// LIVRO

Corações de Inverno.441Z

Corações de Inverno

Entre alianças de sangue e regras, Ekaterina e Bernardo tentam encontrar um caminho para seus sentimentos proibidos. Filhos de uma das líderes mais temidas do país, eles enfrentam não apenas a brutalidade do mundo ao redor, mas também os próprios limites — impostos pela honra, pelo medo… e pelo desejo.

CAPÍTULO 1
Jannochka olhava para os dois irmãos,
sentados na frente dela.
— Isso foi inadmissível
— Ela falou, séria.
— Eu concordo, mãe. Ekaterina fica se
metendo…
— Você mandou espancarem o
Bernardo!
— Ekaterina se levantou e Pyotr não
ficou atrás.
Ambos estavam com marcas de agressão.
Pyotr pior do que ela.
— Ele é um maricas se não aguenta!
— Maricas?
— Ekaterina riu debochada
— Deu para tirar os outros por você?
Pyotr avançou contra Ekaterina, mas
Santiago segurou o rapaz pelo pescoço e o
fez se sentar, olhando feio também para
Ekaterina, que também sei que você queria
apenas machucar o Bernardo.
— Mãe, eu escolhi o mais fraco de nós
para ele treinar! O que mais eu poderia
fazer? – Pyotr deu de ombros, com um meio
sorriso, que logo morreu com a forma como
Jannochka olhou para ele.
— Bernardo não nasceu na máfia. Ele
não foi treinado na máfia. O que você fez foi
injusto e covarde – Jannochka se aproximou
mais de Pyotr, ficando com o nariz quase
colado ao dele – E eu não criei filho covarde.
Covardes não tem vez nessa Organização.
Pyotr franziu a sobrancelha.
Mas eu sou seu filho, o herdeiro. Vai me
matar?
Jannochka inspirou fundo, sem tirar os
olhos do filho.
— Se você for um covarde, Pyotr, não
há lugar pra você aqui. Como meu filho, a
cobrança é dobrada Ela falou e se sentou
atrás da mesa dela – Podem sair. E da
próxima vez, eu mesma vou dar uma surra
nos dois. Como Don.
Assim que os dois saíram, Santiago foi
para trás de Jannochka, que deixou o ar sair e
fechou os olhos, cansada. Santiago
massageou os ombros dela.
— Esses dois são fogo – Ele falou. –
Você precisa relaxar um pouco.
— Hmmm…
— Santiago deu um beijo na lateral do
pescoço de Jannochka e desceu a mão para
um dos seios dela, apertando ali.
— Não, não relaxar. Você precisa ser
bem fodida. – Ele puxou a cadeira dela com
a outra mão e Jannochka engoliu em seco –
Levanta.
— Dando ordens? – Ela perguntou,
provocando, levantando-se bem devagar.
Mas ao invés de ficar de pé, Jannochka se
colocou de joelhos e Santiago sorriu.
— E quem sou eu pra dar ordens na
mulher mais poderosa da Rússia? – Santiago
perguntou – Eu não passo do seu cachorro,
não é?
Jannochka, sem tirar os olhos do marido,
abriu as calças dele.
— Não, Santiago. Você é o único capaz
de mandar em mim Ela abaixou a cueca do
marido, segurando o membro dele – Gostoso.
Sem esperar que ele dissesse nada,
Jannochka o engoliu e Santiago grunhiu e
enfiou a mão nos cabelos de Jannochka.
– Que delícia, amor!
Santiago sempre agradecia por terem feito
aquele escritório à prova de sons.
Subindo as escadas, Ekaterina estava
furiosa, Pyotr logo atrás dela.
— Bernardo precisa crescer!
Ela se virou com raiva.
— Você sabe que fez merda! – Ela o
acusou E ele vai crescer! Primeiro que
Bernardo veio pra cá pra estudar! Nem
sabemos se ele vai ser um de nós!
Pyotr revirou os olhos.
— Não sou tão otário! Sei que você e
ele andam de putaria, Ekaterina. Então, ele
VAI casar com você.
— Não vejo você casando com as
garotas com quem dorme.
— Eu não fodo nenhuma da máfia,
fodo? – Ele perguntou
— Todas sabem bem que não tem
nada sério. Já você, printsessa (princesa), por
mais liberais que sejamos, isso não diminui o
seu status.
— Bernardo não tem que casar
comigo só porque fodemos! – Ela falou e
Pyotr torceu o nariz.
— Não vou deixar ele se aproveitar de
você! – Pyotr rangeu os dentes.
— Ele não está! – Ela respondeu no
mesmo tom.
— Bom, mesmo, Ekaterina. Eu acho
ele um cara maneiro, mas ninguém vai fazer
você sofrer. Eu mato! – Pyotr trincou os
dentes.
— Não, Pyotr. Eu mesma faço isso –
Ela soltou o ar – Obrigada por se
preocupar, irmão, mas eu sei de mim. E
homem nenhum vai brincar comigo. Eu por
acaso tenho cara de lírio do campo, Pyotr?
Pyotr levantou a sobrancelha e negou com
a cabeça.
— Você está mais pra “bast de Wolf”
do que para um lírio – Pyotr fez chacota e
Ekaterina mostrou a língua para ele.
(Bast de Wolf ou Daphne, é um tipo de
arbusto de até 1,5m que cresce na zona
intermediária da Rússia. Seus frutos são
vermelhos e atraentes, porém, mortais. A
morte ocorre por parada cardíaca e até
mesmo o suco da baga, na pele, pode causar
queimaduras graves e feridas).
— Você é o meu irmão e eu o amo,
Pyotr, mas não se meta mais com o
Bernardo.
— Você quem vai treiná-lo? Ekaterina,
se ele não ficar forte, vão fazer piada dele e
você sabe disso. Não sei como eram as coisas
no México, mas aqui, ele vai ser devorado.
— Eu cuido disso – Ela falou – E é
melhor você colocar gelo nesse olho. Ou
todos vão ver o estrago que eu fiz em você.
Ele deu um empurrão no ombro da irmã e
entrou no quarto dele.
Ekaterina tomou um banho e foi falar com
Bernardo.
— Posso entrar? – Ela perguntou após
bater na porta.
— Entra.
Ela abriu a porta e viu Bernardo aplicando
pomada nos machucados, já limpos.
— Desculpe por isso – Ela falou e
fechou a porta.
— Melhor deixar aberta –Bernardo
disse.
— Não tem motivo – Ela respondeu e
se aproximou, mas Bernardo negou com a
cabeça e passou por ela, com expressão de
dor, e deixou a porta encostada – Você tem
me evitado desde que chegou aqui. Te
meaçaram? Pyotr?
— Eu só não quero desrespeitar você.
Menos ainda aqui. – Ele falou. Santiago
conversou com ele e, entre meias palavras,
deixou claro que se Bernardo desejava se
manter um homem funcional, era melhor
guardar as coisas dele muito bem dentro das
calças.
Ekaterina sabia que não era só isso e se
aproximou mais de Bernardo, colocando a
mão no peito dele por sobre a blusa. Ele
inspirou fundo.
— Amor, assim fica difícil – Ele disse
mais baixo.
Só porque você tá fazendo ser assim –
Ekaterina passou a língua pelos lábios e
desceu a mão, mas Bernardo a segurou pelo
pulso.
— Você ainda vai fazer dezessete
anos, Ekaterina. E eu já tenho quase vinte
anos. Eu já fui muito irresponsável.
Ela estreitou os olhos para Bernardo.
— Eu não tô sendo forçada a nada –
Ekaterina começou a desabotoar a blusa e
Bernardo engoliu em seco – Um ano passa
rápido.
CAPÍTULO 2
Bernardo segurou as mãos dela.
— Então a gente espera um ano –
Ekaterina abriu a boca, indignada – Passa
rápido.
Ekaterina puxou as mãos.
— Eles ameaçaram você.
Certeza! – Ekaterina andou de um lado
para o outro – Você não parecia preocupado
quando me beijou na faculdade. Ou quando
brincávamos nas chamadas de vídeo!
— Shh! – Ele fechou a porta e passou a
mão pelos cabelos loiros, afastando-se de
Ekaterina e indo para perto do banheiro –
Ekaterina, vamos com calma, okay?
Ela negou com a cabeça.
— Você não se sente atraído por mim,
não é? – Ela suspirou e mudou de expressão –
Certo. Não vou insistir. Desculpe.
— Ela se empertigou e foi em direção
à porta. Ekaterina não iria se humilhar.
Bernardo xingou mentalmente, andou até
ela rapidamente e segurou-lhe a mão,
fechando a porta que ela já tinha aberto um
pouco e a puxou para a parede.
— Não me sinto atraído? – Ele segurou
o rosto de Ekaterina com uma mão e a
beijou. Foi como se o corpo dele entrasse em
chamas, deliciosas e dolorosas ao mesmo
tempo – Eu quero você o tempo todo!
Bernardo beijou Ekaterina de novo, os
dois gemendo e a levantou do chão e a
levando para a cama, onde a depositou e se
deitou por cima. Ela passou as pernas pelo
torso dele.
Ekaterina levantou a barra da blusa de
Bernardo, que a retirou e jogou a peça para o
lado. A russa passou a mão pelo peito do
loiro e ao descer o olhar, notou que ele
estava roxo no abdômen.
“Maldito Yenin!”, ela amaldiçoou.
Bernardo, apoiando as duas mãos ao lado de
Ekaterina, projetou os quadris para frente e
ela gemeu ao sentir o volume dele.
— Vê como eu te quero? – Ele
perguntou e repetiu o movimento, com mais
força – E me dói ter que protelar o momento
em que eu finalmente vou ter você toda,
Ekaterina.
Ele a beijou de novo.
Ekaterina mordeu o lábio inferior de
Bernardo, que acelerou os movimentos dos
quadris.
— Castillo?
Uma voz masculina soou do outro lado e
Bernardo e Ekaterina pararam de se mexer,
respirando pesado – A Don quer falar com
você.
— Ah… – Bernardo olhou para
Ekaterina e saiu de cima dela – Eu já vou.
Obrigado!
Passos se afastando e Bernardo cobriu o
rosto com uma das mãos. Ekaterina se
ajoelhou atrás dele, passando as mãos pelos
ombros de Bernardo.
— É melhor você ir. Minha mãe não
gosta de esperar – Ela falou e Bernardo se
virou, Puxando Ekaterina para o colo dele.
— Você é uma tentação, Ekaterina –
Bernardo a beijou de novo e se levantou –
Seja boazinha e coopere.
Ele ajeitou as calças, mas estava difícil de
esconder o estado dele. Ekaterina riu e ele
apertou os olhos para ela.
— O que fizemos aqui… Pode?
Bernardo colocou uma blusa comprida,
mas não era o suficiente.
Ele amarrou um casaco na cintura, ainda
que odiasse aquilo.
Vamos ver – Ele a beijou rapidamente –
Espera um pouco pra sair.
Ela concordou com a cabeça e assim que
ele se foi, Ekaterina deitou na cama de
Bernardo, sorrindo e abraçou um dos
travesseiros.
– Ele me quer, mesmo!
Bernardo estava com o coração à mil. E se
Jannochka soubesse que ele e Ekaterina
estavam quase transando no quarto dele?
Ele chegou ao escritório dela e respirou
fundo, antes de apertar no botão na parede e
se anunciar.
— Pode entrar –
Jannochka soou pelo interfone e desligou.
Bernardo abriu a porta, que foi
destrancada e viu a russa sentada atrás da
mesa dela – Sente- se.
— Com licença – Ele disse e se sentou
ali. Bernardo ainda se sentia nervoso na
presença da mulher que tanto se parecia com
Ekaterina.
“Ekaterina é mais bonita”, ele sorriu para
si mesmo e Jannochka, que levantou os olhos
para o rapaz, o olhou com interesse.
Se ainda pode sorrir, não deve ter sido
uma surra tão ruim – Ela disse e Bernardo
despertou das lembranças de minutos antes,
com Ekaterina, Jannochka se recostou na
cadeira – Eu peço desculpas pelo
comportamento dos rapazes, incluindo o de
Pyotr.
Bernardo negou com a cabeça.
— Eu só não tenho condicionamento
suficiente. Apanhei por isso – Bernardo disse
– Pyotr não está errado. Se eu vou ficar,
preciso ser capaz de ao menos proteger a
mim mesmo.
— Você não faz parte da máfia,
Bernardo – Jannochka disse, olhando nos
olhos verdes do rapaz
— Sua vinda para cá está relacionada
aos seus estudos.
— É… É possível que eu seja um de
vocês? Ele perguntou e Janna inspirou fundo.
— Você tem idéia do que fazemos,
Bernardo? Você consegue compreender
onde estaria se metendo? – Ela manteve o
olhar no dele – Não é algo que você pode
entrar e sair quando quiser. Uma vez dentro,
você só sai morto.
Bernardo não respondeu e Jannochka
ficou satisfeita que ao menos ele não era
impulsivo o suficiente para ir em frente e,
depois, se rrepender.
— Vamos fazer assim: você vai
treinar, vai ver como são as coisas e, caso
deseje ficar conosco, passaremos aos testes
e, finalmente, se você passar, a cerimônia –
Ela propôs – Espero que não tenha
problemas com tatuagens.
Pelo menos uma delas é obrigatória.
— Combinado
— Bernardo disse
— E não tenho problemas com
tatuagens.
Jannochka anuiu com a cabeça.
— Começaremos amanhã. E você vai
entrar num curso de russo.
— Vou?
Ela levantou a sobrancelha.
— Nem todos falam inglês. A Rússia é
grande, Bernardo. Você não vai querer estar
necessitando se comunicar e não poder. Às
vezes disso depende a sua vida ou de alguém
caro a você.
Ele já sabia uma coisa ou outra, que
Ekaterina havia ensinado.
— A senhora está certa – Ele
respondeu.
— Okay. Esteja pronto às seis da
manhã.
Pode ir – Ela falou e Bernardo concordou
com a cabeça, se levantando e andando até a
porta – E Bernardo? – Ele se virou para ela –
Nada de netos, por hora.
Entendido?
Ele arregalou os olhos e ficou vermelho
como um tomate.
Ah…
— Você sabe do que estou falando.
Ainda não. E não se atrase, amanhã. Odeio
atrasos.
Ele concordou com a cabeça e saiu do
escritório, encostando-se à porta com as
costas e soltando o ar.
“Porra, ela sabe!”.
Ao abrir a porta do quarto dele, pegou
Ekaterina dormindo na cama.
Bernardo fechou a porta com cuidado e se
aproximou dela, com a intenção de a acordar,
mas não teve coragem.
Bernardo nunca tinha visto Ekaterina tão
relaxada e ela lhe parecia um anjo. Ele não
era ignorante, sabia que aquela moça era
uma mafiosa, filha de uma Don e
compartilhava daquela genética, sem
esconder nada.
Ele se sentou na beirada da cama e tirou os
fios de cabelo que estavam no rosto da russa,
sorrindo.
Uma vez que ele ficasse na Rússia, ele faria
parte daquele mundo e teria que abdicar de
muitas coisas, incluindo da convivência fácil
com os pais. Máximo era um excelente pai,
aceitava Osvaldo e os outros, mas isso não
queria dizer que ele ficaria feliz com um filho
metido naquele mundo. Clara já foi um
baque bruto no mais velho dos Castillo.
— Mas eu não posso ficar longe de
você- Ele sussurrou e trocou de roupa,
vestindo uma calça de moletom e uma
camisa de algodão.
Depois, Bernardo se deitou na cama, de
frente para Ekaterina.
Os machucados dela estavam cuidados,
mas já estavam arroxeados. Bernardo
inspirou fundo, pois a vontade era de ir até
Pyotr e bater no rapaz.
“Ele vai terminar de me quebrar e, no fim,
vai sobrar para Ekaterina, porque eu sou um
fraco”, ele suspirou irritado com ele mesmo.
“Mas eu vou ficar mais forte!”.
Mesmo indo para a academia, Bernardo
não era páreo para aquilo.
Quando o celular dele tocou às cinco,
Ekaterina estava nos braços de Bernardo.
Ela resmungou com o barulho, mas
Bernardo levantou a mão para tocar no rosto
dela, que segurou o pulso dele com força e
abriu os olhos.
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CAPÍTULO 3
Por um momento, Bernardo sentiu o
sangue gelar. Aquela Ekaterina parecia outra.
Porém, durou apenas alguns segundos. Ela
rapidamente piscou algumas vezes e sorriu
para ele.
— Desculpe… Eu não estou
acostumada a acordar com ninguém
— Ela falou sem graça e Bernardo
sorriu.
— Eu fico realmente aliviado — Ele
disse e então, rolou por cima de Ekaterina
— Depois que casarmos vai se acostumar.
Um leve rubor apareceu nas bochechas
dela, que mordeu os lábios.
— Já pensando em casamento, senhor
Castillo?
— Claro! Eu sou um homem sério —
Ele deu um selinho nela
— Quero você todinha pra mim. De
todas as formas.
Ele se inclinou para beijá-la novamente,
mas alguém bateu à porta.
— Acorda. loiro! — Era Pyotr. Ele
bateu novamente com um só soco — Vai se
atrasar no primeiro dia?
— Merda! — Bernardo falou baixinho
— Já tô acordado! Vou só tomar uma ducha!
— Você tem vinte minutos! — Mais
um soco na porta e Pyotr se foi. Bernardo
pulou da cama.
— Você não precisa ter medo dele —
Ekaterina falou e Bernardo, que já estava a
meio caminho do banheiro, a olhou com
incredulidade.
— Sério? Ele vai me matar se pegar
você aqui! Sue mãe e seu pai também! Seus
tios. E eu não duvidaria dos seus primos.
Pelo menos o Aleksey… Ele é estranho.
Ekaterina não podia negar. Aleksey era o
mais novo, porém,o mais cruel e sádico.
Ela saiu da cama, também e se
espreguiçou, o que fez a blusa dela subir e
Bernardo fechou os olhos. Qualquer pedaço a
mais de Ekaterina que ficava à mostra era
como um convite para que ele corresse não
só as mãos, mas a boca.
“Não!”, ele brigou consigo e entrou no
banheiro de uma vez.
Quando ele saiu, depois de ter que se
aliviar, Ekaterina já não estava ali.
Bernardo se vestiu rapidamente e, ao
chegar ao primeiro andar, Ekaterina já
estava ali, com os cabelos úmidos, toda de
preto, conversando com o irmão.
— Bem na hora, loirinho — Pyotr
brincou, olhando para o relógio e sorrindo de
lado — Parece que você dormiu bem.
— Não poderia me atrasar no meu
primeiro dia oficial, não é? Eu… Eu dormi
cedo. Foi isso.
— Acabou a moleza!
— Miguel interrompeu Pyotr, que
estava pronto para comentar sobre Bernardo
dormir cedo. Miguel estava saindo da
cozinha com duas garrafas de água e jogou
uma para Bernardo, que a pegou com uma só
mão — Boa!
— Vamos, hora de treino — Fyódor
falou. Os olhos azuis, como os de Aleksey,
varreram todos, até chegar a Bernardo —
Você vai para o escritório. A Don espera.
— Sim, senhor — Bernardo disse e se
virou, encaminhando- se para onde
Jannochka esperava por ele.
Aleksey estava passando, a fim de ir para a
porta de saída, já que tinha um curso do
colégio antes da aula.
— Se eu fosse você, teria cuidado em
trancar a porta — O garoto disse em inglês e
Bernardo parou de se mover e olhou o
garoto, que já estava na porta.
— O que você disse?
Aleksey não se virou, mas sorriu.
— Imagino o que pensariam ao saber
que a princesa dormiu na sua cama
— Aleksey soltou uma risada — Pode
me agradecer depois por tirar o tio Yuri de
perto.
Aleksey saiu pela porta e Bernardo estava
se sentindo estranho. Ele andou rápido até o
escritório e Jannochka notou que ele não
parecia bem.
— Aconteceu alguma coisa?
— Huh? — Bernardo perguntou,
avoado.
— Você parece assustado. O que
houve?
Ele piscou algumas vezes e balançou a
cabeça.
— Nada… Eu só… Nada. Perdão.
Jannochka não ia forçar o rapaz a falar,
apenas fez sinal para que ele se sentasse ao
lado dela e a aula começou.
Diferente do que Bernardo imaginava,
Jannochka era extremamente paciente e
explicava com calma. Em nada se parecia
com uma Chefe de máfia perigosa, como ele
ouvia dizerem que ela era.
Mais tarde, no quarto dele, ele conversava
com os pais por vídeo chamada. Quando
Carolina viu os machucados de Bernardo, ela
quase chorou
— O que diabos estão fazendo com
você, aí?
— Máximo perguntou e Bernardo
balançou a cabeça.
— Eu que me meti onde não devia.
Além disso, pai, eu quero treinar. Ficar mais
forte.
— Você não precisa treinar com
esses… —Máximo soltou o ar — Respeito os
Sigayev, mas… Eu não quero você nisso!
— A escolha é minha, pai.
— Eles são criminosos!
— Máximo falou baixo, mas ríspido.
Carolina colocou a mão no ombro dele
— Eles não são de brincadeira,
Bernardo. Osvaldo e companhia, perto deles,
são fichinha!
— Eu sei me cuidar! Não vou fazer
nada errado!
— Se se tornar um deles, vai! Porque a
sua chefe vai te mandar roubar, matar! E
você vai! —Máximo levou uma mão ao peito
e Carolina arregalou os olhos — Vocês ainda
me matam!
— Querido, seu pai só está
preocupado. E acho que ele precisa
descansar um pouco
— Carolina falou — Por favor, cuidese.
Pense em tudo com carinho.
— Obrigada, mãe — Bernardo disse e
em seguida, a ligação foi finalizada.
Ele suspirou e olhou para o teto, cansado.
“Mas eu sei o que eu quero!”, ele disse,
seguro de si.
Antes de dormir, ele e Ekaterina
conversaram por mensagens e eles como
antes, os dois acabaram “passando dos
limites”.
Os dias passaram e Bernardo, por mais
que tentasse não colocar as mãos em
Ekaterina, perdia a força de vontade com
apenas um olhar mais atrevido dela.
Eles evitaram os quartos, mas viviam
pelos cantos se beijando.
— Vou sentir a sua falta — Ekaterina
disse, apoiada no batente da porta, enquanto
Bernardo estava arrumando as malas para
voltar ao México, para o Natal.
— Eu também vou sentir a sua — Ele
respondeu, fechando a pequena mala — Mas,
logo estarei de volta.
— Mamãe disse que o seu treino físico
vai começar — Ekaterina sorriu — E
adivinha quem vai te treinar?
Bernardo balançou a cabeça.
— Quem?
— Euzinha! Ele sorriu.
— Opa! Com uma professora dessas,
eu fico até mais animado
— Ele se aproximou dela, olhou para o
corredor e então, beijou Ekaterina.
Passos no corredor e vozes fizeram os dois
se separarem e ele piscou pra Ekaterina,
pegou a mala dele e saiu pelo quarto, dando
de cara com Yuri e Maksim. YA slezhu za
toboy (Eu estou de olho em você)! — O pai
falava para o filho, que mantinha a cabeça
baixa — Ah, Bernardo! O Fyódor já está te
esperando no carro. Boa viagem!
— Obrigado, senhor Sigayev! —
Bernardo falou e o russo voltou a fechar o
rosto, passando sermão em Maksim, que
apenas deu um sorriso tímido para Bernardo
e Ekaterina, antes de seguir o pai.
— Maksim é bem na dele — Bernardo
falou.
— Sim. Ele é… Doce
— Ekaterina falou, andando atrás de
Bernardo — Tio Yuri quer endurecê-lo.
— Por quê? — Bernardo perguntou
— Eu o vi lutar. Ele me parece muito
bom.
— Não para o patamar da Organização
— Ekaterina disse e Bernardo a olhou de
boca aberta — Maksim tem coração mole.
Ele não é dado a torturas.
Bernardo franziu o cenho.
— E você é? — Ele riu, mas Ekaterina o
olhou, séria.
— Eu não nego as minhas origens, o
meu sangue, Bernardo — Ela falou
— Sou filha da minha mãe.
Bernardo, apesar de ouvir muito falar que
Jannochka Sigayeva era uma mulher cruel,
pior que o próprio diabo, não acreditava.
Sim, ela era durona, rígida, mas também
educada e, de certo modo, amável.
— Aposto que sim — Ele sorriu para
Ekaterina, que sentiu um aperto no coração.
— Aposte. Porque eu sou pior do que
você imagina — Ela falou. Era melhor que
Bernardo sempre soubesse quem e como ela
era.
Ele parou ao pé da escada e acariciou o
rosto de Ekaterina.
— Você tem uma casca dura, mas por
dentro, é um amor.
Uma gargalhada debochada e os dois
viram Pyotr chorando de tanto rir, com
Miguel atrás dele.
— Um amor? Ekaterina? — Pyotr
perguntou e colocou a mão no ombro de
Bernardo. O russo tinha crescido alguns
centímetros e estava do tamanho do loiro
— Pobre iludido. Abre o olho, loiro.
Essa daí é pior que a aranha Karakurt!
— Você está enganado — Bernardo
disse e Pyotr parou de rir, confuso.
— Como eu disse, iludido. Boa viagem
— Pyotr falou — E vê se acorda desse
seu mundo de fantasia. A teia dela é viscosa e
você vai acabar preso e ela vai te matar.
— Cala a boca, Pyotr!
— Ekaterina falou e o rapaz não
gostou do tom, fechando a cara. Miguel se
colocou no meio.
CAPÍTULO 4
— Época de Natal, amor nos corações!
— Ele disse e puxou a manga da
camisa de Bernardo — Tá na hora da gente
ir, Bernardo. Tchau, galera! Comportem- se!
Ele deu uma piscada para os gêmeos e foi
com Bernardo para o carro que os levaria ao
jatinho.
— Pyotr às vezes é insuportável! —
Bernardo falou e entrou no carro.
— Mas… Você sabe que a Ekaterina
não é uma flor, né? — Bernardo olhou feio
para Miguel — Não tô falando mal dela. Só tô
dizendo que ela parece com a tia Janna.
— Essa também não é esse demônio
que vocês pintam.
Miguel soltou uma risada.
— Realmente, você tá iludido. Não
sabia que você era desses que se derretem
por mulher, Bernardo.
O loiro apontou para Miguel.
— Não ouse me julgar! Você fica de
quatro facinho!
— Eu? — Miguel riu com desdém —
Tive um lapso. Já passou.
— Pensei que estivesse com a Gemma.
Gemma? Ficou louco?
— Miguel negou com a cabeça — Não
nego que ela é bonita, está menos chata.
Agora… Ela e eu, juntos, um casal? Nem
louco.
— Eu te vejo de papo com ela… Achei
que estivesse rolando algo.
— Não! Amizade! — Miguel falou —
Não curto mulher tão novinha.
— Ah, nossa, você é tãaao velho!
— Gosto de mulher da minha idade
pra cima — Miguel disse e sorriu de lado —
As de vinte e cinco, por aí. Nossa, que delícia.
Bernardo balançou a cabeça
negativamente.
— Você é um galinha. Junto com o
Pyotr.
— Não nego. E você, é um romântico.
Bernardo suspirou.
— Eu prefiro me manter fiel ao que eu
sinto e a quem eu quero. Se eu gosto de uma
mulher, por que eu iria querer outra? Nem
entra na minha cabeça a possibilidade de
outra me tocar.
Ele torceu o nariz e Miguel levantou as
sobrancelhas.
— Vai ver não encontrei o amor da
minha vida, ainda.
A viagem de volta para o México foi longa
e Bernardo não conseguia parar de pensar
que estava adorando ficar pertinho de
Ekaterina, além de estudar o que ele
adorava.
Assim que o período iniciasse, ele entraria
para a faculdade na área da computação.
Naquele ano, Tonny passou o Natal com os
Castillo, para que Clara não precisasse
escolher.
— E então, como estão as coisas na
Rússia? — Tonny perguntou a Bernardo,
quando os dois estavam organizando os
talheres.
— Bem… Alguns russos são mais
legais do que outros — Bernardo riu — Acho
que tem uns que não me suportam.
— Você não é nascido no meio.
Normal — Tonny disse — Além disso, você
está “roubando” a princesa deles. Muitos ali
sonham em ter algo com Ekaterina.
Bernardo trincou o maxilar.
— Pois eles que sonhem! Ela é minha!
Tonny sorriu.
— Tenho certeza que sim. E, um
conselho:
Ekaterina não é do tipo que se dobra por
homem, que abaixa a cabeça. Nunca tente
subjugá-la, Bernardo. Nunca.
— Manterei isso em mente — O loiro
disse.
A noite de Natal foi regada a conversas,
brincadeiras e, claro, muito amor.
— Eu nem acredito que elés já estão
crescidos — Carolina reclamou, fazendo
beicinho enquanto terminava de guardar a
louça, com Máximo. Eles haviam insistido em
dar conta de tudo sozinhos.
Máximo a abraçou por trás e apoiou o
queixo no ombro da esposa.
— Parece que foi ontem que Bernardo
era um bebê — Ele falou e sorriu, lembrando
do bebê que ele viu pela primeira vez através
da tela de um celular.
Aquilo sempre fazia Máximo se
arrepender de como muitas coisas
aconteceram na vida deles, e de como ele
quase colocou tudo a perder.
— Obrigada por me dar esses filhos
maravilhosos — Carolina disse, se
encostando mais em Máximo e passando a
mão pelo rosto dele.
A pele estava melhor, com o tempo. Mas, se
olhasse direito, ainda era possível ver que não
era perfeitamente lisa.
Máximo apertou mais a cintura de
Carolina e olhou em volta.
— Acho que estão todos dormindo —
Ele sussurrou e ela mordeu os lábios.
— Mas é perigoso! —
Apesar de dizer isso, Carolina já estava
sorrindo e adorando a atenção que uma das
mão de Máximo estava dando para a coxa
dela e subindo pelo tronco, indo em direção
ao seio.
— Adoro um perigo
— Ele mordeu o lóbulo da orelha dela,
que gemeu e se esfregou mais em Máximo.
Sem pensar mais, Máximo a levantou, para
que Carolina se sentasse no balcão.
Ele se colocou no meio das pernas dela e
atacou-lhe os lábios.
— Você tá cada vez mais deliciosa! —
Ele beijou o pescoço de Carolina, se
enterrando nela, que abafava os gritinhos e
gemidos no ombro dele.
No próprio quarto, Bernardo estava em
chamada de vídeo com Ekaterina, como
sempre.
— Quero saber qual vai ser o meu
presente — Ela brincou e Bernardo sorriu,
safado, passando a mão por cima da calça.
— O que você quiser.
— Hmm… Perigoso você dizer isso —
Ela passou as mãos pelos seios, por cima do
suéter.
— Temos que esperar… — Bernardo
respondeu, a boca seca — Você precisa
completar dezoito anos.
Ekaterina revirou os olhos.
— Não preciso… Nossa diferença de
idade é de menos de três anos!
— Mesmo assim. E… Não quero fazer
besteira e estragar a minha chance de casar
com você.
Ekaterina negou com a cabeça.
— Aqui as coisas não são assim. Eu
não preciso casar virgem
— Ela falou e olhou bem para
Bernardo
— E você tem tanta certeza assim de
que vamos nos casar?
Ele fechou a expressão na hora.
— É claro que vamos! Eu não estou
namorando você por brincadeira!
— Ah, estamos namorando… — Ela
disse lentamente e, ao ver a boca dele aberta,
em confusão e ofensa, ela Ekaterina
continuou — Você nunca pediu.
Bernardo ainda levou alguns segundos
para se recompor.
— Não seja por isso. Eu gostaria de
fazer isso ao vivo, mas também não quero
perder mais tempo
— Ele respirou fundo
— Ekaterina, você quer ser a minha
namorada?
Oficialmente?
Ela virou a cabeça para o lado, fazendo um
biquinho. O coração de Bernardo bateu mais
forte, porque ela não estava dando uma
resposta.
“Porra… Será que não é isso o que ela
quer?”
— Eu sou muito jovem. — Ela falou e
Bernardo pensou que morreria ali mesmo.
Ekaterina percebeu como o rosto dele
parecia contorcido em dor e decepção.
CAPÍTULO 5
— Ei! Eu tô brincando! Claro que eu
quero!
Bernardo fechou os olhos, levando a mão
ao peito.
— Você… Diaba! — Ele soltou e
Ekaterina jogou a cabeça para trás, numa
gargalhada que aqueceu Bernardo todo por
dentro.
— Desculpe, desculpe. Não sabia que
você ficaria desse jeito!
— Isso não é jeito de tratar o seu
namorado… — Ele a repreendeu, mas já
sorrindo. Ela era a namorada dele.
De acordo com a máfia, ela poderia estar
noiva dele, sem qualquer problema. Ele
esperaria mais um pouco e a pediria em
casamento. Não tinha qualquer dúvida
dentro dele quanto a quem ele queria para a
vida.
— E como eu posso me retratar? —
Ela abriu mais o sorriso
— Meu querido namorado? Alguém
bateu na porta de Ekaterina, antes de abrir a
mesma. Era Pyotr, que olhou para a tela,
vendo Bernardo sem camisa e apertou os
olhos, se aproximando com raiva.
— Que merda é essa?
— Ele perguntou e fuzilou Bernardo
pela tela do computador.
— Sai do meu quarto!
— Ekaterina bateu o pé e puxou o
braço do irmão, que apontou com o dedo
para Bernardo.
— Eu vou quebrar você… Porra, eu
vou te matar! — Ele gritou e Ekaterina deu
um empurrão nele. Pyotr segurou os braços
dela
— Ficou maluca?
— Ei! Solta ela! — Bernardo gritou,
colocando-se de pé, como se ele pudesse
fazer algo, uma vez que estava a muitos e
muitos quilômetros de distância dos gêmeos.
— O que tá havendo aqui? — Santiago
apareceu no quarto e olhou para os dois
irmãos, sem nem olhar para o computador
de Ekaterina.
Isso é, até que Pyotr apontou.
— Ekaterina tá de putaria com o
Bernardo, online!
A expressão de Santiago escureceu e ele
olhou para Ekaterina e, então, para onde
Pyotr estava apontando..
— A gente tava só conversando! —
Ekaterina disse, sem gaguejar — Qual o
problema?
— Por que ele tá sem blusa? —
Santiago perguntou e só então Bernardo se
lembrou que poderia parecer que ele estava
nu. Ele se afastou um pouco da tela para que
Santiago visse que ele estava vestido.
Não que aquilo tenha ajudado muito, já
que o volume nas calças dele ainda estava ali.
— Ele tomou banho e veio falar
comigo. Não é como se não víssemos os
rapazes sem blusa — Ekaterina disse,
calmamente — E eu estou bem vestida, não?
Santiago olhou para ela e concordou com a
cabeça.
— Vamos conversar quando você
voltar, Bernardo — Ele disse para o loiro,
que concordou com a cabeça, pela tela do
computador. — Quanto a vocês dois… Vamos
conversar agora!
Abaixando a tela do computador, dando
uma piscada de olho e um sorriso para
Bernardo, Ekaterina se virou em seguida e
seguiu o pai para fora do quarto.
Eles foram para o escritório.
— Sentem-se! — Os dois se sentaram
e Santiago cruzou os braços, soltando o ar e
se escorando na mesa com as duas mãos,
cabeça baixa, antes de olhar para os meninos
— Essas brigas tem que parar.
— Ele invadiu a minha privacidade —
Ekaterina disse e Santiago concordou com a
cabeça e olhou para Pyotr, que parecia
ofendido.
— Eu só fui chamar Ekaterina para
tomar a droga do chocolate quente que eu fiz
pra ela!
— Pyotr cruzou os braços na frente do
peito, enquanto Santiago olhou com
surpresa para o filho, levantando a
sobrancelha — O quê?
— Você fez chocolate quente para
Ekaterina?
— Eu só quis ser legal! É manhã de
Natal!
— E desde quando você é legal… Na
manhã de Natal, Pyotr? — Ekaterina
perguntou e cruzou os braços.
Pyotr revirou os olhos.
— Foi a primeira e última vez — Ele
retrucou — Mas não mude o foco! Você tava
se insinuando para aquele… Aquele…
— O que você viu, Pyotr? — Santiago
perguntou e Ekaterina agradeceu por não ter
tirado a blusa.
— Ela estava passando a mão pelo
corpo. Eu vi! E eu tenho certeza que ela tava
levantando o suéter!
Santiago olhou para Ekaterina.
— Pai, o senhor nao faz esse tipo de
cobrança com Pyotr, por que comigo? Por
que ele pode dormir por aí com quem quiser
e eu, não?
— Você dormiu com ele? — Pyotr
perguntou, mais irritado.
— Não é da sua conta!
— Ei. ei, ei! — Santiago deu um tapa
forte na mesa.
— Sorte de vocês que Jannochka teve
que sair, ou ela teria dado aquela surra que
ela prometeu! Porra… — Ele suspirou — Só
quero que se cuide, não vou matar Bernardo,
ainda. Ok?
— O senhor vai deixar? — Pyotr
perguntou, levantando-se.
— Como ela disse, se você pode, ela
pode.
— Mas.
— Está dito, Pyotr! —Santiago falou e
olhou para Ekaterina — Mas tenha cuidado.
Porque assim que estiver claro para os
outros que Bernardo anda com você, eles
vão querer a morte dele. Você sabe como os
rapazes são competitivos.
— Dane-se eles! — Ekaterina soltou e
Santiago a olhou feio
— Perdão.
— E você, Pyotr, não quero saber de
você se metendo onde não deve. Sua irmã
não é nenhuma desmiolada. Ela nunca deu
trela para rapaz nenhum e Bernardo é
alguém que eu aprovo.
— Ele é fraco! Incapaz de proteger
Ekaterina!
— E quem disse que EU preciso de um
homem me protegendo? — Ekaterina o
olhou indignada — Eu posso dar conta de
mim. Melhor do que você dá conta de si!
— Quer testar? — Pyotr se levantou e
Santiago segurou os dois pelo pescoço e
olhou de um para o outro.
— Último aviso — A expressão dele
ficou bem diferente e os gêmeos sabiam que,
apesar de ser muito paciente, quando o pai
deles resolvia que a brincadeira havia
acabado, ele era terrível
— Entendido?
Os dois concordaram como dava, com a
cabeça, antes de Santiago os colocar para
fora.
Ekaterina foi em direção a cozinha.
— Hey! — Pyotr a chamou, mas ela o
ignorou. Ele se colocou na frente dela
— Pra onde tá indo?
— Quero saber se você fez mesmo
chocolate ou aquilo foi papo furado! — Pela
forma como Pyotr fechou a boca, Ekaterina já
sabia a resposta — Você é um puta
mentiroso!
— Eu ia fazer o chocolate, mas tinha
que saber se era com ou sem canela — Ele
falou, mas Ekaterina sabia que aquela era
outra mentira e o olhou, esperando que ele
falasse a verdade.
Pyotr jogou as mãos para o alto — Tá! Eu
só queria saber se você podia me ajudar com
uma coisa.
— Não me sinto muito interessada
nesse momento, não. — Ekaterina
respondeu, dando a volta e indo para as
escadas.
— Calma aí, irmãzinha Ekaterina
continuou andando
— Tem essa menina…
Ekaterina parou de subir os degraus e se
virou para Pyotr.
— Você tentou estragar o meu
relacionamento e ainda tem a cara de pau de
querer que eu ajude com o seu?
Ela negou com a cabeça e continuou a
subir, mas Pyotr segurou a mão dela.
— Seguinte, ela é boazinha.
— É da máfia?
Ele negou com a cabeça.
— Do colégio.
— Você estuda num colégio para
meninos
— Ekaterina respondeu, cruzando os
braços.
CAPÍTULO 6
—Eu não disse que era o meu colégio,
disse? — Pyotr tentou desconversar, mas
Ekaterina continuou encarando o irmão, que
soltou um suspiro de derrota — Ela estuda
num outro colégio, óbvio.
— Pyotr, se não vai me contar isso
direito, eu não tenho como ajudar em nada.
— Certo! Hmm… — Ele passou a mão
pela nuca e Ekaterina imaginou que ele
estava preparando outra mentira — Eu fui
fazer um trabalho na casa de um colega e eu
a conheci. Vizinha dele.
— Desisto — Ela abanou a mão na
direção do irmão e voltou a subir a escada.
— Não, pera aí! — Pyotr seguiu
Ekaterina — Eu não tô mentindo!
— Você não vai na casa de ninguém
fazer trabalho. Os professores sabem que
você faz trabalhos sozinho, Pyotr. Então,
pense melhor e, quando tiver uma mentira
mais elaborada, você fala comigo!
— Só… Só me diz o que eu posso fazer
pra uma garota legal me dar bola!
Ekaterina já estava no topo e se virou
novamente, mas não completamente.
— Se ela for legal, mesmo, não vai te
dar bola, Pyotr — Ela então olhou bem para
o rosto do irmão, que parecia chocado e
machucado com as palavras dela — Vai ver
que ela consegue sentir o quão mentiroso
você é e, por isso, ela está sendo esperta e
mantendo distância.
Depois disso, Ekaterina voltou a andar e,
dessa vez, Pyotr não a seguiu. Ele fechou os
olhos, irritado, e foi para o próprio quarto.
Aquele era um dos poucos dias no ano em
que eles não tinham treino e poderiam
aproveitar o dia para eles. Exceto se
houvesse alguma emergência.
Jannochka estava olhando para o homem
sentado na cadeira, com pouco interesse.
— E-eu juro, Parkhan… — Ele falou,
com dificuldade — Não fui… Eu.
— Além de tudo, ainda tenta me
passar de imbecil — Ela murmurou,
revirando os olhos e se aproximando do
homem.
— Parkhan… Por favor…
Jannochka fez sinal para o outro soldado,
que segurou o pescoço do homem, pela nuca
e apertou, fazendo-o abrir a boca por reflexo.
Ela enfiou a mão na boca do homem e puxou
a língua dele para fora, vendo-o arregalar os
olhos e se debater.
— Eu odeio mentirosos. Odeio
estupradores… E pedófilos. Você conseguiu
ser os três
— Quando o homem olhou dentro dos
olhos dela, foi como se visse o próprio
inferno. — Vou tirar tudo de você.
Ela tirou a pequena faca do cinto e cortou
lentamente a língua do homem. Depois,
enfiou a mão na bacia de sal, já preparada e
colocou um punhado na boca dele, que
tentava gritar.
— Adrenalina — Ela pediu e o médico
que trabalhava com ela injetou uma seringa
no homem — Você não vai morrer. Não
ainda.
Ela olhou para o meio das pernas dele e
sorriu diabolicamente.
Ao chegar em casa, Santiago já a esperava.
Ela tinha dito que trataria de um problema, e
não precisaria que ele fosse. Na verdade, ela
queria que ele descansasse um pouco, já que
Santiago vinha trabalhando mais do que o
normal.
— Pela sua cara, foi divertido,
Santiago falou, sorrindo de lado.
— Um aquecimento
— Ela falou e foi para o banheiro — A
diversão vai começar agora — Ela piscou
para o marido, que entendeu e a seguiu para
o banho.
Na cama, ela beijou o peito de Santiago e o
acariciou.
— Como as crianças se comportaram?
— Brigaram, de novo, mas nada grave.
Besteira — Ele passou a mão pelo seio de
Jannochka. Ela tinha voltado a colocar os
piercings depois que os gêmeos já não
estavam amamentando.
Santiago deitou por cima dela e passou a
língua no mamilo — Não canso de chupar
essas gostosuras.
Ele sugou forte em um, enquanto apertava
o outro. Enquanto isso, a mão livre dele foi
para o clitóris de Jannochka.
— Ah, Santiago! — Ela gemeu e
passou as unhas pelas costas dele.
Quando ele se posicionou na entrada dela,
sorrindo de maneira safada e começou a
entrar, bateram à porta com urgência.
— Ah, não, porra! — Santiago
resmungou com raiva e olhou por sobre o
ombro, para a porta — O que foi?
— Senhor, é uma emergência!
Santiago rosnou e olhou de novo para
Jannochka, que já se afastava dele. Santiago
fechou os olhos e grunhiu de novo, antes de
pegar os shorts e ir para a porta, abrindo um
pouco, apenas para olhar para o soldado, que
estava de lado, a fim de não olhar para o
quarto.
— É bom alguém ter morrido! —
Santiago falou entre dentes e o soldado
engoliu em seco.
— Pyotr está na delegacia, senhor.
Jannochka, que já tinha colocado um roupão
por cima do corpo, apareceu por trás de
Santiago, com os olhos faiscando.
— O que disse? — Ela perguntou
calmamente, baixo, mas foi o suficiente para
o soldado tremer. Quanto mais calma por
fora, mais furiosa ela estava por dentro.
Todos ali sabiam daquilo.
— Ele foi… — O soldado respirou
fundo. Ser o mensageiro de más notícias
pesava como uma tonelada — Ele foi detido
e o delegado não quis entrar em detalhes,
mas pediu a presença dos pais.
— Já vamos resolver isso. Pode ir.
Obrigado — Santiago falou e fechou a porta.
Jannochka já estava trocando a roupa, o
rosto vermelho de raiva.
— Esse moleque! — Ela apertou os
lábios.
— Dependendo do que houve, eu
mesmo vou dar a porra de uma surra nesse
garoto!
Quando eles chegaram lá, Pyotr estava
sentado na sala do delegado e, pela
expressão dele, não havia um pingo de
vergonha ou arrependimento.
— Senhores Sigayev
— O delegado, um homem de meia
idade, com os cabelos já brancos nas
têmporas, os recebeu.
— Delegado Petrovich — Santiago
falou e apertou a mão do homem, que não se
atreveu a tocar em Jannochka, limitando-se a
um aceno de cabeça respeitoso — O que
houve aqui?
O delegado suspirou, como se tentasse
encontrar as palavras certas.
— Pyotr Sigayev estava com um outro
rapaz… Bom, eles estavam com drogas.
O delegado sabia muito bem sobre os
negócios da família Sigayev, porém, era
estritamente proibido aos membros
consumirem drogas ou serem pegos perto de
quem as estava consumindo.
Santiago olhou para Pyotr, que não podia
vêlos, uma vez que estava fechado na sala.
Mas só de ver como o garoto parecia
tranquilo, até um pouco enfadado, fez o
sangue de Santiago ferver.
CAPÍTULO 7
A porta da sala do delegado se abriu e
Pyotr virou o pescoço, dando de cara com
Petrovich. O rapaz o olhou com as
sobrancelhas erguidas.
— Meus pais já chegaram, Delegado?
— Ele perguntou, com falsa gentileza.
Pyotr odiava ser interrompido, não
importava o que ele estava fazendo.
— Sim — Petrovich disse e deixou a
porta aberta, fazendo sinal com a mão que
Pyotr deveria segui-lo.
Pyotr se levantou e sorriu de lado, porém,
quando ele tentou ir para a saída, um policial
se colocou na frente e ele franziu o cenho.
— Com licença — Ele pediu, mas o
policial não se moveu.
— Senhor Sigayev, por aqui, por favor
— Petrovich pediu e Pyotr o olhou com
confusão.
— Mas a saída é por aqui, não? —
Pyotr perguntou, sentindo que algo estava
errado.
— Os seus pais me pediram que o
senhor usasse um caminho diferente.
Pyotr apertou os olhos para ele, mas
decidiu seguir. Não tinha jeito de Petrovich
tentar qualquer coisa contra ele, afinal,
ninguém brincaria com os Sigayev sem
esperar retaliação.
Ao entrar num corredor com a primeira
cela, Pyotr parou de andar.
— Com respeito, mas… Que merda é
essa? Pra onde está me levando?
— Para a sua cela — Petrovich
respondeu, sem muita emoção.
Pyotr ficou calado por uns segundos, antes
de gargalhar, mas Petrovich não esboçou
qualquer reação. Ele estava acostumado a
lidar com jovens como Pyotr.
— Eu não sabia que o senhor tinha um
senso de humor tão bom! — Pyotr enxugou
as lágrimas dos olhos, mas ao perceber que o
delegado não disse nada, ele foi ficando mais
sério — Isso é sério?
— Totalmente, senhor Sigayev.
Pyotr estalou a língua e cruzou os braços.
— Quero falar com meus pais. Agora.
Petrovich finalmente mudou a expressão e
sorriu de leve.
— Com prazer — Ele discou o número
de Santiago e esticou o telefone para que
Pyotr o pegasse — Aqui.
Pyotr levou o telefone ao ouvido.
— Delegado — A voz de Santiago soou
do outro lado.
— Pai, esse delegado quer me colocar
em uma cela — Pyotr disse com um certo
toque de deboche — Por isso pedi para falar
com o senhor. Para resolver esse mal
entendido.
— Qual mal entendido, Pyotr? —
Santiago perguntou e o sorriso triunfante de
Pyotr começou a esmorecer
— Você fez merda, eu conversei com o
delegado e, infelizmente, você vai ter uma
curta estadia na prisão.
Pyotr abriu a boca, sem acreditar. Ele ficou
na dúvida se o pai tinha usado o
“infelizmente” para ele ir preso ou se por
ficar pouco tempo lá.
— Pai… Eu vou ficar fichado! — Pyotr
disse e arregalou os olhos — Isso vai foder
tudo!
Apesar de gostar da máfia, Pyotr tinha
intenção de ir para a faculdade!
— Você fodeu com tudo, Pyotr.
Conversaremos quando você sair. Agora,
uma dica: não cave mais fundo a sua cova.
E o telefone ficou mudo. Pyotr engoliu em
seco e olhou para a mão estendida do
delegado, que pedia pelo aparelho dele de
volta.
Por mais que Pyotr tivesse força e
competência para imobilizar o delegado,
seria um tiro no próprio pé dele, pois se ele
saísse dali, seria um fugitivo. E depois do que
os pais fizeram com ele, Pyotr duvidava que
eles o ajudariam.
Apertando o maxilar, ele seguiu o que o
delegado falou e entrou na cela, olhando em
volta com desgosto.
Não era sujo. Mas ele não queria ficar ali.
— Delegado! — Ele chamou e
Petrovich parou de andar, voltando-se para
Pyotr, esperando que o rapaz falasse — E o
Kazimir Semenov?
O rapaz estava com Pyotr. Na verdade, era
ele quem estava fazendo a merda!
— Os pais dele já o levaram.
A resposta do delegado chocou Pyotr, que
nem teve reação, antes de ser deixado
sozinho ali.
Na mansão dos Sigayev, Ekaterina estava
olhando para o pai, piscando.
— Pyotr…Foi preso?
— Sim, ele fez merda, quebrou as
regras, e foi preso — Santiago disse, calmo.
Por dentro, ele estava morrendo.
Deixar Pyotr ali foi como se ele estivesse
enfiando uma barra de ferro quente dentro
dele mesmo.
Mas ele não podia demonstrar aquilo.
Pyotr tinha que aprender e Ekaterina era a
gêmea. É claro que ela ficaria de coração
mole para o irmão. Santiago precisava
demonstrar que eles não podiam fazer o que
bem entenderem e agirem como se não
houvesse punição.
— Eu vou visitá-lo — Ela falou e
Santiago não a proibiu.
Bufando, Ekaterina subiu, pegou o celular
dela, algumas facas e armas e se arrumou
toda. Ao se virar, viu Aleksey escorado no
batente da porta.
— O que foi? — Ela perguntou. O
garoto conseguia tirá-la do sério, mesmo
sem falar nada.
— Parece até que você está indo
resgatar alguém — Ele disse, as mãos nos
bolsos.
Apesar do sorriso nos lábios, os olhos do
garoto eram vazios.
Ekaterina era dura, mas ela sentia calafrios
com Aleksey Isso não é da sua conta,
priminho.
Ele levantou as mãos, como se estivesse se
rendendo.
— Claro que não — Ele falou — Mas
como eu gosto muito de você, vim falar
mesmo assim.
Se você for resgatar alguém, contra as
ordens dos tios, você vai apenas condená-lo.
Lembre-se que vocês dois não são os únicos
capazes de subir ao trono.
Na possibilidade de Pyotr e Ekaterina
morrerem, Maksim os substituiria e, depois,
Aleksey. E Ekaterina tinha a sensação de que
o mais novo esmagaria o outro primo dela.
Maksim era “bonzinho” demais.
— Eu vou apenas visitar Pyotr. Mas
estou pronta para qualquer encontro
desagradável, só isso — Ela falou, colocando
o casaco pesado por sobre o corpo e indo em
direção à porta — Obrigada pelo… Conselho.
Ela passou por Aleksey, que a olhou com
um sorrisinho no rosto. Ele adorava
provocar os primos.
Pyotr estava andando de um lado para o
outro, quando a grade que separava a
delegacia da parte das celas fez barulho. Ele
ficou em alerta.
— Rina! — Ele disse e se aproximou
da grade, mas não a tocou.
Ekaterina cruzou os braços na frente do
corpo e olhou bem para o irmão.
— O que você fez, Pyotr? — Ela
perguntou, com um tom de decepção. Pyotr
normalmente não se importava com o que os
outros pensavam dele, mas os pais e,
principalmente, Ekaterina, eram os únicos
que ele queria sempre agradar — Não mente,
ou eu vou embora e juro que vou passar um
tempão sem olhar na sua cara!
Ele suspirou e passou a mão pelos cabelos.
— Kazimir me ligou e disse que tava
numa enrascada. Eu estava de saco cheio de
ficar em ‘casa e fui ajudar, afinal, ele é meu
amigo — Pyotr apertou a mandíbula. Ele se
entenderia com Kazimir depois — Quando
eu cheguei lá, ele tinha enfiado a porrada
num outro cara.
— Só uma surra? — Ela perguntou,
incrédula.
Ela conhecia Kazimir e aquele rapaz era
problema.
— Kazimir tava usando drogas, Rina.
O cara descobriu e Kazimir quis dar um jeito
nesse problema. Bom, ele não matou o
desgraçado.
— Ainda bem! Você ser pego com um
assassinato assim não teria nem como os
nossos pais fazerem algo, Pyotr!
— Eu não matei ninguém! Pyotr
respondeu e soltou um suspiro de frustração
— Eu liguei para a ambulância, eles
ligaram para a polícia, que chegou junto.
— Daí você tava ali e rodou junto com
o Kazimir, né? — Ekaterina perguntou e
Pyotr levantou os ombros. Ela balançou a
cabeça — Você é muito imbecil, às vezes! E
cadê ele?
Ela olhou ao redor e as celas estavam
quase vazias, com exceção de um homem
deitado num canto.
— O delegado disse que os pais dele o
levaram.
— Pyotr deu de ombros.
— E… E você tomou a culpa? —
Ekaterina apertou os punhos — Eu vou
resolver isso. Kazimir já está morto!
— Rina! — Pyotr a chamou quando
ela já tinha virado na direção da saída —
Não. Ainda não. Deixa que eu lido com ele.
Kazimir vai me pagar por ter jogado a bomba
da merda dele em cima de mim!
— É bom mesmo, Pyotr, porque se
não, eu vou fazer aquele merdinha se
arrepender de ter nascido! Ela se aproximou
da cela e estendeu a mão, ao que Pyotr
segurou-a e ela sorriu — Você logo vai sair
daí.
Ekaterina foi para o carro e segurou o
volante, com raiva.
— Se Kazimir pensa que vai ficar
assim, não vai. Eu posso não matar, mas sem
punição por ter mexido com o meu irmão,
ele não fica!
CAPÍTULO 8
Ekaterina estava a caminho da casa de
Kazimir, mas encostou o carro quando ela
viu o nome na tela do celular. Teoricamente,
ela não poderia dirigir, já que era menor de
vinte e um anos, mas, ela tinha conseguido
uma “autorização especial”.
— Oi, amor! – Ela atendeu, sorridente.
— Hmmm, de bom humor, minha
rainha? – Bernardo abriu um sorriso imenso.
— Nem tanto… – Ela não sabia se
deveria ou não contar a ele sobre Pyotr, mas
então, ele era o namorado dela. O futuro
marido dela – Pyotr está preso.
O sorriso de Bernardo morreu ali mesmo.
Ele, que antes estava deitado
preguiçosamente na cama, deu um pulo.
— O quê? Como assim? – Bernardo
sabia que a máfia não era uma organização
de caridade, mas ele esquecia das coisas
quando estava rodeado dos “amigos” dele.
Era assim que ele considerava os Sigayev, os
Herrera…
Mesmo Pyotr querendo a morte dele.
— Um filho da puta armou pra ele-Ela
disse e suspirou, contando tudo-E é por isso
que eu vou dar um corretivo nesse merda.
— Não, você não vai! – Bernardo disse
e Ekaterina levantou a sobrancelha. Se
Bernardo pudesse ver o olhar perigoso dela…
— Como é?
Bernardo soltou a respiração.
— Não estou tentando controlar você,
amor. É só que… Ainda que você seja muito
competente, eu não acho que os seus pais
vão te deixar sair ilesa disso. Eles deixaram o
Pyotr preso…
Ekaterina remexeu a boca, pensativa.
— E o que me sugere? Deixar pra lá?
— Não. Mas…-Na verdade, era
exatamente o que ele queria. Até porque
Bernardo tinha certeza de que Pyotr saberia
se vingar à altura -Não é melhor pensar com
mais calma?
Ela apertou os olhos e sorriu.
— Muito bem. Eu vou pensar bem. E
vou foder com o Kazimir!
— Não, você vai foder comigoBernardo brincou e Ekaterina ficou surpresa
com a ousadia de Bernardo. Ele mesmo se
surpreendeu, pois ele não falava daquele
jeito. Bernardo não queria desrespeitar
Ekaterina – Perdão.
— Por quê?
— Huh?
— Por que está pedindo perdão, Bê? –
Ela perguntou e se recostou melhor no banco
– Já sei. Por você não estar aqui pra me
foder?
— Ekaterina!
— Eu sei! Não vamos fazer isso até eu
ter dezoito anos — Ela revirou os olhos —
Mas não significa que não podemos brincar.
— Eu não posso. Não agora — Ele
falou — Vamos ter almoço em família.
— Preciso terminar de me arrumar.
Ele olhou para a própria bermuda.
Começar a falar aquele tipo de coisa com
Ekaterina sempre o deixava pronto para ela.
— Quando você volta? — Ela
perguntou.
— Em três dias, amor. Vou passar o
ano novo com você — Os pais queriam que
ele ficasse ali, mas Bernardo queria ficar com
Ekaterina na virada do ano. Seria o
aniversário dela.
— E vamos começar a contagem
regressiva, pra valer. Um ano!
— Vai ser a nossa prova, amor —
Bernardo disse e ouviu Carolina chamando
por ele — Tenho que ir. Não faça nada que
vá te colocar em enrascada. E… Espero que o
Pyotr saia logo da cadeia.
— Te amo — Ekaterina disse e
Bernardo ficou sorrindo como bobo.
— E eu amo você — O coração dele
batia loucamente — Assim que eu estiver
livre, vou te avisar. Até mais, amor.
Bernardo respondeu à mãe, colocou uma
blusa, arrumou os cabelos e desceu.
— Pelo sorriso, você tava falando com
a Ekaterina, né? — Artur perguntou e
Bernardo percebeu uma certa tristeza no
irmão mais novo.
— Sim… E você. Por que tá assim?
Artur negou com a cabeça.
— Assim como?
— Não tenta disfarçar. Você anda
meio triste — Bernardo passou o braço pelo
ombro do irmão — É por causa do Lucas?
Artur deu um pulo para trás, com os olhos
arregalados. Bernardo notou como o menino
ficou com as bochechas coradas.
— O… O que o Lucas teria a ver com
alguma coisa?
— Sei lá… Talvez porque ele anda
distante?
Artur abaixou os ombros e concordou com
a cabeça.
— Ele praticamente nem fala mais
comigo. Ele só… Nem parece mais com ele
mesmo.
Bernardo viu como meninos novos
treinavam na Rússia e, por mais que lá fosse
mais cruel e pesado, ele podia imaginar o
que estava se passando com Lucas. Não era
de admirar que o menino estivesse mais
distante de Artur.
— Eu tenho certeza de que ele está
apenas passando por um momento
complicado, Artur.
— Mas eu sou o melhor amigo dele! —
Artur se afastou de Bernardo, bufando, antes
de se virar e os olhos dele estavam cheios de
lágrimas — Ele me evita como se eu fosse a
própria peste negra!
— Olha, eu tô vendo como os meninos
são tratados na máfia. As coisas devem estar
difíceis para o Lucas — Bernardo ofereceu
um sorriso simpatético ao irmão mais novo
— Mas acredito que se você mostrar que
entende e respeita o espaço dele, vai ser de
muita valia para o Lucas. Ele vai precisar do
melhor amigo dele mais do que nunca.
Artur entortou a boca, como se mordesse
os lábios por dentro e finalmente, sorriu. Ele
correu para Bernardo, abraçando-o.
— Você é o melhor irmão do mundo
— Artur apertou um pouco mais Bernardo,
antes de olhar para cima, sorrindo.
Bernardo bagunçou os cabelos dourados
de Artur, que reclamou.
— Irmãos mais velhos são para isso.
Máximo estava descendo as escadas
quando ouviu a conversa dos filhos e não
pôde deixar de sorrir.
“Meus orgulhos!”, ele suspirou e continuou
o caminho dele assim que percebeu que os
meninos já não estavam mais falando sobre
aquele assunto.
— Tonny e Clara já chegaram? — Ele
perguntou e ambos Bernardo e Artur
negaram com a cabeça. Máximo olhou no
relógio e estranhou — Vamos esperar mais
um pouco, então.
Vinte, trinta minutos e nenhum sinal dos
dois.
— Eu vou ligar — Carolina anunciou.
— Talvez seja o trânsito — Bernardo
disse, mas Carolina negou com a cabeça.
— Tonny e Clara são pontuais. Com
tudo. Eles não se atrasariam assim sem
dizerem nada — Carolina insistiu e ligou
para a filha.
— Mãe! — Clara atendeu e Carolina
notou que a moça estava nervosa.
— O que aconteceu?
— Ah… Bateram no nosso carro —
Clara disse, num sussurro — Eu ligo depois,
mãe. Acho que podem comer sem a gente.
— Clara… Maria Clara! — Mas o som
do bip-bip tomou conta da linha e Carolina
bateu o pé no chão, frustrada e olhou para os
três homens à frente dela — Ela está
mentindo!
CAPÍTULO 9
Máximo estava ao telefone com Osvaldo,
enquanto Carolina batia o pé, irritada, no
sofá.
— Deve ser coisa da máfia — Artur
sussurrou para Bernardo, que concordou
com a cabeça.
Uma onda de culpa e vergonha tomou
Bernardo. Clara tinha se casado com Tonny e
passou a pertencer àquele mundo. E, por
conta disso, os pais deles viviam
preocupados. Ekaterina, além de ser da
máfia, estava na Rússia e ele duvidava muito
que uma Sigayeva deixaria o lar para se
mudar para o México.
Máximo se despediu de Osvaldo e
caminhou até onde a família estava.
— Alguém bateu mesmo no carro
deles, mas não qualquer um. Aparentemente,
agora que os Herrera estão em acordo com a
Cosa Nostra, Camorra e Outfit, os membros
da ‘Ndrang alguma coisa…
— ‘Ndrangheta — Bernardo corrigiu
o pai.
— Isso. Essa — Máximo deu uma
pausa, antes de falar e olhar novamente para
Carolina — Foi um ataque deles. Mas está
tudo bem. Tonny se machucou um pouco,
nada grave. Osvaldo pediu que nós não
fôssemos visitar nesse momento.
O tom de Máximo denotava claro cansaço.
— Mãe, a Clara está bem. Depois ela
deve passar aqui — Artur disse e colocou a
mão no ombro da mãe, que sorriu.
— Mais tarde eu vou ligar pra ela.
Tonny não se machucou muito, não é?
— Ele está bem. Foi mais um susto —
Máximo falou, porém, Bernardo percebeu
que o pai parecia estar colocando panos
quentes. Ele não falaria nada, pois Carolina
pareceu aceitar o que o marido disse.
O restante do almoço em família foi
tranquilo. Artur estava mais relaxado e
participou mais das conversas, afinal, não
estava grudado no aparelho celular, como
antes.
Bernardo queria que o irmão ficasse feliz e
que Lucas falasse mais com ele. Porém, ele
não negaria que era muito bom ter Artur
interagindo mais com eles.
Assim que se retirou para o próprio
quarto, a fim de descansar, já que em
algumas horas o jatinho dos Sigayev o
buscaria, Bernardo ligou para Ekaterina. Já
passava das seis horas, no México.
— Alô… — Ekaterina atendeu,
sonolenta e Bernardo percebeu a mancada
que tinha dado. Já era madrugada em
Moscou!
— Amor, perdão! Eu não me atentei
ao horário!
— Não, tudo bem! — Ela respondeu,
mais desperta e se sentou na cama, com um
sorriso — Foi bom o seu dia em família?
Ela soube do que houve com Clara e
Tonny, mas esperou que Bernardo contasse
a ela, o que ele de fato fez.
— Mas eles estão bem, ou foi o que
nos disseram. Clara ainda não falou conosco,
depois disso.
— Notícia ruim se espalha rápido. Fica
tranquilo — Ekaterina falou — Você em
breve vai chegar aqui.
— Sim. E vou encher você de beijos.
Tô morrendo de saudade.
Ekaterina era do tipo que mantinha
sempre uma carranca no rosto, mas o jeito
amoroso de Bernardo a derretia toda.
As pessoas imaginariam que ela iria
querer alguém mais sério, mais frio. Ela
mesma pensava isso. Até que ela despertou
para Bernardo e agora, não havia qualquer
possibilidade de ela olhar para outro homem
que não ele.
— E eu de você. Quero que você
chegue logo.
A forma manhosa de Ekaterina fez
Bernardo sorrir, mas mais safado.
— Ah, Ekaterina… Você não sabe
como eu quero você.
— Se for como eu quero a você… —
Ela soltou um risinho, algo incomum vindo
dela — Raiva de não ter nascido um ano
antes!
Bernardo não se aguentou e soltou uma
boa risada.
— Esse vai o ano! — Ele disse —
Agora, vai dormir. Amanhã nos falaremos
melhor. Eu te amo.
— Eu também amo você.
Bernardo passou mais um tempo com
Artur e depois, foi dormir. Em duas horas ele
teria que estar indo para o aeroporto.
Aquelas mais de vinte horas de viagem —
eles precisaram parar na França para
reabastecer — foram um inferno para
Bernardo. Ele odiava viajar de avião e, ainda
por cima, a ansiedade de ver Ekaterina o
estava consumindo.
Ao chegar na mansão, ele viu Pyotr
chegando quase junto com ele. O rapaz
estava com olheiras terríveis e um mau
humor de matar.
— Como você está, Pyotr? —
Bernardo perguntou, ao que o russo apenas
o olhou com uma carranca, balançou a
cabeça de leve e subiu a escada para o
próprio quarto.
Quando Pyotr estava de péssimo humor,
ele preferia não falar nada, em vez de ser
grosseiro com as palavras. Bernardo tinha
aprendido aquilo e não levou a mal o
comportamento do futuro cunhado dele.
Ekaterina abraçou o irmão no meio da
escada, falou algumas coisas no ouvido dele
e olhou para Bernardo, sorrindo mais
abertamente.
Não havia ninguém por perto e Ekaterina
correu para os braços de Bernardo. Aquele
era o primeiro contato físico deles depois
que oficializaram o namoro.
Bernardo segurou o rosto dela com uma
das mãos e a beijou.
— Quando sai o casório? — Aleksey
perguntou, fazendo Bernardo soltar
Ekaterina imediatamente. Ela se virou
lentamente para o primo.
— Você não deveria estar treinando?
Ele deu de ombros.
— Me disseram que você me ajudaria
hoje — O rapaz deu um sorriso de lado —
Mas eu posso avisar ao pessoal que você está
de namorico e…
Ele apontou para trás dele, já dando um
passo naquela direção.
— Aleksey, um dia desses eu ainda
vou arrancar essa sua língua — Ekaterina
falou com um sorriso nada amigável.
— Mas sem ela, como é que eu vou
poder dar um beijo desses na minha futura
namorada? — Aleksey fez beicinho.
— Você é confiante. Quem é que vai
querer beijar você? — Pyotr perguntou,
descendo as escadas — Minha irmã está
ocupada. Eu mesmo vou te treinar, priminho.
— Bom… — Aleksey começou a falar,
mas um olhar de Pyotr e ele levantou as
mãos e se retirou.
— Fedelho atrevido! — Pyotr
resmungou e, ao ver Bernardo e Ekaterina o
olhando com curiosidade, ele deu de ombros
— O que foi? Eu não posso ser legal de vez
em quando?
— Eu só me pergunto o que você
espera ganhar com isso — Ekaterina disse e
Pyotr sorriu.
— Bernardo aqui é quem vai pagar —
Ele piscou para o loiro, que fez uma careta —
Relaxa, não vou te espancar. Vamos apenas
conversar coisas de homem.
Ekaterina revirou os olhos.
— Eu já vou para o centro de
treinamento. Deixa só eu falar um pouco com
Bernardo.
— Beleza — O gêmeo respondeu —
Vejo vocês mais tarde.
Depois que Pyotr sumiu no corredor,
Bernardo olhou para Ekaterina, que
começou a puxá-la na outra direção.
— Para onde vamos?
— Privacidade! — Foi a resposta dela,
além de um sorriso travesso.
CAPÍTULO 10
Ekaterina levou Bernardo até uma das
salas que eram usadas para dar aulas. Uma
vez lá dentro, ela trancou a porta e olhou
para o loiro.
— Quero meu presente de Natal —
Ela disse e Bernardo sorriu, passando a mão
pela cintura de Ekaterina.
— Certeza que não vai entrar
ninguém aqui? — Ele perguntou, num
sussurro, perto do ouvido dela.
— Sim… — A russa já estava com os
olhos fechados.
Bernardo se afastou um pouco apenas o
suficiente para poder olhar o rosto de
Ekaterina.
“Minha namorada!”, ele pensou, orgulhoso
e feliz, antes de passar a língua pelos lábios
dela. Ekaterina gemeu e passou os braços
pelo pescoço de Bernardo.
Ele a levantou, sentando-a em cima da
carteira mais próxima e ficando entre as
pernas dela.
Ekaterina estava vestindo uma calça preta
e blusa de gola, já que mesmo com o
aquecedor, a casa ainda estava um pouco
fria. Mas não naquele momento.
Bernardo enfiou a mão pela blusa dela e
apertou um dos seios, arrancando suspiros
da russa.
— Tira, amor — Ela pediu e Bernardo
o fez, jogando a blusa dela em cima de uma
das cadeiras e, em seguida, começou a retirar
o próprio casaco e, por fim, a primeira blusa.
As mãos de Ekaterina foram para o cinto
de Bernardo, mas ele a parou.
— Não.
— Mas… Ele deu um beijo rápido nela.
— Não vamos poder ir longe, então, é
melhor deixar as minhas calças fechadas.
— Não precisamos transar
— Ela falou e mordeu o lábio. Ver
Ekaterina com as bochechas vermelhas por
estar com uma certa vergonha era difícil.
Bernardo sorriu.
— E o que você tem em mente?
— Eu queria… Provar você.
O rosto dela estava mais do que vermelho,
porém, o olhar era decidido. Bernardo não
estava diferente dela. Ele sorriu de lado e
colocou a mão no meio das pernas de
Ekaterina, que soltou um gemido baixo.
— Só depois que eu te provar. Além
disso, eu passei horas num avião, meu bem.
— Podemos tomar banho juntos…
Bernardo negou com a cabeça e se
inclinou, mordiscando o pescoço de
Ekaterina.
— Paciência, meu amor — Ele tomou
novamente os lábios da namorada e a retirou
de cima da carteira — Eu vou tomar um
banho, vou me apresentar à sua mãe e, mais
tarde, eu vou no seu quarto.
Ele falou baixinho no ouvido de Ekaterina,
que concordou. Bernardo olhou para baixo e
viu o soutien preto dela, meia-taça e com
algumas rendas.
— Gostou? — Ela perguntou,
passando a mão no tecido.
— Adorei, mas… Eu gosto mais do que
está dentro.
A vontade de Bernardo era tirar a peça do
corpo de Ekaterina e chupar os seios dela,
porém, ele precisava se controlar. Eles ainda
tinham um pouco mais de um ano até
poderem fazer avançar o sinal. E, além disso,
ele precisava mesmo ir até Jannochka.
Ele pegou a blusa de Ekaterina e a ajudou
a vestir, todo carinhoso. Apesar de mais
bruta, Ekaterina adorava aquele jeito de
Bernardo. Na verdade, ela amava e era
justamente por isso que ela o queria tanto.
— Eu te amo — Bernardo disse,
passando a mão pelos cabelos de Ekaterina.
— Eu também amo você — Ela
respondeu genuinamente.
Alguém bateu à porta e Bernardo
arregalou os olhos.
— Bernardo, a tia está te esperando
— Era Maksim.
— Ah, eu já vou — Ele respondeu, mas
Maksim já não estava mais do outro lado —
Vamos, minha rainha. Eu tenho que falar
com a sua mãe.
Ekaterina abriu a porta e olhou ao redor. O
corredor estava vazio. Bernardo estava
terminando de colocar o casaco e a seguiu
para fora.
— Eu vou cuidar de algumas coisas,
nos vemos mais tarde — Ela disse a
Bernardo, que beijou-lhe os lábios e piscou
para ela, antes de se afastar.
Após bater à porta do escritório de
Jannochka, Bernardo passou a mão pelos
cabelos e pela roupa.
— Entre!
Ele inspirou fundo e entrou.
Jannochka olhou para as roupas dele e,
então, para o rosto do rapaz, que estava com
as bochechas coradas.
— Vai ficar de casaco dentro de casa?
Pensei que já tivesse ido se trocar…
— Eu… Hmmm… Estava falando com
Ekaterina — Bernardo manteve as mãos
atrás do corpo, olhando para baixo.
— Ah… Da próxima vez, a primeira
coisa que deve fazer é se reportar a mim e,
depois, se trocar, tomar banho… — Ela disse
— Ainda mais quando está frio demais lá
fora.
Bernardo não comentou que frio era tudo
o que ele não tinha sentido, com Ekaterina
nos braços dele. Ele ainda não tinha perdido
o juízo.
— Farei isso. Desculpe
— Certo… Hoje você pode tirar o
restante do dia de folga. Amanhã, esteja no
centro de treinamento às seis e meia. Vamos
começar seus treinos físicos. Ekaterina vai te
ajudar. E, de tarde, você ficará comigo aqui
no escritório. Pode se retirar.
— Sim, senhora. Com licença.
Assim que Bernardo se foi, Jannochka
olhou para o computador, que tinha as
câmeras da casa conectadas ali.
— Eles acham mesmo que eu não sei
quando dão uma escapada… — Ela suspirou.
Se fosse outro rapaz, Jannochka não caria
tão tranquila, mas Bernardo era um homem
correto e claramente gostava muito de
Ekaterina. A única preocupação da Parkhan
era o fato de ele ser doce demais e ainda não
conhecer como as coisas funcionavam. E, o
mais importante, como Ekaterina realmente
era, em campo.
Após o jantar, no qual Pyotr lançou vários
olhares a Bernardo, que os ignorou,
Ekaterina tomou um banho e se preparou.
Ela se depilou e escolheu uma linda
camisola. Normalmente ela dormia de
pijamas, mas havia comprado aquela
camisola preta especialmente pensando em
Bernardo.
Os dois se falaram por mensagens e,
quando o relógio marcou onze horas,
Bernardo saiu do quarto dele em direção ao
dela.
A porta já estava encostada e, quando ele
entrou, tudo estava escuro, mas com o
abajur de cabeceira ligado.
O coração dele quase parou no peito, ao
ver Ekaterina de camisola, com alças finas,
rendas que delinearam bem os seios dela e
as pernas torneadas à mostra. — Caralho…
— Ele soltou, baixinho, em espanhol.
— Caralho… — Ele soltou, baixinho,
em espanhol.
Ekaterina se levantou, os cabelos soltos, e
começou a andar na direção de Bernardo,
que engoliu em seco. Ele agradeceu por estar
com uma calça de moletom, pois um tecido
mais rígido seria doloroso.
Bernardo sabia que estar ali, com ela, era
muito perigoso, mas ele precisava estar
perto dela.
Sem tirar os olhos dos dele, Ekaterina cou
bem na frente do loiro e passou a mão pelo
abdômen dele, coberto por uma camiseta de
algodão, e desceu, até chegarcà beira da
calça.
CAPÍTULO 11
— Você tem certeza disso, Ekaterina?
— Bernardo perguntou, segundo o pulso de
Ekaterina com carinho e passando o polegar
pela pele dela.
— Bernardo, por mim, nós dois já
teríamos feito muito mais do que beijos e
carícias… — Ela falou e sorriu — Eu quero
tudo com você. E aqui dentro é seguro. Não é
como se a polícia fosse baixar aqui.
Ele suspirou.
— Eu vou saber. Sei que o negócio da
família, em si, já não é dentro da lei. Mas ao
menos isso eu quero tentar manter mais
certo — Bernardo acariciou o rosto de
Ekaterina — Quero você como minha
esposa.
Ekaterina abriu um sorriso mais largo
— Podemos adiantar a lua de mel.
— Muito espertinha, você, senhorita
Sigayeva. Mas não. Tentador, mas não —Ela
abaixou um pouco mais a mão que segurava
o elástico da calça dele — Como eu disse,
primeiro eu vou te provar.
Ekaterina subiu a sobrancelha e colocou
um sorriso safado nos lábios.
— Todo mandão. Vai mandar em
mim?
Bernardo enfiou a mão nos cabelos dela e
Ekaterina gemeu.
— Eu sei que você gosta — Ele falou e
passou a língua pelo pescoço dela — Gostosa
demais!
— Você… Aaah, você tem que provar
aqui… — Ekaterina levou a mão de Bernardo
até a bainha da camisola dela.
Bernardo nunca gostou de mulheres
atiradas, mas Ekaterina não o era. Ela era
daquele jeito com ele e isso sim ele aprovava.
Saber que ela se sentia confiante e à vontade
o suficiente com ele, para falar daquele jeito.
— Amei a camisola. Ficou maravilhosa
em você — Bernardo olhou nos olhos de
Ekaterina — Mas acho que não há nada que
não fique, em você, meu amor.
Ele tomou os lábios dela com paixão e a
levou até a cama. Bernardo abaixou uma das
alças da camisola e beijou o ombro de
Ekaterina, dando uma mordidinha e uma
lambida. Ele sugou e Ekaterina choramingou.
Não de dor, mas de tesão.
Enquanto isso, a mão de Bernardo subiu
pela coxa de Ekaterina, apertando-a. Ja a
língua, ia descendo, até chegar ao mamilo
dela.
— Ah, Ber… Aah! — Ele passou o dedo
por cima da calcinha de Ekaterina. Ao
mesmo tempo que ele mordiscou o mamilo,
ele colocou o dedo por dentro do tecido que
cobria a intimidade dela e Ekaterina gritou
mais alto.
Bernardo não levantou a cabeça para falar.
— Vão escutar você, amor.
— Não… Ah… Isola… Assim, amor —
Ela enfiou a mão nos cabelos dele e passou a
outra perna por cima do ombro de Bernardo.
Ele sorriu e levantou a camisola de
Ekaterina, olhando a calcinha dela: era uma
tanga, na verdade, com pequenas rendas na
borda.
Bernardo beijou a tira da calcinha e a
abaixou, fazendo o mesmo com o outro lado,
até retirá-la e deixar Ekaterina nua, ali.
— Você é… — Ekaterina nunca tinha
mostrado aquela parte dela a ninguém e
ficou insegura, mas a adoração nos olhos de
Bernardo mostrou que ela não tinha que
sentir aquilo. O loiro levantou o olhar,
encontrando o dela — Como você consegue
ser tão linda?
Ekaterina quis perguntar se Bernardo já
tinha feito aquilo, mas preferiu por não fazêlo.
“Dane-se. Ele agora é meu e só fará
comigo”, ela pensou a passou a própria mão
pela fenda dela, subindo, passando pelo seio
e, finalmente, enfiando o dedo na boca.
Bernardo parecia hipnotizado.
Ele a beijou nos lábios rapidamente e se
voltou para a intimidade dela, novamente.
Bernardo abriu as pernas de Ekaterina e
passou a língua na coxa dela, que estava
melada com os fluidos dela. Ele gemeu de
prazer e fechou os olhos, repetindo o
movimento, na outra coxa.
No momento em que Bernardo passou a
língua pelo clitóris de Ekaterina, ela segurou
os cabelos dele, de novo e gemeu alto. Ela já
tinha passado por muitas coisas na vida, mas
aquilo. Bernardo era o que ela mais queria e
cada vez que ela sentia esse amor por ele,
também crescia o medo de ele deixá-la.
“Ele me ama”, ela afastou os maus
pensamentos e se concentrou apenas em
Bernardo, naquele quarto, naquele
momento.
Ekaterina ainda estava tendo espasmos
nas pernas quando Bernardo terminou de
lambe-la inteira e se deitou ao lado dele.
— Eu… Eu quero… — Ela estava com
pouco ar e colocou a mão no abdômen dele,
mas Bernardo pegou a mão dela e a beijou
nos nós.
— Descansa, meu amor. Temos muito
tempo.
Enquanto Ekaterina dormia nos braços
dele, Bernardo ficou admirando-a. Não havia
nada que ele não achasse lindo, nela.
— Minha Ekaterina — Ele beijou o
topo da cabeça dela e se deixou fechar os
olhos.
Cinco da manhã, o despertador de
Ekaterina tocou e Bernardo acordou com ela,
confuso.
— O quê…?
— Acorda, lindão. Hora de treinar —
Ekaterina disse e deu um beijinho na ponta
do nariz de Bernardo, que só se deu conta de
que tinha cochilado de novo, quando
Ekaterina o sacudiu.
Ela já estava vestida e secando os cabelos.
— Oh, droga…
— Você tem quarenta minutos para
tomar banho e se arrumar. Ah, e para sair do
meu quarto.
Bernardo arregalou os olhos e levantou de
pronto. Ele não deveria ter dormido ali!
Sair do quarto demorou mais do que ele
esperava. Toda vez que ele abria a porta,
ouvia passos e alguma outra porta abrindo.
No fim, ele teve apenas quinze minutos para
se lavar e colocar uma roupa, antes de se
apresentar no centro de treinamento.
— Parece que tá fugindo — Pyotr
comentou e Bernardo engoliu em seco.
— É que eu pedi a ele para me ajudar
com umas coisas — Maksim falou e se
colocou ao lado de Bernardo — Obrigado,
Bernardo.
Pyotr levantou a sobrancelha, mas não
questionou nada. Aleksey apenas observou.
Porém, outros recrutas olharam estranho
para Bernardo e, em seguida, para Maksim.
Ao passar por um grupo deles, Bernardo
ouviu algumas risadinhas.
— Eu vou pegar as luvas e já venho —
Ekaterina disse a Bernardo e se afastou.
— Fazendo amizades, Castillo? — Um
dos recrutas perguntou e Bernardo o olhou
sério — Quer entrar na família de qualquer
jeito, não é?
Bernardo franziu o cenho.
— Do que está falando?
O recruta riu, olhando os outros três que
estavam com ele.
— Só que, caso não saiba, cortar pra
esse lado vai te render apenas uma bala na
testa — O rapaz de cabelos vermelhos disse,
debochadamente — Na sua e na dele.
CAPÍTULO 12
— Fazer amizade com um dos de
vocês me renderia uma bala na testa? —
Bernardo perguntou, fingindo não ter
compreendido o sentido nas palavras do
recruta — Ainda mais com um Sigayev.
O rapaz parou bem na frente de Bernardo,
com um sorriso que nada mais era do que
mostrar os dentes.
— Não se faz de desentendido — O
recruta olhou os cabelos de Bernardo, olhou
o corpo e riu baixo — Aqui não é lugar pra
viado.
— Então, o que você tá fazendo aqui?
— Aleksey perguntou, com um biquinho. O
recruta avançou sobre o menino, que não
pareceu se incomodar. Mas Bernardo se
colocou na frente —
Deixa ele, Bernardo. Quero ver o que ele
pensou em fazer.
— Que merda tá rolando aqui? —
Pyotr perguntou, com
Ekaterina ao lado dele. Olhando para os
três e, depois, para o grupinho atrás do
recruta, Pyotr voltou a falar — Eu perguntei,
Yankovich, o que merda tá rolando aqui?!
Lev Yankovich sorriu de lado, dando dois
passos para trás, antes de torcer a boca de
leve, indicando que não sabia ao certo.
— Estávamos apenas falando de
amizades, cervos… Nada de mais.
— Sei… Vamos treinar, então. Chega
de fofocas — Todos se encaminharam para o
local de treino, mas Pyotr passou por Lev e
sussurrou — Yesli ty posmotrish’ na odnogo
iz moikh lyudey ili skazhesh’ chto-nibud’
smeshnoye, ya otorvu tvoy issokhshiy chlen i
zasunu yego tebe v zadnitsu, ponyal (Se
olhar feio pra um dos meus, ou falar
qualquer gracinha, eu arranco esse seu pau
murcho e enfio no seu rabo, entendeu)?
Lev parou de andar, mas Pyotr continuou,
como se não houvesse dito absolutamente
nada.
“Proklyatyy Pyotr! Tak ne ostayetsya
(Maldito Pyotr! Isso não vai ficar assim)!”,
ele pensou, amargurado, mas seguiu para o
treino.
Ekaterina estava a um canto, de frente
para Bernardo, mas a expressão passava
longe de apaixonada.
— Vamos lá, Bernardo. Hoje o seu
treino sério começa.
A postura do corpo da russa indicava que
ela não estava brincando e Bernardo sorriu
de lado.
— Você fica muito sexy toda durona,
sabia?
— Então você pode me mostrar o
quanto me quer, mais tarde.
Agora, — Ela posicionou as mãos, como se
estivesse se preparando para lutar, uma
perna na frente da outra, levemente
flexionada — nós vamos treinar.
— Não duvido que vá me dar uma
surra.
— Eu compenso depois, prometo. Mas
a intenção é que você não apanhe no futuro
— Ekaterina suspirou — Eu odiaria ter que
matar quem encostar nesse seu lindo
rostinho.
Por mais que Ekaterina usasse uma voz
suave, Bernardo sentiu um leve calafrio ao
ver o brilho nos olhos da garota, como se ela
achasse aquilo divertido, poder ter uma
desculpa para torturar e matar alguém.
“Ela não é assim. Só é boa no que faz, mas
Ekaterina é boa”, ele disse a si mesmo e se
posicionou, imitando a pose de Ekaterina.
Ela balançou a cabeça e foi até ele,
ajeitando a posição de Bernardo.
— Você precisa apoiar o seu corpo
aqui, ou no primeiro impacto, vai se
desequilibrar e o seu oponente te come vivo.
Dependendo de quem for, você pode não
ter a chance de recuperar o controle.
Bernardo apenas concordou com a cabeça,
admirando como Ekaterina ficava bonita ao
explicar as coisas.
“Mulher linda da porra!”.
Ekaterina foi para a frente de Bernardo e
se posicionou de novo.
— Me ataque.
Ele franziu o cenho.
— O quê?
— Me ataque, Bernardo!
O loiro olhou em volta e viu os outros
treinando, alguns de dupla como eles dois e
só havia outra mulher ali, uma grandona que
estava dando uma surra em um homem com
quase o dobro do tamanho dela.
— Eu não posso…
Ekaterina respirou fundo.
— Pode e deve. Pense que eu não sou
a Ekaterina, sua namorada. Eu sou alguém
querendo te matar.
— Rina…
— Eu vou acabar com você e, depois,
vou atrás da sua família
— Ekaterina falou e um sorriso de
lado crispou os lábios dela — Vou te fazer
assistir enquanto eu arranco, osso por osso,
da sua mãe.
O sangue de Bernardo gelou e ele começou
a ficar em conflito.
— Você não faria isso…
Ekaterina apertou os lábios.
— Acha que não, Bernardo? Quem me
impediria? O seu pai? Ele vai ser derrubado
primeiro. O seu irmãozinho vai ver como a
mãe dele agoniza, chora e você… Você não
poderá fazer nada!
Ela viu que Bernardo estava mais pálido e
resolveu dar o primeiro passo, para que ele
sentisse a ameaça e, talvez, despertasse de
vez.
Ekaterina deu um passo em direção a
Bernardo, que prendeu a respiração. Ela foi
rápida e levantou o braço para atacá-lo, ao
que ele colocou o braço dele na frente,
porém, Ekaterina não o atacou ali, e sim nas
pernas, dando-lhe uma rasteira que o
colocou ao chão imediatamente.
Sem perder tempo, Ekaterina prendeu a
perna direita de Bernardo com as dela, antes
de apoiar-se nas mãos e se impulsionar para
trás, soltando–o, apenas para agarrar o
pescoço dele com as mãos e “montar” nele.
Bernardo segurou na cintura de Ekaterina
e, em vez de atacá- la, ele acariciou a pele
dela.
— Porra, vocês dois! — Pyotr gritou e
largou o peso que estava segurando, indo até
os dois — Ekaterina, saia de cima dele!
Ela sorriu para Bernardo e o beijou nos
lábios. Ele ainda estava confuso quanto ao
que sentiu ao ouvi-la falar aquelas ameaças,
porém, o sorriso que ela lhe deu ao beijá-lo
rápido fez com que o coração dele
derretesse.
“Ela só queria me fazer lutar”, ele sorriu
para ela, enquanto Pyotr parecia a ponto de
ter um AVC.
— Cala a boca, Pyotr. Vai cuidar da
sua vida — Ekaterina falou, estendendo a
mão para Bernardo, mas o irmão dela foi
mais rápido e tomou a mão de Bernardo
antes que este encostasse na de Ekaterina.
Pyotr apertou com vontade a mão de
Bernardo que, mesmo com dor, manteve o
rosto impassível. O russo sorriu.
— Não é tão frouxo, no fim das contas.
— Bernardo não é frouxo! —
Ekaterina defendeu o loiro — Nós estamos
treinando, não se meta!
— Você montou nele! Se eu não
interrompo, era capaz de vocês…
Bernardo franziu o cenho e se colocou na
frente de Ekaterina.
CAPÍTULO 13
— Não fale assim de Rina. Ela não é
desse tipo.
Por mais que o tom de Bernardo fosse
baixo, o corpo dele deixava claro que ele
estava ali por Ekaterina.
Pyotr estalou a língua e apontou para
Bernardo.
— Mantenha as suas coisas dentro das
calças, Castillo! Ou vai treinar comigo e eu te
garanto, não vai sair inteiro!
Pyotr se foi, voltando ao treino dele.
Ninguém ficou observando descaradamente,
pois sabiam que era melhor não se meterem
quando os gêmeos começavam a brigar.
Ekaterina colocou a mão no braço de
Bernardo.
— Muito fofinho você me defendendo
— Ela falou com um sorriso travesso.
— Principalmente quando você
mesma pode dar uma surra em Pyotr que eu
mesmo não vou conseguir.
Ekaterina acariciou a pele do braço de
Bernardo.
— Por isso devemos treinar. Se vai
viver conosco, Bernardo, você precisa
aprender a se defender. Pyotr ladra, mas ele
gosta de você. Já não posso dizer o mesmo
dos outros ou dos nossos inimigos.
— Os seus inimigos iriam querer o
que comigo? Não sou importante, aqui.
— Você e eu ficaremos juntos. E isso
vai chegar aos ouvidos deles — Ekaterina
respirou fundo — Se vai ser um Sigayev no
futuro, estará mais do que na mira deles.
Dentro e fora do país. Bernardo engoliu
em seco.
— Eles irão atrás da minha família?
— Cuidaremos da segurança deles.
Não se preocupe. O tio Osvaldo sempre
cuidou e isso não vai mudar.
— Cuidou? — Bernardo perguntou
enquanto levantava a garrafa de água para
tomar um gole.
— Você acha mesmo que a sua família
está inteira por conta de quê? Sendo tão
amigos dos Herrera? — Ekaterina soltou
uma risadinha — Não nos envolvemos com
civis por isso, meu bem. Caso contrário,
precisamos cuidar da segurança.
Aquilo deixou um gosto amargo na boca
de Bernardo. Ele pensou que, por eles não
serem da máfia, ninguém se incomodava de
fato com eles. Então, se lembrou de que Clara
era esposa do subchefe da La Cicuta. Os
Castillo eram quase como os Associados, sem
serem.
Ekaterina mostrou mais algumas posições
e treinou os socos e chutes de Bernardo.
— Agora que sabemos no que você é
melhor e no que tem mais dificuldade, eu
vou poder te direcionar melhor — Ela falou e
Bernardo inflou o peito — O que foi isso?
— Eu sou sortudo pra cacete, né? Uma
mulher linda e poderosa, toda minha — Ele
falou quando voltavam para o segundo
andar.
— Serei todinha sua quando você
resolver consumar as coisas
— Ekaterina falou e soltou os cabelos,
que antes estavam presos em um rabo-decavalo, andando na frente de Bernardo, que a
segurou pela cintura e a abraçou —
Bernardo, eu tô suja!
— Então eu vou te dar banho — Ele
falou, o que fez o Ekaterina arregalar os
olhos e, então, sorrir.
— Vai? — Ela o provocou ao se
encostar nele, movendo-se e se esfregando
nos shorts de Bernardo, que rosnou baixo —
Ou vai dar pra trás?
Ele se inclinou para frente, para sussurrar
no ouvido da namorada.
— Eu não preciso tirar a sua
virgindade pra me deliciar em você, Rina.
Pra te fazer gozar gostoso — Ele beijou a
pele atrás da orelha de Ekaterina,
arrancando suspiros dela.
Ela se soltou dele e começou a correr
escada acima, dando uma olhadela para trás,
por cima do ombro. Bernardo sorriu safado e
seguiu atrás dela.
Quando ele entrou no quarto de Ekaterina,
que estava com a porta entreaberta, ele a viu
de costas, tirando o top. O corpo de Bernardo
reagiu na hora e ele passou a mão pela frente
do short.
— Vai tomar banho de roupa? —
Ekaterina perguntou e ele apenas sorriu de
lado, enquanto o coração do loiro disparava.
Ele estava quase surdo, exceto pelo sangue
bombeando nas veias.
Ekaterina abaixou o short, ainda de costas
para Bernardo, que nem se deu conta de que
estava andando em direção a ela, até que a
mão dele encostou no bumbum da russa.
— Gosta? — Ela perguntou, ainda
empinada, e Bernardo usou a outra mão para
acariciar um dos mamilos dela.
Ele se ajoelhou, segurando então a cintura
dela com as duas mãos e a puxou para ele.
Ekaterina se segurou na cômoda.
— Banho, amor…
— Você é gostosa demais, Ekaterina.
Puta merda! — Ele se levantou rápido e a
pegou no colo, no estilo noiva — Vou te dar
um belo banho e te devorar!
Bernardo nem tirou a própria roupa,
levando Ekaterina para debaixo do chuveiro
e abriu o registro, encharcando os dois,
enquanto atacava os lábios da morena.
Ele sabia que aquilo era arriscado, pois
podia não conseguir se segurar e acabaria
por querer estar dentro de Ekaterina, mas
cada dia era mais difícil não querer se unir a
ela completamente.
Ekaterina estava pegando fogo. Ela ajudou
Bernardo a se ver livre das roupas e logo,
ambos estavam nus.
Ele pegou o sabonete e o esfregou o
líquido nas mãos, antes de começar a
ensaboar Ekaterina.
— Perfeita — Ele murmurou, absorto
na figura da russa. Bernardo deixou que ela
lavasse as partes íntimas dela, enquanto ele
faria o mesmo consigo, ensaboando-se
rápido.
Assim que ambos estavam enxaguados,
Bernardo colocou Ekaterina no colo,
apoiando as costas dela na parede, enquanto
inclinava a cabeça e ia do pescoço para um
dos seios dela, sugando-o com força,
mordiscando e, claro, ele movia os quadris.
Sentir o membro de Bernardo no
abdômen dela fez Ekaterina se remexer e
abaixar uma das mãos, buscando segurá-lo.
Assim que passou os dedos ao redor do
comprimento do loiro, ele moveu os quadris
mais rápido, emitindo sons pela boca, como
um animal.
— Porra, Rina! — Ele olhou nos olhos
dela, as pupilas dilatadas. Ekaterina o
masturbava, os lábios entreabertos.
— Deixa eu chupar você… — Ela
pediu, baixo e Bernardo concordou com a
cabeça, mas não a colocou no chão. Ele sorriu
de lado e a virou de ponta cabeça, com
cuidado.
Apesar de não ser da máfia, ele ia
regularmente à academia e mantinha um
bom físico.
— Confortável? — Ele perguntou com
um sorriso, mas a resposta dela foi passar a
língua pela glande dele — Ah!
Bernardo abocanhou a fenda de Ekaterina,
que estava molhada. Ela soltou um gritinho,
e fez o mesmo com ele. O loiro precisou
apoiar as próprias costas, dessa vez, na
parede, enquanto sugava, lambia e
mordiscava Ekaterina.
— Vamos… Vamos pro quarto — Ele
disse e a colocou de pé no chão. Ekaterina se
sentiu um pouco zonza, mas estava
completamente inebriada com Bernardo,
para se preocupar com aquilo.
Ele a pegou no colo novamente, mas dessa
vez, para que ela enrolasse a cintura dele.
Andando até a cama, ele a depositou ali e
ficou por cima, descendo uma mão pelo
corpo dela, apertando o seio no caminho e
descendo mais.
— Quero você gozando, tesuda — Ele
lambeu os lábios de
Ekaterina, descendo pelo pescoço dela,
lambendo e chupando um pouco cada um
dos mamilos dela, antes de seguir mais para
baixo e segurar as duas pernas dela para
cima, expondo-a completamente.
— Amor…
— Linda… — Ele aproximou o nariz
da intimidade de Ekaterina, inspirou fundo e
sorriu — Tão suculenta, porra!
E lambeu, a entrada dela, subindo para o
clitóris e enrolando a língua ali, antes de
fechar a boca sobre a pele inchada dela.
— Me come, Bernardo! — Ela pediu, a
mão nos cabelos dele, rebolando os quadris.
Bernardo sorriu e colocou o dedo na
entrada de Ekaterina, entrando um pouco,
com cuidado e olhou para cima. Ela revirou
os olhos e começou a choramingar.
— Goza pra mim. Goza, tesuda — Sem
parar de olhar para ela, Bernardo voltou a
lamber o clitóris de Ekaterina, ainda
enfiando apenas a ponta do dedo indicador
dele.
As pernas dela começaram a tremer e ele
sabia que ela estava gozando.
Enquanto Ekaterina ainda estava tendo
espasmos, Bernardo ficou novamente em
cima dela e colocou o membro dele na
entrada dela, pincelando a cabeça. Ele se
posicionou.
CAPÍTULO 14
— Ôh, Ekaterina! — A voz de Pyotr
soou do outro lado da porta, antes de
esmurrar a mesma — Tô mandando
mensagem!
Almoço!
Ekaterina rosnou, frustrada.
— Já vou! Acabei de sair do banho!
Pyotr deu mais uma batida, indicando que
tinha ouvido e então, começou a se afastar.
Bernardo encostou a cabeça no ombro de
Ekaterina, respirando pesado, ainda
segurando o membro dele.
“Essa foi por pouco!”, ele engoliu em seco.
Se não fosse por Pyotr, Bernardo teria
entrado, teria feito o que disse que não faria.
“Como resistir a essa mulher?”.
Ekaterina era uma mulher, não uma
menina e Bernardo estava mais do que louco
por ela.
— Deixa eu fazer você gozar — Ela
disse, acariciando as costas de Bernardo.
Ele negou com a cabeça.
— Se chamarem a gente de novo…
— Relaxa.
E Ekaterina colocou a mão sobre a de
Bernardo, que retirou a mão dali e a beijou,
enquanto a jovem o masturbava.
Ele se sentou na cama e ela ficou inclinada,
de quatro. Vê-la naquela posição, ainda que
Bernardo não estivesse por trás, era
alucinante. Ekaterina não era experiente,
mas claramente sabia como interpretar a
linguagem corporal do namorado e fazê-lo
chegar ao ápice rápido.
— Pera, amor, eu vou…
Ekaterina negou com a cabeça e afastou a
mão de Bernardo, continuando a chupar, até
ele segurar os cabelos dela e se derramar
dentro da boca de Ekaterina.
Ela passou o dedo indicador pelo canto do
lábio, sorrindo. Bernardo estava com a
cabeça mais leve.
— Vamos nos vestir. Você ainda
precisa sair daqui.
Com um último beijo, Bernardo pegou a
toalha e abriu um pouco a porta, espiando o
corredor, antes de sair e correr para o
quarto dele. Claro foi necessário ele se lavar
rapidamente, de novo. O mesmo com
Ekaterina.
Os dois desceram para o almoço juntos, de
mãos dadas e Santiago olhou para aquilo,
fazendo bico. Jannochka o olhou e balançou a
cabeça, indicando que ele não deveria dizer
nada.
Pyotr apenas estalou a língua em
desagrado. Não é que ele não gostasse de
Bernardo, mas ele não queria dividir a irmã
gêmea dele. Eles brigavam, mas ela era o que
ele tinha de mais precioso. Além disso, Pyotr
considerava Bernardo fraco e, por mais que
Ekaterina fosse forte e capaz, ele queria um
homem que pudesse segurar qualquer
problema e garantir que
Ekaterina ficaria segura. Ela iria casar, um
dia, e teria filhos. Se Bernardo não
demonstrasse ser qualificado, Pyotr nunca o
aprovaria.
— Desculpe o atraso — Ekaterina
falou, sem dar explicações.
— Sim, perdão — Bernardo disse e
também, apenas isso.
Ekaterina havia avisado que era melhor
ele não dizer nada do que tentar arranjar
desculpas. Jannochka ficaria com raiva se ele
pensasse em enganá-la.
Bernardo puxou a cadeira para Ekaterina,
como sempre fazia e a ajudou a se sentar,
indo então para a cadeira ao lado de Pyotr,
do outro lado da mesa.
— Quero você no escritório depois de
uma da tarde, Bernardo
— Jannochka falou e ele concordou
com a cabeça.
Os membros da organização que viram o
casal descendo as escadas, não gostaram
nada. Bernardo não só era um estrangeiro,
como um mero civil, aos olhos dele. E, agora,
estava ali, ocupando o lugar que um dos
filhos de algum membro do alto escalão
deveria se sentar. Ekaterina e Pyotr eram os
principais candidatos ao posto de Don,
portanto, se ela se casasse com Bernardo
Castillo, ele seria um dos chefes e, para
alguns, aquilo era ofensivo.
Mais tarde, Bernardo foi para a aula dele
com Jannochka, enquanto Ekaterina cuidou
de alguns assuntos relacionados à máfia,
bem como Pyotr e, ao final do dia, o rapaz
resolveu pedir novamente a ajuda da irmã.
— Rina? — Ela, que estava bebendo
água na cozinha, virou-se para ele e, ao notar
como Pyotr parecia sem jeito, ela levantou a
sobrancelha.
— O que foi?
Pyotr queria reclamar do tom dela, no
entanto, ele precisava que ela o ajudasse,
portanto, o melhor a fazer era ser agradável.
Ele se recostou no batente da porta, os
braços cruzados.
— Lembra da garota que eu
mencionei antes? — Ele coçou a ponta do
nariz e Ekaterina sabia que o irmão estava
mais nervoso do que queria demonstrar.
— O que tem ela? Finalmente te deu o
pé?
Pyotr apertou os olhos para a irmã.
— Ela é educada comigo, mas… Eu
não sei se ela quer algo ou não.
— Ela não quer — Ekaterina disse a
Pyotr a olhou, pedindo explicações.
Ekaterina revirou os olhos — Se ela quisesse,
você saberia. Está apaixonado, Pyotr?
— Claro que não!
— Então, deixa ela pra lá — Ekaterina
deu de ombros e voltou a beber a água.
— Custa você me dizer como eu me
aproximo dela?
— Eu nem conheço a garota! —
Ekaterina suspirou — Cada pessoa é
diferente. Não tem uma receita única para
lidar com todo mundo, Pyotr. Você tem que,
primeiro de tudo, entender a garota.
Ele concordou com a cabeça.
— Certo… Eu vou tentar fazer isso.
Então, Ekaterina estreitou os olhos.
— Pyotr, o tal amigo que ela é vizinha
dele… Não é o Kazimir, é?
Que, por sinal, ainda nem levou a coça que
ele merece!
— É, é a vizinha dele, sim — Pyotr
mordeu o canto do lábio — Eu não fui ainda
dar um coro no Kazimir justamente porque
ela é vizinha dele e, pelo visto, são um pouco
amigos.
Ekaterina fez uma careta.
— Essa garota é problemas, Pyotr.
Fique longe dela — Ekaterina apontou para
o irmão, ainda segurando o corpo, antes de o
colocar em cima da pia.
— Você tá com o fracote do Castillo e
eu não posso sair com a garota que eu
quero?
— Não se trata disso! Kazimir não é
boa companhia. Pelo amor de Deus, ele
andava com você! E olha só o que aconteceu!

Ekaterina colocou as mãos na cintura —
Ela não é da máfia. Você falou. Já pensou se
ela é alguma espiã? Heim?
— Você desconfia de todos.
— Sim, desconfio. E você deveria,
também! Mas não, só quer pegar no pé do
Bernardo! — Ekaterina se aproximou do
irmão
— Quem é essa garota?
Pyotr deu um passo para trás.
— Não é da sua conta. Obrigado pela
ajuda.
Ekaterina não queria render com Pyotr e
acabar brigando com ele, mas ela descobriria
quem era a tal moça. Algo dentro da russa
lhe dizia que aquela garota era um
problemão e Pyotr tinha muito a perder.
— Isso é tudo por hoje — Jannochka
disse — Você está muito bem, Bernardo. E
aprende rápido, o que é ótimo. Não sou
muito paciente para ensinar quem é lento.
O loiro sorriu para ela.
— Obrigado! — Ele fez uma
reverência com a cabeça — Eu quero poder
aprender o máximo possível e poder
começar a trabalhar.
— Vai ficar conosco? — Jannochka
cruzou os braços e se recostou na poltrona
— Ekaterina não vai sair da Rússia, já te
aviso.
— Eu vou para onde Ekaterina for —
Ele sorriu apaixonado e Jannochka sorriu
por dentro. Era claro o quanto o garoto
gostava da filha dela.
— Certo. A aula está acabada, então.
Bernardo pegou as coisas dele e acenou
com a cabeça, mas Jannochka fez sinal com a
mão para que ele esperasse, enquanto ela
abria uma gaveta e colocava algo em cima da
mesa. Quando ela tirou a mão de cima,
Bernardo viu do que se tratava e arregalou
os olhos.
CAPÍTULO 15
— É só pra garantir que vocês dois
não vão fazer de mim avó, por hora — Ela
falou e Bernardo abriu a boca, mas ela o
interrompeu
— Eu sei de tudo o que se passa por
aqui, Bernardo Castillo. Não estou proibindo
vocês, até porque não acho que isso vá
adiantar de algo.
— Quero apenas que se cuidem,
entendido? Ekaterina tem muito o que fazer
e, quem sabe, não será ela a Don? Os treinos
dela irão se intensificar.
Bernardo apertou os lábios, pegou o maço
de camisinhas e, com outro aceno de cabeça,
saiu do escritório.
Ao caminhar para o salão de entrada, onde
ficavam as grandes escadas, Bernardo foi
empurrado para frente, e quase caiu no chão.
— Olha por onde anda, maricas!
Bernado olhou e reconheceu o ruivo de
mais cedo, o mesmo que insinuou que ele e
Maksim estavam tendo mais do que apenas
amizade. Lev Yankovich.
Mesmo tendo uma boa resposta na ponta
da língua, Bernardo optou por apenas
endireitar a roupa e sair dali, porém, o ruivo
parecia ter outras ideias.
— Ne ignoriruy menya, chert voz’mi!
(Não me ignora, caralho!) Pede desculpas!
— Pelo que ele tem que pedir
desculpas?
Miguel perguntou. Ele havia ficado
algumas horas a mais no México, depois do
atentado a Tonny e Clara. Mas em seguida,
embarcou de volta para a Rússia. Ele tinha
acabado de chegar na mansão e estava
retirando as luvas.
— Esse merda esbarrou em mim de
propósito — Lev mentiu e Bernardo inspirou
fundo.
— Não foi nada disso!
— Tá me chamando de mentiroso, seu
mexicano de merda?
Ao ouvir isso, Miguel se colocou ao lado de
Bernardo, um passo à frente. Ele precisou
segurar a mão para não puxar a arma.
— Algum problema com sermos
mexicanos? Lev olhou para os dois, com
desdém.
— Vocês não passam de intrusos.
Você, pelo menos é sobrinho da Don, mas
esse aí? — Lev varreu Bernardo de cima a
baixo, com a boca entortada — Um viadinho
que nem deveria pisar aqui!
Miguel segurou a gola de Lev, que riu
debochado, mas Bernardo colocou a mão no
ombro do amigo.
— Qual é, Bernardo! Esse filho da mãe
tá…
— Não disse para deixá-lo ir. Mas sim
para deixar que eu me resolvo com ele.
Miguel sabia que Bernardo não tinha
chance, fisicamente, contra Lev, mas, aquela
era uma questão de honra. Então, ele soltou
o ruivo e deu um passo para o lado.
— A bicha vai me bater? É isso? — Lev
fez pouco — Anda, quero ver!
Bernardo apertou o punho e Miguel,
apesar de querer pará-lo, sabia que seria
uma humilhação. Melhor que o loiro
apanhasse, do que ser constantemente
defendido pelos outros. Ainda mais quando
ele era o namorado de Ekaterina.
— O que você quer ver, Yankovich? —
A voz de Jannochka soou e Lev remexeu a
boca, incomodado.
— Esse rapaz vem me provocando.
Pela manhã, e agora. Ele até esbarrou em
mim de propósito.
Jannochka cruzou os braços e concordou
com a cabeça.
— Entendi.
— Eu não…
— Bernardo — Jannochka olhou para
o loiro, séria — Isso é algo sério. Não
podemos ter brigas aqui. A melhor forma de
resolver isso, seria no ring. E, claro… — Ela
se virou para Lev — É isso o que você quer?
— Sim — O ruivo disse, o olhar
predador em cima de Bernardo.
— Eu não fiz nada disso! — Bernardo
se defendeu, mas Miguel segurou o braço
dele e balançou a cabeça.
— Ofensas são levadas muito à sério,
aqui. Por isso, vamos ter uma luta. Vão,
durmam e, pela manhã, eu quero os dois no
ringue — Ela olhou os dois e se fixou em
Bernardo — Não gosto de mentiras.
— Sim, senhora — Lev respondeu,
seguido por Bernardo e Miguel.
— Miguel, falaremos depois. Tenho
uma missão para você, daqui a uns dias.
— Sim, tia.
Assim, ela passou por eles e saiu dali.
Miguel já estava convivendo com a tia há
algum tempo, na Rússia, e podia dizer que
ela agiu estranho.
— Amanhã eu vou esfolar você — Lev
disse e sorriu com deboche. Bernardo socou
a parede e Miguel segurou o braço do loiro.
— Vai começar a se quebrar agora,
Bernardo? — Ele perguntou.
— Ela nem me ouviu. Ela só levou em
consideração o que aquele filho da… O que o
Yankovich falou!
— Escuta, não fica assim…
— Como eu não vou ficar assim,
Miguel? — Bernardo perguntou, frustrado.
— Eu confio que a Tia Janna vai fazer
o certo — Miguel colocou a mão no ombro
de Bernardo — Eu nunca a vi errar. É sério.
Confia que vai dar tudo certo. E, se você
tiver que lutar, fica tranquilo que eu te ajudo
depois a treinar pra dar um pau naquele
merda.
Bernardo sorriu de lábios colados.
— Valeu.
— Somos família, não é? — Miguel
disse, sorrindo, porém, dessa vez, ele já não
parecia tão feliz. Porém, Bernardo notou, não
tão amargurado.
“Talvez ele esteja aceitando que Clara
realmente está casada com Tonny e não tem
qualquer chance dela voltar pra ele.”
Aleksei estava descascando uma maçã,
quando Lev passou por ele. Este sentia
calafrios ao olhar para o garoto que, mesmo
com apenas quatorze anos, parecia o próprio
diabo, pronto para levar a alma de alguém. O
rosto bonito não encobria o que tinha por
dentro de Aleksei, e este não fazia a menor
questão de esconder sua natureza.
— Amanhã vai ser interessante —
Aleksei disse, levando um pedaço da fruta à
boca, com a ajuda da faca. Ele mastigou e
manteve o olhar em Lev.
— É… — Lev respondeu, querendo
logo se ver livre do olhar do jovem. Ele só
avançou sobre Aleksei mais cedo porque não
estavam sozinhos.
— Você deveria fazer os preparativos
— Aleksei falou assim que engoliu o pedaço
da maçã e apontou para Lev com a ponta da
faca — É o mais inteligente que você pode
fazer, apesar de que… Esse não é bem o seu
forte, não é mesmo?
O sorrisinho de canto de Aleksei fez Lev
inspirar fundo, querendo partir para cima do
menino.
— Digo o mesmo. Você não passa de
um garotinho, e fica aí pelos cantos, como
um rato, querendo meter medo nos outros.
Mas não passa de uma criancinha — Lev
falou e Aleksei levantou as sobrancelhas,
debochadamente — Meta-se com alguém do
seu tamanho, fedelho.
— Como eu disse, inteligência não é o
seu forte.
Aleksei deu as costas e se afastou,
entrando na cozinha e vendo Ekaterina
preparando dois sanduíches gordos.
— Ele não precisa de tanto — Aleksei
falou e a garota apenas o ignorou — Às vezes
acho que você não gosta de mim, prima.
Ela parou de preparar os sanduíches e
olhou para Aleksei, com descrença.
— Você acha? — Ela soltou um
risinho — Aleksei, você não faz questão de
ser legal com ninguém.
Ele deu de ombros.
— Eu preciso? — O adolescente
perguntou.
— De vez em quando, tenho certeza
de que isso não vai te matar — Ekaterina se
virou novamente para os sanduíches — Você
já tem quatorze anos. Em dois anos, vai fazer
o juramento e, então, aos dezoito, já pode se
preparar para começar a procurar uma
noiva.
— Pyotr não tá procurando. Ele é mais
velho — Aleksei estalou a língua — Só
porque eu sou sobrinho, a tia Janna não vai
me arranjar uma porcaria de casamento, né?
— Ela não daria esse castigo à filha
dos outros.
— Ha, ha… — Aleksei se sentou numa
das cadeiras da mesa da cozinha — Você
sabe que eu não sou muito bom em ser…
“Legal”. Nem sei como fazer isso.
Ekaterina olhou para ele, com um
biquinho.
— Awm… Talvez você precise de
aulas — Ela balançou a cabeça — Esse tipo
de coisa sai naturalmente, Aleksei. Você tem
uns bons momentos, mas parece que sempre
está tirando sarro de alguém.
— Mmm… Eu acho engraçado como
vocês ficam confusos com algumas poucas
palavras. É divertido.
— Tenho pena da sua futura noiva. Ou
ela te coloca nos eixos, ou a pobrezinha vai
ser infeliz.
Ekaterina pegou os pratos e saiu da
cozinha, deixando o jovem ali, pensativo.
“Eu não preciso de uma noiva”, ele falou
para si mesmo, pensando nas garotas da
escola dele. Bonitas, mas não muito espertas,
ou fúteis demais. E as da máfia não eram
muito diferentes.
Como Jannochka não estaria em casa para
o jantar, ela sairia com Santiago num
encontro, todos foram liberados para
jantarem à mesa ou em seus quartos. Por
isso, Ekaterina foi para o quarto de
Bernardo, com os sanduíches. Ela tinha
deixado uma garrafa de refrigerante no
quarto dela, antes de descer para preparar o
que comer.
Ao abrir a porta, viu Bernardo de toalha
na cintura, secando os cabelos enquanto
olhava para o guarda-roupa.
— Deixa eu escolher.
CAPÍTULO 16
Bernardo se virou, já sorrindo e viu
Ekaterina colocando dois pratos em cima da
cômoda, antes de fechar a porta e caminhar
até ele.
— Fica pelado — Ela falou, sem
censura e Bernardo negou com a cabeça.
— Da última vez nós quase
transamos. Temos que ter mais cuidado. Ela
revirou os olhos e se jogou na cama, sentada.
— Não sei qual o seu medo! — Ela
reclamou — Não temos as frescuras de
virgindade…
— Você ainda é menor de idade,
lindeza. Daqui a três dias, fará dezessete,
Ekaterina. Eu já tenho vinte.
— Quatro anos não são nada! Nem
chega a ser quatro…
Ele caminhou até ela e segurou-lhe o
rosto.
— Nós convivemos pouco, antes. Não
quero que a gente já comece transando e
pronto.
— Só falta você me dizer que vai casar
comigo quando eu zer dezoito e só aí vou
finalmente sentar em você.
Ele soltou uma gargalhada.
— Não é má ideia — Ele falou e
aproximou a boca do ouvido de Ekaterina —
Mas não sei se aguento… Quero sentir você
quicando na minha rola.
Ela bateu no braço dele. — Fica me
provocando e depois não quer me comer.
— Ah, querer eu quero. Em cada canto
dessa casa. Você não faz ideia, Ekaterina.
— Por que não me mostra?
Ele beijou os lábios dela e se afastou, indo
até os sanduíches.
— Obrigado — Bernardo pegou um e
deu uma mordida — Mmm! O que vamos
beber?
Ela se levantou e ao parar na frente do
loiro, puxou a toalha dele. Sempre que
Bernardo estava perto de Ekaterina, ainda
mais se falassem alguma safadeza, ele cava
duro. E aquela vez não foi diferente. Quando
ele falou sobre ela por cima dele, aquilo o
ativou.
Ekaterina se ajoelhou e segurou no
membro dele.
— Pra mim, leite — Ela sorriu,
passando a língua pelos dentes de cima e
lambeu a extensão do membro de Bernardo,
que precisou se segurar na cômoda. Mas ele
se recuperou rápido, deixou o sanduíche de
lado e logo sua mão estava nos cabelos de
Ekaterina.
— Então me chupa gostoso, meu amor
— Ele falou — E eu vou encher essa sua
boquinha.
Lá no fundo, Bernardo brigava consigo
mesmo, por ser tão molenga com ela. Do que
adiantava não transar e fazer aquelas coisas?
Mas ele não conseguia resistir de todo
àquela russa.
Os movimentos de Bernardo foram
ficando cada vez mais brutos. Ekaterina
precisou a boca ao máximo, para aguentar e
os dentes dela não machucarem o loiro.
— Caralho! Eu vou… — Ele segurou a
cabeça dela com as duas mãos e levantou um
pouco uma das pernas — Porra, amor… Ah!
Eu amo você, Ekaterina. Puta que o pariu, eu
te amo pra cacete!
As lágrimas desciam pelos olhos de
Ekaterina, mas estavam longe de ser de
tristeza. Simplesmente, era um reflexo
natural do corpo. Quando Bernardo gozou,
ela quase se engasgou, mas não o fez.
Assim que o último jato dele saiu,
Ekaterina o tirou da boca e o beijou,
masturbando-o.
— Leite quentinho. Que delícia — Ela
falou, a voz um pouco rouca.
— E eu… Eu quero mel — Bernardo
sorriu e levantou Ekaterina, beijando os
lábios dela, sem nojo.
Ao levá-la para a cama, ele a colocou de
quatro, abaixando a calça de Ekaterina e
vendo como ela estava toda melada.
Ele se abaixou e lambeu da calcinha de
Ekaterina até a entrada dela, passando pelas
coxas e então, Bernardo subiu.
— O que…Amor!
— Eu quero tudo — Ele falou e passou
a língua pela outra entrada dela — Vai dar
pra mim?
Ekaterina revirou os olhos, porque
enquanto Bernardo a lambia ali, ele passava
o dedo pela fenda encharcada dela, enfiando
de leve.
—Aaah! Isso… Ai, eu vou… Vou dar tudo!
— Ekaterina rebolou, se empinando mais
para Bernardo.
Ele deu uma palmada com vontade no
bumbum dela e apertou, chupando ela por
inteiro, até que ela gozasse. Então, ele se
levantou e a virou, deitando Ekaterina na
cama.
— Vou pedir sua mão pros seus pais.
Bernardo beijou o pescoço da russa,
apertando o seio dela, mas ele parou de se
mexer e se deixou cair na cama, ao lado dela.
—Um ano de noivado? — Ela perguntou,
passando a perna por cima do tronco de
Bernardo, mas deitando-se no braço dele,
que a puxou para mais perto.
—Sim — Ele engoliu com dificuldade —
Assim que você fizer dezoito anos, nos
casaremos. Se você quiser, claro.
Ekaterina levantou um pouco a cabeça.
—Depois de me abrir pra você desse jeito,
literalmente, acha mesmo que eu não estou
pensando em casamento? — Ela soltou uma
risada.
—Eu te amo — Bernardo acariciou o rosto
dela — Eu amo tudo em você.
Ekaterina suspirou e umedeceu os lábios.
—Tem certeza? Tudo?
—Não há nada para não gostar em você,
Ekaterina.
—Bernardo… — Ela se sentou — Você
entende o que eu faço, não é? Você sabe que
eu não saio de casa para ir conversar com as
pessoas.
Ele também se sentou e a olhou nos olhos.
—Não vou discutir seu trabalho.
—Você disse que faria parte do nosso
mundo. Bernardo, beleza, você vai ser mais
voltado para a parte tecnológica, mas isso
não vai te livrar de ter que matar alguém. E
às vezes, não só puxando um gatilho, mas
arrancando informações.
—Eu não…
—Vai, sim. Não como eu, mas não vai
poder se recusar. Você vai servir um
Parkhan. Um Don. Não é um emprego que
você decide, um belo dia, que não quer mais
e sai andando de cabeça erguida. Ainda mais
se estiver casado comigo. Se eu
for a subchefe do meu irmão, você estará
em um alto cargo. E se eu for a Don,
Bernardo, você vai estar no comando
comigo.
Ele não queria pensar naquilo. Em ele ter
que lidar com mortes. Com torturas. Com
atividades ilegais. Mas… Aquelas
pessoas não eram ruins. Isso deixava
Bernardo muito confuso.
Enquanto isso, ele conheceu gente que
seguia as leis e não eram nada boas.
Ekaterina era uma deusa, para ele. Como
ele poderia ligá-la à imagem de um assassino
cruel? Era impossível para ele. Ainda mais
que ela era doce, divertida. Um pouco
mandona, sim, mas não má.
—Eu te amo. E, seja lá o que estiver no
futuro pra gente, eu vou estar do seu lado.
Sempre.
Bernardo beijou docemente os lábios de
Ekaterina e os dois se deitaram.
Conversaram um pouco sobre os planos do
futuro, sobre coisas para fazerem como
casal, até que finalmente dormiram.
No dia seguinte, quando a notícia do que
aconteceria chegou aos ouvidos de
Ekaterina, ela foi direto falar com a mãe.
CAPÍTULO 17
—Mãe, como pode colocar o Bernardo
para lutar contra o Yankovich?
Jannochka, que estava de costas para a
filha, olhou por sobre o ombro.
—Está questionando a minha decisão,
Ekaterina? A moça respirou fundo antes de
falar.
—Mãe, sabe que eu a respeito. Mas
Bernardo não tem condições de lutar contra
o Lev, por mais que me doa admitir. Ele mal
começou a treinar! Ser grande e forte não é o
suficiente!
—Apenas confie na decisão da sua mãe e
Don — Jannochka se virou para a filha — Eu
não colocaria a vida de Bernardo em jogo, se
eu não soubesse o que estou fazendo.
Ekaterina soltou o ar e apenas concordou
com a cabeça, mas por dentro, ela estava se
preparando para subir no ringue e acabar
com a raça de Lev.
Na sala de treinamento, todos já estavam
ali, incluindo Bernardo, Miguel e Pyotr. Este
estava olhando para Lev como se pudesse
matá-lo ali mesmo.
—Filho da puta! — Pyotr murmurou e
Bernardo o olhou estranho.
—Pensei que ficaria feliz por me ver
levando uma surra. Pyotr revirou os olhos.
—Eu só não gosto de você com a minha
irmã, loiro.
Praticamente crescemos juntos. Somos
amigos, além de, agora, família. Sua irmã
casou com meu primo, lembra? — Pyotr
soltou, surpreendendo Bernardo, que olhou
para Miguel. Este apenas sorriu.
—O que eu perdi? — Aleksei perguntou,
ao se aproximar, seguido de Maksim.
—Nada, ainda. Estamos esperando a Don
chegar. Foi ela quem ordenou isso — Miguel
respondeu.
—Bernardo, eu sei que você quer limpar a
sua honra, mas… — Maksim começou a falar
e então, apenas suspirou — Eu te desejo boa
sorte. O Yankovich é bom na luta. Por isso ele
se acha tanto.
—Ele não é melhor do que você, primo —
Pyotr disse — Se você lutasse de verdade,
sem ficar com medinho de quebrar o seu
oponente, seria magnífico.
Maksim sorriu e olhou para baixo.
Bernardo percebeu as
bochechas avermelhadas do rapaz. Aleksei
apenas balançou a cabeça.
Jannochka apareceu, com Santiago e
Ekaterina. A moça ficou perto de Bernardo,
enquanto Santiago seguiu Jannochka até o
ringue.
—Bom dia! — Ela falou e todos
responderam — Hoje estamos aqui para
ensinar uma lição em uma pessoa.
Os olhos se voltaram para Bernardo.
Jannochka continuou.
—Sabemos que criar confusões dentro da
Organização não é permitido. Podemos
massacrar os outros, mas devemos nos
tratar com respeito e fraternidade. Se não
formos unidos, seremos quebrados
facilmente pelos nossos inimigos.
Lev sorriu debochado para Bernardo.
—Por favor, Lev Yankovich, suba aqui —
Ela pediu e o rapaz o fez — Diga o motivo de
estar aqui.
—Vim para limpar a minha honra! O
estrangeiro, Bernardo Castillo, desrespeita a
nossa Organização!
—Diga o que houve — Ela pediu,
calmamente, e Yankovich o fez. Bernardo
estava se sentindo mais injustiçado ainda,
pois Jannochka havia dado a oportunidade
de Lev mentir, para todos, enquanto ele nem
foi chamado para subir no ringue —
Terminou?
—Sim, Parkhan!
—Muito bem, agora é a vez da outra parte
falar — Jannochka disse e olhou para
Bernardo — Eu também vim limpar a honra
da Organização.
Todos a olharam, sem acreditar. Bernardo
abriu a boca, sem entender nada.
—Eu sabia que ia ser divertido — Aleksei
tirou uma barrinha de chocolate do bolsa,
sorridente — Aqui, trouxe pra você.
Presente por sua vitória — Ele esticou o
doce para Bernardo. O loiro pegou a
barrinha, ainda anuviado.
—Parkhan? — Lev perguntou. Os pais dele
estavam ali, e a palidez do casal só não
ganhava da do próprio rapaz.
Jannochka se virou para ele.
—Você mentiu sobre o que houve pela
manhã. Você mentiu sobre o que houve esta
tarde. Achou mesmo que eu sou tão
desinformada que vou acreditar em
qualquer coisa que me contarem? Acha que
eu não verifico as câmeras desse lugar?
—Jannochka se aproximou de Lev, que
sentiu as pernas
falharem — Você chamou a mim de
incompetente, de idiota, burra,
inconsequente, injusta!
—Don, eu…
—Você atacou um membro, jurado ou não,
sem motivos. Apenas por interesses
próprios, que eu não sei são apenas inveja ou
algo mais. No entanto, Lev Yankovich, isso é
o de menos. O que importa é o que você fez.
E por isso, eu, Jannochka Yarina Sigayeva,
Don da Tambovskaya, vou lavar a minha
honra, da única forma que a nossa
Organização aprova. Um combate limpo. Sem
armas. Corpo à corpo.
Santiago olhava para Jannochka com um
brilho de clara idolatração. Ele a amava e a
admirava. Quando ela contou o que faria, ele
apenas a beijou com mais paixão.
—Posicionem-se — Ele disse. Como
Jannochka estava como uma oponente, ali,
cabia a ele servir de juiz. Yuri e Fyodor não
estavam presentes, tendo viajado em missão.
Ela retirou o casaco e revelou a roupa de
treino, por baixo. Lev
tremeu os lábios, mas não abaixou a
cabeça. Ele sabia que podia nem sair vivo
dali, mas pelo menos não morreria sem
lutar. Ainda que o oponente dele fosse a
própria Don. Ninguém ganhava dela.
Ninguém.
A mãe de Lev, Domka, escondeu o rosto no
peito do marido, que engoliu em seco e
desviou os olhos, parando em Bernardo. O
homem parecia envergonhado e apenas
olhou para baixo, já sofrendo em
antecipação.
—Comecem! — Santiago soltou.
Pyotr sorriu com crueldade, bem como
Aleksei. Ekaterina
estava séria, sem qualquer emoção no
rosto e, para Bernardo, aquilo parecia ainda
mais aterrorizador. Maksim, por sua vez,
também olhou para baixo.
—Não tem isso de “primeiro as damas” —
Jannochka falou
para Lev, com um sorriso de lado e ele a
atacou — Eu disse que pode começar,
garoto.
Lev respirou fundo e começou a atacar
Jannochka, mas não acertava de forma
alguma. Ela apenas se esquivou, sem bater
nele, deixando-o se cansar.
“Esse idiota…”, ela pensou, mais do que
desapontada. “Foi só ficar com medo para
começar a fazer merda”.
Ela o chutou nas costelas, ao mesmo
tempo em que socava o outro lado dele, no
rosto. Jannochka girou, praticamente
passando a perna pelo tronco de Lev, que
caiu no chão. normalmente, ele levantaria
rápido, mas Jannochka não deu chance,
colocando um joelho no pescoço dele,
enquanto o outro estava no baixo ventre
dele, muito perto da região íntima. Ela não
bateria ali, mas chegar perto já era o
suficiente para ele sentir medo e dor.
Os dois braços dela desceram sobre ele,
com socos, de frente, pelos lados. Lev usou a
perna para tentar “abraçar” Jannochka,
enquanto os braços tentavam defender o
rosto e a cabeça.
Jannochka já estava com quase quarenta e
dois anos, mas parecia muito mais jovem.
Lev sempre a achou bonita e era o modelo de
mulher bonita. Quando Ekaterina cresceu
mais, por se parecer com a mãe, ele pensou
que teria a chance dele.
Porém, Bernardo apareceu e ele perdeu
totalmente a oportunidade de tentar algo
com a garota.
Olhar a primeira paixonite dele, por baixo,
ainda que atacando- o, foi o suficiente para
que Lev sentisse medo e excitação ao mesmo
tempo.
Santiago notou que o rapaz parecia estar
desconcentrado na luta e, como usava um
short leve, o volume dele não foi
despercebido.
“Mas que… Cretino de merda!”, Santiago
pensou. “Se ela não o quebrar, eu vou! Como
ele se atreve a olhar pra minha mulher?””
Lev respirou fundo e usou um dos braços
para agarrar a cintura de Jannochka, junto
com a perna dele, para ficar por cima.
Ela permitiu, dando esperança a ele,
apenas para finalizar o garoto.
Ele os girou e, ao se ver por cima dela,
ficou ainda mais excitado por ela passar as
pernas ao redor dele.
“Caralho!”, ele pensou, sem conseguir
bater nela. “Como é que se bate nessa
gostosa?”
Em vez de atacá-la com força, ele se
pressionou contra ela, como se estivesse
tentando imobilizá-la, mas Jannochka não
era burra e percebeu. Ela sorriu suave para
Lev e viu as pupilas dele dilatarem ainda
mais. Ela mordeu o lábio e o puxou para ela
com as pernas.
—Um último desejo, Yankovich? — Ela
sussurrou para ele, subindo os braços, indo
para os ombros dele.
CAPÍTULO 18
—Você… — Ele falou, embriagado.
Jannochka sorriu e, quando Lev se deu conta
do que ela fazia, já era tarde. As pernas dela
começaram a estrangulá-lo, forte, tirando o
ar dos pulmões dele.
Lev tentou bater nas pernas dela, mas
Jannochka segurou o pescoço dele. Se ela
forçasse um pouco mais, o quebraria.
Não demorou para que o ruivo ficasse sem
ar e os pontos pretos na visão dele
tomassem tudo, deixando-o apagado.
Santiago contou até três e, após dar a
vitória a Jannochka, ela finalmente soltou o
rapaz.
O pai de Lev e um outro soldado o tiraram
do ringue, enquanto Santiago segurou a mão
de Jannochka e a levantou, gerando uma
onda de aplausos.
—Você pegou leve com aquele bosta! —
Santiago reclamou — Ele tirou uma puta
casquinha de você!
—Eu quis dar a ele a chance de lutar. Ou
teria matado o garoto nos primeiros vinte
segundos de luta.
—Que matasse — Santiago reclamou e a
levou para fora, depois de fazer sinal com a
mão de que o “evento” tinha acabado. Ele
levou a esposa para o escritório e a
empurrou para dentro.
Jannochka soltou uma risadinha. Uma que
era reservada apenas para Santiago. Ele
trancou o escritório e começou a desabotoar
a blusa.
—Mmmm…
Ela deu alguns passos para trás, sem tirar
os olhos dos de Santiago.
—O único que pode se esfregar em você
sou eu — Santiago chegou a Jannochka
rápido, puxando o top dela para cima e
apreciando os seios da esposa — Cada vez
mais gostosos. Como você faz isso?
Ele tomou um na boca, passando a língua
pelo piercing.
—Ah!
—Mmm, geme pra mim, porra! — Ele
falou com o mamilo dela ainda na boca,
levando-a para o sofá que tinha ali. Ele se
afastou, apenas para virá-la e fazer
Jannochka se ajoelhar no móvel — Empina
esse rabo!
O tapa dele foi estalado e Jannochka
gemeu mais alto, se remexendo.
Santiago começou a abaixar o short dela,
mordendo a pele de Jannochka.
—Já tá molhada, puta — Ele bateu nela de
novo e tirou o membro da calça,
masturbando-se e passou pela entrada de
Jannochka — Eu quero isso aqui.
Ele subiu e deu uma leve empurrada no
ànus de Jannochka.
—O… Lubrificante…
Ele deixava um dentro de uma das
gavetas, com fundo falso. O escritório era um
local que eles transavam bastante, no meio
do expediente. Em todos os locais da casa em
que os dois
costumavam aproveitar para terem
relações sexuais, Santiago
mantinha vidros de lubrificante. Ele
adorava pegar Jannochka de surpresa.
—Quer dar essa boceta gulosa primeiro?
— Ele sorriu safado e começou a entrar,
antes dela responder — Ah! Sempre
deliciosa!
“Como ela com carinho mais tarde”,
Santiago pensou. Naquele momento, a
vontade de sobrepor o cheiro dele sobre o de
Lev, que estava ali, era maior.
Jannochka sabia que Santiago estava
“marcando” dominância, mas ela não se
importou. Ela adorava quando ele ficava
todo possessivo. O único que podia fazer isso
com ela, o único que podia ter controle total
sobre ela.
Santiago colocou um dos pés em cima do
sofá, segurou com força os quadris da esposa
e se perdeu nela, agradecido por ter
isolamento acústico nas paredes e porta.
No quarto de Bernardo, Ekaterina, Pyotr,
Maksim e Aleksei comemoravam.
—Aquele otário! — Pyotr debochou — Ele
deve ter se achado muito esperto por mentir
pra Don!
—Pode respirar, loirinho — Aleksei disse
e Pyotr o olhou feio.
—Respeito, Aleksei. Assim que ele casar
com Ekaterina, vai estar com um status
acima do seu — Maksim falou sorrindo.
—E ele vai casar com ela? — Aleksei
perguntou. Pyotr apontou com o copo para
Bernardo.
—Depois de ficar se agarrando com a
minha irmã, é bom ele se tornar digno e
casar!
—Ele já é digno, seu idiota! — Ekaterina
falou e mostrou a língua para o irmão.
—Ah, se vão começar com isso eu tô
caindo fora — Aleksei se levantou da cadeira
da escrivaninha.
—Não é como se fizesse falta — Pyotr
disse e, por mais que não demonstrasse,
Aleksei ficou magoado. Ele caminhou para a
porta, passando por Pyotr, calmamente,
como se estivesse apenas entediado.
—Qual é, Pyotr. O garoto tem só quatorze
anos — Bernardo falou e Pyotr apenas
revirou os olhos.
—Ele se acha pra cacete. E vai dizer que
você gosta dele por perto? Ninguém gosta.
Maksim se levantou da cama.
—Eu vou ver como ele está.
Aleksei, que estava ainda do lado de fora,
ao ouvir isso, saiu dali e foi para o quarto
dele. Não demorou até Maksim bater na
porta.
—Quem é?
—Sou eu, Aleksei!
—Cai fora! — O garoto respondeu, mas
Maksim ignorou isso e entrou — Eu disse
pra cair fora! Eu podia tá pelado.
—Não é como se a gente já não tivesse se
trocado no vestiário. Não tem nada novo, aí.
Como disse aquela garota lá naquela novela
mexicana… Não quero ver suas misérias —
Maksim falou e Aleksei sorriu de lado.
—Desde a última vez, eu cresci, priminho.
Não quero ficar mostrando as minhas
intimidades por aí.
—Não precisa fingir que não liga, sabia?
— Maksim falou, calmamente e Aleksei deu
as costas a ele, voltando a mexer em algo que
Maksim não conseguia ver — Ficar aí
fingindo que tá fazendo algo não muda nada.
—Não tô fingindo.
Maksim se aproximou do primo e o
abraçou. Aleksei ficou paralizado.
—Você é o chato mais amado, Aleksei —
Ele soltou o mais novo e o virou para ele.
—Eu não preciso de pena! — Aleksei falou
e deu um passo para trás — E não fica me
abraçando!
—Não é pena.
—É o que, então? — Aleksei respirou
fundo — Sou seu primo e não tô interessado
em comer você. Maksim abriu a boca, sem
acreditar no que Aleksei tinha acabado de
falar. Este, se arrependeu do que falou. Num
ímpeto, ele falou para machucar, mas sabia
que tinha passado e muito dos limites.
—Fica bem — Foi tudo o que Maksim
falou, os olhos marejados.
Aleksei atirou o controle do videogame
que ele estava segurando, na parede. Em
seguida, se sentou na beirada da cama e
colocou a cabeça entre as mãos.
—Desculpa, Maksim — Ele falou baixinho,
mas o orgulho era maior, de ir atrás do
primo e se desculpar olhando na cara dele.
Aleksei se levantou e foi se trocar, para ir
ao centro de treinamento. Ele ia socar algum
saco de areia como se fosse a própria cara.
“Mas que porra!”, ele disse, depois do
primeiro soco. “Você é um imbecil, Aleksei!
Um imbecil!”.
—O Maksim não voltou mais — Bernardo
disse, olhando para a porta.
—Deixa ele — Ekaterina falou — Aleksei
deve ter falado alguma merda. Maksim não
vai querer ficar perto de ninguém.
—Ele é delicado demais — Pyotr disse,
bebendo todo o conteúdo do copo dele e
fazendo uma careta — Tá sem gás!
—Maksim é apenas mais sensível —
Ekaterina defendeu o primo — É por conta
de você e Aleksei fazerem pouco dele que os
outros se sentem no direito de fazer o
mesmo!
—Ah, pára!
—É sério, Pyotr! — Ekaterina se levantou
da cama, onde os três estavam sentados —
Maksim é o nosso primo, um Sigayev! Ele
merece mais consideração de vocês dois,
bundas-moles!
—Minha bunda é durinha — Puytr
respondeu, cínico.
—Você é babaca demais! — Ela falou,
balançando a cabeça — Por isso não arranja
uma garota maneira.
Foi a vez de Pyotr se levantar. Bernardo
não ficou parado e se colocou do lado de
Ekaterina.
CAPÍTULO 19
—Cuida da sua vida amorosa e eu cuido da
minha.
—Quando você tiver uma — Ekaterina
provocou.
—Na moral, chata pra caralho! — Ele
olhou para Bernardo — Você tá é fodido!
Ele passou para a porta e foi para o quarto
dele, apenas para pegar a chave do carro e
sair.
Pyotr passou rápido pelo salão e foi direto
para a garagem. O Gordon Murray T.50 preto
foi o carro escolhido da noite. Se tinha uma
coisa que Pyotr adorava, além de mulheres e
poder, eram os carros. Aquelas máquinas
velozes eram capazes de animá-lo quase que
imediatamente.
Jannochka olhou pela janela e viu o carro
saindo da garagem subterrânea. Pegando o
celular, ela apenas disse:
—Quero que o sigam.
Por mais que confiasse na capacidade de
Pyotr atrás de um volante, Jannochka viu o
rapaz passando quase que correndo para o
andar inferior, com cara de poucos amigos. A
preocupação dela era que a cabeça
requentada do filho o colocasse em mais
algum problema.
Pyotr sorriu enquanto sentia a velocidade
do carro e, quando deu por si, estava
estacionando próximo à casa de Kazimir. Ele
não havia mentido quanto a isso, para
Ekaterina.
“O que porras eu tô fazendo aqui?”, ele se
questionou, pois não faria nenhum sentido ir
até a casa dela e, quem sabe, convidá- la para
um passeio.
No entanto, não foi preciso Pyotr ir muito
longe nas possibilidades, pois a bela garota
de cabelos dourados estava saindo da casa
dela. E, pelo que Pyotr pode ver, era mais
como uma fuga. Ele sorriu de lado e dirigiu
devagar até quase parar ao lado dela e rolou
os vidros para baixo.
—É perigoso andar sozinha — Ele falou e
a moça deu um pulo, levando a mão ao peito
e olhando para dentro do carro. Após
estreitar um pouco os olhos, ela pareceu
reconhecê-lo.
—Ah, você é o amigo do Kaz, não é? — Ela
perguntou, olhando para trás.
—Isso. E posso ser seu amigo também —
Pyotr respondeu — Por que não sobe no
carro e eu te levo?
—Hmm, não precisa — Ela limpou a
garganta — Eu só estava…
—Não tem comércio aqui, princesa. E pelo
seu jeito furtivo, duvido que os seus pais
saibam que você deu uma escapa — Pyotr
passou a língua pelos lábios — Seja lá para
onde esteja indo, eu te levo. Nosso
segredinho.
A piscada de Pyotr era sinal de que ele
estava, de fato,
“flertando pesado”, como dizia Ekaterina,
toda vez que via o irmão fazer aquilo para
alguma mulher.
A garota mordeu o lábio e, finalmente,
decidiu entrar no veículo.
—E então, para onde vamos?
Ela sorriu de leve e abriu o casaco,
revelando um vestido preto brilhoso.
—Eu estava indo me encontrar com umas
amigas — Ela admitiu — Mas meus pais não
são muito… Abertos a esse tipo de coisa.
—Compreendo — Pyotr começou a mover
o carro — E eu posso te fazer companhia
essa noite?
Ela sorriu para ele e concordou com a
cabeça.
—Claro! — A loira não parecia ter
compreendido que Pyotr se
referia a ficar a noite toda com ela. Toda
— Seu nome é Pyotr,
não é?
O fato de ela lembrar do nome dele fez o
coração de Pyotr bater mais rápido.
—Isso aí, princesa. E o seu… — Ele
lembrava muito bem, mas ainda não queria
parecer “fácil” demais. Pyotr não gostava de
dar esse tipo de poder às pessoas.
—Lisa — Ela coloca uma mecha de cabelo
atrás da orelha, senta–se direito no banco e
atraca o cinto.
—Chama as suas amigas pra boate que
vou te levar — E Pyotr pisou no acelerador.
Ele a levaria na boate da família, assim, ele
não estaria fora do território dele, a “крах”
(krakh, ou seja, Colapso).
Lisa deu um gritinho quando o carro
começou a correr, mas logo tratou de
começar a mandar mensagens no telefone.
—Hmm, eu acho que elas não querem vir
aqui — Lisa disse e franziu o cenho —
Parece que fica longe pra elas.
Pyotr fez um biquinho.
—E você? Quer que eu te leve pra lá ou…
— Ele se virou para a loira e fixou os olhos
escuros nos azuis dela — Vai se divertir
comigo, essa noite?
Dentro do clube, Pyotr entrou como se não
fosse quem ele era. Ao negar de leve a cabeça
para o segurança da portaria, esse
compreendeu que a identidade de Pyotr
deveria ser mantida em total sigilo.
—Caramba, como você conseguiu entrar
tão fácil, aqui? — Lisa perguntou, olhando ao
redor, a boca entreaberta, enquanto era
conduzida por Pyotr para a escada — O que
tem lá em cima?
—A área V.I.P., linda — Pyotr respondeu,
feliz por ter decidido sair naquela noite.
—Mas… Não deve ser qualquer um que
pode subir ali — Pyotr se virou para Lisa e
acariciou o rosto dela.
—Essa noite, nós podemos tudo.
Os dois se sentaram no sofá de uma das
cabines, a que era exclusiva dos Sigayev, com
a melhor visão e duas saídas de emergência.
Pyotr não queria embriagar a garota, pois
se tinha uma coisa que ele odiava, era
transar com garotas bêbadas. Qual era a
graça, se elas não estariam completamente
cientes quando ele entrasse nelas e desse
uma noite inesquecível de sexo?
Apesar de novo, Pyotr não era nada
recatado e no último ano, ele vinha
ganhando fama na cama das mulheres. E ele
não se importava nem um pouco se ela fosse
mais velha. Junto com Miguel, eles
aprontaram bastante desde que o primo foi
para a Rússia, participando até mesmo de
diversões à três.
—Eu conheço uns drinks maneiros aqui,
sem álcool.
—Talvez eu queira álcool — Lisa sorriu,
mas Pyotr, ainda que com ar brincalhão,
apenas balançou a cabeça.
—Nada disso, princesa. Quero você
consciente dessa noite maravilhosa que terá.
Mesmo na penumbra, Pyotr podia afirmar
que as bochechas dela coraram.
Eles conversaram, riram, e, a cada hora
que passava, Pyotr sabia que aquela garota
era diferente.
Ele se levantou e estendeu a mão para ela.
— Do que vale vir até uma boate e não
dançar?
CAPÍTULO 20
Lisa colocou a mão na de Pyotr e os dois
desceram para a pista, onde ele fez questão
de colocar a mão na cintura dela e seduzi-la,
ainda que sem beijá-la, inicialmente.
— Você é bom nisso! — Lisa falou,
próxima a Pyotr, que precisava se inclinar
para frente toda vez que a garota queria lhe
dizer algo.
— Sou bom em muitas coisas — Pyotr
puxou Lisa mais para ele, louco para
encostar-se todo nela, arrastar a loira de
volta para a área V.I.P. e devorá-la lá mesmo.
Lisa tinha um corpo magro, mas com “tudo
no lugar”, como Pyotr disse a Miguel, quando
comentou que tinha visto uma das garotas
mais bonitas da vida dele.
“Duvido que ela seja mais gata que a
Clara.”, Miguel havia falado.
“Ah, ela é! Porra, um tesão! E com um
rostinho que mistura inocência e safadeza…
Cara, é surreal!”
“Tá apaixonadinho, Pyotr?”, Miguel riu.
“Eu não me apaixono, Don Juan. Mas gosto
mais de umas que de outras.”
Pyotr manteve uma mão na cintura de Lisa
e a outra segurou o rosto dela, levantando
um pouco o queixo da moça, antes de beijar
os lábios dela.
Ela tinha gosto de morangos, com leite
condensado. A última bebida que ela havia
consumido, ali. Pyotr sentiu o corpo
explodindo com um tesão diferente. A
vontade era de possuíla, mas também, de
abraçar Lisa.
Nas vezes em que ele a viu, quando
eventualmente Kazimir e ele saíam pela
vizinhança, eles trocaram poucas palavras. E
foi o suficiente para ele ficar com ela na
cabeça. O sorriso de Lisa era lindo, para
Pyotr. Apesar de ser calma, ela não era lerda
ou “boazinha demais”. Pyotr não gostava
desse tipo de mulher. Na verdade, ele ficava
entediado, não importava o quão bonita ela
fosse.
O beijo terminou, com alguns selinhos no
final, e ambos estavam respirando
descompassado, principalmente Lisa.
— Vamos sair daqui — Pyotr sussurrou no
ouvido dela e a loira apenas concordou,
seguindo-o. Ela pensou que eles fossem
voltar para o segundo andar, mas Pyotr os
estava levando para a saída.
— Já vamos embora? — Ela perguntou e
ele sorriu e abriu a porta do carro.
— Por quê? Quer ficar aqui, ainda?
— Hmm, não, tudo bem — E ela entrou.
Pyotr deu a volta e sentou-se no banco do
motorista — Obrigada, eu realmente adorei!
Ainda não é tão tarde, acho que meus pais
não notaram a minha falta. Assim espero!
Pyotr franziu de leve a testa,
compreendendo que Lisa não estava com
planos para continuar o que eles tinham
começado na pista de dança.
— Foi um prazer! — O herdeiro da
Tambovskaya falou, sorridente, mas por
dentro, decepcionado.
Após deixar Lisa perto de casa, ele deu um
beijo apaixonado nela e esperou um pouco,
para o caso dos pais dela terem notado a
falta dela e brigarem com ela. Não, ele não os
conhecia e temeu que houvesse mais do que
um sermão.
Ao chegar em casa, Pyotr subiu as escadas
com cuidado para não fazer barulho. Não
que ele tivesse feito algo errado, mas para
que ele iria querer acordar os outros?
Ele ligou a luz, de cabeça baixa, e fechou a
porta do quarto.
— Ah! — Ele se jogou na cama, sorrindo
— Aquela loirinha…
Nos poucos meses que Pyotr ficou
observando Lisa, ela nunca tentou se
aproximar dele, não importa quantos
sorrisos ele desse na direção dela. E,
diferente de outras moças, ela não parecia
interessada nos carros dele, que, claramente
mostravam o poder aquisitivo da família
dele. E isso foi um atrativo para Pyotr.
Pyotr dormiu na mesma posição,
sonhando com Lisa e com o que ele gostaria
que eles tivessem feito.
No dia seguinte, Pyotr estava com um
semblante mais calmo e Ekaterina levantou a
sobrancelha, mas nada disse. Mas mais
surpresa ela ficou ao perceber que Aleksey
ficou quieto, também.
— O que será que mordeu esse menino?
— Ela cochichou para Bernardo. Este
levantou os ombros.
— Não faço ideia, meu amor.
Santiago olhava para o loiro. Ele sabia
muito bem que Ekaterina e o rapaz andavam
fazendo mais do que deviam, na opinião
dele. E sim, ele se sentia hipócrita, porque na
idade de Bernardo, Santiago era o terror dos
pais, passando o rodo em tudo o que era
mulher. Mas Ekaterina era filha dele e, claro,
ele se incomodava.
“Deve ser karma”, ele balançou a cabeça e
olhou Pyotr, comendo satisfeito. “Esse daí
teve uma noite boa”.
Jannochka ficou sabendo que o filho havia
apenas ido a uma boate, da máfia, com uma
menina. Ela pediu, claro, que lhe dessem
todos os dados dela. Como tinha que cuidar
de outros afazeres, Jannochka não poderia
fazer isso ela mesma.
Ela só esperava que não houvesse
problemas com a garota. E se tivesse, Pyotr
não poderia mais vê-la.
— Bernardo, hoje você e eu vamos ter que
sair — Jannochka avisou e Bernardo
levantou a cabeça — Iremos resolver um
pequeno problema.
— Que problema, mãe? — Ekaterina
perguntou. Bernardo não estava treinando
para ser um soldado, exatamente. Não seria
a função dele.
— Quero que Bernardo veja de frente o
que o espera. Aos poucos, claro — Jannochka
sorriu e bebeu do copo dela.
— Mas isso não tem nada a ver com o que
o Bê vai fazer aqui?
— A moça continuou.
— Tem. Ele vai ver quando chegar lá —
Jannochka moveu a boca para baixo e
Ekaterina sabia que a mãe estava ficando
irritada com as perguntas, por isso, ficou
quieta.
CAPÍTULO 21
Bernardo nunca tinha saído sozinho com
Jannochka. Havia mais dois soldados com
eles, mas ele estava no carro com ela,
dirigindo.
— Não precisa ter medo de mim,
Bernardo. Não estou te levando para o
matadouro — Jannochka disse e sorriu,
olhando para a estrada — Não o seu
matadouro.
Bernardo engoliu em seco.
— Estamos indo matar alguém?
Jannochka deu de ombros.
— Isso não depende de mim. Talvez eu só
arranque alguma parte, afinal, ele precisa se
lembrar de não fazer merda, de novo.
O semblante dela ficou mais pesado e
Bernardo olhou pela janela.
Até o momento, ele ainda não tinha visto
esse lado da máfia.
Os Herrera nunca o introduziram àquilo.
Sim, ele sabia muito bem que a máfia era
algo a se temer, mas ouvir falar, ler em
algum lugar, é uma coisa; ver, ou pior,
participar, era bem diferente.
O carro parou e Bernardo começou a
hiperventilar. Uma mão acariciou as costas
dele. Ao levantar os olhos, ele viu
Jannochka encarando-o com um olhar que
ele só poderia comparar com uma mãe.
— Se acalma. Não estou fazendo isso pra
te torturar — Ela balançou a cabeça
— Acho que foi uma má ideia.
— Não! — Ele falou rapidamente e a Don
levantou as sobrancelhas — Eu… Eu posso
fazer isso.
Tudo o que Bernardo pensava era que, se
ele não conseguisse fazer aquilo, não poderia
fazer parte dos Sigayev. Isso significaria não
poder ficar com Ekaterina, o que era
completamente fora de questão.
— Muito bem — Jannochka falou e
desligou o carro — Pode sair.
Bernardo havia ido vestido como os
outros: calça preta, blusa preta, um
sobretudo preto e luvas de couro. Pretas,
claro.
Fyodor estava lá, esperando por eles e, ao
vê-los, ele deu uma última tragada no
cigarro, antes de jogar a bituca fora e pisar
nela.
— Cadê ele? — Jannochka perguntou.
O russo mais velho apenas fez sinal com a
cabeça, para dentro do que Bernardo julgou
ser um tipo de galpão. Normalmente, Fyodor
era firme, mas sempre falava com o loiro de
forma mais gentil. Mesmo quando era visto
em treino. Não naquele momento. Ali,
Bernardo conseguiu ver que Aleksey era
mesmo filho daquele homem imenso.
Eles entraram pela porta que Fyodor abriu
e, após descerem as escadas, bem no meio,
uma cadeira, onde um homem estava
sentado. Ou melhor, amarrado.
— O que ele fez? — Bernardo perguntou
baixinho.
— Roubou. Mas eu quero que você,
Bernardo, vistorie o computador dele —
Jannochka apontou para o laptop aberto em
uma mesinha num canto. Bernardo
concordou com a cabeça, aliviado por não se
aproximar do homem.
O alívio durou pouco, porque na mesma
mesa onde estava o computador, os
instrumentos de tortura se dispunham
enfileirados.
— Eles não vão te morder — Fyodor disse
e Bernardo quase deu um pulo — Se acalma,
segura a onda. Não quer que o nosso cliente
sinta o seu estado, não é?
— Cli-cliente?
Fyodor soltou uma risadinha rouca que fez
um arrepio correr pela espinha de Bernardo.
— Garoto, isso aqui não é fácil. Sugiro que
comece a colocar isso na cabeça — Fyodor
virou a cabeça para Bernardo, enquanto
segurava um alicate — Tente não vomitar.
Com um tapinha nas costas de Bernardo,
Fyodor se afastou e foi para perto de
Jannochka. Ela estava encarando o homem
sentado.
“Concentre-se no computador!”, Bernardo
falou para si mesmo e abriu a máquina,
apenas para franzir a testa.
— Esse computador tá corrompido — Ele
falou mais alto, sem virar a cabeça.
— Por isso você está aqui — Jannochka
respondeu, seca — Vasculhe essa máquina.
Uma coisa que Jannochka havia dito a
Bernardo era que, fora ela, que já era
conhecida, ela não mencionaria o nome dele.
Eles evitavam dar esse tipo de informação
aos presos.
“Eles é quem devem nos fornecer dados,
não o contrário”, ela havia dito, antes de
saírem de casa. Por isso, ele deveria prestar
atenção ao falar com quem estivesse com ele,
ali.
— Sim, senhora — Ele respondeu.
Bernardo ouviu o primeiro grito e se
sentiu empalidecer, mas não se virou.
Fyodor falava algo, em russo, e o homem
capturado respondia com dificuldade.
Apesar de não compreender, Bernardo
conseguia ouvir como não era um pedido de
clemência, mas havia um quê de
atrevimento.
“Que homem burro! Não vê que isso só vai
piorar as coisas para ele?”, Bernardo
balançou a cabeça e pensou que seria tão
bom se ele tivesse um fone, para colocar uma
música bem alta e abafar aqueles gritos.
O computador havia passado pelas mãos
de algum hacker, que tentou configurar
paredes para impedir que os dados fossem
acessados por estranhos. Bernardo sorriu de
lado. Se tinha uma coisa que ele adorava era
quebrar essas barreiras.
Ao abrir os arquivos, ele apenas o fez para
poder ver se estava tudo certo, não
esperando que os olhos dele pegassem
alguns dados que suscitassem-lhe a
curiosidade.
Depois de ler parte do que tinha ali,
Bernardo compreendeu o que o homem
sentado tinha feito: tráfico de pessoas. Não.
De crianças. Não para serem adotadas, mas
para serem vendidas para bordéis e para
pessoas doentes que as queriam como
escravas…
Bernardo sentiu o embrulho no estômago,
na hora. O homem atrás dele gritou e, dessa
vez, o loiro não sentiu um pingo de pena.
— Terminou, aí? — Jannochka perguntou
e Bernardo se virou, não preparado para a
cena em frente a ele.
O homem estava com pelo menos três
dedos faltando. O braço esquerdo, com a pele
pendurada, expondo os músculos.
O rosto, de um lado, todo arroxeado.
O vômito veio com força e Bernardo não
conseguiu se segurar, tendo tempo apenas
de se virar e despejar o café da manhã todo
ali.
Jannochka fez sinal para Fyodor, que
passou por Bernardo e pegou o computador.
— Você passou os dados? — Ele
perguntou a Bernardo, que conseguiu
apenas concordar com a cabeça — Okay.
Eles estavam falando em inglês com
Bernardo.
— Esse merdinha… É o mexicaninho civil?
— Ele olhou para a morena, com deboche,
mesmo naquele estado — Fazendo…
Caridade, Sigayeva? Vai foder com ele,
como a boa.. Vadia que é?
Jannochka socou o homem. Pelo visto, a
notícia de quem civil 0estrangeiro estava
com eles havia se espalhado. Mas como?
“Eu vou descobrir quem abriu a boca”,
Jannochka pensou.
— Ele tá em contato com os Chiarello
— Fyodor disse e rangeu os dentes.
CAPÍTULO 22
Já no carro de volta, Fyodor foi com eles e
sentou-se na frente, com Jannochka. Pelo que
Bernardo agradeceu. Ele não estava em
condições de nada.
Assistir um filme de terror é muito
diferente de ver um homem em pedaços, na
vida real. Jannochka havia mandado tirarem
Bernardo dali, antes de dilacerar o
prisioneiro, mas isso não significava que o
mexicano já não tivesse visto e ouvido o
suficiente.
— Os malditos italianos da N’drangheta.
continuam a tentar prejudicar o nosso
território! — Jannochka deu um soco no
volante. Bernardo nunca a tinha visto
daquele jeito, o rosto vermelho de raiva.
— Acho que já deixamos que esses
malditos ficassem livres por tempo demais,
prima — Fyodor disse entredentes — Eles
merecem queimar!
— Eles vão! — Ela inspirou o ar — Meu
pai matou vários deles, mas o maldito do
Aronne continuou livre… Bem o suficiente
para ter dois filhos.
— O que faremos?
Bernardo fechou os olhos e tentou pensar
em Ekaterina, mas então, a cena de
Jannochka com um olhar matador apareceu
na mente dele. Seria Ekaterina daquele jeito?
“Não. Jannochka é a Don, é mais dura e
cruel. Ekaterina não é assim”, ele sorriu e
procurou de ficar se lembrando apenas dos
bons momentos com a namorada.
Ao chegarem na mansão, Ekaterina
esperava por Bernardo, ansiosa. E, ao ver o
rapaz, ela soube que aquilo foi demais.
— Amor! — Ela falou baixinho.
— Pode falar alto, menina! Não é como se
não soubéssemos!
— Fyodor disse, rindo e passou por eles.
— Vem pro quarto — Ekaterina falou e
subiu com Bernardo.
Aleksey observou, e, novamente, não teceu
qualquer comentário.
— Esse moleque tá esquisito — Pyotr
comentou com Miguel, que estava encostado
na parede.
— Acho que ele e Maksim brigaram —
Miguel cochichou.
— Aleksey briga com todo mundo, mas
não o Maksim. O que será que houve?
— Eu não sei. Mas eu vi o seu primo super
pra baixo. Ele se recusou a dar detalhes —
Miguel levantou os ombros — Agora, me
conta… E a sua gatinha?
Pyotr revirou os olhos, mas sorriu.
— Não vou falar nada, pra não estragar! —
Ele sorriu — Mas acho que vai rolar mais do
que rola normalmente.
Miguel sorriu de lado.
— Ah, apaixonadinho?
— Não exagera! — Pyotr passou a mão
pelo cabelo curto — Se fosse a Gemma…
Quem sabe?
Pyotr falou para provocar e, como o
esperado, o sorriso falhou nos lábios de
Miguel.
— Gemma? Como que ela veio parar na
conversa?
— Ué… Estamos falando de gatinhas. Ela
me veio à mente.
Sim, Pyotr achava Gemma bonita, mas não
era o tipo dele.
Além disso, ele desconfiava que Miguel
tinha uma queda pela garota, só não admitia
porque ainda insistia que o coração
pertencia à Clara.
Miguel estalou a língua.
— Pode esquecer, Pyotr. Aquela ali só vai
transar quando casar
— Miguel disse e, de certa forma, as
palavras desceram ruins para ele mesmo.
Não que ele estivesse apaixonado, claro
que não! Mas… Ela era bonita e, tinha
charme. Porém, eles eram amigos.
“Só amigos”, ele repetiu para si.
— Ué, e quem disse que eu não casaria
com ela, antes de dividirmos a cama? —
Pyotr piscou para Miguel e começou a
se afastar — Inclusive, ela tá em idade de
casar, mesmo. Fiquei sabendo que já está
sendo cobiçada. Daqui a pouco vão começar
a me encher com casamento… Quem sabe?
Pyotr não esperou resposta de Miguel,
apenas saiu dali, deixando o mexicano
irritado.
Miguel subiu as escadas e foi pegar o
celular dele, que havia ficado lá. Havia uma
mensagem de Gemma, por coincidência e ele
passou a língua pelos lábios.
GEMMA: Miguel! Preciso de um conselho!
MIGUEL: Sobre o quê?
Ele suspirou e se apoiou em uma das
pernas, esperando a resposta dela. A foto de
Gemma havia mudado e Miguel clicou para
olhar. Ela estava com uma regata preta,
colada. Apesar de não ter seios imensos,
Gemma era proporcional e Miguel não
conseguiu não notar as formas dela. Os
cabelos estavam soltos, levemente
ondulados nas pontas, enquanto ela
mandava um beijo para a câmera, sorrindo.
GEMMA: Então, o papai tá falando sobre
casamento e parece que o novo sub da
Camorra tá mesmo querendo me conhecer,
entende? Mas eu não sei… Ele é mais velho.
Sem perceber, Miguel pressionou o botão
de áudio.
“Boca suculenta”, ele falou.
GEMMA: Quem tem a boca suculenta?
Miguel arregalou os olhos e amaldiçoou.
MIGUEL: Uma garota que eu vi aqui… É…
Quanto ao Moscatelli.
Ele é velho. Diga não.
GEMMA: Mas ele é bonito.
Miguel franziu o cenho.
MIGUEL: E daí? Ele é VELHO. Você precisa
de alguém mais da sua idade. O cara tem o
quê? Uns trinta?
GEMMA: Não! Ele tem vinte e um. Bom,
vinte e dois em um mês. E eu ainda tenho
dezesseis, Miguel. Mas já querem me
comprometer.
Miguel começou a digitar, mas Gemma foi
mais rápida.
GEMMA: Dalila tá me chamando. Já volto!
Ele ficou ali olhando para o telefone. Olhou
para a foto de Gemma de novo e balançou a
cabeça.
“Isso deve ser falta”. Guardou o telefone
no bolso e desceu as escadas.
No quarto, Ekaterina acariciava os cabelos
de Bernardo.
— Amor, tem certeza de que você quer
mesmo ser da máfia?
Eu entendo…
Bernardo segurou o pulso de Ekaterina e o
beijou, carinhosamente.
— Foi a primeira vez. E eu… Argh! Eu
coloquei o café pra fora, Rina.
— É normal. A maioria faz isso.
— Você?
Ekaterina sorriu para ele.
— Pyotr e eu somos diferentes. Digamos que
o sangue dos nossos pais, principalmente da
mamãe, são resistentes a isso.
Bernardo fez beicinho e Ekaterina o
beijou.
— Você é maravilhosa.
— E você, bobo — Ela respondeu,
aninhando-se nos braços de Bernardo. O
loiro a abraçou — Mas temos que descer.
Bom, eu tenho. Preciso treinar.
Ela o beijou novamente, mordendo o lábio
inferior de Bernardo, o que o atiçou, mas
Ekaterina se levantou da cama.
— Que maldade!
— Eu sou a pura maldade, lindão!
Soprando um beijo para ele, Ekaterina
saiu do quarto, sorridente e esbarrou em
Miguel.
— Opa! — Ele segurou a cintura dela para
impedi-la de cair.
— Ai, queria que as coisas fossem como
aqui, lá no México — Miguel falou e olhou
para a porta do quarto de Bernardo. Ele e
Ekaterina começaram a andar juntos.
— Como assim?
— Ah, você pode ficar no quarto com
Bernardo. Livremente.
Mas eu, por exemplo, não poderia ficar
com uma garota e esperar que ela fosse a
minha esposa, depois.
Ekaterina soube que ele ainda estava
remoendo Clara. Por isso, suspirou.
— As coisas são como são, Miguel. Meu
conselho pra você é: abra os olhos e o
coração.
Ele olhou para baixo, sorrindo triste.
— Queria que fosse fácil. Realmente
queria.
— Ela não vai casar com você — Ekaterina
resolveu ser mais direta e Miguel a olhou,
assustado — Nem adianta fazer essa cara.
Sabemos bem de quem você tá falando. Ela é
casada, com seu irmão. Desencana. E não é
pra ficar pegando todas.
Tenta se conectar com você mesmo.
Miguel soltou uma risada.
— Você pareceu agora aquelas pessoas
que falam de filosofia, paz e amor.
Ekaterina deu de ombros.
— Não me importo. Não mudo o que falei.
Você, Miguel, precisa largar do passado e
parar de ficar chorando. Sim, mais fácil falar
do que fazer. Mas tente. Um dia de cada vez.
O Ano Novo chegou, bem como o
aniversário dos gêmeos Sigayev.
CAPÍTULO 23
Jannochka nunca foi de comemorar o Ano
Novo, mas, dezessete anos antes, os gêmeos
nasceram e a vida dela ficou com mais um
motivo para comemorações.
— Nem acredito que eles já estão com
dezessete, Santi!
Santiago abraçou a esposa por trás, apoiando
o queixo de leve no ombro dela, enquanto
observava o reflexo dos dois.
— Sim, dezessete anos que eles nasceram.
Quase dezoito que eu fodi você bem gostoso
e te engravidei.
Jannochka olhou para Santiago por sobre
o ombro e ele sorria, safado.
— Você…
— É meu charme. E você ama, que eu sei
— Santiago beijou o pescoço de Jannochka
— Quer lembrar como a gente fez os
meninos?
— Como vamos… Aaah! — Jannochka
gemeu ao sentir Santiago apertando o seio
dela e lambendo a pele sensível atrás da
orelha — Nós não fizemos só uma vez…
— Então, é melhor a gente fazer em todos
os lugares, em posições diferentes —
Santiago a inclinou para frente, na pia do
banheiro — Não importa quanto tempo
passe, meu tesão por você só aumenta!
No outro quarto, Ekaterina e Pyotr
estavam olhando pela janela, sentados na
varanda. Eles sempre esperavam o dia
amanhecer para fazer isso, juntos.
— Pensei que comemoraria esses
primeiros minutos com o Bernardo — A
forma como Pyotr falou o nome do loiro fez
Ekaterina sorrir e balançar a cabeça.
— Mas você é ciumento! — Ela brincou,
dando um empurrão com o ombro, no irmão
— Esse aqui é o nosso momento. E você é o
meu irmão, Pyotr. Ninguém jamais vai
substituir você.
Ele olhou para o outro lado, fazendo bico.
— Sei… Ano que vem você se casa e eu vou
ser esquecido!
— Aaah, que dramático! — Ekaterina
passou os braços pelos ombros de Pyotr —
Amo você, Pyotr. Posso amar Bernardo, os
filhos que eu vier a ter com ele, mas você
sempre vai ser o meu gêmeo. O meu Pyotr.
Eles dois ficaram ali até que o dia
começasse a clarear. Aquele era o dia trinta e
um de dezembro e a neve caía pesadamente.
Ekaterina saiu do quarto do irmão e foi
para o dela, onde Bernardo a aguardava com
flores, chocolates e uma caixa de veludo, esta
dentro do bolso da calça.
— Bernardo! — Ela correu para ele, que
largou tudo na cama e a tomou no colo —
Que horas…?
— Vim aqui à meia-noite, mas você não
tava. Então fiquei de olho e… Bom, Pyotr me
avisou que você já ia sair do quarto dele.
Ekaterina sorriu. Pyotr era ciumento,
encrenqueiro, mas a queria feliz.
— Hmmm… — Ela olhou para a cama —
Meu presente tá na cama?
Bernardo sorriu de lado, colocando as
mãos no bumbum da russa.
— Sim — Ele a deitou na cama de uma vez
e os dois riram — Eu amo você, meu amor.
Feliz aniversário! Esse será o primeiro de
muitos que passaremos juntinhos.
O coração de Ekaterina se derreteu. Não
só pelas palavras de Bernardo, mas pela
intensidade com a qual ele as pronunciou e o
amor que era palpável entre eles.
— Um ano… Hoje começamos a contagem
regressiva — Ela o lembrou, acariciando os
fios loiros que caiam por sobre a testa dele.
— Sim — Bernardo a beijou de leve — Seu
presente, ano que vem, vai ser diferente.
Ekaterina fez um beicinho. Só com ele era
possível ela mostrar esse lado mais doce e
manhoso.
— E que tal uma amostra? Um ano é muito
tempo, amorzinho
— Ekaterina enlaçou as pernas ao redor
de Bernardo.
— Amostra… Assim? — Ele empurrou os
quadris para baixo e ela fechou os olhos,
sorrindo e balançando a cabeça — Mais?
Bernardo começou a se mover, tomou os
lábios de Ekaterina e não demorou para eles
estarem sem blusa, ele com a boca em um
dos mamilos dela, sugando com força.
Ekaterina impulsionou o corpo e trocou a
posição deles, ficando por cima. Bernardo a
olhou, as pupilas dilatadas, enquanto ela se
esfregava nele.
— Porra, eu vou gozar desse jeito —
Bernardo falou baixinho, segurando a
cintura de Ekaterina.
— Goza. Mas… Não é melhor na minha
boca?
Ela sorriu de lado, travessa, e saiu de cima
dele, deslizando para baixo e, como
Bernardo vestia uma calça esportiva, o
volume dele era bem visível naquele tecido.
— Caralho… — O loiro olhou para baixo,
Ekaterina com o rosto ali pertinho do
membro dele.
— Vou ser a ciumenta e dizer que não
quero você com essa calça, andando por aí —
Ela passou a mão pelo membro de
Bernardo — Eu sei que é difícil disfarçar,
mas… Assim não dá pra ser. Isso aqui é só
meu.
Ekaterina puxou a calça dele para baixo e
Bernardo subiu os quadris, a fim de que o
pano pudesse rolar para as coxas dele.
Com a língua, sem usar as mãos, Ekaterina
lambeu a extensão
de Bernardo, que jogou a cabeça para trás,
soltando alguns palavrões.
— O aniversário é seu… E eu que ganho
presente? — Bernardo perguntou e
Ekaterina, sem tirar os olhos dos dele,
abocanhou a cabeça pulsante — Puta que o
pariu!
— Hmmm… Fode a minha boca —
Ekaterina sugou mais forte, movendo a
língua ao redor, como podia.
Após um rosnado, Bernardo se sentou e
colocou Ekaterina deitada, de barriga para
cima, na beirada da cama.
— Quer que eu foda essa boquinha linda?
— Ela concordou com a cabeça e abriu a
boca — Encher sua garganta de porra!
Bernardo apoiou os braços nas laterais de
Ekaterina e se inclinou para frente,
lambendo-a na intimidade. Ela levantou as
pernas para dar mais acesso a ele.
Mais tarde, quando os dois saíram do
quarto dela, todos estavam à mesa e
parabenizaram os gêmeos.
— A festa vai começar que horas? —
Maksim perguntou a Miguel, que passaria a
virada do ano com os primos.
— Acho que às sete — Ele respondeu e
olhou bem para Maksim
— Você tá bem?
Maksim levantou as sobrancelhas, mas
logo relaxou e apertou os lábios, com um
sorriso tímido.
— Sim, tô.
— Não somos primos de sangue e nem
amigões, mas… Tô aqui, se precisar pelo
menos desabafar.
Miguel deu um tapinha no ombro do russo
e se afastou.
Aleksey viu e se aproximou do primo, que,
ao vê-lo, limpou a garganta e começou a se
virar.
— Maksim…
— Eu preciso ir. Com licença.
Aleksey ficou ali, parado, sem saber o que
falar. Se deveria ir atrás de Maksim ou não.
Mas se fosse, o que diria? Ele era
péssimo com aquilo.
— Você deveria ir — Uma voz feminina
falou atrás dele.
— Ir pra onde, mãe? — Aleksey
perguntou, mais sério.
Agafia Sigayeva sorriu e se aproximou do
filho.
— Eu sei que você é fechado e… Tem seu
jeito, Ale, mas às vezes é preciso sair da sua
zona de conforto — Ela olhou na direção
para onde Maksim havia saído — Ele é seu
primo e eu sei que você gosta dele. Não sei o
que você fez, mas peça desculpas. O
orgulho…
Aleksey sorriu com desdém e se virou
para a mãe.
— O orgulho deve correr nas minhas veias
por conta de alguém, não é? — Ele olhou feio
para ela — Antes de me dar conselhos, sigaos!
— Aleksey! — Ele não deu atenção e
começou a se afastar — Aleksey Vitomir!
— Ele já foi — Fyodor disse,
desinteressadamente.
— O seu filho…
— O seu filho, — Fyodor disse, sério —
Puxou total à você.
A boca de Agafia se abriu e Fyodor limpou
a garganta. Ele havia pensado em algo muito
atrevido, mas decidiu que era melhor não
falar. A loira na frente dele já tinha deixado
claro o desgosto que sentia por ser casada
com ele.
— Ha! Eu não…
— Orgulhosa!
— Melhor do que infiel!
— Tudo bem, aqui? — Jannochka se
aproximou e os cada um olhou para um lado,
Agafia de braços cruzados e Fyodor com a
mão no bolso.
Agafia suspirou.
— Sim, Don. Com licença — Ela fez uma
reverência e se afastou. Fyodor suspirou e
Jannochka balançou a cabeça.
— Ainda não contou a verdade?
CAPÍTULO 24
— Ainda não — Fyodor disse, olhando
para baixo e chutando o chão com a ponta do
sapato social.
— Então não reclame por ela estar te
tratando assim — Jannochka bebeu do copo
de vodka dela — Agafia é uma boa
mulher. E… Ela gosta de você, Fyodor. Não
sei o motivo, mas gosta.
os olhos estreitados. Ele olhou para a
prima, com
— O que está insinuando? — As mãos dele
foram para a cintura.
— Que você é idiota e vai perder aquela
loirinha por besteira —
Jannochka sorriu — E lenbre-se: a nossa
máfia permite divórcio.
Fyodor soltou um suspiro rápido e
vasculhou o salão, avistando Agafia
conversando com outras pessoas.
Os lábios dele se apertaram em uma linha
fina.
“Etot chertov Urvan! (Esse maldito do
Urvan!)”, Fyodor fechou o punho com força e
começou a caminhar na direção do grupo.
—…I togda drugogo puti ne bylo! (… e
então, não teve mais jeito!) — A risada que
Agafia soltou por conta do que Urvan
Severinov havia dito, fez o sangue de
Fyodor ferver.
Ele passou o braço pela cintura da esposa,
puxando-a para ele com delicadeza, um
sorriso nos lábios.
— Razgovor otlichnyy, vidimo! (A
conversa está ótima, pelo visto!) — Fyodor
falou e se inclinou para Agafia, sussurrando:
YA khochu s toboy koye-chto pogovorit’.
Eto ochen’
ser’yezno (Quero conversar algo com
você. É muito sério).
A voz dele saiu sedutora, mas séria e
Agafia se sentiu tremer de leve. Por mais
irritada e com raiva que estivesse com
Fyodor, ela era muito afetada por ele.
— Proshu proshcheniya! (Com licença!) —
Ela pediu, sorriu para todos e se virou. Urvan
não tirou os olhos escuros de cima dela, nem
mesmo percebendo que Fyodor o observava.
Um sorriso de lado apareceu em seus lábios.
Fyodor queria puxar a arma e matar o
abusado, mas ele não estragaria a festa dos
gêmeos, e nem arrumaria mais um problema
com Agafia. Ela e o referido homem eram
amigos de infância.
Agafia seguiu para fora do salão, séria,
mas dando um sorriso aqui e ali, educada
como sempre. Ao passarem pela porta maior,
ela se virou, mas não esperava que Fyodor
segurasse o braço dela e continuasse
andando.
— Calma aí! — Ele continuou e Agafia
enfiou as unhas na mão dele, o que,
obviamente, não surtiu qualquer efeito —
Fyodor!
— Ele se virou e enfiou a mão nos cabelos
perfeitamente penteados dela.
— Adoro quando grita o meu nome, mas
não assim, meu amor.
Agafia franziu o cenho e tentou empurrálo.
— Eu quero o divórcio!
Silêncio. O peito de Fyodor se contraiu
imediatamente.
— Não.
Agafia segurou a mão dele, na tentativa de
afastá-lo.
— Não pode me prender a você. Eu não
quero…
— É pra ficar com aquele filho da puta?
Ela soltou uma risada de desdém.
— Um filho da puta que não seja infiel já
está bom!
Fyodor a beijou e, nos primeiros
momentos, Agafia resistiu, batendo no
ombro dele, mas logo, ela começou a
derreter nos braços do marido.
— Eu…Eu não te traí, ok? — Fyodor
sussurrou.
— Eu vi! — Agafia retornou à fúria e
conseguiu afastá-lo — Te dou um mês pra
finalizar os papéis.
Ela deu meia volta e retornou para a festa,
enquanto Fyodor fechou os olhos e escorou a
testa na parede.
Meses antes, ele havia ido para uma
missão e não podia falar nada para ninguém,
além de Jannochka e Santiago. Nem mesmo
Yuri sabia — quem, por sinal, estava muito
irritado com a “traição” do irmão frente à
Agafia. Quando retornou, ele precisou tomar
a decisão de envolver sentimentalmente a
mulher de quem ele precisava arrancar
informações. E foi quando Agafia, por azar
dele, testemunhou o tal beijo.
Desde então, ela não dormiu mais com ele
no mesmo quarto, na verdade, nem na
mesma casa. Agafia agora ficava em uma
casa anexo ao casarão Sigayev, enquanto
Aleksey permaneceu ali com o pai.
Ela se sentiu traída pelo filho, mas então,
ele sempre foi mais próximo a Fyodor,
mesmo que ninguém acreditasse que ele
fosse chegado a ninguém, no fim das contas.
Mas Agafia sabia que sim.
Risadinhas puderam ser ouvidas e Fyodor
levantou a cabeça, vendo Ekaterina e
Bernardo se esgueirando por ali.
“O, no ya ni za chto ne ostanus’ zdes’,
chtoby uvidet’ eto! (Ah, mas eu não vou ficar
pra ver isso de jeito nenhum!)”, ele balançou
a cabeça e se afastou. Sim, ele desejava
felicidades ao casal, mas Ekaterina ainda era
criança, na cabeça dele. A vontade que ele
tinha era de dar um chega pra lá no loiro
mexicano, mas sabia que era excessivo. Além
de que Ekaterina não aceitaria ninguém se
metendo no relacionamento dela.
“Ne otritsayte, chto ona doch’ Janna! (Não
nega que é filha da Janna!)”.
— Não podemos nos demorar aqui —
Ekaterina falou, sorrindo, se deixando apoiar
as costas na parede.
— Não vamos. É tentador demais —
Bernardo a beijou rapidamente — Hmm…
Eu queria te dar isso, aqui.
Ele retirou do bolso uma caixinha e os
olhos de Ekaterina brilharam.
— Isso…
Bernardo se colocou de joelhos, limpou a
garganta, o que fez Ekaterina rir e olhou bem
nos olhos dela.
— Ekaterina Valya Sigayeva, meus dias
com você são os melhores. Seu sorriso, seu
olhar, sua voz… Não consigo imaginar não
ter você ao meu lado. Se você se sente como
eu me sinto, então, aceite ser a minha esposa
e eu vou te fazer feliz, cada dia mais. Essa vai
ser a maior missão da minha existência.
Os lábios de Ekaterina tremeram.
CAPÍTULO 25
Ekaterina sentiu o peito apertar, ela não
podia respirar.
Bernardo a olhava com brilho, com amor.
Sem pensar mais, ela se atirou nos braços
dele, levando os dois ao chão e enchendo-o
de beijos.
— Sim, sim! — Ela respondeu e quando
Bernardo olhou para ela, notou como havia
lágrimas no rosto da russa. Ele as limpou
com o polegar e beijou o rastro molhado.
—Obrigado, meu amor! Eu prometo que
vou te amar para sempre. E por mais que
você seja mais do que capaz de cuidar de si
mesma, eu vou te proteger com a minha
vida.
Ekaterina colou os lábios deles com mais
emoção do que nunca.
— E eu te prometo o mesmo, Bernardo. Eu
amo você com tudo o que tenho. Não
importa o quê, eu sempre vou amar você.
Aquelas palavras tinham um peso muito
grande. Ekaterina não era do tipo que falava
o que não sentia. Bernardo sabia daquilo, na
verdade, era um dos motivos para ele amá-la
tanto.
Portanto, quando ela dizia que o amava,
que sempre o faria, ele sabia que não havia
um pingo de incerteza nas palavras dela.
— Finalmente! Achei que você ia só ficar
de lenga-lenga com a minha irmã! — Pyotr
falou, saindo da um canto escuro e Bernardo
franziu o cenho, enquanto Ekaterina revirou
os olhos.
O gêmeo dela tinha um sorrisinho no rosto
— Eu fico muito feliz por não precisar
colocar uma arma na sua cabeça, loirinho.
— Ha, ha… Nem em cem anos, Pyotr —
Ekaterina se levantou, seguida de Bernardo,
que a segurou pela cintura.
— Eu jamais brincaria com a sua irmã,
Pyotr — Bernardo estava ofendido. Pyotr
levantou os ombros.
— Você tem cara de safado — Ele disse e
Ekaterina estreitou os olhos para o irmão.
— Veja só quem fala! O Don Juan da
Rússia!
— Opa, opa, eu não engano ninguém.
Todas sabem que eu não vou ficar sério —
Pyotr se defendeu e chegou perto de
Bernardo, estendendo a mão. O loiro a
segurou e Pyotr o puxou para um abraço —
Bem-vindo á família. Agora, só tem que
passar pela mamãe e pelo papai.
Os três voltaram para o salão e não
perceberam Maksim a um canto, se
esgueirando pela parede. Mas Aleksey, sim.
O mais novo seguiu o outro, vendo
naquela uma oportunidade para conversar
com o primo e pedir desculpas por ter falado
o que não devia, o que não sentia, só porque
ficou na defensiva.
Foi quando ele notou que Lev fez sinal
com a cabeça e um grupinho de rapazes
começou a seguir Maksim.
Lev estava ainda sem poder andar muito
bem, mas ainda assim, não havia aprendido a
lição.
Maksim foi para a garagem, bem como os
outros rapazes.
Estes mantinham uma distância razoável
do loiro, o que, para Aleksey, deixava clara a
intenção de aprontar algo ruim.
O rapaz pegou um dos veículos, o que fez
Aleksey fazer uma careta, pois ele sabia bem
que aquilo não daria certo. Ele ficou na
dúvida se deveria avisar o pai, ou ao menos
os tios… Talvez até mesmo Pyotr, mas então,
e se aquilo colocasse Maksim
em encrenca maior?
“Depois do que falei, não posso fazer isso
com o Mak”, ele pensou, decidido a apenas
seguir o grupo e ver o que se daria.
Caso necessário, ele avisaria os mais
velhos.
Aleksey levou a mão à cintura, verificando
a arma ali, bem como a munição no bolso
lateral da calça e pegou uma das motos. Sim,
ele era muito novo, não tinha autorização
para pilotar na rua, mas não significava que
ele não soubesse, ou que não fosse excelente
com aquele meio de transporte. Segundo o
pai, era sempre bom ele estar preparado.
Com cautela, Aleksey seguiu os carros e
viu quando Maksim virou em uma rua que
daria em uma área mais isolada e isso o
preocupou. O que o primo poderia ir fazer
ali? Em plena virada do ano?
Claro, a cidade não estava cheia de
comemorações, já que as pessoas
comemoravam aquela data no dia quatorze
de janeiro. O Natal, na verdade, seria ainda
celebrado no dia sete
de janeiro. Jannochka apenas dava o dia
vinte e cinco a por causa de Santiago, pelo
que Aleksey era grato: ele podia comemorar
duas vezes.
O carro dos outros recrutas estava parado
a alguns metros do de Maksim. Aleksey
estacionou a moto em um beco, a fim de não
ser visto e se aproximou, furtivamente.
Maksim estava parada, mas não sozinho
por muito tempo. Um outro jovem, de
cabelos castanhos claros, meio arrepiados,
com uma jaqueta de couro e, Aleksey notou
por conta do reflexo das luzes, alguns
brincos nas orelhas, se aproximou dele.
Não era possível ouvi-los, mas era óbvio
que Maksim e o rapaz tinham mais do que
amizade, ainda mais quando eles se
abraçaram e, em seguida, deram um selinho
rápido, após olharem em volta.
“Caralho!”, Aleksey pensou, levando a mão
à cabeça. Apesar de encher o saco de
Maksim, ele não se importava de fato com o
primo ser gay. Ele sabia porque havia pego o
mesmo com um rapaz, atrás da escola, e
aquele tinha sido o motivo da briga no dia
em que Miguel chegou à Rússia. Aleksey
havia deixado no ar que espalharia aos
quatro ventos — o que ele jamais faria — e
Maksim o bateu, pela primeira vez.
Então, Aleksey entendeu a gravidade do
problema. Aqueles recrutas estavam ali para
criar problemas e o fariam. Ainda
que já não fosse mais crime ser gay, na
Rússia, as pessoas ainda não aceitavam
aquilo muito bem. O próprio governo vivia
implantando novas leis para coibir o que eles
consideravam imoral. E mesmo sendo
Sigayev, Maksim, até que fizesse valer seu
status, poderia ser ferido gravemente.
Com a mão na arma, Aleksey se aproximou
mais e viu quando os amigos de Lev
seguraram o outro rapaz e acertaram um
soco nele. Outros dois imobilizaram Maksim,
que lutava, mas era difícil com dois, ainda
mais quando eles estavam armados.
“Esse idiota saiu sem arma?”, Aleksey se
perguntou, já fervendo de raiva.
Ele apontou para um dos recrutas.
— Larga ele!
— Calma aí, Aleksey. A gente só tá dando
uma lição nesse veado! — O rapaz de cabelos
escuros falou, como se o mais novo dos
Sigayev estivesse do lado deles.
Aleksey inspirou fundo e apertou o cano
da arma mais forte contra a pele do recruta.
— Eu mandei largar a porra do meu
primo, Llyich! — Ele engatilhou a arma.
— A gente só tá fazendo o certo! —
Timofei Danilovich defendeu, apontando a
arma para Aleksey — Essa bicha suja o nosso
nome, o nome da organização!
— Cala a porra da boca! Que organização?
— Aleksey cuspiu no chão — Eu não vou
falar de novo.
— Vai pro inferno! — Maksim gritou —
Soltem o meu amigo e abaixa a porra da
arma da cara do Aleksey!
Timofei deu uma bofetada em Maksim,
com a arma, mas este não caiu porque estava
sendo segurado.
Aleksey não pensou em mais nada. Ele
apenas viu vermelho.
Com um movimento rápido, ele atirou na
perna de Faddei Llyich, que soltou Maksim
imediatamente.
— Svyatoye der’mo, chert voz’mi! (Puta
merda, droga!) — Faddei gritou, enquanto
Aleksey puxou Maksim para ele.
A briga começou e Aleksey disparou
novamente. A arma dele tinha silenciador, já
que ele não era imbecil de disparar num
local de civis e chamar mais atenção do que o
necessário.
— Corre, Maksim!
— Não! — O loiro disse e foi para cima de
Korney Beriya, que segurava o amigo de
Maksim. Este ficou surpreso com o tiro e
demorou a reagir, mas logo, apontou a arma
para a cabeça do outro jovem, que tremia de
medo e Maksim parou de se mover.
— Mais um passo e eu espalho os miolos
do seu namoradinho!
— Korney ameaçou
CAPÍTULO 26
— Porra! — Aleksey puxou Maksim para
trás de uma lata de lixo junto com ele — Eu
mandei você correr!
— Eles vão…
— Foda-se! O que vai fazer? Morrer junto?
Liga pro Pyotr!
Um tiro atingiu a testa de Korney e todos
os recrutas pararam de se mover. Silêncio.
— Fomos seguidos, debandar! — Faddei
gritou, mas, antes de correr para o carro, um
sorriso diabólico apareceu no rosto dele.
Aleksey sabia que aquilo era péssimo, mas
não conseguiu agir rápido o suficiente e
impedir que a arma do jovem disparasse na
direção do amigo de Maksim.
O loiro empurrou Aleksey e correu para o
outro.
— Não, não!
Aleksey se levantou e viu o outro
sangrando. Ele respirou fundo e verificou o
pescoço do rapaz.
— Ele precisa do hospital — Aleksey
olhou em volta e não havia sinal de quem
havia atirado em Korney, que olhava para
cima, estático, sem vida — Acorda, Maksim!
— Ele deu um tapa no primo — Coloca ele
no carro e eu vou dirigir pro hospital! Anda
logo ou ele VAI MORRER!
Maksim piscou algumas vezes e concordou
com a cabeça, mas se sentia pesado.
Aleksey voltaria depois para buscar a
moto. Ele mandou mensagem para Miguel,
que era mais discreto e menos inflamado de
ódio. Avisou o que se passava, enquanto
abria a porta do carro e ajudava Maksim.
Miguel estava conversando por mensagem
com Gemma, que já tinha ligado para os
gêmeos. Ele tinha o dedo em cima do ícone
de chamada de vídeo, quando a mensagem
de Aleksey apareceu por cima.
Ao ler o conteúdo, o sorriso dos lábios
dele sumiram, substituídos por uma linha na.
— Tá tudo bem? — Pyotr perguntou — O
que foi? Gemma te deu um pé na bunda de
vez? — Quando Miguel apenas virou de
costas e começou a se afastar, Pyotr parou de
gargalhar — Ou, calma aí!
— Eu preciso resolver um problema —
Miguel respondeu e Pyotr já estava do lado
dele.
— Que problema? O que houve?
— Coisas minhas. Fica aqui, ou a tia vai
desconar — Miguel disse e Pyotr levantou a
sobrancelha — Você é o aniversariante!
Pyotr estalou a língua.
— Vai ter que me contar quando voltar.
Vou te dar cobertura.
— Valeu!
Miguel não perdeu tempo e foi para onde
Aleksey disse que a moto estava. Chegando
lá, ele viu um carro de polícia já em volta de
um corpo, que ele sabia ser o de Korney
Beriya.
“Merda!”, ele praguejou. Com cuidado, ele
pegou a moto e começou a movê-la. A
sensação de estar sendo vigiado era grande,
ele olhou em volta, mas não viu nada.
Como a polícia estava envolvida, não tinha
como esconder de Jannochka e Miguel já
conseguia prever desgraças acontecendo no
futuro.
Assim que virou a esquina, Miguel subiu
na moto e foi para o hospital. Ao chegar lá,
Aleksey estava abraçando um Maksim
apático.
— Como tá o rapaz?
— Eu não sei — Maksim respondeu,
lentamente e levantou os olhos para Miguel
— Lukyan…
Maksim escondeu o rosto com as mãos e
Aleksey abraçou o primo. Uma enfermeira
apareceu para dar uma olhada em Maksim e,
assim, Aleksey fez sinal para Miguel segui-lo,
enquanto observavam o rapaz de longe.
— O Yankovich mandou os putos dele
seguirem Maksim. E deu no que deu — Disse
Aleksey, com raiva.
— E aí você matou o Beriya? A polícia tava
lá quando eu cheguei.
Aleksey olhou para Miguel e negou com a
cabeça.
— Não fui eu. Alguém atirou. E que bosta!
A polícia é bem inconveniente!
— Como assim? Alguém de fora? —
Miguel engoliu em seco — A polícia vai ligar
pra tia.
Aleksey passou a língua pelos lábios
ressecados.
— Sim. Pensei até que fossem um de
vocês. Mas ninguém apareceu. Depois disso,
os covardes meteram o pé. E a tia vai ficar
uma fera. Tomara que meta uma bala no
rabo daqueles malditos. É o melhor pra eles,
porque eu vou acabar com eles!
— Ela não vai deixar por isso e, Aleksey,
— Miguel colocou a mão no ombro do mais
jovem — não faça nada que possa deixá-la
mais furiosa. Sabe que ela não gosta dessa
brigas internas.
— Que se foda! Eles iam matar o Maksim! —
Aleksey passou a mão pelo rosto e Miguel viu
como o jovem, que sempre aparentava ser
frio e sem sentimentos, estava preocupado
com Maksim.
— Pensei que não se importasse.
Aleksey olhou para Miguel como se ele
fosse imbecil.
— Eu não preciso ficar de sorrisos e
abraços para me importar com as pessoas
que amo.
Aquilo pegou Miguel de surpresa e ele
sorriu de lado.
— Veja só… O lobo mau não é tão
malvado, assim.
Aleksey revirou os olhos.
— Vocês é que me pintam de demônio.
Miguel encolheu os ombros.
— Você fica por aí andando como uma ave
agourenta, falando umas coisas esquisitas e
parece sempre pronto para criar intriga.
Aleksey abriu a boca, mas nada disse, pois
viu a enfermeira se afastando de Maksim.
O celular de Miguel começou a tocar e ao
olhar o visor, ele suspirou. Era Jannochka.
— Oi, tia…
— Onde você está? Cadê o Aleksey e o
Maksim?
Ela havia notado a ausência deles, mas
pensou que poderiam estar pelos cantos,
flertando ou coisa do tipo. A mansão era
mais como um castelo.
— Ah…
— Não mente!
— Jamais! Estamos no hospital. Um amigo
do Maksim sofreu um acidente.
Miguel podia ouvir os dentes de Jannochka
trincando.
— Qual hospital?
Nem quinze minutos depois, Santiago
chegou lá, com cara de poucos amigos.
Ele olhou para os três, as mãos na cintura.
— Certo, porque estou aqui e não com a
minha mulher? — Ele perguntou.
Aleksey esfregou o ombro de Maksim, o
que não passou despercebido por Santiago.
— Eu vou te contar, tio. Podemos ir para
um local mais afastado?
Santiago concordou com um leve aceno e
os dois se afastaram. Miguel ficou com
Maksim.
— Desembucha, Aleksey. Vi minha moto lá
fora, bem como um dos carros do Pyotr. E
nem pense em ocultar nada, ou eu ligo pro
seu pai. Foi um custo convencê-lo a ficar na
mansão, depois que ele ouviu o seu nome e a
palavra hospital.
Aleksey inspirou fundo e começou a
contar o que viu, incluindo o beijo. Ele sabia
que o tio era mais maleável. Inclusive, o
rapaz desconfiava que Jannochka havia
mandado Santiago e não outra pessoa, por
isso mesmo.
— Mas que porra! Os Yankovich vão
começar a fazer outro herdeiro, porque Lev
vai pra debaixo da terra!
— Eu posso? — Aleksey perguntou e
Santiago olhou para o garoto, de cima a
baixo.
— Você é muito novo. Nem mesmo fez o
juramento, Aleksey.
— Eu faço agora mesmo, se quiser —
Aleksey apertou os olhos de forma rápida —
Eles iam matar o meu primo! Eles
desrespeitaram a nossa família!
— Sei disso — Santiago olhou para baixo e
balançou a cabeça — Eu vou falar com
Jannochka, mas cabe a ela decidir como será
feito o acerto de contas.
Aleksey concordou e os dois voltaram
para a ala de espera, onde um médico já
falava com Maksim e Miguel. O loiro seguiu o
médico.
— O rapaz está fora de perigo — Miguel
explicou — Eu posso ficar aqui com o
Maksim.
— Tudo bem, Miguel. Vou levar Aleksey
para casa. O teu carro ficou onde?
— Deixei duas quadras de onde estava a
moto — Miguel respondeu.
— Certo. Aleksey e eu vamos no meu
carro. Pedirei que venham buscar a moto
aqui e o teu carro, lá. Qualquer coisa me liga.
A viagem de carro foi silenciosa e Aleksey
olhava pela janela, cheio de ódio. Santiago
não precisava olhar para o adolescente para
saber que este estava fumegando.
Assim que pararam na garagem, Santiago
não destravou as portas imediatamente.
CAPÍTULO 27
— Nem pense em ir atrás daqueles
rapazes. Jannochka vai decidir o destino
deles.
— Eu sei, tio. Pode deixar.
Santiago destravou a porta e Aleksey saiu
em disparada.
— Hora de falar com meu chuchuzinho —
Ele suspirou e saiu do carro, indo atrás da
esposa, que estava no escritório. Ele
conseguiu ouvir os choros de dentro,
provavelmente da mãe de Korney.
Santiago bateu à porta e ao receber o aval,
entrou.
— Isso é um absurdo! Nosso filho foi
covardemente morto! — Lubomir deu um
tapa na mesa, o rosto todo vermelho.
— Seu filho era um merda e nem teve o
que mereceu. Saiu barato — Santiago falou e
Lubomir Beriya se virou lentamente, os
olhos cheios de fúria.
— O que disse?
Santiago, com o rosto sério, deu alguns
passos à frente.
Jannochka apenas observou, enquanto
Jereni Beriya chorava.
— O que você ouviu. Está surdo, Beriya?
— Santiago perguntou
— Eu sinto muito como pai, por você ter
perdido o seu filho.
Mas não sinto a mínima empatia por
Korney Beriya. O seu filho estava com uma
arma apontada para a cabeça de um civil, um
amigo de Maksim…
Lubomir soltou uma risada de desdém,
interrompendo Santiago.
— Tinha que ser coisa daquele veado!
Santiago segurou Lubomir pelo colarinho
e o homem engoliu em seco.
— Maksim Sigayev merece respeito! Ele se
dedica a essa família, e não falo dos Sigayev,
mas da Tambovskaya!
— Ele é… Uma bicha! Como isso é se
dedicar? — Lubomir retrucou, mesmo com
medo — Ele anda por aí dando…
— Isso não é da sua conta! Nem da sua e
nem de ninguém! O seu filho e os amiguinhos
dele atacaram Maksim! Isso por si só já é o
suficiente para que ele fosse punido!
— Aquela bicha matou meu filho!
Santiago deu um soco em Lubomir, que
voou. Jereni chorou mais alto, mas não se
aproximou do marido.
Lubomir levantou e levou a mão à cintura,
mas Jannochka foi mais rápida e apontou a
arma para a nuca dele.
— Se não quiser se juntar ao seu filho, eu
sugiro que pegue a sua esposa e saia daqui.
Eu vou providenciar o funeral de Korney e
investigarei o que houve.
— Meu filho foi assassinado! Foi isso o que
houve!
Jannochka se colocou na frente do homem,
ainda apontando a arma para ele, agora, para
o rosto.
— Está me enfrentando, Beriya?
Ele tremeu os lábios e negou com a cabeça,
finalmente.
— Não, Parkhan. Perdão.
Jannochka não disse nada, apenas deu um
passo para o lado.
Lubomir segurou o braço da esposa e os
dois saíram dali.
Jannochka soltou o ar, cansada e sentou-se
na poltrona dela olhando então para
Santiago.
— O que caralhos aconteceu?
A festa, claro, já havia terminado e os
gêmeos, acompanhados de Bernardo,
estavam no quarto deste.
— Você vai fazer um buraco no chão,
Pyotr — A gêmea falou.
Pyotr a encarou com os olhos castanhos.
— Aqueles dois se meteram em encrenca.
E o puto do Miguel não me responde!
Eles ouviram passos no corredor, já que a
porta estava aberta.
Pyotr correu e viu que era Aleksey,
sozinho. Ele puxou o jovem para dentro e
fechou a porta, encurralando o primo contra
a parede.
— Abre o bico! Cadê o Maksim?
Aleksey estava com os olhos mais frios do
que nunca.
— No hospital.
Ekaterina e Bernardo se aproximaram
rápido. Aleksey contou por alto o que
aconteceu. Pyotr xingou, mas Ekaterina
permaneceu em silêncio. Bernardo a olhou e
viu que a moça compartilhava do olhar de
Aleksey, o que fez um arrepio passar pela
coluna dele.
— Eu vou matá-los! — Pyotr colocou a mão
na maçaneta, mas Aleksey o afastou — Sai da
frente, pirralho!
— A tia vai decidir. Você não quer ganhar
um tiro de presente, né?
Pyotr praguejou mais uma vez, passando a
mão pelos cabelos e indo em direção à
janela.
O silêncio de Ekaterina estava começando
a preocupar Bernardo.
— Maksim vai ficar bem, amor — Ele
tentou acalmá-la, acreditando que ela estava
apenas preocupada com o primo.
— Eu sei — Ela respondeu, seca — Eu vou
falar com a mamãe.
Já volto.
— Acho que o meu pai e o tio Yuri estão lá
com ela e o tio Santiago.
Eles sabiam que quando os quatro ficavam
juntos, em reunião, não deveriam ser
interrompidos, a não ser em caso de vida ou
morte.
As horas pareciam se arrastar. Miguel deu
notícias, informando que Maksim estava
mais tranquilo, já que o namorado dele não
estava mal.
MIGUEL: Os pais do rapaz chegaram aqui
e, aparentemente, estão desgostosos.
Pyotr ligou para o mexicano. Assim que
este atendeu, foi possível ouvir ao fundo uma
mulher histérica, amaldiçoando Maksim.
— Puta que o pariu! O que essa mulher
quer? — Pyotr perguntou, irritado.
— Ela tá acusando Maksim de “desvirtuar”
o filho dela — Miguel soltou uma risada —
Me poupe!
A ligação estava em viva-voz.
— Faz essa mulher calar a porra da boca,
ou eu farei isso! — Ekaterina soltou, ríspida.
Pyotr não pareceu surpreso, mas Bernardo
engoliu em seco.
“Ela só tá nervosa”, ele disse para si
mesmo e acariciou o braço da amada.
— Farei isso — Miguel disse. Eles
trocaram mais algumas palavras e a ligação
foi finalizada.
Jannochka chamou os pais dos rapazes
envolvidos e, claro, Lev Yankovich não ficou
de fora.
— Parkhan, por favor, meu filho nem saiu
da festa! — O pai de Lev falou, nervoso. O
suor na testa dele evidenciava seu estado.
— Eu mando exterminar pessoas e não
preciso sair daqui, preciso? — Jannochka
perguntou — Se eu mandasse dizimar todos
os seus parentes e queimar a sua casa… Eu
ainda estaria aqui, Yankovich.
O homem tremeu de leve.
— Eu sei, Parkhan, mas…
— Eu vou ouvir os rapazes. Mas já deixo
aqui registrado que ninguém sairá impune.
Maksim é filho de um dos subchefes, é um
Sigayev, é membro dessa Organização e foi
covardemente tratado.
— Perdão, Parkhan, mas… — O pai de
Timofei falou, olhando para os outros — O
seu sobrinho não é nenhum santo! Não
podemos ter uma bic…
Yuri, que até então se manteve calado,
segurou Semyon Danilovich pela nuca e
apertou.
— Não ouse falar do meu filho, seu verme! —
Yuri sacudiu o homem, que nem conseguia
gritar — Seu lho apontou uma arma pro
Maksim e pro Aleksey!
— Aleksey apontou uma arma pro Oleg! —
Abran Llyich retrucou — Aquele moleque
esquisito!
Foi a vez de Fyódor agir, puxando os
cabelos de Abran, que choramingou.
— Seu filho não vale nada! Aleksey estava
defendendo o primo, que foi encurralado por
uma gangue de malditos traidores! —
Fyódor olhou para Jannochka — Eu quero
um duelo, Parkhan.
Odeio traidores!
Jannochka concordou com a cabeça.
— O que eles fizeram foi traição. E os pais
defendem… — Ela falou e suspirou — Acho
que teremos que procurar novos chefes para
as áreas cuidadas por esses homens.
Todos os pais dos rapazes envolvidos
contra Maksim arregalaram os olhos.
— Não, Parkhan!
— Prendam-nos no calabouço. Ele não é
usado faz tempo.
A mansão tinha um calabouço, já que era
muito antiga.
Jannochka não costumava usá-lo,
deixando-o como uma opção para casos mais
graves. Quando alguém era levado para lá,
não havia escapatória e todos já sabiam que
a ofensa havia sido imensa.
Ela fez sinal para que os homens fossem
retirados dali imediatamente.
— Vai matar todos eles? — Santiago
perguntou, massageando os ombros de
Jannochka, que estava sentada atrás da mesa
dela.
— Sim. Não posso deixar que os rapazes
permaneçam. Eles são cobras traiçoeiras e
vão nos morder, mais cedo ou mais tarde. Os
pais já demonstraram estar ao lado deles.
Vão nos trair, com certeza. Não posso
arriscar.
— Aleksey queria ele mesmo dar um
corretivo nos rapazes.
Jannochka sorriu.
— Ele é mais sensível do que parece.
Aleksey gosta muito de Maksim e é fiel como
um cão à nossa família.
— Eu sei. Fyódor deve estar orgulhoso.
Jannochka suspirou.
— Aleksey não é jurado. Não pode dar
conta dos rapazes, ainda. E não vou deixar
que ele jure antes dos dezesseis, Santiago.
Jannochka foi buscar Miguel e Maksim,
além de falar com a família de Lukyan, que,
diante dela, abaixaram a cabeça. Eles sabiam
quem ela era, já que eles se livraram de um
problema, anos antes, quando o pai de
Lukyan arranjou uma briga feia com um
policial e Jannochka foi quem o livrou de ir
preso.
— Maksim, vá descansar. Miguel, você
também. Obrigada por essa noite.
— Não há o que agradecer, tia — Miguel
respondeu, sincero — Vou tomar um banho,
certo?
— Claro — Jannochka respondeu. Ela
decidiu pegar uma pasta com documentos,
antes de ir para o quarto, quando viu
Ekaterina esperando por ela, na porta — O
que houve, agora?
— Aleksey não é jurado. Eu sou —
Ekaterina começou a falar — Quero pedir o
direito de punir quem machucou meus
primos.
Jannochka já imaginava aquilo. Pyotr era
mais inflamado, porém, Ekaterina era muito
mais cruel e vingativa.
— Não sei se é uma boa ideia.
— Mãe, aqueles moleques atormentam
Maksim há tempos. Eu fiquei quieta, não
parti para a violência e olha só no que deu.
Não quero mais ficar parada. Eles
precisam aprender, mesmo que antes de
morrer, que um Sigayev não permite que a
família seja tratada dessa forma!
— Não prefere aproveitar o seu noivado?
— Jannochka perguntou e quando Ekaterina
abriu a boca, ela levantou a mão — Bernardo
falou comigo e com Santiago, antes. Ele é um
rapaz sério.
CAPITULO 28
Ekaterina sorriu de leve.
— Ele é perfeito.
— Eu só espero que ele realmente esteja
pronto para ser um Sigayev, Ekaterina.
— Confio nele.
Jannochka concordou com a cabeça. Ela
ainda tinha as dúvidas dela quanto ao
“estômago” de Bernardo para a verdadeira
natureza de Ekaterina. A Don sabia que o
rapaz havia criado uma ilusão a respeito da
flha dela.
— E eu, em você — Jannochka suspirou —
Mas não quero você e Pyotr torturando os
rapazes. Isso não seria apenas para mostrar
o que fizeram de errado, minha filha. É
vingança. E aqui temos uma excelente
oportunidade para que você e seu irmão se
controlem.
Jannochka sabia que era necessário, mas
ela não queria os gêmeos torturando pessoas
à torto e à direita.
— Mas…
— Eu já falei.
Ekaterina não voltou a discutir. Ela sabia o
lugar dela.
Uma semana se passou e ninguém
comentou sobre a morte daquelas famílias.
Foi explicado o motivo: traição. Isso bastou.
Porém, havia uma pessoa que não havia
aceitado aquilo muito bem.
— Ainda não descobriram quem atirou no
Beriya? — Jannochka perguntou e a resposta
foi o silêncio — Mas que porra! Alguém está
no seguindo!
— Pelo visto, está do nosso lado, ou não
teria defendido um Sigayev — Yuri disse e
Jannochka o olhou feio.
— Não sabemos disso! — Ela passou a
mão pelos cabelos escuros — Não gosto de
estar sendo vigiada. Eu quero malditas
câmeras em toda Moscow!
— Pode deixar. Bernardo já está ajudando
a cuidar disso — Fyódor respondeu.
— Ótimo.
Pyotr ficou muito ocupado aqueles dias e,
no dia sete de janeiro, ele finalmente veria
Lisa. Ele a esperava dentro do carro e, assim
que ela apareceu, um sorriso brotou nos
lábios do rapaz.
— Oi! — Ela falou, entrando no carro e
Pyotr não esperou para puxá-la para um
beijo — Hmmm…
Ele queria dizer que estava morrendo de
saudade, mas não o fez. Pyotr era cauteloso.
— Foi mal demorar a te encontrar. Tive
problemas em casa.
— Pensei que estava comemorando seu
aniversário, ainda — Lisa sorriu para ele e
remexeu na própria bolsa, retirando uma
pequena caixa e entregando-a a Pyotr —
Feliz Aniversário!
Pyotr demorou a pegar a caixinha. Quando
o fez, optou por usar de bom humor.
— Então, isso é um pedido de casamento?
— Ele perguntou e sorriu de lado — Nem me
levou pra um jantar e já tá querendo me
amarrar?
Lisa soltou uma gargalhada.
— Você é bobo! Abre, abre!
A verdade é que Pyotr estava emocionado.
Ele sentia algo diferente por Lisa e, ela lhe
presenteando, em vez de pedir algo a ele,
como as outras, o fez se sentir ainda mais
conectado a ela.
Dentro da caixinha, havia uma peça de
xadrez: o Rei.
— Ah… Obrigado — Pyotr falou. Ele não
tinha dito abertamente que jogava xadrez,
apenas comentou a respeito de uma jogada,
mas pensou que Lisa não compreenderia.
O coração dele palpitava.
— Imaginei que gostasse — Lisa falou —
Olha…
Ela mostrou a parte de baixo da peça, onde
o nome de Pyotr estava gravado. A peça
claramente era de um jogo muito antigo e
valioso.
— Você desfalcou o jogo? — Ele
perguntou, rindo e Lisa corou.
— Na verdade, eu embrulhei ele todinho
pra você. Mas não sabia se você ia mesmo
querer.
Pyotr segurou o rosto de Lisa e a beijou
ternamente.
— Eu vou querer qualquer presente que
você me dê.
Ele dirigiu para um local mais afastado,
um pouco longe da cidade, a fim de ter mais
privacidade com Lisa. Pyotr buscaria o
tabuleiro na volta.
Apesar do tesão que sentia dela, ele queria
conhecê-la mais, estar com ela, e não apenas
transar.
“Ela é diferente”, ele sorriu para si mesmo,
enquanto admirava a bela moça contar sobre
os planos dela sobre universidade e trabalho.
— Você mudaria os seus planos, se
necessário, para casar com alguém que não
poderia te seguir?
Lisa mordeu o lábio.
— Esse alguém exigiria isso?
— Não. Ele não exigiria. Mas talvez você
precisasse adequar seus planos. Você o faria?
Lisa olhou bem para Pyotr.
— Sim. Desde que ele também se
esforçasse para se adequar a mim.
— E se fosse uma vida perigosa? Tipo…
— Tipo na polícia?
Pyotr pensou, debochado, que era
justamente o contrário.
— Sim, tipo polícia.
Lisa deu de ombros.
— Sim, claro. Eu amando a pessoa e ela me
amando, eu topo!
Enquanto os dois estavam ali, Maksim
estava saindo de uma loja de roupas, após
ter ido visitar Lukyan.. Ele havia ido comprar
um casaco novo, de couro, mas quando virou
a esquina, deu de cara com Vaniamin
Grankin.
— Se divertiu, viadinho?
CAPÍTULO 29
Bernardo resolveu comprar um presente
para Ekaterina. Sim, ele já havia dado algo de
aniversário, mas ele queria mais.
“Tudo para a minha rainha”, ele sorriu,
contente, enquanto dirigia.
Um carro o fechou, dirigindo como louco e
Bernardo reconheceu o motorista como um
dos recrutas e amigo de Lev.
— Maluco! — Bernardo balançou a cabeça
e estacionou o carro. Ele suspirou e
enquanto colocava a chave do veículo no
bolso, viu um carro que não lhe era estranho:
o de Maksim.
Ele olhou em volta e nada viu, então,
continuou caminhando em direção a uma
loja de armas. Teoricamente, apenas
caçadores e pessoas que vivem em local com
alto risco de ataques de animais, podem
portar armas livremente. No entanto, aquilo
não valia quando se tratava dos Sigayev, os
maiores exportadores de armas entre as
máfias.
Bernardo Castillo estava na lista de
autorizados a comprar armas, portanto, ele
estava livre. Não que o loiro quisesse uma
para ele, no entanto, ele sabia que Ekaterina
gostava dos objetos e quis comprar algo
especial para ela.
As ruas de Moscou estavam um tanto
quanto vazias, devido ao frio. Bernardo
ainda não havia se acostumado àquele clima,
por isso, tinha dois suéteres e um longo
sobretudo no corpo.
— Aqui, senhor — O dono da loja disse,
quase uma hora depois da chegada de
Bernardo — O produto ficará pronto em
alguns dias e eu entrarei em contato.
— Obrigado — Bernardo respondeu em
inglês, pois ainda não falava russo (Ekaterina
havia ensinado algumas coisas, mas ele
ainda estava aprendendo).
Contente com o presente encomendado,
Bernardo saiu da loja e caminhou para o
carro dele, só então notando uma sacola de
roupa jogada a um canto, com algo escuro
saindo dela. Ele se aproximou e viu um
casaco.
— Eita, quem teria deixado isso cair? —
Ele olhou para os dois lados da rua e nada
viu. Pela neve em cima do casaco e da sacola,
era óbvio que não tinha sido algo de poucos
segundos ou minutos.
Quando Bernardo se levantou e olhou
para o beco, que estava escuro, ele apertou
os olhos, pois parecia que havia alguém ali.
Primeiro, ele pensou que poderia ser um
morador de rua, porém, o sapato era social e,
claramente, era um homem.
Sem mais, ele se aproximou com cautela,
olhando ao redor e colocando a mão na faca
que estava na cintura dele —
Bernardo não sabia ainda atirar muito
bem, então, ela não lhe deu uma arma de
fogo, mas sim uma faca, para qualquer
emergência.
O coração de Bernardo batia forte, pois ele
tinha um pressentimento ruim e, ao se
aproximar mais, ele sentiu como se a
garganta estivesse fechando.
Maksim estava jogado entre algumas
sacolas de lixo.
Bernardo usou a lanterna do celular para
ver melhor e o rapaz estava cheio de sangue.
O mexicano correu para ajudar e já tirou o
celular do bolso, ligando para Ekaterina.
— Teu celular não para de tocar! — Pyotr
reclamou, pois o aparelho da irmã estava em
cima do banco de madeira, dentro do centro
de treinamento. Como Ekaterina estava
lutando, ela pediu ao irmão que o atendesse.
Pyotr virou o telefone e viu o número de
Bernardo — Alô?
— Pyotr? — Bernardo disse, mas logo se
recuperou — O Maksim foi atacado!
Pyotr inalou o ar e segurou o celular com
força.
— Onde vocês estão?
Bernardo não sabia se podia ou não mover
Maksim e optou por esperar o socorro. Ele
sabia que se o rapaz estivesse com ossos
quebrados, mover de forma errada
ocasionaria não só em mais dor, mas poderia
causar danos.
Pyotr deixou o aparelho em cima do banco
e se levantou, saindo correndo. Ekaterina viu
aquilo e pediu tempo no treino, indo atrás do
irmão.
— O que foi?
— Maksim foi atacado. Estou indo até a
nossa mãe — Pelo tom dele, Ekaterina sabia
que Pyotr estava segurando a raiva.
— Foi o maldito do Lev?
— Não sei.
Os olhos de Ekaterina se tornaram frios.
— Quem quer que tenha sido, está morto
— Ela falou, entre dentes.
Jannochka, assim que avisada, mandou
ambulância privada deles e Maksim logo foi
socorrido.
Bernardo foi levado para a mansão e já
encontrava-se sentado em frente à mesa de
Jannochka.
— Conte o que houve — Ela pediu,
olhando sério para o loiro.
— Eu estava saindo da loja e… —
Bernardo contou tudo o que viu.
— Você viu alguém suspeito?
Até o momento, ele havia esquecido
completamente do recruta.
— Sim! Assim, suspeito, eu não sei se é,
mas eu vi um dos recrutas. Ele trancou meu
carro quando eu estava ali perto.
Tava dirigindo apressado.
— Sabe o nome? — Ela perguntou, ainda
muito séria e Bernardo negou com a cabeça
— Consegue descrevê-lo?
Quando Bernardo saiu do escritório, foi
recebido por três jovens Sigayev de braços
cruzados e fúria no olhar. Ekaterina parecia
outra, mas Bernardo compreendia que era
porque o primo dela havia sido gravemente
ferido.
— Sabe quem foi? — Pyotr perguntou.
— Não sei o nome. Mas descrevi e sua mãe
disse que sabia quem era, mas não me disse
nenhum nome — Bernardo engoliu em seco.
— Descreve aqui pra gente — Aleksey
trincou o maxilar.
— Não acho que a sua tia vá querer que
vocês vão atrás dele — Bernardo disse.
— Eu não te perguntei isso, loiro —
Aleksey respondeu e Bernardo apertou os
olhos para o rapaz.
— Deixa — Ekaterina falou, dando um
tapinha com o dorso da mão, no peito de
Aleksey — Ele vai pagar. De um jeito, ou de
outro.
Miguel apareceu no corredor, os cabelos
bagunçados.
— Me contaram. Quem foi o filho da puta?
Pyotr repetiu monotonamente o que
Bernardo havia dito.
Ekaterina estava mais calada. Pyotr
conhecia a gêmea e sabia que ela não estava
nada calma. Na verdade, quanto mais quieta
Ekaterina ficava, mais turbulenta ela estava
por dentro.
Jannochka pediu que ninguém fosse
visitar Maksim, por hora.
Apenas o pai dele. A mãe de Maksim havia
morrido anos antes e, desde então, Yuri não
voltou a se relacionar sério com ninguém.
— O que estão fazendo? — Ela perguntou,
quando saiu do escritório.
— Estávamos…
— Fofocando? Perdendo tempo? — Ela
olhou ríspida para os quatro — Vão
aproveitar melhor o dia. Ekaterina e Pyotr,
as provas de vocês não vão demorar.
Aleksey, digo o mesmo.
Miguel, seu pai pediu que ligasse pra ele. E
você, Bernardo, tem aula de russo em uma
hora. Vá se arrumar!
Os quatro concordaram com a cabeça e
foram cuidar do que era necessário.
Em quarenta minutos, Ekaterina passou
no quarto do Bernardo apenas para lhe dizer
que teria que sair e que, talvez, ele não
conseguisse falar com ela ao telefone.
— Nossa, é alguma missão? — Ele
perguntou, terminando de colocar as botas.
CAPÍTULO 30
A aula dele tomaria lugar dentro da
mansão. Jannochka preferiu que ele tivesse
um professor particular da máfia, do que
Ekaterina. Não que ela duvidasse da
capacidade da filha, mas ela também sabia
que aqueles dois fariam tudo, menos
estudar.
— Tipo isso. Mas fica tranquilo, não
precisa fazer essa cara — Ela cruzou os
braços — Não tem perigo.
Por algum motivo, Bernardo teve a
impressão de que a frase estava incompleta.
“Não para mim”, era o que Ekaterina diria.
Mas ele afastou o pensamento.
— Tudo bem. Mesmo assim, cuidado —
Ele a segurou pela cintura e notou como ela
estava tensa — Amor, o Maksim vai ficar
bem.

O sorriso de Ekaterina não alcançou os
olhos e Bernardo achou melhor não
pressioná-la com nada. Apesar de não ter
primos, Bernardo considerava Pyotr, Miguel
e Tonny como se da família de sangue dele
fossem, e ficaria muito mal caso algo lhes
ocorresse.
Eles se despediram e enquanto Bernardo
foi para a aula dele, Ekaterina bateu à porta
de Pyotr.
— Tô pronta — Ela avisou.
Pyotr saiu do quarto, uma aura negra em
volta dele.
— Como você descobriu quem era?
— Ele era o único que não estava na sala
de treinamento. Eu verifiquei e não, ele não
foi mesmo — Ela respondeu.
— Esse filho da puta!
— Só não sei porque esse ódio todo…
Maksim nunca machucou ninguém! —
Ekaterina falou com raiva, descendo as
escadas com o irmão.
— Eu tenho minhas dúvidas se alguns
deles não são encubados — Pyotr soltou
uma risada de desdém — Lev é outro que
curte mulher, mas eu já o vi bebendo e ele
me parece muito observador de homem.
— Seja como for, ninguém mexe com
nosso primo e sai ileso.
Ele se safou de morrer porque não
participou abertamente.
Mas vai pisar na bola de novo.
— O único amiguinho dele que sobrou foi
o Vaniamin Grankin.
Os outros todos morreram, junto com os
pais deles — Pyotr estalou a língua — Por
hora.
Aleksey estava encostado na parede, com
um palito de dentes na boca. O rapaz nem
parecia um adolescente, mas sim uma versão
adulta mais nova do pai, quando pronto para
combate.
— Ele tá aí? — Pyotr perguntou ao jovem,
que concordou com a cabeça e deu um
empurrão na parede, com o pé que estava
apoiado ali — Excelente.
Eles entraram no antigo estábulo, que foi
transformado em uma espécie de galpão de
tortura, dentro da propriedade dos Sigayev.
Porém, quem fosse ali, pensaria que era
apenas uma oficina para trabalhos manuais
com madeira.
Vaniamin estava preso a uma cadeira, nu.
Dentro do galpão era frio, mas não
excessivamente. Porém, o russo estava
suando.
— Posso? — Ekaterina perguntou. Pyotr e
Aleksey se encararam e concordaram.
— Primeiro as damas — Aleksey
respondeu, um sorriso diabólico nos lábios.
O prisioneiro levantou os olhos e viu
Ekaterina se aproximando. Ela ficou bem
perto e levantou a mão, o que o fez se retrair.
— Calma… Eu ainda não fiz nada —
Ekaterina falou, com um meio sorriso e
arrancou a fita que cobria a boca de
Vaniamin, arrancando junto alguns fios da
barba do rapaz e pele dos lábios ressecados.
— Porra!
Ele não disse mais do que isso, pois
Ekaterina segurou o rosto dele e aproximou
o dela.
— Já tá chorando só com isso, Grankin? —
Ela sorriu e Vaniamin engoliu em seco ao
olhar dentro dos olhos de Ekaterina. Ali, ele
enxergou o próprio destino: uma dolorosa
morte.
Já fazia duas horas desde que a aula de
Bernardo tinha terminado e Ekaterina não
atendeu o telefone. Ele suspirou e decidiu ir
até a cozinha.
No caminho, viu Fyodor e Yuri
conversando.
— Ele vai sair dessa — Fyodor falou com a
mão no ombro do irmão.
— Eu sei… É que… Eu deixei o meu filho
meio de lado, depois que Adeliya…
— Você não o deixou de lado, Yuri. Não foi
culpa sua.
— Se eu fosse mais presente, talvez ele
não tivesse passado por isso! — Yuri se
afastou, passando a mão pelos cabelos
escuros.
— Teria, porque esses merdas
arrumariam um jeito — Fyodor se
aproximou do irmão.
— Eu quero acabar com o desgraçado!
— Acho que é tarde pra isso — Fyodor
falou e Yuri olhou para ele, sem entender —
Os meninos pediram permissão. Eles não vão
matar de vez, porque essa honra é sua, mas…
Digamos que o galpão vai ficar bem sujo.
Bernardo franziu a testa.
— Qual?
— O daqui, mais no fundo da propriedade.
— Ah… O antigo estábulo — Yuri sorriu de
lado — Vou já dar uma passada lá. Creio que
os garotos já se divertiram o suficiente.
Bernardo se escondeu atrás de um dos
pilares e viu quando os irmãos Sigayev
passaram. Ele já tinha ouvido falar do tal
galpão, mas nunca tinha ido lá.
“Pelo visto, chegou a hora”, ele pensou e
seguiu de longe.
Fyodor e Yuri continuaram a andar,
falando, mas eles sabiam que estavam sendo
seguidos. Bernardo não era muito bom em se
esgueirar silenciosamente.
Bernardo esperou alguns momentos antes
de entrar. A porta não estava trancada e ele
mordeu o lábio, pensando se deveria ir ou
não. Quando viu Jannochka torturar o outro
homem, ele passou mal.
“Se quero ser da máfia, tenho que me
acostumar com isso!”, ele disse a si mesmo,
respirou fundo e entrou.
Porém, Bernardo não estava pronto para o
que veria.
O mesmo rapaz que ele viu em alta
velocidade, mais cedo, estava sentado em
uma cadeira, as pernas tremiam, havia
sangue pelo chão.
Um grito agudo escapou da garganta do
jovem. Bernardo sabia que não era a
primeira vez, visto que era claro o quão
rouco o prisioneiro estava.
Mas aquele não foi o pior. Quando Yuri
deu um passo para o lado, Bernardo viu o
que estava havendo: Ekaterina, com o que
parecia um bisturi em uma mão, puxava
algo do ombro do rapaz. Bernardo não era
especialista em anatomia, mas ele sabia que
aquela não era a pele. Esta já não estava ali
em parte do braço do homem.
— Belo ligamento que você tinha, Grankin
— Yuri disse debochado — Adrenalina!
As pernas de Bernardo falharam e ele
esticou a mão para se apoiar, não vendo que
havia ali alguns utensílios para corte de
madeira, o que fez barulho.
Todos se viraram para ele, mas tudo o que
ele via era Ekaterina, coberta de sangue, com
uma expressão no rosto que ele sabia
reconhecer bem: puro prazer. Isso é, até ela
reconhecer o namorado e ficar mais séria.
Ekaterina deixou o bisturi e parte de
Grankin em uma mesinha, andando então até
onde Bernardo estava. Os olhos verdes dele
se arregalaram de puro terror.
— Bê? — Ela perguntou, preocupada — É
melhor irmos…
CAPÍTULO 31
Ekaterina parou de se mover, assustada
com a reação de Bernardo.
— Tudo bem, eu vou ficar bem aqui — Ela
falou, as mãos levantadas. O fato de que as
mesmas estavam cobertas de sangue,
definitivamente não ajudava muito e ela, ao
se dar conta daquilo, as abaixou.
Fyodor se colocou entre os dois.
— Bernardo, tá tudo bem. Eu te
acompanho até lá na mansão, sim?
— E-eu posso ir sozinho — Bernardo
conseguiu falar e se endireitou, evitando
olhar novamente para o prisioneiro. Então,
uma risada rouca foi ouvida.
— E é… Com esse frouxo… — Vaniamin
começou a falar — Riridículo…
— Tio, por favor, leva o Bernardo — Pyotr
pediu, com a voz o mais calma possível,
enquanto tentava não trincar os dentes.
Fyodor não encostou em Bernardo, mas o
acompanhou para fora e, durante o caminho
de volta para a mansão, houve apenas
silêncio, até que chegaram à porta de trás.
— Não sei o que se passa na sua cabeça,
mas pensei que soubesse o que fazemos.
Bernardo não respondeu, manteve a
cabeça baixa e Fyodor não insistiu,
afastando-se em seguida e voltando para o
galpão.
— Bernardo? — Santiago perguntou,
quando fechou a geladeira e viu o rapaz —
Parece que viu um fantasma… Caramba, tá
tudo…
Quando Santiago tentou tocar em
Bernardo, este se esquivou e Santiago viu
não apenas medo, mas um certo nojo, ali. Por
isso, apenas se afastou e deixou que o loiro
seguisse caminho e, em seguida, foi atrás de
Jannochka.
— Temos um probleminha, eu acho — Ele
falou após entrar no escritório da esposa.
— O que houve, agora?
— Bernardo tá esquisito. Ele veio da porta
de trás e, pela mensagem de Fyodor, o garoto
parece ter ficado nesse estado depois de ver
o que Ekaterina e os meninos faziam com o
Grankin.
Jannochka suspirou e esfregou os olhos
com uma das mãos.
— Eu não entendo… Ele te viu torturar o
outro homem e só deu uma vomitadinha… —
Santiago continuou.
— Ele é iludido quanto à Ekaterina, Santi
— Jannochka disse e encarou os olhos
castanhos do marido — Bernardo Castillo
estava jurando que a nossa filha era um
anjinho e que apenas se fazia de durona.
Santiago soltou uma risada, mas ao ver o
semblante sério da Don, ele parou.
— É… Qual é! Ekaterina nunca se fez
passar por dócil — Santiago disse e balançou
a cabeça — Ele pediu a nossa filha em
casamento e, agora, está chocado?
— Pelo menos isso aconteceu antes do
casamento. Imagine se fosse depois —
Jannochka falou — Vamos dar o tempo dele,
ver o que Bernardo irá fazer. Eu não quero
me meter nisso.
— Mas, amor! Ele andou se agarrando com
a Ekateri…
— Santiago, Ekaterina não é uma
garotinha indefesa e nem ingênua. Creio que
poderá tomar as próprias decisões. Eu não
vou forçar casamento nenhum.
Santiago passou a mão pelos cabelos.
— Todos aqui sabem que eles estavam de
namoricos, passando noites juntos! Eu não
falei nada, porque pensei que ele amava a
nossa filha! Mas pelo visto, ele nem a
conhece!
— Isso é assunto deles. Eu sei que pode
parecer difícil, mas você vai manter a sua
língua dentro da boca.
— Janna…
— É uma ordem, Santiago.
Jannochka raramente usava o status dela
de Don com Santiago, mas naquela situação,
ela preferia que Ekaterina tivesse liberdade
e independência.
— Sim, Parkhan.
Ela se levantou e foi até o marido,
colocando as mãos nos ombros dele.
— Agora, como mãe e sua esposa: deixa a
nossa filha ter essa experiência. E Bernardo
também precisa se resolver. Se ele não se
sentir apto ao nosso mundo, é melhor que
ele se vá.
— Ekaterina vai sofrer…
— Mas vai superar — Jannochka disse e
Santiago sabia que era verdade. Quando ele
mesmo havia deixado a mulher da vida dele
voltar para a Rússia, ainda que sofrendo, ele
sabia que Jannochka jamais se deixaria
enfraquecer e Ekaterina era como a mãe.
Santiago abraçou a cintura da esposa e ela
encostou a cabeça no peito dele.
— Vamos ver se Pyotr vai ser tão
imparcial quanto a gente.
— Não deixe ele matar Bernardo.
— E como eu vou prometer isso? Pyotr é
uma praga — Jannochka levantou a cabeça e
Santiago, os ombros — E eu menti? Ele gosta
do loirinho, mas ninguém mexe com a irmã
dele.
O sorriso que se formou nos lábios de
Santiago misturava orgulho e sadismo.
— Depois dizem que a “ruim” sou eu.
— Mas você é ruim, amorzinho. E eu, sou o
doce na relação.
Jannochka desceu a mão pelo abdômen do
marido.
— Hmmm, mas aí, eu acho que vou ter que
provar de novo pra ver se concordo ou não.
— Como eu sou sortudo!
No quarto, Bernardo tomou um longo
banho e depois, sentouse na cama, apoiando
as costas na cabeceira.
Ele estava tendo uma dificuldade enorme
em conciliar a imagem de Ekaterina, a noiva
dele, com Ekaterina, a mafiosa torturadora.
“Ela nunca mentiu”, a voz interna de
Bernardo falou e ele concordou com a
cabeça. “Eu sei. Mas mesmo assim… Ela
parecia outra”.
Ele tinha os joelhos próximos ao corpo e
abaixou a cabeça apoiando a testa ali.
Ekaterina não foi falar com ele, pois não
sabia se deveria.
Preferiu dar espaço ao noivo.
Jannochka não o chamou para treinar no
dia seguinte, e Bernardo não apareceu, de
todo jeito.
Três dias depois, uma batida na porta fez
Bernardo levantar da cama e, ao girar a
maçaneta, deu de cara com Yuri.
— Pensei que tinha morrido aí dentro. Só
não tinha certeza porque não subiu cheiro
ruim — Yuri falou. Bernardo deu um passo
para o lado, a fim de deixar o mais velho
entrar, mas este apenas balançou a cabeça —
Eu só vim perguntar se quer ir ao hospital
comigo, ver Maksim. Afinal, foi você quem o
encontrou e ele quer te agradecer.
— Sim, claro. Eu vou me trocar —
Bernardo falou, a voz rouca.
Yuri percebeu que os olhos verdes do
rapaz estavam inchados.
— Eu quero te agradecer. Já agradeci uma
vez, mas… Foi muito rápido — Yuri fez uma
reverência, inclinando o tronco para frente e
levando a mão direita ao peito — Obrigado
por ter socorrido o meu filho. Você salvou a
ele e a mim, porque eu morreria se…
— Não precisa me agradecer, senhor
Sigayev — Bernardo falou
— E fico feliz que o Maksim esteja se
recuperando.
Yuri levantou o rosto e havia uma
vermelhidão nos olhos, mas as lágrimas não
caíram.
— Vou esperar por você lá embaixo — Ele
disse e ia se virar, mas parou e olhou para
Bernardo — À propósito, acho bom falar
com Jannochka. Ela sabe que eu vim aqui,
mas… Quando voltarmos, eu não viria para o
quarto, se fosse você. Relaxa, ela não vai te
engolir.
Bernardo fechou a porta e se trocou. Ele se
sentia estranho, cansado. E ao mesmo tempo
que queria ir até Ekaterina, ele se lembrava
do que tinha visto e não conseguia sair do
quarto. O medo de esbarrar com ela era
imenso.
Não era medo de que ela o atacasse, mas
medo de como ele mesmo reagiria. Mas, não
houve qualquer encontro entre eles,
enquanto Bernardo ia até a garagem e
entrava no carro de Yuri.
Após alguns minutos dirigindo, Yuri
resolveu falar.
— Não quero sair me metendo, mas…
Você não pode se esconder pra sempre, da
Ekaterina.
— Não estou me escondendo.
“Mentiroso!”, ele disse para si mesmo.
— Tudo bem. Não vou discutir isso. Só
estou dando um conselho: não espere que
ela vá até você. Ekaterina é como Jannochka
e, se ela sentir que não é bem vinda ao seu
lado, vai se manter longe.
— Certo.
Maksim estava pálido, mas muito melhor.
Bernardo se sentiu aliviado ao ver o estado
do rapaz.
— Obrigado, Bernardo — Ele disse — Te
devo a minha vida.
Nunca vou poder agradecer o suficiente!
Os dois conversaram um pouco e logo,
Bernardo precisou sair do quarto e dar lugar
a Yuri.
Ao cruzar a porta, ele podia jurar que
havia visto Ekaterina passando pelo final do
corredor e virando na esquina.
CAPÍTULO 32
A vontade foi de ir até ela, mas os pés dele
não se moveram e, logo, Miguel se
aproximou dele.
— Eu te dou uma carona.
Bernardo concordou e seguiu Miguel.
— Bernardo, eu vou jogar a real, valeu?
Não que eu seja o mais adequado para dar
conselhos amorosos, mas… — Miguel olhou
de relance para o loiro, enquanto dirigia —
Você conviveu, bem ou mal, com a máfia.
Desde que nasceu, bem dizer. Beleza, você
nunca viu a gente “em ação”, mas… Sabia do
que se tratava.
Silêncio. Miguel suspirou e continuou.
— Ekaterina sempre foi como ela é, desde
pequena. Cara, ela enfiava a porrada em
quem mexesse com um de nós. Eu tô
tentando compreender se você tá com medo
de ela te torturar ou quê…
— É só que… — Bernardo apertou os
lábios, antes de suspirar e voltar a falar —
Eu acho que ela nunca foi mais assim
comigo, entende? Nunca tinha visto esse lado
dela e, mesmo lá no fundo eu sabendo que
Ekaterina é forte, eu nunca tinha visto ela ser
cruel.
Miguel encostou o carro. Ele sabia que por
ordens de Jannochka, ninguém deveria se
meter na relação de Bernardo e Ekaterina,
mas ele preferiu arriscar.
— Você viu a Ekaterina brigando, viu ela
treinando… E você soube que ela torturava.
Você viu a tia torturando, por isso eu sabia
que o problema não era o banho de sangue
— Miguel olhou bem nos olhos de Bernardo
— Me fala, qual o seu medo?
Bernardo soltou uma risada triste.
— Esse é o problema. Eu não sei. Por mais
imbecil que isso soe, eu não sei! — Ele soltou
o ar pela boca — É só que… Sei lá, parece que
eu estava namorando outra pessoa.
— Você criou uma Ekaterina diferente na
sua mente… Mas Bernardo, ela é diferente
com você. Ekaterina não é doce, exceto com
você. Ou com os pais e eventualmente, com
o Pyotr, se ele estiver doente, por exemplo.
Mas com você?
Sempre.
— E como você acha que eu vou conseguir
aceitar que esse doce de mulher é a mesma
que tava lá arrancando um pedaço do cara
que treinava com a gente! Ele não era um
estranho!
— Grankin quase matou o Maksim, primo
da Ekaterina. O que você faria se estivesse no
lugar dela? Ekaterina e os primos por parte
da mãe praticamente cresceram juntos,
como irmãos.
— Miguel levantou as sobrancelhas — Eu
duvido que você não iria querer acabar com
a raça de quem tocasse na Clara ou no Artur.
— Dar uns socos, pela raiva? Sim, com
certeza. Mas… Fazer aquilo? — Bernardo
fechou os olhos — Ela tava se divertindo,
Miguel! Eu vi no rosto dela a satisfação!
Miguel suspirou.
— Olha, eu espero que você nunca tenha
que passar por essa situação, mas pensa bem
sobre o que você quer da vida.
Reflete se você acha que a Ekaterina é um
monstro ou não. Se você achar que sim, e que
isso vai te fazer mal, não fique com ela. Isso
vai doer, mas no futuro, poupará os dois de
sofrimento. Agora, se você acha que ela é
uma boa pessoa e que vale a pena estar com
ela, corre atrás!
Miguel não falou mais, apenas deu partida
no carro e dirigiu em silêncio, deixando
Bernardo com seus botões.
Quando o carro foi estacionado, Miguel
olhou para Bernardo.
— Por sinal, você não tá sabendo porque
sumiu em Nárnia, mas… Eu vou ser tio!
Bernardo piscou algumas vezes.
— Calma… Quem vai ter filho? Tonny ou
Bia?
Miguel o olhou com cara de “sério?”.
— Bia, é claro! — E revirou os olhos. Não
que ele não fosse ficar feliz com Tonny tendo
um filho, mas o problema era que a mãe
seria Clara.
— Nossa, meus parabéns! — Bernardo
falou, sinceramente — Ela deve tá muito
feliz. E o Samuel também!
— Sim! Bia queria esperar mais um pouco,
mas aí aconteceu e ela tá pulando de
felicidade! Daqui a uns três meses, por aí, eu
vou lá pros Estados Unidos. Não quero
perder esse momento.
Meu primeiro sobrinho!
— Ou sobrinha.
Miguel fez careta.
— Tomara que seja menino. Vou estragar
o moleque!
— Como você é ruim… — Bernardo
brincou e Miguel gargalhou.
— E se for menina, vai estragar também.
Eu sei que vai. Mimar até não poder mais.
Miguel fez bico, rindo.
— Não posso negar — Ele esfregou as
mãos — Mal posso esperar!
Por um momento, parecia que o clima
estava mais leve e Bernardo não se sentiu
sufocado, mas assim que colocou os pés
dentro da mansão, ele se viu envolto
novamente em uma nuvem negra.
— Pensa sobre o que conversamos —
Miguel estava com uma mão no ombro do
loiro e falou bem ao pé do ouvido dele,
dando uma piscadinha depois e se afastando.
Bernardo concordou com a cabeça e olhou
para o corredor que dava para o escritório
de Jannochka.
“Tenho que falar com ela”, ele disse e se
arrastou para lá. Ao chegar em frente à
porta, bateu nela e esperou pela autorização
de Jannochka.
— Bernardo — Ela o olhou, expressão
neutra — Sente-se, por favor.
— Com licença — Bernardo falou baixo e
se sentou em frente à Don.
— Como se sente?
Não era aquilo que Bernardo esperava,
mas sim que Jannochka falasse sobre ele não
treinar, ter simplesmente sumido e, claro,
sobre Ekaterina.
Ele se remexeu na cadeira.
— Melhor — Ele falou, sentindo a
garganta arranhar.
— Bernardo, eu chamei você para a Rússia
para que treinasse suas habilidades digitais.
Não coloquei uma condição de que você teria
que ser da máfia, para isso — Jannochka
pousou as
duas mãos em cima da mesa — Não vou
discutir o seu relacionamento com
Ekaterina. Quero apenas saber se você
deseja continuar aqui, para aprender, ou se
não se sente mais à vontade e prefere voltar
ao México.
Ele inspirou fundo e remexeu os lábios.
— Há a possibilidade de eu pensar sobre
isso, no México?
— Sim, sem dúvida. Talvez seja melhor,
mesmo. Você mudar de “ares” e poder
pensar com mais clareza é uma boa ideia —
Ela pegou a caneta de cima da mesa — Pode
preparar as suas coisas. Amanhã mesmo eu
pedirei que o levem de volta. E, caso deseje
voltar, basta me avisar.
Jannochka deu o sinal de que a conversa
estava acabada.
Bernardo já compreendia o jeito dela.
— Obrigado. Com licença.
Ao sair do escritório, ele viu Pyotr, que o
olhou e não disse nada, apenas seguiu o
próprio caminho. E não havia sinal de
Ekaterina.
A noite pareceu passar rápido demais e
Bernardo se viu ao lado do carro que o
levaria ao jatinho, quase como num piscar de
olhos.
Ele passou os olhos pela mansão e, mais
uma vez, não viu Ekaterina.
“Eu queria vê-la, só uma vez”, ele pensou,
mas então, como seria? “Eu preciso ir. E
pensar. Desse jeito, vou só machucar a ela e a
mim mesmo”.
Com um último suspiro, ele entrou no
carro.
Ekaterina viu os veículos saindo da
mansão, pela janela do quarto dela.
— Ele deve voltar — Pyotr falou,
docemente. Ele não achava que Bernardo
servia para a irmã, mas antes de tudo, ele a
queria feliz — Detesto te ver triste.
A russa fechou a cortina e olhou para o
irmão.
— E quem disse que eu estou triste?
CAPÍTULO 33
O aperto no peito de Bernardo só
aumentava. Na hora de subir no avião, ele
estava quase sem conseguir respirar.
Ele já havia ido ao México, dias antes, mas
naquele momento, ele sabia que ao sair da
Rússia, Ekaterina também seria deixada para
trás e, o pior, ele sentia que poderia nunca
mais conseguir vê-la.
“Tem as festas de família…”, ele se
lembrou e então soltou uma risadinha
desdenhosa para si mesmo. “Não vai ser a
mesma coisa, nem como antes de
namorarmos”.
Porém, ele precisava de tempo. Pensar se
ele de fato queria aquela vida dentro da
máfia. Conhecer e conviver com mafiosos era
uma realidade completamente diferente de
ser um deles. Ainda que Bernardo não fosse
se tornar um soldado, não fosse para
missões nas quais torturaria e mataria
pessoas, sempre haveria essa possibilidade.
A questão era: valia a pena?
Máximo o havia alertado para isso, pedido
ao filho que pensasse direito.
“Coloque na balança o que é mais
importante pra você”, haviam sido as
palavras do pai. E agora, Bernardo usaria o
tempo dele longe de Ekaterina para pensar
sobre aquilo.
Enquanto a aeronave tomava velocidade,
Bernardo se sentia mais e mais pesado.
Aquelas horas dentro do jatinho foram
torturantes, mas ao olhar pela janela, após o
pouso, e reconhecer o México, ele se sentiu
ainda pior. Ekaterina estava a mais de dez
mil quilômetros de distância.
“A distância física é a de menos”.
— Maninho! — Clara o recebeu, dando um
abraço no loiro. Ele esteve tão pensativo que
não se deu conta de que já havia saído do
jatinho e caminhado até uma sala de
desembarque V.I.P. Era mais segura para
pessoas como ele.
“Como eu, não”, ele abraçou Clara de volta.
A irmã dele era casada com o subchefe da La
Cicuta. Ele, Bernardo, não era parte da máfia.
Nem mexicana, nem russa.
Clara percebeu o estado de ânimo do
irmão e sabia bem o motivo. Ela era
agradecida por ter uma família fofoqueira.
— A mamãe fez buñuelos (massa frita
coberta de açúcar e canela. Parece bolinho
de chuva) pra você.
Era uma das sobremesas favoritas de
Bernardo e ele não pôde deixar de sorrir.
— Mamãe sempre pensa nas coisas.
— Óbvio. O neném voltou — Clara brincou
e se agarrou ao braço do irmão.
Bernardo balançou a cabeça e olhou para
frente, vendo Tonny perto do carro, com um
casaco escuro.
— Hoje tá meio abafado, aqui.
— Não tá. É que você agora é um menino
acostumado a outro clima — Clara suspirou
— Eu tirei uns dias do trabalho e vou levar
você pra passear.
— Claro, não precisa…
— Precisa sim! — Ela o interrompeu e eles
pararam em frente a Tonny.
— Se ela diz… — Tonny falou.
— Você nem sabe do que ela tá falando —
Bernardo o acusou, estreitando os olhos de
leve.
— E preciso? — Tonny sorriu amoroso,
enquanto lançava a Clara um olhar terno.
— Posso ver os corações voando —
Bernardo falou e mais uma vez, foi lembrado
do olhar que Ekaterina tinha para ele. E,
também, do olhar que ela tinha, segurando
uma parte do corpo de Grankin.
Um leve tremor passou pelo corpo de
Bernardo.
— Vamos pra casa — Tonny falou e todos
entraram no carro.
— Ah, Tonny, parabéns pelo sobrinho, ou
sobrinha, à caminho.
Tonny abriu um sorriso imenso e olhou
para Bernardo através do retrovisor.
— Obrigado! Nem acredito que a minha
irmãzinha vai ter um filho — Ele soltou o ar.
— Você fala como se ela fosse pequenina.
Tonny, A Bia não é nem dois anos mais nova.
— Ela sempre vai ser meu bebezinho —
Tonny falou, sorridente
— E agora, vamos ter mesmo um bebê na
família. Só fico chateado por ela morar tão
longe.
Bernardo ia brincar que era só Tonny e
Clara fazerem um bebê, mas ele torceu o
nariz. Além disso, ele sabia bem que a irmã
não queria crianças naquele momento. Ela
estava focada nos estudos e nas empresas.
— Como anda o trabalho? — Ele
perguntou e eles foram conversando até
chegarem à casa dos Castillo.
Artur quase se jogou nos braços de
Bernardo, que o suspendeu e o girou no ar.
— Você parece que cresceu mais desde o
Natal! Como pode isso?
Artur sorriu.
— Sou um rapaz.
Clara revirou os olhos.
— Menino presepeiro — Ela falou.
— Bernardo! — Carolina apareceu com
um pano de prato nas mãos e correu para o
filho. Máximo estava logo atrás.
Após os beijos e abraços, Bernardo subiu
para o quarto dele, antes de descer para o
jantar.
Um toque na porta e logo, a mesma se
abriu, revelando Máximo.
— Posso? — O pai perguntou e Bernardo
concordou com a cabeça, deixando o casaco
sobre a cadeira e se sentando na cama —
Como se sente?
— Bem.
Máximo levantou a sobrancelha.
— Eu estou feliz e triste de te ver aqui —
Máximo falou — Adoro ter você por perto,
mas… Eu sei que não é aqui onde queria
estar.
— Claro que é aqui. Ou eu estaria lá…
Bernardo não olhava para o pai enquanto
falava. Máximo levantou o queixo do filho,
lentamente, e o encarou.
— Eu não sei dos pormenores, apenas que
você e Ekaterina se afastaram — Ele disse —
Sei da natureza dela, mas jamais a vi levantar
a voz pra você. E você não é de brigas. Me
diz, isso aí foi por conta do que eles fazem?
Bernardo soltou uma risadinha de tristeza.
— É incrível como o senhor sempre sabe
das coisas — O loiro mais novo falou — Eu
não acho que sirva para a máfia.
Máximo franziu um pouco a testa.
— Muito brutal? — Ele cruzou os braços.
— Acho que sim. Não entendo como a
Clara não se sentiu..
Sufocada!
— Pelo que o Osvaldo me disse, as coisas
aqui são diferentes.
Os russos são mais… Barra pesada.
— Eles são bem cruéis. Eu não achei que
as coisas fossem daquele jeito. Quando ouvia
falar nos filmes e séries, achei que fosse
exagero.
— Mas meu filho… Você sabia o que eles
faziam. Independente da intensidade com a
qual fazem o que fazem, você sabia.
Bernardo se deixou deitar na cama e olhou
para o teto.
— Só que ela nunca mostrou esse lado pra
mim. E é diferente eu saber que o Pyotr, por
exemplo, faz aquilo. A Ekaterina vai dormir
do meu lado e…
Ele cobriu o rosto com o braço e soltou um
rosnado de frustração.
— Você achou que ela fazia o quê? Sentava
e trançava o cabelo dos prisioneiros deles?
CAPÍTULO 34
Bernardo tirou o braço do rosto e ergueu o
tronco, apoiando-se nos cotovelos,
encarando o pai.
— Pai!
— Ué, Bernardo! Achei que você soubesse
o que estava fazendo! — Máximo, que antes
estava sentado na beirada da cama, se
levantou — A garota é filha da Jannochka. A
DON da Tambovskaya, sei lá como fala.
— É assim mesmo…
— ENFIM! E aí você esperava que ela fosse
mansa? A menina tem um olhar penetrante.
Ela dá mais frio na espinha do que muito
homem barbudo e forte por aí. Ela é mais
amedrontadora que o irmão dela, e ele não é
moleza! Aí você vira pra mim e diz que, —
Máximo entortou a boca — “Ain, eu não
esperava por isso”.
Ele fez uma voz mais infantil.
— Me poupe, Bernardo! — Disse Máximo,
por fim.
— Mas ela podia mudar, sei lá… Uma coisa
é ela ser intimidadora, outra é ela arrancar a
pele e o que tem por baixo, de um cara que
treinava com a gente, como se não fosse
nada! — Bernardo finalmente falou e fechou
os olhos, fazendo careta — Ela estava
gostando de fazer aquilo, pai.
— Então, seu encanto por ela acabou? —
Máximo perguntou.
— Por que o senhor fala como se me
recriminasse? Não está feliz que eu não a
quero?
Máximo suspirou.
— Não quero você na máfia e isso não é
nenhum segredo.
Porém, eu não posso dizer que não estou…
Surpreso, de um jeito negativo, com o fato de
que você jurou amar a garota, comprou um
anel de noivado para ela e, no fim, está
largado ela de lado como se não soubesse no
que estava se metendo!
Bernardo piscou algumas vezes. Ele não
tinha deixado de querer Ekaterina, apenas
não conseguia conciliar as duas versões dela
na mente e no coração dele.
O loiro mais velho continuou.
— Ela não te enganou, não haja como se
ela tivesse feito isso.
— Máximo olhou diretamente nos olhos
do filho, que eram iguais aos dele mesmo —
Ekaterina é uma moça de fibra. Ela sempre
foi assim. Sempre soubemos o ramo dos
negócios da família dela. E você fez questão
de ir atrás dela e a cortejar.
Depois, a descartou, porque ela não era
como você se enganou que ela era. Espero
que tenha ao menos explicado as coisas para
ela.
Com isso, Máximo saiu do quarto e deixou
Bernardo sozinho com seus próprios
pensamentos.
“Eu não falei com ela. Não expliquei nada”,
ele suspirou. “Eu não a descartei”.
Com os olhos fechados, ele pegou o
travesseiro e o pressionou contra o rosto,
abafando um grito.
Minutos depois, Bernardo desceu para o
jantar. Os olhos dele não paravam de se fixar
em Tonny e em Clara.
A refeição foi regada de conversas e
tentativas de fingir que não havia um
problema. Mais tarde, Bernardo viu Tonny
voltando do jardim, com o telefone na mão.
Eles estavam sozinhos, ali.
— Hmm, Tonny?
O mais velho levantou os olhos do
aparelho e encarou Bernardo.
— Oi!
— Podemos conversar?
— Claro — Tonny ofereceu a Bernardo um
sorriso gentil e fez menção para que o rapaz
o acompanhasse ao jardim. Uma vez em um
dos bancos de pedra, Tonny sentou-se —
Sobre o que quer conversar?
Bernardo inspirou fundo, remexendo os
dedos. Depois, levantou o olhar e encarou o
cunhado.
— Você… Você tortura pessoas?
Tonny desviou o olhar para baixo e riu
baixinho. Balançou a cabeça e voltou a
levantar o rosto. Apesar do sorriso nos
lábios, os olhos dele não estavam no mesmo
estado de espírito.
— O que você acha, Bernardo?
O loiro franziu a testa.
— Mas… Eu sei que você é da máfia, um
subchefe, só que… — Bernardo levantou a
mão e apontou para Tonny — Olhando
assim, você tão educado, maneiro… Não
parece que…
— Eu soube o que houve na Rússia. Sei
que você ficou chocado em ver a minha
prima em ação — Bernardo engoliu em seco.
Ele havia esquecido, momentaneamente,
que Ekaterina era prima de Tonny — Sei que
pode parecer esquisito, já que você diz que
não parecemos esse tipo de gente.
Com isso, Máximo saiu do quarto e deixou
Bernardo sozinho com seus próprios
pensamentos.
“Eu não falei com ela. Não expliquei nada”,
ele suspirou. “Eu não a descartei”.
Com os olhos fechados, ele pegou o
travesseiro e o pressionou contra o rosto,
abafando um grito.
Minutos depois, Bernardo desceu para o
jantar. Os olhos dele não paravam de se fixar
em Tonny e em Clara.
A refeição foi regada de conversas e
tentativas de fingir que não havia um
problema. Mais tarde, Bernardo viu Tonny
voltando do jardim, com o telefone na mão.
Eles estavam sozinhos, ali.
— Hmm, Tonny?
O mais velho levantou os olhos do
aparelho e encarou Bernardo.
— Oi!
— Podemos conversar?
— Claro — Tonny ofereceu a Bernardo um
sorriso gentil e fez menção para que o rapaz
o acompanhasse ao jardim. Uma vez em um
dos bancos de pedra, Tonny sentou-se —
Sobre o que quer conversar?
Bernardo inspirou fundo, remexendo os
dedos. Depois, levantou o olhar e encarou o
cunhado.
— Você… Você tortura pessoas?
Tonny desviou o olhar para baixo e riu
baixinho. Balançou a cabeça e voltou a
levantar o rosto. Apesar do sorriso nos
lábios, os olhos dele não estavam no mesmo
estado de espírito.
— O que você acha, Bernardo?
O loiro franziu a testa.
— Mas… Eu sei que você é da máfia, um
subchefe, só que… — Bernardo levantou a
mão e apontou para Tonny — Olhando
assim, você tão educado, maneiro… Não
parece que…
— Eu soube o que houve na Rússia. Sei
que você ficou chocado em ver a minha
prima em ação — Bernardo engoliu em seco.
Ele havia esquecido, momentaneamente,
que Ekaterina era prima de Tonny — Sei que
pode parecer esquisito, já que você diz que
não parecemos esse tipo de gente.
Tonny se levantou e colocou a mão no
ombro de Bernardo. Os dois eram quase da
mesma altura, mas Bernardo era um pouco
mais alto.
— As aparências enganam, Bernardo. Se
os mafiosos parecessem mafiosos, não acha
que já estaríamos presos? — Ele sorriu —
Pessoas com cara de boazinhas podem não
ser, assim como o contrário. Eu odiava isso
aqui, mas não vou negar que é muito bom
poder punir os desgraçados que fazem
merda.
— Pra isso temos a Justiça.
— A Justiça nem sempre é justa, ou eficaz.
Além disso, quando você sabe que um
maldito tentou matar alguém da sua família,
não é tão fácil pedir que apenas o
entreguemos a um julgamento que, no fim,
ainda pode deixá-lo livre — O rosto de
Tonny mudou, ficando mais sério — Dar uns
bons socos, ver o sofrimento de quem
machucou quem amamos, ou mesmo
inocentes desconhecidos, dá uma satisfação
indescritível.
Espero que você nunca tenha que passar
por isso, pra sentir, mas talvez, só assim para
entender, Bernardo.
Tonny deu um tapinha no ombro do loiro
e começou a se afastar.
— A Clara é de boas com isso? —
Bernardo perguntou, sem se mover.
— Deveria perguntar isso a ela, Bernardo
— Tonny voltou para ficar em frente ao loiro
— E já que estamos falando sobre o que
houve na Rússia… Se voltar a machucar a
minha prima, eu mato você. Tive
consideração porque você é meu cunhado, o
irmão amado da Clara e eu também te amo.
Mas não vou fazer vista grossa.
Bernardo inspirou fundo. Mas em vez de
focar na ameaça de morte, ele se concentrou
em outra coisa.
— Ela… Ela está sofrendo muito? — A voz
de Bernardo ficou embargada. Pensar em
Ekaterina chorando, ou triste, era de cortar o
coração.
Tonny sorriu de maneira macabra.
— Se espera pelas lágrimas dela,
aconselho que arranje uma cadeira e se
sente. E se prepare, porque se isso
acontecer… —
Tonny levou o indicador e o dedo médio
até a própria têmpora, como se fosse uma
arma.
Depois disso, ele se afastou.
A noite passou e Bernardo não parava de
olhar o telefone. Ele escrevia uma
mensagem, mas não enviava. Ele a apagava.
“E o que eu posso dizer?”, ele colocou o
telefone de lado.
“Dizer que sou um medroso de merda,
mas que eu a quero. Só não quero essa vida?”
Bernardo não se sentia confortável em pedir
a Ekaterina que deixasse tudo para trás e
ficasse com ele. havia casos em que a máfia
russa deixava um dos membros sair e viver,
porém, ele duvidava que a própria moça
fosse querer ficar longe da família dela.
— E quando chegar aqui, ainda estará
perto da máfia. Tonny é um deles. Ela vai
acabar trabalhando para o tio!
Pela manhã, Bernardo tomou café,
conversou um pouco. Não, ele não
conversou, ele apenas respondia o que
falavam.
Ninguém se atreveu a forçá-lo a interagir,
afinal, ele precisava de tempo.
Depois de uma semana, Clara soube pela
mãe que o irmão continuava apático. Assim,
ela resolveu conversar com ele.
— Filha… — Carolina mordeu o lábio.
— Mãe, pelo amor. Bernardo é um homem,
não um menino! E ele vai me ouvir, como um
homem!
CAPÍTULO 35
Ao ouvir uma batida mais urgente na
porta, Bernardo colocou o celular ao lado do
corpo e se sentou na cama. Ele só voltaria
para a faculdade na semana seguinte.
— Pode entrar! — A porta se abriu e Clara
apareceu. O sorriso que ela ofereceu não era
dos melhores, Bernardo sabia —
Aconteceu algo?
Clara andou até o irmão, parando ao lado
da cama, as mãos na cintura.
— Você não tem vergonha, não? — Ela
perguntou, o cenho franzido.
Bernardo se sentou melhor e a encarou.
— Do que está falando?
— Larga de ser sonso! Acha certo o que
anda fazendo com a Rina?
— O que… Clara, ela e eu…
— Você nem sequer teve a decência de
terminar com ela!
Simplesmente a ignorou e, depois, foi
embora! Eu pensei que tivessem conversado!
Bernardo fechou os olhos e suspirou.
— Clara, as coisas são complicadas.
— Você só tinha que falar que estava
terminando! — Clara disse e balançou a
cabeça — Isso não se faz. Ou você ficou com
tanto medo que não conseguiu nem falar
com ela?
Bernardo se levantou rápido.
— Eu não… Eu não fiquei com medo!
Clara levantou uma sobrancelha e estalou
a língua, com um sorriso debochado nos
lábios e cruzou os braços.
— Pois o que chegou aos meus ouvidos foi
que você se urinou de medo.
Bernardo abriu a boca, incrédulo.
— Isso é mentira!
Clara deu de ombros.
— Você virou chacota, Bernardo — Ela
disse e o tom de Clara foi mais ameno — O
civil que não aguenta ver um sanguinho.
Bernardo já sabia que não era bem visto,
mas também não era para tanto.
— Ekaterina falou que eu me urinei?
Clara encarou o irmão por alguns
segundos.
— Ela não menciona você. Na verdade,
pelo que soube, ninguém nem toca no seu
nome, perto dela. Como se você não
existisse.
— Ah…
Clara ainda tinha os braços cruzados e
abaixou um pouco a cabeça, tentando
encarar os olhos do irmão, que miravam o
chão.
— Não fique aí como se fosse o ofendido.
O loiro franziu o cenho.
— Se você tivesse visto…
Clara levantou a mão, pedindo que o irmão
parasse de falar.
— Bernardo, eu não só vi o Tonny em
ação. Eu participei. Mais de uma vez.
Os olhos esmeralda de Bernardo se
arregalaram.
— Você…
— Nunca vi Tonny cometer uma injustiça.
Eu mesma cuidei de uma maldita mosca que
andava me infernizando e agiu para me
matar — Clara levantou o queixo, com
orgulho — E se alguém se meter com a
minha família, com os meus, eu não vou ter
um pingo de pena.
O tom de Clara era diferente. Bernardo
sabia que a irmã tinha o “sangue quente”,
mas não imaginou que ela fosse daquele
jeito.
— Não sentiu medo? Nunca? Quero dizer…
Tonny é gentil — Ele lembrou da conversa
deles no jardim e limpou a garganta —
Parece, pelo menos.
— Tonny é um cavalheiro. Um doce de
pessoa. Sempre foi — Clara olhou séria para
o irmão mais velho — Não confunda isso
com ser tonto. Ou ter sangue de barata.
Aquele rapaz ia matar Maksim, primo de
Ekaterina. Quase um irmão para ela. Nem
todos reagem assim, mas dado o mundo dela,
esperava que ela fosse diferente?
Bernardo arqueou as sobrancelhas por
alguns segundos, pensando.
— Maksim é diferente. E ele nasceu
naquele meio.
Clara sorriu de leve para o irmão.
— E olha o que isso causou a ele. Se faz
parte desse mundo, Bê, não pode ser passivo
demais. Doce demais. Infelizmente, essa é a
realidade — Ela colocou a mão no rosto do
loiro — Eu respeito se não quer fazer parte
disso. Mas pelo menos fale com a Ekaterina.
— Okay…
Clara virou-se para sair, mas voltou a ficar
de frente para o irmão.
— Amo você, Bê — E o abraçou, antes de
sair saltitando do quarto. Bernardo coçou a
nuca e sorriu, até olhar para o próprio
celular.
— Preciso falar com ela.
Mas ele não o fez naquele dia. E nem no
outro.
No domingo, um dia antes de ele voltar
para a faculdade, uma caixa foi deixada na
residência dos Castillo.
— O que é isso? — Máximo perguntou e
Carolina estendeu o objeto para o marido.
— É pro Bernardo. Veio da Russa.
A caixa era razoavelmente pequena e
Máximo puxou o ar pelos dentes. Ele
imaginava o que era aquilo.
— Eu vou entregar pro Bernardo, depois
do café.
Carolina abraçou o marido, enlaçando-lhe
a cintura com os dois braços, enquanto o
rosto dela descansava no peito do loiro.
— Por mais que eu queira nosso filho aqui,
eu acho que ele vai se arrepender por ter
saído da Rússia.
— Eu concordo, amor — Máximo
acariciou os cabelos de Carolina — Bernardo
gosta da garota. Mas… Ele é jovem. Às vezes
a gente tem que passar por certas coisas
para amadurecer.
Carolina levantou o rosto, apoiando de
leve o queixo no marido, enquanto o
encarava.
— Só espero que não seja tarde demais.
Nem todo erro dá pra voltar atrás.
Máximo suspirou.
— As coisas serão como tem que ser.
Na mesa, Máximo olhou para o filho.
— Preparado para voltar às aulas aqui?
Bernardo engoliu o suco.
— Pronto ou não, eu vou voltar. Não posso
perder o ano.
Máximo concordou com a cabeça.
— Certo.
Artur apenas observava e lhe doía que o
irmão mais velho estivesse tão mal. Até peso
Bernardo havia perdido. Os cabelos
pareciam sem brilho, a pele, ressecada.
“Eu só queria saber como ajudar…”, ele
pensou, triste.
Assim que todos terminaram de comer,
Carolina avisou que levaria Artur para
passear. Em realidade, ela ia na casa de
Osvaldo. Enquanto o mais novo dos
Castillo ficaria um pouco com Lucas, Carolina
conversaria com Emília. Máximo iria falar
com Bernardo.
Carolina havia chegado à conclusão, junto
com Máximo, que o filho iria querer ficar
sozinho, depois de abrir aquela caixa.
Máximo bateu na porta com dois dedos e
abriu-a.
— Posso entrar?
— Claro, pai — Bernardo estava
arrumando o material dele para o dia
seguinte.
Máximo estendeu a caixa para ele.
— Isso chegou para você.
Bernardo franziu a testa e pegou a caixa.
— Pra mim? — Ele perguntou, confuso,
pois não havia comprado nada. Ao virar a
caixa e ver que estava com o nome dele
escrito com a caligrafia de Ekaterina, o
coração dele parou por um segundo. Como
não havia selo, a caixa havia sido entregue
por um dos russos.
— Ekaterina veio deixar isso aqui? — Ele
perguntou e Máximo levantou uma das
sobrancelhas, como se devolvesse a
pergunta. Bernardo soltou uma risada triste
— Claro que não.
— Eu vou descer e, qualquer coisa, pode
me chamar — Máximo deu um beijo na testa
de Bernardo, antes de sair.
Este olhou para a caixa, virando-a algumas
vezes antes de decidir abri-la.
Ao puxar as abas de papelão para cima, ele
viu o que estava ali.
CAPÍTULO 36
As mãos do loiro tremeram, mas ele
inspirou fundo e retirou a pequena caixa de
veludo de dentro da de papelão. Ele sabia o
que era aquilo.
Por alguns minutos, ele apenas olhou para
a caixinha. A mesma que ele havia
apresentado a Ekaterina, de joelhos,
enquanto a pedia para se casar com ele.
Ele pegou o celular, mas não havia
nenhuma mensagem dela.
Bernardo abriu o app de mensagens e,
para a surpresa dele, a foto de Ekaterina
havia sumido.
“Ela…”, ele engoliu em seco, ficando
momentaneamente cego pelas lágrimas que
se acumulavam nos olhos dele e que, em
seguida, rolaram por seu rosto.
A mensagem era clara: Ekaterina não o
queria mais. Ela havia devolvido a caixa com
o anel de noivado e, inclusive, havia
bloqueado o número dele.
Em todos aqueles dias, Bernardo apenas
se sentia vazio, sem vontade de viver e, por
isso, não conseguia chorar.
Ao não falar com Ekaterina, era como se
ele tivesse tempo. Era como se as coisas não
tivessem acabado, mas apenas estavam
“congeladas”, esperando um desfecho e,
então, tudo voltaria ao normal.
Não mais. Ele sabia que não. Apesar do
silêncio dele, Ekaterina não era do tipo que
esperava para as coisas acontecerem.
Finalmente, Bernardo se deixou cair na
cama e chorou.
Apertou o travesseiro, desejando que
fosse Ekaterina, mas por mais fofo e
confortável que o item de cama fosse, não
era ela.
— Ah! Rina…— Ele olhou para a caixa
preta e se levantou da cama, indo até a
escrivaninha e pegando-a, abrindo-a em
seguida. O anel estava ali.
Ekaterina não era muito chegada a jóias,
mas ela mencionou que preferia outro
branco e, por isso, Bernardo escolheu aquela
peça. Não era grossa demais, mas ainda era
forte e delicada, ao mesmo tempo. Como
Ekaterina. E um diamante sozinho estava no
topo, imponente, mas não espalhafatoso.
Exatamente algo que Ekaterina usaria.
Dentro, havia um pequeno pedaço de
papel e Bernardo o pegou imediatamente,
mas precisou de alguns segundos para o
abrir.
“Não costumo devolver presentes, mas
este possui um significado que não mais nos
liga. Sendo assim, estou devolvendo-o.
E.S.”
Uma nota curta e fria.
Bernardo passou os dedos pelas letras e
fechou os olhos, imaginando Ekaterina
sentada escrevendo. Porém, não com o
sorriso que ela sempre mostrava quando
estava com ele, mas com os lábios crispados,
o maxilar trincado e os olhos, sérios.
“Ela me odeia?”, ele se perguntou e voltou
a se deitar.
Máximo não havia descido. Ele ficou do
lado de fora e ouviu o choro do filho,
sentindo a dor nele mesmo.
— Oh, meu filho… — Máximo suspirou. Ele
só queria poder impedir que o filho sentisse
aquilo, mas era impossível. E, no fim, fazia
parte do crescimento dele.
No dia seguinte, Bernardo desceu com o
rosto mais digno possível. Ele não estava
choroso, mas sério. Máximo sabia o que era
aquilo: uma tentativa de parecer forte.
— Boa aula, meu amor — Carolina falou,
beijando a testa do filho.
— Obrigado, mãe.
Na faculdade, muitos ficaram surpresos
com o retorno de Bernardo, mas como ele
parecia mais distante, não parecia certo
perguntar absolutamente nada.
Juliana Belfonte observou o loiro. Ela
mordeu o lábio ao vê-lo com uma aura
diferente.
— Oi! — Ela sentou-se ao lado dele.
Bernardo a olhou rápido e voltou-se para
o caderno dele.
— Hmm… Bem-vindo! — Ela falou.
— Obrigado.
— Que tal a gente sair. Sabe, comemorar o
seu retorno?
O maxilar de Bernardo se apertou. Ele se
virou lentamente para a moça de olhos
castanhos profundos e cabelos longos e lisos.
O sorriso dela falhou um pouco.
— Obrigado pela sua tentativa de ser…
Simpática — Ele sorriu sem muita vontade
— Mas eu não tenho nada a comemorar.
Agora, com licença.
Ele se voltou para o que estava fazendo
antes e Juliana fez um bico.
— Toda. Eu dou pra você — Ela disse, num
tom insinuante, mas se levantou e se afastou.
Bernardo suspirou, mas não desviou o
olhar.
Um mês passou rápido e ele apenas se
concentrava nos estudos, rejeitando
qualquer convite para sair. Fora a faculdade,
Bernardo ia para a academia. Academia de
muay thai.
Domingo, todos iriam almoçar na casa de
Osvaldo. Bernardo se sentia um pouco
desconfortável, mas negou o fato, quando
Carolina se ofereceu para ficar com ele em
casa.
— Tá tudo bem, mãe.
Ele não queria atrapalhar a amizade entre
as famílias. Por mais que Ekaterina não fosse
uma Herrera, ela ainda era sobrinha de
Osvaldo.
Bernardo entrou na casa, cumprimentou a
todos e, claro, foi muito bem recebido por
Emília.
Ao levantar os olhos, ele viu que Bianca e o
marido estavam ali, bem como Miguel.
Este olhou para Miguel e apenas balançou
a cabeça, de maneira educada, mas rígida. O
recado foi dado a Bernardo: estou falando
com você apenas para não fazer desfeita aos
seus pais.
— Parabéns pela gestação! — Bernardo
disse a Bianca, que o abraçou. Ela era a mais
doce dos Herrera.
“Herrera, não. Lowell”, ele se corrigiu.
— Obrigada, querido! — Bianca falou e
sorriu, mais do que feliz.
Samuel a olhava com admiração e amor.
Osvaldo foi educado, nem tão frio, porém,
não era o normal dele.
Após o almoço, Bernardo se viu sozinho, a
um canto, olhando pela janela da sala de
música. Ele suspirou, lembrando de Bianca,
tão feliz.
“Ekaterina ficaria feliz assim, se fôssemos
ter um bebê?”, ele se perguntou e sorriu. Sim,
ele sabia que ela ficaria.
Bernardo, que estava escorado na parede,
a impulsionou com o ombro, a fim de se
afastar e, ao virar-se, viu Miguel observandoo.
— Veio me quebrar a cara? — Ele
perguntou, após alguns momentos de
silêncio.
CAPÍTULO 37
— Não. Pyotr me mataria — Miguel
respondeu, as mãos nos bolsos — Ele estava
fumegando.
Bernardo concordou lentamente com a
cabeça.
— E Ekaterina. Como ela está?
Miguel estreitou os olhos.
— Se quer saber sobre ela, deveria
perguntar a ela — Miguel respondeu —
Quanto à saúde dela, eu posso te dizer que
está ótima. Mas de resto…
Miguel apenas levantou os ombros e
Bernardo suspirou.
— Ela me odeia?
— Cara, só quem sabe dos sentimentos
dela, é ela mesma — Miguel se aproximou —
Mas posso te dizer que alguns ali não se
sentem muito inclinados a te deixar em um
pedaço, se você aparecer em Moscow. Acho
que o único que não se sente assim é o
Maksim.
— Ele está bem, por sinal?
— Está em casa. Vai ficar cem por cento
em breve.
— Ele é um bom rapaz.
— É, sim.
Silêncio.
— Você não parece bem — Bernardo
comentou e Miguel o olhou surpreso.
— Eu? Por que diz isso? Eu tô ótimo.
— Certeza? Sei lá… — Bernardo fez um
círculo imaginário em frente ao próprio
rosto, olhando para Miguel — Você tá com
uma expressão diferente.
— Talvez seja tristeza por não poder te
quebrar.
— Eu duvido.
Miguel suspirou.
— Não vou discutir sobre isso.
Bernardo soube que era algo referente ao
coração.
— Ah, vocês tão aqui! — Bianca disse,
sorrindo para os dois — O chocoflan (bolo
de chocolate em baixo, com um pudim de
baunilha por cima e coberto com doce de
leite) tá pronto!
Emília era muito boa naquela sobremesa e
quando eles se reuniam na casa dos Herrera,
ela sempre a preparava.
Assim que chegaram na sala, Osvaldo
conversava com Samuel.
— … E ela vai aceitar casar com ele? —
Osvaldo perguntou, bebendo um gole do
suco de laranja.
— Eles parecem se dar bem. Gavin jamais
obrigaria Gemma a casar — Samuel
respondeu e Bernardo notou Miguel
inspirando forte. Pelo canto do olho, viu o
rapaz tenso.
“E depois diz que não gosta dela…”,
Bernardo pensou. “Mas aí, quem sou eu pra
dar pitaco?”
Emília olhou para o filho e balançou de
leve a cabeça.
— Aqui, Miguel, um pedaço pra você —
Ela disse e Miguel precisou de um cutucão de
Bernardo para “voltar à realidade”.
— Bom, o rapaz é um subchefe. E muito
bom, pelo que eu soube — Osvaldo falou —
Se ela gosta dele, fico feliz com a união da
sua sobrinha.
Samuel sorriu.
— Eu também. Sávio Moscatelli tem se
mostrado cada vez mais honrado. Sei que
todos esperavam que ela casasse com
um Don, mas se Gemma quer o rapaz… —
Samuel levantou os ombros e Osvaldo
concordou com um aceno de cabeça.
— Bom rapaz uma ova! — Bernardo ouviu
Miguel murmurar e teve que segurar o riso.
Miguel comia o chocoflan como se pudesse
matar a sobremesa a cada colherada.
Não demorou até que os Castillo
voltassem para casa e Bernardo não parava
de olhar para o celular. Ele entrava no app de
mensagens e olhava a conversa com
Ekaterina, como se a foto dela pudesse
aparecer a qualquer momento.
Os dias passaram e para ele, era como se
fossem apenas uma repetição de um sonho.
Ele acordava, tomava banho, comia, ia para a
faculdade, voltava para casa, trabalhava com
o pai, ia para a academia, estudava, dormia.
Juliana, bem como outras moças, insistiam
em convidá-lo para sair, mas Bernardo
continuava recusando.
— Por que só diz “não”? — Juliana
perguntou, um dia, enquanto Bernardo
comia um sanduíche. Ela segurou o pulso
dele, impedindo-o de dar outra mordida e
ignorar a pergunta dela.
Bernardo olhou para a mão dela, frio —
Qual é, loirinho! A gente não precisa
namorar…
— Solta o meu pulso — Ele falou por entre
dentes e suspirou — Por favor.
Bernardo engoliu em seco. Apesar de
ainda apático, ele se sentia um tanto quanto
explosivo e alguns momentos. E a última
coisa que ele queria era gritar com a garota
no meio da faculdade.
— Só se você aceitar sair comigo — Ela
acariciou a pele dele com o dedão e aquilo foi
a gota d’água para Bernardo.
— Estou sendo educado. Não vou pedir de
novo — Ele virou o olhar para ela, que sentiu
um frio na espinha e o soltou.
— Nossa… — Ela comentou e se levantou
— Eu só quero sair com você.
— Não toque em outra pessoa sem o
consentimento dela — Bernardo deu uma
mordida no sanduíche, olhando para frente e
Juliana entendeu que a “conversa” tinha
acabado.
Ela se afastou, irritada.
“Será que ele é gay?” , ela se perguntou.
Havia o rumor de que Bernardo Castillo
havia ido embora estudar, mas por conta de
uma garota. Alguns lembraram de tê-lo visto
com uma moça bonita, mas amedrontadora.
No entanto, estava óbvio que, fosse qual
fosse o nível do relacionamento dele com a
tal jovem, este havia findado.
Juliana não queria desistir. Ela era uma
moça bonita e cobiçada. Isso só a fazia sentir
ainda mais vontade de sair com o que ela
considerava o melhor naquela faculdade. E,
claro, Bernardo Castillo era o filho mais
velho de uma família prestigiada e rica. De
jeito nenhum ela desistiria fácil!
Os almoços de domingo continuavam
acontecendo e Bernardo se sentia cada dia
mais confortável. Ekaterina não estava ali,
mas aquela era parte da família dela e, de
algum jeito, ele se sentia próximo a ela.
Mais três meses se passaram.
— Eles virão para a Paixão de Cristo de
Iztapalapa? — Carolina perguntou e as
orelhas de Bernardo, se ele fosse um cão,
teriam se levantado.
— Sim, sim! Jannochka não é muito
religiosa, mas digamos que eles vão usar a
desculpa para passar uns dias aqui — Emília
respondeu — Acho que os meninos nunca
vieram nessa época, pra cá.
Por “meninos”, Bernardo sabia que se
tratava dos gêmeos. O coração dele parecia
ter dificuldade em bater.
— Quem vem? — Lucas perguntou e Artur
lhe deu um cutucão por baixo da mesa. Os
dois se olharam, como se pudessem se
comunicar sem palavras.
— Os meninos — Emília respondeu,
notando a expressão de Bernardo — Parece
que Aleksey virá, dessa vez.
— O menino do Yuri?
— Não, do Fyódor — Bernardo respondeu
e sorriu sem graça — Estou surpreso com a
vinda dele.
— Parece que… — Emilia olhou para
Carolina e suspirou — Parece que ele vai
passar um tempinho aqui. Para se acalmar.
Bernardo olhou para Emília.
— Ele tá com algum problema?
CAPÍTULO 38
— Ele só está um pouco aborrecente —
Osvaldo respondeu e todos sabiam que o
assunto estava encerrado.
Depois disso, Bernardo não prestou muito
mais atenção em nada. Só o que ele
conseguia pensar era que Ekaterina estaria
no México, perto dele, em breve.
Os dias se arrastavam. Ao mesmo tempo
que ficava nervoso e ansioso com o fato de
que estaria frente a frente com Ekaterina
novamente, Bernardo tinha medo da reação
dela.
Ekaterina não era escandalosa, não era
explosiva, como Pyotr.
Não que por dentro ela não ficasse com
raiva, porém, normalmente ela se mantinha
quieta e observava. Bernardo havia pensado
que ela não era de muitas brigas, mas ele
passou a repassar tudo o que tinha visto e
ouvido, desde que a conheceu, e se deu conta
de que ela apenas não era impulsiva.
Pyotr era o fogo que queimava rápido.
Ekaterina era o veneno, que matava
lentamente.
Um prato com buñuelos apareceu na
frente de Bernardo e ele viu Artur
segurando-o, com um sorriso gentil nos
lábios.
— Obrigado — Ele agradeceu ao irmão
mais novo.
— Pra você não ficar mais tão triste — O
menino disse e Bernardo não pode deixar de
sentir aquele calor no peito, aquele
“quentinho” — As coisas dão certo no final,
sabia?
Bernardo olhou para o prato e suspirou.
— Nem sempre.
A mão de Artur foi para os cabelos de
Bernardo, acariciando.
— Eu sou novo, mas sei que as pessoas
complicam muito as coisas. Tem vezes que
basta a gente falar o que pensa e sente, que
já resolve muita coisa.
Com isso, Artur sorriu mais abertamente e
se afastou.
Bernardo remexeu os lábios. Será que se
ele falasse com Ekaterina, se explicasse, ela
ao menos não o odiaria?
“Por favor, não me odeie”, ele sentiu que
choraria de novo. As lágrimas caíram.
Bernardo passava alguns momentos no
jardim, pela noite. E naquela em específico,
ele passou mais tempo do que o habitual.
Os Sigayev chegariam naquele dia e
Bernardo acordou com uma energia
diferente. Todos na casa perceberam quando
ele desceu as escadas.
— Ainda bem que hoje não teve aula, não
é? — Artur cochichou e Bernardo o olhou,
sem entender — Você vai poder se preparar
melhor.
— Me preparar?
Artur apenas sorriu, não dizendo mais nada
e voltando-se para o prato de frutas, dele.
— Você já tem a roupa para o aniversário
da Jade, filho? — Carolina perguntou e
Bernardo negou com a cabeça.
— Vou sair para comprar — Na verdade,
ele tinha muitas roupas, mas nenhuma delas
lhe parecia boa o suficiente.
Bernardo queria estar impecável.
— Precisa de ajuda? Hoje eu não vou ter
nenhuma reunião — Máximo falou e
Bernardo negou.
— Hmm, obrigado, pai. Mas eu posso ir
sozinho.
Máximo entendeu que o filho queria ir
sozinho. Era diferente.
— Tudo bem.
— Eu vou com a Em e com a Clarinha —
Carolina falou, contente.
— Pelo visto, Artur, somos só você e eu —
Máximo falou e viu o garoto fazer uma cara
estranha — O quê?
— É que… O Tonny vai levar Lucas e eu
para comprarmos as roupas e os presentes.
Máximo franziu a testa.
— Mas que coisa! Vamos ver se o Osvaldo
vai comigo. Estou me sentindo desprezado!
— Carolina colocou a mão na coxa de
Máximo, por baixo da mesa, e a apertou —
Bom, talvez não seja tão ruim.
Carolina sorriu de leve, mas Máximo
sentiu o olhar dela, cheio de promessas.
Depois de tomar banho, Bernardo se
arrumou e passou o perfume que Ekaterina
mais gostava. Lá no fundo, ele tinha
esperanças de que a encontraria na rua, no
shopping, mesmo sabendo que ela
provavelmente ainda estava no avião.
Cada vez que o carro parava em um sinal
vermelho, Bernardo olhava em volta. Mas,
óbvio, nenhum sinal da russa.
Ekaterina gostava quando ele vestia
roupas pretas, dizia que realçava a beleza de
Bernardo. Mas ela adorava quando ele usava
algo na tonalidade vinho, uma das cores
favoritas dela.
O loiro foi atrás de roupas dessas cores.
Ultimamente, ele usava mais preto, de
todo jeito. Era uma forma de se sentir mais
próximo a ela.
“E ainda assim, você não falou com ela…
Podia ter ligado!”, aquela voz da consciência
dele voltou a falar.
Ele sabia que era verdade. Ele poderia ter
ligado. Maksim, por exemplo, não havia
bloqueado o número dele. Pyotr o restringiu.
Aleksey não era tão próximo e, nem em cem
anos, Bernardo ligaria para Santiago ou para
Jannochka, a fim de pedir para falar com
Ekaterina, depois de tudo.
Ao sair de uma das lojas, satisfeito com a
escolha da camisa,
Bernardo quase esbarrou em alguém.
— Opa, desculpa! — Ele disse e a garota
levantou a cabeça.
— Bernardo! — Juliana falou, sorridente
— Nossa, que coincidência! Deve ser o
destino!
O rosto de Bernardo ficou mais sério.
— Com licença.
Ela segurou-lhe o braço.
— Calma aí! Você sempre recusa sair
comigo, mas hoje, já nos encontramos aqui!
Vamos aproveitar!
Bernardo retirou a mão dela do braço
dele.
— Eu não estou disponível.
— Como assim? — Ela perguntou,
soltando uma risadinha — Todo mundo sabe
que você terminou o namoro… Qual é, vai
dizer que eu não te agrado?
O sorriso de lado de Juliana poderia
conquistar muitos rapazes, mas Bernardo
não sentia absolutamente nada além de,
talvez, um pouco de repulsa.
— Todo mundo? — Ele perguntou e o
rosto dele ficou mais sombrio. Bernardo
aproximou-o de Juliana — Eu só gosto de
uma mulher. E você, pelo visto, gosta de se
humilhar. Ser mais claro que isso é
impossível: nem você e nem nenhuma outra
faz o meu tipo. Não me agrada de forma
alguma. Nem se nascesse em um corpo igual
ao dela, já que por dentro, jamais poderia
chegar aos pés.
Com isso, Bernardo se afastou e Juliana
estava com os olhos cheios de lágrimas.
Porém, não de tristeza.
“Ele não pode me humilhar desse jeito!”,
ela apertou os punhos. “Vou descobrir os
podres dessa vadia!”. “Se ela tivesse falado
mal de Ekaterina, nem sei como eu me
seguraria!”. Ele deu um tapa no volante.
“Merda!”
Enquanto dirigia de volta para casa, ele
não conseguia parar de pensar em como
seria o encontro com Ekaterina.
Ao chegar na casa, ele recebeu a notícia,
por Máximo, de que haveria um jantar na
casa dos Herrera e eles haviam sido
convidados.
— Se não quiser ir, tudo bem. O Osvaldo
sempre fez esses jantares quando o irmão
dele vem pra cá.
— Eu vou!
No carro, Bernardo segurou o volante e o
apertou com força, buscando se controlar. A
vontade que ele teve foi de ser muito mais
rude.
CAPÍTULO 39
Ao chegarem na casa dos Herrera,
Bernardo precisou respirar fundo algumas
vezes. Ele foi no próprio carro.
— Bem-vindo, maninho! — Clara falou e
beijou o rosto do irmão
— Vai dar tudo certo — Ela cochichou,
enquanto o abraçava.
— Ela tá aqui?
Clara concordou com a cabeça e Bernardo
puxou o ar, mas parecia que os pulmões dele
não conseguiam se encher completamente.
“Nada é suficiente”, ele pensou, entrando e
vendo Santiago perto de Osvaldo. O olhar
que o pai de Ekaterina lhe lançou deixava
claro que Bernardo havia perdido o respeito
de Santiago.
— Boa noite — Ele cumprimentou a todos.
Aleksey, que estava mais próximo, apenas o
olhou, sem nada dizer.
Emília o havia conhecido apenas
pequenino, mas sentiu um frio na espinha ao
ver o olhar do rapaz para Bernardo.
— Boa noite, querido! Venha, seus pais já
chegaram… — Ela disse, tentando apaziguar
o clima tenso.
— Obrigado, tia — Ele falou. No caminho,
Jannochka e Pyotr estavam voltando da
cozinha. Ela olhou para Bernardo como se
ele fosse um estranho. Não havia raiva,
apenas indiferença.
Ela fez um leve aceno com a cabeça, como
faria para qualquer pessoa que encontrasse
em um evento. Já Pyotr, muito
provavelmente não pulou em cima do loiro
porque a mãe não permitiria.
“Eu fodi com tudo”, Bernardo pensou.
Ele logo chegou perto dos pais e de Artur,
que conversava com um Lucas nem tão
empolgado. O menino parecia ter
envelhecido anos, depois dos meses de
treinamento.
Não havia sinal de Ekaterina. E nem de
Miguel. Bernardo franziu a testa.
— Tonny, cadê o Miguel? — Ele perguntou
e Tonny olhou em volta, antes de levantar os
ombros.
— Não sei — Ele respondeu — Faz mesmo
um tempinho que não o vejo.
Bernardo nunca havia sentido ciúmes de
Miguel e Ekaterina, afinal, eram primos. Mas
a ausência dos dois, por quase uma hora, o
estava deixando aflito.
“Melhor eu ir procurar. Pode ter
acontecido alguma coisa”.
Bernardo se viu subindo as escadas,
depois de ter dado uma volta pelo andar de
baixo.
— Acha que alguém vai notar? — Ekaterina
perguntou e Bernardo parou de se mover,
amaldiçoando os batimentos fortes dele
mesmo, que quase o estavam deixando
surdo.
— Acho que não — Miguel respondeu e
Bernardo ouviu barulho de tecido — Talvez,
porque demoramos muito. Será?
— Mas que droga, Miguel! — Ela parecia
irritada — Eu te disse que era melhor ter
tirado. Agora, amassou tudo!
— Ah, por favor! Fica melhor sem, mesmo.
Muito melhor.
Bernardo inspirou fundo. Ele pensou que
tinha parado de andar, mas não. Ele estava
perto da porta de onde as vozes saíam. Era
um dos quartos de hóspede.
Sem pensar, a mão de Bernardo empurrou
de leve a porta e ele viu Ekaterina ajeitando
os cabelos, enquanto Miguel fechava o punho
da blusa de manga comprida.
A russa notou a presença do loiro e o
encarou, pelo espelho. O olhar penetrante
dela era perigoso, mas Bernardo não
conseguia desviar.
— O que foi, Bernardo? — Miguel
perguntou, o cenho franzido — Procurando
algo?
Ekaterina se virou, agora de frente para
Bernardo. O vestido dela era preto, mais
para um tubinho, Os sapatos pretos de sola
vermelha eram bem altos, deixando-a
elegante. Os olhos com um simples
delineado, cílios com máscara e um batom
vinho lindíssimo, realçando os lábios dela.
Bernardo queria beijá-la. Arrastá-la para
longe de Miguel e beijá-la.
— Eu vou ficar com meus pais —
Ekaterina anunciou e caminhou até a porta.
Bernardo não se moveu. Ela o olhava com
indiferença — Com licença, senhor Castillo.
“Senhor Castillo”. A voz dela soou como
facas entrando nos ouvidos de Bernardo e
caminhando até o coração dele.
— Podemos conversar? — Ele pediu e ela
manteve a expressão fria.
— Não tenho tempo, agora. Talvez em
outro momento. Por gentileza, arrede para o
lado, pois eu preciso passar por essa
porta.
— O que fazia com Miguel? — Ele soltou e
Ekaterina inspirou fundo, usando as mãos
para empurrá-lo. Bernardo não ofereceu
resistência, mas ao tentar segurar as mãos
dela, não conseguiu.
Miguel segurou o pulso de Bernardo.
— Não encoste nela!
Bernardo puxou o braço, mas o aperto de
Miguel era forte.
— Me solta! — O loiro quase rosnou.
Ekaterina olhou para o primo.
— Estarei lá embaixo.
Miguel fez um leve aceno com a cabeça e
se voltou para Bernardo.
— Eu tenho paciência com você, Bernardo,
mas não me teste!
— O que você fazia aqui, sozinho, com ela?
Por que estava fechando a sua blusa? E os
cabelos dela…
Miguel sorriu de lado.
— Não sei onde isso é da sua conta — Ele
respondeu, debochado — O que eu faço ou
deixo de fazer com as mulheres, não te diz
respeito. E o mesmo se aplica à minha prima.
— Miguel, você sabe que…
— Sei o quê? Que você é um maldito
covarde? Que é um otário que foi embora
sem nem falar com a garota, abandonando-a
depois de prometer amá-la para sempre?
Sim, eu sei disso muito bem — Miguel estava
ameaçador — Esteja feliz que sou eu, aqui, e
não Pyotr. Ele vai arrancar a sua bela pele
bronzeada se pegar você tocando em
Ekaterina novamente.
Miguel deu um empurrão em Bernardo e
passou por ele.
— Vocês estavam se pegando?
— Vou te deixar pensar sobre essa
pergunta e chegar a uma conclusão por si só.
Quando desceu, Miguel foi parado por
Ekaterina, que estava escorada na parede.
— Obrigada, mas não precisa me defender
assim — Ela falou.
— Eu sei que não precisa ser defendida. É
mais perigosa do que eu — Miguel sorriu —
Mas ainda é a minha priminha. Mais nova.
Ela revirou os olhos.
— E sobre o que conversamos…
— Rina, por favor.
— Não espere o dia do casamento pra
admitir o que sente.
Ela se afastou e Miguel fez uma careta.
“Não estou apaixonado!”, ele disse para si
mesmo, mas não havia convicção ali.
Tirando o telefone do bolso, Miguel viu o
que não queria: não havia mensagem alguma
de Gemma.
Pyotr se aproximou e passou o braço pelo
ombro do primo.
— Você vai pros Estados Unidos no mês
que vem? — Ele perguntou e Miguel
concordou com a cabeça — Mais viaja que
tudo…
— Minha irmã está grávida, seu cabeção!
Papai e eu vamos pra lá, enquanto Tonny
permanecerá aqui e cuidará das coisas. Ele
foi pra lá mês passado.
— Pois eu acho que você quer ir pra lá por
outro motivo,também. E esse motivo começa
com G…
Miguel empurrou Pyotr, que sorria.
— Você fica inventando historinha na sua
cabeça. Não sabia que era fanfiqueiro, Pyotr.
— Eu? — Pyotr apontou com o indicador
para si mesmo, as sobrancelhas levantadas.
— Vai ver que é porque está
apaixonadinho.
Pyotr deu de ombros.
— Não admito e nem nego.
Bernardo passou por eles e o olhar de
Pyotr ficou mais escuro.
— Calminha, Pyotr.
— Que ódio desse loiro cretino!
— Eu acho que ele tá arrependido.
— Foda-se! Minha irmã nunca ofereceu o
coração a ninguém.
Ele foi o sorteado, mas jogou no chão e
pisou na Ekaterina.
— Não acho que ela vá aceitar de volta.
Não facilmente. Mas…
Ainda é escolha dela.
— Não se ele estiver debaixo da terra —
Pyotr tinha um olhar e um sorriso
assassinos.
— Se criar confusão aqui, sua mãe te mata.
Pyotr não deu um passo, mas estava se
corroendo por dentro.
Ele sabia que Bernardo estava indo atrás
de Ekaterina.
CAPÍTULO 40
Santiago viu Ekaterina passar para o
jardim e sabia que a garota andava mais
reclusa. Se antes não gostava de festas,
depois de Bernardo, ela passou a evitar a
todo custo. Levá-la para o México acabou
sendo uma forma de “ou ela volta pra ele, ou
larga de vez”.
Quando Bernardo passou por ali, Santiago
quis ir atrás, mas Jannochka colocou a mão
no peito do marido.
— Amor, ele…
— Deixa eles. Eu sabia que era melhor eu
estar aqui do que o Yuri.
Santiago se virou para a esposa.
— O que quer dizer com isso?
— Você convence o Yuri bem facinho a
fazer o que você quer…
— Jannochka estreitou os olhos — Se não
tivesse certeza de que você me ama e de que
ele não curte homens, ficaria com ciúmes.
Santiago revirou os olhos.
— Deixa essa festa acabar que eu te
mostro como eu te amo.
Jannochka aproximou a boca do ouvido de
Santiago.
— Adoro quando late pra mim.
No jardim, Ekaterina se sentou no
pequeno balanço que havia ali. Ela detestava
festanças e Bernardo ali… Tudo era
sufocante!
— Vai ficar aí me olhando? — Ela
perguntou e ouviu passos.
Bernardo ficou quase em frente a ela — O
que quer?
— Acho que precisamos conversar.
Ela inspirou fundo e soltou o ar,
balançando a cabeça.
— Não acho. O silêncio pode dizer muitas
coisas, Bernardo. E você, nesse aspecto, falou
bastante e mais do que o suficiente.
Ekaterina se levantou, pronta para voltar
para dentro, mas Bernardo se colocou na
frente dela.
— Desculpe ter ficado calado. Desculpe ter
ido embora sem conversar com você. É que…
— Ele olhou para baixo e Ekaterina
permaneceu calada, sem se mover. Bernardo
levantou o olhar
— Eu fiquei chocado com o que vi.
— E o que você viu?
— Você estava… Torturando. Não, você
estava gostando de despedaçar uma pessoa
e…
Ekaterina endureceu o olhar.
— Qualquer um que atacar a minha
família, vai ter uma morte dolorosa. E sim,
Bernardo, eu vou ter muito prazer em ver o
cretino estrebuchando — Bernardo segurou
a respiração — Ficou com medo de mim?
Medo de eu te atacar?
Era possível sentir a mágoa nas palavras
de Ekaterina.
— Não. Me atacar, não. Mas…
Ekaterina negou com a cabeça.
— Você realmente não serve para a máfia
— Ela deu um passo para trás — Ainda bem
que você não nasceu nesse meio. E ainda
bem que você e eu não nos casamos,
Bernardo.
— Você nunca pensou em viver diferente?
Ekaterina soltou uma gargalhada, mas os
olhos dela permaneceram frios.
— Acho que você realmente não
compreende… Se não fosse a máfia, eu ainda
teria o gênio que tenho. Eu ainda seria eu
mesma. Talvez eu não matasse? Talvez.
Afinal, eu não estaria “amparada” pela máfia
para cometer esse tipo de crime — Ela olhou
diretamente nos olhos do loiro — Mas eu
foderia sim com a vida de quem quer que
tocasse em quem eu amo. Essa sou eu,
Bernardo. E eu NÃO VOU mudar. Nem por
você, nem por ninguém.
Os dois se encararam por alguns
segundos, mas que pareceram horas.
Bernardo tirou a caixinha com o anel, do
bolso. Ekaterina estreitou os olhos, de leve.
— Eu comprei pra você. É seu.
— É uma jóia tão bonita. Seria uma pena
se se perdesse dentro das entranhas de
alguma das minhas vítimas — Ekaterina
soltou, com desdém.
— Rina, eu realmente sinto muito por ter
agido como agi.
— É, você já disse isso. Mais algo?
— Não precisamos ser inimigos.
Ela riu, cruzando os braços e dando um
passo na direção de Bernardo.
— Se você fosse meu inimigo, estaria
morto.
— Não quero perder você… Podemos ser
amigos, pelo menos?
Ele não queria ser só amigo, mas Bernardo
iria se agarrar ao que podia. Ainda mais
depois de vê-la na frente dele novamente.
— Você me via como se eu fosse outra
pessoa, logo, nunca me teve, para poder
perder. E eu não sou amiga de ex. Serei
educada, mas evite falar comigo. Não sou
muito fã de ficar falando com estranhos.
— Eu pedi desculpas. Perdão!
Bernardo queria abraçá-la, beijá-la.
— Okay. Eu ouvi, não sou surda. Mas o que
espera de mim?
Que eu largue tudo por você? — Ela
levantou o queixo — Levo a vida que me
corresponde. Eu gosto de como vivo.
— Deixaria o homem certo por isso? —
Bernardo perguntou.
— O homem certo não me pediria para
largar a minha vida. Ele me aceitaria como
eu sou, por quem eu sou — Ela apertou o
maxilar — Assim como eu o aceitaria do jeito
que ele é.
Com isso, Ekaterina se virou e Bernardo
caiu de joelhos.
“Eu não sou o homem certo pra ela, não
é?”, ele se perguntou e a cena de Ekaterina
com Miguel brotou na mente dele. Ele não a
queria com outro.
Antes de Ekaterina entrar, Bernardo se
levantou rápido e chegou perto dela e a
puxou para ele, encostando as costas
dela na parede.
— Ficou maluco? — Ela perguntou, os
olhos queimando.
— O que tava fazendo com Miguel?
— Ah, me poupe! — Ekaterina colocou as
mãos nos braços de Bernardo. Ela era forte,
boa em camuflar os sentimentos, mas a
proximidade dele era intoxicante — Não é da
sua conta!
— Não suporto a ideia de outro homem…
— Bernardo apertou os dentes e deu um
soco na parede, com a lateral do punho.
— Pois é bom se acostumar. Porque pode
ser que eu me case e tenha a certeza de que a
última coisa que vai rolar, é eu ficar longe da
cama do meu futuro marido.
Ekaterina não pretendia casar com
ninguém, a não ser que não houvesse jeito.
Ou que viesse a se apaixonar.
“Mas Bernardo tem que aprender o lugar
dele!”.
— Ekaterina!
— Me. Solta!
— Tudo bem aqui? — Osvaldo apareceu e
olhava de um para o outro. Ambos com os
rostos vermelhos.
Bernardo soltou Ekaterina, que fez uma
reverência para o tio e se foi.
— Tio… Ah! — Osvaldo segurou Bernardo
pela parte de trás do pescoço e começou a
falar, baixinho.
CAPÍTULO 41
— Ekaterina ainda é boazinha, ou ela teria
arrancado os seus braços — Osvaldo apertou
mais — Tenho um carinho imenso por você,
como se fosse meu filho de sangue,
Bernardo. E é por isso mesmo que eu vou te
tratar como tal. Se não tem colhões para a
nossa vida, então fique longe da minha
sobrinha.
Ele soltou Bernardo, que já estava vendo
pontos pretos.
— Último aviso.
Osvaldo passou por Máximo, que
estranhou o semblante do amigo e, ao olhar
mais adiante, viu Bernardo se apoiando na
parede. Ele entendeu o que houve.
— Você tá bem?
— Tô — A voz de Bernardo saiu rouca —
Tio Osvaldo tem um puta aperto.
Máximo soltou uma risada rápida.
— Se Ekaterina fosse minha filha, eu já
teria quebrado você todinho — Bernardo
olhou para o pai, boquiaberto — O quê?
Quando tiver filhos, você vai saber. Você
ficou uma fera, com toda a história da Clara…
Bernardo engoliu em seco. Sim, ele tinha
ficado com ódio, mesmo. E então, ele se
colocou no lugar do Pyotr.
“Não é de admirar que queira a minha
morte”.
Bernardo saiu dali com Máximo e
voltaram para onde as pessoas estavam.
Alguns poucos membros da máfia
apareceram ali, a fim de dar as boas vindas a
Santiago e aos herdeiros da Tambovskaya,
bem como conhecer Aleksey.
Ao olhar para um dos cantos, percebeu um
rapaz, perto demais de Ekaterina, que
parecia entediada.
“Aquele filho da puta!”, Bernardo apertou
os dentes e começou a andar em direção aos
dois.
— E então… — O rapaz de cabelos
castanhos falava entusiasmado, quando
percebeu a presença de Bernardo —
Pois não? — Ele perguntou, com a
sobrancelha levantada.
Ekaterina olhou para Bernardo e ele a
encarou.
— Preciso falar algo com você. É urgente.
Ela apertou a sobrancelha e sabia que
Bernardo estava mentindo.
— Certo. Com licença — Ela falou
educadamente para o rapaz, que pareceu
desolado.
— Mas…
— É urgente! — Bernardo insistiu, e
estava prestes a colocar a mão na cintura de
Ekaterina, mas pensou melhor.
Os dois se afastaram e Ekaterina suspirou.
— Por que mentiu? — Ela perguntou e
Bernardo estava com o rosto vermelho.
— Como assim? Não viu que ele tava
dando em cima de você?
Descarado de uma figa!
Ela pegou a bebida de cima da mesa,
disfarçando a carranca.
— E daí?
Bernardo a olhou, e apertou os lábios.
— Estava gostando? Quer a atenção dele?
— O loiro engoliu em seco.
Ainda sem olhar para Bernardo, Ekaterina
tomou um gole da bebida.
— Talvez sim, talvez não… — Ela suspirou
falsamente — O que eu gosto, o que eu
quero… Nada disso diz respeito a você,
Bernardo Castillo.
— Rina…
— Senhorita Sigayeva — Ela o corrigiu —
Eu sou prima do seu cunhado. Não temos
uma relação próxima. Não pode me chamar
pelo primeiro nome e, muito menos, por um
apelido.
Bernardo sentiu o peito dele contrito, nem
a saliva queria descer. Ekaterina estava
rompendo qualquer laço sentimental com
ele.
— Não faz isso, Rina.
Os olhos dela ficaram mais duros quando
o encararam.
— Eu não dou segundas chances, Senhor
Castillo. Detesto andar com problemas
pendurados no meu pescoço —
Bernardo viu algo perigoso nos olhos de
Ekaterina — Dirija-se a mim apenas se
estritamente necessário. Não sou sua amiga.
Não sou nada sua além de uma parente
por casamento familiar. Mantenha o decoro,
e eu manterei meu espírito assassino
guardado.
Sem mais, ela se afastou, indo para perto
do irmão, que observava a cena e, ao ver
como Ekaterina foi dura com Bernardo,
deixou um sorriso de escárnio tomar-lhe os
lábios.
Todos foram chamados para jantar, na
enorme mesa na ala da mansão que Osvaldo
deixava para eventos com mais de vinte
pessoas.
Bernardo não parava de lançar olhares a
Ekaterina que, ao que parecia a ele, não o
notava.
Após irem para casa, Bernardo não falou
nada e Máximo decidiu que não iria
“perturbar” o filho tão tarde da noite.
— Eu fico preocupada… Ultimamente o
Bernardo parece mais dentro de si e se irrita
tão fácil — Carolina comentou, deitandose
nos braços de Máximo.
— Sim, eu percebi. Acho que todos já
falamos o suficiente e agora, cabe a ele tomar
a decisão certa — Máximo acariciou a pele
da esposa — Ele vai ter que ter muita força
de vontade e colocar os neurônios pra
funcionar, se quiser que a menina Sigayeva o
aceite de volta.
— Ele a abandonou — Carolina falou
baixo e Máximo sabia que a esposa tinha
uma impressão terrível sobre abandono. Ele
a abraçou.
— Eu sei, meu amor. Eu sei — Máximo a
beijou na testa e se inclinou mais, para beijar
os lábios — Deve ser mal de família.
Carolina sabia que Máximo nunca se
perdoou por tê-la abandonado quando
grávida e ficou por cima dele, beijando-o.
— Mas no fim as coisas se ajeitam.
No dia seguinte, seria a festa de Jade.
— Eu tenho mesmo que ir? — Aleksey
reclamou para Santiago.
— Sim. Todos nós vamos.
— Vai tá cheio de policiais! — O rapaz
insistiu e Santiago o olhou feio — Olhar
assim pra mim não muda esse fato, tio.
— Aleksey, Eduardo não vai armar pra
gente. Tá tudo sobre controle. Relaxa.
— Tenho um pressentimento ruim.
Santiago sorriu de lado e soltou uma
risadinha.
— E desde quando você é supersticioso?
— Não sou. Mas às vezes as pessoas
sentem que algo está errado. Não é
superstição. É autopreservação!
— Seja como for, nós vamos. Vá tomar o
seu banho e se prepare.
Aleksey não respondeu, mas pensou que
não era uma criança pequena para ser
tratado daquela forma.
“Eu tenho quinze anos!”, ele reclamou
internamente, mas fez o que Santiago
mandou.
Duas horas depois, os Herrera e os Sigayev
estavam na porta dos Romero. Jade abriu a
porta, radiante.
— Oi! — Ela falou e cumprimentou a todos
— Ah, que prazer em vê-los!
— Feliz aniversário! — Santiago falou e
Aleksey, que soube pelo tio Yuri a respeito
de o marido da Don ter arrastado asa para a
tal ruiva, logo olhou para Jannochka, que não
parecia incomodada.
— Obrigada!
— Eduardo está tentando um “churrasco
brasileiro” — Ela apontou para a parte de
trás da casa e então, quando se virou, os
olhos dela bateram em Aleksey.
— Nosso sobrinho! Aleksey! — Osvaldo
falou.
— Que olhos lindos! — Ela disse — Prazer,
Aleksey. Não temos muitas crianças, aqui.
Mas a Anna tem idade próxima!
Aleksey abriu a boca, indignado.
CAPÍTULO 42
O cutucão de Pyotr o manteve calado.
“Eu não sou criança!”, ele apertou os
punhos e, ao entrar na casa, se olhou no
reflexo do espelho imenso na entrada. “E
nem pareço com uma! Que absurdo!”.
Eles entraram na festa e estava cheio de
pessoas desconhecidas. Aleksey falava
espanhol, bem como outros idiomas, já que
Jannochka acreditava ser essencial falar
várias línguas. Para os negócios.
Lucas estava ao lado de Aleksey, e, então, o
menino foi quase derrubado.
— Ai, vai me sufocar! — Lucas reclamou e
Aleksey notou braços em volta do primo.
Então, uma garota surgiu quase em frente a
eles.
Os cabelos loiro-avermelhados da menina
eram longos e Aleksey podia jurar que, com
certeza, também eram sedosos.
O castanho dos olhos dela eram um pouco
esverdeados, mas quentes.
— Lucas! Eu achei que nunca mais veria
você! — A menina fez
uma carinha triste, como se fosse chorar,
mas tinha um sorrisinho nos lábios e deu um
pequeno tapa no braço do garoto — Como se
atreve a sumir desse jeito?
— Ai! Vim aqui pra ser agredido? — Lucas
brincou e Aleksey revirou os olhos. Anna o
encarou.
— Quem é esse?
Lucas fez cara de desdém e, em seguida,
um sorriso de lado se formou nos lábios dele.
— Por que, Anninha? Interessada? — Ele
perguntou, provocativo. Anna fez uma careta
e mostrou a língua — Agindo tão infantil não
vai conquistar meu primo.
— Deixa de ser ridículo, Lucas! — Ela
passou a mão pelos cabelos e depois, a
estendeu a Aleksey — Eu sou a Anna!
Prazer!
O russo sabia que seria de mau gosto não
apertar a mão da garota, afinal, ela era filha
da dona da casa.
— Aleksey — Ele respondeu e Anna
sorriu.
— Nossa, que diferente! A forma como
você fala…
— Ele é russo, sua tonta! — Lucas falou e
Anna o recriminou com o olhar.
“Pelo visto, eles são muito amigos. Lucas é
mais calado do que isso…”, Aleksey pensou.
— Eu não sou tonta!
Lucas e Anna começaram a discutir. Aleksey
apenas balançou a cabeça de um lado para o
outro, pensando que estava lidando com
criancinhas.
— Ah, olha, o Artur chegou! — Anna deu
um pulinho e se afastou.
— Achei que depois de começar a treinar,
você ficaria mais maduro — Aleksey
cochichou para Lucas. Este franziu a testa.
— Anna é minha amiga. Quase uma irmã
— Lucas respondeu e olhou para a garota —
E ela é fofinha. Como é que eu vou ser grosso
com ela?
Aleksey levantou a sobrancelha.
— Acho que quem tá interessado aqui, é
você — Ele disse e olhou a garota — Nela.
Lucas fez uma careta.
— Ai, tá doido?
O russo deu de ombrots.
— É o que parece. Mas se não se espertar,
aquele ali vai passar na sua frente.
Anna estava pendurada em Artur. Aleksey
viu a mão do garoto na lombar da menina e
achou que aquilo era muito abuso.
— O Artur? — Lucas soltou uma risadinha
de incredulidade — Olha, eu duvido muito!
— Por quê? Você se acha melhor?
Lucas negou com a cabeça.
— Não. Mas… Bom, eu não acho que a
Anna faça o estilo dele.
Só isso.
Quando falou isso, Lucas olhou para baixo.
Aleksey mirou o rosto do Castillo mais novo
e levantou as duas sobrancelhas, abrindo a
boca em um “ah!”.
— Entendi.
— E o seu? Ela faz? — Lucas perguntou —
Só pra saber, mesmo.
— Ela é uma criança. Eu, não.
— Ah, certo, senhor adulto.
— Você é muito confiado, garoto.
Lucas sorriu de lado.
— E você, rabugento!
Com isso, Lucas se afastou, deixando
Aleksey sozinho. Este olhou em volta e
suspirou.
“Mas que droga!”, ele caminhou até a mesa
de doces e pegou um, mas alguém bateu na
mão dele. Aleksey virou o rosto lentamente
na direção do agressor.
— Não pode comer isso, ainda! — O
menino de aproximadamente dez anos falou,
com um olhar reprovador.
Aleksey estendeu a mão e pegou o doce,
sem quebrar o contato visual com o menino,
que engoliu em seco.
— Se tocar em mim de novo, fedelho, vou
fazer você comer esses doces, mas não pelo
buraco convencional! — O tom de
Aleksey foi baixo, mas causou arrepios no
garoto. O russo jogou o doce na boca e se
afastou.
Aleksey foi para perto dos Herrera e Pyotr,
que tinha observado tudo, o olhava com
deboche.
— Já tá causando terror? É período de
Páscoa, priminho.
— Esse bostinha tem sorte em estarmos
rodeados de policiais.
E a sua mãe ter me proibido de matar
alguém.
— O que vocês dois cochicham? — Lucas
perguntou.
— Achei que estaria com sua
namoradinha — Aleksey devolveu e Pyotr
olhou imediatamente para Lucas.
— Como assim? Você tá namorando e não
contou nada?
— Quem tá namorando? — Miguel
perguntou.
— Namorando? Quem? — Santiago se
meteu.
Lucas abriu a boca, como bobo. Então,
olhou para o primo russo.
— Eu não… Eu não tô namorando! — Ele
acabou falando alto demais. Algumas
pessoas em volta o olharam e ele apertou os
lábios, o rosto todo vermelho.
— O Aleksey disse que ele tá — Pyotr
insistiu.
— Qual é, conta pra gente. Eu sou o tio
legal… — Santiago sorriu simpático.
— Vocês parecem um grupo de
fuxiqueiras! — Osvaldo os repreendeu.
— E você aquela velha chata que sempre
acaba com a diversão! — Santiago devolveu.
Os rapazes seguraram o riso.
— Você não cresce, Santiago!
— Cresci onde importava — Santiago
sorriu de lado e Osvaldo jogou as mãos pro
alto, afastando-se e resmungando um
“francamente!”.
Enquanto isso, Ekaterina se mantinha
calada, ao lado deles.
Pyotr suspirou e colocou o braço pelos
ombros da irmã.
— Eu sei que você não fala nada, mas
aquele loiro desgraçado tá te afetando ainda,
não é? — Ele sussurrou.
— Não se deixa de amar do dia pra noite,
Pyotr. Mas fique tranquilo, irmão — Ela
olhou para o rapaz — Eu não vou sofrer pra
sempre. Sofrer por quem não me quer, por
quem eu sou, não está nos meus planos.
Pyotr ofereceu um sorriso carinhoso à
irmã.
— Eu sei. Mas ainda estou fulo da vida! —
Ele passou a mão pelos cabelos. Ekaterina
sorriu ao olhar mais pra frente. Pyotr seguiu
o olhar dela, confuso — O que foi?
— Acho que alguém está ficando gamada
— Ekaterina não encarou muito, para não
constranger a garota.
— Quem? — Ele olhou em volta e só uma
menina o olhava de vez em quando, com o
rosto vermelho — Tá brincando, né? Ela é…
CAPÍTULO 43
— Ela é bonita… Só não é pra agora. Ou
por alguns bons anos, se a pobrezinha ainda
estiver apaixonadinha. Espero que ela crie
juízo e caia fora — Ekaterina deu um tapinha
de consolo no peito do irmão.
— Eu não sou maluco! A Anna é uma
criança! E… O que quer dizer com “crie
juízo”?
— Como eu disse, não é pra agora —
Ekaterina respondeu — E você sabe muito
bem do que estou falando. Nenhuma garota,
em sã consciência, iria se meter com você. A
Anna é tão boazinha. Ainda bem que ela é
novinha e você, um crush.
— Na boa, eu aqui tentando consolar você,
e você me joga uma dessas! Eu sou muito
bom rapaz, tá? Além disso, eu já ten… — Ele
se calou.
— Sei bem que tem uma namorada, Pyotr.
Eu estou só brincando com você. Não sou
maluca. É óbvio que a filha do policial tem
uma quedinha por você. Desde menorzinha
ela tem esses olhinhos pro seu lado. Coitada,
péssimo gosto pra homens — Ekaterina
suspirou e sorriu para o irmão — Agora, me
diz, quem é?
— Eu não…
— Vai mentir pra mim?
Pyotr suspirou.
— Não estamos namorando.
— Ainda — Ekaterina falou e Pyotr
acabou sorrindo.
— Ainda.
— Mamãe vai investigar a vida dela
todinha, se já não o fez.
Você sabe disso, né?
Pyotr deu de ombros.
— Lisa não tem o que esconder.
— Lisa… Esse nome não me é estranho…
— A vizinha do Kazimir.
— Ah… — Ekaterina ficou mais séria.
— O que foi?
— Nada — Ela sorriu, disfarçando —
Tenha cuidado. Você sabe o passado dela?
Pyotr revirou os olhos.
— Ela é só uma garota comum.
— Você a investigou? — A gêmea insistiu.
— Claro que sim. Me acha tão burro?
— Certo.
Jannochka chamou Ekaterina, que foi para
junto da mãe. Pyotr mordeu a bochecha
internamente. Não, ele não havia investigado
nada.
“Como se tivesse algo pra investigar. A
garota é só uma civil! O que poderia ser tão
horrível? Ela ser da máfia?”, ele riu sozinho.
Bernardo estava calado, apenas
observando tudo. Quando Rômulo, que
chegou mais tarde, começou a cumprimentar
a todos, Bernardo não deu atenção. Isto é, até
que o rapaz quase albino se aproximou de
Ekaterina e colocou a mão nas costas dela, ao
beijar-lhe o rosto.
O copo na mão de Bernardo se espatifou.
Clara, que estava mais próxima, correu até o
irmão. Ekaterina apenas o olhou, com o que
o loiro entendeu ser desinteresse. Isso o fez
ficar com mais raiva.
Rômulo foi até ele.
— Caramba, Bernardo! Peraí que eu vou
buscar o kit médico!
— Não precisa — Bernardo falou entre
dentes, tentando não ser grosseiro. Rômulo o
olhou, confuso.
— Claro que precisa. E tem que lavar…
— Eu ajudo o meu irmão, Rômulo. Muito
obrigada! — Clara usou um tom gentil e
educado. Rômulo sorriu para ela.
— Tudo bem, Clara.
Bernardo, então, se deu conta de que
Rômulo ficaria ali, longe dos olhos dele, mas
perto de Ekaterina.
— Tudo bem, Clara. O Rômulo me
acompanha. Fica aqui.
Clara ia insistir, mas a mão no ombro dela,
de Tonny, e o olhar dele, a fez apenas
concordar com a cabeça. Assim que os dois
rapazes se afastaram, ela olhou para o
marido.
— Mantenha os amigos perto e os
inimigos mais perto ainda, meu amor —
Tonny cochichou, dando um beijo no rosto
da loira.
— Hmmm… — Ela franziu a testa —
Inimigo?
— Ai, meu amor… Rômulo colocou a mão e
a boca, na Ekaterina.
— Eu juro que não vi isso…
Tonny beijou o maxilar de Clara, que
fechou os olhos, se segurando para não
morder os lábios.
— Mas Bernardo viu, quando Rômulo a
cumprimentou.
Nenhum homem gosta que encostem na
sua mulher, ainda mais quando ela está “de
mal” com ele.
— Ekaterina e ele não estão juntos. Mas eu
entendo — Clara levou a mão ao pescoço de
Tonny — Não gosta quando eu cumprimento
os outros homens?
Tonny apertou a cintura de Clara.
— Eu odeio. Mas eu sou um rapaz crescido
e que sabe se controlar. Só os mato na minha
cabeça.
Clara riu.
— Que marido ciumento!
Alguns policiais sabiam quem era Osvaldo
Herrera, mas nada fizeram. Rômulo era
amigo da família, ainda que não se
envolvesse com o “limpar os rastros” e, por
isso, ninguém se metia nos assuntos deles.
Pyotr olhou em volta, depois que haviam
comido e se aproximou do pai.
— O que vai me pedir?
— Credo, eu nem falei nada! — O rapaz se
defendeu e Santiago o olhou com descrença
— Certo! Só quero saber se podemos ir na
boate…
— Não.
— Pai! Qual é! — Pyotr aproximou mais o
rosto — Talvez a Rina se divirta.
Santiago estreitou os olhos.
— Você, rapazinho, é muito manipulador.
Pyotr fez beicinho.
— Tá funcionando?
Com o dedo indicador e o médio
segurando a ponta do nariz, Santiago
suspirou.
— E quem iria?
— Rina, Miguel, Aleksey…
— Não.
— Pai…
— Aleksey é menor de idade. Muito menor
de idade. Ele não vai.
— Mas…
Santiago negou com a cabeça.
— Ele não parece ter quinze anos, quando
olha pra gente daquele jeito. Mas dá pra ver
que é novinho. Vamos evitar estresse, sim?
Osvaldo vai ficar muito puto se receber
qualquer ligação da polícia. Ele é o Don, aqui.
Pyotr suspirou.
— Podemos ir?
Após alguns segundos encarando o filho,
Santiago concordou.
— E nada de Aleksey!
Ao se aproximar de Miguel e Ekaterina,
Pyotr tinha um sorriso no rosto e anunciou a
ida à boate.
— Você não vai — Ele deu a notícia a
Aleksey. O sorriso deste murchou.
— Mas por quê?
— Ordens do papai. Vai reclamar com ele?
Aleksey soltou o ar, bufando.
— Não.
— Boa noite, então, priminho! Não
esqueça de escovar os dentes antes de
dormir.
— Você só sabe fazer chacota de mim!
Nem sei porque me mandaram pra cá! —
Aleksey virou o rosto.
Ele desconfiava do real motivo, mas
esperava que, quando
retornasse à Rússia, os pais tivessem se
acertado. Fyódor
havia explicado ao filho seus motivos e o
garoto compreendeu.
Bernardo viu quando os jovens se
despediram e franziu o
cenho.
— Pra onde eles tão indo? — Ele vocaliza
sem querer.
— Boate — Tonny respondeu.
O loiro se virou para o cunhado.
— Sabe qual?
CAPÍTULO 44
Ao chegar à boate, Bernardo olhou o
apinhado de pessoas e torceu o nariz. Houve
um tempo em que ele gostava de sair e se
divertir, paquerar, mas depois que se decidiu
por Ekaterina, qualquer lugar sem ela, era
sem graça.
“Mas que inferno! Onde eles estão?”
Não demorou até Bernardo avistar
Ekaterina, um copo de bebida na mão,
sugando no canudo. Bernardo engoliu em
seco. O olhar de Ekaterina pousou nele, mas
apenas por alguns segundos.
“Ela é linda demais!”, o loiro pensou.
Ekaterina e os outros subiram para a área
V.I.P. Bernardo sabia que eles não iriam ficar
ali, no meio do povo. Exceto os meninos, mas
apesar de Ekaterina poder se cuidar sozinha,
os dois não iriam querer deixá-la no meio
daqueles estranhos bêbados.
— Senhor, aqui é a área V.I.P. — O
segurança disse, ao pé da escada.
— E como eu posso obter autorização? —
Bernardo perguntou
— Eu devo pagar onde?
— Aqui, por favor.
Após fazer o pagamento e receber uma
pulseira — Bernardo não viu Miguel fazer
nada além de sorrir para o segurança, para
subir — ele subiu as escadas.
Bernardo queria estar perto de Ekaterina,
mas não sabia se aguentaria ficar na máfia. O
mais certo, na mente dele, era deixá-la ir e,
assim, ela poderia encontrar alguém
compatível.
Imaginar Ekaterina com outro fez
Bernardo sentir como se estivessem
enfiando ferro quente na garganta dele,
apertandolhe o coração.
“Eu só preciso vê-la, só isso”, ele repetiu
algumas vezes.
Ele decidiu manter uma certa distância e,
por isso, sentou-se num dos sofás. Isso
garantia a ele uma boa visão sobre
Ekaterina.
— Mas é muito cara de pau! — Pyotr
resmungou, olhando para o lado.
Miguel colocou a mão sobre o ombro do
primo.
— Se acalma.
— Ele não dá um passo à frente, mas fica
rondando!
— Deixa ele, Pyotr — Ekaterina falou,
colocando a bebida no balcão — Basta a
gente ignorar.
Uma mão passou pelo peito de Bernardo e
ele segurou o pulso.
CAPÍTULO 45
— Matou ele? Devo pedir que alguém
limpe a sujeira?
— Não. Ainda não — Os dois ficaram
alguns segundos em silêncio — Cadê a
minha irmã?
— Foi tomar um ar na outra varanda —
Miguel respondeu e então, sorriu de lado —
O que tava fazendo no banheiro? Com quem?
Era gostosa?
Pyotr o olhou feio.
— Fofoqueiro.
— Só tô curioso. Você parecia gamadinho
na loirinha, lá — Pyotr o olhou, de boca
aberta — O que foi? Achou que eu era idiota?
Pyotr estalou a língua.
— Eu estava com ela, no banheiro. Vídeo
chamada.
— Você tava de sacanagem com ela, por
video chamada.
Pyotr sorriu de lado, como se relembrasse,
mas então, ficou mais sério.
— Pare de pensar nisso! Ela é minha!
Miguel levantou as mãos.
— Fica de boa. Todinha sua — Ele encarou
Pyotr — Pelo visto, ela te laçou, mesmo. Tá
apaixonado?
Pyotr levantou os ombros.
— Acho que sim. Mas ela ainda não sabe o
que fazemos.
— Entendi. Conta pra ela, aos poucos. Vai
soltando… Por sinal, você tem certeza de que
ela não sabe?
Pyotr revirou os olhos.
— Eu já investiguei. Ela tá limpa.
Miguel apenas concordou com a cabeça.
Ele não iria ficar se metendo.
O celular dele vibrou no bolso e ele pegou
o aparelho.
— Por que essa cara? — Pyotr perguntou.
— Nada! — Miguel voltou a enfiar o
aparelho no bolso da calça — Vou pegar uma
bebida!
— Vamos!
Eles eram menores de idade, mas quem
iria negar bebida a Miguel? A não ser que
Osvaldo houvesse proibido, o que não
aconteceu.
Bernardo procurou por Ekaterina, mas
não a viu em lugar algum.
“Vou olhar nos balcões e varandas”, ele
decidiu, Ao chegar em uma das varandas, ele
ouviu o que não queria e seu rosto ficou
sombrio.
*MINUTOS ANTES*
Ekaterina se afastou da briga e foi tomar
um ar. Miguel a seguiu, depois que Pyotr saiu
com Bernardo.
— Rina?
— Hmmm?
— Aquele bosta tocou em você? Sei que
sabe se defender, mas você ainda é a minha
priminha.
Ekaterina revirou os olhos.
— Me poupe. Você não é muito mais velho.
Ela estava com os braços cruzados,
olhando para a rua iluminada.
— Posso… Posso te pedir um conselho? —
Miguel perguntou e mordeu o lábio.
Ekaterina
se virou para ele e levantou a sobrancelha.
— Amoroso? — Ele concordou com um
aceno rápido — Talvez eu não esteja numa
boa posição para isso.
— Mesmo assim? — Miguel sorriu meigo e
Ekaterina balançou a cabeça.
— Você é muito fofinho quando quer.
Parece um filhotinho.
— Sou seu primo favorito, não é?
— O Lucas é mais fofinho.
Miguel fez careta.
— Eu aqui me abrindo pra você e você
falando de outro. Que absurdo!
— Fala logo o que é!
Miguel mostrou a língua para ela e
remexeu as pernas.
— Então… Eu sei que gosto de uma
pessoa. Mas aí… Tem uma outra pessoa que
eu acho
maneira, mas não sou apaixonado. Só que
ela tá se aproximando de outro e eu não tô
gostando disso.
— O cara é perigoso? É por isso? Ou pelo
fato de que ela pode ficar íntima dele?
Emocional e fisicamente? — Os olhos de
Miguel ficaram mais escuros e ele apertou os
lábios — Segunda opção, pelo que posso
ver.
— Eu… — Ele fechou os olhos, respirou
fundo, antes de os abrir e voltar a falar — Eu
só acho que ela tá se precipitando! Mas como
eu falo isso, sem parecer que eu tô com
ciúmes?
— Ela gosta de você?
— Não sei. Acho que sim — Miguel
suspirou — Não quero dar falsas esperanças.
Ekaterina concordou com a cabeça.
— Compreendo. É bom mesmo, não iludir.
Observe, veja se ela está indo rápido demais
ou não. O amor não tem velocidade, Miguel
— Ela estreitou um pouco os olhos — Só
espero que a pessoa de quem você gosta não
seja a sua cunhada. Esse é caso perdido.
Miguel engoliu em seco.
— Certo. Obrigado.
Ele sorriu sem graça, antes de se afastar.
Ekaterina fechou os olhos, mas ouviu
passos A mão de Bernardo começou a
levantar e chegou perto dos cabelos de
Juliana, que esperava ou um carinho ou que
Bernardo a “pegasse de jeito”. Os dedos dele
se enfiaram nos cabelos escuros e sedosos
dela, fixando-se atrás da cabeça dela, o rosto
dele se inclinando na direção dela.
— Você quer foder, não é? — Ele falou e
Juliana abriu a boca, surpresa com o
palavreado dele, então, sorriu, concordando
com a cabeça, mas Bernardo apertou os
dedos — Você é uma putinha?
— S-sou… — Ela passou a língua pelos
lábios, sorrindo — Eu sou o que você quiser.
Bernardo os virou, caminhando rápido
para frente, o que fez as costas de Juliana
baterem
na parede. Ela arfou por ar.
— Calma…
Bernardo puxou mais os cabelos dela.
— Não sou nada a favor de agressão
contra mulher, mas se você voltar a abrir
essa sua
boca imunda pra falar da minha noiva… —
Bernardo abriu um sorriso que causou
calafrios na espinha de Juliana. O rosto dele
estava bem próximo ao dela — Ela mesma
pode te quebrar inteirinha, mas eu vou fazer
questão de assistir!
— B-Bernar… Ai!
Ele sacudiu um pouco a cabeça dela, com
um puxão.
— Você tem sorte de eu não ser um filho
da puta descontrolado. Por hora — Bernardo
inspirou fundo — Ninguém pode falar
dela, tá entendendo? Se você nascesse cem
vezes, ainda assim, não seria digna de
lamber o chão por onde ela passa!
nada de especial em você — A voz feminina
falou. Ekaterina se virou aos poucos e
reconheceu a garota.
— Eu não estou com humor para te
entreter. Mete o pé.
— Bernardo é meu. Não sei o que rolou
com vocês, mas é melhor você largar dele! —
Juliana disse e sorriu de lado — É comigo
que ele dorme. Não adianta ficar jogando
charme pra ele.
Ekaterina soltou uma risada de desdém.
— Não vou ficar discutindo por causa de
homem. Com licença — Ela falou e tentou
passar, mas Juliana se colocou na frente, com
metade do corpo.
— Você não passa da vadia com quem ele
se divertiu na Rússia. Mas ele voltou e não
demorou pra ficar comigo — Juliana
mostrou um anel bonito, no dedo, dando a
entender que era um anel de noivado —
Volta pra sua terra fria e deixa o meu homem
em paz.
Ekaterina odiou quando a garota se
aproximou de Bernardo, no sofá. Porém, ele
a recusou. Duas vezes. A vontade de
Ekaterina foi de escalpelar a atrevida, porém,
ela se lembrou de que Bernardo e ela não
tinham nada um com o outro e aquilo seria
descabido.
— Você me dá pena. Um conselho de
mulher pra mulher: pare de se humilhar —
Ekaterina falou e continuou andando, dando
um esbarrão em Juliana.
— Sua puta russa! Aposto que ele nem te
comeu! — Ekaterina deu uma parada, mas
não olhou para trás — Ele gosta de garotas
mais amorosas, como eu. Você não tem nada
a oferecer!
*AGORA*
Ekaterina não respondeu nada e voltou a
se afastar. Ela queria matar a garota, mas
aquele
não era o país dela e agir daquele jeito só a
faria parecer uma louca ciumenta. Bernardo
não merecia aquela satisfação!
Ela foi direto para onde os outros rapazes
estavam, enquanto Bernardo entrou na
varanda.
CAPÍTULO 46
— Voltou pra… — Juliana começou, mas
parou de falar quando viu que era Bernardo.
Ela sorriu, mordendo o lábio — Oi, gatão!
Veio aproveitar a varanda comigo?
Bernardo caminhou até ela, silencioso. O
barulho vindo de dentro da boate,
combinado com a penumbra da varanda,
conferiam a ele um ar feroz e sexy. Juliana
sentiu o coração batendo rápido.
“Será que ele finalmente vai me dar uma
chance?”, ela estava esperançosa.
Ele parou bem na frente dela, o que deu a
Juliana a chance de colocar as mãos no peito
dele, brincando com os botões da blusa dele,
de um jeito sedutor.
— A gente podia aproveitar melhor fora
daqui — Ela falou e olhou para cima.
Bernardo ainda estava calado, olhando-a de
uma maneira fria. Juliana se sentiu
intimidada
imediatamente, mas engoliu em seco e
continuou — Um local mais discreto… Com
uma cama, de preferência. Garanto que você
vai amar.
Ele a soltou. Juliana soltou um gritinho e
escorregou pelo chão. As veias das têmporas
de Bernardo e do pescoço estavam
proeminentes. O rosto vermelho e os punhos
tremiam.
Quando Juliana olhou para cima, as
sombras que dançavam no rosto de
Bernardo lhe faziam parecer um demônio.
— Acredito que eu tenha sido claro —
Bernardo endireitou a blusa e saiu dali.
Ele olhou em volta e não havia sinal de
Ekaterina, nem de Miguel ou Pyotr.
“Merda!”, ele rosnou internamente, indo
para fora da sala V.I.P. e escaneando a pista
de dança. Ainda assim, não viu nenhum
deles.
Bernardo soltou o ar, irritado, passou a
mão pelos cabelos e saiu dali.
Ao chegar em casa, Máximo o esperava na
sala.
— Filho, vem aqui, por favor — Ele pediu
e Bernardo, que planejava dar um “boa
noite” e subir, respirou fundo e concordou,
aproximando-se do pai.
— O que houve, pai?
— Senta — Máximo deu um tapinha no
sofá. Bernardo olhou em volta e não havia
sinal nem de Carolina e nem de Artur. Após
se sentar, ele encarou o pai — Filho, eu não
gosto de ficar de rodeios. Seguinte: quando
você pretende falar com Ekaterina e, claro,
com os pais dela, e voltar pra Rússia?
— Mas do que…?
— Não se faça de desentendido, Bernardo.
Eu aturo muita coisa, sonsice, não — Máximo
o olhou muito sério e finalmente soltou o ar
que estava prendendo — Desde que os
russos
chegaram, você está outro. Fica seguindo
Ekaterina. Eu observo de longe, mas não sou
o único. O pai e a mãe dela tem os olhos em
você.
— Não estou seguindo… — Bernardo
tentou desconversar, mas o olhar do pai o fez
abaixar a cabeça — Certo. Eu só quero vê-la.
Só isso. Tentei conversar, ela não quer falar
comigo.
— E dá pra julgar? Você não falou com ela,
agora, é a sua vez de receber o tratamento de
gelo. Na realidade, ela é até muito educada e
comedida — Máximo balançou a cabeça —
Você foi na boate, atrás dela. Eu tive medo
que ela conhecesse outro rapaz e você
perdesse…
Bernardo se colocou de pé, rangendo os
dentes.
— Ela não vai conhecer rapaz nenhum!
Máximo se levantou junto.
— Ah, vai, sim! Ela tem dezessete anos, é
uma moça bonita, cheia de vida e num meio
em que, na maioria das vezes, casamentos
arranjados são necessários — Máximo
colocou a mão no ombro do filho — Essas
moças casam quando fazem dezoito anos,
muitas vezes.
Ekaterina é inteligente, Jannochka jamais
a obrigaria, mas… A garota pode decidir por
um casamento de conveniência, Bernardo.
— Não vai — Ele negou com a cabeça,
apertando os lábios — Eu sei que não.
Ekaterina não é assim!
— Vai pagar pra ver? Filho, você anda
esquentado, de mau humor. Vi como você
ficou olhando pro mafioso lá na casa do
Osvaldo — Máximo coçou atrás da cabeça —
Eu não era muito diferente de você. E eu
quase me ferrei bonito.
— A mamãe e você terminaram, não foi?
Ela mencionou algo sobre um “período
separados”, mas vocês não falam muito…
— Eu me deixei levar pelo ciúmes, duvidei
da sua mãe, duas vezes — Máximo engoliu
em seco e o olhar dele ficou sombrio — Ela
estava grávida. Ela foi embora e eu quase
fiquei sem vocês.
Bernardo franziu o cenho.
— Grávida? O senhor… Abandonou a
mamãe, grávida?
Máximo se sentou no sofá e concordou
com a cabeça, apoiando os braços nos
joelhos, olhando para baixo.
— Eu pedi o divórcio. Nós nos separamos
mesmo, Bernardo — Máximo olhou para o
filho, que o encarava, chocado —
Praticamente a joguei na rua. E eu nunca vou
me perdoar por isso. Agi impulsivamente,
fui imbecil, burro mesmo. E eu tive que
perdê-la pra poder tomarjeito. Não desejo
isso a você.
Bernardo se sentou ao lado do pai e os
dois ficaram em silêncio, cada um em seu
próprio mundo, por um tempo.
— Mas Ekaterina não me quer mais.
— Sua mãe estava noivo de outro —
Máximo sorriu para o filho — E me aceitou
de volta. A questão é: você vai aguentar a
máfia?
CAPÍTULO 47
— Ao mesmo tempo que sinto que poderia
matar qualquer infeliz que levantasse um
dedo pra Ekaterina, eu não sei se realmente
vou ter estômago pra ver certas coisas, de
gente que não a ameaçou, diretamente.
Máximo fez bico, pensativo.
— Eu não sou da máfia, mas pelo que eu
entendo, se alguém ameaça a Organização,
ameaça os membros. E Ekaterina é a filha
da Don — Máximo olhou o filho — Isso não é
ameaçar indiretamente? Se essa pessoa
tivesse a chance, com certeza mataria
Ekaterina, a faria refém, essas coisas.
Bernardo franziu o cenho. Jannochka já
havia dito algo parecido pra ele, lá no início.
Porém, Bernardo não conseguia lembrar
daquele ensinamento até aquele momento.
— É verdade…
— Eu me sinto péssimo pai por estar
jogando você pra esse meio — Máximo fez
careta — Só que eu quero você feliz. E por
experiência, eu sei muito bem que nem tudo
é ou preto ou branco. Sim, eles fazem coisas
erradas, mas também fazem coisas boas.
Máximo se sentia em conflito quando
aquele assunto surgia, já que Osvaldo era um
amigo para ele e a família. Sempre esteve lá
para ajudar, mesmo quando ele podia ter
dado um fim em Máximo, se quisesse ter
Carolina para ele. Ou ter fingido que os
problemas dos Castillo não existiam, já que
não estavam relacionados a ele.
— Vai dormir, filho. E pensa direito. A
Páscoa tá aí e logo os russos vão embora.
Bernardo deu um beijo no rosto do pai,
antes de subir para o próprio quarto. Ele
tomou um banho e praticamente se jogou na
cama, sem colocar qualquer roupa.
Os olhos dele foram para o notebook, em
cima da escrivaninha e ele sorriu, triste,
lembrando dos dias em que ficava
conversando com Ekaterina. De quando a
pediu em namoro.
Ele olhou o celular dele e, pelo que
parecia, continuava bloqueado. Bernardo
mandou um único ponto, a fim de conferir e,
por mais que já esperasse, a confirmação
doeu.
— Ah, que droga! — Ele reclamou,
fechando os olhos e pensando no que fazer.
Não que ele tivesse superado Ekaterina, mas
Bernardo pensou que talvez sem ter contato
com ela, ele poderia acabar conseguindo
levar a vida.
“A quem você quer enganar? Está
malhando pra ficar mais forte, faz luta e
ainda está aprendendo russo!”, ele falou para
si mesmo e sorriu, sem abrir os olhos.
— Eu sou muito burro, mesmo! — Ele
cobriu o rosto com o outro travesseiro.
“Como é que eu vou falar com ela? Pedir
pra voltar?”, ele se perguntou e começou a
imaginar as opções. Assim, ele adormeceu.
Pela manhã, Bernardo acordou convicto
do que queria: Ekaterina.
— Bom dia! — Ele disse, sorridente e
sentou-se à mesa.
— Bom dia, filho! — Carolina respondeu,
alegre.
Máximo olhou para o filho, que apenas
devolveu o olhar, sorrindo e começou a
comer.
Quando Bernardo foi para a faculdade e
Artur para a escola, Máximo comentou com
Carolina que o filho mais velho deles tinha
tomado uma decisão com certeza.
— Espero que dê tudo certo.
O dia foi cheio e Bernardo não conseguiu
falar com Miguel. Ele queria poder conversar
sem interrupções, mas nem mesmo na hora
de almoço, foi possível.
— A Ju não veio. Será que tá doente? —
Uma garota perguntou a outra, passando
perto de Bernardo, de propósito. As duas
olharam sorridentes para ele, que não deu
atenção e se voltou para o caderno dele.
“Tomara que não volte nunca mais”, ele
pensou e então, sorriu de leve. “Ekaterina…”
No caderno, ele escreveu “Ekaterina
Castillo”, bem como “Bernardo Sigayev”. A
segunda opção parecia a mais plausível, se
ele tomasse Santiago como exemplo.
O sinal tocou e Bernardo saiu como uma
flecha, indo para o carro e ligando para
Miguel.
Porém, o aparelho do rapaz deu fora de
área. Um medo invadiu Bernardo e ele
imediatamente tentou mandar mensagem
para Miguel. Apesar de não receber o que foi
enviado, a foto de Miguel ainda estava ali.
“Ele deve tá fora de área, só isso”,
Bernardo tentou se acalmar. Ele não seria
louco de tentar falar com Pyotr.
O número de Aleksey estava ali e
Bernardo apertou os lábios, incerto. O
menino não era bem humorado e, após o que
houve, não parecia inclinado em engajar em
conversas com o loiro.
“A esperança é a última que morre”.
BERNARDO: Oi!
A mensagem foi recebida, o que o deixou
esperançoso. Bernardo olhava para a tela,
cheio de expectativas.
Aleksey ficou online e saiu. Alguns
minutos depois, novamente, mas não leu a
mensagem
de Bernardo.
“Será que ele tem aquele negócio que não
fica azul quando lê?”, Bernardo mordeu a
bochecha internamente, balançando as
pernas, ansioso. “E se eu ligar?”
Mais cinco minutos e Bernardo decidiu
arriscar. Primeira tentativa, ninguém
atendeu; segunda tentativa, idem.
— Só mais uma…
Respirando fundo, Bernardo clicou em
“ligar” de novo e a ligação foi atendida no
primeiro toque.
— Quando alguém não te atende logo e
não lê ou responde suas mensagens, tem
duas opções: ou não quer ou não pode! —
Aleksey falou, irritado. Bernardo sorriu com
o jeito mau humorado do garoto.
— Preciso falar com Ekaterina —
Bernardo soltou. Pra quê ficar dando voltas?
— Então ligou pro número errado! —
Aleksey ainda estava se acostumando aos
horários do México e, para ele, já era muito
tarde — Tchau!
— Calma aí! Ela me bloqueou!
— Não é problema meu.
— Aleksey! Qual é… É sério. Eu quero
acertar as coisas com ela.
— Mais um motivo pra não falar comigo.
Não vou ajudar!
— Olha…
— Até eu sei que o tratamento de silêncio
que você deu foi escrotice! — Aleksey falou
mais baixo ao falar aquilo, o que fez
Bernardo imaginar que o garoto devia estar
próximo a Osvaldo ou Emília — Ekaterina
merece alguém no nível dela!
— Eu vou estar ao nível que ela quiser que
eu esteja! — Bernardo devolveu e Aleksey
levantou as sobrancelhas, ainda que
Bernardo não pudesse ver — Por favor, eu
preciso falar com ela.
— Só lamento.
— Aleksey…
— Ela voltou pra Rússia — Silêncio — Se
não vai dizer mais nada, tô desligando!
— Hey! Por que ela voltou? O que houve?
CAPÍTULO 48
“Não seja por não querer mais me ver, por
favor!”, Bernardo pediu em pensamentos.
Aleksey soltou o ar, como se estivesse
cansado.
— Teve um problema. Todos meteram o
pé e me deixaram aqui — Bernardo podia
imaginar Aleksey trincando o maxilar.
— Que problema? — Bernardo perguntou,
franzindo a testa.
— Problema de máfia! Ora, mas que
pergunta! Olha, eu não quero ser estúpido,
mas tô de péssimo humor e não posso
ajudar, de todo jeito. To indo nessa.
A ligação foi encerrada.
Bernardo olhou o relógio. Só Maksim
poderia ajudá-lo, mas era muito tarde. Ele
não ia ligar para o rapaz durante a
madrugada.
— Aaargh! — Bernardo dirigiu de volta
para casa.
Ao abrir a porta de entrada, viu Artur com
um balde de pipoca, subindo as escadas.
— Credo, que cara é essa? — O menino
perguntou.
— Ekaterina viajou! Ela foi pra Rússia!
Artur desviou os olhos por um momento, e
voltou a focá-los no irmão.
— Mas ela mora lá, né?
Bernardo soltou outro grunhido de
insatisfação.
— Só que eles iam passar a Páscoa aqui! E
agora, ela se foi!
— Vocês não namoram. Nem se falam…
Estalando a língua, Bernardo manteve o
olhar em Artur, que levantou de leve os
ombros,
sem entender.
— É exatamente esse o problema, Artur!
O menino fez uma careta.
— Eu não tô entendendo é mais nada…
Bernardo sacudiu a cabeça, indicando que
o assunto estava encerrado e subiu as
escadas na frente do irmão. Ele ainda
tinha aula de luta, naquele dia, mas não
estava nem um pouco interessado. A cabeça
dele estava a mil, pensando em Ekaterina.
RÚSSIA
O avião já estava em solo russo e
Ekaterina se sentia estranha. Ver e falar com
Bernardo a havia afetado mais do que ela
gostaria de admitir.
— Não entendo o motivo da gente ter
voltado! — Pyotr resmungou, antes de
descerem.
Santiago e Jannochka já estavam entrando
no carro.
— Não sei, mas deve ter sido algo sério —
Ekaterina respondeu, olhando para frente.
Pyotr ligou o celular dele e o aparelho
vibrou, minutos depois. Várias mensagens de
Lisa.
No carro, Ekaterina viu o irmão sorrir e
ela sorriu junto.
— Quando vou conhecer a minha futura
cunhada?
Pyotr franziu o cenho.
— Já tá querendo me acorrentar?
— Meu querido, se você estiver mais do
que apaixonado por ela, já está
“acorrentado”.
Ele fez um beicinho.
— Tenho medo de ela não me querer, por
ser da máfia.
— Vai ter que falar com ela, com jeitinho.
Ekaterina não comentou nada, mas
quando ela fez uma “visitinha” a Kazimir, viu
a tal garota e algo não lhe desceu. E, à época,
yotr não tinha absolutamente nada com a
garota.
— Ela é sensível, sabe?
— Sensível tipo… Atenciosa ou chorona?
— Rina! — Ela riu — Lisa se atém aos
detalhes. Acredita que ela compreendeu que
eu gosto de xadrez só porque eu mencionei
uma vez?
Ekaterina sorriu, mas por dentro, a
informação soou errada aos ouvidos dela.
Pyotr não gostava de sair falando que
gostava do tal jogo para não parecer
“careta”, como ele mesmo dizia. Então, nas
raras ocasiões em que falava algo, não era
bem com muito amor ao esporte.
— Nossa, realmente… — Ela comentou —
Ela deve gostar muito de você, pra prestar
tanta atenção.
Pyotr sorriu, depois, ficou mais sério e
fechou o rosto, olhando para a gêmea.
— Está insinuando que eu não sou alguém
interessante?
— Se a carapuça serve… — Ekaterina deu
de ombros e Pyotr abriu a boca, ofendido.
— Sou seu irmão favorito ou não?
— Você é o meu único irmão, tonto.
— E daí?
— Você é boboca assim, com ela? Se for,
ela é mais tonta do que você.
— Ei, ei, calma aí. Não pode falar assim
dela… — Pyotr apertou os lábios e Ekaterina
riu.
Mesmo irritadiço, ele não pôde deixar de
ficar feliz. A irmã dele quase não sorria,
depois do que houve com Bernardo.
— Desculpe, desculpe — Ela falou e
abraçou Pyotr.
Eles estavam para chegar na casa, quando
houve um barulho de estouro e o carro
pendeu
para um dos lados. Atingiram o pneu.
Pyotr e Ekaterina tiraram as armas e se
abaixaram, esperando o veículo parar.
O motorista se abaixou, antes de usar o
retrovisor para olhar em volta.
— Meninos, eu vou levá-los para a mansão
— Ele falou e os gêmeos concordaram.
Por mais que quisessem ser úteis, no caso
de uma briga, a ordem era que os gêmeos,
herdeiros de Jannochka, deveriam ser
levados a um lugar seguro. Principalmente
quando eles eram menores de idade.
Assim que a porta se abriu, tiros.
— Malditos! — O motorista falou. O carro
de Jannochka com Santiago vinha mais atrás
e, claro, eles já estavam a postos.
Santiago fez cobertura para que Jannochka
pudesse entrar na mansão. Ela era uma
Sigayev por sangue e, claro, esposa dele.
Apesar de durona, Santiago havia dito que
não abriria mão de protegê-la em um embate
e, no fim, a Don cedeu.
O primeiro a sair do carro foi Pyotr.
— Você vai na frente e eu te protejo — Ele
falou para a irmã.
— Eu posso…
O olhar severo do rapaz deixou claro que
ele não queria discutir. Pyotr discutia muito
com a irmã, mas em certas ocasiões,
principalmente quando se tratava da
segurança dela, ele não aceitava que ela
ganhasse.
— Você é minha irmã e eu vou te proteger,
Ekaterina. Agora, vá na frente! Ou quer que
eu eve uma bala na cabeça, por ficar
preocupado com você?
Ela estreitou os olhos para o irmão, mas
fez como ele pediu.
“Só porque eu sei que ele realmente ficaria
nervoso”, ela disse para si mesma.
Eles estavam atrás da porta traseira,
aberta. Pois saíram pela porta dianteira e
usaram ade trás como escudo.
O motorista estava na frente de Ekaterina,
portanto, ela tinha a proteção na frente e
atrás.
Mas, como ela bem sabia, a cabeça estava
desprotegida de um tiro à distância, do alto.
Uma das balas passou raspando pelo rosto
dela e atingiu o motorista, que rosnou
baixo,mas continuou. Pyotr atirou na direção
e um homem caiu, morrendo quando o
crânioatingiu o chão.
Eles entraram pela lateral da mansão e,
assim que estavam passando pelo caminho
deplantas, estrategicamente posicionadas ali,
chegar até a construção foi o mais fácil.
— Mas que filhos da puta! — Pyotr gritou,
assim que a porta se fechou atrás dele.
Então,segurou Ekaterina pelos braços e a
revistou rápido com os olhos.
— Não tô ferida!
Ele a puxou para um abraço e ergueu os
olhos para o motorista. O médico de plantão
na casa chegou rápido e começou a cuidar do
ferimento do homem.
Pyotr ainda não tinha soltado a irmã, que
colocou as mãos na cintura dele e empurrou,
para afastá-lo. Ele a apertou mais.
— Eu odeio quando você passa por esses
perigos, Rina.
Ekaterina relaxou mais e abraçou o irmão.
— Digo o mesmo. Relaxa, tá tudo bem. Só
precisamos agora saber quem fez isso.
Como o esperado, Santiago e Jannochka
entraram furiosos na casa. Ela olhou para os
meninos e, assim que eles deram um leve
aceno de cabeça indicando que tudo estava
bem, a Don passou rápido para o escritório.
Santiago abraçou os filhos e xingou.
— Sua mãe vai vasculhar o inferno, mas
vai descobrir quem fez isso!
CAPÍTULO 49
Jannochka olhava para o computador,
séria e, quando Santiago entrou, ela não
levantou o olhar.
— Feche a porta.
Ele levantou a sobrancelha, porque sabia
que a situação deveria ser bem séria.
Eles haviam retornado à Rússia
justamente porque parecia estar havendo
muito mais ataques aos seus carregamentos
de armas, porém, não parecia que queriam
apenas roubar, mas sim invadir as salas dos
depósitos. Salas estam que continham cofres.
Como muitos ataques surpresas foram
feitos, inclusive apenas para matar, sem
roubar absolutamente nada, Jannochka
preferiu estar no próprio território. Ela e os
filhos. No México, por mais que Osvaldo
tivesse grande controle, a fortaleza da
Tambovskaya era em Moscow.
— Quem são?
— Os calabresa. O maldito do Chiarello
quer guerra! — Ela deu um soco na mesa —
Desgraçado! Eu é quem deveria atacar a
porra da família dele, depois do que o pai
dele fez…
Santiago colocou as mãos nos ombros da
esposa, por trás.
— Mas porque ele está fazendo isso só
agora? Que eu saiba, Ildebrando Chiarello já
está no poder há muitos anos. Quase vinte
anos, o mesmo tempo que você, meu amor.
— Sim… Mas apesar de serem muito ricos,
os cretinos da N’drangheta tiveram muitos
conflitos internos — Ela remexeu a boca —
Ele começou a brigar com os italianos dos
Estados Unidos. Agora, pelo visto, mudou o
foco.
Santiago foi sentar-se na cadeira em frente
à mesa de Jannochka.
— Acha que é porque estamos ligados à La
Cicuta, que se uniu em casamento com a
Máfia de Atlanta?
Jannochka suspirou.
— Não sei se é isso. Você é irmão do
Osvaldo, certo. Mas ainda assim, eu acho que
essa não é a razão para os ataques. Eles não
foram tão brutais com os italianos, sendo
que são inimigos há tempos. E não estão
atacando a Camorra ou a Cosa Nostra como
estão atacando a gente.
— Vamos ficar espertos. Aumentar a
segurança. Pyotr e Ekaterina não podem
mais sair juntos.
Jannochka concordou com a cabeça.
— Não quero os dois saindo por aí,
livremente. Não até que eu descubra como
foi que esses cretinos conseguiram invadir
nosso território. Tem que ter alguém de
dentro…
Ekaterina colocou o celular para carregar,
tomou banho e foi deitar-se. Ela olhou para o
aparelho, pensando que adoraria que o
objeto vibrasse com mensagens de
Bernardo, como antigamente.
“Mas não vai. Você o bloqueou”, ela se
lembrou e suspirou.
Lembrar das palavras do loiro, e da oferta
de “amizade” que ele fez, a encheram de
nova raiva.
Ela se sentou e jogou uma das almofadas
da cama longe.
— Como ele se atreveu?! Bernardo
Castillo, seu cachorro miserável!
Ekaterina deixou-se cair na cama e ficou
olhando para o teto, após bufar umas tantas
vezes.
A imagem da garota na boate, se
esfregando em Bernardo e ele apenas a
censurando, fez o sangue de Ekaterina
borbulhar ainda mais.
— Eu devia encher a sua cara de socos,
Castillo! — Ela socou o ar — Deve andar se
divertindo muito com aquela vadia!
As palavras de Juliana, apesar de
Ekaterina não ter dado grande importância
aparente, na verdade, ficaram ecoando no
juízo dela.
“Será que ele andou com aquela garota,
mesmo? Isso justifica ele ter se mantido
calado!”.
— Preciso parar de ficar pensando nesse
garoto idiota! — Ela se virou de bruços e
encostou a testa no colchão — Ele só estava
com uma paixonite e eu fui burra em
acreditar que um garoto doce como ele se
interessaria por alguém como eu.
Ela ficou em silêncio por uns minutos.
— Amigos! Que ódio!
O sono demorou, mas chegou, para
Ekaterina.
Pela manhã, Maksim foi falar com a prima,
logo depois que o café da manhã terminou.
— Rina?
Ela se virou para o loiro.
— Oi!
— Hmmm… Eu quero falar com você, pode
ser?
Ekaterina franziu o cenho, mas concordou,
levando-o para uma das salas.
— Aconteceu alguma coisa? É sobre o
Lukyan?
Maksim negou com a cabeça.
— Não. É sobre… — Maksim levantou o
olhar — Bernardo.
Primeiro, Ekaterina ficou tensa, parada.
Depois, ela inspirou fundo e olhou para o
lado.
— Eu não tenho nada a ver com ele.
— Rina, ele veio falar comigo — Maksim
disse e os olhos de Ekaterina se voltaram
para ele, cheios de raiva.
— E por que isso me diz respeito?
— Por que você bloqueou o cara e ele quer
falar com você — Maksim colocou as mãos
nos bolsos — Eu não justifico ele ter te dado
o gelo, mas acho que ele tá arrependido.
— Problema dele — Ekaterina cruzou os
braços — Se era só isso, eu…
— Pera! — Maksim ficou na frente da
prima — Bernardo ama você. Eu sei que sim.
E você o ama, prima!
— Às vezes, Maksim, o amor não é o
suficiente.
— E às vezes, uma boa conversa, é — Ele
falou, dando o sorriso gentil tão típico dele
— Só quero você bem e sei que, apesar de
não ficar choramingando, você sente a falta
dele.
Os olhos de Ekaterina quiseram encher de
lágrimas e ela virou o rosto, mas Maksim
segurou de leve o queixo dela, fazendo-a
encará-lo.
— Amo você como a uma irmã muito,
muito querida, Rina. Não perca o que te faz
feliz por orgulho. Pode não perdoá-lo logo,
mas… Pelo menos conversa e vê o que o seu
coraçao te diz.
Maksim beijou o rosto de Ekaterina e saiu
da sala, deixando-a sozinha.
Ekaterina tirou o celular do bolso e foi
para os contatos, desbloqueando Bernardo.
— Espero não me arrepender disso… —
Ela falou para si mesma e colocou o aparelho
de volta no bolso e saindo da sala.
Mesmo depois de chegar de viagem, ela
iria treinar. Com ataques ocorrendo, era
melhor se preparar cada vez mais.
Por estar na bolsa, o celular vibrou várias
vezes, mas Ekaterina não viu. Não até que já
estivesse quase na hora de dormir.
Ela pegou o aparelho, finalmente, e havia
pelo menos vinte mensagens de Bernardo.
Ekaterina franziu o cenho, preocupada.
Ao abrir o app de mensagens instantâneas,
ela percebeu que Bernardo havia pedido
desculpas de várias formas, mandou alguns
vídeos com mensagens feitas por ele e com
algum toque de humor, o que fez Ekaterina
rir. No fim, ele pedia para que ela aceitasse
falar com ele por vídeo.
CAPÍTULO 50
Pela hora, ele devia estar na faculdade,
ainda.
EKATERINA: ok.
Foi a resposta dela.
O celular dela vibrou segundos depois.
BERNARDO: Vou pra casa!
EKATERINA: Não, você vai assistir a sua
aula. Nos falaremos no fim de semana. Até.
Bernardo soltou um muxoxo. Ele
precisava falar com Ekaterina. E ela ter
aceitado a vídeo chamada já o deixou muito
feliz e esperançoso.
“Ela vai voltar a ser minha, só minha!”.
O restante do dia parecia se arrastar e
Bernardo estava impaciente.
— O sistema… — Alguém bateu à porta,
interrompendo o professor e ele foi ver
quem era — Sim?
— Ah, professor Telles, preciso do Senhor
Castillo — Uma das moças que trabalhava na
secretaria do curso pediu e o professor
olhou para Bernardo.
— Senhor Castillo, por gentileza, poderia
acompanhar a senhorita Braga?
— Sim, claro — Ele se levantou e a moça
olhou o material dele.
— Acho que é melhor o senhor trazer as
suas coisas.
A sala toda ficou em completo silêncio.
Bernardo se sentiu um pouco constrangido
com os olhares, mas fez como lhe foi pedido.
Os passos dele ecoavam pelos corredores,
que estavam mais vazios, já que as aulas
estavam ocorrendo.
— Sobre o que é isso? — Bernardo
perguntou e a secretária parecia nervosa.
— Eu não sei exatamente, mas… Tem
policiais, lá.
— Policiais? — Isso deixou Bernardo
ainda mais confuso.
— Sim. Eu nem deveria ter dito isso, eu
acho… — Milena respondeu, mais para ela
do que para Bernardo. Ele não perguntou
mais nada.
Assim que entrou na sala do Diretor de
Curso, o Reitor estava lá, juntamente com
mais dois homens.
— Senhor Castillo? — Um dos homens
perguntou. A careca dele brilhava sob a luz
da lâmpada. Ele mostrou o distintivo — Sou
o policial Josué Obregón, este é meu colega,
Kevin Ureña, e gostaríamos de conversar
com o senhor.
O outro policial, de cabelos curtos e
levemente espigados, Ureña, o olhava com
frieza, mas não desprezo. Bernardo tomou
aquilo como uma forma de se manter
profissional.
— Tudo bem — Bernardo então sentiu um
arrepio na espinha — Aconteceu algo com
meus pais? Meus irmãos?
“Clara é casada com Tonny!”, ele logo
sentiu o peito apertando.
— Não. Não é com a sua família —
Obregón suspirou — Se importa de ir
conosco até a delegacia?
— Eu só queria saber o que tá
acontecendo… — Bernardo olhou para o
Diretor e o Reitor, que o encaravam
estranho.
— Nos acompanhe. Pode ir no seu carro.
Bernardo os acompanhou e, alguns alunos
do lado de fora que viram o distintivo de
Ureña, começaram a cochichar.
No carro, Bernardo avisou ao pai.
Carolina, que estava lendo ao lado do
marido, enquanto este ouvia a mensagem do
filho pelo fone bluetooth, levou um susto
quando Máximo se levantou de pronto.
— O que foi?
— Uns policiais levaram Bernardo pra
delegacia.
Ela se levantou.
— Mas, como assim?
— Não sei. Vamos saber disso agora!
No caminho, pelo qual Máximo dirigia
como louco, Carolina avisou Emília, por
mensagem. Esta falou com Osvaldo.
— Eu avisei os Herrera — Ela anunciou e
Máximo suspirou.
— Amor, se estiverem acusando o
Bernardo de alguma coisa, ele ter contatos
com os mafiosos não vai ser lá de muita
ajuda, não acha?
— Eles vão pensar duas vezes antes de
acusar nosso filho de algo. Algo que ele não
fez, tenho certeza, seja lá o que for.
Na sala de interrogatório, o policial
colocou uma pasta na mesa e a empurrou
para Bernardo. Ele olhou a foto.
— Essa é… Essa garota estuda na
faculdade…
— Juliana Belfonte. O senhor é amigo
dela?
Bernardo negou com a cabeça.
— Não. Ela fala comigo, eventualmente.
Mas não somos amigos — Ele achou melhor
não comentar, pelo menos ainda, sobre
Juliana ficar tentando ter algo romântico
com ele.
O policial Obregón passou a língua pelos
dentes da frente.
— Namorados?
— Não, senhor. Eu tenho uma noiva, mas
ela mora na Rússia. A senhorita Belfonte e eu
não temos absolutamente nada nesse
sentido.
— Mas vocês saiam juntos. Foram ao
shopping…
— Não — Bernardo negou com a cabeça
— Eu fui ao shopping e tive o desprazer de
topar com ela. Só isso.
— Desprazer… Então, havia animosidade
entre vocês.
Bernardo suspirou.
— Pode-se dizer. Ela queria sim algo
comigo. E não aceitava muito bem o fato de
eu rejeitá-la e ter alguém.
— Vocês brigaram? — Obregón
perguntou, como se estivesse apenas
curioso, mas Bernardo não era burro. Ele
sabia muito bem que a pergunta não era à
toa.
— Ela abordou a minha noiva, numa
boate, há alguns dias. Falou algumas coisas
desagradáveis. Depois, eu conversei sim,
com ela, pedindo que parasse de nos
atormentar. Depois disso, eu saí do local e fui
atrás da minha noiva, que estava irritada.
— E passou a noite com sua noiva? Qual o
nome dela? Talvez fosse bom ouvir o lado
dela da história.
— Minha noiva, como eu falei, é da Rússia.
Ela já voltou pra lá. No dia seguinte, mesmo.
Problemas familiares que eu não sei quais
são exatamente — Bernardo suspirou de
novo — Quanto a passar a noite com ela,
não. Eu fui para a minha casa, já que não
consegui falar com ela.
— Qual o nome dela? — O homem
encarava Bernardo fixamente.
— Ekaterina.
— Ekaterina de quê?
— O senhor não a conhece. Ela não mora
aqui…
— Senhor Castillo! — O policial falou um
pouco mais ríspido, olhou para baixo com
um meio sorriso, como se estivesse se
controlando — Qual o nome dela?
Vendo que era melhor não ocultar nada,
Bernardo resolveu falar.
— Ekaterina Sigayeva.
Obregón não era o policial mais
importante dali, mas o sobrenome Sigayev
não era desconhecido.
— Sobrinha de Osvaldo Herrera?
— Sim, senhor. Osvaldo Herrera é como
um tio, pra mim. Ele é o padrinho da minha
irmã. E sogro dela.
O rosto de Josué empalideceu um pouco,
mas ele não se deixou intimidar. Assim que
abriu a boca para falar, alguém bateu à porta.
— Ah, delegado Romero! — Josué falou e
Eduardo olhou para dentro da sala, vendo
Bernardo ali.
— Senhor Castillo… — Eduardo olhou
para Josué — Policial Obregón, podemos
conversar?
— Estou quase terminando aqui,
delegado…
— Por favor.
O tom incisivo de Eduardo deixou claro
que aquele não era um pedido. Josué olhou
para Bernardo, antes de seguir Romero para
fora.
Máximo e Carolina estavam na recepção,
esperando notícias. Eles viram quando
Eduardo passou por dentro.
Osvaldo havia ligado para Eduardo e
pedido que o mesmo verificasse o que estava
acontecendo. Como Eduardo tinha um
carinho pelo garoto, ele o fez sem qualquer
cerimônia.
— O que o jovem Castillo faz aqui?
CAPÍTULO 51
— Ele é suspeito da morte de Juliana
Belfonte — Josué falou sem rodeios — Não
me dê esse olhar! Tenho provas de que ele a
encontrou e eles brigaram feio!
— Ele a agrediu? A ameaçou? — Eduardo
perguntou, ainda que não acreditasse
naquela possibilidade. Ele soube que
Bernardo havia viajado para a Rússia, para
ficar com os Sigayev e aquilo só podia
significar que o loiro faria parte da máfia.
Mas ainda assim… — Que provas são essas?
— Fotos deles juntos. Fotos numa boate,
uma que pertence aos Herrera — Obregón
passou a mão pela careca — Não sei como
ainda não estão presos!
— O que o senhor Castillo fez, Obregón?
Josué moveu a mandíbula, irritado.
— Ele a agrediu fisicamente. Depois, saiu
da boate. Ela saiu um pouco depois. A
câmera da rua não conseguiu pegar muito
bem, mas o carro parece ser o do garoto aí
dentro — Josué engoliu em seco — A garota
entrou, sumiu.
— Quando foi isso?
— Tem uns dois, três dias.
— E ninguém deu falta dela, antes?
— Ela tem um apartamento e os pais não
ficam em cima. Porém, quando ela não
apareceu na aula, algumas amigas entraram
em contato com eles, já que a garota não
atendia as ligações. Elas pensaram que
Juliana estava doente e ficaram preocupadas.
— Onde ela foi encontrada? — Eduardo
perguntou — E por que raios eu não fui
informado disso antes?
— É que coincidiu de recebermos a
denúncia do desaparecimento com
encontrarmos o corpo. Numa lixeira, não
muito longe da boate.
— E as fotos?
— Recebemos anonimamente — Josué
respondeu, desviando de leve o olhar.
— Anonimamente? — Eduardo soltou um
suspiro — Você não acha isso estranho,
Josué?
— Pode ser. Mas temos as fotos. O Castillo
esteve com ela. O carro que a pegou parece
ser o dele! O que mais você quer? Agora só
precisamos das digitais e do DNA.
— Como ela morreu?
— Estrangulada. Mas não com dedos, e
sim com uma corda.
— Violência sexual?
— Sim, mas não há vestígio de semem.
Cortaram os dedos dela, provavelmente para
que não ficasse pedaço de pele do agressor
debaixo das unhas. Mas encontramos algo na
boca dela, quando foram fazer o exame da
arcada dentária…
Eduardo sacudiu a cabeça.
— Termine de conversar com o senhor
Castillo, e a não ser que ele confesse ou você
tenha provas contundentes, não o prenda. Eu
vou verificar os exames da senhorita
Belfonte.
Josué meneou com a cabeça e entrou na
sala. Bernardo olhava para baixo, para a
mesa de metal.
— Senhor Castillo, vamos direto ao ponto:
você matou Juliana Belfonte?
Bernardo ficou olhando para o policial por
um tempo, como se o cérebro dele fosse
incapaz de compreender o que tinha sido
dito.
— Desculpe… Matar? Ela tá… Morta? —
Bernardo olhava com surpresa e Josué
pensou que, ou ele era inocente, ou um
excelente ator!
— O que fez com ela depois que ela entrou
no seu carro?
— Huh? No meu carro? Quando isso?
Juliana Belfonte nunca entrou no meu carro!
Josué pegou as cópias das fotos e as
colocou na frente de Bernardo. A foto do
carro dele parado perto da saída dos fundos
da boate, depois, Juliana entrando no
mesmo, o carro dando partida.
A câmera do lado de fora não era a da
Boate, mas do prédio em frente. Havia uma
lixeira bem na frente da dianteira do veículo,
o que impossibilitava da placa ser vista,
apenas o final dela.
Bernardo olhou bem e o último número da
placa da foto coincidia com a dele, mas ele
sabia muito bem que foi direto para casa,
depois da boate. Certo, ele havia ficado
alguns minutos em uma rua mais vazia,
apenas para se acalmar. Mas não saiu do
veículo e ninguém entrou no mesmo. Depois,
ele só parou em casa.
— Esse carro não é meu.
Josué mostrou a foto do carro de Bernardo
e a colocou do lado da foto anterior.
— Pois me parece ser o mesmo. E esse
carro não é o tipo que a gente vê muito pela
rua, senhor Castillo. Uma Ferrari Spider não
é o tipo de veículo que qualquer um possa
ter. Ainda mais nessa cor, azul cintilante —
Josué apoiou as duas mãos na mesa e
encarou Bernardo — Você a matou porque
ela ficava te perseguindo, ou era o contrário?
Ela te rejeitou?
Bernardo puxou o ar e ia se levantar, mas
se controlou.
— Eu não matei ninguém! — Ele disse
entredentes.
Mais fotos na mesa.
— Mas a ameaçou! Você a prensou numa
parede, de maneira agressiva, enquanto
segurava os cabelos da garota!
— Não a matei! Isso não prova que eu fiz
isso! — Bernardo levantou a voz — E sim,
ela me perseguia, mas eu não quis nada.
Quando ela faltou com o respeito com a
minha noiva, eu acabei sendo mais bruto,
porém, eu não fiz nada além disso!
— Não a queria? Então, por que a
estuprou? A enforcou com uma corda.
Fetiche? — As narinas de Josué estavam
infladas — Vamos fazer um exame de DNA,
senhor Castillo. Ou vai se recusar?
Bernardo só podia dizer que ou era um
terrível mau entendido, ou alguém estava
armando para ele. E isso o colocava em uma
situação complicada. Se ele fizesse o exame e
fosse coincidência, ele se livraria do
problema; Se fosse armação, ele estaria
ferrado, bem como se ele se negasse a
realizar o DNA.
— Pode fazer.
Eduardo olhava para as provas. Ele
suspirou, esfregando os olhos com as pontas
dos dedos, sentado em sua cadeira.
— Eu duvido que Bernardo tenha feito
isso… Esse DNA não pode ser dele.
Na boca de Juliana, havia cabelo, Mas
Eduardo não notou qualquer falta de cabelo
em Bernardo. Nenhum arranhão nos braços
ou pescoço. Dois dias não seriam suficientes.
— Se fosse o caso, por que tirar os dedos,
mas não os dentes? Por que não queimar a
vítima? Jogar ácido?
Havia formas de se livrar de um corpo.
— Ninguém anda com um alicate, ou uma
faca amolada o suficiente para cortar dedos.
Ainda mais em um carro… Não, seria um
alicate. O crime teria que ser premeditado.
Josué pediu também o celular de
Bernardo, a fim de ler as conversas dele. O
rapaz ficou desconfortável, mas permitiu,
afinal, não havia nada ali que o incriminasse.
— Seus pais estão lá fora. Pode ficar com
eles e aguardar. Verificaremos seu celular e,
caso seja necessário mais tempo com o
mesmo, avisaremos. Não saia da delegacia,
garoto!
Josué estava em dúvida. O jovem pareceu
realmente falar a verdade, porém, muitos
loucos conseguiam até mesmo enganar o
bolígrafo, portanto, as provas eram o que
ditariam o futuro de Bernardo Castillo.
CAPITULO 52
— Meu filho! — Carolina abraçou
Bernardo, chorosa. Depois, levantou o rosto
e o olhou de cima a baixo — O que foi que
aconteceu?
Bernardo olhou para trás e fez sinal para
que os pais se sentassem e, assim, eles
ficariam mais distantes da recepção e de
outras pessoas.
— Uma garota da faculdade, que vinha
tentando me convencer a sair com ela… —
Bernardo olhou para as próprias mãos — Ela
morreu. Ou melhor, mataram ela.
— E o que você tem a ver com isso? —
Máximo perguntou e, pela cara de Bernardo,
ele compreendeu — Estão acusando você?
— Sou o suspeito principal, pelo que
parece — Bernardo apoiou os braços nos
joelhos e cobriu o rosto — Eu não sei como
isso!
— Me conta o que… O que houve —
Carolina tremia os lábios — Eu sei que você
não fez isso.
Bernardo olhou para a mãe, o rosto dele
todo vermelho.
— Eu fui bruto com ela. Quando eu a ouvi
falando de Ekaterina… — O loiro desviou o
olhar e Máximo viu um pouco de si, ali —
Aquela… — ele soltou o ar, cansado — Me
descontrolei e dei uma prensa nela.
— Você bateu nela? Encostou nela? —
Máximo estava com os olhos fechados.
— Sim. Eu enfiei as mãos nos cabelos dela
e a empurrei contra uma parede. Mas eu
tentei não ser bruto demais! Isso não a
matou! — Bernardo balançava as pernas, os
braços em cima e as mãos entrelaçadas —
Quando eu saí daquela varanda, Juliana
Belfonte estava viva!
— E quais provas eles têm?
— Aparentemente, fotos. Fotos de quando
ela e eu nos encontramos por acaso no
shopping, a gente na boate…
— A boate é do Osvaldo! — Máximo se
lembrou.
— Sim, mas tiraram do outro lado da rua,
pelo ângulo — Bernardo soltou o ar em uma
baforada cansada — Falaram que ela entrou
no meu carro, mas a foto não mostra a placa!
— A porra de uma armação… — Máximo
conclui — Mas por quê? Você não fez nada a
ninguém.
Carolina estava calada, pensativa. Ela só
conseguia pensar que tinha algo a ver com a
máfia. O que não fazia sentido era o motivo
de estarem com Bernardo como alvo.
— Senhor Bernardo Castillo? — A policial
da recepção chamou e Bernardo se levantou,
caminhando até o local — Por favor, o
delegado deseja falar com o senhor.
Com um último olhar para os pais,
Bernardo passou pela catraca..
Ele foi levado até a sala de Eduardo, que
estava perdido em pensamentos, quando
bateram à porta.
— Entre! — Ele disse e se ajeitou na
cadeira.
— O senhor Castillo — A policial anunciou
e, com um aceno de cabeça de Eduardo, a
entrada de Bernardo foi autorizada — Sentese, Bernardo.
Eduardo o encarou por alguns momentos,
antes de voltar a falar.
— Foi você?
— Não — Bernardo respondeu
imediatamente.
— Você machucou Juliana Belfonte?
— Provavelmente. Mas não desse jeito! —
Bernardo engoliu em seco e relatou
novamente o que aconteceu na boate — Eu
sei que fui bruto, mas eu fiquei com raiva! Só
que eu não a matei!
— Tinha alguém com você? Alguém que
possa afirmar que você foi da boate para
casa, sem que Juliana tenha entrado em seu
carro?
Bernardo negou com a cabeça.
— Não —O loiro suspirou — Eu fiquei
pensando na vida. Sabe que Ekaterina e eu
estávamos…
Brigados, não é?
Eduardo sabia. As mulheres que ele
conhecia fofocavam e ele sempre acabava
ouvindo tudo o que Jade tinha a dizer, ao fim
do dia. Como ele não saberia?
— Você disse que ela é sua noiva, para o
policial Obregón. Isso não é verdade.
— Nós vamos nos entender. Ela e eu
voltamos a nos falar — Bernardo disse com
convicção e Eduardo sorriu de leve.
“Jovens…”
— Olharam o seu telefone. Realmente, não
há nada ali que te ligue à Juliana. Porém… —
Eduardo mirou Bernardo — O telefone dela
não diz o mesmo.
Bernardo franziu a testa.
— Eu nunca troquei mensagens ou
ligações com ela. Não era próximo a ela.
Eduardo tirou um papel da impressora e o
entregou a Bernardo.
— Segundo esse registro aqui, você tem
um outro número. Número esse que andou
sim de conversas com ela.
Bernardo negou com a cabeça.
— Impossível…
— Bernardo, você pediu que ela te
encontrasse atrás da boate.
— Não…
— E tem imagens do que parece ser o seu
carro…
Bernardo se levantou.
— Eu NÃO a matei!
Eduardo permaneceu quieto.
— Sente-se — Bernardo o fez, ainda
fumegando — Não estou acusando você. Eu
te conheço quase que desde que nasceu,
podemos dizer assim. Ainda que você tenha
andado com uma galera pesada, Bernardo,
eu sei que não faria isso.
“Galera pesada” era uma referência aos
integrantes da máfia, em especial, aos russos.
— Podem revistar meu carro. Eu não o
aspirei, desde que fui pra boate. Estive
ocupado e eu mesmo gosto de limpar o meu
veículo — Bernardo falou — Não tenho nada
a esconder.
— Excelente.
— Eu posso ir pra casa? E ter meu celular
de volta?
Eduardo apertou os lábios.
— Nós temos um pequeno problema,
Bernardo: havia cabelo seu na boca de
Juliana. Ou melhor, já indo pra garganta.
— Como é? — Bernardo riu, nervoso —
Vão dizer que eu a fiz comer meus cabelos, é
isso?
— Não. Numa luta, isso pode ter
acontecido. Mas… Eu não vejo sinais de
briga, em você. Poderia levantar mais a sua
blusa, por favor? As mangas?
Havia câmeras ali na sala dele, é claro.
Bernardo levantou a manga e havia alguns
poucos hematomas.
— Eu faço luta — Ele se justificou.
— Eu vou pedir que o nosso médico dê
uma olhada em você. Sem a blusa.
Bernardo fechou os olhos. Ele tinha uns
arranhões no peito, quando se coçou durante
o sono e havia deixado a janela aberta.
Algum inseto, provavelmente.
— Tenho arranhões, se é isso que quer
saber — Bernardo falou — Eu me arranhei!
Dormindo!
Eduardo soltou o ar.
— Tá ficando difícil, Bernardo.
— Eu já disse que…
— E eu já disse que não duvido de você.
Mas não sou eu o julgador. E as provas estão
se fechando contra você.
Bernardo olhou para baixo por alguns
segundos e ergueu o rosto para Eduardo.
— Eu quero um advogado.
CAPITULO 53
Osvaldo andava de um lado para o outro,
no escritório. Ele sabia muito bem que
estavam armando para Bernardo. Mas
quem? E por quê?
A porta se abriu e ele viu Emília entrando.
— Eu bati, mas você não respondeu — ela
falou e entrou, fechando a porta atrás dela e
caminhando até o marido — Já tem ideia de
quem pode estar armando pro Bê?
Osvaldo suspirou fundo e se apoiou na
mesa, de braços cruzados.
— Bernardo não tem inimigos, que eu
saiba. Soube que houve algumas
intercorrências na Rússia, mas ainda assim…
Talvez estejam envolvidos, não descarto a
possibilidade — Osvaldo coçou o queixo,
pensativo — Mas algo me diz que pode ter
dedo da Máfia Vermelha ou…
Emília mordeu o lábio e passou os braços
pelo pescoço de Osvaldo, que lhe enlaçou a
cintura.
— A ‘Ndrangheta? — ela perguntou e
Osvaldo concordou com a cabeça — Eles
foram os responsáveis pela morte da mãe da
Janna, não é?
Osvaldo concordou novamente com a
cabeça.
— Eles se mantiveram mais quietos com
relação à Tambovskaya, porém, ataques mais
frequentes começaram e por isso mesmo que
eu não deixei Miguel voltar, nesse momento
— Osvaldo acariciou as costas da esposa,
enquanto ela apoiava a cabeça no peito dele
— Depois do que houve com Clara, ficou
óbvio que nós estamos sendo alvo, mas…
Talvez não sejamos o alvo principal, e sim os
Sigayev.
— Por que toda ess abriga entre eles?
Digo, eu sei que muitas máfias tem
problemas por conta da concorrência.
Entendo os da Máfia Vermelha, mas o que
houve para que os calabresa se envolvessem
desse jeito na vida dos Sigayev?
Osvaldo olhou para a esposa e a pegou no
colo, arrancando um gritinho dela. Ele se
sentou na larga poltrona de couro marrom,
com ela em suas pernas.
— Nessa época, eu estava afastado da
máfia. Mas, pelo que eu soube, Aronne
Chiarello, pai do atual Don de lá, era um
homem muito, muito cruel. E ele nunca
superou o fato de que Stella preferiu ser uma
Sigayev do que uma Chiarello.
Emília ficou de boca aberta.
— Tá me dizendo que a mãe da Jannochka
foi cortejada pelo antigo Don da ‘Ndragheta?
— Sim. Ele era louco por ela. Os Sigayev e
os Chiarello tinham uma boa relação. Stepan
e Aronne eram amigos. Stella era uma
mulher à frente do tempo dela, não abaixava
a cabeça facilmente e Aronne se apaixonou.
Porém, Stepan também e ela correspondeu
ao russo, não ao italiano. Começaram as
brigas aí.
— Mas pelo que eu li sobre as máfias,
Aronne Chiarello casou quase na mesma
época…
— Eu não sei os pormenores. Só sei que
quando a esposa do Chiarello morreu, ele foi
atrás de Stella. Recebeu mais um “não” e
ficou louco. E deu no que deu. Ele tentou
arruinar os Sigayev, mas no fim, quem
perdeu a vida foi Stella. Ele ficou instável,
depois disso e o filho dele assumiu.
Emília soltou um suspiro.
— Mas que história complicada. Só que…
Por que Ildebrando Chiarello se meteria com
os Sigayev? Deveria ser o contrário, já que os
da Tambosvskaya foram os ofendidos.
— Isso eu não sei, meu amor. Mas lembre
que eles estavam junto com os japoneses.
Podem ser só negócios agora. Clara é irmã de
Bernardo e esposa de Tonny. Seria como
acertar dois dois lados, porque nós temos
conexões com os italianos e com os russos.
— Estamos no meio do fogo cruzado,
Osvaldo! O que vamos fazer? Como vamos
ajudar o Bernardo? Ele não tem culpa de
nada disso!
— Bernardo não jurou, mas ficou com os
Sigayev, tem um relacionamento com uma
Sigayeva e, portanto, faz parte do nosso
meio. Ele é cunhado do meu sub-chefe,
Emília. Infelizmente, quando estamos nisso,
não há inocente.
Emília olhou para baixo, triste. Bernardo
ainda era uma criança, aos olhos dela. A
primeira-dama da La Cicuta ainda podia ver
o bebê loirinho, com bochechas rosadas e
um sorriso lindo, balançando os pés
descalços e as mãozinhas gorduchas.
— Ele vai pra cadeia? Carolina me disse
que o advogado da família foi chamado.
Estão acusando o garoto de assasinato.
— O nosso advogado já entrou em contato
com os dos Castillo. Não podemos nos
envolver abertamente, para não terem mais
algo contra o rapaz.
— E se o acusarem?
Osvaldo olhou para frente, os olhos
faiscando de raiva.
— Não vão. Nem que eu queime a maldita
delegacia e o prédio da Justiça, Emília.
Bernardo é como um filho pra mim e você
sabe.
Ela sorriu.
— Eu sei, meu amor — Ela beijou-lhe o
pescoço e Osvaldo suspirou, apertando a
cintura da esposa.
— Te amo demais, Emília — Ele tomou os
lábios da esposa e a fez se sentar em cima
dele, uma perna de cada lado.
— Estamos, bem dizer, sozinhos na casa…
Podemos ir para a piscina coberta…
— Gosta de ser comida na água, né? — Ele
perguntou, com um sorriso safado no rosto.
— Eu gosto de ser comida por você, seja
onde for.
Emília adorava ter Osvaldo nela, e,
naquele momento, ela queria distraí-lo um
pouco dos problemas. Pelo menos por uma
hora.
Enquanto isso, Bernardo estava em uma
das celas da delegacia. O advogado
conversava com Eduardo e, por mais que
este quisesse liberar Bernardo, não podia. As
provas apontavam para ele.
“— O fato de eu conhecer a sua família vai
exigir ainda mais das minhas ações.”,
Eduardo havia dito isso, como se pedisse
desculpas a Bernardo, quando fechou a
grade da cela.
Sozinho, o loiro estava sentado no catre,
balançando as pernas nervosamente,
enquanto arruinava as unhas ao puxá-las do
canto.
Aquela situação acabaria com as chances
dele na universidade e em conseguir um
bom emprego. Claro, ele queria voltar para a
Rússia. Não pelo local, mas porque Bernardo
já tinha se decidido: Ekaterina era o que
mais importava e ele não queria perder mais
tempo longe da moça.
“Se eles me aceitarem de volta”, ele sorriu,
amargo. Depois de ter abandonado tudo,
talvez nem mesmo Ekaterina o quisesse. Ela
era educada e madura. Ter aceitado falar
com ele não significava perdoá-lo. “Eu vou
provar a ela que a amo e que fui um babaca
por ter dado o gelo”.
A ansiedade de estar longe daquelas
grades e poder se declarar para Ekaterina,
olhando para ela através da câmera, o estava
consumindo. Antes, ele queria ao menos
manter o contato com ela, porém, naquele
tempo ali na delegacia, Bernardo não teve
mais dúvidas. Agora, ele só precisava falar
com a russa e lamber o chão, se ela quisesse.
Uma sensação ruim se espalhava dentro
de Bernardo, como se ele tivesse pouco
tempo. Não era exatamente sobre Ekaterina
não aceitá-lo, mas sobre não vê-la nunca
mais.
— Vai ficar tudo bem… Eu não matei
ninguém, vou sair daqui e vou atrás da
mulher da minha vida — Ele sorriu, bobo,
cheio de esperanças, imaginando o momento
em que teria Ekaterina novamente nos
braços.
Na Rússia, Ekaterina soube o que
aconteceu e estava no escritório, olhando
para a mãe, esperando a resposta da mesma.
CAPITULO 54
— Você não vai para o México —
Jannochka respondeu, ainda com os olhos
nos documentos à frente dela.
— Mãe, Bernardo não fez nada! —
Ekaterina quase rosnou, mas se controlou,
afinal, Jannochka era a Don.
— Eu sei — Foi a resposta tranquila da
russa.
Ekaterina soltou um ar de frustração.
— E não vai fazer nada? Estão acusando o
Bernardo de assassinato! Isso é injusto!
— Eu não sou uma super-heroína que fica
indo pra cá e pra lá salvar pessoas que nada
tem a ver com a minha família — Jannochka
colocou o documento na mesa e olhou para a
filha — Bernardo Castillo é sobrinho do
Osvaldo Herrera, não meu. E nós estamos
com as mãos cheias, aqui, para que eu
procure mais sarna pra me coçar.
— Mãe… — Ekaterina havia colocado o
orgulho dela de lado, para pedir permissão a
fim de ir ajudar Bernardo. Como, ela não
sabia, mas estar ao lado dele já seria o
suficiente.
— Não. A resposta não vai mudar. Seja lá
quem armou tudo isso, pode querer que você
vá atrás dele. Bernardo não ficaria nada feliz
com isso. Seria mais uma preocupação na
cabeça dele que, nesse momento, está numa
cela dentro da delegacia.
Ekaterina colocou as mãos sobre os
joelhos e os apertou, sentindo as unhas
machucarem a pele, ainda que por cima da
calça.
— Eu o amo, mãe.
— Eu sei disso. Ele está vivo por isso,
Ekaterina — Jannochka colocou as mãos em
cima da mesa — Depois do que ele fez e de
como saiu daqui, se não fosse pelos seus
sentimentos por ele, eu mesma o teria
executado. Porém, isso te machucaria e eu
jamais faria isso com você. Apenas numa
situação extrema.
Ekaterina sabia que a mãe não estava
mentindo. Bernardo entrou na Tambovskaya
e, ainda que não tivesse jurado lealdade e
pudesse sair quando quisesse, ao menos, ele
deveria ter dito algo. O loiro simplesmente
pediu para ir ao México e não mais retornou.
Além disso, ele havia ferido Ekaterina e isso
Jannochka não perdoava.
— Ele pediu pra falar comigo. Acho… Acho
que ele quer voltar.
— Não.
Ekaterina levantou os olhos e franziu a
testa.
— Não?
— Bernardo Castillo não é mais bemvindo aqui, Ekaterina. Como Don, não posso
permitir que uma pessoa instável de
decisões se infiltre no meu ninho; Como mãe,
não posso fechar os olhos para o que ele fez
com você. Tudo devido à indecisão do que
ele realmente quer — Jannochak suspirou —
Ele é um adulto. E deve lidar com as
consequências dos atos dele.
Ekaterina fechou os olhos e respirou
fundo.
— Mas e se eu o quiser de volta? —
Ekaterina perguntou e abriu os olhos.
— Eu me oponho. Até eu ter certeza de
que Bernardo Castillo não vai virar as costas
pra você, novamente, eu não permitirei isso.
E, aí sim, Ekaterina, ele estará condenado
caso você decida ir contra mim.
— Ele…
— Nem tente justificar. Durante esses
meses, você foi em missões que te colocaram
em perigo. Você se machucou e, por mais que
nós não tenhamos contado nada a ele, em
nenhum momento ele buscou saber de você.
Ele podia ao menos ter perguntado a
Osvaldo, ou à própria irmã. Mas não. Ele se
manteve afastado e silente.
— Eu entendo… — Ekaterina não ia
discutir. Não adiantaria e Jannochka só
ficaria com mais raiva — Posso me retirar?
Jannochka observou a filha por mais
alguns segundos, antes de tirar uma pasta de
dentro da gaveta.
— Fique de olho nessa pessoa.
Ekaterina abriu a pasta e piscou algumas
vezes.
— Mas ela…
— Sim, eu sei. Fique de olho. E mantenha a
discrição.
A jovem sabia o que aquilo significava.
— Sim, senhora. Se tiver algo errado…?
— Eu sei parte do que tem errado com ela.
Mas, preciso que alguém da minha inteira
confiança mantenha os olhos nela. Só assim
eu vou decidir se ela vive ou se morre.
Um bolo na garganta de Ekaterina se
formou, mas ela concordou.
— E filha? — A Parkham chamou, fazendo
Ekaterina se virar à caminho da porta — Não
tente entrar em contato com ele.
Ekaterina acenou e saiu dali.
No caminho para o quarto, ela se deu
conta de que Bernardo talvez estivesse
melhor preso na delegacia do que solto,
podendo levar um tiro na cabeça. Eduardo
Romero era delegado e ela tinha certeza de
que o homem cuidaria para que o jovem
Castillo não sofresse danos enquanto sob
vigilância da polícia.
“É melhor eu ficar longe. Se estiverem
indo atrás de Bernardo por ele ter se
envolvido comigo… “, ela inspirou fundo.
“Vou ficar longe”.
Jannochka esperava ter dado a ideia para a
filha. Sim, ela ficou muito magoada com as
atitudes de Bernardo, mas ela não odiava o
rapaz, muito menos desejava o mal dele. Ela
sabia que, enquanto a Tambovskaya fosse o
alvo, o melhor para Bernardo era ficar longe
deles.
— Vamos ver quanto tempo os cretinos da
‘Ndrangheta vão demorar pra mudar de
rumo.
Os italianos aparentemente melhoraram
muito na questão de sistemas operacionais,
pois Jannochka estava tendo mais trabalho
para invadi-los. Ela conseguiu algumas
informações, porém, algo lhe dizia que
estavam ou incompletas ou eram falsas.
Pelo que ela havia de informação, o filho
de Illdebrando, Tiziano, era muito bom com
computadores. Já sobre Leontina, não havia
muita informação, apenas de que era uma
moça pura italiana.
— A Máfia Vermelha está com eles… Eu sei
disso. Os japoneses deram pra trás. Mas os
franceses… Eles sempre foram parados e
estão crescendo sem justificativa — Ela
passou a língua pela ponta de um dos
caninos superiores — Não é apenas sobre
armas.
No dia seguinte, Jannochka recebeu uma
ligação que ela definitivamente não
esperava.
— Acho que nossas famílias já passaram
da hora de se entenderem — a voz rouca do
outro lado da linha disse — Se nos unirmos,
seremos a maior máfia do mundo.
CAPITULO 55
— Zinon Tchekhov… Que surpresa a sua
ligação — Jannochka respondeu — A que
devo a honra do contato?
Zinon soltou uma risada do outro lado, o
que fez Jannochka ficar ainda mais séria.
— Adoro o seu senso de humor,
Jannochka… Gosto como o seu nome é
pronunciado. Jannochka Sigayeva — Ele
tamborilou os dedos no tampo da mesa em
frente a ele — Ekaterina também soa muito
bem. Porém, vejamos… Ekaterina Tchekhov.
O que lhe parece?
— Se ligou procurando um casamento de
negócios, esqueça.
Zinon passou a língua pelos lábios. Ele era
um homem paciente.
— Acredito que a sua filha deva ter um
dizer nisso, não?
— Eu sou a Don.
— Eu sei. Ou não estaria falando com a
senhora, não é mesmo?
Jannochka havia recebido uma ligação do
pai de Zinon, anos antes, quando este queria
juntar as duas máfias. Mas Stepan se
recusou, deixando à cargo de Jannochka a
decisão final. Ela, claro, negou. Já sabia que
Zinon era um homem astuto e inteligente,
porém, com um péssimo caráter. Ele casou
com outra assim que Jannochka disse “não”.
— Você vem nos atacando. E não negue.
eu sei que sim. Agora pede um acordo… Por
quê? — Santiago colocou a cabeça para
dentro do escritório e Jannochka fez sinal
para que ele entrasse. Ela colocou a chamada
em viva-voz.
— Você teve baixas. Eu tive baixas…
Somos os líderes e devemos pensar de
maneira racional. Se nos unirmos, seremos
mais fortes e nossos membros ficarão mais
seguros.
— Poderia ter pedido isso antes de nos
atacar de maneira ferina, como tem feito.
Tentou matar meus filhos!
Jannochka estava sem muita paciência, o
que Zinon percebeu.
— Ossos do ofício. Não leve à mal — Ele
deu de ombros, mesmo que Jannochka não
pudesse ver — Agora, Don da
Tambovskaya… Por que não faz como o seu
pai e permite que a sua filha decida?
— Eu era maior de idade…
— Por favor, Janna…
— Não sou sua amiga para que me chame
por apelidos — Santiago já estava com os
olhos queimando de ódio, querendo pegar o
aparelho e dizer umas poucas e boas para
Zinon. Jannochka percebeu e apontou para o
telefone.
— Nós quase nos casamos e…
— E não casaram! — Santiago esbravejou
— Peço que seja mais respeitoso, Don Zinon!
— Santiago mordeu a língua para não xingar
o homem.
— Ah, você deve ser o cachorrinho
mexicano! Que maravilha! Por que não se
senta, como um bom menino, e espera a sua
dona tratar de negócios?
— Ora, seu filho da…!
Jannochka pegou o telefone de Santiago,
que continuou xingando, mas agora, não
estava mais em viva-voz. Zinon ria do outro
lado.
— Vou caçar você e os seus — Jannochka
desligou e se levantou da cadeira, indo até
Santiago e abraçando-o.
— Esse maldito desgraçado filho de uma
puta! — Santiago estava todo vermelho — Só
você pode me chamar de cachorrinho!
Ela segurou o rosto do marido e o beijou.
Santiago foi se acalmando aos poucos e
jogando a raiva no beijo. Ele a colocou em
cima da mesa e começou a abrir as calças de
Jannochka.
— Você… Ah! Queria falar sobre o quê? —
Jannochka perguntou, tentando colocar as
responsabilidades em primeiro lugar.
— Nada tão urgente quanto eu te foder
gostoso agora mesmo!
Ele tirou a blusa da esposa, e mais outra,
jogando-as para trás e puxando o soutien
para baixo em um dos lados. Quando enfiou
um dos seios de Jannochka na boca, bateram
à porta e ele grunhiu, chupando o seio com
um estalo, ao tirá-lo da boca.
— O que foi?! — Pelo tom irritado, a
pessoa já entendeu que não era bem-vinda.
— Ah… É que o senhor Pyotr saiu,
tentamos contato e nada!
Santiago respirou fundo, os olhos
fechados.
— Já vamos! — Ele respondeu, irritado e
deu um passo para trás — Vou ficar com as
bolas roxas…
Jannochka soltou uma risadinha,
levantando da mesa e pegando a blusa mais
próxima, em cima de uma das estantes.
— Continuaremos isso depois. Prometo.
Santiago passou a mão pelos cabelos.
— O que aquele maldito queria, afinal? Ele
falou sobre a Ekaterina decidir algo. O quê?
— Casar — Jannochka respondeu,
passando os braços pela outra blusa — Ele
quer casá-la com o filho dele, Konstantin. Eu
fui contra.
Santiago concordou com a cabeça, furioso.
— Nem a pau! Ekaterina não vai se
misturar com essa escória!
Jannochka beijou o rosto do marido e
andou na frente.
— Vamos ver o que Pyotr andou
arrumando.
O casal foi para a garagem, onde dois
soldados esperavam por eles.
— E como assim ele sumiu de vista? —
Jannochka perguntou — Eu mandei ficarem
de olho!
— Perdão, Parkhan! — Um deles pediu, a
cabeça baixa — O senhor Pyotr parecia estar
indo visitar um rapaz que ele conhece. Já o
vimos por lá, antes. Porém, foi uma moça
quem entrou no carro. Depois disso, ele
acelerou e nos despistou.
Jannochka estalou a língua, balançando a
cabeça.
— Não é possível que… — Um carro
entrou na garagem, cantando pneus.
— A donzela chegou! — Santiago jogou as
mãos para cima, antes de cruzar os braços.
Pyotr desceu do veículo e, quando viu os
quatro olhando para ele, engoliu em seco.
— Oi, mãe! Oi, pai! — Ele os
cumprimentou. Pyotr pensou que os
soldados estavam apenas sendo implicantes,
mas vendo os pais ali, ele entendeu que
estava sendo mesmo seguido, com ordens
oficiais.
— Escritório. Agora!
Jannochka ordenou e se virou, andando
para dentro da casa.
Pyotr olhou para o pai, que apenas
balançou a cabeça e estendeu o braço, como
que abrindo passagem para o filho.
— Depois de você — Santiago falou para o
filho e olhou por sobre o ombro — Obrigado!
— Ele disse para os soldados.
Jannochka entrou no escritório e estava
bufando. Pyotr entrou e ela o segurou pela
orelha.
— Aaaah! — Ele reclamou e levantou o
olhar. Jannochka estava furiosa.
— O que foi que eu falei? Heim? — Ela
perguntou e apertou mais a orelha do filho,
que dessa vez, não soltou qualquer som —
Estamos numa porra de uma guerra! Eu falei
para não saírem se não fosse extremamente
necessário!
— Eu… Eu tive que…
— Teve que ir galinhar? É isso? — Ela
perguntou e Pyotr segurou o gemido de dor.
— Eu gosto dela. Não fui galinhar.
Jannochka aproximou o rosto do de Pyotr.
— Gosta? — Jannochka tirou a arma da
cintura e puxou o gatilho. Santiago arregalou
os olhos, mas não se mexeu — Acha que isso
é bom ou ruim pra ela? Heim? Os seus
inimigos vão te seguir, vão te ver com essa
linda garota loira e…
A arma foi para a testa de Pyotr.
— Janna… — Santiago estava sentindo a
garganta seca.
Jannochka soltou Pyotr, mas a arma ainda
apontava para o rapaz, que foi ao chão. A
arma disparou.
CAPITULO 56
Pyotr olhava para a mãe, os lábios
tremendo. Ele sentiu a bala passando por ele
e o deixando surdo daquele lado, exceto pelo
zumbido.
Com um olhar rápido, ela indicou a
Santiago que não se metesse. Ele confiava
nela e sabia que jamais machucaria os filhos,
por isso, mesmo que o corpo dele tenha tido
o impulso de se colocar na frente, esbravejar,
ele não o fez.
— Você é meu filho, Pyotr, mas não vai
colocar ninguém em perigo!
— Li-lisa…
— FODA-SE a Lisa! Sua irmã, seu pai, seus
companheiros! Todos eles dão as vidas uns
pelos outros, pra que um moleque mimado e
inconsequente como você jogue-os no colo
dos inimigos! Eu fui muito complacente com
você.
— Amor…
— Santiago, agora não! — Ela pediu,
respirando pesado, sem tirar os olhos de
Pyotr — Você vai ficar na droga dessa
mansão até eu dizer que pode sair, nem que
eu tenha que te acorrentar, me ouviu? —
Jannochka deu um passo à frente e segurou o
colarinho do filho, erguendo o rapaz — Se
você pensa em ser o próximo Don, ou mesmo
um sub-chefe, é melhor você começar a criar
colhões e pensar no conjunto, e não só em si!
Ela o soltou com força e apontou para a
porta, com a arma ainda em punho. O rapaz
não se atreveu a dizer nada, apenas
engatinhou um pouco e se levantou, saindo
dali.
Não havia viva alma do lado de fora do
escritório. Se alguém ouviu o tiro, sabia que
era melhor não ficar pelo caminho. Pyotr
subiu as escadas, ainda lívido, pálido.
— Não precisava ter quase acertado a cara
do nosso filho! — Santiago reclamou e
Jannochka o olhou feio.
— Ele puxou a você — Ela retrucou, dando
de ombros, e Santiago soltou uma risada de
desdém.
— Então, ele ser um idiota ele puxou a
mim?
— A quem mais, Santiago? Quem é o
impulsivo, aqui?
Santiago apenas remexeu a boca, pois
sabia que Jannochka estava certa.
— Ele só é emocionado.
Ela se sentou na cadeira, soltando a arma
em cima da mesa, acompanhado de um longo
suspiro.
— Se a emoção dele ceifar vidas
desnecessariamente, então é bom ele ficar
apático, Santiago. Esse garoto não é um mero
soldado. Ele é o nosso herdeiro! Se, Deus nos
livre, acontecer algo aos Herrera, você e,
depois ele, são os próximos no poder — Ela
sacudiu a cabeça — E essa garota!
As palavras saíram por entre os dentes.
— Você sabe quem é ela? Lembro que
comentou algo sobre uma espiã. É ela?
— Não tenho total certeza, mas algo não
me cheira bem. A vida dela é… Perfeitinha
demais.
— Informações plantadas? — Santiago
perguntou e Jannochka concordou com a
cabeça.
— Não tem nada. Nem nela e nem nos pais
dela. E pelo que andei observando, quando
pude, é que ela envolveu Pyotr muito
facilmente — Jannochka olhou Santiago de
cima a baixo — Sabemos que ele herdou
mais isso de você: ser safado.
Santiago apertou os olhos na direção da
esposa.
— Safado? Eu? — Ele caminhou até onde
Jannochka estava sentada e colocou as mãos
nos braços da cadeira, inclinando-se na
direção da esposa — Vamos pro quarto e eu
vou te mostrar o que é ser safado!
Pyotr entrou no quarto e fechou a porta
com força, chutando a cômoda que ficava
próxima.
— Mas que caralho! — Ele tirou a jaqueta
e, depois, a blusa. Ao se olhar no espelho,
acabou sorrindo quando seus olhos
vislumbraram a marca no pescoço.
Instintivamente, ele a tocou com a ponta dos
dedos — Lisa…
Pyotr suspirou pesado. Ele não iria mais
ficar negando nada. Estava sim apaixonado
pela garota. Ela era perfeita! Doce, mas não
grudenta; Linda, mas bem natural;
Inteligente, sem ser arrogante; sexy, mas
nada vulgar.
Ele se jogou na cama, os braços abertos.
— Eu não vou ficar sem vê-la. De jeito
nenhum — Ele mordeu o lábio e pegou o
celular — Pelo menos a mamãe não
confiscou!
Esse foi um dos medos dele, quando ela
estava bufando.
“Como um dragão!”, ele riu sozinho,
abrindo o app de mensagens.
PYOTR: Cheguei em casa, amor!
Ele ficou olhando o aparelho, como se isso
fosse fazer Lisa ver a mensagem. Ela ficou
online e o coração dele bateu mais rápido.
Toda vez que ele falava com ela, que ele a
via, que a tocava, Pyotr se sentia muito mais
abalado do que uma arma apontada pra ele.
LISA: E ficou tudo bem? Você disse que
seus pais tinham pedido pra você ficar em
casa. Não quero que se meta em problemas
por minha culpa.
PYOTR: Meu problema é se eu não puder
te ver.
LISA: (emoji de coração): Você é tão fofo!
(emoji de ursinho).
PYOTR: Ursinho?
LISA: Hahaha! Sim! Meu ursinho!
PYOTR: Isso não é lá muito másculo (emoji
com uma lágrima no rosto).
LISA: Ursos são fortes. Mas também fofos.
Eles protegem e são abraçáveis! Totalmente!
Pyotr sorriu de lado.
PYOTR: Quer me abraçar, Lisa?
Ela digitou, parou. Começou novamente e
Pyotr começou a ficar nervoso. Os dois não
tinham chegado aos finalmentes, mas
naquela mesma noite, eles haviam passado
muito do “beijar”. Lembrar de como Lisa
encaixava no colo dele, e como ela o chupou
no pescoço, enquanto ele se ocupava dos
seios dela…
LISA: Quero. Muito.
O ar ficou preso na garganta de Pyotr.
PYOTR: Quero te ver.
LISA: Quando?
PYOTR: Agora.
Ele sabia que era um erro e que não
deveria mais sair. Porém, a vontade de estar
com Lisa era absurda! As palavras de
Jannochka apareceram em sua mente. E se
os inimigos tivessem seguido o carro dele e,
agora, soubessem de Lisa?
LISA: Hoje, não. Já aprontamos muito e sua
família vai brigar.
PYOTR: Eu aguento o castigo.
LISA: Não. E eu preciso dormir. Amanhã
tenho um teste na escola.
PYOTR: (emoji triste) Poxa, amor… Já tô
morrendo de saudade.
LISA: Amanhã vemos sobre isso. Tenho
que ir, agora (emoji de coração e de beijo).
Boa noite!
PYOTR: Boa noite!
Os dedos dele coçaram para escrever um
“Te amo”, porém, ele ainda sentia que era
cedo demais. E se fosse amor?
— Eu tô fodido!
Bernardo estava morrendo de fome,
cansado, com frio e nervoso por não saber
qual seria o futuro dele.
CAPITULO 57
Som de passos ecoaram no chão de linóleo
e ele se levantou, ainda que sentindo uma
leve tontura.
— Bernardo! — Era Carolina, que correu
assim que viu o filho.
— Mãe! — Ele estendeu os braços pelas
grades, deixando-se ser abraçado, ainda que
o metal frio se interpusesse entre eles.
— Meu amor! Seu pai está falando com
Eduardo, como você tá?
Bernardo não queria preocupar Carolina.
— Bem, na medida do possível. Estaria
melhor fora daqui — Ele fungou — Eu não
entendo como é que tudo chegou a isso…
— As coisas vão se resolver… — Ela falou.
Carolina queria contar sobre o que Osvaldo
havia dito a eles, através de Clara, porém, e
se alguém os escutasse? — Tudo será
resolvido e você vai sair daqui. Limpo!
Bernardo sorriu, triste.
— Espero que sim, mãe. Eu sei que só
pode ser gente… grande, fazendo isso. Meu
medo é irem atrás de você, do papai, do
Artur…
— Seu irmão está em casa. Pedimos uma
licença no colégio — Carolina explicou —
Seu pai só está trabalhando de casa. Eu tinha
que ir à fazenda, para verificar algumas
coisas sobre a escola, mas… Bástian
compreendeu a situação. inclusive, está
vindo pra cá.
— Não, mãe! — Bernardo negou com a
cabeça — É perigoso!
— Por que é perigoso, menino? — Josué
Obregón perguntou, saindo da escuridão.
Bernardo engoliu em seco — Vamos, fale!
— Não grite com o meu filho! — Carolina
franziu o cenho e Josué respirou fundo.
— Senhora, por favor!
— Cuidado com o seu tom! — Bernardo
quase rosnou. Ninguém falaria num tom
como aquela com a mãe dele!
— Está me ameaçando, senhor Castillo? —
Josué perguntou, as sobrancelhas
levantadas. Carolina sentiu que o homem
queria apenas uma desculpa para manter
Bernardo ali.
— Filho, não… — Ela o alertou.
— Não. Não é uma ameaça. Afinal, eu
estou aqui, atrás das grades, pela porcaria de
um crime que eu NÃO COMETI!
Josué puxou o ar por entre os dentes e
segurou a língua, apenas por respeito a
Carolina. A mãe não tinha culpa das ações do
filho.
— Isso é a Justiça quem dirá! Mas, pelo
andar da carruagem, meu jovem… – Josué
sorriu de lado — Você logo será transferido.
Bernardo sentiu o gosto amargo na boca.
— A Justiça, se correta, vai me liberar. Eu
não tenho medo disso. Tenho a consciência
limpa!
— Meu filho não é assassino!
— Quem anda com assassinos, traficantes,
bandidos! — Ele olhou bem para Carolina —
Bandido é! Só porque não dispara uma arma,
não significa que não tem as mãos sujas do
sangue de inocentes!
— Não liga pra ele, mãe — Bernardo disse
e segurou a mão de Carolina, mesmo que
apenas com os dedos, já que ela havia se
afastado um pouco — Por que não vai pedir
pro papai passar aqui?
Carolina compreendeu que Bernardo
queria que ela se fosse, para que não lidasse
mais com o policial e, possivelmente, o loiro
queria falar sozinho com o homem.
— Farei isso, meu amor — Ela deu um
beijo na bochecha do rapaz e deu uma última
olhada, feia, em Josué.
“Uma mulher tão bonita e metida nisso…”,
Josué pensou, olhando para Carolina se
afastando. Bernardo estalou os dedos,
chamando a atenção do homem.
— Não fique olhando a minha mãe!
— Parece até que é o marido dela, garoto!
Bernardo sorriu debochado.
— Sorte sua que não sou.
“Só não quero que ele faça isso na frente
do papai porque isso o levaria pra cadeia.
Mas que esse filho da puta merecia uma
surra, merecia! Tarado maldito!”.
Josué levantou uma das sobrancelhas.
— Eu não sou seu inimigo, garotinho. Não
mesmo — Josué se aproximou das grades e
Bernardo recolheu as mãos — Acredite, você
está mais seguro aqui dentro do que fora.
Bernardo franziu a testa.
— O que está dizendo?
— Eu não sei de tudo, mas por algum
motivo, eu não acho que um toupeira como
você seria capaz de matar aquela garota —
Josué coçou a barbicha — Mas eu sei bem
das suas conexões, menino. Como dizem,
com quem porcos anda, farelo come.
— Não a matei! Por que diabos eu faria
isso? Eu estava apenas tentando me acertar
com a minha garota. E se não fosse por essa
sacanagem toda…
Josué suspirou e olhou em volta, as mãos
nos bolsos da calça. Apenas Bernardo estava
preso ali.
— Como eu disse, não sou seu inimigo. E
francamente, se sair daqui, espero que
repense com quem anda. A sua mãe, o seu
pai, o seu irmão… Eles vão pagar por isso. A
sua irmã já foi pro lado errado. Não faça o
mesmo.
Josué não esperou resposta de Bernardo e
começou a se afastar.
— Pedirei que tragam comida! — Ele
avisou, sem se virar. Máximo apareceu no
fim do corredor — Senhor Castillo.
Máximo apenas acenou com a cabeça e foi
até Bernardo.
— Pai!
— Filho! — Máximo abraçou o rapaz —
Achei algo no seu carro que, talvez, possa te
ajudar.
— O quê? — Bernardo o olhou,
esperançoso.
— Você arranhou seu maldito carro,
Bernardo. Pela primeira vez, estou feliz que
seja barbeiro na rua.
— Eu não sou… Calma aí, como isso vai me
ajudar?
Máximo sorriu.
— De acordo com as câmeras de casa, o
seu carro está com tinta de onde você o
arrastou. Isso antes da sua saída, antes da
morte da garota — O sorriso de Máximo
cresceu — E ainda tá lá. Me diz que a prova
contra você não tem isso!
Os olhos verdes dos dois brilharam.
— Não! Eu arrastei o carro no
estacionamento do mercado. Mas esqueci de
olhar… A gravação não mostra nada disso!
Espero que sirva!
Osvaldo estava no escritório, quando
alguém bateu à porta.
— Entre!
Os fios de um castanho com um toque de
loiro apareceu. No escuro, eram como os
cabelos de Carolina, porém, em
determinadas luzes, Clara ficava loira. Ele
preferia dizer que era castanha, como a mãe.
Mas Tonny insistia que era loira.
— Senhor Herrera…
Ele sorriu.
— Entre, querida. E não me chame assim.
Sou seu padrinho e sogro.
Ela parecia contente e isso deu esperanças
a Osvaldo.
— Acho que Bernardo vai conseguir se
livrar dessas acusações. Tonny foi cuidar de
algumas coisas e eu quis deixar o senhor
saber.
Após conversarem, Osvaldo se sentia mais
aliviado, porém, algo ainda o incomodava.
Assim que Clara saiu, ele resolveu ligar para
um dos soldados e pediu que seguissem
Obregón de perto. Trocassem turnos, mas
não o deixassem sem vigilância em nenhum
momento.
Três dias se passaram e Pyotr não se
aguentava mais.
— Onde vai? — Maksim perguntou,
quando pegou Pyotr tentando escapar
durante a noite.
— Porra! — Pyotr soltou baixinho, com a
mão no peito — Você parece assombração!
Maksim estava sério.
— A tia disse que não podemos sair assim,
Pyotr. Coloca os outros em perigo.
Pyotr revirou os olhos.
— Eu sei me cuidar!
— Todos aqui sabem se cuidar — Maksim
suspirou — Mas a nossa Don disse para
ficarmos em casa.
Pyotr apertou os olhos.
— Vai me dedurar?
CAPITULO 58
Maksim levantou o queixo.
— Vou.
Pyotr olhou o primo de cima a baixo.
— Pensei que sem o Aleksey aqui, eu teria
paz. Mas pelo visto, você resolveu tomar o
lugar dele…
— Estou apenas seguindo as ordens
dadas. Você deveria fazer o mesmo —
Maksim mantinha um tom educado, mas
sério — Entendo você…
— Não, não entende!
— Acha que eu não quero ver meu
namorado? — Maksim perguntou, irritandose — Mas o pior é ele virar um alvo! Ou me
pegarem e me usarem para ferir quem eu
amo!
Pyotr odiava estar errado. Era orgulhoso
demais.
— Como eu disse, sei cuidar de mim!
— Vou avisar a tia, assim que você colocar
os pés para fora dessa mansão, Pyotr!
Apertando os lábios e os punhos, Pyotr
deu meia volta e foi para o próprio quarto.
— Delator do caralho! — ele reclamou,
com vontade de bater a porta com força, mas
não podia, ou acordaria a casa —
Intrometido!
Pyotr precisou dizer a Lisa que não teria
como ir. Foi pego.
LISA: Tá tudo bem. Já disse para não se
meter em confusão!
Ele estava chateado. Da última vez que se
viram, Lisa acabou esbarrando na peça de
xadrez que ele carregava com ele e a coitada
rolou pelo bueiro. Pyotr gostava de carregar
aqui por onde ia. Dormia com o objeto.
PYOTR: Não tenho nem nada seu pra
abraçar!
LISA: (emoji revirando os olhos) Como tá
dramático… rs. Mas sério, nos veremos
quando der. Não vou ser engolida pela terra.
Nem você.
Ele suspirou e os dois continuaram
conversando até tarde, ou melhor, até quase
o Sol raiar, com direito a nudes.
Na manhã seguinte, Lisa acabou sendo
acordada cedo, tendo dormido por menos de
duas horas. Ao descer as escadas, o coração
dela quase parou ao ver quem estava ali.
— Bom dia, lindinha! — O homem falou,
sentado à mesa, na cozinha — Não vou
perguntar, porque a sua cara já diz que não
dormiu nada bem. Venha, sente-se.
Lisa engoliu em seco e continuou a andar,
as pernas tremendo. Ela se sentou.
— Temos um probleminha… Já tem dias
que a escuta com rastreador não funciona. E,
adivinha! Ela mostra que Pyotr está nos
esgotos — O homem bebericou a xícara de
café que ele mesmo havia feito e fez sinal
para que Lisa bebesse da outra, em frente a
ela — Sabemos que isso está longe da
verdade. Explique-se. Beba e explique-se.
Ela levou a xícara aos lábios, tentando
controlar o nervosismo. Suas mãos tremiam.
O homem a observava, um leve sorriso nos
lábios, como se estivesse despreocupado
com a vida. Mas ela sabia muito bem que isso
não passava de uma atuação.
Ao colocar a xícara em cima da mesa, ela
inspirou fundo. O café estava horrível.
— Eu esbarrei no Pyotr — Lisa sentiu
como se sua língua estivesse mais solta. Ela
sabia o que era aquilo! Se havia algo que o
pai dela havia ensinado bem a ela era como
não ser levada pelo soro da verdade — A
peça caiu no bueiro.
O homem moveu a cabeça,
vagarosamente, para cima e para baixo,
como se estivesse pensando.
— E o que diabos você está fazendo que
não providenciou outra?
— Estou… — O suor começava a descer
pelas costas dela — Estou pensando no que
substituirá a peça.
A xícara do homem foi colocada
delicadamente no pires, em cima da mesa.
Ele sorriu para Lisa e esticou a mão,
chegando a quase tocar-lhe na bochecha,
fazendo o movimento de uma carícia.
— Um rostinho tão bonito… Seria uma
pena se virasse cinzas.
Lisa sentiu as entranhas embrulharem.
— Não irá.
Ele se levantou.
— Faça o seu trabalho. Lembre-se que a
sua mãezinha está te esperando — Ele se
inclinou e se aproximou da orelha de Lisa —
E nem pense em pedir ajuda. Ah, e nem em
engravidar, sua vadia. Eu mesmo vou
arrancar qualquer bastardinho russo de
dentro de você!
O homem saiu dali. Lisa estava tão
apavorada que, para ela, foi como se ele
tivesse desaparecido no ar.
“Não posso fazer isso com ele… Meu Deus,
o que eu faço?”
Ela riu de si mesma, por ter se apaixonado
pelo alvo dela.
Ekaterina mantinha os olhos em Lisa e,
então, viu quando um homem saiu pela porta
dos fundos. Ela tirou fotos e as enviou para a
mãe.
EKATERINA: Não sei quem é. Mas o carro,
como a senhora pode ver, não tem placa.
Essa garota está metida em alguma merda! E,
por sinal, não vi os pais dela até agora.
Parece até que mora sozinha!
Jannochka apertou o aparelho. Ela
precisava manter controle sobre Pyotr. Mas
ela sabia que, se não tivesse provas
concretas de que a garota era espiã, o rapaz
apenas se inflamaria e, com a vontade de ser
“do contra”, ele ficaria contra tudo e todos.
— Esse idiota está apaixonado!
Realmente, não nega de quem é filho! —
Jannochka se lembrou de como Santiago era
cego com Jade, na época em que o casamento
entre as duas máfias era apenas um acordo
— Se Pyotr não se emendar, vou eu mesma
dar um corretivo bem dado nele!
Zinon não havia ligado novamente, o que
deixava Jannochka ainda mais nervosa. Ela
estava impressionada em como o homem
tinha conseguido fazer aliança com os
inimigos russos: os calabresa e os japoneses.
“Burro ele não é… E confiável, menos
ainda”. A proposta de casamento para
Ekaterina havia sido uma prova disso. Os da
‘Ndrangheta detestavam os Sigayev. Como o
aliado deles poderia querer juntar as duas
máfias russas? E ela sabia sim que eles
estavam juntos, porque o tipo de barreira
que ela estava enfrentando nos sistemas
italianos era a mesma dos da Máfia
Vermelha.
Jannochka precisava de mais aliados na
Europa, principalmente na Rússia. Se Zinon
se unisse às demais — que por sinal, o
detestavam — ela ficaria em menor número.
Há algum tempo, Anton Kravtsov, Don da
Uralmash de Ecaterimburgo, havia tentado
casar Ekaterina com o filho dele, Daniil.
Jannochka não aceitou de imediato. O rapaz
era um mulherengo de primeira, além de já
ter vinte e cinco anos.
— Mas eu estou ficando sem opções. O que
diabos eu devo fazer?
A Don ficou perdida em pensamentos
quando ouviu uma batida na porta e
Ekaterina se anunciou. Jannochka permitiu a
entrada.
— O que houve? — Jannochka perguntou.
— Mãe… Eu ouvi algo e queria saber se é
verdade — Ela falou e se aproximou da
mesa.
— Sobre o quê?
— Ouvi papai reclamando com alguém, ao
telefone, sobre um “idiota pretencioso” que
ofereceu uma aliança por casamento.
Comigo.
Jannochka suspirou.
— Fique tranquila. Não vai ser necessário.
— Quem são?
Jannochka encarou a filha.
— Por que quer saber?
Ekaterina umedeceu os lábios com a
língua.
— Pelo que entendi, eles estão envolvidos
nos ataques. Isso formaria uma boa aliança.
— Você me disse, há menos de uma
semana, que queria ficar com Bernardo.
Mudou de ideia?
Ekaterina respirou fundo.
— Bernardo não precisa passar por isso.
Está sendo alvo por ter se envolvido
conosco… — Ela olhou para baixo — Comigo.
E eu não posso deixá-lo se machucar.
CAPITULO 59
Jannochka olhou bem para a filha.
— Vai casar com outro, amando
Bernardo? — Ela franziu o cenho — Acha
que ele vai aceitar isso? Como acha que
Bernardo vai se sentir?
Ekaterina levantou o rosto, encarando a
mãe.
— E a senhora se importa com os
sentimentos dele? Pensei que não quisesse
nem saber mais dele.
A Don suspirou.
— Bernardo me decepcionou demais,
porém, eu vi esse garoto crescer, mesmo que
de longe. Não sou indiferente a ele,
Ekaterina. Além disso, eu te conheço e sei
que não vai se dar bem casando com alguém
que não ama, ainda mais se seu coração já
tiver dono.
— Mãe…
— Vai se arrepender se casar com outro,
minha filha.
Ekaterina sabia que as palavras da mãe
eram verdadeiras.
— Eu farei o que for necessário, não só
pela Organização, mas para garantir que
Bernardo vai ficar seguro — A moça engoliu
em seco — Mesmo que isso o faça me odiar.

Jannochka não iria impedir a filha. Ela
sempre deu liberdade para que os filhos
fizessem as escolhas que quisessem, desde
que isso não os colocasse em perigo, ou aos
membros da Tambovskaya.
— Antes que aceite essa união, recomendo
que converse com o rapaz. Ele pode ser
aceitável, ou ele pode ser odioso. Se for como
o pai dele…
— O Don da Máfia Vermelha é um homem
ruim, eu ouvi dizer. Muito ruim.
— Ruim é apelido carinhoso, minha filha
— Jannochka suspirou e estalou a língua —
Converse com ele.
Mais tarde naquele mesmo dia, Ekaterina
estava esperando pelo filho de Zinon, em um
restaurante que mantinha a “bandeira
branca”, ou seja, servia de local de encontro
para mafiosos, onde não era permitido
brigas. Existiam alguns estabelecimentos
assim, a fim de permitir que inimigos
discutissem sobre seus assuntos, inclusive
tratados de paz, sem o perigo de serem
assassinados de surpresa. Pelo menos, ali
dentro.
Um homem loiro, com olhos azuis claros
que podiam ser vistos de longe, entrou na ala
mais reclusa do restaurante. Apesar do terno
bem alinhado ao corpo, as tatuagens eram
visíveis no pescoço e no dorso das mãos. Ele
era um dos homens mais altos que Ekaterina
já tinha visto, mesmo não sendo o mais forte,
aparentemente.
Ele se aproximou da mesa de Ekaterina e
sorriu levemente, de lado.
— Senhorita Sigayeva? — Ele perguntou e
Ekaterina concordou com a cabeça, sem se
levantar — Sou Konstantin Tchekhov.
O loiro estendeu a mão, ao que Ekaterina
apenas olhou.
— Vejo que a senhorita não é de
amenidades.
— Qual seu interesse real nesse
casamento? — Ela perguntou, séria. Ainda
que fosse um suposto jantar para tratarem
de laços matrimoniais, Ekaterina se vestiu
toda de preto, com calça e jaqueta de couro.
Konstantin sorriu, sentando-se e a
encarando. Ele fez sinal ao garçon, que lhe
serviu um copo de uísque, sem que o loiro
precisasse dizer nada. Isso indicava que ele
era um cliente rotineiro.
Após tomar um gole da bebida, Konstantin
inspirou fundo.
— Não tenho interesse em dormir com
uma menor de idade, se é isso o que quer
saber — Ele falou, um ar de desdém nos
lábios — Por mais bonita que seja. Eu quero
apenas… Formar alianças.
— Vocês nos atacaram. E agora, quer
aliança… Interessante como atuam.
Ele soltou uma risadinha e concordou com
a cabeça, olhando brevemente para baixo,
antes de encarar Ekaterina.
— Não sou o meu pai — O jeito que ele
mencionou o progenitor fez Ekaterina sentir
uma animosidade vinda do jovem.
Konstantin ficou mais sério — Eu não
concordo com o que é feito, quero mudanças.
Porém, para assumir e conseguir aliados,
dentro da própria Organização, eu preciso de
um suporte forte. E você, bela Ekaterina, vai
me providenciar isso.
— E o que eu ganho, além de uma trégua,
senhor Tchekhov? — Ekaterina perguntou e
Konstantin sorriu.
— Gosto do seu jeito de pensar. Acho que
podemos ser menos informal. Você pode me
chamar de Krutov, meu nome do meio e é
como meus amigos me chamam. Será que eu
posso chamá-la de… Rina?
Os olhos de Ekaterina se estreitaram.
— Não abuse da sorte, senhor Tchekhov!
O homem levou a mão ao peito e riu.
— Definitivamente, vamos nos dar muito
bem!
Bernardo estava sentado no catre, quando
alguém se aproximou. Ele levantou a cabeça
e viu Josué.
— Senhor Castillo, tenho uma boa notícia
— O policial retirou um molho de chaves do
cinturão e começou a abrir a cela. Bernardo
se levantou imediatamente, descrente —
Não me olhe assim. Vamos, hora de ir pra
casa.
— Não tô reclamando, mas… — Bernardo
sorriu — O que aconteceu para me soltarem?
Josué suspirou.
— Aparentemente, provas insuficientes
— O policial olhou bem para Bernardo,
colocando-se na frente deste — Você estava
mais bem protegido aqui, menino.
O loiro franziu o cenho.
— Está insinuando que prefere que eu
fique preso, sem ter culpa?
— Tive um irmão de idade próxima a sua.
Ele também se meteu com as pessoas
erradas — Josué suspirou — Mantenha os
olhos bem abertos. Não fique zanzando pelas
ruas. Não procure confusão.
Apesar da antipatia que Bernardo sentia
pelo homem, era possível notar a
sinceridade naquelas palavras. Os olhos de
Josué não demonstravam raiva ou rancor, ou
mesmo deboche. Ele estava de fato buscando
ajudar.
— Obrigado. Farei isso.
Josué tirou um cartão do bolso e o
estendeu a Bernardo.
— Qualquer coisa, pode me ligar — Ele
olhou em volta — Se notar qualquer coisa
suspeita, me avise. Eu sei bem que esse jogo
não acabou aqui.
Carolina e Máximo esperavam pelo filho,
do lado de fora. Quando o rapaz saiu da
delegacia, a mãe quase derrubou Bernardo,
ao pular nele.
— Meu filho! — Ela chorava e Máximo se
juntou a ela, em um abraço.
— Vamos pra casa — O pai falou,
segurando as lágrimas.
Eduardo enviou dois carros de polícia
para acompanhá-los, enquanto Osvaldo fazia
o mesmo, só que a uma certa distância.
Assim que os Castillo entraram na mansão,
Osvaldo ligou para Máximo.
— Está tudo bem, Osvaldo. Obrigado por
tudo.
— Sabe que não foi coisa minha, Bernardo
estar livre.
— Foi por conta do arranhão no carro?
Osvaldo soltou uma risada e Máximo já
sabia que a resposta era negativa.
— Bernardo nunca esteve preso apenas
por isso, Máximo — Osvaldo suspirou do
outro lado da linha — Simplesmente o outro
lado conseguiu algo que queria.
— E o que seria isso? Tirar a nossa paz?
Máximo conversava com Osvaldo,
enquanto Artur abraçava Bernardo, junto
com Carolina.
— Não…
O rosto de Máximo ficou pálido após ouvir
o que o amigo lhe contou. Carolina percebeu
e, assim que a ligação foi finalizada, ela
passou a mão pelo braço do marido.
— O que aconteceu?
Máximo olhou para ela e, então, para
Bernardo, que o encarou, percebendo que
algo estava muito errado.
— Pai?
— Eu sinto muito, meu filho.
CAPITULO 60
Bernardo olhava para o teto, o coração
pesado.
“Ela não me quer mais”, era o que ficava
rondando a cabeça dele. “Ekaterina vai casar
com a porra de um russo!”.
Ele se levantou, sentando-se na cama e as
lágrimas desceram pelo rosto dele. Por um
momento, Bernardo pensou que não tinha
mais nenhuma para derramar, porém, ele
havia se enganado.
“De novo… Eu a deixei e, agora, ela tem
outro!”.
Por horas, ele não teve coragem de pegar
o celular e enviar uma mensagem a ela, para
confrontar a moça. Mas, respirando fundo,
ele decidiu que tinha que começar a “criar
colhões”.
— Se eu ficar nessa, vou perder a mulher
da minha vida de vez.
BERNARDO: Oi, amor!
Bernardo finalmente enviou, após
escrever e apagar diversas formas de
abordagem. Ekaterina ficou online. Era
manhã, lá.
EKATERINA: Pelo que posso ver, está
livre. Parabéns.
Ele segurou o aparelho com mais força.
BERNARDO: Posso te ligar?
Ekaterina está digitando…
Bernardo passou a mão pela testa, suando
mesmo no ar-condicionado.
Ekaterina está digitando…
Visto por último hoje às 01:22.
— Não! — Ele reclamou baixinho, quase
chorando.
O celular de Bernardo começou a vibrar.
Os dedos dele pareciam incapazes de se
mover e a ligação caiu.
— Pera! Ai, que imbecil!
Bernardo ligou para Ekaterina, que
atendeu no primeiro toque.
— Amor!
— Bernardo, esse tratamento é
impróprio.
— Eu sei que você aceitou casar com um
russo. Amor, não faz isso! Olha, eu sei que fui
imbecil, babaca..
— Bernardo…
— Não! Eu não posso… — Ekaterina podia
ouvir Bernardo chorando e aquilo partia o
coração dela — Eu amo você. Por favor, não
faz isso…
A voz dele saiu como um sussurro.
— Já está feito. Não posso quebrar uma
aliança. Estamos em guerra, aqui.
— Você não ama esse cara!
— Isso é irrelevante. Agora, eu preciso ir.
Estou no meio do treino.
— Rina… — Linha muda — Rina! Amor,
fala comigo!
Bernardo abaixou a mão, se deixando
chorar livremente.
— Fala comigo, por favor…
O dia seguinte foi horrível. O seguinte, a
mesma coisa. Bernardo não queria comer,
não se interessava por nada. Depois de mais
de uma semana, Carolina não pode mais
esperar.
— Máximo, nós temos que fazer alguma
coisa! — Carolina reclamou com o marido,
entrando no escritório e se sentando no colo
dele.
— Eu concordo — A voz de Máximo saiu
rouca e Carolina deu um tapa no braço dele
— Ai!
— Estou falando sério! Bernardo parece
um zumbi!
Máximo soltou o ar.
— O remédio dele é Ekaterina. Mas
infelizmente, o mercado está em falta — Ele
abraçou a esposa — Se ele não apresentar
nenhuma melhora, eu vou interná-lo. Nem
que ele vá ser alimentado por sonda. E… Vai
precisar de tratamento psicológico.
Enquanto isso, Ekaterina batia no saco de
areia.
— Isso, bate como se fosse a cara daquele
nojento! — Pyotr disse e Ekaterina o olhou,
desferindo mais um soco.
— Qual… Deles?
— O seu noivinho, quem mais? — Pyotr
fez uma careta — Não acredito que aceitou
casar com aquele imbecil!
— Mas aceitei…— Outro soco — As coisas
são… Como são!
— Por mais que me doa dizer isso… —
Pyotr suspirou — Você ama o molenga do
Bernardo. Eu soube que ele tá péssimo.
Ekaterina socou mais e mais, até Pyotr ver
que ela estava chorando. Ele a abraçou forte,
arrastando-a para longe do saco.
— Shhh… Calma, calminha…
Pyotr tirou Ekaterina dali. Por sorte, ela
tinha resolvido treinar sozinha e não havia
ninguém ao redor. Os dois foram para o
quarto dela.
— Eu não… Não quero machucar o
Bernardo, Pyotr.
— Eu sei — Pyotr acariciou as costas da
irmã — Por que aceitou?
— Konstantin me prometeu que tiraria
Bernardo da cadeia. E não o atacariam.
— Você acreditou nessa balela? — Pyotr
balançou a cabeça — Os malditos Vermelhos
fizeram isso só pra você casar com o idiota
do Konstantin?
Ekaterina negou e enxugou as lágrimas,
após tirar as luvas.
— Konstantin sabia que os calabresas
armaram tudo, junto com o Zinon. O objetivo
era nos enfraquecer. A nós e aos Herrera, já
que Bernardo é cunhado do futuro Don —
Ela inspirou fundo — Eu aceitando a aliança,
Konstantin mexeria os pauzinhos para
controlar os malditos da ‘Ndrangheta!
— Ele não é o Don. Não ainda e nem acho
que o pai dele vá ceder tão cedo. Aquele lá
adora o poder, pelo que fiquei sabendo —
Pyotr segurou o rosto da gêmea — Acha
mesmo que o loiro grandalhão vai cumprir a
promessa?
— Se não cumprir, eu mesma castro o
infeliz — Ekaterina entortou a boca.
Pyotr sentiu que tinha mais naquilo,
porém, ele não iria pressionar a irmã, não
naquele momento.
— Eu vou nessa, agora..
Ekaterina segurou o braço dele e balançou
a cabeça.
— É melhor você ficar na sua.
— Já fiquei por tempo demais… Eu… —
Pyotr mordeu a bochecha internamente —
Acho que amo a Lisa, sabe?
— Pyotr, mamãe sente que tem algo de
errado com essa garota.
— Não tem! — Ele jogou as mãos para o
alto — Rina, ela é maravilhosa! Eu nunca me
senti tão vivo e livre como com ela!
Pelo sorriso de Pyotr, Ekaterina sabia que
o rapaz não estava mentindo.
— Pelo seu bem, e pelo dela, eu espero
mesmo que ela não esteja metida em
nenhuma merda, Pyotr.
— Ela não está — O semblante de Pyotr
ficou mais sério.
— Você vai fazer o que for necessário?
Os dois se encararam e Pyotr concordou
com a cabeça.
— Sempre — Ele respondeu e, então,
sorriu — A começar por receber meu futuro
cunhadinho. Você deveria tomar um banho e
se arrumar.
Ekaterina revirou os olhos.
— Eu não sei se ele é burro ou muito
convencido.
Os gêmeos se entreolharam e começaram
a rir.
— As duas coisas! — Falaram juntos.
Pela hora do almoço, Ekaterina estava
mais do que pronta. Ela respirou fundo e
desceu as escadas. A voz de Konstantin foi a
primeira coisa que ela ouviu.
O loiro estava muito bem vestido, como
da outra vez e ao vê-la, o sorriso que
brincava tímido no rosto dele se abriu mais.
— Ah, a minha adorável noiva! — Ele
falou e estendeu a mão para que Ekaterina a
tomasse.
— Eu sei descer as escadas sozinha — Ela
respondeu e o loiro apenas sorriu ainda
mais.
— Adoro o seu jeitinho — Ele enrugou o
nariz, como se indicasse que Ekaterina era
fofa. Jannochka levantou uma sobrancelha
enquanto mirava as costas do rapaz. Já
Santiago, parecia querer matar o homem.
— Sim, claro — Foi a resposta de
Ekaterina — Podemos ir comer? Estou
faminta.
Konstantin ofereceu a ela o braço.
— Eu devo ter tirado a sorte grande. Uma
mulher bonita, inteligente, forte e que gosta
de comer, sem vergonha — Ele olhou para a
Don e o marido — Parabéns, a filha de vocês
é adorável.
— Corta o papo-furado… — Pyotr
murmurou, revirando os olhos.
— Pyotr… — Jannochka o olhou sério.
Konstantin se virou para o rapaz.
— Eu não distribuo elogios ao vento,
cunhado.
Maksim, Fyodor e Yuri já estavam na sala
onde a refeição ocorreria. Assim que
Konstantin entrou, ele varreu com os olhos o
local.
— Creio que estes são meus futuros tios,
meu primo e… — Ele olhou para Ekaterina
— Falta um, não é?
— Aleksey está viajando — Maksim
respondeu e Konstantin o olhou de cima a
baixo, o que fez o rapaz desviar o olhar, as
bochechas corando.
Pyotr olhou de um para o outro e balançou
a cabeça.
— Se trair a minha irmã, arranco as suas
bolas! — Ele ameaçou, baixo, ao passar pelo
visitante, que apenas passou a língua pelos
lábios, sem nada dizer.
Após Jannochka e Santiago tomarem seus
lugares, Yuri e Fyodor fizeram o mesmo,
seguidos por Pyotr e Maksim. Konstantin
puxou a cadeira para Ekaterina.
— Querida…
Pyotr revirou os olhos de novo.
— O outro era menos meloso — Ele
cochichou para Maksim, que mordeu o lábio
— Contenha-se!
Maksim engoliu em seco e concordou com
a cabeça. Ele não tinha contado para
ninguém que Lukyan o havia largado.
Enquanto pensassem que eles estavam
juntos, o protegeriam.
— Bem-vindo, Konstantin — Jannochka
levantou a taça de vinho — Espero que essa
aliança seja forte e duradoura.
O loiro levantou a taça.
— Definitivamente, Don Sigayeva.
—————————————————-
— Como caralhos eles estão noivos? —
Illdebrando deu um soco na mesa, olhando
duro para Tiziano.
— Estando — O rapaz respondeu, sem
muita emoção.
— Se fosse pra alguém se casar com
aquela fedelha, esse alguém deveria ser
você!
Enquanto Tiziano nem se moveu, Leontina
tremeu com o timbre zangado do pai.
— E por que eu deveria ser castigado
dessa maneira? Não estou fazendo tudo o
que me pediu, pai?
Ildebrando estalou a língua, levantando-se
e se aproximou do rapaz, quase encostando
o nariz no rosto do filho, que não se moveu e
continuou olhando para a frente.
— Aquela vagabundinha seria uma ponte
para os nossos objetivos! — O italiano
passou as mãos pelo cabelo — Impura como
provavelmente o é… Duvido que já não tenha
dormido com o maldito Mexicano!
Os olhos do Don recaíram sobre a jovem
de cabelos castanhos, que olhava para baixo.
— Espero que você cresça logo, Leontina.
E me dê orgulho!
CAPITULO 61
O edredom foi arrancado de cima de
Bernardo, que olhou em volta, desnorteado.
Máximo o olhava ao pé da cama.
— Vamos. Faça as malas.
Os olhos verdes do rapaz expressaram
esperança.
— Ela veio…?
— Ninguém veio. Nós vamos.
Bernardo se levantou de uma vez e
começou a preparar a mala, sem esquecer do
anel que tinha comprado para Ekaterina. Ele
tomou café da manhã, alegremente, fez a
barba, tomou banho e se perfumou.
Porém, mais tarde, quando o carro pegou
a estrada que ele conhecia muito bem, o loiro
franziu o cenho e olhou para o pai, confuso.
— O aeroporto não é por aqui…
— E desde quando precisamos de
aeroporto para irmos à fazenda? — Carolina
perguntou, do banco da frente. A boca de
Bernardo se abriu, chocado.
Algo quente tocou a mão do rapaz, que
olhou para o lado e viu o irmão o olhando,
com um sorriso carinhoso. Às vezes,
Bernardo não precisava nem ouvir a voz de
Artur para se sentir acolhido. Sendo assim,
ele apertou a mão do mais novo e a viagem
continuou sem mais conversas.
Ao chegarem lá, Bástian já os esperava, ao
lado de Raul. Carolina pediu que ele não
fosse para a Capítal, antes, pois havia o risco
de segurança.
Assim que Bernardo saiu do carro, foi
abraçado pelo padrinho.
— Ah, meu querido! — Bástian sorriu para
o afilhado — Venha, é hora de sacudir essa
tristeza!
Bernardo apertou os lábios em um sorriso
nada bonito. Ele queria ser simpático, mas
era difícil.
Todos entraram e Bernardo não prestava
atenção a nada. Ele se sentou no sofá e
suspirou, apoiando a cabeça no encosto, de
olhos fechados.
Ninguém tentou inserir Bernardo em
conversas, preferindo deixá-lo respirar um
pouco de ar. No fim, ele acabou
adormecendo e Máximo o levou para o andar
de cima.
Já estava anoitecendo quando Bernardo
acordou. Ele esfregou os olhos e se sentou.
Nesse movimento, a mão dele encostou no
celular, que acendeu a tela. Havia mensagens
e, para a surpresa dele, PYOTR aparecia no
display.
O edredom foi arrancado de cima de
Bernardo, que olhou em volta, desnorteado.
Máximo o olhava ao pé da cama.
— Vamos. Faça as malas.
Os olhos verdes do rapaz expressaram
esperança.
— Ela veio…?
— Ninguém veio. Nós vamos.
Bernardo se levantou de uma vez e
começou a preparar a mala, sem esquecer do
anel que tinha comprado para Ekaterina. Ele
tomou café da manhã, alegremente, fez a
barba, tomou banho e se perfumou.
Porém, mais tarde, quando o carro pegou
a estrada que ele conhecia muito bem, o loiro
franziu o cenho e olhou para o pai, confuso.
— O aeroporto não é por aqui…
— E desde quando precisamos de
aeroporto para irmos à fazenda? — Carolina
perguntou, do banco da frente. A boca de
Bernardo se abriu, chocado.
Algo quente tocou a mão do rapaz, que
olhou para o lado e viu o irmão o olhando,
com um sorriso carinhoso. Às vezes,
Bernardo não precisava nem ouvir a voz de
Artur para se sentir acolhido. Sendo assim,
ele apertou a mão do mais novo e a viagem
continuou sem mais conversas.
Ao chegarem lá, Bástian já os esperava, ao
lado de Raul. Carolina pediu que ele não
fosse para a Capítal, antes, pois havia o risco
de segurança.
Assim que Bernardo saiu do carro, foi
abraçado pelo padrinho.
— Ah, meu querido! — Bástian sorriu para
o afilhado — Venha, é hora de sacudir essa
tristeza!
Bernardo apertou os lábios em um sorriso
nada bonito. Ele queria ser simpático, mas
era difícil.
Todos entraram e Bernardo não prestava
atenção a nada. Ele se sentou no sofá e
suspirou, apoiando a cabeça no encosto, de
olhos fechados.
Ninguém tentou inserir Bernardo em
conversas, preferindo deixá-lo respirar um
pouco de ar. No fim, ele acabou
adormecendo e Máximo o levou para o andar
de cima.
Já estava anoitecendo quando Bernardo
acordou. Ele esfregou os olhos e se sentou.
Nesse movimento, a mão dele encostou no
celular, que acendeu a tela. Havia mensagens
e, para a surpresa dele, PYOTR aparecia no
display.
Rapidamente, o loiro pegou o aparelho.
PYOTR: Bunda-mole.
Bernardo soltou uma risada de descrença.
— É sério essa porra?
BERNARDO: Veio zombar de mim?
O loiro pensou que o rapaz demoraria a
responder, porém, a mensagem foi quase
instantânea.
PYOTR: Vai ficar aí choramingando
enquanto um babaca qualquer tá tentando
ganhar a sua mina?
BERNARDO: A “minha mina” não me
quer… E ele já ganhou. Vão casar.
PYOTR: Na moral, você é muito bebezão!
Compra uma porra de passagem e vem pra
cá, mosca-morta!
BERNARDO: Ekaterina NÃO ME QUER! E
como diabos eu vou aparecer aí? Não é como
se qualquer um pudesse pôr os pés em
Moscow.
PYOTR: Eu não sou um zero à esquerda,
cunhado.
BERNARDO: Não vou impor a minha
presença. Se ela decidiu casar, o que quer
que eu faça? Enfie uma bala na cabeça do
noivo dela e a arraste pro altar?
PYOTR: Luchshe, chem stoyat’ i plakat’,
kak neudachnik! (Melhor do que ficar aí,
chorando como um perdedor!)
BERNARDO: O pior perdedor é aquele que
não admite a derrota. Tenho que ir. Nos
falamos depois.
Bernardo ficou off. Pyotr olhou para o
aparelho e balançou a cabeça.
— Pelo menos aprendeu alguma merda de
russo! — Ele guardou o aparelho na jaqueta
e desceu. Konstantin passou a noite ali, como
forma de demonstrar confiança nos Sigayev.
Assim que o loiro viu Pyotr, lhe acenou,
sorrindo.
— Palhaço ridículo! — Pyotr murmurou,
antes de chegar perto do futuro cunhado —
Nem a pau!
— Cunhadinho! — Konstantin levantou o
braço, como se fosse passá-lo pelo ombro de
Pyotr.
— Se encostar em mim, juro que devolvo
só a sua pele pro idiota do seu pai.
Konstantin levantou as sobrancelhas.
— A simpatia é de família — Ele disse — E
a beleza também.
Pyotr parou de andar e encarou
Konstantin.
— Se tá tentando flertar comigo, tá
perdendo seu tempo. Além de não curtir
macho, não gosto de “gente comprometida”
— Pyotr cruzou os braços — E se isso aí tem
algo a ver com a minha mãe, vou apenas
apreciar o banquete que o papai vai fazer.
— “O papai”. Aaah, tão bonitinho! —
Konstantin suspirou — Eu jamais faltaria ao
respeito com a Don. Sou palhaço e ridículo,
mas não burro.
Konstantin piscou para Pyotr e se afastou,
indo atrás de Ekaterina. Ela estava treinando
sozinha, novamente e, quando viu o noivo
entrando, socou com mais força.
— Tanto ódio no coração.
— Cala a boca — Ela socou mais.
— Assim você parte o meu coração,
lindeza — Konstantin levou a mão ao peito
— Você fica linda até mesmo toda suada.
Nossos filhos vão ser de outro mundo.
Ekaterina deu um passo para o lado e
encarou Konstantin, de cara feia.
— Só se for em outro mundo, mesmo! Não
se faça de engraçadinho, Tchekhov! — Ela
tirou as luvas e se encaminhou para o
vestiário. Konstantin a segurou por trás e,
por mais que Ekaterina tentasse se soltar,
não conseguiu, sentindo o rosto na parede.
— Princesa, não abuse do meu humor,
docinho — Ele aproximou o rosto do dela,
mantendo o tronco distante. Konstantin não
encoxaria uma mulher desse jeito — Seja
boazinha e brinque conforme as regras.
Lembre-se do que está em jogo.
Ele a soltou, afastando-se rápido.
Ekaterina o olhava com raiva.
— Se voltar a dormir aqui, Tchekhov, é
melhor manter os olhos bem abertos!
— Já disse para me chamar de Krutov,
Rina, meu amor — Ele endireitou a roupa, o
sorriso não alcançando os olhos — Você e eu
vamos jantar fora, hoje. Nada de calça, eu
quero um belo vestido.
— Nos seus sonhos!
— Nos meus sonhos, você é seis meses
mais velha — Ele estalou o pescoço, sem
tirar os olhos de Ekaterina — Uma pena que
esteja apaixonadinha por aquele frouxo. Mas,
ainda temos tempo.
— Eu não sou cega, Tchekhov. Digamos
que… Ambos temos uma quedinha por loiros
fofos.
Ela sorriu maliciosa e virou de costas, se
afastando.
— Ekaterina, Ekaterina… — Konstantin
sorriu de lado — Você não tem ideia dos
meus gostos… Quem sabe vai descobrir.
O celular dele vibrou e era o pai.
Konstantin inspirou fundo, preparando-se
mentalmente.
— Oi — Ele atendeu.
— Só porque está noivo acha que pode me
responder desse jeito? — Zinon perguntou,
debochado — Já fodeu a Sigayeva?
— Ela é menor de idade.
— Eu perguntei algo? Ela já deve estar
cansada de ter dado pro mexicano! E você,
cheio de pudores!
— Prefiro conquistar o coração, a apenas a
boceta — Konstantin sorriu amargo — O
senhor, mais do que ninguém, sabe como
essas coisas funcionam.
— Você é um atrevido de merda!
— Vai me bater? Vai me torturar? De
novo? — O semblante de Konstantin em
nada lembrava o rapaz brincalhão que ele
apresentava a todos — A aliança se desfaz e
nós perdemos tudo. É o que quer?
Zinon inspirou fundo. O filho conseguia
tirá-lo do sério, pela mera existência.
— Case com essa garotinha, faça um filho
nela! Herdaremos absolutamente tudo!
— O senhor se esquece que ela não é a
única herdeira. Eu vou desligar, pois o pior é
alguém escutar o nosso afetuoso papo entre
pai e filho, Zinon.
Konstantin desligou, pois sabia que o Don
ficaria com ódio.
“Ele não perde por esperar!”.
CAPITULO 62
Após o jantar, que Bernardo quase não
tocou na comida, Juan se aproximou dele.
— Você tá triste — O rapaz disse e
Bernardo o olhou, concordando com a
cabeça.
— Triste é pouco. já se apaixonou, Juan?
O moreno sacudiu a cabeça,
negativamente.
— Não. Mas você, sim. Onde ela está?
Bernardo soltou uma risada triste.
— Com o noivo dela, talvez.
Juan coçou a cabeça.
— É a Ekaterina, não é? Eu vi vocês…
— Viu?
— Sim! — Juan se sentou ao lado de
Bernardo — Ela gosta de você.
Bernardo deu um tapinha no ombro de
Juan, quase sem tocá-lo. Ele sabia quanto o
outro não era muito de contato físico.
— Isso não é o suficiente, Juan —
Bernardo suspirou e Juan franziu a testa.
— Por quê?
— As coisas são complicadas, às vezes. Eu
gosto dela, e pensei que ela gostasse de mim.
Mas… Pelo visto, eu me enganei.
— Por quê?
O loiro olhou para Juan. Se fosse outra
pessoa, ele já teria perdido a paciência, mas a
serenidade do rapaz o acalmava, de certa
forma.
— Eu vou te contar por alto e você me diz
o que pensa. Que tal?
— Hmm! — Juan fez e se empertigou todo.
— Ekaterina é russa, você sabe… Bom, ela
não é bem uma moça indefesa…
— Ela atira. E é boa com facas.
Bernardo levantou as sobrancelhas.
— É… Não pode sair falando isso por aí,
Juan — Bernardo olhou em volta.
— Eu sei. Não falo. Hatsu me disse pra
ficar quietinho. Mesmo quando ele não
estivesse por aqui, como agora.
Hatsu havia saído em missão. Osvaldo
acabou aceitando-o na La Cicuta, mas apenas
como afiliado secreto. E, naquele momento, o
japonês teve que voltar à Terra Natal dele.
— Maria está triste, como você.
— Maria? Ela e Hatsu…?
Juan estreitou os olhos para Bernardo.
— Isso é fofoca. Meus pais disseram que é
muito feio fofocar.
Bernardo estalou a língua.
— É… É feio. Então, não quer mais saber
sobre a minha trágica história de amor?
— Você está contando. Não é uma fofoca.
— Às vezes você é esperto demais, Juan.
Sabia disso?
— Sim — Juan respondeu sem rodeios, o
que fez Bernardo sorrir.
Após relatar tudo o que podia, Bernardo
olhava para Juan, derrotado.
— O que significa ser frouxo?
— Não ter atitude, ser passivo demais.
Não fazer o que tem que ser feito —
Bernardo respondeu.
— Mm… Então o Pyotr está certo. Você é
frouxo.
Bernardo olhava para Juan, chocado.
— Juan… Como assim? De que lado você
está?
— Você me pediu para ouvir e dizer o que
eu pensava — Juan olhou para cima, como se
pensasse e então, se voltou para Bernardo —
Primeiro, você foi frouxo quando parou de
falar com a Ekaterina. Agora, por não ir atrás
dela.
Bernardo se levantou, passando a mão
pelo rosto.
— Você não entende!
Juan deu de ombros.
— Pra mim, parece óbvio. Te acusaram
pelo que não fez, os russos em guerra… Ela
aceita casar e, no mesmo dia, você é liberado.
— Falta de provas…
— Não, tinha o seu DNA. É prova o
suficiente para que ficasse na cadeia, sem
direito a fiança. Ainda mais com a gravação
de você a agredindo. Ou quase — Juan
franziu o cenho e se levantou, sorrindo —
Hora de dormir. Boa noite!
Juan se virou e se foi, sem esperar uma
resposta de Bernardo.
Ao olhar no relógio, Bernardo sabia que
era tarde demais e Pyotr devia estar
dormindo. Mas, mesmo assim, ele mandou
uma mensagem.
“Ele vai ver pela manhã”. E mandou várias.
PYOTR: Puta que o pariu! Dá pra ser mais
inconveniente que isso? Eu tô tentando ter
um momento aqui com a minha garota,
caralho!
BERNARDO: Ah! Que garota?
PYOTR: Eu devia mandar você à merda!
Pyotr havia saído escondido e estava no
quarto da moça, na cama dela, por cima da
loira, quando o celular começou a vibrar na
mesinha de cabeceira, incessantemente.
“Eu vou ao banheiro”, Lisa tinha dito e se
levantado, pegando a blusa dela e correndo.
Pyotr resolveu ligar.
— O que caralhos você quer, afinal?
Alguém morreu? — Ele perguntou,
entredentes.
— Me conta direito quem é esse filho da
puta que tá com a MINHA mulher!
Apesar de estar com raiva, Pyotr não pode
deixar de sorrir.
— Ah, olha só. O songamonga tá reagindo!
— Pyotr se sentou na beirada da cama e
deu uma olhadela para a porta do banheiro
—Quer ganhar minha irmã de novo,
molenga? Tenho uma missão pra você.
Bernardo ouviu atentamente a tudo o que
Pyotr lhe dizia.
— Calma aí que eu vou anotar.
Lisa ouviu que Pyotr estava no telefone e
se demorou no banheiro, indo tomar outro
banho.
“Se ELE souber que eu não fiquei
escutando, vai arrancar a minha pele,” ela
suspirou, debaixo d’água. “Mas o que os
olhos não veem, o coração não sente!”.
E ela esperou que assim fosse. Espionar
Pyotr a fazia se sentir suja e completamente
desleal, mesmo que ela não contasse nada.
“É melhor não saber. Se me torturarem…
Não terei o que falar”. Lisa não se deu conta
de que estava chorando, até Pyotr ouvir os
gemidos, ao se aproximar da porta.
— Amor? — Ele a chamou, sem resposta.
Pyotr não queria entrar e pegá-la pelada.
Bom, ele queria, mas e se isso a
desagradasse?
“Puta merda, fui encoleirado!”, ele fez bico
e balançou a cabeça.
— Lisa! — Ele falou mais alto, mas não o
suficiente para ser um grito. Por mais que os
pais dela não estivessem em casa, Pyotr não
queria chamar atenção de nenhum vizinho
fuxiqueiro.
— E-eu já vou! — Ela respondeu, lavando
o rosto e saindo do boxe, enxugando-se.
Então, Lisa mordeu o lábio. Se eles não
tivessem sido interrompidos, ela teria
deixado as coisas esquentarem.
Inspirando fundo, ela resolveu que talvez
nem houvesse outra oportunidade. A
qualquer momento, Pyotr poderia descobrir
a “missão” dela e a odiaria, sem dúvidas.
— Você tá… Caralho… — Pyotr soltou
baixinho a última palavra, ao ver Lisa só de
toalha — Por favor, me diz que não é só pra
ver…
Lisa respondeu deixando a toalha cair no
chão e Pyotr segurou a respiração. ele deu
um passo incerto, antes de puxá-la pela
cintura e atacar-lhe os lábios. Lisa enfiou a
mão nos cabelos de Pyotr, puxando-os de
leve e arrancando um gemido do rapaz.
— Tem certeza? — Ele perguntou e ela
sorriu, beijando-o, olhando-o nos olhos.
— Nunca tive mais certeza na vida.
CAPITULO 63
Aquela foi a primeira vez que Pyotr havia
“feito amor”. Ele sorriu, olhando para o teto,
enquanto Lisa dormia no peito dele. Uma
mão acariciava as costas da loira, e a outra,
estava atrás da cabeça.
“Eu preciso casar com ela”, Pyotr pensou.
Ele não era um desses loucos apaixonados,
porém, como já haviam lhe dito: no dia em
que se apaixonar, vai ser de uma vez.
Não tinha motivo para esperar nada,
exceto a maioridade. Ainda que fosse
possível conseguir uma autorização antes
dos dezoito, Pyotr sabia que Jannochka não
permitiria.
“Preciso falar com a minha mãe… Lisa
precisa morar conosco”, ele franziu a testa.
Naquele momento ele se deu conta do perigo
absurdo que a moça estava correndo. Dormir
na casa dela era o sinal final de que eles
estavam de romance, e não apenas uma
simples amizade. “Merda!”.
Antes que o dia raiasse, Pyotr precisava
sair dali. Ele deixou um recado, com a
melhor caligrafia que ele podia fazer.
“Amor, eu precisei ir. Nossa noite foi
perfeita, como você.
Te amo,
P. L. S.”
Depois de dar um beijo nos cabelos de
Lisa, Pyotr saiu dali, torcendo para não ser
pego. Até o caminho para o quarto, ele não
encontrou com ninguém, o que o fez respirar
aliviado.
Ele acabou dormindo muito pouco, pois
houve uma reunião com os outros membros
e tanto ele quanto Ekaterina estavam sendo
treinados para ser Don, já que não se sabia
quem assumiria.
— Presta atenção! — Ekaterina brigou
com o gêmeo, cutucando-o, quando houve
um breve intervalo.
— Oi?
Ela balançou a cabeça.
— Acorda, Pyotr! A mamãe olhou pra
você, várias vezes! — Ele piscou, como se
não compreendesse o que a irmã falava —
Caramba… eu sei que tá apaixonado, mas
não é hora pra ficar aéreo!
Ele sorriu, bobo, olhando para o nada, uma
mão apoiando o rosto.
— Apaixonado…
— Quase dá pra ver os corações nos seus
olhos. Acorda! — Ela o beliscou com força,
arrancando um palavrão baixo do rapaz, que
a olhou feio — Deixa mesmo os outros
saberem, seu idiota!
Pyotr fez careta.
— Pelo menos não noivei com um babaca
ridículo.
— Vai ver que é porque convivi com um a
vida inteira! Me acostumei!
— Ha, ha… Acha que o papai vai deixar
falar assim dele?
— Falar o quê, de mim? — Santiago
perguntou, os braços cruzados sobre o peito.
Pyotr e Ekaterina se endireitaram na
cadeira. O mais velho colocou uma mão em
cada um, apertando-lhes os ombros —
Jannochka está de péssimo humor, crianças.
— O senhor tá deixando a desejar? —
Pyotr brincou e Santiago fechou os dedos
ainda mais, arrancando uma careta de dor do
filho.
— Lembre-se que eu não preciso de você
para ter netos e dar continuidade na
linhagem — Santiago sorria, olhando para
frente — Quer experimentar a vida de um
eunuco, Pyotr?
— N-não.
Mais força no ombro do rapaz.
— Não entendi…
— Senhor… Não, senhor!
Santiago acenou com a cabeça e inspirou
fundo, enquanto Pyotr rolava o ombro.
— Você anda atrevido demais, Pyotr.
Vamos nos ver depois daqui, no ring.
Quando Santiago se afastou, Pyotr fungou
baixo.
— Ele vai te quebrar.
— Não dava pra perder a piada.
— Você não nega que é primo do Miguel…
— É o sangue Herrera! — Pyotr riu.
— Ri, mesmo. Vou assistir de camarote a
surra que vai levar, Herrera.
— Eu sou seu irmão querido. Como pode
não torcer por mim? Irmã ingrata!
— Você é meu único irmão, Pyotr.
A reunião voltou e Pyotr estava mais
desperto.
O celular dele vibrou e ele deu uma
olhada, assim que estava saindo da sala.
BERNARDO: O sistema é meio fodido, mas
eu acho que dá pra quebrar a barreira.
PYOTR: Tô gostando de ver, loiro. Quando
vem pra cá?
BERNARDO: Quando você me autorizar
pousar em Moscow, cunhado.
PYOTR: Em breve, loirinho. Enquanto isso,
vou te mandar a foto do delinquente que tá
se aproveitando da sua ausência.
Pyotr tinha pego a foto das câmeras de
segurança. Konstantin podia ser muita coisa,
mas feio definitivamente não lhe cabia. Além
disso, não importava o ângulo, o homem
parecia sempre estar fazendo pose, como se
fosse modelo.
“Desgraçado!”, Pyotr riu e clicou em
ENVIAR.
PYOTR: Espero que sirva de inspiração,
cunhadinho.
— Tá com cara de quem apronta —
Ekaterina falou, passando reto. Pyotr sorriu.
— Você vai me agradecer, irmã! — Ele
disse baixinho e foi cuidar dos afazeres dele.
Bernardo saiu do quarto, bem banhado e
foi direto para o estábulo.
— Filho? — Máximo perguntou, surpreso,
de uma forma boa — Como se sente?
— Melhor eu só quando aquela russa
tiver meu anel no dedo dela!
Máximo sorriu abertamente!
— Finalmente! — O mais velho abraçou o
filho.
— Sim, já não era sem tempo. Quer dar
uma cavalgada, pai? Faz tempo que não
venho aqui.
— Sua mãe está me esperando. Temos
algumas coisas para fazer — Máximo
apertou os lábios — Eu vou ligar pra ela…
— Não — Bernardo colocou a mão em
cima da do pai — Eu preciso pensar. Quando
o senhor voltar, só me avisar.
Depois que Máximo saiu, Bernardo
montou no cavalo que era dele e saiu do
estábulo, sentindo o vento no rosto e a
sensação de liberdade tomou conta dele.
Bernardo repassou os conhecimentos que
possuía, pensando em como iria derrubar as
paredes de proteção do sistema que Pyotr
havia lhe pedido para romper.
“Eles estão esperando que eu tente…
Duvido que a tia Jannochka já não tenha
tentado. Se ela não conseguiu, é porque é
mais difícil do que parece”, ele suspirou.
“Mas nada é impossível! Eu só preciso
manter uma conexão, uma brecha!” .
Enquanto perdido em pensamentos,
Bernardo deixou que o cavalo cavalgasse por
onde bem entendesse, até que chegaram a
um riacho.
O loiro desceu e jogou água no rosto,
refrescando-se. Enquanto a capital estava
numa época excelente, com temperaturas
agradáveis, ali no interior o Sol parecia fritar
os miolos.
— Veja só o que temos aqui! — Uma voz
masculina soou atrás de Bernardo.
CAPITULO 64
— Quem é o senhor? — Bernardo
perguntou, já de pé. Ele olhou o outro,
moreno claro, olhos escuros, mais ou menos
da idade de Máximo.
O homem colocou as mãos no bolso, com
um sorriso de lado.
— Seu pai não falou sobre mim? Eu fico
realmente ofendido — Ele deu um passo na
direção de Bernardo, que não se moveu,
apenas franziu de leve a testa — Eu quase fui
o seu pai.
Bernardo lembrou da conversa recente
que teve com o pai e, ainda que não tivesse
visto fotos, ele sabia quem era aquela pessoa.
— Domenico Alvarez…
Domenico abriu um sorriso.
— Você não é burro, como o seu pai.
— Não se atreva…
Domenico levantou as mãos na frente do
corpo.
— Calminha, garoto — Ele disse — Não
sou inimigo. Por sinal, como vai a sua mãe?
Bernardo levantou o punho, os lábios
cerrados.
— Por que não vai perguntar ao meu pai?
Ele quebra você em dois!
— Não duvido. Ele sempre foi um
brutamontes — Domenico olhou Bernardo
de cima a baixo — Você já é meio frangote.
— Vai falar o que quer ou é apenas um
socão nessa sua cara? — Bernardo estava
sem paciência — Eu tenho mais o que fazer
do que perder tempo com você!
— Pois não é o que parece, afinal, estava
aqui tranquilamente passeando pelas
minhas terras, não é mesmo? Eu vim passear
e acabei avistando um intruso. Estava apenas
checando — Ele sorriu falsamente para o
loiro — Além disso, eu já apanhei o
suficiente nessa vida. Vim apenas te dar um
conselho: cuidado com a carbonara.
— Carbo… — Os olhos de Bernardo
brilharam — Você quer dizer cala…
— Shh! — Domenico olhou para os lados,
depois de interromper Bernardo. Este
compreendeu.
— Posso saber o motivo de tão boa ação?
— Digamos que… Uma forma de
compensação. Eu não quero problemas,
quero apenas paz. Para mim e para a minha
família. E não esqueça, Castillo. Carbonara!
Se precisar, eu te envio a receita.
Domenico piscou para o rapaz, antes de
subir no próprio cavalo e sair dali.
Sem mais, Bernardo montou no próprio
animal e disparou para o casarão da La
Preciosa.
— Pai? — Ele bateu com pressa, no
escritório.
— Entra! — Máximo tinha chegado há
pouco de uma das escolas, com Carolina e, ao
ver o rosto do filho, sabia que tinha algo — O
que foi, agora?
— Encontrei com o tal Domenico! —
Bernardo contou sobre o encontro — Acho
que ele sabe de alguma coisa.
— Vou ligar pro Osvaldo. Meu Deus, os
anos passam e eu continuo indo pro homem,
como um filho enchendo o saco do pai.
— O tio Osvaldo é demais — Bernardo
falou. Ele sempre achou o homem um superherói.
— Ele é. Quando crescer, quero ser igual a
ele. Mas não da máfia.
Os dois riram.
Após falar com Osvaldo, este disse a
Máximo para não entrar em contato com
Domenico, pois ele com certeza estava sendo
monitorado.
— Deixa que eu mesmo faço isso. E
repassarei o que conseguir.
— Obrigado, Osvaldo.
— Somos família — Osvaldo respondeu —
Eu tenho que ir. Não fiquem zanzando por aí,
ok? Meus homens vão fazer a ronda.
— Posso estar sendo idiota, mas…
Domenico mencionou ter família e..
Osvaldo suspirou do outro lado da linha.
— Ele casou com uma moça há pouco
tempo e eles têm um bebê. Pode deixar que
eu vou ficar de olho.
— Achei que ele fosse gay… — Máximo
comentou, pensativo.
— Prefiro não me inteirar desses
pormenores, mas que a menina é dele, é —
Osvaldo pareceu falar com alguém — Vou
agora. Cuidem-se. Até.
E a linha ficou muda.
— Eu vou pro computador. Preciso
verificar uma coisa — Bernardo disse, como
se tivesse se lembrado de algo importante.
— Certo. Qualquer coisa eu te chamo.
Bernardo saiu dali correndo e se sentou na
frente da máquina.
— Carbonara… Receita… — Ele procurou
na internet mais sobre a tal receita e, no fim,
se viu lendo à respeito da Maçonaria, da
Sociedade Secreta Carbonária e, claro,
chegou a uma máfia que raramente era
mencionada, por ser pequena: a máfia
apuliana, a Sacra Corona Unita, no sul da
Itália — Eles têm contato com o Leste
Europeu. Rússia… Puta merda!
Após ir novamente para as barreiras
cibernéticas, Bernardo estalou os dedos. O
loiro pegou o celular e ligou para Pyotr, que
desligou. Bernardo insistiu mais duas vezes.
— Pelo amor, Bernardo! Minha mãe
parecia que ia comer o meu fígado por causa
das suas ligações!
— A máfia apuliana, Pyotr! Eu preciso
falar com a sua mãe!
Jannochka estava em mais uma reunião e,
quando Pyotr voltou à sala, ele fez sinal para
que ela o acompanhasse.
— Um momento — Ela pediu e seguiu o
filho para o lado de fora — É bom você ter…
— Sacra Corona Unita — Pyotr despejou
— Bernardo andou pesquisando, mãe.
Temos negócios com eles?
Ela franziu o cenho.
— Não. O negócio deles é mais voltado
para cigarros. Apesar das drogas e armas,
são muito irrelevantes. Eles atuam mais com
outros países aqui do Leste Europeu.
— Carbonária. A sociedade secreta —
Pyotr olhou em volta e engoliu em seco — Eu
sou péssimo em História, mas eles eram
revolucionários, não? Por que raios estariam
se metendo com a ‘Ndrangheta?
Jannochka inspirou fundo.
— A ‘Ndrangheta veio da Cosa Nostra… —
Ela entrou na sala de reunião, finalizando o
encontro e chamando Santiago para fora —
Entre em contato com o Volpicelli!
No escritório, ela discou o número de
Bernardo, que atendeu prontamente.
— Tia…
— Pensei que eu fosse sua Parkhan, garoto
— Jannochka o interrompeu e Bernardo
sorriu do outro lado — Agora, comece a
soltar a língua.
— A ligação tá segura?
— Que ofensa…
— Perdão — Bernardo suspirou — Bom,
vamos lá. Eu não consegui quebrar a
barreira, ainda, mas tenho uma ideia de
quem está fodendo com a gente.
“A gente”. Jannochka sorriu. Bernardo
estava de fato se sentindo um deles.
— Bem-vindo de volta, garoto.
CAPITULO 65
Ekaterina e Pyotr ouviam atentamente o
que Jannochka dizia.
— Por isso, vocês dois vão ficar em casa.
Nada de se esgueirar pela noite — Ela não
olhou para o filho, mas ele sabia bem que
aquelas palavras eram dirigidas a ele —
Estamos em um momento crucial e eu não
quero arriscar mais do que o necessário.
Pyotr nada comentou, até que fossem
liberados.
— Mãe, posso falar com a senhora?
— Claro — Ela disse, e fez sinal para que
ele fechasse a porta. Santiago já não estava
mais ali.
— Não vou ficar de rodeios. Eu gosto de
uma garota e quero pedir proteção a ela.
Jannochka encarou o filho por alguns
momentos, sem nada dizer. Então, respirou
fundo.
— A garota que está te fazendo me
desobedecer?
Pyotr balançou a cabeça.
— Ela não me faz desobedecer a senhora.
Eu vou porque quero.
— Pelo menos tem colhões para admitir.
Pyotr limpou a garganta.
— Eu a amo, mãe. Não é uma paixonite,
não é um romance bobo e passageiro. Tenho
planos de me casar com ela.
Jannochka acenou com a cabeça,
lentamente.
— Pyotr, eu não vou ficar aqui mentindo
pra você. Sei quem é a moça e a investiguei,
coisa que você não fez — Ela levantou a mão,
interrompendo Pyotr, que queria falar — Ela
não é confiável.
Ele franziu a testa.
— Lisa é inofensiva.
— É, mesmo? — Jannochka estalou a
língua — Vamos lá, me diga o que sabe dela.
— A senhora não investigou?
— Não seja abusado! — Jannochka deu um
tapa na mesa, com a mão espalmada —
Obedeça. É muito atrevimento me pedir algo
e ainda me desrespeitar!
Ele abaixou a cabeça, as mãos na frente do
corpo.
— Perdão — Pyotr respirou fundo — Lisa
é uma garota de classe média, vizinha de
Kazimir. Foi assim que a conheci — Ele
passou a língua pelos lábios — Ela é sensível,
carinhosa, não sabe que eu sou da máfia,
ainda. Mas vou contar!
Jannochka não se aguentou e gargalhou.
— Você acha, mesmo, que ela não sabe? —
a Don se levantou — Fico em dúvida se você
é realmente iludido ou burro, Pyotr.
— Claro que ela não sabe — Ele engoliu
as palavras que subiram na garganta dele, ou
acabaria levando um tiro de verdade da mãe
— Lisa não tem ideia do perigo. Ela pensa
apenas que a minha família é mais…
Tradicional. Por isso eu não posso ficar tanto
com ela e…
— Se a sua família é tradicional e,
aparentemente, tirana, com dinheiro para
queimar à vontade, me responda, Pyotr: por
que diabos não tem ninguém te seguindo?
Tentando afastá-los?
Pyotr engoliu em seco.
— De verdade, você acredita que ela é
ignorante ao que você é? Ao que você
pertence? — Jannochka sorriu cruelmente —
A questão é: qual o objetivo dela?
— Lisa nunca mencionou nada que me
fizesse duvidar da sinceridade dela — Os
olhos do rapaz queriam se encher de água,
pois as palavras da mãe faziam sentido,
porém, não combinavam em nada com a
imagem de Lisa.
— Isso só mostra que ela é suspeita.
Qualquer garota normal já teria questionado,
Pyotr! Um garoto de dezessete anos,
dirigindo! E não qualquer carro, mas
máquinas caras e raras! Andando por aí com
a porra de uma arma! — Jannochka
aproximou o rosto do de Pyotr — Vocês
foram parados pela polícia, que eu sei. O
policial olhou a sua identidade, e te deixou ir.
Fácil assim. E ela não perguntou nada? Lisa,
a pobre doce inocente Lisa!
Ao terminar de falar, o rosto de Jannochka
estava vermelho, tendo ela aumentado
bastante o tom de voz. Pyotr não mudou
muito a expressão, mas as lágrimas
desceram. Aquilo partia o coração de
Jannochka, a mãe, mas enraiveciam a Don da
Tambovskaya.
— Fique em casa, e eu a protegerei. Me
desobedeça, e eu a mato com as minhas
próprias mãos e ainda faço você assistir.
Pyotr deu um passo à frente.
— Não se atreveria!
Jannochka sorriu de lado, tranquila.
— Testa. Já falei isso: eu te amo, mas não
vou colocar a vida de gente que está levando
as coisas à sério, em risco, por um capricho
seu. Por desobediência — Ela se recostou na
mesa, braços cruzados — É assim que
pretende assumir o meu posto?
— E quem disse que eu quero a porra
desse posto? — Pyotr esbravejou e tirou a
arma da cintura — Eu largo isso aqui tudo
por ela.
Jannochka sorriu de leve, soltando uma
leve baforada de desdém.
— Muito bem. Ekaterina assumirá. Não há
motivo para disputas, então. Se ela não
quiser, qualquer outro, menos você — Ela
ficou mais séria — Se quer ir embora… Vá.
Mas vá com dignidade e deixe absolutamente
tudo pra trás.
Pyotr tremeu os lábios, com raiva.
— Ótimo.
— No momento em que sair daqui, Pyotr,
eu não poderei mais protegê-lo. Nem eu e
nem a Organização — Ela voltou para a
poltrona dela, sem pressa — Espero que
valha a pena..
— Você só pensa no poder — Ele colocou
a arma em cima da mesa dela e deu alguns
passos para trás, os olhos cheios de lágrimas,
não de tristeza, mas de fúria.
Ele deu as costas e se encaminhou para a
saída.
— Achei que a essa altura do campeonato
você compreenderia que o poder é o que nos
protege.
Pyotr parou com a mão na maçaneta, sem
se virar.
— Não esse poder.
Ele saiu, batendo a porta com força.
— Poder é poder, garoto — Jannochka
sorriu amarga, observando as câmeras. Ela
viu o filho fazendo uma mala e, depois, indo
para um dos carros.
Jannochka pegou o celular e avisou a todos
que Pyotr Larion não estava mais sob a
proteção dos Sigayev.
— Ele acabou de sair com um dos carros,
Parkhan.
— Não precisa avisar as autoridades sobre
o roubo. Apenas deixe claro que ele não é
mais parte da Tambovskaya.
— Sim, senhora.
Não demorou até Santiago entrar no
escritório, furioso, sem nem bater.
— Que porra é essa, Janniochka?! — Ele
caminhou furioso até a esposa — O meu
filho…
— Ele não quer fazer parte — Ela o
interrompeu — Pyotr quer viver um grande
amor, longe da máfia. Eu apenas permiti.
Santiago bufou algumas vezes e soltou um
rosnado.
— Você o deixou à mercê dos nossos
inimigos!
Jannochka se levantou, a aura dela
emanando perigo.
— Eu não vou proteger um civil que quer
se distanciar de nós. Se Pyotr quer se
escafeder no mundo com aquela garota, ou
seja lá com quem, que vá! O que ele não pode
é permanecer aqui e colocar os pescoços de
todos na reta! — Jannochka apontou para a
porta — Não falo apenas de você e de mim.
Nem só dos outros membros. Mas de
Ekaterina!
— Ele não a…
— Já o fez! Ekaterina seguiu um homem
suspeito, que se matou para que ela não o
capturasse. Um homem que estava seguindo
Pyotr! Ele e aquela garotinha! Você me pediu
para que eu fosse mais paciente, para que
não mandasse matar aquela garota. E pra
quê? Pra que Pyotr se evadisse das
responsabilidades dele!
— Ele só está confuso…
— Santiago, a nossa filha aceitou casar
com um Vermelho. Ela também ama alguém,
mas pensou no bem de todos! Incluindo o
Pyotr. E ele é tão egoísta que não vê isso. Se
ele é incapaz de pensar nos outros, não serve
para fazer parte de uma Organização como a
nossa.
Santiago inspirou algumas vezes, o
coração apertado. Jannochka o olhava, com
lágrimas nos olhos, e isso o quebrou. Aquela
mulher chorou poucas vezes desde que
estava com ele. As últimas haviam sido
quando os gêmeos nasceram e quando o pai
dela morreu.
Ele a abraçou e a acalentou, enquanto
Jannochka chorava no ombro dele.
Quando Pyotr chegou à casa de Lisa, ela se
assustou em vê-lo aquela hora do dia.
— O que faz aqui?
— Não está feliz em me ver? — Ele
perguntou e Lisa o abraçou.
— Claro que estou! — A loira beijou-lhe os
lábios — Mas e a sua família? Você não vem
aqui, de dia.
— Arruma as suas coisas. Vamos meter o
pé — Ele tirou um envelope com dinheiro do
casaco e o colocou em cima da mesinha de
entrada — Avise os seus pais para sumirem
— Pyotr olhou em volta e franziu a testa —
Por sinal, sua mãe não está?
Lisa mordeu o lábio, tentando disfarçar o
nervosismo.
— Ela saiu… Foi ao mercado — Ela
segurou a mão de Pyotr — Por que quer
fugir?
— A única coisa me segurando aqui é você
— Ele a encarou, como se quisesse alcançar a
alma dela.
Lisa acenou com a cabeça.
— Pyotr, eu tenho… Eu tenho que te dizer
uma coisa.
CAPITULO 66
— Você me conta no caminho. Vem, vou te
ajudar a arrumar… Eu também tenho que te
dizer algo.
— Pyotr, é sério! — Lisa estava quase
chorando e inspirou fundo — Senta e me
ouve. Depois, me diz se quer mesmo fugir
comigo.
Pyotr sentiu um frio subindo pela espinha
dele e as palavras da mãe ecoaram na mente
do rapaz. Ele se sentou no sofá.
— Muito bem…
Lisa se colocou na frente dele, andou de
um lado para o outro, antes de respirar
fundo pela última vez e o encarar.
— Antes de tudo, eu quero que saiba que
eu te amo — A voz embargada da loira
apenas adicionou mais pânico em Pyotr, que
mesmo emocionado com a declaração, não
conseguia deixar de sentir medo — Meu pai
está morto. Bom, meu pai de criação, mas
quem me deu amor e cuidou de mim e da
minha mãe.
Pyotr apenas a observava. Lisa parecia
estar lutando contra algo, mas continuou a
falar.
— Depois que ele morreu, as coisas
ficaram estranhas. Papai trabalhou muito.
Não éramos ricos, mas… Também não
éramos pobres! Apareceram dívidas que
minha mãe, claramente, não tinha como
pagar. Perdemos a casa, o carro. Até nossas
roupas foram levadas!
— Um dia, um homem nos visitou. Ele
entrou, com outros, vestidos de preto e
cobrindo o rosto. Ofereceram pagar as
dívidas, mas havia um preço. Para garantir
que pagássemos, minha mãe ficaria com eles,
enquanto eu faria o trabalho sujo.
Lisa passou a mão pelo rosto. Ela não
olhava mais para Pyotr. Na verdade, ele
podia notar como ela estava distante.
— Eu não sei quem são. Juro que não sei.
Só o que sei é que são pessoas poderosas e
muito, muito perigosas. Eu tinha que vigiar
você, depois, me aproximar e garantir que
eles tivessem acesso a você, aos Sigayev. Eu
sei que vocês também são perigosos.
Mafiosos.
A respiração de Pyotr ficou presa no peito
dele. Porém, ele nada disse, permitindo que
Lisa continuasse.
— A peça de xadrez… Eu já sabia que você
gostava. Ela… Ela não era só uma escuta,
como um rastreador e… — Lisa mordeu o
lábio — Mapeou por onde você foi.
Pyotr se colocou de pé, passando a mão
pelos cabelos.
— Mas não conseguiu pegar muito da
casa, porque… Porque a sua casa tem umas
coisas que interferiram no sinal! Eu juro que
não quero o seu mal…
Lisa chorava e Pyotr estava de costas para
ela.
— Você me fez perder a peça de propósito,
não é?
— Sim — Ela fungou.
— Sua mãe…
— Ainda viva. Ou ao menos, foi o que me
disseram, mas… Eles não deram um
tratamento V.I.P. a ela — Lisa voltou a chorar
e Pyotr se virou para encará-la — Perdão,
Pyotr. Eu queria não ter feito nada disso. Eu
queria poder te falar tudo antes! Só que você
quer ir embora e não posso… Não posso te
deixar fazer isso sem saber o que tá
acontecendo!
Pyotr então se deu conta de algo. Ele olhou
em volta, a respiração acelerada.
— Esquece as suas coisas — Ele segurou a
mão dela — A gente tem que sair daqui.
Agora!
Lisa piscou algumas vezes, quase sendo
arrastada por Pyotr.
— Você não me odeia?
— Nós dois vamos falar melhor depois,
Elisaveta. Se é que esse é o seu nome!
— Pyotr, não acho…
Ele se virou e, pela primeira vez, Lisa viu
ali um mafioso, e não o garoto espirituoso e
afetuoso.
— Você vem comigo! E vai me contar cada
detalhe de toda porra que se lembrar!
Ele quase a jogou dentro do carro,
tremendo de raiva, os pensamentos numa
névoa louca.
Lisa choramingava, mas tentava abafar. A
última coisa que ela queria era piorar as
coisas.
— Quem é você?
Pyotr perguntou, olhando a estrada.
— M-meu nome…
— Fala!
— Elisa Romanovich. Meu pai… Ikovle
Romanovich. Minha mãe, Frosya. Pushkin
quando solteira.
Pyotr acenou com a cabeça.
— Cadê seu telefone?
— Pra quê..?
— Não vou pedir de novo!
Lisa, com as mãos trêmulas, retirou o
aparelho do bolso do casaco, colocando-o na
mão que Pyotr tinha estendido. Assim que
ele o pegou, abriu a janela do carro e o atirou
longe.
— A porra do seu celular tem rastreador,
com certeza — Ele inspirou fundo — O que
mais está escondendo de mim?
— Nada. Eu… Eu não sei nomes — Ela
escondeu o rosto nas mãos e então olhou
para frente — O sotaque… não eram russos!
Falavam nosso idioma de forma sofrida.
— Italianos?
— Talvez…
Pyotr tirou o celular dele do bolso da calça
e começou a digitar, enquanto olhava a rua.
Um som de alguém falando russo, com
sotaque italiano.
— Isso?
Ela concordou com a cabeça.
— É bem parecido! — Lisa inspirou fundo
— Você me odeia?
Pyotr guardou o celular.
— Deveria. Você mentiu pra mim. Colocou
toda a minha família em perigo! — Ele socou
o volante e sorriu de raiva — Só que você
não tem dever de lealdade, como eu. E veja
só… Eu os traí. Por… Nós!
A raiva de si mesmo o consumia. Ele tinha
desafiado a mãe, renegado a todos, mesmo
depois de Jannochka ter tentado abrir os
olhos dele.
“Enquanto isso, Ekaterina vai se casar com
a porra de um Vermelho, abdicando do
Bernardo…”. Ele queria bater em si mesmo.
— Perdão…
— Vamos fazer o seguinte: procurar a sua
mãe. Depois, você e ela vão sumir!
Entendeu?
— Pyotr, eu te…
— Nem pense em repetir essa merda! —
Ele inspirou fundo — Se eu não amasse você,
Lisa… Porra!
Outro soco no volante e ele pegou o
celular, ligando para Bernardo.
— Oi! — Bernardo atendeu.
— Preciso que procure alguém.
— Eu? — Bernardo, que tinha acabado de
se exercitar, perguntou, subindo as escadas.
— Vai ajudar ou não?
— Que grosseria… Vou, claro. Quem?
Pyotr deu as informações que tinha.
— Consegue?
— Eu vou tentar… Mas eu preciso de uma
conexão com ela. Consegue ligar ou…
Pyotr amaldiçoou baixinho.
— Não.
— Droga… — A ligação estava em vivavoz.
— Eu sei o número de cabeça. Deles —
Lisa falou e Pyotr a olhou feio, pois ela não
tinha dito aquilo antes — Desculpa, não
sabia que era importante.
— Começa a falar — Pyotr ordenou e a
garota falou. Bernardo queria perguntar
quem eram “eles”, mas preferiu não fazê-lo.
Pyotr parecia alterado demais.
— Eu vou ver o que faço. Já volto! — O
loiro respondeu e finalizo a ligação.
Enquanto isso, Ekaterina estava
terminando de se arrumar. Ela iria jantar
com Konstantin e, por mais que tivesse a
intenção de ligar para Pyotr, sabia que teria
que ser cautelosa. Além disso, ela duvidava
muito que a mãe deixaria o rapaz ir embora
sem proteção.
Konstantin a esperava na sala. Quando ela
desceu as escadas, ele sorriu.
— Desculpe a demora — Ekaterina falou,
pois eles estavam atrasados.
— Valeu a pena — O loiro respondeu.
Jannochka e Santiago não estavam ali,
apenas Yuri. Pelo menos em corpo.
Konstantin abriu a porta do carro e
Ekaterina entrou, atracando o cinto. Assim
que o veículo começou a andar, ela apenas
encarou a rua pela janela.
Em um determinado momento, Konstantin
iniciou uma ligação. Mesmo sem se virar,
Ekaterina estava atenta.
— Sim, por favor. Cancele a reserva. Eu
decidi levar a minha noiva a um lugar mais…
Reservado.
— Sim, senhor — Alguém falou do outro
lado da linha e Ekaterina franziu a testa.
— Obrigado — Konstantin finalizou a
ligação e continuou dirigindo.
— Pra onde está me levando? — Ekaterina
perguntou, tentando manter o tom amigável.
— Surpresa.
— Odeio surpresas — Ela falou e
Konstantin apenas sorriu.
— Lamento.
Ekaterina esperou e, como o loiro ao lado
dela nada disse, ela tirou a arma da perna,
que estava presa com uma cinta de couro, e a
apontou para a cabeça de Konstantin.
— Pra onde?
CAPITULO 67
— Eu estou dirigindo. Não é muito
aconselhável deixar o motorista nervoso,
linda. Eu quero apenas ter privacidade…
Ekaterina destravou a arma.
— Foda-se os seus conselhos e a sua
privacidade de merda. PRA ONDE?
Konstantin suspirou, sem parecer se
abalar.
— Seu irmão é um idiota. Sabia disso?
A russa travou o maxilar e apertou a arma
ainda mais contra a têmpora de Konstantin.
— O sujo falando do mal lavado — Ela
sorriu falsamente — Última chance, loiro.
— Assim eu vou acabar me apaixonando
de verdade. Ai, ai… — Konstantin virou o
carro e entrou na estrada principal — Vamos
encontrar meu cunhadinho.
— Pyotr não é seu cunhado. E sabe que ele
nunca será.
— A esperança é a última que morre. Vai
que você cai de amores por mim? Eu
também sou loiro e sei ser fofo — Ele sorriu
bonito e piscou os olhos.
— Você é sem graça. E eu, sem paciência.
— Muito bem, vamos falar sério —
Konstantin se endireitou no banco, sem tirar
os olhos da estrada — Seu irmão debandou.
Como eu sei, coisas minhas. Depois eu
explico melhor. Mas o importante é que eu
sei.
Ekaterina usou a outra mão para puxar
com força o cabelo do topo da cabeça de
Konstantin, que soltou um grito.
— Porra, Rina! Eu tô falando! — Ele fez
uma careta — Você me deixou de pau duro.
— Que nojo.
— Ainda caso com você, mulher. Enfim…
Vamos deixar as mãos longe um do outro,
por hora, mesmo que seja você me deixando
com tesão — Ele soltou uma gargalhada —
Ele foi ficar com a vadia dele. Eles fugiram e,
adivinha: estão sendo seguidos.
— Eu vou ligar pros…
— Uh-uh. Vocês estão grampeados, meu
amor. Seu irmão é burro demais —
Konstantin acelerou — Não sou um gênio,
mas menos idiota. Um italianinho de merda
está cuidando dos sistemas, a loirinha é
otária e “doce” demais, cai fácil numa lábia.
Ou não estaria com o seu irmão, sejamos
francos.
— FALA LOGO! O próximo lugar que eu
vou atingir vai te fazer ficar “mole” pro resto
da vida! Você é um dos seres mais irritantes
que eu já tive o desprazer de conhecer!
— Quanto ódio no coração. E eu só
ajudando. Vai ver o otário sou eu mesmo.
Continuando, nós vamos salvar o dia. Por
isso, princesa deliciosa, é melhor se
concentrar pra atirar nos alvos que
importam, não em mim.
— Se estiver mentindo…
Konstantin ficou sério e olhou no
retrovisor.
— Não minto quando é sério, Ekaterina.
Estamos sendo seguidos, mas que se foda. Vê
o carro preto beeeem atrás da gente? — Ela
olhou pelo retrovisor lateral e concordou
com a cabeça — Atire na roda dele.
Ekaterina abaixou o vidro, pensou e,
quando colocou a arma para fora, atirou de
uma vez, sem errar os alvos. Primeiro, o
pneu dianteiro e, quando o carro virou, ao
perder o controle, ela atirou no traseiro.
— Menina obediente! — Konstantin virou
o carro sem aviso e eles saíram da estrada —
Certeza que não quer casar comigo?
— Dirige a merda desse carro!
— Tô apaixonado! — Ele tinha total
controle sobre o veículo, o que fez Ekaterina
ver um ponto positivo no homem — Creio
que os carros de vocês tem rastreador, não?
— Sim.
— Ótimo. Pega o meu telefone, procura
por RNNO e liga — A mão de Ekaterina foi
para o visor do carro, mas Konstantin negou
com a cabeça — Tá no meu bolso, o outro
celular.
— Seu desgraçado… — Ela murmurou,
mas aproximou a mão do bolso dele.
Konstantin se virou um pouco, o que
indicava que era o de trás.
— Prefiro que peguem no meu pau por
gosto. Quem sabe depois dessa aventura,
huh? — Ele sorriu amarelo e Ekaterina
revirou os olhos, pegando o aparelho —
Acho que ao menos um beijinho… — ele fez
bico.
— Estou tentada a enfiar uma coisa na sua
boca, Tchekhov! E acredite, você não vai
gostar nada!
Ele só sorriu. Irritar Ekaterina o deixava
contente. Konstantin adorava ser irritante e
inconveniente.
Assim que ele viu Ekaterina clicando em
LIGAR, Konstantin colocou a mão sobre a
dela.
— Caladinha, paixão.
Um toque e o telefone foi atendido.
— Ouvindo, patrão.
— Manda a localização do Pyotr Sigayev.
Sem resposta vocal e, em segundos,
Ekaterina viu a tela ficando preta com um
ponto esverdeado, brilhando, além da
bússola.
— Valeu. Qualquer coisa, eu aviso. Mas fica
de olho aqui.
— Entendido.
O barulho da ligação caindo foi ouvido.
— Fica de olho. Vai me dando as
coordenadas.
— Não sei ler essa merda.
— Olha a bússola, meu amor.
— É sério?
— Parece não ser?
Ekaterina fez careta, querendo acertar o
loiro, mas Pyotr era mais importante. Ela se
concentrou para entender aquilo. Konstantin
deu algumas dicas e, logo, Ekaterina pegou o
jeito.
“Inteligente… Se acabássemos casando
mesmo, eu estaria satisfeito”, ele pensou,
sorrindo internamente.
Logo, o carro de Pyotr foi visto e, claro,
como Konstantin previu, já estava em
perseguição.
— Mas que caralho! — Pyotr reclamou e
Lisa chorava — Pelo amor de Deus, para de
chorar… Você não tem uma arma?
— Claro que não!
Um outro carro apareceu, no barranco do
lado do passageiro. O automóvel era escuro.
Um tiro no carro que o perseguia, vindo dali
e Pyotr se perguntou se era um dos carros
dos Sigayev.
Isso o fez se sentir com uma esperança
diferente. Seria Jannochka ou Santiago?
— Segura aí! — Ele avisou e jogou o carro
para o lado, descendo um barranco. Lisa
chorava, com os olhos fechados.
Outro carro seguiu Pyotr, bem como o
“carro amigo”. Pelo que ele pode perceber, o
outro veículo perseguidor estava de faróis
apagados, antes. E, como aquela estrada não
tinha qualquer iluminação, Pyotr não pode
vê-lo.
— Quando eu falar, você vai abrir essa
porta e sair — Ele disse, calmamente para
Lisa, que sacudiu a cabeça negativamente,
desesperada — Lisa, eu volto pra pegar você.
Vou desacelerar, você pula e corre pro outro
lado, entendeu bem?
— Não posso…
— Confia em mim? — Ela tremeu os lábios
e acenou que sim — Então, faça como eu
mandei.
— Eu vou morrer.
— Não vou deixar — O tom de Pyotr foi
doce, mas determinado. Lisa sorriu. Ele
desacelerou e ela colocou a mão na
maçaneta.
— Cuida da minha mãe, se ela ainda
estiver viva. Eu amo você, Pyotr.
Com isso, Lisa saiu do veículo e Pyotr se
sentiu vazio imediatamente. Apesar da raiva,
ele a queria. Mas uma sensação ruim tomou
conta dele.
“Presta atenção na estrada!”, ele disse a si
mesmo, vendo que os carros ainda o
seguiam.
CAPITULO 68
A janela do motorista do carro esportivo
abaixou e uma arma apareceu ali. Pyotr viu
fios loiros e franziu o cenho. A mão toda
tatuada e ele não acreditou.
— Konstantin? — Ele se perguntou, e, com
essa distração, passou em cima de uma
pedra. Não estourou o pneu, mas sacudiu o
carro, que não era feito para aquilo —
Merda!
No carro do herdeiro da Máfia Vermelha,
Konstantin atirava sem dó. Ele acertou três
tiros no mesmo lugar e Ekaterina se
impressionou.
— Você não é tão inútil!
— Você não viu nada, meu amor! Segura!
O carro acelerou mais ainda e foi de
encontro lateral com o carro maior.O vidro
quebrou com mais um tiro de Konstantin,
que mirou no passageiro e o acertou na
cabeça, antes de desacelerar e ficar logo
atrás do veículo.
— Lá vem mais!
Outros carros apareceram.
— Você tem mais armas? — Ekaterina
perguntou. Ela sempre andava com pelo
menos duas reservas de munição, mas
estava ficando sem.
— Banco de trás. Eu vim preparado pra
isso — Ele sorriu presunçoso — Vou abrir o
porta-malas. Acaba com esses filhos da puta.
Mas primeiro, me dá munição.
Ekaterina recarregou a arma dele, foi para
o banco de trás, pegou mais armas e as
colocou perto de Konstantin, antes de se
preparar e gritar para ele abrir o portamalas.
“Pyotr, eu vou te matar!”.
Ela o reconheceu como um dos carros da
família.
Ekaterina estava tendo dificuldades em
acertar os alvos, que se moviam rápido. Além
disso, o terreno, apesar de não ser mais uma
descida, era muito irregular e o carro de
Konstantin, um Aston Martin Valkyrie, muito
veloz, não tinha a estabilidade necessária
para estar ali.
— Podia ter vindo… Ai, caralho! — A
cabeça dela bateu no topo — Com um carro
melhor!
— Levantaria suspeitas! — Konstantin
respondeu.
O carro de Pyotr apitou, indicando que
logo ele ficaria sem gasolina. Ele tinha pego o
primeiro carro que viu e pretendia parar
para abastecer, porém, a perseguição
começou antes.
— Ah, que porra! — Ele balançou a cabeça
— Eu tenho que achar onde parar!
“Se eu sair dessa, vou pedir perdão pra
mamãe, lamber o chão por onde ela passar”,
ele viu um dos carros pelo retrovisor, o que o
deixou nervoso. Aquele carro era um dos
favoritos de Jannochka.
Ele pegou a bolsa dele do banco do
motorista e se preparou. Usaria aquilo como
peso para acelerar, enquanto ele faria o
mesmo que Lisa e, depois, se esconderia.
Sem uma arma, Pyotr estava completamente
indefeso.
A queda foi dolorosa, mas como era
treinado, Pyotr proteger a cabeça. De nada
adiantaria batê-la e perder a consciência. Ou
levaria um tiro, ou seria atropelado.
Ele se levantou o mais rápido possível,
correu para a mata e se colocou atrás de uma
das árvores. Enquanto isso, o carro dele
bateu e parou.
Konstantin apertou os lábios. Ele viu a
porta do carro abrindo, mas não tinha muita
certeza, já que a iluminação era muito ruim.
“Se esse idiota morrer, eu nem sei! A irmã
é tão esperta, e ele um otário!”
Não havia apenas um carro Sigayev, mas
Ekaterina conseguiu distinguir que eram de
soldados. Menos um… O carro de Jannochka.
Com os vidros escuros, não tinha como saber
quem estava dirigindo.
— Os carros começaram a parar… —
Konstantin avisou — Entra!
Um tiro atingiu Ekaterina na perna e
Konstantin xingou.
Assim que ele saiu, atirando, a puxou para
fora, escondendo-se. A noite encobriria o
rastro de sangue.
— Calminha.
— Vou matar esses filhos da puta!
— Não se eu os matar antes — Konstantin
não podia iluminar o ferimento, mas
arrancou um bom pedaço da própria camisa
— Você sabe onde é.
— Obrigada.
A vontade de fazer piada era grande, mas
o momento definitivamente não era
apropriado.
— Fica aqui. Eu vou atrás do Pyotr.
Ekaterina segurou o braço de Konstantin.
— Cuidado.
— Eu volto pra você.
Ele se esgueirou para longe, sem o casaco.
A blusa preta por baixo era completamente
fosca. Konstantin só amaldiçoou ter os
cabelos claros.
“Cadê esse merdinha?”
Tiros ecoavam e Pyotr mal os ouvia, quase
surdo com o sangue bombeando nos
próprios ouvidos. Ele tinha apenas uma faca
com ele, portanto, só poderia se envolver em
um confronto físico, bem próximo.
“Eu vou estar fodido!”.
Konstantin não conhecia todos os homens
da Tambovskaya, o que dificultava em muito
a vida dele. Ao ver um se aproximando, ele
ficou bem parado e esperou a oportunidade,
agarrando-o por trás e abaixando a gola da
camisa. O pouco de que ele podia enxergar
foi o suficiente para discernir uma tatuagem,
a aranha. Os italianos tatuavam nas mãos os
símbolos de sua Organização.
— Estou do lado dos Sigayev — Ele soltou
o homem, que o reconheceu — E os outros?
O homem fez sinal com as mãos e
Konstantin olhou para lá, acenando com a
cabeça que havia compreendido.
Ekaterina não ficou parada, atirando. Ela
sentia uma urgência em achar o irmão.
Do carro da mãe, quem saiu de dentro foi
Maksim, o que a surpreendeu. O rapaz era
rápido e parecia outro, quando pronto para a
luta.
A munição estava quase no fim e ela sabia
que precisaria ou se esconder como uma
covarde, ou voltar ao carro.
“Merda!”, ela esperava os tiros para poder
enxergar algo com a claridade que eles
causavam, apesar de pouco. A Lua era
minguante, o que não ajudava muito.
Ela correu como podia, para o carro. A
adrenalina alta diminuia a sensação de dor,
porém, a perda de sangue era sentida na
percepção que ela tinha dos arredores dela.
Uma mão a segurou pelos cabelos e a dor
da faca nas costelas quase a deixou cega, mas
Ekaterina chutou a canela do agressor,
jogando então a cabeça para trás, quando ele
afrouxou o aperto dos fios dela, virando-se
por baixo do braço dele e o acertando na
virilha.
A tontura a pegou de jeito.
“Não posso morrer, ainda!”, ela pensou,
chegando ao carro e pegando o que
precisava.
Dali, Ekaterina conseguiu ver o que ela
acreditava ser o irmão, em luta corporal com
alguém. Maksim não estava diferente. Ela foi
atrás de Pyotr.
Konstantin levou um tiro no ombro e
praguejou mentalmente. Ao ver Ekaterina,
ele arregalou os olhos e foi atrás dela.
“Eu disse pra ela ficar quietinha!”.
Os olhos deles já se acostumavam mais à
escuridão, permitindo que vissem melhor.
Pyotr a viu, mas antes que pudesse fazer
algo, enquanto se livrava do inimigo em cima
dele, mais um disparo e o barulho de corpo
caindo.
CAPÍTULO 69
O coração de Pyotr parecia que sairia pela
boca. Tudo estava em câmera lenta. Ele
acertou o homem no peito e o jogou para o
lado. Porém, congelou ao ver quem estava
caído. Um tiro o acertou no braço e outro na
perna, mas ele não parecia conseguir sentir
nada. Outro no abdômen.
— Não… — Ele murmurou, alheio a tudo
ao redor dele — Rina…
Ele não a alcançou, pois Konstantin o
arrastou para o lado e para baixo, atrás de
tronco no chão, apodrecido.
Pyotr tentou se soltar, mas o corpo dele
parecia incapaz. Konstantin sentiu o
molhado pegajoso no corpo de Pyotr e sabia
que o rapaz sangraria até morrer, se não
recebessem ajuda e logo.
— Fica quieto! Juro por Deus que mato
você e aquele outro Sigayev se você
continuar a se debater!
Isso chamou a atenção de Pyotr.
— Vai à merda! Minha irmã…!
— Ela se foi! E você vai cooperar!
Pyotr deu um empurrão em Konstantin,
que o segurou pela nuca e o acertou no
pescoço com a mão, desacordando Pyotr.
“Inferno!”, ele pensou e olhou para
Ekaterina, no chão. Maksim estava tentando
se aproximar e Konstantin, com o ódio que
estava, ficou com a atenção mais afiada.
Ele matou mais alguns.
Quando Pyotr acordou, parecia que tinha
levado uma surra. Os olhos dele abriram,
porém, tudo era escuridão. Pyotr tentou
levantar o tronco, que doeu terrivelmente.
Um cheiro que ele reconhecia e braços o
envolveram.
— Pyotr!
— M-mãe?
— Shh…
Ele se lembrou do ocorrido e se segurou
os braços da mãe. Ainda que a escuridão o
preocupasse…
— Cadê ela? — Ele perguntou, puxando o
braço e sentindo a fisgada, tanto do tiro
quanto da agulha saindo do lugar — Ah!
— Filho…
— Cadê a minha irmã? — As lágrimas
desceram pelo rosto dele — Cadê a Rina?
Cadê?
Jannochka segurou o filho, mas ele a
empurrou, tentando sair da cama. Como não
via nada, tropeçou, levando Jannochka ao
chão com ele.
— Ekaterina…
— Ela tá viva, não é? Ela… Ela tá bem!
Jannochka notou como ele olhava para o
alto, como se procurasse alguma coisa. Ela
passou a mão pelo rosto dele, que não
reagiu.
— Pyotr? Você consegue me ver?
— Eu preciso ver a Rina!
Jannochka apertou no botão que chamaria
a equipe médica.
Em dois tempos, Pyotr foi acalmado,
deitado em cima da cama. Santiago entrou, o
braço enfaixado.
— Como ele está? — Santiago abraçou a
mulher, tendo o cuidado de não apertar onde
estava machucado.
— Acho que ele não consegue ver —
Jannochka levantou a mão na frente do rosto
— E abalado. Santiago…
— Ele vai se recuperar — Santiago parecia
desprovido de vida.
— Cadê… Cadê o Maksim?
— Em casa. Yuri tá cuidando dele. Fyódor
está arrancando algumas informações de
quem sobreviveu.
— E o Tchekhov?
— Não sei. O pai o levou para casa, ou sei
lá — Santiago suspirou — Acha que foram
eles?
— Não sei. Sinceramente, vou lidar com
isso depois do funeral. Eu não consigo,
Santiago… A minha menina…
Bernardo, depois de repassar as
informações para Pyotr, foi bloqueado. Ele
sabia que alguma coisa muito ruim estava
acontecendo, porém, nada o preparou para a
ligação, horas depois.
Ninguém sabia o que dizer a ele, nem
como agir. O rapaz estava sentado no chão,
num canto, abraçando os joelhos e, cada vez
que Carolina o olhava, era como se não
houvesse alma ali.
— Já se passaram dias, Carolina. Os
médicos vão levá-lo para a Capital.
— Meu filho…
— Ele vai precisar de ajuda profissional.
Você sabe que.. — O som da porta no andar
de cima batendo interrompeu Máximo, que
olhou para a escada e viu Bernardo
descendo, todo de preto, com a mala dele.
— Meu bem…
O rapaz passou por eles, em direção à
porta.
— Bernardo, onde vai? — Máximo
perguntou, se colocando na frente do filho,
que tinha uma expressão estranha.
— Preciso ir para o aeroporto.
Máximo não se moveu quando o filho
tentou passar por ele, novamente. Carolina
ficou ao lado do marido.
— O que tem no aeroporto?
— Vou pra Rússia.
— Você não vai, não! — Máximo rosnou,
mas o semblante de Bernardo indicava que
nada o deteria.
— Eu vou. Vou caçar os filhos da puta que
mataram a Ekaterina. Vou arrancar tudo
deles.
A voz fria e desprovida de emoções
fizeram Carolina tremer. Aquele rapaz
definitivamente não era o Bernardo que ela
conhecia, o rapaz que ela tinha criado.
— Meu amor… Isso não vai trazê-la de
volta.
— Mas vai levar os malditos pro inferno.
Agora, por favor, — Bernardo inspirou fundo
— podemos fazer isso do jeito fácil ou do
jeito difícil. Mas o final vai ser apenas um: eu
vou.
Carolina o abraçou e Bernardo a abraçou
de volta, mesmo sem muita emoção.
— Desculpe, mãe. Eu preciso fazer isso.
— Não pode… — Carolina segurou o braço
de Máximo, que a olhou sem compreender.
— Volte pra nós.
Bernardo finalmente a olhou.
— Não tem como, mãe. Esse “eu” não
existe mais.
— Bernardo… — Carolina começou a
chorar.
— Eu amo vocês dois e nem se eu
morresse cem vezes isso mudaria. Preciso
resolver isso.
Máximo suspirou, derrotado. Ele sabia que
se fosse com ele, não agiria diferente. Se
Carolina morresse, ainda mais do jeito que
Ekaterina morreu, ele não conseguiria seguir
em frente.
Bernardo passou pela porta e foi direto
para o carro. Dois homens de Osvaldo, junto
com Miguel, estavam ali.
— Não foi para Atlanta? — Bernardo
perguntou assim que entrou no carro.
— Vou agora. Você pega um jatinho e eu, o
outro — Miguel respondeu.
— E o que veio fazer aqui? Não preciso de
babá.
Miguel inspirou fundo e abraçou
Bernardo, que sentiu o corpo inteiro tremer.
— Não era assim que eu queria te dar as
boas-vindas ao nosso mundo — Miguel o
soltou e ajeitou o terno — Podemos ir — Ele
disse ao motorista.
Em casa, Konstantin olhava para a tela do
computador.
— Ainda nisso? — Zinon perguntou,
revirando os olhos — Sabe que a sua
noivinha não vai voltar. Precisamos pensar…
— Cala a boca.
CAPÍTULO 70
— O que disse? — Zinon perguntou,
olhando para Konstantin como se uma nova
cabeça tivesse nascido no rapaz. Este virou o
rosto e o encarou, a expressão ilegível.
— Além de só falar merda, é surdo,
também?
Zinon apertou os punhos ao lado do corpo
e sacou a arma, apontando-a para a cabeça
de Konstantin.
— Seu… Moleque miserável!
— Atira. Aposto que o Conselho te tira do
poder assim — Konstantin estalou os dedos
e se levantou, sem parecer se importar com a
arma — Sabe, Zinon, se não me matar, eu
vou subir ao poder — O sorriso debochado
de Konstantin foi diferente.
— Você? Deixou a sua chance passar
quando não cuidou da sua noiva! — Zinon
olhou o filho com escárnio — Não me diga
que… Se apaixonou mesmo pela vadia…
Konstantin era rápido e arrancou a arma
da mão de Zinon, acertando-lhe um soco e
apontando a arma para o pai.
— A vadia valia muito mais do que você
jamais valeria, não importa quantas vezes
reencarnasse! — Konstantin se acocorou,
ficando mais próximo ao nível do pai, no
chão, balançando a arma — Espero que
tenha aproveitado bem seu tempo como
Don, Zinon. Porque ele chegou ao fim e… —
Konstantin se colocou de pé, olhando o pai
como se este fosse um inseto — Nunca mais
volte a falar de Ekaterina Sigayeva nesse
tom.
Konstantin voltou a se sentar em frente ao
computador.
— É melhor sair daqui…
Zinon não disse nada, apenas passou o
dorso da mão pela boca, se levantou e saiu.
“Vamos ver de quem foi que o tempo
acabou!”.
Konstantin sorriu, e começou a mexer no
aparelho, aparentemente satisfeito com o
que estava conseguindo.
Bernardo chegou à Rússia e, ao ser
recebido por Yuri, percebeu que ele não
tinha sido o único a mudar.
— Por aqui — Yuri falou, seco.
Os dois entraram no carro.
— Mais algum ataque? — Bernardo
perguntou e Yuri balançou a cabeça.
— Não.
— Certo — Bernardo olhou pela janela, e
Moscou parecia diferente.
No dia em que Pyotr saiu de casa,
Jannochka e Santiago precisaram verificar
uma explosão e um ataque a uma das casas
de um dos membros do Conselho. Foram
atacados e, com isso, não puderam ir atrás
de Pyotr e Ekaterina a tempo.
Jannochka não sabia que Konstantin
levaria a noiva para um passeio carregado de
adrenalina, o que deixou a Don fervendo de
ódio. Mas o ódio deu lugar a uma tristeza
sem fim, ao saber que sua única filha havia
perecido.
Fyódor deixou todos os prisioneiros quase
à beira da morte, mas ele não se sentiu no
direito de finalizá-los, deixando isso a cargo
de Santiago e Jannochka.
— Ele já voltou a enxergar? — Bernardo
perguntou, sem desviar os olhos da janela.
— Não. Os médicos dizem que não é nada
físico, mas sim psicológico — Yuri engole em
seco — Eventualmente, ele deve voltar a
enxergar.
Bernardo apenas balançou a cabeça,
concordando e ninguém disse mais nada, até
chegarem à mansão Sigayev.
Jannochka o recebeu, assim como
Santiago. Não era preciso palavras para cada
um saber da dor do outro.
— Vem, eu vou a sua sala. O quarto…
Preparei seu antigo e um novo. O que
prefere?
— O antigo — Bernardo falou. Ainda que
ele estivesse repleto de lembranças de
Ekaterina, o loiro optaria por sofrer com
pelo menos isso, um pouco da presença da
amada.
— Eu consegui rastrear algumas coisas,
Konstantin também está ajudando.
Bernardo inspirou fundo. Ele odiava ouvir
o nome do noivo de Ekaterina, mesmo
sabendo que o rapaz havia arriscado a
própria vida por aquela família.
— Okay — Jannochka mostrou a sala e
saiu. Santiago o abraçou, mesmo sem falar e
também se foi.
Mal Bernardo ligou o computador,
recebeu uma mensagem no celular.
NÚMERO DESCONHECIDO: Seja bemvindo. Vou te passar tudo o que tenho.
BERNARDO: ?
NÚMERO DESCONHECIDO: Konstantin,
aqui.
BERNARDO: Ah… Okay.
KONSTANTIN: Vou te passar também o
contato de alguém que pode ajudar. Eu sou
meio negação em tecnologia, desculpe.
BERNARDO: Você ajudou muito. Obrigado.
Não houve mais resposta.
Como era tarde, Bernardo não se atreveu a
ir falar com Pyotr que, pelo que sabia, vivia
no quarto, sem falar com ninguém.
“Ele merece… Ele arriscou tudo”, Bernardo
pensou, e riu de si mesmo. “Assim como eu.
Eu a abandonei. Ela não estaria naquele
carro, porque não seria noiva do Tchekhov.
Eu a matei, também…”
Maksim estava encostado no batente da
porta, quando Bernardo virou no corredor.
— Maksim…
O russo apenas sorriu, acenou com a
cabeça e entrou no quarto.
A mansão inteira parecia mergulhada em
uma depressão sem fim, como se uma nuvem
negra não só pairasse sobre eles, mas os
sufocasse, impedindo-os de respirar, se não
pelo gás venenoso da qual era feita.
Bernardo não conseguiu dormir.
Jannochka havia colocado alguns itens de
Ekaterina no quarto, pelo que ele era grato.
Abraçou o casaco que ele sabia que ela mais
gostava e ficou deitado com ele, sentindo o
perfume de Ekaterina que ainda estava ali,
mesmo fraco. Jannochka não tinha deixado
lavarem as roupas da moça, daquele dia
fatídico.
Pyotr soube da chegada de Bernardo, mas
não entrou em contato. Ainda que os olhos
de Pyotr não funcionassem, ele não
conseguia tirar a cena de Ekaterina, no chão,
sem vida.
Lisa havia morrido. O corpo foi
encontrado. A mãe dela teve os pedaços
espalhados pela cidade.
Tudo para ele era como um maldito
pesadelo.
Ele tinha agido por impulso, mas
pretendia ajeitar as coisas e falar com a mãe.
Pyotr jamais iria querer cortar laços com a
família, mas achou que tinha que demonstrar
como ele era um humano, com sentimentos,
em vez de uma máquina que obedeceria a
tudo sem questionar.
Porém, uma ação impensada colocou a
vida de muitos em perigo e causou a morte
de duas mulheres importantes para ele.
Konstantin provou que Lisa não mentiu no
que falou, o que significava que a garota não
era mais do que outra vítima de tudo aquilo.
“Se eu tivesse ficado quieto…”, ele pensou,
enquanto deitado. “Lisa podia ter se salvado.
Ekaterina estaria aqui…”Os próximos dias
foram carregados de pesquisas e Pyotr não
deu sinal de vida, enquanto Bernardo
também não fez questão de ver o gêmeo de
Ekaterina. Olhar para Jannochka, a quem a
jovem era tão parecida, já era doloroso o
suficiente.
— Pegamos um deles… — Maksim avisou
a Bernardo, enquanto este descia para ir à
própria sala.
— Eu quero ir.
— A tia tá esperando no carro.
Maksim havia pego o carro que ele sabia
ser o melhor para uma perseguição, quando
foi atrás de Ekaterina. Ele soube dos ataques
aos tios e imediatamente pensou que
Ekaterina seria mais uma, já que estava na
rua. Claro que o rapaz avisou Jannochka, já
se desculpando pelo carro antecipadamente.
Yuri foi quem chegou no local, seguido de
Fyódor e mais alguns soldados. Mas foi
Konstantin quem levou Ekaterina no colo,
recusando-se a largá-la.
Jannochka estava no carro, esperando por
Bernardo. Quando recebeu a notícia da
morte de Ekaterina, ela mal conseguiu olhar
para o corpo da filha. Porém, o pouco que viu
a atormentava todas as noites e, muitas
vezes, durante o dia, como naquele exato
momento. Ela acabou indo cuidar de Pyotr,
com medo de que o outro filho também
morresse.
Bernardo abriu a porta e entrou.
Jannochka quem dirigiria.
— Pronto? — Ela perguntou e o loiro
acenou positivamente — Tem certeza?
— Só se deixar eu mesmo arrancar pedaço
por pedaço dele.
——————————————————
———-
Konstantin recebeu uma mensagem.
RNNO: Venha, agora!
CAPÍTULO 71
— Eu soube que a cara dela explodiu
todinha. Irreconhecível! — O homem preso
pelas correntes, pelo pulso acima da cabeça
dele, disse, debochado.
Jannochka havia reconhecido a filha
apenas pela tatuagem e pelos cabelos,
estrutura do corpo, pois o rosto não estava
mais ali. O enterro foi com o caixão fechado,
por esse motivo.
Bernardo desferiu um soco no homem,
que cuspiu sangue.
— Não… Não vou falar nada! — O homem
disse, sorrindo com os dentes tingidos de
vermelho.
Bernardo o olhou bem dentro dos olhos
escuros.
— Falar? E quem disse que queremos que
fale? — O loiro perguntou, pegando o
homem de surpresa. Bernardo se virou e
caminhou para a mesa — Na verdade, a sua
voz me irrita profundamente.
Quando se virou, uma tesoura de poda
estava nas mãos do mexicano e ele não
desviou os olhos do rosto do russo, que
engoliu em seco.
— O que vai fazer com isso? Cortar o meu
pau?
Bernardo sorriu, apenas com os lábios e
fez sinal para que dois soldados se
aproximassem.
— Abre a boca dele.
— Ei, não! — O som abafado do homem,
tentando falar enquanto a boca dele era
mantida aberta. Bernardo enfiou a ponta da
tesoura dentro e, por mais que o homem
ficasse movendo a língua, uma vez que um
dos lados da tesoura estava debaixo da
língua, Bernardo só precisou fechar o
instrumento.
O grito era agonizante, o sangue descendo
pela boca, enquanto outra parte ia para a
garganta, sufocando o russo.
— Agora, sim. O som que essa sua boca tá
emitindo é aceitável — Bernardo olhou para
o corpo do prisioneiro, passando a ponta da
tesoura ensanguentada pela pele dele,
descendo — E eu vou te desmembrar inteiro.
Até furar a sua cara todinha… Qual foi a
palavra? — Bernardo fingiu pensar e então,
sorriu — É… Irreconhecível!
Horas depois, o loiro estava no carro,
Jannochka e ele calados.
— Como se sente?
— Não é o suficiente — Bernardo falou —
Quero todos os calabresa mortos. Bem como
os apulianos.
— Idem. Eu deveria ter matado aqueles
infelizes há tempos — Jannochka
suspirou e sentiu a mão de Bernardo
segurar uma mecha do cabelo dela. Ela o
olhou, mas ele parecia perdido em
pensamentos.
— A textura é a mesma — Ele falou,
sorrindo triste. Bernardo abaixou a mão
— Desculpe…
— Perdoado — Jannochka suspirou e
mudou o câmbio para DRIVE, depois de
abaixar o freio de mão — Você precisa de
um banho.
Os dias passaram. Outros da
‘Ndrangheta foram pegos, bem como da
Sacra Corona Unita. Pyotr se corroía por
não enxergar e não poder fazer nada. O
estado dele foi mantido em sigilo, até
mesmo do Conselho.
Bernardo usou as informações que o tal
“amigo” de Konstantin lhe passou e,
incrivelmente, facilitou muito a vida dele.
— Acho que derrubo a barreira em
breve — Ele falou — E vamos saber se os
Vermelhos estão juntos nesses ataques.
— Não acho que Konstantin esteja no
meio — Maksim comentou.
— Já não posso dizer o mesmo do pai
dele — Santiago completou e todos
concordaram — Aquele maldito não me
cheirou bem desde o início!
— E o Konstantin não saberia dos
planos do pai? — Bernardo questionou.
— Ele arriscou o pescoço pela Rina e
por mim — Pyotr disse, surpreendendo a
todos. Ele estava na entrada da sala de
jantar, as mãos no bolso.
Jannochka se levantou e foi até o filho,
ajudando-o a sentar na cadeira ao lado do
pai.
— De todo jeito, não podemos confiar
cegamente em ninguém — Jannochka
sentou-se.
O almoço terminou e Jannochka pediu a
Bernardo que ficasse.
— Aconteceu algo?
— Você não vai comigo, amanhã.
Bernardo franziu o cenho.
— Mas eu…
— Acho que você já se excedeu, nesses
últimos dias. Precisa controlar a raiva,
Bernardo.
Ele apertou os olhos.
— Andou conversando com a minha mãe?
— Sim. E ela está preocupada. Você não
ligou para os seus pais. Nem pro seu
irmão.
Bernardo suspirou fundo.
— Não estou com a cabeça no lugar pra
isso.
— Então é bom colocá-la, Bernardo. A
nossa vida é muito mais do que torturar
pessoas. Você é um dos nossos. Em dois
dias será a sua cerimônia de apresentação
e juramento. Depois, assumirá a posição
de chefe da nossa unidade de Inteligência
virtual.
O loiro fechou os olhos e concordou
com um aceno de cabeça.
— Farei isso. Não vou decepcionar.
Posso ir, agora?
— Pode.
A cerimônia de Bernardo não foi
demorada, afinal, eles não queriam reunir
tantos membros por muito tempo, no
mesmo lugar.
Ainda lá, Bernardo recebeu uma
chamada de vídeo de Aleksey, que não
havia falado com ele desde antes de todo
o ocorrido.
— Aleksey!
O rapaz parecia mais velho naquele
pouco tempo, além de apresentar uma
carranca.
— Não acredito que não fui chamado!
Bernardo sorriu.
— Seus pais acham que ainda é
perigoso.
— Você tá aí! — O jovem bufou e
balançou a cabeça — Parabéns.
— Obrigado — Bernardo agradeceu,
mais sério.
— Estou orgulhoso de você, Bernardo.
E… — Aleksey olhou para o lado e limpou
a garganta — Obrigado por ter voltado.
— Eu deveria ter feito isso antes…
— Só quem nunca faz algo, que nunca
comete erros — Aleksey usou um
provérbio comum na Rússia — Bemvindo de volta, primo!
Bernardo não se aguentou e começou a
chorar.
— Ai, não… não deixe que te vejam
chorando — Aleksey falou e apertou os
lábios. Bernardo limpou as lágrimas e
sorriu.
— Quando você volta?
— Quando me chamarem. Não aguento
mais! — O jovem reclamou — E aquela
menina não larga do meu pé!
— Que menina?
— Anna. O Lucas não desgruda dela. E
me arrasta junto.
— Ela é boazinha.
— É… — Aleksey fez careta — Eu tenho
que ir.
E desligou. Bernardo olhou para a tela e
sacudiu a cabeça.
— Esse não muda…
No dia seguinte, Bernardo assumiu o
cargo dele na Máfia Russa, recebendo
olhares negativos de muitos, afinal, ele
era visto como traidor, além de
estrangeiro. Mesmo depois de anos, o
próprio Santiago sofria preconceito.
Máximo e Carolina, juntamente com
Artur, falaram com o loiro, depois do
expediente dele. Apesar de insatisfeitos,
os pais do loiro também estavam
orgulhosos.
— Quando posso ir à Rússia? — Artur
perguntou.
— Nem pense nisso! — Bernardo
ouviu Máximo respondendo, antes da
ligação ser finalizada.
Dois meses depois, Bia deu à luz. Todos os
Herrera se reuniram, incluindo Santiago.
Porém, Jannochka optou por ficar, não só por
Pyotr, mas porque Bernardo havia recolhido
importantes informações e, enquanto os
italianos se distraiam com a quantidade de
gente nos Estados Unidos, ela e o loiro
começariam a agir.
CAPÍTULO 72
— Acho que se formos… O que houve,
Pyotr? — Jannochka interrompeu o que
estava falando a Bernardo quando viu que o
filho estava à porta.
— Preciso… Preciso falar com a senhora
— Pyotr pediu. Bernardo ainda não se
acostumava a ver o olhar do rapaz, distante.
“Um olhar que não vê”, ele suspirou. Ainda
que Pyotr tenha praticamente sido a razão
de Ekaterina não estar mais ali, Bernardo
não podia odiar o rapaz. Não quando soube
os motivos e, no fim, ele não podia julgar.
“Porque pela Rina, eu seria capaz de fazer
muito mais burrada”.
— É algo muito importante? — Ela
perguntou e, ao ver como Pyotr apertou os
lábios, se retraindo, ela suspirou —
Bernardo, você pode me esperar, por favor?
— Claro. Eu espero. Vou adiantar outras
coisas, aqui.
Após agradecer, Jannochka levou Pyotr
pela mão para fora e fechou a porta.
— Aconteceu alguma coisa? Pra você
descer aqui…!
Pyotr, que não havia soltado a mão da
mãe, a puxou para ele e a abraçou. Jannochka
ficou parada, por alguns segundos, então,
fechou os braços em volta do filho.
— Perdão, mãe — Ele falou abafado nos
cabelos de Jannochka — Perdão por toda
essa merda!
Ele chorava e Jannochka sabia, não só pelo
balançar de ombros e sons emitidos, mas
pelo molhado na roupa dela.
— E-eu… Eu não queria isso. Pensei que…
Que p-poderia… — Jannochka o abraçou
mais.
— Eu sei que não — As lágrimas desciam
pelo rosto dela e Pyotr se afastou,
levantando as mãos e passando os dedos
pelas bochechas dela, com cuidado.
— Mãe… Você tem certeza que… Que a
Rina…?
— Eu a vi, Pyotr… — A voz de Jannochka
falhou, mas ela fungou e inspirou fundo.
— Mas… Eu sinto… — Ele levou a mão ao
peito.
— Você viu o que houve, Pyotr…
Ele negou com a cabeça.
— Não! Eu a vi no chão, mas estava escuro,
não dava nem pra ver onde a acertaram! —
Ele passou a língua pelos lábios — E se… E se
não era ela?
Aquilo já tinha passado pela cabeça de
Jannochka, afinal, ela não tinha como ver o
rosto da filha. Porém, o resto do corpo, a
tatuagem… Por noites ela havia se
perguntado se a filha não tinha sobrevivido,
de alguma forma. Mas não daria tempo.
— Eu quero treinar.
As palavras de Pyotr a trouxeram de volta
à realidade.
— Você não está em condições.
— Porque eu sou cego? — Ele tremeu os
lábios, os olhos cintilando com orgulho —
Quero ser treinado como o cego que sou.
Usávamos vendas, lembra?
— Isso é completamente diferente, Pyotr!
Você treinar com vendas e… — Ela engoliu
em seco — É arriscado. Você vai ser alvo
imediato. Ninguém nem sabe que você está
assim!
— Então, melhor ainda… Não vão esperar
que alguém como eu possa atacar, não é?
Ela segurou o filho pelos ombros, séria.
— Não.
— Mãe, por favor…
— Eu disse não! — Jannochka respirou
fundo — Preciso de você vivo, Pyotr.
Ele soltou uma risada triste.
— Já estou morto por dentro! Eu preciso…
Preciso fazer algo de útil.
— Pyotr, você está aqui porque é meu
filho, não porque faz parte da Tambovskaya.
Ele acenou com a cabeça e, no segundo
seguinte, estava de joelhos.
— Eu imploro que me deixe voltar, Don.
Juro a minha total lealdade. Servirei a esta
Organização com meu sangue — Pyotr
abaixou a cabeça, inclinando o corpo para a
frente. O rosto dele estava quase nas botas
da mãe — Permita que eu prove o meu valor.
Era difícil alguém deixar a máfia, com vida,
porém, mais difícil ainda era conseguir
voltar.
Bernardo era apenas um ajudante, ele não
era jurado, antes. Não fazia parte, não era
membro, mas uma mera visita. Já Pyotr… A
responsabilidade dele era muito maior, pois
era um herdeiro de sangue.
Jannochka havia avisado sobre Pyotr não
estar sob a proteção deles, meses antes, mas
não mencionou o abandono do posto de
forma espontânea. Muitos julgaram que era
um castigo de mãe e, com o que houve, no
caso, a morte de Ekaterina, houve o perdão
dos pais.
Ela se acocorou e colocou a mão na cabeça
do filho, que não se moveu.
— Falarei com meu sub e conselheiro.
Volte para o seu quarto e espere a resposta
por lá, Pyotr Sigayev.
Jannochka ajudou o filho a se levantar. Ele
andava se esgueirando pelas paredes. Com
os ataques, a quantidade de soldados
diminuiu dentro da mansão, na parte onde a
família mais andava logo, a chance de
alguém ver Pyotr era baixa.
O rapaz se recusava a usar ajuda e preferia
caminhar devagar, do que fazer barulho e
anunciar a chegada dele com o “TAP-TAP” da
bengala branca.
Bernardo havia escutado parte da
conversa, quando as vocês se alteraram, mas,
como ele não queria se “meter onde não era
chamado”, apenas colocou os fones e voltou
ao trabalho.
Jannochka voltou para dentro da saleta e
retomou o assunto anterior, como se nunca
tivessem sido interrompidos. Bernardo
notou os olhos marejados da Don, bem como
a roupa molhada, mas nada comentou.
“Se ela quisesse que eu soubesse, me
contaria”, ele suspirou e mostrou a ela as
suspeitas que tinha.
Mais tarde, Jannochka ligou para Santiago.
Ela tinha visto Bia, por vídeo-chamada, claro.
A jovem estava mais do que realizada com o
pequeno nos braços. Samuel parecia babar,
ao fundo, junto com Gavin.
— Meu amor!— Santiago, já sozinho,
abriu um sorriso imenso— Em breve estarei
de volta. Miguel vai voltar comigo. Como
você tá? Como… Estão as coisas?
Ele evitava perguntar demais, às vezes lhe
faltavam as palavras certas. Ter visto o
pequeno bebê o fez lembrar de quando os
filhos nasceram e, claro, aquilo o encheu de
uma nostalgia triste e alegre. Tudo que
remetia a Ekaterina o deixava com o coração
apertado.
Jannochka sorriu fraco e Santiago já sabia
que a esposa não estava nada bem.
— Pyotr quer voltar.
CAPÍTULO 73
Uma batida na porta fez Pyotr levantar a
cabeça.
— Quem é? — Ele perguntou.
— Sou eu — Santiago respondeu, o que fez
Pyotr se sentar rapidamente na cama.
— Entra, pai!
Santiago colocou a cabeça para dentro e,
depois, entrou de vez, fechando a porta. Ele
ainda não conseguia se lembrar que Pyotr
não podia enxergá-lo.
— Ah, sua mãe conversou comigo sobre…
O seu desejo de voltar a atuar.
Pyotr concordou com a cabeça, uma
expressão séria no rosto.
— Sim. Eu estou cansado de ficar aqui
como um fardo. Um peso morto — Pyotr
suspirou, a cabeça baixa, remexendo os
dedos — E eu sinto que a Rina não se foi.
Santiago passou a mão pelo rosto e se
sentou na cadeira do computador.
— Filho… Nós vimos…
— Eu não acredito — Pyotr disse, com
convicção, balançando a cabeça — Certo, eu
não pude ver direito por conta da penumbra,
mas eu tenho certeza de que o rosto dela não
estava desfigurado!
Santiago franziu a testa.
— Como assim? A tatuagem, o corpo… —
Ele engoliu em seco e apertou os lábios,
segurando o choro. Ekaterina podia ser
durona, mas para ele, era uma garotinha
sorridente e amorosa — Filho, cada um tem
seu jeito de enfrentar o luto, porém…
— Pai, eu sei do que tô falando! Sabe, por
muito tempo eu só me apeguei a ela no chão,
o vestido espalhado… Mas eu venho me
lembrando mais e mais do que houve e Rina
estava com a cabeça para cima, mas eu podia
ver o contorno do rosto. Não estava…
Pyotr respirou fundo. Aquela era a última
imagem na cabeça dele. A que ele continuava
vendo, todos os dias. tudo ao redor era
escuridão, exceto o corpo de Ekaterina, no
chão, como se iluminado fracamente por
alguma luz.
— Eu não tinha falado com vocês sobre
isso. Eu nem sabia como, já que eu matei a
minha irmã…
Santiago se ajoelhou em frente ao filho e
lhe segurou os braços.
— Não diga isso! — Ele sacudiu Pyotr, sem
muito vigor, mas o suficiente para que
indicasse que estava falando sério — Você
não matou a Ekaterina. A sua rebeldia não foi
o que a matou.
— Se eu não tivesse saído de casa,
ninguém teria ido atrás de mim! Ela não teria
se machucado, não teria levado tiros — Ele
contorceu a boca — Não teria morrido.
Santiago abraçou o filho, que chorava sem
nem perceber.
— Meu amor, sua irmã poderia ter caído
numa emboscada sem a sua ajuda. Aquelas
pessoas estavam de olho — Ele enxugou as
lágrimas de Pyotr e lhe beijou a testa — E
me diz, digamos que as suas suspeitas
estejam certas. Como pretende ajudar?
Pyotr fungou um pouco, antes de
responder. Santiago lhe entregou um lenço
de pano, que tinha no bolso.
— Eu preciso treinar. Aprender a afiar
mais meus outros sentidos.
— Filho, você não enxerga nada…
Pyotr ergueu o queixo.
— Eu não sou surdo. Meu tato funciona
bem. Só preciso ouvir melhor… Pra saber
onde estão os inimigos.
— Pyotr, nem sempre vão te atacar com
confronto físico. Se alguém apontar uma
arma…
— Mas aí, se tiver alguém escondido, eu
levaria chumbo, enxergando ou não — Pyotr
levantou as mãos e tocou nos ombros de
Santiago, que ainda estava agachado —
Prometo que não vou atrapalhar. Não vou
desobedecer.
Santiago estreitou os olhos.
— Não vai desobedecer? Pyotr, eu te
conheço. Você não é a melhor pessoa em
seguir ordens.
O rapaz sorriu.
— Eu só desobedeceria se fosse caso de
vida ou morte. E não, não de pessoas de fora.
Apenas se implicasse na segurança de vocês.
Da Rina.
Santiago concordou levemente com a
cabeça.
— Então, acho bom você ir logo dormir.
Os olhos de Pyotr brilharam. Aquilo
significava que ele precisaria acordar cedo. E
por qual outro motivo seria se não treinar?
O jovem praticamente se atirou nos braços
do pai.
— Ai! Você… Você tá grande e pesado,
moleque! — Santiago reclamou, mas rindo.
— Obrigado, pai! Eu prometo que não vou
decepcionar. Eu vou encontrar a Rina.
Santiago não comentou quanto àquilo,
mas no fundo, como ele queria que o filho
estivesse certo!
Mas se o que Pyotr suspeitava estivesse
certo, então eles tinham um problemão nas
mãos. Quem teria feito aquilo? Onde estava
Ekaterina? O que estavam fazendo com ela?
— Vá dormir. Amanhã começaremos a
treinar.
Claro que Pyotr não conseguiu dormir
direito e, pela manhã, estava péssimo.
Depois que ficou cego, a ansiedade dele
aumentou muito mais.
Chegando perto da escada, ele sentiu
alguém por perto, até uma mão tocar-lhe o
ombro.
— Sou eu, Maksim — O loiro falou e Pyotr
sorriu de leve — Você tá todo vestido… vai
treinar?
As roupas de Pyotr eram bem organizadas
e, claro, as roupas de exercícios e “missões”
eram separadas. Mesmo cego, ele sabia onde
estavam e, pela textura, tinha uma ideia de
qual peça era.
— Sim. Eu não vou mais ficar deitado e
choramingando — Pyotr respondeu e
suspirou fundo — Quero ser útil.
— Você é, primo. Vem, eu posso descer
com você?
— Maksim, o mundo não te merece —
Pyotr respondeu, segurando no ombro do
loiro.
— Por quê?
— Você é uma boa alma. Boa demais. Nem
sei como é um Sigayev…
Maksim soltou uma gargalhada baixa.
— Sigayevs são bons. De seus próprios
jeitos. E você, Pyotr, não é exceção.
— Às vezes eu torço pra você fazer uma
merda e parecer mais com uma pessoa
normal, do nosso meio — Pyotr sorriu —
Mas na maior parte do tempo, eu sou grato
por você ser a luz aqui na casa.
Maksim inspirou e olhou para baixo. Ainda
que Pyotr não pudesse enxergar, ele sentiu
claramente a mudança no primo.
— O que foi?
— Eu sou uma vergonha para a família,
isso sim.
Os dois chegaram ao pé da escada e Pyotr
usou a outra mão para segurar e virar
Maksim para ele.
— Quem quer que tenha dito uma merda
dessas… Merece levar uns socos pra deixar
de ser intrigueiro! — Pyotr mostrou
convicção na expressão — Você, Maksim, é
um orgulho! E não deixe que te digam o
contrário. Eu tô cego, mas juro que quebro o
filho da puta!
Os dois voltaram a andar e Maksim se
despediu de Pyotr, já que Santiago estava
esperando pelo filho, na porta do centro de
treinamento.
— Você e eu vamos para outro lugar —
Santiago falou e pegou o braço de Pyotr,
colocando-o no dele próprio — Vamos.
Santiago começou fazendo Pyotr segui-lo,
ao ouvir um mínimo som. Ele precisava
primeiro saber se localizar.
Foram duas horas naquilo e Pyotr ficou
esgotado. A cabeça dele doía.
— Amanhã tem mais — Santiago brincou,
ao dar dois tapinhas nas costas do filho.
— Quando o Aleksey e o Miguel voltam?
— Miguel retornará semana que vem.
— Pai, não acha injusto deixar Aleksey lá
no México?
— Ele é novo e, por mais que seja
inteligente, é um pouco impulsivo, às vezes.
Os seus tios ainda não estão bem e acho que
isso vai deixar Aleksey ainda mais
vulnerável.
Pyotr sempre se lembrou de Fyodor e
Agafia como muito amorosos entre eles, por
isso, a situação deles estarem brigados por
tanto tempo era inadmissível, na cabeça
dele.
— Eles divorciaram?
— Não. Por enquanto, pelo menos.
Agafia e Fyodor estavam morando juntos e
Santiago tinha a impressão de que a loira
havia aceitado aquilo apenas porque Fyodor
ficou muito abalado com a morte de
Ekaterina. Apesar de ser um pouco difícil, ela
não era má.
— Espero que se acertem.
— Eu também — Santiago suspirou — Eu
também, meu filho.
No México, Aleksey olhava com tédio para
a TV.
— Posso dar uma volta, tia? — Ele
perguntou a Emília, que bordava uma toalha
para o bebê de Bia.
— Para onde quer ir, querido? — Ela
perguntou, gentilmente.
— Hmm… Não sei.
— Podemos ir naquela nova loja de
games! — Lucas deu a ideia, já com o rosto
cheio de expectativas. Aleksey fez careta.
— Ah…
— Qual é, Ale! — Aleksey levantou as
sobrancelhas. Ele não gostava que o
chamasse daquele jeito — Deixa de ser
chato!
— Lucas…! — Emília o repreendeu.
— Vamos! Eu vou ligar pro Artur.
“Ai, céus…”, Aleksey não era de chorar,
mas pensar em sair com aqueles dois
meninos era um teste. “Já sei que não quero
filhos. Deus me livre!”
Por fim, o russo concordou. Já no carro, ele
percebeu que o veículo de sete lugares
mudou de rota.
— Pera aí… Você falou que era perto
daquele shopping, lá… — Então, se deu conta
de para onde estavam indo — É sério?
— O quê? — Artur perguntou, levantando
o rosto do video-game. Eles já tinham
passado na casa dele para buscá-lo.
— A gente tá indo pra perto da casa
daquela garotinha…
Lucas deu um tapinha no braço de Aleksei,
com o dorso da mão.
— Deixa de ser chato! A Anna é bacana.
Artur concordou com a cabeça.
— Então, vocês podem ficar com ela e eu
vou pra outro canto.
— Por que não gosta dela? — Artur
finalmente perguntou algo que estava
entalado há meses.
CAPÍTULO 74
Aleksey passou a língua pelos dentes, sem
abrir a boca e olhou pela janela.
— Ela é chata. Enjoadinha. Espalhafatosa
— ele levantou os braços e sorriu
falsamente, antes de voltar a ficar sério —
Sério, é insuportável. Não consegue calar a
porra da boca um só segundo!
Silêncio dentro do carro.
— Anna é não é assim — Artur franziu a
testa — Ela é uma garota sensível e que
tenta sempre animar os outros. Se acha que
ela está “passando dos limites”, basta falar
educadamente que eu te garanto, ela vai se
podar.
Lucas olhou para Artur, surpreso, pois o
menino parecia ter um certo medo de
Aleksey, porém, para defender Anna, ele
levantou a voz.
— Então você tem colhões, não é mesmo?
— Aleksey perguntou, debochado — Acho
melhor vocês falarem pra ela me deixar em
paz, ou eu vou acabar não sendo mais tão
educado.
Como ele se virou mais para a janela,
Lucas apertou os lábios e balançou a cabeça,
fazendo sinal com a cabeça para que Artur
“deixasse pra lá”.
ARTUR: Seu primo é mal educado, Lucas!
LUCAS: Tenha paciência. Parece que tem
muitos problemas na Rússia. Por isso ele tá
aqui. Mas eu sei que ele sente falta de casa.
Artur suspirou e olhou para Lucas, antes
de voltar a responder por mensagem.
ARTUR: Beleza. Mas se ele for ruim com a
Anna, eu vou falar umas verdades pra ele!
Lucas apenas concordou com a cabeça.
Ele estava contente em poder aproveitar
mais o tempo dele com o melhor amigo,
Artur e, claro, com o primo mais velho,
Aleksey, ainda que não houvesse
consanguinidade entre eles.
Anna entrou no carro, pois já estava
esperando do lado de fora. Eduardo não
gostava que a filha saísse com os meninos,
porém, ele estava trabalhando e Jade não
achava justo prender a garota.
Assim que Jade viu Aleksey, quando a
porta do carro se abriu, ela engoliu em seco.
O rapaz era estranho, pra ela, porém,
Eduardo incrivelmente falou que o jovem
precisava de apoio, porque estava passando
por momentos difíceis.
— Filha, seja boazinha — Ela beijou o
rosto da menina.
— Eu sempre sou.
— Não seja inconveniente, sim? — Ela
sorriu para Anna, que devolveu com um belo
sorriso, abraçou a mãe e entrou no carro.
— Oi! — Ela os cumprimentou e foi se
sentar do lado de Artur, porém, Lucas jogou
a mochila do garoto ali — Eu ia sentar aí.
— Tem mais lugar ali, ó! — Lucas disse e
se voltou para Artur, mostrando algo no
jogo. Anna revirou os olhos.
Ela se sentou ao lado de Aleksey.
— Me chamaram aqui pra isso? — Ela
cruzou os braços — Talvez eu deva ficar em
casa!
— Ainda dá tempo — Aleksey resmungou
e Anna o olhou, confusa. O russo ainda
olhava pela janela.
— Você disse algo?
Aleksey virou o rosto para ela. Lucas
sentiu que o humor do primo estava ficando
negro.
— Ele tava brincando, Anna! — Lucas
soltou uma gargalhada — O Aleksey é meio
palhaço, às vezes!
Anna voltou a olhar para Aleksey, que deu
de ombros e se voltou para a janela. Ela
queria dizer que ele não tinha sido palhaço
coisa nenhuma, porém, ao notar o olhar
triste do jovem, preferiu ficar quieta.
Eles logo chegaram ao local de destino e
saíram do carro. Aleksey olhou em volta,
desinteressado e, sem aviso, uma barra de
chocolate foi colocada na frente dele.
Seguindo a mão que lhe oferecia o doce, ele
chegou ao rosto alegre de Anna.
— Pra você.
— Não gosto desse chocolate. Obrigado —
Ele falou à contragosto a última palavra e
enfiou as mãos no bolso.
— Eu tenho outros. Adoro chocolates —
Ela abriu a mochila e a aproximou de
Aleksey — Pode escolher.
Aleksey inspirou fundo. Ele sabia, lá no
fundo, que a garota estava apenas sendo
educada e gentil. Por isso, ele precisava
controlar o gênio ruim. Só que era mais fácil
falar.
— Não quero os seus chocolates. Tudo
bem? — Ele afastou o mais delicado possível
a mochila dela.
— Oh… Certo. Bom, é que chocolate
sempre anima. E você me parece tristinho.
Não quero ser intrometida…
— Então não seja — Ele falou antes de
pensar e viu como os olhos de Anna se
arregalaram e, então, pareceram se encher
de tristeza.
— Anna, vem! — Lucas a chamou.
— Eu vou dar uma volta. Com licença —
Aleksey se afastou.
Ele não queria ser mais grosso com Anna.
“Ela não é má, apenas tonta”, ele se
lembrou.
Após andar um pouco, sem prestar
atenção em absolutamente nada, Aleksey
ouviu um choramingo feminino. Ele olhou
em volta e não viu nada. Mais outro
choramingo, mais alto. De alguma forma o
“ai” lhe parecia ser de uma voz conhecida.
“Banheiro feminino,” ele leu mentalmente.
“Oh, merda, eu vou me arrepender disso. Sei
que vou”.
Aleksey bateu à porta do banheiro e a
abriu um pouco, olhando para fora.
— Com licença, tá tudo bem aqui?
— Aleksey?
Ele olhou para dentro de uma vez.
— Anna? — Ela soltou um gritinho e
voltou para dentro da cabine, mas ele viu
algo que não lhe agradou em nada — O que
aconteceu?
Ele entrou no banheiro e Anna tentou
fechar a porta da cabine, mas ele não deixou.
A calça dela tinha sangue.
— Eu to bem… Só…— Ela parecia estar
com dor e Aleksey começou a ver vermelho. ]
— Alguém te machucou? — Anna negou
com a cabeça, mas Aleksey a segurou pelos
braços — Me fala!
— Não! Eu… Me empresta seu telefone,
por favor… Ai!
— Quer ligar pra ambulância? Eu te levo
ao hospital.
Aleksey tentou falar calmamente.
— Aleksey, eu tô sangrando. Meu celular
acabou a bateria. Eu preciso falar com a
mamãe. Me empresta seu celular e sai. Por
favor — Os lábios dela se apertaram.
— Não, mesmo. O que foi que…?
— Pelo amor de Deus, eu menstruei! —
Ela soltou de uma vez, calando o rapaz —
Preciso falar com a minha mãe…
— Certo. Ah… Quer que eu compre
remédio? Uma calça nova? O shopping é bem
ali.
Ela piscou algumas vezes e, por fim,
concordou com a cabeça.
— Eu já volto. Fica calma. Qual seu
número? Alergia a algum remédio?
Com as informações, Aleksey se afastou
dali bem rápido, agradecendo aos céus por
não ter guardas por perto.
“Deveria ter… Que falta de segurança! Eu
saí do banheiro feminino e ninguém me
abordou!”.
Minutos depois, Anna estava trocada.
Aleksey lembrou de comprar calcinhas,
absorventes — mais de um tipo, pois não
sabia o que ela usaria. Isso fez várias moças
suspirarem por ele ser um “namorado tão
legal” — e um casaco, caso ela se sentisse
mais confortável se o amarrasse na cintura.
Anna saiu do banheiro e Aleksey lhe
ofereceu a garrafinha de água.
— Vamos sentar.
Ela concordou com a cabeça, os olhos
ainda vermelhos de chorar.
— Desculpa — Foi a primeira coisa que
ela falou — E obrigada.
— De nada. E não tem motivo pra pedir
desculpa.
— Eu te dei trabalho. Fui inconveniente.
Você queria ficar na sua e eu…
Anna olhava para baixo. Aleksey não era
bom em consolar ninguém. Menos ainda
uma menina.
— Acidentes acontecem. E eu, como o
mais velho, fiz o meu papel.
Ela levantou o rosto e sorriu, ainda
chorosa.
— Eu vou procurar os meninos. Deixar
você quieto. Obrigada, de novo — Anna se
levantou, se sentindo um pouco melhor, mas
Aleksey segurou o braço dela.
CAPÍTULO 75
— Senta. Qualquer coisa eles me ligam.
Fica tranquila — Aleksey ofereceu um
sorriso simpático e fraco.
Anna se sentou.
Os dois ficaram em silêncio e, logo, o clima
ficou um pouco incômodo.
— Se eu puder te ajudar em algo, — Anna
disse baixinho — pode me falar.
Aleksey balançou a cabeça.
— Eu só quero ir pra casa. Não que eu
possa ajudar em algo, mas… — ele soltou o
ar e colocou a cabeça entre as mãos,
apoiando os cotovelos na mesa. Algo tocoulhe nos cabelos e ele logo compreendeu que
eram os dedos de Anna.
O russo não gostava que tocassem nele
sem aviso, sem permissão. Principalmente
estranhos. Mas o toque de Anna era
carinhoso e ele soltou o ar, deixando-se levar
pela calmaria.
Aleksey levantou o rosto e Anna o
abraçou, deixando-o completamente sem
reação. Ela já estava de pé, enquanto ele
permanecia sentado.
— Vai ficar tudo bem — Ela disse,
passando a mão nas costas dele — Eu sei que
vai. De um jeito ou de outro.
Anna soube da morte de Ekaterina e não
quis mencionar aquilo, mas ela tinha perdido
a avó, que tanto adorava, por isso, pensou
que Aleksey deveria estar sofrendo por
aquilo.
Ele a abraçou de volta, mas não por muito
tempo.
— Podiam ao menos mandar uma
mensagem! — Lucas reclamou, fazendo
Aleksey soltar Anna imediatamente, como se
estivesse fazendo algo errado. Já ela,
permaneceu calma.
— A bateria do meu celular acabou. Tive
um probleminha…
— Podia ter o Aleksey avisado! Artur e eu
estávamos como dois idiotas procurando
vocês! Os seguranças não viram nenhum de
vocês dois!
Aleksey se levantou e olhou feio para
Lucas.
— Dá pra parar de gritar? Ela ficou sem
bateria. Eu não estava a fim de pegar a porra
do meu telefone. Feliz?
Lucas o encarou.
— Ficamos preocupados. Anna podia ter
se machucado.
— Eu não deixaria — Aleksey soltou e
Lucas o olhou com espanto. Olhou para Anna
e de volta para Aleksey, sorrindo.
— Foi mal. Avisem, da próxima vez que
forem ficar de namoricos.
Artur deu um cutucão nele, que levantou
os ombros.
— Cresce, Lucas. Vai ver que te falta levar
uns socos mais fortes — Ele se inclinou para
o mais novo — Se for isso, a gente pode ir
pro ringue depois daqui.
Lucas engoliu em seco. Aleksey passou por
ele, irritado, porém, se virou e olhou Anna,
que sorriu em cumplicidade. Ele
compreendeu que ela ficaria bem, por isso,
continuou andando.
— Credo, que humor! — Lucas soltou.
— Deixa ele, Lulu! — Anna disse.
— Ei! Não me chama assim em público! —
Ele olhou em volta — Tenho uma reputação
a manter. Que tipo de mafioso de chama
“Lulu”?
— Você nem é um, ainda. Não jurou nem
nada — Artur o lembrou e Lucas o encarou
com desdém.
— Eu já treino, ok? Mais respeito.
— Eu vou pro carro — Anna soltou e
Lucas olhou para Artur. Os dois se colocaram
do lado de Anna.
— O que você tem?
— Tá doente?
— Se machucou?
— Será que dá pros dois palhaços
deixarem ela em paz? — Aleksey perguntou
e ofereceu o braço para Anna. O queixo de
Lucas foi ao chão, principalmente quando ela
aceitou e se afastou com a garota.
— Será que tão namorando? — Lucas
cutucou Artur.
— Larga de ser fuxiqueiro, Lucas… —
Artur suspirou — Vamos… Hora de ir pra
casa. Tá tarde.
O caminho de volta foi silencioso.
— Tchau — Anna disse, baixo e saiu do
carro.
— Tchau! — Lucas e Artur disseram
juntos. Aleksey apenas acenou com a cabeça.
— O que será que ela tem? — Lucas
perguntou.
— Deixa ela — Aleksey olhou para a
janela.
— Pra quem não gostava da Anna, tá todo
super protetor — Lucas sorriu e Artur negou
com a cabeça, tentando fazer Lucas parar —
Me conta, Aleksey, tão namorando?
— Se eu estivesse namorando aquela
menina, e você levantasse a voz pra ela,
estaria sem os dentes agora, primo —
Aleksey falou num sorriso mais do que
macabro, antes de ficar sério.
— Nossa…
Artur puxou Lucas e o olhou feio.
— Deixa ele!
— Só queria animar um pouco — Lucas se
aquietou.
— Às vezes a pessoa só precisa ficar
quieta. Você mesmo pediu isso, meses atrás.
Lucas lembrou de quando começou a
treinar e se afastou mais de Artur. Então,
concordou com a cabeça.
— É…
Na mansão dos Herrera, Osvaldo chamou
Aleksey para conversar.
— O senhor chamou?
— Aleksey, eu sei que o momento para
você é complicado. Mas eu acho que você
tem o direito de falar o que pensa — Osvaldo
cruzou as mãos em cima da mesa — Você
quer voltar para a Rússia?
— Quero. Mas não quero ser peso — Ele
encarou Osvaldo — Estou sendo incômodo
aqui?
Osvaldo negou com a cabeça.
— De forma alguma. Você é mais do que
bem vindo. É meu sobrinho, também — Ele
sorriu para o rapaz — Quero apenas que
fique bem. Tenho te visto pra baixo, se
isolando.
— Eu vou voltar quando a minha Don
disser que é a hora. A não ser que haja algum
perigo, alguma real necessidade de
questionar a ordem dela.
— Você é bem treinado — Osvaldo sorriu
— Qualquer coisa, Aleksey, pode falar. Tudo
bem? Se quiser apenas… Desabafar. Fique à
vontade.
— Obrigado. Tio — Aleksey sorriu sem
mostrar os dentes, mas sincero. Com um
aceno de cabeça de Osvaldo, ele se virou e
saiu dali.
Mais tarde, Aleksey sentiu o celular
vibrando várias vezes. Pensando que poderia
ser algo sério, ele pegou o aparelho
imediatamente.
GRUPO DA GENTE.
— Que porra…? — Ele clicou e viu que era
um grupo com Lucas, Artur e Anna.
Pelo que ele podia notar, aquele era um
grupo que os três compartilhavam e, agora,
Aleksey fazia parte do mesmo.
LUCAS: Bem vindo! A gente fala de muita
coisa, aqui, primo. Agora, vamos falar do
próximo evento.
ARTUR: Bem vindo! Agora, você é um de
nós!
— Eles me adicionaram ao grupinho de
bocós? — Aleksey soltou baixo, sem
acreditar — Vou sair dessa joça!
ANNA: Bem vindo, Aleksey!
O dedo de Aleksey parou e ele mordeu a
bochecha por dentro. Sem pensar muito, ele
clicou na foto dela e era a menina fazendo
uma careta, ao mesmo tempo que soprava
um beijo. Ele riu.
Aleksey clicou no número dela e abriu a
conversa.
CAPÍTULO 76
Os dedos dele pairavam sobre o teclado.
— Será que eu pergunto como ela tá?
Talvez lá no grupo, pra não ficar estranho?
Mas aí, vão querer saber…
Uma mensagem apareceu.
ANNA: Oi! Desculpa aparecer aqui no seu
privado. Só queria agradecer, de novo.
Aleksey mordeu o lábio e sorriu de leve,
mas logo limpou a garganta, ficando mais
sério.
“Ela é só uma menininha!”, ele suspirou.
“Uma menina bonita… Ai, droga! Foco,
Aleksey!”.
ALEKSEY: Não há porque me agradecer.
Por sinal, as dores melhoraram?
ANNA: Claro que tenho! Você me ajudou
e… Foi super discreto. Eu quis morrer ali, de
tanta vergonha!
ANNA: Sim, as dores melhoraram.
“Anna digitando… “
Aleksey tamborilou os dedos na própria
perna.
ANNA: Você é mais fofo do que aparenta.
— Fofo? — Aleksey perguntou, baixinho.
ALEKSEY: Acredite, eu sou muitas coisas.
Fofo definitivamente não é uma delas.
ANNA: (Smile sorrindo com corações em
volta). É fofo, sim! Atencioso e… Amigo.
Rabugentinho, de vez em quando, mas…
Aleksey se viu rindo.
— Que atrevida! Me chamar de rabugento
na cara dura!
ALEKSEY: Rabugentinho? Não está se
achando muito atrevida?
Ele se perguntou se Anna sabia que ele e
os Herrera eram da máfia.
ALEKSEY: Eu sou bem durão, garota.
ANNA: kkkkkkkkk. Eu sou atrevida. Fazer
o quê?
ANNA: Eu preciso dormir. Até amanhã,
Aleksey. E… Obrigada novamente. (Emoji de
beijo).
ALEKSEY: Boa noite.
Ele ficou tentado a enviar o emoji de volta,
mas seria muito…
“Vou passar a impressão errada”, ele
suspirou e colocou o celular de lado. “Essa
pirralha abusada!”.
Não demorou até que ele dormisse.
Nos últimos tempos, Aleksey vinha
dormindo muito mal. Naquela noite, ele não
acordou uma só vez e, por isso, acordou se
sentindo muito melhor.
Assim que desceu para o café da manhã,
Emília estava ajudando a empregada a
colocar a mesa e levantou a cabeça ao ouvir
passos.
— Bom dia, querido! — Ela falou e
Aleksey acenou com a cabeça.
— Bom dia, tia — Ele puxou a cadeira.
— Você parece que dormiu bem — Emília
sorriu para ele.
Aleksey soltou um ar com risada, baixinho
e se sentou.
— É…
Emília estava feliz pelo rapaz. De certa
forma, ela tinha pena, pois ele vinha
sofrendo um baque atrás do outro e era novo
demais.
Aproximando-se dele, ela deu um um
beijo nos cabelos do rapaz, como faria com
os filhos, o que deixou Aleksey de rosto
vermelho.
— Eu vou acordar o Lucas. Pode ir
comendo.
Não demorou para que Osvaldo descesse e
levantasse as sobrancelhas.
— Bom dia! Caiu da cama?
— Bom dia, tio. Acho que só dormi bem —
O rapaz respondeu e voltou a comer.
Na Rússia, Konstantin vasculhava alguns
papéis e resolveu ligar para Bernardo.
— Loirinho? — Ele disse, assim que a
ligação foi atendida.
Bernardo fez cara de tédio e revirou os
olhos. Por mais que o russo só tenha
ajudado, ele ainda tinha uma certa
implicância.
“Ele foi noivo da Rina!”, ele sempre se
lembrava.
— O que quer?
— Quanta frieza. Eu quero que você se
encontre comigo, hoje. Jantar? Te pego às
oito.
Bernardo olhou para o telefone, como se
estivesse encarando o próprio Konstantin.
— Ah, não quero ser rude, mas… Por que
raios você convida como se fosse um
encontro?
— Por quê? Queria que fosse? Se quiser,
eu topo.
— Nunca sei quando está brincando ou
falando sério — Bernardo suspirou e
esfregou os olhos, rodando para cá e para lá,
a cadeira de escritório — Sobre o que quer
falar?
— Coisas que não devem ficar rastreáveis.
Ao vivo. Oito horas?
— Ok — Bernardo respondeu, por fim, já
cansado — Mas eu posso te encontrar lá.
Com todo respeito, mas eu não quero ficar
no mesmo carro que você.
— Eu entendo. Tem medo de não resistir
ao meu charme — Konstantin sorriu do
outro lado.
— Se não começar a falar sério, eu não vou
a lugar algum.
— Certo, certo! Então, eu te busco. Não
quero passar nossa localização por aqui.
Bernardo franziu o cenho.
— Ok.
— Terno bonito. Cabelo penteado. Até
mais, doçura.
Bernardo quis responder, mas a ligação
foi encerrada antes.
— Filho da mãe!
— Quem é filho da mãe? — Pyotr
perguntou, as mãos no bolso do casaco,
enquanto se escorava no batente da porta.
— Konstantin — Bernardo respondeu —
Ele quer se encontrar comigo. Mas me diz,
em que eu posso te ajudar?
— Hmm… Queria saber se… Se você quer
me ajudar num negócio.
Bernardo estalou a língua e estreitou os
olhos.
— Não tá pensando em fazer nada que não
deveria, certo?
Pyotr fez careta.
— Claro que não! — Ele se esgueirou pela
parede, mas logo bateu numa mesinha —
Merda!
Bernardo se levantou e ofereceu o braço
para Pyotr, pegando a mão do jovem e
depositando-a ali. Assim que o russo se
sentou, Bernardo se escorou na mesinha do
computador, braços cruzados e olhou para o
gêmeo de Ekaterina.
— Ajudar com o quê?
Pyotr respirou fundo.
— Eu não acho que a Rina tenha morrido.
A respiração de Bernardo ficou presa na
garganta. Ele odiava que qualquer coisa
relacionada a morte e o nome de Ekaterina
estivessem na mesma frase. Era como se ele
recebesse a notícia novamente.
— Pyotr, eu não quero…
— Por favor! Eu… Me ouve, ok?
Bernardo suspirou e engoliu em seco,
antes de fechar os olhos.
— Fala.
Pyotr falou tudo o que se lembrava e, a
cada palavra dele, a esperança dentro de
Bernardo aumentava.
— E se alguém tem dedo nisso… Eu
suspeito do Tchekhov.
— Konstantin?
— Sim. Não acho que minha irmã iria
noivar com ele se não houvesse algum
acordo.
— Pyotr…
— Ela era louca por você. É louca por você.
E sei que nunca iria aceitar casar com um
outro homem se não tivesse um bom motivo
além de uma simples aliança.
— Vocês estavam sendo atacados.
— Nossa mãe disse que cuidaria disso. Ela
foi contra, porém, não forçaria Ekaterina a
dizer sim ou não. Eu sei que tem mais aí do
que sabemos. E mais, sabia que o Tchekhov
não desgrudou do corpo dela? Fiquei
sabendo… Tio Fyodor contou ao papai. Eu
confirmei com o Maksim.
Bernardo respirava acelerado.
— E como vamos provar isso?
Pyotr sorriu.
— Você já tem um encontro com o
Tchekhov. Isso é bom, porque partiu dele, o
que não vai levantar suspeitas. Você precisa
aturar o chatonildo e ver se arranca algo
dele.
— Deixa comigo.
— Ah… — Pyotr falou, quando Bernardo
já estava se virando — Descobriu algo no
sistema dos italianos?
— Confirmei que os calabresa se falaram
com os apulianos. Preciso conseguir o que
exatamente eles falavam. Os da máfia
vermelha também chegaram a manter
contato. Mas menos — Bernardo mordeu o
lábio — Quem quer que cuide do sistema dos
calabresa, é muito bom. Porém, quem mexe
com os da Máfia Vermelha, pelo menos no
que se refere ao próprio Konstantin, é
excelente.
— Mais uma prova de que ele esconde
algo!
— Definitivamente. Não confio nele. E não
é birra por ciúmes — Bernardo fez careta.
— Mas tem ciúmes.
— Cala a boca, Pyotr!
— Calma, cunhadinho — Pyotr sorriu —
Nós vamos trazer a Rina de volta. E se ele
estiver com ela…
Bernardo estava mais animado. Lá dentro,
ele sentia que ela não podia ter morrido,
porém, como o próprio psicólogo falou, era
uma fase do luto, apenas.
“Talvez não seja…”, ele sorriu.
— Vou me arrumar. O Tchekhov que me
aguarde!
CAPÍTULO 77
Bernardo esperava nervosamente por
Konstantin.
— Ele tá atrasado — Bernardo reclamou.
— Ele ainda tem cinco minutos, Bernardo
— Jannochka falou. Ela soube do pedido para
o jantar e estava curiosa para saber o que o
ex-noivo de Ekaterina queria com o
mexicano.
Os pés do loiro batiam no chão. O som de
carro fez Bernardo levantar o rosto e logo
um Rimac Nevera parou bem em frente a ele.
O vidro abaixou e a primeira coisa a ser vista
foi o braço de Konstantin, com um belo terno
preto.
— Don Sigayev, boa noite! — Konstantin
disse, fazendo um leve aceno com a cabeça,
em respeito. Virou-se então para Bernardo e
o olhou de cima a baixo — Nossa… Que
espetáculo…
“Calma, Bernardo. Vale a pena para tentar
descobrir se Rina está viva”, Bernardo
lembrou-se mentalmente e respirou fundo.
Jannochka apenas olhou para Konstantin, as
sobrancelhas arqueadas.
— Boa noite, senhor Tchekhov.
— Quanta formalidade… Venha, entre —
Konstantin destravou a porta do carro —
Obrigado por permitir o nosso jantar, Don
Sigayev.
— Não há o que agradecer. Boa noite —
Jannochka foi formal e Konstantin não fez
qualquer graça. O tom dele para com ela era
completamente diferente.
“Ele sabe que com ela o buraco é mais
embaixo!”, Bernardo fez chacota
internamente.
Assim que o carro saiu da mansão,
Konstantin sorriu de lado, olhando para
frente.
— O que quer falar de tão importante que
não podia ser por telefone?
— Vamos comer primeiro, não tá com
fome? — Konstantin deu uma olhadela em
Bernardo — Eu tô com muita fome.
— Olha só, eu sei que você é
“engraçadinho”, mas o negócio é o seguinte.
Não só eu não gosto de homens como eu não
ficaria com o macho que tentou casar com a
MINHA mulher!
Konstantin gargalhou.
— Já experimentou? — Ele deu de
ombros — Talvez mude de ideia. E outra, a
sua mulher é um tópico do que vamos falar
hoje.
O coração de Bernardo bateu mais forte e
ele fechou o punho.
“Será que ele sabe de algo, mesmo?”
— Acho bom valer a pena, Tchekhov.
Konstantin fez uma careta.
— Prefiro que me chame de Konstantin,
ou Krutov — O rosto dele estava mais sério e
Bernardo o observou trincar o maxilar.
— Okay. Desde que não me chame de
“loirinho”, “doçura”, e coisas do tipo.
— Ai, certo. Você é estraga-prazeres —
Bernardo permaneceu sério — E chato. Não
sei como ela te aturava.
— Escuta aqui…
— Tá, tá! — Konstantin estacionou o
carro em um restaurante que não era nem de
perto o que Bernardo esperava — A comida
é melhor do que o local aparenta. Prometo.
— Isso parece um bar de quinta.
Eles saíram do carro e Bernardo olhou em
volta. O lugar parecia abandonado.
— Bom, não posso dizer que não é —
Konstantin sorriu, fechando o carro — Ande
rápido.
— Não é perigoso deixar o carro por aqui?
Digo, o seu carro chama a atenção…
— Relaxa, delí… — Ele sorriu para
Bernardo — Digo, Bernardo.
Uma vez dentro, Bernardo se sentiu
entrando em um filme onde os personagens
vão a um bar em um bairro muito perigoso,
repleto de delinquentes. Ao olhar um pouco
ao redor, ele teve certeza de que aquele
definitivamente não era um lugar muito bem
frequentado.
— O que diabos é esse lugar, Tchekhov? —
Bernardo cochichou e Konstantin o olhou
por sobre o ombro.
— Não fique murmurando nos meus
ouvidos por trás, Castillo. Sinto até um
calafrio.
— Não consegue levar nada a sério?
Konstantin riu baixo e deu um passo para
o lado, deixando Bernardo ver uma porta de
metal, pesada.
— Ah, eu levo as coisas muito mais a sério
do que imagina — A porta se abriu e
Bernardo só viu escuro — Entre.
— Primeiro as damas — Bernardo brincou
e Konstantin balançou a cabeça.
— Ai, que medroso… — E assim, ele
tomou a frente e sumiu na escuridão.
Bernardo olhou para trás e não havia
ninguém os observando. Pelo menos, era o
que parecia.
Com um suspiro, Bernardo passou pela
porta e a fechou.
— Tchekhov?
Algo tocou na mão de Bernardo, que se
retraiu.
— Sou eu, Castillo — Uma luz de celular
foi acessa e Konstantin estava bem na frente
de Bernardo — Siga-me.
Bernardo conseguia sentir o piso inclinado
para baixo, e não demorou até eles chegarem
a uma escada de metal.
— Isso aí é seguro?
— E eu por acaso me colocaria em perigo,
loiro?
Konstantin suspirou e começou a descer,
sem encostar no corrimão. Bernardo achou
melhor fazer o mesmo, pois o metal ali
estava mais do que enferrujado.
— Vai me matar e esconder meu corpo?
— Tão brincalhão, esse menino —
Konstantin riu — Eu não seria tão burro. Sua
chefe sabe que saí com você.
Era possível ouvir água pingando em mais
de um lugar. Um desses pingos caiu no
ombro da roupa de Bernardo, que fez uma
careta.
“Que lugar horrendo!”, ele pensou, com
nojo.
Finalmente, eles pararam em frente a
outra porta. Konstantin tirou um molho de
chaves e começou a abrir as inúmeras
trancas e a abriu. O ranger mostrou o mal
estado do metal.
Após essa porta, havia outra, que
Konstantin somente colocou a mão no leitor
de digitais quando a porta atrás de Bernardo
se fechou.
— Bem vindo! — Konstantin falou com um
sorriso e Bernardo ficou de boca aberta.
— Mas o que…?
Konstantin colocou as mãos nos bolsos da
calça.
— Meu local de pesquisa.
— Senhor? — Uma voz feminina foi
ouvida e logo, uma moça de cabelos escuros
bem curtos apareceu. Ela trajava um jaleco e
Bernardo viu que o corpo dela parecia tão
tatuado quanto o de Konstantin.
Ela olhou para o mexicano e, em seguida,
para Konstantin.
— Tudo bem, eu o trouxe aqui por livre e
espontânea vontade — O futuro Don da
Máfia Vermelha falou — Como ela está?
— Ainda confusa.
Bernardo levantou a sobrancelha e olhou
de um para o outro.
— Ela quem? — Ele questionou e suspirou
— Tchekhov, por que me trouxe aqui?
— Por que não vem comigo, primeiro?
— Não. Ou você desembucha, ou eu vou
embora. Agora!
Konstantin revirou os olhos e fez sinal
para que a jovem de cabelos curtos se fosse.
Ela fez uma leve reverência com a cabeça e
desapareceu em um corredor.
— Sente-se — Konstantin sinalizou uma
poltrona, mas Bernardo cruzou os braços na
frente do peito.
— Eu prefiro ficar em pé.
— Acho que vai me agradecer por ter um
local macio onde se apoiar, Bernardo.
E não havia brincadeira na voz de
Konstantin, dessa vez.
CAPÍTULO 78
*MESES ANTES – JANTAR*
— Vamos falar de coisas sérias, agora —
Konstantin bebericou do suco dele e olhou
sorridente para Ekaterina — Nosso
casamento.
Ekaterina remexeu a boca, mas nada disse,
apenas observou Konstantin, esperando que
ele continuasse a falar.
— Nós dois não estamos apaixonados. Mal
nos conhecemos. Eu sinceramente não me
importaria de dar uma chance a nós dois,
mas vai ficar à sua escolha — Ele inspirou
fundo e a expressão dele se tornou mais
séria — Eu quero tirar o meu pai do poder. E
o Conselho não iria bem com um solteirão
sentando no “trono”. Por isso, eu quero um
acordo com a senhorita.
Foi a vez de Ekaterina beber do copo dela.
— E como seriam as coisas?
— Nós vamos noivar. Eu prometo que não
vou sair vadiando, por aí. Levarei o
compromisso à sério. Como ainda falta um
tempinho para que a senhorita complete
dezoito anos, temos tempo. E eu preciso
desse tempo.
— E depois? — Ekaterina se recostou na
cadeira, sem quebrar o contato visual com
Konstantin — Pretende tomar o poder
dentro desses meses? Quanto tempo depois
vamos romper o noivado?
Konstantin se endireitou na cadeira,
quando o jantar foi servido. Ele agradeceu,
Ekaterina fez o mesmo e, assim que estavam
sozinhos, ele começou a falar.
— Então, eu não quero romper o noivado
— Ele falou e Ekaterina abriu a boca, mas ele
levantou a mão, pedindo que ela ouvisse —
Minha oferta é: ficaremos um ano casados. É
o suficiente para que eu coloque tudo nos
eixos, ganhe a confiança do Conselho.
Depois, rompemos. E, claro, eu não exijo que
consumemos o casamento.
— Compreendo. E o que a Tambovskaya
ganha com isso?
— Minha eterna gratidão — Ele brincou e
Ekaterina fez uma cara feia —
Brincadeirinha. Os ataques, obviamente, irão
parar. Meu pai já cessará fogo no momento
em que noivemos. E eu prometo que
seremos aliados. Apoiarei a Tambovskaya no
que ela precisar, mesmo após o rompimento
da nossa união. Posso falar com a sua mãe
sobre as regiões que podemos dividir lucros.
Ekaterina concordou com a cabeça. O trato
era bom. Konstantin não queria que ela lhe
desse filhos nem nada. O casamento tinha
prazo para acabar.
“Bernardo vai ficar arrasado…”, ela
pensou, porém, afastou isso da mente. Se
fosse para ela e Bernardo ficarem juntos,
eles ficaria, depois que ela se divorciasse.
Infelizmente, ela não podia ser egoísta e
colocar os interesses dela acima dos da
família, já que ela havia jurado proteger a
todos.Ela estendeu a mão e o sorriso no
rosto de Konstantin cresceu.
— O noivado está de pé. O casamento, eu
já não tenho muita certeza. Falaremos sobre
isso.
— Prometo que não irá se arrepender —
Ele beijou os dedos dela de maneira delicada.
*MESES ANTES – NOITE DO OCORRIDO –
NO CARRO*
O carro de Pyotr estava sendo perseguido
e Ekaterina recarregou a arma.
— Tenho um novo acordo, Krutov — O
coração de Konstantin bateu mais rápido
com ela o chamando daquele jeito — Se
proteger ao meu irmão, se proteger a minha
família, esta noite, eu caso com você.
— Isso é que é um pedido de casamento!
— Konstantin falou alto, concentrado na
pista — Pode deixar, meu amor. Serei um
marido exemplar!
*MESES ANTES – NOITE DO OCORRIDO –
APÓS EKATERINA SER ATINGIDA*
Konstantin após matar mais alguns
inimigos e vendo que o carro dos Sigayev
chamou a atenção de Maksim, ele se
aproximou de Ekaterina e verificou o estado
dela.
Não estava morta, mas o tiro na testa foi
de raspão, ela sangrava em mais de um lugar.
“Malditos do caralho!”, ele quis que os
homens mortos revivessem, só para que ele
pudesse matá-los novamente.
Sem mais, ele abraçou Ekaterina e puxou o
celular, digitando mensagem para RNNO.
“Tomara que dê certo!”
Yuri abraçou Maksim e se aproximou de
onde Konstantin estava, grudado em
Ekaterina.
— A ambulância já está vindo. Eu chamei
— Konstantin avisou.
— Certo. Deixe-me…
— Não! — Konstantin costumava chorar
de raiva, portanto, quando Yuri viu os olhos
do rapaz e a expressão em seu rosto, ele
compreendeu.
— Tchekhov…
Konstantin balançou a cabeça de um lado
para o outro e aperto Ekaterina ainda mais
sobre ele. Ele havia tirado o casaco e
colocado por cima da cabeça dela.
— Eu a levo. Ela é minha…
Maksim engoliu em seco. Ele não sabia
que Konstantin realmente amava a prima
dele. E, pela forma como o loiro mais velho
estava agindo daquela forma, ele deu um
passo para trás.
— Ela… Ela vai ficar bem, não é? —
Maksim perguntou lentamente e baixo.
Konstantin não respondeu, apenas a
abraçou mais.
A ambulância chegou e Konstantin subiu
com Ekaterina no colo.
— Eles precisam…
— Eu quero ir sozinho com ela. E os
médicos. Por favor — Yuri queria discutir,
mas ele sabia como era perder a mulher que
se amava, e ele concordou com a cabeça.
Maksim ficou para trás, mas sentiu que havia
algo estranho e viu a mão de Ekaterina
mexendo de leve, o que lhe deu um pouco de
alívio.
Dentro da ambulância, o médico e
paramédicos ali já haviam sido informados
por RNNO que sob ordens de Konstantin, o
que se passasse ali não deveria ser divulgado
a ninguém.
— Ela pode ser salva? — Konstantin
perguntou e mordeu a falange do dedo,
nervoso.
— Faremos o possível, senhor.
— Quando sairmos daqui, vocês dirão que
ela está morta.
O médico o olhou, abismado.
— Os Sigayev…
— Eu sei o que estou fazendo!
Receberemos outro corpo em breve. Vocês
dirão que ela já estava morta. É uma porra
de uma ordem! E nada de falar pro meu pai!
— Senhor Tchekhov!
Konstantin segurou o médico pelo
colarinho e o sacudiu.
— Faça o que eu estou mandando,
maldição! Ela é minha mulher! Meu pai não
entenderia! O senhor é casado… Sabe como
é, não é?
Aquela era uma ameaça velada à família
do médico, que engoliu em seco, concordou
com a cabeça veementemente e voltou ao
serviço, após Konstantin largá-lo.
Quando Ekaterina, que estava sedada, saiu
da ambulância, já tinha um pano branco
sobre ela. Yuri, ao ver aquilo, soltou um grito
de dor.
— Mas porque eles a cobriram? —
Maksim perguntou, balançando a cabeça —
Eu li que não se declara morto na
ambulância!
Yuri olhou para o médico. Este, não deixou
transparecer nervosismo.
— Só vimos o estado dela na ambulância.
E… Não é bom que os outros pacientes vejam
entrar alguém… Assim.
Maksim ainda não acreditava e queria
dizer que Ekaterina entrou viva na
ambulância, mas o olhar dele cruzou com o
de Konstantin, que balançou a cabeça, muito
sutilmente.
Por algum motivo, Maksim sentiu que
deveria confiar e se manteve calado. Mas ele
iria questionar o herdeiro da Máfia
Vermelha. E, se não houvesse justificativa,
ele contaria a verdade.
CAPÍTULO 79
*MESES ANTES – MADRUGADA DO
OCORRIDO – NECROTÉRIO DO HOSPITAL*
Segundo foram informados, o corpo ficaria
ali até que os pais pudessem confirmar a
identidade. Yuri não achou que tinha o
direito de exigir nada, mas fez guarda na
porta. Ele não conseguia parar de chorar.
Maksim tomou medicações para a dor,
pois também foi atingido, e avisou ao pai que
precisava ir ao banheiro.
Na verdade, ele queria uma oportunidade
de falar com Konstantin. Este estava sentado,
com um copo de café intocado já frio na mão,
perdido em pensamentos.
— Konstantin? — Maksim o chamou e
precisou estalar os dedos na frente do rosto
do outro loiro, que o olhou confuso por
alguns segundos.
— Maksim… Oi.
Maksim se sentou ao lado dele e olhou em
volta.
— Ekaterina entrou viva na ambulância.
Konstantin o olhou, assustado.
— Não é poss…
— Não mente, ok? Eu vi ela se movendo.
Konstantin negou com a cabeça.
— Deve ter sido reflexo, espasmo… Sei lá.
Tem gente que morre e ainda se move… —
Konstantin precisava inventar uma desculpa,
por mais esfarrapada que fosse — Olha,
talvez você tenha visto o que queria ver, ok?
— Não…
— Sim! — Konstantin passou a mão pelo
cabelo curto — Não tinha como ela estar
viva.
— Eu não sei. Não a vi. Você não deixou
ninguém ver.
O mais velho encarou Maksim.
— O que está insinuando? Que eu menti?
Que os médicos mentiram? Que o hospital
inteiro está mentindo e dentro daquela
porra de necrotério não tem o corpo da
Ekaterina… Deitado numa mesa fria? É isso?
Maksim engoliu com dificuldade e
suspirou.
— Desculpe, eu… — O jovem balançou a
cabeça — Eu não consigo… — E começou a
chorar, escondendo o rosto nas mãos.
Konstantin sentiu peso na consciência, por
um momento, mas não podia falar a verdade.
Não ainda. Ele abraçou Maksim, que
continuou chorando.
O vibrar do telefone de Konstantin fez
Maksim se afastar dele, ao se dar conta do
que estava fazendo. Konstantin sorriu
gentilmente para ele.
— Preciso resolver uma coisa. O nosso
“tipo de gente” não tem muito descanso, não
é?
Maksim viu como a deixa para ir embora e
assim o fez.
Uma vez sozinho, Konstantin olhou a
mensagem.
RNNO: Chefe, o corpo foi trocado. Usamos
a porta de trás, já que o brutamontes estava
na da frente. Conseguimos alguém parecido
de corpo, mas o rosto…
KONSTANTIN: E o que fizeram com o
rosto? Os pais dela iriam notar uma
maquiagem!
RNNO: Bom, demos um tiro com uma
shotgun.
Konstantin mordeu os lábios.
KONSTANTIN: Mas vão saber… Um tiro
dado em uma pessoa morta!
RNNO: Vamos contar com o fato de que os
pais estarão muito abalados com a morte da
filha, pra notarem isso.
KONSTANTIN: Merda! Ok… Se eu não
responder mais, é porque arrancaram o meu
couro!
Quando Jannochka chegou com Santiago,
ela estava pálida. Konstantin não queria que
ela passasse por aquilo. Mesmo não tendo
filhos, ele só podia imaginar… Quando a mãe
dele morreu, foi horrível para ele, como se
ele mesmo estivesse morrendo.
Como RNNO previu, Jannochka ficou
abalada demais para notar como o tecido
não se retraiu, as bordas em volta do
ferimento estavam moles, não houve
qualquer reação do corpo após uma lesão,
indicando que a mesma foi feita após o óbito.
Santiago, pela primeira vez, abraçou o
rapaz e chorou. Aquilo pesou ainda mais em
Konstantin. Jannochka derrama lágrimas,
mas em silêncio. Porém, era visível que ela
estava num mundo só dela, sofrendo.
*MESES ANTES – BASE SECRETA DE
KONSTANTIN*
— Como ela está?
— Ela não acordou ainda, senhor. Os
ferimentos foram graves.
Konstantin se virou para a moça de
cabelos curtos.
— Lenka, eu preciso que ela seja salva!
— Estamos fazendo o possível! — Ela
franziu a testa — Ela é forte, isso eu posso
afirmar.
— Claro que ela é forte. Acha que eu iria
noivar com qualquer uma?
Lenka levantou a sobrancelha.
— Se o senhor diz…
Konstantin suspirou.
— Eu preciso ir para casa. Meu pai não
pode nem sonhar que tenho Ekaterina
Sigayeva sob os meus cuidados,
secretamente. Ele a usaria para alguma
merda.
— Desculpe perguntar, mas… O senhor a
ama? É que nunca o vi…
Konstantin a olhou muito sério.
— Vou deixar isso para a sua imaginação.
Crie a fanfic que quiser — Ele pegou o casaco
dele — Me avise qualquer avanço ou…
— Pode deixar, senhor.
— Ah! E não deixe de lado os italianos.
— Sim, senhor.
*UNIDADE SECRETA – DIAS ATUAIS*
Bernardo, como o esperado, estava
apoiado no sofá, pálido.
— Está… Está me dizendo que Rina…
— Sua mulher está viva — Konstantin
respondeu — E confusa. Ela acordou ontem.
Ela sabe quem é, mas não consegue se
lembrar das coisas muito bem.
Konstantin sorriu de leve e olhou para
baixo.
— Ela nem lembra quem eu sou. Mas
você…
Bernardo levantou os olhos e encarou
Konstantin.
— Ela lembra de mim?
— Sim. Acho que ela não se lembra de ter
rompido com você. Precisei prendê-la na
cama. Ela não é uma paciente muito…
Paciente.
Bernardo se colocou de pé e inspirou
fundo.
— Você mentiu para todos! — Ele segurou
Konstantin pela gola — Por quê?
— Digamos que os inimigos dos Sigayev
poderiam ir atrás de Ekaterina, no hospital.
Pyotr estava ali, e ele não pode ver. Além
disso, os italianos deram uma trégua, porque
eles ainda tem algum senso de honra. Estão
voltando com tudo, e você…
— O que tem eu? — Bernardo o sacudiu.
— Você finalmente criou jeito! —
Konstantin riu — O ódio consegue mover as
pessoas a fazerem o que tem que ser feito,
Castillo. Os Sigayev mesmo estão mais
unidos, mais atentos. E ninguém espera pelo
retorno da princesa.
O russo suspirou.
— Eu não pretendia manter segredo por
tanto tempo, mas eu não sabia o que
Ekaterina iria querer. E ela demorou muito a
acordar. Mas sabe… Eu conversei com ela, já
que dizem que pessoas nesse estado ouvem.
E quando contei que você estava aqui, ela
apresentou melhoras.
Os lábios de Bernardo tremiam.
Ele queria ver Ekaterina, mas achava que
era injusto com os pais dela. Eles deveriam
ser os primeiros a vê-la.
— Vou avisar os pais dela.
Konstantin negou com a cabeça.
— Não. Precisamos saber o que Ekaterina
quer. Prometi que cuidaria da família dela,
do irmão idiota e… Bom, você é a família
dela, não é mesmo? Eu te trouxe aqui para
ver se ela se estabiliza, com a sua presença.
Bernardo soltou Konstantin e deu uns
passos para trás, ainda se sentindo
anestesiado de alguma forma.
— Ela vai ter que casar com você.
— Não, não vai.
— Como… Como não? O acordo…
Konstantin colocou a mão no ombro de
Bernardo.
— Se não houvesse você de volta, sim, eu
casaria de bom grado com ela. Mas não sou
tão imbecil a ponto de casar com uma
mulher que vai ficar cobiçando outro
homem. Ainda mais com esse homem aqui,
disponível para ela — Konstantin ajeitou a
roupa — Não sou o maior romântico do
mundo, mas não vou me meter no
relacionamento dos outros.
As palavras de Konstantin encheram
Bernardo de algo bom, de esperança.
— Pronto para vê-la?
CAPÍTULO 80
Ao se aproximarem do quarto, Bernardo
ouviu um burburinho e, como o esperado,
assim que a porta se abriu, a voz de
Ekaterina pode ser ouvida.
Bernardo não conseguia nem entender o
que ela dizia. Ele parou de andar e apenas o
som da voz dela era captado pelo cérebro
dele, como se não fosse real. Como uma
lembrança distante, mas muito querida e
desejada.
A mão de Konstantin no meio das costas
de Bernardo o acordou.
— Entre.
— Isso não vai ficar assim! Quando eu me
soltar daqui, eu vou…! — Ekaterina repuxava
os membros, como se pudesse se soltar das
algemas hospitalares. A voz dela ficou presa
na garganta ao ver Bernardo entrando. Os
olhos dela se arregalaram e um sorriso
apareceu nos lábios dela — Bernardo!
Ele, por sua vez, sentia como se o coração
dele fosse incapaz de bombear o sangue para
o corpo. As lágrimas começaram a inundar
seus olhos e a transbordar, descendo pelo
rosto do rapaz.
Os passos dele eram lentos. Leves e
pesados, ao mesmo tempo.
— E… Ekaterina — Ele se ouviu falar, ao
longe — Mi-minha Ekaterina!
Foi como se um peso fosse tirado das
pernas dele, pois o corpo dele ganhou
velocidade e quase se chocou contra o dela.
As mãos de Bernardo seguraram o rosto
de Ekaterina, observando atentamente cada
detalhe. Os lábios dele tremiam de emoção,
bem como as mãos.
— Bernardo? — Ela perguntou, sem
entender — Amor, me tira daqui.
Ele piscou algumas vezes e começou a
sorrir como um idiota, rindo e chorando.
Bernardo a abraçou com força, beijando os
cabelos dela.
— Está… Me sufocando! — Ekaterina
reclamou e franziu o cenho. Ela podia sentir
como ele estava mais forte — Bernardo?
— Eu pensei… Pensei que tinha perdido
você! — Ele se afastou apenas para olhar no
rosto dela, descer os olhos pelo corpo de
Ekaterina e voltar a encarar aqueles olhos
castanhos que ele tanto amava — Meu amor,
você voltou pra mim! — Ele beijou os lábios
de Ekaterina, mas sem aprofundar. Apenas
deu vários selinhos.
As sobrancelhas de Ekaterina se uniram.
Para ela, Bernardo parecia um louco. Os
olhos dela pousaram em Konstantin, perto
da porta.
— Esse filho da mãe… Ele está me
prendendo aqui! — Ela reclamou e puxou as
amarras, para que Bernardo se desse conta
do que estava acontecendo — Bernardo!
Ele balançou a cabeça de um lado para o
outro, enxugando as lágrimas e olhou fundo
nos olhos de Ekaterina.
— Meu amor, ele não te sequestrou.
Ekaterina não gostou da resposta e puxou
o rosto, como se quisesse distância de
Bernardo.
— Não vê que eu estou presa? — Ela
perguntou e, então, foi como se uma ideia
aparecesse na mente dela — Você… Você
deixou ele me prender aqui.
— Não é isso — Bernardo insistiu e olhou
para Konstantin — Solta ela.
— Não.
— Viu só? — Ela insistiu.
— Calma, amor…
— Calma o caralho! — Ela urrou de raiva
— Bernardo Castillo!
— Tchekhov, solte-a!
— Ela vai nos atacar.
— Está com medo dela? — Bernardo
perguntou.
— Ele deveria estar, porque eu vou matálo!
Konstantin apontou com a mão, a palma
para cima, num movimento de “eu não
disse?”
— Meu amorzinho, ele não é nosso
inimigo…
— Eu vou matar você também, Bernardo!
Como ousa?
— Eu vou estar aqui fora. Converse com a
sua mulher — Konstantin suspirou e se
virou — E nem pense em tentar soltá-la,
antes de fazê-la ouvir. Ela nem vai conseguir
andar direito, pelo tempo que ficou nessa
cama.
Assim que a porta fechou, Ekaterina olhou
feio para Bernardo.
— Como pode se juntar ao Tchekhov? Ele
é da Máfia Vermelha! — Apesar de não
lembrar de Konstantin, Ekaterina sabia os
nomes dos principais membros das máfias
russas e, principalmente, dos inimigos.
— Meu amor, me escuta, tá bem? Deixa eu
ver aqui se consigo te soltar — Ele falou e
olhou para Ekaterina — Me promete que não
vai me bater?
!
Konstantin apontou com a mão, a palma
para cima, num movimento de “eu não
disse?”
— Meu amorzinho, ele não é nosso
inimigo…
— Eu vou matar você também, Bernardo!
Como ousa?
— Eu vou estar aqui fora. Converse com a
sua mulher — Konstantin suspirou e se
virou — E nem pense em tentar soltá-la,
antes de fazê-la ouvir. Ela nem vai conseguir
andar direito, pelo tempo que ficou nessa
cama.
Assim que a porta fechou, Ekaterina olhou
feio para Bernardo.
— Como pode se juntar ao Tchekhov? Ele
é da Máfia Vermelha! — Apesar de não
lembrar de Konstantin, Ekaterina sabia os
nomes dos principais membros das máfias
russas e, principalmente, dos inimigos.
— Meu amor, me escuta, tá bem? Deixa eu
ver aqui se consigo te soltar — Ele falou e
olhou para Ekaterina — Me promete que não
vai me bater?
Ela apertou os olhos para ele.
— Só porque eu te amo, vou deixar você se
explicar. Mas bem ligeiro!
Bernardo conseguiu libertar Ekaterina e
segurou as mãos dela.
— Muito bem, vou te colocar por dentro
de tudo o que aconteceu. Mas primeiro me
diz, qual a última coisa que se lembra?
Ekaterina suspirou.
— Salvamos Maksim, depois… Eu fui pro
galpão…
Bernardo engoliu em seco. Ekaterina não
se lembrava de nada depois de ele ter sido
idiota e abandonado-a.
— E eu te deixei.
Silêncio.
— Como assim, “me deixou”?
— Me ouve, primeiro, ok?
Ela concordou com a cabeça e ele inspirou
fundo, preparando-se para contar sobre os
momentos mais sombrios da vida dele.
— … E então, Konstantin me chamou para
jantar e, na verdade, ele estava me trazendo
até você.
Ekaterina estava tendo dificuldade em
compreender as coisas. Muito do que foi
falado ela não conseguia nem lembrar, de tão
confusa que estava sua mente.
— Resumindo: você foi um idiota, me
largou, nós ficamos separados por um bom
tempo. Eu noivei por conveniência, Pyotr fez
merda, e, no fim, eu “morri”. Mas Konstantin,
o filho do Don da Máfia Vermelha, foi quem
me salvou e cuidou de mim? Enquanto isso,
você voltou para a Rússia e se tornou parte
da Tambovskaya.
Bernardo concordou com a cabeça.
— E agora, estou aqui, com você — Ele
voltou a sorrir e passou o polegar pelo rosto
de Ekaterina, acariciando-o — Eu te amo,
Ekaterina. Você é meu mundo. E procurar
quem te machucou foi o que me moveu a
continuar.
Ekaterina estava chorando sem perceber.
— Me dá uma chance de estar com você,
de novo — Bernardo pediu e se ajoelhou —
Volta a ser minha. Casa comigo.
Ekaterina passou a língua pelos lábios
secos.
— Eu nunca deixei de ser sua. Nunca
deixaria. Nem mesmo a morte poderia
mudar isso.
Ele foi abraçar Ekaterina, mas ela o
afastou.
— O que foi?
— Eu estou imunda! Posso sentir! —
Ekaterina passou a mão pelos cabelos, que
estavam um pouco oleosos, mas não muito.
O rosto dela ficou lívido — Pera aí! Não esse
cara quem estava me lavando, né?
Bernardo também se deu conta daquilo e
se levantou de pronto, abrindo a porta.
Konstantin estava escorado do outro lado do
corredor, mexendo no celular.
— Você encostou na Ekaterina?
CAPÍTULO 81
— O que você acha? — Konstantin
perguntou, de maneira cínica. Bernardo
soltou um urro e avançou contra ele — Ou!
Calma! Eu não dei banho nenhum na minha
noiva.
Ekaterina queria gritar que não casaria
com ele, porém, Bernardo mencionou o
acordo e, faltar com a palavra era um erro
terrível, entre os mafiosos.
— Seu filho da… — Bernardo queria socar
o rosto de Konstantin.
— Cuidado! — Este disse, já mais sério —
Muito cuidado com o que vai falar da minha
mãe!
— Você não encostou nela, então, certo?
— Claro que não! O que acha que eu sou?
— Ele perguntou, fazendo careta — Que
absurdo! Eu aqui ajudando e vocês me
acusando de ser um abusador!
— Certo, desculpe! — Bernardo passou a
mão pelos cabelos — É que…
— Você é bem par com ela, mesmo. Minha
nossa! — Konstantin levantou o queixo,
como se quisesse manter a dignidade — Eu
sou muito amorzinho perto de vocês.
— Não exagera… — Bernardo soltou.
— E aí… Contou tudo? — Konstantin
olhou para Ekaterina, que estava com as
mãos juntas — Falei que não era pra soltar a
doidinha.
— Como é que é? — Bernardo ficou com o
rosto vermelho e Ekaterina tentou se
levantar, mas, como Konstantin previu, ela
não aguentou e as pernas falharam — Amor!
Bernardo correu até ela e a levantou nos
braços.
— Fiquei tonta…
Ele se sentou e a colocou no colo.
— Tem médico aqui? — Ele perguntou a
Konstantin, que revirou os olhos e
concordou com a cabeça. Logo, a moça de
cabelos curtos apareceu — Ela é a médica?
— A surpresa na sua voz é ofensiva —
Lenka disse, tirando o estetoscópio da
maleta.
— Perdão. Você parece tão novinha… —
Bernardo se explicou, com as bochechas
vermelhas. Ekaterina, por sua vez, olhava
para a mulher com certo rancor, já que foi
ela quem a prendeu.
— Ela é médica, mas também excelente
em tecnologia — Konstantin falou com certo
orgulho e Bernardo olhou para ele, levantou
as sobrancelhas, olhou para Lenka e de volta
para Konstantin. Este compreendeu e negou
com a cabeça. Bernardo entortou a boca,
debochado.
— Andou me traindo com ela, Konstantin?
— Ekaterina perguntou e os dois loiros, além
da médica, a olharam com espanto — O quê?
Lenka limpou a garganta.
— Ah… Ele não faz bem o meu tipo.
— Eu até deixaria ela usar uma cinta
comigo — Ele brincou e Lenka revirou os
olhos.
— Você não tem algo que eu aprecio.
Konstantin estalou a língua e levantou os
ombros.
— Aí eu já seria perfeito demais, não é
mesmo?
— Você é insuportável — Ekaterina falou
e Konstantin a encarou por um momento e,
depois, riu alto — E doido.
— Você disse, naquele dia, que eu era a
pessoa mais insuportável que você já tinha
conhecido. Não teve como não lembrar —
Ele passou a mão no cabelo — Aquele puxão
de cabelo também foi inesquecível.
Bernardo apertou os olhos para ele.
— Por que é que parece que você gostou?
— Gosto de umas coisinhas diferentes —
Konstantin sorriu de lado e tanto Bernardo
quanto Ekaterina franziram os narizes.
Após avaliar, Lenka disse que Ekaterina
precisaria ficar de repouso, de fisioterapia e,
com o tempo, ela voltaria ao normal.
Konstantin os deixou ali, dizendo que
precisava discutir algumas coisas com Lenka.
— Tem toalha e tudo o que ela precisar, no
banheiro — Ele falou, antes de sair.
Uma vez que a porta foi fechada, Bernardo
abraçou Ekaterina.
— Por que está me olhando assim? — Ela
perguntou.
— Parece que não é real. Eu tenho medo
de… De ser um sonho.
Ekaterina o beliscou com vontade,
arrancando um grito do loiro.
— É real.
Bernardo massageou a área do braço.
— Você me beliscou pra doer, não foi?
— Você mereceu! — Ela falou sem
nenhuma vergonha e Bernardo riu,
abraçando-a novamente.
— Rina, como eu senti sua falta! — Ele
acariciou as costas dela — Nunca mais eu
deixo você ir.
Ekaterina suspirou e Bernardo a olhou
sem entender.
— Não faça promessas que não pode
cumprir.
— Eu nunca mais vou cometer o mesmo
erro de te deixar. Não importa o que
aconteça! — Ele a assegurou — Mesmo que
você me mande embora. Mesmo que eu
morra! Vou ficar do seu lado.
— Isso era pra ser romântico?
Bernardo a beijou, mas Ekaterina não
abriu os lábios.
— Banho! — Ela disse — Por favor, eu
preciso escovar meus dentes decentemente,
também!
— Eu vou te dar um banho bem gostoso.
— Ouço malícia nas suas palavras?
— Ai, Rina… — Ele aproximou a boca do
ouvido dela — Não vou conseguir esperar
até o seu aniversário, eu acho.
Ekaterina soltou um gemido baixo e
Bernardo fechou os olhos.
“Ela precisa de repouso. Vocês terão
tempo!”
Tempo. Ele não confiava muito nisso, já
que em segundos, ele perdeu a mulher da
vida dele. E agora, quem garantiria que algo
horrível não aconteceria novamente? Não,
Bernardo não perderia mais tempo do que o
necessário.
— Isso é uma promessa?
— Com certeza — Ele respondeu e a
carregou para o banheiro.
Ekaterina ficou com vergonha, pois ela
não estava como gostava. Bernardo notou o
desconforto dela, quando ele a ajudou a
retirar a camisola hospitalar.
— O que foi, meu amor?
— Eu estou… Ai, Bernardo, eu não estou
nem depilada.
Ele ficou olhando-a e então, sorriu.
— Se isso tá te incomodando, eu te ajudo a
depilar — Ele falou calmamente — Estamos
juntos, para tudo. E eu sempre estarei aqui
pra você. Não importa o quê.
Bernardo olhou nos armários, após
Ekaterina permitir que ele a ajudasse. Ele
achou um depilador descartável e o mostrou
a ela.
— Serve. Mas você tem certeza?
— Prometo que terei muito cuidado.
Afinal, meu amor, eu quero muito que ela
esteja sempre saudável e pronta para os
meus carinhos.
— Você está mais depravado — Ekaterina
disse e mordeu os lábios — E mais forte.
O loiro tirou a blusa e Ekaterina só faltou
babar.
— É tudo pra você. Só pra você.
Ela passou a mão no peitoral de Bernardo
e desceu, parando no cós da calça dele.
— É bom mesmo.
Bernardo cobriu a mão dela.
— Ninguém vai me tocar, além de você.
Ekaterina desceu mais a mão, porém,
Bernardo segurou o pulso dela e o acariciou,
negando com a cabeça.
— Não. Quando você melhorar, amor.
Quero fazer de tudo com você, mas com você
100%.
— Tudo?
— Tudo.
Bernardo a levou para o chuveiro e a
ajudou a ficar de pé, lavando-a e, depois, a
colocou na cama — após se certificar que a
porta estava trancada — e a depilou com
toda calma.
— Pronto — Ele falou e colocou a mão em
cima da intimidade de Ekaterina, que o olhou
safada — Amor, amor…
— Saudade de você, Bernardo. Eu sei que,
na minha mente, nós nos vimos tem pouco
tempo. Mas eu sempre tenho saudades.
Ela esticou os braços para ele, que se
deitou sobre ela, apoiando-se nos próprios
braços ao lado da cabeça dela.
— Como eu te amo, puta merda!
Bernardo a beijou, primeiro calmo e foi
afundando. Em segundos, os dois estavam
em chamas, mas um toque na porta os fez se
afastar, arfando.
— Quem é? — Ela perguntou, com raiva.
— Eu! — Konstantin respondeu — Já
terminou o banho?
— Pera aí! — Bernardo ajudou Ekaterina a
colocar uma camisola limpa, enquanto ele
precisou vestir a mesma roupa.
Assim que abriu a porta, Konstantin olhou
para os dois, como se soubesse o que eles
andaram fazendo.
— Ele te deu um bom banho? — Ele
perguntou.
— Que tipo de pergunta é essa? —
Ekaterina devolveu.
— Só quero saber se os serviços dele são
bons. Eu quero experimentar.
— Olha aqui…
— Fica longe dele! — Ekaterina rosnou e
deu um soco no colchão, olhando furiosa
para Konstantin.
— A gente pode dividir.
CAPÍTULO 82
Bernardo segurou Ekaterina, que queria
se levantar da cama para, muito
provavelmente, acertar Konstantin.
— Qual é?! Somos três gostosos. Prometo
que satisfaço os dois — Konstantin piscou
para ambos — Eu não tô brincando. A gente
pode mesmo se divertir.
Bernardo inspirou fundo e soltou com
calma.
— Konstantin Tchekhov, homem nenhum
vai encostar na Ekaterina. Ela é minha e
apenas minha.
— E Bernardo é apenas meu! — Ela
complementou.
— Isso é egoísmo — Konstantin
respondeu.
— Não julgo quem se diverte assim, mas
não é o nosso caso — Bernardo estava
tentando manter a educação — Eu sou grato
por ter cuidado da Ekaterina, de verdade,
mas não force. Ela ter noivado com você já
foi ruim o suficiente.
— Pena que ela não se lembra dos nossos
momentos.
Ekaterina abriu a boca, empalidecendo e
olhou para Bernardo. Este engoliu em seco.
— Que… Que momentos?
— Olha, acho melhor eu nem contar —
Konstantin sorriu para Ekaterina, com uma
certa malícia.
— Eu não acredito que deixei você me
tocar. De jeito nenhum! — Ekaterina falou
baixo, ainda chocada. Ela não se lembrar das
coisas estava deixando Ekaterina confusa e a
ponto de enlouquecer.
Quando ela colocou as mãos na cabeça,
Konstantin ficou mais sério e o semblante
dele mudou completamente.
— Calma, tô brincando — Ele disse e
levantou as mãos, como se fosse tocá-la, mas
Bernardo se colocou na frente. Konstantin
recolheu as mãos — Desculpe. É que é difícil
segurar a língua.
— Você parece que não dorme com
ninguém há muito tempo. Não consegue
parar de atirar para todos os lados! —
Bernardo ralhou.
— Ora… Veja só quem fala! E o problema é
que eu tenho a libido muito alta… — Ele
levantou os ombros — O que eu posso fazer?
— Pois vá se ajudar de outro jeito!
Ekaterina não vai ser sua diversão!
— E você? — Konstantin perguntou, mas a
aura de Bernardo não era nada amigável —
Credo, okay. Vocês precisam tentar levar as
coisas mais na brincadeira. A vida já é bem
difícil do jeito que é.
— Por falar nisso — Ekaterina suspirou —
Preciso falar com meus pais. Com Pyotr…
Konstantin negou.
— Acho que não é o momento, ainda. Por
que não se recupera, primeiro? Quando
voltar, volta cem por cento e pronta pro
combate. Vamos comer pelas beiradas, com
os inimigos e aí, damos o bote!
— Você é uma cobra — Bernardo falou.
— Cobra é o que tenho aqui nas calças.
Uma das grandes. Pode checar.
— Pare de dar em cima do meu noivo! —
Ekaterina brigou — Aceito que seja
“engraçadinho”, mas não com ele ou comigo.
Não desse jeito!
Konstantin revirou os olhos.
— Certo — Ele estendeu a mão para
Ekaterina, que a olhou, desconfiada —
Parceiros?
— Primeiro, você me mostra o que já
conseguiu — Ekaterina respondeu e
Konstantin sorriu de lado.
— Com prazer.
Konstantin levou Bernardo e Ekaterina até
o escritório dele.
— Sentem-se — Ele disse e se acomodou
na poltrona atrás da escrivaninha — Vamos
lá.
Ele mostrou que, até o momento, o que
sabiam era que os Apulianos estavam unidos
aos Calabresa e, claro, o sistema deles era
muito difícil de invadir.
— Parece que estamos descascando uma
maldita cebola com um milhão de camadas!
— Konstantin reclamou e Bernardo
concordou com a cabeça.
— A cada nova barreira, outra surge.
— Sim — O loiro russo passou a mão pelos
cabelos — Conseguimos impedir alguns dos
ataques, por sabermos o que aconteceria.
Mas não dá pra pegar tudo. Ah!
Ele estalou o dedo e abriu a gaveta da
escrivaninha, tirando de lá um envelope.
— O que é isso? — Ekaterina perguntou.
Ela ainda não estava tão inteirada dos
assuntos, mas já sabia um pouco das coisas,
devido ao que Bernardo lhe contou.
— Você, loirinho, estava certo.
Aparentemente, a tal “sociedade secreta”
tem algum envolvimento. Me parece
estranho, já que eles eram um tipo
revolucionário e, vamos combinar, os
italianos são bem conservadores.
Bernardo franziu o cenho.
— Mas então… Por que eles estariam se
unindo? São interesses diferentes.
Konstantin suspirou.
— Talvez haja traidores na sociedade? Ou
estejam apenas usando o nome dela. Até pra
despistar, sabe?
Ekaterina e Bernardo concordaram com a
cabeça.
— Por sinal, o que é RNNO? — Ela
perguntou — Bernardo comentou sobre…
— Segredinho — Konstantin falou e os
dois à frente dele o olharam feio — É sério.
Eu não posso mesmo falar.
— Pensei que pudesse ser aquela
médica/faz-tudo.
— Não. Mas é uma pessoa que realmente
não pode se mostrar. Isso a colocaria em
perigo e, consequentemente, qualquer
chance que temos de chegar perto dos
italianos. E dos japoneses.
— Japoneses? — Bernardo perguntou —
Pensei que eles não eram mais problema.
— Eu não os descarto. Não sei se alguém
infiltrado ou se é uma Organização inteira —
Konstantin disse e se recostou na cadeira, as
mãos cruzadas sobre a barriga — Há menção
em um dos documentos que conseguimos da
‘Ndrangheta.
— Acha que os apulianos estão juntos
nisso? Com os japoneses? — Ekaterina
perguntou.
— Não tenho certeza. Pra ser sincero, é
uma maldita bagunça. Acho que ninguém ali
é aliado de fato de ninguém.
— Incluindo o seu pai — Bernardo soltou
e encolheu os ombros — Eu vi… Seu pai fala
com o Don dos N’drangheta. Nem sempre de
maneira amigável, mas…
Konstantin passou a língua pelos dentes,
estalando-a depois.
— Meu pai não será um problema muito
em breve.
— Vai finalmente tomar o lugar dele? —
Bernardo perguntou.
— Você vai dar um golpe? — Ekaterina
questionou. Bernardo não entrou nesse
detalhe quando lhe contou sobre o acordo
dela com Konstantin.
— Sim. Meu pai não é confiável.
Ela soltou uma risada debochada.
— E você?
Konstantin sorriu amarelo.
— Vai ver como sou melhor escolha, linda
— Bernardo o olhou feio — O que foi? Eu
menti?
— Você é confiado demais, Tchekhov —
Bernardo reclamou.
— Já falei que não vou me meter na
relação de vocês — Ele olhou para Ekaterina
e, depois, para Bernardo — Eu vou deixar
você ganhar essa, Castillo.
— Como se você tivesse chances! —
Ekaterina disse com a boca meio torta.
— E como você pode ter tanta certeza? A
gente só diz que não gosta depois que prova.
— Tchekhov!
— Calma, loirinho!
Ekaterina colocou a mão no peito de
Bernardo, que estava querendo se levantar.
— Amor, não vê que ele quer só te
perturbar? Ele é chato.
— Achei ofensivo — Konstantin
resmungou — Certo. Agora, casal lindo do
meu coração, é o seguinte: Ekaterina vai ficar
aqui e sairá quando estivermos com tudo
pronto e ela, claro, em perfeito estado. Você,
gato, vai voltar pra mansão Sigayev e dirá
que tivemos um jantar maravilhoso.
— Eu ainda tô com fome, caso não saiba —
Bernardo reclamou — Prometeu comida, e,
até agora, eu não vi nada!
Konstantin deu um tapa na própria
cabeça.
— Esqueci completamente! É que eu comi
algo enquanto vocês estavam sozinhos lá no
quarto — Ele sorriu com falsa inocência —
Quer comer?
— Pelo seu tom malicioso, eu não tenho
tanta certeza — Bernardo apertou os olhos.
— Malicioso? — Konstantin riu — Fique
com fome, então!
— Seu…
— Eu também tenho fome — Ekaterina
disse e Konstantin pegou o telefone.
— Por favor, providencie comida para a
senhorita Sigayeva.
— E eu? — Bernardo perguntou,
recebendo um olhar de desdém de
Konstantin.
CAPÍTULO 83
— Só isso. Obrigado! — E desligou o
telefone — Eu disse que você iria ficar com
fome.
— É brincadeira, né? Mentiroso do
caralho!
— O seu jantar tá bem do seu lado,
Castillo. Onde eu menti?
O rosto de Ekaterina ficou todo vermelho,
como o de Bernardo. Enquanto ele, de
vergonha misturada com raiva, o dela só pela
segunda opção.
Ekaterina deu um tapa na mesa.
— Tchekhov! Chega de palhaçadas! Você
tá me dando uma canseira absurda, só por
ter que te aguentar! — Ela levou a mão à
testa — Você é muito trabalhoso. Pior que
criança.
Konstantin queria dar uma resposta
espirituosa, mas a última coisa que o
deixaria satisfeito naquele momento, era ver
Ekaterina mal. Ele levantou as mãos.
— Perdão.
Bernardo já estava acariciando as costas
de Ekaterina.
Konstantin pediu que a comida de
Bernardo também fosse preparada.
Após ele comer com Ekaterina — fazendo
questão de lhe dar na boca, com direito a
beijinhos — Bernardo fez todo o caminho de
volta com Konstantin.
— Você pode visitá-la — Konstantin disse
— Só não com muita frequência, afinal, não
somos melhores amigos e ficaria esquisito eu
te trazer pra passear sempre, não é mesmo?
Bernardo apenas suspirou e concordou
com a cabeça.
— Ela está viva e isso já é… Eu nem tenho
como descrever — Bernardo olhou pela
janela do carro, os olhos enchendo de água.
Konstantin não fez qualquer graça com
aquilo. Se a mãe dele também aparecesse
viva depois de meses, ele ficaria daquele
mesmo jeito.
Quando o carro parou na frente da
mansão Sigayev, Bernardo se virou para
Konstantin e estendeu a mão.
O russo olhou para a mão do outro e
levantou a sobrancelha.
— Obrigado por cuidar da Ekaterina —
Bernardo disse, engolindo o choro —
Obrigado por salvá-la e por mantê-la bem.
E… Obrigado por me levar até ela.
Konstantin segurou a mão de Bernardo e o
puxou para um abraço.
— Eu quero mudanças, Bernardo. Então,
eu tenho que ser melhor — Ele sorriu ao se
afastar — Qualquer coisa eu aviso. E… Pode
avisar a sua Don sobre o que conversamos a
respeito dos sistemas.
— Pode deixar.
Jannochka esperava por Bernardo na sala
e, assim que ele passou pela porta, a viu
escorada na parede, de braços cruzados.
— O jantar foi bom?
Ele concordou com a cabeça.
— Acho melhor falarmos no escritório.
Jannochka concordou com a cabeça e os
dois andaram juntos até o local. Uma vez
acomodados, Bernardo começou a contar o
que Konstantin repassou a ele.
— Então, os japoneses ainda estão de
sacanagem… — Ela murmurou — O pai de
Konstantin está com eles, não é?
— Sim. Apesar da proposta de casamento
à Ekaterina, ele não se desvinculou deles. E
nem dos calabresa.
Jannochka crispou os lábios.
— Não sei por que ainda me surpreendo.
Então, a Máfia Vermelha ainda vem nos
atacando.
— Sim. Mas Konstantin não está com o pai.
— E como pode ter tanta certeza? —
Jannochka perguntou — O rapaz me parece
sim uma boa pessoa. Principalmente no que
houve… — Ela suspirou, como se estivesse
se controlando.
— Eu não estava aqui, antes, mas posso
dizer que, mesmo insuportável, ele não
estava mentindo.
Jannochka sorriu de lado.
— Ele te infernizou?
Bernardo soltou uma risadinha de
desdém.
— Nem imagina o quanto. Ele é
“brincalhão” demais. É irritante.
— Ekaterina mencionou isso — Jannochka
engoliu em seco — Temos que trabalhar com
essas informações — Ela mudou de assunto
e Bernardo sabia o motivo. Jannochka
evitava mencionar a filha.
Bernardo se sentia um crápula, por ver a
mulher na frente dele sofrer pela perda da
filha, quando há pouco tempo ele mesmo
estava numa cama com a garota, beijando-a e
sentindo como ela estava viva.
“Mas é pelo bem de todos, inclusive da
Rina”, ele disse a si mesmo, tentando
apaziguar o peso na consciência.
Os dias passaram e, pelo menos uma vez
na semana, Bernardo se encontrava com
Konstantin, a fim de ver mais informações.
Pelo menos era o que Jannochka pensava.
Ela não questionou Bernardo não levar
Konstantin para a mansão, em vez de sair
com o rapaz, mesmo achando estranho que,
sempre que iam se encontrar, Bernardo se
arrumava e muito.
— O quê? Acha que Bernardo tá tendo um
caso com o Tchekhov? — Santiago
perguntou, quando estavam se preparando
para o dia.
— Olha, eu não sei. Mas é esquisito que ele
se arrume, se perfume… Ele nunca foi
desleixado, mas quando vai sair com o
Tchekhov, parece que está indo mesmo a um
encontro!
Santiago já tinha notado.
— Bom, que sou eu pra julgar? — Ele deu
de ombros e se aproximou de Jannochka por
trás — Agora, que tal a gente aproveitar
mais um pouco aqui?
Jannochka apertou os olhos para o marido,
olhando-o por cima dos ombros.
— Quer começar a me dar o café da manhã
aqui?
— Eu sei que você gosta de leite
quentinho, direto da fonte — Santiago beijou
o pescoço dela, arrancando um suspiro —
Cada dia você tá mais gostosa.
Ele puxou o rosto de Jannochka para o
lado, com delicadeza, mas o beijo foi cheio de
paixão. Em segundos, ela estava apenas de
calcinha, de quatro na beira da cama,
enquanto Santiago segurava-lhe o cabelo e
movimentava os quadris para frente e para
trás.
— Ah, que boca! — Ele fechou os olhos,
sentindo o fundo da garganta da esposa,
enquanto ela gemia, se tocando — Isso,
engole… Ai, porra! Engole tudinho!
Santiago se derramou todo na boca de
Jannochka e mal terminou, ele deu-lhe um
beijo e a virou de costas, entrando de uma
vez.
— Amor!
— Quero você gozando no meu pau. Isso,
rebola, gostosa! — Ele deu um tapa no
bumbum de Jannochka — Puta merda, que
tesão!
Meia hora depois, os dois desceram para o
café da manhã. Bernardo falava algo com
Maksim, mas pararam assim que a Don e
Santiago entraram.
— Não adianta disfarçar. Vocês são
péssimos — Jannochka comentou, sentandose. Santiago empurrou a cadeira dela para
frente e foi sentar-se à direita de Jannochka.
— Estávamos apenas conversando sobre…
Coisas do coração — Maksim disse e
Bernardo concordou com a cabeça.
Maksim estava novamente com Lukyan,
mas disse que não sabia se deveria
continuar, porque apesar de gostar do rapaz,
não parava de pensar em outro.
— Entendi… — Jannochka respondeu.
Yuri desceu as escadas, bem como Fyodor.
— Você não deveria tá de folga? —
Santiago perguntou a Fyodor. Este apenas
abanou a mão, indicando que não queria
falar a respeito.
Yuri levou a mão ao peito e Fyodor lhe deu
um cutucão, irritado.
Todos entenderam que, mais uma vez, ele
e Agafia haviam brigado.
— Vamos conversar depois, Fyodor —
Jannochka lhe falou, sem olhar para o primo
e continuou a comer.
— Okay — Ele respondeu, apático.
— Santiago, Pyotr não vai descer?
— Ah, tia, ele disse que não tava se
sentindo muito bem. Estava com dor de
cabeça — Maksim respondeu.
— Dor de cabeça? Eu vou ver o que ele
tem.
— Eu vou, amor, Pode deixar — Santiago
disse e beijou a mão da esposa.
Assim que todos terminaram de comer e
foram para os treinos, e Santiago foi ver
Pyotr, Jannochka fez sinal para que Fyodor
se sentasse mais perto dela.
— Janna…
— Por que não fala logo tudo pra Agafia?
Ele suspirou e jogou o guardanapo na
mesa.
— Ela nem quer ouvir! Disse que sabe o
que viu e que eu tô tentando fazer ela passar
por doida.
— Agafia é cabeça-dura…
— Nem me fale — Ele apoiou a testa na
mesa — Ela me deixa doidinho.
Jannochka colocou as mãos nas costas de
Fyodor.
— Se quiser, eu falo com ela, primo.
Ele levantou o tronco rápido, negando
veementemente.
— Ela tem que acreditar é em mim! — Ele
estava zangado — O companheiro dela sou
eu e eu nunca dei motivos pra essa mulher
desconfiar de mim, Janna! Como é que ela
não entendeu, até hoje, que eu sou louco por
ela?
— Às vezes a pessoa se sente traída
demais e fica completamente cega — Ela
falou.
— Não interessa! Eu nunca desconfiei
dela, e acredite, foram várias ocasiões de
filhos da puta tentando quebrar a gente! Aí,
quando é na minha vez, ela faz isso?
Fyodor estava quase chorando. Jannochka
sabia o quanto ele amava Agafia e lhe doía
ver o primo naquele estado. Fyodor havia
perdido peso.
— Acho que está na hora do Aleksey
voltar.
CAPÍTULO 84
— Tem certeza? Quero dizer… Não sei se é
o momento certo. Como ele vai se sentir aos
pisar aqui.
Os dois ficaram em silêncio. O motivo era
claro: a falta de Ekaterina. Além de todo o
problema com os pais, Aleksey finalmente
veria a casa sem a prima. Não porque ela
tenha se casado ou tirado férias. Ela estava
morta.
— Converse com ele — Jannochka deu um
sorriso amigável e se levantou — Preciso
cuidar de algumas coisas. Ah, e sobre a sua
mulher… Eu não gosto de dar pitaco no
relacionamento dos outros, mas
francamente? Não acho certo você ficar aqui
se acabando. Faça-a te ouvir.
Com um beijo no topo da cabeça de
Fyodor, Jannochka se foi.
Ele pegou o celular para ligar para
Aleksey, quando ouviu o som de salto alto.
Não havia outra mulher que pudesse entrar
ali livremente, e que usasse saltos, além de
Agafia.
Ela tinha os óculos escuros na mão, a bolsa
pendurada no braço, e o rosto sério.
— Quero falar com você — Ela disse e
Fyodor concordou com a cabeça — Estava
chorando? Aconteceu alguma coisa?
Eles brigaram na noite anterior e Fyodor
havia chegado de madrugada na mansão. Ele
entortou a boca.
“Ela ainda pergunta!”.
— Nada — Ele inspirou fundo — Sobre o
que quer falar?
Ele estava mais sério e Agafia sentiu a
diferença do homem que saiu de casa
choramingando. Ela sentia pena, queria
abraçá-lo, mas aí lembrava do que tinha
visto, dele com outra mulher, e a pena
passava na mesma hora.
Agafia limpou a garganta e se aproximou
de Fyodor, olhando em volta.
— Prefere ir pra outro lugar? As pessoas
estão ocupadas, duvido que alguém vá ouvir
qualquer coisa — Fyodor se levantou.
— É um assunto delicado.
Fyodor sentiu um frio na espinha.
— Okay. Vamos pra uma das salas vazias.
Agafia o seguiu e, ao chegarem lá, Fyodor
abriu a porta e segurou a mesma, esperando
que a esposa entrasse. Ela trajava um vestido
azul que, mesmo não sendo colado demais
ao corpo, mostrava as formas dela.
“Mulher gostosa…”, ele não conseguiu
segurar o pensamento. Na casa deles, os
quartos eram separados, mas todas as vezes
que ele a via na piscina ou na academia,
ficava tentado a se aproximar.
Respirando fundo, Fyodor entrou, fechou
a porta e se virou para Agafia, que colocou a
bolsa em cima da mesa central.
— Sobre o que deseja falar?
Agafia inspirou o ar e o soltou pela boca,
como se tomando coragem. Ela levantou o
rosto e encarou Fyodor.
— Acho que nossa situação é
insustentável. Eu entendo que o luto é
recente, Fyodor, mas… não consigo mais.
Somos dois estranhos dentro da mesma casa.
E nosso filho nem está aqui! — Era evidente
que Agafia estava sofrendo — Eu acho que
devemos nos separar logo.
Ele já esperava por aquilo, mas ainda
assim, doía ouvir Agafia tocando naquele
assunto novamente.
Com passos largos, Fyodor se aproximou
da esposa e enfiou as mãos nos cabelos dela,
forçando-a a olhar para ele.
— Você ainda me ama?
— Para com isso, Fyodor! — Agafia
colocou a mão no peito dele, mas Fyodor não
se moveu.
— Responde, Agafia! — Ele insistiu —
Olha bem nos meus olhos e diz que eu seria
capaz de trair! Se eu te beijar agora…
— Cala a boca! — Ela chutou a canela dele,
mas Fyodor apenas apertou os lábios — Eu
quero o divórcio! Seu cachorro de uma figa!
Traidor de mer…!
Fyodor beijou Agafia, que deu vários tapas
nos ombros dele, mas quando ele passou a
língua pelos lábios dela, a loira gemeu e
segurou o braço de Fyodor, abrindo a boca e
permitindo a entrada dele.
Sem perder tempo, Fyodor a suspendeu e
a colocou na mesa, enquanto Agafia abriu as
pernas. Uma das mãos de Fyodor segurava
as costas dela. A que estava no cabelo desceu
pelo corpo dela, até chegar às coxas. Ele foi
subindo o vestido da loira.
— Eu te amo, Agafia — Ele falou entre
beijos — Não consegue sentir isso?
O beijo foi mais intenso e ela se derreteu,
as mãos indo para a blusa de Fyodor e
abrindo-lhe os botões.
— Você… estava… — A imagem de Fyodor
com outra apareceu na mente de Agafia, que
parou de se mexer e virou o rosto — Não
consigo…
Ele segurou o rosto dela com as duas
mãos.
— Eu não te traí!
— Eu vi! — Agafia o empurrou, mas
Fyodor decidiu que ela ia ouvir sim!
— Então, me deixa falar o que houve e, se
mesmo assim você quiser o divórcio, — ele
engoliu com dificuldade — eu vou conceder.
Prometo que não vou mais te perturbar. Não
vou mais tocar em você.
Agafia concordou com a cabeça.
Ele a pegou no colo e se sentou na cadeira,
colocando-a em cima dele, uma perna de
cada lado.
— Fyodor! — Ela o repreendeu e se
remexeu. Fyodor fechou os olhos.
— Está me torturando!
— Você merece!
Ele abriu os olhos.
— Eu estava em missão — Fyodor falou e
suspirou, passando os dedos pelos cabelos
de Agafia — Aquela mulher era conectada
diretamente ao homem que eu precisava ter
informações sobre.
Agafia estava tendo dificuldades em se
concentrar com a proximidade de Fyodor.
Alguns botões abertos, os cabelos
bagunçados, o braço dele ao redor da cintura
dela e, claro, o volume entre eles.
— Sim, eu a seduzi para arrancar
informações. Ela tinha a língua solta —
Agafia fez careta — Não desse jeito! O que
você viu foi o máximo que cheguei com ela.
— Não transou com ela? Você estava só de
calça, com ela por baixo de você! — Agafia
cobriu o rosto com as mãos — Essa maldita
cena não sai da minha cabeça! Os peitos dela
quase pra fora! Vai me dizer que você não
estava aproveitando nada?
Ela abaixou as mãos e o encarou, cheia de
ressentimento.
— A única mulher que me dá tesão é você,
Agafia — Fyodor a apertou contra ele.
— Ia transar com ela, se eu não te pegasse!
— Não, não ia — Fyodor respondeu e
Agafia tentou sair do colo dele — Eu juro pra
você!
— Estava num maldito quarto de hotel
com aquela vagabunda!
— Eu não ia transar com ela! — Os olhos
azuis profundos de Fyodor a encararam —
Depois que te conheci, Agafia, nunca transei
com outra. E beijar aquela mulher foi parte
da missão. Eu tive que pensar em você, pra
conseguir.
Agafia soltou uma risada de escárnio.
— Me poupe! Ela era linda. Aquela
maldita! — O semblante de Agafia era de
pura raiva. Ela olhou Fyodor e deu um soco
no ombro dele — Acha que eu acredito que
você tava ali só “pela missão”?
Fyodor ficou mais sério e limpou as
lágrimas que desciam pelo rosto de Agafia.
— Minha maquiagem vai borrar e a culpa
é sua!
Ele soltou uma risadinha.
— Alguma vez já te fiz sentir que não te
amo? Que não sou inteiramente seu?
CAPÍTULO 85
Os lábios dela tremiam, assim como o
queixo.
— Que porcaria de missão foi essa? Você
andava saindo de casa há tempos! — Ela
chorou abertamente — Não dormia mais em
casa, quando dormia, chegava super tarde,
me deixava esperando! Se marcava jantar,
você não aparecia!
Fyodor engoliu em seco.
— Demorei um tempo na missão. E eu não
podia ficar aparecendo com você,
principalmente em certos lugares. Eu
precisava parecer solteiro, além de
preservar a sua segurança.
Agafia bateu nele novamente.
— Eu deveria quebrar você! — Ela
reclamou — E por que diabos não me falou
nadal Me deixou sozinha, fez eu me sentir
uma velha horrenda e indesejada!
— Velha e indesejada? — Fyodor
perguntou, sem acreditar — Pelo amor,
mulher, não! Você não é velha e muito menos
indesejada!
As mãos de Fyodor seguraram as ancas de
Agafia e a puxaram para ele, fazendo-a
rebolar.
— Fyodor… — Ela gemeu, as mãos nos
ombros dele — Não… Não vai me convencer
pelo tesão que eu sinto…
Agafia ficou com o rosto todo vermelho.
Ela não queria ter dito aquilo! Fyodor sorriu
de lado, satisfeito por ouvir que a bela
esposa dele o desejava.
— Eu queimo por você, mulher! O velho
aqui sou eu!
Agafia jogou a cabeça para trás e fechou os
olhos.
— Você transaria com ela, pensando em
mim? É isso? E por que Janna…?
Fyodor colocou o dedo indicador nos
lábios de Agafia, negando veementemente
com a cabeça.
— Não! Eu tentei fazer aquela mulher
falar, e ela falava mais quando recebia
carinho. Mas eu precisava de mais
informações — Ele suspirou — O plano era
amarrá-la, fingir que tava numa brincadeira
erótica e arrancar o que eu queria saber.
Depois, a deixaria lá.
Agafia estreitou os olhos para o marido.
— Devo mesmo ter cara de otária!
— Agafia, desde que te conheci, meu pau
sempre foi só seu. E eu nunca tinha beijado
aquela mulher. Só a provocava. Eu sei que
pode parecer ridículo falar agora, mas eu
realmente não tô mentindo.
A loira conhecia Fyódor há anos. E ele
nunca tinha mentido para ela. Ao final de
alguma missão, ele falava o que podia.
— Valeu a pena? Voltou a encontrar
aquela vagabunda?— Agafia entortou a boca.
— Não, não valeu a pena. E sim, voltei a
encontrá-la. Sem contato físico. Pelo menos,
não do jeito que você pode ter imaginado.
Agafia deu outro tapa no braço do marido.
— Vai continuar mentindo?
— Não! Eu marquei um encontro, ela
entrou no carro e eu a levei pro galpão. A
ideia era não atrair a atenção do alvo
principal — Ele deu de ombros — No fim,
matamos todos.
Agafia o olhava com desconfiança,
movendo os lábios.
— Vou falar com a sua chefe, pra saber por
que ela mandou você me trair.
— Ela não mandou. Eu tinha que
conseguir a informação. Eu tentei sendo
amiguinho, mas não deu certo. Acabei tendo
que apelar — O pomo-de-adão de Fyodor
moveu para cima e para baixo — Me perdoa.
Eu te amo. Nunca me senti mais sujo, Agafia.
Você é a única mulher que eu quero.
Agafia estalou a língua e desviou o olhar.
— Ela era bem mais nova do que eu.
Os dedos de Fyódor seguraram o queixo
da loira, fazendo com que ela o encarasse.
— Nenhuma mulher, mais nova, mais
velha… Nenhuma, se compara a você — A
outra mão dele segurou a de Agafia e
colocou-a em cima do peito dele — Esse
coração bate só por você — Ele deslizou a
mão de Agafia pelo peito dele, descendo até
chegar à frente das calças dele — E esse pau
só reage a você.
Ele sabia que aquele movimento era
ousado e Agafia podia dar-lhe um belo tapa e
ir embora, mas quando ela mordeu o lábio e
apertou o membro dele por cima da roupa, a
respiração de Fyodor ficou descompassada.
— Então me fode, Fyodor.
Os olhos dele brilharam com as palavras
dela.
— Ainda quer o divórcio?
Agafia o encarou e passou os braços pelo
pescoço dele, beijando-o.
— Eu quero confiar em você de novo.
Preciso ter certeza de que não está
inventando isso para que eu caia nos seus
braços.
— Já está nos meus braços — Ele brincou
e Agafia deu um tapa no bíceps de Fyodor,
mas de leve, o que já era um bom sinal — Eu
te amo.
— Prova — Ela se remexeu e Fyodor
levantou com ela, sentando-a novamente na
mesa.
— Melhor irmos pro quarto, não?
Agafia negou com a cabeça.
— Eu quero você agora. Nesse momento.
Depois vamos pro quarto. O nosso quarto. Na
nossa casa.
O coração de Fyodor parecia que ia parar a
qualquer momento.
— Vamos… Voltar a dormir juntos?
Agafia mordeu os lábios.
— Talvez — ela falou e apertou as pernas,
aproximando Fyodor dela — Vai ficar só
falando?
Fyodor puxou o vestido de Agafia para
cima e o passou pela cabeça dela, jogando a
peça longe. Ele apertou os seios dela,
sugando ar entre os dentes e gemendo.
— Você me deixou na seca por mais de um
ano! — Ele reclamou e mordeu um dos seios
de Agafia, pelo soutien. Depois, a pegou pela
cintura e a virou sobre a mesa, deixando-a
com a barriga para baixo, colando a boca do
ouvido da loira — Eu vou ter que devolver o
castigo com uns tapas nessa bunda gostosa!
A mão de Fyodor desceu sobre o bumbum
de Agafia e ela gemeu alto, empinando-se
para ele.
— Ah! Me come toda… — Ela pediu, num
choro e se remexendo — Fyodor, eu preciso
de você.
Agafia sempre ficava molhada rápido, para
o marido.
Fyodor enfiou os braços por baixo das
pernas de Agafia e a puxou bem para a
beirada da mesa, abaixando-se e inalando o
cheiro dela.
— Olha só como tá molhadinha… — Ele
passou a língua pela fenda de Agafia,
arrancando um gritinho de prazer, dela —
Isso, rebola na minha cara. Eu vou te devorar
inteirinha!
Não demorou para que Agafia estivesse se
tremendo ao alcançar o orgasmo e Fyodor se
colocou de pé, dando outro tapa no bumbum
dela. Ele abriu as calças e passou a cabeça
pela entrada dela, que rebolou e se
empurrou para trás, querendo mais contato.
Fyodor começou a entrar e os dois ficaram
em êxtase.
— Caralho…— Fyodor estava com os
olhos fechados, um sorriso no rosto. Agafia o
apertou com as paredes dela — Mulher, você
acaba comigo!
Fyodor sabia como Agafia gostava. Uma
mão se fechou ao lado da cintura dela, a
outra, foi para o pescoço esguio de Agafia.
Ele começou a se mover, sem a menor
delicadeza.
— Ah! Isso… — Agafia gozou e Fyodor não
parou, indo mais rápido e mais fundo — Aamor! Acaba comigo!
A voz dela saiu abafada. Fyodor soltou-lhe
o pescoço e a abraçou, colocando o corpo
mais por cima do dela e ganhando mais
equilíbrio. Ele investiu forte, gozando e
continuando.
— Você não… Não vai andar por dias,
quando eu acabar com você! — Fyodor a
levaria para casa e continuaria lá, até Agafia
não aguentar mais!
Os sons dos corpos se batendo e os
gemidos, além dos palavrões, ecoavam pela
sala.
Quando saíram dali, já era quase hora do
almoço e alguns soldados olharam para o
estado bagunçado deles. Agafia ficou
morrendo de vergonha.
— Perderam algo aqui? Ou querem ficar
sem os olhos? — Fyodor perguntou entre
dentes. Os soldados desviaram o olhar.
Jannochka sorriu ao ver o primo e a
cunhada saindo dali, de mãos dadas.
Pyotr, por sua vez, ficou no quarto a
manhã toda. Ele havia recebido uma ligação
que o deixou preocupado.
Ali, a pessoa, com a voz modificada, dizia
que Ekaterina não tinha morrido, dando a
ele os parabéns por não ter matado a irmã.
Como não podia ver, Pyotr não pode abrir a
suposta foto que o número mandou para ele,
como prova.
Quando Santiago foi vê-lo, por conta da tal
dor de cabeça, Pyotr disse que precisava
ficar quieto. Santiago sabia que o filho não
costumava fingir doença. Disse que chamaria
um médico, mas Pyotr insistiu que
descansando, ele melhoraria. Santiago não
forçou.
“Será que essa pessoa tá com ela?”, Pyotr
não parava de se perguntar. “Disse que se eu
falar pra alguém, estarei condenando a Rina
à morte.”
Pensar sobre aquilo, como ele fez durante
toda a noite, lhe causava ainda mais dor de
cabeça.
“E se eu falar com Bernardo?”, ele mordeu
o lábio. “Aí ele fala pra minha mãe. Ou vai
atrás de quebrar algum sistema e, se essa
pessoa souber e matar a Rina?”
Pyotr cobriu o rosto com as mãos.
— Que inferno!
Nos dias seguintes, Pyotr recebeu mais
ligações. Sempre durante as madrugadas. A
voz computadorizada não o deixava ter uma
ideia de quem estava falando, nem
nacionalidade, nada.
Ekaterina estava muito melhor e algumas
das memórias dela estavam retornando,
incluindo os dias em que ela ficou na Rússia,
majoada com Bernardo.
Apesar das dores de cabeça, Lenka sempre
verificava e dizia que era normal. Era
esperado que o corpo de Ekaterina reagisse
ao estresse pelo qual ela tinha passado,
anteriormente. Era como se ela estivesse
vivendo aquilo tudo de novo.
— Preciso treinar — Ela falou para
Konstantin, quando ele foi visitá-la.
— Tem certeza de que está bem pra isso?
— Absoluta. Eu não posso mais ficar aqui
sentada! Tem quase um mês e meio que eu
acordei, Konstantin! — Ekaterina se sentou
no sofá do escritório, emburrada — Sei que
já fez muito por mim, mas eu preciso mesmo
ficar em forma. Ou vou ser inútil.
O loiro suspirou, anuindo com um aceno.
— Muito bem. Vamos começar leve. Creio
que em um mês você esteja mais em forma.
E… Eu vá poder finalmente dar o golpe no
meu pai. Desmascarar os malditos que nos
ameaçam e você, você vai voltar para o seio
da sua família.
Ekaterina sorriu de leve e Konstantin a
olhou sem entender.
— Você é mais decente do que parece.
Konstantin estreitou os olhos.
— Isso me pareceu mais um xingamento,
mas vou ver pelo lado bom.
Ekaterina saiu dali e Konstantin voltou ao
trabalho. RNNO era muito útil, mas ele tinha
medo que, em breve, não seria mais possível
manter segredo sobre a identidade de tal
ajudante.
— Espero que ninguém descubra, mesmo
depois de tudo — Ele falou baixinho, para si
mesmo.
O mês passou rapidamente e Konstantin,
junto com Bernardo, tinham o que
precisavam.
— Agora, só temos que atraí-los!
— Como faremos isso? — Bernardo
perguntou.
— Eu posso ser a isca — Ekaterina
respondeu, entrando no escritório.
CAPÍTULO 86
Bernardo estava com os braços cruzados,
a expressão fechada.
— Não estou gostando nada disso!
— Nesse momento, nossos gostos são
irrelevantes — Ekaterina respondeu e o
mexicano franziu mais a testa.
— Tchekhov, se importa de nos dar um
momento, por favor?
Konstantin não precisou de mais nem um
segundo. Ele tinha notado que Ekaterina
não parecia de bom humor. O russo saiu
dali bem rápido.
Uma vez sozinhos, Ekaterina encarou
Bernardo.
— Amor, o que houve? — Ele perguntou,
a voz mais baixa.
Ekaterina suspirou e fechou os olhos.
— Bernardo, só me dá um tempo, ok?
Eu… — Ela desviou os olhos, mas sem
abaixar a cabeça — Estou me lembrando,
a cada dia, do que houve.
— Ah… — O loiro deu dois passos para
trás. Ele compreendeu o problema:
Ekaterina estava revivendo a rejeição.
Bernardo inspirou fundo e se aproximou
dela, ajoelhando-se e buscando a mão de
Ekaterina. Ela tentou se desvencilhar, mas
ele não deixou — Amor, eu te disse que
fui babaca, que fiz merda. Não tô
justificando os meus atos.
— Bernardo…
— Eu amo você! E vou fazer de tudo pra
recuperar a sua confiança e o seu amor.
Ekaterina balançou a cabeça.
— O meu amor não mudou, Bernardo.
Mas eu tô confusa. Minha cabeça tá… —
soltando o ar, ela se abaixou e Bernardo
segurou os ombros dela, para que ela
ficasse de pé. Ekaterina o abraçou e ele a
apertou contra ele.
Senti-la perto dele era calmante.
— Pensei que eu tinha morrido de vez,
quando soube que… — Bernardo inspirou
o cheiro do cabelo dela — Não quero que
você seja isca, amor.
— Eu vou ficar bem.
— E se não ficar? Você não é vidente.
Ekaterina o afastou e encarou os olhos
verdes de Bernardo.
— Está duvidando da minha capacidade?
— Longe de mim! — Bernardo soltou
uma risada — Só que somos mortais. Me
dei conta disso, gravei na minha alma,
Ekaterina. Nunca mais vou me esquecer
desse detalhe.
Ela mordeu o lábio.
— Foi por isso que entrou pra máfia de
vez?
— Sim — Bernardo sorriu triste — Eu
queria encontrar quem tinha te matado.
E, com sorte, eu poderia esperar a minha
vez, pra finalmente ficar ao seu lado.
Ekaterina fez um biquinho.
— Como somos melosos — Ela brincou e
Bernardo sorriu, inclinando-se e dandolhe um selinho.
— Assim que resolvermos isso, se você
aceitar, quero casar imediatamente com
você. E vou grudar feito um carrapato —
Bernardo a espremeu e Ekaterina soltou
um gritinho — Você e eu vamos ficar
juntinhos pra sempre!
— Se os pombinhos já acabaram,
podemos voltar ao trabalho? Eu tenho o
que fazer! — Konstantin gritou do outro
lado da porta — Se vão transar de vez, me
avisem!
— Ele é babaca — Ekaterina cochichou.
— Mas é um bom babaca — Bernardo
suspirou — Não vou ser mesquinho.
— Entra! — Ela gritou e a porta começou
a abrir. Konstantin olhou para os dois e
revirou os olhos.
— Ainda bem que não tenho diabetes, ou
já estaria morto só de ficar perto demais
de vocês — Ele se sentou na cadeira dele
— Então, qual vai ser?
— Vamos marcar um encontrinho com
esses babacas — Ekaterina falou e olhou
para Bernardo, que acariciou as costas
dela e concordou com a cabeça — Você,
Tchekhov, vai fingir que tá nessa com o
seu pai. Mesmo.
— Ai… — Konstantin vinha brigando
mais do que tudo com o pai. Como este
não tinha outro filho, não se livrava do
loiro, porém, Konstantin não era idiota e
sabia que o velho devia estar aprontando
algo.
— Sinto muito, mas é o único jeito. Seu
pai precisa pensar que você está do lado
dele.
— Eu sei, eu sei — Ele suspirou — Ele já
não me falava muito, agora, anda mais
quieto. Tenho meus meios de saber das
coisas, mas não de tudo. Ele é
insuportável.
— Bom, é o seu pai, né? Ouch! —
Bernardo reclamou com a cotovelada que
Ekaterina lhe deu.
— Eu sou muito legal, tá? — Konstantin
torceu a boca — Ingrato! Só quer me usar,
como todos os outros!
Bernardo levantou a sobrancelha.
— Isso soou meio… Ah… Ok, melhor não
querer saber — Bernardo balançou a
cabeça.
— Cuidado, Ekaterina… Olha que roubo o
seu loirinho.
Ela revirou os olhos.
— Duvido. Arrume um loirinho pra você.
Esse aqui é meu — O sorriso ameaçador
dela, camuflado, estava ali.
— Faríamos um trisal delicioso…
— Ou eu posso quebrar a sua cara agora
mesmo! — Bernardo sugeriu — Tomara
que você encontre logo alguém. É feio
ficar cobiçando o que não é seu.
— Ela era minha noiva, só estou dizendo
— Konstantin deu de ombros e Bernardo
deu um passo em direção a ele, mas
Ekaterina colocou a mão na frente.
— Calma, calma! Ele só provoca, não tá
falando sério — A moça deu uma olhada
feia em Konstantin, e ele apenas colocou
as mãos na frente do corpo e suspirou
alto, de forma dramática.
— Voltando ao assunto… Como vai ser na
reunião? — Konstantin perguntou.
— Você pega info e, quando eles acharem
que estão indo embora, a gente ataca.
Você, Tchekhov, vai falar com a minha
mãe, e ela saberá em quem confiar. Há
alguém que você confiaria a sua vida?
— Não. Bom, tem uma pessoa, mas ela
definitivamente não está apta a me ajudar
nisso.
Bernardo sorriu de lado.
— Sua namoradinha, a RNNO?
Konstantin fez uma careta.
— Ah, ela não faz meu tipo.
— Inteligente demais? — Ekaterina
debochou.
— Boazinha demais. Ela é um amorzinho
e isso vai acabar colocando aquela
garotinha em problemas! Sério, me sinto
um irmão mais velho.
Bernardo soltou uma risada e Konstantin
o olhou surpreso e confuso.
— Tonny falava a mesma coisa sobre a
Clara. “Irmã mais nova”. Hoje, tá casado
com ela e… — O rosto de desgosto de
Bernardo fez Ekaterina segurar o riso.
“Que hipócrita… Você também fica
tarando a irmã dos outros, Bernardo!”, ela
pensou.
— E tá comendo ela sem dó — Konstantin
soltou e Bernardo ficou vermelho de raiva
— Ei! É bom olhar o próprio rabo! Duvido
que você sinta dó do Pyotr.
Bernardo apertou os lábios.
— Certo…
— Sua mãe vai estar na espreita. E aí?
Você vai fazer a grande entrada? —
Konstantin perguntou, querendo encerrar
o assunto amoroso. RNNO não era pra ele.
— Sim. Eles não esperam que eu vá
aparecer.
— Nem a sua mãe. Ela vai cair durinha,
Ekaterina — Bernardo falou, sério.
— Ela não deve ir. Você vai estar pronto
pra enfiar uma bala neles. Podemos
chamar o Maksim. Aleksey está no
México, infelizmente. Ele é ranzinza, mas
capaz e muito leal.
— Talvez ele volte logo. Ouvi a sua tia se
lamentando de como sente falta do filho.
— Vamos planejar isso direito. Bernardo,
vê se o Aleksey vai voltar. Acho melhor
não envolvermos os outros membros.
Eles vão ficar assustados com a Ekaterina
e no fim, a gente pode levar chumbo —
Konstantin remexeu a boca —
Infelizmente, a senhora Sigayeva não será
a primeira a saber que a filha voltou.
Depois de você, loirinho, claro.
Isso entristecia Ekaterina, porém, ela
tinha que pensar no melhor a ser feito.
Mais tarde, Bernardo retornou à mansão
e Santiago o esperava no quarto, o que fez
o loiro levar um susto ao ligar a luz e
encontrar o marido da Don ali, sentado
em sua cama.
— Minha nossa! — Bernardo soltou, a
mão no peito.
— Não sou Nossa Senhora — Santiago
falou sem muito humor — Você e o
Tchekhov andam bem amiguinhos, não é?
Bernardo colocou o casaco em cima da
cadeira do computador.
— Ele é de grande ajuda e… Acho que
temos uma ligação pelo sofrimento.
Santiago se levantou da cama, com os
olhos apertados para Bernardo.
— É mesmo? — Ele estalou a língua —
Pois algo não me cheira muito bem,
Bernardo.
CAPÍTULO 87
— Santiago, eu não estou entendendo.
Qual o problema em Tchekhov e eu
estarmos mais próximos?
— Eu não confio de todo na Máfia
Vermelha. Tem algo ali…
— Konstantin não é a favor do pai, só
posso dizer isso com certeza. E acho que é
sim uma boa manter boas relações, pois
ele é o herdeiro.
Santiago balançou a cabeça.
— Eu sei que ele é o próximo Don. Mas…
Ele parece esconder algo. Algo importante
e sério — Bernardo não disse nada, mas
pensou que como pai, Santiago estava
sentindo algo. Porém, interpretando
errado.
— Eu ficarei de olho, Santiago. Pode
deixar.
— Certo. E eu, de olho em você — Ele deu
um tapinha no ombro de Bernardo e,
antes de sair, se virou para o rapaz —
Pyotr falou algo com você?
— Comigo? Sobre o quê?
Santiago remexeu a boca.
— É que ele parece estranho, esses dias.
Diz que está só com dor de cabeça, essas
coisas. Ele treina, e está indo bem, porém,
parece preocupado com algo.
— Se ele me falar algo, eu avisarei. Até o
momento, ele fala muito pouco comigo.
Bernardo achava que Pyotr ainda não o
tinha perdoado, mas não era exatamente
isso. Pyotr sentia vergonha por ter
causado a morte da irmã.
“Vou prestar mais atenção a Pyotr”,
Bernardo decidiu. Talvez o rapaz
estivesse com problemas. Da última vez,
ele andava escondendo um romance. “E
olha só no que deu!”
Pyotr estava sozinho no quarto, perdido
na escuridão. Como o esperado, ele
recebeu ligação de madrugada, dizendo
que em breve, ele veria Ekaterina.
— Como é que você sabe dessas coisas?
— Ele perguntou, mas não houve
resposta. Apesar de a ligação não ter sido
encerrada.
“Talvez eu deva falar com Bernardo… Ele
pode rastrear!”
Mas como se pressentindo algo, a linha
ficou muda. Pyotr olhou no celular dele e
o número era desconhecido.
“Se me ligar de novo, eu vou levar pro
Bernardo.”
Miguel teve a viagem postergada por mais
um dia, pois Aleksey voltaria com ele.
— Anime-se, primo! — Miguel falou, mas
ele mesmo estava de péssimo humor.
— Deveria dizer isso para si mesmo —
Aleksey resmungou.
Miguel olhou para o russo.
— Olha, minha família tá aqui e é normal
eu sentir falta deles. Mas você… Achei que
estaria mais satisfeito em finalmente
voltar para o seu lar gelado.
— E… E quem disse que eu não tô feliz?
Miguel apertou os olhos e sorriu, cínico.
Ele sabia que Aleksey ficou péssimo com
a partida de Ekaterina, porém, vivia
reclamando em como queria voltar para
casa.
— Arrumou uma namorada, é isso? —
Miguel passou o braço pelo ombro do
rapaz, que olhou com o cenho franzido
para o mexicano — Eu entendo como é
ficar longe de quem a gente gosta…
Aleksey tirou o braço de Miguel e se
afastou, indignado.
— Namorada? Ficou doido? Por acaso me
viu saindo com alguma garota?
Miguel abriu a boca.
— Ah, é um namorado? Não me diz que
você tá de olho no Artur! Eu tenho minhas
dúvidas…
— Cala a boca!
— É isso mesmo? Ha, ha! Eu jurava que
você ficaria mais interessado naquela
garota, a filha do Romero… Anna. Ela é
bonitinha. E novinha, perfeita pra você!
— Aleksey apertou os lábios — Mas sabe,
não posso dizer que não me sinto aliviado
— Ele se aproximou mais de Aleksey,
como se fosse dizer um segredo e
cochichou — Eu acho que o Luca tem uma
quedinha por ela.
— Você fala muita besteira! — Aleksey
engoliu em seco e Miguel sorriu.
“Então é ela, não é?”, ele pensou.
— Hmm… Se você tá dizendo… — O
Herrera do meio respondeu, dando de
ombros — Agora, já arrumou suas
tralhas?
Aleksey arguiu.
— Eu vou dar uma cochilada. Quando der
a hora, pode me chamar? — Aleksey
pediu.
— Claro.
O russo foi para o quarto e fechou a porta.
Ele se jogou na cama e fechou os olhos.
As últimas semanas foram muito
diferentes. Apesar de Luca ser da máfia e
já estar treinando, ele ainda era uma
criança e a interação com ele era
completamente diferente de com os
meninos na Rússia. Era mais… leve. Artur
era agradável, mesmo sendo mais
ignorante em muitas coisas que Aleksey
era acostumado a todos ao redor dele
compreenderem. E aí, tinha ela.
— Argh! — Ele rolou na cama, abraçando
o travesseiro.
Anna era divertida, engraçada,
inteligente, e às vezes, mandona. Aleksey
riu ao se lembrar disso. Porém, ela
também era doce e compreensiva. As
garotas ao redor de Aleksey ou eram
duronas como meninos, na máfia, ou
eram flores delicadas que esperavam ser
regadas de carinho e mimos. Anna, não.
Parecia que cada vez que Aleksey a via,
ela mudava fisicamente, desde que ele a
conhecera. A garota estava mais alta, e os
cabelos dela haviam crescido muito mais.
Além disso, Aleksey notou que os
“atributos femininos” estavam
começando a ficar evidentes.
— Ela é só uma fedelha! — Ele se
lembrou.
“E você, o que é?”, a voz debochada na
mente dele perguntou. Aleksey torceu a
boca.
— Em um ano, nossa diferença de idade
vai ficar super evidente — Ele
resmungou. Sim, Aleksey já se interessava
por garotas. Não se considerava um
galinha, como Pyotr e Miguel, mas… E
Anna era criança, pra ele! — Quem sabe
daqui a uns anos?
No entanto, isso também foi logo
contestado por ele mesmo. Ela era filha
de um delegado, enquanto Aleksey, filho
de um subchefe da máfia! Além de tudo,
eles moravam em lados opostos, do
mundo.
Ele acabou adormecendo.
Já Miguel… Este estava recostado na
cama, olhando para o próprio telefone.
*FLASHBACK – ATLANTA*
— Minha nossa, Bia! Que bebê tão lindo!
— Gemma estava com os olhos brilhando.
— Você quer segurar? — Bia perguntou.
Ela confiava que Gemma não estavam
nem doente e nem que sairia beijando a
criança.
A menina ficou surpresa e, como uma
boba, balançou a cabeça. Miguel entrou
no quarto bem na hora em que viu
Gemma segurando o pequeno bebê. Um
sentimento estranho brotou no peito dele.
“Ela vai ficar ótima segurando o próprio
bebê,” ele pensou. E, lá no fundo, Miguel
sentiu medo. Medo de Gemma ter um
filho. “Quem vai ser o pai?”
Aquilo o fez pensar em Gemma com outro
homem e, o primeiro que surgiu foi Sávio
Moscatelli. Os punhos de Miguel se
fecharam.
Ele não entendia o motivo de não gostar
do rapaz, já que este nunca tinha dado
motivos. Sempre educado, prestativo,
agradável.
“Agradável demais!”, Miguel apertou os
lábios. Sávio estava sempre sorrindo para
Gemma. “Como um piano!”.
— Não precisa ficar com ciúmes,
irmãozinho — Bia falou, ao ver a
expressão amargurada no rosto do irmão.
Este piscou algumas vezes, sem entender
— Gemma estava aqui e…
A garota se virou para Miguel, ainda
segurando a criança.
— Eu vou ser a pessoa favorita desse
bebê, depois dos pais dela, claro —
Gemma provocou e mostrou a língua para
Miguel. Ele passou a mão no rosto.
“Ai, essa língua…”. Ele balançou a cabeça
de leve e engoliu em seco. Desde que viu a
boca de Gemma naquela foto, e depois
que foi para os Estados Unidos, ele não
conseguia deixar de ter pensamentos
nada cavalheirescos. Parecia que Gemma
se movia, respirava, apenas para deixá-lo
excitado.
— Você tá bem? — Samuel perguntou,
colocando a mão no ombro do cunhado.
— Ah, to, to… — Miguel sorriu sem graça
— Eu vim avisar que a moça que vai
ajudar a Bia tá lá na sala… A senhora
Dalila pediu para avisar. Ela teve que
atender uma ligação, então…
— Opa, beleza. Eu vou dar uma palavra
com ela, antes. Tudo bem, amor? —
Samuel perguntou a Bia, que concordou.
Gemma ofereceu o bebê de volta para a
loira.
— Eu vou ver se precisam de mim em
algo — Ela deu um beijo na cabeça de Bia
e se foi.
— Miguel, o que houve? — Ela perguntou
assim que Gemma saiu.
— Hmm? Nada!
— Não mente… Você tava com uma cara…
E olhando estranho pra Gemma, mas ao
mesmo tempo, não tava olhando.
— Não precisa se preocupar, irmã — Ele
se aproximou da cama e sorriu para o
bebê.
— Quer segurar também?
— Acho melhor não. Eu não tenho muita
segurança — Ele passou a mão por cima
da criança, sem tocá-la — Nunca vi um
bebê mais lindo.
Bia levantou a sobrancelha.
— Você nunca viu bebê nenhum, seu cara
de pau.
Assim que Samuel voltou com a
enfermeira da máfia, Miguel pediu licença
e saiu do quarto.
— Claro! Eu vou falar com o papai, mas
acho que ele vai deixar — Gemma falava
com alguém ao telefone. Miguel mordeu o
lábio. Ele sabia que não devia bisbilhotar,
e que ela provavelmente estava falando
com alguma amiga. Porém, a curiosidade
falou mais alto.
Ele se grudou na parede e aguçou os
ouvidos.
CAPÍTULO 88
— Hmm, certo. Mas Sávio, não acha que
se nos virem, vão começar a falar? Quer
dizer… — Ela esperou alguns segundos —
Bom, você sabe como as pessoas são
mexeriqueiras!
“Por que iriam ficar de mexericos com
relação a eles?”
— Tá bem. Até mais! Ah, também gosto de
você… — Gemma desligou e Miguel deu
uma espiada. Ela estava sorridente, as
bochechas coradas.
Miguel não sabia o que fazer. Deveria ele
entrar e confrontar Gemma? Eles eram
amigos e… O comportamento dela podia
manchar a reputação da garota.
“Isso… Vou falar com ela!”
Ele bateu na porta, que estava
entreaberta e Gemma se sentou. Ela tinha
se deitado na cama.
— Ah, Miguel! Entra! — Ela disse.
— Pensei que você iria ajudar em alguma
coisa… — Ele enfiou as mãos nos bolsos
da calça.
— Fui dispensada — Ela deu de ombros
— Mas e aí, em que posso ajudá-lo,
senhor Herrera?
Ele não conseguiu não rir com o tom dela.
Virou-se e fechou a porta. Gemma cruzou
os braços.
— Gemma…
— Miguel, eu acho melhor você abrir essa
porta. Se alguém souber que você está
aqui…
— Preocupada com a sua reputação? —
Ele perguntou, deixando a fúria subir.
“Pra sair com aquele imbecil, você não se
importa se falarem mal. Agora, só porque
entrei no seu quarto, reputação?”
Gemma percebeu que ele não parecia
bem, engoliu em seco e se levantou da
cama.
— Abra a porta — A voz dela saiu
levemente engasgada.
Miguel se aproximou mais, sem quebrar o
contato visual.
— Não parecia preocupada, há alguns
minutos, enquanto marcava de se
encontrar com o Moscatelli! — O rosto de
Miguel ficou vermelho.
— Você tava…? Miguel, você não tem o
direito de bisbilhotar! Além disso, não
fale como se eu te devesse explicações
sobre… Oh!
Ele segurou os braços dela.
— Se ficar zanzando com ele, vai incitar
rumores! — Os dois falavam baixo, a fim
de não chamar atenção de ninguém da
casa — Vão achar que você anda se
pegando com ele… Ou… Que você anda
fazendo muito mais do que dando uns
beijos!
— Isso não é da sua conta, Miguel! Você
está passando dos limites! E… Me solta!
— Ela não tinha força para se livrar do
aperto do mexicano.
— Para de… Eu não quero que você se
machuque… Gemma! — Ele a sacudiu de
leve, apenas para que ela parasse de se
debater e olhou no fundo dos olhos dela
— Espera que eu fique calado até o quê?
Até você aparecer grávida?
Gemma ficou pasma e inerte por uns
segundos. Miguel afrouxou o aperto,
dando a ela a oportunidade de se
desvencilhar do rapaz e lhe acertar uma
bofetada no rosto. O peito arfando, os
lábios tremendo. Ela não teve força
suficiente para virar o rosto de Miguel.
Ele fechou os olhos, contando até cinco e
quando os abriu, Gemma sentiu um frio
percorrer a espinha dela. Homens não
suportavam apanharem de uma mulher.
Homens da máfia, pior ainda.
Miguel soltou um leve rosnado e Gemma
arregalou os olhos, e, para a surpresa
dela, ele a beijou, sem ternura. Foi um
beijo selvagem. Miguel passou um braço
pela cintura de Gemma e a outra mão se
enfiou nos cabelos dela, puxando-a mais
para si.
Ainda que os braços de Gemma tentassem
se soltar de Miguel, não demorou até que
ela permitisse a entrada da língua dele em
sua boca, gemendo e puxando-o mais
para si. O corpo de Miguel acendeu
imediatamente com mais intensidade.
Em segundos, Miguel estava em cima de
Gemma, na cama, levantando os joelhos
dela para se colocar no meio e
empurrando os quadris contra ela,
buscando mais contato.
Ele desceu com a boca pelo pescoço de
Gemma, intoxicado com o cheiro e com o
gosto dela.
— Mi-Miguel… — As mãos de Gemma se
enroscaram nos cabelos dele, enquanto as
pernas ao redor da cintura de Miguel o
apertavam contra ela.
A sensação de pertencimento, o calor do
corpo de Gemma… Miguel queria senti-la
por completo, se unir a ela, ser dela. Ouvila gemendo com o prazer que ele
proporcionava, era incrível!
“As regras são essas, Miguel! Mesmo que
você tire a virgindade da mulher, não
poderá se casar com ela!”. Aquelas eram
as palavras de Osvaldo, que surgiram na
mente de Miguel, fazendo-o se dar conta
do que estava fazendo.
Em um movimento rápido, Miguel soltou
Gemma e se afastou como se ela o
queimasse, mas não de um jeito bom. Ela
o encarou com os olhos nublados, os
lábios vermelhos e inchados do beijo, os
cabelos espalhados pela colcha, as marcas
dos beijos dele no pescoço.
— Isso… Foi um erro — Miguel balbuciou,
mas Gemma ouviu e sentiu a vergonha
caindo sobre ela.
— E-eu…
— Nunca mais… — Ele queria dizer que
nunca mais faria uma besteira daquelas,
como com Clara. Mas Gemma entendeu de
outro jeito.
Sem outra palavra, Miguel abriu a porta
do quarto de Gemma, olhou em volta e
saiu.
Eles não voltaram a se falar. Gemma
evitou estar no mesmo ambiente que
Miguel, a todo custo, inclusive inventou
dor de barriga para não ir ao aeroporto.
*FIM DE FLASHBACK*
Olhando para o celular, Miguel queria
mandar uma mensagem para ela. Mas o
que ele diria?
— Merda! — Ele praguejou.
MIGUEL: Gemma, temos que falar sobre…
Olha, eu não quis te magoar. Mas não
posso cometer o mesmo erro duas vezes.
Eu quero…
Ele parou de digitar. O que ele queria?
Casar com ela? Não. Miguel estava certo
de que gostava sim, de Gemma, mas não a
amava. Ele só amava uma mulher, por
mais impossível que fosse. Ele apagou a
mensagem.
“Seria injusto com a Gemma. Casar com
ela, pensando na outra,” ele choramingou
e se deitou. Enquanto beijava Gemma,
apenas ela estava nos pensamentos dele.
Na verdade, ele não se lembrou de Clara,
exceto para que não fizesse com Gemma o
que tinha feito com ela: estragar toda e
qualquer chance de um futuro.
Mas que futuro? Aquilo estava
consumindo-o. O que ele acreditava e o
que ele sentia não pareciam estar em
sintonia alguma.
“Ela é só uma garotinha… Eu quero uma
mulher, ” ele disse a si mesmo, mas outro
lado dele ria de escárnio. “Não… Você
quer a Gemma, não qualquer outra. Fale
com ela, explique as coisas. Antes que a
perca…”
— Que idiotice! Gemma é só uma amiga.
Gostosa, beija bem pra caralho, mas… É só
isso!
“Não é, não! Você quer a Gemma…
Sonha com ela! E faz outras coisas,
pensando nela… ”, ele se lembrou e fechou
os olhos, irritado.
Alguém bateu na porta e Miguel inspirou
fundo, antes de ver a cabeça de Emília
aparecendo, sem olhá-lo.
— Filho?
— Oi, mãe. Entra.
Ela se virou para ele e entrou, sorrindo.
— Está na hora de irem — Ela fez um
beicinho e correu para Miguel,
abraçando-o — Eu não sei o que houve,
não vou ficar perguntando. Mas saiba que
eu te amo e que as coisas vão ficar bem.
Emília deu um beijo na testa dele.
— Obrigado, mãe. E espero que se
ajeitem, mesmo.
A mão de Emília foi para o peito do filho e
o massageou, como se ele estivesse
machucado.
— Vai sarar — Ela levantou e estendeu a
mão para ele, que a pegou.
— Minha mala…
Os dois desceram as escadas. Osvaldo
falava com alguém ao telefone.
— Então, é certo? — Ele perguntou e
sorriu — Sim, eu notei. Fico feliz que pela
Gemma. Ela é uma excelente menina! Ah,
filha, eu tenho que ir. Papai te ama. Beijos
pra você, pro Samuel e pro meu netinho
lindo!
Osvaldo desligou, todo orgulhoso.
— Hmm, boas notícias? — Emília
perguntou, sorrindo.
— A Camorra e a Máfia de Atlanta vão
ficar mais unidas! — Osvaldo disse e
Miguel teve um mau pressentimento na
hora.
Emília juntou as mãos.
— Não me diga que…
— Sim! Gemma e aquele rapaz, o sub da
Camorra… — Osvaldo franziu o cenho.
— Moscatelli… — Miguel sussurrou e
Osvaldo estalou o dedo.
— Isso! Sávio, eu acho. Ele a pediu em
casamento, ela aceitou. Claro, o rapaz já
havia falado com Gavin e obtido
autorização — Osvaldo suspirou — Ele
fez dezessete em Março, se não me
engano. Sinceramente, achei que
demorou até muito. O tal Sávio andava
rondando a garota tem tempo!
— Ai, ela é tão novinha… Bom, mas pelo
que Bia me contou, os dois se dão muito
bem! — Emília disse e sorriu — Mas
também, qualquer coisa eles podem
desistir…
— Hmmm, os italianos são mais sérios
quanto a isso. Se Gemma não casar com
ele, não casa com mais ninguém. Ela já
está prometida e ficaria “marcada” como
se a culpa do fim do noivado fosse dela.
Exceto, claro, se o Moscatelli fizer uma
merda muito grande.
Aleksey nada disse, afinal, ele não era
próximo das pessoas de Atlanta, mas
observou a reação de todos. Luca tinha
um biquinho e o russo imaginou que o
garoto tinha um crush na tal Gemma. Já
Miguel…
“Interessante…”, ele falou para si mesmo.
Miguel parecia que tinha visto um
fantasma.
Horas de voo e eles chegaram a Moscow.
Miguel se manteve calado durante toda a
viagem.
— Ei, chegamos! — Aleksey deu uma
cutucada nele, que apenas piscou,
suspirou, pegou a própria mala e se
dirigiu para a porta da aeronave.
Na mansão, eles foram bem recebidos.
— Cadê os meus pais? — Aleksey olhou
em volta.
— Decidimos que seria surpresa para eles
— Jannochka falou — Sua mãe estava
morrendo de vontade de apertar essas
suas bochechas. Por sinal, elas sumiram!
Você não tem mais carinha de neném!
Jannochka não era de fazer brincadeiras,
mas ela sabia que Aleksey adorava pegar
no pé dos outros. Ela achou justo vê-lo
ficar de orelhas vermelhas.
— Eu vou te levar até lá — Santiago falou,
abraçando o sobrinho.
— E o Pyotr? — Aleksey perguntou mais
baixo.
CAPÍTULO 89
— Depois você poderá falar com ele. Ele
não anda muito bem — Santiago
respondeu e fez sinal para que Aleksey o
seguisse. Eles foram para o carro.
A casa de Fyódor não era distante. Agafia
queria mais privacidade e Fyódor achou
que era uma excelente ideia, já que
poderia ficar mais à vontade com a
esposa, logo que casaram.
Aleksey não sabia como se portar. Era
estranho ele não ter visto Ekaterina. E
pior ainda era o pensamento de que ele
não a veria nunca mais.
Afastando aquilo da mente, ele respirou
fundo quando colocou o dedo na
fechadura da casa, a fim de desbloquear a
passagem. Ele ouviu um som que
reconheceu como feminino e sorriu.
— Mãe, cheg… Ah, porra! — Ele largou a
mala e cobriu os olhos, enquanto Agafia
soltava um grito.
Santiago, que estava lendo uma
mensagem da esposa, levantou a cabeça e
olhou por sobre o ombro de Aleksey,
virando o rosto em seguida.
Agafia já não estava mais à vista,
escondida pelo sofá, enquanto Fyódor se
cobria com uma almofada, claramente nu.
Santiago, claro, não ficou ali. Aquele
assunto não era da conta dele. Além disso,
Agafia com certeza estava se sentindo
mais do que constrangida.
Aleksey esperou do lado de fora, até que
Fyódor foi buscá-lo. O rapaz não
conseguia olhar no rosto do pai.
— Ah… — Fyódor limpou a garganta —
Eu nem sei o que dizer.
Aleksey apertou os lábios.
— Tô feliz por vocês… Não queria que
vocês se divorciassem — Aleksey olhou
para o pai — Vocês não vão mais se
divorciar, né?
Fyódor deu um sorriso amplo.
— Não. Eu expliquei as coisas. Sua mãe e
eu estamos… Nos entendendo.
— Que bom, pai!
Aleksey ia abraçar o pai, mas a cena de
antes, com Fyódor debruçado sobre o
corpo de Agafia — coberto pelo do
marido, pelo que Aleksey era muito grato
— o fez recuar.
— O que foi?
— O senhor ainda não tomou banho, não
é? — O rosto contorcido de nojo de
Aleksey fez Fyódor rir — Senti vontade
de arrancar os olhos!
— Sua mãe queria se enterrar num
buraco — Fyódor suspirou — Mas não
me arrependo.
— Ah, pelo amor… — Aleksey balançou a
cabeça.
— Quando você tiver a sua garota, vai
entender do que estou falando.
— Eu nem sei se quero casar… Só vejo
casais tendo confusão!
— Primeiro: eu não falei nada sobre se
casar, ainda que eu torça para que você
encontre uma garota que te faça querer
passar o resto da vida ao lado dela;
Segundo: um casal são duas pessoas com
criações diferentes, com experiências
diferentes, vivendo juntas. Normal ter
algumas desavenças.
— Como você e a mamãe?
— Sim. O nosso caso foi um mal
entendido do caralho, e a culpa foi minha
— Ele olhou mais sério para o filho —
Não esconda as coisas da sua mulher. Ela
vai descobrir. Elas sempre descobrem.
— Mas… Não era algo da máfia? Algo que
o senhor tinha que ficar quieto?
— Sim e não. Eu fiz uma escolha, ali no
meio, e podia ter feito diferente.
— Mulheres parecem complicadas — Ele
se pegou lembrando de Anna e se ela
seria como as outras mulheres que ele
teve contato.
“Será? Ela me parece tão doce, tão…
Diferente! Anna é…”
A mão de Fyódor no ombro dele o fez sair
do devaneio.
— Essa carinha… — O mais velho
estreitou os olhos, e então, sorriu de lado
— Você tá namorando? Ou, ao menos,
interessado em alguém!
— Não… Não é nada disso, pai! — Aleksey
limpou a garganta, desviando o olhar.
— Eu fiquei sabendo que você andava
saindo com o Herrera mais novo, um
amiguinho dele e uma garota. É ela?
— O senhor tá vendo coisas…
— Não se atreva! — Fyódor parecia um
rapazote fofoqueiro — Qual é? Me conta!
Pais são pra isso! Ela tá na sua? Olha, a
primeira coisa que você…
— Pai! — Aleksey o interrompeu, o rosto
vermelho — Eu não estou com garota
alguma!
— Mas por quê? Ela não te quis?
— E como eu vou saber? — Aleksey
arregalou os olhos ao se dar conta de que
tinha falado demais.
— Ah… Então tá sofrendo por
antecipação — Fyódor suspirou — Tão
novinho e sofrendo do coração.
Aleksey revirou os olhos e Fyódor usou a
distração do filho para abraçá-lo forte.
— É bom demais ter você de volta! —
Então, ele começou a chorar e Aleksey
sabia sobre o que se tratava — Eu te amo
muito, filho!
— Eu também te amo, pai — Aleksey
abraçou o pai de volta — Eu tô aqui.
A partida de Ekaterina tinha deixado
Fyódor muito mal. Agafia, Ekaterina… E
Aleksey, distante.
A loira desceu as escadas e viu a cena dos
dois homens que ela mais amava na vida.
Com passos leves, ela chegou até eles e os
abraçou.
— Mãe! — Aleksey a abraçou e sentiu o
cheiro do sabonete dela, o mesmo que ela
usava há anos, despertando nele
lembranças de quando era criança. Então,
ele se afastou e olhou os pais,
desconfiado.
— O quê? — Agafia perguntou, confusa.
— Hmm, nada… — Aleksey disse — Nada.
O rapaz ficou ali o restante do dia, indo
para a mansão Sigayev apenas no dia
seguinte, com autorização de Jannochka.
Pyotr estava sentado à mesa, quando ele
chegou.
— Oi, primo — Aleksey disse, se
anunciando. Ver o olhar perdido de Pyotr
partia o coração dele. Maksim estava
descendo as escadas — Oi!
— Finalmente! — Maksim correu até
Aleksey e o abraçou — Pensei que se
mudaria de vez pro México!
— Ah, não é pra tanto… — E se voltando
para Pyotr — Primo, você tá bem?
Ele se sentiu um cretino ao perguntar
aquilo. O rapaz tinha ficado cego, como
ele estaria bem? Mas Pyotr apenas sorriu,
fraco.
— Sim, obrigado. E, bem-vindo de volta!
Miguel e Bernardo desciam juntos,
porém, pareciam não se dar conta da
presença um do outro. Os olhos do loiro
brilharam ao ver Aleksey, afinal, ele tinha
algo a conversar com o rapaz. Já Miguel,
estava aéreo.
— Miguel? — Maksim o chamou, o que
não surtiu efeito.
— Deixa ele. Acho que brigou com a
namorada — Aleksey sussurrou e Maksim
abriu a boca em um “oh!”, mas concordou
de leve com a cabeça e ficou quieto.
O café da manhã foi cheio de perguntas
sobre o México e, quando chegou na parte
de falar sobre o novo bebê Lowell, Miguel
enrijeceu. Ele sabia o que viria depois.
— Quem sabe haverá um novo bebê na
família deles em breve? — Santiago
comentou, o que fez Miguel crispar os
lábios.
— Tomara. O Don Gavin vai ficar muito
satisfeito! — Jannochka falou e Santiago
concordou.
— Com certeza!
— Duvido que ele vá ficar satisfeito! —
Miguel rebateu, o que gerou um grande
silêncio.
CAPÍTULO 90
Todos olhavam para ele, mas Miguel
mantinha o olhar no próprio prato.
— Garoto… — Santiago o olhou com
descrença.
— Do que está falando, Miguel? —
Jannochka perguntou e o mexicano a
encarou.
— Gemma é nova demais! Como ele pode
ficar satisfeito com a filha dele dando à
luz? Mas também, o Moscatelli é mais
velho, não vai querer perder tempo… —
Miguel apertou os lábios — Ainda assim,
eu duvido que o Don Gavin, que tem um
espírito mais jovem, vá querer ser avô
agora! E eles nem são casados! Ela não fez
dezoito e…
— Chega! — Jannochka o interrompeu, o
cenho franzido — Miguel, acho que o fuso
horário ainda não deu muito certo, em
você. É melhor você ir se deitar.
— Mas, tia…
— Agora! E veja bem como fala da menina
Gemma… Estávamos nos referindo a
Dalila ficar grávida, já que é a nova esposa
do Don de Atlanta! Como que poderíamos
falar sobre a filha dele? — Ela balançou a
cabeça — Cuide melhor das suas
palavras. Se ouvidas pelas pessoas
erradas, vão dar a impressão igualmente
errada sobre a menina.
— Ela não é uma menina…
— Agora deu! — Santiago se levantou,
inspirando fundo — Vamos, Miguel.
— Pra onde? — Miguel piscou algumas
vezes.
Quem estava à mesa permaneceu em
silêncio. Alguns estavam completamente
perdidos, outros já compreenderam que
havia algo entre Miguel e Gemma, ou
romance, ou desentendimento. Ou ambos.
Miguel se levantou e, assim que deu
alguns passos para fora do salão, ele se
deu conta de que havia se descontrolado.
De repente, foi empurrado contra a
parede do corredor, ao final da escada.
— Miguel, eu não sei que porra aconteceu
em Atlanta, mas você vai se controlar,
está entendendo?
— Tio… — Miguel queria se explicar, mas
pra quê? — Desculpe.
Santiago o soltou.
— Gemma está noiva. Em poucos meses
ela vai oficializar o noivado.
— Eu sei.
— Não use esse tom comigo, moleque! —
Santiago soltou o ar, algumas vezes — Eu
sabia que você tinha interesse… Merda!
7
Miguel levantou os olhos.
— O quê? Que interesse?
— Não banque o espertinho comigo! Acha
que eu sou idiota? Fui mulherengo,
piranhei mais do que pode sonhar! Você
se acha fanfarrão? Ha! — Santiago
suspirou — As coisas na Rússia são
diferentes, Miguel. Eu pude correr atrás
da mulher que eu amo, mesmo se ela
tivesse aceitado noivar com algum puto
daqui. Mas você?
— A mulher que eu amo não está
disponível.
Miguel levou um tapa. Não forte, mas
levou, o que o deixou chocado. Ele não
esperava aquilo de Santiago, que logo lhe
apontou o dedo na cara.
— Cobiçar a mulher de outro homem não
só é desrespeitoso, como uma burrice!
Acredite, eu já estive aí e no fim, ela
escolheu outro homem — Santiago
colocou as mãos na cintura, balançando a
cabeça — Eu também achei que não
amava Jannochka. Ela se divorciou de
mim, ficamos meses separados! Como eu
disse, Miguel, eu tive sorte. Você…
— Eu sei o que quero.
— Não, não sabe. Você amadureceu
muito, mas essa sua obsessão com Maria
Clara Herrera não vai te levar a lugar
nenhum, exceto à própria perdição! —
Santiago virou de costas e apontou o dedo
para Miguel, antes de se voltar para o
rapaz novamente — Você tem duas
opções, Miguel: cria colhões e vai pedir a
mão da Gemma, conversa com eles e vê se
consegue desfazer essa merda! Ou,
desencana dela e vive a sua vida. Nem falo
sobre a Clara, porque nem mesmo se o
Tonny morresse, você poderia se casar
com ela.
Com isso, Santiago passou por Miguel e
desceu as escadas. Este ainda ficou no
corredor, a cabeça escorada na parede, de
olhos fechados, sem se dar conta do
tempo.
— Vai ficar aí como idiota? — A voz de
Pyotr fez Miguel levantar a cabeça.
— Como sabe que tem alguém aqui?
— Eu farejei ciumes — Pyotr respondeu e
Miguel apertou os olhos para ele.
— Não enche, Pyotr — Ele respondeu e
começou a andar em direção ao próprio
quarto.
— Só disse a verdade. Mas eu não te
culpo, sabe? Ela é gata.
Miguel parou de andar e se virou para
Pyotr, que andava lentamente atrás dele.
— Gata?
— Sim! Sabe uma coisa boa de ver tudo
preto? É que eu consigo visualizar melhor
as minhas próprias lembranças! E… — Ele
usou as mãos para fazer curvas, como as
de uma ampulheta — Ela é magrinha, mas
toda no lugar. Pena que já vai casar com o
Moscatelli… Pensei em propor quando
tivesse idade. Casaria com ela numa boa.
Lembro que ela tinha lábios carnudos,
bem… Ai!
Foi a vez de Miguel prender alguém
contra a parede.
— Seu desgraçado!
— Eu só falei a verdade!
— Vou quebrar você, seu…
— Vai bater em cego, agora?
Miguel já estava com o punho cerrado,
pronto para acertar Pyotr no rosto,
enquanto este parecia tranquilo,
ostentando até um sorrisinho debochado
nos lábios. Miguel o soltou.
— Fique longe da Gemma!
— Devo dizer o mesmo a você? — Pyotr
provocou — Falo isso sério e pro seu
bem. Não deixe ela ser a nova Clara.
Apesar de que…
Os dois voltaram a andar, Miguel indo
mais devagar para acompanhar o primo.
— Apesar do quê?
— Você ama a Clara?
— Amo! — Miguel respondeu sem
pestanejar.
— Se, Deus o livre, Tonny morresse, o que
você faria em relação à Clara?
Miguel franziu a testa.
— Bom… Não há muito o que fazer, além
de oferecer o meu apoio a ela.
— As regras, certo?
— Sim.
Pyotr concordou com a cabeça.
— E se a Gemma dissesse que queria
casar com você, digamos, depois de
noivar com o Moscatelli. O que você faria?
Miguel engoliu em seco e olhou para
Pyotr, que parou de andar, pois estava em
frente ao próprio quarto.
— E-eu…
— Mas aí o Moscatelli não aceita acabar
com o noivado. O que você faria? Deixaria
ela casar com ele…?
— Não!
— Não?
— Não! Se ela não quiser casar com ele,
ela não vai casar com ele! — Miguel falou
com convicção.
— Ah, é? E como você faria isso?
— Casaria com ela!
Pyotr sorriu.
— Certeza?
— Absoluta!
— Certo.
— Onde quer chegar? — Miguel já estava
cansado.
— Pense sobre o que conversamos e
sobre as suas respostas. Depois você me
diz onde eu queria chegar.
Pyotr entrou no próprio quarto e Miguel
abriu a boca para reclamar, mas o único
som que se seguiu foi da porta batendo.
Enquanto isso, Bernardo esperava por
Aleksey, do lado de fora do escritório de
Jannochka.
— Credo! — Aleksey disse, a mão no peito
— Parece uma assombração!
— Preciso falar com você — Bernardo foi
sem rodeios e olhou em volta — A sós.
Aleksey levantou a sobrancelha.
— Tudo bem, senhor mafioso. Nem
parece o bocó de antes.
— Respeite os mais velhos.
O russo olhou Bernardo de cima a baixo.
— Aham… Mas e aí, vai me levar pra
tomar um suco e bater papo ou não?
— Pelo visto, a influência do Lucas e do
Artur foi forte, né? — O loiro balançou a
cabeça — Vamos. É importante. De
verdade.
CAPÍTULO 91
Aleksey olhava para Bernardo, como se
tivesse visto um fantasma.
— Eu sei que é muita informação, mas eu
confio em você — Silêncio novamente —
Aleksey?
O rapaz inspirou fundo e olhou ao redor.
— Essa brincadeira foi de muito mau
gosto, Bernardo — Ele se levantou, o que
Bernardo fez o mesmo — Eu sei que foi
um baque pra você como foi pra gente,
mas…
— Eu falo sério. Acha que eu estaria
brincando com isso, de verdade?
Ekaterina é o amor da minha vida, a razão
pela qual estou aqui! — O loiro colocou as
mãos nos ombros de Aleksey — Ela confia
em você. Por isso estou te contando.
Precisamos da sua ajuda.
Normalmente, Aleksey era excluído de
algumas coisas, por ser novo. Porém,
Bernardo estava dizendo, em outras
palavras, que acreditava na capacidade do
rapaz.
— Eu quero vê-la — Aleksey falou, por
fim — Depois que eu ver a Ekaterina, a
minha prima, eu vou acreditar.
— Tudo bem. Eu vou falar com ela e com
o Tchekhov.
— Olha só… Você confia nesse cara? —
Aleksey, se não conhecesse Bernardo,
diria que o loiro tinha se unido ao
herdeiro da Máfia Vermelha para trair os
Sigayev.
— O suficiente. Ele foi quem salvou e
manteve Ekaterina em boas condições.
Ainda está mantendo.
Os dois saíram da sala de Bernardo e
Jannochka os olhou estranho. Ela
segurava uma pasta.
— Tia! — Aleksey disse e segurou o ar —
Eu vim conhecer a sala do Bernardo, dar
os parabéns pela entrada dele. Mal posso
esperar pelo meu dia de juramento!
Ela remexeu a boca, ainda olhando de um
para o outro.
— Uhum. Não falta mais muito. Em alguns
meses, você vai jurar a sua lealdade a
mim e a essa Organização, Aleksey — Ela
virou o rosto para Bernardo — Como o
Bernardo fez.
— É, sim. Bom, eu vou nessa. Ainda não
tive a oportunidade de conversar com o
Pyotr, então…
— Vá. Eu tenho que falar com Bernardo.
Aleksey saiu dali o mais tranquilamente
possível, para não parecer que ele estava
fugindo. Jannochka era como um cão
raivoso: ela sabia quando a pessoa estava
com medo. E se corresse, era pior.
Ela entrou na sala de Bernardo e se
sentou na cadeira dele, colocou a pasta
em cima da mesa e cruzou as mãos em
cima da barriga, após se recostar.
— Eu não gosto que mintam pra mim,
Bernardo — Ela disse, séria.
— Eu sei.
“Não tô mentindo… Tô omitindo,” ele
falou mentalmente.
— O que Aleksey fazia aqui?
— O que ele falou. Mostrei a sala a ele,
falei de como foi a cerimônia… Ele
comentou sobre a estada dele na minha
terra natal. Essas coisas.
— E o Tchekhov?
— Não entendi.
— A máscara de sonso não cai bem em
você, garoto. Bernardo, eu não vou
admitir…
— A gente tá ficando — Bernardo soltou e
se calou, interrompendo a Don, que o
olhou com surpresa — E-eu não queria
dizer, porque achei que… Podiam achar
que eu to traindo a memória da…
Os lábios de Bernardo tremiam e ele
fechou os olhos.
— Ficando? Você e o Tchekhov, um
homem?
— Não diga a ele, mas parece que eu não
resisti ao charme daquele cretino, não é
mesmo? — Bernardo estava com o rosto
todo vermelho — Estávamos falando da
Rina e… Bom… Ele me abraçou e aí…
Jannochka levantou a mão, para que
Bernardo se calasse.
— Não preciso saber dessas suas
intimidades. E não vou achar que está
traindo ninguém. Você é livre para se
relacionar com outras… Pessoas —
Jannochka franziu a testa — Estou
surpresa. Só isso.
Pela forma como Bernardo ficou,
acanhado, ela não sabia se acreditava ou
não.
— Muito bem… De uma olhada nesses
documentos e depois, venha falar comigo
— Ela foi até a porta — E convide o
Tchekhov para jantar — O sorrisinho dela
antes de sair deu calafrios em Bernardo.
Sozinho, ele se jogou na cadeira, soltando
o ar.
“Puta merda!”.
Naquela noite, Bernardo foi se encontrar
com Konstantin e Ekaterina. Como das
outras vezes, o russo é quem dirigia.
— Por que entrou no carro como um
ladrão? — Konstantin debochou — Com
vergonha de mim?
— Você tem que ir jantar na Mansão
Sigayev — Bernardo falou e Konstantin o
olhou de relance, estranho.
— E por quê?
— Eu precisei mentir e, agora, você vai
ter que ir jantar lá.
Konstantin parou no sinal vermelho e
encarou Bernardo.
— Que história é essa? Desembucha!
— Eu-falei-pra-minha-Don-que-você-eeu-estamos-nos-pegando.
Konstantin fechou os olhos e os abriu
novamente, de maneira cômica.
— Disse pra ela, que… Você e eu… — Ele
jogou a cabeça para trás e começou a
gargalhar. As buzinas começaram a soar e
Konstantin colocou o carro em
movimento, mas só até poder encostar —
Ha, ha! Não… Ha, ha!
— Eu tive que fazer isso! Eles estão
desconfiados das minhas saídas
constantes com você!
— C-claro! V-você sai todo… Todo
arrumadinho… Todo delícia! Só pra me
ver! — E ele riu um pouco mais,
enxugando então as lágrimas dos cantos
dos olhos — Ai, ai… Se queria tanto me
beijar, era só ter pedido!
— Cala a boca! Eu não quero nada disso!
— O rosto de Bernardo estava vermelho
até a raiz dos cabelos — Vamos logo! Eu
quero ver a Rina! Preciso falar com ela
sobre o Aleksey!
Konstantin concordou com a cabeça e,
mesmo ainda rindo, ele dirigiu.
Ekaterina, diferente de Konstantin, não
gostou nada da mentira de Bernardo. Ela
mantinha os braços cruzados, uma
expressão emburrada no rosto.
— Isso é uma palhaçada! — Ela reclamou
e apontou para Bernardo — Nem pense
em dar ideia pra esse loiro aguado!
— Aguado? Amor, o que sai daqui é leite,
não água.
— Que nojo… — Ekaterina fez careta,
entortando a boca e Bernardo fez o
mesmo.
— Ficam com essas caras, mas eu garanto
que quem prova uma vez da qualidade
desse leite, pede mais! — Ele riu.
— Depois falamos sobre isso. Agora,
quero saber do Aleksey. Você falou que
conversou com ele — Ekaterina passou a
língua pelos lábios. Bernardo não resistiu
e a beijou, o que fez Konstantin sorrir de
lado.
— Clima tá esquentando… Posso
participar?
— Cala a boca, Tchekhov! — Os dois
falaram em uníssono.
— Hmmm… Grosseria.
Bernardo contou a eles o que conversou
com Aleksey e ficou combinado que no
dia seguinte, Bernardo sairia com o
garoto e o levaria até ali. E, no fim de
semana, Konstantin jantaria com os
Sigayev.
No caminho de volta para a mansão,
Konstantin parecia alegre.
— Eu me sinto visitando a família da
minha namorada, sabia? — Ele comentou
e Bernardo revirou os olhos. O carro
estacionou na frente da Mansão e o russo
se virou para Bernardo — Acho que a
gente tem que treinar, pra parecer real.
— Do que tá falando?
Konstantin colocou um braço no banco no
qual Bernardo estava sentado e se
inclinou.
— O nosso beijo.0
CAPÍTULO 92
— Não testa a sorte, Tchekhov… Porque
meu punho vai descer na sua goela!
— Pode descer outra coisa… Eu aceito.
Bernardo o olhou com nojo.
— Eu me pergunto se você gosta mesmo
ou se é só pra infernizar.
Konstantin piscou para Bernardo.
— Fica aí a dúvida. Vou deixar o
questionamento pra você pensar em mim
a noite toda. Aí, qualquer coisa, me liga —
Konstantin fez cara de safado — Prometo
que fica só entre a gente.
— Vou sair desse carro e entrar em casa,
antes que eu quebre você no cacete.
— Aceito.
Bernardo apenas revirou os olhos e saiu
do veículo. Santiago estava na porta,
esperando por ele, de braços cruzados.
— Não vai se despedir do seu namorado?
— Ele perguntou e Bernardo sentiu a
garganta secar imediatamente. Ele olhou
para trás e Konstantin o olhava com
diversão.
— A gente brigou — Bernardo falou e
Santiago apertou os olhos.
Konstantin saiu do carro e cumprimentou
Santiago com a cabeça.
— Bernardo é muito esquentadinho
comigo… não tem paciência — Ele
reclamou e Santiago apenas observou,
sem mudar de expressão. O russo segurou
o braço de Bernardo e se aproximou mais
— Não vai me fazer passar essa vergonha
na frente do Senhor Herrera, não é?
— É Sigayev — Santiago o corrigiu.
— Perdão.
— O que espera? Que eu saia… beijando
você em público? — Bernardo usou um
tom que deixava claro o desconforto dele.
Konstantin o soltou.
— Vai ter que me compensar, depois —
Konstantin fez reverência novamente
para Santiago e se retirou para o próprio
carro — Tchau, Bê.
Bernardo fechou os olhos, irritado,
buscando manter algum controle.
— Você não me parece apaixonado —
Santiago comentou.
— Eu não disse que estava apaixonado —
Bernardo franziu a testa — É só… É
complicado.
— Hmm… — Santiago fez e se virou,
entrando na Mansão.
“Maldito Tchekhov!”, Bernardo subiu as
escadas como se fosse afundar os pés nos
degraus. “Que ódio! Filho da mãe!”
Ele se deitou na própria cama, de peito
para cima, os braços abertos e soltou o ar.
— Quando tudo isso for esclarecido, vou
dar um socão nesse idiota!
Bernardo suspirou. Ele tinha que se
concentrar nas coisas. A reunião com os
inimigos seria em breve. Ekaterina ainda
não estava na melhor forma dela, mas
eles não podiam mais esperar. Segundo
RNNO, os apulianos estavam ficando sem
paciência e atacaram em breve.
Konstantin era brincalhão, mas Bernardo
via no olhar do loiro russo que ele não
estava brincando de forma alguma. Toda
vez que o pai dele era mencionado, havia
um brilho diferente e Bernardo não tinha
dúvidas: era puro ódio.
O herdeiro da máfia Vermelha chegou a
mencionar se não seria bom, talvez,
tentar um casamento entre a filha do
Chiarello e algum Sigayev. Maksim estava
fora de cogitação, o que deixava Aleksey
como primeira opção.
“— Por que você não casa com ela? —
Ekaterina perguntou, dando de ombros.
Konstantin fez careta.
— Eu? Ela é fedelha! Sou oito anos mais
velho que ela! — Konstantin retrucou —
Não vou ficar sem foder todos esses anos,
esperando a princesinha fazer dezoito!
Seu primo tem quase a idade dela…”
Bernardo soltou uma risada de deboche.
Aleksey jamais concordaria com aquilo.
Ele parecia um menino sem emoções, mas
o loiro sabia bem que o Sigayev mais novo
era muito mais sensível do que
aparentava e, com toda certeza, só casaria
com alguém da escolha dele.
A fala de Konstantin revelou algo: ele não
tocaria em ninguém se noivasse, mesmo
que por conveniência. Ele seria um
marido fiel, sem dúvidas.
No dia seguinte, Aleksey estava no carro
com Bernardo e Konstantin, apenas
observando os dois se bicarem no
caminho inteiro.
— Começo a acreditar na palhaçada de
que vocês são um casal — Aleksey soltou
e os dois homens na frente se calaram —
Me sinto até invadindo o momento dos
bonitos.
— Ah, eu sou bonito, mesmo —
Konstantin falou e Aleksey revirou os
olhos.
— Acho bom isso aqui não ser uma piada.
Porque eu tive que aguentar vocês pelos
últimos minutos e vou ficar muito puto se
for mentira!
O carro não demorou muito a parar e
Aleksey olhou para o ambiente, com
descrença.
— Vamos entrar — Konstantin disse,
dando um tapinha no ombro do rapaz,
que se desvencilhou — Calminha, você
não faz meu tipo. Prefiro os loiros, ainda
que você tenha uma boquinha fascinante.
Coisa de família, não é? Os Sigayev são
todos…
Aleksey olhou para Bernardo.
— Controle o seu macho! — Ele disse e
entrou no restaurante.
Konstantin só riu, enquanto Bernardo
fumegou.
Após todo aquele trajeto, com Aleksey
segurando a arma, pronto para um
confronto, eles finalmente chegaram à
porta que separava-os de Ekaterina.
Eles entraram, Konstantin chamou Lenka,
que repassou a ele como andavam as
coisas e, então, os passos de alguém se
aproximando.
O coração de Aleksey parecia que ia sair
pela boca. Tudo era demorado, aos olhos
dele. Então, ela apareceu. Os cabelos mais
compridos, um pouco mais magra, mas
com uma aparência saudável. Ekaterina
raramente sorria, e aquele momento era
uma das exceções.
— Ale! — Ela disse, e o rapaz, que estava
estático, de repente, correu para a prima
e a abraçou forte.
— Rina… — Aleksey era sempre
comedido, e, pela primeira vez, tanto
Ekaterina quanto Bernardo, o viram
chorar. Não apenas lágrimas descendo
pelo rosto, mas com soluços altos —
Você… Eu pensei…
Ekaterina o abraçou de volta e fechou os
olhos.
— Eu tô aqui…
Ele a soltou, apenas para poder olhar no
rosto dela, como se procurasse algo.
— É você mesma, não é? — Ele segurou o
rosto de Ekaterina e o virou de um lado
para o outro — Não é uma cópia, sei lá…
— Sou eu… — Ekaterina falou pelo bico
que Aleksey estava fazendo na boca dela.
Aleksey não queria soltar a prima, mas
Bernardo praticamente o obrigou.
Sentados no escritório de Konstantin,
Aleksey estava calado, olhando para
baixo, as mãos apoiadas nos joelhos,
enquanto o plano era explicado a ele.
— E vai ser isso — Konstantin terminou
de falar e todos olharam expectantes para
Aleksey.
— Então, vocês estão planejando fazer
tudo pelas costas da Tia Janna?
— Aleksey, infelizmente, tem que ser
assim. Eu tenho medo que se falarmos
algo pra ela agora, a mamãe não vai
deixar o plano continuar. Precisamos
pegar esses putos. E se ela for ao nosso
encontro, e me ver lá, é capaz de ela se
colocar em perigo.
O jovem se levantou e balançou a cabeça.
— A Tia Janna é a Don, ela sabe o que é
melhor a se fazer.
— Aleksey… — Bernardo se levantou
também.
— Não!
CAPÍTULO 93
Os três olharam para Aleksey, que tinha
os olhos baixos, mas os levantou e
encarou cada um deles.
— Não — Ele repetiu.
— Aleksey, essa questão…
— Não! — Ele voltou a repetir e olhou
para Bernardo, que se calou e engoliu em
seco.
— Que eu saiba, você não veio aqui para
ouvirmos a sua opinião, mas para saber
se vai ou não ajudar — Konstantin
respondeu, já com o semblante mais
sério.
Aleksey se virou para ele, com raiva.
— E quem é você? Nem faz parte da
Tambovskaya! Como pode decidir se a
Don merece ou não saber a verdade? Ela é
a mãe da Ekaterina! Eu não sou pai, mas
tenho pessoas que amo e… — Aleksey
balançou a cabeça — Se eu os perdesse, e,
depois, descobrissem que estavam vivos e
me enganando…
Ekaterina se aproximou de Aleksey.
— Primo, eu mal posso esperar para
abraçar meus pais, meu irmão! Porém,
agora é um momento que precisa ser
pensado com frieza.
— A Don vai saber o que fazer. Eu jurei
lealdade e…
O som da arma sendo engatilhada,
apontada para Aleksey. Na outra ponta,
um Konstantin diferente, sem emoção no
olhar.
— Ei! — Ekaterina e Bernardo disseram,
juntos. Aleksey não se moveu, apenas
apertou os lábios.
— Não vou deixar que um fedelho
estrague tudo. Salvei sua prima, cuidei
dela, cuidei de outros filhos da puta e
venho tomando conta de tudo para
garantir que possamos acabar com os
inimigos — Ele encostou o cano frio da
arma atrás da cabeça de Aleksey — Você
não vai abrir a porra da sua boca, está me
entendendo?
Bernardo não sacou a arma com medo
que Konstantin, que parecia fora de si,
atirasse simplesmente. E pelo que ele
percebeu, o russo era brincalhão, mas
apenas escondia algo obscuro. Ele era
rápido e, pelo que Ekaterina se lembrava,
certeiro. Nada garantia que Bernardo o
mataria, o que colocaria a vida dele
mesmo, ou pior, a de Ekaterina, em risco.
— Tchekhov, abaixe a arma, sim? A gente
tá conversando, não tem motivo…
— Tem a porra de um moleque, aqui,
dizendo que vai abrir a boca e colocar
tudo a perder! Não tem motivo? — O riso
debochado de Konstantin soou sinistro —
Você tem duas opções, Aleksey: ou você
participa nos nossos termos, ou você
volta pra casa com o rabo entre as pernas
e fica caladinho. Porque…, — Konstantin
usou um pouco mais de força com a arma
— se você falar qualquer coisa, juro que
vai se arrepender pro resto da sua vida,
que eu vou fazer questão que seja longa e
sofrida!
“Não nadei pra morrer na praia. Não
mesmo!”, Konstantin pensou.
— Eu não tenho medo de você, seu
imbecil!
— Aleksey! — Bernardo brigou.
— Eu não vou trair a minha Don!
— Isso vai ajudar a sua Organização,
moleque tonto! — Konstantin gritou —
Eu adoro a sua prima, gosto desse loiro
besta, e respeito muito a sua Don, por isso
eu aceitei falar com você. Mas não pense
que eu vou colocar tudo a perder porque
você é incapaz de pensar!
— Está me chamando de burro?
— Se fosse burro, eu nem conversaria.
Burros não podem participar de planos —
Konstantin inspirou — Essa é a chance
que temos de ajeitar as coisas. Ou pelo
menos boa parte delas, pegar os traidores
e finalmente, sua prima voltará para casa.
Acha mesmo que a sua Don vai permitir
que a filha dela seja colocada em perigo?
— A Don sabe…
— Ela é uma pessoa, é mãe e vai pensar
como uma mãe. Confio nas capacidades
dela, mas não vou arriscar — Konstantin
abaixou a arma — E acho que o encontro
dela com Ekaterina seria perfeito após
tudo resolvido.
Aleksey se voltou para Konstantin.
— Você não sente nem vergonha quando
mente na cara dela?
— Claro que sinto! Ela é uma boa mulher
e eu não quero ficar enganando ninguém!
— O loiro deu dois passos em direção a
Aleksey e os dois estavam quase colados
— E você, que pensa tanto na
Organização… Deve trabalhar para ela, e
não para os seus sentimentos.
Aleksey soltou uma risada de desdém.
— Olha quem fala… O cara que tá
armando pra tomar o poder do próprio
pai!
— Meu pai é um péssimo Don! Ele abusa
de quem está abaixo dele, os usa para
benefício próprio! — Konstantin sorriu —
E eu me orgulho muito de saber que vou
mandar aquele bastardo pro inferno!
Aleksey não conseguia compreender um
filho odiando o pai, mas Konstantin era
prova de que aquilo era possível.
“O pai dele deve ter feito uma merda
muito grande…”, ele pensou. “Ou esse
cara é muito maluco!”
Alguém segurou a mão de Aleksey, e ele
sabia que era Ekaterina. Ela o olhou séria,
mas com carinho.
— Prometo a você que estamos fazendo o
melhor. Vamos acabar com isso e logo. Só
peço que confie em mim.
O rapaz balançou a cabeça de leve, de um
lado para o outro.
— E se ela já souber?
— Não acho que saiba. Pode desconfiar
que algo está errado, claro — Bernardo
falou e Ekaterina concordou com a
cabeça.
— Claro, você não é convincente —
Konstantin soltou, apoiado na mesa e com
os braços cruzados — Sai dizendo que
temos um caso e não faz por onde.
— Um problema de cada vez — Bernardo
soltou.
— E aí, vai participar, ou vai ficar calado,
ou… — Konstantin levantou a arma, com
o cano para cima — Ou quer levar uma
bala?
Aleksey inspirou fundo.
— Eu vou confiar em você, Ekaterina. Não
prometo que ficarei totalmente calado,
porque se eu perceber qualquer merda,
eu vou falar pelo menos com o Tio
Santiago.
Ela concordou com a cabeça e sorriu.
— Muito bem.
— E quando vai ser tudo isso? Tem que
ser logo — Aleksey disse e voltou a se
sentar, olhando para Konstantin — E que
tipo de anfitrião é você? Não tem nada
pra se beber nesse lugar?
Konstantin abriu a boca, segurando-se
para não dar uma resposta feia.
— Você é abusado, moleque — Ele disse e
saiu do escritório.
— Vocês confiam mesmo nele? — Aleksey
perguntou, após ouvir os passos de
Konstantin se afastando.
— Ele me salvou, não foi?
— Pois tudo me pareceu muito bem
ensaiado — Aleksey disse e suspirou —
Ele arranjou tudo muito rápido.
— Não acho que ele tenha planejado a
minha morte, exatamente. Talvez tenha
se preparado para algo assim. Ele me
parece pensar em muitas possibilidades.
— Eu concordo. Além disso, se ele tivesse
algum plano ruim para com a nossa
Organização, ele não teria feito de tudo
para Ekaterina ficar bem — Bernardo
suspirou — Poderia simplesmente ter
usado ela como moeda de troca pela
ajuda da Tambovskaya.
— Vou ficar de olho nele — Aleksey
estreitou os olhos — Não confio!
Eles passaram mais algumas horas
falando sobre o plano e que este tomaria
lugar em breve. A reunião estava sendo
confirmada por todos.
— Agora, vamos nos preparar para algo
que virá antes — Konstantin falou —
Nosso jantar, meu bem — Ele falou,
olhando para Bernardo.
CAPÍTULO 94
“Se você encostar nele, eu te mato!”,
foram as palavras de Ekaterina, quando
Konstantin saiu de lá em direção à
Mansão da Tambovskaya.
— Essa garota é demais… Ainda bem que
eu não prometi nada — Ele sorriu,
acelerando ainda mais o carro.
Os portões se abriram e ele entrou, como
se já fosse “de casa”.
— Seu namorado chegou — Aleksey disse
com um tom malicioso, olhando para
Bernardo. Ninguém notou o real deboche
do garoto, apenas tomando como se o
jovem Sigayev estivesse apenas sendo ele
mesmo.
Maksim permaneceu calado e olhou para
as próprias mãos. Aleksey, claro, não
perdeu aquilo.
“Era só o que faltava…”
Bernardo suspirou e se levantou, dando
um sorriso forçado.
— Vou recebê-lo — Ele disse e os outros
Sigayev apenas concordaram com a
cabeça. Jannochka observava Bernardo
como uma águia.
“Esse moleque tá mentindo pra mim!”, ela
pensou, apertando os dedos. Estes
estavam entrelaçados com os de Santiago,
que levantou a mão da esposa e beijoulhe os nós dos dedos. Ela o olhou.
— Você tá linda — Ele falou e piscou,
Jannochka sorriu para Santiago.
— Só assim pra essa daí desamarrar a
cara — Fyódor brincou e Jannochka o
olhou.
— Anda muito confiado, não é mesmo,
primo? — Ela olhou para a loira ao lado
dele, que corou — Deve ser o efeito
Agafia.
— Ah, com certeza!
— Pelo amor! Eu estou presente! —
Aleksey fechou os olhos, torcendo a boca.
Ele ainda não conseguia se livrar da cena
que o pegou logo que chegou na própria
casa. Todas as vezes que entrava pela
porta, ele repassava aquilo, com desgosto.
— Daqui a pouco é você mesmo! —
Fyódor brincou e Agafia estreitou os
olhos — Depois te conto! — Ele sussurrou
para a esposa.
Aleksey estava pronto para falar algo,
mas Konstantin e Bernardo apareceram.
— Ah, o nosso casal! — Yuri falou, mas o
sorriso dele não chegava aos olhos.
Ultimamente, ele vinha se sentindo mais
sozinho do que nunca e,
consequentemente, mais amargo.
Fyódor se inclinou para o irmão e
cochichou.
— Tá precisando de um carinho, irmão?
— Ele disse, recebendo apenas um olhar
feio de Yuri.
Fyódor não falou nada mais, porque sabia
que Yuri era relutante em ter outra
mulher. Depois de Adeliya falecer, ele
ficou muito mais fechado. Fyódor queria
que o irmão se abrisse, afinal, ele poderia
conhecer alguém legal. Não era questão
de esquecer a esposa, mas de se deixar
ser feliz, coisa que ele claramente não
estava.
Agafia olhou feio para o marido e ele fez
beicinho.
— Boa noite, família Sigayev! —
Konstantin disse, recebendo um “boa
noite” de todos na sala. Ele se aproximou
de Jannochka e Santiago, fazendo uma
reverência formal — Don Sigayev. Senhor
Sigayev.
— Bem-vindo, senhor Tchekhov —
Jannochka falou e indicou o sofá — Por
favor.
Konstantin fez um leve aceno com a
cabeça e se sentou ao lado de Bernardo,
ficando entre o loiro e Pyotr.
— Boa noite, Pyotr! Sente-se melhor?
Soube que andou com dor de cabeça.
Pyotr inspirou fundo.
— Sim, estou melhor. Obrigado — Ele foi
apenas educado.
Konstantin colocou a mão na perna de
Bernardo, delicadamente, virando o rosto
e dando-lhe um sorriso. Bernardo, por
sua vez, precisou se controlar para não
fechar os dedos e ameaçar quebrar o
russo.
— Sabia que a blusa ficaria linda em você!
— Konstantin disse e Santiago levantou a
sobrancelha.
— Você escolheu a blusa dele? —
Santiago perguntou.
— Sim! Não resisti! Passei pela loja e,
quando bati o olho, sabia que ficaria
ótima nele. E acertei o tamanho!
Na verdade, Ekaterina havia escolhido
pela internet e Konstantin foi apenas
buscar. Bernardo já havia feito chamada
de vídeo com a russa, enquanto colocava
a roupa.
— Já sabe direitinho o tamanho que ele
usa — Aleksey disse e Bernardo o fuzilou
com o olhar.
— Vocês estão mesmo juntos? —
Jannochka perguntou, direta. Ela
perguntou de surpresa para ver as
reações. Bernardo apertou os lábios, já
Konstantin, sorriu. Aleksey olhava tudo
com um sorrisinho. Maksim nem os
olhava.
— Aí eu não sei, Don. Por mim, sim, mas
saiba que esse loirinho aqui parece estar
me enrolando.
— Não estou enrolando ninguém —
Bernardo falou, baixo.
— Como não? Não me assume de vez! —
Konstantin fez um beicinho e suspirou,
olhando para Jannochka — Mas eu
entendo, Don. Nossa situação é um
pouco… Peculiar.
O olhar de Konstantin ficou mais sério e
mais triste. Aleksey balançou a cabeça de
leve.
“Mas que cachorro! Hollywood está
perdendo um ator!”.
Jannochka compreendeu as palavras de
Konstantin, mas não se convenceu.
A governanta foi avisar que o jantar
estava servido e todos se dirigiram à
mesa.
— Relaxa e seja mais convincente! —
Konstantin sussurrou para Bernardo,
como se estivessem de “fuxico amoroso”.
— Vou matar você, Tchekhov.
— Você quem inventou isso. Eu estou
sendo bonzinho e entrando na
brincadeira, meu amor! Agora, que tal um
beijinho?
Bernardo o empurrou de leve, com uma
carranca.
— Problemas no paraíso, casal? —
Fyódor perguntou. Aleksey levou o garfo
à boca, com um sorriso nos lábios.
— Ele só tá envergonhado — Konstantin
respondeu.
Bernardo limpou a garganta.
— É que tudo tem lugar e hora — Ele
disse, como se fosse um aviso.
— Não me importo. Podem dar uns
beijinhos. Só não se animem demais —
Santiago brincou e Bernardo o encarou, a
boca aberta. Enquanto isso, Santiago
mastigava o cordeiro.
— Viu, amor? — Konstantin disse e pegou
uma batata com o garfo, oferecendo-a a
Bernardo — Aqui. Na boquinha. Abre.
“Desgraçado!”, Bernardo pensou e abriu a
boca, olhando bem para Konstantin, que
tinha os olhos fixos na boca de Bernardo.
Ele levantou os olhos e sorriu, safado.
— Tô entendendo a dinâmica desse
casal… — Fyódor comentou, limpando a
garganta, olhando para o próprio prato e
sorriu — Como ficaram assim, tão
próximos?
— É, eu quero muito saber, também —
Aleksey falou.
— Eu também — Foi a vez de Pyotr.
Bernardo sentiu uma dor de cabeça tomar
conta dele na hora.
— Foi muito de repente… Quero dizer, eu
não vou negar que senti atração pelo
Bernardo assim que o vi. Ele é lindo, seria
impossível! — Konstantin inspirou fundo
com um sorriso — Aí conversa vai,
conversa vem… Me senti muito culpado,
mas… Numa das nossas conversas,
simplesmente o clima rolou e… Admito,
eu tomei o primeiro passo. Não resisti
essa boquinha gulosa…
Konstantin foi falando e se aproximando
de Bernardo, que arregalou os olhos e
virou o rosto de leve.
— Aqui, não…
— Por favor, não se detenham por nós —
Jannochka falou.
Konstantin se afastou.
— Melhor não. Depois, ele vai me negar
só de birra.
Bernardo suspirou aliviado quando
ninguém insistiu.
“Eu vou matar esse filho da mãe!”
— Ah, Don Sigayev, após o jantar, eu
poderia falar com a senhora? É um
assunto importante — Ele falou e todos o
olharam.
CAPÍTULO 95
— Sim, claro — Jannochka respondeu —
Agora, comam.
A mesa ficou silenciosa e Bernardo já não
tinha apetite. De repente, ele sentiu a mão
de Konstantin na perna dele, ainda que o
russo nem mesmo o olhasse.
“Puta merda… Pois eu vou ser fofoqueiro
e contar tudo pra Rina. Tomara que ela o
mate…”
A mão de Konstantin subiu lentamente e
Bernardo sabia que aquilo era pura
provocação, como uma criança chata e
implicante. Ele segurou a mão de
Konstantin com força. Este o olhou.
— Selvagem! — Ele mexeu a boca, sem
emitir som, depois, piscou para Bernardo.
— Aqui, não! — Bernardo, que sabia que
Jannochka estava de olho, fez a mesma
coisa que Konstantin, sem falar, mas ele
sabia que a Don poderia ler seus lábios.
Konstantin apenas riu silenciosamente.
— Gostaria de parabenizar a equipe da
cozinha. Está tudo maravilhoso! —
Konstantin falou, quando já tinham
terminado a sobremesa.
— Deixaremos que saibam, senhor
Tchekhov. Pode deixar — Santiago
respondeu.
— Senhor Tchekhov, eu voltarei em uns
instantes. E então, poderemos ir ao
escritório conversar — Jannochka se
levantou — Com licença.
— Eu também já volto — Santiago falou e
Jannochka o olhou feio. Ele não pareceu
se importar.
— E eu vou dar uma palavrinha com o
Th… Konstantin. Com licença — Bernardo
se levantou e fez sinal para que o russo o
seguisse.
Konstantin sorriu safado e se levantou,
seguindo Bernardo.
Uma vez mais afastados, perto dos
jardins, Bernardo colocou Konstantin na
parede.
— Mas que caralhos, Tchekhov? — Ele
reclamou e Konstantin apenas sorriu de
lado.
— Do que está reclamando? Eu sou muito
talentoso. Se quiser, posso te mostrar
meus talentos.
Bernardo colocou o dedo no peito do
russo.
— Você tá me colocando em saia justa,
seu porra! — Ele olhou debochado para
Konstantin — Ekaterina te mata, sabia
disso?
— Ah, eu não duvido. E vocês dois só
querem me usar, só que não do jeito certo
— Ele fez beicinho — Eu estou aqui
deixando de aproveitar as chances com
outras pessoas, sabia disso? Merecia um
pouco mais de consideração.
— Me poupe! — Bernardo o soltou, mas
Konstantin o segurou pelo pescoço e os
virou um pouco. Bernardo o olhou
surpreso.
— Coloca a mão na minha cintura. Agora!
— Ele sussurrou e Bernardo apenas fez o
que ele dizia. Konstantin não parecia
estar brincando.
Ele aproximou o rosto do de Bernardo,
segurando o rosto dele com uma mão,
enquanto a outra se enfiava nos cabelos
do mexicano. Ele parou a boca dele bem
próximas e moveu os olhos para o lado,
como se quisesse indicar que tinha
alguém os observando.
Bernardo inspirou fundo e fechou os
olhos, como se aceitasse o que vinha a
seguir. Konstantin tocou os lábios deles
bem de leve, no início, depois, forçou
mais. Bernardo queria chorar. Mesmo que
Konstantin fosse uma linda mulher, ele se
sentia violado, além de um traidor.
Alguém limpou a garganta e Konstantin
desgrudou os lábios dos dele. Ele usou
força suficiente para que a boca deles
ficasse vermelha.
— Oh! — Konstantin se virou lentamente,
primeiro olhou por sobre o ombro e,
depois, ao ver Jannochka, ele sorriu e se
afastou de Bernardo.
— Você tá bem, Bernardo? — Ela
perguntou, ao ver que o outro parecia
prestes a desmaiar.
— S-sim… Só… Fiquei meio zonzo —
Bernardo respondeu e engoliu em seco.
— Tenho esse efeito — Konstantin
brincou e endireitou as roupas — Perdão,
Don Sigayev. Não consegui manter as
mãos longe do meu namorado.
Ela apenas moveu a cabeça levemente de
cima para baixo e se virou.
— Vamos.
— Estou indo — Konstantin disse e se
virou para Bernardo — Até mais,
amorzinho.
Bernardo foi até o banheiro mais próximo
e abriu a torneira, lavando a boca.
“Mas que droga! Ekaterina, amorzinho, eu
juro que não tô te traindo!”, ele falou
mentalmente. Pensar em trair Ekaterina
era como enfiar uma faca no próprio
peito. “Ainda mais com o idiota do
Tchekhov!”
Dentro do escritório, Jannochka indicou a
cadeira para que Konstantin se sentasse
e, em seguida, sentou-se na poltrona dela
atrás da mesa.
— Sobre o que gostaria de falar comigo,
senhor Tchekhov?
Ele já tinha uma expressão mais séria no
rosto.
— Don, eu não posso falar tudo, mas
quero deixar claro uma coisa: não tenho
qualquer intenção de prejudicar essa
Organização ou os Sigayev, como família.
— Falando assim já me deixa apreensiva.
Do que se trata? Por favor, não fique de
rodeios.
Ele suspirou.
— Como eu falei, não posso dizer tudo. É
uma questão de segurança. Porém, vou
ser aberto quanto ao que quero fazer em
relação ao meu pai. Eu vou dar um “golpe
de Estado” nele. E sei que os italianos da
‘Ndrangheta estão juntos. Os filhos,
principalmente a menina, eu duvido
muito que tenham dedo nas coisas, mas o
pai, o Don, sim. E ele está diretamente
ligado ao ataque que culminou na…
— Sim, eu sei. E quanto ao seu pai, eu já
imaginava. Na verdade, você até que
demorou. Já sabe quando fará isso? E…
Por que está me avisando?
Jannochka o olhava como se pudesse
entrar na alma dele.
— Com todo o respeito, Don, não me olhe
assim — Ele falou e ela franziu o cenho —
A senhora me lembra muito ela.
— Pensei que já tivesse esquecido a
minha filha. Acabamos de ter um jantar
por conta da sua relação com Bernardo —
Ela pronunciou o nome do rapaz com um
certo amargor, que não passou
despercebido por Konstantin.
— Não a esqueci. Nem ele o fez. Nós…
Estamos ligados por ela, na verdade.
Jannochka levantou a sobrancelha, mas
logo abanou a mão.
— Cada um sente as coisas de maneira
diferente. Não posso julgar — Ela
suspirou — Agora, responda o que
perguntei.
Ele sorriu.
— Eu estou lhe avisando porque creio
que já somos quase família. Não, não
casarei com Bernardo, nem irei tê-lo
como amante. Jamais faria isso. Eu
preciso casar, ainda mais agora que vou
assumir o lugar do meu pai — Ele a olhou
mais intensamente — Quero que
tenhamos uma boa cooperação, Don. Não
desejo que nossas Organizações
continuem a brigar, mas sim que se unam
de vez. Não por casamento, mas por
amizade.
— Amizade… O senhor fala de amizade
mas eu sei que me esconde algo. Algo
sério.
— Sim, eu não nego. Porém, isso é
temporário. Em breve vou poder falar
tudo, peço apenas que confie em mim.
Não sou tão mau caráter a ponto de
comer na sua mesa e planejar lhe trair de
maneira tão suja.
— E o que mais quer falar comigo? Sei
que não é só isso.
Ele inspirou fundo.
— No dia em que atacarei meu pai, farei o
mesmo com os malditos da ‘Ndrangheta e
os apulianos. Eles estarão lá. Não sei se os
japoneses também estarão.
— Eu vou descobrir. Tenho um contato.
Quando?
— Semana que vem.
Jannochka concordou com a cabeça.
— Vai ser aqui, na Rússia?
— Sim, no território dos Tchekhov.
Teremos uma isca e eu quero pedir que a
senhora não vá.
Jannochka franziu a testa.
CAPÍTULO
96 #capitulo96 #cap96 #96
— Sabe que me pedir para
não ir é como se estivesse
implorando para que eu vá,
não é? — Ela perguntou e
Konstantin apenas sorriu e
inspirou fundo.
— Não é uma provocação,
eu prometo. Pela minha
honra, eu preciso que a
senhora fique longe do local,
pela sua segurança e pela
dos outros.
— Senhor Tchekhov!
— Quer um juramento de
sangue? — Konstantin
perguntou e ofereceu a mão,
em cima da mesa. — Não
posso jurar lealdade como se
fosse um dos seus
subordinados, mas posso
jurar pelo meu sangue.
Aquele era um juramento
muito sério. Se mentira, ela
teria o direito de matar
Konstantin e a Organização
dele nada poderia fazer,
apenas aceitar.
Ela concordou com a cabeça.
— Eu vou confiar no senhor.
Porém, depois desse jantar,
se não vier me procurar e
me contar a verdade, eu vou
descobrir sozinha e vou fazer
você engolir a sua própria
pele, entendeu bem?
— Sim, senhora. —
Konstantin sorriu
sinceramente, com um leve
aceno da cabeça. — A
senhora vai ficar brava no
início, mas eu sei que vai me
perdoar.
Jannochka levantou as
sobrancelhas.
— Garoto, eu te dou uma
surra.
— Por favor, eu não quero
faltar com o respeito, aqui.
— Konstantin disse e
suspirou. — Eu apanharia da
senhora e do senhor
Santiago.
— É, melhor manter os seus
pensamentos e gracinhas
nessa cabecinha, ou eu
posso ficar curiosa pra saber
o que tem aí e separá-la do
seu pescocinho.
Konstantin levou
instintivamente a mão ao
pescoço e engoliu em seco.
— Gosto onde minha cabeça
está.
— Então faça por onde para
que ela continue aí.
Konstantin saiu dali e
respirou fundo. Um passo
em falso e ele perderia tudo.
Jannochka era honrada, não
o entregaria ao pai. E se ela
disse que confiaria, que não
apareceria no local da
reunião, ele acreditava. Mas
e quando Ekaterina
voltasse? Ainda havia o risco
da Don Sigayeva dar um tiro
na cabeça dele, se ele
tivesse sorte.
Bernardo o esperava no
mesmo lugar onde foi
deixado e quando viu
Konstantin, se afastou da
parede e descruzou os
braços.
— E aí?
— Tudo certo. Eu preciso ir…
Pode me levar até o carro,
amorzinho?
Bernardo compreendeu que
Konstantin não queria falar
ali, onde “as paredes
poderiam ouvir”.
— Claro. Vamos.
Konstantin pegou a mão de
Bernardo, que permitiu que
eles entrelaçassem os dedos.
“Depois do beijo, o que é
segurar a mão?” Bernardo
pensou.
Eles foram até o carro, os
outros Sigayev olhando para
eles.
Antes de entrar no veículo,
Konstantin colocou a mão na
cintura de Bernardo, mas de
leve e se inclinou para ele.
— Amanhã nos falaremos
melhor e eu conto. —
Konstantin sussurrou no
ouvido de Bernardo, com
cara de safado, como se
estivesse falando alguma
coisa relacionada a sexo.
— Até amanhã, então. —
Bernardo falou e Konstantin
piscou para ele.
— Não fica com raiva de
mim, gostoso. Amanhã,
prometo que você vai se
divertir.
Bernardo apertou os lábios
e, ao se virar, Aleksey o
olhava segurando um riso,
Yuri parecia não estar ali,
Fyódor estava sério.
— Eu… Eu vou pro meu
quarto. — Bernardo disse. —
Boa noite a todos.
— Eu também to indo! —
Aleksey se espreguiçou e
olhou para os pais. — Muito
sono. Acho que comi
demais.
Enquanto subia as escadas,
Bernardo ia pensando em
Ekaterina e em como sentia
falta dela. Estava tão perdido
em pensamentos que não
viu Pyotr o corredor e
acabou esbarrando no rapaz,
pelas costas dele.
— Ei! — Pyotr reclamou e se
afastou. — Não curto, cara.
O loiro demorou dois
segundos para compreender.
— Pyotr! Eu não te vi!
Desculpa.
— Imagina se o cego não
fosse eu! — O rapaz
respondeu e Bernardo
prendeu a respiração.
— Desculpa. — Ele repetiu.
— Sua cabeça tá melhor?
Por sinal, o que fazia parado
aí?
— Tá, tá sim. Eu só… Estava
pensando, só isso. — Pyotr
disse e continuou a
caminhar. — Vou dormir.
No dia seguinte, Ekaterina
quase matou Konstantin,
mas Bernardo a segurou.
— Gostou do beijo dele?
— Amor, calma. Olha pra
mim. — Bernardo pediu,
mas ela estava emburrada,
enquanto Konstantin a
olhava do outro lado do
quarto, uma expressão
despreocupada no rosto.
— Ele te beijou!
— Foi só pra disfarçar! Na
verdade, ele só encostou os
lábios nos meus. Foi isso.
— E beijo é o quê,
Bernardo? — Ela cruzou os
braços. — Não vou dividir
você!
— Eu tô aqui, sabia? —
Konstantin disse. — Pra
todos os efeitos, esse loiro
gostosão é meu namorado.
— Não sou seu namorado!
— Bernardo gritou. —
Tchekhov, é sério!
Ekaterina virou o rosto de
Bernardo e o beijou. Logo,
eles aprofundaram o beijo e
Konstantin apertou os lábios.
— Se isso não for um
convite, eu vou ficar
magoado.
— Beleza. Pode arrastar sua
bunda magoada pra fora do
quarto! — Ekaterina disse e
voltou a beijar Bernardo,
que nem olhou para
Konstantin.
Minutos depois, Bernardo
puxou Ekaterina para o peito
dele e a abraçou. Os dois
sem blusa.
— Vamos… Parar por aqui.
— Ele disse e a russa revirou
os olhos.
— Você tá cada dia mais
gostoso, sabia disso? — Ela
perguntou e Bernardo
segurou a mão dela, que já
descia pelo abdômen dele.
Bernardo levantou a mão
dela e beijou-lhe os dedos.
— Quero casar com você
assim que resolvermos tudo
isso. Vamos ao cartório e
oficializamos. — Ele olhou
para Ekaterina. — Te amo.
Ekaterina sorriu.
— E eu amo você. Sim, nos
casaremos assim que essa
reunião acabar e eu me
reunir com a minha família,
além de você.
E a semana passou rápida. O
dia da reunião com as outras
máfias se aproximou e,
segundo o que Jannochka
conseguiu de informação, os
japoneses participariam.
Ela faria como o combinado
com Konstantin, não
comparecendo. Mas não
significava que ela não
ficaria de olho através dos
outros. Aleksey queria ir,
mas ela o proibiu de sair,
pois ele não era um membro
oficial por juramento.
Assim que Bernardo saiu de
casa em direção a onde
Konstantin o esperava, Pyotr
recebeu mais uma ligação.
— Alô?
— Hoje, você pode buscar
sua irmã. Ou… Deixar que
ela morra de verdade, dessa
vez!
Ele se sentou na cama.
— Quem tá falando? Anda,
fala logo!
— Não importa quem eu
sou, mas o que eu sei.
Prefere que eu fale meu
nome ou onde a sua irmã
está?
A escolha era clara.
Minutos depois, Pyotr estava
saindo dali, se esgueirando.
Ele trocaria a ele mesmo
pela irmã.
Bernardo sentiu o celular
vibrando.
CAPÍTULO
97 #capitulo97 #cap97 #97
Konstantin esperava no
carro, mas um diferente do
que normalmente usava.
— Temos um problema. —
Bernardo falou assim que
entrou. Konstantin levantou
a sobrancelha. — Pyotr
recebeu umas ligações.
Parece que alguém mais
sabe que a Ekaterina tá viva
e soltou a língua pra ele.
— Porra! — Konstantin
socou o volante e deu
partida no carro. Como
Jannochka sabia da tal
reunião e alguns soldados
dela iriam pra lá, Bernardo
tinha enchido o carro de
Konstantin de armas.
Daquela vez, ele foi com um
carro de melhor estabilidade
para terrenos mais
acidentados, pois a reunião
seria num local perto
daquele tipo de estrada. — E
cadê ele?
— No quarto dele.
Konstantin suspirou fundo.
— Pelo menos isso. Porque
se ele se meter, sendo cego
e sem ter experiência
naquele lugar, vai acabar se
colocando no caminho. —
Konstantin apertou o
volante. — Eu não vou
poupar a vida dele de novo.
Entre salvar a ele ou
Ekaterina, ele que se dane.
Não vou cometer o mesmo
erro duas vezes.
Bernardo apenas concordou
com a cabeça. E ele esperava
que Pyotr estivesse mesmo
no quarto. Ele mandou
mensagem para Maksim,
pedindo que o mesmo
olhasse se o primo estava no
quarto.
— Maksim não responde! —
Bernardo passou a mão
pelos cabelos.
— E o outro fedelho?
Aleksey? Fala com ele!
— Aleksey está com os pais
dele. Não está na mansão.
— Inferno! — Konstantin
dirigiu mais rápido. —
Seguinte, eu vou te deixar
um pouco distante do local.
Você vai ter que ir até sem
mim. Sem moto, ou eles
podem ouvir o motor e isso
vai te denunciar.
Bernardo compreendia. Ele
iria se esgueirar até onde era
a reunião. Konstantin deixou
a tubulação aberta para que
ele pudesse se locomover,
bem como um mapa.
— E a Rina?
— Ela já está lá. Ela vai ser a
isca, lembra?
— Sim.
Konstantin tinha deixado
vazar para os apulianos que
Ekaterina estava viva. Eles
eram os mais fracos, ali,
portanto, eles terem aquela
informação era como ter um
trunfo. O russo tinha
conseguido descobrir que
vinha deles o hacker que
estava produzindo as
barreiras, e não dos
calabresa. Apesar de não
soltar toda a verdade, ou os
planos, Konstantin tinha
pedido que RNNO os
envenenasse, deixando
rastros. Além disso, RNNO
tinha mais contato com a tal
pessoa, já que também era
italiana, e se fez de amiga,
apenas para poder soltar
veneno. Agora, Benedetto
Grasso estava certo que
poderia mostar o potencial
dele ao pai e à Organização.
Eles pegariam Ekaterina, se
voltariam contra os outros, e
seriam os “heróis” para a
Tambovskaya. A ideia era
conseguir um casamento
entre Pyotr e Matilde, a
sobrinha do Don, Edoardo
Grasso.
Konstantin deixou que
Bernardo saísse do veículo e
seguiu caminho. Ao chegar
no local do encontro, Zinon
estava a ponto de explodir.
— Onde você estava,
moleque? — O homem, que
se parecia tanto com
Konstantin, rosnou ao ver o
filho. Apesar de já passar
dos quarenta e cinco anos,
Zinon passaria
tranquilamente por um
irmão mais velho de
Konstantin, em vez de pai.
— Eu estava me preparando,
só isso.
— Você devia estar com
alguma puta por aí… —
Zinon suspirou. — Agora,
você e eu entraremos
naquela sala e você não vai
me envergonhar. Entendeu?
Konstantin sorriu sem
mostrar os dentes.
— E não me olha desse jeito!
Nem pense em dar uma de
espertinho. Você não vai
negar nada do que eu disser,
entendeu? — Zinon suspirou
fundo. — Se for bonzinho,
vai subir ao poder mais cedo
do que pensa.
— Oh, então agora estamos
falando a mesma língua! —
Konstantin respondeu e
Zinon só não o esbofeteou
para não diminuir a moral,
ali.
Eles entraram na sala,
recebidos por duas
mulheres, uma delas de
olhos bem puxados e
Konstantin só faltou virar o
rosto para continuar a olhar
para ela, mas Zinon deu um
puxão no filho.
— Comporte-se! Ela é
sobrinha do Chefe japonês!
— O que eu posso fazer? Ela
é bem gostosa.
Zinon revirou os olhos. Sim,
a garota era linda, ele não
era cego, mas não colocaria
nada a perder por ter faltado
com o respeito com outro
Chefe. Tetsunori Kinoshita
não era um homem de
muitas graças.
— Don Tchekhov! —
Edoardo Grasso o
cumprimentou. — E senhor
Tchekhov! — Para
Konstantin, que apenas
acenou com a cabeça.
— Boa noite, Don Grasso.
Senhor Grasso. — Benedetto
sorriu, orgulhoso por estar
ali. Konstantin olhou o rapaz
de cima a baixo. Cabelos
escuros, olhos castanhoesverdeados, traços bonitos,
mas, aos olhos de
Konstantin, o famoso: tinha
tudo para ser bonito, e não
era.
“Insosso…”,ele pensou.
Benedetto soube que o filho
do Don da Máfia Vermelha
parecia ter gostos
“peculiares” quanto a sexo e,
ao ver a forma como foi
observado de cima a baixo,
ficou incomodado.
— Os Chiarello ainda não
chegaram? — Konstantin
perguntou, olhando em
volta.
— Eles estão chegando. —
Edoardo respondeu e se
sentou. Zinon ao lado dele. E
foi só falar deles que
Ildebrando e Tiziano
entraram. — Ah, aí estão
eles!
Depois de se
cumprimentarem todos,
Edoardo olhou para
Benedetto, que limpou a
garganta e olhou para o Don
da ‘Ndrangheta.
— A sua filha não nos fará
companhia? — Ele
perguntou. Konstantin
percebeu as mãos do rapaz
sendo esfregadas nas calças
por baixo da mesa,
indicando nervosismo.
— A minha filha é jovem
demais, senhor Grasso. —
Ildebrando sorriu falsamente
e olhou em volta. — Creio
que não viemos aqui para
falar dela, mas sim de como
vamos derrubar os malditos
da Tambovskaya, a La Cicuta
e os italianos que estão com
a Cosa Nostra nos Estados
Unidos.
— Sim. A filha da Don
Sigayeva já se foi. E, eu
soube, o filho dela não está
nas melhores condições.
Não sei físicas ou mentais,
mas o que se sabe é que ele
vive pelos cantos. Não treina
com os outros… — Zinon
falou e Konstantin inspirou
fundo. Havia traidores, pois
como as informações
chegaram ao pai dele?
Discretamente, ele pegou o
celular e digitou uma
mensagem.
— Senhor Tchekhov, gostaria
de compartilhar conosco o
que está lhe tirando a
atenção? — Ildebrando
perguntou. Konstantin
levantou lentamente a
cabeça. Zinon o fuzilava.
— Apenas avisando a minha
companhia da noite que eu
vou chegar mais tarde. — Ele
disse e olhou para o Don da
‘Ndrangheta, uma
sobrancelha levantada.
— Jovens! — Zinon acabou
soltando, tentando disfarçar
o constrangimento. Assim
que os homens voltaram a
falar, ele beliscou o filho na
perna, sem tirar os olhos do
que se passava na reunião.
— Eu não acho que
continuar atacando seja a
solução. — Tetsunori
finalmente se pronunciou. —
Estamos perdendo munição.
E pessoal. Precisamos tomar
os pontos de vendas deles,
os contatos. Destruir de
dentro para fora.
— Isso é extremamente
trabalhoso… — Edoardo
começou a falar.
— É melhor do que mandar
nossos homens para a
morte! — Tetsunori
suspirou. — Nem sempre o
ataque é a melhor resposta.
As máfias que estão se
unindo vão dominar o
mercado. E o que sobrará
para nós? Os Chiarello ainda
estão bem, pois são os mais
ricos, aqui, porém, o
restante de nós está se
restringindo a poucas
localidades! E quanto mais
gente morrer, menos área
poderemos cobrir!
— Não discordo. — Edoardo
disse, por fim. — Alguém
conseguiu se comunicar com
a Uralmash? Eu soube que,
antes de Ekaterina Sigayeva
aceitar casamento com o
senhor Konstantin, aqui,
houve um pedido dos
Kravtsov. Eles pareciam
dispostos a ajudar, mas não
compareceram…
— Ainda não. — Ildebrando
disse e olhou feio para
Konstantin. Ele ainda não
tinha aceitado que os
Tchekhov tenham tomado a
frente naquele noivado.
— E o que mais podemos
fazer? — Zinon perguntou.
— Quais os pontos que
atacaremos primeiro?
Precisamos de mais
infiltrados. Eu só consegui
um e ele não é grandes
coisas. O namoradinho
daquele veado do Maksim
Sigayev. Só que o garoto não
solta muito a língua.
Konstantin ficou tenso na
hora. O pai dele não sabia do
suposto namoro entre
Bernardo e ele, o que
significava que Maksim não
tinha dito nada.
“Então foi pelo Maksim que
eles ficaram sabendo. Ele
deve ter soltado alguma
coisa sobre o Pyotr. Merda!”
E então, Konstantin lembrou
o que Bernardo tinha dito a
ele: alguém andava ligando
para Pyotr e contou sobre
Ekaterina, mas ele não devia
estar acreditando, ou já teria
batido o pé para estar ali,
pelo que Konstantin sabia
dele.
A respiração de Konstantin
ficou presa na garganta. E se
Pyotr não tivesse ficado na
mansão? E se…?
“Merda, merda, merda!”
E ele não podia pegar o
telefone sem chamar a
atenção dos outros!
O celular de Konstantin
começou a vibrar e ele sorriu
amarelo para os outros, e
deu uma olhada no visor. Era
Lenka.
CAPÍTULO
98 #capitulo98 #cap98 #98
Pyotr era orgulhoso e não
andava pela casa com a guia,
porém, não significava que
ele não tinha uma. Santiago
o fez treinar com aquilo,
afinal, a guia em um
combate, se usada
corretamente.
Ele não podia pedir ajuda a
ninguém. Chegou a pensar
em Maksim, no entanto,
colocar mais um membro
em perigo não era uma
opção. Ekaterina era irmã
dele, e ela tinha se
machucado por culpa dele.
Sim, ele mais uma vez tinha
saído da mansão sem avisar
os pais, porém, não foi por
egoísmo, mas sim para
salvar a irmã.
Mesmo que tenham dito a
ele que Ekaterina morreu,
ele sabia que tinha algo
errado. O rosto dela não foi
desfigurado por tiro algum, o
que significava que estavam
mentindo. E, pelo que ouviu,
quem fez questão de cobrir
o corpo de Ekaterina do
olhar dos outros foi o
próprio Konstantin.
“Nunca confiei naquele
maldito!”
Agora, Pyotr estava em um
táxi. Ele tinha saído de casa,
andado por um tempo antes
de pedir um carro. Ele podia
não enxergar, mas sempre
foi bom com ruas. Ele
conhecia a área na qual
morava muito bem.
Pyotr sempre achou um saco
o assistente de voz do
celular, porém, agora que
não enxergava, ficou grato.
— Senhor, estamos
chegando. O senhor precisa
de ajuda? — O taxista
perguntou, afinal, ele não via
muito o que um rapaz cego
poderia estar fazendo num
lugar tão distante e ermo,
como aquele.
— Não é necessário. Minha
irmã vai me buscar. Eu só
vim até aqui porque ficaria
mais fácil para ela. Trabalha
muito, entende?
— Claro. — O taxista ainda
assim não acreditou, porém,
ele era só um motorista. O
carro parou e ele desceu
para ajudar Pyotr.
— Obrigado.
O motorista olhou ao redor.
— Desculpe a insistência.
Mas… É que esse lugar é um
pouco esquisito. Eu posso
esperar aqui com o senhor,
pela sua irmã.
— Não é necessário. —
Pyotr respondeu. — Mas
muito obrigado. Eu já fiz
esse caminho antes.
O homem coçou a cabeça e
concordou, afastando-se.
Pyotr ouviu o ronco do carro
se afastar, indicando que
finalmente estava sozinho.
Ele pegou os fones sem fio,
pois usaria o assistente de
voz para guiá-lo pelo
caminho. A pessoa que lhe
mandou mensagem mandou
a localização, o que facilitou
a vida de Pyotr.
Bernardo, enquanto isso,
estava escondido. Ele entrou
pela tubulação e conseguia
ouvir o som das vozes, ainda
que não o conteúdo da
conversa.
Segundo Konstantin,
Benedetto receberia o aviso
de que Ekaterina estava com
eles, ali. E, com isso, ele
daria a cartada, exigindo que
os outros grupos dessem à
eles o comando da situação.
Eles é quem falariam com a
Tambovskaya e negociariam.
O celular de Bernardo tocou.
Ele usava fone bluetooth em
um dos ouvidos, assim, não
tinha perigo do telefone
vibrar e encostar em algo,
chamando atenção, e menos
ainda emitindo som.
A mensagem era Ekaterina,
avisando que ela daria o
passo que a entregaria aos
apulianos de vez. Bernardo
prendeu a respiração. Um
erro, e ele podia perder
tudo.
— Um momentinho. —
Konstantin pediu e os outros
membros ficaram
incomodados.
— Avise a sua companhia
que estamos em uma
reunião importante de
negócios! — Zinon chiou
entre dentes.
— Ela é um pouco… Difícil.
— Ele falou e olhou para os
outros como se fosse um
pobre coitado. — Mulheres!
Alguns riram e Konstantin
sabia que seria assim.
“Filhos da puta…” ele
pensou, enquanto se
levantava.
— Oi, amor! Ah… Tô um
pouquinho ocupado.
— Ela já foi pega por eles.
Prepare-se. RNNO não está
disponível, eu não sei o que
está acontecendo!
— Como assim? Se acalma e
fala devagar, tá bem? —
Quem ouvia Konstantin,
pensaria que ele estava
tentando apaziguar alguma
mulher dando um ataque.
— Ela some e aparece. Não
sei o que tá havendo! Você
não disse que ela estava na
Rússia?
— Sim, ela está! —
Konstantin passou a mão
pelos cabelos. — Olha,
respira fundo, verifica de
novo e, qualquer coisa, só
me avisar. Vai fica tudo bem,
tá? Beijos!
Ele desligou e voltou para a
mesa.
— Sua namoradinha parece
em apuros. — Benedetto
comentou.
— Quando você tiver uma,
vai saber como é.
A provocação de Konstantin
fez Benedetto apertar os
punhos.
— Não vou ter namoradinha.
Terei uma esposa, como é o
correto!
— Acalmem-se, os dois! —
Tetsunori pediu. — Não
estamos aqui para
brigarmos, e sim para
juntarmos as nossas forças!
— Desculpe. — Konstantin
falou, antes que Benedetto o
fizesse, deixando o rapaz
ainda mais enraivecido.
Benedetto recebeu uma
mensagem e olhou para
baixo, sorrindo.
— Senhores, eu tenho uma
surpresa! — Ele disse e
Ildebrando fechou o
semblante.
— Não gosto de surpresas!
— Ah, mas essa é especial!
Só um momento. É uma
pessoa, muito importante,
que veio aqui para nos
agraciar e nos servirá muito
bem.
— Contratou uma stripper?
— Konstantin perguntou,
com ar debochado e
Benedetto sorriu ainda mais,
de maneira sinistra.
— Você me diz, afinal, você
teve mais contato com ela
do que todos nós aqui.
Todos se endireitaram nos
assentos. Benedetto foi até a
porta, a abriu e fez sinal com
a cabeça. Uma Ekaterina
amordaçada, com a boca
coberta e as mãos atadas
atrás das costas foi quase
empurrada para dentro da
sala.
— Mas o quê…? — Zinon
perguntou, olhando para
Konstantin e se colocando
de pé. — Ela não estava
morta? Você viu ela morta!
— Pelo visto, o senhor
Grasso aqui operou um
milagre… — Ildebrando
comentou, baixinho, ainda
sem acreditar.
Para que não parecesse que
Konstantin sabia o que se
passava, ele se levantou,
como se o corpo dele
tremesse.
— R-rina? — Ele perguntou e
caminhou na direção dela,
mas caiu ao chão, de tanta
emoção.
“Se tudo falhar, esse aí pode
ser ator! Que talento
Hollywood tá perdendo!”
Ekaterina pensou.
— Senhores, eu descobri
que essa aqui não morreu,
mas armou um esquema
para fugir! — Benedetto
falou, orgulhoso. — Porém,
eu tenho as minhas fontes.
— A Tambovskaya não
poderá negar o que
pedirmos! — Tetsunori se
levantou, sorrindo.
— O que nós pedirmos. —
Benedetto o corrigiu. — Nós,
da Sacra Corona Unita, é que
temos a arma contra aqueles
malditos!
Enquanto falavam e
começavam a discutir,
Ekaterina se desvencilhava
das amarras, que não
estavam apertadas, já que
quem passou a corda estava
com eles.
— Ela é nossa! — Edoardo
reclamou e tirou a arma.
— Nós todos trabalhamos
juntos, como podem nos
trair assim? — Zinon
perguntou. — E ela é a noiva
do meu filho!
Ekaterina deu uma
cotovelada no homem que a
escoltava e puxou a arma
dele.
CAPÍTULO 99 #capitulo99
Ekaterina deu o primeiro tiro
e foi em Zinon, no ombro.
Ela não o matou, porém, se
ele não recebesse ajuda,
sangraria até morrer. A idéia
era que Konstantin não fosse
acusado de matar o pai
abertamente, e, como Zinon
estava junto para destruir a
Tambovskaya, traindo-os
mesmo após ter feito acordo
com eles, ele morreria sem
honra e o cargo de Don
passaria, sem problemas,
para o filho.
— Não a machuquem,
precisamos dela! — Edoardo
gritou, olhando para o
Benedetto. — Ela é o nosso
tesouro!
Benedetto queria matar
Ekaterina por causar
problemas.
“Por que essa imbecil não
ficou quieta?”
Diferente dos outros, não só
armas de fogo, mas os
japoneses tinham catanas.
As mulheres, sempre de
cabeça baixa e
aparentemente submissas,
retiraram os Kanzashi
modelo Ayumi dos cabelos
e, claro, esses acessórios não
eram ordinários, mas tinham
a ponta extremamente
afiada e de metal.
Os homens de confiança de
Konstantin estavam lá e
Zinon, no chão, olhou para o
que se desenrolava na frente
dele. Ele levantou a mão, já
tonto, incapaz de se levantar,
e o olhar dele cruzou com o
do filho. Konstantin deu um
leve sorriso.
— Olho por olho. —
Konstantin moveu a boca e
voltou a lutar, mantendo o
olhar agora mais
concentrado nos inimigos e,
claro, em Ekaterina. Ele fez o
sinal com a arma e Bernardo
sabia que era o momento
dele.
As mãos de Bernardo
tremiam enquanto ele abria
a saída da ventilação, mas
ele não vacilou. Ver
Ekaterina ali era todo o
incentivo que ele precisava,
porque ele não tinha medo
de levar um tiro, mas se algo
acontecesse a ela…
De onde ele estava, não era
possível acertar muitos
alvos, mas ele conseguiu o
que podia. Bernardo havia
treinado muito a mira dele.
Desde criança, sempre a
teve afiada, e, com os
treinos corretos,
principalmente por parte de
Konstantin, ele estava quase
impecável.
Uma das japonesas viu e se
preparou para jogar o Hashi
de cabelo na direção dele,
porém, Ekaterina segurou o
pulso dela com uma mão e,
com a outra, colocou o cano
da FN Five-Seven na
têmpora da mulher.
— Jigoku e ike (Vai pro
inferno!)! — Ekaterina falou
com um sorriso e nem um
suspiro a japonesa pôde dar,
quando a munição estourou
na cabeça dela.
Se antes Bernardo viu aquela
maldade no rosto de
Ekaterina como algo
absolutamente
amedrontador e inaceitável,
agora, ele só conseguia
sentir orgulho pela mulher
forte que ele tinha.
“Sim, tenho. Ela é minha.
Minha Ekaterina!”
Bernardo desceu do duto de
ventilação e se colocou ao
lado de Ekaterina. O beijo de
“eu te amo” ele daria depois
de resolverem aquele super
problema.
Benedetto reconheceu
alguns homens que estavam
ali: eram soldados da
Uralmash!
— Desgraçados! — Ele gritou
e virou a arma para
Konstantin, pois já tinha
percebido que ele era um
traidor entre eles.
Konstantin o socou uma,
duas, três vezes. Apesar de
forte, Benedetto não tinha a
menor chance contra o
russo.
— O que foi? Tristinho que o
seu namoradinho te deu o
cano? — Konstantin
perguntou e Benedetto
arregalou os olhos, indo para
cima dele com mais raiva, o
rosto cheio de sangue. —
Acho que faço mais o tipo
dele, não é?
Konstantin e Daniil não eram
amigos, porém, quando o
loiro entrou em contato para
saber se o filho do Don da
Uralmash estava com aquele
grupo, o jovem riu e disse
que não queria
complicações com a
Tambovskaya. Mesmo que a
Organização tenha rejeitado
o pedido dele para casar
com Ekaterina, o jovem
mulherengo estava mais
interessado em manter o
que tinha e subir ao poder
tranquilamente, do que se
meter no fogo cruzado e
acabar queimado. A
Uralmash não estava no
melhor momento.
Assim, os dois fizeram um
acordo e Konstantin daria
suporte a ele assim subisse
ao controle da Máfia
Vermelha, o que, claro, foi
muito bem recebido. Daniil
não era idiota e sabia que
lutar contra a Tambovskaya e
a Cosa Nostra era pedir para
cair. Ele apenas fingiu estar
com os outros para pegar
informações e, claro, assim
que notou que Benedetto,
apesar de preconceituoso, o
olhava com desejo, tomou
vantagem disso. Foi apenas
flerte, mas o suficiente para
não só Konstantin conseguir
as informações necessárias,
como acabar com a moral do
italiano. E ele usaria aquilo
muito bem no futuro.
— Maldito!
— Tenho as provas. Ou você
desiste dessa merda aqui, ou
eu vou expor. Daí… ou você
morre aqui, ou eles te
matam lá! Que eu saiba, é
crime, entre os seus!
Benedetto prendeu a
respiração. Ele olhou para o
pai, que não compreendeu o
que o filho queria dizer. E
menos ainda quando o filho
abaixou a arma e a jogou no
chão, levantando as mãos
em rendição.
— O quê…? — Edoardo
perguntou, mas assim que
Konstantin enfiou a arma na
boca do rapaz, o Don
apuliano deu a ordem para
que as armas fossem
baixadas. — Abbastanza! (Já
chega!)
O tiroteio parou, os
japoneses, que já estavam
em menor número, só
restavam poucos, o Don e as
duas moças jaziam a um
canto. Ildebrando e Tiziano
não se meteram na briga,
tendo se escondido. Não por
medo de morrerem, mas
Ildebrando percebeu que
lutar contra a Tambovskaya e
a Máfia Vermelha que estava
com Konstantin, era um
erro. Sim, ele notou que
Zinon era carta fora do
baralho. Pra que ficar do
lado que perderia? A
‘Ndrangheta tinha dinheiro,
porém, ter conexões era
importante. E ele sabia que
ainda podia tentar algo com
Tiziano vivo, bem como com
Leontina. Ele não entrou na
luta, mas mandou que os
homens dele lutassem em
favor de Konstantin.
— Muito bem, senhores,
acho que chegamos ao
grande momento. —
Konstantin falou, com
Ekaterina ao lado dele,
juntamente com Bernardo.
— O seu pai… — Benedetto
disse, já com a arma de
Konstantin apontada apenas
para a testa dele. O russo
deu uma olhada.
— Ele não tem mais jeito…
— ele falou, mas fez sinal
para que levassem o Zinon.
O pior seria dizerem que o
velho morreu porque
Konstantin não prestou
socorro.
Ekaterina se aproximou de
Benedetto e deu um soco
nele.
— Isso foi por me amarrar e
por achar que podia me usar
como moeda de troca,
imbecil!
Benedetto apenas a olhou
com ódio, afinal, era tudo o
que ele podia fazer.
— O que querem? —
Tetsunori Kinoshita
perguntou.
— Metade dos espaços de
vocês, mas alguns milhões…
— Konstantin começou a
falar e Edoardo abriu a boca.
Konstantin tirou outra arma
do coldre, uma Taurus GX4.
— Vamos fazer um acordo,
sim? Afinal, podemos nos
dar melhor em paz do que
continuar brigando. Quero
ouvir o que vocês vão
querer.
* ** *** ****
Pyotr estava no chão. É claro
que ele tinha sido enganado.
— Então, o seu problema foi
ter ficado cego… — um
homem falou e Pyotr ouviu
como se o homem estivesse
se agachando, pois a voz
dele foi mais para baixo. —
Aquela imbecil da Mathilde
pensou mesmo que o
Benedetto ia casar com ela…
Ha, ha!
E o homem, com a intenção
de fazer pouco de Pyotr,
acabou falando mais do que
devia. Pyotr, claro, apenas
ficou ouvindo. Ele não podia
ver, tinha então que pensar
e ouvir bem os movimentos
do homem.
Um som mais distante e,
pela reação do homem,
Pyotr soube que era alguém
que não deveria estar ali.
O som dos tiros foram
ouvidos ao longe.
— Ah! — O homem sorriu,
mesmo que Pyotr não
pudesse ver. — Então foi
isso! O jogo começou! Sabe,
a sua irmãzinha tá lá com
eles. Isso não era mentira.
Mas aí, você é inútil e não
pode ajud… AH!
Um tiro com silenciador.
Pyotr reconheceria. E, pelos
palavrões, o homem foi
atingido. Outro tiro.
Pyotr ouviu algo caindo no
chão, provavelmente o
homem, e algo tocou na
blusa dele por trás. Ele agiu
rápido e imobilizou a pessoa,
porém, o cenho dele se
franziu. Era alguém pequeno
e magro.
— Quem é você?
— É… é melhor irmos… ele
não morreu. Sua irmã…
Vamos! — Uma voz feminina
soou e, de alguma forma,
algo dentro de Pyotr ficou
mais calmo.
CAPÍTULO 100 #capitulo100
— Como eu não acho justo
que façamos todos os
tratados sem a presença da
Don da Tambovskaya, vamos
nos encontrar novamente.
— Konstantin falou, depois
de conseguir a assinatura
daqueles homens sobre os
espaços que ele queria e,
claro, ter certeza de que a
transferência de milhões de
libras esterlinas estavam em
nome da Organização dele.
Konstantin poderia ficar com
o dinheiro? Não. Ele assinou
o acordo de que apenas
seguraria aquelas quantias e,
quando a Jannochka
Sigayeva estivesse de acordo
com tudo, ele faria as
divisões.
— Você é um merdinha
traiçoeiro! — Benedetto
rosnou, ainda
completamente humilhado
pelo que tinha acontecido.
— Eu? Você quem traiu eles
aqui, indo atrás da herdeira
da Tambovskaya e usando-a
como moeda de troca pra
fazer os otários, nada
pessoal, galera, caírem aos
seus pés. — Konstantin
falou, despreocupadamente.
— E eu sou a cobra
traiçoeira…
— Você é um desgraçado!
Konstantin olhou para
Edoardo, que se mantinha
calado.
— Deveria controlar o seu
gatinho irritadiço. — O loiro
olhou para Benedetto. —
Uma dica de um Don, pra
você: se não aprender a
manter as suas emoções em
cheque, vai acabar fodendo
com tudo.
Benedetto estava pronto
para retrucar, porém, um
olhar do pai e ele ficou
calado.
— Podemos ir embora? —
Ildebrando perguntou, sem
muita emoção. — Tenho
coisas a tratar.
— Espero que não seja mais
uma das suas tentativas de
nos passar a perna. —
Tetsunori Kinoshita disse. Ele
não era de muitas palavras,
preferia observar, mas achou
bom colocar aquilo em alto e
bom som, para que
Ildebrando não pensasse
que podia se fazer de
desentendido. O japonês
não esqueceu de como ele e
o filho se mantiveram longe
do conflito corporal.
Ildebrando sorriu sem
mostrar os dentes.
— Minha filha está
esperando. Precisamos
voltar à Itália. — Ele olhou
para Konstantin e, depois,
para Ekaterina, ignorando
Bernardo completamente.
— Espero receber o convite
de casamento.
— Se auto convidando? —
Bernardo perguntou, pois
ele entendeu que o italiano
estava se referindo a
Konstantin e Ekaterina.
— Compre uma focinheira
para o seu cachorro,
senhorita Sigayeva.
Ekaterina sorriu,
aparentemente de maneira
doce, e se aproximou de
Ildebrando. Ele não era
imbecil, ainda mais depois
de ter visto a garota em ação
e precisou se segurar para
não dar um passo para trás.
Ele não seria intimidado por
uma garotinha.
— Quando comparecer ao
nosso casamento, de
Bernardo e meu, por favor,
não esqueça a sua guia, para
que possa ser colocado no
seu devido lugar.
Ildebrando arregalou os
olhos com aquelas palavras,
mas apertou os lábios e
levantou o queixo.
— Não vou perder meu
tempo com subalternos. Já
assinei essas drogas de
documentos, eu vou
embora!
Ele se virou e começou a se
afastar. Tiziano, calado, fez
uma leve reverência a
Konstantin, a Ekaterina e a
Bernardo, antes de sair. Ele
nem mesmo olhou na
direção dos outros Dons e
seus filhos.
— Estamos indo nessa,
também. — Konstantin se
levantou da cadeira, como se
fosse o dono do lugar.
— E o corpo do seu pai? —
Edoardo perguntou e
levantou uma sobrancelha.
— O senhor não parece
abalado com a morte dele.
Konstantin sorriu de maneira
cínica.
— Não gosto muito de
chorar sobre o leite
derramado. — Ele fez sinal
para os homens dele. —
Levem o corpo. Comecem os
preparativos para o funeral.
Por Konstantin, o corpo de
Zinon seria simplesmente
jogado em algum buraco.
Porém, ele não podia
cometer esse deslize.
Os soldados ficaram em
frente dos três, para que
ninguém tentasse qualquer
“gracinha”, enquanto eles
saiam dali.
O telefone de Konstantin
tocou e ele o pegou,
enquanto Ekaterina e
Bernardo davam as mãos.
— O que foi? Cadê a RNNO?
Algum sinal dela?
— Não. Ela não atende! O
celular dela parece
desligado!
Ele xingou baixo.
— Continue tentando
localizar. Eu preciso agora ir
até a Mansão dos Sigayev.
— Pode deixar.
Ekaterina franziu o cenho.
— O que houve, agora?
— RNNO sumiu. Ela deveria
ter ajudado Lenka, porém,
aparentemente o sinal dela
começou a falhar e, agora,
está incomunicável.
— Acha que ela foi pega? —
Bernardo perguntou.
— Não. Não acredito. Ela é
bem esperta. — Konstantin
disse e olhou para o casal,
quando entraram no carro.
Ele no banco do motorista,
enquanto os outros dois no
banco de trás. — Hora de ver
a sua mãe, Ekaterina. E… Por
favor, se ela me matar, quero
um belo caixão. O mais caro.
Ekaterina revirou os olhos.
— Se ela te matar, eu vou
cavar um buraco e fique
feliz.
Ele fez uma careta e olhou
para Bernardo, pelo
retrovisor.
— Mulher sem coração, essa
sua!
Bernardo colocou a mão no
ombro de Konstantin.
— Obrigado por tudo. De
verdade.
Os três tinham ferimentos,
mas nada sério. Konstantin
sorriu, e, dessa vez, não
havia deboche ali.
— Não consigo resistir a um
romance.
— Quando vai casar com a
RNNO? — Ekaterina
perguntou e ele ficou mais
sério. — Ah, qual é! Você
disse que ela é novinha,
mas…
— Nunca vai acontecer. Que
nojo! — Ele fez como se
fosse vomitar. — Ela é linda,
não me entenda mal, porém,
realmente a vejo como uma
irmã. Um doce de menina.
— Doce? Ela te ajudou nisso
tudo! — Ekaterina revidou.
— Eu disse doce, não inútil.
— Konstantin retrucou.
— Quem é? Não é possível
que ainda não confie em
nós! — Bernardo falou e
Ekaterina o olhou
desconfiada. — O quê?
— Não sabia que andava tão
fofoqueiro.
— Não é fofoca! — Bernardo
fez um beicinho. — Só acho
que a gente arriscou muito,
e esse cara nem quer dizer
quem é que tá ajudando a
gente. Além disso… Ela
sumiu, pelo que parece. Não
é preocupante?
— Eu vou descobrir onde ela
está. E ainda não posso falar.
O segredo é dela, não meu.
— O russo falou e ficou
sério. Bernardo e Ekaterina
sabiam que o papo estava
encerrado.
Enquanto dirigia, Konstantin
estava preocupado. Se ela
não voltasse, se tivesse sido
pega… Eles estariam fodidos.
Mas o que mais o deixava
mal era a possibilidade da
garota ter se machucado.
* ** *** ****
Pyotr segurou o braço da
garota e a impediu de
continuar andando.
— Quem é você? — O tom
dele estava longe de ser
amigável.
— Só quero ajudar. Eu vou te
deixar onde podem te levar
pra casa. — A garota disse,
numa voz baixa.
Pyotr a puxou para ele e
uma das mãos dele foi para
o pescoço da garota.
— Você é bem magrinha… É
fácil quebrar o seu pescoço!
Ele não podia ver o
desespero no rosto da moça.
— C-calma! — Ela disse e
engoliu com dificuldade. —
Se eu… quisesse te
machucar… já teria…
Ele deu uma apertada a mais
no pescoço dela, fazendo-a
choramingar. Pyotr
aproximou a boca do ouvido
dela e o perfume da moça
invadiu as narinas dele. Era
suave, porém, o fez se sentir
intoxicado.
— Eu sou cego, te devo por
ter me salvado, mas eu não
vou ser gentil só porque
você é menina! — Ele a
sacudiu um pouco, mas não
aplicava força suficiente para
machucá-la de verdade. Ela
parecia chorar, agora, e ele
constatou quando sentiu a
mão dele molhando com as
lágrimas dela. — Tá
chorando?
Ele a soltou e fez um som de
zombaria.
— Não acredito que atirou
em um homem e agora, está
chorando porque um cego
apertou o seu pescoço. —
Ele disse. — Você tem uma
arma, não tem?
— Já disse que não quero te
machucar!
— E pra onde vai me levar?
— Estrada.
— Vai largar um cego em
uma estrada?! — Pyotr
torceu a boca. — Que tipo
de pessoa é você?
— Se preferir, eu posso te
largar aqui mesmo, então! —
Ela finalmente perdeu a
paciência. — Você é muito
ingrato!
— Bonito, mas um babaca.
— Ela falou baixinho, como
se fosse só pra ela e Pyotr
levantou uma sobrancelha,
sorrindo de lado.
— Eu sou cego, não surdo.
Na verdade, escuto muito
melhor agora.
Ele não sabia como era o
rosto dela, mas fosse como
fosse, ela provavelmente
estava corando. Pyotr queria
poder ver.
Ele esperou por uma
resposta, mas não houve.
— Hey? Cadê você? —
Nenhum som, além do vento
que passava pouco por ali.
— Garota? Ei!
CAPÍTULO 101 #capitulo101
Jannochka estava no
escritório e, como
prometido, ela não apareceu
na tal reunião. Ela andava de
um lado para o outro,
Santiago no sofá, mordendo
o canto do dedo, arrancando
a pele do dedo.
— Pare com isso. —
Jannochka segurou a mão do
marido, que a puxou para o
colo dele e apoiou o queixo
no ombro dela.
— Eu tenho um
pressentimento, Janna.
— Que tipo de
pressentimento? — Ela
perguntou, já que ela
mesma estava com o
coração apertado.
Jannochka tinha pedido para
verem se Pyotr estava no
quarto e, aparentemente,
sim. Ele sempre dormia bem
enrolado nas cobertas, e era
assim que ele estava.
— Não sei explicar. Mas… ao
mesmo tempo que tem um
alarme de perigo soando na
minha cabeça, é como se eu
fosse ter uma surpresa boa.
Alguém tá chegando.
Janna se recostou sobre o
corpo do marido e suspirou.
— Eu sinto algo parecido. O
Tchekhov não ligou, não deu
notícias. Você acha que ele
perdeu?
— Espero que não,
principalmente porque
Bernardo foi com ele. —
Santiago disse. — Além
disso, se ele for pego
matando o pai, dando o
golpe, nós podemos rodar
juntos.
— Eu sei. Mas não acho que
ele seja burro a ponto de
deixar evidente qualquer
merda que ele for fazer.
O som de carro cantando
pneus na frente da Mansão
fez o casal se levantar e
olhar pela janela do
escritório.
— É o carro do loirinho
pervertido. — Santiago disse
e Jannochka o olhou de
soslaio.
— Você não é lá tão
diferente nisso, não é
mesmo?
Santiago a abraçou e lambeu
o lóbulo da orelha de
Jannochka.
— Fica aqui a promessa do
que faremos daqui a pouco.
Ele segurou a mão da esposa
e os dois saíram do
escritório, a fim de
receberem Konstantin.
Este já estava fora do carro,
quando Jannochka, Santiago,
Fyódor e Yuri chegaram à
porta. Os irmãos estavam na
sala, esperando por
Jannochka.
— Pelo visto, ainda vivo. —
Santiago falou.
— Sim. Eu não podia morrer.
Ainda. — Konstantin soltou o
ar e colocou as mãos na
cintura.
— O que houve? —
Jannochka perguntou,
cruzando os braços na frente
do peito. — E cadê o
Bernardo?
Konstantin sorriu amarelo.
— Então… eu preciso contar
uma coisa.
— Cadê o Bernardo? —
Fyódor perguntou, entre
dentes.
— Eu gostaria de conversar
com a Don, primeiro. Com
ela e com o senhor Sigayev.
Santiago Sigayev.
Santiago se aproximou de
Konstantin em dois passos e
o segurou pelo colarinho.
— Desembucha, moleque!
Eu não estou com paciência
pros seus joguinhos com
palavras! Essas suas
gracinhas são um saco!
Ele deu uma sacolejada em
Konstantin.
— Solte-o, Santiago! —
Jannochka ordenou e ele,
claro, o fez, ainda que
mantivesse o olhar duro em
cima do russo.
Konstantin ajeitou a roupa,
não que pudesse fazer
muito, já que as peças
estavam manchadas de
sangue, amassadas,
rasgadas.
— Eu gostaria de pedir
respeito, afinal, meu pai já
não é mais o Parkhan. —
Konstantin não podia se
intitular o novo líder porque
não houve a cerimônia
oficial, mas as palavras dele
deixavam claro qual era a
situação.
Santiago abriu a boca para
falar, mas Jannochka tocoulhe o braço e ele ficou
quieto.
— Vamos para o escritório,
senhor Tchekhov.
Konstantin assentiu e a
seguiu. Os outros três
Sigayev estavam no encalço
dele, porém, apenas
Santiago entrou no
escritório.
Uma vez lá, Jannochka fez
sinal para que ele se
sentasse, porém, Konstantin
preferiu ficar em pé.
— Sabe que não dá pra fugir,
né? Fyódor e Yuri estão aí
fora. — Santiago falou.
— Eu sei. Não pretendo
fugir. Mas se forem me
matar, me deixem ao menos
ter um filho.
— Fale. — Jannochka disse,
dura, e Konstantin inspirou
fundo.
— Eu nem sei por onde
começar. Ah… tá. Eu trouxe
alguém no carro. Além do
Bernardo.
— Quem… — Santiago o
interrompeu, mas Jannochka
tocou-lhe o ombro e ele se
sentou.
— Não é nenhuma pessoa
estranha. Não é da minha
Organização. Eu só quero
dizer que eu precisei fazer as
coisas como fiz, porque eu
não podia arriscar jogar tudo
por água abaixo. Não só a
minha posição como
Parkhan, mas também,
descobrir todas as
maracutaias que tavam
acontecendo e, claro,
assegurar que essa pessoa
ficasse bem.
— Senhor Tchekhov, por
favor… — Jannochka estava
cansada.
Konstantin colocou a mão
para trás, para pegar a arma.
Jannochka e Santiago
ficaram alerta, mas o jovem
usou movimentos lentos e,
após pegar a arma, a
ofereceu a Santiago.
— Eu juro que os respeito.
Não vim aqui e menti
simplesmente porque sou
um cretino. Eu tinha um
plano e precisei agir rápido.
Quando me aproximei de
Ekaterina eu não tinha isso
em mente, porém,
aconteceu e eu precisei usar
a oportunidade.
Silêncio, exceto por
Konstantin respirando uma
vez atrás da outra,
hiperventilando. Ele
conseguia matar pessoas
sem pena, porém, naquele
momento, ele estava mais
do que nervoso. Aqueles
eram pais que acreditaram
que a filha estava morta. E
ele escondeu a verdade.
— Depois, se não me
matarem, eu vou explicar
como tudo aconteceu.
Apesar de que ela mesma
pode fazer isso. — Ele
levantou a cabeça e os
encarou. — Ekaterina está
viva.
O escritório ficou parado,
como se ninguém ousasse se
mover. Santiago engatilhou a
arma que Konstantin
entregou a ele e a apontou
para o russo.
— Repete, seu filho da puta!
— Os olhos dele estavam
ficando nublados de raiva. —
Repete!
Konstantin levantou as
mãos, rendido.
— Eu juro pela alma da
minha mãe. Ekaterina está
viva. Ela está dentro daquele
carro. Ela está bem.
Bernardo está com ela.
Santiago acertou um soco
em Konstantin, e outro, e
mais outro. O russo não se
defendeu. Ele não era pai,
porém, compreendia que
nem todos eram como Zinon
e os Sigayev definitivamente
amavam os filhos. Ele amou
muito a própria mãe e, se
alguém fizesse o mesmo que
ele fez, ele ficaria irado.
Jannochka se aproximou
lentamente dos dois homens
e colocou o braço na frente
de Santiago, que apesar de
não desferir outro golpe,
não soltou Konstantin. Este
olhou para a Parkhan da
Tambovskaya.
— O que você disse… é
verdade?
— Sim… senhora. — Ele
respondeu, sentindo o rosto
queimando de dor.
— Ela mentiu junto?
— Ela não teve escolha.
Ficou inconsciente por
meses. — Konstantin disse e
olhou para Santiago e,
depois, de volta para
Jannochka. — Posso ao
menos sentar no chão?
— E por que ela não veio até
nós, logo depois? —
Jannochka ignorou o pedido
de Konstantin. O rosto dela
era uma máscara de
indiferença.
— Se está pensando que ela
a traiu, está enganada.
Ekaterina é fiel como um
cão. Não só a vocês, mas à
Organização. — Ele a
defendeu.
— Quem mais sabia? — Ela
olhava para Konstantin com
os olhos escuros de raiva.
— Bernardo. Aleksey.
— Aleksey? — Santiago
perguntou e soltou
Konstantin com raiva. Se ele
fosse mais fraco, teria se
machucado no chão. —
Aquele fedelho nem mesmo
jurou e já está do lado do
inimigo?
— Não sou inimigo! —
Konstantin se colocou de pé,
passando a mão no rosto
sanguinolento e “rezando”
para que não tivesse perdido
nenhum dente. — Vocês
querem que eu traga
Ekaterina aqui ou vão buscála no carro?
CAPÍTULO 102 #capitulo102
— Amor, se acalma. Vai dar
tudo certo. — Bernardo dizia
para Ekaterina. Ele já tinha
repetido aquilo várias vezes,
ao que ela apenas
permanecia em silêncio.
Ekaterina sabia como a mãe
era. Jannochka odiava que
mentissem e a enganassem.
E foi exatamente o que
Ekaterina fez. Ainda que não
tenha sido planejada por ela
aquela situação toda, no fim,
ela fez parte e, depois de
meses sofrendo, Jannochka
ficaria sabendo que a filha
estava viva.
Muitos pensariam: Ah, mas
ela vai dar graças e ficar
feliz! Porém, Ekaterina não
tinha tanta certeza. Não que
Jannochka não fosse ficar
feliz, porém, também se
sentiria traída.
A russa olhou para o homem
loiro ao lado dela. Ele estava
diferente. A cada dia ele
parecia ficar mais “maduro”,
e não o doce Bernardo que
ela conheceu. Um ano antes,
ele era completamente
outro. Ainda que sorrisse,
Ekaterina não tinha certeza
se ele de fato era sincero.
Não com ela, mas ao redor.
Bernardo era fácil de
mostrar quando estava
desagradado. Era. Não mais.
E o medo de Ekaterina: ele
mudou tanto, mas
Jannochka poderia expulsálo em um estalar de dedos.
Bernardo ficou mais tenso
quando viu a porta da
Mansão se abrindo e, de lá,
Jannochka e Santiago
saíram. Enquanto ele parecia
prestes a correr para o carro,
Jannochka andava a passos
lentos. “Lentos demais”, na
opinião de Bernardo.
Ekaterina não olhou
imediatamente, porém, ela
sentiu o noivo ficando tenso
e ela sabia o que vinha a
seguir.
A porta do carro se abriu e
Ekaterina levantou a cabeça,
encarando a mãe. Não… ela
podia ver nos olhos que, ali,
estava Jannochka Sigayeva, a
Parkhan da Tambovskaya.
As duas se olharam pelo que
pareceu uma eternidade.
— Mãe. — Ekaterina
finalmente falou e, depois
de tudo o que ela tinha
passado, se Jannochka
batesse nela, ainda assim
valeria a pena. A moça se
agarrou à cintura da mãe.
Jannochka não se moveu. Ela
ficou tensa. Bernardo olhou
para o rosto da mulher e ele
nunca a tinha visto daquele
jeito: ela parecia estar
distante.
Quando a notícia da morte
de Ekaterina foi dada,
Bernardo não estava lá, e
ninguém comentou como a
Parkhan deles havia reagido.
No entanto, agora, ela
parecia vazia.
“Não, ela tá processando.”
Quando voltou a se mover,
Jannochka puxou Ekaterina
para fora do carro e a olhou
de cima a baixo. Trincou os
lábios.
— Mãe, me descul…!
Jannochka abraçou a filha,
prendendo a respiração,
como se, caso ela soltasse o
ar, Ekaterina desaparecia na
frente dela.
Sem esperar mais, Santiago
correu para elas, quase
levando-as ao chão.
Diferente de Jannochka, que
estava tendo mais calada,
ele literalmente “abriu o
berreiro”.
— Rina… meu Deus, minha
filha!
Jannochka apertou ainda
mais a filha e abriu a boca.
— Minha… meu bebê. — Ela
disse entre lágrimas.
Santiago sabia que a esposa
estava sentindo tudo e
muito mais, porém, ela não
colocava para fora. Ele a
conhecia melhor do que
ninguém. — Meu bebê
voltou.
Ela afastou-se um pouco de
Ekaterina e a olhou
novamente, sorrindo. Então,
segurou os ombros da filha,
franziu a testa e a sacudiu.
— Como pôde se esconder
de mim? Como? Você tem
ideia do quanto eu sofri? Do
quanto todos sofreram? —
Ekaterina nada disse.
Jannochka engoliu as
lágrimas várias vezes e
voltou a abraçar a filha. —
Eu te amo tanto, Ekaterina!
Pensei que parte de mim
tinha morrido, que eu
morreria junto…
As pernas de Jannochka
fraquejaram e Ekaterina
acompanhou os movimentos
da mãe, bem como Santiago.
Os três, no chão, chorando e
se abraçando.
Bernardo se sentiu um
estranho. Culpado por ter
mantido Jannochka e
Santiago longe da filha.
Konstantin se aproximou
deles e Jannochka viu o
movimento pelo canto do
olho. Ela virou a cabeça em
direção ao russo.
— Você!
Ele levantou as mãos.
— Eu posso explicar tudo!
E… temos coisas a tratar,
quando, claro, estiver apta.
O rosto dele já estava
inchando, e a fala ficou mais
dificultosa, porém, ele agia
como se nada tivesse
acontecido.
— Mãe, ele me ajudou. —
Ekaterina falou e Jannochka
estreitou os olhos na direção
de Konstantin. Ela sentia que
podia despedaçar o rapaz ali
mesmo. — Ele não é o vilão.
— Ele te escondeu por
meses! — Santiago gritou.
Então, olhou para o carro. —
Vai ficar aí até quando se
escondendo, Bernardo
Castillo?
Bernardo apertou os lábios e
saiu do carro. Ele endireitou
as roupas, ainda que
estivesse uma bagunça, e se
colocou atrás de Ekaterina.
Ele ofereceu a mão a ela,
enquanto Santiago levantava
Jannochka — não que ela
precisasse, mas ela não seria
tão má a ponto de recusar
um ato de cavalheiro do
marido.
— Parkhan, eu peço…
— Parkhan? — Jannochka
chegou a levantar a mão,
mas não bateu em Bernardo.
Ele nem se moveu. —
Moleque, eu deveria te dar
uma surra! Por falar em
moleque… Cadê o Aleksey?
Fyódor e Yuri estavam
dentro da mansão, pois
Jannochka assim ordenou.
Ela olhou para um dos
soldados, que ainda estava
olhando para Ekaterina
como se ela fosse um
fantasma, e mandou que o
jovem chamasse os outros
Sigayev mais velhos, junto
com Aleksey. Todos
deveriam ir para o escritório.
— E eu? — Konstantin
perguntou.
— Você, Tchekhov, vai ficar
na sala, esperando, como o
bom menino que você é! —
Jannochka disse e Konstantin
queria lembrá-la de que ele
era o futuro Parkhan da
Máfia Vermelha, porém,
para que cutucar a onça com
vara curta? Ele assentiu e
seguiu todos para dentro da
mansão.
Fyódor e o irmão esperavam
perto do escritório. Aleksey
ainda estava se
aproximando. Quando os
mais velhos viram Jannochka
e, logo atrás, Ekaterina, Yuri
se apoiou na parede, pois
ele estava prestes a cair.
— Ek-katerina? — Fyódor
perguntou em uma voz
fraca, falhada.
Aleksey arregalou os olhos e
sorriu de leve. Ele começou
a se aproximar dela, porém,
Santiago o segurou pelo
colarinho, o que fez Fyódor
estranhar.
— Seu moleque! — Santiago
sacolejou Aleksey, que
entendeu que a participação
dele, mesmo que pequena,
já tinha sido descoberta. E
ele apostava em Konstantin.
“Aquele linguarudo! Não
esperou nada!”
— O que está fazendo? —
Fyódor perguntou.
— O seu filho ajudou a
esconder Ekaterina!
— O que?! — Fyódor olhou
para o filho. Ele ainda nem
tinha conseguido ajustar os
pensamentos, muitas
informações juntas. Então,
ele pareceu parar, porque
queria abraçar a sobrinha,
mas também entender o que
se passava ali.
— Onde está Maksim? —
Bernardo perguntou,
olhando ao redor. Eles ainda
não tinham entrado no
escritório, por isso, ouviram
quando o rapaz em questão
desceu os degraus,
correndo.
— Pyotr… Pyotr!
CAPÍTULO 103 #capitulo103
— Respira e fala com calma.
— Yuri pediu ao filho.
— Pyotr não tá… — Maksim
falou e, finalmente, ele
olhou ao redor, encontrando
o rosto de Ekaterina. As
pernas dele fraquejaram e,
se não fosse Yuri, ele teria
caído. — Rina?
Ela sorriu e abraçou o jovem.
Ele era uma das pessoas
mais queridas para ela.
Maksim ficou estático, no
início, mas logo a abraçou,
chorando e soltando alguns
murmúrios no cabelo da
prima.
— Você voltou… Você
voltou!
Yuri coçou a cabeça e
colocou a mão no ombro do
filho.
— Você estava falando do
Pyotr…
Maksim ficou mais sóbrio,
enxugou as lágrimas e olhou
para Jannochka.
— Tia, eu fui chamar o Pyotr,
e ele não tá no quarto. Eu
chamei e nada. Entrei,
pensei que ele tava
dormindo enrolado, como
ele sempre faz. E não tinha
nada! Só travesseiro!
Jannochka inspirou fundo.
— Não temos um maldito
dia de paz! — Foi Santiago
quem reclamou.
O telefone de Bernardo
vibrou e Jannochka o olhou,
com fogo no olhar. Ele
engoliu em seco e se
desculpou, enquanto ela o
mandou verificar quem
diabos estava mandando
mensagens àquela hora!
KONSTANTIN: A porra do seu
cunhado! RNNO apareceu e
me mandou a localização
dele!
Bernardo remexeu a boca e
mostrou a mensagem para
Jannochka, que batia o pé
impacientemente.
Ela não disse nada, apenas
passou por eles e foi em
direção à sala.
— Cadê o Pyotr?
Konstantin levantou os olhos
do celular e, ao ver como a
aura de Jannochka estava
negra, sentiu um frio na
espinha.
— Ah… — ela o segurou pelo
colarinho e o sacolejou. —
Jesus, ele tá… Ah! Eu vou
buscá-lo!
— Quem diabos é RNNO? —
Ela perguntou e, mesmo
com a visão bagunçada, ele
conseguiu discernir
Bernardo, lançando a ele um
olhar de raiva. — Responde!
— Se me… Eu vou vomitar!
Ele não ia, porém, Jannochka
não estava interessada em
ver Konstantin vomitar,
menos ainda quando ela era
o possível alvo. Por isso, o
soltou.
— Começa a falar! —
Santiago se colocou ao lado
dela. Logo, Yuri e Fyódor
também. Konstantin ajeitou
a roupa, sentindo que
aqueles quatro queriam a
morte dele.
— RNNO trabalha pra mim e
achou o Pyotr. E não sei o
que ele tava fazendo lá,
perto de onde aconteceu a
“reunião”. — Konstantin
disse, sem revelar nem
mesmo o sexo de RNNO. A
última coisa que ele queria
eram os Sigayev indo atrás
dela.
— Eu vou buscar o Pyotr
com você, Tchekhov. Agora!
— Certo. — Ele disse, ainda
que quisesse rebater que ela
não deveria falar com ele
daquela forma.
Era engraçado, Konstantin
pensava, porque Jannochka
não se parecia em nada com
a mãe dele, nem fisicamente
e nem no temperamento,
porém, havia algo nela que o
fazia ver mais uma mãe do
que uma Don.
Principalmente quando se
tratava daqueles gêmeos.
“E Pyotr só faz merda!”, ele
falou para si mesmo,
amargurado. “Por culpa
dele, RNNO quase se
ferrou!”
Jannochka verificou a
própria arma e entrou no
carro de Konstantin. Porém,
ela iria dirigir.
— Ah… Com todo o respeito,
eu não gosto muito que
dirijam o meu carro. —
Konstantin falou, quando
Jannochka abriu a porta do
motorista. Ela olhou para ele
com a sobrancelha
levantada. — Eu não vou
fazer nada de errado. Tenho
certeza que a senhora vai ter
uma arma apontada para a
minha linda cabeça.
Jannochka remexeu a boca e
aceitou, indo para o banco
do passageiro. Konstantin
inspirou fundo e entrou no
carro, ouvindo algumas
ameaças por parte de
Santiago.
“Que ingratos!”
Assim que ele atracou o
cinto de segurança, ouviu a
arma sendo engatilhada. Ele
não precisava olhar para
saber que Jannochka fez
exatamente o que ele disse
que ela faria.
— Dirija.
O tom de voz dela saiu mais
suave, mas Konstantin não
era burro em pensar que a
mulher estava sendo
agradável. Pelo contrário.
Konstantin precisou dirigir
de novo para perto de onde
tudo tinha acontecido,
porém, não era um local
perigoso demais. RNNO
deixou Pyotr onde ele
poderia ficar seguro,
escondido, mas que fosse
fácil de avisar Konstantin
para buscá-lo.
Assim que o carro parou,
Konstantin desceu do carro,
enquanto Jannochka ficava
ali. Ela não queria arriscar
que o loiro estivesse
armando algo e, assim que
ela e Pyotr estivessem
juntos, algo de ruim
acontecesse.
Ela estava fumegando, e
piorou quando viu
Konstantin andar com Pyotr,
parecendo o guarda-costas
do rapaz.
— Eu não sou criança! — Ela
ouviu Pyotr respondendo
para Konstantin, que fechou
a porta do carro, irritado. —
E por que eu tô no banco de
trás? Aqui é apertado!
— Cala a boca, malcriado! —
Jannochka rosnou para o
filho, que arregalou os olhos
e abaixou a cabeça.
Konstantin não precisou de
ordens para dirigir.
— Eu me sinto como o
criado de vocês. Achei que
seria mais bem tratado. —
Ele reclamou.
— Você nem é meu genro.
— Jannochka disse e a boca
de Konstantin abriu.
“Ela…?”
— A senhora tá brincando
comigo? — Ele perguntou e
soltou uma risada. — Certo,
já estou mais feliz.
“Parece criança pequena e
boba, fica feliz com pouco,”.
Jannochka não sabia muito
sobre a vida de Konstantin,
mas pelo que ele contou
sobre a sede de vingança e a
menção à mãe, ela imaginou
que ele tinha aquele jeito
descontraído, porém, era um
rapaz sozinho. E não estava
errada.
Eles voltaram para a mansão
Sigayev e durante o trajeto,
Pyotr se manteve calado. Ele
sabia que seria punido. A
vontade de perguntar sobre
Ekaterina era imensa,
porém, o coração dele se
encheu de esperanças
quando Konstantin disse que
tudo ficaria bem, apesar de
Pyotr ser um “moleque
inconsequente que merecia
mais do que uma bela
surra”.
Konstantin, Ekaterina e
Bernardo foram para o
escritório com Jannochka e
Santiago, enquanto Fyódor e
Yuri ficaram de guarda com
Pyotr ao lado, para ter
certeza que ele não
aprontaria de novo.
Duas horas depois, os três
mais jovens encaravam
Jannochka e Santiago.
— Você pensou em tudo
muito rápido, senhor
Tchekhov. — Santiago
estreitou os olhos. — Como
conseguiu arranjar um corpo
para Ekaterina?
CAPÍTULO 104 #capitulo104
— Foi coincidência. Eu
cheguei a pensar em dizer
que o corpo foi roubado, pra
me dar mais tempo. —
Konstantin admitiu. — Ela
não era exatamente como a
Ekaterina, porém, eu torci
para que vocês não
percebessem a diferença.
Contei com o efeito “choque
emocional” sobre o qual
vocês estariam. Desculpem.
— Ela tinha tatuagem! —
Santiago insistiu.
— Na verdade, foi pintado
nela. Eu não poderia fazer
uma tattoo ali. Tecido morto.
Ficaria péssimo. Mas ela foi
pintada.
Jannochka sentiu a cabeça
latejando.
— Olha, eu juro que não
queria ser sacana. Mas eu
soube de algumas coisas,
como contei, e a melhor
opção era usar o pouco de
honra que aqueles filhos da
puta ainda tinham para que
eles dessem uma trégua. E
isso me daria tempo para
investigar. — Ele suspirou. —
Não achei que ela demoraria
tanto para acordar.
— E nem pensou em nos
contar? — Jannochka
perguntou.
— A senhora deixaria
Ekaterina sob os meus
cuidados? Ou a traria pra cá?
— Ele perguntou, mais sério.
— Onde poderiam descobrir
mais facilmente sobre ela? O
plano para descobrir certas
coisas só deram certo
porque eles pensaram que
ela estava morta!
Ele não mencionou “como o
Pyotr, que acabou saindo a
notícia de que ele tava com
algum problema”. Konstantin
não falou nada porque com
certeza Maksim responderia
pela imprudência dele,
porém, não significava que o
próprio Konstantin não teria
uma conversa com o rapaz.
Contar certos segredos para
o amante era um erro
terrível.
— E preciso saber sobre as
contas… Eles querem um
acordo. Como eu disse,
arranquei alguns milhões
daqueles otá… digo, Dons. —
Konstantin sorriu
descaradamente. —
Precisamos ver isso. Tenho
que repassar valores a vocês.
Precisamos rever os acordos.
E sim, eles assinaram.
Jannochka assentiu com a
cabeça e liberou Konstantin.
Ela então olhou para
Bernardo e Ekaterina.
— Bernardo, você traiu a
minha confiança. — Ela
começou a falar e o loiro
apenas ficou calado. Ele já
tinha previsto que
Jannochka o expulsaria da
Organização. Ela se levantou
e deu a volta na mesa.
Ekaterina prendeu a
respiração, esperando pelo
pior. Ela se preparou para,
caso a mãe puxasse a arma,
se colocar na frente.
Jannochka deu uma olhada
rápida em Santiago, que
também se moveu.
“Eles vão me matar,”
Bernardo pensou, mas
aceitou. Ele segurou a mão
de Ekaterina, afinal, se ele ia
morrer, ao menos queria
sentir o toque dela. “E vou
esperar pra estar com ela de
novo, se houver outra vida.”
Surpreendentemente,
Jannochka abraçou Bernardo
e lhe deu um beijo no topo
dos cabelos. Ela se afastou
dele, dando a chance para
que Santiago fizesse o
mesmo. Este ainda puxou
Ekaterina e Jannochka
abraçou os dois.
— Eu sei como você é,
Bernardo. E sei que fez o que
fez pela minha filha. Pela
Organização.
— Até beijou o Tchekhov.
Um beijo daqueles… —
Santiago disse e Ekaterina
soltou a mão de Bernardo,
dando um soco no braço
dele.
— Ai!
— Como assim, “um beijo
daqueles”? — Os pais a
soltaram e a moça fuzilava
Bernardo com o olhar. —
Bernardo, é bom você…
— Filha, eu tô brincando. —
Santiago falou, com um
sorriso de lado. Jannochka
apenas balançou a cabeça.
— Quer dizer, eles se
beijaram, mas o pobre do
Bernardo parecia que ia
morrer.
O rosto do loiro ficou todo
vermelho ao lembrar do
beijo com Konstantin.
— Bernardo melhorou muito
nas mentiras dele, mas ainda
não sabe dar um beijo
convincente. — Jannochka
brincou, com deboche.
— E como poderia ser
convincente? Ele não é a
Ekaterina! — Bernardo
soltou, porém, logo apertou
os lábios. Ele tinha gritado.
— Não vou te bater por isso,
Bernardo. — Jannochka
disse, porém, ele sentiu um
tapa forte atrás da cabeça.
— Eu, sim! — Santiago falou
e Ekaterina puxou Bernardo
para ela, como se o
protegendo.
— Pai!
Jannochka estava chorando
novamente. Era como se
aquilo fosse um sonho. Ela
ainda não estava
acreditando que Ekaterina
estava ali e, sinceramente,
tinha medo de acordar.
Porque a dor seria ainda
pior.
Enquanto isso, Pyotr estava
sentado no sofá, com um
dos tios de cada lado,
enquanto Maksim se sentou
numa outra poltrona.
Quando Konstantin saiu do
escritório, ele olhou para
Maksim.
— Senhor Sigayev. Yuri
Sigayev. Eu posso dar uma
palavrinha com o seu filho?
Yuri olhou de Konstantin
para Maksim e entortou a
boca. Aparentemente, o
próximo Parkhan da Máfia
Vermelha era de confiança,
ou teria morrido pelas mãos
de Jannochka. Ele apenas
acenou com a cabeça,
indicando que era para
Maksim seguir Konstantin.
Uma vez lá fora, Konstantin
olhou em volta e, não vendo
ninguém ali perto, empurrou
Maksim para a parede, atrás
de uma das plantas.
— Você me enganou! —
Maksim o acusou, porque
lembrou de quando tinha
visto a mão de Ekaterina
mexer e Konstantin o fez
acreditar que tinha
alucinado.
— Sim, e não nego. Nem me
arrependo. — Konstantin
disse, baixo, e se aproximou
mais de Maksim, quase
colando os corpos deles. Ele
viu como o mais novo
estremeceu e, por mais que
não gostasse de “novinhos”
como ele, não pode deixar
de sorrir internamente. —
Maksim… você deveria ter
mais cuidado com o que
anda fazendo com a sua
língua.
Maksim prendeu a
respiração, porque
Konstantin definitivamente
mexia com ele e, naquela
posição, depois de ouvir
aquilo, ele não podia fingir
que não estava afetado.
— Você pode fazer melhor
uso dela, sabia? —
Konstantin perguntou, agora
ele mesmo sentindo a
própria boca ficando mais
seca ao encarar os lábios de
Maksim. — Quer saber
como?
Maksim abriu a boca, mas
não conseguiu falar. O
perfume de Konstantin o
estava deixando zonzo e era
preciso controle para não
puxar a jaqueta do homem e
o beijar. Maksim apenas fez
um movimento para cima e
para baixo, com a cabeça,
lentamente, mas sem
desviar os olhos da boca de
Konstantin, que sorriu de
lado e dificultou ainda mais
a vida de Maksim.
CAPÍTULO 105 #capitulo105
— Mantendo-a controlada,
para não sair por aí falando
mais do que deveria. —
Konstantin se afastou de
Maksim, que soltou o ar e
quase caiu, porque se
moveu junto com o outro
loiro. — Assim que fizer
dezoito anos, Maksim, posso
te mostrar outros usos para
a sua língua. Vai ver como
sou um ótimo professor.
Ele deu uma piscadinha para
Maksim, porém, antes de se
afastar, o Sigayev segurou o
braço de Konstantin e o fez
parar. Konstantin olhou para
onde Maksim o segurava e,
então, para o rosto do mais
novo.
— O que é isso?
— Eu que pergunto! O que
quis dizer com aquilo?
— Você andou falando mais
do que deveria para o seu
namoradinho. — O desgosto
de Konstantin era evidente.
— Falando demais? —
Maksim estava confuso. — E
que namoradinho?
Konstantin levantou a
sobrancelha.
— Você e aquele… —
Konstantin engoliu o insulto.
— Lukyan Valiev.
— Ele e eu não estamos
juntos. Há algum tempo. —
Maksim diz e Konstantin
franzi a testa.
— Calma aí. Eu ouvi muito
bem quando disseram que
foi ele quem soltou a
informação sobre o Pyotr.
— Que informação? Eu não
falo do Pyotr. E depois que
ele ficou cego, eu nunca
comentei nada. Para quem
perguntou no colégio,
apenas disse que ele estava
estudando fora.
Konstantin inspirou fundo e
soltou um palavrão. Então,
segurou os ombros de
Maksim.
— Não quero que chegue
perto desse garoto,
entendeu? — Ele falou, ou
melhor, ordenou. Maksim
tentou se soltar, porém,
apesar de saber lutar muito
bem, ele não era páreo para
Konstantin.
— Me solta!
— Você. Não. Vai. Mais.
Falar. Com. Ele!
— E que direitos você tem?
— Maksim perguntou.
Konstantin inspirou fundo e
o soltou. — O que tá
acontecendo, afinal?
— Eu preciso investigar algo.
— Konstantin correu os
dedos pelos próprios
cabelos. — Enquanto isso,
Maksim Sigayev, você vai
ficar bem quietinho, vai ser
bonzinho e se comportar.
Porque eu juro que se te
pegar com aquele cara, eu
estouro os miolos dele.
E sem mais, Konstantin foi
para o próprio carro.
— Merda! — Ele praguejou e
acelerou o veículo. — Se não
foi o Maksim, quem foi que
soltou informação?
Então, ele parou no sinal e
engoliu em seco. Sorriu de si
mesmo.
— Não… não deve ter sido o
idiota do merdinha. É
alguém dentro da
Organização! A informação
foi direto da Organização!
Acalmando a respiração,
Konstantin ligou para
Santiago.
— O que quer? — Ele
atendeu, sem paciência,
afinal, ele ia levar Pyotr para
falar com Ekaterina.
— Acho que tem alguém
infiltrado aí. — Ele disse e
explicou a conversa que teve
com Maksim e o que foi dito
na reunião. — Maksim disse
que não falou nada.
Portanto, seja como for,
alguém daí andou falando
demais.
Santiago fechou os olhos.
— Eu vou investigar isso,
pode deixar.
— Certo. Tenham uma boa
noite.
— Tchekhov?
— Sim?
Silêncio de alguns segundos.
— Obrigado por trazer a
minha filha de volta. Por ter
cuidado dela. — A voz de
Santiago estava embargada.
— Não há de quê. Boa noite.
— Konstantin desligou o
telefone. — Agora, RNNO.
Ele mandaria mensagem
assim que chegasse em casa.
Na Mansão Sigayev, Pyotr se
levantou do sofá, uma vez
que foi chamado no
escritório.
— Ela vai me expulsar, não
vai? — Ele perguntou a
Fyódor.
— Eu não sei. — O tio
respondeu sinceramente. —
Eu acho que não. Mas…
Pyotr tinha descumprido
uma ordem novamente. Ele
tinha saído escondido, como
da outra vez.
— Tio, e Ekaterina? Me
disseram que ela…
— Converse com os seus
pais. — Foi o que Fyódor
disse e Pyotr não insistiria.
Depois que Fyódor abriu a
porta, esperou que Pyotr
entrasse e a fechou.
— Mãe? Pai?
Som de arma sendo
engatilhada. Pyotr congelou.
— Pyotr, o que eu disse pra
você? — Jannochka
perguntou.
— Eu não deveria sair. — Ele
falou.
— Uhum. E o que você fez?
— Eu saí. — Ele inspirou
fundo.
— Você prometeu não me
desobedecer, Pyotr. Quando
pediu para voltar.
— Eu sei que agi
impulsivamente, porém,
Ekaterina. A pessoa disse
que Ekaterina estava viva!
Ela tinha pedido a Yuri que
desse a ela o telefone de
Pyotr, onde ela viu que havia
resposta dele, mas não da
pessoa. Tudo apagado.
— E você não pensou que
deveria avisar a algum de
nós? — Santiago perguntou.
— Eu tive medo que a
matassem. Eu… eu me deixei
levar pelas minhas emoções.
— Pyotr não podia ficar com
a visão embaçada, mas ele
sentiu os olhos enchendo de
lágrimas e, depois, elas
descendo pelo rosto dele. —
Eu só queria… só queria que
ela estivesse viva.
Ele cobriu o rosto com as
mãos e, então, sentiu
alguém se aproximando.
Braços o envolveram e ele
prendeu a respiração. O
coração de Pyotr parecia
pronto para sair pela
garganta dele, de tão forte
que estava batendo. Aquela
não era Jannochka.
— R-rina? — Ele perguntou e
os braços o apertaram ainda
mais. Ele levantou as mãos e
buscou pela cabeça da
pessoa. Ele passou os dedos
pelo rosto, que também
estava molhado pelo que ele
podia supor serem lágrimas.
— Rina, é você?
Ela assentiu.
— Sou eu. — As pernas de
Pyotr não resistiram e ele foi
ao chão. — Irmão, sou eu.
Ele a abraçou forte e
Ekaterina sentiu que se ele
apertasse um pouco mais,
quebraria o pescoço dela,
mas não reclamou. Pyotr
chorava copiosamente,
agora.
— Me perdoa! — Ele disse,
balançando a cabeça. — Me
perdoa, eu nunca quis… eu
não queria que você… Se eu
soubesse…
E mais choro.
Santiago e Jannochka
observavam os dois.
— Eu sei, eu sei. — Ekaterina
falou, acariciando as costas
do irmão. — Você jamais me
machucaria, Pyotr. Eu sei
disso.
Depois de algum tempo,
Jannochka e Santiago se
juntaram aos dois. Já
passava da meia-noite
quando eles finalmente
saíram do escritório. Fyódor,
Yuri, Maksim e o esquecido
Aleksey estavam esperando
por eles.
Santiago olhou para Aleksey.
— Amanhã a gente
conversa. — Aleksey apenas
assentiu.
CAPÍTULO 106 #capitulo106
Ekaterina dormiu com Pyotr.
Quando pequenos, eles
costumavam dormir juntos,
mesmo que cada um tivesse
a própria cama. Bernardo
compreendia o momento
deles e, claro, foi para o
próprio quarto, porém, no
meio da noite, a porta dele
abriu e Ekaterina entrou.
— Aconteceu algo? — Ele
perguntou, sonolento.
— Pyotr é terrível dormindo.
Não fica quieto. — Ela
reclamou e Bernardo apenas
riu, esticando o braço,
enquanto Ekaterina se
aninhava nele. — Ele chorou
muito.
Bernardo acariciou o braço
de Ekaterina.
— Ele se culpou muito pelo
que aconteceu.
Ninguém tinha dito a ela que
Pyotr não podia enxergar. Ela
sabia que ele não estava
bem, porém, não chegaram
a dizer qual o problema dele.
— Ele não enxerga mesmo,
não é?
— Não, amor. Mas segundo
os médicos, é psicológico,
porque não há nenhum
dano físico que o impeça de
ver. — Bernardo abraçou
mais Ekaterina para perto
dele. — A última coisa que
ele viu e que o chocou, foi
você. No chão.
Ela fechou os olhos.
— Acha que… agora que eu
tô aqui, ele vá voltar a
enxergar?
— Talvez. E espero que sim.
— Bernardo beijou o topo da
cabeça da russa. A mão dela
desceu do peitoral de
Bernardo para o abdômen
dele, porém, ela já estava
dormindo. Ele sorriu e
fechou os olhos.
No dia seguinte, quando
Bernardo acordou, Ekaterina
ainda estava na cama. Ele
acariciou o rosto dela e viu
os olhos dela se abrindo.
— Bom dia… — ela disse
baixinho e o loiro a puxou
para ele.
— Bom dia, meu amor. —
Ele inspirou fundo. —
Quando acha que devemos
noivar?
Ela levantou a cabeça e
sorriu, mordendo os lábios.
— Hmm… Ano Novo?
— Mas também é
aniversário do Pyotr. — Ele
disse. — Não é justo.
— Podemos noivar na
véspera do Natal. Quer dizer,
dia 24 de dezembro. — Ela
explicou, uma vez que os
russos comemoravam em
datas diferentes.
— Pode ser. — Ele passou a
língua pelos lábios de
Ekaterina, que gemeu e se
apertou mais contra o corpo
de Bernardo. — Se pudesse,
casaria com você logo no dia
dois de janeiro.
Ele enfiou a mão por baixo
da blusa do baby doll de
Ekaterina, porém, ela
segurou o pulso dele,
fazendo Bernardo olhar
confuso para ela.
— Você quem queria
esperar, não é? — Ela falou e
Bernardo viu os olhos de
Ekaterina brilhando. — Dia
01 eu deixo você fazer o que
quiser.
Eram dez dias dali. Bernardo
soltou uma risada.
— Está me castigando?
Ela se sentou na cama.
— Você quem insistiu. Vai
esperar, senhor Castillo. —
Ela então o olhou mais séria.
— Bernardo, você vai
permanecer Castillo?
Bernardo estava agora
sentado, escorado na
cabeceira. Ekaterina
precisou se controlar,
porque ele estava sem blusa
e o corpo musculoso diante
dela era tentador. Os olhares
dela não passaram
despercebidos por Bernardo,
que sorriu de lado e passou
a mão no peitoral, descendo,
e indo para debaixo do
lençol. Os olhos de Ekaterina
ficaram mais escuros e ela
lambeu os lábios.
Sem o menor pudor,
Bernardo começou a se
masturbar, sem tirar os olhos
do rosto de Ekaterina, que
parecia hipnotizada, mesmo
que o lençol estivesse por
cima.
— Você ficou muito
malvado. — Ela soltou, ainda
olhando para os movimentos
debaixo do lençol. A boca
dela estava seca.
— Você só precisa pegar,
meu bem. Eu não estou te
impedindo, estou?
Ela começou a puxar o
lençol, devagar, enquanto
Bernardo acelerava os
movimentos e jogava a
cabeça para trás, gemendo
rouco.
— Quer que eu seja um
Sigayev? — Ele perguntou e
Ekaterina concordou com a
cabeça, ainda olhando para
o membro dele, que agora
estava à mostra. — Então eu
vou ser um Sigayev. Eu sou
todo seu. Absolutamente
seu. Ah!
Ekaterina não disse nada,
apenas se inclinou e passou
a língua pela ponta da
cabeça. Ela colocou a mão
acima da de Bernardo, mas
ele não parou, apenas
gemeu mais alto e soltou
alguns palavrões quando ela
começou a chupá-lo.
Ela ficou de quatro e
Bernardo se esticou para
puxar o diminuto short da
roupa de dormir dela e deu
um tapa na nádega de
Ekaterina.
— Caralho, amor… !
Ekaterina juntou as pernas.
Ela queria sentar em
Bernardo, ela queria que ele
a devorasse, a preenchesse
por inteiro. Mas Ekaterina
não era de voltar atrás. E ela
sabia que Bernardo a estava
provocando.
“O jogo virou…”, ela riu
internamente, mas logo
voltou a gemer, e alto.
— Vem cá! — Bernardo
segurou a cintura de
Ekaterina e a virou. Ele
escorregou o próprio corpo
pelo colchão, para poder
deitar, enquanto ela estava
por cima dele. Bernardo não
tirou imediatamente o short
dela, apenas o arredou, já
que o tecido era leve e fino,
e passou a língua. Ekaterina
estava com ele na boca dela
e choramingou, rebolando.
— Gostosa!
Uma hora depois, os dois
desceram para tomar café da
manhã. Aleksey estava
amuado na cadeira,
provavelmente por ter
levado uma bronca devido
ao envolvimento dele com
todo o esquema.
Assim que Ekaterina e
Bernardo se sentaram,
Santiago os encarava.
— Vocês vão casar. E logo!
— Sim, senhor. — Bernardo
falou, contente.
— Não vai enrolar a minha
filha, Castillo. Se acha que
vai fugir daqui de novo e
deixá-la para trás, está
enganado!
— Isso nunca mais vai
acontecer. Eu jamais vou me
afastar de Ekaterina de novo.
— Bernardo ficou mais sério.
— Ela é tudo pra mim.
Jannochka apenas observava
a interação. Santiago tinha
ido buscar água e viu
quando Ekaterina entrou no
quarto de Bernardo, no meio
da noite. E, pela manhã, ela
não estava nem com Pyotr e
nem no próprio quarto.
Mesmo Jannochka dizendo
que eles talvez já tivessem
feito mais do que dado uns
beijos, afinal, não era de
agora que os dois
compartilhavam o quarto.
Além disso, quando
Bernardo ia ficar com
Konstantin, na verdade, era
com Ekaterina que ele
provavelmente passava as
horas.
Santiago não queria saber.
“— Eu já permiti que ele se
aproveitasse bastante! Da
última vez, ele foi embora e
a largou aqui!”
Jannochka tinha apenas
assentido, porque Santiago
estava irredutível.
— Hmm! — Santiago fez e
Ekaterina segurou o riso.
Maksim estava com o olhar
distante e recebeu um
cutucão de Aleksey.
— O quê? — Maksim
perguntou, olhando ao
redor.
— O que acha que podemos
fazer? Pensei em filme, mas
aí é sacanagem com o Pyotr.
Eles tinham o dia de folga.
Jannochka os deixou livres
para aproveitarem a
companhia uns dos outros,
agora que Ekaterina estava
ali.
— Cadê o Pyotr? — Maksim
perguntou, finalmente se
dando conta de que o primo
não estava ali.
CAPÍTULO 107 #capitulo107
— Dor de cabeça. —
Jannochka respondeu e
bebeu do suco dela. — Pyotr
acordou com uma dor de
cabeça terrível. Foi
medicado e deve estar
dormindo, agora.
E era verdade. Ele não
conseguia parar de se mexer
enquanto dormia porque
ficava acordando e sentindo
as pontadas. Quando
Ekaterina reclamou, depois
que ele acertou o rosto dela,
ele mesmo sugeriu que ela
fosse para outro quarto,
porque ele preferia ficar
sozinho. Ekaterina conhecia
o irmão e sabia quando ele
precisava do espaço dele.
Ao ouvir isso, ela se
levantou.
— Eu vou dar uma olhada
nele.
— Ele está dormindo. Deixeo. — Jannochka falou.
— E se não estiver
dormindo? Ele passou a
noite inquieto. — Ekaterina
franziu a testa e Jannochka
assentiu. Bernardo se
levantou e foi junto.
— Aonde a corda vai, a
caçamba vai atrás. —
Santiago comentou. — Esses
dois agora vão ficar
grudados um no outro?
— Deixa de ficar
encrencando! — Jannochka
o olhou feio e Santiago lutou
contra o ímpeto de cruzar os
braços, como uma criança
birrenta que acabara de ser
repreendida.
No quarto, Pyotr estava
letárgico pelo remédio, mas
não dormindo. Ele ouviu
quando a porta se abriu e
levantou de leve a cabeça.
— Sou eu. — Ekaterina
falou. — E o Bê.
Ela se sentou na beirada da
cama e colocou a mão em
cima do irmão.
— Pyotr, você ainda tá com
dor?
— Um pouco. — Ele disse,
com os olhos fechados, e
buscou pela mão da irmã. —
Queria passar o dia com
você, mas…
— Tá tudo bem. Você quer
ficar sozinho, ou quer que a
gente fique aqui?
— Eu posso ficar lá fora, não
tem problema. — Bernardo
ofereceu.
— Não. Eu vou ficar quieto,
aqui. Podem ir e aproveitar o
dia. Amanhã a gente faz
alguma coisa. — Pyotr
respondeu, a voz fraca.
— Tá beleza. Qualquer coisa,
Pyotr, chama a gente. —
Bernardo olhou o celular de
Pyotr em cima da mesinha.
Ele encostou na tela apenas
para ver quanto de bateria o
rapaz ainda tinha e viu uma
mensagem de número
desconhecido. Ele queria
saber quem era, não porque
fosse apenas fofoqueiro,
mas porque lembrou como
Pyotr foi parar no local da
reunião. — Sua bateria tá
bem. Mas… Daqui a pouco,
coloca pra carregar, tá legal?
— Tá. — Pyotr falou,
agradeceu e os dois saíram
dali.
— Ele recebeu uma
mensagem de número
desconhecido. — Bernardo
falou para Ekaterina. Ela
parou de andar e se virou,
mas Bernardo a segurou. —
Calma! E se for… sei lá, uma
namoradinha dele?
Ekaterina fez uma careta.
— Eu vou pedir pra ele
verificar. Porque se for
mensagem da praga que o
levou pra longe…
— Eu posso rastrear.
Ekaterina voltou pro quarto
do irmão, que acabou se
virando e pegando o
telefone. Ele colocou o fone
de ouvido, já que a
mensagem era um áudio.
“ — Não fui eu que te
mandou pra lá. Invadiram
meu celular. Desculpe.
Espero que esteja bem.
Nosso contato encerra aqui.”
Pyotr tirou o fone e pediu a
Ekaterina que ouvisse. E ela
o fez.
— Podemos pegar pra
rastrear? — Ela pediu.
— Pode.
Enquanto isso, Santiago
estava com Jannochka,
tentando buscar quem tinha
traído a Organização. Eles
entraram em contato com
Lukyan, porém, ele negou.
Confirmou que ele e Maksim
não estavam mais juntos e
disse que, a última coisa que
ele ouviu sobre Pyotr, era
que o rapaz estava viajando.
Jannochka confirmou que o
filho estava fora do país,
claro.
— Aqueles outros merdinhas
já estão fora da jogada…
Quem pode ter sido?
Alguém se fez passar pelo
namorado do Maksim? —
Santiago perguntou.
Jannochka não sabia. E isso a
irritava ainda mais.
— Vou descobrir. Quero o
celular de todos os soldados
que andaram por aqui. Eu
vou falar com cada um deles.
Poucos sabiam sobre a
situação do Pyotr.
— A pessoa não sabia ao
certo, ou passou apenas
informação cortada. —
Santiago cruzou os braços.
— Que inferno!
Bernardo tentou rastrear a
mensagem, porém, foi mais
difícil do que ele imaginava.
Ele ligou para Konstantin.
— Meu pai está morto, e foi
ele quem soltou lá na
reunião sobre o Pyotr. Eu
vou ver o que consigo achar
aqui nas coisas dele.
— Como estão as coisas por
aí? Quando vai ser a sua
cerimônia de posse?
Konstantin, que estava
sentado na cadeira do
escritório, largou a caneta,
irritado.
— Semana que vem. Meu
pai deixou alguns buracos
financeiros que eu estou
tendo que dar o meu jeito
para ajeitar. Ele fez algumas
merdas, e o Conselho está
puto.
— Eles podem não te dar o
poder? — Bernardo
perguntou.
— Não acho que será o caso.
Ainda mais com a confusão
que Zinon fez. Se tiver que
estourar, eles vão preferir
que isso aconteça na minha
mão. E aí sim, eles podem
me tirar do poder.
— Se precisar de ajuda, eu
tenho certeza que a
Tambovskaya não vai se
recusar. Fale com a nossa
Parkhan. — Ele não a
chamaria de “tia”,
definitivamente.
— Pode deixar.
— Ah, por sinal… E RNNO?
Você a encontrou mesmo?
— Sim. — A resposta de
Konstantin foi seca.
— Quem é ela? Konstantin, o
que significa RNNO, por
sinal?
— Não vou contar. Você
anda muito mexeriqueiro.
— Olha só quem fala!
Eles falaram mais um pouco
e, no fim, conseguiram pegar
que foram os apulianos. Não
sozinhos, porém, ficou difícil
saber quem.
Mais tarde, naquele dia, os
soldados que andavam pela
casa, depois da “morte” de
Ekaterina, foram sendo
interrogados. Fyódor e Yuri
ficaram de guarda, para que
eles não conversassem entre
si. Já não tinham os
telefones com eles.
— Pavel Belikov. — Santiago
falou e viu o nervosismo do
rapaz. Ele não devia ter mais
do que vinte anos. — O seu
pai serviu por muitos anos,
não foi?
— S-sim, senhor.
— Por que está nervoso? —
Santiago perguntou e o
jovem engoliu em seco. —
Quer dizer alguma coisa?
CAPÍTULO 108 #capitulo108
No fim, o rapaz confessou.
Ele foi pago pelos apulianos
e usou o nome do ex de
Maksim porque achou mais
seguro. Apesar de não falar,
quando mencionou Maksim,
os olhos dele brilharam e
Santiago apenas estalou a
língua.
O castigo não pode ser outro
que não a morte, afinal, ele
traiu a confiança deles. Foi
deixado ali dentro e os traiu.
Pyotr continuava a sentir
dores de cabeça, porém, não
queria preocupar a todos,
até que foi encontrado
desacordado, no banheiro.
No hospital, ele estava
impaciente.
— Por que não nos contou
nada? — Jannochka
perguntou. Ela estava
sozinha com ele, ali.
— Eu não queria preocupar.
Mãe, eu sinto dores de
cabeça constantes, desde…
— ele abaixou a cabeça. — E
elas só pioraram. Só isso.
O rapaz estava pálido.
— Os médicos disseram que
deve ser estresse. Nos seus
exames, não deu nada
alarmante.
Pyotr suspirou e apenas
balançou a cabeça, como se
entendesse.
Ele ficou lá até o dia vinte e
quatro de manhã e, quando
retornou, Bernardo foi falar
com ele, sobre pedir a mão
de Ekaterina em casamento.
— Eu já falei com os seus
pais e, agora que você está
de volta, acho que, como
você é gêmeo dela, eu devo
falar com você, também.
— Veio pedir a minha
bênção? — Pyotr perguntou,
debochado.
— Sim.
— E se eu disser que não
quero que um bunda-mole
como você se case com a
minha irmã?
— Aí eu vou ter que dar um
socão em você.
Pyotr sorriu satisfeito.
— Boa resposta. Se tivesse
dito que iria tentar melhorar
pra me fazer mudar de ideia,
eu teria mandado você se
foder. — Os dois riram. —
Você cresceu muito,
Bernardo. E não vou dizer
que não te odiei pelo que fez
com a Rina, porém, eu
consigo compreender o seu
lado, também.
— Obrigado…
Pyotr levantou a mão,
oferecendo um aperto para
Bernardo, que aceitou.
— Bem-vindo à família. E já
sabe: se sacanear a
Ekaterina de novo… vai
descobrir que ela é uma
santa, perto de mim.
Normalmente, Pyotr era
menos meticuloso e
vingativo do que Ekaterina.
Porém, ele tinha os gatilhos
dele e, mexer com a família
dele, ainda mais com
Ekaterina, era o pior erro
que alguém poderia
cometer.
Quem tentou matá-la teve
sorte de Pyotr ter ficado
cego e “inutilizado” por um
tempo. No entanto, ele não
esqueceu e se prometeu
que, assim que estivesse
bem, se um dia ele
recuperasse a visão, ele com
certeza iria atrás de quem
causou tudo aquilo. E o
acordo entre as máfias não o
impediria de fazê-los sofrer.
Aquela noite foi toda
preparada por Bernardo. Ele
estava respirando com
dificuldade, mais nervoso do
que nunca.
— Imagine no dia do
casamento. — Santiago
comentou com Yuri. — Acho
que quem vai desmaiar é
ele.
— Você é malvado com o
garoto. — Yuri disse e sorriu
fraco. — Já estive no lugar
dele. Você sabe.
Sim, Santiago sabia. Yuri era
grandalhão e sabia ser
maldoso e “forte”, porém,
com Adeliya, ele virou um
cordeirinho. Quando a pediu
em namoro, quase teve um
“negócio”. Quando a pediu
em casamento, teve um
ataque de pânico. No dia do
casamento, ele não sabia se
chorava ou se ria.
O Conselho esperava por
uma reunião formal para
que Ekaterina “voltasse” de
fato para eles. No entanto,
Jannochka foi firme quando
disse que isso aconteceria
apenas no ano seguinte.
Antes do jantar, Bernardo
estava com o rosto todo
vermelho. Ele se ajoelhou na
frente de Ekaterina, que
trajava um lindo vestido na
cor vinho. O jantar,
principalmente para os
Sigayev, foi mais pelo
noivado, já que o Natal
mesmo só seria
comemorado por eles dias
depois.
Bernardo abriu a caixa de
jóias. Ekaterina esperava ver
o mesmo anel de antes,
porém, era outro. Este era
muito mais intrincado e,
pelo que ela pôde notar, não
parecia uma joia muito
moderna.
— O amanhecer que ilumina
o início de cada dia cria a
expectativa de um bom dia,
de que tudo ficará bem.
Mesmo depois de uma noite
horrível, não importa
quantos pesadelos se tenha,
o raiar de um novo dia
sempre é capaz de encher
um coração de esperança.
Toda vez que eu olho pra
você, eu me sinto iluminado
pela luz do possível melhor
dia da minha vida, porque é
você que está comigo. O
mero pensamento sobre
você me completa.
Ele respirou mais algumas
vezes antes de continuar.
— Quando você não estava
mais comigo, vivi em uma
constante tempestade,
cinza, fria, apenas esperando
o fim de mim mesmo.
Quando me disseram que
você deixou esse mundo, foi
como se as trevas
engolissem tudo ao meu
redor, menos a mim. Perdido
no meio da escuridão, mas
ainda assim, eu não podia
sentir nada em volta de mim
mesmo, a não ser a sua
ausência. Não havia mais
nada, porque eu jamais veria
o dia amanhecer.
Os olhos de Ekaterina
estavam cheios de lágrimas,
assim como os de Bernardo.
— Você é o Sol que ilumina a
minha vida, Ekaterina. Você
é o calor que eu preciso
sentir. É o fogo que eu quero
que me queime e me
consuma. Sem você, não há
mais nada, e eu, não sou
ninguém. — Ele passou a
língua pelos lábios que
pareciam ressecados. O
olhar dele parecia capaz de
penetrar a alma da russa. —
Ekaterina Valya Sigayeva,
seja o meu amanhecer,
todos os dias, e eu prometo
que estarei sempre com
você, não importa quando,
onde. O meu coração é
absolutamente seu. Eu peço,
humildemente, que me
permita compartilhar da sua
luz, pelo resto de nossas
vidas. Você aceita se casar
comigo?
CAPÍTULO 109 #capitulo109
Silêncio, apenas Ekaterina e
Bernardo se encarando.
— Se ela não aceitar, eu
aceito! — Pyotr respondeu e
todos acabaram rindo. —
Depois dessa…
Ekaterina se jogou nos
braços de Bernardo, que a
abraçou com força e se
deixou chorar, sonoramente.
— Eu te amo, Ekaterina. Eu
te amo! — Ele disse nos
cabelos dela e se afastou,
para poder olhar nos olhos
dela. — Me perdoa por todo
o sofrimento que eu te fiz
passar. Eu fui um imbecil,
cachorro, babaca, covarde!
— Eu concordo. — Pyotr
falou baixinho, levando um
cutucão de Jannochka.
— Sssh!
— … — Pyotr fez beicinho,
mas ficou calado. Ele sentia
muito por não poder ver o
sorriso de felicidade que a
irmã devia estar ostentando
no rosto. Ele sabia o quanto
a gêmea amava Bernardo.
— Prometo que só vou te
dar felicidades, Ekaterina. —
Bernardo falou e Ekaterina
sorriu ainda mais.
Ela colocou a mão dela para
frente, como se numa
posição para que Bernardo a
beijasse ali, mas na verdade,
ela estava pedindo pelo anel.
Remexeu os dedos.
— E como vai fazer isso, se
ainda nem colocou o anel no
meu dedo?
Bernardo pegou o anel da
caixa, a mão tremendo, e
deslizou a joia pelo dedo de
Ekaterina. Sem mais, ele a
beijou. Um “beijo de
cinema”.
— Certo, certo! — Santiago
os interrompeu e limpou a
garganta. — Vamos brindar
aos noivos!
Todos ali aplaudiram.
O que se passou foi
transmitido ao vivo para os
Castillo, que estavam na
sala, observando. Máximo
ainda não se sentia à
vontade para viajar para a
Rússia, ainda mais com
Artur. E se algo desse
errado? E se houvesse
ataque? Os russos eram
mais imprevisíveis do que os
mexicanos e ele não
arriscaria.
— Isso! — Carolina levantou
do sofá com um pulo. — Ah,
que lindo! nosso Bernardo
vai casar, mesmo! Ela
aceitou, ela aceitou!
Carolina se jogou nos braços
de Máximo e Artur, que
normalmente se sentia
incomodado quando os pais
ficavam “muito perto”, não
pareceu nem notar. Ele
estava focado no irmão e em
como este parecia estar, de
fato, iluminado.
Os Herrera também estavam
assistindo. Miguel se sentiu
triste por não estar lá e
poder dar um bom abraço
na prima e no cunhado.
Todas as vezes que ele
lembrava que Bernardo era
o cunhado dele porque Clara
era casada com Tonny,
normalmente sentia um bolo
na garganta, porém, já fazia
um tempo que aquilo não
acontecia, ainda que ele
mesmo não tenha realmente
notado.
— Bernardo é realmente
muito fofo! — Emília falou e
colocou a cabeça no ombro
do marido. — Ele sempre foi
uma criança muito meiga.
— Isso é verdade. E agora,
ele é um homem. Como o
tempo passa. — Osvaldo
sempre se pegava surpreso
quando pensava em como
aquelas crianças já eram
adultas. Ele olhou de relance
para Miguel e suspirou.
Lucas falou antes do pai,
cutucando Miguel.
— Só falta você, heim!
— Cala a boca, fedelho!
— Miguel! — Osvaldo o
repreendeu.
— Ele que começou!
— Mas é a verdade!
— Chega, os dois! —
Osvaldo levou a mão à
cabeça.
— Meninos, comportem-se!
— Emília franziu a testa e
tanto Miguel quanto Lucas
ficaram calados.
Osvaldo estreitou os olhos.
— Engraçado que a você,
eles obedecem mais fácil.
Ela sorriu de maneira meiga.
— É o meu charme.
A mão de Osvaldo, que
estava antes nas costas de
Emília, desceu um pouco
mais e ele sorriu mais
safado. Ela mordeu o lábio e
soltou uma risadinha baixa.
Ekaterina estava deitada,
olhando para o teto.
Santiago havia proibido os
dois de dormirem juntos, até
o casamento, o que deixou
Ekaterina furiosa. Porém, ela
sorriu ao olhar para o anel.
Aquele era um anel que
tinha pertencido à mãe de
Máximo. Ele foi de Carolina
e, agora, era de Ekaterina.
“— Eu não serei uma
Castillo. — Ekaterina havia
dito.
— É claro que será. Mesmo
que não leve o sobrenome
no seu documento, você
sempre será uma Castillo,
porque casou comigo,
mesmo que eu seja um
Sigayev.”
Ela sorriu e abraçou o
travesseiro.
— Bernardo, eu te amo
tanto!
Os dias passaram e a
véspera de Ano Novo
chegou. Dia trinta e um de
dezembro.
Pela hora do almoço,
Konstantin apareceu, com
presentes para os gêmeos:
um cartão com dinheiro para
cada um.
— Não sou muito bom em
dar presentes. — Ele falou.
— Eu não pude dizer isso
pessoalmente, mas parabéns
pelo noivado!
Ele disse a Bernardo e a
Ekaterina, que agradeceram.
— Pera aí, quanto tem no
cartão? — Pyotr perguntou e
levou um beliscão de
Santiago. — Ai!
— Cinco milhões de libras
esterlinas para a Ekaterina.
Mais um como presente de
noivado. — Konstantin
sentia muito que Pyotr não
pudesse ver o rosto dele. —
Já você, por ser muito
moleque, eu tive que ser um
pouco mais cuidadoso.
— Fala logo!
— Pyotr! — Santiago o
repreendeu e olhou para
Konstantin. — Ele agradece,
não importa a quantia.
— Vê se não gasta tudo de
uma vez. Tem cinco dólares.
Dá pra você comprar um
lanche. Mas vê se não gasta
tudo.
Pyotr primeiro abriu a boca,
chocado. Depois, riu.
— Você é realmente um
comediante!
— Não sou? — Konstantin
respondeu, sorrindo de lado.
— Quando será o
casamento?
— Dia vinte de janeiro. —
Ekaterina respondeu. — Dia
dois teremos o pedido
formal frente à Organização.
O casamento vai ser dia
vinte.
— Espero receber o meu
convite! — Ele levantou o
queixo. — Quero lugar
reservado na primeira fileira!
Ekaterina olhou para
Bernardo e ele assentiu,
encarando Konstantin.
— Konstantin, depois de
tudo o que você fez, nós
decidimos… Você aceita ser
o nosso padrinho?
Konstantin abriu a boca, sem
dizer nada.
— Nossa, finalmente alguém
conseguiu deixar esse daí
mudo! — Pyotr comentou,
ao não ouvir resposta do
loiro russo.
Konstantin o olhou
atravessado.
“O que é seu tá guardado,
Pyotr!”
— Sim. Ah… realmente, eu
fiquei sem palavras. Mas,
vocês tem certeza? Quer
dizer…
Bernardo colocou a mão no
ombro do russo.
— Eu serei eternamente
grato a você, Krutov. — Os
olhos de Konstantin se
iluminaram ao ouvir aquilo.
Bernardo ofereceu a mão a
ele. — Eu o considero um
grande amigo.
Konstantin inspirou fundo,
controlando os próprios
sentimentos. Ele andava
fingindo que não se
importava com a opinião dos
outros, ou que não precisava
de ninguém, porém, na
verdade ele apenas tentava
não criar expectativas, para
não sofrer com a rejeição,
depois. Ouvir Bernardo
chamando-o de amigo,
convidando-o para ser o
padrinho de casamento e,
aparentemente todos os
Sigayev o aceitando, o fez
ficar desnorteado por alguns
segundos.
Ele olhou para a mão de
Bernardo e, em vez de
apenas segurá-la e apertar,
ele puxou o outro loiro para
um abraço. Palavras não
precisaram ser trocadas.
Como todos os outros anos,
Ekaterina ficou com Pyotr,
até o Sol nascer. Era uma
tradição entre eles e,
novamente, Bernardo não se
incomodou.
De manhã, Ekaterina foi para
o quarto dela e, ao abrir a
porta, precisou de uns
segundos para se recompor.
CAPÍTULO 110 #capitulo110
O quarto estava todo
decorado com algumas luzes
imitando vela — Bernardo
não queria arriscar — alguns
corações de pelúcia, pétalas
de rosa e um Bernardo
completamente nu sentado
na cama, olhando para ela.
Ele acariciava o membro,
lentamente.
Jannochka e Santiago tinham
ido falar com os gêmeos e
Maksim sabia que, depois,
Ekaterina sairia dali, como
nos anos anteriores. Ele
ficou de guarda para avisar a
Bernardo. Ele não sabia qual
era a surpresa, mas sabia
que se era Bernardo
preparando, Ekaterina iria
gostar.
Ela fechou a porta e virou a
chave.
— Eu deixei tudo pronto pro
seu banho. Vou ficar te
esperando, aqui.
Inicialmente, Bernardo
pensou em ele mesmo dar
banho em Ekaterina, porém,
ele daria esse tempo para
que ela se preparasse como
achasse melhor, afinal,
depois daquilo, ele não a
soltaria nunca mais.
Ela olhou para o banheiro e,
quando finalmente
conseguiu se mover melhor,
correu direto para lá e
fechou a porta. Ekaterina foi
se depilar, para ter certeza
absoluta de que estaria
“perfeitinha”. Ela se lavou, se
perfumou e se olhou no
espelho. A camisola preta
escolhida por Bernardo era
lindíssima, com
transparência, mas ao
mesmo tempo, elegante.
Ao abrir a porta, Bernardo
estava olhando para ela,
porém, ele estava de pé, se
masturbando lentamente
com uma das mãos.
Ekaterina colocou a mão em
cima da dele. A outra mão
de Bernardo foi para os
cabelos dela, puxando-a
para um beijo.
Apesar de lento
inicialmente, não havia nada
de gentil, ali. Era um beijo
exigente, intenso. Bernardo
os virou e fez Ekaterina
andar para trás, até chegar à
cama. Ele segurou a cintura
dela e a deitou, com
delicadeza.
— Bernardo…
Ele beijou o pescoço de
Ekaterina, descendo os
lábios pelo ombro dela.
— Você ficou mais gostosa
ainda nessa camisola. — Ele
sorriu de lado. — Mas eu sei
que fica melhor sem nada.
Ekaterina quis tirar a
camisola, porém, Bernardo
negou com a cabeça. Ele
segurou a mão dela e levou
os dedos de Ekaterina aos
lábios, chupando a ponta do
indicador dela, passando a
língua pelo dorso da mão de
Ekaterina e ela estava com a
boca aberta, o rosto
queimando de desejo.
Bernardo estava mais sério.
Ele desceu mais o próprio
corpo e levantou a camisola
dela, beijando as pernas de
Ekaterina.
— Abre pra mim, amor. —
Ele pediu, baixo, passando
um dos dedos pela abertura
dela e Ekaterina
choramingou, mas abriu as
pernas. — A visão do
paraíso…
Bernardo chupou o próprio
dedo e voltou a colocá-lo na
abertura de Ekaterina,
enquanto a língua dele foi
para o clitóris dela.
— Ah! — Ekaterina jogou a
cabeça para trás, porém,
continuou a se apoiar nos
cotovelos. — Bernardo!
Isso… Ah!
Uma das mãos dele abaixou
a alça da camisola de
Ekaterina e ela ajudou a
retirar a outra, descendo o
tecido e expondo os seios.
Bernardo segurou um dos
mamilos dela e o apertou
entre o indicador e o
polegar, empregando força,
mas apenas o suficiente para
que Ekaterina sentisse
apenas prazer.
As ondas de prazer
começaram a se formar e
Ekaterina sorriu, porém, logo
franziu a testa, porque
Bernardo parou. Ele
abocanhou os seios dela,
chupando e usando uma das
mãos para estimular o
desejo de Ekaterina e,
novamente, quando ela
estava quase lá, ele parou.
— Amor? Não! — Ela
reclamou, mas Bernardo se
colocou de pé e pegou um
pacote em cima da mesinha
de cabeceira. — Espera! Eu
quero…
Ela tirou a embalagem da
mão dele e o abocanhou.
Bernardo não se segurou
nem um pouco, como nas
outras vezes, e moveu os
quadris, segurando os
cabelos de Ekaterina.
— Hmmm…!
— Ah! Boca gostosa!
Tesuda… — Bernardo não
fechou os olhos. Ele queria
ver Ekaterina, a todo
momento. — Isso, chupa
assim, amor. Ah! Porra… —
Bernardo movimentou mais
rápido, porém, foi a vez de
Ekaterina parar. Ela o afastou
e ele foi diminuindo a
velocidade. — O que foi?
Ela passou o dedo pelos
lábios e sorriu, safada.
Bernardo entendeu que ela
estava dando o troco, por
ele ter parado. O loiro enfiou
a mão nos cabelos de
Ekaterina e levantou a
cabeça dela, beijando os
lábios dela.
Esticando a mão, Bernardo
pegou novamente a
embalagem do preservativo
e, rapidamente, estava
pronto. Ele queria filhos com
ela, mas ainda não.
Ekaterina mal tinha feito
dezoito anos.
Ele se deitou por cima dela,
se posicionando na entrada
da russa.
— Finalmente eu vou ter
você. — Bernardo sussurrou
no ouvido de Ekaterina e
entrou um pouco. — Relaxa,
amor.
Bernardo deu beijinhos no
rosto de Ekaterina. Ele se
afastou um pouco e colocou
a mão dela no clitóris.
— Aqui, mexe. Eu quero ver
o seu rosto quando eu
entrar. — Ao ver o anel no
dedo de Ekaterina, Bernardo
ficou com ainda mais tesão.
Ele estava de joelhos na
cama, um pouco inclinado
para frente, e continuou
entrando e saindo, enquanto
Ekaterina se masturbava.
— Bernardo… entra. Entra,
amor. — Ela se remexeu no
ritmo dele, mas tentando ir
mais para baixo, mais para
ele. — Por favor !
Bernardo passou o dedo
perto da entrada de
Ekaterina, com a cabeça do
membro dele pronto para
entrar. Ele impulsionou os
quadris para frente e entrou
um pouco. Ele conseguia
sentir o quão quente ela era
e respirou fundo. Com os
braços agora em cima da
cama, ele olhou nos olhos de
Ekaterina e entrou de vez.
— AH! — Ela sentiu a dor,
mas não foi tão horrível.
Ekaterina estava mais do que
excitada, o que ajudou e
muito. Bernardo estava
parado, precisando se
controlar.
— Puta… merda! — Ele
soltou baixo. Bernardo a
beijou e começou a se
mover, lentamente. Ele
pegou a mão de Ekaterina e
entrelaçou os dedos deles.
As pernas de Ekaterina se
enroscaram ao redor do
tronco dele e ele ajeitou o
corpo dela, para que ele
tivesse mais acesso. —
Caralho, eu te amo muito!
— Me… me devora! —
Ekaterina pediu, movendose. — Eu te amo, Bernardo.
Por favor…
— A… aniversariante manda!
— Ele começou a acelerar,
mais e mais. Ekaterina
arranhou as costas dele,
enquanto Bernardo a
encheu de “marcas de
amor” pelo colo, ombros,
evitando pescoço para que
não ficassem à mostra.
Apesar de que estava frio, lá,
e ela usaria roupas mais
compridas.
Ele foi para a beirada da
cama e a puxou com ele,
levantando ainda mais as
pernas dela. Ekaterina
gozou, vendo estrelas e, ao
senti-la apertando-o
completamente, Bernardo
fez o mesmo. Ele nunca
tinha alcançado o orgasmo
daquela maneira, tão
intensa.
Os espasmos em volta dele
ainda permaneciam e
Bernardo beijou Ekaterina.
— Machuquei você? — Ele
perguntou ela negou. —
Pronta pra mais?
Depois de duas horas ali, os
dois tomaram banho e
Ekaterina ia para o quarto
dela, atrás de roupas,
porém, Bernardo a chamou
e entregou-lhe uma muda,
que estava na gaveta dele.
— Você pensou em tudo.
Ele abraçou a cintura dela.
— Claro. — Eles se beijaram.
— Você tá muito dolorida?
— Não. Dói só um pouco. —
Ela sorriu.
— Eu comprei o lubrificante,
mas… não acho que foi
necessário. Você tava mais
do que ensopada.
As bochechas de Ekaterina
coraram.
— Eu quero todo dia.
Bernardo a olhou de
maneira perigosa, cheia de
luxúria.
— Quando você se
acostumar mais, Ekaterina,
eu vou te foder sem dó.
Ela sentiu um calafrio
gostoso pelo corpo e se
virou de costas nos braços
dele.
— Hmm…
— Sedutora… É isso o que
você é!
Alguém bateu na porta
deles.
— Ah, a tia tá chamando
vocês pro café! — Maksim
falou.
— Já estamos indo! —
Bernardo respondeu.
— Bê… o papai disse que
não poderíamos dormir
juntos. — Ela se lembrou só
então.
— Nós não dormimos
juntos. Você dormiu no
quarto do Pyotr.
Ekaterina, ao ouvir aquilo,
sorriu de orelha a orelha.
— Veja só… o senhor Castillo
também sabe ser um
menino levado.
— Você não faz ideia do
quanto, meu amor.
Santiago, claro, não estava
nada feliz. Ele sabia que a
filha tinha dormido com
Pyotr, porém, ele também
soube que Bernardo e ela
devem ter ficado juntos,
porque o loiro não estava no
próprio quarto.
CAPÍTULO 111 #capitulo111
Assim que o casal desceu de
mãos dadas, sorrindo,
Santiago queria falar
algumas coisas, porém,
Jannochka o ameaçou. Ao
olhar novamente para a filha
e o futuro genro, ele decidiu
que não valia a pena ficar
um mês sem a esposa.
“Diabos, nem um dia!”, ele
pensou e segurou a língua.
E Jannochka deu a ele a
mesma resposta que
Bernardo deu a Ekaterina:
eles não dormiram juntos.
Portanto, não poderiam ser
penalizados.
Todos pareciam
descontraídos, menos
Santiago, que não parava de
lançar olhares hostis na
direção de Bernardo. Este
percebeu, porém, não deu
importância. Ele e Ekaterina
juntos era o que ele queria e
nada nem ninguém se
colocaria no caminho.
Ninguém.
Duas semanas depois, os
Herrera chegaram e, ainda
que Máximo não quisesse ir
até a Rússia, ele não teve
como fugir dessa vez. Era o
casamento de Bernardo e
ele não perderia por nada.
Os Castillo chegaram dois
dias depois de Osvaldo e a
família, o que incluía Clara,
mas Tonny precisou ficar
para trás, como Subchefe.
No dia do casamento, pela
manhã, Samuel e Gemma
chegaram. Gavin ficou para
cuidar de assuntos que
pediam por ele. Bianca não
quis que o bebê fizesse uma
longa viagem, mas também
não queria deixá-lo para
trás. Optou por não ir.
— Nossa, a Gemma tá mais
linda ainda! — Lucas
comentou, quando ele a viu
chegando. Miguel, que
estava perto, parou a meio
caminho de beber água e
olhou em volta. — Queria
ser mais velho… Ai! Por que
me bateu?
Lucas choramingou, com a
mão atrás da cabeça,
olhando magoado para
Miguel.
— Se manca, Lucas! Acha
que ela ia dar bola pra um
fedelho como você, que nem
saiu das fraldas?
Lucas levantou a
sobrancelha.
— Olha quem fala… Você
tem dezenove, não é
grandes coisas!
— Eu sou um homem. Você,
uma criancinha. Nem tem
comparação!
Lucas estreitou os olhos para
o irmão.
— Pois eu casaria com ela!
Artur ouviu aquilo e olhou
para baixo. Miguel notou,
mas não disse nada. Ele não
constrangeria o menino,
porém, ficou ainda mais
evidente para ele o que o
mais novo dos Castillo
sentia.
Gemma avistou Miguel,
porém, ela não falou nada e
virou o rosto, como se não o
tivesse notado. O mexicano
trincou o maxilar. Ela ainda o
estava evitando!
— Vamos, precisamos ir. —
Lucas segurou o braço do
irmão. — O papai mandou
mensagem.
Miguel apenas assentiu, sem
tirar os olhos de Gemma, e
seguiu Lucas e Artur.
Ekaterina estava nervosa.
Muito nervosa. Ela se viu
naquele vestido, tão bonito,
e inspirou fundo.
— Minha filha, você está
lindíssima! — Jannochka
falou, colocando-se ao lado
da mãe.
— Só por que eu me pareço
com a senhora. — E riu.
Jannochka acompanhou.
— Eu pensei que você se
casaria um pouco mais
velha, porém, depois de
tudo, eu acho que você já é
madura o suficiente. — Ela
virou Ekaterina para ela. —
Você não está mesmo
grávida, não é?
Ekaterina balançou a cabeça.
— Bernardo e eu estamos
nos cuidando, mãe. Pode
ficar tranquila. Eu pretendo
fazer faculdade. Não vou ter
filhos, por enquanto.
Jannochka beijou os cabelos
da filha, levemente, para não
bagunçá-los.
— Você está feliz, não está?
— Mais do que pensei que
poderia ficar.
Jannochka foi até a mesinha,
onde a bolsa dela estava, e
pegou uma caixa de veludo.
Ela o levou até Ekaterina e
lhe mostrou um cordão.
— Era da sua avó. E hoje, ele
é seu, meu amor. —
Jannochka colocou o cordão
no pescoço da filha. — Eu te
amo tanto.
Jannochka sabia que
Ekaterina só ficaria feliz com
Bernardo, mas de certa
forma, ela se sentia roubada.
Passou meses pensando que
a filha estava morta e, agora,
a moça já ia se casar.
Bernardo e ela viajaram de
lua-de-mel e, depois, teriam
uma casa deles. Poderiam
sempre passar temporadas
na mansão, porém, eles
queriam privacidade, o que
Jannochka compreendia
perfeitamente.
Bernardo estava sentado, as
pernas remexendo,
enquanto ele esperava a
hora de ir para a posição
dele.
— Meu filho, fica calmo! —
Máximo pediu, colocando a
mão no ombro de Bernardo.
— Pai, e se ela disser não? E
se acontecer alguma coisa? E
se…
— Chega disso! —
Konstantin o cortou e
Bernardo apertou os olhos
para o russo. — Minha
nossa, nada vai acontecer!
Você e Ekaterina vão se
casar. E logo teremos vários
bebês de vocês pelo mundo.
— Ah, ainda é cedo pra
isso… — Santiago
empalideceu.
Konstantin deu de ombros e
bebeu do champanhe dele,
enquanto Osvaldo apenas o
observava, enquanto Pyotr
ouvia, mas nada dizia.
— Eles são jovens.
Saudáveis…
— Cala a boca, Krutov!
— Assim, eu roubo o noivo
pra mim. — Konstantin
brincou e Máximo olhou do
filho para o russo. Ele soube
do “namoro” deles.
— Não abusa. — Bernardo
torceu a boca.
Konstantin apenas riu. Ele
estava feliz. O primeiro
casamento que ele
participava, não apenas por
mera presença como
integrante da Máfia
Vermelha, mas com o
próprio Parkhan. E mais:
como amigo, convidado de
honra.
Miguel estava com Artur e
Lucas, emburrado em um
canto. Maksim e Aleksey
estavam com Yuri e Fyódor,
verificando os últimos
preparativos. Aleksey seria
parte oficialmente da
Tambovskaya em pouco
tempo.
“Depois de tudo, eu não
passo de babá!”, Miguel
pensou amargo.
Algumas mulheres chegaram
e os olhos de Lucas
brilharam. Miguel se virou e
pareceu que o mundo todo
parou. Gemma estava ali,
com o irmão, de braço dado
com ele. O vestido dela era
de mangas compridas,
porém, delineava o corpo
dela. Ele conseguia ver como
ela tinha desenvolvido, ainda
mais do que há alguns
meses.
Miguel não conseguia nem
ver o rosto de Samuel,
porque ele só conseguia
olhar para Gemma. A
maquiagem leve, os cabelos
presos em um coque
elegante, mas juvenil. O
sorriso dela… os lábios
cheios.
“Caralho…”
Clara estava praticamente ao
lado de Gemma, no entanto,
Miguel não a viu. Porém,
quando um corpo de
homem o impediu de ver
Gemma, por se colocar na
frente, Miguel franziu o
cenho. E então, ele fechou
os punhos. Aquele era Sávio
Moscatelli! Ele não tocou em
Gemma, porém, era
evidente, pela forma como
conversavam, que eles
estavam mais íntimos.
“Desgraçado!”
Um puxão o fez olhar em
volta.
— Vamos! A cerimônia vai
começar! — Lucas falou e
Miguel inspirou fundo, com
raiva.
CAPÍTULO 112 #capitulo112
Bernardo sentiu que podia
desmaiar ali mesmo. A
marcha nupcial começou a
tocar e ele sentiu o corpo
dele tremendo de emoção.
Carolina, na primeira fila,
sorriu para ele, tentando
acalmá-lo.
Konstantin estava ao lado de
Gemma e, como não
perderia uma oportunidade
daquelas, ele a olhou de
cima a baixo, discretamente.
“Porra, que gostosa!”, ele
pensou. Não, ele não seria
imbecil a ponto de falar
nada, pois tinha sido avisado
que Gemma Lowell tinha
sido prometida ao Subchefe
da Camorra. Começar uma
briga com os italianos era
cansativo. Além disso, como
bom observador, ele
percebeu que tinha
concorrência: Miguel
Herrera. “E ainda me
disseram que ele era
caidinho pela loirinha ali. Ha!
Tá bom! Ou ele é burro ou
ele se faz!”
Ekaterina apareceu e ela
estava lindíssima. Bernardo
sorriu, bobo.
“A mulher da minha vida!”,
os olhos dele encheram de
lágrimas, porque, não muito
tempo antes, ele pensou que
ela tivesse morrido e ele
jamais poderia dizer o
quanto a amava ou tentar
lutar pelo perdão dela.
“Minha Ekaterina!”
Ela se aproximou e Santiago
entregou a mão dela.
— Cuide da minha filha, ou…
— ele não completou, mas o
olhar dele era o suficiente
para que Bernardo
entendesse o recado.
— Cuidarei com a minha
vida.
A cerimônia se iniciou.
Bernardo disse o “sim”, e só
conseguiu relaxar mais
quando Ekaterina respondeu
ao padre do mesmo jeito.
— Se alguém presente
souber de alguma razão pela
qual este casal não deve se
unir no sagrado matrimônio,
fale agora ou cale-se para
sempre.
Silêncio, pelo que Bernardo
agradeceu. Ele não
aguentaria mais nada
atrapalhando a união dele
com Ekaterina.
— O noivo pode beijar a
noiva.
Bernardo levantou o véu de
Ekaterina e se aproximou
dela, aplicando um beijo
leve nos lábios dela, porém,
cochichou.
— Você não vai andar
amanhã.
Ekaterina respirou fundo e
sorriu, com a promessa.
Eles saíram da igreja com
palmas pelos convidados.
Konstantin estava quase
chorando, porque mais do
que qualquer um, ele viu de
perto como as coisas
aconteceram.
— Eles são tão lindos juntos!
— Gemma falou,
emocionada, já com o irmão
ao lado dela. Konstantin a
olhou.
— Senhorita Lowell? — Ele
perguntou e olhou para
Samuel. — Senhor Lowell.
Sou Konstantin Tchekhov.
Samuel sorriu e apertou a
mão de Konstantin.
— É um prazer, Don
Tchekhov.
Sávio se aproximou deles,
afinal, ele conhecia a fama
de Konstantin. E agora, ele
não era mais um simples
filho de Don, mas o próprio.
— Ah, senhor Moscatelli! —
Konstantin também o
cumprimentou. — É um
prazer conhecer vocês.
— O prazer é meu. — Sávio
respondeu.
— Soube que vão se casar?
— Ele perguntou e Sávio
abriu um sorriso. — Meus
parabéns. Vocês formam um
belo casal.
Miguel ouviu, porque
Konstantin fez questão de
falar alto o suficiente.
— Obrigado! — Sávio
agradeceu e os três
desceram as escadarias, em
direção aos próprios carros.
Konstantin permitiu que eles
fossem na frente e se
aproximou mais de Miguel,
que estava fumegando.
— Eu posso ver a fumaça em
cima da sua cabeça. — O
loiro comentou e Miguel
olhou feio para ele. — Quer
carona?
Miguel segurou a língua para
não responder feio, afinal,
Konstantin era um Don. Ele
deveria respeitá-lo, já que
não eram íntimos.
— Não, obrigado. — Miguel
respondeu com um sorriso
falso.
— Sabe, até que haja uma
cerimônia de noivado oficial,
o compromisso ainda pode
ser contornado.
E, com isso, Konstantin se
foi, entrando no carro e
dando partida em direção ao
local da festa, que não seria
na Mansão Sigayev, por
segurança. Havia muitos
“desconhecidos” ali. Miguel
ficou ali parado, ainda com
raiva.
Como sinal de boa vontade,
Tiziano e a irmã
compareceram, bem como
Leonardo Grasso e Anton
Kravtsov. Os japoneses
mandaram os
cumprimentos.
Leontina estava quieta,
olhando ao redor. Ela não
gostava muito de festas,
principalmente com pessoas
que ela não conhecia. Por
ainda ser nova, dificilmente
participava desse tipo de
evento, porém, Ildebrando
não pôde ir. Mandou Tiziano
e, achou que seria uma boa
oportunidade para que a
filha fosse vista. Em alguns
anos ela poderia firmar
compromissos e, claro, ele
soube do filho mais novo
dos Herrera, além de
Konstantin, Pyotr e Aleksey.
Maksim ele sabia que era
perda de tempo.
Ao ver Artur e Lucas, ela
sorriu. Não era a única
“nova” ali. Porém, eles eram
meninos e ela não poderia
se aproximar deles. Tiziano
estava conversando com
outros adultos e ela se
sentiu extremamente
deslocada.
— Vamos falar com ela? —
Artur perguntou, mas Lucas
negou com a cabeça. — Por
quê? Ela parece tão sozinha!
— Ela é filha do Don da
‘Ndrangheta. Papai falou que
devemos ficar longe deles.
São piores que os caras da
Cosa Nostra. — Lucas
observou a moça. — Se a
gente for lá, é capaz do
irmão dela me fazer casar
com ela! É bonita, mas… Não
quero casar com uma arma
na minha cabeça!
— Você estava falando que
casaria com a Gemma! —
Artur o acusou.
— É diferente… a gente
conhece a Gemma. E a
família dela. Os Chiarello são
ruins. Coitada dela.
Gemma estava passando e
Artur se colocou na frente.
— Oi, Artur! Lucas!
— Gemma, olha… — Artur
apontou de leve para
Leontina. — A gente não
pode falar com ela. Você é
menina. Você pode.
Gemma compreendeu o que
o menino queria dizer. Ela
piscou.
— Deixa comigo!
Os meninos viram quando
Gemma se aproximou de
Leontina, ofereceu
refrigerante e a convidou
para andar. Leontina foi até
Tiziano, que olhou para
Gemma e permitiu.
Após alguns minutos,
Gemma já parecia a melhor
amiga da Leontina.
Konstantin observava as
duas e sorriu. Ele sabia o
quanto Leontina era sozinha.
Miguel estava saindo de um
dos corredores e o olhar
dele se cruzou com o de
Gemma. Ela tentou ignorar,
porém, ele se aproximou
delas.
— Senhorita Chiarello, se
importa de aguardar aqui
um momento? Eu preciso
falar algo muito importante
com a senhorita Lowell. —
Gemma queria bater nele.
— Miguel…
— Senhorita Chiarello?
Leontina apenas assentiu.
Ela ficou mais próxima à
parede.
Pyotr, que estava irritado e
triste, decepcionado por não
poder ver o casamento da
irmã, se afastou um pouco.
Ele evitava andar com a guia,
porém, não tinha muito o
que ele pudesse fazer. Indo
por perto das paredes, ele
foi se afastando do
aglomerado de pessoas e,
então, acabou esbarrando
em Leontina.
— Oh! — Ela foi ao chão, já
que não esperava. Pyotr
ouviu o baque e estendeu a
mão.
— Desculpe! — Ele falou.
Leontina colocou a mão na
dele, aceitando a ajuda. Ela
se sentiu mais tímida,
admirando o rosto do rapaz
na frente dela. — Você está
bem?
Ele sabia que era mulher,
pois o “oh” foi o suficiente.
— S-sim. — O cenho dele
franziu. — Obrigada.
— Nós nos conhecemos? —
Ele perguntou.
— Não.
— Tem certeza? A sua voz…
— Absoluta! — Ela
respondeu, dando um passo
para longe. — Eu vou… eu
vou atrás do meu irmão.
Com licença!
— Calma! Qual o seu nome?
— Com licença.
— Duvido que seja esse. —
Pyotr amaldiçoou não poder
ver, ou teria segurado a
moça ali. — Eu sou Pyotr.
Pyotr Sigayev!
— Até mais, senhor Sigayev.
E Leontina saiu dali
rapidamente.
— Mas que diabos? — Pyotr
perguntou baixinho.
Enquanto isso, Miguel levou
Gemma para um corredor
mais escuro.
— Miguel, o que pensa que
está fazendo? — Ele a
empurrou em direção à
parede, mas não para
machucá-la. Gemma apoiou
as mãos ali e se virou,
porém, Miguel estava
próximo, e colocou um braço
de cada lado dela,
prendendo-a ali. — Miguel?
— Você tem me ignorado! —
Ele quase rosnou e Gemma
franziu o cenho, olhando por
cima do braço dele.
— Miguel, é melhor você se
afastar.
— Medo do seu noivo te ver
aqui, nos meus braços?
Ela o empurrou com aquilo.
— Ficou maluco? Não estou
nos seus braços! Seu
abusado!
— Não?
— Não! — Miguel se
aproximou ainda mais dela,
se colando em Gemma, que
abriu a boca, as bochechas
ficando vermelhas
imediatamente. — MMiguel… por favor.
— Você aceitou casar com
aquele idiota só pra me
irritar, não é?
Gemma soltou uma risada.
— Você só pode tá de
brincadeira! Eu aceitei casar
com Sávio porque ele é leal,
um homem de hon…!
Miguel a beijou. Ele não ia
ficar ouvindo Gemma
tecendo elogios para Sávio
Moscatelli! Ainda mais
quando eles estavam
sozinhos ali. Miguel apertou
o seio de Gemma por cima
do vestido e beijou o
pescoço dela, porém, ele se
lembrou que aquilo era
errado. Aquilo estragaria
tudo! A soltou e deu dois
passos para trás.
— Então volte pro seu noivo!
FIM

Rolar para cima