// LIVRO

A Secretaria e o CEO

A Secretária e o CEO

Romance, humor e um desejo incontrolável entre os protagonistas. Telma Lisboa é uma secretária executiva que vem amargando meses sem emprego. Nick Paes é um dos CEOs mais poderosos do país e depois de três processos de assédio sexual contra exsecretárias, assédio que ele garante não ter cometido, ele faz uma exigência nada convencional para a próxima pessoa a ocupar o cargo. Quando vê a proposta e a exigência, Telma não mede esforços para se qualificar para a vaga e faz a maior loucura da sua vida. A partir daí é só comédia e um desejo avassalador crescendo entre eles.

Capítulo 1
Nick
– Eu juro, Henrique. Eu não toquei nela. – Garanto pela milésima
vez.
– Estou cansado de ter que viajar até aqui para te livrar de
problemas. – Henrique reclama. E com razão. Em apenas seis
meses eu tive que enfrentar três processos de assédio. Mas o que
ele não acredita é que eu. Não. Tenho. Culpa. E realmente não
tenho. Sou mulherengo, admito. Mas jamais daria em cima de uma
funcionária. Só que ele é meu advogado e mora a poucas horas de
distância de mim. Então viajar aqui para resolver problema de
assédio pela terceira vez o deixou muito zangado. No lugar dele eu
também ficaria. E agora eu também estou zangado, porque estou
sendo acusado de assédio e não passei a mão na bunda de
ninguém.
– Eu já disse, Henrique. Eu não tenho culpa. São acusações falsas.
– Ok. Então me conte mais uma vez desde o princípio, porque eu
conversei com o Horácio e estamos inclinados a não ser mais seus
advogados. Você nos dá muita dor de cabeça. – Henrique senta na
cadeira à minha frente abrindo o botão do terno azul marinho o
empurrando pra trás. Já conheço meu advogado, esse é um dos
seus gestos típicos de impaciência.
– Vocês não podem deixar de ser meus advogados. São os
melhores do país.
– E você nos dá trabalho por cinco, como nenhum outro no país. Por
Deus homem, como você recebe três processos por assédio em tão
pouco tempo? Não é só livrar sua cara. Suas ações estão caindo.
Daqui a pouco ninguém vai comprar suas peças náuticas.
– Vou explicar. Eu nunca assediei nenhuma das minhas assistentes
pessoais. Eu tenho muitos negócios, não consigo cuidar de tudo só
com a secretária na empresa. Tenho viagens pelo país, jantares
para agendar, outros para cancelar. Enfim, você conhece minha
rotina, ajuda a cuidar dos meus negócios. Então tenho que ter uma
assistente pessoal, mas devido a proximidade elas acabam
confundindo tudo.
– Você nos dá tanto trabalho que seria necessário um escritório aqui
em Santa Bravinha para dar de conta de todas as suas
atrapalhadas. – Henrique reclama. Não seria má ideia. – Só das
suas. – Ele pontua está parte.
– Vamos dar uma volta. Você precisa respirar o ar puro de Santa
Bravinha, passa tempo demais na Capital. Na avenida principal
agora tem uma feira de artesanato. Artistas de várias cidades
próximas vêm vender seus produtos. Vamos dar uma olhada, tomar
um sorvete gostoso e então você vai me dar razão. Já provou um
verdadeiro GutiBom? É feito aqui em Santa Bravinha. – Henrique
finalmente cede e vamos dar uma volta. Eu sei que estou dando
mais trabalho que o normal, mas sou inocente, embora não pareça.
E vou provar. Você pensa o que? Que sou do tipo de CEO que olho
pra minha secretaria e digo: E aí gata, estou pensando em você no
meu pau, rebolando a bunda, enquanto te dou um grau? Jamais.
– Vou ser sincero Nick, só podemos continuar sendo seus
advogados se for honesto conosco. Não importa que minta para o
mundo, mas não o pode fazer para o Horácio e eu. – Henrique diz
mais calmo provando um suco gelado da GutiBom. Ninguém resiste
a um GutiBom.
– Juro. Nunca assediei nenhuma dessas malucas. Você sabe que
meu trabalho é minha vida. Meu escritório é meu santuário. Então
embora eu tenha achado minhas últimas secretárias muito gostosas,
não tive nada com nenhuma delas. Se você se envolve com uma
funcionária ela acaba achando que pode receber privilégios
especiais ou simplesmente pode causar ciúmes nas outras. Quando
deram em cima de mim e foram advertidas, insistiram. Acabaram
sendo demitidas. Quando a última resolveu me processar, as
anteriores se animaram e acharam a ideia muito boa. O resto você
já sabe.
– A avalanche de processo e a queda das ações. – Ele diz
apreciando o mar.
– Isso mesmo. – Suspiro e ficamos um pouco em silêncio. – Vem,
vamos olhar a feira dos artesãos. – Atravessamos a rua de asfalto e
começamos a apreciar o trabalho dos artistas.
– Esse quadro é muito bonito. – Henrique diz admirando a paisagem
mais linda daqui de Santa Bravinha pintada numa tela. O mar com
as montanhas ao fundo, visão do píer da cidade.
– Boa tarde, mocinha! De que é feita essa pintura? – Henrique
pergunta para a moça que nos atende sorrindo.
– Boa tarde senhor! Sou a Carmela. Essa pintura é óleo sobre tela.
Uso material profissional, então garanto que não vai desbotar
durante muitos anos ou décadas. – Ela diz nos olhando engraçado,
acho que já usou óculos, porque olha de baixo pra cima.
– Gostei desse. Vou levar. – Henrique diz. Ele paga a jovem e
saímos com seu quadro até o carro que ele alugou na
Concessionária Autorizada Peep, logo que chegou.
– Vai colocar em seu escritório?
– Não. Vou dar para minha namorada. Roberta admira arte e lembrei
dela. – Henrique diz.
– Que menino apaixonado. – Zombei.
– Zomba de novo e te faço mofar na prisão por assédio.
– Juro que parei. Mas então, acha que revertemos tudo isso?
– Sim. Mas não contrate mais mulheres com hormônios saltando
pelos poros. Por favor.
– Isso me deu uma boa ideia.
– O que? – Ele franze a testa.
– Deixa pra lá. Mas juro que é algo bom. Que vai me deixar longe de
problemas. – Garanto.
– Ótimo. Agora preciso ir. A Roberta tinha uma reunião numa cidade
aqui próximo e ficamos de nos encontrar naquele restaurante na
entrada de Gravetinhos. Amanhã cedo voltamos juntos para a
Capital.
– Ok! Aguardo orientação e informações de vocês quanto aos
processos. – Ele sai me deixando sozinho com meus pensamentos.
Suspiro olhando para o prédio magnífico em que trabalho. Ele é
meu, caso não saiba.
Santa Bravinha tinha tudo para ser uma cidade de turismo religioso,
mas não é. A história começou quando marinheiros encontraram no
mar uma santa com cara de brava. Falo sério, a santa tem os olhos
franzidos e beicinho emburrado e tudo. Eles a veneraram e a
chamaram de Santa Bravinha. Enfrentaram muitos perigos no mar
antes de voltar para casa e pediram a ajuda da santa com cara de
brava. Segundo eles, ela os protegeu. Quando retornaram,
colocaram a santa num altar e informaram a todos que seu nome
era Santa Bravinha e que protegeria o vilarejo com todo o seu poder
de acalmar mares tão bravos quanto sua carranca. Fizeram uma
capela para ela que depois se transformou em igreja. O vilarejo
cresceu e tornou-se uma grande cidade turística. Dizem que a santa
é tão poderosa e humilde que não quis destaque, impedindo que a
cidade se tornasse famosa por causa dela. Mas enalteceu e
engrandeceu o lugar de onde a tiraram, o mar. Então, segundo os
moradores contam, foi a Santa Bravinha que transformou a cidade
que leva seu nome, numa grande cidade turística devido ao mar.
Santa Bravinha tem um lindo porto e atrai muitos navios. Sua vista
para o oceano faz nossa cidade ser cobiçada e visitada. Eu não
perdi tempo, montei minha empresa de peças náuticas e ganho
fortunas com ela. Mas meu mundo ruiu quando eu contratei a
delícia. Que pernas aquelas. Eu sabia o que ela queria e meu garoto
no meio das minhas pernas também queria a funcionária delícia.
Mas eu não me envolvo com ninguém do trabalho. Sou mulherengo,
não nego. Mas daquela porta pra lá sou apenas Nicolas Paes,
grande empresário na área de produtos náuticos do país. Jamais
lamberia as pernas da funcionária delícia, como ela me acusou, nem
enfiaria minha cabeça nos peitos da funcionária peito de melão, que
também me acusou. Não assedio mulheres. Levo de bom grado
todas para minha cama, desde que não trabalhem para mim. Mas já
sei o que vou fazer para ter uma assistente. O Henrique me deu a
ideia perfeita.
Capítulo 2
Telma
Passo mais um dia em vão procurando emprego. Do que adianta
estudar feito uma mula (mulas estudam?) e se formar, se tudo que
me oferecem é trabalho que não precisa de faculdade pra se
executar? Inferno. E eu bem idiota sempre fui boa aluna. Merda.
Deveria ter aproveitado melhor a vida. Maldição. Agora pra piorar
tudo, tenho sido assolada por uma epidemia de casamentos. Todas
as filhas das amigas de minha mãe estão casando. Então, pela
regra estúpida das mulheres mais velhas, está na hora de casar
também ou vou ficar para titia. Que praga de mundo miserável e
injusto é esse? Eu só queria me formar e encontrar um emprego na
área que eu escolhi, secretária executiva. Me formei. E daí?
Ninguém me dá um emprego.
– Que cara é essa? – Leila, minha melhor amiga desde que me
mudei de Gravetinhos para Santa Bravinha, me pergunta quando
chego na concessionária autorizada Peep onde ela trabalha.
– O de sempre, não consegui emprego. E pra completar estou
sofrendo uma epidemia de casamentos.
– Como assim? – Ela pergunta pacientemente.
– Liguei para a mamãe, como boa filha que tento ser, apesar dela
me dificultar isso, e ela reclama que não casei ainda, mas a filha de
fulaninha e a filha de cicraninha e mais a filha de não sei quem
coisinha casaram e eu já estou mais do que na hora de casar
também. – Desabafo.
– Vem, vou apenas guardar minhas coisas, já acabou meu
expediente. Vamos para o bar da Natasha beber alguma coisa para
relaxar.
– Não quero relaxar. Quero um emprego. – Choramingo.
– Tem várias oportunidades de emprego aqui na cidade, na
concessionária mesmo já te ofereceram. Basta aceitar uma delas.
– Me formei para ser secretária executiva. Quero estar com os
grandões, agendar reuniões, viajar a negócios, conhecer detalhes
de transações importantes entre grandes empresários. Ser a mulher
de confiança por trás dos grandes homens dos negócios. Você
sabe, aquele lance dos livros de ser a mulher por trás de um
poderoso CEO. – Sério! Nunca pensei em fazer outra coisa na
minha vida. Desde criança que pensei em ser uma executiva.
Estudei pra isso. Não vou mudar o foco.
– Wow minha amiga. Você vai conseguir. Tenho certeza. – Leila me
consola me levando pelo braço enquanto descemos a avenida
principal, damos a volta no shopping ao ar livre da cidade e
chegamos ao grande calçadão de frente para o mar, onde tem uma
sequência de bares. A Natasha se mudou para a cidade a pouco
mais de um mês e abriu seu bar que já elegemos como o melhor
daqui. Até karaokê ela colocou nas noites de quarta!
– O que vão querer, meninas? – O garçom pergunta logo que
chegamos. O atendimento aqui é fantástico.
– Eu vou querer um drink de abacaxi com coco e sem álcool. – Leila
pede.
– Já eu quero um coquetel de frutas. Com álcool. Com muito álcool,
por favor. Com todo o álcool da casa. – Peço. O garçom sorri e nos
deixa sozinhas.
– Você está sendo muito melodramática. – Leila me acusa.
– Não estou, caramba. Só quero meu emprego para a área que eu
estudei. Ou de que mais teria me servido os anos de faculdade?
– Tem razão. – Leila me responde.
– Você está triste. Nem está discordando muito de mim. O que
houve? – Já a conheço suficiente para perceber.
– Não estou mais saindo com o Travis. – Ela desabafa de uma vez.
– Sinto muito. O que aconteceu?
– Não sei. Achava que tudo estava indo bem. E depois… nada.
– Nada de nada? – Pergunto perplexa.
– Isso mesmo. Nada de nada.
– Te proíbo de se humilhar por homem. Te dou chibatadas públicas
se souber que foi atrás dele. – Digo e a minha amiga ri.
– Quem falou em se humilhar? Nem tenho tempo para isso, mesmo
que quisesse. Tenho coisas mais importantes para fazer do que
pensar em homem agora. Tenho minha irmã que precisa de
cuidados especiais.
– Tem razão. Como ela está? – Pergunto. A irmã da Leila foi
diagnosticada com um problema grave no coração. É tão jovem e
agora sua vida está cheia de regras e restrições. E isso acabou
abalando e mudando a vida de toda a família. Ainda bem que eles
são bem unidos e se apoiam. Mas isso não torna o fardo de minha
amiga mais leve.
– Está bem, na medida do possível. O que dói é saber que essa
situação não vai mudar. Que ela vai viver sempre assim, cheia de
restrições, seja alimentar, de atividades, de emoções. Sem contar
que o tratamento é caro. – Ela suspira e seguro sua mão.
– Desculpa. E eu aqui choramingando sem parar por minha busca
por emprego.
– Cada um tem suas próprias dores e a de alguém não diminui a do
outro. Você precisa de emprego, logo suas reservas acabam.
– Isso é verdade. Mas não vamos mais falar sobre isso. Meu único
problema é minha obstinação por querer um emprego na área que
me formei. Vamos falar sobre você agora. – Declarei. E embora
saiba que minha amiga está soterrada de problemas, ela se nega a
ficar contando nos dedos sobre eles. Em vez disso conversamos
coisas corriqueiras mesmo e procuramos rir de bobagens.
– Assistiu o novo filme do Rom Tanks? – Perguntei.
– Não. Nosso maravilhoso ator morredor? – Realmente nunca vimos
um ator pra morrer tanto nos filmes. Aliás, ele morre em todos. – O
último que vi foi aquele que o avião caiu numa ilha deserta e ele foi
comido por um tubarão quando ia ser resgatado pelo navio
cargueiro.
– Que nada. Já tem outro depois desse. – Digo empolgada.
– E qual é? Já está na Letflix?
– Sim. Entrou ontem no Streaming. Nesse ele fica preso num
aeroporto. – Digo.
– E como ele morre? – Leila pergunta animada.
– Claro que não vou te contar. Precisa assistir. – Digo e ainda
conversamos muito sobre filmes.
Na manhã seguinte fiz o que sempre faço. Me arrumei e saí para
procurar emprego. Bem cedo. É isso mesmo. Fiz da busca por um
emprego o meu emprego. Só descanso em paz quando conseguir.
Ah! Pelo amor de Deus, descansar em paz não quer dizer que quero
morrer. Você entende, não é? Porque eu não quero morrer. Me nego
a morrer sem realizar meu sonho de ser uma secretária executiva.
– Bom dia, seu Tomás! – Cumprimento o sorveteiro mais famoso da
nossa principal avenida quando me aproximo já na hora do almoço,
depois de ter rodado a cidade inteira. Metade. A outra metade da
cidade vou a tarde.
– Bom dia, menina! Quer um sorvete?
– Um picolé GutiBom, por favor. De cajá. – Peço fazendo uma careta
por causa do sol em meu rosto. Enquanto ele pega meu picolé,
mudo de cadeira para fugir do sol bem no meio da minha cara.
– Como está sua busca por emprego? – Seu Tomás me pergunta.
Sempre venho aqui e já nos tornamos conhecidos um do outro.
– Na mesma. Não consegui nada até agora.
– Paciência é nossa maior virtude. Você vai conseguir. – Ele decreta
com garantia.
– Que um anjo tenha passado agora mesmo e diga amém. –
Respondo sorrindo.
– Amém. – Seu Tomás e eu olhamos instintivamente na direção do
amém. Um homem moreno, de barba eroticamente rala e de terno
cinza, queria dizer que ele está impecável, mas o cabelo está
excitantemente bagunçado e a gravata meio frouxa. Seu dia não
deve estar sendo bom, ele usa roupa muito cara para ficar assim tão
desleixado. Mas vamos voltar para a conversa dele no telefone. Foi
breve e não tinha nada de mais, porém chamou minha atenção.
Chamou foi o caramba. O que chamou minha atenção é o fato dele
ser lindo, forte, sexy, sensual, arrebatador e… eu devo estar com
insolação.
– Amém. Eu sabia Horácio. Elas também. Não fiz nada, não tinham
provas contra mim. Ainda preciso comparecer a alguma audiência
ou você e o Henrique resolvem? – Uma pausa para escutar quem
está do outro lado da linha. – Ok então. Fico aguardando.
– Bom dia, seu Tomás. – Ele vem até a barraca de sorvete depois
que desliga o telefone. Não tiro os olhos dele, é lindo pra caramba,
mas nem me vê. Quem veria uma louca cansada e descabelada?
Mas estou de terninho. Ele também. Gostoso.
– Bom dia, seu Nicolas. O que deseja?
– Um sorvete GutiBom de tamarindo, para lembrar que tem algo
mais azedo que minha vida esses dias. – Ele responde e seu Tomás
ri alto.
– Vocês jovens são muito dramáticos. Na sua idade eu já era casado
e com quatro filhos. Não tinha tempo para fazer drama, senão meus
filhos morriam de fome.
– Não sou casado seu Tomás, muito menos tenho filho. E se quer
saber, tenho alergia a criança e a casamento. – O tal Nicolas
responde. Finjo nem estar ali, continuo o admirando. Tenho certeza
que seu terno é feito sob medida, porque mostra seu peito
musculoso. Ele pega seu sorvete de tamarindo mais amargo que
sua vida e sai. Entra no lindo edifício de três andares cor pêssego a
nossa frente mais à direita e só depois que o homem mega blaster
de lindo, porém desarrumado e de vida quase tão azeda quanto
tamarindo some de minha vista, que me volto para o sorveteiro.
– Quem é, seu Tomás? – Pergunto dando uma lambida no meu
picolé que já está derretendo.
– Nicolas Paes. Dono dessa empresa aí. Vocês hoje chamam CEO
de uma empresa de peças náuticas. Eu digo que ele é o dono da
fábrica de peças pra barcos e navios da cidade. – Sorrio.
– Nunca ouvi falar. – Sou sincera.
– Ele não gosta de aparecer como dono daí não. É um homem
simples, simpático. Mas é jovem, como todo jovem, faz jovenzice.
Acho que por isso não gosta de aparecer. Mas é gente boa e muito
trabalhador. – Explica.
– Ah! – É tudo que expresso e termino meu sorvete. Quando me
levanto para jogar meu lenço e potinho fora, dois rapazes se
aproximam e sua conversa me chama atenção. É claro que eu
reparei, eu reparo em tudo. Vai me dizer que nunca reparou na
conversa dos outros? Me poupe. E nunca se desesperou quando as
pessoas foram embora e você não soube o final da história? Me
poupe de novo. É terrível. Você precisa criar vários finais para
aquela história. Eu prefiro os mais dramáticos possíveis. Mas vamos
lá. Quero ouvir a conversa dos rapazes.
– Tinha tanta esperança nesse emprego. – Cara de fuinha número 1
diz. Que foi? Não sei o nome deles, precisava distinguir cada um.
– Ah cara. Cai fora. Você arruma coisa melhor. – Cara de fuinha
número 2 consola. Parece até a Leila me consolando.
– Mas o salário é muito bom, altíssimo. Nunca fui assistente pessoal
de um CEO e acho que a experiência seria boa. O que me pegou foi
eu não saber inglês fluente. – Fuinha 1 responde.
– Eu sei. – Cuspo as palavras sem pensar. Os dois me olham.
– Desculpa. Não deu pra não ouvir. – Mentirosa. Voltei todos os
sentidos para a conversa dos dois. Só me entreguei quando falaram
em assistente de CEO. Me formei pra isso, cacete.
– Nem adianta tentar. A vaga é apenas para homens. – Fuinha 2 me
informa.
– O que? – Praticamente grito na rua. Isso é muito preconceito.
– Olha aqui. Pode ficar com o jornal, não conseguimos a vaga
mesmo. O homem é muito exigente. – Ele me estende o jornal.
– Obrigada. Vou olhar por curiosidade, então.
Capítulo 3
Telma
Me afasto da sorveteria de seu Tomás e sento num banco de pedra
olhando o jornal que os fuinhas me deram, procurando o anúncio
preconceituoso.
– Cachorro miserável esse CEO. – Penso em voz alta e me
arrependo, tudo hoje dá processo, eu hein!!! Mas começo a ler o
anúncio. Eu me enquadro em todos os requisitos.
√ Sou fluente em inglês.
√ Sou boa em redigir discursos.
√ Sei fazer bom uso do computador e internet. Sei até criar
programas, se ele me quisesse!
√ Sei agir com discrição e não falar dos assuntos da empresa.
√ Sei administrar uma agenda.
√ Saber lidar com o público. – Paro e penso. Eu sei lidar com o
público, muito bem. Sei ser simpática e se ele quiser, sei até mentir.
Minto muito bem.
√ Estar disponível para viajar. – Estou, não fui afetada pela epidemia
de casamentos. Então estou livre.
√ Vagas disponíveis apenas para pessoas do sexo masculino.
Filho da mãe miserável. Saiba que esse foi o melhor dos nomes que
praguejei em voz baixa contra esse imbecil. Tá que esse tal de
Nicolas é lindo, mas é um cachorro preconceituoso. Eu me
enquadro no emprego. Estou qualificada para a vaga, exceto pelo
fato de não ter um pinto no meio das pernas. Jogo o jornal no chão
e cruzo uma perna na outra irada. Apanho o jornal e releio tudo. Eu
quero essa vaga. Eu preciso dessa vaga. Mais do que precisar, eu
quero provar pra esse fuleiro machista que uma mulher tem cérebro
para fazer tudo isso. Já odiei esse homem. Acabei de esquecer que
é lindo. Mas detesto homens preconceituosos que acham que só
outro homem é capaz de fazer determinado trabalho. Toda mulher é
capaz de fazer o trabalho de uma mulher e de um homem melhor
que o próprio homem. Somos seres superiores.
À noite vou direto no apartamento da Leila e mostro para ela com
toda a minha indignação o anúncio antifeminista.
– Por que será que ele só quer contratar homem? – Leila pergunta
tirando a maquiagem do dia diante do espelho do seu quarto.
– Preconceito. Só pode ser. – Respondo logo.
– Talvez ele tenha algum motivo. – Ela dá de ombros.
– Não vejo. Só sei que essa vaga deveria ser minha. – Reclamo.
– Concordo. Você é mais do que capaz de fazer tudo isso. Mas você
não é homem, então não se enquadra na vaga.
– É o que veremos. – Saio de lá e ela não recebe notícias minhas
até a noite seguinte.
(⌐■-■) (⌐■-■) (⌐■-■)
Toc toc.
A porta do apartamento da Leila se abre.
– Pois não?
– Gostaria de falar com a Telma.
– Ela não está aqui. Não a vi hoje. – A Leila responde e eu ergo a
cabeça.
– Ai meu Deus! O que você fez? – Ela pergunta num misto de
desespero e surpresa.
– Vou me candidatar a vaga de assistente do CEO.
– Ficou louca? Você vai é ser presa, isso sim. – Ela reclama me
observando entrar em sua casa de calça jeans masculina e camisa
de homem. Estou de boné, então ela ainda nem viu meu cabelo.
Tirei o boné. Tharam.
– Ai meu Deus! O que você fez com seu cabelo? – Ele pergunta e
sua voz parece mais um choro.
– Cortei igual a cabelo de homem. – Digo passando a mão nele. Tá
curtinho, curtinho.
– Não, não, não. Seu cabelo era tão lindo, quase na cintura. – Ela
choraminga. Fazia anos que não cortava meu cabelo. Era enorme
mesmo. Quando saia com os caras eles costumavam enrolar a mão
nos meus cabelos para que eu erguesse a cabeça para ser beijada.
Mas isso é passado.
– É só cabelo. – Rebato.
– Por que você fez uma loucura dessa? – Ela pergunta desesperada.
– Já disse. Vou me candidatar a vaga de assistente.
– É. Para. Homem. – Ela fala pausadamente.
– Vai dizer que não te enganei?
– É diferente, Telma. Como você vai enganar o homem por tanto
tempo? E seus documentos? – Ela cai no sofá.
– Será temporário. Nas minhas folgas vou continuar procurando
emprego, mas eu precisava de algo agora. Minhas economias estão
acabando. E o mais importante, esse imbecil deve achar que as
mulheres não têm cérebro. E eu vou provar que temos.
– E seus documentos? – Ela pergunta mais uma vez.
– Meu primo. Ele vai trazer já já.
– Quem? – Olhos arregalados da Leila.
TOC TOC TOC
– Eita. Deve ser ele. Parece até coisa de cinema. Me arrepiei, ó!! –
Digo e corro até a porta.
– Pois não! Com quem deseja falar? – Pergunto engrossando a voz.
– A Telma me deu esse endereço. Trouxe umas coisas importantes.
– Meu primo explica.
– Tharam. – Tiro o boné e abro os braços.
– Telma. É você?
– Sim. Entra cara. – Digo imitando um homem.
– Por que você quer ser homem? – Ele pergunta. – Não sabia que
tinha mudado de escolha sexual. – Ele diz me avaliando. A Leila
solta a maior risada chamando nossa atenção.
– Ah, desculpa. Podem fingir que nem estou aqui. Fiquem a vontade.
A conversa entre primos está bem interessante. – Ela diz rindo.
– Não mudei de escolha sexual. Continuo sendo mulher, mas preciso
fingir que sou homem. Só isso. E por um tempo limitado. – Me
defendo.
– Caraca! E eu que achava que era o lado negro da família. Você é
perturbada, mulher. – Ele diz.
– Tá! Trouxe o que pedi?
– Aqui. – Fernando me entrega o envelope.
– O que é isso? – Leila pergunta curiosa.
– Meus documentos como homem e meu currículo. Esse é meu
mesmo, mas como se eu fosse Téo.
– Ai. Meu. Deus. Você vai ser presa. – Leila me alerta.
– Vou nada. Esse emprego é só até encontrar outro. Mas preciso
desse. – Se tornou algo pessoal.
– Se for presa, mulher, não te conheço. Nego até se você for pra
forca. – Fernando diz.
– Não serei. Mas me diz, como estou de homem? – Pergunto e a
Leila solta um gemido.
– Deixa eu ver. Caminha. – Fernando manda. Abro os braços e imito
andar como homem. Ele me avalia com um braço preso ao corpo e
o outro apoiado nele e no queixo.
– Não, não. Saca só, homem precisa de espaço. Então abra mais as
pernas e os braços. Também relaxa esses ombros. Olha o gingado.
– Ele anda pela sala e me orienta e faço como ele me disse.
– E então? – Pergunto ansiosa.
– Você está demais. Tenho orgulho de você como homem, minha
prima. – Outra gargalhada da Leila.
– Desculpem de novo. Continuem. Finjam que não estou aqui. – Ela
diz mordendo os lábios para reprimir o riso.
– Agora só falta o principal. – Fernando diz.
– O que?
– Coçar o saco. – Ele diz num sorriso atravessado.
– Cristo amado. Isso não. – Rogo.
– Isso sim. Todo homem coça o saco. – Fernando diz.
– Nem todos. – Rebato mais uma vez.
– Eu sou homem desde que nasci. Você se tornou homem agora,
não tem experiência. Acredite, todo homem coça. Alguns são mais
discretos, mas todos coçam. – Fernando diz e percebo a Leila
segurando o riso. Olho para ela como quem pergunta se é verdade
mesmo essa história que todo homem se coça. Ela dá de ombros.
– Tá. Pois vamos lá. O que tenho que fazer para parecer mais
homem? – Me rendo. O Fernando é mesmo homem a muito mais
tempo que eu. Ele desde que nasceu e eu apenas há algumas
horas.
– Todo homem faz assim. – Ele abre a perna e se coça. – Sua vez. –
Inspiro fundo.
– Tá. – Abro as pernas relaxada e me coço.
– Orgulho de você, priminha. – Ele me dá um tapinha camarada de
homem nas costas.
– Ah! Espera. Tive uma ideia. – Corro até o quarto da Leila e volto
com duas meias bem enroladas dentro de outra meia e coloco
dentro do jeans. Os dois olham admirados para o meu recém
conquistado pinto.
– Seu pinto ficou maior que o meu. Por que eu nunca pensei nisso?
– Fernando olha admirado comparando nossos pintos, depois dá
uma piscada pra Leila. Quem diria! A que ponto eu cheguei em
busca de um emprego. Mas esse trabalho é importante pra mim. Vai
provar para mim mesma que sou capaz e me dar a satisfação
interna de fazer um trabalho tão bom como se fosse um homem.
– Pode roubar minha ideia. Você me ajudou muito. Obrigada primo
querido. – Ele solta uma risada alta. Meu primo é lindo. Alto,
moreno, de cabelo cheio e peito musculoso. Nunca entendi direito o
trabalho dele. Sempre me diz que é um bandidinho mequetrefe, mas
as vezes acho que ele diz isso só pra me proteger. Deve fazer
coisas bem mais obscuras.
– Não me conhece tá. Nunca me viu. – Ele ressalta.
– Sim. Pode deixar. – Quando fecho a porta e me viro a Leila está
em pé e de braços cruzados na minha frente.
– Agora pode me explicar essa loucura?
– Essa é a oportunidade da minha vida. Se eu conseguir esse
emprego terei provado que sou capaz, que tudo que eu estudei
valeu a pena. Sei que é arriscado, por isso vou continuar
procurando outro emprego, mas com mais calma. Estudei sobre a
empresa, Nautiquipaes. Eles estão entre as maiores do país.
Imagina quanta experiência vou ganhar. – Arrazoo com ela que me
responde com um suspiro.
– Sabe que não compactuo com isso. – Me aponta o dedo.
– Sei. Mas se precisar me sair de alguma situação, direi que tenho
uma namorada. E ela se chama Leila.
– Criador amado. Você bateu a cabeça, só pode ter sido.
– Gostou do meu pinto?
– Não. Prefiro meu vibrador. – Leila desdenha.
– Bem, minha gatinha, vou pra casa me preparar para a entrevista
de amanhã. – Falo engrossando a voz e imitando andar de homem.
Faço um carinho no queixo da Leila que me olha de olho arregalado,
o máximo que ela consegue arregalar.
– Você está me assustando. – Ela diz.
– Assuste-se mesmo, benzinho. Eu tenho pinto.
– Ah! Me faça o favor, Telma. Grande pinto esse seu, não vai fazer
Piu Piu nunca. E outra coisa, onde estão seus seios? – Ela pergunta
me analisando.
– Ah! Esse foi o mais fácil. Sabe que tenho seios pequenos, então
comprei alguns tops da roupe um número menor que uso e eles
ficarem bem apertadinhos, olha! – Levanto a camisa masculina. É
um pouco desconfortável e as vezes me falta fôlego, mas vale a
pena.
– Eu sabia que você era maluca, mas jamais imaginei que iria tão
longe. Garanto que quando for presa não irei a todas as visitas.
Fique certa disso. – Ela diz indo em direção a seu quarto.
– Não serei presa.
Pouco depois saio de lá na minha versão masculina, com meus
documentos falsos conseguidos por meu primo lado negro da
família e meu novo pinto novinho em folha e sigo para casa. Preparo
o terno que comprei. Poucas roupas, alguns jeans, camisas e três
ternos. Tem que dar. Pode ser loucura, mas já sentiu uma força te
empurrando para algo que parece absurdo e contra tudo que é
certo, mas que você não consegue fugir? Não consegue ir contra? É
assim que me sinto. Não posso parar. Sinto que devo fazer isso. É
algo pessoal. Não preciso provar nada a ninguém, só a mim mesma
e não sei porquê. Não tem nada a ver com minha mãe me acusar de
não casar ou ver minhas economias acabando, não é nada disso.
Talvez tenha sido a forma que os fuinhas me analisaram quando
falaram que essa vaga é apenas para homens. Vou provar para o
mundo que ele é preconceituoso. Só não direi isso ao mundo.
Capítulo 4
Nick
– Onde está meu café? – Grito da porta do meu escritório. Estou
uma pilha de nervoso. Deu pra notar? Eu não consigo cuidar de
tudo sozinho. E ninguém tem coragem de me servir um café? Povo
miserável esse que trabalha aqui. E sou quem pago essa droga de
café, mas ninguém me traz uma xícara. Esfrego as mãos no cabelo
frustrado. Devo estar parecendo um doido.
– Senhor Nick! Me desculpa. Trouxe café para o senhor. – Dona
Celma, minha secretária, se aproxima com uma bandeja. Ela tem
mais de cinquenta anos e nunca me acusou de assédio. Também
nunca a assediei. E também não assediei minhas antigas
assistentes.
– Vocês são muito miseráveis. – Reclamo e ela sorri.
– O senhor está estressado, só isso.
– Claro que estou estressado. Já arrumou um assistente para mim?
– Pergunto quando ela coloca a bandeja em cima da minha mesa.
– Não. Saiba que não é nada fácil o que me pediu. Sabia que a
maioria dos que se formam para o cargo de assistente executivo
são mulheres?
– Mas devem haver homens também. Não é possível só haver
mulheres. – Digo sentando à minha mesa.
– O senhor só teve dois candidatos. Nenhum deles é bom com
inglês.
– Não posso assim. Temos alguns clientes americanos exclusivos.
Meu assistente precisa falar diretamente com eles.
– Por isso os dispensei sem nem manda-los para o senhor. –
Suspiro quando ela me informa. Melhor assim, não tenho tempo a
perder. Não tenho tido nem tempo para dar de conta do trabalho
sem alguém para me ajudar, quanto mais ter tempo a perder. Seria
até um luxo.
– O que eu vou fazer, dona Celma? – Choramingo.
– Poderia contratar uma assistente mulher.
– A senhora esqueceu que estou respondendo a três processos por
assédio que eu não cometi? Se soubesse que ia terminar assim
tinha me aproveitado delas. Responderia processo de toda forma
mesmo, então que fosse por algo que realmente fiz.
– Pare de chorar, seu Nick. – Só ela aqui na empresa me chama
assim. Os outros me chamam de senhor Paes.
– Eu não. – Respondo infantil.
– Hoje irei entrevistar um novo candidato, Téo Lisboa. Tem um ótimo
currículo onde diz dominar o inglês fluentemente. – Dona Celma me
explica.
– Espero que ele esteja falando a verdade e passe pela senhora
para depois passar por mim. Não quero mais mulheres comigo. Só a
senhora. – Acrescento essa última parte quando ela me olha de
forma incriminadora.
Ela sai me deixando sozinho com meu café. Giro a cadeira e olho o
mar ao longe pela minha janela. Imagino que esse será meu único
momento de paz hoje. Só espero mesmo que esse garoto seja bom
e dona Celma o contrate, porque eu estou quase louco.
(⌐■-■) (⌐■-■) (⌐■-■)
– Sente-se Téo. – Digo para o rapaz de rosto delicado e cabelo
partido de lado com gel segurando lambido. Não sabia que essa
moda do fim dos anos 80 estava de volta.
– Obrigado, senhor.
– Dona Celma me disse que conversou com você agora a pouco e
que você parece ser tão bom quanto seu currículo informa.
– Não pareço, senhor. Eu sou. Estudei muito para um cargo desse. –
Téo informa. Gosto dessa petulância. Inicio uma conversa em inglês
e ele responde naturalmente, nem parece termos mudado o idioma.
Isso é bom.
– Só não tem muita experiência prática. Alguns poucos estágios.
Mas cursos tem muitos. – Digo olhando mais uma vez seu currículo.
Esse garoto ralou muito para chegar até aqui. Gosto disso.
– Os cursos me capacitam, senhor. Sei que posso dar de conta. –
Ele diz sem receio.
– Entende que dona Celma é minha secretária, mas quem trabalhar
como meu assistente trabalhará ainda mais próximo de mim e terá
acesso a todas as minhas coisas, muito mais que ela?
– Entendo sim senhor. Garanto lealdade e sigilo total.
– Ok Téo. Trinta dias. Esse será seu teste. Não posso demorar muito
com contrato de experiência e adaptação. Se você sobreviver aos
próximos trinta dias de trabalho sem chorar feito uma garotinha,
suportando minha rotina de trabalho corrido, a vaga é sua. –
Percebo ele se remexer na cadeira à minha frente quando o
comparo com uma garotinha. Mas vamos ver o porquê disso com o
tempo, se não gosta de ser comparado com uma garotinha ou se é
porque não aguenta pressão e já o chamam assim.
– Posso iniciar agora mesmo, senhor. – Ele é determinado.
– Não, não. Pode começar amanhã. – Estou desesperado por
alguém para me ajudar, mas já está tarde. Mais da metade do nosso
expediente já passou. Não serei tirano. Sou desesperado. Tirano
não.
– Sim senhor, obrigado. Vou apenas conversar brevemente com
dona Celma para saber um pouco sobre o trabalho. – Ele diz ficando
em pé.
– Tudo bem, fique à vontade. E não precisa de tanta formalidade me
chamando de senhor. Será o funcionário mais próximo de mim.
– Tudo bem, seu Nick. – O Téo sai e quando chega na porta para,
penso até que ele vai virar e me dizer algo, mas apenas coça o saco
e sai. Será que tem alguma bactéria ou fungo? Espero que não, vai
que é contagioso por sentar na mesma cadeira. O observo sair. É
um garoto estranho, mas parece ser muito bom. É seguro de si, isso
dá pra ver.
Me envolvo no trabalho e nem vejo as horas passarem. São mais de
sete da noite e ainda estou no escritório e pelo visto ainda vou ficar
muito tempo aqui . Só percebo que anoiteceu quando dona Celma
entra em minha sala avisando que já vai.
– Tudo bem, dona Celma. Pode ir. Vou tentar organizar umas coisas
aqui e já vou. – Digo coçando a cabeça.
– Senhor, olhe sua agenda. Terá uma surpresa. – Ela me diz
sorrindo já da porta. Consulto minha agenda no computador e abro
e fecho a boca sem acreditar no que vejo.
– Quem fez isso? – Pergunto admirado.
– O Téo quem organizou. Depois que falou com você, passou algum
tempo comigo para saber como será o trabalho e não só entendeu
tudo, como já organizou muita coisa. Acho que finalmente você
encontrou quem precisava. – Ela me diz sorrindo e sai. Eu fico
olhando para a tela. Me recosto na cadeira e coço de novo a parte
de trás da cabeça totalmente impressionado. Esse rapaz não é
desse mundo. Que talento. Minha agenda nunca foi tão bem
organizada. Sorrio mais uma vez. Estou tão feliz que vou sair e
beber uma no bar aqui perto. Chega de trabalho por hoje. Téo me
poupou um bom trabalho já.
Resolvo ir até o Estrela do Mar, novo bar na orla. Abriu a cerca de
um mês e já é sucesso. Chego e me sento, pego o cardápio e
escolho uma batida de vinho com leite condensado. Logo o garçom
me traz. O bar é excelente mesmo. Todos falam bem e o
atendimento é perfeito. Enquanto bebo, vejo uma mulher
maravilhosa passar perto da minha mesa e sentar no balcão.
Conversa com outra também muito bonita, mas ela, ela é fantástica.
Que mulher! Do jeito que estou cheio de problemas acho que é com
ela que vou para casa hoje, para aliviar da minha tensão e alegrar
meu amigão com uma boa dose de sexo. Se alegrou, não é? Claro
que percebi garoto. Você é meu e está no meio de minhas pernas,
como eu não notaria? Ela é mesmo muito linda. Quer levar pra
casa? Eu quero. Olho mais uma vez a linda garota no balcão e
preciso admitir que é uma mulher de muita personalidade. Está de
calça jeans e uma blusa branca sem mangas, estilo camiseta, mas
tem muito mais requinte que uma camiseta. Me prendo na beleza do
seu cabelo. Faz tempo que não vejo uma mulher assim. Seu cabelo
é curto, cortado bem curto mesmo, mas ela penteou num estilo
bagunçado, meio selvagem e as argolas douradas e grandes em
suas orelhas se destacam tocando no pescoço fino e esguio já que
não tem cabelo longo para os cobrir. Fico apreciando minha bebida,
porém aprecio muito mais a beleza da mulher a poucos metros de
mim. A analiso esperando o momento certo de atacar. Estou muito
cansado para levar as duas para a cama hoje, embora seja
delicioso, então vou esperar ela se separar um pouco da amiga e
dou o bote.
Depois de uma espera torturantemente excitante ela deixa a amiga
sozinha e vai até o banheiro. Essa é minha hora. Me levanto e vou
atrás dela. Analiso um pouco a entrada e me pergunto se deve
haver muitas mulheres aí dentro, até que finalmente sai uma mulher.
– Estou procurando minha garota. Sabe me dizer se está no
banheiro? Tem cabelo curto e usa argolas douradas grandes. –
Pergunto a mulher que sai do banheiro.
– Ah! Ela está lá dentro. – Ela me responde sorrindo.
– Que bom. Acabamos nos perdendo um do outro aqui. Tem muita
gente lá dentro? Será que ela vai demorar? – Lanço a isca.
– Não. Estávamos só nós duas. Ela está sozinha, então acho que
não deve demorar.
– Obrigado. Vou esperar aqui por ela então. – A mulher me sorri e
sai. Aproveito e entro no banheiro feminino em busca da morena de
cabelo castanho e curto e argolas douradas. Quando entro, ela já
está lavando as mãos para sair. Me olha pelo grande espelho do
banheiro e arregala seus lindos olhos negros para mim. Não sei se
seus cílios são verdadeiros ou postiços, mas são enormes, como de
boneca, e me enfeitiçam tanto quanto seu pescoço longo exposto
pelo cabelo curto.
– Você? O que faz aqui? – Ela pergunta como se nos
conhecêssemos. Fico confuso porque a vendo mais de perto tenho
a impressão que já a vi antes.
– Nos conhecemos? – Pergunto.
– Não. – Ela é rápida em responder.
– Não importa. Nos conheceremos agora. – Digo me aproximando
como um predador. Ela me olha com seus lindos olhos brilhantes
sem saber o que fazer. Amo quando a mulher fica assim confusa. O
próximo passo é gemer em meus braços ainda mais confusa até
decidir ir comigo para meu apartamento ou transarmos aqui mesmo
numa das cabines.
– O que está fazendo? – Ela pergunta quando chego mais perto.
– Desejando você. Sei que está apenas com uma amiga. – Aviso
ficando frente a frente dela. Apenas alguns centímetros nos
separam. Meu charme sempre hipnotiza as mulheres. Sou mesmo
um espetáculo de homem. Ela fica muda. Amo as caladinhas
também. Amo todas as mulheres.
– Melhor eu ir. – Ela avisa, mas não vai. Sua respiração está
alterada, vejo o subir e descer do seu colo e vislumbro a pele de
seus seios através do decote. Seus olhos estão no meu rosto o
tempo todo e ela não ameaça gritar. Está dizendo que me quer, que
me deseja. A seguro pelos braços e a giro a encostando na parede
do banheiro e a pressiono com meu corpo. Ela solta um leve gemido
e isso me deixa totalmente excitado. Se ela disser me largue a
largarei, não me aproveito de mulheres. Mas se ela ficar calada é
porque também me quer. Aproximo meu rosto do seu e tenho a
impressão de já a ter visto antes, mas não sei onde. Não é tão
comum mulheres com cabelos bem curtos, então acho que
lembraria dela. Que estranho. Será que existe mesmo essa história
de vidas passadas? Nem quero saber.
– Você é linda. – Digo praticamente roçando meus lábios nos dela.
Um gemido manhoso sai de sua boca e eu enlouqueço de ouvir. Ela
não fala mais nada, porém não para de me encarar e sua respiração
acelera ainda mais. Passo minha mão por sua nuca nua e aperto de
leve, ela arfa de desejo e imagino que deve estar até molhada. Meu
Deus, vai ser aqui mesmo. Além de linda ela é muito quente e cheia
de tesão. Junto nossos lábios e ela logo abre sua boca para mim me
deixando explora-la. Ela geme gostoso em meus braços e quando
nos afastamos brevemente para respirar ela resolve falar. E me
surpreende.
– Seu Nick… Não. – A encaro. Seu Nick? Só quem me chama assim
é dona Celma, minha secretária. E como ela sabe meu nome se não
lhe disse? Me afasto um pouco mais dela e a encaro. Depois disso o
mais surpreendente acontece. Ela sai correndo. Veja bem, ela não
saiu apressada. Ela saiu correndo. Isso mesmo. Literalmente
correndo. E me deixou tonto. Que mulher, que beijo. Eu quero mais
dela. E como ela sabe quem sou?
Capítulo 5
Telma
De todas as coisas ruins, absurdas e terríveis que podiam acontecer
em minha vida, essa foi a pior. Se tivesse me nascido um outro nariz
ou o meu tivesse desaparecido do rosto teria sido menos trágico.
Um chifre, bem no meio da testa, como os unicórnios que a Lavínia,
irmã da Leila, gosta de criar, teria sido melhor. Estar dentro de uma
das histórias malucas dela teria sido menos absurdo. Mas eu agora
sei que enquanto trabalhar para Nick Paes não poderei sair em
público.
Toda a minha família diz que tenho a veia dramática de uma atriz,
aliada a determinação de um louco. Pois bem, serei dramática agora
depois que agi com a determinação de um louco. Eu sabia que
podia provar que uma mulher pode assumir o cargo de assistente
particular de Nick Paes, só que quando pedi ao meu primo
Fernando que fizesse documentos meus como Téo Lisboa, não
calculei muito bem os riscos. Mas agora, depois de ver o salário
astronômico e o quanto vou tirar de letra o serviço, não consigo
voltar atrás. Isso me traz para esse momento desesperador,
cruzando a porta do banheiro, fugindo do homem com o beijo mais
delicioso do universo. Sim, sou exagerada, admito. Mas é lindo, de
atitude e de um beijo fantástico. Mas eu tenho que fugir e quando a
razão voltou ao meu cérebro depois do beijo, eu fiz a única coisa
certa a fazer – eu acho – fugi. Corri. E ainda estou correndo. Me
desvencilhei de seus braços fortes e atléticos e saí correndo do
banheiro em direção a Leila apenas para avisar que estou fugindo e
pedir algum tipo de ajuda, porque no segundo que olhei para trás,
meu patrão estava vindo atrás de mim.
– Leila, por favor, me ajuda. Meu patrão me beijou no banheiro e
está vindo atrás de mim. Não posso mais ficar aqui. Distraia-o. –
Digo pegando minha bolsa no balcão e saio correndo. “Distraia-o”.
Uau. Isso ficou bom. Me senti dentro de um filme. Mas depois que
cruzei a porta do bar da Natasha eu corri, corri e corri para casa. Saí
do grande calçadão na orla onde fica o bar e dobrei na rua onde
moro. Ela faz um leve montinho. Então subi a primeira parte da
ladeira e parei para respirar quando cheguei no topo apoiando
minhas mãos nos joelhos. Olhei para trás e ninguém vinha atrás de
mim, mesmo assim não confiei. Estou apavorada e começando a
achar que minha teimosia e orgulho me levaram longe demais,
porém não vou voltar atrás, então inspirei fundo e voltei a correr.
Meu apartamento fica num prédio de estuque no fim da rua.
Enquanto eu corria, meu pé dobrou em cima do salto alto e eu…
bem… eu caí e desci a ladeira rodando. Inferno. Maldição. Merda.
Puta que pariu… E fui descendo a ladeira rodando, tentando me
endireitar e maldizendo com todos os palavrões que eu conhecia.
Deixaria qualquer marinheiro envergonhado com meu linguajar.
Parei quase em frente à minha casa sentada com as pernas
abertas, a roupa suja e me sentindo a mulher mais
esculhambadamente descabelada desse mundo. E olha que meu
cabelo está curto. Me levantei ofegando da queda, do susto e da
corrida que dei e entrei no prédio de dois andares onde moro,
pulando dois degraus de cada vez. Entro em casa e fecho a porta e
vou escorrendo para o chão.
Você deve achar que sou dramática. Todos dizem. Mas sabe o pior
nisso tudo? Assim que parei de correr e sentei no chão do
apartamento, só consegui pensar no beijo do meu patrão. Não
pensei em ser descoberta, só pensei que gostei do beijo dele. Me
estico no chão e fico deitada de braços abertos pensando em como
eu estou encrencada.
Dormiria no chão se meu telefone não estivesse tocando. Era a
Leila me dizendo que depois de repetir uns dez “ai meu Deus ai meu
Deus”, se jogou em cima de Nick com um copo de cerveja pedindo
um milhão de desculpas e se oferecendo para ajudar a limpar o
terno. Então foi assim que eu escapei. Ela disse que ele estava
possesso de raiva.
Na manhã seguinte me aprontei para o trabalho. Top da roupe
apertando meus pequenos seios os fazendo praticamente
desaparecer, terno azul, camisa branca, nó de gravata
impecavelmente bem feito, sapato social, gel no cabelo penteado de
lado e meu recém adquirido pinto de meias. Pego meu material e
saio de casa rogando a não sei quem para me proteger, porque
Deus eu acho que não vai querer se envolver nisso não. Mas eu
gostei muito do trabalho. Quero tentar. Ontem quando seu Nick
disse que eu podia ir pra casa e começar hoje, eu acabei ficando
com dona Celma e amei tudo que fiz. Organizei a agenda dele que
estava um horror, me inteirei de alguns de seus negócios e sei que
ele viaja com certa frequência. Ainda não sei se terei que ir com ele
ou dar suporte daqui, mas ontem a tarde tive a certeza que nasci
para isso.
– Bom dia, dona Celma. – A cumprimento assim que chego bem
incorporada na minha versão masculina.
– Olá Téo. Chegou cedo. – Ela é tão simpática.
– Estava ansioso. Não queria me atrasar.
– Vamos à sala de seu Nick. Vou te mostrar agora como ele gosta
das coisas por lá. – Ela me chama e a sigo. Lá ela me passa as
senhas do computador, e-mails e programas que ele usa. É disso
que eu falava sempre que contava para alguém sobre ser secretária
executiva, quanto mais assistente pessoal. É até mais do que
sempre sonhei e agora vejo que não vou me arrepender de fingir ser
homem. Aqui é onde eu devo estar, com ou sem pinto.
Dona Celma sai me deixando sozinha, ou melhor, sozinho, no
escritório de seu Nick. Antes de começar meu trabalho olho ao redor
e analiso tudo. Sem muitos detalhes como presumo ser o ambiente
de trabalho de um homem. Sua cadeira é preta e o tapete também.
Preto, vidro e metal prateado compõem as cores predominantes do
escritório. Olho sua mesa e os papéis ainda estão uma bagunça,
mas logo eu organizo isso. Esses dias sem assistente devem ter
sido um caos, a mesa é a prova. Vejo dois porta-retratos na sua
mesa, um deles com uma foto dele abraçado com um casal e uma
moça. Acho que é a família. A moça deve ser irmã, porque é a cara
dele, porém ainda uma adolescente. Deve ter a mesma idade da
Lavínia. Ele lembra muito o pai e a mãe é linda. Na segunda
fotografia ele está com mais quatro rapazes. Estão todos sem
camisa dentro de uma piscina acenando com a mão. E todos sem
camisa. Suspiro admirando a baciada de homem lindo. Deusa do
céu, nunca vi tanto homem perfeitamente belo assim reunido.
– Puta que pariu. – Penso em voz alta um palavrão.
– Meus melhores amigos. – Tenho um sobressalto de susto e grito
fino quando seu Nick entra no escritório me pegando de surpresa
admirando a foto dele. Pronto, vai pensar que sou gay. Pigarreio
para recuperar a compostura e engrossar a voz novamente.
– Desculpe senhor. Não quis ser invasivo. – Pigarreio de novo
colocando a foto no lugar.
– Ah! De boa cara. Se vai mesmo ser meu assistente seu trabalho é,
de certa forma, ser invasivo. Você quem mais terá acesso a minha
vida, não é verdade? – Ele diz passando para detrás de sua mesa e
senta.
– Tem razão. Vou pegar um café para o senhor. A Celma já me
contou seus gostos. – Digo saindo do seu escritório. Não posso
esquecer que sou um homem, não posso esquecer que sou um
homem. E por Deus, não posso me deixar reconhecer, ele me beijou
ontem.
– Algum problema, Téo? – Dona Celma me acorda do meu devaneio
na porta do escritório. Sua sala fica antes da dele.
– Não, de forma alguma. Estou indo buscar o café do patrão. – Digo
caminhando lentamente e lembrando de abrir as pernas e os
braços. Espaço, homem precisa de espaço. Quando me afasto um
pouco coço o saco, vai que ela ainda está me olhando.
(⌐■-■) (⌐■-■) (⌐■-■)
– Seu café, senhor. – Digo sem levantar muito a cabeça.
– Obrigado, Téo. E obrigado por organizar minha agenda ontem,
ainda não era seu dever. – Ele agradece. Que fofinho. Um patrão
que agradece pelo funcionário cumprir seu dever. Pare de pensar
como uma mulher e pense como um homem, imbecil.
– Já era meu dever. Gosto do trabalho. – Digo pegando uns papéis
bagunçados na mesa para organizar, evitando ao máximo levantar a
cabeça. Quanto menos contato visual, melhor.
– Ah! Perfeito. Faz dias que dona Celma tenta me ajudar com isso.
Temos alguns clientes americanos, milionários que sempre nos
compram muitas peças e equipamentos para seus iates.
Geralmente eles querem tratar direto comigo, então é importante
que você também os conheça. Esses são os relatórios das últimas
transações que fizemos com eles. – Seu Nick me explica enquanto
olho os papéis e ele bebe seu café preto.
– Há um programa específico para esses clientes? – Pergunto e ele
não responde, mas sinto me olhar. Finalmente ergo os olhos. Ele
está me encarando com a xícara a meio caminho da boca. Meu
coração vai parar.
– Não. Nunca tinha pensado nisso. Mas faz sentido. – Graças a
Deus que é isso.
– Posso providenciar um rapidinho. Basta olhar como é o programa
que atende a todos os clientes.
– Você é fantástico, rapaz. Se eu imaginasse que um assistente
seria tão mais competente do que uma assistente, já teria
contratado um antes. – Ele diz feliz e sinto meu sangue ferver. Se
pudesse jogava a agenda na cabeça dele agora. Uma vontade
insana de gritar que a ideia é de uma mulher vem até minha
garganta, até meu nada masculino pomo de Adão, e então engulo
tudo. Vou provar para o mundo, embora o mundo não vai saber, o
quão fantástica uma mulher pode ser nesse cargo. Brilhante ideia
essa minha.
– Téo? Está bem? – Escuto meu patrão me chamar e pelo tom de
voz acredito que não foi a primeira vez.
– Desculpe senhor. – É tudo que digo.
– Já nos conhecemos? – Ele pergunta de repente. O olho e está
com a testa franzida me analisando.
– Não, senhor. – Digo nervosa me afastando dando a ideia que vou
até minha pasta pegar alguma coisa. Pego uma caneta.
– Tive essa impressão. Tudo bem. Use meu computador para se
inteirar dos meus negócios. Preciso sair e não é necessário que
venha comigo, vou até a fábrica e depois resolver uns assuntos
pessoais. Aproveite para saber tudo o que puder sobre o trabalho. –
Seu Nick diz e sai. Sento a sua mesa, na sua poltrona, diante de
seu computador e suspiro. Isso vai ser mais difícil do que pensei.
Capítulo 6
Nick
– Dona Celma, preciso sair. Vou na fábrica, tenho muitas coisas
pendentes para resolver lá e hoje não escapo da minha mãe. Auxilie
o Téo no que ele precisar. Parece ser competente, mas como é seu
primeiro dia, com certeza terá dúvidas.
– Pode deixar, seu Nick. Estou me dando bem com o rapaz. – Dona
Celma diz e me afasto para sair. Volto da porta.
– A senhora também o acha estranho? – Pergunto.
– Em que sentido? – Ela rebate.
– Não sei explicar. – Coço a bochecha sem saber direito o que quero
dizer.
– No meu tempo senhor, éramos todos iguais. Hoje os jovens se
vestem e comportam de maneiras diferentes, então não sei dizer o
que o senhor se refere por diferente.
– Tem razão. Deixa pra lá. – Digo e saio do escritório. Vou para a
fábrica onde vejo o andamento das coisas, gosto de fazer isso
pessoalmente. Não são todas as coisas que vendemos que
produzimos, porque o que você possa imaginar para um barco, iate
ou navio nós vendemos. Porém fabricamos produtos como lonas de
proteção, capas para lemes, estofados para as poltronas de deque.
Enfim, materiais feitos a partir de plástico. Mas não se enganem, até
parafusos nós temos no nosso catálogo de vendas.
– Senhor Paes, precisamos fazer a auditoria e balanço dos lucros. –
O gerente da fábrica me informa. Tinha esquecido disso. Com essa
história de processo e depois ter ficado só com dona Celma para me
auxiliar deixei passar muita coisa importante.
– Tudo bem Alfredo. Ligue pro meu assistente e marque um dia.
Vamos resolver logo isso. – Informo enquanto caminhamos.
– Perfeito senhor. Ligarei para a Celma.
– Não. Marque com o Téo. Ele é meu assistente pessoal, vai saber
melhor do que a Celma meus horários.
– Desculpe. Tudo bem então. Marcarei. – Nem nosso prédio no
centro de Santa Bravinha e nem esse na saída da cidade são
grandes, mas atendem muito bem todas as nossas necessidades.
Analiso o absurdo de problemas que temos com entrega e logística
e sinto minha cabeça ferver. Coço a nuca me sentindo
sobrecarregado. Esses últimos meses foram um inferno com essa
história de processo.
Resolvo tudo que tinha para resolver na fábrica e almoço com a
minha mãe e a minha irmã. Vou te falar sobre elas, caso tenha
curiosidade em saber. Já ouviu falar em Ofélia Bittencourt e Ruth
Gouveia? Não? Tudo bem. Nenhuma delas é minha mãe nem minha
irmã, mas elas são duas senhoras muito comentadas na sociedade,
principalmente pelo nosso jornal Tribuna do Mar e pela revista
Fofoca. A minha avó se tornou amiga de dona Ruth e minha mãe,
como sempre foi fã das duas senhoras, não perdeu tempo em fazer
sua aproximação delas e na sequência, minha irmã, que é a cópia
adolescente exata da minha mãe, também se aproximou. São o tipo
de mulheres que não tem muito o que fazer, não me entenda mal,
vou explicar esse ponto também. Meu pai é rico e eu sou lindo e
riquíssimo. Minha mãe não tem necessidade de trabalhar, se
desejasse teria meu apoio, mas ela gosta de viver do que nós temos
e tenta se ocupar de maneiras até legais. Ela quem organiza as
festas da minha empresa, por exemplo, e tenta apoiar projetos
sociais que ajudam os carentes. Minha irmã está seguindo os
mesmos passos da mamãe. E foi justamente por hoje ter almoçado
com elas que estou com isso. Consegue ver?
– O que é isso? – Lucas, um empresário meu amigo, pergunta.
Tenho uma foto com ele e os outros amigos na minha mesa. Lucas,
um CEO, Tony, outro CEO, Eduardo, um engenheiro e Leonardo,
um… um… o pai dele é rico, dono de uma das duas maiores redes
de hotéis do país e ele não quer trabalhar com o pai e não quer
assumir sua profissão, também se formou em engenharia, assim
como Eduardo. Já viajou muitos países pobres ajudando os
necessitados. Então não sei dizer o que ele é não. Mas já participou
de muitas ações do BluePeace.
– Isso? Um pote.
– Eu sei que é um pote. Mas porque você anda com esse pote de
vidro com essa tampa xadrez vermelho e branco?
– Almocei com minha mãe. – E depois que sai de lá fiquei de
encontrar com o Lucas num restaurante apenas para beber algo
leve antes de voltar para o trabalho.
– Isso está quase explicado. Qual a nova dela? – Meus amigos
conhecem muito bem minha mãe.
– Ela, juntamente com minha avó e minha irmã se tornaram amigas
daquela esposa do piloto aposentado do exército, dona Ruth
Gouveia. Ela criou uma campanha familiar e a mamãe apoiou.
Quem disser um palavrão vai ter que colocar algum dinheiro aqui,
pode ser uma moeda ou nota, depende do que você tiver. Quando o
pote estiver cheio, o dinheiro será depositado numa conta e no final
do ano escolar irá para a Escola Mirim da Capital, para comprar
presentes para as crianças de lá.
– Cacete. Que ideia legal. Gostei. – Lucas diz admirado.
– Vamos. Acaba de dizer um palavrão. Dinheiro no potinho. – Abro o
pote pra ele.
– E cacete é palavrão? – Ele pergunta surpreso.
– Está vendo essa notinha linda de 50 aqui? Foi a última que
coloquei quando estava com minha mãe por dizer essa mesma
palavra que você acaba de dizer. Então para elas é palavrão.
Dinheiro no potinho, companheiro.
– Elas ficariam milionárias se esse dinheiro fosse para elas mesmas.
Aqui. Como a causa é justa e eu espero não ver esse pote com
frequência, vou colocar uma nota de cem. – Ele diz abrindo a
carteira. Um fingidor, porque todos os meus amigos são generosos
com causas humanitárias. Nenhum deles é esnobe.
– Ficariam mesmo. Sabem ganhar dinheiro melhor que nós com
aquelas carinhas bonitas. – Digo e rimos.
– Ai, caramba. Derramei bebida no meu terno. – Lucas reclama
pegando um lencinho para limpar.
– Moeda. – Estendo o pote.
– É sério? Acabei de colocar uma maldita nota de cem aí.
– Amaldiçoou. Acho que conta como palavrão. Vamos, dessa vez
será notas ou moedas? – Ele me olha com fogo nos olhos e coloca
duas moedas de um. Tá bom.
– Essas velhinhas são grandes extorsoras, isso sim. – Ele diz ainda
limpando o terno. Isso me lembra o meu imundo de cerveja que
joguei no sofá ontem à noite. Pego o telefone e ligo para o Téo.
– Alô, Téo! Nick aqui.
– Pois não, senhor.
– Ontem sujei meu terno de cerveja, – tenho impressão que ele
puxou o fôlego. Garoto estranho – e preciso que você vá ou mande
alguém pegar o terno no meu apartamento e mandar para lavar,
antes que manche.
– Como faço para entrar?
– Tem uma chave do meu apartamento numa das gavetas da minha
mesa.
– Pode deixar, seu Nick.
– Obrigado cara. – Desligo.
– Obrigado cara? – Lucas diz.
– Depois de três processos por causa das malucas peito de melão,
funcionária delícia e a normal porém gostosa, não quero mais
mulheres na minha sala. Contratei um assistente. Ele é meio
estranho, mas é competente.
– Estranho como? – Lucas pergunto curioso.
– Não sei. Acho que ele é gay e esconde. E acho que tem algum
problema genital. – Lucas quase cospe sua bebida em mim.
– O que te faz pensar isso? – Ele pergunta surpreso.
– Ele vive se coçando. O pobre do saco dele não tem sossego. –
Lucas desata a rir.
– Você é o mais perturbado de nós. Sabe disso. – Lhe fulmino com
os olhos.
– Podemos mudar de assunto? – Peço.
– Tá! Como você manchou seu terno?
– Cara! Eu vi uma morena linda de cabelo curto, bem curto mesmo,
acho que do tamanho do meu. Mas todo bagunçado num penteado
bem feminino. Ela usava argolas imensas nas orelhas que batiam
em seu pescoço e eu tive um desejo insano de lamber e morder
aquele pescoço tão nu e bagunçar ainda mais aquele cabelo. A
segui até o banheiro do bar e a beijei. Que beijo gostoso. Eu pensei
que iria levá-la pra casa, mas quando a beijei e apertei aquele
pescoço fino, nu e lindo estava disposto a uma boa transa ali
mesmo na cabine de tão excitado que ela me deixou. Mas ela fugiu.
E ainda me chamou de seu Nick.
– Seu Nick? Ela trabalha pra você?
– Não. Conheço todos os meus funcionários. E se uma delícia
daquela trabalhasse pra mim eu a demitiria para transar com ela.
Depois arrumaria outro emprego pra ela.
– E o que você fez? – Ele pergunta curioso.
– Despertei do aturdido e saí atrás dela, mas quando cheguei
próximo do balcão uma louca estava gritando ai meu Deus ai meu
Deus e esbarrou em mim com uma caneca cheia de cerveja. Fiquei
todo melado e não pude ir atrás da minha boneca. – Digo frustrado.
– Bem, esqueça sua princesinha de pescoço fino. O Eduardo ainda
está na fossa. Precisamos alegra-lo esse fim de semana. E o
Leonardo está chegando da Papadócia. Então temos que nos
encontrar com eles.
– E o Tony? – Pergunto.
– Viajando a trabalho. Mas acredito que virá.
– Tudo bem. Preciso me distrair mesmo. Esquecer as malucas que
me processaram.
– E como andam os processos?
– O Horácio falou com as três depois que o Henrique veio a última
vez. As está convencendo a retirar os processos. Minhas ações
caíram pra caralho. – Lucas me estende o pote e tiro uma nota de
cinco do bolso e coloco dentro. – Preciso recuperar meus números.
– Eles são os melhores advogados do país. Vão resolver isso e
abafar o que ainda tem de escândalo.
– Espero. – Me recosto na cadeira e suspiro.
Depois que me separo do Lucas vou até a empresa do Tony.
Embora ele não esteja aqui preciso resolver algumas coisas
pessoalmente com sua equipe que irá buscar uma carga grande de
material náutico para mim na outra ponta do país. Ele tem uma
empresa de transportes aéreo e terrestre e é com eles que faço
negócios. Resolvo tudo e quando meu dia termina passam das oito
da noite. Vou até meu escritório para resolver alguns negócios no
computador que sei que estão atrasados e quando chego lá tenho a
maior das surpresas.
Capítulo 7
Nick
Tem post-it por toda a minha mesa. Sério. No computador, na
agenda, no iPad, na própria mesa… Você entendeu. Em todo lugar.
Esse garoto é maluco?
Não esperava encontrar mais ninguém no escritório. E realmente
não tinha. Então quando liguei a luz da minha sala tive a maior
surpresa em ver post-it por todo lado. Me sento diante da minha
mesa para ver o que aquele Téo Maluco Palhaço miserável tanto
escreveu. Eu devia ter desconfiado que ele é lunático com aquele
cabelinho lambido. Tanto trabalho atrasado e ele fica rabiscando.
Pego os post-it frustrado depois de colocar uma moeda no potinho
da minha mãe por ter chamado o Téo de um nome nada legal que
não vou dizer para não ter que colocar outra.
Post-it 1
⌐■-■ Formatei seu iPad. Estava lento.
Post-it 2
⌐■-■ Não deletei sua pasta secreta com gostosas peladas. – Movi o
maxilar forçando os dentes na direção contrária deixando minha
boca torta e fiz uma careta.
Post-it 3
⌐ ■ – ■ Sua agenda de amanhã está pronta. Terá um almoço
importante. Deixei um terno no armário do banheiro.
Post-it 4
⌐ ■ – ■ Analisei seus relatórios de clientes importantes. Amanhã
começo a fazer um protótipo de programa só para eles.
Post-it 5
⌐ ■ – ■ Comecei a organizar seu computador. Espero terminar
amanhã.
Post-it 6
⌐■-■ Dei uma volta pelo prédio para conhecer o funcionamento.
Post-it 7 – Viu como tinha muitos?
⌐■-■ Busquei e deixei seu terno na lavanderia. A mancha estava
muito feia, então fiquei de ir buscar amanhã.
Coço a cabeça sem acreditar. O moleque fez tudo isso hoje? Ligo o
computador e o iPad e os dois estão perfeitos, minha agenda
impecável e embora nem vá no armário conferir, já tenho certeza
que meu terno estará lá. Que moleque do… do… muito bom. Não
vou enriquecer o potinho de dinheiro da mamãe tão facilmente. Mas
quantas horas o dia dele tem?
Telma
Que homem mais bagunceiro. Vou tentar acreditar que isso é
resultado de dias sem ajudante. Dou uma volta pelo prédio porque
sei que não conheço ninguém aqui, então não estarei me expondo,
mas preciso saber como as coisas funcionam. Depois volto para o
escritório de seu Nick e começo meu trabalho. Ligo seu computador
e iPad e começo a me inteirar das coisas. O trabalho é fácil, é mais
questão de logística. Quando já passa de uma da tarde o telefone
da sala toca. Atendo lembrando que tenho que imitar voz masculina.
É seu Nick pedindo para levar seu terno para lavar. Logo que
mencionou o terno prendi a respiração, mas daí reprimo o riso
quando desligo, porque sei bem quem o sujou, a Leila. O beijo que
ele me deu ontem a noite me vem logo a mente. Ele beija bem pra
caralho. Ai, ai. A noite poderia ter sido magnífica se ele não fosse
meu chefe. Pior, se não fosse chefe da minha versão masculina.
Melhor deixar de pensar nisso e ir cuidar pessoalmente do terno, já
que no fundo foi minha culpa.
– Dona Celma, vou sair para resolver algumas coisas para seu Nick.
– Aviso.
– Vá com o motorista. Ele deixou seu Nelson aqui e saiu sozinho no
carro dele. As assistentes sempre usam o carro da empresa e vão
com seu Nelson. – Ela me informa. Menos mal.
– Obrigada. – Cof Cof. – Obrigado. – Saio rápido para não ser pego
num erro bobo.
Encontro o motorista e vou direto para o apartamento de seu Nick.
Imagine um prédio de luxo. O aluguel daqui deve ser mais caro que
meu salário todinho. E olha que vou ganhar melhor do que já sonhei
em toda minha vida. É um ambiente bem decorado, bem resolvido e
um ambiente claramente masculino. Costumo achar esse tipo de
decoração super chique e sexy. Seu apartamento é enorme e bem
prático. O que é? Estou na toca do lobo mal. Ah! Quer saber como é
o apartamento dele? Prático, com um tom mais lúdico, mas nem por
isso menos adulto. Objetos como sofás de couro, peças que
remetem ao estilo industrial e cores mais neutras e sóbrias como
branco e cinza dominam o ambiente. Só isso. Ambiente de homem
não tem o que descrever né? Por exemplo, se esse apartamento
fosse meu, naquela janela enorme ali que dá pra avenida principal
eu colocaria um vaso de flores bem coloridas pra alegrar essa
cortina cinza e pesada. Tiraria essas almofadas pretas do sofá
também preto e colocaria mais cor. Isso, cruzo os braços avaliando
o apartamento. Ele é preto, branco, creme e cinza. Esse lugar
poderia ganhar muitas cores. Tenho um susto quando meu telefone
toca. Olho quem é. A Leila.
– Oi! Não pode me ligar assim ou aceite ser chamada de minha gata
quando eu atender. – Aviso assim que atendo.
– E por que está falando com voz de mulher?
– Porque estou sozinha no apartamento de Nick. Vim pegar o terno
que você estragou de cerveja. – Rimos juntas.
– Você nem imagina como ele ficou irado comigo. Ele não te
reconheceu? – Ela pergunta surpresa.
– Não. Graças a Deus.
– Que bom. Estou apavorada, esperando ir te tirar da cadeia a
qualquer momento. A cada vez que meu telefone toca tenho uma
síncope. Juro. Acho que fico sem respirar, achando que estão
ligando da delegacia.
– Nem fala isso. Estou amando o trabalho. Nasci pra isso. Pena que
não posso ser eu mesma, mas isso vejo depois. Vou procurar um
emprego similar. Vou olhar o catálogo de anúncios da Revista
Fofoca que traz oferta de emprego do país inteiro. Agora posso
procurar com calma.
– Tá bom! Vou voltar ao trabalho. Tem cuidado e se cuida. Liguei só
para saber como você está.
– Obrigada. Te vejo depois, gostosa.
– Vai a merda, Telma. – Ela desliga na minha cara e fico rindo.
Bem, de volta ao trabalho… pego o terno que está azedo de cerveja
velha, deixo na lavanderia e volto para o escritório retornando ao
meu trabalho no computador e iPad. Quando dá cerca de sete da
noite a Celma entra no escritório dizendo que já é hora de ir. Como
não quero que seu Nick estrague tudo que fiz, deixo recados em
post-it bem estampados em todo lugar e na sua mesa informando o
que fiz, na esperança que ele não estrague meu trabalho. Aviso
também que não deletei aquela terrível pasta de mulher nua. Que
nojo. Quem quer estar olhando o meio das pernas de mulheres
despidas? Homem tem bosta na cabeça, só pode ser. Pensei em
deixar um bilhete masculino falando da pasta de pornôs dele, mas
deixei pra lá. Nem saberia o que dizer. Argh.
Evito usar os post-it rosa. Você sabe, as pessoas costumam
associar essa cor com mulheres e essa é a última coisa que preciso.
Então uso amarelo, azul, verde e laranja. Perfeito. Nunca me senti
tão realizada profissionalmente como hoje nesse emprego.
(⌐■-■)(⌐■-■)(⌐■-■)
– Bom dia, Téo. – Seu Nick entra no escritório na minha segunda
manhã de trabalho. Meu coração sempre dispara quando fico na
presença dele. Deus me livre ser descoberta. Mas principalmente
porque ele é um homem sexy e de presença.
– Bom dia, seu Nick. – Digo me levantando da sua cadeira. Estava
trabalhando em seu computador.
– Não, não. Pode continuar, não vou sentar aí agora. Mande arrumar
uma mesa na mesma sala da Celma para você. Vai precisar de seu
próprio espaço.
– Sim, senhor. – O observo ir na direção do banheiro.
– Não precisa de chamar de seu Nick, cara. Pode ser apenas Nick.
Nunca gostei de formalismo. – Ele diz e arregalo os olhos quando
vejo que ele está fazendo xixi com a porta aberta. Ai meu Deus.
Como ele pode? Sacode o pinto e coloca pra dentro da calça. Puta
que pariu. Inferno. Baixo os olhos no momento que ele se vira para
sair do banheiro. Estou com os olhos baixos. Espera. Não. Vou falar.
Eu preciso falar.
– Não vai lavar as mãos, senhor? – Juro que tentei me segurar. Mas
esse seboso por certo vai pegar nas mesmas coisas que eu. E se
ele tiver algum fungo ou bactéria no pinto? Eca.
– Ah! Esqueci. – Ele volta para o banheiro e lava as mãos. Menos
mal.
– Se saiu muito bem ontem. Parabéns, rapaz! Tem futuro.
– Obrigado seu Nick. Que dizer, Nick. – Me corrigi.
– Tudo bem. – Ele vem até onde estou para pegar o iPad e sinto o
cheiro do seu perfume misturado com o cheiro natural de homem.
Ele cheira tão bem. Ainda bem que estou de terno, porque sinto que
minha pele arrepiou. O gosto do beijo dele me sobe a boca
imediatamente. Ele pega o iPad e se senta no sofá, coloca o iPad
na mesa de centro e o liga. O olho só erguendo discretamente o
olhar enquanto trabalho em seu computador. Ele é lindo. Tem um
corpo tão masculino, a barba é macia, senti naquela noite. Seu peito
é forte. Ele passa a mão pela barba e…
– Algum problema, Téo? – Ele pergunta me pegando de surpresa.
– Não senhor. Por que?
– Ouvi você suspirar. – Eu suspirei?
– Desculpa.
– A noite rendeu hein? Pode contar, não tenho frescura com
funcionários. Tem uma garota? – Ele pergunta levantando. Tira o
terno, pendura e volta a sentar. Fica me olhando, aguardando uma
resposta enquanto dobra as mangas da camisa. Tudo que eu
preciso, uma conversa de homens com meu chefe/cara que me
beijou. Cacete.
– Tenho uma amiga. – Começo. – Não é bem namorada. Seu nome
é Leila. – Que por certo vai me matar.
– Gostosa?
– Muito. – Não preciso ser homem para admitir o quanto minha
amiga é gostosa.
– Transou com ela essa noite? – Engulo em seco.
– Nos falamos muito por telefone essa noite. – O que também é
verdade.
– Garanhão hein, cara. Por telefone. Entendi. Deixa eu ver esse seu
corpinho que estou com saudade. Queria beijar bem no meio
dessas suas perninhas gostosas. Me deixa ver se já tá brilhando de
tão molhadinha, hein? – Engulo em seco mais uma vez. Deveria
ficar enojada com essa conversa sem vergonha, mas lembro do
maldito beijo que ele me deu e me esforço para não perder o
controle da respiração, principalmente quando minha mente divaga
para algum lugar onde ele me diz essas coisas por telefone. Santo
Deus.
– Isso mesmo. Desse jeito. – Me esforço a dizer e baixo a cabeça de
volta para o computador.
– Ah, tem vergonha não cara. Ontem também tracei uma gostosa do
caralho. – Ele levanta e coloca uma moeda num pote que nem vi
que tinha em cima da mesa. O observo fazer isso. Não quero ouvir.
Não quero saber das transas dele. Não sou homem. – Saí cansado
do trabalho, passei o dia pra lá e pra cá e a noite fui ao bar Estrela
do Mar. Peguei uma mulata linda do caramba e levei pro motel. –
Ele levanta e coloca outra moeda no pote. O que ele está fazendo?
– Que diabos é isso? – Pergunto, porque estou curiosa querendo
entender o que ele faz colocando moeda a prestação nesse pote e
tentando mudar o foco da conversa.
– Ah ah, praguejou. Vou colocar só essa vez por você. Não pragueje
nem diga palavrão, senão terá que colocar uma moeda ou nota aqui
dentro. – Ele explica como se isso fosse a coisa mais natural do
mundo. O olho como se ele fosse louco.
– Por que?
– Coisa da minha mãe e das amigas dela. Estão juntando dinheiro
para comprar brinquedos para as crianças da Escola Mirim da
Capital. Prepararam vários potes e me deram um. Cada palavrão ou
praguejado deve ser pago com algo aqui dentro.
– Caramba. – Digo admirada. – Desculpa. Daqui a pouco eu pago.
– Pago por você desse vez. – Ele tira uma moeda do bolso e coloca
no pote. Se dirige ao sofá de novo. – Sabe, Téo, se elas
continuarem com isso deixarão todos nós pobres ou erradicarão a
boca suja do mundo. – Ele diz conferindo uma planilha no iPad e
sorrio lhe admirando. Volto minha atenção para o computador. Não
sou uma mulher para admirar homem bonito. Sou um homem com
uma garota chamada Leila. Ela vai me matar.
Capítulo 8
Nick
– Quando chegou? – Pergunto ao Tony quando estamos tomando
umas no bar Estrela do Mar.
– Ontem à noite. Deveria ter vindo antes, mas fiquei um pouco com o
Eduardo. – Ele diz tomando um gole do seu Martine.
– Como ele está? – Pergunto.
– Puto da vida.
– Ah ah. Moeda. Quando for ao meu escritório lembre de colocar
algumas no potinho do dinheiro. – O advirto.
– É sério que vai ficar me extorquindo dinheiro?]
– Não é extorsão. Obra de caridade das mulheres da família.
– Só por isso vou colocar. – Ele diz com dedo erguido. – Mas falando
no Eduardo, ele precisa de nós, cara.
– Vamos lá no próximo final de semana. Já acertei com os caras. –
Digo. Para que você saiba, vou explicar. Eduardo namorava uma
garota chamada Ella, que simplesmente foi embora e ele não
descobriu ainda o paradeiro dela. Depois ele explica direito essa
história para vocês. Prometo.
– E seus muitos processos de assédio sexual não cometidos. Como
estão?
– Cara! O Horácio falou com elas, que aceitaram um acordo. Como
meu nome estava cagado mesmo e eu ia perder um dinheiro
absurdo, entramos num acordo. Eu vou melar a mão delas com
algum dinheiro e elas vão retirar o processo. – Explico.
– Que bom. Agora só falta arrumar uma senhora de cem anos para
ser sua assistente. – Tony diz me piscando um olho provocador.
– Não tenho culpa de ser gostoso. – Digo essa parte passando as
mãos no meu peito musculoso, porque eu malho todas as manhãs
na academia na minha casa. – Então contratei um assistente
homem. – Tony fica surpreso.
– Você anda muito esperto. Competente, o rapaz? – Pergunta
erguendo a mão e pedindo outra rodada.
– Demais. Nunca vi ninguém igual. No primeiro dia já dominava todo
o trabalho e colocou minha vida e agenda em dias. Um pouco
estranho, porém extremamente competente.
– Estranho como?
– Ah! Não sei explicar. As vezes acho que ele é gay.
– Por que? – Tony pergunta ainda mais curioso.
– Não sei cara! – Coço a barba. – Já o peguei olhando pra mim
algumas vezes. – Tony quase cospe a bebida em mim.
– Pode ser só admiração pelo patrão. – Ele pondera.
– Pode ser. – Coço a nuca. – Alguns de seus movimentos, sei lá,
acho um pouco afeminados.
– Só isso? Me faça o favor, né. Tem homens afeminados que não
são gays e tem outros com jeito muito masculinos e são gays. Veja
o Isaac, gerente do bar. Olhando é mais homem que nós dois
juntos, mas casou com outro homem com jeito muito masculino
também.
– Tem razão. – Fico pensativo.
– Você está pensando. Continua. – Tony me diz. Eu deveria odiar
meu amigo. Merda. E merda que vou perder mais duas moedas.
– Acho que ele tem problemas na genitália. – Tony vira pro lado e
cospe a bebida. Ainda bem que fez a decência de virar para o lado e
não foi em mim.
– Por que você acha isso? – Ele pergunta roxo de tanto rir. Esperei
com cara de ódio ele acalmar seu riso miserável. Decreto que o
odeio.
– Sempre que ele para, coça o saco. Só pode ter alguma bactéria. –
Explico.
– E você anda prestando atenção a isso no seu assistente?
– Impossível não notar o quanto ele coça o saco. – Insisto. Odeio o
riso sem fim do Tony.
– Você é doido, Nick. Vou colocar na conta do trauma por três
processos de assédio não cometidos.
– Obrigado. Mas me conte, como estão seus pais?
– Doces como sempre no seu sonho de família de comercial de
margarina. – Agora sou eu quem caio na risada.
– Sério que ainda querem que você case?
– Cada dia desejam mais. Minha mãe quer netos e meu pai quer um
homem responsável e chefe de família, como ele, cuidando dos
negócios. – Tony vira o copo de uma vez.
– Seus pais são muito tradicionais, sei lá. Tem que dar um crédito a
eles. – Tento ajudar.
– Crédito? Eu daria se não fosse eu o seu alvo. Eles querem que eu
case, mas eu não quero casar. Sendo mais específico, nem quero
namorar sério. Então é bem difícil bancar o cruzado vingador
quando não se sabe o caminho para a Terra Santa. – Ele diz e solto
a gargalhada.
– De todos nós você é o que mais tem medo de relacionamento fixo.
– Constato.
– Acho que sim. E não faço ideia do porquê. Deveria achar
fantástico, levando em consideração que meus pais tem um
casamento perfeito, mas não consigo me encantar com o
matrimônio. – Continuamos bebendo no Estrela do Mar e
conversando. Nada como um amigo de uma vida inteira para falar o
que nos vem à mente.
Telma
– A pior parte de ser homem é andar com aquela meia no meio das
pernas e fingir me coçar. – Digo para a Leila no balcão do Estrela do
Mar. Não queria vir, mas ela insistiu. Depois de uma semana de
trabalho merecíamos mesmo beber um pouco.
– Deve ser incômodo mesmo andar com aquilo. Deve ser por isso
que homem se acha tão espaçoso. – Rimos.
– Queria tanto ter entrado lá como Telma. Isso significaria que eu
podia permanecer no emprego.
– Você sabe que é estúpida, não sabe? – Leila me acusa.
– Nem ligo. Eu queria um emprego. Esse era o emprego da minha
vida. Me mostrou que sempre desejei a profissão certa para mim. E
o Nick não queria uma mulher.
– Por falar nisso, você já descobriu por que ele só queria se fosse
homem? – Leila pergunta bebendo seu vinho.
– Sim. E o motivo é vergonhoso. – Ela se endireita toda na cadeira e
se estica para ouvir. – As três últimas assistentes dele entraram com
processo por assédio.
– Meu Deus, ele é tarado? – Leila pergunta abismada.
– Pior que não. É pegador, uma semana trabalhando com ele e
todas as manhãs ele tinha uma façanha sexual pra exibir ou uma
mulher para dispensar. Mas vou te dizer o que aconteceu. – Falo
mais baixo a chamando com o dedo indicador no sinal universal de
vem cá. Ela se aproxima ainda mais.
– Elas mentiram. Ele teve reunião com os advogados ontem e eu
estive presente. São lindas e agora tem apelidos, funcionária delícia,
peito de melão e gostosa sem descrição, algo assim. O caso é que
a funcionária delícia mentiu dizendo que ele a assediou no trabalho
e pediu uma indenização monstruosa. As duas anteriores entraram
na onda da funciona delícia e também o processaram.
– Que absurdo. E como você tem certeza que elas mentiram e não é
ele que está mentindo? – Leila pergunta.
– Os advogados de Nick as colocaram frente a frente com ele. E eu
do lado. E elas acabaram admitindo tudo. Não deram de conta do
trabalho e não passaram no período de experiência. Queriam ficar
por sua beleza, charme e disposição para horas extras, tipo se
ajoelhar debaixo da mesa do patrão. Você entende, né? Tadinho,
pagou uma quantia simbólica a elas, bem alta, mas menor do que
exigiam, e elas retiraram as queixas e agora vamos tentar melhorar
os números da empresa.
– Tadinho? – Eu deveria ter percebido a insinuação no tom de voz
dela. Acho que é a vodca fazendo efeito em mim.
– Sim. Pagou a elas por algo que não fez. É gostoso e pegador e
mesmo assim não se aproveitou delas. Se não fosse isso eu poderia
ter entrado lá como mulher.
– Acho que temos alguém interessada no chefe.
– Me poupe, Leila. – Agora sou eu quem me endireito na cadeira. –
Tudo bem que ele é gostoso e tem um cheiro muito bom e um corpo
muito sensual, mas pensa que sou homem, me conta suas proezas
sexuais como dois parças, faz xixi na minha frente e ainda balança
pra secar. – Dou aquela boa erguida de sobrancelhas pra ela e
estremeço lembrando de todas as vezes que me esforço para
desviar o olhar quando aquele homem vai fazer xixi. O que custa
fechar a porta?
– É, acho que está certa. – Ela diz rindo e sorrindo. Sabe como é
né? – Bem, vou passar na casa dos meus pais e ver minha
irmãzinha.
– Desculpe não ir com você hoje, mas acho que bebi demais. Como
ela está?
– Na medida do possível, bem. A mamãe tem falado em sair do
emprego para se dedicar mais a Lavínia. Vamos ver no que dá. –
Leila diz beijando meu rosto. – Não bebe demais, tá? – A melhor
amiga que eu poderia ganhar.
– Tá! Vou só terminar essa vodca e vou pra casa também. – Digo
tomando outro gole. Juro que não estou bêbada, mas estou bem
lerdinha. Ela sai e fico sozinha com meus pensamentos.
– Eu sabia que iria reencontrar a garota do cabelo curto e pescoço
perfeito. – Escuto a voz perfeitamente familiar atrás de mim e
arregalo os olhos antes de me virar. Puta que pariu. E agora merda,
amanhã vou perder uma moeda. Me viro ou já tento correr? Vou
correr.
– Ah ah! Dessa vez eu estou preparado. – Nick diz colocando as
mãos no balcão quando faço menção de sair sem nem me virar.
Uma mão de cada lado do meu corpo me impedindo de sair.
Termino de me virar lentamente. É agora que a vaca foi pro brejo. A
vaca e a fazenda inteira, né minha filha.
– Eu te conheço? – Ele pergunta admirado assim que me viro.
Respondo não com um movimento de cabeça. – Tem razão, eu
lembraria de uma mulher tão linda assim. – Ele diz num tom de voz
rouco aproximando seu rosto do meu. O nervosismo que sinto é tão
grande quanto a excitação que ele me desperta. É um homem lindo
que contou para o meu eu masculino algumas de suas proezas. O
pior é que ele me excita tanto que minha calcinha parece até que vai
se desintegrar.
– Preciso ir. – Digo da forma mais feminina que posso.
– Manhosa. Sua voz é bem mansa e manhosa. Gosto disso. – Ele
diz chegando perto do meu ouvido. – Te procurei aquela noite que te
beijei no banheiro, mas você fugiu. Está brincando de gato e rato
comigo? – Ele fala provocador em meu ouvido. Solto um gemido
sem querer. Ele me olha e sorri. Eu devia ter ido logo embora com a
Leila. – Gosto dessa brincadeira. Não tenho pressa. Se não foi
naquela noite pode ser hoje. – Deus misericordioso e clemente, me
salve dessa por favor. Imploro a Deus em silêncio. Um homem
desse jamais me daria atenção se eu pudesse retribuir.
– Vai ficar assim caladinha? – Ele pergunta quase encostando seus
lábios nos meus. Eu estou bêbada, só pode ser, porque queria tanto
que ele me beijasse. – Huumm?? – Ele insiste na pergunta só com
um gemido. Respondi de novo com um movimento de cabeça.
Quanto menos eu falar melhor, já que com essas roupas,
maquiagem e penteado diferente da minha versão Téo ele não me
reconheceu.
– Preciso beijar você de novo e sentir a pele deliciosa desse seu
pescoço lindo. – Ele diz e uma de suas mãos deixa o balcão e
aperta meu pescoço me puxando para perto dele. Seus lábios ficam
bem próximos dos meus e sinto a onda de calor tomar conta do meu
corpo. Você é testemunha que eu tentei ser forte. Mas então, ele me
beijou. Sua mão não saiu do meu pescoço, seu polegar fazendo
carícias na minha pele. Eu tô lascada. Se você pudesse me ver
agora diria que sou patética, porque me agarrei ao banco de
madeira do bar com as duas mãos ao lado do meu corpo para evitar
tocar em sua pele tão quente e macia e perder ainda mais o controle
sobre mim. Mas seu beijo é maravilhoso e intenso, causando
reações por todo o meu corpo. Ele interrompe o beijo e me encara
retomando o fôlego. Nesse momento o que eu faço? O empurro e
saio correndo de novo. Nem recuperei meu próprio fôlego.
Capítulo 9
Nick
– Ora, ora, o que eu vi aqui? Uma rejeição? – Tony pergunta sorrindo
se aproximando do balcão. Nos sentamos no banco que minha
moreninha de cílios longos e pescoço de veludo estava com a
amiga. Passo o dedo pelo lábio sentindo o gosto do beijo. Vodca. A
maluca bebia vodca. A bebida fica uma delícia misturada ao gosto
de sua boca.
– Vi essa gostosa a primeira vez aqui no bar, dias atrás. Sabe meu
nome, mas não sei o dela. Segundo beijo e segunda vez que
literalmente ela sai correndo.
– E seu instinto caçador está mais do que atiçado agora. – Ele diz
chamando o garçom. Quem vem é o gerente, Isaac.
– Onde está a Telma? – Ele pergunta apontando para o copo de
vodca no balcão. Huummm, Telma. Gostei do nome.
– Ela já teve que ir. Pode deixar que pago a conta dela. – Aviso
bebendo o resto de vodca do seu copo.
– Mas ela teve algum problema? Não costuma sair assim.
– Acho que não. Coisa de mulher. – Pedimos bebida e ficamos
conversando no balcão. Pouco depois o Lucas chega e ficamos os
três.
– E então! O que vai fazer para encontrar sua caça? – Tony
pergunta.
– Ainda não sei. Já sei o nome, sei que bebe vodca e pelo que
parece vem sempre aqui. Até o gerente a conhece.
– E o que ela tem de especial? – Lucas pergunta.
– Fugiu de mim. Duas vezes. Mulher nunca fez isso. Então quero a
emoção de ter que conquistar. Sem contar que ela é linda. – Digo
lembrando daquela boquinha bem desenhada e pescoço sensual. –
Será que tenho fetiche por pescoço?
– O que? – Tony pergunta surpreso.
– Quando penso na Telma, penso logo naquele pescoço macio.
Pareço um vampiro, doido pra lamber e morder a pele macia.
Quando eu apertei aquele pescoço lindo e esguio agora a noite eu
fiquei muito mais excitado por ter tê-lo a minha disposição do que
pelo próprio beijo. Como pode? – Explico. E parando pra analisar
que sempre que paro pra pensar na Telma eu penso logo naquele
pescoço e isso sempre me excita.
– Eu não faço ideia. – Tony diz pensativo.
– Não sei. – É tudo que Lucas diz e muito rápido. Huumm. Suspeito.
Condenado.
– Conte. O que foi?
– O que foi o que? – Ele fala desconfiado. Tony e eu o encaramos.
– Você falou pouco sobre minha loucura de dizer que tenho um
fetiche. Então você tem algo para contar. – O condeno logo.
Conheço meus amigos.
– Tá. No final de semana passado eu conheci uma garota que tem
um irmão que é policial. Ficamos de sair e ela é bem assanhada.
Pois, cara, ela pegou um par de algemas do irmão escondida e
quando fomos para o motel ela me pediu para algema-la na cama. –
Ele explica.
– E aí? – Pergunto bem interessado na conversa.
– Nunca senti tanto prazer como com aquela maluca. E não é a
mulher, entenda. É o fato de ter uma mulher presa pra mim, a minha
disposição.
– Puta que pariu. E você falando do meu instinto predador com a
Telma. – Digo apontando para o Tony.
– Hum. Já está íntimo assim já chamando pelo nome? – Ele
debocha. – E não pensa que não percebi que disse um palavrão.
Moedinha no potinho da vovó. Não esqueça. – Continuamos
bebendo e cada um sai do bar com uma garota. Não iríamos
terminar a noite sozinhos.
(⌐■-■)(⌐■-■)(⌐■-■)
– Bom dia, Téo. – Cumprimento meu assistente competente e
estranho ao chegar no escritório na segunda-feira. Passei dois dias
indo no bar Estrela do Mar tentando ver minha ratinha que fugiu
duas vezes do gato e ela não apareceu. Chegou segunda e eu
transei com duas no fim de semana imaginando o pescoço gostoso
da Telma. Onde aquela doida fugitiva mora?
– Bom dia, seu Nick. – Ele diz e já tenho café quentinho na mesa.
Que rapaz eficiente.
– Obrigado pelo café. – Digo me sentando. Ele pega a agenda do dia
e começa a me passar meus compromissos. O olho intrigado. Ele
ergue o olhar e baixa rapidamente.
– Não pode esquecer da vídeo-reunião de hoje à tarde, senhor. – Ele
me lembra e o olho com mais atenção.
– Novo estilo? – Pergunto achando gozado seu jeito de vestir hoje.
– Me disse que poderia vir menos formal, mas eu queria continuar
vindo de terno. Então dei um estilo Elvis Presley afrouxando um
pouco a gravata e levantando a gola da camisa. – Ele explica.
– Gostei.
– As garotas também gostam. – Ele diz.
– É mesmo?
– Sim senhor. – Ele diz indo até sua pasta no meu sofá e quando fica
de costas pra mim… o que é isso? O Téo tem uma bunda gostosa?
Sacudo a cabeça. O que eu acabei de pensar?
– Pode ir pra sua mesa. – Me apresso em dizer. Melhor ele na sala
ao lado agora. O que eu pensei agora a pouco? Admirei a bunda de
outro homem?
– Preciso antes que analise isso. É uma proposta para enviar uma
grande quantidade de produtos. Esses foram vendidos para o
nordeste do país. Se contratar um dos caminhões das Indústrias de
transporte Tony Star irá sair bem mais barato do que mandar por
avião. – Ele diz já parando ao meu lado.
– Ok. Deixe-me ver. – Pego os papéis e solto um suspiro de alívio
tentando me convencer que isso não passou de imaginação da
minha cabeça. Foi minha imaginação. Repito em minha mente. Ele
fica parado do meu lado e eu volto a pensar em sua bunda. Meu
Deus, eu estou louco. Só pode. Estou confuso. É isso. Acostumado
a vida toda a ter uma assistente mulher, agora meu cérebro está
dando bugue. Aperto e massageio minha testa para o sangue
circular melhor em meu cérebro.
– Ah! Pedi um relatório as Indústrias de transporte Star de como
seria se em vez de enviarmos produtos para o nordeste a cada dois
dias de caminhão enviássemos a cada três de avião. Os clientes
receberiam os produtos no mesmo prazo e num custo de envio
menor. – Ele diz indo até a mesinha de centro pegar o iPad para me
mostrar. Deus todo poderoso não me deixe olhar para a bunda dele
para ter certeza. Cristo amado, olhei. O Téo se inclina para pegar o
iPad empinando a bunda e eu sinto a calça encolher. Meu pequeno
Nick ficou gigante dentro da calça, desejando que eu me levante e
encaixe nessa bunda gostosa. Bunda gostosa? O que está
acontecendo comigo?
– O que está acontecendo com o senhor? – Téo me pergunta de
olho arregalado. Será que ele notou?
– Nada. – Respondo tenso.
– Está tenso, como se estivesse preocupado. – Téo diz me
avaliando.
– Só uns problemas de que lembrei. – Minto. Apesar que essa
sensação deve ser um problema sério. Nunca manifestei tendência
homossexuais. Será que estou me tornando gay?
– Posso ajudar se…
– Não. – Praticamente grito tentando me ajeitar na cadeira para que
ele não note minha ereção. O coitado teve foi um susto e deu um
pulinho pra trás. Deve ser isso. As vezes o Téo parece afeminado.
Estou só confuso.
– Tudo bem. – Ele diz desconfiado. Se aproxima de novo da mesa e
me entrega o iPad com os relatórios que preparou. Fica parado ao
meu lado e desejo que ele vá pro outro lado, mas ele não vai. Fica e
espera. Se eu me levantar e tentar ir até o sofá vou ter que passar
por trás dele. E se eu não controlar minhas ações assim como não
controlei meus pensamentos e o agarrar por trás? Fecho os olhos e
os aperto tentando tirar essa visão da minha mente. Não assediei as
mulheres que trabalharam pra mim e quero assediar um homem?
Não tenho nada contra os homossexuais, gosto do Isaac e admiro o
casamento dele com o Cristopher. Costumo pensar que se um dia
eu casar, coisa que não pretendo fazer, quero um casamento cheio
de cumplicidade e confiança como o deles. Mas nunca pensei em
ter um marido. Eu quero ser o único marido da relação.
– Então veja… – Téo diz se virando um pouco de lado, admiro a
curvatura da sua bunda e minha excitação que estava acalmando
volta. Eu quero chorar de confuso. Ele volta com a calculadora que
tirou da gaveta. – O senhor economizaria muito dinheiro e isso
atrairia novos clientes. O que pensa?
Que quero te encostar na mesa, te pegar e thá thá na sua bunda.
Santo Deus.
– Você está certo. – Tento me concentrar nos cálculos diante de
mim. Sou um homem de negócios que ama ganhar dinheiro. Não
tenho tempo para bancar o pervertido e agarrar meu assistente.
Pense em algo Nicolas, pense em algo. Estou encrencado,
chamando a mim mesmo de Nicolas. Solto um suspiro.
– O senhor tem certeza que está bem? – Téo pergunta e acho que
está ficando preocupado. Eu devo estar verde.
– Estou com dor de cabeça e falta de ar. Só isso.
– Ai meu Deus. Deve ser enxaqueca. A Leila tem muito. Espere. –
Ele vai até a janela atrás de mim e a abre. O vidro precisa ser
erguido e quando ele faz isso, arrebita a bunda de novo. A camisa
sai um pouco de dentro da calça e eu penso em terminar de tirar.
Estou passando mal. E estou excitado. Ele me atrai como se fosse
uma mulher. – Agora vou pegar um comprimido. Sempre trago
comigo. – Completa. Que porcaria de homem anda com remédios
na pasta? Só andamos com camisinha, pensei já pegando uma nota
de 20 e coloco no pote da minha mãe. Téo se vira com o
comprimido na mão e o copo de água que pegou na mesa que ele
colocou perto da porta onde sempre tenho água e café quentinho.
Viu como ele é competente?
– Pensou num palavrão? – Ele me pergunta quando coloco a nota
no pote.
– Você nem imagina o que pensei. Minha avó me mandaria colocar
toda a minha fortuna aí dentro se soubesse o que se passou por
minha mente agora. – Digo me sentindo o homem mais estranho do
mundo. Será que eu sou gay? Ele morde o lábio inferior e tenho
vontade de lhe agarrar e morder seu lábio no mesmo lugar que ele
mordeu.
– Seu remédio. – Ele me estende o copo e o comprimido
desconfiado e o tomo de uma vez num único gole. E nem estou com
dor de cabeça, mas acho que terei. Aproveito que ele está do outro
lado da mesa e me levanto rápido indo em direção a porta.
– Preciso sair.
– Quer que vá junto para ajudar no que precisar? – Ele pergunta
aturdido. Não está mais do que eu.
– Não. – Quase grito de novo o assustando. – Não precisa. São
assuntos pessoais. – Digo e saio praticamente correndo do
escritório.
Capítulo 10
Telma
O que deu nesse homem? Será que ele me reconheceu? Não pode
ser, ele teria dito alguma coisa. Me sento no sofá de sua sala
tentando assimilar o que acaba de acontecer. Ele estava tenso.
Entrou normal, isso é fato, como sempre fez. Mas de repente o
homem ficou verde, parecia ter visto uma assombração. Eu parecia
a assombração. Ligo para a Leila e combino com ela de
almoçarmos juntas. Preciso conversar com alguém.
– Como assim perturbado? Telma, isso está indo longe demais. –
Leila me adverte.
– Não sei. Estava tudo normal. Ele não achou estranho meu novo
visual e…
– Por falar nisso, por que essa gola pra cima feito um rebelde da
década de 1950? – Leila me analisa.
– Eu te falei, o Nick está aficionado no meu pescoço. Ele me deu
uma lambida no bar. Como tenho liberdade para vestir o que desejo
no trabalho, levantei a gola para ele não ver meu pescoço.
– Ah! Entendi. Morro de medo que ele te descubra e te coloque na
cadeia. Penso nisso todo dia. – Ela diz preocupada.
– Não acontecerá. Já estou procurando outro emprego. Estou em
experiência, posso sair de lá a qualquer momento.
– Pois meu conselho, minha amiga, é que você largue esse trabalho
hoje mesmo. Vá livre para o bar e troque uns bons amassos com
ele.
– Ficou doida?
– Doida é você que pensa que me engana. Ele te beijou duas vezes
e esse é o assunto que você mais me fala quando estamos juntas. –
Me acusa.
– Eu? – Me defendo.
– Sim. E está tentando se defender com uma pergunta, o que prova
que estou certa. – Me recosto no encosto da cadeira frustrada. No
que eu fui me meter. Inspiro fundo, a Leila também.
– Tudo bem! Vamos lá. Ele não te reconheceu no bar? – Ela começa
a recapitular minha bola de neve.
– Não. Até teve a impressão de me conhecer. Quando neguei ele
disse que lembraria mesmo de mim. E do meu pescoço. Que
homem mais louco.
– Certo. E hoje ficou estranho.
– Exato. Do nada.
– Por que ele ficou perturbado, então?
– Não faço ideia. E é isso que me assusta. Tive a impressão que
tinha a ver comigo.
– Como assim? – Leila pergunta intrigada.
– Não posso afirmar, mas… – Me aproximo dela e a chamo com o
dedo indicador para chegar mais perto também. – … eu tive a
impressão que ele estava excitado. – Digo bem baixinho.
– Ai meu Deus! Olhando pra você? – Leila diz levando a mão a boca
agora para não rir. Inspiro fundo. Que amiga insensível. Ela não está
vendo o tamanho do problema que isso pode ser?
– Pra quem mais? – Pergunto irritada e agora sim, ela desata a rir.
– Ai minha amiga! Desde a primeira noite que ele te seguiu até o
banheiro e te prendeu contra a porta da cabine e te beijou, você
deveria imaginar que ele sentia atração por você e nunca mais pisar
naquela empresa. Não como Téo.
– Não está me ajudando. – Reclamo.
– E se você pedisse demissão como Téo, o encontrasse no bar e
pedisse emprego como Telma?
– Claro que ele não me daria o emprego. Ele acaba de se livrar de
três processos, esqueceu?
– Verdade. – Ela encosta a mão no queixo e o cotovelo na mesa
pensativa.
Saio do almoço sem me sentir melhor e volto para o escritório. Ele
não estava lá e deixou recado com a Celma que não voltaria mais
hoje. Estranho. Geralmente ele avisaria isso para mim.
– Algum problema, rapaz? – A Celma me pergunta.
– Não. Nenhum. Vou trabalhar um pouco aqui e depois vou resolver
umas coisas no computador de seu Nick. Aproveitar que ele não
vem e adiantar algumas coisas que tenho lá. – Explico, mas na
verdade estou bem intrigada com ele.
– Está gostando do trabalho? – Ela me pergunta sorridente.
– A senhora nem imagina quanto. Queria ficar aqui.
– Ah meu rapaz! Mas o Nick está gostando do seu trabalho. Claro
que ele vai efetivar seu contrato. – Ela diz e me forço a sorrir.
Vou para a sala do Nick e resolvo muita coisa em seu computador.
Ele nem telefonou e não faço ideia de onde está. Tento me
concentrar no trabalho e não pensar nele. Sabe o pior disso tudo?
Acho que a Leila está certa, mas não vou admitir porque não vou
voltar atrás. Não agora. Mas naquela noite no banheiro do bar eu
deveria ter aproveitado e ficado com ele, já teria tirado de vez isso
da cabeça. E depois não aparecer e pronto. Sabe aquela coisa de
assunto inacabado e se morrer ficar vagando? Então! Se eu
morresse hoje ficaria vagando e acho que seria uma fantasma
tarada porque não fui até o fim com ele naquele dia e nem na outra
noite e não paro de pensar em como seria transar com ele. E é isso
que está me deixando confusa. Tive até a impressão que ele estava
excitado na minha presença. Onde já se viu? Até onde sei ele não é
gay. Nunca ouvi falar que saísse com homens. Todas as proezas
que ele me falou pensando que também sou homem envolvia
mulheres. Então por que aquela excitação? Será que ele também
está usando uma meia no pinto?
Trabalha Telma, trabalha … Reclamo comigo mesma. Me concentro
no computador. E… Merda. Moeda no potinho. Ele tem uma reunião
importante essa tarde. Terei que ligar pra ele.
– Alô, seu Nick.
– Eu disse que não queria ser incomodado. – Ele diz áspero do outro
lado.
– Desculpe senhor! Mas tem uma vídeo-reunião importante essa
tarde. Não pode faltar.
– Merda. – Ele diz e coloco uma moeda no pote. – Cacete. – Outra
moeda. – Put…
– O senhor pode parar? Estou ficando sem moedas. – Reclamo e
escuto a respiração forte dele do outro lado da linha e garanto que
se, meu pinto fosse de verdade, estaria duro. Mas o meio das
minhas pernas ficou molhado só de ouvir a respiração forte dele no
telefone.
– Estarei aí. Prepare tudo. Saio logo em seguida.
– Sim, senhor. – Mordo o lábio sem saber o que isso significa.
Poucas horas depois ele chega com ar de desconfiado. Não. Com
cara de doido. Doido desconfiado. O que ele tem?
– O senhor está bem? – Pergunto preocupada.
– Sim. Não se preocupe Téo. – Ele senta diante de sua mesa e me
pede a pauta da reunião. Lhe passo e ele começa a estudar. Saio
de sua sala e só retorno na hora da reunião. Sento ao seu lado e
tenho a impressão que ele está constrangido. Pode ter sido apenas
só impressão, né? O dia foi bem atípico. Temos uma excelente
reunião. Enquanto ele conversa com os clientes eu lhe passo os
dados ao passo que ele vai precisando, lhe sirvo água e faço as
anotações importantes. Teve um momento que sua mão envolveu a
minha quando ele foi pegar uma caneta e senti um choque por todo
o meu corpo. Ele me olhou na hora e o encarei. Seus olhos se
prenderam nos meus e por um instante tive a impressão que ele me
reconheceu, porque franziu a testa e estreitou os olhos com fez
aquela noite no bar. Mudei a direção do olhar imediatamente e
agradeci mentalmente quando o cliente o chamou do outro lado da
tela. A reunião continuou e assim que terminou Nick desconectou a
chamada e me encarou.
– Vou perguntar só uma vez, Téo. Nós já nos vimos em algum lugar
fora daqui? – Nick pergunta gélido. Respondi não só com um
movimento de cabeça.
– Ok! Vou indo. Pode desligar tudo e ir também. Está dispensado por
hoje. – Ele diz sem dirigir mais um único olhar a mim e sai. Será que
ele está desconfiado? Será que descobriu a verdade e está me
dando uma chance de contar? Mordo o lábio preocupada. Ele
parecia um pouco irritado.
Desligo o computador e antes de sair vou até ao banheiro atraída
por um barulho.
Ping, ping, ping …
E essa agora, a torneira está vazando. Amanhã eu providencio isso,
vou para casa. Chega de trabalho por hoje. Chega de qualquer
coisa por hoje.
(⌐■-■) (⌐■-■) (⌐■-■)
Está me olhando com cara de quem me julga, não é? Sim. Não
aguentei ficar em casa e vim beber. Talvez seja meu lado masculino.
Esqueceu minha estupidez de fingir ser homem só pra conseguir um
emprego? Meu lado feminino me deixaria em casa me entupindo de
sorvete vendo toda a gordura descer para as minhas coxas. Mas
aqui estou, bebendo. Vou acabar indo para os alcoólatras anônimos.
– Dia difícil? – A Natasha, dona do bar Estrela do Mar me pergunta
entrando para a parte de trás do balcão.
– Difícil seria bondade. – Digo deslizando o braço e encosto a
cabeça no balcão. Escuto o riso delicado da Natasha.
– Quer desabafar? – Ela pergunta.
– Até queria, mas não posso. – Digo e ela me olha confusa.
– Vou te dar um drink sem álcool agora. Chega de vodca para você.
– Ela diz tirando meu copo da minha frente. Solto um gemido
infantil. Queria beber até esquecer a besteira que fiz.
– Suco de abacaxi. Dona Emma diz que seca o álcool. Não sei se é
verdade, mas não custa tentar, não é? Melhor do que beber mais
vodca. – Sorrio. Ela adotou um casal de idosos e cuida deles como
poucos filhos cuidam dos pais.
– A viu hoje? – Pergunto sorrindo. Todos na cidade sabem que ela é
devotada de coração a cuidar deles.
– Vim de lá agora. Seu Freddie não anda bem da pressão, acho que
terá de tomar remédio. – Ela fala e peço que me conte mais, quem
sabe ouvindo do cotidiano simples da Natasha cuidando da nova
família eu esqueça do meu patrão.
Capítulo 11
Nick
– Eu sou gay. – Digo e Tony e Lucas cospem a bebida no balcão da
minha cozinha. Estou tão perturbado que nem quis encontra-los no
bar ou em qualquer outro lugar. Pedi aos dois que viessem aqui.
Isso é urgente.
– Desde quando? – Lucas pergunta curioso.
– Desde hoje de manhã. – Os dois riem descaradamente. – Falo
sério. – Digo quando eles parecem finalmente parar de rir.
– Cara! Como assim? Você resolveu assumir essa manhã que é
gay? É isso? – Tony pergunta.
– Não. – Digo impaciente.
– Pode ser mais específico? – Ele diz gesticulando com a mão me
incentivando a falar. São meus amigos desde o tempo da faculdade
e me sinto bem em falar com eles, mas esse assunto é delicado.
– Ok. O que eu quero dizer é que eu acho que sou gay.
– E por que você acha isso? – Tony pergunta. Lucas fica atento a
conversa.
– Porque estou apaixonado por um homem. – Jogo a verdade nua e
crua.
– Espero que não seja por mim, porque serei obrigado a partir seu
coração. – Lucas debocha.
– Falo sério. – Digo irritado.
– Ele fala sério. – Tony diz reprimindo o riso.
– Vamos tentar resolver isso. Quem é o cara? – Lucas pergunta
curioso.
– Meu assistente, o Téo. – Os dois desatam o riso e eu só quero
mata-los.
– Fora! Os dois. – Digo irritado apontando a porta.
– Não, não, não. Parou a acanalhação. É que você só precisa
entender que não é todo dia que um amigo seu, que já dividiu
garotas com você, que já transaram ao mesmo tempo no mesmo
quarto com garotas e que tem a maior fama de playboy pegador de
mulher te diz que acha que é gay, porque acredita que se apaixonou
pelo assistente.
– E principalmente porque contratou um assistente homem, porque
não queria se envolver com as assistentes, que eram seu ponto
fraco e mesmo assim elas o traíram com a história do processo.
– As três vão ficar de coração partido. – Lucas debocha.
– Cara! Como assim? Eu ainda não entendi. O que te faz pensar que
está apaixonada por seu assistente? – Tony pergunta.
– Fiquei excitado hoje quando o vi de costas pra mim se abaixando
para pegar sua pasta. – Lucas ri e Tony tenta controlar o riso.
– Se excitou? – Ele pergunta mordendo os lábios para tentar se
manter sério. – Se excitou como?
– Juro. Foi estranho. Me excitei o vendo se mover como me senti a
vida toda vendo mulheres. Eu quis me aproximar, quis toca-lo. Meu
Deus, eu acho até que quis tirar suas calças e thá thá na bunda
dele. – Digo atônito. Não sei o que está acontecendo comigo.
– Tá! Vamos lá resolver esse dilema. Vamos descobrir se você é gay
ou não. – Lucas diz ficando de pé.
– Isso. Vamos descobrir. – Respondo ansioso esfregando uma mão
na outra e depois no meu colo.
– E então! Sente tesão por mim? – Lucas pergunta tirando a camisa
e ficando com o peito de fora.
– Não. Não sinto nada. – Respondo.
– Olha bem, sou muito gostoso. – Ele dá um giro de 360 graus
passando a mão pelo peito, depois rebola o quadril o projetando
para a frente.
– Nada. – Respondo e balanço a cabeça.
– Deve ser porque somos amigos, porque eu sou irresistível. As
mulheres me querem.
– Mas eu não. – Sou sincero.
– Tá! Vamos tentar outra coisa. Já sei! – Tony diz pegando o celular.
– Vamos ver uma cena pornô e você diz o que sente. – Ele diz e
pega seu celular e busca na internet uma cena pornô. Me passa o
celular e fico excitado imediatamente.
– E então? – Eles perguntam curiosos.
– Estou duro feito uma pedra.
– Pode ser apenas resquícios de quando você era homem, ou pode
ser que você ainda seja homem, ou ainda pode ser que os gays
também se excitam com mulheres nuas. – Tony tenta explicar.
– Não estão me ajudando. Esqueçam o que eu disse.
– De forma alguma. Você está num dilema e precisa se encontrar.
Somos os seus amigos e vamos te ajudar. – Tony decreta.
– Isso mesmo. Vamos ver se você é bissexual. Pode ser isso. Vem
Tony, vamos nos exibir pra ele e vê se também sente tesão. – Os
dois imbecis ficam de pé, tiram a camisa e colocam as mãos detrás
da cabeça e começam a rebolar os quadris em minha direção.
– Thá, thá. Gosta disso? – Lucas pergunta.
– Que nojo. Vocês são lunáticos. Parem com isso, estão me dando
enjoo. – Digo virando pro lado. Não quero vê-los se rebolando pra
mim.
– Repito, deve ser porque somos seus amigos, porque nós somos
irresistíveis. – Lucas diz.
– Vamos sair. É melhor. Uma boate, com muitas garotas. Você só
está confuso porque é a primeira vez que tem um assistente homem
e a sua mente está te enganando dando a entender que o Téo é
uma fêmea. – Tony diz.
– Tem razão. Deve ser isso. E o fato que ele é muito prestativo, não
me deixa faltar nada, é atencioso…
– Cristo amado, o negócio é sério. Vamos para uma boate lotada de
mulheres querendo transar, pelo amor de Deus. – Lucas diz já indo
em direção a porta vestindo sua camisa. O observo. Observo
também o Tony se vestindo. Nós três somos lindos, todas as
mulheres dizem isso. Onde nós três chegamos chamamos a
atenção. Então eu os olho com cuidado na minha frente, de costas
para mim, vestindo a camisa e penso: são bonitos a ponto de me
dar tesão? Não. Se um deles se decretasse gay e quisesse me
pegar eu deixaria? Não.
– O que está olhando? – Lucas pergunta assustado quando
chegamos à porta.
– Pensando que se vocês virassem gays e quisessem me comer se
eu deixaria.
– E… – Eles perguntem ao mesmo tempo na expectativa da minha
resposta.
– De forma alguma. – Eles se olham sem entender mais nada. Nem
eu. Culpa daquele miserável do Téo que me deixou confuso.
Chegamos a cogitar a ideia de ir ao Estrela do Mar e beber lá, eu
poderia até conversar com o Isaac e saber como ele descobriu que
é gay, mas confesso que ver aquelas mulheres nuas se exibindo no
celular do Tony me deixou excitado demais, então seguimos para
uma boate. Isso que não entendo, eu penso no Téo e sei que tive
um tesão imenso por ele, mas só quero mulher. O que está
acontecendo comigo?
– Olha aquele cara, é bonitão, sente atração? – Lucas me pergunta
quando estamos numa boate entre Santa Bravinha e Gravetinhos.
Há homens e mulheres se oferecendo por todos os lados. Lugar
perfeito para avaliarmos minha sexualidade.
– Não sinto nada.
– E aquele! – Tony pergunta.
– Também não. – É minha resposta sem a menor dúvida.
– Caramba, meu! Tá difícil.
– Moeda no potinho da mamãe.
– Vai pro inferno, cara. Você paga amanhã. Estamos aqui pra te
ajudar. – Tony reclama e eu suspiro. Já sei que amanhã, além de
sexualmente confuso, estarei menos rico, porque eles dois tem a
boca muito suja.
– Vamos partir para as mulheres agora. – Lucas diz.
– Isso. Vamos ver como se comporta diante das mulheres agora.
– Olha aquela. O que acha?
– Perfeita. – Digo sentindo o pulsar dentro da calça.
– E aquele homem daquele lado?
– Nada.
– Aquele casal ali dançando. Se pudesse ir lá e pegar um dos dois
pra você. Quem seria?
– A mulher, claro. – Digo sem pensar duas vezes.
– Eu desisto. Você sempre foi o mais lerdo de nós, mas nunca ficou
tão confuso assim. – Lucas diz. Suspiro desanimado.
– Quer saber, independente da sua sexualidade ou não, eu vou me
divertir. Não conheço mais vocês, a menos que encontrem garotas
dispostas a uma orgia em grupo. – Tony diz e sai.
– Te amo irmãozinho, mas estou com o Tony nessa. – Lucas diz e
também sai pra se divertir na boate. O garçom passa com bebidas e
pego uma vodca. Lembro logo da minha ratinha de pescoço perfeito,
Telma. Que nome gostoso de dizer na cama. Eu poderia encontrála, transar com ela e tirar a prova se sou gay. Olho de um lado para
o outro na boate e é claro que ela não está aqui. Também não estou
disposto a me arriscar ir no bar da Natasha e tentar encontrá-la.
Fora que ainda teria a caçada. Vou ficar por aqui mesmo. Depois eu
caço minha ratinha.
Saio dando uma volta pelo salão da boate sem arriscar ninguém,
homem ou mulher. Vai que algum homem se oferece e eu quero,
assim tiro minha dúvida. Um cara forte e musculoso se insinua pra
mim e nem penso uma vez, que dizer a bela frase “nem pensei duas
vezes”, o dispensei logo. Nada a ver. Mais na frente vejo uma loira
linda que pisca pra mim e vou até ela.
– Sozinho, garanhão? – Se ela soubesse que o garanhão está na
dúvida se é franguinho.
– Sim. E precisando de consolo.
– Sou uma excelente babá. Só me levar daqui. – Ela diz cheia de
charme.
– Vamos sim, querida. O que está bebendo? Vodca? – Pergunto
afastando seu cabelo e tentando admirar seu pescoço.
– Não. Um Martine. – Ela diz abrindo espaço para que eu beije seu
pescoço. E eu beijei. E quer saber a desgraça? Lembrei da minha
ratinha. Mas acha mesmo que vou desperdiçar essa loira aqui
porque estou disposto a uma brincadeira de gato e rato com a
moreninha de cílios de boneca, pescoço de veludo e cabelo curto?
Nem morto. Não me olhe assim. Sou homem, embora um homem
confuso, sou homem e não santo. Dou uns bons amassos na loira
de pescoço médio, pago sua conta e saio com ela. Desesperado
como estou para saber se sou homem, parei num beco escuro e a
loira encheu meu pescoço de hematomas dos chupões que me deu.
Mas que loira pra transar gostoso, você não faz ideia. Fizemos o
carro balançar. Depois a levei para sua casa deixando bem claro
que foi só uma noite, ao que ela achou maravilhoso também e segui
para casa, exausto e cansado da farra no banco reclinado do carro.
Nem faço ideia de onde o Lucas e o Tony foram parar. Mas tenho
certeza que num motel ou beco escuro como eu.
Capítulo 12
Telma
– Bom dia, dona Celma.
– Bom dia, meu rapaz. Como está? – Meu rapaz! Só sendo mesmo.
– Bem. – Sorri retribuindo a simpatia e segui para a sala de Nick.
Iniciei meu trabalho e as horas passaram e nada dele chegar para o
trabalho. Será que aconteceu alguma coisa? Ontem foi um dia tão
atípico aqui, ele estava tão estranho. Seria bom ligar e saber se algo
aconteceu? Pego o telefone preto, em cima da sua mesa de vidro
com tapete preto embaixo, vendo sua cadeira preta do outro lado.
Eu te disse né, que tudo aqui é preto, branco, prata e vidro. Sem
graça, decoração de homem. Mas bem, peguei o telefone para ligar
pra ele e fico feito estátua o observando entrar.
Não me disse bom dia, fique sabendo.
– Bom dia, seu Nick. – Arrisco.
– Bom dia!
E pense num bom dia seco e sem olhar pra minha cara. O que
aconteceu com esse homem? Como não tenho nada com a vida
dele, vou fingir que não percebi esse mal humor e seguir meu
trabalho. Pego o iPad para passar sua agenda.
– Algum problema? Se sente mal? – Não aguentei e perguntei e me
arrependi do tom de voz inquisidor. Devia era ter mordido a maldita
língua.
– Nenhum. Por que? – Ele pergunta no mesmo tom. Gelei.
– Nada. – Respondi mais manso.
– Ótimo. – E com o ótimo dele passamos a agenda do dia como se
esse momento tenso não tivesse acontecido.
– E é isso. – Conclui a agenda.
– Muito bem. Cancele tudo.
– Ham? Por que?
– Porque não estou com cabeça pra muita coisa hoje. E ponto final.
– Seu ponto final veio no momento que eu ia abrir a boca para
perguntar por que.
Trabalhamos o dia aparentemente normal, apesar de seu mal
humor, porém ele evitando falar comigo. Mas eu o observava e via
que ele estava me observando. Já observou alguém te observar?
Foi isso que fiz.
– Está tudo bem? – Finalmente perguntei. Ele pigarreou.
– Posso te fazer uma pergunta? – Pigarreou de novo respondendo
minha pergunta com outra pergunta.
– Claro. – Disse desconfiada.
– Muito bem. – Outra vez pigarreou. – Você é gay? – Arregalei os
olhos diante de sua pergunta. Será que ele está desconfiado?
– Não. Claro que não. Sou muito homem, senhor. – Disse abrindo os
braços, caprichando na voz e coçando meu saco.
– Calma, calma. Não me leve a mal. – Ele ergue a mão numa
expressão de não se chateie.
– Por que pensou isso? – Tive coragem de perguntar. Meu coração
está para sair pela boca.
– Nada demais. Nenhum problema com você. Juro. – Ele disse na
defensiva e resolvi não perguntar mais nada. Queria insistir em
saber porque ele perguntou isso, mas já que ele não quis mais falar
no assunto, acho que o melhor que faço é também não insistir.
Se você acha que minha manhã estava péssima saiba que ficou
ainda pior quando sinto meu sangue ferver ao ver seu pescoço todo
chupado por uma mulher. O que diabos ele homem fez? Filho da
mãe galinha. Agora sou eu que passei o restante do dia de cara
feia.
(⌐■-■)(⌐■-■)(⌐■-■)
– Ele deveria se dar ao respeito. – Digo andando de um lado para o
outro no apartamento da Leila. E sim, estou irritada, irada. Frustrada
também.
– Ainda não entendi. – Leila diz pacientemente.
– Eu não entendo o Nick.
– E faz parte do seu trabalho entender seu patrão?
– Está debochando de mim? – Pergunto irritada.
– Eu não debocho de ninguém, minha querida. Sabe disso. Muito
menos de você. – Pior que é mesmo. A Leila é uma santa.
– Verdade. – Sento frustrada em sua cama.
– Muito bem! Vamos partir de um princípio. Por que mesmo você
entrou aqui gritando que seu patrão é um cachorro cretino? – Foi
assim mesmo que eu cheguei aqui depois de passar em casa e tirar
aquela maldita roupa de homem e me vestir como mulher
novamente. Sabe o que mais sinto falta durante o dia? Colocar cílios
postiços e argolas grandes nas orelhas.
– Ele chegou tarde no trabalho, com cara de ressaca e eu percebi o
pescoço todo marcado.
– De que?
– Chupão, Leila. Chuparam o pescoço dele e com vontade. –
Reclamo.
– Ah! – Ela arfa surpresa. Um silêncio paira no quarto. Então a
própria Leila o quebra.
– E você ficou com ciúmes. – Ela me acusa.
– Ficou doida?
– Então o que? Já estou ficando louca sem entender. Porque tudo
isso parece uma crise de ciúmes.
– Por que eu teria ciúmes dele? – Grito no quarto. Ela me olha séria,
mas não diz nada. Novo silêncio que agora sou eu quem quebro.
– Todo chupado. Aqui, aqui, aqui. – Digo esfregando minhas mãos
pelo meu pescoço pra mostrar pra ela a barbaridade que está o
pescoço daquele cretino miserável. – E chegou tarde no escritório. E
ainda saiu cedo. Deve ter ido encontrar a carrapata chupadora de
pescoço mais uma vez.
– Continue.
– Me perguntou se eu sou gay.
– Isso sim é importante. Por que ele te perguntou isso? – Leila
pergunta intrigada.
– Não faço ideia. E ele estava muito estranho. – Digo.
– Estranho sem contar com as marcas do pescoço? – Finalmente
prendi a atenção da Leila.
– Siiimm. Eu o percebi me olhando quando ele pensava que eu não
o estava observando.
– E ele te observou observa-lo também?
– Acho que sim.
– Ai meu Deus! Será que ele está desconfiado ou é gay? – Leila
pergunta surpresa.
– Não faço ideia. Mas ele estava estranho e me olhava estranho.
– E o que você disse quando ele perguntou se você como o Téo é
gay?
– Que sou muito do macho. – Leila ri que se deita na cama. – Te
odeio. Não quero mais falar sobre isso com você.
– Ai minha amiga, me desculpa. Mas você quem se colocou nessa
situação. Na noite do bar teve chance de acabar com essa
palhaçada e se divertir com ele e não fez nada disso. Agora está aí
se roendo porque ele evidentemente teve uma noite maravilhosa
com alguma maluca. E não foi você.
– Cheguei a pensar que estava tendo alguma conexão entre nós
dois ontem. – Digo lembrando dos momentos que nossos olhos se
encontraram ou nossas mãos se tocaram.
– Nada acontece entre vocês naquele escritório, Telma. Se
acontecer é entre ele e o Téo. E, primeiro: o Téo não existe.
Segundo: Nick não parece ser gay. Terceiro: ele parece estar
querendo se divertir com a Telma. Duas vezes que ele te devora
com os olhos e beija sem permissão. Deveria criar juízo e largar
esse emprego de vez e aproveitar esse lance com ele.
– Não. Estou fazendo o que gosto. Acabei de me formar. Embora
não vá poder colocar essa experiência em meu currículo, terei
aprendido muito com ele.
– Com ele? E com os outros da empresa não? Só serve ele? – Ela
pergunta com ar provocador.
– Você entendeu. E se quer saber, praticamente só tenho contato
com ele e dona Celma.
– Ela não desconfia?
– É uma senhora que acredita que o mundo mudou muito e cada um
se veste e comporta da maneira que achar melhor, diferente do seu
tempo que havia um padrão a ser seguido.
– Ah! Entendi. E faz sentido.
– E eu vou indo. Preciso dormir. Amanhã tenho trabalho e preciso
adiantar as coisas, porque o Nick vai viajar na sexta pra encontrar
um bando de amigos tão lindos e galinhas quanto ele. – A Leila
morde os lábios.
– Você só está confusa, minha amiga. Esse negócio de se vestir de
homem está te deixando um pouco perdida. Daqui a pouco tudo se
resolve nessa cabecinha. – Ela me abraça.
– Obrigada. – Digo e saio de lá desanimada. Eu não gosto do Nick.
Ele é lindo, atraente, sensual, forte, magnífico e é melhor eu parar
de pensar nele nesses termos. Nick não passa apenas de meu
patrão. E temporário.
Sigo em direção de casa me perguntando em que momento eu
comecei a ficar chateada com as saídas noturnas de meu patrão e
as marcas de chupadas no seu corpo. A vida dele não é da minha
conta.
Chego em casa, subo para meu apartamento. Tomo banho, troco de
roupa e me lembro que não peguei a correspondência lá embaixo.
Merda. E nem pense que amanhã vou colocar uma moeda naquele
pote maldito. Desço com meu moletom cinza e confortável para
pegar a correspondência.
– Telma! – A voz mais que familiar do Nick me chama quando tiro os
papéis da caixa do correio. Tento entrar antes dele me alcançar,
mas ele coloca a mão no portão me impedindo.
– Nick! – É tudo que eu digo assustada. Fui pega.
– Telma. O que você faz no apartamento do Téo? – Ele pergunta
confuso. Não mais do que eu me sinto agora.
– O que?
– Eu queria falar com o Téo. Olhei na ficha da empresa o endereço.
Você desceu do apartamento dele.
– Queria falar com o Téo? O que houve?
– Nada demais. Melhor ter encontrado você. – Ele diz já mudando o
tom de voz assumindo um ar sensual. – Não paro de pensar em
você. – Ele diz se aproximando do meu pescoço.
– Ham? Pensando em mim? – Pergunto sem entender. Encosto as
mãos em seu peito o empurrando de leve só para poder olhar essa
cara sínica. Pensa que não sei do pescoço chupado.
– Sim. Pensando nesses seus lábios deliciosos. Me diga, tomou
vodca hoje? – Ele pergunta e toca de leve meus lábios.
– Não. – Digo surpresa. Ele está bêbado? E o que quer com o Téo?
– Pensei também nesses seus olhos lindos de boneca… e nesse
pescoço de veludo. Está tão fresquinha. Saiu do banho agora não
foi? – Uma mão está na parede ao lado da minha cabeça não me
permitindo fugir escada acima para meu apartamento. E se eu
correr pra rua?
– Ah ah! Minha pequena fugitiva não escapa hoje. – Ele diz e sua
outra mão agora descansa em minha cintura. A mão que estava na
parede vem para meu pescoço. Minhas mãos continuam em seu
peito magnífico. Tão musculoso! O fico olhando e acho que não
estou respirando. E então … ele me beija.
Você consegue sentir o que eu senti? Meu coração disparou, minha
respiração perdeu o ritmo e acho até que minha pressão subiu. Ele
não é só maravilhosamente lindo e com um jeito conquistador, ele é
meu chefe e não sabe. Me sinto a Penélope Cruz no papel de Maria
Alvarez no filme Bandidas. Isso excita, sabia? Esse perigo. Acho
que ele percebe que me excita, ou se sente atraído por mim, porque
ele me abraça mais apertado e seu beijo fica mais intenso, faminto
como gostam de dizer por aí e então… ele para o beijo e me olha.
– Você e o Téo são irmãos?
– Ham? – Franzo a testa confusa. Nossos rostos estão bem
próximos e a expressão dele é tão confusa quanto a minha. Mas
continua lindo.
– Vocês são muito parecidos. Até a altura e a voz. Percebi agora. E
desceu do apartamento dele. São irmãos gêmeos?
– Si-sim. – Meu Deus que mentira tão grande quanto a primeira.
– Agora faz todo o sentido. – Ele diz e me beija de novo. Levo alguns
segundos para fechar os olhos surpresa que ele mesmo me ajudou
com esse problema. Já que pelo menos nesse momento estou
protegida com essa história de irmão gêmeo, vou aproveitar o beijo
e o momento. Minhas mãos saem do seu peito e passam para seu
pescoço. Quando ele percebe, me aperta ainda mais contra seu
corpo musculoso. Solto um leve gemido em seus braços e ele para
o beijo e me encara. Fica lindo com os lábios vermelhos de beijos.
– Obrigado.
– De nada? – Ele ri.
– Eu estava preocupado. Tinha certeza que conhecia o Téo de
algum lugar e certeza que te conhecia de algum lugar também.
Estava muito confuso.
– Ah! Pois é. Somos gêmeos. – Digo fingindo naturalidade.
– Agora tudo faz sentido. Não vai me convidar para subir? – Ele
pergunta passando o nariz por meu pescoço aspirando meu cheiro.
Minha pele arrepia e parece pegar fogo.
– Não posso. – Digo com dificuldade.
– Por que, minha ratinha?
– Ratinha? Por que eu sou um rato? – Pergunto irritada. Esse
homem é louco.
– Não fique irritada. Você fugiu de mim duas vezes e ainda tentou
agora a pouco. Parecia um jogo de gato e rato. Então você é minha
ratinha. – Ele diz com um sorrisinho de lado.
– Você conquista as mulheres com esse tipo de conversa? –
Pergunto surpresa.
– Não. Você é a única ratinha que já conheci. – Isso é bom ou ruim?
– Hum. Então tá. Mas preciso subir. Sozinha.
– Tem certeza?
– Absoluta. – Digo com convicção. Não vou levá-lo lá para cima. Não
vou transar com meu chefe e amanhã olhar pra cara dele sabendo
que ele está me olhando e pensando: Tracei tua irmã. Sem contar
com a possibilidade de ele ver minhas roupas de homem. Negativo.
– Hum. Pensei que tinha parado de fugir. – Ele diz fazendo uma linda
carinha de cachorro pidão.
– Sério. Vou subir. E sozinha. – Ele solta um gemido manhoso.
– Tudo bem. Suba e feche a porta. – Que fofinho.
– Tá. – Ele beija de leve meus lábios. O beijo é tão casto que aquece
o coração. Subo o primeiro degrau.
– Nick. – Me viro.
– Hum. – Ele se empolga. Deve pensar que eu iria chama-lo pra
subir.
– O que você queria com o Téo?
– Ah! Nada de mais. Resolvo amanhã.
– Tudo bem. Boa noite.
– Boa noite. E Telma? – Me viro. – Com esta roupa de moletom você
está tão feia que está linda. Parece até seu irmão. – Ele diz
sorrindo.
– Boa noite pra você também. – Digo e entro em casa. Espio pela
cortina da janela e o vejo entrar no carro e sair. Muito bem. O que
ele queria com o Téo? E que beijo foi aquele, meu Deus do céu?
Ainda estou sem fôlego.
Capítulo 13
Nick
Eu estava totalmente confuso. Não sei mais quem sou desde que o
Téo veio trabalhar aqui. Eu era um namorador sossegado e
consciente de minhas vontades e preferências sexuais. Como eu
pude me apaixonar por outro homem? Pensei que quando você se
tornava gay isso acontecia desde a infância, mas aqui estou eu
apaixonado por um homem. Tudo bem, não vamos exagerar. Não
sou um homem de me apaixonar. Mas como eu vou explicar isso
para você? Estou sofrendo de ereções não desejadas por meu
assistente homem. Ontem no escritório, quando tivemos aquela
vídeo-reunião, você lembra, não é? Pois bem, primeiro que pela
forma que o Téo se comporta, ele é muito profissional, nasceu pra
isso, não para de ficar atento a reunião e quando eu preciso de algo
e penso em procurar, ele já me entrega. Daí teve aquele momento
em que nossas mãos se encontraram e meu instinto predador
sensual quis entrar em ação. Mas eu lembrei, ele é homem.
Significa isso que eu sou gay? Meus amigos não me ajudaram em
nada. Juro, não me senti atraído por nenhum homem naquela boate,
mas pelas mulheres… hum!!! Queria todas. E posso te contar um
segredo? Fui olhar fotos de homens nus na internet. Me olhando
assim por quê? Precisava testar. Amo ver gostosas nuas, todo
homem gosta. Então pela lógica, se eu sou gay, deveria amar ver
homem nu. Mas é horrível. Nunca mais quero ver um negócio desse
em minha vida. Então eu decidi resolver tudo da forma mais lógica
possível. Vou procurar o Téo e conversar abertamente com ele. O
que tiver de ser, será. Não é assim que dizem? Não faço ideia de
onde ele mora, então o melhor é passar antes no escritório e
procurar seu endereço na sua ficha de trabalho. Entro no meu
escritório e escuto …
Ping, ping, ping …
– O que é isso? – Me perguntei em voz alta. Vou até minha sala e
ligo a luz do banheiro. Merda, uma torneira pingando. E uma moeda
para minha mãe, vou terminar na miséria assim. Tudo bem, depois
eu resolvo o problema dessa torneira, agora tenho algo mais
importante para fazer, meu futuro sexual está em jogo. Pego o
endereço do Téo e vou até lá.
(⌐■-■)(⌐■-■)(⌐■-■)
– Ora, ora! O que vejo aqui? A minha ratinha descendo do
apartamento do Téo. – Converso sozinho no carro. Vou até lá antes
que fuja. Desço do carro e corro bem sorrateiro para não ser visto e
ela correr como das outras vezes.
– Telma! – A chamo no momento que ela tira a correspondência da
caixa do correio. Até tentou entrar, mas eu sou muito bom e rápido e
a impeço de entrar colocando a mão no portão.
– Nick! – Ela me diz excitantemente assustada.
– Telma. O que você faz no apartamento do Téo? – Pergunto
confuso e ela me olha com uma expressão que demonstra o
mesmo.
– O que?
– Eu queria falar com o Téo. Olhei na ficha da empresa o endereço.
Você desceu do apartamento dele.
– Queria falar com o Téo? O que houve? – Ela o conhece então.
– Nada demais. Melhor ter encontrado você. Não paro de pensar em
você. – Digo me aproximando do seu pescoço. Não sei dizer o que
esse pescoço tem, mas me atrai. Sempre quero lambe-lo. Nos
últimos dias tenho descoberto coisas sobre mim que não imaginava.
Amo pescoços, não. Amo o pescoço da Telma. O que peguei ontem
da loira da boate não me atraía como esse. Era como todos os
outros. Mas esse me faz pensar loucuras.
– Ham? Pensando em mim? – Ela pergunta encostando suas mãos
em seu peito me empurrando de leve para poder me encarar. Eu sei
o que isso significa. Quero você, mas vou fingir que não quero. Seu
toque é tão leve, mas incendeia meu corpo.
– Sim. Nesses seus lábios deliciosos. Me diga, tomou vodca hoje? –
Toco seus lábios para relembrar o gosto bom e a maciez que eles
têm.
– Não. – Que pena. Essa boquinha com gosto de vodca anima muito
meu companheiro dentro da calça. Mas seu gosto sem vodca
também é bom. Faz meu companheiro de guerra se animar
também. Tudo nessa mulher me enlouquece.
– Pensei também nesses seus olhos lindos de boneca… e nesse
pescoço de veludo. – Nesse momento ela olha para rua e do jeito
que corre feito trombadinha no sinal, a impeço logo de tentar fugir.
Hoje não.
– Ah ah! Minha pequena fugitiva não escapa hoje. – Minha mão vai
para sua cintura e a outra para seu lindo pescoço. Suas mãos
delicadas continuam em meu peito. Sou musculoso, já te contei?
Não? Mas não posso conversar com você agora. Vou beijar minha
ratinha linda.
E a beijei. Com vontade. Beijo de filme. Ela fez meu corpo ferver. A
estou caçando como gato atrás do rato há dias, então tê-la aqui nos
meus braços é um prêmio. Sabe quando o gato pega o rato e sai o
exibindo com pescoço pendurado para o dono? Não, não, não.
Minha comparação não ficou boa. Mas ela gosta do beijo. São
reações sutis. Sua boca é receptiva, sua língua participa da
brincadeira junto com a minha. Suas mãos se seguram mais firmes
no meu corpo forte e ela solta leves gemidos em minha boca.
Quando ela geme um pouco mais alto e sua mão aperta minha
camisa, eu a abraço mais apertado e nosso beijo fica mais intenso.
E eu poderia ir a loucura nesse momento com ela. Mas penso em
algo que me desconcentra. Paro o beijo e a olho.
– Você e o Téo são irmãos?
– Ham? – A expressão dela é tão confusa quanto a minha. Acho que
ela não entendeu minha pergunta ou ainda está afetada pelo beijo.
– Vocês são muito parecidos. Até a altura e a voz. Percebi agora. E
desceu do apartamento dele. São irmãos gêmeos? – Será esse o
motivo da minha perturbação mental?
– Si-sim. – Ela gagueja. Que coisa mais fofa gaguejando. Deve ser
meu efeito sedutor.
– Agora faz todo o sentido. – Digo aliviado e a beijo de novo.
Tadinha! Nem entendeu minha perturbação, porque levou alguns
segundos para retribuir o beijo de novo. Mas quando o faz… caraca.
Moeda para o potinho da mamãe com prazer. Suas mãos saem do
meu peito e passam para meu pescoço. Ela me deixa louco com
essa iniciativa. A aperto ainda mais contra meu corpo. A quero sentir
mais e mais e quero que ela sinta o quanto me excita. Ela geme
ainda mais gostoso aninhada em meus braços. Huumm. Deve estar
toda molhadinha me pedindo para preenchê-la. É agora. Paro o
beijo e a encaro. Fica linda com os lábios vermelhos dos meus
beijos.
– Obrigado.
– De nada? – Não aguento seu senso de humor. Além de tudo é
divertida.
– Eu estava preocupado. Tinha certeza que conhecia o Téo de
algum lugar e certeza que te conhecia de algum lugar também.
Estava muito confuso.
E você nem imagina a confusão. Se soubesse que pensei que era
gay.
– Ah! Pois é. Somos gêmeos.
– Não vai me convidar para subir? – Pergunto passando o nariz por
seu pescoço aspirando seu cheiro. Tenho até medo de me viciar
nisso.
– Não posso.
– Por que, minha ratinha?
– Ratinha? Por que eu sou um rato? – Eita. Ela se irritou. Mas é uma
forma carinhosa de chama-la. Você me entende, não é?
– Não fique irritada. Você fugiu de mim duas vezes e ainda tentou
agora a pouco. Parecia um jogo de gato e rato. Então você é minha
ratinha. – Sorrio lembrando o quanto ela correu nos nossos dois
encontros anteriores.
– Você conquista as mulheres com esse tipo de conversa? –
Pergunta surpresa.
– Não. Você é a única Ratinha que já conheci.
– Hum. Então tá. Mas preciso subir. Sozinha.
– Tem certeza?
– Absoluta. – Ela pareceu tão convicta. Será que está menstruada e
não quer transar? Tem mulheres que não gostam.
– Hum. Pensei que tinha parado de fugir. – Digo fazendo cara de
cachorro pidão. As mulheres amam.
– Sério. Vou subir. E sozinha. – Apelei com um gemido manhoso.
Não surtiu efeito.
– Tudo bem. Suba e feche a porta. – Não vou insistir. Ela foge
demais e dessa vez não fugiu. Vou com calma. Já sei onde ela
mora.
– Tá. – Subiu o primeiro degrau e me chamou. Yes. Vai me chamar.
– Hum. – Tento disfarçar minha empolgação.
– O que você queria com o Téo?
Dizer que acho que sou gay e acho que estou a fim dele? Não. Não
vai pegar bem.
– Ah! Nada de mais. Resolvo amanhã.
– Tudo bem. Boa noite.
– Boa noite. E Telma? – Ela se vira. – Com esta roupa de moletom
você está tão feia que está linda. Parece até seu irmão.
– Boa noite pra você também. – Ela diz fingindo ter ficado chateada.
A espero entrar e vou para o carro. Arrumada ou com essa roupa
ela fica linda. De todos os modos ela está sex. Hum, deveria ficar
muito sex também vestindo uma camisa minha depois de transar.
Sigo para casa recapitulando os acontecimentos das últimas
semanas da minha vida. Téo e Telma entraram na minha vida ao
mesmo tempo. Eu me senti atraído pela ratinha e projetei isso no
irmão sem saber. Comecei minha caçada a Telma tendo que
conviver com o Téo. Além disso, tem as inúmeras vezes que o
peguei me olhando, sua reação confusa quando nossas mãos se
encontravam e o fato dele ser o gêmeo mais idêntico que eu já vi
em minha vida.
É. De repente a vida parece ter voltado ao seu eixo normal. Sou um
grande garanhão pegador e quero pegar a irmã do meu assistente.
Que mundo maluco. Depois de três processos, contrato um
assistente estranho, porém muito competente, que tem uma irmã
pra lá de gostosa. E eles são tão idênticos que eu quase perdi
minha identidade masculina.
É, eu não sou gay.
Capítulo 14
Nick
Meu Deus! Eu acho que sou mesmo gay. Já senti duas ereções não
desejadas olhando o Téo andando pelo escritório. Isso deveria ter
passado quando eu descobri que ele é irmão da Telma. Eu não era
gay. Então essa atração deveria ter passado. Não é? Eu estou
gostando dos dois? Porque sei que estou muito a fim da irmã dele.
E por ele?
Ele se curva para pegar meu café e eu preciso me remexer na
cadeira para tentar não demonstrar minha excitação. Sério. Eu
tenho vontade de arrancar sua calça e thá thá nele. Nada contra
quem gosta disso. O que me perturba é que eu nunca gostei,
continuo não gostando de outros homens. Você viu que tentei.
Sempre fui muito decidido com a minha masculinidade. Ele me traz
o café e tento disfarçar.
– Deseja mais alguma coisa? – Ele pergunta parando do meu lado
como sempre faz. Estou tão vidrado nesse rapaz que sei até sua
próxima ação. Vai passar uma mão na outra e depois as levar a
cintura. E então tirá-las rapidamente e coçar o saco. Essa parte me
preocupa. Deve ter algum fungo ou bactéria. Viu? Fez tudinho.
– Não, Téo. Obrigado. – Digo bebendo meu café e evitando virar um
centímetro sequer em sua direção.
– Ok! A Telma me disse que foi ontem em nossa casa e queria falar
comigo. Algum problema?
– Não. Nada de mais. Até já esqueci. – Digo. Mas esqueci nada.
Ontem fui dormir satisfeito pensando que tinha resolvido esse
problema e continuo na mesma, desejando dois irmãos. Já desejei
duas irmãs e já peguei duas irmãs. Até ao mesmo tempo. Mas um
casal de irmãos nunca. Lembro as vezes que levei duas mulheres
ao mesmo tempo para cama. Daí minha mente me leva para a cama
com o Téo e a Telma ao mesmo tempo. A cena me assusta e me
levanto de uma vez. Bato as pernas na mesa.
– Puta que pariu. – Esbravejo e Téo abre a gaveta onde já
deixamos uma cestinha com moedas, pega uma e coloca no pote. E
sim, a cestinha foi ideia dele. Sempre que sai para comprar algum
lanche ele coloca as moedas do troco na cestinha e estamos
usando para pagar minha boca suja, porque a dele já está quase
disciplinada. Está vendo o que digo? É difícil não se sentir atraído.
Ele é muito perfeitinho, além de uma cópia exata da irmã que é uma
delícia. Nem sei mais o que estou pensando.
– Se machucou? – Ele pergunta preocupado se aproximando. Ai
meu Deus. É agora. Não me conheço mais. E se tentar agarra-lo?
Ele vai querer me processar por assédio. Ainda vai dizer para a
Telma e ela nunca mais vai deixar eu me aproximar dela. Caio na
minha cadeira e a empurro de uma vez para trás tentando fugir da
aproximação dele que não entende minha reação. Nem imagina o
risco que corre perto de mim. Bato com a cabeça na parede atrás de
mim e me levanto de uma vez passando apressado por ele e quase
o derrubo. É levinho feito a irmã. Já chega. Preciso resolver minha
confusão mental. Mas antes preciso sair daqui antes que realmente
cometa um assédio.
– Está bem? – Ele pergunta preocupado e morde o lábio inferior.
Mesmo gesto da irmã. Meu Deus, esses dois irmãos vão me deixar
louco.
– Sim. Tudo bem. Só preciso sair. Não volto mais hoje. – Digo e
praticamente fujo do meu próprio escritório.
Telma
O que deu nele? Parecia tão assustado. As vezes penso que ele
não é normal.
Ping, ping, ping.
Droga, a torneira. Vou tentar dar um jeito nisso. Abro o armário
embaixo da pia e pego a caixa de ferramentas de Nick, com o
nome… Nick. O que ele acha? Que alguém iria querer roubar uma
caixa de ferramentas e agora não vai mais só por ter seu belo nome
gravado, como se não fosse de ninguém? Ou que ele poderia
perder e isso é tão precioso que quem achasse iria se desesperar a
procura do dono? Eu hein. Mas vamos lá. Peguei a caixa. É Telma,
mostre seu lado masculino agora. Seu patrão maluco deve esperar
isso do seu assistente homem. Abro a caixa de ferramentas e não
sei o que fazer. Como se concerta essa torneira? Vou pegar meu
celular e olhar no Google, lá deve dizer. Procuro alguma instrução e
vamos lá ver se consigo. Escolho uma chave e começo a girar a
torneira. Olha só!!! Está girando. Uhuuu. Acho que vou conseguir.
Shiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii
Água jorra por todo lado. E o que uma mulher faz quando tenta fazer
algum trabalho masculino e perde o controle? Grita. É instintivo. E
foi isso que eu fiz. Gritei quando vi água por todo lado, inclusive em
mim. Tento me acalmar e saio do banheiro que está fazendo chover
água para todo o lado. Abro minha camisa para tentar tirar o
excesso de água. Meu Deus! Meu top da roupe está encharcado.
Preciso secar. Tiro a camisa e tiro o top. Sim. Estou só de calça no
escritório do Nick. Ele saiu correndo feito um louco e já avisou que
não vem mais hoje aqui. Estou sozinha. A Celma não entra aqui
quando ele não está. Ninguém além de mim entra aqui quando ele
não está.
– Téo!!! O que significa isso? – A Celma que nunca entra no
escritório de Nick quando ele não está resolve entrar e me vê sem
camisa. E qual é a ação universal das mulheres quando são pegas
de seios de fora? Gritar e levar as mãos aos seios. Pois é isso que
eu acabo de fazer.
– Eu posso explicar.
– É claro que vai me explicar. – Ela diz fechando a porta do escritório
com a chave. Eu devia ter feito isso quando resolvi tirar a roupa.
– Mas primeiro preciso acabar com essa chuva. – Me afasto para
que ela veja a torneira da pia do banheiro jorrando água pra todo
lado.
– É mesmo. – Ela se apressa a ir até o registro e o fecha. Água
cessada por enquanto. – Agora pegue essa toalha.
– Obrigado. – Digo com voz grossa.
– Ora menina, não tente me enganar. Vi seus peitos. – Ela diz
irritada. – Agora me conte tudo, sem me esconder nada. Senão te
entrego para o patrão.
– Isso significa que tenho uma chance de que não conte? – Pergunto
triste e nervosa por ter sido pega.
– Se for sincera comigo, sim. – Ela diz e sinto um alívio tão grande
que começo a chorar. É até patético de ver. De calça e sapato de
homem e uma toalha amarrada na altura dos seios para me secar.
Levo as mãos ao rosto tentando controlar o choro.
– Calma, menina. Senta aqui. Somos mulheres. Devemos nos
ajudar. Certo? – Dona Celma diz. Balanço a cabeça em um sim. –
Se acalme e me conte tudo.
– Tudo bem. Vou contar. E espero que me compreenda. Eu sou
recém formada. As informações do meu currículo não são falsas.
Garanto. São o que sou, com exceção do nome. Me chamo Telma.
Mas eu queria muito um emprego na área e fazia tempo que
procurava. Eu estudei muito, dona Celma, sempre sonhei com um
emprego desse. Nunca me vi fazendo outra coisa. Aí vi a vaga de
emprego com a exigência de que tinha de ser homem. Eu sabia que
me daria bem no emprego e minhas economias já estavam me
deixando apertada. Então eu cortei o cabelo, me fingi de homem e
consegui documentos falsos. Mas eu juro que estou procurando
outro emprego e saio daqui. Juro. Juro.
– Calma menina. – Ela me consola. – Vamos dar um jeito nisso.
Você passa muito tempo com seu Nick. Ele não desconfiou?
– Às vezes me olha meio torto ou sei lá como. Mas acho que não.
– Tudo bem. Melhor assim. Vamos secar sua roupa para cobrir seus
seios, antes que alguém apareça. Não sei como aguenta.
– Nem eu. Acho que é mesmo a vontade de ser uma secretária
executiva que é maior que tudo. – Digo desanimada. Não sei se por
ter sido pega ou por estar cansada de fingir. Dou um suspiro forte.
– O que foi? – Ela pergunta secando meu top no secador de mãos
do banheiro.
– Ontem o Nick me beijou. – Admito. Já que ela está disposta a me
ajudar né! Vai que me diz o que fazer.
– Não sabia que ele é bissexual. – Ela diz surpresa.
– E acho que não é. Ele beijou a Telma, que ele pensa ser a irmã
gêmea do Téo.
– Meu Deus! Que confusão você criou menina. – Ela diz num tom
até maternal.
– Pois é.
– Pegue. Vista seu top, já secou. Vou secar a camisa agora. – Ela
seca a camisa e ficamos em um silêncio cúmplice até que ela me
entrega a camisa.
– Obrigada.
– Vista-se. E não se preocupe, vamos dar um jeito. – Ela me sorri.
– Por que está me ajudando? Qualquer outra pessoa não confiaria
em mim e me denunciaria. – Admito.
– Veja Telma, meu marido e eu nunca conseguimos ter filhos e esse
era meu maior sonho na vida. Os anos passaram e eu me
conformei, embora nunca tenha esquecido meu sonho. Ele não
morreu, só não pôde se realizar. E olhando você, penso que teria
idade de ser minha filha. E imagino que jovens na sua idade fazem
tolices e coisas impensadas. Então poderia ser minha filha. E se
fosse, como mãe, eu teria que tentar proteger e cuidar dela.
– Obrigada. – Digo emocionada. Minha mãe me mataria, tenho
certeza.
– Vamos dar um jeito. Conheço seu Nick. Ele também é como um
filho para mim. Vamos fazer de tudo para que você continue aqui e
pare de fingir ser homem. Você é a mais competente que já passou
por aqui. Enquanto isso, evite ao máximo os outros funcionários.
– Já faço. Desde que cheguei.
– Ótimo. Pois vou pensar no que fazer e vamos dar um jeito. Agora
vou chamar alguém para consertar essa torneira. Não podemos ficar
sem água. – Ela abre a porta e sai. Eu suspiro aliviada. Não sei se
posso contar com isso, mas um fiozinho de esperança começa a
surgir em mim.
Capítulo 15
Telma
– Nick não apareceu no escritório hoje. Eu estou tão preocupada. –
Digo a Leila no bar da Natasha a noite depois do trabalho. Passei
em casa para trocar de roupa e a chamei para vir aqui, mas no
fundo gostaria de encontrar o Nick. Ele disse que está me caçando
feito gato e rato. Coisa absurda. Mas queria ser achada hoje para
saber o que aconteceu.
– A secretária te descobre e você fica preocupada é no fato que ele
não apareceu no escritório?
– Conheço dona Celma, ela não vai falar. Aliás, prometeu até me
ajudar. Mas Nick está cada dia mais estranho.
– Estranho como? – Leila pergunta tomando um gole de vinho.
– Estranho a ponto de sair correndo. Já te falei. De me olhar
estranho e parecer que está fugindo de mim e depois, literalmente
correr pra longe. – Digo desanimada.
– Será que ele é bipolar?
– Não faço ideia. – Digo bebendo mais um gole da minha vodca.
– Tá, tá. Vamos parar com a vodca. Não quero você nos alcoólicos
anônimos. – Leila diz tomando meu copo.
– Espero que dona Celma encontre logo uma saída pra mim, porque
já estou ficando cansada de me vestir de homem.
– E se você pedir demissão e depois pedir emprego de novo como
Telma? Ele já acha mesmo que você e o Téo são irmãos. – Me
sugere.
– Não sei. Acho que não rola. Nick só quer me dar uns pega. E ele
não quer se envolver com ninguém do trabalho. Ele não me
contrataria e não estou em condições de ficar sem emprego agora.
Preciso ter outro para substituir esse. – Explico.
– Então pense, minha amiga. Senão você vai acabar no fundo de um
sofá bebendo vodca sem parar num apartamento imundo. – A
encaro.
– Por que num apartamento imundo? – Pergunto intrigada.
– Porque é assim que os filmes retratam as pessoas que chegaram
no fundo do poço.
– Ah! – Arfo surpresa.
– Bem, melhor eu ir e melhor você vir comigo antes que se
embriague com vodca. – Ela diz ficando de pé. Pagamos a conta e
vamos para casa.
O restante da semana passa e Nick não aparece no escritório. Falei
com ele algumas vezes ao telefone para resolver alguns assuntos e
ele parecia normal, mas sempre dizia que só voltaria ao escritório na
segunda-feira depois que voltasse de viagem. Vai viajar com os
amigos. Me pediu para providenciar algumas coisas pra ele, já que
vai passar o fim de semana com os quatro melhores amigos num
iate no litoral. Cinco homens ricos num iate? Devem arrumar um
monte de garotas seminuas de peitos gigantes dispostas a toda
orgia sexual.
Nick
– Vai lá. Se ficar bambo é só um pouquinho. Não acredita nas leis da
física? Confia no pai, confia. – Eduardo diz na ponta de baixo da
escada. Aquele lá em cima é o Lucas. Vou te explicar a cena.
Estamos no iate do Tony e lançamos o desafio de ver se
conseguimos subir no topo da cabine. Pra que? Só pra subir
mesmo. O que mais cinco homens sozinhos fariam num iate? Sabe
o ditado né: homem faz homice. E acho que é por isso que as
mulheres vivem mais. Sempre existe um homem pra fazer coisas
estúpidas e outro para ajudar ou dar apoio. Como agora.
Estamos em alto mar e o iate oscila nas ondas. Então a ideia de
colocar uma escada e tentar subir nela é péssima. Por isso
topamos.
– Relaxa, eu tô sussa. – Lucas tranquiliza.
– Teria sido mais fácil numa escada de ferro ou madeira. Essa de
cordas está balançando muito. – Tony constata.
– É porque não temos escada. Acabei de fazer essa com o Eduardo.
– Leonardo explica.
– O bom é isso, não importa o desafio, sempre damos um jeito. –
Digo satisfeito vendo nossa idiotice. Nada melhor que ficar isolado
com os amigos para colocar as ideias no lugar.
– Não vai dar certo. Tá balançando muito. – Lucas diz voltando.
– Certo. E como vamos fazer pra você chegar lá? Temos um desafio.
– Eduardo pergunta.
– Nas costas. Vamos. Cada um subindo nos ombros do outro até o
Lucas chegar lá. – Leonardo dá a ideia.
– E pra quê eu vou chegar lá mesmo? – Lucas pergunta.
– Só pela emoção. A cabine é alta e vai ser bom. Depois os outros
também vamos tentar. – Explico.
– Beleza. Então eu serei o desbravador do caminho até o topo do
mundo. – Lucas se empolga. Todos nos empolgamos. Assim
começamos. Eduardo se abaixa e subo em suas costas, depois o
Leonardo dá um jeito de subir em mim, Tony escala em cima de nós
e por último Lucas nos escala chegando ao topo.
– Estou quase lá. Vou me esticar mais um pouco. Espera.
– Rápido homem. Está pesado aqui em baixo. Não vou aguentar
mais não – Eduardo reclama.
– Calma amorzão. Tô quase lá, não para amor, tô chegando. –
Lucas brinca fingindo voz de mulher gemendo.
– Eu tô tremendo. Vai logo com isso Lucas. – Leonardo também
reclama.
– Uhuuu. Cheguei. – Lucas vibra. Graças a Deus. Começamos a
descer dos ombros e o olhamos lá em cima bem sentado na ponta
do teto da cabine.
– E aí? É bom daí de cima? – Perguntamos.
– É fantástico. Vocês precisam subir também. – Ele abre os braços e
começa a gritar. – Jack! Estou voando. – Começamos a rir.
– Como você não sabe mais se é homem, pode querer subir e se
encaixar lá no Lucas recitando filme antigo. – Leonardo zomba da
minha cara.
– Imbecil. – Resmungo.
– Isso mesmo, um imbecil. Se ele se apaixonou por um homem,
deixa ele ser feliz. – Eduardo completa.
– Isso é uma tentativa de me ajudar?
– Acho que sim. – Sentamos e ficamos conversando bobagem. Mas
eu sabia que não ia escapar de ter que conversar com todos eles
sobre minha confusão mental. E era por isso que eu mais esperava.
Uma reunião de amigos para discutir minha sexualidade.
(⌐■-■)(⌐■-■)(⌐■-■)
– Fazendo o que aqui sentado sozinho? – Pergunto para o Eduardo.
É fim de tarde e nenhum ainda reclamou que quer mulher. Isso é
impressionante. Lucas e Leonardo seriam os primeiros.
– Pensando na Ella e onde será que aquela maluca está.
– Sério que ela foi embora sem te dar notícias?
– Mais do que sério. Eu sabia que ela não estava bem. Sabia que a
endometriose a privava de sonhos que ela tanto desejou. Mas
nunca a cobrei. Ela quem sempre se cobrou até o ponto de não
suportar e dizer que queria ficar sozinha. – Ele desabafa.
– E você não se preocupa que ela tenha feito uma loucura?
– Não. O primo dela, Gustavo, a quem ela chama de Tontom sabe
onde ela está e disse que está bem. Que logo avisa pra onde foi.
– E você não o pressionou para te dizer?
– Só faltei bater nele. Mas uma coisa que já aprendi sobre eles dois,
o amor que os une desde o berço os faz se amar como dois irmãos.
São leais um ao outro. Então se a Ella pediu pro Gustavo não dizer
onde ela está, eu o bateria até a morte e ele não diria.
– Sinto muito. – É tudo que consigo dizer.
– Não existe mais ninguém que possa te ajudar a descobrir? – Tony
pergunta ao se aproximar mostrando que estava ouvindo nossa
conversa.
– Monalisa LeBlanc. A também tão querida e amada prima da Ella.
Descobri que está na França e minha esperança é que a minha
fugitiva estivesse com ela. Mas a Monalisa está sozinha. –
Conversamos um pouco até que estamos os cinco juntos no convés
do iate conversando. Sempre fomos assim, desde a faculdade.
Eduardo foi morar na Capital e Leonardo rodar o mundo, mas nunca
deixamos de nos falar e apoiar.
– E pelo que parece você não é o único a ter uma fugitiva em sua
vida. O Nick também tem. – Lucas diz.
– Como é isso, cara? Não basta estar confuso com sua sexualidade,
ele ainda está fugindo de você? – Leonardo pergunta.
– Não é o Téo que está fugindo de mim. Ele nem sabe que acho que
estou a fim dele. – Todos riem, menos o Eduardo.
– Ah caras! Não riam dele. Se ele está apaixonado por um homem,
vamos apoia-lo. Embora eu nunca tenha imaginado que você tinha
preferência por homem. – Eduardo diz me olhando.
– Nem eu. Na realidade tem um probleminha nisso tudo. – Confesso.
– Que seria? – Um deles pergunta. Tenho quatro pares de olhos me
encarando com muita atenção.
– Eu também estou a fim da irmã dele.
– Cara, você ama demais. – O Tony diz.
– Não, não. Então espera. Agora eu estou confuso. Você é gay ou
não é? – Lucas pergunta.
– Eu não sei. Sei que tenho sentido tesão pelo Téo no escritório e
comecei a caçar a irmã dele por aí. Uma presa bem deliciosa, por
sinal, que me excita como nenhuma outra mulher já conseguiu.
– Então vamos ver se nós entendemos. Você é o CEO que não
queria uma assistente mulher para não se envolver e agora nutre
sentimentos pelo rapaz que se tornou seu assistente? – Leonardo
pergunta.
– Sim.
– Acho que você não é gay, só está apaixonado por um homem. –
Eduardo diz.
– E isso não faz de mim um gay?
– E eu que vou saber? – Eduardo só complica.
– E a fugitiva, irmã dele. Como é perto dela? – Lucas pergunta.
– Sempre quero encontra-la, vê-la. Amo seu beijo. Mas me sinto
atraído por ela tanto quanto pelo assistente. Não, por ela um pouco
mais.
– Acho que você precisa ficar com os dois para ter certeza.
– E se eu não gostar de homem?
– Aí terá tirado a prova, cara. – Tony completa. Suspiro.
– Você tem mesmo desejo pelo seu assistente?
– Já tive vontade de lhe arrancar a calça no escritório. Daí tenho
certeza que gosto dele. Depois encontro minha linda ratinha por aí e
tenho certeza que gosto de mulher.
– Pois precisamos tirar a prova. Chega de estar aqui só com vocês.
Vou ligar para umas amigas. Quem quer alguma coisa? – Leonardo
pergunta.
– Claro que quero mulher. Pode convidar uma amiga pra mim. Acho
que o Eduardo e o Nick são os únicos que não querem ninguém
hoje. – Lucas diz.
– Ficou doido? Claro que quero uma amiga pra me alegrar hoje. –
Eduardo diz.
– Eu também. – Confirmo.
– Homem ou mulher? – Leonardo me pergunta. Todos me olham.
– Mulher, pelo amor de Deus. – Confirmo assombrado.
– Então você é homem?
– Já disse que não sei.
– Todos de pé. Tirem a camisa e se exibam pra ele. Vamos. – Eles
ficam de pé e começam a tirar a camisa e querer se esfregar em
mim.
– Que nojo. Saiam de perto. Pronto, sou homem. Eca. Não
encostem em mim.
Sei apenas que já que estamos no iate do Tony e o Lucas e
Leonardo conhecem mais gente que nós outros três juntos,
voltamos para orla para buscar as amigas deles e nos divertimos
muito o restante do final de semana. Acho que nenhum iate nesse
mundo gemeu mais do que o nosso nesse fim de semana. É! Acho
que definitivamente eu sou homem.
Capítulo 16
Nick
– Bom dia, garanhão! – Cumprimento Leonardo que descansa numa
das poltronas no convés do iate.
– Bom dia, senhor bissexual. – Ele responde, me olha e fecha os
olhos.
– Ressaca?
– Das grandes. Tinha esquecido que a gostosa com quem estive é
chegada nuns goró. Bebemos até perder o rumo. E você?
– Me diverti com a sua outra amiga também. Mas não bebi. – Explico
e os outros rapazes chegam.
– E as garotas? – Tony pergunta.
– Já se foram. A lancha veio buscá-las agora a pouco.
– Ok! Sobre o que conversam?
– Sobre o senhor bissexual não ter bebido. – Leonardo explica.
– Não acho que o Nick seja bissexual, não. – Eduardo diz com um
palito de dente na boca.
– Ham? – Pergunto.
– Pareço um gangster com esse palito na boca? – Ele pergunta.
– Não desvie o assunto. Por que você acha que não sou bissexual?
– Acho apenas que você se apaixonou. E caiu de se apaixonar justo
por um homem. – Ele tenta explicar.
– Tá. E isso não faz de mim um gay?
– E eu quem vou saber?
– Ah! O Eduarda não pode opinar, não. Ele está com dor de cotovelo
porque perdeu a Ella. Acha que sabe tudo sobre o amor. – Os
rapazes começam a discutir. Giramos em torno de muitas teorias e
eu não sei mais quem sou.
– Eu já sei. – Lucas decreta.
– Pois explique. – Peço quando ele ganha a atenção de todos nós.
– Na realidade você não está apaixonado pelo Téo.
– Não? E o que explica as ereções não desejadas desse tarado no
trabalho? – Tony pergunta lembrando desse desconforto
vergonhoso que tenho passado.
– Você está apaixonado é pela irmã gêmea do Téo e deve estar
projetando isso nele, já que você diz que eles são parecidos.
– Eles são idênticos. Até a voz e a altura.
– Tá vendo só como eu estou certo? – Lucas se gaba.
– Ou na verdade você está apaixonado pelo Téo e está projetando
todo esse amor na irmã gêmea dele. – Gemi com a explicação do
Leonardo. Não me ajudam em nada.
– Algum de vocês já ficou com gêmeas? – Eduardo pergunta
mudando o foco do assunto.
– Ao mesmo tempo? – Leonardo pergunta.
– Sim e não. – Eduardo diz.
– Eu já fiquei. – Lucas diz.
– Eu também já fiquei, é incrível. – Leonardo diz e suspira.
– Ao mesmo tempo? – Pergunto curioso.
– Sim e não. – Ele responde com um erguido malicioso de
sobrancelhas.
– Talvez essa seja a solução pro Nick, assim ele descobre logo se
gosta de homens ou de mulheres.
– Ficar com os dois irmãos? – Pergunto.
– Sim. Bem simples. Assim você acaba logo com isso.
– Cara, você é perturbado. Como se apaixonou assim por dois
irmãos? De sexos diferentes? Realmente você ama demais. – Tony
me recrimina.
– E você, que devia arrumar logo uma esposa, como seu pai deseja,
hein!?? – Me defendo atacando.
– Nem vem com essa. Eu não quero casar. Meu pai é quem quer
que eu case, porque segundo ele, isso será ótimo para os negócios.
E te digo, se eu amasse tanto quanto você, já teria casado. – Ele diz
me apontando.
– É. O Tony está certo. Dessa vez você perdeu. – Debocham de
mim.
– E a que conclusão chegamos quanto ao Nick?
– Ele não é gay, mas está apaixonado por um homem. – Eduardo
explica. Solto um gemido de desespero.
(⌐■-■)(⌐■-■)(⌐■-■)
– Bom dia, dona Celma! – Cumprimento minha única secretária que
nunca me deu problemas todos esses anos.
– Bom dia, seu Nick. Que bom que voltou ao escritório. – Ela diz.
– Obrigado. Precisava resolver algumas coisas pessoais. O Téo já
chegou? – Pergunto mostrando indiferença.
– Já sim. Está em sua sala.
– Ok! Obrigado.
Entro em minha sala e Téo fica imediatamente de pé ao me ver. E
surpreso.
– Nick! Digo, seu Nick! Bom dia! – Ele me cumprimenta, mas sinto a
tensão em sua voz e a apreensão em seu olhar.
– Bom dia, Téo! Como estão as coisas por aqui? – Pergunto.
– Tudo em ordem, senhor. Sua agenda está pronta. Quer que passe
seus compromissos?
– Por favor! – Téo para diante de mim do outro lado da mesa e
começa a citar meus compromissos. Enquanto ele lê, observo seu
rosto e o quanto é parecido com a irmã. Será isso que me deixa
confuso? Suspiro fundo.
– Algum problema? – Ele me pergunta levando os olhos do iPad.
– Não, não. Muito bem. Vamos ao trabalho, então. – Iniciamos o
trabalho e me distraio tentando tirar todo o atraso dos meus dias
ausentes. Mesmo tentando me manter ocupado e trabalhando, era
bem diferente de estar aqui, onde fazemos todas as engrenagens
de nosso negócio funcionar e prosperar.
– Senhor Nick, doutor Eduardo de Mello está aqui. Deseja falar com
você. – Dona Celma me informa.
– O Eduardo aqui? Pode dizer pra entrar. – Peço curioso. O Téo faz
horas que está debruçado em minha mesa tentando fazer bater
nossa logística de entregas. Nossas vendas aumentaram muito e
precisamos calcular bem as entregas ou teremos muito prejuízo
com transporte. Eu preferi ficar longe e me sentei na cadeira do
outro lado da mesa fazendo as ligações internacionais que
precisava fazer desde a semana passada.
– Nick. – Eduardo me cumprimenta ao entrar.
– Diz aí cara. Que surpresa.
– Resolvi vir te ver cara. Estou voltando pra Capital. Não sei quantos
dias vou ficar lá antes de vir espairecer de novo em Santa Bravinha.
– Hum. Pois senta aí rapaz.
– Não vai me apresentar? – Então é isso. Esse miserável estava era
com curiosidade de ver o Téo. Eu devia ter desconfiado.
– Eduardo, esse é o Téo, meu assistente. Téo, esse é meu amigo
desde os tempos da faculdade, Eduardo. – Téo que até então
estava tão concentrado no trabalho, ou simplesmente não queria se
envolver em nossa conversa ergue a cabeça para falar com o
Eduardo.
– Prazer cara. – Téo lhe estica a mão e os dois trocam um aperto.
Depois Téo se ajeita, coça o saco e se ajeita de novo voltando ao
trabalho. Fico conversando banalidades com o Eduardo quando o
barulho do banheiro lhe chama atenção.
– E esse ping, ping? – Ele pergunta.
– Nosso banheiro que está pingando. O Téo já tentou consertar… o
zelador já tentou consertar…, mas a torneira da pia continua
vazando.
– Hum! Onde está sua caixa de ferramentas? – Eduardo pergunta.
– Vai consertar?
– Se você me trouxer sua caixa de ferramentas, sim. Não posso
fazer nada só com as mãos. – Esnobe.
– Ouche que homem bruto. Nam. – Reclamo e ele ri. Percebo o
risinho discreto do Téo, o que prova que ele não está tão absolvido
assim no trabalho. Está de orelha em pé em nossa conversa.
– Vou pegar a caixa pra você. – Digo e pouco depois vou para o
banheiro onde o Eduardo já está lá observando o pinga, pinga. Se
abaixa e olha a torneira por debaixo da pia. Não sei a utilidade
disso. Acho que vou ter que chamar é um pedreiro e quebrar tudo e
fazer de novo. Dois homens já tentaram e não consertaram. Lembro
que um desses homens é o Téo e mudo o foco antes de ter uma
ereção dentro do banheiro com o Eduardo. Eles iriam me zoar por
dez vidas.
– Vamos, mostre que é um bom engenheiro e conserte a torneira. –
Provoco.
– Isso não tem nada a ver com engenharia, meu caro. – Eduardo diz
e se abaixa no chão do banheiro analisando minha caixa. Pega uma
das chaves, se levanta e começa a mexer na torneira.
– Cara, quando você me falou que estava a fim de seu assistente eu
pensei que era um homem bem atlético, todo masculino e cheio de
músculos. Mas esse seu assistente é muito franzino. E estranho. –
Eduardo cochicha.
– Também acha ele estranho? – Pergunto também num sussurro.
Me estico para ver se o Téo ainda está em minha mesa. Quando
olho, ele está esticado tentando nos ver. Quando percebe que o vi,
volta a sua posição bem rápido e pega suas anotações. Aliás, já
virou nosso costume aqui observar o outro e observar ser
observado.
– Demais. E por que ele mexe tanto no saco? E aquele saco dele é
muito estranho. – Eduardo diz ainda mexendo na torneira.
– Penso que ele tem algum fungo ou bactéria. Só pode. E você acha
o saco dele estranho? – Nos esticamos para olhar o Téo que se vira
no mesmo instante que o estamos observando. Os três desviamos o
olhar ao mesmo tempo.
– É como se algo ali não fosse dele e o incomoda. Cara, ele é muito
estranho. E esse pinto não é grande demais pra ele?
– Ah não, cara, pelo amor de Deus. E eu que sei? Agora vou ficar
com isso na cabeça e não quero olhar e vou ficar olhando. –
Reclamo. Eduardo ri. Só precisava de mais esse problema, ficar
curioso pra saber se o Téo tem o pinto grande.
– Só estou querendo ajudar.
– Me ajuda muito consertando a torneira. – Reclamo de novo.
– Já consertei, mas é que ainda quero falar do Téo. Tem algo errado
com ele. E mais ainda com você. – Eduardo explica fingindo mexer
na torneira.
– O que?
– Você se apaixonar por um cara tão estranho e a estranheza dele é
muito estranha.
– É séria essa frase?
– Mais do que séria.
– Você acha mesmo que o pinto dele é estranho? – Pergunto
intrigado.
– Curioso pra ver? – Eduardo provoca.
– Não. Só tentando entender esse moleque.
– Outra coisa. É só um moleque, não um homem. Quantos anos
tem?
– Vinte e dois. Saiu da faculdade agora.
– Huumm. Dizem que os franzinos têm pinto enorme mesmo. –
Eduardo diz me olhando de canto de olho.
– Chega dessa história, por favor.
– Tudo bem. Mas acho que deve falar com ele. E com a irmã.
– Ficou doido? – Quase grito no banheiro e o Téo se estica para nos
olhar. Depois volta os olhos para o computador.
– Não. Mas veja, se a maluca da Ella tivesse se aberto comigo e
conversado, me dito exatamente como se sente, ainda estaríamos
juntos. Só acho que a conversa é a chave pra qualquer
relacionamento dar certo. – Ele diz e percebo a dor em sua voz
sempre que fala na namorada.
– Sofre por ela, não é? – Pergunto apoiando meus braços na pia
atrás de mim e cruzo um calcanhar no outro.
– Sofro mais pelo fato de saber que ela está sofrendo. – Ele diz
guardando a chave.
– Acho que isso é amor de verdade.
– Sim. Infelizmente. Mas lhe digo uma coisa, um dia eu vou
encontrar aquela maluca de novo e se for preciso eu a amarro no pé
da cama até ela me contar tudo, como se sente e porque escondeu
de mim. Depois a gente resolve se ainda se quer. Mas ela me deve
uma explicação.
– A amarraria como o Lucas faz?
– Sério que ele anda amarrando as mulheres na cama? – Eduardo
pergunta intrigado.
– Num é que é! Ele me confirmou.
– Vocês me assustam demais. – Eduardo diz e me mostra a torneira
consertada. Até o Téo vem feliz e admirado olhar. Eduardo estuda
cada ação e reação dele. Téo parece notar e ficar nervoso, inventa
uma desculpa e deixa a sala.
– A irmã dele também é estranha como ele? – Eduardo pergunta
quando ficamos sozinhos.
– Não. Ao contrário. É linda, delicada e cheia de tesão. Do tipo que
qualquer homem iria querer em sua cama.
– Você precisa se decidir. Está aí incerto quando aos dois irmãos, vai
acabar sem nenhum.
Capítulo 17
Telma
Esse dia foi muito estranho, medito nos acontecimentos enquanto
tiro minha roupa do trabalho. Todos os melhores amigos do Nick
foram no escritório hoje. Primeiro o Eduardo, que ficou de cochichos
com o Nick no banheiro. E sei que falavam de mim. Eles se
esticavam e me olhavam.
Tiro o saco de meia.
Depois foi o Leonardo. Meu Deus! Aquele é definitivamente o mais
louco de todos. Se ele não me desmascarou foi porque não quis,
porque o tanto que ele me olhou e tentava puxar conversa para o
meu lado. Tive que sair do escritório porque já estava me sentindo
sufocada. Dona Celma percebeu e me mandou resolver outra coisa
para não ficar ali. Graças a Deus ela está do meu lado.
Tiro o terno completo.
Tony, esse foi até mais discreto, ou menos indiscreto. Depois veio o
Lucas e tentou puxar uma conversa machista para o meu lado com
uma história de papo masculino e preferências na cama. Gelei
quando ele falou que uma maluca pediu para ser amarrada e ele
amou.
Tiro o top apertado. Ai que alívio.
Visto uma roupa e coloco meus brincos. Nem acredito. Passar o dia
com algo entre as pernas e outra apertando meus seios está me
sufocando. Pego os classificados do Tribuna do Mar para continuar
a procurar emprego. Estou cansada. Definitivamente cansada. Sem
contar que Nick está mexendo com meu juízo e sentimentos mais
do que deveria. Começo a minha busca quando meu celular anuncia
a chegada de uma mensagem. Fecho os olhos quando vejo. Isso só
pode ser um pesadelo.
Nick: Téo, está bem? Te achei estranho no escritório hoje.
Téo: Estou. Desculpa. Não estava muito bem. Acho que só
estava cansado.
Nick: Quer sair pra beber umas e conversar?
Téo: Não. Obrigado. Vou deitar.
Nick: Pois descansa. Se não estiver bem amanhã tire a primeira
parte do expediente de folga.
Téo: Ok. Obrigado.
Nick: Tudo bem cara. Até mais.
Ai meu Deus, o que eu vou fazer da minha vida. Tenho vontade de
chorar. Minha vida agora se resume a uma sucessão de mentiras de
onde só aumenta. É como se diz: São necessárias várias mentiras
para sustentar uma. E esse homem é tão maravilhoso. Ele tem essa
casca de CEO determinado, mas sei que seu coração é bom. E eu,
uma miserável apaixonada. Sair pra beber com meu chefe … Quem
me dera!
Tento dormir, mas viro de um lado para o outro na cama. Como
sempre, acabo usando o vibrador para me aliviar. Vou acabar com o
estoque de pilhas do mundo desse jeito. Mas o que fazer se todo dia
chego molhada de excitação do trabalho por causa dele? É difícil
ficar próxima dele e fingir indiferença quando já provei seu gosto.
Vou dormir exausta, mas acabo sonhando com Nick e seus beijos.
Sempre lembro dos seus beijos e de suas mãos em mim. Mais do
que deveria.
Os dias seguintes no trabalho correram até bem, na medida do
possível. Eu acho. O tempo que posso conversar com dona Celma
tentamos descobrir um meio de eu sair dessa confusão enorme e
não encontro. Sempre levo bolo ou biscoitos que faço a noite e
lanchamos juntas. Até Nick já viciou em meu lanchinho e quando
saio para comer ele dá um jeito de vir e comer conosco. As vezes
cogito até abandonar tudo e voltar para a casa de meus pais em
Gravetinhos. O pior nisso tudo é que voltando tenho que me sujeitar
as muitas vontades de minha mãe, perder minha independência e
ouvi-la falar das muitas filhas de suas muitas amigas que casaram e
eu vou ficar velha e sozinha. Por que as pessoas ainda rotulam as
mulheres assim, com base em casamento e filhos? Por que a
felicidade de uma mulher deve ser avaliada se ela está casada ou
não? Por que não avaliam a mulher com base nas próprias escolhas
dela, como se quer casar, quer ter filhos, quer ter uma carreira ou
um pouco de tudo? Em pleno século vinte e um as pessoas ainda
não se deram conta que algumas de nós se realiza e sente feliz
sendo mãe e dona de casa, enquanto outras querem uma carreira e
ainda outras viajar o mundo?
Nick
Sempre penso na Telma. A vejo tão pouco. Penso mais do que
deveria. Também não deveria comparar seu cheiro e seu beijo com
os das outras mulheres que saio, mas comparo. Aí eu pergunto,
onde o Téo entra nessa equação? Fiquei preocupado com ele
naquele dia que meus amigos vieram aqui. Ele parecia tenso e
nervoso. Depois meus amigos riram de mim, que me apaixonei por
um moleque franzino e sem músculos e que por certo eu estou
projetando sentimentos da Telma no Téo. Mas aí o Lucas completou
que podia ser o contrário, eu estar projetando sentimentos do Téo
na Telma. Meus amigos não valem nada. Só me deixam mais
confuso.
– Porra. – E lá se vai outra moeda pra caridade da minha mãe.
Estamos tendo dias muito cheios de trabalho. Por incrível que
pareça, as ideias do Téo com respeito a logística de entrada, saída
e entrega de produtos fez nossas vendas aumentarem. Nossa loja
no térreo vive cheia, derrubamos três provedores de internet com
nosso site sobrecarregado de visitas e já tive inúmeras reuniões
com o Tony e sua empresa de transportes, Tony Star, para
aumentarmos os meios de transporte para entrega. Hoje o dia está
ainda mais cheio de trabalho.
– Nick, preciso que assine aqui. Os meninos do estoque precisam
liberar um carregamento de cordas e outra de anzóis, mas você
precisa assinar. – Téo diz apoiando as mãos na mesa me
entregando os papéis. Ao pegar percebo que sua camisa acaba
repuxando um pouco deixando exposto seu pescoço. Quase grunhi
ao perceber que seu pescoço é idêntico ao da irmã. Sinto o latejar
instantâneo dentro da minha calça. Não adianta, quanto mais eu
cuido de mim mesmo no banheiro ou arrume uma mulher em quem
me enterrar, sempre acabo insatisfeito sem saber se estou
desejando o Téo ou a irmã. Me sentindo ficar cada vez mais
agitado, assino os papéis e lhe entrego. Ele se vira e observo o
contorno da sua bunda na calça e me excito ainda mais. Me levanto
rápido tentando sair da minha sala e você não imagina a cena
ridícula que se deu a seguir. Téo, sem me ver, se movimentou para
sair da sala também, mas a caneta caiu da sua mão e ele se
abaixou para pegar no exato momento que eu vinha para sair
também. Tombei nele e meu pau roçou em sua bunda macia e não
foi de leve não, dado o movimento de eu vir andando rápido.
Percebendo que ele cairia de cabeça no chão, o segurei pelos
quadris para não cair e minha ação o fez vir com tudo para mim de
novo. Quem nos visse acharia que eu estava comendo sua bunda.
Ele soltou um grito estranho e se esforçou para ficar de pé. Nos
desequilibramos e caímos no sofá. Isso mesmo, eu por cima dele. E
só Deus sabe o quanto eu gostaria de ficar assim, com meu pau em
sua bunda. Foi rápido, mas pareceu durar minutos infinitos até que…
– Ai, acho que seu celular está cutucando minha bunda. – Téo
reclamou me fazendo levantar de uma vez assustado e
envergonhado. Eu queria comer meu jovem assistente no sofá do
escritório?
– Desculpe. Tropecei em você e tombamos. – Disse atordoado.
– Tudo bem. – Ele disse desconfiado. Graças a Deus que ele
pensou que minha ereção era o telefone no bolso. Mas o que eu
praguejei depois disso foi tanto que coloquei duas notas de cem no
potinho da boca suja. Essa situação já está fugindo do controle.
A noite eu estava agitado demais pelo que quase aconteceu, pelo
que quase fiz, sei lá dizer o quê. Liguei para o Tony e ouvi um
gemido ao fundo enquanto conversávamos. Então percebendo que
ele estava acompanhado de alguma gostosa, não me demorei no
telefone e resolvi dar uma volta. Ainda era cedo, então peguei o
carro, saí e caminhei até a praia. Nada de bebida hoje ou eu beberia
o bar inteiro. Então comprei um sorvete GutiBom no seu Tomás e
saí andando sem rumo, acabei me vendo na praia, olhando o mar.
Me sujei todo com o maldito picolé. Devia ter comprado uma garrafa
de Martine. Jogo a porcaria no lixo e continuo andando. Paro
quando tenho uma visão que me acelerou o coração, nessa praia
deserta a noite eu vejo a Telma. Não sei se a agitação no coração
foi por vê-la ou por vê-la sozinha aqui. Essa maluca não sabe que
uma mulher estar aqui sozinha é perigoso? Qualquer um se
aproveitaria dela ou a arrastaria daqui e ninguém a ouviria, por mais
que gritasse. Eu ando apressado em sua direção, sentindo a
necessidade de estar perto dela e não permitir que ninguém a veja e
tente lhe fazer mal. Ela estava tão perdida em seus pensamentos
que não me sentiu me aproximar.
– Telma! O que faz aqui sozinha? – Ela tem um susto quando me vê
em pé ao seu lado.
– Nick! – Ela ergue a cabeça surpresa para me olhar. – O que faz
aqui? – Ela também me pergunta.
– O que você faz aqui? – Pergunto enfático. – Não percebe como é
perigoso estar na praia sozinha a essa hora? – Santa Bravinha é
uma cidade turística, mas essa época do ano o movimento nas
praias é quase inexistente, principalmente essa hora da noite.
– Não percebi que anoiteceu. – Ela diz confusa. Sento ao seu lado.
Parece tão triste.
– Está tudo bem? – Pergunto.
– Sim. – Ela diz, mas sinto a tristeza em sua voz e isso me atinge.
– Não é o que parece. – Constato. Ficamos num breve silêncio
contemplando as ondas do mar.
– Não tem sido dias fáceis para mim. – Ela finalmente diz.
– Quer falar sobre isso? – Pergunto. Nunca liguei para ouvir
mulheres, mas com a Telma é diferente. Sempre quero mergulhar
nesse mar de mistério que ela é. E se eu puder ajuda-la, não
importa o que seja, eu farei.
– Não. Obrigada. Você também não parece estar com a cara boa. –
Ela diz e o vento bagunça ainda mais seu cabelo curto, conseguindo
a façanha de deixá-la ainda mais linda do que é. Tenho vontade de
provar da sua pele e sempre ser o motivo de seu cabelo ficar
bagunçado. Admiro seu pescoço que desde que a vi foi o primeiro
motivo que me fez deseja-la, ainda naquela primeira noite no bar.
Então não resisto ao desejo de lhe beijar. Sem pedir permissão
cravo minha boca em seu pescoço e em vez de me repelir como
esperei que fizesse por minha ação inesperada, uma mão sua se
agarra ao meu pescoço e a outra vem para meu cabelo. Ela solta
um suspiro baixinho chamando meu nome e sinto sua respiração
tão próxima. Meu Deus, é essa mulher. Ela é a causa da minha
angústia e da minha confusão mental. É ela quem eu quero e venho
tentando projeta-la em qualquer pessoa e seu irmão é o mais
próximo de mim e o mais próximo dela, principalmente na
aparência. São quase um. E é UM que quero ser com ela agora. Me
reclino sobre seu corpo e ela se deita na areia. Vou junto com ela
sem aguentar ficar um centímetro ou instante distante do seu corpo.
– Você é linda! – Digo a encarando. Ela sorri e morde o lábio. Não
aguento e mordo no mesmo lugar que ela mordeu. Sinto suas mãos
acariciando meu rosto. Não, ela não pode ser tão carinhosa assim.
Essa mulher me terá nas mãos. Ouvindo seus gemidos baixinhos e
sem aguentar mais, inclino meu corpo sobre o dela a beijando cada
vez mais sedento de algo que sinto que só ela pode me dar agora.
Quando roço toda a minha excitação sobre ela, para que sinta como
me deixa, ela para de me beijar e me encara.
– Isso é seu celular no bolso? – Ela pergunta.
– Não. É toda a excitação que você me faz sentir. – Digo rouco de
desejo. Estou tão duro que ela confundiu com o celular. Que
garanhão eu sou. Ela com certeza ficou bem impressionada só de
sentir meu amigão.
– Ai meu Deus. – Ela me empurra com força, se levanta apressada e
sai correndo.
O que aconteceu aqui? Achei que já tínhamos passado dessa fase.
Mas voltamos ao princípio em nosso jogo de gato de rato?
Sair de casa e encontrá-la foi pior. Agora além de confuso e
frustrado, estou muito confuso, muito frustrado e doendo de tesão
por aquela minha ratinha. Pelo menos agora acho que ela quem
está me deixando tão confuso e ao mesmo tempo tão decidido em
querer tê-la. Me deito na areia um pouco e rio da sua cara ao
perguntar se o que a espetava era meu celular. Ai Telma, Telma…
você é uma delícia e será minha. Pode apostar.
Capítulo 18
Telma
Eu estou lascada. Não posso continuar com isso. Definitivamente
vou preparar minha carta de demissão. Eu não consigo mais ficar
longe do Nick e não consigo mais ficar perto dele também,
principalmente depois do que aconteceu hoje à noite. Aquele beijo,
o desejo cada vez mais forte entre nós. Uma hora ou outra ele vai
me desmascarar e da pior forma possível, então é melhor acabar
com isso logo de uma vez.
(⌐■-■)(⌐■-■)(⌐■-■)
– Ah, Téo, que bom que chegou. Veja só isso, temos um convite. –
Nick diz animado quando entro em sua sala na manhã seguinte. As
últimas semanas foram bem produtivas de trabalho e quando ele
não tem um daqueles surtos e some trabalha muito e bem
entusiasmado.
– Para que? – Pergunto curiosa.
– Um congresso. Dois dias no Royal Palácio Magalhães, isolado da
Capital. – Explica.
– Parabéns. – Digo contagiada pela sua empolgação.
– Ah você vem comigo, rapaz. – Ele decreta. Não posso ficar dois
dias sozinha com ele num congresso. Isso significa mais intimidade
que consigo suportar e mais masculinidade que consigo demonstrar.
– Não posso. – Digo rápido.
– Por que? – Ele pergunta curioso, para e me olha colocando as
mãos na cintura. Que homem lindo. Pega desprevenida nem sei que
resposta lhe dar.
– Ah… Ah… Ah… – Gaguejo feito uma idiota.
– Ora, não é um convite para passeio. É uma viagem a negócios.
Esteja pronto amanhã pela manhã. Preciso de um assistente. – Ele
parece tão animado essa manhã. O que houve? Será que encontrou
outra mulher depois que corri feito louca da praia?
– Ma-mas… – Nick me olha irritado e simplesmente baixo a cabeça.
Ele é meu chefe e como disse, essa é uma viagem a trabalho. Então
o que posso fazer além do meu trabalho e rezar para ele não
descobrir?
– Passo em sua casa amanhã pela manhã. – Ele diz e se senta
diante de seu computador para trabalhar. Saio da sala e vou em
busca de dona Celma e lhe conto tudo. Quem sabe ela tem alguma
ideia. Já me salvou de algumas situações, como quando os amigos
malucos do Nick vieram aqui.
– Calma, menina! Vocês não vão ficar no mesmo quarto. Já reservei
tudo para vocês, serão duas suítes conjugadas. Basta você manter
a discrição com seu disfarce. – Ela me explica.
– Isso. Só preciso manter a calma. – Inspiro fundo e acabo nem
dizendo a ela agora que ontem à noite encontrei o Nick e ele me
beijou na areia da praia e que depois de chegar em casa preparei
minha carta de demissão. Agora isso vai ter que esperar. Entrego a
carta de demissão na volta dessa viagem. Trabalho o dia frustrada,
nervosa e preocupada, mas tento não deixar transparecer. Eu não
né, o Téo. Tivemos uma vídeo-reunião com possíveis novos clientes
americanos e Nick pediu que eu participasse. Sentar ao seu lado,
sentir seu cheiro e fingir que não era eu ontem a noite na praia está
queimando meu juízo, me enchendo de ciúmes de mim contra mim
mesma e me dando um vislumbre da tortura que será os dois
próximos dias perto dele. Eu mereço isso. É meu castigo por ter
inventado essa mentira.
Termino o expediente e antes de ir para casa passo numa loja e
compro roupas de homens, bermuda e camiseta com manga curta.
Chego em casa e antes mesmo de trocar de roupa ligo para a Leila
e lhe conto tudo.
– Oh minha amiga. Sinto tanto! Mas estou do teu lado e te apoio.
Acho que quando voltar dessa viagem o melhor mesmo é pedir
demissão. Depois você encontra o Nick e pode ficar com ele sem
medo. – Ela tenta me animar ao telefone. E então me pergunta
como me sinto em relação a Nick.
– Ele mexe com todos os meus sentidos. Não sei o que dizer.
Apenas que gostaria de estar com ele todos os dias sendo eu
mesma, trabalhar com ele e me divertir com ele depois do trabalho.
– Sorrio triste. Seria perfeito demais. Então vai sonhando Telma.
– Tudo vai se resolver. Não se preocupe. – Ela me garante.
Desligamos o telefone e me sinto bem melhor sempre que converso
com ela. É claro que ela não resolveu meus problemas, mas só o
fato de ter com quem conversar sabendo que não vai me criticar já
ajuda muito. Termino de arrumar a mala e só então me dou conta
que ainda não tirei a roupa de trabalhar de Téo. Vai servir como
ensaio de ter que passar tantas horas amanhã vestida de homem.
Ainda bem que o Nick pelo menos não quis dividir um quarto com o
Téo. Eu morreria.
Começo a finalmente me despir quando a campainha toca. Só pode
ser a Leila querendo ver com os próprios olhos como estou, ela faz
muito disso. Destravo o portão e grito para que suba. Ela não
precisa de cerimônia. Vou até a entrada para ver se ela ouviu
quando gritei para subir e percebeu que destravei o portão. Congelo
diante da imagem que vejo. Não é ela que está subindo as escadas,
mas o Nick. Não tem como voltar atrás e não tem como me trancar
no quarto e não o ver. E tenho que ser rápida. Termino de tirar a
roupa de Téo a jogando para debaixo da cama. Procuro minha calça
de moletom e uma camiseta, quando termino de vestir e bagunçar o
cabelo, ele termina de subir. E eu me vesti em tempo recorde. Pego
os brincos na mesinha e começo a colocar.
– Oi! – Ele me cumprimenta num sorriso lindo. Meu Deus, nem
parece que faz poucas horas que o vi no trabalho. De repente me
bateu uma saudade de vê-lo. Acho que é porque estou como Telma.
Estou ficando confusa demais.
– Oi! – Respondo ofegante do esforço de me trocar tão rápido.
– Algum problema? Está pálida e cansada. – Ele constata.
– Tinha uma rãzinha no meu banheiro e pulou em mim. Tive um
danado de um susto e sai correndo e pulando. – Ele ri. Mas é assim,
depois que você conta uma primeira mentira na vida e não é pega,
as mentiras seguintes saem com uma facilidade impressionante de
sua boca.
– Quer ajuda com a rã? – Ele pergunta contendo o riso.
– Não, obrigada. Se ela não morreu do coração, deve estar prestes a
isso. – Digo o fazendo rir novamente.
– Está sozinha?
– Sim.
– Agora que percebi que nunca te vi com o Téo. Devia ir me visitar
quando ele fosse trabalhar. – Você nem imagina o quanto estamos
sempre juntos.
– Tá. Qualquer hora eu vou. – Ele caminha em minha direção
enquanto falo. Vou recuando até chegar na parede e não ter mais
para onde fugir.
– Ainda foge de mim? – Ele pergunta com a voz sensual como gosta
de fazer quando estamos sozinhos.
– Não estou fugindo. – Digo enquanto ele me prende contra a
parede encostando uma mão de cada lado do meu corpo.
– Que bom, minha ratinha. Chega de fugir. Tudo bem? – Ele diz me
encarando no fundo dos olhos, o rosto bem próximo do meu me
deixando sentir sua respiração quente.
– Tá. – Respondo baixinho já sentindo a contração dos músculos
entre minhas pernas.
– Estamos sozinhos? – Ele pergunta dando vários beijinhos em meu
pescoço.
– Sim. Mas alguém pode chegar.
– Esqueci que divide o apartamento com seu irmão. – Ele diz
beijando mais forte meu pescoço me arrancando um arfar e ele ri
em meu pescoço. – É bom te deixar assim. Amanhã viajo com seu
irmão a trabalho. Ele te falou? – Pergunta sem parar de dar beijos
em meu pescoço. Tento me concentrar na conversa, mas com um
homem lindo desse atacando meu pescoço fica difícil.
– Sim. – Respondo. Minha respiração se agita com seus carinhos.
– Quando voltar você vai jantar comigo. Combinado?
– Ham? – Ele para de beijar meu pescoço e me encara.
– Não vou deixar você fugir de mim. Já fugiu demais. Foi a mulher
por quem mais esperei. Fiquei até confuso trabalhando com seu
irmão. Agora não tenho mais dúvidas. E vou levar você para jantar.
– Teve dúvidas como? – Pergunto curiosa.
– Não se preocupe, um dia eu conto. Mas tem tudo a ver com você e
apenas com você. – Ele diz e não me permite dizer mais nada. Sua
boca toma conta da minha e me perdi quando sua língua encontrou
a minha. Ele tira as mãos da parede e envolve minha cintura me
apertando contra seu corpo. Consigo sentir sua excitação e não
resisto a rir da nossa noite anterior, quando o senti e perguntei se
era seu telefone.
– Do que está rindo? – Ele para o beijo e me olha. Seu rosto
continua próximo do meu e suas mãos me envolvendo.
– Nada. Só que agora me sinto bem. – Digo. O que é verdade. Pelo
menos isso. Estar com ele agora me faz esquecer temporariamente
a montanha de problema que tenho que resolver. Se ele está aqui,
vou pelo menos aproveitar um pouquinho. Me estico para beijar
seus lábios e minha iniciativa o anima. Ele me aperta mais contra
seu corpo e desliza a mão para dentro da minha calça. Ainda bem
que tirei a calçola de velha para segurar meu pinto de meia e
coloquei uma das minhas calcinhas fio dental. Sinto sua mão pela
pele da minha bunda e solto um gemido em sua boca quando ele a
aperta. Sua mão desliza para frente me tocando e agora é ele a
gemer ao perceber o quanto estou molhada. Sentir sua mão em
minha intimidade coloca fogo em todo o meu corpo. Ele geme junto
comigo ao sentir como me deixa. De repente eu me pergunto como
posso fazer para contar a verdade a esse homem tão bom e lindo
sem o deixar magoado e irado comigo.
– Nick, precisamos parar. – Digo juntando todas as minhas forças.
Ele me beija mais um pouco e então para.
– Tem razão. Seu irmão pode chegar a qualquer momento. Não
quero que pense mal de você. Quando voltar, você não me escapa.
Nem que eu tenha que vir aqui e te sequestrar. Vai sair comigo.
– Sim. – Digo passando a mão por seu rosto lindo. Ele nem imagina
que passa o dia comigo e que quero sair com ele. – Um encontro de
verdade. – Queria chorar.
– Prometo. Mas com o final em minha cama. – Ele diz num sorriso
provocador. Beija minha testa num beijo casto e sai. Se vira quando
vai chegando no começo da escada. – Lembre a seu irmão que
passo amanhã cedo para buscá-lo.
– Tá. Pode deixar. Garanto que não esqueço.
Capítulo 19
Nick
– Você não faz ideia como estou aliviado cara. – Digo para o Lucas
quando o encontro no bar.
– Então você não é mais gay? – Ele pergunta e paro meu copo de
cerveja na metade do caminho a boca.
– Não, não sou mais gay. E acho que nunca fui. Acho que estou a
fim da Telma. A fim de verdade cara. – Agora é ele que para seu
copo de cerveja na metade do caminho a boca.
– Quando você diz a fim de verdade, quer dizer o que com a fim de
verdade? – Ele me pergunta cauteloso.
– A fim de verdade no sentido que as outras perderam a graça pra
mim. Não transo mais com toda aquela empolgação como antes.
Sempre penso que se fosse a Telma seria mais gostoso e comparo
seu cheiro, seu carinho, até seu sorriso com os das outras mulheres
e elas sempre ficam em desvantagem.
– Mas você já transou com ela pra saber se ela transa mais gostoso
que as outras?
– Não, mas o beijo dela é mais gostoso que os das outras. O cheiro
também. Tudo que já provei dela é melhor do que o das outras. –
Digo e lembro logo da forma que ela se desmanchou gemendo em
meus braços quando a toquei a pouco mais de uma hora quando fui
a seu apartamento. Se não fosse a expectativa que o irmão
chegasse e nos visse, eu não teria conseguido parar.
– E o irmão dela? – Lucas pergunta.
– Acho que foi o que vocês falaram, projetei a irmã nele, só isso.
Mas quando penso nos dois, prefiro a irmã.
– E sabemos que a sistemática é bem diferente, não? Nunca fiquei
com um homem, mas sabemos muito bem como funciona. – Ele diz
pensativo e rio. Estou feliz demais hoje para me importar com as
loucuras que o Lucas diz.
– Não sei cara. Sei que já vou pra casa. Tenho que arrumar minha
mala e dormir, viajo amanhã cedo com o Téo para um congresso
sobre importação e exportação. Pague a conta.
– Pode deixar. Vou ficar mais um pouco e descolar uma mulher pra
noite.
– Vai amarra-la? – Pergunto.
– Com certeza. Agora isso faz parte das preliminares. Não faz ideia
como excita. – Ele diz orgulhoso.
– Você é doido, sabia?
– Eu sou o doido? Quem é que andou semanas confuso quanto a
masculinidade achando que estava apaixonado pelo assistente
homem, hein?
– Touché. Ganhou essa. Mas agora preciso ir, senão perco a hora
amanhã.
Saio do bar deixando o Lucas caçando uma mulher para terminar a
noite e vou para casa. Assustador pensar que não tenho interesse
em arrumar nenhuma mulher, queria apenas minha ratinha. Lembro
dessas últimas semanas e da coincidência de conhecer a Telma na
mesma semana que conheci seu irmão. A atração por ela foi tanta
que me confundiu com relação a seu irmão. Como minha mãe iria
reagir se eu fosse mesmo gay? Não faço ideia e isso é uma coisa
que não vou descobrir. Estou muito a fim da Telma. Não sei se é
coisa de uma transa, uma conquista por ela ter fugido tanto de mim
enquanto as outras costumam se jogar em meus braços, ou se tem
algo mais. Sei apenas que sempre tenho vontade de vê-la e de
beija-la. Não paro de pensar como ela deve ser na cama, porque
apenas trocando beijos ela é muito carinhosa e quente ao mesmo
tempo, juntado a sensualidade natural dela eu só falto sofrer a
vergonha de gozar nas calças feito um pobre adolescente que ainda
não sabe se controlar. Eduardo me disse uma vez que depois da
Ella as outras perderam o valor e nunca sentiu desejo de olhar para
o lado. Apenas quando a Ella resolveu ir embora foi que ele voltou a
sair com outras, mesmo assim diz que nunca é como quando está
com ela. É meio assim que quero me sentir e o mais absurdo em
tudo é que isso não me assusta.
(⌐■-■)(⌐■-■)(⌐■-■)
Bibi … Bibi
Buzino na frente do apartamento da Telma para o Téo descer. Lhe
enviei uma mensagem dizendo que estava saindo de casa. Espero
que não se atrase e me deixe esperando. Só não penso em descer
e tocar a campainha para subir porque essa hora tão cedo a Telma
ainda deve estar dormindo e vê-la sem poder beijar não tem graça.
E acho que ainda é cedo para fazer isso na presença do irmão, já
que ele trabalha comigo. Pensar que pensei estar apaixonado por
ele, dá vontade até de rir. Olho e quando penso em buzinar de novo
vejo a bolsa aparecer primeiro no portão. Em seguida ele todo
atrapalhado, parece que nem pode com a bolsa direito. Fecha tudo,
coça o saco e vem. Estou a ponto de conversar com ele sobre essa
coceira. A maioria dos homens se coçam, mas ele faz isso demais.
Ele coloca a bolsa no banco de trás e vem pra frente, sentando no
banco do passageiro.
– E aí, cara! Bom dia!
– Bom dia, seu Nick. – Me cumprimenta amuado.
– Com sono?
– Um pouco ainda. – Ele responde meio que emburrado e rio. Ele é
meio delicado, já percebi, e tenta se mostrar marrento. Será que foi
isso também que me fez pensar que gostava dele? E será que ele é
gay? Engraçado que passo mais tempo com ele do que com a irmã
que mal vejo, mas me sinto mais a vontade para falar dele com ela
do que com ele mesmo.
– Estava olhando o programa do congresso e vi uma parte que será
muito boa para a empresa. Fala sobre como diminuir as taxas de
exportação e lucrar mais. – Téo diz animado. Isso é um ponto muito
positivo sobre ele. Sempre se dedica de coração ao trabalho.
Parece ter nascido pra isso.
– Ótimo! Então vou tentar não cochilar nessa parte. – Digo e ele me
olha atravessado. – Pareceu até sua irmã agora. – Completo e ele
tem uma crise de tosse.
– Tudo bem? – Pergunto preocupado. Ele ficou até vermelho. – Quer
que pare o carro para pegar um ar?
– Não. Não precisa. Me engasguei com saliva, já estou bem. – Ele
diz enfim, pega sua garrafinha inseparável e bebe um gole. Primeiro
homem que vejo andar sempre com uma garrafinha inseparável. Viu
por que me confundi tanto com ele? Ele tem manias de mulher.
Coloca sempre flores perto da janela da minha sala, providenciou o
potinho das moedas, anda com bolsinha de primeiros socorros, tem
garrafinha inseparável de água e tem tudo que a gente precisa do
trabalho dento de sua pasta, como bolsa de mulher.
Conversamos mais um pouco sobre o trabalho e o que esperar do
congresso quando um silêncio paira no carro. Olho para o lado e o
Téo dorme. Fica ainda mais parecido com a irmã dormindo. Meu
Deus, eu devo estar me apaixonando por ela mesmo, porque
embora eles sejam muito parecidos, eu sempre quero enxergar a
Telma no Téo. Sigo dirigindo e ele dormindo. Dorme tanto que
gemeu como a irmã. Gemeu como a irmã? O encaro, mesmo ele
dormindo. Sei que tenho que dirigir, mas me inclino em sua direção
para observa-lo melhor. Outro gemido idêntico ao da irmã. Que
diabos é isso? Ele geme dormindo feito mulher? Não! Ele geme
dormindo feito a irmã dele gemendo com meus beijos? Outro
gemido. Ouviu? Fico tão atordoado com isso que esqueci de dirigir.
Quando olho para a frente preciso puxar o carro de uma vez para
desviar de um animal na pista. Meu Deus, essa foi por pouco. Com
a puxada brusca do carro Téo acorda assustado e fala com a voz da
irmã.
– O que aconteceu? – Pigarreia. Olho para ele que começa a tossir.
De novo.
– Desculpa. Um animal na estrada e tive que puxar o carro de uma
vez. Se desejar pode voltar a dormir. – Digo.
– Não, não. Já descansei o suficiente. – Ele diz com sua voz normal.
Sacudi a cabeça para espantar da minha mente esse momento tão
incomum. E juro para você que não entendi nada.
(⌐■-■)(⌐■-■)(⌐■-■)
– Chegamos. – Anuncio ao parar diante do magnífica e luxuoso hotel
das rede Magalhães. Calíope Magalhães disputa o título de melhor
hoteleiro do país com o pai do Leonardo, Agenor Novais. Esse é
simplesmente magnífico. Téo está de boca aberta e não é exagero.
O Hotel Royal Palácio Magalhães é mesmo um Palácio do tempo do
império e foi convertido em hotel.
– É muito lindo. – Téo constata.
– E é que ainda não viu por dentro.
– Já esteve aqui? – Ele me pergunta admirado.
– Sim. Eu e meus amigos alugamos a suíte presidencial e
convidamos umas amigas do Leonardo. Foi a despedida antes dele
fazer sua última viagem.
– Vocês e cinco mulheres ao mesmo tempo no mesmo quarto? – Ele
pergunta de uma forma que não consigo decifrar sua reação. É
muito jovem, acho que nunca fez dessas loucuras.
– Nunca transou com uma mulher enquanto seus amigos fazem a
mesma coisa no mesmo quarto? – Pergunto e ele se agarra a sua
pasta e responde com um não surpreso.
– Ah! Vamos cara! Você ainda é jovem. Agora que saiu dos 20 e eu
estou mais perto que longe dos 30. Quando estiver perto dos trinta
já terá feito dessas maluquices com seus amigos.
– E as mulheres gostam?
– Tem muitas que sim. Mais modernas e que não querem
compromisso. Das que topam tudo. Outras são mais reservadas e
conservadoras.
– Ah! Entendi. – Ele diz.
– Que tipo de mulher você acha que é sua irmã? – Não resisto e
pergunto.
– Acho que não tão conservadora e não tão moderna. – Ele diz
zangado. Conheço esse sentimento. Minha irmã é uma adolescente
e morro de ciúmes dela. E acho que ele está certo quanto a Telma.
Ela não toparia uma diversão assim, embora não pareça ser das
mais conservadoras.
– Vem! Vamos entrar. Temos ainda umas poucas horas antes do
congresso iniciar. Que tal uma piscina? Queimar um pouco o peito
nesse sol maravilhoso. Vai que alguma gata se encanta por seu
peito bronzeado, hein? – O provoco.
– Vou declinar do convite. Obrigado. Acho que vou para meu quarto,
desfazer a mala e descansar um pouco. Assim presto mais atenção
ao congresso.
– Você quem sabe! Pois eu vou aproveitar e nadar um pouco. Ajuda
a relaxar os músculos.
– Tudo bem! Aproveite. Eu vou para o quarto. – Ele diz e me sorri
num típico sorriso que eu definiria como sorriso forçado e amarelo.
Acho que você entende não é? Rio da sua cara. Gosto de estar com
ele e acho que gosto ainda mais por ele ser irmão da mulher que
estou a fim.
– Vem então! Vamos lá fazer check in. – Damos entrada no hotel e
somos guiados até nossos quartos. Duas suítes vizinhas. Deixo o
Téo em seu quarto dizendo que iria desfazer a mala para não
amassar a roupa e vou até o meu. Visto uma bermuda e uma
camiseta e resolvo ir nadar um pouco antes de me arrumar para o
início do congresso.
Capítulo 20
Telma
– Estou te dizendo Leila! Eu vou enlouquecer até o fim desses dois
dias. Se já está difícil trabalhar com o Nick no escritório, imagina
aqui. No carro foi uma tortura. Ainda bem que dormi um pouco
durante a viagem. – Tomei um banho e aproveito meus poucos
momentos de liberdade só de toalha e sem roupas de homem antes
de ter que ir para o primeiro discurso do congresso e converso com
a Leila.
– Paciência minha amiga. Você vai conseguir. – Ela tenta me animar
no telefone.
– Estou no meu limite. – Inspiro fundo andando de um lado para o
outro no quarto.
– Deveria aproveitar. Esse hotel é lindo e caríssimo. Nós duas
teríamos que juntar um ano de trabalho sem gastar um tostão pra
poder passar uma noite aí. Imagina dois dias inteiros.
– Aqui é lindo mesmo. Queria que estivesse aqui. – Digo sorrindo.
– Queria mesmo estar aí. Mas a menos que eu ganhe na loteria ou
case com um velhinho milionário a beira da morte, jamais pisarei aí.
– Ela diz e rimos no telefone. – E sabe o que é mais absurdo nisso
tudo?
– Hum. – Nem consigo falar rindo.
– É que é mais fácil eu encontrar um velhinho tarado e milionário a
beira de um infarto com um oral, do que eu ganhar na loteria. –
Rimos ainda mais.
– Você sairia em todos os jornais assim. Seria a capa da Revista
Fofoca e do jornal Tribuna do Mar.
– Com certeza. Já vejo a manchete: Esposa jovem mata marido com
idade de ser seu avô durante uma sessão de sexo. E eu estaria me
segurando para não rir enquanto dava entrevistas, só imaginando
você rindo. – Ela também perde o fôlego rindo do outro lado da
linha.
– Ai minha amiga, só você pra sempre me fazer rir. – Digo secando
as lágrimas.
– Queria mesmo era te fazer criar juízo. Quem sabe uma hora
consigo. Mas agora preciso ir. Só vendo carros se estiver na
Concessionária e se não vender carros Peep não tenho minhas
comissões. Se cuida e juízo.
– Você também. Beijos. – E na hora que eu desligo o telefone, não
acredito no que vejo diante de mim.
Nick
Depois de nadar um pouco na piscina do hotel e me sentir
renovado, segui para meu quarto onde fiz algumas ligações. Então
senti meu estômago roncar e lembro que tomei café da manhã bem
cedo e nem sei se o Téo comeu alguma coisa. Então me levanto e
vou até seu quarto chamá-lo para comermos alguma coisa antes do
congresso. Quando chego perto de sua porta escuto uma voz de
mulher. Uma voz de mulher? Então quer dizer que o danadinho
trouxe uma mulher para o quarto? Escuto risadas e não sei o que
acontece dentro de mim, mas sinto uma ponta de ciúmes. Eu já não
tinha superado isso? Sem pensar duas vezes giro a maçaneta da
porta e vibro ao perceber que está só encostada. Esperava por tudo,
menos pela visão que tenho diante de mim.
– Telma? – Falo confuso e surpreso.
– Nick! – Ela responde nervosa segurando o celular como sua tábua
de salvação. Está tão nervosa que solta a toalha. Agora quem ficou
nervoso fui eu. Já sentiu um latejar instantâneo no meio das pernas
te levando do estado de relaxado a de excitado imediatamente? Foi
exatamente isso que acaba de me acontecer.
– Telma… – Só consigo repetir seu nome, mas agora no completo
estado de contemplação. É mais linda do que pensei.
– Eu posso explicar tudo. O Téo… eu… o trabalho… – Ela tenta falar
nervosa enquanto me aproximo. Não consegue formar uma frase e
eu não consigo dizer uma palavra. Me aproximo dela e me apodero
de sua boca e lhe arranco a toalha das mãos. Jamais que eu vou
perder esse momento. Ela demora um pouco para retribuir o beijo,
mas quando o faz, é com o desejo que demonstrou ontem em sua
casa.
– Nick… – Ela ofega.
– Shiiiuuu. Agora não. – Digo beijando seu pescoço e passo para
seu busto. Meu Deus, esses seios são magníficos. Os acaricio com
as mãos brincando com seus biquinhos rosados. Me curvo para
poder saborear seus seios. Como eu já acordei duro muitas vezes
pensando neles, em como seriam!!! Brinco com minha língua por
eles e ela geme baixinho, mas quando os chupo, ela geme alto e se
segura em meus cabelos.
– Nick! – Ele repete.
– Shiiiuuu. – A mando calar de novo a tirando do chão e levando em
direção a cama. Ela me olha como se ainda não acreditasse no que
está acontecendo. Tem confusão eu seus olhos e eu amo vê-la
assim. Nos beijamos demoradamente atiçando e aumentando o
desejo entre nós. Ela passa a mão em minhas costas, por baixo de
minha roupa, então tiro minha camiseta e agora é ela a brincar com
suas mãos em meu peito. Estremeço e ela sorri se sentando e me
ajudando a tirar a bermuda. Essa mulher vai me levar a loucura,
será minha perdição. Deito em cima dela e recomeço os beijos em
sua boca que me devolve com a mesma fome e desejo. Traço o
rastro de beijos por seu corpo ganhando seus gemidos em troca.
Suas pernas me envolvem e ela me puxa para si, demonstrando
que está pronta. Deslizo para dentro dela que arfa ao me sentir em
seu interior. Seus dedos cravam em minhas costas e nossos
gemidos se misturam e intensificam quando encontramos o mesmo
ritmo. Ela me aperta ainda mais contra seu corpo e vou mais fundo
dentro dela. Como eu desejei esse momento e como desejo essa
mulher.
– Nick! – Ela ofega meu nome numa espécie de pedido e acelero o
movimento enquanto ela geme mais alto. Só o prazer dessa mulher
já me leva a loucura e faço um esforço imenso para não gozar antes
dela. Ela me chama mais uma vez, como uma súplica e, por fim, ela
solta um gemido alto, quase um grito e estremece debaixo de mim.
Fico admirando seu rosto lindo enquanto ela chega ao orgasmo.
Como não consigo mais aguentar, me derramo inteiro também no
meu prazer, enterrando a cabeça em seu pescoço. Ela afaga meus
cabelos enquanto agora é meu corpo que estremece de prazer.
Ficamos imóveis contemplando o momento. Ela continua com suas
mãos em meu cabelo, me deito um pouco de lado para não fazer
peso no seu corpo delicado e ela desce o carinho para minhas
costas. E eu dormi. Ela me deixa manhoso. Será que ronronei?
– Que horas são? – Pergunto sonolento e aproveitando seu cheiro.
– Temos pouco mais de meia hora antes do primeiro discurso.
– Olhei o programa, esse não tem muito a ver com a empresa não. –
Digo ainda deitado, minha mão está em seu seio fazendo uma
concha perfeita. Penso que esses seios foram desenhados para se
encaixar em minhas mãos.
– Nick! – Telma me chama pouco depois de um breve silêncio. Ergo
a cabeça e lhe encaro.
– Quando o Téo me falou ontem que não podia vir e não lhe dei
escolha, jamais imaginaria que mandaria você em seu lugar.
– Hum? – Ela indaga confusa.
– Achei o Téo estranho enquanto dormia no carro. Devia ter
desconfiado que era você. – Digo lhe roçando o rosto. – Tem algo
para vestir que não seja as roupas do seu irmão?
– Não.
– Imaginei. E acho que vamos perder mesmo todo o início do
congresso, porque jamais vou desfilar com você vestida como
homem. Vamos sair rapidinho e te comprar umas roupas.
– Mas Nick…
– Shiiiuuu. Você fala muito.
– Nem consegui falar nada ainda. – Reclama.
– Verdade. Mas apenas porque não deixei. Senão, até na hora do
sexo você estaria falando sem parar. – Digo lhe beijando de novo.
– Você é doido, sabia? – Ela geme manhosa no meu ouvido. Aposto
que já deve estar molhadinha de novo.
– Por seu corpo? Sim. – Digo e temo me viciar nela. Depois de me
sentir dentro dela, percebo que sou capaz de fazer isso pelo resto
da vida sem desejar outra.
– Vamos nos atrasar tanto. – Ela diz com dificuldade enquanto a
acaricio.
– Não ligo. Vamos já sair para comprar roupas para você. Já que
tenho a assistente mais linda desse mundo, quero me exibir com
ela. – Digo enchendo seu pescoço de beijos. Quero que fique
vermelha e quero que percebam que fui eu que a deixei assim.
Louco né? Também acho. Mordi seu pescoço e suas costas
arquearam na cama, brinquei com minha boca em seus seios e ela
gemeu num delírio. Tudo isso só me mostrou que dava tempo me
perder dentro dela mais uma vez. E dessa vez com mais calma,
provando cada parte do seu corpo, a fazendo gozar por minha boca
também, porque eu precisava desesperadamente sentir seu gosto e
me desesperei mais ainda de prazer quando ela também me
envolveu em sua boca. Quando eu já estava a beira do precipício do
prazer, me enterrei de novo nela para comprovar que gozar dentro
dela e com ela é a melhor coisa que já senti como homem.
Você pensa que foi fácil sair da cama com essa mulher tão cheia de
desejo? Foi uma luta contra todos os meus instintos. Só foi um
pouquinho menos difícil porque eu a arrastei junto comigo. Ouvir seu
riso de satisfação enquanto eu a puxava para vir comigo para o
banheiro é tão delicioso e me faz tão bem quanto seus gemidos.
Tomamos banho juntos e enquanto eu já saio todo pronto para o
seminário, ela sai de calça moletom e camiseta. Definitivamente
vamos comprar roupas para ela. Jamais ela sairá desse quarto com
as roupas do Téo.
– Onde estão seus brincos? Trouxe? – Pergunto.
– Ah! Sim! Sempre os trago na necessaire. – Tenho fetiche em suas
argolas grandes brincando em sua pele.
– Coloque. Sinto muito tesão quando os vejo roçar seu pescoço. –
Ela me sorri e vai até sua mala. Ainda nem acredito que essa
maluca aceitou trocar de lugar com o irmão. É inacreditável. Mas
perfeito.
Capítulo 21
Telma
– Você é maluco. Pode parar!? Eu não vou usar tanta roupa. Serão
só dois dias, Nick. – Reclamo já cansada de tanto provar roupa e ele
dizer que combina comigo e que eu vou levar.
– Mas esse vestido preto está muito lindo! – Ele diz se aproximando.
– Mas eu não vou usá-lo no congresso.
– Mas num jantar fica perfeito. – Meus olhos chegam a arder. Ele
não faz ideia do tamanho da mentira que inventei.
– Nick…
– Não reclame. Você reclama demais. – Ele me acusa.
– Esse é o último. – Aviso. Ele para atrás de mim e nos olhamos no
espelho.
– Não seria fantástico transar aqui, no provador, diante do espelho?
– E sermos pegos pela vendedora? Fantástico. – Digo rindo, embora
a ideia tenha me excitado. Nesse momento ouvimos um pigarreado
atrás de nós.
– Você ainda precisa de mais alguma coisa? – Uma vendedora
vermelha de vergonha pergunta.
– Não. Obrigada! Esse é o último. – Informo.
– E que nós vamos levar também. – Nick avisa. – Agora vamos
comprar calcinhas pequenas, rendadas, cheias de transparecia e
muito sexy. Tenho medo que tenha trazido as cuecas do seu irmão.
– Ele completa e a pontada de consciência pesada e culpada dá um
latejo na minha cabeça. Vou tentar não pensar em nada disso
agora. Vou aproveitar as duas coisas que mais desejei últimamente,
Nick e meu trabalho como assistente pessoal de um CEO. Voltamos
para o hotel e já vamos direto para o Congresso, por isso eu já saí
arrumada da loja. Chega de atrasos.
Durante o congresso troco algumas mensagens com a Celma e lhe
conto o que aconteceu. Ela fica feliz e me apresenta uma solução
que me enche de esperança.
Celma: Quando voltarem você apresenta a carta de demissão do
Téo. Diz que irá morar fora e pede ao Nick a preferência para
contratar a Telma. Será perfeito, porque nesse congresso você vai
provar que é tão competente quando o Téo.
Suspiro com esperança ao ler a mensagem diante da sua solução.
– O que foi? – Nick pergunta.
– Nada. Apenas estou feliz por ter vindo.
– Também estou feliz que você estar aqui. E está se saindo muito
bem como minha assistente. – Ele me dá um beijinho leve nos
lábios. Fico até surpresa, estamos no meio do congresso. Lhe
entrego uma garrafa de água e a planilha de projeção de vendas
que podemos fazer se o Tony aceitar sua proposta de reservar
alguns caminhões apenas para nós.
– Nicolas, é você? – Um homem de aspecto austero com idade de
ser nosso pai se aproxima e fala com Nick quando estamos num
breve intervalo.
– Seu Calíope, como vai o senhor?
– Bem, meu filho. E você está cada dia com mais cara de
empresário responsável. – O tal Senhor Calíope diz e os dois riem.
– Tenho que cuidar dos meus negócios. Não trabalho mais com meu
pai há anos.
– Ele me contou. E também me contou que está orgulhoso de você.
Só falta casar. – Nick ri.
– Meu pai vive me dizendo isso, assim como o pai do Tony também.
O dele um pouco mais, já que trabalham juntos.
– Mas essa é a preocupação de todo pai. Também me preocupo com
minha Germana. É o ciclo da vida. Nos casamos e temos filhos,
quando eles crescem ficamos na expectativa que façam bons
casamentos e nos deem netos. – Seu Calíope explica. Então a
epidemia casamenteira não atinge apenas as classes mais simples,
os ricos e milionários sofrem o mesmo. Interessante saber disso.
Vou lembrar de comentar com a Leila. Vamos rir muito dessa
informação.
– Acho que sim.
– Bom, foi um prazer lhe rever meu menino. Quando ver ou falar
com seu pai diga que lhe mandei um abraço e aguardo uma visita
dele, para bebermos alguma coisa e conversarmos muito. – Seu
Calíope aperta a mão de Nick, me dá um leve aceno de cabeça e
sai.
– Você conhece o famoso Calíope Magalhães, dono de quase
metade dos melhores hotéis do país? – Pergunto surpresa olhando
entre o Nick e o homem que se afasta cumprimentando outras
pessoas.
– E também conheço Agenor Novais, dono da outra metade dos
melhores hotéis do país. Ele é o pai do Leonardo, meu amigo. E
feche a boca. – Ele diz encostando seu indicador em meu queixo e
percebo que realmente estou de boca aberta. Eu estou é de queixo
no chão.
– Impossível, meu caro. Estou acostumada a ver esse povo todinho
nas revistas. Minha amiga e eu temos um encontro mensal para
folhear a Revista Fofoca e ler os artigos que mais nos chamam
atenção. A filha dele é uma perfeição de mulher. Não tenho como
ficar de boca fechada não. – Admito.
– Ai, que droga! E eu esqueci de te apresentar a ele. – Nick diz e
leva a mão a testa.
– Ah não! Não se preocupe. Nem ligo pra isso. Sou sua assistente,
não precisa ficar me apresentando pra ninguém não. Entendo bem.
– Não minto. É verdade. Ele sorri. Não esconde demonstrar afeto
por mim. Não se mostra distante durante os discursos. Sua mão
descansou várias vezes em minha perna e quando saíamos um
pouco geralmente ele me levava pela mão.
– Acho que quando voltarmos o Téo terá que receber novo cargo.
Estou amando você como minha assistente.
– E a história de que não queria mais mulheres trabalhando em seu
escritório? – Pergunto.
– Como sabe?
– O Téo me contou. – Olha lá mentiras sendo contadas apenas pra
manter uma de pé!
– Ah é! Só dava pra você saber por ele. Mas é diferente. Não
acredito que faria comigo como elas fizeram. – Sinto uma pontada
de amargura em sua voz e me apercebi que embora ele tenha me
contado muitas de suas coisas, ou melhor, para o Téo, não falou
sobre isso.
– Quer falar no assunto? – Fui solidária.
– Não há o que falar. Lhes dei o emprego. Só ficaram até o fim do
tempo de experiência. Foram demitidas por não conseguirem dar de
conta do trabalho. Pergunte ao Téo a pressão que passamos lá.
São poucos os dias que o trabalho é calmo. Uma delas quem pediu
demissão antes do fim da experiência e mesmo assim eu lhe ofereci
todos os direitos e resguardes para conseguir um novo emprego. E
o que fizeram? As três? Fincaram uma navalha em minhas costas.
O prejuízo de ter que pagar a elas pelos tais danos morais por
assédio não cometido não foi nada em comparação com os danos a
minha empresa. A notícia vazou na imprensa. Cavaram histórias
minhas até do tempo da faculdade para provar o depravado que eu
sou. Minhas ações caíram e as vendas despencaram. Se eu não
tivesse os melhores advogados, não sei como isso teria terminado.
Mas o Henrique e o Horácio trabalharam sem parar para provar
minha inocência. E depois disso veio o trabalho de reerguer nossas
vendas. Seu irmão teve grande participação nisso. Esse mês
comigo ele deu duro e suas ideias são geniais, ajudando nossas
vendas a subir. Teve vezes que nosso provedor de internet caiu sem
suportar as vendas e rapidamente tivemos que substituir. – Sorri.
– Sinto tanto por tudo isso que te aconteceu. – Digo passando a mão
por seu cabelo negro.
– Não sinta. Já passou. Agora tenho o Téo que nasceu pra isso e
agora quero ter você lá também. – Apenas sorri. Não disse nada.
Ele nem imagina como quero que seja a Telma lá. E como por um
momento gostaria de ter mesmo um irmão que faz exatamente o
mesmo que eu e pudesse ajudá-lo. Esse homem merece o melhor.
Depois do primeiro dia de congresso onde perdemos a primeira
parte, mas aprendemos muito no restante, saímos para jantar.
Durante o dia eu estava usando uma calça de alfaiataria cinza e
uma blusa sem mangas branca e um salto alto, que saudade eu
estava de usar saltos o dia todo. Mas Nick queria que eu subisse e
colocasse o vestido preto de tubinho que ele me deu hoje. Tem um
coração tão bom. Não merecia passar pelo que passou com as exfuncionárias. E não merecia o que estou fazendo com ele. Deveria
lhe contar logo a verdade.
Troco mensagem com dona Celma e Leila contando sobre o dia.
Elas dizem para eu ter paciência e seguir com o plano. Téo se
demite e eu assumo. E seguimos a vida.
Jantamos em um restaurante muito luxuoso não tão muito longe do
hotel e rimos muito das histórias de faculdade do Nick e suas
histórias de infância. Não pude contar as minhas porque implicava
falar de um irmão gêmeo que não existe e eu já estou cansada das
mentiras que contei até aqui.
– Mas quando você conhecer minha mãe verá que ela não é tão
maluca assim. Apenas busca meios de se ocupar e gastar o
dinheiro do meu pai. – Nick diz rindo ao falar sobre uma das festas
organizadas por sua mãe onde um garçom caiu na piscina e
começou a gritar desesperado por socorro chamando a atenção da
festa inteira.
– Penso que cada mulher deve se realizar da forma que deseja,
trabalhando, cuidando do lar e dos filhos ou gastando o dinheiro do
marido. – Exponho meu ponto de vista.
– E eu concordo com você. Acho que nesse mundo acabam exigindo
demais das mulheres. Cobram as que não casaram, como as que
dependem do marido tanto quanto as que querem ser
independentes. – Me aquece o coração ele pensar assim.
– Em que seu pai trabalha? – Pergunto curiosa. Para o Téo ele
nunca falou da família.
– Ele tem a própria empresa de barcos, na Capital.
– Sério?
– Hurrum. Mas diferente de mim, ele vende apenas barcos
pequenos. Todos aqueles barcos que você observa os turistas
pegarem para ir admirar as piscinas de águas claras e mornas
formadas entre os corais em Santa Bravinha foram da empresa do
meu pai.
– E você continuou nessa mesma linha.
– Isso. Mas já falamos demais de mim. Agora quero saber de você.
– Não tenho muito o que contar. Sou quieta e caseira.
– Ah! Isso eu percebi. Te procurei tanto essas últimas semanas. Não
queria perguntar ao Téo por você porque já estou escaldado demais
no trabalho. Porém sempre que saía, procurava minha ratinha de
cabelos curtos e argolas imensas nas orelhas. É sexy demais. Você
não imagina o quanto. Sempre usou seu cabelo curto?
– Não. Aderi a pouco tempo. – Olha só uma verdade saindo de mim.
– Tenho curiosidade em saber como ele era grande. Mas acho que
sempre vou preferir ele assim. – Ele diz beijando minha mão como
um perfeito cavalheiro.
Depois de jantarmos, conversarmos e rirmos muito, voltamos para o
hotel.
– O que faz? Seu quarto é aquele. – Provoquei.
– Muito feio e solitário meu quarto. Prefiro o seu. – Ele diz beijando o
meu pescoço. Errei a passagem do cartão para destravar a porta
duas vezes. Ele riu pegando o cartão da minha mão.
– Eu abro. Você parece que não sabe. – Ele diz sorrindo sedutor
com sua voz grossa em meu ouvido. Meu corpo arrepia no mesmo
instante.
– Você quem me distraiu. – Digo o observando abrir a porta. Ele
continua atrás de mim. Uma mão na porta e outra na minha cintura.
– Amo sua pele arrepiada. E amo ainda mais a sua pele arrepiada
embaixo de mim. – Nick diz devorando meu pescoço.
Definitivamente ele tem fetiche por pescoço.
Juro pra você que não consegui me concentrar em mais nada que
não fosse Nick no restante da noite. Fizemos amor por muito tempo
antes de finalmente adormecer exaustos, felizes e satisfeitos.
O dia seguinte do congresso foi ainda melhor que o primeiro. Não só
de aprender novas coisas como de estar com o Nick como eu
mesma.
Capítulo 22
Nick
Minha ratinha linda sempre está nas minhas mãos e depois foge,
preciso acabar com suas fugas porque estou viciado nela. Pensei
que passar dois dias e duas noites comigo e perder a conta de
quantas vezes transamos ia deixá-la mais à vontade para passar as
noites na cidade comigo, em minha cama. Mas não foi nada disso
que aconteceu. Quando a trouxe ontem para casa depois do
congresso, a pedi para dormir comigo e ela não aceitou. Disse que
era melhor dormir em sua casa. Aceitei, mesmo a contra gosto,
porque o que eu queria mesmo era seu gosto em minha boca mais
uma noite.
Fiquei muito surpreso em vê-la no lugar do irmão no congresso. São
tão parecidos que ela se passou direitinho por ele nas primeiras
horas. Tirando a desconfiança que senti enquanto ela dormia no
carro na nossa ida para o Hotel Royal Palácio Magalhães, eu jamais
a teria descoberto se não tivesse entrado naquele quarto e a pego
sem roupa. Aliás, a melhor visão do mundo, que corpo ela tem. Mas
são dois pilantrinhas. E nem quero reclamar. Ter a Telma comigo foi
a melhor coisa que poderia me acontecer nesse congresso. Somos
perfeitos trabalhando juntos. Ela parecia até que já tinha trabalhado
comigo antes. Até seus movimentos pareciam estar sincronizados e
se antecipar aos meus, ela parecia que já me estudara por dias e
sabia meus hábitos e manias no trabalho. E que delícia de mulher
na cama. Eu já imaginava que ela devia ser muito boa nisso, seus
beijos e carinhos eram o melhor indício. Mas meus pensamentos
obscenos no banheiro antes de tê-la a primeira vez passaram longe
da delícia da realidade. Aqueles seios, meu Deus! E aquela bunda,
os seios deliciosos… os gemidos dela, principalmente quando geme
meu nome ao atingir o orgasmo me deixam duros só de lembrar. Eu
me viciei naquela mulher. Agora entendo bem o Eduardo tão viciado
na Ella. Eu a quero trabalhando comigo, a quero comigo todos os
dias. O Téo é muito competente, vou colocá-lo num cargo maior e
chamar a Telma para trabalhar comigo como minha assistente
pessoal. Vai ser o mesmo que estar no paraíso, só que ganhando
milhões.
A deixei em casa ontem à noite sem querer me separar dela. Agora
lá vou eu trabalhar sem conseguir tirar essa mulher da minha mente.
Tomei um banho e comi algo antes de sair para o trabalho. Pensei
em ir direto para o escritório, mas como ainda é muito cedo, mudo o
trajeto. Vou direto para a casa da Telma. A vejo, o Téo fica logo
sabendo que estou saindo com a irmã dele e vamos juntos para o
trabalho. Perfeito. E já digo a Telma que a quero trabalhando comigo
e ao Téo que ele será promovido.
Paro o carro em frente ao apartamento deles e olho ao redor. Um
bairro novo, tranquilo e simples. Eles moram num prédio bem
aconchegante de estuque com poucos apartamentos, todos bem
familiares. Vejo até um carrinho de bebê numa das varandas. Me
aproximo para tocar a campainha e percebo que o portão está
aberto. Decido subir e fazer uma surpresa. O Téo não pôde viajar
comigo, será que viajou para outro lugar e a Telma está sozinha?
Sinto até uma ansiedade no meu amigo de baixo só de imaginar
transar com ela mais uma vez antes de ir trabalhar. Agora na cama
dela, com seu cheiro impregnado nos lençóis. Eu me viciei mesmo
nessa mulher. Entro em silêncio para fazer uma surpresa. Ao
mesmo tempo sinto um calafrio de pensar que a Telma pode estar
sozinha e que em vez de mim, um bandido poderia subir aqui.
Paro diante da porta do quarto e vejo a Telma. Não, o Téo? O que
está acontecendo? Fico quieto observando a cena dele ou dela, sei
lá qual dos dois, diante do espelho grande. Fiquei confuso.
– Eu sei Leila. Vou resolver isso hoje. – Pela voz é a Telma. Mas ela
está vestindo as roupas do Téo de novo? Isso não faz o menor
sentido. Continuo quieto escutando. Uma coisa já tenho certeza, é a
Telma e ela está se vestindo como Téo. Continua a se arrumar e
trocar o telefone entre uma orelha e outra enquanto se apronta.
– Hoje eu vou falar com ele. Vou apresentar a carta de demissão, me
livrando desse disfarce miserável que já me cansou. Quero voltar a
ser apenas eu mesma. – Ela diz e minha ficha finalmente cai
quando ela pega um pacote de meias e coloca entre as pernas.
Engulo em seco e fecho os olhos sem querer acreditar e nem ver
mais nada. Não vou me precipitar, porque o que eu mais quero
agora é gritar com ela e exigir a verdade. Saio apressado antes que
ela me veja. Agora não. Vou direto para o escritório e como cheguei
cedo encontro só o vigia.
– Bom dia, seu Nick.
– Bom dia! – Respondo secamente e passo direto para o escritório.
Bato a porta atrás de mim e desejava que todos estivessem aqui e
escutassem a batida na porta para ver que não estou num bom dia.
Deve ter rachado a estrutura. Olho ao redor da sala e tenho náusea
ao ver que tudo tem um traço do Téo. Ou melhor, da Telma. A
cestinha de moedas para alimentar o potinho do palavrão, o arranjo
de flores que ele… ela… sempre coloca perto da janela, os post-it
por todo lado para nos lembrar de algo. Meu Deus, como ela pôde
fazer isso? E por que? Inferno! Ando de um lado para o outro
irritado. Solto uma sequência tão grande de palavrões que as
crianças da Escola Mirim da Capital terão sua melhor festa em anos.
Inspiro fundo e me sento tentando me acalmar. Quando penso que
vou finalmente parar de tremer de ódio e decidir o que fazer, escuto
a maçaneta da porta girar. Eu ainda não estava preparado para isso.
– Bom dia, seu Nick. – Telma no seu estúpido disfarce de homem
entra no escritório. Por que ela fez isso?
– O pessoal já chegou? – Pergunto duramente.
– Não. – Ela diz e percebe meu tom de voz. Como não perceberia?
Ela dormiu comigo as duas últimas noites e passou mais de um mês
trabalhando dias inteiros comigo no escritório.
– Tudo bem?
– Me diga você. – Pergunto e percebo um envelope em sua mão. Me
levanto e me aproximo.
– Não estou entendendo. – Se ela continuar imitando um homem
vou infartar de tanto ódio.
– Vai pedir demissão? E depois pedir pra sua irmãzinha ficar em seu
lugar? É isso? – Acabo a distância entre nós dois. Ficamos a
centímetros de distância. Consigo até sentir o calor de sua
respiração.
– Nick… – Ela fala como a ratinha assustada que me enlouquece de
tesão. Mas não vou ceder. Começo a andar ainda mais contra ela,
como não há mais espaço entre nós ela começa a dar passos para
trás até estar contra a parede. Ótimo, exatamente onde a quero. O
gato pegou o rato.
– Um dia iria me contar? – Pergunto tentando controlar a raiva.
– O que? – Ah! Agora é a voz da Telma, finalmente.
– Esqueceu de fingir ou está tão nervosa porque sabe que eu
descobri tudo, que não consegue mais tentar forçar a voz? –
Pergunto abrindo seu cinto, o botão e zíper da sua calça. Arranco o
maldito saco de meia da sua roupa, enquanto ela acompanha minha
ação com os olhos.
– Nick… – Tem tanta dor em sua voz que quase abrandei. Mas ela
não me engana mais. Me afasto dela, porque mesmo irado a
atração que sinto por ela é maior que já pude sentir por qualquer
mulher na minha vida e estou a um sopro de desejo de arrancar
essa sua maldita roupa e toma-la aqui mesmo. Tão irônico! Faria o
que as ex secretárias me acusaram e não fiz. Mas agora eu faria, só
com a Telma. – Eu vou te explicar tudo. – Ela diz em tom de apelo.
– Não quero saber, Telma. – Grito. – Você nunca poderia ter feito
isso. Mesmo que fizesse… depois… depois que te conheci melhor…
Você teve tanta oportunidade de me contar tudo e não fez. As vezes
que nos vimos no bar, que te beijei na porra do teu portão . – Ela
pega uma moeda do bolso e coloca na mesa. – Não faça isso. – A
advirto.
– Você precisa ouvir o que tenho a dizer. Por favor!
– Você não imagina como me senti confuso todas essas semanas.
Minha atração por você é tão forte que eu não sabia como me
comportar quando você chegava aqui fingindo ser homem. Eu sabia
que aquela sensação não era o meu normal. E você não me contou.
– Eu precisava de tempo.
– Saia. Não quero ouvir nada de você. – Grito e agora sim, se os
funcionários já chegaram ouviram meu grito até no depósito lá
embaixo. – Saia. – Grito mais alto e jogo a maldita meia contra a
parede. Ela em silêncio coloca sua pasta em cima do sofá.
– São todas coisas da empresa. Não tem nada meu aí. Só o celular.
– Ela diz com voz falha erguendo o telefone. Se vira e sai. Enterro
as mãos no cabelo e os cotovelos na mesa sem acreditar que tudo
isso é verdade.
Eu preciso sair e beber, beber até esquecer quem sou. Beber até
esquecer que a Telma existe e o que ela fez. E é isso que faço. Saio
sem dar satisfação. A Celma que se dane e se vire para cancelar
meus compromissos. Eu vou beber. Passo em frente ao bar Estrela
do Mar e está fechado. Inferno. A Natasha não quer ganhar dinheiro
não?
Encontro um boteco sujo e me sento num banco diante do balcão.
Peço a bebida mais forte. Ela desce queimando a garganta que
parece que estou é descendo ao inferno. Ótimo. Peço mais uma.
– Dia difícil? – O dono do bar pergunta me servindo.
– E ele nem começou direito. – Digo fazendo uma careta depois de
tomar outro copo de bebida de uma vez. – Mais. – O velho dono do
boteco me encara um pouco e depois enche o copo.
– Mulher?
– Achei que tinha encontrado a certa. Mas ela me traiu.
– Conhecia o outro homem?
– Não foi um homem. Ela mentiu pra mim.
– Por que?
– O senhor pergunta demais. – Reclamo.
– Meu papel. Você está bebendo feito um louco no meu bar. Sempre
quero ajudar meus clientes. – O encaro.
– Não sei porque ela mentiu. Não deixei se explicar.
– Às vezes, meu jovem, mentes desesperadas levam a ações
desesperadas. Pense nisso. Talvez sua garota tenha se visto sem
escolha quando mentiu.
– Mais um copo. – Digo batendo o copo vazio na mesa.
– O bar acaba de fechar. Você não tem cara de que é um alcoólatra.
Vá tomar um banho e esfriar a cabeça. Depois procure sua garota e
se entenda com ela. – Jogo uma nota de cem em cima do balcão e
saio. Se ele não quer me dar bebida, vou beber a que tenho em
casa.
Capítulo 23
Telma
– Você precisa se acalmar. – Leila me diz quando estou cansada de
tanto chorar em seu colo.
– Fiz um chá. Vai ajudar. – Dona Celma diz se aproximando e me
entregando uma xícara. As duas vieram a meu apartamento depois
que souberam o que aconteceu. O pior de tudo para mim foi ver a
raiva nos olhos de Nick e o medo de perde-lo para sempre.
– Obrigada. – Leila diz.
– Fiz para nós três, porque as três estamos nervosas. – Ela entrega
outra xícara para a Leila e se senta se servindo também.
– Nem acredito que a senhora saiu do escritório e veio aqui. – Digo
bebendo o chá.
– Assim que cheguei o porteiro me disse que primeiro você saiu
chorando e depois seu Nick saiu cuspindo fogo. Não foi difícil
deduzir o que aconteceu. Esperei cerca de uma hora, como ele não
voltou telefonei para ele que disse que não iria trabalhar, que o
escritório podia ser engolido pela terra hoje. Não queria ser engolida
junto. Sabia que deveria ver como você está, minha menina!
– Obrigada. A senhora é tão boa pra mim. – Até mais que minha
mãe. Mas essa parte não vou dizer.
– Gosto muito se você. Do Nick também. Pode ter certeza Telma,
quando ele se acalmar vai voltar atrás nessa decisão. – Ela
pondera.
– Como? Ele não me deixou nem falar.
– Aí que você errou. Deveria ter ficado e gritado a sua verdade
também. Sabemos que você errou quando fingiu ser homem, mas
como a Celma disse logo que chegou, você ajudou os números da
empresa a voltarem a subir. Ele te deve isso. – Leila diz.
– Isso, Telma. Se acalme e espere ele se acalmar também. Depois
disso você deve procurá-lo e explicar tudo.
Sou tão grata por ter elas duas. Meus pais moram em Gravetinhos e
minha mãe me diria um mundo de coisas para me deixar ainda mais
para baixo. Elas só tentam me colocar pra cima.
Passei os próximos dias em casa sem colocar a cabeça fora.
Primeiro, estou com vergonha. Ninguém sabe o que eu fiz, além de
Nick, Leila, dona Celma e meu primo Fernando, mas tenho a
impressão de que a cidade inteira vai me olhar torto se eu sair de
casa. Também não tenho ânimo de ir a lugar nenhum, e a Leila e
dona Celma abasteceram minha geladeira e despensa. Então
valorizo um pouco minha tristeza.
Depois de uns dias e já sabendo pela dona Celma que o Nick voltou
a trabalhar, tomei uma decisão. Vou falar com ele. Tomo um banho e
visto meu conjuntinho branco de saia justa no meio na coxa e blusa
sem mangas e minhas botas de salto e cano curto e vou até lá. Não
foi difícil entrar em sua sala. Dona Celma me beijou e simplesmente
saiu, me deixando toda a liberdade para entrar. E entrei sem bater.
Entrei e fiquei em pé ao lado da porta fechada esperando ele
levantar o olhar e me ver. Inspirei fundo.
– O que deseja, dona Celma? Diga logo. Ou já esqueceu o quanto
estamos atrasados? – Ele finalmente ergue os olhos e me vê.
– Vim falar com você.
– Não tenho o que falar com você. – Ele é duro. Meu coração se
parte.
– Mas eu não vou sair daqui sem que você me escute.
– Fique satisfeita que não dei queixa na polícia contra você. – Ele diz
friamente. Que se dane. Pode chamar a polícia mas não saio daqui
sem dizer o que preciso.
– É? Pois dê parte na polícia. Mas vai me ouvir. Se quiser sair, venha
pegar a chave. – Grito. Passo a chave na porta, a tiro e coloco no
sutiã. Ele acompanha meus movimentos e se detém olhando para
meus seios. O vejo até lamber os lábios.
– Meu Deus, mulher! Pare com isso. – Ele diz engolindo em seco.
– Eu precisava do trabalho. Mas do que tudo, eu queria o trabalho. –
Comecei a gritar. – Nunca me vi trabalhando em nenhum outro
serviço, desde criança eu sabia o que queria. Depois que me formei
aceitei vários empregos em minha cidade e não era feliz. Até que
decidi vir morar aqui. Você não faz ideia do que é andar mais de um
mês batendo de porta em porta das empresas com um currículo e
não encontrar nada. Um dia vi dois rapazes conversando sobre a
vaga que você ofereceu e sabia que me sairia bem. Eles
desdenharam. Dizia que nem eles que eram homens conseguiram,
quanto mais uma mulher. E tinha a exigência que era para homens.
Eu queria provar que podia, além de ter consciência que minhas
reservas estavam acabando. E provei. Eu fiz o serviço. Não ache
que foi fácil fingir, mas eu amei o trabalho e já iria embora, porque
meu coração … – Parei de gritar nessa parte e comecei a falar mais
baixo. – … meu coração não me deixava mais mentir para você. Não
sabe como me doía, porque eu me apaixonei. Doeu e me assustou
perceber que te amo. Agora chame a polícia, você sabe meu
endereço. – Tiro a maldita chave do meio da blusa e com as mãos
tremendo abri a porta e saí. Ele não me chamou, não me disse
nada. E eu não pararia para ouvir mais insultos nem esperar ele
chamar a polícia ou a segurança para me tirar.
(⌐■-■)(⌐■-■)(⌐■-■)
– Leila! – A chamo quando chego em seu apartamento a noite.
– Entra. Pega vinho pra gente na geladeira. Vou só tirar essa toalha
da cabeça. – Ela diz com o corpo fresquinho do banho. Vou até a
cozinha e pego o vinho na geladeira e duas taças. Pouco depois ela
chega e se junta a mim. Lhe conto tudo que disse ao Nick hoje mais
cedo.
– Você foi muito corajosa dizendo tudo isso pra ele. Até em admitir
que se apaixonou. – Leila diz tomando um gole do seu vinho.
– É! Eu precisava jogar tudo para fora para não me arrepender
depois pelo que não disse. Mas minha sinceridade não vai pagar
minhas contas. Tenho que arrumar um novo emprego e não quero
mais como secretária executiva. – Suspiro.
– Ainda com essa ideia na cabeça?
– Tenho outra opção? Nick está certo quando disse que eu deveria
agradecer por ele não ter dado parte de mim na polícia. Eu seria
presa facinho.
Continuamos conversando e bebendo até eu decidir ir para casa e
deixá-la dormir para ir trabalhar. Sei que sua vida não está fácil, ela
tem feito horas extras e aceitado algumas viagens de trabalho para
poder ganhar um pouco mais na Concessionária Autorizada Peep
para poder ajudar seus pais com os medicamentos e tratamento da
sua irmã.
– Telma!
– Fernando! O que houve? – Pergunto lhe cumprimentando com um
abraço quando já estou na calçada de casa.
– Vim me despedir.
– Por que?
– Estou indo para outra cidade.
– Qual? – Pergunto preocupada.
– Desfaça essa cara de preocupação. Sou das tocas, dos esgotos.
Não posso demorar muito tempo numa cidade.
– Não tem nada a ver com o que eu fiz? Não falei para ninguém que
foi você que me deu os documentos.
– Que nada, priminha. Isso é fichinha diante das coisas que faço.
Não sou um homem bom, não sou um mocinho.
– É um anti-herói, então?
– O que é isso? – Ele pergunta confuso.
– Hoje um tipo de livro que faz sucesso são os romances em que
bandidos se apaixonam por garotas inocentes e as levam para o
mundo do crime.
– É. Então sou um anti-mocinho. – Ele diz orgulhoso de si. Ri de sua
expressão.
– Então você é o melhor anti-mocinho que já conheci. Espero que
seu livro seja diferente. A mocinha tire o anti-mocinho desse mundo
maluco. – Ele ri.
– Sua amiga me contou do babaca lá pra quem você trabalhou. Quer
que eu dê uma lição nele antes de partir?
– Ficou maluco? Eu quem errei. Ele nem me entregou para a polícia.
Deixa assim. Mas obrigada.
– Não importa o que acontecer, não volte para casa da tia Bia, por
favor. Ela e a mamãe são malucas. Você não suportaria.
– Fernando… – Tento falar com tom de repreensão.
– Falei sério. Me promete que não vai voltar para Gravetinhos. Lá já
quase não tem emprego. E ninguém merece aguentar nossas mães
querendo casar os filhos.
– Você as vezes é cruel com elas. – Tento amenizar.
– Telma! Elas já tentaram casar nós dois. Somos primos, crescemos
juntos como irmãos. E elas nem se importaram em pensar que se
eu me casasse com você nossos filhos nasceriam verdes e com 12
dedos. – Ele balança a cabeça em negativa e eu evito rir.
– Pois eu prometo. Se não ficar aqui talvez eu vá para a Capital.
– Ótimo assim. E não tente me enganar. Sempre monitoro você.
– Sério? – Nessa eu não posso acreditar.
– Desde quando entrei nesse mundo. Acompanhar seus passos é a
coisa mais fácil no meu trabalho. Convenhamos priminha, se fingir
de homem foi a única emoção que já teve em sua vida.
– Tem toda razão. – Admito numa careta.
– Ah! E sabe de uma coisa?
– O que?
– Você ficou minha cara com cabelo de homem. Tirando a parte de
transar com o playboy, eu acho até que podia me passar por você.
– Como…?
– Esqueceu que vigio quem amo? – Ele beija minha testa.
– Chefe… o senhor vai se atrasar. – Um homem alto e forte se
aproxima. Nem tinha o visto. Olho abismada, não só pela
aproximação tão sorrateira do homem, mas principalmente porque
ele chamou o Fernando de chefe.
– Chefe? – Franzi a testa ao perguntar.
– Acha mesmo que me assustei em te dar documentos falsos e
negaria te conhecer se te pegassem? – Balanço a cabeça num sim.
– Disfarces, priminha. Disfarces. Sou um anti-mocinho. Você mesma
disse. Eu não seria pego e nem te deixaria presa.
– Você sempre me surpreende.
– Agora pegue esse envelope. Tem dinheiro para você passar um
bom tempo sem precisar trabalhar. E tem um aparelho de telefone.
O deixe sempre carregado e a seu alcance. Tem como você me ligar
e mandar mensagem. Não tente falar comigo de outra forma. Tudo
bem? Estou ao seu alcance, mas só por aqui. Um pedido e movo
todos que trabalham comigo para te proteger. Mas agora preciso ir.
– Amo você priminho. Vou sentir sua falta. Quando vim pra cá
sozinha foi por saber que estava aqui.
– Também te amo priminha. Você vai ficar bem, continuo cuidando
de você de longe. Não se preocupe. – Ele beija minha testa e entra
no carro do outro lado da rua. Fico o observando chocada. E eu que
pensei que ele era um trombadinha ladrão de bicicleta medroso. Só
entro no meu apartamento depois que seu carro some na esquina.
Entro com o envelope que ele me deu e fico chocada com a
quantidade de dinheiro que tem nele. Todas notas de cem. Abri e
fechei a boca um milhão de vezes. Meu primo é doido. E um antimocinho.
Capítulo 24
Nick
– Vai beber até que horas? – O Leonardo me pergunta sentando no
meu lado do sofá do meu apartamento.
– Você não deveria estar por aí salvando as baleias?
– Eu não. Nunca salvei nenhuma. – O olho incriminador.
– E aquela foto sua em todos os sites, revistas e jornais ajudando o
Bluepeace a salvar as baleias?
– Primeiro que não eram baleias, eram golfinhos. Segundo que eu
entrei no barco por engano. Terceiro, o assunto aqui é você.
– Não sou seu assunto.
– É sim. Não vou te deixar assim. Está desse jeito por causa da tal
ratinha ainda? – Fiquei calado. – Cara! Por que não a procura e
acaba com isso de vez?
– Porque ela mentiu pra mim.
– Ah! Me faça o favor, Nick. Ela não mentiu para você, mentiu para
conseguir um emprego. Você não é pobre, não sabe como um
emprego é precioso. Eu que ajudo todo dia comunidades pobres
carrego as mesmas dores que eles. Sei bem como é. – Leonardo
diz.
– Não seria mais fácil você assinar cheques, do que ir trabalhar com
eles para compartilhar os trocados que ganha? – Ele fica pensativo.
Como não fala, continuo. – Você é ainda mais rico que eu. Ajudaria
mais assinando alguns cheques. – Ele continua pensando.
– Não estamos falando de mim, mas de você. Não tenha medo de se
machucar, meu amigo. Isso é muito melhor do que ficar assim. Ela
não é ruim. E você está apaixonado por ela. E ela também admitiu
isso em alto e bom som para você. – Agora sou eu que fico o
olhando sem dizer nada, isso o motiva a continuar. – Como é que
aquela autora de romance de época diz?
– Quem?
– Madame Gladys Mary.
– Sério que você ainda lê romance de mulher? – Pergunto revirando
os olhos.
– Ajuda muito a aprender sobre as mulheres. Eu até daria uma boa
madame Gladys Mary. Tenho muitas histórias na minha cabeça. –
Reviro os olhos mais uma vez.
– O amor é um campo de batalhas. Foi isso que ela disse. Não
esqueça.
– Vou pensar.
– Pense. E pense que ela disse que te ama. Agora eu já vou. Depois
o Lucas e o Tony vêm te ver também. Eduardo está na Bahia,
brincando de fazer pontes, mas vai te ligar. – Ele diz indo para a
porta.
– É sério isso? Vocês vão ficar de vigília?
– Sim. E você sabe disso. – Ele diz tranquilo. Me afundo no sofá
depois que ele sai. Lembro de um livro que o Leonardo deixou aqui
uma vez. Não sei porquê, mas vencido pela curiosidade vou
procurar na minha biblioteca. Aquele maluco leu e vive relendo os
livros dessa mulher. Não tenho muito o que fazer mesmo, além de
beber e remoer o que a Telma fez e o que ela me disse depois, que
se apaixonou e que me ama.
O que eu estou fazendo? Procurando romance de mulherzinha?
Faço uma careta ao pensar nisso. Faço outra careta quando leio o
título do livro de madame Gladys Mary que o Leonardo deixou aqui:
A Condessa Fugitiva e o Lenhador. Pego o livro e abro lendo a
primeira frase que meus olhos fitam. Argh.
O coração do rouxinol palpita com a vida das flores.
Argh de novo. Deus amado, que livro é esse? Sério que o Leonardo
lê isso? Passo várias páginas de uma vez. Uma frase está grifada.
Por ele.
As vezes a vida te surpreende e põe em seu caminho alguém
que você não esperava. E você precisa decidir que lugar ela terá em
sua vida.
Passo a página e leio outra frase:
Ela lhe entregou seu coração e nunca lhe pediu de volta.
Guardo o livro na prateleira. Pego o livro de volta. Abri novamente
na frase que o Leonardo grifou e fotografo.
As vezes a vida te surpreende e põe em seu caminho alguém
que você não esperava. E você precisa decidir que lugar ela terá em
sua vida.
Só nunca vou dizer ao Leonardo que fiz isso. Como era de se
esperar, pouco depois apareceu o Tony. Pouco depois que ele saiu
apareceu o Lucas. Pouco depois que ele saiu, o Eduardo ligou.
Todos eles me diziam a mesma coisa, se eu estou desse jeito é
porque estou sofrendo e se estou sofrendo é porque estou gostando
da Telma. E se ela disse que me ama não tem por que eu estar aqui
sozinho. Eles não imaginam o quanto sinto falta dela. Não apenas
de me enterrar dentro dela, mas do seu cheiro, da sua conversa,
sua voz. Inferno. E principalmente do jeito que ela cuidava de mim.
Tudo que ela fez no escritório essas semanas todas… era a Telma.
Minha Telma. Eu só queria que fosse tudo perfeito.
Penso em beber mais um copo de vodca e desisto. Tomo um banho
e me deito para dormir. Quando estou quase cochilando meu
telefone apita anunciando que recebi uma mensagem. Do Leonardo.
O que esse maluco ainda quer? Abro a mensagem.
Leonardo: Não lamente o que não viveu e o que não aconteceu.
Viva o agora pensando no futuro. – Madame Gladys Mary.
Esse homem é doido e viciado nessa mulher. E ela tem muitas
loucuras escritas, mas tenho que confessar, algumas verdades.
Como em todas as noites anteriores desde que descobri a verdade,
eu não durmo direto. Durmo menos ainda depois que a Telma
entrou lá tão atrevida, querendo se explicar. Estava tão linda
naquela manhã. Sempre amei aquela roupa dela. Mas também
estava tão abatida… não mais que eu. E nunca fiquei tão
desestabilizado quanto fiquei ao ouvi-la quase sussurrar que se
apaixonou. Me obrigo a ir trabalhar e de novo um dos idiotas dos
meus amigos está na entrada do meu prédio. Eles é que vão me
enlouquecer.
– Vocês vão me vigiar até quando? – Pergunto irritado ao Lucas.
– Até o dia que você se recuperar.
– Vocês são loucos.
– Louco é você que está aí sofrendo pela mulher que disse que se
apaixonou e não vai atrás dela.
– Tá! Pois me diz espertinho. Se fosse você, o que faria?
– Compraria uma corda, iria até ela, lhe daria umas boas palmadas
em sua bunda, a amarraria e transaria com ela até ela esquecer o
próprio nome e lembrar só o meu. – Lucas diz.
– Você é doido, sabia?
– Sou não. Só amarro as que querem ser amarradas, só dou
palmadas nas que querem as palmadas e se uma mulher dissesse
que me ama e eu também a amasse, eu jogaria meu orgulho de
lado e iria atrás dela e nunca a deixaria partir. – Ele diz entrando em
seu carro. – Vou indo. E ligamos para o Eduardo, ele está vindo.
Falamos como está difícil cuidar de você. Está dando mais trabalho
do que ele deu na semana que a Ella foi embora. Ele tomou o que?
Uns três porres e seguiu em frente. Você nem deixa de beber e nem
segue em frente. Acorda moleque. Já diz o ditado: caga logo no
mato ou sai da moita.
– Que conselho mais absurdo! – Digo balançando a cabeça em
negativa.
– Mas é verdadeiro, irmão. Te vejo no meu próximo turno. Mas
espero que acabe com nossa vigília antes disso. – Ele diz e se
manda.
– Caga ou sai da moita. Que conselho absurdo. Pior que as frases
grifadas do Leonardo nos livros de Madame Gladys Mary. – Sacudi
a cabeça e segui para o escritório pensando no que eles têm me
dito desde ontem. Pelo menos desde ontem eu tenho bebido menos
e consigo lembrar o que eles dizem. Chego no escritório, passo para
minha sala e dona Celma vem logo atrás de mim. Pronto. Quando
ela faz isso nunca é coisa boa.
– O que foi, dona Celma? Desembucha. – Pergunto sem forças para
discutir.
– Se não trouxer a Telma de volta eu me demito. – Ela diz jogando
várias pastas em minha mesa.
– Ficou doida? – Todo mundo está doido.
– Sim. Porque ninguém sabe cuidar da logística das entregas como
a Telma, ninguém sabe lidar com aquele seu cliente maluco do Sul
como a Telma. Ninguém sabe fazer café como a Telma. – Ela
aumenta o volume da voz no café. – Então não fico mais aqui sem
ela porque ninguém faz nada como a Telma. – Ela diz e fecho os
olhos pensando no tamanho do pesadelo que estou vivendo. Ela sai
e fecha a porta calmante. Volta e me olha.
– Esqueci de bater a porta para mostrar minha ira. – Ela diz e bate a
porta com mais força do que eu faço nos meus momentos de ira.
– Não vou atrás da Telma. Não vou atrás da Telma. – Me repito isso
várias vezes e começo a girar em minha cadeira. Sinto falta até do
maldito vaso com flores que ela colocava perto da janela e dos postit por todo lugar. Eu preciso é me concentrar no trabalho.
– Dona Celma, me traga os últimos registros de novos cadastros no
site, por favor. – Peço pelo telefone.
– Desculpe. Não sei fazer. – É sua resposta simples e grossa pelo
telefone.
– É isso mesmo? – Pergunto irritado. Sem resposta. Instantes
depois…
– É isso mesmo, sim senhor. – Ela diz abrindo a porta de repente.
Fecha de novo.
Eu preciso de algum remédio para não me estressar ainda mais. E
preciso de um para se eu me estressar, não infartar. E preciso de
outro para se eu me estressar e infartar não matar ninguém.
Quando estou à beira de um colapso meu telefone toca. É o
Eduardo.
– Fala cara! Algum problema para me ligar a essa hora? – Pergunto
irritado.
– Já foi atrás de sua garota?
– Ela não é minha garota.
– Tem certeza?
– Tenho. – Inspiro fundo depois de responder.
– Ótimo. Porque aqui no meu escritório está uma bagunça e preciso
de alguém para trabalhar ao meu lado e organizar tudo. Se ela não
é sua garota, vou contrata-la. Se ela já estiver em outro emprego
pago quantas vezes mais ela pedir. Sei que é competente, linda e
sexy e como sabe muito bem, agora sou um homem livre e não
tenho problemas em me envolver com secretárias.
– Você não faria isso comigo. Você é um dos maiores mulherengos
que já conheci.
– E estou livre. Repito.
– Você é um cretino. – Esbravejo no telefone.
– Não sou, não. Ela não é sua e você disse que não tem mais nada
com ela. Eu preciso de uma assistente.
– Isso é algum tratamento de choque?
– É sim. E aplico com prazer.
– Inferno.
Tudo bem. Me rendo. Vou busca-la. A quem eu quero enganar?
Capítulo 25
Nick
Povo mais miserável e chantagista esse com quem convivo. Jamais
pensei. E ainda ficam do lado da Telma, em vez do meu. Até dona
Celma deu pra me chantagear. Não que fosse difícil eu ceder,
porque eu já estou louco de saudades da minha ratinha. Preciso
dela, tenho que admitir. Ela torna a vida no escritório muito mais
fácil. E confesso, só de imaginar ela sempre comigo no escritório,
como a minha Telma e não aquele famigerado fingimento que ela
arrumou… me deixa muito excitado. Consigo imaginar mil e uma
formas de aproveitarmos o escritório no fim do expediente. Tonto,
tonto. Se eu tivesse pensado direito a teria escutado naquele dia e
me permitido acalmar e deixar pra lá. No fundo ela não me fez mal e
hoje eu estaria desfrutando de tudo que ela pode me dar, no
trabalho e na cama. E é por tudo isso que saí do escritório sem
avisar a dona Celma e vim atrás dela. Não que dona Celma fosse
ligar, porque ela não está trabalhando direito, fica sentada diante de
sua mesa passando uma lixa nas unhas. Disse que está de greve.
Quando eu a ameacei despedir também, coisa que eu tenho total
consciência que não faria, porque ela trabalha muito bem, ela me
disse que eu não poderia demiti-la por isso, que chegou até a
perguntar a Telma e ela explicou que a greve é um direito legal do
trabalhador em busca de uma reinvindicação justa por melhorias de
trabalho e a melhora de trabalho dela é ter a Telma de volta. Reviro
os olhos de pensar.
Me vê batendo sem parar e frustrado? Pois é, eu vim. Cedi a todos
e a meu coração. Bati sem parar em sua porta, até que uma vizinha
com um bebê nos braços apareceu na varanda do apartamento ao
lado e disse que a Telma não estava.
– A senhora sabe me informar onde ela foi?
– Acredito que saiu para trabalhar. – Ela disse acalentando o neném.
Mas ela já arrumou outro emprego? Com o Eduarda não foi. Nem
com um dos imbecis dos meus amigos. Linda daquele jeito seria até
mais seguro estar com um deles, que não esticariam o olho pra ela
sabendo que é minha. Se estiver trabalhando para um cretino pode
querer se aproveitar dela e eu vou ter que partir a cara dele.
– Trabalhar? Onde ela está trabalhando? – Pergunto curioso,
decepcionado e intrigado. Como ela arrumou novo emprego tão
rápido? A quem estou querendo enganar. A Telma é a melhor
secretária executiva que já conheci.
– Não sei dizer ao senhor. Mas acredito que começou ontem. – Faço
total cara de desânimo e a mulher nota. – A Leila, melhor amiga
dela, com certeza sabe. – Ela completa a informação.
– Tem razão. Obrigado! – Saio de lá tentando lembrar onde a Leila
trabalha. Quando estávamos no congresso ela me falou da amiga.
Isso! Ela trabalha na Concessionária Autorizada Peep. Não perco
tempo e sigo até lá.
Inferno. Merda. Tenho que lembrar de colocar duas moedas no
potinho da mamãe quando chegar no escritório. E a Telma precisa
mesmo voltar, e logo. Ela quem alimenta aquele maldito pote com
as moedinhas que junta na cesta que deixa em uma de minhas
gavetas. Nunca tenho moeda, sempre preciso colocar notas. Vou
até a concessionária e me informaram que a Leila ainda não
chegou. Mas eu preciso falar com ela logo e não quero ter que
espera-la vir trabalhar.
Estou tão ansioso para ver a Telma e dar um fim nessa confusão
que pedi o endereço da amiga para o gerente da Concessionária.
Ainda bem que ele é meu conhecido e me deu o endereço dela sem
questionar. Então sigo direto para lá. Quando paro o carro e me
aproximo, ela está pegando a correspondência da sua caixa de
correio e já arrumada para sair. Lembro do dia que vi a Telma em
seu apartamento pegando a correspondência e a beijei. A quem
quero enganar? Estou morrendo de saudade da minha ratinha e
tudo me faz lembrar dela.
– Leila! – Chamo seu nome ao me aproximar. Está de costas para
mim concentrada na caixa de correios.
– Aaaahhh! – Ela tem um tremendo susto. Solta a correspondência e
dá um pulo de cerca de meio metro de altura.
– Desculpa. Não queria assustar. – Digo me abaixando e a ajudando
a recolher seus papéis.
– Tudo bem, eu é que estava distraída. Não me assustou. – Ela diz
quando ficamos de pé. Não a assustei? Imagina se assustasse.
Espero ela colocar a correspondência na bolsa para a
cumprimentar.
– Sou o Nick! – Lhe entendo a mão.
– Prazer! Sou a Leila. – Ela fica me olhando, me avaliando. –
Conheço você. – Ela diz.
– Também tenho a impressão que te conheço. De onde não sei.
– Faculdade. – Ela fala como quem acaba de lembrar.
– Isso mesmo. Estudamos na mesma escola. – Minhas lembranças
me veem. Como ela mudou. Ficou mais bonita. Melhor, ficou bonita,
porque ela era muito acima do peso, não gostava de se maquiar e
usava roupas muito frouxas.
– Sua cara está péssima. – Ela é direta em me dizer. E minha cara
deve mesmo estar péssima. Não tenho dormido nem me alimentado
direto. Só bebo.
– Acho que andei tendo uns imprevistos.
– Você mais parece que foi atingido por uma bigorna. – Ela é tão
sinceeera…
– Digamos que a bigorna que me atingiu se chama Telma. Pode me
dizer onde ela está trabalhando?
– Então você não sabe? – Ela diz segurando sua pastinha preta
diante do corpo. Se tornou uma mulher muito elegante.
– Não. Por favor!
Ela me conta como a Telma se sentiu mal esses dias e cogitou ir
embora. Mas seu primo a visitou e a impediu de voltar para a casa
dos pais. Não sei dizer se gosto desse primo ou tenho ciúmes. Por
fim ela me diz onde a Telma está trabalhando e eu não perco tempo
e vou até lá e só acredito quando vejo com meus próprios olhos.
(⌐■-■)(⌐■-■)(⌐■-■)
– Não, não e não. Vocês precisam ficar na fila. Cada um vai receber
o seu, mas temos que controlar o tráfego. – Paro e fico observando
sem acreditar. Nunca que vou deixá-la aqui. É desperdício de
talento. E admito, sou ciumento dela. Não quero abutres olhando o
que é meu. O que foi? Ainda nem disse o que minha ratinha está
vestindo!! Quando disser vai me dar razão.
– Quero todos e pago o dobro. – Digo e ela se vira de uma vez para
me ver. Está linda de shortinho jeans branco e camiseta azul claro,
Óculos escuros pendurado na cabeça, o cabelo bagunçado pelo
vento da praia e suas lindas argolas imensas.
– Nick! – Ela diz surpresa.
– Oi! – Percebo sua respiração agitar. E gosto disso. Parece que
meu corpo não é o único aqui que sente falta de outro.
– Peguem crianças. Viram. Organizadas em fila sem se pisarem
vocês conseguem receber seu picolé mais rápido. – Ela se volta
para as crianças na praia e entrega a cada uma seu picolé.
– Não acreditei quando soube. – Disse depois que fiquei a
admirando organizar uma fila de crianças para receber seu picolé.
Ela nasceu mesmo para organização.
– Por que seria tão difícil de acreditar? – Ela pergunta e agora seu
tom de voz é frio.
– Vim te buscar. Seu lugar não é aqui vendendo picolé GutiBom na
praia. – Ela me olha de forma dura.
– Meu lugar agora é aqui.
– Por que?
– Não quero mais ser uma secretária executiva.
– Está maluca? Você vai voltar comigo. Não vou te deixar aqui. –
Acho que errei no discurso. Deveria ter sido mais brando.
– Ah! Me poupe, Nick! Desde quando você manda em mim?
– Desde quando eu te fiz minha! – Lhe digo puxando para perto do
meu corpo e, por Deus, como sinto falta dela. Sentir seu corpo
colado no meu me enlouquece e excita como um adolescente
descontrolado.
– Não sou de ninguém. – Ela se desvencilha de meus braços e sai
apressada. Inspiro fundo e deveria ter imaginado que não seria fácil,
principalmente com meu discurso possessivo. Mas não imaginava
encontrá-la na praia vendendo sorvete. A sigo, espero ela entregar a
caixa de picolé a seu Tomás e saio no seu encalço. A seguro pelo
braço.
– Seu lugar é ali, trabalhando ao meu lado. – Aponto para o prédio a
nossa direita do outro lado da rua. A direita dela, a minha esquerda.
Francamente, fiquei confuso agora. Também queria dizer que a
queria no escritório comigo de dia e na minha cama de noite, mas
ela já está muito zangada no momento. Então essa parte eu vou
esperar pra dizer outro dia.
– Não vou, Nick. Você me mostrou muito bem meu lugar. Agora esse
é meu trabalho. – Ela se afasta sem me dizer mais uma palavra e
sinto meu coração se despedaçar. Olha-la caminhar na direção
oposta fez meu corpo implorar por ela. E nem pense que implorou
por sexo. Implorou por isso também, mas meu corpo ansiou estar
perto dela, senti-la. E apenas ter, ficar ao seu lado. Mas pelo visto
não é assim que vou convencê-la a voltar. Mas é algo totalmente
errado perde-la. Vê-la se afastar assim é como se algo meu
estivesse partindo.
(⌐■-■)(⌐■-■)(⌐■-■)
– Pensei que tinha parado de beber e iria atrás da Telma. – Eduardo
diz sentando diante de mim. Já estou em casa, depois de minha
tentativa frustrada de trazer a Telma de volta. E estou bebendo de
novo.
– Eu fui, mas ela não quis voltar. – Bebo um gole de vodca.
– O que esperava? Ela pediu para se explicar e você não deixou. A
humilhou e ainda disse que ela se contestasse em você não chamar
a polícia. Achava que bastava chegar lá e ela iria se jogar a seus
pés?
– Eu fui um tolo, um idiota.
– Ah foi sim! – Eduardo diz pendurando os pés no centro de mesa da
minha casa.
– Pensei que fosse meu amigo. Que estivesse aqui para me ajudar.
– Protesto.
– Ah não! – Ele estala a língua nos dentes. – Eu sou apenas a sua
voz da razão. Estou aqui para mostrar o imbecil que você é.
– Por que eu insisto em ser amigo de vocês, hein?
– Porque nenhum passa a mão na cabeça do outro. Nos apoiamos
sem promover os erros dos outros. E você errou feio. Precisamos de
um jeito de consertar essa bosta que você fez.
– Dinheiro… joga aí na mesinha que amanhã levo para o potinho do
palavrão da mamãe. – Ele solta um grunhido, mas joga uma nota na
mesa.
– Bosta é palavrão? – Ele franze a testa ao perguntar.
– Minha avó disse que é e então minha mãe decretou que é. – Ele
repuxa os lábios para baixo e faz um movimento de cabeça
avaliativo. Depois me encara.
– Ela precisa de um tratamento de choque.
– Minha avó?
– Não. A Telma.
– Que seria…? – Pergunto até com certa relutância.
– Vamos chamar os rapazes. Já sei o que vamos fazer.
Capítulo 26
Telma
– Você nem imagina como foi difícil dizer não. – Desabafo com a
Leila quando estamos no meu sofá a noite em meu apartamento.
Foi essa tarde que o Nick foi me encontrar na praia. Estava tão lindo
e eu com tanta saudade dele.
– Disse a ele onde você estava e fiquei tão esperançosa de que
vocês se acertassem de vez. – Ela diz tomando um gole do seu
vinho.
– Claro que não. Esqueceu o que ele me fez e disse? – Digo
tentando mostrar rancor.
– Não. Assim como não esqueci o que você também fez. Acho que
estão quites.
– Não é assim tão fácil. – Contraponto.
– Não? Pois me diz, onde está a dificuldade? Você mentiu para
conseguir o emprego. Ele descobriu e ficou doido de raiva e disse
coisas que te magoaram. Depois você foi lá e fez o mesmo. Estão
empatados. Mas além disso, vocês se gostam. Está estampado na
cara dos dois. Viveram um lindo início de romance num Palácio que
foi transformado em hotel. Aproveita, amiga, e seja feliz.
– Tenho medo.
– De que?
– Não sei. Mas é clichê dizer. – Vejo a Leila revirar os olhos.
– Pois pegue um dos livros de Madame Gladys Mary e vá lê. Eles
sempre têm perdão e final feliz. E eu, minha querida, vou para casa.
Para a minha solidão, para o meu cansaço eterno.
– Deveria arrumar um namorado. – Aconselho. Ela me encara.
– Vou encaixar esse namorado que horas na minha vida? Se estou
trabalhando o dobro e indo o triplo de vezes mais na casa dos meus
pais para ver minha irmã? Meu vibrador exige menos de mim que
um namorado. Por falar nisso, comprei um novo, três vezes mais
potente e ele encontra meu clitóris e o ponto G. Melhor que homem,
me satisfaz e não preciso dar muito de mim. Vivo cansada demais
pra isso.
– Queria tanto que você encontrasse alguém que te ajudasse a levar
todo esse fardo. – Lamento. Leila mudou muito nesses últimos
meses desde que descobriu que a irmã tem uma doença séria no
coração. Ela quem me chamava para sair. Sempre estava
acompanhada de um homem bonito. Ela é linda. Tem uma elegância
natural, os homens sempre babaram por ela. E agora ela só
consegue pensar em trabalhar e dormir nas poucas horas vagas.
– Tá bom! Como se alguém fosse bater na minha porta e me
oferecer milhões! Porque é disso que eu preciso, muito dinheiro. As
consultas são caras, os remédios são caros. Tudo é muito caro no
tratamento da Lavínia. Uma cirurgia, que poderá muito melhorar sua
qualidade de vida, é totalmente fora do nosso alcance. – Suspiro e a
acompanho até a porta.
– Telma! Telma!
– Você ouviu?
– Sim. Vem lá de baixo. Tem algum doido gritando por você lá de
baixo? – Leila pergunta também sem entender.
– É o que parece. Vamos ver da varanda. É mais seguro. Vai que um
doido quer entrar. – Vamos para a varanda e ficamos paralisadas
logo que chegamos. Nosso queixo foi no chão.
– Telma! Telma! Meu amor! – Nick grita da traseira de uma pick-up
preta. Três de seus amigos estão com ele em cima e quando nos
veem começam a gritar eeeeeeeeê e a bater no capô do carro. Levo
a mão a boca pra não entrar mosquito do poste. Mas é impossível
fecha-la.
– Quantos anos eles têm? – Leila pergunta rindo.
– Você é doido. – Consigo dizer.
– Por você meu amor. E vim provar. Eles vieram me ajudar. Eduardo,
Leonardo, Lucas e aqui dentro na direção o Tony.
– Vocês estão bêbados. – Digo da varanda.
– Sim. Mas não se preocupe, meu amor. O Tony é o que está menos
bêbado e é ele quem está dirigindo.
– Ai meu Deus! Isso não vai terminar bem. – A Leila diz.
– Shhhiiuuu. Silêncio. Nós vamos fazer uma serenata. – Nick diz. –
Pode começar Eduardo.
– Não sei tocar. Quem sabe é o Leonardo. – Ele informa. Rimos
deles.
– Você só me diz agora? – Nick reclama.
– Pensei que soubesse. Dei a ideia da serenata, mas não disse que
sabia tocar violão. – Se defende. Nós rimos da serenata mais mal
orquestrada que poderia existir.
– E seu violão está ao contrário. – Leonardo diz.
– Ah! – Ele vira o violão do lado certo. Estava tentando tocar com a
mão esquerda.
– Então você começa Leonardo.
– Eu só sei tocar no violão umas duas canções de Jerry Lee Lewis. –
Leila e eu caímos na gargalhada.
– Vocês vão começar ou não? – Tony abre o vidro do carro e
pergunta a eles.
– Já vamos. – Lucas informa.
– Pois vamos fazer assim, eu vou começar a cantar. Vocês tentam
me acompanhar. No três Lucas começa a batucar no carro e
Leonardo e Eduardo começam a tocar o violão. Mas primeiro eu vou
me declarar. – Nick diz se virando pra mim.
– Você é meu amor! Minha vida. Eu nasci pra você! Não! Você
nasceu pra mim. Até mesmo quando era o Téo. Me deixou confuso.
Mas eu seria gay se você fosse homem. Você é minha mulher e
meu homem. E eu quero você na minha vida. E no escritório ao meu
lado. Porque eu te amo. – Os bêbados amigos dele começam a
pular, gritar e bater palmas. Meus olhos enchem de lágrimas e ao
mesmo tempo seguro o riso. Acho que esse é o momento mais
romântico da minha vida. Apesar de cômico.
– Eles são malucos, parecem ter dez anos. Mas o Nick te ama. – A
Leila me diz.
– Agora eu vou cantar. 1, 2, 3… – Nick começa a cantar e eles
começam a assassinar os violões. É a maior cacofonia que já
presenciei. E ele canta Ney Matogrosso. E Leila e eu choramos de
tanto rir.
Telma, eu não sou gay
O que falam de mim são calúnias, meu bem
Eu parei . . . . .
Não me maltrate assim não posso mais sofrer
Vamos ser um casal moderno
Você de bobs e eu de terno
Eu sou introvertido até no futebol
Isso tudo não faz sentido
E não é meu esse baby doll
– Meu Deus! Você poderia ter escolhido outra música. – Lucas
reclama.
– Não. É o que eu sinto. E tem outra, meu amor. – Ele diz tonto e
com voz de bêbado. E ele canta outra de Ney Matogrosso e os
amigos assassinam os violões mais uma vez.
Nunca vi rastro de cobra
Nem couro de lobisomem
Se correr o bicho pega
Se ficar o bicho come
Porque eu sou é home’
Porque eu sou é home’
Menina eu sou é home’
Menina eu sou é home’
E como sou
Quando eu estava pra nascer
De vez em quando eu ouvia
Eu ouvia mãe dizer
Ai meu Deus como eu queria
Que essa cabra fosse home’
Cabra macho pra danar
Ah! Mamãe aqui estou eu
Mamãe aqui estou eu
Sou homem com H
E como sou
Cobra! Home’
Pega! Come’
Eles batem nos violões animados, mas Leila e eu paramos de rir
quando escutamos o barulho de sirenes.
Nhiem nhiem nhiem.
– Ai meu Deus! Algum vizinho chamou a polícia. – Leila diz
apreensiva.
– Nick. Nick. A polícia. – Grito apontando para a esquina. Os quatro
na parte aberta da pick-up olham ao mesmo tempo e começam a
bater no capô do carro.
– Corre Tony, corre Tony. Lá vem a polícia. – Eles gritam e o amigo
acelera o carro e meu coração fica batendo no mesmo compasso
das músicas malucas que ele cantou e com medo deles serem
pegos.
– Espero que eles escapem. E espero que você tome juízo e quando
ele parar de correr da polícia vocês esqueçam o que passou. – Leila
me diz, se despede e vai para casa. Sento no sofá e penduro as
pernas sorrindo feito boba com a serenata mais horrível que já foi
feita nessa terra.
Esperei o Nick voltar ou telefonar. Mas acho que ele resolveu
comemorar o seu sucesso na serenata com os amigos. Ou a
coragem deles. Como não me ligou nem voltou, resolvi tomar um
banho e ir dormir. Vou esperar ele me dar notícias, mas antes de ir
para cama lhe mando uma mensagem:
Amei a serenata. Quero te ver para dizer que também amo você.
(⌐■-■)(⌐■-■)(⌐■-■)
TOC TOC TOC
Acordo com o batido incessante no portão lá embaixo. Me levanto e
ligo a luz da escada certa que é o Nick. Mas tomo um susto danado
quando vejo dona Celma. O que ela faz aqui quase meia noite?
– Dona Celma? O que houve? – Pergunto apreensiva vestindo o
robe e descendo as escadas para lhe abrir o portão.
– Desculpa Telma, mas eu não sabia a quem recorrer. Seu Nick e os
amigos estão presos.
– O que? – Pergunto quase num grito.
– Ele tinha direito a ligar para uma pessoa e ligou para mim, pedindo
que ligasse para os advogados dele e te avisasse que não virou o
carro e nem morreu, só está preso. Foi esse o recado que ele
mandou. E eu não sei o que fazer agora. – Abro o portão para ela
subir.
– A senhora já ligou para o Henrique ou o Horácio? – São os
advogados dele.
– Não. Fiquei tão nervosa que não soube resolver nada, então vim
aqui.
– Tudo bem, fez certo. Se a senhora quiser, pode ir na cozinha e
preparar um chá. Eu vou ligar para o Henrique e depois trocar de
roupa para irmos para a delegacia. – Ela segue para a cozinha e eu
para o quarto. Antes de me trocar eu telefono para o Henrique, um
dos advogados do Nick. Logo que me troco e vou até a cozinha ele
liga de novo explicando o que devo fazer. Dona Celma está
terminando de tomar o chá.
– E então? O que faremos? – Ela pergunta nervosa.
– O advogado Henrique Bittencourt conseguiu a fiança dos cinco.
Precisamos ir no escritório e pagar. O valor é altíssimo. Vamos fazer
da conta pessoal do Nick. -Pegamos nossas bolsas e logo em
seguida saímos de casa.
Capítulo 27
Telma
Chegamos na delegacia trazendo os documentos e comprovantes
que o Henrique mandou. Entrego tudo ao delegado.
– Muito bem. Vou mandar dar baixa nos papéis dos cinco. Vai levar
cerca de meia hora. – Ele nos informa depois de analisar com
cuidado os papéis.
– Posso ver o Nick? Por favor!! – Peço apreensiva.
– Tudo bem. Vou chamar um oficial para acompanha-la. – Respiro
aliviada. Estou tão ansiosa para ver o Nick. Sou guiada até a cela
onde os cinco estão. Discutindo.
– A culpa foi sua, Tony, que correu pouco com o carro. – Um deles
reclama.
– Eu não. A culpa foi de vocês que cantaram tão ruim que os
vizinhos não suportaram e chamaram a polícia. – Ele se defende.
– E que música horrível foi aquela? – Um outro pergunta. Não sei
diferenciar eles ainda.
– Achei a mais apropriada. Pensei que era gay, mas não sou. E o
nome da mulher da música é Telma. Foi perfeito. – Nick diz e engulo
o riso, principalmente quando ele disse ter ficado confuso ao achar
que estava apaixonado pelo Téo. Agora entendi a escolha das
músicas.
Fico mais um pouco escutando a conversa deles e evitando rir, até
que não resisto mais e apareço.
– Oi! – Digo sem jeito.
– Telma! Ai meu Deus! O que faz aqui? Isso eu uma delegacia. –
Nick diz vindo até a grade e segura minha mão.
– Vim pra buscar vocês. O Henrique me instruiu. Paguei a fiança de
seu escritório e trouxe os papéis necessários. – Explico.
– O Henrique deve estar irado por ter que fazer isso essa hora da
noite. – Lucas diz. Eles nem fazem ideia do quanto ele esbravejou e
ameaçou deixá-los a noite inteira presos.
– Telma você é linda!!! – O Leonardo me diz.
– Obrigada!!! – Digo sem graça e Nick sorri como quem está
orgulhoso.
– E você é um tonto. Todos a vimos no escritório vestida de homem
e você convivendo tanto com ela como homem e mulher e não
percebeu? – Tony pergunta lhe dando um tapa na nuca. Nick
responde com um revirado de olhos.
– Agora é melhor você ir. Delegacia não é lugar de mulher. – Nick diz
sem soltar minha mão.
– O delegado disse que em até meia hora os papéis da soltura de
vocês estariam prontos. Vou esperar lá fora com dona Celma.
– Ela veio?
– Sim. Estava nervosa demais para conseguir resolver as coisas que
você pediu e foi me dar seu recado. Então a ajudei a resolver tudo.
– Digo sorrindo e beijo a mão de Nick. – Vou lá pra fora.
– Eeeeeeeeeeeê. Ganhou beijinho na mão. Olha só. – Os amigos
debocham.
Sou conduzida de volta para a recepção e fico com dona Celma
esperando. Depois de uns dez minutos os cinco aparecem. Nick
vem direto me abraçar.
– Também amo você. – É a primeira coisa que digo em seus braços.
Os amigos retornam com o eeeeeeeeê que fizeram lá dentro.
– Sem barulho, rapazes. Deem o fora antes que os prenda de novo
por desrespeitarem minha delegacia. – O delegado diz e saímos.
– Sabe dirigir um carro maior, Telma? – Eduardo me pergunta.
– Nunca dirigi uma pick-up.
– Não tem mistério. Só um senso de espaço maior. E é melhor você
dirigir. Todos bebemos e o delegado pode querer nos chamar de
volta. – Ele diz me entregando a chave de seu carro.
– Tá. – Eu sento no banco do motorista e Nick vem ao meu lado.
Atrás vem dona Celma e mais dois deles. Lá atrás os outros dois
cantando e nos fazendo rir.
Deixamos todos em casa e ficamos com o carro do Eduardo.
– Para onde vamos agora? – Pergunto para o Nick logo que
deixamos nosso último passageiro.
– Para casa, para nossa casa. – Ele diz me olhando. O olho quando
paramos no sinal e depois volto a olhar a estrada. Meu coração
acelera tolamente só por ele ter dito nossa casa.
– E onde é essa casa? – Pergunto sem conseguir segurar o sorriso.
– Você escolhe. Nossa casa pode ser a minha ou a sua. Mas não
durmo mais sem você. – Ele diz.
(⌐■-■)(⌐■-■)(⌐■-■)
Chegamos atrasados no trabalho. Melhor dizendo, chegamos muito
atrasados no trabalho. Dormimos no meu apartamento. O dia já
estava quase amanhecendo quando finalmente matamos a saudade
dos nossos corpos e adormecemos. Sabe aquela sensação de
pertencimento? Saber que é de alguém? É assim que me sinto em
relação a Nick. Não conversamos com calma ainda sobre todos os
incidentes desde que nos conhecemos. Estávamos mais
interessados em fazer amor. Mas ainda teremos muito tempo para
conversar sobre isso. Por fim adormeci em seus braços e quando
acordamos já tarde, fizemos amor mais uma vez. Ele só saiu da
cama porque eu precisei ser firme. Disse que ficasse dormindo, mas
eu iria trabalhar, realizar meu sonho de ser uma secretária
executiva.
– Saia, preciso ir de saia e da forma mais feminina possível. – Digo
feliz para ele diante do espelho.
– É a secretária mais linda que existe. E é minha. Tenho muitas
fantasias para realizar. – Ele diz deitado em minha cama. O cabelo
todo desgrenhado e seu peito musculoso nu. Tenho que resistir a
vontade de voltar para a cama e lhe encher de beijos.
– É nisso que está pensando? Em fantasias sexuais? – Pergunto.
Ele me responde com um lindo sorriso.
– Você não faz ideia da minha lista de fantasias.
– E eu faço ideia da bagunça que está aquele escritório. – Digo
cruzando os braços e erguendo uma sobrancelha fingindo ser firme.
– Isso é verdade.
– Então seria melhor o senhor se levantar. Já estamos atrasados
demais. E ainda temos que almoçar. – Lhe lembro. Já é tão tarde
que já é hora do almoço e não café da manhã. E eu estou faminta.
Depois que saímos de casa, passamos em seu apartamento para
ele vestir um terno e vamos almoçar.
– Ah! Vou comprar flores para colocar num vaso na sua sala. – Digo
ao Nick quando saímos do restaurante e vejo uma floricultura do
outro lado da rua. Aproveito e separo as moedas para colocar na
cestinha para acabar indo parar no pote do palavrão.
– Ok. Vou te esperar no carro. – Ele diz beijando minha testa.
Quando chegamos no escritório dona Celma me olha com olhos
cheios de lágrimas e vem me abraçar feliz.
– Está tão linda vestida de saia. É tão feminina e delicada. – Dona
Celma diz me abraçando.
– Comprei flores para colocar na sala do Nick e essas outras aqui
para colocar na sua mesa. – Digo lhe mostrando os vasinhos de
girassol em minhas mãos.
– Quer um vaso com água?
– Não. Esses eu resolvi comprar plantada. Esse é da senhora e esse
vou colocar lá dentro. – Sigo para a sala do Nick.
– E eu quero minha agenda, dona Celma. Deve estar tudo um
atraso. – Nick diz entrando.
– Já levo. – Dona Celma diz e me pisca um olho. Nem acredito que
estou aqui mais uma vez.
Coloco o vaso na mesinha próximo a janela e sinto o Nick me puxar
para seu colo.
– Com você aqui posso ficar viciado em trabalho. – Ele diz beijando
meu pescoço.
– E isso não é assédio?
– Não quando a mulher é minha. Amo você.
– Também te amo. – Toco de leve seus lábios porque sei que aqui
não posso lhe dar muita liberdade ou nenhum dos dois iremos
trabalhar. Mas nunca me senti mais feliz.
Quando meu primeiro dia de trabalho como Telma está acabando
recebemos uma visita que não esperava. A mãe de Nick. Ou melhor,
os pais de Nick.
– Filho, como assim você foi preso? – É o que eles dizem antes de
um oi para o filho.
– Mãe, pai. Que surpresa!!! E como já sabem? – Nick pergunta se
levantando e indo até eles. Eu estou em frente a seu computador e
Nick do outro lado da mesa respondendo e-mails no notebook. Já
passa das cinco da tarde e se formos ficar aqui até colocar tudo em
dias, vamos sair depois das nove da noite.
– Ora! Raul nos falou. Nesse momento deve estar dando a maior
dura no filho. Tanto o Tony quanto você precisam se ajeitar na vida.
– O pai dele diz em tom de ameaça.
– O pai do Tony está dando uma dura nele? – Nick pergunta
afobado. Trinca os dentes e repuxa os lábios para baixo numa
expressão engraçada de quem sabe que a situação não está nada
favorável.
– Isso mesmo. – O pai do Nick diz sério.
– Tem razão, papai. Por isso que a Telma entrou em minha vida. Ela
quem foi me tirar da cadeia ontem. – Arregalo os olhos aturdida.
Quero fazer parte dessa confusão não.
– Quem? – A mãe dele pergunta. Ele podia fazer o favor de me
deixar aqui quieta, já que seus pais nem se deram por mim ainda
aqui.
– Telma! Minha namorada e assistente pessoal. – Nick olha em
minha direção e seus pais fazem o mesmo.
– Pensei ter ouvido que era um rapaz seu assistente agora. – O pai
dele diz.
– Não! Nunca foi. Sempre foi a Telma. Pensei em contratar um
rapaz, mas desisti.
– E você disse que ela é sua namorada? – A mãe dele pergunta.
Percebo seus olhos brilharem. Será que ela gosta da epidemia
casamenteira?
– Sim. – Nick diz e me pisca um olho.
– Wow!! Minha nora maravilhosa! Você é linda. – A mãe dele vem
até mim, me faz ficar de pé e começa a me abraçar como se eu
fosse um boneco de pelúcia ou a última mulher do mundo.
– Prazer conhecer a senhora! – Digo sem jeito.
– O prazer é meu, minha filha! Sou a Flora. Esse é o Nicolau, pai do
Nick. – Ela diz extasiada de alegria.
– É um prazer, Telma! Meu filho precisava de uma mulher na vida
dele para tentar lhe colocar juízo. – Seu Nicolau me cumprimenta.
– Prazer conhecer vocês. – Digo sem graça.
– Obrigado por ter tirado eles da cadeia ainda ontem à noite.
Confesso que se fosse eu, me sentiria tentado a deixá-los a noite
presos para criarem juízo. – Seu Nicolau diz e sentamos para
conversar. Depois de falarem um pouco sobre os números da
empresa, dona Flora percebe o pote do palavrão em cima da mesa.
– Ah! Meu pote está cheio! Não sei se fico feliz ou triste com isso,
Nicolas! – Dona Flora fala mudando completamente de assunto.
– Ah mamãe! Não começa! – Nick resmunga feito criança.
– Seu pote me ajudou muito a limpar a boca suja. A cada cinco
palavras que dizia, três eram palavrões. Agora estou bem melhor! –
Informo orgulhosa.
– Traidora. – Nick me acusa.
– Não fale assim da minha nora. – Dona Flora diz. Ai meu Deus,
como assim nora? Ela é das mães casamenteiras.
– Você está perdido, Nick. – Seu Nicolau diz rindo satisfeito.
– Telma, você pode me ajudar com a festa para as crianças carentes
da Escola Mirim da Capital? – Dona Flora me convida.
– Eu? – Falo admirada, pega de surpresa.
– Seria muito bom ter uma ajuda. A Eulália, irmã do Nick é muito
jovem, me ajuda muito, mas ainda é uma adolescente.
– Claro. E a irmã de minha melhor amiga também é adolescente, se
elas quiserem podem programar algo para fazerem juntas. – Digo
pensando no quanto a Lavínia se sente sozinha sem amigas.
– Ah! Você é maravilhosa, menina! Finalmente fez uma boa escolha
rapaz! – O pai de Nick lhe diz dando um tapinha nas costas. No fim
de tudo saímos do escritório para jantar, os quatro. Nem acredito no
dia de hoje, foi mágico. Estou trabalhando como assistente pessoal
do CEO que eu amo, conheci seus pais que também gostaram de
mim e fui promovida a uma das administradoras do pote do
palavrão. Até a festa vou ajudar a produzir. Nem nos meus melhores
sonhos podia desejar isso.
Nick
Faz dois dias que tivemos a festa de arrecadação de dinheiro para
as crianças da Escola Mirim da Capital. A mamãe amou a ideia da
Telma de cobrarem entrada dos convidados. Já que são todos ricos,
não custaria nada pagarem. E todos apoiaram a ideia e elas
conseguiram uma pequena fortuna. A mamãe que não cansa de
inventar coisa, já disse que quer fazer disso uma tradição. Jamais
pensei que meus pais iriam se dar tão bem com minha namorada.
Sabia que iriam gostar dela, porque é impossível não gostar da
Telma. Mas jamais pensei que iriam venera-la como eles tem feito.
Sorrio olhando o girassol na janela da minha sala. Ela dá vida a
empresa. Se existe essa história de alguém ter sido feita pra outra
pessoa, posso afirmar que a Telma foi feita para mim. Todos os dias
ela me empurra para frente, para ser um homem e profissional
melhor. Pensar que tudo isso começou numa grande confusão.
(⌐■-■)(⌐■-■)(⌐■-■)
Escuto as risadas da Telma na sala ao lado. Não gosto quando ela
tem coisas para fazer em outro lugar da empresa que não seja
minha sala. Sou egoísta, eu sei. Mas quero passar os dias a
admirando trabalhar ao meu lado. E como ela é competente. Levou
apenas uma semana para colocar tudo no lugar novamente. Mas já
estou com saudades e com ciúmes. Com quem ela conversa e ri
tanto lá fora? Dona Celma está no almoxarifado hoje. Então não é
com ela. Vencido pela curiosidade, vou olhar.
– Andréia Fitzgerald!!!! – Falo sem esconder a admiração por ela.
Meu Deus, essa mulher tem a capacidade de me fazer agir como se
tivesse doze anos e estivesse apaixonado pela garota mais linda da
escola. Feito um banana. Ela sempre teve esse poder sobre meus
amigos e eu.
– Nicolas! Como vai? – Ela vem até mim e me cumprimenta com
beijos no rosto. Só ela e minha mãe me chamam de Nicolas. Então
você imagina como ela me faz parecer um garoto.
– Bem! – Digo com cara de tolo. Olho para a Telma que está
segurando o riso.
– Estava rindo aqui com a Telma. Que mulher fantástica você tem!
Já nos falamos muito por telefone, mas pessoalmente é a primeira
vez. – Ela fala com sua voz firme e poderosa. Ela é toda poderosa.
Toda tudo de tudo. Pegue todas as loiras mais lindas de Hollywood
e tire o melhor delas e coloque numa mulher só e terá Andréia
Fitzgerald.
– A Telma é maravilhosa. Nem imagina como estou feliz de trabalhar
com minha namorada. – Digo e Telma sorri.
– Ah imagino sim! Você e seus amigos tem uma facilidade muito
grande de se colocar em problemas. Ter a Telma aqui é uma
segurança para você. Já contou pra ela a ocasião em que entrou no
vestiário feminino na escola? – Telma não aguenta e cai na
gargalhada.
– Ai Andréia, você precisa me contar! – A ratinha traidora diz rindo.
Eu fico morto de vergonha.
– Perfeito. Eu estarei na cidade até o fim do dia! Acho que podemos
sair para tomar um suco, café ou algo assim. Nem imagina todas as
histórias que sei do seu namorado do tempo de faculdade. – Ela diz
rindo. Como uma mulher pode ser tão linda e má? Deve ser porque
sabe que todos os garotos da escola e faculdade eram loucos por
ela e ela não queria nenhum de nós.
– Nick! A Andréia está na nossa lista de clientes especiais e precisa
de estofados exclusivos para seu iate. Eu disse que poderíamos
conversar sobre isso. – A Telma me informa.
– Pensei em algo que lembrasse a minha marca de maquiagem. –
Andrea diz.
– Claro. Vamos conversar nós três em minha sala.
Depois de pouco mais de uma hora de reunião, a Andréia sai do
nosso escritório satisfeita com nossa proposta e você sabe o que
aconteceu?
– Ai! – Ganhei um currulepe na parte de trás da cabeça. Da Telma.
– O que eu fiz? – Pergunto me fazendo de ingênuo.
– Babou tanto na Andréia que pensei que seria preciso pegar um
balde pra você. – Ela diz cruzando os braços diante de mim.
– Você não tem nenhum crush inalcançável não?
– Na verdade, tem um gato que eu sigo no Instagram. Ele é muito
crush. – Telma diz e suspira.
– Quem é? Você o conhece? Eu o conheço? – Pergunto enciumado.
– Eu o conheço. Mas ele não me conhece. Crush inalcançável. Só
serve para ser admirado. – Telma me diz tentando disfarçar o
sorriso.
– Sabe que fiquei com ciúmes, não é? – Digo a puxando para meus
braços.
– Desconfiei. – Ela fica na ponta dos pés e me beija de leve os
lábios. – Mas me conta, a Andréia Fitzgerald é sua crush
inalcançável?
– Você nem imagina os micos que eu e os meus amigos já
passamos por causa dela.
– Ah, mas eu quero saber.
– Temos a vida toda, porque nunca mais vou te deixar partir.
– Confiante! – Ela me provoca.
– Amar não é uma opção, acontece. Mas continuar amando é uma
decisão. E eu decidi te amar a vida toda. – Beijo seu rosto.
– Te amo. E quero um viveram felizes para sempre com você. – E foi
com uma dessas historinhas, que fizemos um filhinho.

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