consigo envolvê-lo
inteiramente com meus braços, por ele ser uma fortaleza poderosa.
Ele se importou o suficiente para me trazer um bolo.
— Mas não pense que isso me fará te perdoar por ter viajado
sem avisar e por não ter se comunicado comigo por dias. — Bato o
pé no chão.
Ele sorri, visivelmente satisfeito com minha indignação.
— Senti falta disso também. — Mikhail se permite rir, mas eu
não pretendo achar graça nisso, pois ele se referiu ao meu
temperamento.
— Para. Você não sabe o quanto eu te odiei.
— Eu não te odiei, mas quase morri longe de você.
Meu Deus! Isso me desarma.
— Sabe o que mais me mata? Essa sua frieza. É como se eu
fosse sua inimiga, mas sou sua esposa fiel e leal. O que fiz não me
torna alguém que luta contra você. Mas, se quer saber, eu estava
morrendo com o seu desprezo. Esse castigo foi o pior que já me deu
— a sinceridade pulsa em cada palavra.
— Acha que eu estava te castigando?
Como não poderia achar?
— Sim, estava — declaro a verdade nua e crua.
— Para mim também foi difícil. Você não entrou em contato
comigo em nenhum dia. Esperei que ligasse para mim e perguntasse
como eu estava, querida. Queria ouvir sua linda voz de roxinol.
— Pare com isso! — esbravejo e mordo, involuntariamente, o
lábio.
— A falta de sinal era algo que não podia nos unir, mas os
soldados me mantiveram informado sobre você. Tive que resolver
alguns assuntos urgentes, mas voltei bem a tempo do seu dia.
— Isso não me fará te perdoar, seu arrogante, insensível.
Ele está tão lindo, que perco a razão sempre que o vejo se
aproximar mais de mim.
— Não me olhe assim, esposa. Fico excitado quando me dá
esse olhar de contenção e emoção ao mesmo tempo — sua voz soa
provocante e ele segura a minha mão.
Idiota!
Mas, ainda assim, um idiota irresistível e perfumado.
Senti saudade dos nossos momentos juntos.
Mikhail não sabe que estou esperando o nosso filho, e eu mal
posso esperar para lhe contar que ele será papai em breve.
Começamos a dançar uma coreografia, em um ritmo que existe
apenas em nossas mentes. Ele ri da nossa descoordenação, mas,
para nós, este momento é um tesouro que guardaremos para
sempre.
— Eu não sei dançar bem. Felizmente, no nosso casamento, eu
não passei por essa vergonha — comento.
— Você dança lindamente, esposa. Acompanhe o meu ritmo e
nunca se perderá. — Suas palavras são mais profundas do que a
dança. Elas transcendem a coreografia e me levam a um lugar de
segurança.
Meu coração sabe que nunca estarei perdida enquanto estiver
ao seu lado.
Para uma dança com uma música imaginária, ele é muito bom
no que faz.
— Você guia bem, para uma dança com uma música imaginária
— brinco.
— Eu não sei se já te disse, mas sou bom em muitas coisas.
Muitas.
Encosto a cabeça em seu peito e ouço as batidas aceleradas do
seu coração. Parece que ele está ansioso para alguma coisa. Fecho
os olhos e me deixo levar pela “melodia” cada vez mais suave e
romântica. Esse homem me traz uma segurança inabalável, sendo
um escudo e uma fortaleza para mim. Eu o amo. Por mais que ele
seja insensível e arrogante, é o único capaz de mover céus e terras
por mim, e isso, ele deixou claro desde o dia do nosso casamento.
— Meu coração está assim, princesa, porque estamos juntos —
ele confessa, como se tivesse lido o meu pensamento. — Me
perdoa? Prometo que nunca mais discutiremos assim. Fui um idiota,
e não sei como pedir perdão. Nunca precisei fazer isso antes, até
agora.
O pakhan mais poderoso da Rússia pedindo perdão à sua
esposa. Ele nunca deve ter imaginado isso nem nos seus piores
pesadelos. Vi sinceridade em suas palavras.
Toco delicadamente na ponta do seu nariz com o meu dedo,
fingindo estar irritada ainda.
— Eu te perdoei, mas, da próxima vez, não vou perdoar. Não se
esqueça disso.
Sou surpreendida quando, em um gesto rápido, ele me ergue e
me coloca em seus braços como se eu fosse a sua bebezinha. Rio de
susto. Ele também gargalha, mas logo se vê tomado pela urgência
de me ter e me beija com volúpia.
— Eu preciso muito sentir você nua em meus braços, amor.
— Eu também estou louca para ser sua.
Com delicadeza, Mikhail me deita na cama oval, um símbolo do
luxo que o cerca. Sua língua se lança em mim, deslizando
suavemente por cada fração da minha excitação. Os toques de suas
mãos em minha pele acendem um fogo em meu interior e uma
paixão voraz por ele que adoro cultivar. Nossos olhares se encontram
em um duelo de desejo e amor, e eu sorrio ao pensar no nosso
bebê, uma nova vida que virá para completar o nosso amor. O
primeiro de muitos filhos. Agora, que sei que estou grávida, desejo
construir uma grande e feliz família, algo que nunca vivenciei na
minha própria casa.
— Você é perfeita, roxinol.
Chupando devagar o meu clitóris, ele me desperta um prazer
que só ele é capaz de me proporcionar. Gemidos escapam da minha
boca enquanto eu mordo o meu dedo indicador, perdendo-me na
sensação de ser dele, completamente dele.
A sua fome é sempre insaciável, e eu sinto a mesma coisa.
Estou cada vez mais viciada no meu marido mafioso.
Esse homem é a minha maior tentação.
— Diga que sentiu saudade, amor — sua voz rouca e
provocadora me tenta muito mais.
Ele volta a me lamber e eu arfo, pronunciando o seu nome.
— Mikhail… eu senti muita saudade de você.
A satisfação se manifesta em cada movimento dele e na
intensidade com a qual ele explora, lambe e chupa o meu corpo,
fazendo com que eu chegue ao ápice do prazer. Perco-me no
caloroso acolhimento da sua boca.
Quando meu marido toma os meus mamilos excitados entre os
seus lábios, um desejo quase elétrico percorre a minha pele. Ao me
sentar em seu colo, sinto o prazer se intensificar. Seu membro
adentra o meu ser, resistente como uma rocha, preenchendo cada
espaço de mim. Eu me entrego a este momento, cavalgando com
paixão, enquanto os nossos lábios se encontram em beijos ardentes,
revelando a conexão irresistível que compartilhamos.
Seu nome sempre sai dos meus lábios como uma prece.
Os estalos de nossas bocas unidas e os sons do nosso sexo são
como canções líricas aos nossos ouvidos. A doce e apaixonante
entrega chega a me fazer esquecer quem sou, onde estou e como é
o mundo lá fora. Nada mais importa quando estamos juntos, e até
mesmo os problemas desaparecem.
— Minha esposa, está com muito fogo. Culpa minha, que te
deixei sozinha em todos esses dias. Mas não se preocupe, amor, irei
trabalhar muito para apagar todo esse fogo.
— Saiba que não vou te deixar descansar nem por um
segundo, Mikhail. Assim, você vai aprender a nunca mais me deixar
sozinha.
O fogo está aqui, queimando-nos.
Ele me vira de costas para si, faz com que eu fique de quatro e
estapeia as minhas nádegas. Amo ver as marcas de suas mãos lá; e
ele é fascinado em me marcar. Em seguida, puxa meu cabelo e
invade a minha boceta quente, gemendo junto comigo. Meu marido
mete como um animal possesso. Só quero, cada vez mais e mais,
ouvir os estalos do nosso sexo. Minha mente está a mil, prestes a
estourar de tanto prazer.
Ele é meu! Meu homem, meu marido, meu mafioso sedutor,
meu Mikhail.
Capítulo 22
VIKTORIA
Os momentos em que sou obrigada a conviver com a avó do
meu marido são como um verdadeiro inferno em vida. Os chás da
tarde, cercados pelas esposas dos conselheiros mais importantes,
que sussurram sobre os poderosos da máfia, é sempre uma tortura
sem graça. Essa elite feminina parece ser mergulhada em um
mundo de frivolidades: falam incessantemente sobre fortunas, as
bolsas de couro que ostentam como troféus e as novas coleções que
É
acabaram de adquirir. É um desfile de egos inflados. E, no centro
desse espetáculo, está a senhora Etevlania, que se glorifica como se
ainda fosse a rainha da máfia, ignorando que o seu reinado expirou
há muito tempo.
— Se lembra daquela vez em que sua nora se declarou rainha
da máfia? Veja onde ela está agora: morta há anos. Também, ela
era tão esnobe. Chegou aqui como se fosse a dona de tudo. — A
mulher ri, venenosa. — E você, querida Etevlania, ainda se mantém
no trono. — Carolla é sempre tão subserviente e, ao mesmo tempo,
não perde a oportunidade de alfinetar, fazendo isso até mesmo com
uma defunta.
Quem está para explodir é Adrina, indignada com a maneira
como elas falam, sem nenhum respeito pela falecida. Mas eu a
seguro para que não fale nada. Isso também me incomoda.
— Senhoras, por favor, não vamos falar de alguém que não
está mais aqui para se defender — peço.
As outras mulheres trocam olhares cúmplices, admirando
aquela que acabou de se gabar por ter uma amiga influente. Como
se isso fosse algo para se orgulhar. Etevlania não manda em nada.
Nunca foi assim. Meu marido nunca a deixa mandar em nada.
— Querida, sugiro que mantenha a boca fechada e não se meta
nos assuntos da máfia. Deixe Etevlania manter o seu papel de
senhora — brinca uma delas, com um sorriso que mais parece um
aviso.
— Você pode ser a esposa do pakhan, mas enquanto não lhe
der um filho, nunca será poderosa nem respeitada — a provocação é
clara e mais cortante que uma faca. — Minha neta acabou de dar à
luz ao segundo filho em três anos. — O orgulho transborda dela.
Isso pareceu ser um ataque direcionado a mim.
— Vovó queria casar meu primo com a neta dessa mulher antes
mesmo que ele se unisse à primeira esposa — Adrina, minha aliada,
sussurra para mim, lançando luz sobre a inveja que corre como
veneno nas veias da bruxa velha.
Claro, sua neta não foi a escolhida, foi rebaixada a um outro
casamento arranjado. Agora compreendo a razão do seu
comportamento azedo.
— É preciso ter um filho — alega outra mulher, insidiosa.
— Uma mulher sem filhos é como uma terra seca. Não
concorda, Etevlania?
— Sim, concordo — o desprezo em sua voz é palpável.
Ela degusta o seu chá e me observa como se eu fosse uma
mera mosca insignificante. Nós apenas nos suportamos desde que
ela desistiu de fazer aqueles testes de gravidez que a deixavam tão
irritada.
— Como pretende ser a rainha da máfia, se não tiver um filho
homem? Já parou para pensar que o seu marido pode te trocar por
outra? — a pergunta me deixa prestes a perder o controle.
Adrina se levanta, fazendo o papel de escudo entre mim e
aquelas víboras.
— Ser a esposa do pakhan é o título mais alto que uma mulher
pode almejar na máfia. Senhoras, calem-se. Falem disso até em tom
de brincadeira, que o meu primo cortará a língua de vocês. — Elas
não têm uma resposta à altura. — A vovó não é a rainha da máfia
há muito tempo, pois já é viúva há mais de três décadas.
Rio, admirando a coragem dela, mesmo sendo pequena diante
das ameaças que surgiram.
— O que estão comentando sobre a minha esposa? Posso
saber? — a voz rouca de Mikhail ecoa pelo jardim, capaz não apenas
de arrepiar a minha alma, mas também de intimidar qualquer um
que se atreva a cruzar o seu caminho.
Ele, majestoso e imponente, chegou ao ambiente do chá, e as
mulheres se levantam como se estivessem diante de um rei. Seus
olhares estão alegres, porém o medo domina as suas expressões.
Eu, por outro lado, permaneço sentada, observando a cena com um
sorriso que esconde a satisfação de vê-las assim, tremendo.
— Primo, que bom que chegou. A senhora Carolla tem algo a
dizer a você sobre a sua esposa — Adrina provoca, repleta de
expectativas.
O pânico toma conta de Carolla, que parece desejar evaporar
neste instante. O olhar de Mikhail, suave apenas para mim, como
uma tempestade de masculinidade, já me diz tudo: ele me ama. E
eu o amo.
De repente, ele se transforma novamente no urso feroz que
ninguém ousa desafiar.
Carolla, através do olhar, pede socorro à sua amiga, no entanto,
é ignorada. Essa cena é um banquete para a minha alma. Etevlania
acredita ter todas as vestes da sabedoria, contudo, a minha
presença é um lembrete de sua decadência.
— Espero que estejam cuidando bem da minha esposa,
senhoras, tratando-a com o respeito que ela merece e a mimando.
Viktoria Alekseeva é a rainha da máfia, a senhora desta casa e a
única proprietária de tudo que me pertence. Não se esqueçam disso.
— Suas afirmações foram como lâminas cortantes, mesmo que ele
tenha procurado suavizá-las com seu tom ameno.
Aqui, desafiando a antiga ordem, ele reafirmou meu poder
sobre este recinto e a sua velha avó. A humilhação dela é evidente
para todos; um golpe direto no seu ego, que ela julgava inabalável.
— Sim, senhor. Nunca nos esqueceremos de algo assim. Sua
esposa é a rainha da máfia, e todas nós a respeitamos. Tudo que ela
pedir, atenderemos na mesma hora — Carolla responde de forma
artificial, tentando ser convincente.
Mikhail se aproxima de mim e se inclina para selar os nossos
lábios em um beijo delicado e repleto de significado. Um gesto que
diz mais que palavras. Ele tem o meu coração e sabe disso.
— Nos vemos no jantar, princesa.
Sorrio.
— Estarei esperando você, meu amor.
As mulheres nos observam, atônitas, como se tivessem
testemunhado um milagre raro. Um homem cruel e poderoso
completamente apaixonado pela esposa. Essa cena é uma raridade;
uma história que não se vê todos os dias.
— Senhoras, continuem com o chá — meu tom agora é firme e
a atmosfera ao meu redor parece mais leve.
Após a partida das mulheres, Adrina segue para o seu quarto e
eu caminho para o meu, exausta da tarde que pareceu mais uma
tortura e com expectativas sobre o que Etevlania pode querer
comigo, já que me convocou para ir ao seu escritório. Assim como o
meu marido, ela tem o seu reino. E, embora eu não sinta medo dela,
quero evitar ao máximo esse encontro, considerando sua antipatia
pela minha presença. A governanta me avisou há tempos sobre isso,
mas antes tomo um banho, que se arrasta mais do que o esperado.
Meu marido voltará a qualquer momento do trabalho, e eu
desejo esperá-lo em nossa cama: surpreendê-lo com minha lingerie
sexy. A ideia de um jantar à luz de velas no nosso quarto acende
uma chama em mim. Pedi para a empregada preparar as suas
comidas favoritas e alguns pratos afrodisíacos. Não que precisemos
deles. Rio internamente. Quero que esta noite seja inesquecível,
especialmente porque vou lhe revelar que estou grávida. Preciso ir
ao médico e descobrir como está o meu bebê, mas, primeiro, essa
notícia precisa ser compartilhada com Mikhail hoje. Com poucas
semanas de gestação, é hora de eu confirmar que tem uma vida se
formando no meu ventre.
Assim que coloco os pés no corredor, ouço a explosão da voz
máscula do meu marido, cheia de irritação, e um barulho
contundente, como se algo tivesse sido arremessado contra a mesa.
Corro em direção ao escritório, encontro a porta entreaberta e,
sutilmente, escondo-me, sem querer ser notada. Etevlania está
sentada em sua majestosa cadeira de couro marrom, enquanto o
seu neto está posicionado em pé, sentindo uma tensão palpável.
Não posso ver o seu rosto, mas a postura dele é decisiva.
— O que mais a senhora quer de mim, minha avó?! — Mikhail
grita, e isso ecoa como um trovão dentro do escritório, fazendo o
meu coração acelerar de pânico.
Ele bate, com força, as duas mãos sobre a mesa. O estrondo
reverbera no ar, pesado, refletindo a sua raiva. O temor invade o
meu peito. O que pode tê-lo levado a perder o controle assim, a
ponto de gritar com sua própria avó?
— Que você cumpra com seus deveres com a máfia — a
resposta dela é afiada como um chicote, cortando o ar como algo
que pressagia a desgraça.
Por “deveres”, ela quis dizer para ele me engravidar? Esse
pensamento me atinge como um golpe.
— A senhora pediu que eu me casasse, e eu me casei, mesmo
contra a minha vontade — a revelação dele cai sobre mim como um
tapa, mesmo que eu já soubesse dessa verdade amarga. — Aceitei
me casar, pela máfia, com uma mulher bem mais jovem, sabendo
que prefiro mulheres com um perfil mais maduro.
Mikhail está realmente dizendo isso? Fecho os olhos e os
esfrego, buscando, no escuro, a certeza de que é ele mesmo ali,
aquele homem que, um dia, prometeu não se importar com a minha
idade após ter se apaixonado por mim. Mas, agora, a sua voz
transbordou desdém. Ele está incomodado com quem sou.
— Pediu também que eu a tratasse bem, e eu a trato melhor do
que ela merece. Viktoria tem uma vida de rainha, uma vida que
jamais imaginou ter e que não teria se não fosse por mim. O que
mais quer de mim? — as suas palavras saem como flechas e
atingem o meu coração com uma ferocidade cruel.
Agora, até mesmo a vida que ele me proporciona está em
discussão?
— Que vocês tenham logo um filho. Não deixe o nosso
sobrenome morrer com você — sua avó, implacável e direta, dispara
a exigência contra o peito dele, vivendo em um tempo no qual a
maternidade é a única missão das mulheres.
Levo as mãos à minha barriga. Eu deveria entrar agora e
anunciar que estou grávida? Esse pensamento vem como um
relâmpago em minha mente angustiada.
— Estou me empenhando para que isso aconteça o mais rápido
possível. Tudo acontece no momento certo. Agora, se não parar de
pressioná-la, isso, certamente, irá demorar muito mais. Não vejo a
hora da senhora ter seus bisnetos herdeiros. Assim, poderei me
libertar desse tormento que é estar casado com uma criança.
Ele me vê como uma criança apenas por eu ser 17 anos mais
jovem que ele.
Mas ele sempre dizia que eu não era uma criança; que essa
ideia mudou porque ele se apaixonou por mim.
— Não sabe como foi difícil conseguir uma esposa para você,
principalmente depois do que aconteceu com sua primeira esposa.
— Para que tanto remorso agora? Sabemos que a senhora a
matou — ele lança a verdade com um desprezo cortante, e ela não
demonstra estar abalada.
Então, não foi ele que a matou? Foi a avó? Etevlania tirou a
vida da mulher do seu neto. Uma barbaridade que não faz sentido.
Por que Mikhail carrega essa culpa?
— Uma mulher infértil não serve de nada. Consegui uma bem
melhor para você, mais jovem e mais saudável para parir os seus
filhos.
— Uma esposa que eu comprei do louco do irmão dela — suas
palavras, mais uma vez, cortam o meu coração como lâminas
afiadas.
As lágrimas começam a escorregar pelo meu rosto. Meu
coração está dilacerado pelo peso de suas friezas. Eu sei que fui
vendida para Mikhail, mas ouvir isso da própria boca dele foi
devastador, principalmente porque ele tinha me prometido que faria
de tudo para ter a mim como sua verdadeira esposa.
— Não importa se ela foi vendida a você ou não, o que importa
é que você fará muitos bebês nela. Muitos meninos, de preferência.
— Quando aquela mulher engravidar e eu tiver meus herdeiros,
por favor, leve-a para viver em outro lugar. Tudo nela me irrita. Não
suporto a sua franqueza, as suas perguntas incessantes e a sua
submissão. Ela fala tanto e não para um segundo, com aquela voz
irritante — ele exala desdém, como se estivesse conversando sobre
um objeto descartável. — Além disso, vive com o nariz enfiado nos
livros até tarde da noite. Isso é insuportável.
Minhas lágrimas continuam a cair, incontroláveis. Mikhail, o
homem gentil e amoroso que sempre decide passar as noites
comigo, agora me vê apenas como uma mulher qualquer, sem valor.
— Quanto a isso, paciência — ela ressalta como se fosse uma
mulher virtuosa.
— Diz isso porque não é obrigada a conviver com os medos e
inseguranças dela. Até aí tudo bem, porque ela é uma garota, só
tem 20 anos; o problema é que parece que tem 9 anos. Tudo a
assusta. O tempo todo, tenho que a estar tranquilizando em relação
a alguma coisa. Um inferno. Até perfume de criança, ela usa. Aquele
aroma doce me causa náuseas. Falta pouco para eu vomitar ao
inalá-lo.
Ele me acha uma garota boba, e nada mais.
Mikhail dizia que amava o meu perfume e o aroma da minha
pele. Tudo foi uma mentira?
— Dê graças pelo irmão louco dela ter se atolado em dívidas a
ponto de vendê-la para alguém como você.
— Alguém como eu? — Ele ergue uma sobrancelha, em
desafio.
— Você é o mais terrível dos homens, implacável com os
inimigos e ainda carrega a fama de ter matado a sua esposa.
Nenhum dos nossos aliados te daria uma filha preciosa, somente
alguém muito ganancioso, disposto a colocar a vida de uma mulher
em risco.
— Sou o melhor partido deste país. Me casei com uma
pobretona ingênua. Ela deveria me agradecer de joelhos pela boa
vida que lhe darei enquanto ela for útil. Quando eu me cansar, eu
mesmo darei um fim nela.
— Fale baixo. Não queremos que alguém te ouça falar assim.
— Não se preocupe, avó. A pateta da minha esposa, medrosa
como é, não entra em lugares que ainda não conhece, e creio que
ela não conheceu o seu escritório ainda.
— Fala como se sua mulher fosse a mais terrível das mocreias.
Ela não é de se jogar fora. Pode ser medrosa, como diz, mas é muito
bonita.
— Meninas da idade dela não chamam a minha atenção.
— Imagino o esforço que faz todas as noites. Eu já passei, à
noite, pelo corredor do quarto de vocês e pude notar o quanto se
esforça. — Ela exala soberba.
Ele se esforça para fazer amor comigo? Não sente atração por
mim?
— Nesta semana, leve Viktoria ao hospital e diga que é para
fazer exames de rotina. Se ela já não estiver grávida, ficará nesta
noite. Garanta isso.
Não posso mais ficar ouvindo esses dois falarem assim de mim,
como se eu fosse apenas um corpo com o intuito de gerar um bebê
para a máfia.
Por que você está fazendo isso com o nosso amor, Mikhail?
Atuou por todos esses meses?
Não quero aceitar. Não quero acreditar que ele não me ama,
que os nossos momentos não foram verdadeiros e que tudo foi uma
farsa dele. Encolho-me, até que percebo que estou agachada, com
as mãos na boca, chorando baixinho como uma criança, para que
eles não possam ouvir nada.
Preciso sair daqui. Eles deveriam sentir vergonha das coisas
que estão fazendo comigo. Eu não sou apenas um corpo para parir.
Quero gritar, correr e xingar, mas mal posso ficar de pé,
atormentada por aquela conversa. E eles continuam.
— O que fez durante a sua última viagem? — ela questiona.
Ele não explicou praticamente nada para mim, apenas disse
que tinha ido resolver assuntos importantes.
— O que mais eu teria feito? Precisei de uns dias longe daquela
chata para me acalmar e relaxar ao lado de algumas beldades — a
sua resposta é como uma facada em minhas costas.
Beldades? Ele esteve com outras mulheres? Filho de uma mãe!
Como pôde fazer isso comigo? Eu não merecia.
— Cuidado para não engravidar as mulheres erradas.
Desde quando traição é algo comum, para ser tratada com
tanta normalidade pelos dois? Sinto tanta dor, que chego a perder o
ar.
— Tentaremos fertilização in vitro. Será um recurso discreto —
ela tenta convencê-lo.
Eles estão tão desesperados, que buscam qualquer método
para que isso funcione de acordo com os planos deles.
— Viktoria engravidará através do método normal. Eu já te
disse, avó, que está tudo normal com os nossos exames. A culpa de
ela não engravidar é sua, que vive a pressionando. Deixe-a em paz.
— Mas não é você que não vê o momento de se livrar dela?
— Sim. Mas se continuar a pressionando, isso levará muito mais
tempo. Eu não quero ter que conviver mais de três anos casado com
essa mulher. Uma gravidez de gêmeos seria o ideal. Então, deixe
Viktoria em paz. No momento certo, ela vai sair de nossas vidas de
uma vez por todas, e serei eu que cuidarei disso, não a senhora —
ele ressalta, autoritário.
Será ele a me matar; ele só não usou essas palavras.
Quando, finalmente, pensei que seria feliz, acontece isso.
Saio do corredor antes que não reste mais nada do meu
coração. Na escada, encontro Adrina, que estranha a pressa com a
qual subo os degraus.
— O que aconteceu? Aonde está indo? Você está chorando?
Não paro para falar com ela, corro para um quarto de hóspede
e me tranco, permitindo-me chorar tudo que está preso. Pobre do
meu bebê; tão pequeno e já sentindo o sofrimento da sua mãe.
Capítulo 23
MIKHAIL
— Senhor, os Orokov estão, cada vez mais, com os dias
contados. Aqueles vermes não perdem por esperar — diz Tierry, o
chefe dos soldados, a pessoa em quem mais confio. Ele é um dos
poucos amigos que tenho.
— Vamos aniquilar todos. — Essa certeza cresce dentro de
mim.
Ninguém pode entrar no meu caminho e vencer uma guerra.
Esse sempre é o meu lema.
— E quanto à sua viagem? Ocorreu tudo bem mesmo? — Tierry
pergunta, notando que eu falei pouco sobre o assunto desde que
retornei.
— Sim. Descobri quem foram os responsáveis pelo plano de
ataque à minha esposa. Matei todos os envolvidos.
O ataque estava agendado para a última semana, mas, graças
ao trabalho do nosso infiltrado, conseguimos evitar a invasão na
mansão e aniquilar os desgraçados, que participavam dos planos dos
Orokov. Agora, o próximo será Pavel. Aquele maldito não vai
escapar.
— Por sorte, nosso infiltrado descobriu o plano antes que sua
esposa corresse perigo.
— Recompense toda a família dele. Foi uma pena ele ter sido
descoberto. Por sua lealdade, não deixe que falte nada para a
esposa e filhos dele. Cuide deles e os mantenha seguros.
Um soldado leal, que lutou até o fim, merece toda a glória, e
sua família também. Mandei comprarem uma casa de luxo para a
sua esposa e os quatro filhos deles. Garantirei que nunca lhes faltará
nada.
No entanto, há outra coisa me deixando preocupado, e essa
preocupação tem um nome e o meu sobrenome. Desde que voltei
de viagem, notei que Viktoria está estranha. Em um dia, ela me
recebeu cheia de alegria, com aquele sorriso lindo que me derrete;
no outro, estava silenciosa, coisa que nunca é.
Entro no nosso quarto e a observo deitada na cama, lendo um
livro para espairecer. Nesta semana, ela tem reclamado de dores nas
costas e de cabeça, as quais atribui ao frio e à sua sinusite. Duas
noites atrás, fui buscá-la no quarto de hóspedes, pois ela havia lido
lá até dormir em uma cama que não era a nossa.
Essa mulher lança algum feitiço em mim, porque não consigo
dormir sem tê-la ao meu lado. Quase não temos tempo para
conversar devido ao estresse do trabalho e à máfia. Fomos
denunciados e uma das nossas cargas foi encontrada, fazendo com
que a polícia chegasse até uma das minhas operações secretas.
Estamos tentando evitar um processo. Meus contatos na polícia, na
política e nos tribunais estão cuidando disso, mas, mesmo assim,
isso tem me causado dores de cabeça. Não vejo a hora de matar
Pavel com minhas próprias mãos e tomar o seu território.
Não consigo esconder o quanto estou cansado após um longo
dia de trabalho e noto que minha mulher me encara, em silêncio.
Seu semblante é fechado, como se ela guardasse tantos segredos
dentro de si que a sufocam. Quero entender o que está
acontecendo. Mulheres são muito temperamentais e emotivas, e
Viktoria não é diferente da maioria. Seu rosto, que antes era gentil,
agora parece guardar mágoa e rancor.
— Boa noite — começo com um cumprimento, antes de lhe
perguntar o que a deixa assim.
— Boa noite — responde ela, sem tirar os olhos do livro que,
claramente, não está lendo.
— Como foi o seu dia? — Penduro o meu casaco sem desviar o
olhar dela.
O que mais quero é ouvir sua voz suave e doce. Isso me
acalma em dias tensos.
— Calmo — é a sua resposta.
Agora entendo que algo não está bem.
— Calmo? Só isso? — Ergo a sobrancelha, desafiando-a.
— Não quero encher você com minhas histórias bobas, deve
estar cansado.
Viktoria nunca me enche. Pelo contrário. Chegar em casa e
ouvi-la me contar sobre o seu dia é a paz da minha vida. De onde
ela tirou isso? Um instante depois, pego o meu celular no bolso e
abro o aplicativo que baixei para acompanhar as datas do seu ciclo
menstrual. Posso perceber, pela data no calendário, que ela está
perto do seu período menstrual. Esse pode ser o motivo de ela estar
tão sensível e calada. Quero ajudá-la de alguma forma, seja com
doces, carinhos ou flores. Amanhã, eu lhe trarei tudo isso.
— Já eu tive um dia muito cansativo — falo, querendo que ela
pergunte o motivo. Minhas expectativas são como as de um garoto.
Ela fecha o livro após ter marcado a página na qual parou a
leitura. É uma história de romance, posso perceber pela capa. Ela
sempre está lendo romances, e quase nunca outro gênero.
— Que história você estava lendo hoje? — pergunto,
interessado. Amo quando ela me conta sobre o que lê; gosto de ver
a emoção nos olhos dela. — Esse livro é um romance; me conte um
pouco sobre o que se passa com os personagens.
— Eu vou ler em outro lugar, não quero incomodar você com a
luz acesa. — Ela se levanta, calça as pantufas e fecha o robe, pronta
para sair e ler em outro lugar, longe de mim.
O que deu em Viktoria? Ela tem um ar tristonho que me
preocupa.
— Não me incomoda, pode ficar. O que está acontecendo com
você? — questiono, confuso.
Os problemas da máfia não se comparam à confusão que ela
está me causando com o seu silêncio. Por que ela quer ficar longe
de mim? A impressão que ela deixa é que não quer me incomodar,
sendo que o que mais me incomoda é ficar longe dela. Já passo
horas e horas sem olhar para esse rosto de lua, e agora ela quer me
negar esse prazer?
— Como assim? — Ela parece se conter para não gritar.
Tomo a frente da porta, impedindo-a de sair. Seus olhos estão
apertados e as suas bochechas estão vermelhas, como se ela tivesse
chorado. Agora, sim, estou preocupado.
— Você está diferente. Me diga o que aconteceu.
— Não é nada — ela responde de forma seca.
— Tem certeza? Porque não parece que não é nada. — Minhas
mãos tocam em seus ombros tensos, tentando fazê-la relaxar, mas
vejo que ela se contorce, querendo se afastar de mim.
Isso dói como um tiro no peito.
— Sim, tenho certeza. Eu só estou com saudade da minha
mãe.
Saudade da sua mãe interesseira e egoísta? Viktoria não me
engana.
— Faça uma visita a ela amanhã. Eu vou te levar antes de ir
para a empresa. — Continuo a fingir que acredito nisso para ver até
onde ela vai.
— O motorista pode me levar, não quero tomar o seu tempo. —
Parece que sempre está saindo um lamento dos seus lábios
deliciosos.
Agora, realmente, preciso saber o que aconteceu.
— Viktoria, me explica o que está acontecendo com você —
exijo, tenso e preocupado.
— Não está acontecendo nada. Eu só não quero que você se
atrase para os seus compromissos. — Força um sorriso que não me
convence.
Já que ela não quer me falar agora, talvez seja melhor
relaxarmos um pouco juntos. Depois, eu insisto novamente no
assunto.
— Vou tomar banho, e queria que você viesse comigo — peço.
— Estou com muita cólica, não posso ir.
Essa é a desculpa mais esfarrapada que Viktoria poderia dar,
porque sei que ainda não é tempo de ela sentir cólica. Ela só sente
por dois ou três dias durante a menstruação, nunca antes.
— Cólica? — De alguma forma, ela não sabe que já estou
ciente de tudo isso.
— Apenas dor. Quero me deitar e dormir — muda de assunto
rapidamente.
— Você não iria ler? — provoco-a.
— Desisti. Agora só quero dormir. Minha cabeça está latejando;
a sinusite não dá trégua. — Ela mal terminou de falar sobre a cólica
e já está falando sobre outras dores.
Devo aceitar de uma vez que minha esposa não quer conversar
comigo, mas a ideia de desistir de entender o que se passa com ela
não é uma opção. Desde o chá com as senhoras, Viktoria tem agido
de maneira estranha. Será que eu disse algo que a incomodou na
frente daquelas mulheres? Meu pai costumava dizer que as mulheres
se irritam facilmente e nunca revelam tudo de uma vez, como se
esperassem que adivinhássemos os seus sentimentos. Mas Viktoria
nunca foi assim, então algo sério realmente aconteceu.
— Boa noite — ela murmura ao puxar o edredom, pronta para
se entregar ao sono.
Cedo, vou ao banheiro e tomo uma ducha quente, remoendo as
possibilidades sobre o que pode ter acontecido. Quando volto ao
quarto, ela já está dormindo, serena e tranquila. Beijo sua testa com
ternura e sussurro ao seu ouvido:
— Eu te amo. Boa noite, princesa.
No café da manhã, a ideia de eu levar Viktoria ao médico toma
conta dos meus pensamentos. Ela precisa de uns exames, porque
esses seus comportamentos estranhos podem estar relacionados aos
hormônios. Sei como ela deseja engravidar, mas não quero que ela
passe por essa aflição, especialmente por causa da minha avó.
— No que você está pensando, meu neto? — pergunta a minha
avó, curiosa.
— Em nada — respondo, sem rodeios. — Me diga: você fez
algo para minha esposa? Algo que a incomodou?
— Por que isso? — Ela parece confusa, sem me entender. —
Não fiz nada. O que aquela garota disse a você? Te contou
mexericos? Mentiu? — acusa-a.
— Nada. Ela não me disse nada. — Tomo um gole do café,
sentindo a tensão crescer. — Espero que você não tenha feito nada
para ela. Porque se fez, não vou te perdoar, vó, e as coisas não
serão como antes — alerto-lhe.
O que aconteceu com Sasha não se repetirá com Viktoria, nem
que eu tenha que ir até as últimas consequências. Embora eu não
amasse Sasha, reconheço que o que lhe aconteceu foi uma tragédia
que não pude evitar. Em respeito ao meu pai, não toquei em minha
avó, porque ele me fez prometer que eu cuidaria dela por toda a
vida, e homens da máfia honram suas promessas.
— Você nem a ama de verdade. Por que está agindo assim? Por
acaso, ela está nos ouvindo? — Olha ao redor e não a vê. — Pare de
me ameaçar por causa de uma qualquer que você colocou como sua
esposa.
— Ela é a rainha da máfia, não uma qualquer. — Tenho que me
controlar para não avançar sobre ela.
Minha avó precisa acreditar que não amo Viktoria, para que não
tente nada contra a vida dela. O medo de que ela machuque minha
esposa, como fez com Sasha, está me fazendo decidir que será
melhor nos mudarmos para longe desta casa, para um lugar onde
ela não conheça os nossos segredos. Não posso correr o risco de a
história se repetir. Por isso, sempre falo de Viktoria com desprezo na
presença dela.
— Então, você não sabe o que aconteceu com ela? — Adrina
pergunta, preocupada. — Pensei que vocês tivessem discutido e que
você tivesse sido rude com ela, mas sinto que está tão perdido
quanto eu.
Minha prima e Viktoria estão muito próximas ultimamente, não
se desgrudam mais e estão sempre cercadas de segredos.
— Descubra o que está acontecendo e me informe
imediatamente — minha ordem soa firme.
— Ela não sai do quarto, e sempre que vou vê-la, ela parece
cansada e sonolenta. Mas, na verdade, está triste por algum motivo.
Você precisa implorar pelo perdão dela, seja lá o que tenha feito.
— Vamos parar de falar sobre Viktoria e focar no casamento da
Adrina. Por que ele foi adiado mais uma vez? Daqui a pouco, ela vai
ter a fama de rejeitada. — A preocupação da nossa avó é óbvia.
O casamento de Adrina foi adiado devido a uns problemas de
saúde que o seu noivo está enfrentando. O que é exatamente, ainda
é um mistério, já que ele está passando por uma bateria de
exames.
— Ouvi rumores de que ele está doente. O que ele tem? Ele vai
morrer? — Adrina come tranquilamente, sem demonstrar
preocupação.
— Eu sei que você não quer se casar, mas não se preocupe,
porque se o seu noivo morrer, encontrarei outro homem à sua altura
para ser o seu marido.
— É melhor me colocar em uma bandeja e me entregar ao
primeiro que aparecer. Por que preciso me casar? Sou uma mulher
bilionária, herdeira da fortuna dos meus pais. Mas do que adianta
isso, se meu primo quer transformar a minha vida em um inferno?
O drama sempre fez parte da vida dela, mas, nos últimos dias,
Adrina tem deixado de lado o preto e começado a usar cores
vibrantes, como verde e rosa.
— O rosa lhe cai bem — elogio com sinceridade.
— Eu sei disso, Viktoria também me falou. Estou usando outras
cores para ver se a animo, mas ela continua distante até de mim —
lamenta. — Justo quando consigo uma amizade verdadeira, vocês
vêm e estragam tudo, como sempre fizeram na minha vida. — Bate
as mãos na mesa, com indignação. — Eu me suicido, mas não me
caso! — grita e vira as costas para nós.
Eu sei que ela não teria coragem de fazer algo assim, mas, de
todo modo, prefiro não discutir.
— Qual é o problema do noivo dela?
Ignoro completamente a pergunta da minha avó e saio para o
galpão, para resolver assuntos sobre os Orokov.
Capítulo 24
MIKHAIL
Viktoria evita estar nos mesmos lugares que eu, como se a
minha presença a incomodasse tanto, que a afastasse para o
extremo oposto. Quando eu estou no quarto, ela é um vulto no sofá
da sala. Na hora do jantar, ela já se encontra deitada, como se a
comida não conseguisse atravessar a sua garganta. E quando a
encontro no quarto — onde ela tem feito suas refeições quando
minha avó está em casa —, ela finge que está em um sono
É
profundo; uma farsa que me dilacera por dentro. É como se horas a
menos ao meu lado fossem a única maneira de aliviar sua dor.
Essa foi a rotina desgastante dos últimos nove dias.
Nove angustiantes dias sem tocar os meus lábios nos dela.
Nove dias sem sentir o calor do seu beijo e a suavidade do seu
corpo contra o meu. E um frio penetra em minha alma por isso.
Nove dias que se esgotarão hoje.
Ao me levantar nesta manhã, realizo o meu ritual matinal: tomo
um banho quente, visto-me no closet e me preparo para sair para o
trabalho. Quero ver se minhas suspeitas se mostrarão verdadeiras.
Assim que eu fechar a porta, sei que minha esposa se levantará. O
jogo de distância que ela insiste em jogar se encerrará hoje.
Faço questão de tornar meus passos mais pesados, para que
ela sinta cada movimento meu, abro a porta e a fecho em seguida,
mas não saí. Cruzo os braços e espero o momento em que a verei se
erguer da cama.
Não levou mais de 20 segundos. Viktoria, fatalmente surpresa,
está sentada.
Tento entender o que a afasta de mim.
— Por quanto tempo mais vai ficar me ignorando? — pergunto,
entre o desespero e a calma.
— Acordei agora. Do que está falando? — Ela se espreguiça,
bocejando, exalando a pior atuação que já presenciei. Nem uma
criança acreditaria.
— Eu não sou idiota, Viktoria. Sempre que eu chego em casa,
você já está dormindo, e só desperta quando a porta se fecha atrás
de mim. Realmente acha que não sei que algo está errado? — A
pressão da impotência cresce dentro de mim. — Diga o que eu fiz,
para que eu possa me desculpar e pedir perdão. Não aguento mais
viver com essa indiferença.
Aqui estou eu, um homem que nunca implora, perdendo-me
em um desespero antes desconhecido, oferecendo-se em sacrifício a
uma mulher cuja a presença me preenche. Esse é o castigo que,
enfim, estou pagando por ter partido tantos corações, sempre sem
temer o que poderia causar.
Eu dizia a mim mesmo que nunca me apaixonaria, e aqui estou,
perdido.
Eu afirmava que nunca suplicaria pelo perdão de uma mulher, e
cá estou, pronto para isso.
— Você não fez nada — seu tom é pesado e de desânimo. Em
seguida, seus olhos reviram.
É como se uma dor grosseira estivesse tão entranhada nela,
que ela não suportasse ouvir a minha voz.
— No dicionário das mulheres, “nada” significa tantas coisas,
menos nada.
— Você não vai se atrasar? — seu questionamento é um claro
desejo de que eu fuja como uma barata que se afasta da luz.
— Não sairei deste quarto até que você me diga o que está
acontecendo. Sinto a sua falta, princesa. Vai me dizer que não sente
a minha?
Minha provocação falhou, não obtive retorno.
— Pode se aliviar com outras mulheres, se está tão necessitado
assim — sua sugestão me atinge como um punhal. Estou perplexo,
chocado.
Viktoria realmente perdeu a razão? Como pode sugerir isso,
quando eu, desde sempre, dedico-me a ela, a única mulher que
amo?
— Está louca? Outras mulheres? Por que diabos eu faria isso,
quando a minha linda esposa dorme ao meu lado todas as noites?
Contendo as lágrimas que ameaçam brotar, ela se levanta,
como se buscasse escapar para se trancar no banheiro. Em um
movimento rápido como o de um leopardo, eu a agarro. Ela resiste,
tentando se afastar. É a luta de uma presa desesperada tentando
fugir do predador. Sinto tristeza por não poder, simplesmente,
abraçar a minha mulher.
— Está chorando, bonequinha? O que está acontecendo? — em
minha voz há uma mistura de confusão e necessidade.
Levanto as mãos, mostrando-lhe que não quero mais segurá-la,
se ela não quiser. O silêncio me machuca mais que qualquer coisa,
enquanto as lágrimas dela deslizam lentamente.
— Foi a minha avó? — Seguro a sua mão com carinho e a beijo
suavemente.
Seus olhos, vermelhos e inchados, destroem-me por dentro. Fui
eu que a deixei assim?
— O que minha avó fez? — insisto, disposto a enfrentar
qualquer verdade que vier.
— Sua avó não fez nada — sua voz falha entre os soluços.
— Então, quem te deixou assim? Me diga o nome, e eu farei
com que essa pessoa arda no inferno.
— Ninguém fez nada. — Ela se afasta, tentando escapar de me
dizer a verdade.
Porém, eu a abraço por trás e a seguro firme, como uma
sombra e um abrigo contra a dor que a envolve. Quero ser o seu
escudo e impedir que qualquer lágrima derrube sua essência.
— Fale o que te deixou assim. Não esconda nada de mim,
princesa.
A dor sufocante a envolve, e isso me deixa nervoso.
— Me solta, por favor… — ela pede, com a voz tremendo.
Imediatamente, separo-me dela. O seu olhar busca o meu,
cheio de medo. Sinto que qualquer passo em falso pode
desencadear uma tragédia. Conheço bem aquele olhar; é o mesmo
que, tantas vezes, já presenciei nos olhos dos que temem pela
própria vida. Agora, a minha esposa carrega o mesmo pavor.
— Está com medo de mim? — Não quero que ela sinta isso;
meu coração não aguentaria.
— Você me assusta muito — ela responde sinceramente.
— Então, a culpa por você estar assim é minha? O que eu fiz?
Juro que não sei, bonequinha. Me diga.
— Eu só quero ficar sozinha…
Seguro sua mão e a puxo com suavidade, enquanto ela se
mantém firme e relutante.
— Não vou soltar você. Sua indiferença me aflige. — Atraio-a
para mim, sentindo o meu coração disparar.
Estou impotente diante de uma mulher assustada que teme a
quem ama.
— Sinto sua falta, Viktoria. — Inalo o aroma intoxicante do seu
cabelo. — Do seu doce perfume — minha voz, rouca e intensa,
revela o desejo que despertou em mim; não apenas o físico.
Viktoria é o meu ar, o meu amor, a minha princesa.
— Não cheira o meu cabelo — ela pede, aflita.
— Da sua pele macia… Eu sinto falta de tudo. — Beijo o seu
ombro delicadamente, que está quase desnudo sob a camisola
branca.
— Para… Você vai sentir náuseas com o meu cheiro — ela fala
como se uma repulsa pudesse ser gerada em minha mente.
Vejo-a se afastar de mim, tendo a consciência de que me
revelou mais do que deveria. Evidentemente, algo pesa sobre os
seus ombros, e aqui compreendo a razão de sua conduta.
Engulo em seco. Ver a dor nos seus olhos e o seu corpo se
esquivando de mim causa-me uma dor incomparável. Nunca senti
algo tão profundo. Nem mesmo quando uma bala atravessou o meu
corpo pode ser comparado a isso. Viktoria está assim por minha
culpa, por palavras que lançaram sombras entre nós.
— Viktoria… — Eu avanço um passo, mas ela recua
rapidamente, com os olhos cheios de temor.
— Não diga nada. Não diga nada. — Ela seca as lágrimas do
rosto, mas é em vão, porque elas logo se renovam.
— Você ouviu — afirmo.
O silêncio que se segue é quebrado por novos soluços, sons
que despedaçam o meu coração.
— Ouvi, sim — a sinceridade ressoa em meio à fragilidade.
— Olha… Seja lá o que ouviu, posso explicar.
Como vou explicar que tudo que eu disse foi uma tentativa de
protegê-la da crueldade da minha avó?
— Não precisa explicar nada. Não se justifique, eu sou apenas
a esposa que você comprou. A garota irritante que fala demais e que
te aborrece. Perdão se o meu perfume te causa náuseas. Perdão se
sou difícil para você. Pensei que gostasse de fazer amor comigo. —
Ela mergulha em mágoas, tanto que sua última frase saiu quase
inaudível.
— E tem razão: eu amo fazer amor com você — minha
convicção fervilha em cada sílaba. — É a única coisa que realmente
amo nesta vida.
— Eu juro que não entendo. Se sou tão irritante e
desinteressante assim, a ponto de você precisar se esforçar para
conseguir desempenhar um bom papel na cama, talvez não devesse
ter se casado comigo. Não sabia que eu era 17 anos mais jovem?
Uma criança, como disse. — O tormento e o desespero se refletem
em seus olhos.
— Você não é uma criança — falo com firmeza, embora saiba
que minhas palavras soam vazias para ela.
— Mas você falou isso. Uma criança medrosa. Meu Deus! Deve
me achar uma tola. Na nossa primeira vez, eu totalmente ingênua e
falando um monte de asneiras que minha mãe tinha plantado em
minha mente. Deve ter rido muito de mim depois.
— Eu não ri. Jamais faria isso. Eu te respeito, até mesmo nas
suas ingenuidades mais absurdas.
— Não precisa mais esconder nada, Mikhail. Tudo bem. Eu sei
que estou aqui apenas para carregar os seus herdeiros, e nada mais.
Devo te agradecer pela vida confortável que me oferece. Muito
obrigada, senhor Alekseeva, por tanto luxo — a ironia em sua voz
quebra algo dentro de mim.
— Princesa…
— Pare de me chamar assim! Eu odeio falsidade. Realmente me
surpreendi com o quanto você atua bem. Cheguei a pensar que,
talvez, seria possível eu ser feliz neste casamento. Eu, toda boba,
abrindo o meu coração para você, me apaixonando por você… Que
tola… Amando você com tanta sinceridade e com uma intensidade
que me consumia.
— É tão bom ouvir essas palavras saindo dos seus lábios. —
Um sorriso brota em meu rosto, mas só causa confusão nela. — Fala
de novo que me ama — peço, com a esperança ardendo no peito.
Ela não sabe o quão vulnerável me sinto diante do seu amor. As
pessoas à minha volta já estão começando a perceber isso, e,
somente por esse motivo, eu disse todas aquelas palavras que a
magoaram.
— E você se atreve a pedir isso? Para rir de mim com sua avó
depois? — A raiva que Viktoria sente de mim agora torna impossível
que eu a convença de que não me sinto como ela imagina. — Dizem
por aí que você não tem coração, e nem uma alma. Que pena que
estou presa a você. Vamos viver mais um tempo juntos e, quando
vocês estiverem cansados de mim, me matarão e me descartarão.
A desilusão é o maior dos seus tormentos, e até mesmo a ideia
que ela tem de que eu possa matá-la. Eu jamais faria algo assim
com a mulher que amo.
— Se para você é tão difícil assim ter que dormir comigo, por
que não tenta me engravidar de outra forma? Uma fertilização in
vitro te pouparia muito esforço e você não precisaria me seduzir
mais — ela dispara, impulsiva e fora de si. Isso é como uma flecha
atingindo o meu coração.
— Viktoria, me escute, por favor. Precisamos conversar e
esclarecer o que você ouviu.
— Que mentira vai me contar agora? Do jeito que sou boba,
não precisará nem se esforçar tanto. Acreditei que também estivesse
se apaixonando por mim, assim como eu me apaixonei por você,
apesar de nosso pouco tempo juntos. Para você é tão simples
enganar uma mulher com tamanha intensidade, e eu devo ser a
mais tola de todas.
— Não fale assim de si mesma.
— E como eu devo falar? Cada momento que vivemos foi uma
mentira. Você mal consegue esperar para ter seus filhos e me
eliminar de uma vez.
— Droga! Viktoria, não deveria ter ouvido atrás da porta. —
Viro-me de costas para ela, evitando os seus olhos. A dor se
manifesta em meu peito. — Olhe para mim, baby. — Toco em seus
ombros, forçando o seu olhar a encontrar o meu. — Você precisa
acreditar em mim. Tudo que ouviu não é verdade.
Ela permanece calada, como se já tivesse desistido de mim há
muito tempo. Durante todos esses dias em silêncio, sofria por algo
que não corresponde ao que eu realmente sinto.
— Fale comigo, baby — eu imploro, e a angústia transborda em
minha voz.
— Falar o quê? O que quer que eu diga? Posso ter sido idiota
esse tempo todo, mas agora não serei mais. E, por que estou
falando tanto? Para você, minha voz é irritante. Você não suporta
me ouvir falar. — Seu olhar fixo no chão denota a sua culpa por não
conseguir ser contida.
— Sua voz é a mais linda e doce que já ouvi.
— Chega! Não precisa mais mentir para mim.
— Eu não quero o seu silêncio. Não quero que você fale menos.
Por favor, sempre fale. Me conte sobre os seus medos, sobre as suas
inseguranças e também sobre as suas alegrias. Porque você é a
mulher da minha vida, minha esposa, meu amor, minha princesa.
Sempre fale comigo, mesmo quando eu estiver cansado. Não me
deixe dormir sem ouvir sua voz. Ela é a melodia que preenche o
meu vazio.
Viktoria me olha, desconfiada, descrente de tudo que eu disse.
Então, começo a me lembrar do que falei naquele dia. Ela também
ouviu a parte que falei sobre as mulheres na minha última viagem?
— Acredite em mim quando digo que te amo e que você e o
filho que espera em seu ventre são as únicas preciosidades da
minha vida. Não tenho outras mulheres. Não há nada além de vocês
para mim. Vocês são os meus diamantes.
Por um momento, Viktoria para, como se eu tivesse falado algo
absurdo. Eu sorri ao confessar que sabia que ela estava grávida.
Descobri há dois dias, mas já desconfiava, devido à sua mudança de
humor. Também, o apetite dela está mais intenso e ela sempre
parecia querer me contar alguma coisa. Foi então que encontrei o
teste escondido no cofre do quarto. Ela me disse que nunca mais
abriria aquele lugar. Quando precisei pegar uns papéis que estavam
lá, eu o encontrei. Minha esposa está grávida e espera um filho
meu.
— Você sabe? — Ela está surpresa e tensa — Como soube?
— É a minha mulher, Viktoria. Acha mesmo que eu não
perceberia algo diferente em você? Não sabe o quão feliz essa
notícia me deixa.
— Imagino. E se forem gêmeos, será mais fácil para você se
livrar de mim em pouco tempo. Três anos casados comigo é tempo
demais para… — Eu silencio os seus lábios com um selinho e, no
mesmo instante, ela se cala.
— Não quero ouvir, nunca mais, você falar essas coisas. Eu não
vou me livrar da minha esposa. Entenda isso. Sei que não posso te
provar agora que digo a verdade, mas saiba que estou fazendo tudo
isso para proteger você e o nosso filho. Por enquanto, quero que vá
ao médico e tome todos os cuidados em segredo. Nem mesmo a
minha avó deve saber que você está grávida. Tudo bem? — Ela
assente, apreensiva — Você já me fazia o homem mais feliz do
mundo, e agora, que serei pai, não imagina o quão alegre estou.
— Vamos ver se sua felicidade ainda existirá se o bebê for uma
menina, e não um menino.
— Cuidarei de tudo para que o nosso bebê nasça em um
mundo seguro, independentemente do sexo. — Beijo a sua mão,
grato a ela por essa felicidade. — Prometo que vamos conversar
mais sobre esse assunto, mas, por favor, não pense mais nessas
coisas. Eu te amo, e amo somente você. Olhe para o meu sorriso
por saber que você está grávida. Acha mesmo que não amo vocês?
Viktoria me encara como quem quer enxergar de verdade o que
sinto. Pode ser difícil para ela acreditar agora, só que me
empenharei em deixar ela e o nosso filho sempre seguros e
protegidos. É uma promessa.
Capítulo 25
VIKTORIA
Meu coração está em um turbilhão de emoções, como um mar
revolto. De um lado, há a Viktoria sonhadora, deslumbrada de amor
por Mikhail e pronta para acreditar em tudo que ele disse; do outro,
há a Viktoria ferida, que ouviu o seu desprezo ecoar.
“Eu a odeio.”
“Ela me dá nojo.”
“Dormir ao seu lado é um tormento.”
E, em uma terceira camada, há a Viktoria que suspeita que ele
pode estar me enganando após ter descoberto que estou grávida.
Na noite passada, enquanto ele acariciava a minha barriga quando
eu dormia, um sussurro suave me despertou. Ele conversava com o
nosso bebê ainda tão pequeno.
— O papai precisa convencer sua mãe a acreditar nele. O amor
que sinto por ela transborda. Ela não pode sequer cogitar me deixar.
Eu nunca permitirei isso. Mas, também, não quero que ela viva ao
meu lado se não acreditar na profundidade do meu amor. Estou tão
feliz por você, bebê, e não me importa se é um menino ou uma
menina. Saiba que já te amo profundamente, porque é filho do amor
da minha vida.
Essas palavras suavizaram o meu coração, enchendo-o de calor,
antes de eu voltar a dormir. Eu tinha pedido para que ele me
deixasse dormir sozinha mais cedo, mas a sua súplica me atingiu.
— Eu não consigo dormir longe de você, princesa. Não me peça
isso.
Foi uma imploração disfarçada de teimosia. Ele é um mentiroso.
O que mais dói é a ferida deixada pelas suas palavras cruéis, sendo
elas verdade ou não.
— Mas você ficou fora em todos esses dias. Aposto que não
dormiu nada — digo, sentindo minha paciência se esgotando.
Meu lado áspero e nada gentil o fascina tanto, que ele me olha
com bastante intensidade, deixando-me desconcertada.
Esse maldito olhar sedutor.
— Você não pode me deixar em paz? Tudo bem. Então, vamos
fazer assim: você dorme no chão, e eu na cama. Não me faça sentir
raiva, Mikhail, eu estou grávida. Se você se importa pelo menos com
o seu filho, faça o que peço.
Eu tento desvendar as suas intenções, mas os seus olhos não
revelam nada sobre o que sua boca disse à sua avó naquele dia.
Então, ele dorme no chão, mesmo que isso machuque as suas
costas. Pegou um travesseiro da cama e se acomodou lá. Não sinto
pesar pela minha decisão, porque ele não merece a minha
compaixão agora.
Contei à Adrina sobre a conversa que ouvi entre ele e a avó.
Estranhamente, ela não parece chocada, e sim serena.
— Ele te ama — ela garante, com uma fé inabalável.
Não lhe revelei o segredo que descobri sobre a morte de Sasha.
Elas eram muito próximas, e eu não quero magoá-la. Pelo menos
não antes de conversar com Mikhail.
Adrina confia na lealdade do primo, mesmo o odiando por ele
querer casá-la. Agora, por saber que seu noivo está doente, a
preocupação dela com o casamento parece ter se dissipado. Acho
que, no fundo, está torcendo para que essa doença o afaste da
união. Não a julgo. Se eu estivesse em seu lugar, talvez faria o
mesmo. Quando me venderam para Mikhail, eu me senti como se
tivesse sido capturada em uma teia. Sabendo que ele era o pakhan,
eu entendia que uma revolta era uma opção muito perigosa.
— Em primeiro lugar, o meu primo te ama profundamente — a
confiança em sua voz não deixa espaço para dúvidas. — Ele não
disse aquelas coisas para te magoar, mas para te proteger. A vovó
pode ser um monstro quando quer, e você sabe disso. — A
indignação em seu olhar parece esconder palavras que ela não sabe
como dizer. — Você precisa confiar nele, acalmar os seus nervos e
não pensar mais no que ouviu. Viktoria, pelos céus! Mikhail te ama
loucamente! Acha mesmo que ele teria coragem de te machucar?
Sim, há uma sombra de dúvida em meu coração.
Os rumores sobre o passado dele como “o assassino da esposa”
ainda pesam sobre mim, mas eu não quero trazer isso à tona. Meu
olhar, no entanto, fala por mim.
— Vik, eu sei que os boatos rondam o seu marido, mas o que
você ouviu sobre a morte de Sasha não é verdade. Ele não teve
responsabilidade nisso — ela assegura, com uma determinação
evidente. — Se tivesse tido, eu o odiaria muito; pode acreditar.
É um fato: Adrina não consegue esconder o seu desprezo
quando tem certeza de algo.
— Estou juntando provas há anos para provar que ele não foi o
responsável, e quando eu descobrir quem foi, não hesitarei em
expor essa pessoa, não importa quem seja.
Sei que Mikhail desconfia da avó, mas agora não é o momento
certo para eu mencionar isso. Não assim, movida pela dúvida e pela
decepção.
O meu coração luta contra a crença total em relação às
palavras que ouvi. Não posso ser tão ingênua e me deixar levar pelo
desejo de acreditar nele, mesmo amando-o intensamente. Mas se
ele fez tudo isso para me proteger, é o melhor dos maridos,
defendendo-me da sua avó e fazendo o possível para que ela não
tente contra a minha vida.
— Seu casamento foi adiado mais uma vez — mudo de
assunto, tentando me distrair.
— Não desejo que ele morra, mas se morrer, não vou chorar
por isso. Você me entende. Porém, sei que encontrariam outro
homem para mim. — Revira os olhos. — Aliás, está tão linda hoje.
Há um brilho diferente em você. Eu não sei o que é, mas isso te
deixa muito mais bonita.
A aura da gestação; já ouvi muitas mulheres falarem sobre isso.
Agora, que estou grávida, pode ser que eu esteja mais bonita.
Vim ao hospital para realizar exames de rotina e iniciar o prénatal. A equipe médica, composta por um doutor e uma doutora, é
formada por um casal especializado em partos. Suas expressões me
passam uma segurança inigualável, contudo, a ansiedade e o
nervosismo me consomem, pois estou prestes a ser mãe pela
primeira vez.
Na primeira ultrassonografia, vejo o pequeno feto se formando
em meu ventre; uma vida tão frágil e delicada. Mikhail está ao meu
lado, olhando para a tela do computador como se tivesse encontrado
o seu maior tesouro. O brilho em seus olhos é de pura emoção. Ele
está pronto para viver essa nova jornada ao meu lado.
O gel frio em minha barriga me faz cócegas, só que eu mal
posso conter a minha felicidade.
— A gestação parece ser de 11 a 15 semanas — informa a
médica. — O sexo do bebê ainda não pode ser visto; ainda levará
algum tempo.
Ouvir o coraçãozinho do nosso bebê bater dentro de mim faz as
lágrimas escorregarem pelo meu rosto. É o meu primeiro filho. O
medo que eu sentia, desaparece, pois confio plenamente na equipe
médica. Ver Mikhail tão emocionado e orgulhoso faz todas as minhas
dúvidas sobre ele desmoronarem.
Seu sorriso reflete muito mais do que satisfação; é amor,
carinho e confiança. Ele se inclina e beija suavemente a minha testa,
como se dissesse um silencioso “obrigado”.
Ele quer manter a minha gravidez em segredo; não porque não
confia em Adrina, mas porque, como ele diz, as paredes têm
ouvidos. É melhor que esse segredo permaneça entre nós e a equipe
médica.
Depois de limparem o gel da minha barriga, Mikhail me ajuda a
sentar na cama. Ficamos a sós. Seus olhos, profundamente fixos nos
meus, dizem o que palavras não podem transmitir. Envolvo meus
braços em torno do seu torso musculoso, desejando ardentemente
que ele cuide do nosso bebê e o proteja por toda a vida. O calor do
seu corpo é um abrigo que preenche o meu.
Neste instante, um pensamento se fixa em minha mente:
“Fomos feitos um para o outro”.
— Eu te amo, Viktoria. Nunca duvide disso, bonequinha — ele
sussurra ao meu ouvido. — Não há nada que eu não faria por você.
Consegui sentir sua paixão impregnada em sua voz rouca.
Mikhail não é um homem que costuma mentir. Ele sabe como
conquistar uma mulher, e não precisa de trapaças para isso, mesmo
que o seu começo comigo tenha sido envolto por segredos.
— Você faria qualquer coisa por mim mesmo? — Meu coração
pulsa, em expectativas.
— Sim, qualquer coisa; sem hesitar. Você pode não acreditar
em mim, por causa do nosso início, mas eu também me enganei,
Viktoria. Fui o maior dos enganados. — Seus olhos revelam uma
sinceridade que me encanta.
Inclinando-se lentamente, ele apoia as suas mãos na cama e
olha profundamente nos meus olhos, expondo suas emoções mais
íntimas; muitas das quais eu nunca tinha visto.
— Eu te amo mais do que a minha própria vida. Amo mais do
que a máfia, que sempre acreditei que fosse o mais importante para
mim. — Ele ri como se estivesse se condenando por ter tido essa
ideia. — Eu estava errado. Quando me disseram que você era uma
garota 17 anos mais jovem que eu, pensei que seria fácil te ignorar,
mas quando te vi no altar, linda como uma estrela cadente, o meu
coração disparou. — Sua revelação faz o meu espírito vibrar de
alegria. — Depois vieram as nossas núpcias, e eu não conseguia
entender mais como poderia viver um minuto longe de você. Eu
queria você ao meu lado em todos os momentos. Quando acordava
e não te via, caía em desespero e te procurava como um louco.
Como pude passar tanto tempo sem te ter na minha vida? “Estou
doente”, eu pensava. Até procurei um cardiologista. Quando ele me
disse que o meu coração acelerava por amor, eu ri por saber que
esse era o motivo, porque antes me achava incapaz de amar. —
Mikhail para, adotando uma outra postura, imitando o seu médico.
Isso só me faz amá-lo mais. Ele é engraçado, e esse lado dele é
apenas para mim. — “Não é problema de saúde, o senhor está
apaixonado. E não existe remédio que possa eliminar essa sensação.
Aconselho que vá para casa, compre flores para sua esposa e a faça
feliz.”
Rimos juntos. As gargalhadas que ressoam entre nós são como
a música mais doce que poderia existir.
— Não ria, eu pensei que estivesse morrendo. Meu coração
nunca havia acelerado tanto por causa de uma mulher. Você foi a
única a despertar essas emoções em mim e a me fazer, realmente,
querer amar. Felizmente, eu não estava doente, estava apaixonado
— ele brinca. — Pensei que poderia me curar do amor, mas, na
verdade, não quero isso, nunca. Quero te amar por toda a minha
vida. E, por isso, precisei falar tudo aquilo à minha avó. — Agora ele
chegou a uma parte tensa. Começará a me revelar muitas verdades.
— Minha avó matou Sasha.
— Eu sei; ouvi quando ela disse isso. Que crueldade! —
exclamo, sentindo pena da pobre moça. — Por que você assumiu a
culpa?
— Quando aconteceu, eu não soube de imediato. Demorou um
tempo até eu descobrir que tinha sido ela. Quando a pressionei, ela
não negou, mas a fama da culpa já estava comigo e os Salvatore já
queriam a minha cabeça. — Que tristeza. — Eu não amava Sasha, o
nosso casamento foi uma aliança entre duas famílias da máfia, mas
eu não queria que ela tivesse terminado os seus dias daquela
maneira. Quando minha avó descobriu que ela não podia ter filhos,
decidiu se livrar dela de uma vez por todas. Envenenou Sasha,
cúmplice de um médico que garantia que ela estava doente. A prova
que tenho contra ela é a sua própria confissão, mas não posso
incriminá-la. O médico em questão morreu alguns dias depois da
morte de Sasha, misteriosamente. — Com certeza, Etevlania matou
o médico para se livrar das provas contra si. — Meu pai me pediu,
em seu leito de morte, para cuidar dela. Estou entre a cruz e a
espada, cumprindo um juramento a ele que não quero quebrar. Mas
juro que vou me vingar pelo assassinato de Sasha. Ela era boa
comigo e respeitosa. Graças ao seu amor, bonequinha, que trouxe
luz aos meus olhos, farei com que minha avó pague. Por isso, nós
vamos nos mudar de casa. Não te quero vivendo sob o mesmo teto
que ela; não considero seguro.
— Ela pode querer me matar? Está dizendo isso? — pergunto,
assustada.
— Tudo é possível quando se trata dela.
Eu nunca simpatizei com Etevlania, desde o nosso primeiro
encontro, quando ela disse que eu servia para o seu neto.
— Só de pensar que foi ela que nos uniu nesse matrimônio… —
Chega a ser estranho.
— O único acerto da vida dela. — Nisso, eu tenho que
concordar.
— Quando vamos nos mudar?
— Nesta semana. Mas não se preocupe, eu estou vigiando cada
passo dela. Ela não vai tentar nada contra a sua vida.
Por esse motivo, ela não tem acesso às câmeras de segurança?
Para que não possa fazer nada sem que ele possa ver?
— Então, você finge que não me ama para me proteger
realmente — constato.
— Eu te amo mais do que a minha vida. Perdão se minhas
palavras te feriram; não era para você as ouvir.
Sorrio, abraçando-o mais uma vez. Eu fiquei tão nervosa com a
gravidez, sem saber como seria a reação dele, mas agora o sinto tão
poderoso ao me abraçar, como se fosse o meu escudo humano.
Eu o amo.
— O que você mudaria em mim? — É um teste para eu ler o
que seus olhos dirão.
— A única coisa que eu mudaria em você, já mudei quando nos
casamos: o seu sobrenome — sua boca fala aquilo do que o coração
está cheio. Sorrio, emocionada com sua resposta. — Acredite em
mim: eu amo que leia até tarde da noite e me conte, entusiasmada,
sobre o casal do livro apaixonado, feito um para o outro. Amo que
fale muito. Não me canso de ouvir sua voz, e peço que nunca fique
silenciosa. Amo até o maior dos seus defeitos. Amo tudo que há em
você.
Ele pode ser o “urso da neve de Moscou”, mas não é assim
comigo. Acredito na sua verdade.
Capítulo 26
VIKTORIA
Minha mãe me procurou, pedindo dinheiro. Não estou surpresa.
Ela está assustada e o seu olhar transborda medo e insegurança.
Algo está acontecendo. Não faz muito tempo que Leonad exigiu que
eu pagasse as dívidas dele, e agora ela veio até mim. Viemos para o
jardim, onde costumo tomar chá da tarde com as senhoras da máfia.
— Está me pedindo 10 milhões como se fosse troco de 100,
mãe.
Ela só me procura quando quer algo. A mesada de 500 mil não
cobre as suas necessidades?
— Você tem esse dinheiro, filha, é uma mulher bilionária.
— Mikhail tem esse dinheiro — lembro-lhe.
— Sabemos perfeitamente que tudo que é dele, é seu. Por que
fala como se não fosse?
— Eu não disse isso, apenas mencionei que, se eu precisar
retirar todo esse dinheiro do banco, ele vai querer saber a razão;
não por controle, mas porque nunca gasto uma fortuna sem um
motivo relevante.
Ela está visivelmente apreensiva. Eu sei que esse dinheiro não
seria para ela, e sim para o meu irmão.
— Em que problema o seu precioso filho se envolveu dessa
vez? — Cruzo os braços, aborrecida.
— Não é para Leonad, é para mim.
A quem ela pensa que está enganando? Levanto uma
sobrancelha, desconfiada, e a vejo calada, abaixando o olhar para o
chão. Algo a está fazendo agir de maneira estranha, porque ela
nunca havia abaixado a cabeça para mim. Agora, a situação é
diferente: o dinheiro está comigo, do meu lado, e, pela primeira vez,
eles precisam de mim.
— Viktoria, tudo que você tem é graças a mim. Eu te casei com
Mikhail e fui responsável por te ajudar a sair de casa. Por que está
agindo assim? Você nunca foi soberba.
Não se trata de ser soberba; acontece que eu sei que, se eu
arrumar esse dinheiro, eles virão, mais vezes, pedir ajuda para mim.
Em uma das últimas vezes que vi Leonad, ele me bateu, como se
fosse o meu dono. Nunca o perdoarei pelas atrocidades que
cometeu contra mim. Como já falei, ele pode morrer, que eu não
pagarei suas dívidas.
— Me vender uma vez não foi o suficiente. Mikhail quitou todas
as dívidas da nossa família, e o que vocês fizeram? Repetiram os
mesmos erros. Portanto, não vou pagar mais as sujeiras do meu
irmão. Mesmo que ele esteja correndo risco de vida, não verá a cor
do meu dinheiro. Posso até pegar todo o valor que temos, mas não
farei isso por vocês. — O nó em minha garganta não é por eu não
querer ajudar, mas por saber que eles me veem apenas como um
banco. — Mãe, a senhora não se preocupa nem em perguntar como
estou ou se sou feliz neste casamento.
— Claro que você é feliz; basta olhar para todo esse luxo.
Dinheiro não é a única coisa que me importa, mas, para ela, é
tudo.
— Sou feliz, mãe, mas não porque tenho uma vida luxuosa e
um marido bilionário. Sou feliz porque me casei com um homem que
cuida de mim e me ama como sou. A única coisa que ele mudou em
mim foi o meu sobrenome. — Sorrio, boba.
Ela me olha como se amar fosse um pecado. Não acredita
nesse sentimento, já que nunca amou o meu pai. Casou-se com ele
por interesse, e quando perdemos tudo, arrependeu-se
amargamente dessa decisão e culpou o meu nascimento pelo nosso
azar.
— Mãe, por favor, não me procure mais se não tiver um bom
motivo. — Levanto-me e a convido, gentilmente, a sair.
— Vai deixar o seu irmão ser morto pelo seu orgulho? — Ela
está revoltada.
— Não é pelo meu orgulho que ele vai morrer, mas pela
ambição dele e pelo mau-caratismo que tem. Ele já me feriu muitas
vezes, e a senhora nunca se preocupou com isso antes.
— Por que acha que te casei? — joga na minha cara. — Para
que ele nunca mais pudesse chegar perto de você.
— Digamos que todos se beneficiaram com o meu casamento,
então não foi apenas para me proteger. Você que quer acreditar que
isso foi tudo, mãe. Sempre amou mais o meu irmão do que a mim, a
ponto de não enxergar que ele merecia ser preso e pagar pelos
crimes que cometia contra mim. E só Deus sabe contra quantas
outras pessoas. — Respiro fundo, cansada de tudo. Minha família
suga as minhas energias. — Clarice, a filha da empregada doméstica
que desapareceu quando eu era criança… Foi ele que a matou?
O silêncio dela entrega tudo.
Eu era ingênua na época. Só vim entender esse caso depois
que me casei e parei para pensar. Eu e Clarice tínhamos quase a
mesma idade e a mesma cor de cabelo e altura. Leonad deve ter
abusado dela, fantasiando que era eu, e, provavelmente, matou-a.
Meu peito sempre se aperta quando me lembro de que não pude
fazer nada para evitar isso.
— Mãe, vou contar tudo para Mikhail. E peço que a senhora vá
embora se não quiser perder a sua vida também. Já te protegi uma
vez naquele dia em que me bateu, e não sei se poderei fazer isso
novamente.
Doeu falar essas coisas, mas tomei uma decisão: não vou
permitir que Leonad machuque mais ninguém. Quando o meu
marido souber o que ele fez comigo, a vida dele estará em suas
mãos, e a morte dele será certa.
— Viktoria, não faça isso. — Ela fica de joelhos, incapaz de
controlar as lágrimas de medo por saber que perderá o seu filho —
Ele é o seu irmão…
— Ele não é o meu irmão — asseguro-lhe. — Um irmão não se
comporta como ele se comporta. E não permitirei que ele machuque
mais ninguém.
Ela não sabe o quão terrível é como mãe, contribuindo muito
para a ruína do seu filho. Ela contribuiu muito por todos esses anos.
E não será por mim, será pelo meu bebê que terei coragem de
contar ao mundo o que aconteceu comigo, para que ninguém mais
passe por esse medo de revelar tudo, porque nós, as vítimas, não
temos culpa.
— Seu filho é um psicopata, mãe, e merece pagar por todos os
seus crimes. — Minha mãe me ensinou muito a não ser como ela, e
sou grata por isso. — Vá embora e não me procure mais. Hoje corto
os nossos laços definitivamente. A senhora não é mais a minha mãe.
— Nunca mais quero vê-la, e estou com o coração partido pela
minha decisão.
O laço sanguíneo sempre nos unirá, mas não seremos mais
mãe e filha. Meu coração não a aceita como mãe. Podemos
aprender muito com as pessoas, inclusive como a não ser como elas.
O que ela não foi capaz de ser para mim, eu serei para os meus
filhos. Ela me ensinou a como não ser uma péssima mãe.
Deixo-a, chorando, para trás. O seu choro é de tudo, menos de
arrependimento. Ela teme mais pela vida do seu filho do que pela
minha segurança e a segurança de outras crianças e mulheres
indefesas. Ele é um psicopata, não merece continuar impune. Se
formos a fundo, sei que descobriremos mais crimes e barbaridades
daquele demônio.
Amanhã, minha vida mudará para sempre, a começar pela casa
nova e pelas novas escolhas que transformarão tudo. Não haverá
minha mãe, Leonad ou Etevlania para estragarem a minha
felicidade. Poderei, finalmente, viver sem as amarras que eles me
impuseram. Viverei com Mikhail porque o amo, e não porque os três
me lançaram nesse casamento, tomados por um abismo de
ambições.
Com isso, todos os laços — que nunca existiram, de fato, mas
que me alimentavam a esperança de que minha mãe mudasse —
ficarão esquecidos no passado.
— Eu sinto muito, querida. — Mikhail agora tem o coração
pesado pela minha angústia. Eu queria ter me aberto antes para ele
e lhe contado, desde o início, como me sentia em relação à minha
família. — Você quer que eu pare de dar dinheiro à sua mãe?
Ele ouviu tudo que falei sobre minha mãe nunca ter me amado.
Ainda não cheguei à parte dos abusos do meu irmão que ela
defendia, sempre encobrindo-os. Estamos deitados na cama e minha
cabeça está em seu peito, enquanto sua mão acaricia a minha
barriga. Eu só preciso disso.
— Não. Não quero deixá-la na miséria. Esse será o meu último
gesto de amor por ela.
Sento-me na cama e cruzo as pernas enquanto ainda posso
fazer isso com facilidade. Quando minha barriga crescer mais, ficará
mais difícil.
Mikhail apoia os braços na cama, olhando para mim. Ele não é
bom com palavras, mas a sua presença é a coisa mais importante
para mim em um momento como este.
— Faremos como você quiser. A última palavra sempre será
sua. — Ele é compreensivo.
— Tem algo que quero te falar… É sobre o Leonad. — Respiro
fundo. Não sinto medo de revelar o que sinto.
Confio em Mikhail. Sei que ele me apoiará e ficará ao meu lado.
Quando percebo, já estou chorando. As lágrimas escorrem até
caírem em minhas coxas. Esta é a última vez que choro por causa
deles. É uma promessa.
— Tudo bem, amor. Não posso fazer com que você esqueça,
mas sempre estarei aqui para te ouvir. — Ele segura a minha mão
entre as suas.
Até os menores gestos de carinho dele derretem o meu
coração. É assim que um homem deve se portar com sua esposa, e
essa lição, ele nunca faltou em me ensinar.
— Odeio o Leonad com todas as minhas forças. Se eu pudesse
matá-lo, faria isso. — Meus dentes rangem. Estou dominada pelo
ódio.
Mikhail era incapaz de imaginar que eu nutrisse tanto ódio pelo
meu irmão.
— Você não consegue perdoá-lo por causa do nosso
casamento?
— Não é isso. Hoje eu agradeço pelo que ele fez. Minha mágoa
não vem daí. Muitas coisas aconteceram entre nós, que me levaram
a odiá-lo com todas as minhas forças.
Mikhail, preocupado, deixa de lado a sua postura relaxada.
Agora está tenso. Ele não é capaz de imaginar o que estou prestes a
revelar, mas não espera nada bom.
— Seja lá o que aquele maldito tenha feito, juro que vou fazê-lo
pagar caro por isso.
Quando ele souber o motivo, não terá piedade nenhuma de
Leonad.
— Ele nunca foi um bom irmão, nunca cuidou de mim como um
irmão. Muitas vezes, perdia a paciência e descontava em mim;
chegou a me bater várias vezes. — Recordar-me disso ainda me
causa dor.
— Ele ousava bater em você? Por quanto tempo isso
aconteceu? — Minha respiração pesada mostra que foi por muito
tempo. — Espera… Ele já fez isso depois que nos casamos?
— Sim, ele fez — minha resposta é curta, mas cheia de dor.
— Naquela vez em que sua mãe te bateu?
— Não, foi em outro dia, quando ele invadiu a nossa casa e
entrou no meu quarto para me lembrar de que, não importava onde
eu estivesse, ele sempre encontraria uma maneira de me
atormentar.
— Como eu não consegui ver isso antes? — Ele se culpa,
sentindo que falhou comigo. Mas não foi sua culpa nem uma falha
sua.
— Ele sempre teve o controle sobre mim, Mikhail. Um controle
que eu não consegui quebrar por muito tempo. O medo que ele me
impunha era real e sufocante, e eu me sentia presa em uma rede de
manipulação e dor — minha voz treme devido ao meu sofrimento.
— Eu vou matá-lo — ele afirma, revoltado mais consigo mesmo
do que com o meu irmão em si, por não ter notado antes o que
acontecia.
Sempre tive medo de falar o que vivi por muitos anos, mas ao
lado dele, sinto que posso, finalmente, encarar esse passado. Mikhail
me mostrou uma força que eu não sabia que tinha.
— Maldito! Ele pagará com a vida por ter ousado machucar
você debaixo do meu olhar. Não há perdão para isso, Viktoria. Ele
pode ter cometido essas atrocidades quando eu ainda nem te
conhecia e não podia fazer nada para te ajudar, mas agora, depois
que você se tornou minha mulher… Isso é, simplesmente,
inadmissível e imperdoável. — Mikhail parece sentir suas emoções à
flor da pele. Está perdendo o controle diante dessa situação.
Há ainda mais a ser dito. Ele não sabe o que realmente me
atormenta mais. A parte essencial: Leonad tentou me abusar várias
e várias vezes.
Mikhail está em pé, tenso, perdido em pensamentos sobre
como pode destruir a vida do meu irmão de maneira cruel, sem um
pingo de compaixão. É algo que ele só conseguirá fazer com a frieza
que o caracteriza, e eu não irei impedi-lo.
— Eu não consigo aceitar que alguém tenha tido a coragem de
te machucar, Viktoria. Não quando conheço tão bem o seu coração
grande e amoroso.
Leonad não sabe o que é tratar as pessoas com respeito. Ele
não conhece a gentileza. Mikhail, por outro lado, é implacável e
severo com os inimigos, mas transborda de amor por aqueles que
ama. Consigo enxergar a bondade que reside dentro desse coração
endurecido que ele insiste em mostrar ao mundo.
— Por que ele fazia isso com você? — Vejo um misto de temor
e preocupação nele pela minha resposta.
Somos interrompidos por batidas na porta. Parece ser alguém
com muita urgência.
— Estou ocupado! — Mikhail grita, sem paciência.
A pessoa continua a bater. É algo importante, senão ela não
insistiria, tenho certeza.
Assinto, mostrando que está tudo bem ele ir ver, porque pode
ser algo urgente.
— Chefe, preciso falar com o senhor agora. É urgente — Tierry
avisa.
Ele não teria vindo aqui à noite se não fosse por algo
importante.
É a nossa última noite nesta casa. Quero deixar todas as
sombras do passado aqui.
— Tudo bem, querido, eu te espero aqui. E quando voltar, te
contarei toda a verdade.
— Não importa se é importante, eu não vou te deixar sozinha.
— Ele está irredutível em não querer sair do meu lado neste
momento apreensivo para mim.
— Eu não vou esquecer o que iria te falar. — Forço um sorriso.
As batidas na porta ficam mais intensas.
— Senhor, os Orokov lhe mandaram algo.
Agora sabemos que se trata de uma coisa que não pode ser
ignorada.
Mikhail está irritado com essa gente há muito tempo. Uma briga
por territórios e mercadorias que o deixa muito nervoso. Ele não vê
o momento de esmagá-los.
— Te espero aqui — eu falo e ele beija a minha testa
suavemente.
— Eu te amo. Não se esquece do que iria me falar, por favor —
ele pede gentilmente.
— Prometo — respondo, tranquila.
Seja lá o que os Orokov fizeram, deve ter sido muito grave,
para Tierry ter vindo até o nosso quarto à noite e batido naquela
porta. Nunca somos interrompidos.
Ainda estou deitada na cama, cansada. As horas passaram e o
meu marido ainda não retornou. Não sei se ele saiu de casa ou se
está no escritório. Eu queria estar com ele, pois não estou com uma
sensação boa. Desde que minha mãe saiu daqui, estou sentindo
esse aperto no peito. Mas deve ser apenas coisa da minha cabeça.
Não é como se nada ruim fosse acontecer.
Quero ir embora desta casa o mais rápido possível e me ver
livre de Etevlania e dos medos que ela sempre me causou. Agora,
que sei qual é a sua verdadeira face, temo pelo meu filho.
Amarro o robe, deixando-o folgado, e saio do quarto. Eu
caminho pelo corredor, quando, de uma só vez, todas as luzes se
apagam. Era só o que faltava. Eu já estava com o coração na boca e
o peito apertado, e agora isso acontece. Mantenho a calma,
apoiando-me na parede para não me bater em nada e me machucar.
A única luz que entra aqui vem da janela de vidro, que não ilumina
quase nada. Desejo tanto que o dia amanheça, para que possamos
sair desta casa.
Como o sistema daqui é um dos melhores do mundo, a luz
voltará em poucos segundos. Agarro-me a essa esperança. Sem o
meu celular para ligar a lanterna, espero a luz voltar. Até que um
cheiro forte invade as minhas narinas, sufocante e agonizante. O
que está acontecendo? Uma força maior me segura fortemente,
pressionando algo em meu rosto que me faz perder cada vez mais
os sentidos. Num piscar de olhos, o que já estava escuro,
desaparece em um completo vazio.
Eu morri?
Meu bebezinho…
Capítulo 27
VIKTORIA
Um gemido de dor é o primeiro som que atravessa o silêncio
opressor que me cercava. Levei alguns instantes para compreender
que esse som agonizante brotou de mim. Uma onda de dores
latejantes se espalha pela minha cabeça, como se um peso
insuportável tivesse sido colocado sobre ela. Meus olhos, pesados
como se estivessem cobertos por uma névoa densa, recusam-se a
se abrir. Um pânico começa a me consumir. O que aconteceu
comigo?
Sinto cada músculo do meu corpo dolorido, refletindo o terror
que antes tentei ignorar. Será que escorreguei e me machuquei?
Memórias fragmentadas flutuam em minha mente como sombras de
um pesadelo. Eu estava saindo do meu quarto, quando, de repente,
as lâmpadas do corredor se apagaram. Depois, um cheiro forte e
apavorante invadiu as minhas narinas quando alguém me agarrou
por trás, fazendo o meu coração acelerar, em um desespero
incontrolável. Eu não consegui gritar por socorro, as palavras se
perderam nos meus lábios e, por fim, tudo se apagou.
A luz, lentamente, está voltando a entrar em minha percepção.
Com um esforço imenso, consigo abrir os olhos. Minhas mãos estão
livres. Com as palmas, sinto a textura da cama e toco em minha
cabeça, onde a dor se concentra. Vem-me uma lembrança dolorosa
do que inalei e um pensamento aterrorizante atravessa a minha
mente: “Será que isso prejudicou o meu bebê?”
A sensação de eu estar sufocada volta, como se o ar tivesse se
esvaído dos meus pulmões.
Agora, inexplicavelmente, estou aqui. O ambiente ao meu redor
é banhado por uma luminosidade intensa, quase ofuscante. As
cortinas do quarto estão abertas, permitindo que a luz do dia invada
o espaço. O que é este lugar? É luxuoso, espaçoso e com uma vista
de tirar o fôlego. Mas nada disso faz sentido. Eu olho em volta e,
embora o conforto seja visível, os móveis são estranhos. Eu poderia
até dizer que aqui se parece com o meu lar, se não fosse pela
estranheza que permeia cada canto.
Estou em um hospital de luxo? Será que desmaiei e vim parar
aqui? Ou será que tudo foi apenas um delírio da minha mente,
enlouquecida pelo medo? Não, eu não estou louca, e este lugar não
pode ser um hospital, pois, se fosse, meu marido estaria comigo
agora.
Concentrando-me, sento-me na cama e coloco os pés no chão
frio. Eu me levanto e o meu olhar se volta para a janela, mas
quando dou um passo adiante, uma força invisível me puxa de volta.
Meu olhar se desvia para o meu pé direito. Ele está acorrentado,
como se eu fosse uma prisioneira neste inferno. Quem fez isso
comigo?
Um frio gélido percorre a minha espinha e eu engulo em seco,
compreendendo a horrível verdade: fui sequestrada. Estou em um
lugar desconhecido, acorrentada, sem poder pedir ajuda e, pior, sem
ninguém para me resgatar.
Coloco as mãos sobre a minha barriga e a acaricio com carinho,
como se pudesse transmitir ao meu bebê que estou aqui e que, de
algum modo, tudo ficará bem. Eu não sei quem está por trás disso,
mas sei que o meu marido possui muitos inimigos. Uma vingança
pode ter sido direcionada a mim, sua esposa e mãe do seu futuro
herdeiro. Porém, isso é um segredo, que agora se tornou ainda mais
crucial. Tão poucos sabem da minha gravidez: apenas o meu marido
e os médicos que cuidam de mim. Ninguém, nem mesmo Adrina,
sabe, pois eu precisava me proteger. Após aquelas palavras cruéis
que ouvi de Mikhail, para mim, tornou-se impossível confiar em
alguém, até mesmo nele.
Mas, neste instante, o meu único desejo é que ele venha nos
encontrar e nos salvar. Não só por mim, mas também por esse ser
precioso que carrego no ventre, para que ele possa, um dia,
conhecer o pai que tanto o desejou.
Respiro fundo, lutando para manter a calma. Não sei quanto
tempo se passou desde que fui raptada, mas minha barriga
roncando me revela que foram muitas horas. Também, já posso
sentir que o sol está mais alto, iluminando tudo ao meu redor de
maneira cruel. Uma ansiedade avassaladora se apodera de mim,
mas, em meio a tudo isso, preciso me lembrar de que o meu bebê
não pode sentir o desespero que agora me domina. Ele precisa
permanecer seguro.
Quem quer que tenha feito isso comigo, se quisesse me matar,
já teria feito isso; não esperaria que eu acordasse e, certamente,
não me traria para este lugar luxuoso. Algo me diz que querem me
usar como moeda de troca, como uma forma de chantagear Mikhail.
Eu guardarei o meu segredo a sete chaves, até que meu marido
venha me resgatar.
Meu coração grita desesperadamente, acreditando que ele virá
atrás de nós, desafiando a dúvida que ainda me atormenta sobre as
palavras que ouvi dele dias atrás. Seria possível alguém disfarçar tão
bem o amor que sente? Não quando esse alguém é o dono do
mundo e pode fazer o que desejar, sem precisar de permissão.
Mikhail não poderia sustentar uma mentira por tanto tempo. Ele até
foi ao cardiologista porque seu coração acelerava por mim. Nós dois
ainda temos muito o que aprender neste relacionamento e crescer
juntos.
Eu estava prestes a lhe revelar a verdade que tanto me
atormentava, mas alguém me impediu de fazer isso. E se minhas
suspeitas se confirmarem, sei que estou perdida.
O som da porta sendo destrancada ecoa em meus ouvidos.
Num impulso, envolvo meus ombros com as mãos, tentando me
proteger.
Quem quer que apareça ali, não vai me matar.
O nervosismo me abraça enquanto percebo que estou vestindo
uma camisola de seda; um vestido branco que, de alguma forma,
parece simbolizar um casamento, sendo suave e confortável, como
se tivesse sido cuidadosamente escolhido para mim.
Ninguém notaria que algo está diferente em mim, exceto
Mikhail, que conhece cada centímetro do meu corpo.
Meu coração congela, em um momento de horror, quando vejo
Leonad cruzar a porta. Um olhar sedento e maligno atravessa o seu
rosto. Meus sentidos gritam de nojo assim que percebo que ele me
observa de cima a baixo. Um fascínio doentio brilha em seus olhos.
Seu sorriso é uma marca de vitória que me paralisa.
Flashes da noite do meu casamento, de imediato, retornam à
minha mente:
— Estou te entregando a ele, mas você será minha, custe o que
custar.
Ele avança em minha direção e, a cada passo seu, sinto mais
forte a premonição da minha destruição. Quando, finalmente, ele se
aproxima de mim, os seus lábios se curvam em um sorriso ainda
mais predador. Antes que suas palavras sujas possam se libertar da
sua boca, já consigo prever o que ele irá dizer. O medo se tornou um
manto pesadíssimo a me cobrir. Apenas nós dois, eu e ele. Desta
vez, nossa mãe não está aqui para me proteger de suas intenções
malignas.
— Finalmente minha, Viktoria.
Se eu pudesse correr, sem dúvida, faria isso. Até me jogaria da
sacada para escapar dessa sua obsessão doentia. Leonad nunca se
deu por derrotado. Mesmo após ter me entregado a Mikhail, em
troca de dinheiro, ainda acredita que tem direitos sobre mim.
— Eu te disse que você seria minha algum dia. Nunca acreditou
— sua voz soa como lâminas cortando a minha pele. — Veja só
quem estava certo, no fim de tudo.
O hálito dele, impregnado com o ardor de charuto podre e
conhaque, é repulsivo. Conheço bem essa mistura, pois já a servi
para ele tantas vezes. Como ele pôde acabar assim, preso em sua
própria depravação?
— Diga algo, bonequinha. — Suas palavras são venenosas,
sendo cada sílaba uma tortura para mim. — É assim que ele te
chama, não é?
Para mim, a palavra “bonequinha” era um símbolo de carinho
que, agora, transformou-se em repulsa.
— Ficou muda, bonequinha? — Ele ri; um som insuportável. —
Vou te chamar de Viktoria, então. Ou prefere “irmãzinha”?
— Nenhum dos dois, seu idiota. — Finalmente, consegui
canalizar todo o meu desprezo e ódio.
Em um movimento rápido, ele ergue a mão, como se fosse me
desferir um golpe. Automaticamente, encolho-me, protegendo a
minha barriga, o meu bebê. Não me importo se ele atingir o meu
rosto; isso não me assusta mais.
— Infelizmente, aquele maldito implantou algo em você, mas
logo cuidarei disso. Esse bebê não vai nascer. Aviso desde já: nada
ficará entre nós dois.
Ele sabe sobre o bebê. Ele sabe sobre tantas coisas que não
deveria saber. Como teve acesso à minha casa, saiu impune e, o
principal, soube sobre o meu filho?
Meu corpo congelou e o terror se espalhou por mim quando
ouvi sua ameaça em relação ao meu bebê.
— O que você quer de mim, Leonad? — minha voz sai trêmula.
O desespero está cravado em minha alma como uma adaga afiada.
Leonad ignora a dor que carrego, vivendo em sua própria
realidade como um psicopata que não consegue enxergar a verdade.
Ele se abaixa para me olhar nos olhos e um desejo horrível se reluz
em seu olhar. Ele é um homem bonito e poderia usar a sua
inteligência para algo construtivo em sua vida, mas preferiu usá-la
para destruir a todos, até a si mesmo.
— Você — ele professa, com a voz repleta de desejo. — Eu
quero só você. — Sua mão toca em meu queixo, forçando-me a
olhar em seus olhos preenchidos por um abismo de escuridão.
— Isso é proibido — afirmo, tentando fazer com que ele
compreenda essa verdade. — Nós somos irmãos. Isso é errado, vai
contra tudo que é sagrado.
Ele sorri como se tivesse ouvido algo divertido.
— Minha querida, não somos irmãos. Eu não sou filho biológico
da minha mãe nem do meu pai. É uma longa história. — A confusão
em meu olhar o deixa satisfeito. — Você não precisa entender,
apenas saiba que não somos irmãos. O filho que nossa mãe
esperava, nasceu morto, então ela me comprou no mercado negro e
me colocou no lugar dele, para que o nosso pai ficasse feliz. Ele
morreu sem saber que eu não era filho dele. Foi enganado, assim
como todos nós. Mas a nossa mãe já foi castigada, pode ficar
tranquila.
Castigada? O que ele fez com ela? O horror reverbera em meu
peito. A loucura em seus olhos é um sinal de que ele está
completamente perdido nas trevas.
— Onde está a mamãe? — minha voz está trêmula, pois o
medo domina o meu ser.
Leonad apenas dá um sorriso gélido, sem se preocupar em me
responder.
Um aperto no meu peito se intensifica. Se ele teve coragem de
machucar a mulher que sempre o protegeu, eu serei a próxima. Se
ele foi capaz de ferir a mulher que lutou por ele a vida toda, o que
será capaz de fazer contra mim?
Se essa história for mesmo verdadeira, não somos irmãos. Mas,
mesmo assim, isso não lhe dá o direito de querer me amar, de me
possuir à força, sem o meu consentimento. Fomos criados juntos,
então deveríamos nos ver como irmãos. Porém, como eu poderia
amar alguém que nunca se preocupou verdadeiramente comigo?
Que plantou traumas em meu coração desde a infância?
— Descanse um pouco. Vou pedir que te tragam uma refeição
reforçada.
Ele se ergue, olhando para mim com um ar de superioridade.
“Se eu pudesse, mataria você”, esse pensamento domina a
minha mente.
— Leonad, me deixe voltar para casa enquanto ainda há tempo
para você. Mikhail poupará sua vida se você…
— Silêncio, Viktoria! — ele grita, lutando contra o seu
autocontrole e transparecendo sua loucura. — Se ele vier atrás de
você, eu o matarei. Mas não se preocupe, estamos muito longe do
seu marido. Ele nunca vai te encontrar. Não estamos mais sob o
domínio dele.
Com isso, ele quer me fazer acreditar que conseguimos escapar
da Rússia? Que estamos em outro país?
— Você passou a noite dormindo, e já são um pouco mais de 2
horas da tarde. Eu estava começando a ficar preocupado, porque
você não despertava, e chamei um médico.
Como um homem como ele, tão duro, sem um centavo no
bolso, conseguiu me trazer para outro país? Assaltou um banco?
Pegou um empréstimo e fugiu? Ele é capaz de tudo quando deseja
algo.
— Onde estamos? — exijo respostas ao me levantar, mesmo
com a corrente me prendendo.
— Você sempre gostou de comer peixe, não é mesmo? Eu me
lembro de que pedia sempre à nossa mãe.
— Não mude de assunto. Fale! — Eu tento avançar sobre ele,
mas a corrente me impede.
— Isso é para a sua proteção — ele diz, tentando me convencer
de que as suas intenções são boas.
Cínico. Prepotente. Como se eu não conhecesse a verdadeira
natureza dele.
— Você que deveria estar algemado aqui. Mas não se preocupe.
Quando Mikhail vier me salvar, não implorarei pela sua vida. Não
mais — é a minha última palavra.
Ele faz uma careta de insatisfação e os seus olhos piscam
freneticamente. Depois, assume uma expressão neutra de novo.
Quando ele se aproximou de mim, eu não esperava pela sua
brutalidade. O tapa em meu rosto foi tão forte, que dei alguns
passos para trás, lutando para não cair. Felizmente, evitei a queda.
Leonad é um lunático.
— Não repita o nome daquele homem! Só de saber que você
foi dele antes de ser minha, sinto vontade de te matar agora
mesmo. — Quando ele passa a mão na cintura, vejo parte do cano
da arma.
Ele já era perigoso sem uma arma. Agora, armado, pode se
transformar em um assassino em série. O tapa doeu imensamente,
mas é melhor eu me calar, pelo meu bebê. Não quero que ele
cometa uma loucura, estando tão fora de si.
— Nos vemos mais tarde, então? — sugiro, tentando não o
irritar mais.
Leonad paralisa diante da minha pergunta e um sorriso de
satisfação começa a se formar em seu rosto.
— Quer me ver mais tarde? — Agora ele se sentiu importante.
— Por favor, mande trazerem algo para eu comer. Estou faminta
— peço, com a voz embargada. — Me sinto fraca. — Espero poder
despertar um resquício de piedade nele, se é que ele possui tal
sentimento.
Mas acredito que ele ainda me queira viva, pelo menos por
agora.
— Que fique claro: a comida será para você, não para esse
bastardo que cresce dentro de você. Assim que recuperar as suas
forças, eu trarei um médico para se livrar desse verme.
Meu coração afunda em terror. A ideia de eu estar presa com
um doente mental como ele é sufocante. As possíveis ações dele são
uma constante fonte de medo para mim.
Capítulo 28
VIKTORIA
Leonad alterou o seu status social, e algo me diz que não foi de
maneira honesta. Ele, simplesmente, desconhece o significado dessa
palavra. O lugar onde estou é colossal, e posso perceber isso
quando a corrente em meu pé me permite caminhar até a janela.
Durante a noite, ela foi trocada sem que eu notasse. Eu estava
dominada pelo sono da gestação, que me deixa exausta e enjoada;
típico dos primeiros meses.
O que não consigo compreender é como ele fez tudo isso:
raptou-me e me trouxe para um país estrangeiro, além de estar
cercado por numerosos empregados e soldados armados que vigiam
o jardim. Nesta manhã, contei pelo menos 20, mas pode ser que
haja mais.
Sempre que ele entra no quarto, finjo estar cansada e passo a
maior parte do tempo deitada e sonolenta. Isso me ajuda a evitar
que ele insista na ideia de um aborto. Quando o médico veio me
examinar ontem pela manhã, disse que interromper a gravidez em
minhas condições seria arriscado para a minha saúde. Esse homem
deve ter sido enviado apenas para me conceder alguns dias a mais,
até que eu consiga escapar de Leonad e retornar à segurança do
meu lar.
Já faz mais de dois dias que estou presa aqui, com meu irmão
em um estado mental debilitado. Na verdade, não sei mais o que
somos, pois ele está perdendo a razão e me enlouquecendo com
histórias que nunca conheci antes.
Estar há mais de 48 horas aprisionada em um lugar
desconhecido, sob a responsabilidade de um lunático, é
aterrorizante, especialmente quando ele quer, a todo custo, livrar-se
do meu bebê. Leonad está persistente na ideia de me forçar a
abortar, e, para isso, trouxe outro médico hoje, que reitera a mesma
conclusão do outro.
Eu estou algemada, contudo, o médico, bem-pago, só se
importa com o dinheiro, ignorando a vida humana como se não
fosse nada. Felizmente, ele disse exatamente o que eu desejava
ouvir.
— A vida da mãe do bebê corre risco, caso opte pelo aborto no
estado em que ela se encontra. Sugiro esperar mais uma semana,
até que ela esteja recuperada e apta para tal procedimento.
Simulo uma virose, fingindo fraqueza. Tenho ido ao banheiro
repetidamente para vomitar e sentido dores no estômago. O doutor
me receita mais soros; o que não é prejudicial para o bebê nem para
mim. Os remédios que me fornecem, jogo no vaso.
— Você quer que eu corra risco de vida, Leonad? — uso um
jogo psicológico com ele. Esse homem é um insensato, que não
sabe quando está sendo enganado. — Você pode me perder se
insistir nessa ideia agora. — Mantenho a confiança, mas a verdade
é que estou apavorada pelo meu filho.
Abortar significaria nunca conhecer o meu bebezinho. Não
posso deixar esse verme perturbador vencer. Eu posso estar sob o
seu domínio agora, mas ele não vencerá essa guerra que começou
contra mim. Leonad esquece que não sou mais a ovelhinha medrosa
de antes; agora sou uma leoa, disposta a tudo para proteger meu
filhote com unhas e dentes.
Ele balança a cabeça, perdido em suas inúmeras inquietações.
O médico o olha com a expressão de quem identifica alguém com
necessidade de ajuda, mas como só almeja o dinheiro, nada faz.
O celular de Leonad toca e ele sai do quarto, deixando-me
sozinha com o médico.
— Senhor, me ajude. Eu imploro — falo apressadamente. —
Esse louco quer matar o meu bebê. Não permita isso. Ele é o meu
irmão, e está mentalmente doente. Se me salvar, prometo que será
muito bem recompensado.
Essa é minha única esperança. Preciso me apegar a ela,
agarrar-me a ela com todas as minhas forças. Esse homem
rabugento pode ser a minha salvação.
— Lamento, mas não posso fazer nada por você — ele
responde, indiferente ao meu desespero.
— Meu marido é Mikhail Alekseeva, o pakhan mais poderoso da
Rússia. Ele ficará muito grato se você lhe informar onde estou neste
momento — suplico, desesperada. — Ganhará muito dinheiro se me
fizer esse favor.
Pela sua expressão, percebo que ele conhece o meu marido.
Mesmo assim, não parece preocupado com minha vida.
— Senhora, aqui é a Itália. Os Salvatore mandam nesta região
— ele afirma, confiante.
Itália? Estou tão longe de casa assim? Um peso novo se forma
dentro de mim.
Os Salvatore. Já ouvi falar deles, mas não consigo me lembrar
exatamente.
— Seu marido não pode fazer nada por você, o seu irmão é um
aliado dos Salvatore. Sou leal a essa máfia. Aceite a ideia de que
perderá esse bebê.
— O senhor é tão insensível. Estamos falando de uma vida
inocente. Quando fez o seu juramento, não prometeu salvar todas
as vidas que conseguisse? — O silêncio dele fala por si só. — Que
juramento desprezível. Não merece ser chamado de doutor.
— Seu marido é inimigo dos Salvatore, portanto, não há nada
que ele possa fazer para te salvar.
Não sei se ele falou isso para me perturbar ainda mais ou para
tentar me fazer aceitar o meu destino.
Ele guarda as suas coisas na maleta. É um senhor de meiaidade que não demonstra preocupação em me ajudar.
Leonad retorna ao quarto, impaciente e irritado com algo que
ouviu ao telefone.
— Com licença, senhor. — O doutor sai, deixando-nos a sós.
Então, ele está aliado aos Salvatore, uma poderosa máfia da
Itália. Estamos muito longe de casa. Ele se aliou a uma máfia rival
do meu marido. Isso é traição, um crime sem perdão.
Começo a me lembrar mais desse sobrenome: Salvatore. Eles
são primos da primeira esposa de Mikhail, Sasha, que foi morta por
Etevlania. Ele levou a culpa por um pecado que não foi dele. Por
esse motivo, os irmãos Salvatore — quatro homens e uma mulher —
odeiam profundamente o meu marido e, consequentemente, devem
me odiar. Mas não entendo como eles me permitiram vir para as
suas terras. O que Leonad fez para conseguir minha presença e a
dele aqui? Sinto medo do que ele pode ter feito.
O doutor estava certo quando disse que não seria fácil para
Mikhail chegar até mim, mas ainda acredito em um milagre.
— Não se anime muito. Esse bebê será arrancado de você o
mais rápido possível e, só então, você poderá ser minha, sem
empecilhos. Não quero que nenhum outro ser esteja em você
quando eu te possuir.
Faço um esforço colossal para não deixar transparecer como
estou barbarizada com as coisas que ele profere, mas isso está
sendo quase impossível.
— Há quanto tempo sabe que não somos irmãos? — pergunto,
curiosa.
— Há muito tempo — ele responde, pensativo. — Se quer
saber, desde que éramos crianças. Ouvi, uma vez, a nossa avó
materna conversando sobre isso com nossa mãe, antes do nosso pai
quebrar e nos deixar na miséria.
O sobrenome da nossa família deveria ter sido reconstruído por
ele, mas, em vez disso, ele o afundou ainda mais, pensando
somente em si e em suas necessidades.
— Leonad, onde está a mamãe?
— No inferno, junto com o nosso pai — ele comenta, sem
remorso.
Meu estômago se revira. A relação do meu irmão com o nosso
pai sempre foi conturbada. Desde criança, ele nunca foi obediente e
vivia se metendo em encrencas. Quando o nosso pai o castigava, as
punições eram severas, e muitas vezes físicas; o que deixava Leonad
ainda mais revoltado.
— Como pode falar assim? — Estou espantada.
— Nos últimos minutos de vida dela, enquanto ela agonizava e
olhava para mim, sem poder se mover, devido ao veneno que
paralisava o seu corpo, com certeza se lamentava por ter me
adotado e amado mais a mim do que a você, filha biológica dela.
Mas já era tarde — ele diz, satisfeito. — E fiz isso por você. —
Senta-se na cama e toca em uma mecha de cabelo que está sobre o
meu rosto.
As lágrimas já escorrem dos meus olhos. Ele matou a nossa
mãe sem qualquer remorso, e agora diz que agiu assim por mim.
— Você sofria por causa dela. Ela nunca conseguiu te livrar de
mim. Não sei ao certo se me ajudou ou atrapalhou. — Ele ri,
debochado. — O que importa é que ela nunca mais poderá te
pressionar a nada. Foi por causa dela que você se casou. Aquela
velha maldita te fez pertencer a outro homem. — A raiva o domina
de tal forma, que ofusca o seu raciocínio.
Minha mãe, apesar dos seus erros, ainda era minha mãe. Não
merecia morrer dessa maneira, muito menos pelas mãos do filho a
quem ela sempre idolatrou e por quem fez tanto. No fim, ele se
tornou o seu assassino.
Leonad é um demônio, e o nosso pai percebeu isso ainda na
infância dele.
— Não chore, princesinha preciosa. — Ele tenta secar as
minhas lágrimas, mas eu viro o rosto para longe dele, apanhando
um ar, já que não posso escapar da cama. — Pense pelo lado
positivo: não temos mais uma mãe chata.
Respiro fundo, exausta de ouvir sua voz e não poder gritar o
que está entalado na minha garganta. Reprimir minhas emoções,
mesmo que por um bem maior, está sendo pior do que a morte.
Desejo socar a sua face, mas não posso nem mesmo xingá-lo.
— O que você fez com o corpo dela?
— Enviei para Mikhail. Afinal, ela morreu por causa dele. Se ele
não tivesse aceitado se casar com você, ela estaria viva. A culpa foi
dela, por ter te dado para ele.
Meu peito se aperta com a dor. Só consigo chorar, contida em
minha tristeza.
— Estamos na Itália? — questiono, receosa.
— Quem te disse? — ele indaga, tenso.
— Ninguém. Quando você atendeu ao telefone, ouvi alguém
falando em italiano na chamada, antes de você sair do quarto. —
Tento pescar uma verdade na escuridão.
— Não se preocupe com isso. Estamos em segurança e livres
do seu marido. Ele não pode te roubar de mim. Seremos apenas nós
dois. — Ele repousa a cabeça em meu colo e sua loucura me
aterroriza ainda mais. — Ninguém vai nos separar, meu amor.
“Ninguém vai nos separar, meu amor”, ele repete inúmeras
vezes, acreditando cada vez mais que me protege e que luta por nós
como se o meu marido fosse o vilão, não ele.
A dor pela morte da nossa mãe me domina.
A maneira como ele está encostado em mim, mesmo que não
me toque com suas mãos imundas, paralisa-me. Preciso encontrar
uma forma de me acalmar e não o irritar, fingindo aceitar o seu
amor doentio.
— Vou sempre proteger você, e aquele homem mau não vai
mais te roubar de mim. Ele não vai impedir o nosso amor. Não vai.
Repita isso! — ele grita a última parte, já sem paciência.
Controlando as lágrimas, respiro fundo.
— Tudo bem, você está certo. Ele não vai me tirar de você.
Fique tranquilo. — Tentei soar calma.
— Você é minha. Por favor, repete.
Ele está desesperado, buscando uma validação da minha parte,
a qual não sou capaz de lhe dar com sinceridade. Mas, como ele
está louco, também me farei de louca para sobreviver. Dizem que o
remédio para um louco é outro louco. Pelo meu filho, serei louca;
para nos defender.
Forço-me a tocar no cabelo dele. É como estar pegando em
algo pegajoso e nojento. Mas, tudo bem, farei qualquer coisa para
mantê-lo calmo.
— Vamos ter muitos filhos juntos. Não se preocupe — absurdos
continuam saindo de sua boca sebosa. — Vamos fazer muitos bebês
lindos como você. — Ele ri, convencido de que isso realmente
acontecerá.
Depois que um tempo passa, ele adormece, sereno, em meu
colo. Apenas choro, buscando um meio de escapar. Eu procuro pela
sua arma com cuidado, mas ele está sem ela na cintura hoje. Caso
ela estivesse aqui, eu seria capaz de matá-lo sem pensar duas vezes
e, assim, conseguiria fugir. O celular dele é a única coisa que consigo
pegar, mas tem um código de bloqueio que não faço ideia de qual
seja. Tento alguns, apavorada, com medo de que ele acorde. Coloco
datas importantes, como o seu aniversário e o meu. Não é nenhuma
dessas coisas. Tento tantos códigos, que o celular dele bloqueia.
Estou sem poder fazer mais nada por hoje.
Capítulo 29
MIKHAIL
Naquela noite fatídica em que a tiraram de mim, o meu coração
foi levado junto. No momento em que minha esposa mais precisava
de mim, precisei enfrentar um assunto inadiável sobre os Orokov.
Fui surpreendido em minha própria casa por uma horrenda
mensagem: uma cabeça de porco com uma bomba ativa dentro
dela. Eu me especializei em desarmar explosivos há um tempo, mas
o que eu não sabia era que isso era apenas uma distração
planejada; uma cortina de fumaça para o roubo do meu tesouro
mais precioso.
Enquanto eu desafiava a bomba com minhas habilidades de
combate, o meu tesouro estava sozinho e desprotegido, sob a mira
de um invasor astuto e perspicaz, que veio aqui, pronto para tomá-la
de mim.
Agora, encontro-me em um túnel escuro, por onde o maldito
Leonad levou Viktoria.
Imagens capturadas pela câmera de segurança de uma
propriedade vizinha exibiram o momento em que ele a arrastou,
inconsciente, nos braços e desapareceu em uma esquina, levando
consigo a esperança e a sanidade que eu tinha. Naquela hora, a
minha frustração explodiu: bati com toda a força na mesa e acabei
quebrando dois dedos. Mas essa dor não era nada se comparada à
fúria que me consumia.
Como esse imbecil ousou raptar a mulher que eu protegia com
cada fibra do meu ser? Ele conhecia cada canto da minha casa,
embora eu nunca tenha lhe dado acesso a informações pessoais. No
túnel, uma de muitas passagens secretas da casa, não tem câmeras
e leva à sauna. Foi por aqui que ele entrou e saiu sem ser visto. A
única prova que restou foi aquelas imagens.
O lugar é estreito, mas tem espaço o bastante para se carregar
uma pessoa inconsciente. Essas paredes frias e sombrias foram
cúmplices desse verme que roubou minha mulher grávida. Leonad
não levou apenas dois corpos, roubou dois corações, e pagará com a
vida por isso.
Uma semana se passou e eu estou preso em um pesadelo.
Como é possível que Viktoria tenha desaparecido do meu território
sem deixar rastros? Ela desapareceu dentro da minha própria casa,
sem que o sistema de segurança tenha registrado nada suspeito. As
luzes se apagaram e, com isso, as câmeras caíram em silêncio. Ainda
pensei, em algum momento, que ela pudesse ter escapado, mas as
imagens da propriedade vizinha me trouxeram a certeza do que
realmente aconteceu. Também, ela não conseguiria ir longe sozinha.
E nunca fugiria de mim, especialmente porque estava prestes a me
revelar a dor mais profunda que carregava; algo que ninguém mais
sabia e que nunca escutei dos seus lábios.
Em um estado de desespero absoluto, passei os três primeiros
dias sem dormir, sem me alimentar, apenas bebendo cafeína e
tomando remédios para me manter acordado. Vasculhei cada canto
da cidade em busca da minha esposa e emiti um aviso claro: quem
ousasse ferir o que era meu, não teria perdão. Mesmo sem eu ter
revelado sobre o sequestro, todos entenderam a mensagem —
amigos e não amigos.
Meu reflexo revela um homem perdido e consumido pela
angústia de não saber onde está a sua mulher, a sua princesa, e o
bebê no ventre dela. Leonad ultrapassou todos os limites, e o
propósito do seu plano é um mistério para mim.
Entro em um galpão e me deparo com algo horrendo: o corpo
da minha sogra, dentro de um saco preto, exala um odor
insuportável. Ela foi morta há alguns dias e o fedor da decomposição
é forte. O que o infeliz fez com a própria mãe só pode ser
classificado como uma monstruosidade.
Há uma carta na mão dela. Tierry se abaixa, pega-a e a
entrega para mim.
“Ela morreu por ter ousado impedir a minha felicidade com
Viktoria, a mulher que amo. E todos que tentarem tirá-la de mim
acabarão assim, como ela. Não nos procure, Mikhail. Estamos muito
longe, e você nunca mais tocará suas mãos asquerosas no que
sempre foi meu. E a vida desse seu filho bastardo está com os dias
contados. Viktoria é apenas minha.
— Leonad.”
As palavras que ele escreveu foram insanas e sem nenhum
sentido. Viktoria nunca foi dele e nunca será. Isso é a obsessão
doentia de um irmão que não consegue aceitar que ela cresceu e
encontrou um marido que a ama? Ou será algo ainda pior? Ele a vê
como um objeto de desejo? Se for assim, ele conhecerá a verdadeira
definição de dor. Não há perdão para esse tipo de sentimento. Na
verdade, nem chega a ser um sentimento, é uma doença. Um irmão
não pode amar a irmã desse modo. É sujo, pecaminoso e, acima de
tudo, impróprio aos olhos divinos. Causa-me asco pensar que aquele
verme possa amar a irmã de um modo doentio.
Quando retorno para casa, a voz de Adrina me interrompe:
— Preciso te contar uma coisa.
Esta casa, que eu tanto queria deixar, agora se tornou um
tormento. Minha mente está confusa e atormentada pela culpa de
eu não ter saído daqui antes, de não ter protegido a minha mulher.
— É verdade que Leonad raptou Viktoria? — minha prima
pergunta.
Sinto o ácido da ansiedade corroer o meu estômago enquanto
vejo Adrina roer as unhas até os ossos, algo que ela nunca fez
antes. O olhar dela me diz tudo antes que eu responda.
— Sim, foi ele.
Não lhe pergunto como ela soube, afinal, as paredes desta casa
sempre tiveram ouvidos.
— Acha que ele pode machucá-la? — Parece que o coração de
Adrina se parte só por ela imaginar tamanha crueldade.
Meu silêncio fala mais que palavras, revelando minhas
inseguranças e medos profundos. Nunca senti tanto medo de perder
algo quanto agora.
— Eu vou matá-lo. Ele vai sofrer — a promessa escapa dos
meus lábios com uma ferocidade incontrolável.
Mesmo que eu tenha que ir ao inferno para buscá-lo, ele vai
pagar.
— Não posso guardar esse segredo apenas para mim. — A qual
segredo ela se refere? — Viktoria me fez prometer que não te
contaria, porque ela mesma queria te falar, mas nunca conseguiu;
não por não confiar em você, mas por vergonha. Ela foi manipulada
por anos pela família dela.
— Que segredo é esse? — A angústia me consome.
Seria o que ela queria me revelar naquela noite?
— Leonad é muito perigoso. Ele não a vê como uma irmã. —
Eu já desconfiava disso, mas ouvir doeu. — Várias vezes, ele tentou
abusar de Viktoria. Ele a deseja como um homem deseja uma
mulher. Tenho medo de que essa obsessão possa machucá-la,
primo.
Minhas suspeitas acabaram de se confirmar. Eu tinha pensado
em inúmeras possibilidades para aquele verme ter feito isso. Havia a
chance de ele ser obcecado pela minha esposa da mesma forma que
pais doentes que não conseguem ver suas filhas crescerem. Havia,
também, a chance de ele ser um irmão que não aceitava a ideia de
ter perdido a irmã para um marido. No entanto, a possibilidade de
ele ter desejo sexual por ela? Minha mente, embora já treinada para
lidar com o pior, recusa-se a aceitar essa monstruosidade.
— Há quanto tempo você sabia disso?! Por que nunca me
contou, Adrina?! — Quando percebi, já estava gritando, fora de
mim.
Se ela tivesse me contado antes, eu poderia ter evitado esse
sequestro, eliminando Leonad enquanto ele ainda estava ao meu
alcance. O sangue ferve em minhas veias como um óleo quente.
Isso poderia ter sido evitado. Minha esposa não conseguiu se abrir
comigo, e quando estava prestes a fazer isso, alguém mandou
aquela bomba para cá, para incriminar os Orokov e colocar mais
lenha na fogueira. Pode ter sido o próprio Leonad, que se aliou aos
meus inimigos, buscando ganhar poder. Ele tentou uma aliança com
os Orokov; isso foi revelado por Pavel.
“Não quero vencer essa guerra usando os seus pontos fracos.
Vou vencê-la porque sou forte, e não porque seu cunhado estava
disposto a te trair”, ele me disse durante uma ligação na qual jurei
que o mataria se ele não me devolvesse o meu tesouro, sem revelar
que era a minha esposa.
Tenho certeza de que ele não está envolvido nisso e nem sonha
com o que está acontecendo. Com a recusa de Pavel em se unir ao
meu cunhado, descobri agora há pouco que ele procurou por uma
aliança ainda maior e mais perigosa: os Salvatore, a família italiana
que me odeia e anseia pela minha morte há anos. Eles estão na
Itália, na Sicília. O nosso infiltrado na máfia italiana não sabe muito,
só me informou sobre uma movimentação estranha em relação a um
casal recém-chegado no país.
Leonad se uniu aos meus inimigos e levou a minha esposa com
ele, ganhando poder e autoridade. Só não sei qual preço pagou por
isso.
— Eu queria ter te avisado antes, primo, mas ela não deixou;
disse que era ela que deveria te contar. Descobri acidentalmente
quando vi Leonad indo até o quarto dela e ouvi os gritos. Ele falou
que ela era dele e que um dia a teria só para si. Eu quis te contar
imediatamente, mas Viktoria não deixou. Ela sempre sentiu
vergonha por isso. A mãe dela protegia aquele verme e manipulava
Viktoria para ela acreditar que a culpa era dela por “despertar” esses
sentimentos nele.
Todo o ódio e raiva que ela sentia pelo irmão sempre me
intrigou. Ninguém se irrita tanto apenas porque se casou contra a
vontade. Além disso, ela passou a amar esse marido, mas continuou
a nutrir raiva por Leonad. Ela sempre evitava estar nos mesmos
lugares que ele e se recusou a dançar com ele em nosso casamento.
Havia um pedido de socorro silencioso em seus olhos.
Inferno! Eu deveria ter percebido tudo isso antes que fosse
tarde demais.
A relação deles parecia enraizada em inseguranças e eu já vi
pavor nos olhos dela, mas jamais imaginei que fosse por isso: por
um amor doentio que ele acreditava sentir por ela.
Eu deveria ter sido cruel com ela, não a amar, mas falhei nisso,
e sou feliz por ter falhado pela primeira vez na minha vida. Eu a amo
e a protegerei de tudo. Irei até o inferno para buscar aquele infeliz e
trazer a minha mulher de volta.
Ele sabe sobre o bebê, e a vida deles está em perigo em outro
país, sob a posse de um doido. Imagino o quão assustada ela
esteja; mais pelo nosso filho do que por ela mesma. Eu a conheço
bem demais para saber disso. Viktoria sempre coloca as outras
pessoas em primeiro lugar. Um filho é muito importante, sim, mas a
vida dela é crucial para a minha existência.
— Me perdoa, Mikhail. — Adrina não é a culpada.
— Fique em segurança. Eu preciso sair do país o quanto antes.
— Para onde vai? — ela pergunta, preocupada.
— Vou encontrar alguns aliados que me ajudarão a recuperar
Viktoria. Fique tranquila.
— Como eu posso te ajudar? — Aflita e se culpando, minha
prima está praticamente entrando em um colapso nervoso.
— Prometa a mim que nunca mais me esconderá nada. Nunca.
— Prometo. — Soluçando, ela fica para trás.
Antes, mandei chamarem Tierry ao meu escritório. Após a falha
no sistema de segurança, um novo foi instalado e, com isso,
algumas medidas foram tomadas, a começar pela prisão da minha
avó. Ela está em uma cela, pronta para ser interrogada, mais uma
vez, por mim. Ela nega fielmente que teve alguma culpa no
sequestro da minha esposa, mas algo me diz que ela também foi
responsável por isso.
— Senhor, a senhora Etevlania se suicidou com veneno agora
há pouco. Ela tinha um pequeno frasco escondido nos seios.
Agora, nunca saberei se ela realmente estava envolvida no
sequestro. Maldição!
Não consigo sentir remorso algum pela morte dela.
— Enterre o corpo dela no jazigo da família, sem velório, sem
homenagens, sem explicações — é a minha palavra final. —
Precisamos ir à Itália. Minha esposa está no território dos Salvatore,
e eu preciso resgatá-la de lá.
— Senhor, como faremos isso sem perder nossas vidas? Os
Salvatore são os reis da Itália.
— Assim como os Lombardi e os Grego, os nossos aliados —
lembro-lhe.
Os irmãos Lombardi dominam Calábria e Nápoles, enquanto os
Grego estão, a maior parte, na Roma. Chegarmos até Nápoles com o
apoio deles será muito importante.
— Entre em contato com Enrico Grego e Enzo Grego. Explique
também para Alessandro Lombardi e Dante Lombardi o que está
acontecendo.
Consegui essas alianças graças ao casamento de Anastácia
Grego com Andrei Barkov, um importante aliado meu daqui mesmo,
de Moscou.
Minha esposa voltará para casa com vida e em segurança. Ela e
o nosso bebê.
Leonad sofrerá o pior dos castigos.
Capítulo 30
VIKTORIA
Uma semana longe de casa. Uma semana aprisionada e
sufocada por uma corrente que, a cada dia que passa, torna-se mais
pesada em meus tornozelos. Um dia no direito, outro no esquerdo.
Ela está me machucando muito e ferindo a minha pele sensível.
O único espaço em que sou permitida ficar é este quarto, um
cárcere de solidão. Angustia-me estar longe de tudo que é real. O
que me aguarda além dessas paredes? Nenhuma esperança, apenas
um futuro incerto.
Ao longo desses dias sombrios, Leonad é a única alma que me
visita, e não é com boas intenções. Trabalhando para os Salvatore,
ele prometeu entregar a vida do meu filho em meu ventre aos
inimigos, como um troféu cruel, assim como findaram a vida da
prima deles. O que eles não sabem — e o que me corrói — é que o
meu marido não teve culpa de nada. A sombra do crime cometido
pela avó dele se estende sobre nós como uma maldição. Uma
Alekseeva foi a responsável, então isso não faz a nossa família,
exatamente, inocente.
Finjo tolerar Leonad, no entanto, minha sanidade se despedaça
a cada visita sua. Ele não se encontra bem. Na sua mente distorcida,
ele é o meu amante, o meu parceiro. Algo que existe só no seu
imaginário, como um conto sombrio. Ele finge que somos um casal
feliz e que temos uma história. Estou presa em meu próprio
pesadelo.
Tentei convencê-lo a tirar essa corrente de mim, mas não
obtive sucesso. Porém, inesperadamente, ele tem respeitado a
minha fraqueza. Pelo menos isso. Mesmo assim, a qualquer
momento, a natureza doentia dele pode se manifestar e colocar em
perigo não só a mim, como também a vida do meu filho, que ainda
não teve a chance de viver.
Ontem, uma ferida profunda se abriu em meu coração quando
ele disse algo intolerável sobre Mikhail.
— Sabe por que o seu marido ainda não veio resgatar vocês?
Por que ele não ama vocês! Ele não se importa com o bem-estar de
nenhum dos dois. Mikhail nem sequer luta para recuperá-los. Eu
soube que ele já está procurando outra esposa para colocar em seu
lugar. Ele não te ama, pois te comprou de mim.
Eu não queria acreditar nisso, mas, por um momento, a dúvida
se afunda em meu peito como um peso insuportável. Mikhail, meu
Mikhail, seria capaz disso? O aperto no meu coração se intensifica
com a possibilidade assustadora de que essa ovelha negra possa
estar certa.
Outra esposa? Outro amor que não seja eu?
Não pode ser verdade. Leonad é um mentiroso. As mentiras
são a sua única companhia. Ele sempre traz consigo o cheiro de
sangue e traição, sendo como um manto de sombras. Desde que
nasceu, carrega uma energia maléfica que revira o meu estômago. É
um psicopata, que assassinou a própria mãe e raptou a irmã. É uma
criatura feita de escuridão e delírios.
Consigo, com dificuldade, manter a lucidez diante de sua
insanidade implacável.
A porta do quarto é aberta mais uma vez, revelando a presença
odiosa do maldito. Ele faz questão de me acompanhar em cada
refeição, como se isso fosse um ato de bondade.
— Olá, princesa. No que está pensando?
Ele usa os mesmos apelidos pelos quais Mikhail me chama.
Contudo, esse homem nunca se igualará ao meu verdadeiro amor.
Notei que ele mudou o corte de cabelo, imitando o do meu marido,
assim como o está imitando na barba e nas roupas. Uma cópia
barata, uma sombra distorcida de quem realmente amo. Ninguém se
compara ao grande homem que Mikhail é; e não só pelo seu poder,
mas também pela maneira como ele me respeita. As artimanhas de
Leonad não podem me confundir.
Mikhail me ama e virá me salvar. Ele deve fazer isso.
— Em nada. — Com esforço, forço um sorriso.
— Não finja para o seu marido. — Agora ele se considera o
meu marido. — Me diga: estava pensando nele, não estava?
Fico em alerta para as suas ações. Quando ele se sente
ameaçado, nada de bom vem dele.
— Claro que não. Não penso nele. Ele não quer saber de mim,
e eu também não me importo. — Tentei soar convincente, e, pelo
sorriso de satisfação em seu rosto, acredito que consegui.
— Isso, querida. Ele não te quer mais e já encontrou outra.
Veja. — Leonad pega o seu celular e me mostra uma foto de Mikhail
em uma balada, com uma mulher em seu colo.
Meu coração para. A imagem está turva, mas é ele. Um nó se
forma em minha garganta. Ele está com outra? Essa foto é recente?
Uma mulher está no colo dele, tocando nele com muita intimidade.
Leonad, rapidamente, bloqueia a tela do celular e eu me vejo
perdida em um turbilhão de emoções. Seguro as lágrimas, mas uma
onda de tristeza me invade. Mikhail ao lado de uma mulher,
enquanto eu e seu filho estamos ameaçados? Minha mente e o meu
coração giram em um ciclo de desespero.
A expressão do meu irmão é a de um perseguidor
enlouquecido, e isso me aterroriza.
— Você disse que não se importava, mas está prestes a chorar
por causa dele — sua voz calma é um veneno para mim.
Ele mandou colocarem a mesa próxima à varanda e duas
cadeiras para comermos. Ou, melhor dizendo, para um jogo de
armadilhas.
De repente, a comida é espalhada no chão, assim como minha
sanidade quando escuto os estalos dos vidros se quebrando. Ele
perdeu o controle; está derrubando tudo que está sobre a mesa.
Encolho-me, esperando não ser mais uma vítima da sua fúria.
— Mentirosa! Você ainda o ama! — Ele explode, com os olhos
em chamas. — Eu deveria me esquecer de que você está fraca e te
mostrar quem é o seu homem agora.
— Leonad, você me ama. E quem ama não machuca.
— Você é minha! Amanhã, um médico virá tirar esse bebê. Não
importa o quão fraca você esteja, esse parasita não ficará entre nós!
Essa notícia me golpeia como um soco no estômago. O
desespero e a angústia me transportam para um abismo sem fim.
— Por favor, não… É uma vida… — imploro.
Porém, ele me responde com gelidez, sem compaixão:
— Tente enxergar, Viktoria: nada pode ficar entre nós.
Ele caminha sobre os vidros quebrados sem sentir dor. O
maldito não se machuca. Ele é um monstro intocável, alguém que
parece vagar entre os limites da crueldade sem jamais ser chamado
ao julgamento.
— Não existe “nós dois”… — meus lábios murmuram. Encontrome em um abismo de desesperança. — Eu não sou sua…
— Você sabe quantas garotinhas eu tive que eliminar para,
finalmente, ter você?
Sinto o meu estômago se revirar com o peso do seu desespero
e loucura. Ele é um psicopata sem alma, um assassino que se
esconde atrás de um sorriso.
— Eu te amo, e nada me fará perder você desta vez. Quando o
bebê não estiver mais entre nós, vamos nos casar — ele declara,
convicto. — E, como castigo, ficará sem jantar.
— Como consegue ser tão cruel com a mulher que diz amar? O
seu amor é assim? Cruel e impiedoso? Saiba que te odeio. E se
matar o meu filho, eu me mato em seguida.
— Pare de falar bobagens. — Ele duvida de mim, mas, por um
momento, vi nele um ápice de dúvida e temor. — Vamos viver uma
vida linda juntos.
— Coloque nessa sua cabeça doente que não existe “eu e
você”, e nunca vai existir. — Sem me importar com o perigo,
continuo. — Eu sinto nojo e desprezo por você. Não te vejo como
nada em minha vida. Um saco de lixo e você, para mim, são a
mesma coisa.
Seu sorriso maquiavélico é de quem não se importa com o que
eu digo, pois ele só acredita naquilo que quer.
— Amanhã — ele repete, sentindo-se um rei a ter a última
palavra.
— Te odeio! — grito.
— Não importa. Você vai me amar um dia. Por enquanto, eu
amo por nós dois.
— Como eu poderia amar o assassino da nossa mãe? E de
tantas garotas inocentes? Você é desprezível — o tom da minha voz
é de cortar o coração.
— Não muito diferente de Mikhail. — Ele se gabou ao comparálos.
— Mikhail é um homem cruel, mas jamais matou alguém sem
culpa. Ele não é um santo, porém, diferente de você, sabe respeitar
as mulheres e tratá-las com respeito. Além do mais, ele me ama
intensamente. Não importa o que você diga ou faça, não mudará o
fato de que sou dele.
Leonad vem até mim, sem se importar se machuca o pé ou
não, e faz eu me levantar, segurando sua mão fortemente em volta
do meu pescoço. Ele aperta a região com força e eu respiro com
dificuldade, com os olhos arregalados. Se ele vai me matar, que seja
agora. Prefiro morrer a ser dele, a viver mais um segundo com ele
aqui.
— Você testa a minha paciência.
Seu olhar de quem está perdido é o menor dos problemas. Ele
parece disposto a me matar, a acabar com a minha vida.
— Am-o o Mi-kha-il. — Meu ar desaparece cada vez mais, mas
não me importaria de morrer declarando esse amor.
Ele está preparado para me matar, sem piedade, e eu não luto
contra o sufoco. O ar fica cada vez mais distante, e o meu coração e
cabeça doem. Começo a chorar, com dificuldade de expressar o que
sinto. Quando penso que terei o meu fim, ele me solta, sem nenhum
remorso, e se afasta para não continuar agindo como um animal
irracional.
— Você sabe do que sou capaz, não me provoque.
Levo minhas mãos à região do pescoço como se, assim,
pudesse me proteger. Ele não vê o quanto o odeio e o desprezo por
ser como é.
— Te odeio — firmo o meu ódio em palavras. — Te desprezo —
continuo. — Nunca serei sua. Nunca.
— Veremos. — Ele sai, com seus tormentos, deixando-me
sozinha na minha dor e angústia.
Que o dia de amanhã não chegue. Eu não posso perder o meu
bebê e continuar presa a esse louco. Preciso de um milagre para nos
salvar.
— Venha nos salvar, Mikhail, por favor — peço, na minha
oração.
Nossas vidas agora dependem de um milagre.
Capítulo 31
VIKTORIA
A luz fria e implacável da sala de cirurgia me cega. Estou caída
sobre uma mesa desgastada e cercada por equipamentos tão
antigos, que parecem pertencentes a um museu de horrores. O
monitor que controla os meus batimentos cardíacos é uma relíquia,
tendo sido fabricado, aparentemente, há mais de 50 anos. Seus
sinais ocos bipam de forma agonizante, como se protestassem
contra a minha situação. Sinto-me aprisionada, com os pulsos e
tornozelos algemados à mesa. Uma sensação de impotência me
sufoca, e parece que cada respiração minha exige um esforço sobrehumano. Minhas mãos tremem e minha visão turva se distorce entre
lágrimas e flashes de uma claridade insuportável. Meu coração
parece um grão de arroz, pequeno e frágil, prestes a ser esmagado
por uma onda avassaladora de pânico.
A certeza de que Leonad cumprirá a ameaça que proferiu na
noite anterior me corrói por dentro. Ele não é o meu marido, como
pensa, é o homem que decidiu que o meu bebê é um estorvo. Por
isso, trouxe consigo um médico idoso cuja a presença é como um
presságio do que está por vir.
Quando o vejo colocando as luvas, suas mãos me parecem
cobertas por mais do que apenas látex, parecem manchadas de
desprezo.
Sinto como se a vida que brota em mim fosse uma moeda de
troca.
Esses monstros!
Observo um enfermeiro. Ambos têm rostos que denunciam não
apenas a idade mais avançada, mas também, de forma
inquestionável, a crueldade. O que eles estão fazendo é um ato
covarde.
Leonad ter se enlameado com a máfia Salvatore não trouxe
nada além de desgraça. Esse filho da puta nunca teve as
consequências que mereceu. Quando eu estava prestes a me tornar
a voz que o denunciaria, o destino zombou de mim, mudando o
nosso curso de forma drástica e cruel.
— Daremos início ao procedimento, doutor. Tudo pronto — a
enfermeira anuncia, com um tom clínico, como se estivesse se
referindo a um simples tratamento, e não a uma execução.
Eles vão matar o meu filho e agem como se estivessem fazendo
algo nobre da medicina.
O médico se aproxima de mim com uma frieza nos olhos que
gela até a minha alma. Aqui não há ética, apenas o dinheiro sendo
queimado como um combustível. Lembro-me daquele doutor a quem
supliquei por ajuda. Ele era a minha única esperança, mas isso se
dissipou como fumaça. Ele nunca avisou de mim para Mikhail. Não
teve coragem de se opor à máfia Salvatore, que está me mantendo
aqui, aliados a Leonad.
Assim, aqui estou eu, no fundo do poço, sem um vislumbre de
salvação. O meu bebê, inocente e puro, irá se tornar uma vítima de
um pecado desse mundo implacável. Meu filho está pagando por um
pecado que não é dele.
— Senhora, o procedimento será rápido. Removeremos o feto
indesejado do seu útero através da vagina, e será indolor —
assegura o médico, sem olhar para mim.
Essas palavras foram tão frias e calculistas. Como poderia ser
indolor um ato de tanta brutalidade?
Indesejado?
Meu nervosismo se transforma em uma risada irônica, que
explode de mim em um ato de desespero. Eles sabem que estão me
prendendo contra a minha vontade e, mesmo assim, ousam chamar
o meu bebê de indesejado. Ele é o fruto do meu amor com o
homem que, ironicamente, agora me causa tanta dor. Se eu tivesse
poder agora, iria matá-los, sem hesitação.
— Indesejado aqui, doutor, é esse procedimento. Como pode
dizer que o meu filho com o amor da minha vida é indesejado? —
minhas palavras saem como flechas indo se cravarem em um alvo
invisível. O silêncio pesado é minha única resposta. — Indesejado é
esse aborto, e o senhor sabe disso, mas, ainda assim, insiste em
prosseguir com isso, por causa de dinheiro. O senhor é um verme,
doutor. É anti-medicina.
Quando vejo a enfermeira preparar o objeto de sucção que está
diante de mim, um calafrio percorre a minha espinha e a minha
realidade se despedaça. Estou vestida com uma bata imunda, sem
calcinha, exposta e vulnerável. Todo o meu corpo se debate em uma
luta vã. As correntes que prendem o meu corpo a essa mesa
parecem mais fortes que qualquer esforço físico que eu faça.
— Por favor, não machuquem o meu bebê! Não é isso que
desejo! Vocês são profissionais da saúde, não podem deixar que a
insanidade de Leonad os controle! — eu clamo, mas os meus gritos
são apenas ecos em um espaço estéril e sem vida. — Eu posso
pagar o triplo do que ele prometeu. Eu sou bilionária! Senão, meu
marido destruirá todos vocês que colaborarem com esse
assassinato! — grito, em um último ato de desespero.
No entanto, suas faces permanecem impassíveis, como se eu
fosse apenas uma sombra em suas mentes insensíveis.
Com um olhar perdido, viro-me para o lado e vejo Leonad
encostado na parede. Sua expressão é como a de um predador
saboreando cada momento do meu desespero. A luta me exauriu. A
raiva e o medo são como ervas-daninhas crescendo em minha alma.
Fecho os olhos, tentando escapar dessa realidade e da presença
opressora dele, que me sufoca com um ódio que me queima. Meu
desejo de que ele morra aqui, neste instante, e que o meu
sofrimento acabe, cresce dentro de mim; um veneno que apenas ele
não consegue sentir.
A palma fria de sua mão acaricia a minha testa e a ânsia de
vômito se acumula em minha garganta.
“Eu não quero sentir o seu toque”, desejo com todas as forças
do meu ser.
— Isso vai passar logo, querida — ele murmura, um sorriso
perverso dança nos seus lábios e ele beija a minha testa como se
estivesse me submetendo à condenação final.
— Por favor, Leonad, não faça isso comigo… — Minha súplica
se torna um eco sem som. Uma repetição vazia que preenche o
espaço entre nós, consumida por uma dor visceral pela antecipação
do que está por vir.
— Abra as pernas, senhora — a enfermeira ordena.
Minha pulsação dispara feito um violino desafinado prestes a
quebrar suas cordas. A dor no meu peito agora é como se uma faca
afiada penetrasse em meu coração. Sinto uma mistura nauseante de
medo e desespero, juntamente com a certeza de que o ataque de
pânico está vindo me consumir.
— Me deixe ir, Leonad… — a fraqueza da minha voz a torna
quase um sussurro.
Ele é a fonte de todo esse sofrimento, o responsável por cada
cicatriz que carrego e o culpado por cada sonho que deixei para
trás.
— Nunca — ele assegura, e sua voz soa como uma sentença de
morte.
O choro se acumula em minha garganta, sufocando-me,
enquanto as frenéticas batidas do meu coração ressoam dentro
deste espaço claustrofóbico.
— Senhor, os batimentos dela estão caindo muito rápido! — O
médico parece alarmado.
A culpa está enraizada em Leonad. Tudo sempre é culpa dele.
O peso de sua existência é um fardo que esmaga todos à sua volta.
Minha cabeça rodopia, a escuridão dança em torno de mim e a
onda de calor que me invade me deixa sem forças. O medo
agonizante já não é um sentimento, e sim uma presença palpável
que está a ponto de me apagar.
As vozes se tornam murmúrios distantes.
Leonad faz questão de dar tapinhas em meu rosto, tentando
manter meus olhos abertos, mas o meu desejo de fechar as
pálpebras e escapar dessa tortura é irresistível. Se eu pudesse,
apagaria a visão de sua figura macabra para sempre.
— Ela precisa ir para um hospital — o médico avisa, e a
preocupação na sua voz é evidente. Porém, ela parece tão distante,
como um sonho que nunca se realizará.
É
— Você é médico. Cuide dela aqui mesmo, ou eu te mato. É
isso que você quer, velho? — a ameaça de Leonad é um veneno em
forma de palavras.
— Calma, senhor. Aqui não há equipamentos necessários. E ela
precisa de oxigênio imediatamente — o homem adverte, apontando
a realidade do meu estado.
Sinto a pressão do oxigênio contra o meu rosto, só que esse
não é o alívio que eu ansiava, é apenas uma gota d’água no oceano
de dor que se aproxima.
“Que triste fim para mim e meu filho”, penso enquanto a
escuridão começa a me envolver em seu abraço gelado.
Os ecos do horror ainda ressoam em minha mente, até que o
único som que eu ouço é do estrondo de uma porta sendo
empurrada com muita força. Até parece que ela se partiu em duas.
Meus olhos estão fechados e eu não tenho forças para abri-los.
— Dio mio! (Meu Deus!) — o doutor exclama, alarmado com
algo.
Agora eu não ouço mais nada, nenhum ruído. Tudo acabou
aqui.
Capítulo 32
MIKHAIL
A notícia do paradeiro da minha esposa chegou até mim
através de uma ligação anônima. Um homem, que se identificou
como médico e preferiu permanecer no anonimato, exigiu 10
milhões, que será enviado para uma conta na Suíça, sem rastreio.
Com isso, ele me passou o endereço onde Viktoria estava.
A raiva queimou em meu peito por eu saber que aquele maldito
Leonad queria se livrar do meu filho. Ele marcou uma cirurgia de
aborto para exterminar o meu bebê. Um verdadeiro assassino.
O acordo dele com os Salvatore foi uma vida por outra.
A vida de Sasha tomada pela minha avó corresponde a um
pecado meu. Mesmo que eu não a tenha matado, como eles
pensam, esse ainda é um pecado meu, pois alguém da minha família
a executou. Agora, por isso, eles querem uma vida inocente: a do
meu filho, ainda no útero da mãe. Então, Leonad prometeu que
mataria o meu filho, em troca de dinheiro e propriedades.
A vingança deveria ser contra mim, mas eles não se importam
de um bebê pagar no meu lugar. Um filho não deve pagar pelos
pecados do pai, nunca.
Leonad não teve piedade da própria mãe, e agora quer colocar
a vida de sua irmã em risco com um aborto clandestino.
Desembarquei em Nápoles na noite passada, e agora me
encontro sob a proteção de Alessandro e Dante Lombardi, que
garantem a minha movimentação em segurança, sem que os
Salvatore saibam que estou aqui. Dante, pessoalmente,
acompanhou-me até Florença, junto com cerca de 200 soldados,
para garantir a nossa segurança e facilitar o resgate da minha
esposa.
Se Viktoria não estiver comigo, que diferença fará eu viver?
Para mim, nenhuma. Então, arrisco minha vida por ela sempre, sem
hesitar.
— Senhor, as informações daquele médico são realmente
confiáveis? E se for uma armadilha dos Salvatore para te atrair até
eles? — Tierry lança as suas dúvidas, carregado de desconfiança.
Ele é perspicaz, sempre muito atento a tudo, inteligente e
muito leal.
— Saberemos ao chegarmos lá. Eu te disse que não era
necessário vir comigo, se estava com medo de morrer — retruco,
impaciente.
— Eu daria a minha vida para te proteger. Você sabe disso. —
Eu sei que ele é fiel. — Mas deveríamos ter analisado mais as coisas
antes de virmos para cá. E se…
“E se?” Não posso viver com essa dúvida.
— Um homem aflito e desesperado para encontrar a esposa
grávida não consegue raciocinar, Tierry. A cada minuto que passa,
mais a vida dela fica em risco. Leonad é um louco, então eu não
poderia perder tempo esperando.
De qualquer forma, o dinheiro será transferido para esse
suposto médico somente após eu encontrar a minha esposa. Eu lhe
dei apenas uma pequena garantia. Se ele me enganou, eu vou
encontrá-lo e matá-lo por ter mentido sobre algo tão sério. Mas, de
todo modo, quando os seus inimigos não sabem o que aconteceu
com sua esposa e alguém liga para você, dizendo que a viu, você
acredita nisso com uma fé inabalável, pois essa é a sua única
esperança de encontrá-la.
— Meu nome não importa. O que importa é que sua esposa
está em Florença, em uma propriedade privada, afastada da
civilização. O endereço, eu te enviarei assim que você me transferir
os milhões que pedi.
— Minha esposa? Quem é você?
— A senhora Viktoria está com o irmão, Leonad Aidorov, sob a
proteção dos Salvatore. E eu sei onde ela está. Se quiser saber mais,
antes que o seu filho seja arrancado do ventre dela, é melhor ter
pressa.
Eu deixei claro para ele que, se tudo fosse mentira, eu o
mataria. Que mesmo se eu estivesse no inferno, iria encontrá-lo.
— Entraremos pela porta da frente — diz Dante, analisando as
imagens da propriedade.
Estamos em uma van preta e equipada, a 1 quilômetro da
mansão. Ela está cercada por 70 soldados e possui um sistema de
câmeras que será desativado assim que a invadirmos. Dante é
habilidoso em contornar sistemas, e contará com a ajuda de Enzo
Grego, que facilitará tudo, mesmo sem sair de Roma.
A movimentação na propriedade não parece intensa. Logo
estaremos dentro dela, prontos para eliminar qualquer um que se
colocar em nosso caminho.
Na noite passada, não consegui pregar os olhos, ansioso para o
dia amanhecer. Farei isso à luz do dia, para mostrar que eu, Mikhail
Alekseeva, não preciso me esconder nas sombras para conseguir o
que quero.
— Vamos invadir. — Dante dá um sorriso de um soldado pronto
para a guerra.
Os Salvatore não são aliados dos Lombardi, então participar
dessa batalha será uma satisfação para ele. Nossos soldados estão
em dobro em relação aos deles, e isso garante que esmagaremos
aqueles vermes tão rápido, que eles nem perceberão a morte se
aproximar.
Visto o meu colete, preparo as munições das armas que
carrego e pego a faca que levarei na mão. Leonad não perde por
esperar. Meu sangue ferve de desejo de fazê-lo pagar por tudo que
fez. Ele nunca mais desejará olhar para Viktoria daquele jeito
doentio. Não o matarei de imediato, porque ele pagará por cada dia
com torturas. Irá pedir pela morte, mas ela não virá.
Usamos silenciadores para não chamar a atenção. Mesmo que
estejamos em uma zona afastada da cidade, sempre há olhos e
ouvidos de inimigos atentos. Quando recebo a mensagem via rádio
de que podemos entrar, não consigo pensar em mais nada. Saio na
frente, destemido, e passo por aqueles muros opressores, que
prendem a minha borboleta azul como se fosse um animal feroz. Os
corpos se espalham pela grama. Tierry, à frente, tem um soldado
inimigo de joelhos, com uma arma apontada para a sua cabeça.
— Diga onde está a senhora Alekseeva! — ordena.
— No subsolo. O médico está lá para retirar o bebê dela. É tudo
o que sei.
Meu coração para. Eles estão lá. Como ninguém entrou aqui
nesta manhã ou na noite anterior, o médico já estava aqui. Um
abutre, esperando para arrancar o meu filho de dentro da sua mãe.
O outro médico me avisou pelo celular que minha esposa estava
fraca e que, por isso, Leonad ainda não tinha prosseguido com o
aborto.
— Mostre-me esse lugar agora! — grito, sentindo a fúria me
consumir.
Estou apavorado, pensando que podem já ter começado a
machucar minha mulher.
O homem nos explica o caminho que devemos seguir e eu
corro como um louco pelo final do jardim. Após a piscina, encontro
um santuário de pedra. Sob ela, está a passagem que leva ao
subsolo. Sozinho, puxo a pedra, que é pesada, e consigo abrir
espaço para passar. Desço primeiro, por uma escada estreita e
precária. O local é apertado. Vejo três portas à minha frente, e a do
meio é a do lugar onde minha mulher está. Dez soldados vêm
comigo. Com um chute potente, arrombo a porta de madeira, que se
parte ao meio com facilidade.
Os olhares das pessoas presentes são de terror: um médico
idoso, uma enfermeira e um outro homem, enfermeiro, na equipe.
Leonad está ao lado da minha esposa, que está inconsciente,
respirando por uma máscara de oxigênio. Seu corpo está preso a
uma mesa.
Viktoria, desacordada, viva ou morta em cima dessa mesa?
Essa é a pior imagem que já vi na vida. Sinto-me como se estivesse
sendo atingido em cheio por uma enxurrada de pavor. Minha doce
mulher ali sendo tratada com crueldade por todos nesta sala.
Imagino o desespero que ela sentiu e a fragilidade de sua dor.
Nunca vou me perdoar por isso.
— Ela está viva? — Tierry faz a pergunta para a qual eu temo a
resposta.
— Dio mio! — Apavorado, o médico se rende de joelhos, com
as mãos para o alto, junto com toda a sua equipe. — Ela está tendo
um ataque de pânico, e temo que possa ter uma convulsão.
Uma convulsão por culpa desse maldito que se diz irmão dela,
quando, na verdade, não é nada além de uma barata asquerosa.
Leonad pega a arma de sua cintura e a aponta para mim.
Covarde. Mesmo com todos os soldados com armas levantadas para
ele, deixo claro que minha intenção não é matá-lo, pois a morte
seria uma bênção para ele, considerando o que farei.
— Como? Malditos! — ele resmunga, sem entender como o
encontramos.
— O fedor de um rato pode ser sentido a metros de distância.
Se esqueceu de quem sou? Mas te lembrarei a partir de agora. —
Mantenho o olhar fixo nele.
Meu coração está despedaçado por eu ver minha esposa nessa
situação.
— Precisam levar a mulher para o hospital com urgência —
avisa o doutor, alarmado.
Sem paciência, aponto a arma para Leonad, que não demonstra
medo.
— Me mate! Só assim a terá para você. Mas saiba que nem a
morte poderá me separar dela. — A loucura o consome.
— Ela nunca foi sua, apenas na sua imaginação — provoco-o;
não como parte de um jogo, mas como uma verdade que ele precisa
encarar.
Eu atiro em seu ombro e, com o grito de dor, ele derruba a
arma da sua mão. Atiro também em sua perna. Imediatamente, dois
soldados o detêm. Agora, ele nada pode fazer para impedir seu
próprio sofrimento.
— Cuidem das feridas dele e não deixem que ele morra. A
morte dele será lenta e dolorosa; maior que a dor que ele nos
causou.
— Maldito! Maldito! — Ele se debate. — Viktoria é minha! Só
minha! Ela é só minha!
Pego as chaves que destrancam as correntes e a solto. Seguroa em meus braços e fico apavorado por vê-la tão indefesa, tendo
sido torturada daquela maneira. A aflição aperta o meu peito. Ela
sofreu por minha causa, por falha minha. Mas eu juro que os
miseráveis pagarão com suas vidas. Ninguém viverá para contar a
história.
O corpo da minha mulher está morno e o seu rosto está mais
pálido do que nunca. As sardas, que ela tanto se esforça para
esconder de mim, são o que sempre me fascinaram. Mas nunca digo
nada, porque não quero que ela se sinta insegura por algo tão bobo.
Sempre que as vejo, quando ela se descuida e não usa maquiagem,
o meu mundo desmorona diante da perfeição que elas representam.
Tierry pergunta ao médico:
— O que aconteceu aqui?
— Nada, senhor. O aborto não foi feito. Na verdade, estávamos
apenas ganhando tempo para evitar que isso acontecesse.
Dou sinal para que os soldados eliminem esses vermes depois
que sairmos. Preciso levar minha Viktoria para o hospital e garantir
que ela ficará bem; que nada de mal acontecerá com ela nem com o
nosso filho. Seu corpo está quente e seu cabelo está despenteado,
bagunçado, mas ela ainda é a minha Viktoria, minha princesa, minha
bonequinha.
— Eu estou aqui, meu amor. Estou aqui — repito, esperando
que ela possa me ouvir em algum momento.
Nada assim, nunca mais, irá se repetir.
Amo tanto Viktoria, que o meu coração quase para a cada
batida.
Eu, que sempre fui um soldado de guerra, acima de tudo, até
mesmo acima de ser o chefe de todos, pela primeira vez, sinto
medo. Medo de perder minha mulher, de falhar nessa missão de
resgate.
Tê-la em meus braços me dá um alívio imenso. Não posso
conter as lágrimas ao carregá-la até a saída. Saber que alguém teve
a coragem e a ousadia de machucá-la me enfurece.
Beijo sua testa e, mais uma vez, afirmo:
— Eu estou aqui, meu amor. Seu marido veio te buscar. Você
está salva agora, princesa.
Capítulo 33
VIKTORIA
Acordar em um ambiente novo sempre me causa medo,
especialmente agora, porque estou sozinha mais uma vez, deitada
em uma cama que parece ser de um quarto de um hospital luxuoso.
O que está acontecendo? Leonad me trouxe para cá, para fazer
o aborto neste lugar? Engulo em seco, sentindo-me cansada e tonta.
Minha mente está em um turbilhão de emoções dominado pelo
medo e pela ansiedade.
Minhas mãos estão livres das correntes, assim como os meus
pés, minha respiração está mais leve agora e o ar que inalo é puro.
Estou livre do peso daquela escuridão que me assolava.
Primeiro, desço as mãos até a minha barriga, para verificar se o
meu bebê ainda está ali. Não consigo explicar como, mas sinto que
ele está quietinho dentro de mim, mesmo sendo tão pequeno. A
certeza de que ele está ali me alivia.
Apoio as costas na cama e olho ao redor com atenção. Aqui
não parece uma prisão. A esperança de que Leonad não esteja mais
presente me consola em meio ao meu pânico. Se eu fui salva, sei
que apenas uma pessoa no mundo teria enfrentado os seus inimigos
para vir me buscar. Meu coração se aquece com essa ideia.
O que aconteceu comigo, eu não sei, mas estou prestes a
descobrir, pois a porta está sendo aberta. Ela revela um homem
forte e hipnotizante, capaz de fazer o meu coração acelerar. Seus
olhos azuis profundos brilham com amor, aquecendo a minha alma.
Ele é lindo em todas as suas versões, mas principalmente quando
usa esse longo sobretudo preto. Seu cabelo está bagunçado e
parece que ele passou muitas noites em claro. Seu rosto expressa
cansaço, e a cafeína que ele carrega nas mãos só reforça isso.
Sorrio, grata por ver aquele rosto tão lindo diante de mim. Eu
estou segura, e o nosso bebê também, pois sinto que ele ainda está
dentro de mim. Vejo a gratidão transbordar de seus olhos por ele me
ver novamente.
— Princesa. — Ele deixa o copo de café em cima de uma
cômoda e vem até mim, com passos rápidos. Sua mão verifica a
minha temperatura com cuidado. — Meu amor, você acordou.
Precisa de um médico. Graças a Deus, você acordou. — Ele mal
pode respirar, aliviado. — Saí só por um segundo para pegar café na
porta, e quando voltei, você já estava acordada. Deveria ter gritado,
chamado por mim. Eu teria vindo o mais rápido possível.
A ansiedade em suas palavras revela os medos e as aflições
que ele nunca demonstra a ninguém.
Rio, finalmente, deixando de lado a máscara de oxigênio, quase
o fazendo infartar.
— Não pode tirar isso… — pelo alerta que ele me lança, parece
que estamos em uma guerra.
— Tudo bem. Eu só preciso de um abraço e que me diga que o
nosso bebê está bem, que não corre nenhum perigo. Eu consigo
senti-lo dentro de mim ainda. — Abro os braços para lhe dar um
abraço acolhedor.
Mikhail se mantém firme e forte, mas, ao me abraçar, deixa
escapar as emoções que o sufocavam. Ele age como se eu fosse
uma boneca de porcelana, com medo de me apertar. Esse abraço
era tudo o que eu desejava durante aqueles dias em que permaneci
sob o domínio do doente do meu irmão. Senti tanto medo e pensei
que nunca mais veria o meu marido.
— Sou sua bonequinha, amor, mas não sou de porcelana.
O beijo dele em minha testa me acalma e me revigora.
— Estou bem — respondo sem que ele pergunte isso, pois seus
olhos já diziam tudo. — Nada de ruim me aconteceu. Você
conseguiu vir a tempo. E o nosso bebê? — Preciso ouvir as palavras
dele.
— Está tudo bem, não aconteceu nada com o bebê.
Puxo-o para um abraço mais apertado.
Os sons de nossas respirações falam mais do que longas frases.
Somos só nós dois agora, abraçados e unidos. Nada de ruim poderá
acontecer.
Por um momento, ele me olha de forma diferente, como se
estivesse enxergando alguém que não via há muito tempo. Ele tenta
disfarçar, mas eu percebo, e não entendo o que tanto olha. Estou
tão suja assim? E tão feia?
— O que foi? — pergunto, intrigada.
— Nada. — Ele disfarça.
Eu não sou boba, sei que algo está acontecendo. Então,
lembro-me do que se trata: estou sem maquiagem. Ele observa as
minhas sardas com fascínio. Droga! Estou há dias sem a base que
costumo usar para cobri-las.
Mikhail me olha tanto, que chega a me sufocar. Sempre fiz
questão de esconder as sardas por não ver beleza nelas. E minha
mãe sempre dizia para que eu as cobrisse, então passei a vida
inteira fazendo isso. Contudo, no tempo em que estive presa,
comecei a sentir que elas faziam parte de mim.
— Não me olhe assim. Estou me acostumando a aceitar essa
parte de mim. — Faço um biquinho manhoso, cobrindo o rosto com
as mãos.
Espero que ele pare de me olhar, mas, conhecendo-o bem, sei
que isso não acontecerá. Abro os olhos para espiar entre os dedos e
noto que ele ainda me observa com empolgação, dando um sorriso
encantador.
— Você é linda, Viktoria — a voz dele sai embargada pela sua
emoção de me ver bem e os seus olhos brilham. — Acha mesmo que
nunca notei isso em você antes?
— Que boba eu sou. — Reviro os olhos.
— Não há nada em você que eu já não tenha visto. Presto
atenção em cada detalhe seu, por menor que seja. Tudo em você
me fascina e me completa. Eu não poderia nem respirar se você não
estivesse comigo.
— Por que nunca me disse nada?
— Sempre usou maquiagem. Eu nunca quis te falar nada antes
porque queria que você se sentisse bem consigo mesma. Você é
linda, amor, e tem as sardas mais lindas do mundo. Não há nada em
você que não seja perfeito.
Estar ao lado dele faz eu me esquecer do mundo, das minhas
inseguranças e dos meus medos, porque ele é o meu amor. E ele
sempre fará qualquer coisa para me proteger e me amar.
Todo aquele pesadelo que vivi, acabou, e nunca mais se
repetirá.
Após eu ter recebido alta do hospital em Florença, finalmente,
voltamos para casa.
Meu marido é um louco. Ele foi para um país repleto de
inimigos; invadiu o território dos Salvatore para me salvar das garras
deles e de Leonad. Não me importa saber se Leonad está vivo ou
morto, mas Mikhail me garantiu que ele nunca mais poderá me
machucar.
Meu marido não me encheu de perguntas, mas eu sinto a
necessidade de, algum dia, retomar aquele assunto com ele, no
momento certo. Não quero que ele pense que eu não confiava nele
por não ter contado antes o que vivia.
Mas agora é um momento de felicidade e alegrias. Nenhum dos
nossos inimigos estará mais em nossas vidas.
Etevlania, que colaborou para que Leonad entrasse na mansão,
cortando o sistema de energia e garantindo que os geradores não
funcionassem, nunca mais poderá me machucar. Ela teve o fim que
mereceu: foi morta pelo seu próprio ego e ganância. Também, à
propriedade que ela tanto amava, veio à ruína, sendo totalmente
desmoronada. Não há mais resquícios da minha dor; foi o que o
meu marido disse.
Como filha, senti a obrigação de ir ao túmulo da minha mãe
pela primeira e única vez, para prestar uma última homenagem, sem
me importar se ela merecia ou não. Ela foi brutalmente assassinada
pelo meu irmão, envenenada. Em nosso último encontro, eu lhe
disse que os nossos laços estavam cortados para sempre. Eu não
esperava que ela perderia a vida de tal forma, mas assim quis o
destino. As escolhas dela, feitas para proteger o seu filho, levaramna a esse fim trágico. Foi ela quem repetiu tantas vezes que
ninguém acreditaria na minha verdade, e agora está enterrada por
causa das mentiras que cultivou.
— Como você se sente, amor? — Mikhail me pergunta.
Meu marido esteve comigo o tempo todo no cemitério, e
quando chegamos à nossa nova casa, ele se preocupou em me fazer
uma massagem nos pés, após o meu banho. Estamos no conforto e
na paz que o nosso lar me traz. A paz sempre foi algo que almejei
encontrar na minha vida, e, graças a esse amor, agora eu a tenho.
— Estou bem. Encerrei minhas contas com minha mãe. Ela
nunca mais poderá dar palpites sobre a minha vida ou fazer eu me
sentir pequena. Foi por causa dela que nunca tive coragem de
denunciar Leonad.
— Cada um colhe o que planta, e sua mãe errou muito. — Ele é
compreensivo comigo.
— Eu nunca te contei… — Respiro fundo.
— Eu entendo você. — A verdade em seus olhos me conforta.
Ele realmente me entende e não quer me sufocar com esse assunto.
— Mas quero que você saiba de uma coisa. Não foi culpa sua
eu não ter falado, o problema era eu. Eu sentia vergonha e medo de
que ninguém acreditasse em mim. Hoje vejo que… eu não deveria
ter agido assim; deveria ter denunciado Leonad na primeira
oportunidade que tivesse.
Assim que ele me acolhe em seus braços, sinto o seu calor
abraçar todo o meu ser com um carinho que me deslumbra.
Entrego-lhe, sem reservas, todo o meu coração e a minha alma.
— Não se preocupe, amor. Aquela criatura nunca mais poderá
te fazer mal, nem a ninguém.
Ele me deixa segura, então eu sinto que nada pode nos atingir
enquanto estivermos juntos.
O que aconteceu com Leonad é irrelevante, só sei que o seu
destino foi mais do que merecido. Vamos viver em um mundo no
qual eu e Mikhail seremos o escudo e a fortaleza um do outro.
Movendo-me sobre ele, rebolando as minhas curvas contra a
sua virilidade, lanço-lhe um olhar provocador e cheio de desejo.
Apenas anseio pelo sabor dos seus lábios nos meus.
— Viktoria…
Seus dedos deslizam pelas minhas costas enquanto minha boca
busca o seu pescoço. Cada beijo e lambida na sua pele é uma
promessa silenciosa de que estaremos sempre juntos. Sinto a
ousadia me dominar, dispo-o da camisa e toco em sua pele com
possessividade, afirmando que ele me pertence. Obsessiva e
possessa, beijo o meu homem com um fervor insaciável. É como se
cada partícula minha implorasse por ele.
O calor entre nós é insuportável. Não interrompemos o beijo
enquanto os nossos corpos são despidos e eu me encaixo
perfeitamente sobre a sua virilidade. Por fim, deslizo, seguindo a
onda da minha excitação.
Ah, esse homem!
Mikhail me envolve com uma devoção intensa. Suas mãos estão
grudadas em minha pele como se quisessem deixá-la marcada, tipo
uma tatuagem eterna. Nosso beijo é uma dança desesperada,
mesmo que saibamos que temos todo o tempo do mundo.
Começo a rebolar sobre ele lentamente. Carne se unindo a
carne. Eu mordo o seu lábio, provocando-o, e ele segura os meus
seios com um desejo voraz, necessitado de mim. Sua boca se
apressa em me lamber e me chupar, como se cada contato entre
nós fosse essencial.
— Eu poderia passar a vida inteira assim, amor… — sua voz
rouca embala os meus ouvidos como uma boa sinfonia.
— Eu te amo — sussurro, perdida nos gemidos de prazer que
me consomem.
— Eu te amo muito mais… Muito mais…
Com os dedos entre o meu cabelo, ele me puxa para mais perto
dele. Fechamos os olhos, entregues a essa paixão avassaladora e ao
amor que nos consome.
Mikhail e eu estamos entrelaçados em nosso amor e em todos
os frutos desse amor.
Para todo o sempre nós dois.
Só de pensar que a paz e o amor podem ser vividos ao mesmo
tempo, sinto-me a mais feliz das mulheres por ter os dois.
O nosso final feliz é apenas o começo da nossa história de
amor.
Epílogo
MIKHAIL
— Pa-pa-i-zinho… — a voz da nossa doce Zhanna ressoa com
lirismo, apaziguando as nossas almas e aquecendo os nossos
corações.
O quarto, tingido em tons de violeta, foi delicadamente
adornado pela minha esposa e por mim. Cada objeto, cada
brinquedo… Tudo escolhemos juntos, com o toque dos nossos
dedos, desde a cor das cortinas até a exata largura da prateleira na
qual uma boneca ficaria. Também tivemos esse ritual carinhoso ao
prepararmos o quarto para o nosso primogênito, Caius. Foi minha
primeira vez montando móveis e pintando paredes. Naqueles
momentos, vi a verdadeira essência do amor se desdobrando diante
de mim.
Sem a paixão que sinto pela minha esposa e pelos nossos
filhos, eu não seria o homem que sou hoje.
Quando eu soube que seria pai de uma menina, o meu pedido
foi que ela fosse tão linda e doce quanto a mãe. E o meu pedido foi
atendido. A verdade é que nossos dois filhos se parecem muito mais
com Viktoria do que comigo fisicamente e, também, na maneira
como agem, mesmo sendo tão pequenos. Os dois são ruivos e têm
olhos azuis. De mim, herdaram só os olhos.
Nossa bebê de 1 ano está dando os seus primeiros passinhos.
Estou sentado em uma extremidade do tapete interativo para
crianças, enquanto minha esposa se encontra na outra ponta. Nossa
filhinha se move entre nós, alternando-se entre ficar nos braços da
mãe e nos meus. Observando tudo com um olhar curioso, está o
nosso menino de 4 anos, aconchegado ao lado da mãe. Nossas
crianças demonstram um vínculo profundo com Viktoria, que as
mima além das palavras. E eu sou suspeito para falar, pois faço o
mesmo.
Às vezes penso que, antes, eu jamais imaginei que me veria
brincando de bonecas com minha bebê. Esse é o poder do amor e a
transformação que ele provoca em nossas vidas.
Sou um homem de família. Vivo para garantir que toda a minha
família tenha uma vida não só confortável, como, acima de tudo,
segura. O dinheiro que acumulei pode proporcionar uma vida
luxuosa até a nossa sétima geração, e, todos os dias, eu luto contra
aqueles que desejam destruir a nossa paz, impedindo que ousem
roubar a minha felicidade.
Uma das coisas mais gratificantes da minha existência é
quando dedico, por alguns minutos a Leonad Aidorov, a essência de
quem sou. Não, ainda não o eliminei; ele está há mais de cinco anos
confinado em uma vala escura e imunda. Um rato como ele merece
algo ainda mais precário, mas não quero ainda que ele tenha a
chance de reclamar quando chegar ao inferno, depois de ter vivido
um verdadeiro inferno no mundo dos vivos. As punições que lhe
inflijo são as mais cruéis que alguém poderia suportar.
Assim que o capturei, mandei que o amarrassem em uma
cadeira elétrica, que lhe aplicava pequenos choques diariamente.
Segundo o médico, o medo psicológico lhe causaria uma dor
insuportável muito além do sofrimento físico.
Minhas primeiras palavras ditas quando o vi naquele estado
foram:
— Gosta de assediar garotinhas indefesas? Quantas vidas
inocentes você já tirou? Por elas e, principalmente, por ter ousado
tocar na mulher errada, você pagará por tudo que fez, maldito.
Em seguida, eu desferi um soco em seu rosto, e depois outros
consecutivamente, sem um fio de compaixão. A cada golpe, a minha
determinação aumentava. Ele fez minha Viktoria viver um verdadeiro
inferno, atormentada pelos desejos insanos que ele nunca deveria
ter nutrido por ela. Mesmo que eles não compartilhassem laços de
sangue, pois ele foi adotado, os dois foram criados como irmãos e
ele devia respeito a ela.
Se não fosse por Tierry, eu teria acabado com aquela vida
imediatamente. Mas um simples ato não seria castigo o suficiente
para ele. A recompensa da morte seria um presente muito elevado
para esse verme.
— Por favor, me mate — assim ele implora em todos os dias de
sua vida.
— Não é a hora — essa sempre é a minha resposta.
— Eu me arrependo de tudo que fiz com Viktoria. Tenha
piedade. — O desespero em sua voz sempre me envolve
deliciosamente.
— Eu creio em suas palavras, mas não terei compaixão. Vou te
atormentar até o fim dos seus dias, maldito. E quando não houver
mais forças em você, entregarei o seu corpo nas mãos dos melhores
médicos. Eles vão restaurar a sua saúde para que eu possa me
divertir ainda mais com sua miséria, pelo tempo que fez minha
esposa sofrer.
Sempre que aquele maldito se mostra debilitado pela dor, eu
cumpro minha promessa: os melhores médicos cuidam dele e
recuperam a sua saúde. Assim, os castigos se intensificam depois.
Ele vive um verdadeiro inferno há mais de cinco anos.
Sento-me em uma cadeira de madeira, em frente à cela onde
Leonad está amarrado, com manilhas nas mãos e nos pés e uma
máscara de ferro no rosto, que silencia gritos que nunca serão
ouvidos.
Os soldados, Grand e Musaf, aguardam do lado de fora, prontos
para o espetáculo que irão proporcionar a Leonad. Se ele gostava de
ferir meninas indefesas com sua força, agora será a sua vez de
sofrer nas mãos dos meus soldados a mesma tortura que infligia às
suas vítimas.
— Calma, rapazes. Ele não pode escapar — eu comento e eles
riem.
Quando um estuprador chega à prisão, é recebido de forma
especial. O mesmo ocorre aqui. Olhar para Leonad e ver o quanto
ele está pagando me traz uma paz inexplicável. Eu queria que
Viktoria pudesse testemunhar tudo isso, mas a sua bondade a
impede de se alegrar com o sofrimento alheio, mesmo quando o mal
a atinge. Mas, para isso, ela tem a mim, que me encarrego de que
todos sofram por terem ousado cruzar o seu caminho.
Assim foi com os Orokov. Não mostrei compaixão por eles e
nem mesmo pela minha avó, que usou o nome daqueles vermes
para arquitetar ataques contra mim, buscando me desestabilizar
para deixar Viktoria à mercê dos seus malfeitores. O destino dela foi
mais do que merecido. Se ela não tivesse tomado veneno, ainda
estaria atrás das grades.
— Olhar para você, infeliz, é revigorante, mas agora preciso
voltar para casa, onde uma linda mulher e duas crianças me
esperam. Você é tão desprezível, que terá mais um momento íntimo
com seus dois soldados favoritos. — Uma risada debochada escapa
dos meus lábios. — Agora é com vocês, rapazes.
O desespero nos olhos de Leonad é fascinante. Ele se debate
em vão, gritando, mas sua voz é silenciada pela máscara. Por mais
que ele tente ser ouvido, seus gritos são como clamores no escuro,
invisíveis e ignorados. Durante anos, Viktoria viveu assim, e agora
ele experimentará a miséria até o fim dos seus dias.
A suavidade dos lábios aveludados de Viktoria contra os meus,
quando ela me recebe com tanta alegria todas as vezes que passo
pela porta do nosso quarto, é a maior dádiva da minha vida. Vejo a
felicidade dela brilhar e o seu sorriso radiante esbanjar empolgação.
— Eu amo ser recebido assim, amor, mas algo me diz que você
está radiante por outra razão. — Começo a abrir os botões da minha
camisa e a deixo cair.
Os olhos inocentes dela descem pela minha barriga tonificada.
Com um movimento ágil, ela cruza os braços por trás de mim. Seus
olhos brilhantes estão fixos nos meus como o de uma garota
travessa prestes a fazer um pedido.
— Estou, sim, muito feliz. — Deslizo a ponta do dedo pelo seu
nariz, fazendo cócegas nela, e ela sorri, achando-me um bobo. —
Mas, quem disse que vou pedir algo? — Ela faz uma expressão de
ofendida, e eu me divirto com sua atuação.
— Eu não disse nada, amor — brinco, fazendo-me de inocente.
— O seu olhar! — ela exclama, dando um leve empurrão nos
meus ombros.
Logo a puxo para mais perto de mim e para o meu abraço de
novo.
Ela usa uma camisola de seda branca que molda o seu corpo,
realçando seus seios. Os bicos estão despertos por causa dos meus
toques.
— Me diga o que ocorreu, para que esteja tão feliz.
— Você prometeu que viria mais cedo e cumpriu. Isso me
deixou radiante.
Sempre que ela me pede para voltar mais cedo, faço de tudo
para atender ao seu pedido. Reuniões, compromissos… Tudo fica em
segundo plano quando se trata dela. Seus pedidos são ordens.
Para um homem como eu, acostumado com a violência, ouvir
que minha esposa está feliz apenas por eu ter retornado mais cedo
desarma todas as minhas defesas. Ela é minha companheira, minha
felicidade.
— Agora, me diga: o que você mais deseja, senhora Alekseeva?
Eu farei acontecer.
Ela parece ponderar, buscando uma ideia brilhante. Não desvio
meus olhos dos dela. Minha mente explode a cada vez que ela me
olha dessa forma, com um desejo quase insaciável, assim como o
que eu sinto por ela.
Ficando na ponta dos pés, inclinada contra mim e com as mãos
em meu pescoço, ela sussurra, cheia de empolgação, e lambe o
lóbulo da minha orelha:
— Vamos ter outro bebê. — Ela procura, em meus olhos, a
minha reação.
Sorrio com a notícia. Mais um filho! Viktoria carrega em seu
ventre mais um fruto do nosso amor. Rodo-a nos meus braços,
radiante com a ideia. Teremos quantos filhos ela desejar, toda vez
que ela quiser, pois essa decisão é apenas dela.
— Mikhail…
Eu a coloco suavemente no chão e nossas bocas se encontram.
O gosto dela, quente e doce, mistura-se com a urgência do meu
desejo. A cada beijo, tornamo-nos mais selvagens. Minhas mãos,
impiedosas, reivindicam cada parte dela que conheço tão bem. Sou
completamente viciado nessa pele macia e em seus lábios carnudos,
que parecem ter sido feitos para mim.
— Eu te amo tanto, bonequinha — declaro com uma
intensidade que nunca me acostumarei a sentir por ela. Meu coração
dispara sempre que estamos juntos.
— Eu também te amo, meu amor.
O amor que nutrimos um pelo outro só cresce e arde
ferozmente em nossos peitos. Ela é a minha esposa, a razão da
minha vida, e, por toda a eternidade, eu a amarei. Afinal, Mikhail
não existe em um mundo sem Viktoria.
Fim!

Rolar para cima