CAPÍTULO 1
Olhei para o russo lindo ao meu lado. Sergei não era apenas
bonito, eu sentia sua energia sexual vibrar por mim. Para mim, sexo
era algo natural, era como trocar de roupa, era como comer. Se
estava com vontade, ia lá e fazia, pronto. E a vida seguia como se
nada tivesse acontecido. Não ficava pensando no meu almoço
quando estava jantando. Tomava café no dia seguinte sem me
recordar se tomei água ou chá. Com os homens era a mesma coisa.
Nunca tive um namorado sério. Tinha meus motivos e minha
vida não era tão simples assim. Contudo, manter as aparências era
fácil. Há dois anos, eu estava de férias em Roma quando por acaso
vi o anúncio no jornal sobre uma assistente trilíngue. Não sei o que
me deu de parar todo o planejamento das férias e ir naquela
entrevista. Mas mudou minha vida completamente, em uma semana
eu estava morando em Roma, na Itália, trabalhando para Stefano
Cardinali, o CEO das finanças, ganhando dez vezes mais do que no
meu emprego em Nova Iorque. Eu viajava o mundo e de quebra
conhecia homens lindos por toda a parte.
E como era desapegada, era fácil.
Era.
Porque desde a festa na casa de Andreas Cardinali, o irmão
mais novo de Stefano, eu não parei de pensar nele. A última vez
que fiquei assim foi durante o ensino médio quando me apaixonei
por Allan Cordan, o líder do time de futebol da escola, o primeiro
cara com quem transei. A primeira transa de uma garota pode ser
mágica ou um fiasco, a minha foi perfeita e fiquei louca por Allan.
Cheguei até mesmo a escrever eu te amo mil vezes em um
caderno por causa dele. Mas aí, eu conheci o George e descobri
que podia ser bom com ele também e que Allan não sabia nada
sobre agradar garotas. E depois teve o Taylor e assim por diante.
Nunca parei para contar quantos homens tive na minha cama desde
os meus dezessete anos, e eu estava com vinte e seis agora. Era
uma lista bem extensa. Embora eu jamais pudesse dizer o nome de
todos, alguns acabei esquecendo. Não por maldade, mas porque a
vida era assim.
Como disse, não dá para eu lembrar do que comi há uma
semana, o que dirá todos os homens com quem transei.
— Você é muito bonita – Sergei disse quando passou as
costas da mão pelo meu braço.
Os russos não costumam flertar em público, mas era um
restaurante bastante reservado e até uma hora atrás estávamos em
um jantar de negócios. Eu estava acompanhando Stefano e, agora,
meu chefe se encontrava em uma conversa discontraída com os
russos de forma mais descontraída, então eu e Sergei nos
afastamos para tomar um drinque no bar do restaurante. Ele era um
dos acionistas da empresa com quem Stefano estava negociando.
Ele era alto, forte e loiro. Do jeito que eu gostava, sensual, e
com vontade de trepar gostoso. Contudo, quando ele me tocou,
senti um arrepio pelo corpo, mas não era de prazer. Era de asco. A
primeira imagem que veio à minha mente foi a de Andreas, sua mão
tocando meu corpo, sua boca se arrastando pela minha pele. Já se
passaram semanas desde aquele encontro e a única coisa que fazia
era pensar nisso. Até na hora de me masturbar eu imaginava
Andreas.
Cheguei a transar com o piloto do avião particular de Stefano,
Guilhermo, um francês muito simpático, contudo, não senti nada,
sequer cheguei a gozar, apenas fingi, o que nunca faço.
Eu nunca fingia orgasmos, se o cara era ruim ele tinha que
saber. E às vezes, não era culpa do homem, era minha, não estava
no clima, não curti a química, havia mil coisas que podiam fazer
uma mulher perder o tesão, até mesmo pensar na louça na pia da
cozinha ou se esqueceu de comprar a ração do gato, qualquer
estalo de mau humor podia estragar o sexo de uma mulher. Engoli
em seco e tomei mais da Borsch, uma sopa tipicamente russa que
sempre adorei. Minha boca estava com ranço agora.
Um homem parou ao meu lado e o fitei. Stefano era alto,
tinha os cabelos e os olhos castanhos escuros. Era bonito e
charmoso como apenas os homens italianos conseguiam ser. Além
disso, ele era refinado, não havia um traço de grosseria em seu
semblante, ele era determinado e frio, mas isso não fazia dele um
ogro. O problema era que ele me fazia lembrar Andreas o tempo
todo, eles eram muito parecidos. O que os diferenciava era o jeito,
Stefano era sério, Andreas tinha a aparência de playboy arrogante
como o pai deles, Álamo.
— Desculpe-me atrapalhar, Kirsten, mas precisamos ir para a
Itália, quero chegar em Perugia ainda hoje – ele avisou falando em
russo para que meu acompanhante entendesse.
Nunca fiquei tão aliviada com uma interrupção durante um
flerte. Agradeci e sorri para Sergei, piscando para ele.
— Preciso ir, obrigada pelo drinque…
Eu me ergui e ele segurou meu braço.
— Vamos nos ver de novo? – Ele quis saber.
Não. Pensei.
— Claro – menti e forcei um sorriso.
De repente, senti que partir daquele jeito foi um livramento.
Vislumbrando o futuro alternativo, se eu tivesse transado com
Sergei, sinto que teria um amante obcecado por mim, um homem
que acharia que era meu dono, isso estava escrito em seus olhos
verdes pequenos e bonitos. Eu me soltei dele e fui embora com
Stefano. Ele já havia despachado nossas malas para o aeroporto e
um carro nos aguardava na saída.
Não demorou dois quarteirões e tive que abrir o vidro do
carro. Meu estômago começou a doer e senti um enjoo terrível.
— Você está bem? – Stefano perguntou preocupado.
— Acho que comi demais – reclamei.
Quando chegamos no aeroporto internacional de Moscou,
tomei um antiácido, mas isso só me fez vomitar. Nas quatro horas
de voo, eu fiquei o tempo todo no banheiro, vomitando e me
sentindo péssima. Tomei uma água com gás no aeroporto de
Perugia e isso me ajudou a chegar no hotel. Havia feito reservas no
Sina Brufani, na Piazza Itália, mas foi colocar os pés no saguão e
meu estômago se contorceu de novo.
Jurei nunca mais tomar aquela maldita sopa na minha vida.
Fizemos o check-in.
— Você não acha melhor ir para um hospital, Kirsten? –
Stefano perguntou preocupado. — Deve estar desidratada de tanto
que vomitou.
— Não se preocupe, eu estou bem. Preciso apenas me deitar
e dormir, e amanhã estarei nova em folha…
Mas até o calor de Perugia estava me matando. Sentia-me
estranha e muito doente.
— Você está verde e seus cabelos me fazem lembrar um
milho – ele reclamou —, você vai subir para o seu quarto e vou
mandar chamar o médico do hotel! – falou categórico e antes que eu
debatesse, ele completou: —, e sem discussões! Está passando mal
desde Moscou e não vou permitir que algo ruim lhe aconteça!
Stefano era um dos homens mais legais que conheci na
minha vida toda. Ele não me deixaria doente mesmo que eu
quisesse. Ele era assim com as pessoas que gostava, era zeloso.
Fiquei sem graça, mas talvez uma medicação mais eficaz me
ajudaria a ficar melhor e teríamos reuniões importantes dali dois
dias. Talvez estivesse sofrendo de algum tipo de intoxicação.
— Só não quero causar transtorno, Senhor Cardinali –
lamentei e levei a mão à barriga que começou a doer —, eu não
devia ter comido tanto daquele Borsch! – Fiz uma careta de nojo ao
me recordar daquela sopa maldita que acabou com meu fígado.
— Não se preocupe com isso, você precisa ficar bem.
Amanhã terá o dia todo livre para passear em Perugia, tem que
melhorar – ele me incentivou —, ou vai ficar deitada na cama
olhando essa paisagem maravilhosa?
— Espero que não – respondi quando entramos no elevador.
Stefano informou o andar ao ascensorista. A porta mal fechou
e meu estômago revirou outra vez e me virei para o lado e abaixei a
cabeça para vomitar de novo. Stefano me ajudou a sair do elevador
quando chegamos no nosso andar.
— Eu estou bem – menti tentando me soltar dele, mas eu me
sentia muito fraca. Como nunca antes. Pela primeira vez, fiquei com
medo de estar com alguma doença desconhecida e morrer em
poucos dias. A gente ouvia falar tanto disso, mas nunca achava que
poderia acontecer.
Como o cavalheiro que era, Stefano me levou para o meu
quarto e depois de abrir a porta com o cartão me levou até a cama e
me ajudou a deitar. Mas ficar deitada fez minha cabeça girar.
— Acho que vou passar mal de novo – reclamei e virei sobre
a cama para vomitar em cima do carpete.
Quando consegui parar de vomitar, Stefano já havia chamado
o médico que chegou mais depressa do que eu esperava. Ele me
examinou por um longo tempo e a cada segundo eu tentava analisar
sua expressão fria, algo me dizia que era grave, tinha medo de ser
uma doença terminal ou algo muito ruim. E meia hora depois, eu
ouvi a seguinte frase vindo do médico:
— Sei incita – ele disse num italiano caloroso.
Olhei para Stefano, estupefata e encolhi os ombros. Grávida?
Não podia ser. O médico sorriu simpático e confirmou, disse que o
exame de sangue seria apenas uma formalidade, mas era noventa e
nove por cento de chance de que eu estivesse grávida. Ele não
podia sequer imaginar o que aquilo significava para mim, era o fim
do mundo. Era impossível na verdade. Eu tomava anticoncepcional
até pelo ouvido para garantir que jamais aconteceria algo
inesperado.
A maior parte das vezes, eu usava camisinha, mas houve
duas vezes em que aconteceu sem: a primeira foi com Álamo
Cardinali com quem transei por uma semana. A outra foi com
Andreas, mas era impossível ser ele, afinal, ele gozou para fora.
Estava grávida do pai de Stefano e Andreas? Poderia existir algo
pior do que isso?
O médico deu a notícia e saiu minutos depois, não sabia o
que dizer. Eu não devia satisfações ao meu patrão sobre minha vida
pessoal. A não ser que aquela criança no meu ventre fosse o futuro
irmão dele. Era ridículo e ao mesmo tempo desesperador! Como
isso foi acontecer? Tinha certeza que tomei meu remédio direitinho.
— O remédio que ele te deu vai te fazer dormir – a voz de
Stefano me tirou das minhas divagações.
Olhei para ele me sentindo culpada.
— Não sei o que dizer – encolhi os ombros.
Não sei se ele sabia que eu tive um caso com o pai dele.
Álamo nunca foi discreto e não se importava com o que os outros
iam pensar, ainda mais os filhos dele. Mas ter um caso com o pai do
meu chefe era uma coisa, estar grávida dele era outra.
— Você não me deve satisfações, Kirsten, é a sua vida
pessoal – Stefano disse como um bom amigo que era. — Não vou
te demitir só porque você está grávida!
— Não posso ter esse filho, Senhor Cardinali! – falei
angustiada e com vontade de chorar.
Não sou emotiva, ao contrário, a vida me ensinou que chorar
era a última opção na vida de uma pessoa forte que sabia o que
queria. Contudo, não consegui me controlar. Uma avalanche de
preocupações e medos me assolaram. Não podia ter aquele bebê,
simplesmente não podia, eu jamais seria uma boa mãe, tinha outros
planos para o meu futuro e um filho não fazia parte deles.
— Agora, é melhor você descansar – Stefano me aconselhou
—, é uma notícia muito séria e precisa absorver…
— Seu pai vai me matar! – falei levando a mão ao rosto e
chorando copiosamente.
— Meu pai? – a voz de Stefano me fez compreender que eu
falei demais. — Do que está falando?
E agora? Como eu pude fazer isso?
— O quê? – Tirei as mãos do rosto e o encarei entre as
lágrimas que enxuguei com pressa.
— Você disse: seu pai vai me matar! – Ele se aproximou da
cama com o dedo em riste me olhando com desconfiança.
— Não! Estava falando com o bebê… – não terminei a frase e
voltei a chorar copiosamente.
Aquilo era ridículo. O que eu queria que ele pensasse? Eu
entreguei o jogo! Era somente ficar calada e resolver aquele
problema ao meu modo, mas de alguma forma consegui fazer mais
merda.
— Kirsten! – ele me reprovou. — Não me diga que esse filho
é do meu pai!?!
Todo mundo conhecia a reputação de Álamo Cardinali que
era um cinquentão que parecia ter vinte anos, acumulava mais
amantes do que um harém e ele gostava de esbanjar, exibir seu
poder. Era um playboy com todos os significados das letras. Um dos
homens mais ricos da Itália, dono da maior rede de comunicação da
Europa entre internet e redes de TV e rádio. Ele foi casado com a
mãe de Stefano, mas depois dela vieram tantas esposas que ele
acumulava tantos processos de paternidade que nunca davam em
nada. Álamo comprava juízes, e seus filhos não tinham seu nome.
Apenas Stefano e Andreas eram registrados como filhos legítimos.
Não consegui responder a princípio, mas mentir para Stefano
não estava na minha lista de pecados:
— Sinto muito… eu não queria… – lamentei.
— Puta que pariu! – ele esbravejou e passou as mãos pelos
cabelos num gesto nervoso. — Como isso foi acontecer?
Tirei a mão do rosto, enxuguei o nariz com a manga da blusa.
Stefano pegou o lenço no paletó e me entregou.
— Obrigada – assoei o nariz —, a verdade é que eu não faço
ideia de como aconteceu. Mas eu já estava desconfiada porque
minha menstruação estava atrasada – bufei —, sou sempre regrada,
nunca tive problemas… mas pensei que pudesse ser um câncer ou
algo parecido. Nunca uma gravidez.
— Você transou com ele sem camisinha! – ele me censurou
como faria com uma irmã mais nova. — Tem ideia de que estar
grávida é uma sorte perto das doenças que você poderia ter
contraído?
Voltei a chorar me sentindo um lixo. Nós transamos por uma
semana e apenas no último dia rolou sem camisinha enquanto
estávamos em Milão. Duas semanas depois transei com Andreas,
eu não estava me sentindo mal por isso, mas por saber que na
minha barriga tinha um bebê inocente que não podia nascer.
— Tudo bem – ele viu que não estava ajudando —, descanse
e talvez seja melhor você fazer exames, descobrir como você e o
bebê estão e se cuidar…
— Não posso perder o emprego, Senhor Cardinali. – Essa
era minha maior preocupação agora.
Se eu ficasse desempregada, teria que voltar para os
Estados Unidos e não alcançaria meu maior sonho, trabalhar no
Pentágono um dia, para o governo dos Estados Unidos. Eu
precisava de duzentos mil dólares para fazer o curso que me levaria
para dentro do governo e então faria o que sempre sonhei.
— Já disse que não vou te demitir, Kirsten, me preocupa mais
o que vai fazer da sua vida e com o bebê… – ele disse sincero para
o meu alívio.
— Não sei o que fazer – confessei triste.
— Não tem que decidir nada agora – ele me consolou outra
vez —, tome um banho, relaxe. Amanhã quando você acordar dê
um passeio e decida o que fazer, com a cabeça fria.
— Essa é sua marca, não é? Nunca resolver nada de cabeça
quente. – Sorri para ele.
— Sim. Todas as vezes que fiz isso, me arrependi. – Um
meio sorriso brotou nos seus lábios. — Preciso de um banho e
descanso – avisou —, mais tarde ligarei para saber como está. Se
precisar de qualquer coisa, me chame.
— Obrigada, Senhor Cardinali e desculpe-me se…
— Não precisa pedir desculpas… – garantiu, me cortando
abruptamente —, apenas descanse – colocou o dedo em riste
novamente —, é uma ordem!
— Obrigada mais uma vez.
Ele deixou o quarto e eu voltei a chorar. O que faria da minha
vida agora que estava grávida?
Kirgtin
CAPÍTULO 2
Nossa comida chegou e esperei que o garçom colocasse
tudo sobre a mesa. Stefano me levou para almoçar em um dos
restaurantes mais caros de Perugia, no dia seguinte. Sabia que não
era fácil para ele assimilar que eu estava grávida do pai dele, mas
era a verdade, eu não estava mentindo.
— Bem, Kirsten – ele começou a falar —, hoje de manhã,
encontrei na academia com meu pai e conversamos.
Levei um susto quando ele disse isso. Não sabia que Álamo
estava em Perugia e encontrá-lo sabendo que estava grávida não
era uma opção. Havia feito todos os meus planos. Eu iria até os
Estados Unidos, tinha algumas folgas para tirar e então colocaria
um fim na gravidez, apenas isso. Não podia pensar muito ou
desistiria. Era apenas uma questão de opções e essa era a minha:
não levar a gravidez até o fim.
— Você contou a ele? – Quase engasguei.
Ele assentiu tranquilo, como se o mundo não estivesse
caindo ao meu redor e minha cabeça voltasse a doer. Felizmente, o
remédio que o médico passou ajudou a controlar as dores de
estômago e os enjoos, mas sabia que a ansiedade com tudo aquilo
não me deixaria comer muito. Apenas por ouvir o nome de Álamo,
eu já ficava nervosa.
— Contei e ele me surpreendeu com uma resposta um tanto
inusitada… – ele me revelou.
Ou Álamo disse que o filho não era dele, ou mentiu dizendo
que nunca tivemos um caso. Eu sabia muito bem com quem dormia
e quem era o pai do meu filho.
— Qual? – indaguei tensa, abaixando o garfo.
Stefano bufou e me fitou apreensivo.
— Ele não pode ter filhos, fez vasectomia quando Andreas
nasceu! – revelou.
Engoli em seco e tenho certeza que empalideci. Aquilo
somente poderia ser uma brincadeira de mal gosto. Meus olhos
arderam em lágrimas, era horrível pensar na crueldade de Álamo.
Eu transei apenas com ele sem camisinha e…
— Não pode ser! – Balancei a cabeça levemente.
— Foi o que ele me disse – ele respondeu com seriedade —,
inclusive disse que se quiser pode fazer o teste de DNA, vai dar
negativo. Sei que meu pai é um calhorda, cafajeste. Mas não senti
que ele estava mentindo…
Minhas mãos tremeram quando peguei a taça de vinho e virei
todo o conteúdo. Se Álamo não podia ter filhos por causa de uma
vasectomia, então o pai só podia ser… não! Inaceitável! Andreas
não! Podia ser qualquer homem no mundo menos ele, meu coração
disparou quando coloquei a taça sobre a mesa, e agora até os meus
dentes batiam de tanto tremor que somava ao meu corpo.
Ele gozou para fora, ele tirou antes e gozou…
Naquela manhã, quando verifiquei meus comprimidos, notei
que um havia caído da cartela e não o tomei por vários dias. Oito
anos tomando anticoncepcional e apenas um único dia sem tomar e
puff… eu tinha um bebê crescendo dentro do meu ventre. Gozar
para fora era algo comum, mas pelo visto, dessa vez, o destino
resolveu me premiar com um filho. E o pior que não era qualquer
outro homem que eu pudesse dizer seu nome e pronto. Era o filho
de Álamo, o irmão do meu chefe.
Tinha certeza que Stefano me demitiria por ser tão
promíscua. Eu simplesmente transei com toda a parte masculina da
família Cardinali. Desejei tanto poder voltar no tempo e não ter
cedido à tentação naquele dia, mas não costumava lamentar pelos
erros do passado. O que se foi, já era de verdade, não fico me
angustiando com o que não podia mudar.
— Existe a possibilidade de ser de outra pessoa? – ele
perguntou me deixando atônita. — Vou repetir: não tenho nada a ver
com isso, mas preciso que fique bem e depois do que meu pai me
contou, acreditei que precisava saber.
Levei as mãos ao rosto e esfreguei num ato de desespero.
Depois o encarei.
— Complicado. – Abaixei o olhar para as mãos e respirei
fundo. As lágrimas escorreram pelo meu rosto.
— O que é complexo? – ele me questionou, muito
desconfiado.
Não consegui conter a lágrima teimosa. Mordi o lábio inferior
e respirei fundo para tomar coragem e dizer:
— Eu e seu pai transamos sem preservativo, então pensei
que era dele – confessei constrangida ficando corada de repente —,
estive com outra pessoa, mas a possibilidade de ser dele era
ínfima… quase zero…
O alívio tomou conta do semblante de Stefano e isso me
deixou pior. Ele surtaria quando eu lhe contasse a verdade. Embora
eu pudesse mentir. Esconder a verdade e pronto. Era apenas isso,
minha língua deveria ficar dentro da boca e tudo ficaria bem.
— Foi apenas uma vez e desculpe o que vou falar, mas ele
gozou fora – expliquei angustiada e ele encolheu os ombros sem
compreender —, como transei uma semana toda com seu pai,
pensei que era dele.
— Sinto muito te dar a notícia assim, mas não havia outro
modo – garantiu —, você o procuraria e ouviria dele. Pensei que
escutar tudo isso de mim, seria menos humilhante do que ouvir meu
pai dizer que o filho não era dele…
Aquiesci, compreendendo a posição de Stefano. Ele estava
sendo legal comigo resolvendo tudo com o menor constrangimento
possível. Eu ficaria sem graça de reencontrar Álamo algumas vezes,
mas não morreria por causa disso.
— Obrigada. – Tentei sorrir, mas não consegui.
— Assunto resolvido – ele sorriu e voltou a comer e então
notou que eu estava parada sem me mexer —, coma, Kirsten, no
seu estado você não pode ficar sem comer…
Peguei o garfo novamente e não consegui esconder o tremor
das minhas mãos.
— Sei que é difícil, mas tudo vai se resolver. Uma gravidez
não é o maior mal do mundo… – Stefano me consolou.
— Não queria uma gravidez agora. – Balancei a cabeça
devagar.
— Sei que não, mas acontece e um filho é sempre uma
bênção na vida das pessoas, traz um novo sentido…
Ele não poderia entender e a culpa me tomou. O que foi que
eu fiz?
— Você não entende – eu o cortei —, além de não querer
esse bebê, agora descobri algo pior. Quem é o pai de verdade…
O fitei com receio. Minha consciência não me deixaria mentir
para o homem que era como um irmão para mim e estava me
tratando com tanto respeito. Um lado dizia para ficar de boca
fechada e resolver tudo ao meu modo. E outro mandava dizer a ele
sobre Andreas.
— O que foi? O cara é um babaca? Um grande filho da puta?
– perguntou preocupado parando de comer.
A preocupação dele me fazia sentir mais culpada. Balancei a
cabeça devagar.
— Ao contrário, o pai é muito gente boa – garanti e o encarei.
— Eu o conheço? – perguntou e havia certa impaciência em
sua voz, sinal que ele estava desconfiado que viria mais uma
bomba.
— Sim – respondi a verdade —, e esse é todo o problema.
— Sei… – bufou —, diga de uma vez, Kirsten – pediu —,
odeio jogos de meias palavras!
Fechei os olhos por um segundo, e tomei coragem para dizer
a verdade:
— A segunda e a ínfima possibilidade é seu irmão Andreas –
revelei.
— Puta que pariu! – soltou alto e as pessoas olharam para
nós.
— Foi na festa de aniversário dele, em Milão – então resolvi
mentir sobre como tudo foi para tentar amenizar a situação —, ele
estava muito bêbado e eu também, a gente se beijou no meio do
corredor e transou de pé ali, foi só isso, nada demais. Era fim de
festa, estavam todos muito loucos e não havia quase ninguém e…
Era mentira, foi uma das melhores transas da minha vida,
mas não podia dizer ao meu chefe a verdade. E desmerecendo o
que aconteceu, não me sentiria tão culpada quando interrompesse a
gravidez.
— Preciso ir ao banheiro. – Ele se ergueu jogando o
guardanapo sobre a mesa.
Stefano me deixou sozinha por um longo tempo. Cheguei a
pensar que ele tinha partido sem mim e me faria pagar a conta
antes de ser demitida por justa causa por transar com os homens da
família e ainda engravidar de um deles. Quando retornou, seu
semblante ainda não era amigável.
— Aconteceu alguma coisa? – perguntei preocupada. —
Pensei em ir atrás, mas imaginei que poderia estar tendo problemas
intestinais – brinquei tentando amenizar o clima pesado entre nós.
— Fiquei preso no banheiro – respondeu sem qualquer
humor na voz —, por sorte notaram e abriram…
— Ai que chato! – falei sem graça.
Ele paquerou uma garota que passou para a outra mesa
enquanto eu lamentava meu emprego que estava por um fio e teria
que voltar para a América e recomeçar do zero. Eu odiava Nova
Iorque.
— Quero pedir desculpas por tudo, Senhor Cardinali –
precisei falar. Estava tensa e triste. Se eu não tivesse ficado grávida,
ele sequer saberia dessa situação —, era para ser apenas
momentos de prazer e não causar tanta dor de cabeça. Vou resolver
isso.
Ele ergueu a sobrancelha para mim, desconfiado.
— Não faça nada sem falar com meu irmão primeiro – avisou
ríspido, mas num tom baixo e educado —, ele tem que saber das
consequências do que fizeram. Você não pode decidir sem falar
com ele, Kirsten.
Fiz que não com a cabeça.
— Já tomei a decisão, Senhor Cardinali, quando voltarmos
aos Estados Unidos, vou interromper a gravidez – contei.
Ele me fitou como se eu fosse um monstro.
— Não faça isso, Kirsten! – disse sério num tom baixo de
quem está bravo. — É meu sobrinho ou sobrinha que está aí, não
vou deixar que acabe com tudo! Se meu irmão não quiser a criança,
eu quero. Banco você até a criança nascer e pode dá-la a mim, eu o
crio como se fosse meu filho… mas interromper a gravidez é
inaceitável!
— Senhor Cardinali… eu…
— Vou ligar para Andreas e contar a ele – suas palavras me
deixaram atordoada —, se ele disser que não tem interesse no
bebê, eu tenho.
Eu abri a boca, mas a voz não saiu. O que ele disse? Não era
possível…
— Se não quiser, não precisa mais ver a criança e eu arranjo
o emprego que você quer em Washington – determinou muito sério
—, mas não vou deixar que aborte uma criança que é sangue da
minha família!
Meus olhos se encheram de lágrimas outra vez. Tinha que
me acostumar que mulheres grávidas choravam muito e eu estaria
sensível a tudo ao meu redor.
— Não sei o que dizer… – eu disse sincera. Ele seria capaz
de assumir um filho que sequer era dele?
— Não diga nada e não faça nada do que possa se
arrepender – mandou sem qualquer hesitação —, não é apenas a
sua vida, é a do bebê e a do meu irmão. Vamos com calma, as
coisas se resolvem e não estou brincando com a minha decisão e
proposta!
Assenti absorvendo o que ele tinha dito. Nunca pensei que
Stefano seria tão honrado. Estava sem palavras.
— Você sempre foi determinado, não é?
— Sempre – encostou na cadeira e soltou o ar dos pulmões
depressa —, não brinco com nada na vida, Kirsten. Você sabe
disso. Como eu disse, vou falar com meu irmão, e depois vemos o
que fazer, mas tirar essa criança está fora dos planos.
— Estou me sentindo ridícula! – desabafei. — Nunca pensei
que transar de forma casual poderia trazer tantas consequências.
— É o risco. Tudo tem contratempo, Kirsten. Nada é cem por
cento do que esperamos – argumentou.
Ele pegou o celular no bolso do paletó nas costas da cadeira
e colocou em cima da mesa. A tela se acendeu e ele pareceu
frustrado.
— Vejo que está preocupado – notei. — Sinto que tenha
trazido tantos problemas para sua vida, Senhor Cardinali.
— Nada que não possa ser resolvido – ele garantiu.
Eu esperava que sim. Da melhor forma para todos, sem
estresse e escândalos. Eu odiava brigas mais do que odiava
homens violentos e abusivos. Esperava que no fim das contas tudo
acabasse bem. Mas algo me dizia que aquela história não terminava
ali simplesmente, eu enfrentaria os Cardinali por causa dessa
criança e meu coração se encolheu. O que foi que eu fiz?
Andreas
CAPÍTULO 3
Estava sentado na poltrona confortável do consultório da
doutora Ivina Lombardi, minha terapeuta. Todas as pessoas
deveriam ter um profissional dessa área para poder ajudar nas
neuroses do dia a dia. Nossos encontros eram todas as semanas,
desde os meus quinze anos, e era ótimo.
— A verdade é que não consigo parar de pensar nela –
admiti intrigado —, foi a primeira mulher que não me procurou
depois que transamos, que não me deu seu telefone, não forçou um
encontro casual, absolutamente nada.
Ivina ajeitou os óculos em seu rosto e respirou fundo me
ouvindo atentamente. Ela sabia mais da minha vida que qualquer
outra pessoa no mundo. Deveria estar agora com cinquenta anos,
era uma mulher elegante, mãe de quatro filhos. Ela não me contou
nada, eu mandei investigar para ter certeza que era uma pessoa
idônea. Tenho a natureza desconfiada, era inevitável.
— É a primeira vez que é rejeitado – a médica comentou.
— Sim – admiti. Ali eu podia dizer tudo o que pensava e
sentia.
— É bem normal que ela se torne uma obsessão visto que
ela agiu inverso ao que está acostumado – ela observou. — Vocês
se conheciam antes?
— Sim. Ela é assistente do meu irmão, Stefano, há dois anos.
Nós nos esbarramos várias vezes, inclusive ela participa ativamente
da vida social da minha família – contei.
— E como era antes a relação de vocês?
— Acredito que sempre nos paqueramos, flertávamos sem
maiores consequências, trocas de olhares… essas coisas…
— E por que não vai atrás dela?
Comprimi os lábios por um instante e passei a mão na testa
num gesto de ansiedade.
— Eu voei até Roma para vê-la e quando cheguei no
escritório do meu irmão, encontrei com meu pai – encolhi os ombros
levemente —, Kirsten passou e ele me contou que teve um caso
com ela recentemente.
Ivina ergueu uma sobrancelha.
— Seu pai demarcou território. – Ela deu um sorriso
sarcástico.
— Não havia pensado por esse lado – admiti.
No momento que ouvi as palavras de Álamo, eu apenas virei
as costas e fui embora sem olhar para trás. Não tinha planos de
competir a atenção de uma mulher com ele. Não fazia diferença
para mim, mesmo que eu ainda pensasse em Kirsten de forma
obsessiva. Não estaria atrás de uma mulher que meu pai queria.
— Se nós pararmos para analisar seu relacionamento com
seu pai, Andreas, você tem que admitir que ele tem feito isso desde
sempre – ela completou. — E até mesmo com seu irmão, se ele
sente que vocês podem mais do que ele, a atitude é de tirar vocês
do caminho dele de alguma forma.
Assenti devagar. Minha relação com meu pai não era fácil.
Ele era opressor e gostava de competir comigo em todos os
sentidos. Da mesma forma fazia com Stefano, como se todo o
tempo ele tivesse que ser o macho alfa da família e não admitisse
que fôssemos melhor que ele. E quanto mais velho ele ficava, pior
era essa rixa tola e sem sentido. Eu e Stefano ignorávamos, mas às
vezes, passava dos limites.
— Ele faz isso sempre – concordei.
— E depois que ele lhe contou que esteve com Kirsten, o que
você fez?
Fiz uma careta de desgosto.
— Perdi a vontade de procurá-la. Não dá para sair com uma
mulher que dormiu com meu pai – comentei sério. — Não sei
explicar.
Embora isso não tenha diminuído a minha cobiça.
— Não acha machismo da sua parte? – ela me questionou.
— Não. A senhora tem filhas, doutora Lombardi? – Quis
saber.
— Não estamos discutindo a minha vida – ela me preveniu.
— Mas a senhora se sentiria à vontade transando com o
namorado ou o ex da sua filha? – insisti.
Ela deu um sorriso e balançou a cabeça, desolada.
— Há dez anos, você tenta me colocar contra a parede,
Andreas – ela me reprovou.
— E é porque aceita minhas perguntas e as responde que
estou aqui há dez anos – devolvi.
Ela sorriu outra vez condescendente.
— Eu não conseguiria me sentir à vontade mesmo se fosse o
homem que eu amasse – ela deu um sorriso travesso —, ainda mais
porque o homem que eu amo é o pai da minha filha.
Nós rimos da situação.
— E depois? – ela retomou a consulta. — Você conseguiu
parar de pensar na Kirsten?
— Não, parece que piorou. Estou namorando a Havana, a
atriz turca que lhe falei – comentei e ela assentiu se recordando —,
mas não consigo parar de pensar na Kirsten.
— Podemos analisar tudo isso pelo fato de que ela o rejeitou
e está num patamar em que se tornou um objeto proibido – a
doutora compilou nossa conversa —, você a deseja porque não
pode tê-la, pense sobre isso…
Concordei. Ela estava com a razão. Não queria Kirsten pelo
que ela era, mas pelo que ela representava, um desafio, alguém que
a partir de agora, eu não me permitiria ter.
Fui para o meu apartamento em Roma perto da Piazza
Borghese. Minha vida era em Milão, mas ultimamente eu estava
mais em Roma do que o costume, a cidade onde Kirsten morava.
Havia inúmeras mensagens de Havana me pedindo para viajar com
ela até a Turquia. Mil ligações de Stefano há dias. Precisava falar
com um e depois com o outro.
Liguei para Havana e ela atendeu de pronto.
— Pensei que nunca mais fosse me ligar – ela reclamou.
Odiava o jogo, não estava com paciência. As pessoas
precisam ter liberdade em um relacionamento e não a obrigação de
fazer as coisas. Às vezes, eu não ligava por estar fazendo jogo, eu
apenas não tinha nada para falar. Mas era difícil para Havana
compreender.
— Você queria falar comigo? – perguntei.
— Pensou sobre a proposta de férias na Turquia? Tenho um
filme para fazer e gostaria que viesse me encontrar… já se decidiu?
Estou com saudades.
Ela havia partido há alguns dias e me senti um canalha por
não retribuir a mesma saudade. Andei pelo apartamento amplo e me
aproximei da varanda, de onde podia ver o centro de Roma. Estava
quente e eu queria apenas uma cerveja e descansar a cabeça.
Tenho a vida feita, usei a fortuna que meus pais me davam e investi
em provedores de internet, em menos de sete anos, quadrupliquei
meu dinheiro e vivia de rendas. Tinha investimentos no mercado de
ações, palpites que Stefano me deu e apenas consegui mais
dividendos. Não tinha compromisso com uma empresa, pessoas
trabalhavam para mim e eu não estava preso em um escritório ou
milhares de reuniões.
Talvez por isso, eu estivesse entediado e precisasse de uns
dias de descanso. A verdade é que essa proposta de Havana veio
na hora certa. Um tempo longe da Itália me ajudaria a colocar os
pensamentos em ordem e esquecer essa súbita obsessão por
Kirsten. Não fazia sentido, afinal, com quantas mulheres transei?
— Vou com você – avisei e ouvi a risada de satisfação dela
do outro lado.
— Estarei esperando por você, meu amor, venha logo – ela
falou feliz e desligou.
Meu amor? A gente mal se conhecia. A verdade era que eu
estava irritado e sequer sabia o motivo ao certo. E a culpa não era
de Havana. Fui para o meu quarto e me joguei na cama antes de
ligar para Stefano. Tocou algumas vezes e ele atendeu.
— Fala, irmãozinho – disse com a voz animada quando ouvi
o alô cansado do outro lado.
— Como vai, Andreas? – sua voz era séria.
Entretanto, meu irmão era sério a maior parte do tempo.
— Estou bem e você?
— Estou em Perugia – contou —, tenho reuniões aqui. Nosso
pai também está aqui…
Senti o veneno do ciúme me assolar. Pensei nele e Kirsten e
fiquei irritado. Não tinha que pensar nada, mas não consegui evitar.
— Que encontro! – debochei e ri. — O que o velho faz aí?
— Passear, ver amigos – ele respondeu sem muita
empolgação. A gente sabia que Álamo gostava de aprontar e nos
fazer passar vergonha, foi sempre assim —, você sabe… ele nunca
tem um motivo sério para nada.
— Com certeza. Desculpa não ter te atendido antes, estava
numa reunião com o primeiro Ministro e agora estou arrumando as
malas para ir para a Turquia…
Não sei por que menti que estava tratando de negócios.
Stefano sabia que meu principal cliente era o governo italiano, eu só
não queria que ninguém soubesse que agi de forma impensada
para encontrar Kirsten. Se não fazia sentido para mim, não faria
para qualquer outra pessoa. Eu me sentia um adolescente bobo e
não o homem que era.
— Turquia? – Ele pareceu surpreso. — Negócios?
— Nada, estou saindo com uma atriz de novelas turcas e
vamos tirar umas férias… lembra dela? Havana? – contei fingindo
animação.
Cada vez mais, eu me sentia um idiota por dissimular.
— Claro que me recordo, espero que se divirta – disse
apenas, mas senti uma certa hesitação. Como se ele estivesse sem
graça.
Eu e meu irmão tínhamos uma boa relação, era óbvio que
havia algo bem errado.
— Mas o que foi? Você quase nunca liga, sempre manda
mensagens – observei perspicaz —, aconteceu algo sério?
Ele bufou do outro lado. Podia ver meu irmão passando a
mão pelos cabelos, era uma mania nossa.
— Aconteceu – não hesitou em dizer a verdade —, e não é
fácil falar isso para você. Gostaria de estar ao vivo, mas é sério e
preciso tomar uma decisão.
Era por isso que eu confiava tanto nele, Stefano jamais
mentiria para mim ou me deixaria fazer papel de bobo ao ser o
último a saber. Pensei em Kirsten, se algo ruim havia acontecido a
ela. Não teria motivos para Stefano me contar, mas foi nela que
pensei.
— O que foi? – questionei preocupado. — Aconteceu algo
com nosso pai?
— Não. Ele está ótimo! – garantiu. — É um assunto delicado,
Andreas. Eu queria não me meter, mas parece que estou perdendo
o controle de tudo.
Sentei na cama e esperei pelo pior.
— Pode falar – pedi tenso.
— Lembra da Kirsten, minha assistente? – perguntei.
Era sobre ela. Tinha que ser, meu sangue ferveu de uma
forma inesperada e respirei fundo do outro lado para não xingar a
mim mesmo por ficar tão estranho somente por ouvir o nome dela.
Qual era o nome dessa doença? Perguntei com ironia.
— Claro que lembro – minha voz soou o mais amigável
possível.
Ele fez uma pausa que me deixou irritado e soltou a bomba
sobre a minha cabeça:
— Ela está grávida, Andreas! – contou de uma vez.
Grávida? Fiquei um tanto perplexo.
— E o que tem? – indaguei como se não a tivesse comido.
Ergui da cama e comecei a andar de um lado para o outro.
Meu coração batia forte como se eu estivesse correndo.
— Bem, ela disse que é seu! – Stefano revelou.
Precisei sentar de novo e respirar. Afastei o celular e passei a
mão pelos cabelos e pelo rosto. Como assim, ela estava grávida?
Era a probabilidade de uma chance em um milhão. Eu era muito
azarado. Ou ela.
— Andreas? – Stefano me chamou quando notou meu
silêncio exagerado.
Acredito que ele ficou com medo de eu ter enfartado.
— Puta merda, cara! – soltei em um desabafo sincero. —
Sério que ela está grávida? Mas foi só uma vez e eu gozei fora! –
falei indignado no primeiro momento.
Nenhum homem esperava receber uma notícia dessas
quando estava prestes a sair de férias com a nova namorada. Ironia
do destino ou não, sei que meu pai fez vasectomia quando eu nasci,
era a maior tristeza da minha mãe não ter tido mais um pequeno
Cardinali, esse foi o motivo do divórcio deles.
A não ser que Kirsten transasse com mil homens sem
camisinha, era meu. Senti que o filho era meu. Apenas isso. E foi o
suficiente.
— Sabemos que o tal do gozar fora não é garantido, irmão! –
ele ponderou com sinceridade. — Você já deveria saber disso.
Sequer camisinha é cem por cento seguro, o que dirá esse método
primitivo…
— Foda… – limitei a dizer.
— De qualquer forma precisava te contar, sei que precisa de
uns dias para absorver isso, então, vai viajar e quando voltar nós
conversamos – Stefano comentou.
— Não há nada para falar – eu o repreendi bravo, já havia
tomado minha decisão —, o filho é meu e pronto. Fazer o quê?
— Você pode não querer assumir – ele disse o óbvio.
— Posso ser qualquer coisa, menos um filho da puta que
deixa outros homens criarem meu filho – era inadmissível imaginar
que um filho meu seria criado longe de mim. Eu não era como o
meu pai —, vamos fazer o exame de DNA e se for meu, vou assumir
a criança.
— Sinto muito em ter que te falar assim – Stefano se
desculpou —, mas fico feliz com sua decisão, Andreas.
— Não se preocupe, você fez certo de me contar. De
qualquer jeito eu saberia da novidade, não é? – De repente, eu me
senti cansado, como se o peso do mundo estivesse sobre as
minhas costas. — O que eu posso fazer? Deixar um filho meu sem
meu nome que não vai ser! Não vou ser igual ao meu pai… – repeti.
Falaria isso mil vezes, era um orgulho não tomar as mesmas
atitudes que ele. Já podia imaginar seus comentários sarcásticos e
desnecessários quando descobrisse minha aventura com Kirsten e
as consequências. Mas eu não o deixaria escarnecer dessa vez.
— Quando você voltar da Turquia conversamos – Stefano
preferiu —, você me liga e vamos almoçar e conversar. Pelo que sei
o teste de DNA só dá para fazer com mais de doze semanas de
gestação.
— E faz quanto tempo do meu aniversário? Umas oito
semanas? – eu sabia exatamente o tempo, mas sabia muito bem
fingir que não estava tão interessado no assunto.
Homens são bons em fingir que não ligam, mesmo quando
estamos morrendo por dentro.
— Provavelmente…
— Está bem – respirei fundo e passei a mão pelo cabelo
outra vez —, devo ficar algumas semanas fora, quando voltar, eu te
ligo e conversamos. Também conversarei com Kirsten – prometi. —
Vou ligar para ela daqui alguns dias.
— Certo – ele concordou e se despediu.
E desligamos.
Olhei para o celular e era como se eu tivesse ouvido uma
história sobre uma outra pessoa. Nunca imaginei ser pai, ainda mais
tão jovem e de uma mulher que eu mal conhecia. Critiquei meu pai
tanto por pular de cama em cama e não se cuidar que acabei
pagando a língua.
Se Kirsten havia se tornado uma obsessão por me rejeitar,
agora, ela seria mãe do meu filho e teríamos uma ligação para o
resto de nossas vidas. E isso mexeu comigo de verdade, porque
família sempre foi algo importante e sempre esteve em primeiro
lugar.
E a ideia de ter um bebê de cabelos vermelhos não pareceu
tão ruim assim.
Kirgtin
CAPÍTULO 4
Doze semanas de gestação e não havia como fugir. Eu tive
que fazer o bendito teste de DNA. Andreas havia retornado da
Turquia e não nos falamos, até aquele momento no laboratório
quando fomos buscar o resultado. Não consegui ir sozinha, pedi a
Stefano que fosse comigo. Estava com medo, não do resultado, eu
agora tinha certeza que era de Andreas, mas da reação dele.
Chegamos mais cedo que o combinado. Fiquei sentada de
costas para a porta, com receio de vê-lo chegar. Nunca fui tão
covarde, mas meu coração enganoso estava me traindo, eu não
conseguia parar de tremer e respirava com certa dificuldade. Se o
filho fosse realmente de Andreas – o que era – e o milagre de não
ser não acontecesse, sentia que estava ferrada. Os Cardinali não
me deixariam interromper a gravidez.
E isso seria muito difícil para mim.
Foi estranho quando senti um frenesi diferente e olhei para
trás e vi Andreas Cardinali atravessando a porta da clínica. Como
ele era lindo. Usava um terno impecável, não levava gravata e os
primeiros botões da camisa estavam abertos. Os lábios cheios
estavam comprimidos numa linha fina, os óculos escuros escondiam
os olhos perscrutadores, e a forma como ele andava era
simplesmente determinada e poderosa.
Olhei ao redor e notei que todas as mulheres presentes se
voltaram para ele e sorriram com malícia. Ele não era apenas
bonito, era também intenso. Levei a mão à minha barriga ao pensar
que eu carregava o filho daquele homem. Parecia tão surreal, nada
sabia sobre ele, nada. Apenas que ele era bom de cama e me fez
brochar com outros homens depois que ficamos juntos.
Ele se aproximou de nós e virei para frente muito rápido.
Claro que ele viu que o notei, como não veria? Meu coração
disparou e engoli em seco quando ouvi aquela voz grave.
— Olá, Stefano. – Ele abraçou o irmão rapidamente, eu notei
pelo canto dos olhos.
Então ficou diante de mim, estava sem os óculos agora e nos
encaramos. A única imagem que veio à minha cabeça foi aquela
boca no meu clitóris, me fazendo gozar. Desviei o olhar para o outro
lado, depressa. Não estava com raiva dele, absolutamente nada, ao
contrário, eu o desejava. Queria apenas acabar com aquela tortura
e ir embora, sem precisar vê-lo mais uma vez.
Meu asco vinha do fato que eu estaria presa a um homem o
resto da minha vida se eu tivesse aquele filho. E não era uma ideia
agradável. Não gostava de nada que me prendesse.
— Como vai, Kirsten? – ele perguntou.
Ergui o olhar para ele e apertei minha bolsa que estava sobre
o meu colo.
— Bem – limitei a responder.
Sequer me dei ao trabalho de perguntar como ele estava. Era
óbvio que se encontrava muito bem e talvez na melhor forma de sua
vida toda. As colunas sociais não mentiam. Andreas era tudo que
uma mulher poderia querer. Eu concordava, mas não o queria para
mim. Não queria nada dele. Nem mesmo um filho.
— Vamos então – Stefano disse quebrando o clima pesado.
Assenti e me ergui. Stefano foi na frente, pegou o envelope
que a atendente lhe entregou e fomos para uma sala reservada.
Quando a porta se fechou atrás de mim, foi como uma sentença de
prisão. Olhei para trás por um instante e fiquei instigada a abrir a
porta e fugir no mundo, desaparecer simplesmente. Eu podia fazer
isso, pegar meu passaporte e atravessar o mundo para qualquer
lugar e sumir.
Eles não me encontrariam e eu tomaria as decisões que
considerava melhor para mim e para aquela criança, mas algo me
impedia, não sabia explicar. Acreditava que fosse pela minha
amizade e consideração por Stefano.
— Vai abrir essa merda ou não vai? – a voz de Andreas soou
dura pela sala.
Olhei de um para o outro. Andreas era um pouco mais alto
que Stefano e tinha uma aparência mais agressiva. Stefano era frio
e daria um tiro em uma pessoa sem pestanejar. Andreas era duro,
ele sacaria uma metralhadora e a descarregaria em cima de seu
adversário. Andreas se aproximou de Stefano, impaciente.
Eu soube que ele pagou quatro vezes mais para que o
resultado ficasse pronto em dois dias. Os Cardinali eram a prova
viva de que o dinheiro poderia comprar qualquer coisa. Stefano
abriu o envelope e olhou o resultado, ele parecia aliviado.
— Positivo. – Virou o papel para nós dois.
Eu precisei me sentar, derrotada. Não podia acreditar! Era
óbvio que não poderia ser outro já que não era Álamo, mas eu ainda
tinha esperanças de não ser ninguém, o que era impossível. Senti
minha vida se desprender das minhas mãos naquele segundo e eu
não podia fazer nada para reavê-la.
Andreas passou as mãos pelos cabelos negros e espessos.
Respirou fundo controlando seu humor e então olhou para mim,
como se pudesse me atingir com um raio.
— Vamos ter um filho – ele disse com o dedo em riste e ergui
o olhar para ele —, e nem venha com esse papo de interromper a
gravidez, o filho é meu – apontou para si mesmo —, pode ir embora
depois que ele nascer, mas o bebê fica comigo!
Estremeci e olhei para Stefano para que ele me defendesse
da fúria de seu irmão. Com certeza meu chefe comentou com ele
meus planos de pôr um fim à gravidez. Ele encolheu os ombros,
resignado, Stefano jamais se oporia ao irmão, enxergava a atitude
de Andreas como algo honrado e justo, afinal, eles eram uma família
unida e se apoiariam até a morte se fosse necessário.
Estava sozinha nessa, ninguém me ajudaria a fugir daquela
situação.
— Não pode me obrigar! – levantei e disse num tom baixo.
Muito mais por rebeldia, por não aceitar a submissão à vontade de
um homem.
Nunca, eu preferia a morte a obedecer um macho.
— Ah, eu posso – ele deu um passo determinado, mas não
me encolhi. Há muito tempo a palavra medo das atitudes
masculinas foi riscada do meu vocabulário —, já pedi para os meus
advogados entrarem com um processo contra você, eu quero esse
filho e vou brigar por ele até o fim, pode apostar!
Outra mulher estaria morrendo de felicidade por ver o pai de
seu filho lutar por ele. Mas no meu caso era diferente. Seria um
pesadelo, eu conhecia aquela história de cor, sabia onde terminaria
e, infelizmente, não estava disposta a pagar o preço.
— De onde eu venho, na América, a mulher é livre para fazer
o que quiser… E não quero passar nove meses grávida! – retruquei.
Ele deu um sorriso de escárnio. Eles eram donos da Itália, ele
poderia fazer o que quisesse, inclusive comprar juízes para que sua
vontade fosse feita e eu estaria à mercê de suas vontades. Contudo,
brigaria até o fim, com todas as minhas forças, não cederia tão fácil.
— Não me importa! – ele me cortou bravo. — Se não queria
um filho, se cuidasse! Sei que o corpo é seu, as regras são suas,
mas o filho também é meu e eu o quero, fui claro? E vou lutar de
uma forma como você não imagina por essa criança! – ameaçou.
— Está me chantageando? – Estreitei o olhar sem poder
acreditar.
— Sim! – assentiu. — Se eu precisar trancar você dentro de
um quarto por nove meses, vou fazer isso!
Aquilo era um absurdo, eu jamais aceitaria ser tratada como
um objeto de posse daquele homem.
— Você é tão primitivo! Não pode me ameaçar! – falei por
entre os dentes.
O que era para ser apenas um simples encontro se tornou
uma briga de titãs, afinal, ele não estava disposto a ceder e eu
também não.
— Então não ameace tirar meu filho! – Ele foi bastante claro
e apontou para minha barriga e pela primeira vez eu dei um passo
para trás. — Porque eu juro que se ferir meu filho, não vou ser
bonzinho com você! Esse seu maldito sonho de entrar para o
governo dos Estados Unidos vai para o espaço! – Ele ergueu a mão
e moveu os dedos como se o ar desfizesse de suas mãos e depois
colocou o dedo em riste. — E vou garantir que sequer sirva para ser
moradora de rua se tocar na vida do meu filho!
As últimas palavras soaram tão possessivas que tive que
admitir que ele realmente queria aquela criança. Nós nos
encaramos por alguns segundos e todo o desejo que sentimos um
dia um pelo outro se desfez em mil pedaços nas fagulhas de nossos
objetivos.
Ele olhou para Stefano que assentiu, sorrindo diante da
decisão do irmão, na verdade, meu chefe estava tão orgulhoso que
Andreas estava assumindo o filho e brigando por ele. Senti raiva dos
homens por serem tão unidos.
— Minha secretária vai te ligar, vamos marcar médico e vou
acompanhar passo a passo – ele me avisou.
Era mais fácil eu desaparecer no mundo do que aceitar que
ele fosse o pai perfeito.
— E se eu não fizer o que você quer? – eu o desafiei.
— Vamos ser claros? – ele perguntou se aproximando mais
uma vez. — O que você quer pela criança?
Ele se aproximou muito. Ficamos tão perto um do outro que
eu podia sentir o cheiro do pós-barba, e minha boca secou pela
cobiça que me tomou. Nunca me senti assim diante de um homem,
meu clitóris pulsou e eu seria dele se ele quisesse. Encostei meu
corpo contra a parede sem ter para onde fugir e ele apoiou a mão
na parede, sem se importar com a presença do irmão e que seus
lábios estavam perto demais dos meus.
Podia esticar o braço e empurrá-lo, mas temi fazê-lo e ao
invés de afastá-lo, eu acabasse acariciando e enfiando meus dedos
entre os botões entreabertos. Meus olhos ficaram sob o rosto frio e
indiferente. Seus olhos me queimavam apesar de tudo. A chama do
desejo estava ali e me odiei por isso.
— O quê? – perguntei perplexa.
— Isso que ouviu – ele disse determinado —, é o trabalho no
governo americano? O que você quer? Dê seu preço e eu pago!
Fazemos um contrato e depois que a criança nascer, se não quiser
seu nome nem constará na certidão de nascimento, coloco de outra
pessoa, eu pago para isso.
Abri a boca para falar, mas a voz não saiu. Os Cardinali
tinham esse poder de deixar as pessoas desconcertadas e ele
conseguiu fazer isso comigo. Estava ofendida, mas não conseguia
reagir. Nunca pensei que ele me ofereceria dinheiro pela criança,
isso era tão absurdo!
— Diga seu preço Kirsten – ele exigiu com seu hálito quente
contra o meu rosto —, eu pago pelas vinte e seis semanas que
faltam. O que são vinte e seis semanas perto da vida que você vai
ter pela frente? Eu lhe dou o emprego e uma boa soma em dinheiro,
o que acha? Apartamento, e luxo para o resto da sua vida… –
murmurou com aquela voz carregada de tentação.
Não estava pensando na proposta mas no poder de sua voz
sobre o meu corpo.
Fiquei sem chão diante de sua atitude, ele faria qualquer
coisa pela criança, qualquer coisa. Ele me compraria ou me
trancaria dentro de um quarto até o bebê nascer, e senti que faria
isso mesmo. Quem era esse homem? Outro estaria feliz por eu
querer não seguir em frente!
— Não precisa responder agora – ele avisou —, vou ligar
para você e vou colocar uma pessoa te seguindo dia e noite, você
não tem escapatória, esse filho vai nascer, fui claro?
Afastou-se e senti falta do calor de seu corpo. Que maldito!
Que ódio! Tinha que desprezá-lo, e não ter vontade de ir com ele
para cama.
— Eu te ligo para a gente jantar – avisou ao Stefano.
— Está bem – meu chefe concordou.
Ele assentiu, olhou para mim com reprovação mais uma vez,
como se eu fosse uma criminosa, e saiu da sala a passos largos.
Olhei ele desaparecer e depois fitei Stefano.
— Você podia ter me defendido! – o recriminei e caí sentada
levando a mão à testa.
Era a primeira vez que eu não o chamava de senhor.
— Teria feito pior, eu já tinha te trancado num quarto até dar à
luz! – brincou e se sentou ao meu lado.
— Vocês fazem parte da máfia? – brinquei para quebrar a
tensão. — Porque seu irmão parece um mafioso!
— Ele só está bravo porque você falou em interromper a
gravidez e ele odeia isso – me contou. — Somos de uma família
muito católica, deveria ter imaginado que nossa reação seria
exatamente essa!
E não podia culpar Stefano por ter contado a ele. Se fosse
alguém querido para mim, eu também contaria.
— Por que não tira o resto do dia de folga? – ofereceu. —
Foram muitas emoções para um único dia e tenho certeza que você
precisa ficar sozinha e pensar.
— Preciso, obrigada… – Tentei sorrir, mas não consegui.
— Francesco vai levá-la aonde quiser – ele permitiu que seu
motorista me levasse para onde eu quisesse.
Eu queria sumir, será que ele sabia o caminho?
— Obrigada por seu apoio – agradeci de verdade.
Era bom ter amigos, no fim das contas.
— Você é como uma irmã, fique tranquila – disse solícito.
Tranquila? Minha vida estava prestes a mudar para sempre.
Se eu partisse e tirasse a criança, poderia ser morta pelos Cardinali.
Se eu ficasse, sentia que iria morrer nas mãos de Andreas. Estava
perdida de qualquer forma.
Andreas
CAPÍTULO 5
Não estava com cabeça para festas, mas Rita Cardinali, a
mãe de Stefano e a primeira esposa de Álamo, fez questão que eu
estivesse presente. Um dia, ela e minha mãe foram inimigas, afinal,
meu pai traiu Rita com Sophia, contudo, quando minha mãe foi
trocada por outra mais jovem, Rita a perdoou e ficaram amigas.
Passei a visitar a casa dela com muita frequência e ela se tornou
uma segunda mãe para mim.
Havana estava na Turquia, eu terminei tudo antes de voltar
para a Itália. Não havia sentido em permanecermos juntos, já que
quando contei que uma mulher estava grávida de um filho meu, ela
surtou. Completamente. Deu um tapa no meu rosto, me chamou de
canalha e disse que não seria mãe de um bastardo. Depois disso,
ela chorou, pediu perdão, porém, não dava mais para ficar com uma
mulher completamente desestruturada. Estávamos juntos há pouco
mais de dois meses e ela já estava histérica? Em um ano, um de
nós teria morrido. E não tenho paciência.
Quando terminei tudo, ela gritou mais e jogou bebida no meu
rosto e começou a quebrar os móveis do quarto dela. Peguei minha
mala e voltei para casa. De gente maluca, já basta eu mesmo na
minha vida.
— Que bom que veio – Rita disse quando cheguei —, sua
mãe já está aqui. – Ela olhou ao redor, mas não a encontrou.
— Ela me disse que viria com o novo namorado – comentei.
Minha mãe trocou de namorado de novo. Eu me incomodava
muito, era difícil ver a mãe a cada mês com garotos universitários
diferentes, mais novos do que eu. Sou possessivo por natureza,
tenho ciúme das pessoas que amo, e lógico, não seria diferente com
a minha mãe. Ainda mais ela, que era linda e poderosa aos
quarenta e quatro anos. Ela se casou com meu pai aos dezoito anos
e eu nasci um ano depois. Apesar de ser uma excelente mãe, ela
nunca mais quis ter filhos depois do divórcio e colecionou
namorados. Quando eu era criança, não tinha contato com eles,
mas depois que atingi a adolescência, comecei a notá-los ao redor
até que ela principiou a apresentá-los e os jornais e revistas sempre
traziam notícias sobre sua vida pessoal.
Rita forçou um sorriso educado.
— Fique à vontade, vou cumprimentar outras pessoas…
Rita se afastou com seu vestido dourado elegante, de uma
atriz digna de Oscar. Ela era sempre impecável e seu lado sério
influenciou a personalidade do meu irmão mais velho. Um garçom
passou e pedi para que ele trouxesse uísque para mim, nada de
champanhe. Vi minha mãe com seu garotão e apenas acenei,
fazendo cara de poucos amigos. O garçom trouxe a bebida e olhei
ao redor.
— Pensei que não viesse – ouvi a voz da minha mãe.
Revirei os olhos e me voltei para o casal sem sentido. O filho
que não sente ciúme da mãe que atire a primeira pedra. O rapaz
loiro parecia ter dezoito anos e tive vontade de quebrar o nariz dele
e colocar a minha mãe de castigo.
— Oi, mãe – falei e sequer olhei para o seu acompanhante.
— Esse é o Francis – ela nos apresentou —, esse é meu filho
Andreas.
Ele me cumprimentou e fiquei apenas fitando a mão
estendida. Eu não tinha motivo para ser legal ou gente boa com o
amante da vez. O mirei dos pés à cabeça e bufei irritado.
— Acho que vou pegar uma bebida para a gente – o moleque
angelical disse sem graça, querendo sair de perto de mim, já que o
fuzilei com o olhar.
— Andreas – minha mãe me reprovou sem graça quando ele
se afastou.
— O quê? – perguntei e tomei vinho.
— Não se faça de inocente! – Ela cruzou os braços sobre os
seios siliconados maiores do que o normal. Tinha vontade de puxar
o decote para cima e dizer para ela mostrar menos, porque todos
estavam olhando.
Minha mãe é linda, mas tenho problema em lidar com o fato
de que ela é desejada pelos homens. Admito. Mas não é machismo,
é amor, é pavor. Sequer gosto de pensar o que eles fantasiam
quando veem o corpo perfeito naquele vestido curto e decotado.
Não deveria ligar, mas ela é minha mãe, caralho!
— O que eu deveria fazer? Perguntar se ele precisa trocar as
fraldas? – perguntei com sarcasmo.
Ela revirou os olhos como eu também fazia. Era um costume
familiar.
— Você parece que tem cinco anos! – reclamou.
— Não consigo ter maturidade para ver minha mãe com
vários homens! – estreitei o olhar. — Nem a terapia ajuda.
Ela respirou fundo e encostou a mão no meu braço.
— Onde está sua namorada?
— Eu não tenho namorada – respondi sem dar muita
importância.
— E aquela turca das colunas de fofoca? – ela me
questionou.
Não sou de falar da minha vida pessoal, então ela só sabe o
que faço pelos jornais e revistas que nos perseguem. Eu devia
começar a cobrar para me fotografarem, faria uma outra fortuna.
Ficava me perguntando por que as pessoas gostam tanto de saber
da vida íntima das celebridades. O que tinha de graça em saber que
troquei de namorada? Não fazia sentido para mim…
— Ela ficou na Turquia – respondi e a fitei.
— Você está se tornando um segundo Álamo Cardinali! – ela
me xingou.
Odiava quando ela usava essa frase para me ofender e ela
sabia que doía. Eu a encarei. Herdei os olhos verdes dela, mas o
cabelo loiro era tinta, minha mãe tinha o cabelo castanho em sua
forma natural. Aliás, nada nela era natural, o corpo foi reformado em
uma mesa de cirurgia, e até aquela boca não era dela. Eu podia
ofendê-la de volta se quisesse, seria fácil, mas eu a respeitava.
— Tenho vinte e cinco anos e não tenho planos de me casar.
Meu pai, ao contrário, descarta esposas igual a…
— Andreas! – ela me reprovou outra vez.
— Então não me compare com ele! – falei sério. — Você é
minha mãe, e se quiser respeito, fale comigo da mesma forma e
tudo ficará bem. E não vou gostar mais ou menos dos seus amantes
só porque você quer!
— Você é insuportável! – ela me xingou.
— Mãe, eu tenho nojo de cada cara que coloca a mão em
você e mataria todos se pudesse – disse e respirei fundo —, se não
quer lidar com minha imaturidade, não os apresente para mim.
Vi o grilo loiro se aproximando com duas bebidas nas mãos.
— Divirta-se! – mandei e me afastei.
Mal dei dois passos pensando em terminar meu uísque e ir
embora quando vi uma jovem ruiva, linda e estonteante em um
vestido preto e curto entrando na festa. Ela estava perfeita, tão
charmosa que meu pau ficou duro, o que me deixou muito irritado.
Kirsten.
Rita se aproximou para cumprimentá-la e eu fiquei parado
apenas observando. Desde o nosso encontro no laboratório há
menos de uma semana, eu não a vi mais. Meus advogados estavam
acertando tudo para fazer um contrato, e se ela não quisesse
assinar, eu entraria na justiça para assegurar que aquela gravidez
chegaria até o fim, eu queria muito o bebê e nada me impediria de
tê-lo.
Ela sorriu para Rita enquanto conversavam e o mundo ficou
mais iluminado. Como uma mulher tão bonita e fogosa podia ser tão
fria a ponto de querer interromper uma gravidez? Pela primeira vez,
em semanas desde que soube que seria pai, fiquei me perguntando
o que aconteceu com Kirsten para ela odiar tanto a ideia de ter um
filho. Porque não era apenas não querer um filho, ela tinha repulsa
pelo fato de estar grávida.
Pensei que ela não teria coragem de vir, afinal, ela sabia que
meu pai e eu estaríamos ali e ambos sabíamos da gravidez, embora
meu pai não tivesse ideia de que eu era o autor da gravidez. O que
era bom, afinal, se Álamo desconfiasse de qualquer coisa ele daria
em cima de Kirsten até eu quebrar seu maldito nariz.
Mas o que eu não esperava foi o homem que entrou minutos
depois e tocou o braço de Kirsten. Eu não o conhecia, e nem
precisava para sentir a raiva me tomar. Como assim, ela estava com
outro homem quando levava um filho meu na barriga? Ela tinha
ficado louca? Dei as costas e praguejei. Isso não ficaria assim.
Olhei de novo na direção dela e então ela me viu. Nossos
olhares se encontraram e a vi ficar tensa antes de erguer o nariz
num gesto de desafio. Ela queria me enfrentar? Era isso? Por isso
trouxe outro homem na festa da minha família? Para dizer que não
se importava? Ela não me conhecia e não sabia do que eu era
capaz para proteger o que era meu e eu não deixaria outro homem
tocar a mulher que carregava meu filho. Precisava assegurar que
ninguém tocaria Kirsten até meu filho nascer. Depois o que ela faria
da vida dela era problema dela, mas até o bebê estar entre os meus
braços carregando o meu nome, não permitiria que outro estivesse
com ela.
Como eu podia deixar que outro homem estivesse com ela,
com meu filho ali dentro? Assistindo tudo? Não… Como ela ousava
me desafiar? Sem pensar duas vezes, eu fui em direção a eles e ela
arregalou os olhos azuis. Kirsten segurou a mão de seu
acompanhante, despediu-se de Rita e foi para o outro lado do
jardim, fugindo de mim, onde não havia quase ninguém.
— Olá, Andreas – a voz do meu pai soou no meio do
caminho.
Perdi Kirsten de vista quando fitei meu pai. O jardim era
grande e ela se escondeu em algum lugar para não a ver.
— Está procurando alguém? – meu pai perguntou olhando na
direção para qual eu caminhava.
— Pareço estar procurando alguém? – devolvi irritado.
Kirsten podia estar agarrada com aquele cara em algum
canto, ele passava a mão no corpo da mãe do meu filho! Minha
raiva apenas aumentou.
— Por que o mau humor? Brigou com a namorada?
— E desde quando mulheres mudam o meu humor?
Desde que trepei com Kirsten? Respondi a mim mesmo.
— Não deveria estar agarrado com uma de suas fãs? –
indaguei querendo me livrar dele.
— O que deu em você, eu só vim dizer um oi…
Eu estava com raiva do meu pai por dois motivos: ele tinha
trepado com Kirsten antes de mim e ainda deu a entender que eles
ainda estavam juntos quando nos encontramos no escritório de
Stefano em Roma. E meu irmão jurou que ela não se encontrou
mais com ele. Como não detestar um pai que competia com você
até mesmo a atenção de uma mulher com a qual ele não se
importava?
— Nada – o garçom passou e fiz sinal para encher meu copo
de uísque —, só não é uma boa noite para batermos um papo.
Bati no ombro dele, fiz cara de poucos amigos e me afastei
para o lado vazio da festa para ver se encontrava Kirsten, mas ela
havia evaporado.
— Merda! – praguejei entre os dentes.
Olhei ao redor e não vi sequer sinal. Ela conseguiu fugir de
mim, aquela espertinha. Voltei para o meio da festa e a procurei,
mas nenhum sinal. Onde ela poderia ter se metido? Andei de um
lado para o outro e até peguei outro copo de uísque, mas não a
encontrei. A não ser que ela tivesse ido embora.
— Andreas? – a voz de uma mulher soou atrás de mim.
Era Carlota, uma amiga de infância. Nossas famílias eram
amigas e crescemos brincando durante as férias. Ela havia se
tornado uma bela mulher e estava noiva de Giovanni Cárdomo, um
figurão da máfia. Aliás, ele surgiu atrás dela assim que me virei, o
homem era um grande conhecido e não tive como fugir de
conversar com eles.
Mas notei aquele cabelo cor de fogo do outro lado da sala
passar em direção ao corredor. Kirsten.
— Com licença. – Eu os deixei falando sozinhos e fui naquela
direção.
Quando virei o corredor, eu a vi entrando no banheiro,
sozinha. Não sei o que deu em mim, corri e entrei atrás e empurrei a
porta, entrando, enquanto ela andava de costas.
E então, eu bati a porta e nos encaramos.
Eu com insolência.
Ela estava furiosa.
Kirgtin
CAPÍTULO 6
Sabia que tinha sido uma péssima ideia ir àquela festa com a
possibilidade de me encontrar com Andreas. E ainda com Álamo
depois de ter dito que o filho podia ser dele. Mas eu não tinha
vergonha na cara, e uma força maior do que minha própria vontade
me desafiou a ir e ser indiferente a tudo. A vida me ensinou a ser
forte e fria. Não havia escolha para pessoas como eu, então,
precisava enfrentar o problema de frente e sair do outro lado,
sabendo que alguns me odiariam no fim das contas, me
desprezariam, mas eu sobreviveria.
Quando escolhi aquele vestido para a noite queria estar
bonita, mas acima de tudo, desejava que me olhassem e
soubessem que eu não estava sentindo pena de mim mesma com
medo do que estava por vir. Desde o dia no laboratório, quando
soubemos o resultado do teste de DNA, eu não tive mais notícias de
Andreas. A secretária dele, Cicci, me ligava todos os dias para
saber como eu estava e se havia marcado a obstetra. Eu era
educada e protelava a resposta até que naquela tarde ela me ligou
para avisar que o próprio Andreas havia mandado marcar e eu tinha
uma consulta para dali alguns dias.
Apenas concordei, dali alguns dias eu estaria partindo para
os Estados Unidos com Stefano em uma negociação de vinte dias
no mínimo. Tempo suficiente para eu decidir o que fazer da minha
vida e colocar um fim no meu sofrimento. Porém, o que mais me
irritava era o fato de que ao reencontrá-lo na festa eu senti meu
corpo vibrar.
Eu o vi assim que cheguei ao jardim. Ele estava conversando
com Sophia, sua mãe, e não pareciam muito felizes. Minha primeira
dúvida foi se falavam de mim e da gravidez. Então, Rita, a dona da
festa, veio me cumprimentar e me distraí até que Guilhermo surgiu,
também convidado por mim para a festa. Sequer comentei com
Stefano que levaria o piloto do avião particular até a festa comigo,
sentia que ele diria não apenas para não aborrecer Andreas, como
se ao estar grávida eu pertencesse àquele italiano mandão.
Mas quando nossos olhares se encontraram e enxerguei um
misto de deboche e arrogância naqueles lindos olhos verdes, no
sorriso torto no canto esquerdo dos lábios, eu soube que tinha feito
uma enorme besteira. Eu entrei em terreno minado acreditando que
não me machucaria, mas estava completamente enganada.
Consegui fugir por cerca de quarenta minutos, mas então ele me
achou.
E agora estávamos um diante do outro, nos encarando, eu
não fazia ideia do que ele poderia querer comigo. Me xingar? Me
atacar? Meu coração acelerou quando ele entrou no banheiro e
empurrou a porta que bateu.
— O que pensa que está fazendo? – perguntei brava e
coloquei o dedo em riste.
Para minha surpresa, aquele abusado segurou meu dedo.
Sua pele queimou a minha, seu polegar roçou e fiquei excitada.
Como assim? Guilhermo estava me esperando alto e lindo lá fora,
conversando com um pessoal como se fôssemos parte da alta
sociedade italiana, fingindo que éramos importantes, quando não
passávamos de empregados, e agora, eu estava com tesão por
Andreas?
Tentei tirar a mão, mas para minha surpresa, ele me puxou
para mais perto e meu corpo bateu contra o dele. Bati minha bolsa
de mão em seu peito e ele me segurou com a outra mão para que
eu não caísse. Podia sentir aquela mão grande na base das minhas
costas, me mantendo contra ele.
— Afaste-se! – mandei.
Ele não se moveu um milímetro.
— Como pôde trazer aquele cara na festa da minha família?
– ele questionou bravo.
Era tudo o que faltava! O louco me proibir de ver outros
homens.
— O que você tem com isso? – retruquei com desprezo.
Andreas balançou a cabeça lentamente. Podia sentir sua
pulsação acelerada igual a minha. Porque a gente sempre se sentia
assim quando estava perto um do outro. Não era normal! Ele não
passava de um babaca arrogante como o pai dele era. Não chegava
aos pés do irmão que era educado e gentil. Andreas era o filho
mimado da mamãe, acostumado a ter tudo e todas. Sim. Ele me
teve, mas fim. Nada mais. Sequer aquela gravidez chegaria aos
nove meses e então eu estaria livre dele.
— Tudo – ele falou com um cinismo irritante —, você tem um
filho meu aí dentro e não vou deixar que outro cara te toque!
Por que eu não estava surpresa com uma atitude tão
ridícula?
— Sei… – eu o empurrei e me afastei dele —, e você pode ter
outras mulheres enquanto eu vivo de celibato?
Ele deu um passo ameaçador para mim:
— É isso que você quer? Uma troca? – ele sugeriu.
— O quê? – Eu dei outro passo para trás e meu corpo
encostou na pia. Não havia para onde fugir.
Andreas avançou mais como sempre fazia e embora não
fosse ruim, eu sabia que não era certo, assim não conseguiríamos
manter uma conversa adulta. O corpo dele parecia chamar o meu,
era uma tensão sexual entre nós muito forte, difícil fingir que não
existia, embora eu estivesse firme em meu propósito. Deixei a bolsa
em cima da pia e segurei no mármore, arqueando o corpo para trás
quando ele se aproximou.
— Acredita que não sou capaz de ficar mais vinte e cinco
semanas sem tocar uma mulher apenas para ver meu filho bem? –
ele me desafiou.
Estreitei o olhar, sem poder acreditar. Um homem viril como
Andreas seria capaz de ficar sem sexo por um pouco mais de seis
meses apenas para que eu não tocasse outro homem por causa do
bebê?
— Não acredito – falei sincera.
Ele não me tocava, mas eu o sentia próximo de uma forma
perturbadora.
— Farei isso pelo meu filho, então – ele ficou sério ao olhar
nos meus olhos. Não estava brincando com o que dizia —, vou pedir
aos advogados que coloquem no contrato que do mesmo modo que
você não pode tocar uma pessoa, eu também não posso até o bebê
nascer.
— Isso é impossível! E do que está falando? Contrato?
Ele assentiu devagar, afastou o paletó e levou as mãos aos
quadris.
— Vou fazer um contrato para me assegurar que não vai
fazer uma besteira!
Fiquei tensa e engoli em seco.
— Besteira? – perguntei ainda chocada com aquela história
de contrato.
— Você não é tola, Kirsten. Não achou que depois da
proposta que fiz de dar a você o que quiser em troca do bebê, eu
iria apenas ficar na promessa – ele virou o rosto um pouco de lado
para me encarar com atenção —, um homem como eu precisa de
garantias e se não cumprir com o contrato, você vai para a cadeia!
— Você é louco! Não pode me obrigar, Andreas!
— Posso – ele falou tão tranquilo que isso despertou minha
ira.
Onde estava meu autocontrole? Morreu quando eu
engravidei.
— Vou chamar os jornais e contar o que está fazendo! –
ameacei.
Ele deu um sorriso petulante, com um ar de vitória que me
fez apertar mais o mármore para não lhe dar um tapa no rosto.
— E do lado de quem você acha que vão ficar? Você está em
um país católico, que é contra o aborto – ele falou sem se exaltar —,
a opinião pública vai acabar com você e o escândalo será tão
grande, que você não terá alternativa…
Não havia pensado sobre isso. Ameaçar Andreas não me
levaria a lugar nenhum. O negócio seria fingir fazer o jogo dele,
deixar que falasse e partir para a América e lá resolver o meu
problema. Na América, ele não poderia me impedir, ele não tinha
tanto poder assim e como Stefano me dava alguns dias de folga no
fim da viagem, eu teria tempo para executar meu plano.
Ergui o queixo num gesto de desafio.
— Arrependo do dia em que fiz a besteira de transar com
você! – falei com raiva e desprezo.
— Mentirosa – ele disse arrogante —, você adorou…
— Prefiro dormir com um porco! – eu me exaltei.
Ergui as mãos para empurrá-lo para que saísse da minha
frente. Andreas provocava o pior que havia em mim. Quando toquei
seu peito e o empurrei, ele sequer saiu do lugar, apenas segurou
meus pulsos e me empurrou de volta contra a pia. Sua respiração
era pesada contra a minha, seu corpo todo dominando o meu, ele
era mais forte, contudo, não me machucava como esperei que
fizesse. Ao contrário, ele apenas me segurava, me mantinha firme
entre ele e a pia. Senti seu pau duro contra o meu ventre e meu
clitóris pulsou de vontade de beijá-lo quando aqueles lábios se
aproximaram dos meus.
Não podia deixar acontecer, seria o meu fim.
— Me solte! – sussurrei contra sua boca.
Ele não respondeu. Apenas baixou os olhos para os meus
lábios e soltou um gemido leve, de um homem que está cansado de
se controlar. Sabia exatamente o que ele estava sentindo porque
era assim que eu me sentia, era tão intenso que chegava a doer e,
para piorar, eu pensei nele todas aquelas semanas, mesmo quando
me masturbava era com Andreas que eu fantasiava. Ele era perfeito
na cama, tinha uma pegada avassaladora, contudo, precisava me
recordar que estava grávida dele e ele queria me obrigar a ter o
filho, e não apenas me pedindo, mas me ameaçando!
Minha respiração ficou mais intensa, pronta para empurrá-lo
ou gritar, qualquer forma de afastá-lo, contudo, ele me beijou.
Aquela boca quente sobre a minha me devorava, me engolia e
sugava toda minha resistência. Nunca me senti tão submissa ao
desejo de um homem, tinha certeza que se ele me pedisse para
ajoelhar e chupá-lo ali mesmo, eu faria sem questionar e ainda
agradeceria.
Fiquei atônita com a força do desejo e a forma como estava
vivo entre nós depois de tantas semanas longe um do outro, e pela
forma como nos tratamos com hostilidade. Gemi contra sua boca e
ele aprofundou o beijo.
A porta do banheiro foi aberta e ele se afastou depressa,
contra a vontade. Ainda segurava meus pulsos quando olhamos
para a porta e vimos uma convidada meio bêbada rir e pedir
desculpas e sair, deixando a porta aberta. Era a deixa para fugir dali,
tirei meus pulsos daquelas mãos e corri para fora. Tinha certeza que
estava terrível, o batom borrado, mas não me importei, corri para
fora e Guilhermo veio na minha direção.
— O que aconteceu? – ele perguntou preocupado parando
diante de mim e evitando que os outros convidados notassem minha
maquiagem borrada.
— Nada, eu preciso ir embora – olhei para minhas próprias
mãos e vi que havia esquecido a bolsa no banheiro —, pode me
levar, perdi minha bolsa.
Estava disposta a pegar um táxi e correr para o aeroporto e
desaparecer no mundo. Mas tinha a sensação que ele me
encontraria. Estremeci apenas por pensar que eu era a caça e ele o
caçador. Era tão sem sentido ficar excitada com uma situação como
aquela.
— Claro – Guilhermo assentiu e discretamente, ele me
abraçou e fomos em direção à porta.
Fui para o apartamento de Stefano, onde estava hospedada
com ele e sua namorada Luna. Eu os vi chegando na festa quando
eu estava partindo, por sorte não me viram. Sequer tive coragem de
chamar Guilhermo para subir, nós teríamos tempo para ficar a sós e
curtir antes de Stefano voltar para casa. Contudo, não conseguiria.
Não com medo de Andreas, eu queria que ele fosse para o inferno.
Mas por mim, não estava no clima para transar. Talvez chovesse
mais tarde, eu nunca perdia uma boa transa.
— Você vai ficar bem? – ele perguntou sério.
— Sim – assenti sem graça —, e desculpa…
— Não faça isso – ele me pediu, cortando a conversa —, o
que quer que tenha acontecido lá, eu não vou te julgar…
Forcei um sorriso sem graça. Por que não era esse tipo de
homem doce e cavalheiro que povoava minha mente? E sim um
babaca arrogante que queria destruir a minha vida! Um homem
capaz de tudo para conseguir o que desejava.
— Obrigada – foi tudo o que consegui dizer, desci do carro e
subi para o apartamento.
Arranquei a roupa e tomei uma ducha gelada antes de vestir
meu pijama e cair na cama. Relembrei o beijo e passei as mãos nos
lábios. O gosto de Andreas parecia impregnado na minha boca, eu
nunca me senti tão envolvida com um homem antes. Será que tinha
a ver com o bebê? Suspirei com pesar e fiquei arrasada. De repente
senti um peso incomum sobre os ombros, como se o mundo que eu
tinha o controle estivesse prestes a despencar sobre mim.
Talvez tivesse despencado, e eu só fingi que não. Como
sempre, eu era boa em fingir.
Andreas
CAPÍTULO 7
Estava sentado na sala ampla do meu apartamento em Milão.
Olhei para meu cachorro Zeus, um Pitbull branco de olhos azuis, e
para meu vira-lata branco e marrom, Asthor, que era um quarto do
tamanho de Zeus e que mandava na casa.
— Quem foi que comeu meu chinelo pela segunda vez essa
semana? – perguntei olhando de um para o outro.
Eles estavam diante de mim me olhando como se nada
tivesse acontecido. Eu sabia que era Asthor, criei Zeus com tanta
tranquilidade que ele podia lembrar facilmente um Bulldog Inglês.
Quem cuidava do apartamento era Asthor, bem como era ele que
latia para as visitas, para o passarinho que parava na janela ou
qualquer coisa que se mexesse ao nosso redor. Enquanto Zeus
gostava apenas de brincar com uma bola furada e suas galinhas de
plástico, Asthor adorava os meus sapatos e chinelos, e infelizmente,
esqueci um na varanda, perto da piscina na noite anterior.
— Se ninguém responder, os dois vão ficar de castigo! –
ameacei com o dedo em riste.
Zeus fez um barulho engraçado, como se estivesse bufando
e deitou. Era a mesma expressão que meu irmão Stefano fazia
quando sempre levava a culpa pelas coisas erradas que eu fazia.
Ninguém acreditava que uma criança cinco anos mais nova fosse
capaz de colocar fogo na roupa da babá. Mas eu era. Não tinha
parada ou educação, mas com o tempo fui forçado a mudar. A vida
cobra.
— Quem foi?
O som do toque do meu celular interrompeu aquele interlúdio.
Zeus saiu para um lado e Asthor para outro.
— A conversa não terminou! – avisei antes de atender ao
telefone.
— Boa tarde, Senhor Cardinali.
Era Cicci, minha secretária.
— Boa tarde, Cicci – respondi e encostei no sofá de couro
preto que rangeu com o meu movimento.
— Não tão boa tarde, Senhor Cardinali – ela foi direta como
sempre.
Minha secretária era mãe de três filhos, uma senhora de meia
idade, excelente profissional, e de quem nunca chamei a atenção,
jamais se atrasou para o trabalho ou fiquei preocupado que ela
estivesse fazendo algo nas minhas costas. Ela trabalhava comigo
há anos e sequer discutimos.
— O que aconteceu?
— A Senhorita O’Brien não apareceu para a primeira consulta
– ela me avisou.
Respirei fundo e deixei o ar sair como um bufar. Por que será
que eu não estava surpreso? Sabia que Kirsten não facilitaria para
mim. Aquela feiticeira de cabelos vermelhos que me fez perder a
cabeça e beijá-la no meio de uma festa da forma mais improvável
possível, era rebelde, ela não me ajudaria a tornar tudo mais fácil
para nós dois. Ao contrário, sentia que quanto mais a ameaçasse,
mais ela escorregaria para longe. Pelo menos foi o que a minha
terapeuta disse na última consulta e parecia fazer sentido. Porque
desde a festa não nos vimos mais, e a bolsa e o celular dela
estavam comigo. Não fui atrás dela para levar nada e ela sequer se
deu ao trabalho de me ligar e perguntar se estavam comigo. E isso
já fazia quase quarenta e oito horas.
Mulher atrevida!
— Não se preocupe, ligue para a obstetra e diga que vamos
atrasar, vou resolver isso – avisei e desliguei.
Levantei e fui para o meu quarto me vestir. Joguei o chinelo
no lixo do banheiro, teria que comprar outro mais tarde. Coloquei
minha calça jeans, uma camisa polo verde e sapatos. Não acionei o
motorista e eu mesmo dirigi até o apartamento de Stefano onde eles
ficavam hospedados quando estavam em Milão. Meu irmão deveria
estar em casa lambendo a própria ferida já que ele e Luna haviam
brigado por causa do meu pai durante a festa. Era uma longa
história, o fato é que Luna foi embora sem olhar para trás e
apaixonado como meu irmão estava, acreditava que deveria estar
sofrendo de amor pela primeira vez na vida.
E não errei quando o porteiro o avisou que eu estava na
recepção e ele me deixou subir. Quando cheguei ao apartamento,
Stefano estava de moletom e com cara de quem bebeu até perder
as tripas de tanto vomitar. Havia olheiras debaixo dos seus olhos e
ele estava descabelado.
Ele abriu a porta e entrei.
— Veio da guerra? – perguntei, ele me olhou de soslaio e não
respondeu.
— Estou bem – ele mentiu e foi para perto do sofá e se jogou.
— O que faz aqui?
— Não vim aqui por sua causa – respondi colocando as mãos
no bolso da calça —, onde está Kirsten?
— No quarto de hóspedes – ele respondeu sem
compreender.
— Vou falar com ela – avisei.
— Tudo bem. – Ele não me parou.
Stefano já havia se metido demais naquela história e não
faria de novo. Ele estava com problemas do coração agora, não
tinha tempo para se preocupar com os meus problemas. A verdade
era que ele nunca teve, mas nosso senso de família e amor nos
obrigava a ajudar um ao outro quando necessário.
Fui até o quarto de hóspedes, eu conhecia o caminho de cor.
Durante a minha adolescência, cansei de levar garotas para aquele
lugar antes de comprar meu próprio apartamento em Milão, já que
minha mãe não deixava levar garotas para a nossa casa. Depois
descobri que ela sempre levou seus namorados quando eu não
estava, era uma grande hipócrita, pensei. Bati à porta e ouvi um
abafado entre.
Abri e Kirsten estava vestindo um pijama curto e mexendo na
mala em cima da cama. Ela me viu e arregalou os olhos.
— O que faz aqui? – ela perguntou ainda guardando seus
pertences na mala.
— Aonde pensa que vai? – questionei ao invés de
simplesmente responder.
Esse era meu problema e minha terapeuta cansou de dizer,
eu deveria ouvir as pessoas mais e responder com exatidão. E não
bancar sempre o autoritário.
Kirsten jogou a roupa na mala e se virou para pegar mais
alguma coisa em cima da cômoda.
Pude ver a curva do bumbum naquele short curto e o meu
pau acendeu como um termômetro. Era incrível. Estava com raiva
dela e, ainda assim, eu a queria. Olhei para aquela boca bonita e
lembrei do beijo. Podia beijar de novo se ela também quisesse e a
gente terminaria na cama, qual era o problema?
O problema era um só: eu tinha que me manter focado no
que fui fazer ali e não bancar o macho no cio.
— Estou arrumando a mala, amanhã, eu e seu irmão vamos
para os Estados Unidos – ela respondeu de mau humor.
Que merda! Ela ficaria tanto tempo fora da Itália e em um
país onde o aborto era livre. Seria como dar a arma para ela atirar
na minha cabeça! Mas não discutiria isso com ela agora, era o
trabalho dela e eu não podia pedir ao meu irmão que a despedisse
para ficar de olho nela e prendê-la na Itália em algum lugar que eu
pudesse vigiá-la. Essa era a minha vontade, mas minha educação
me impedia. Era primitivo, eu admitia, mas funcional.
— Você não foi na consulta – avisei.
Ela me olhou como se recordasse apenas naquele momento.
Minha raiva diminuiu, afinal, Kirsten talvez apenas tivesse se
esquecido e não estivesse fazendo pirraça.
— Esqueci – ela admitiu colocando mais coisas dentro da
mala —, e ainda por cima perdi meu celular na festa. Seu irmão
tentou achar, mas ninguém viu.
Estreitei o olhar. E ela não pensou em me ligar para saber se
estava comigo? Sei… orgulhosa, era bom saber que ela possuía um
ponto fraco e que poderia usar contra ela num futuro próximo.
— Está comigo, guardei depois que você foi embora após me
beijar daquele jeito devasso – debochei.
Ela revirou os olhos.
— Você me beijou! – ela me acusou apertando a calça jeans
que segurava.
— Eu sei – sorri com malícia —, só queria ver você brava!
— Quantos anos você tem? Cinco? – Kirsten perguntou
impaciente e jogou a calça dentro da mala.
— Troca de roupa – mandei —, a médica está esperando
pela gente.
— Eu não vou! – a resposta foi imediata e rebelde diante da
minha ordem.
Esqueci completamente do conselho que a terapeuta me deu.
Trate bem e você terá tudo dela. Faça-a pensar que você é gentil e
que está do lado dela, mas quer ter o filho! Aprenda a se comunicar,
Andreas. Mas a vida toda eu só mandei e pronto, estava tudo
resolvido. Fazer a vontade das pessoas e ser gentil não eram bem
palavras que estavam no meu curto dicionário da vida.
— Kirsten. – Dei um passo em sua direção e ela segurou o
vestido entre nós como se assim estivesse segura.
Kirsten era muito estranha. Era a primeira mulher que eu
conhecia e que queria fugir de mim mesmo me desejando. Quando
uma mulher me desejava a gente terminava na cama, e não
brigando e querendo se matar como era nossa vontade agora.
— É apenas uma consulta para saber se o bebê está bem –
falei mais calmo —, ninguém vai te amarrar ou qualquer outra coisa,
é pelo bebê.
— A resposta é não – ela foi firme —, ainda não estou
preparada para isso! Simplesmente não posso!
Tentei ser gentil e até falei baixo e firme, mas civilizado.
Argumentei, e ela quis bancar a mulher mimada e mal-educada.
Tudo bem. Vamos para o meu plano original. Perdi a paciência.
— Você vai! – disse com o dedo em riste.
— Quero ver me obrigar!
Dei mais um passo para ela. Arranquei o vestido da sua mão
e a joguei no meu ombro sem qualquer dificuldade. Ela começou a
gritar e bater nas minhas costas como uma maluca.
— Me larga, Andreas! – ela gritou enquanto eu saía do
quarto. — Estou de pijama.
— Foda-se! Eu te avisei e ainda fui gentil!
Caminhei com passadas largas e passamos pela sala.
Stefano não me impediu, ele apenas correu e abriu a porta para que
eu passasse. Kirsten começou a gritar por socorro, mas tanto os
corredores quanto o elevador estavam vazios.
— Você não pode me obrigar a fazer o que não quero! – ela
gritou dentro do elevador. — Seu troglodita! Selvagem!
Não respondi. Fiquei tranquilo esperando o elevador chegar
ao primeiro andar. Então saí, o porteiro correu para abrir a porta
para que eu passasse, com certeza Stefano ligou para ele e Kirsten
parou de gritar quando notou que chegamos à portaria.
— Vou matar você! – ela murmurou por entre os dentes.
Desarmei o alarme do carro e abri a porta, eu a joguei lá
dentro e travei o alarme de novo. Ela tentou sair, mas não
conseguiu. Sorri satisfeito e dei a volta. Destravei o alarme e entrei
rapidamente, impedindo-a de sair segurando seu pulso. Ela tentou
se soltar e quando não conseguiu, avançou com os dentes contra a
minha mão. Aproximei minha boca de seu ouvido e disse:
— Se você me morder, eu vou te beijar de novo – ameacei.
Ela ficou tensa e retrocedeu. Avancei contra ela e se
encolheu. Peguei o cinto de segurança e passei por ela e o prendi.
Quando me afastei, ela relaxou e coloquei o meu próprio cinto,
antes de ligar o carro e sair dali em alta velocidade.
— Você deveria ser preso! – ela falou brava.
— E pelo que vão me prender? Por querer levar a mãe do
meu filho ao médico? – indaguei com ironia. — Por que não para de
bancar a louca e aceita que não vai conseguir lutar contra mim?
— Vou lutar, Andreas! Até o fim, não pense que vou ceder,
porque não vou! – ela disse com o dedo em riste.
Liguei o aparelho de som do carro e estava tocando um
refrão de Love and War, Fleurie.
Na vida, no amor, não posso me dar ao luxo de perder
Por um, por todos, eu farei o que tiver que fazer
Você não consegue entender, é tudo parte do plano
Ela cruzou os braços e bufou, virando o rosto para a janela,
ouvindo aquela canção que tinha tudo a ver com o momento. Kirsten
estava lutando pelo que acreditava e eu também. Não desistiria do
meu filho por nada desse mundo, daria toda minha fortuna por ele, e
eu a faria saber disso naquela tarde, convenceria Kirsten a ir até o
fim daquela gravidez custasse o que custasse, seria pela força ou
pela dor se ela continuasse com aquela história maluca de
interromper aquele ciclo maravilhoso da vida.
Kirgtin
CAPÍTULO 8
Passei a maior vergonha da minha vida quando cheguei ao
consultório de pijama, chinelo e uma camisa branca do Andreas por
cima. Ele sempre levava uma camisa no carro para casos de
emergência.
— Você não tem escritório? – perguntei surpresa.
— Não – ele respondeu de forma displicente.
— E como controla os seus negócios?
— Para isso existe celular e notebook. Não preciso estar no
meio de funcionários estressados para comandar o que tenho.
— Nunca ouvi tamanho absurdo!
— Trabalhando para Stefano, tenho certeza que não. – Ele
respirou fundo. — Vamos?
— Você poderia ser ao menos cavalheiro e comprar um
vestido ou algo assim para mim! – falei brava.
— E correr o risco de você fugir e eu ter que te caçar dentro
de um shopping? Seria pior! – Ele abriu a porta do carro. — Vamos?
– insistiu.
E saiu. Ele não abriu a porta para mim e fiquei surpresa.
Homens ricos eram sempre cavalheiros e faziam questão de me
agradar. Ele não fez, não deu a mínima se eu ficasse para trás.
Andreas caminhou até a entrada da clínica e olhou para trás, me
esperando. Resignada e sabendo que ele me levaria no ombro se
eu não fosse, ou até mesmo arrastada, saí do carro. Ouvi o alarme
acionar atrás de mim, enquanto as pessoas que passavam por mim,
me notavam como se eu fosse uma louca.
E eu era.
Soltei meu cabelo e o balancei antes de caminhar com o
nariz empinado. Aprendi, na vida, que não importava o que as
pessoas pensavam, mas como eu me sentia. E eu era uma mulher
linda e poderosa caminhando para perto de um dos homens mais
bonitos e ricos da Itália. Um meio sorriso se formou nos lábios
bonitos quando ele notou minha postura. Eu ignorei aquela covinha
que se formava na bochecha esquerda, Andreas sabia explodir meu
corpo de desejo com um simples sorriso.
Comecei a dobrar a manga da camisa até os cotovelos e me
lembrei do filme UMA LINDA MULHER, quando Julia Roberts veste
a camisa do Richard Gere para eles fazerem compra na Rodeo
Drive, uma das ruas mais caras do mundo. E ele a manda ignorar
todos os olhares. Foi o que fiz e Andreas se colocou do meu lado,
sem realmente se importar. Os filmes de Hollywood serviam para
alguma coisa, enfim, e não apenas alienar.
Chegamos diante da recepção e a moça me olhou
estupefata, mas depois desviou o olhar para Andreas e se
desmanchou em mil sorrisos.
— Senhor Cardinali – ela disse quase gemendo.
Revirei os olhos.
— Temos uma consulta – ele respondeu sério sem dar moral
para a garota.
Ela sorriu sem graça com a frieza dele. Andrea era
impaciente, curto e grosso. E naquele momento agradeci por isso,
vomitaria se eles começassem a flertar na minha frente, somente
por pensar ficava enjoada.
— Sim, Senhorita O’Brien?
— Isso – respondi.
— Preciso de seus documentos ou passaporte – ela pediu.
Olhei para Andreas esperando que ele resolvesse aquela
situação, eu não tinha nada, sequer um sutiã segurando meus
seios. Então, ele que resolvesse! Ele levou a mão na parte de trás
da calça, pegou a carteira e arrancou uma série de várias notas de
quinhentos euros e jogou sobre o balcão.
— Aqui está a identidade dela! – ele avisou sem qualquer
humor.
A moça abriu a boca para falar, mas a voz não saiu.
— Vamos nos sentar e aguardar. Somos o próximo, não é?
Eu detesto esperar… – completou como um aviso para que nos
passasse na frente, me segurou pelo braço e me levou para sentar.
Nós nos deparamos com uma série de mulheres grávidas.
Três na verdade, com suas barrigas enormes que nos fitavam como
se fôssemos alienígenas. O olhar delas primeiro caiu sobre mim e
minhas roupas e depois em Andreas e ficaram mais surpresas,
afinal, ele era uma celebridade, não saía dos tabloides de fofoca,
era normal que soubessem quem ele era.
Para me deixar desesperada, havia apenas um lugar. Pensei
que ele fosse me ceder o banco livre, mas ao invés disso, ele se
sentou e me puxou para sentar no seu colo. Desequilibrei e caí no
colo dele. Olhei para ele sem poder acreditar.
— Sério?
— Você quer sentar no chão? – ele perguntou como se fosse
a única solução.
— Você poderia ser cavalheiro e me deixar sentar sozinha no
banco – murmurei para ele.
— E por que eu faria isso?
A pergunta dele me fez revirar os olhos. Ele definitivamente
era o oposto de Stefano, ou talvez meu chefe fosse exatamente
igual e eu não convivia com esse lado sombrio dele. Ele relaxou,
mas logo senti alguma coisa ganhando vida bem embaixo da minha
bunda. Cruzei os braços e estreitei o olhar ao fitá-lo.
— O que foi? – perguntou como se nada estivesse
acontecendo.
— Controle-se! – mandei por entre os dentes.
Ele riu alto e todos se voltaram para nós.
— Você é muito divertida, querida – ele brincou comigo e
piscou daquele jeito charmoso que apenas ele era capaz de fazer e
então olhou ao redor —, minha namorada é muito espirituosa.
As mulheres ao redor sorriram e me fitaram com inveja.
— Não sou sua namorada! – sussurrei para que apenas ele
ouvisse.
Andreas me fitou com uma maldade que fez meu corpo todo
se arrepiar.
— Quer que eu diga a essas senhoras grávidas e gentis que
você é assistente do meu irmão, amante do meu pai, mas acabou
grávida de mim? – ele debochou.
— Você não faria isso – mal movi os lábios ao falar.
— Quer apostar?
Nós nos enfrentamos com o olhar e então ele abriu a boca
para falar e eu a tampei rapidamente.
— Fique quieto! – mandei e ele riu debaixo da minha mão.
A vibração de sua voz me fez tremer inteira, não pude deixar
de imaginar aquela boca descendo pelo pulso e indo a lugares
maravilhosos. Andreas era o melhor playground onde eu havia
brincado até hoje, infelizmente. Precisava encontrar um que
superasse ou enlouqueceria. Não conseguia entender o motivo,
afinal, uma trepada era apenas sexo casual, não envolvia nada além
de prazer, e por que eu estava encantada com aquele homem
depois de tantos parceiros? Não fazia sentido!
Tirei a mão de sua boca e limpei no short como se estivesse
com nojo, mas eu estava excitada. Ele olhou para a mulher ao
nosso lado, ela deveria ter trinta anos ou mais.
— Ela é geniosa e mimada – ele comentou.
Ela sorriu como se o compreendesse.
— Mulheres ficam caprichosas durante a gravidez – ela
observou simpática.
Não era caprichosa, eu o odiava. Era diferente.
— De quanto tempo está? – ele perguntou com gentileza,
parecia até ser um cavalheiro.
— Vinte e oito semanas e vocês?
— Treze semanas – ele respondeu —, a gente estava
tentando há muito tempo e no dia do meu aniversário conseguimos.
Apertei seu braço para que parasse de mentir, mas ele não
estava disposto a parar aquela brincadeira.
— Que lindo! É muito bonito quando o casal quer tanto e
consegue – ela falou inocente da brincadeira idiota que ele fazia.
— Estou ansioso para pegar meu filho no colo – ele
confessou à mulher —, o seu é menino ou menina?
— Menina e vai se chamar Laura…
Ele assentiu devagar.
— Nós ainda não sabemos o que é. É nossa primeira
consulta – ele continuou falando animado.
E de repente, o vi relaxar e senti que não estava me
provocando mais.
— Você parece ansioso… – ela observou com um sorriso.
— Muito, a família é a coisa mais importante na minha vida.
Eu morreria pela pessoa que amo e com meu filho não seria
diferente…
A mulher pareceu emocionada e eu senti um frio na barriga.
Aquilo significava que ele não me deixaria em paz e que havia
humanidade nele. Eu tinha que admitir que outro homem teria
pagado o aborto sem pestanejar, mas Stefano queria tanto a criança
que fez meu coração ficar apertado de repente.
Pare com isso, Kirsten, disse a mim mesma, ele é seu inimigo
e o carinho que ele tem pelo bebê não significa nada. Homens são
predadores, não têm instinto maternal.
— Que coisa linda de ouvir – a mulher falou e todas ao redor
fizeram own.
Ele sorriu satisfeito e olhou para mim. Eu desviei o olhar para
a porta do consultório que estava aberta e uma mulher grávida saiu.
Ela usava um vestido amarelo e estava enorme, andando como uma
pata. A atendente foi para dentro da sala e voltou segundos depois,
dizendo da porta:
— Senhorita O’Brien – ela chamou.
Levantei depressa e sem esperar Andreas, fui para o
consultório. Tinha certeza que ele estava bem atrás de mim e não
adiantaria falar para ficar longe. Ele não ficaria. Uma senhora
grisalha e alta saiu de trás da mesa ajeitando os óculos e sorriu para
mim ao estender a mão.
— Senhorita O’Brien – ela me cumprimentou e deu um
sorriso mais amplo ao notar Andreas —, Andreas, como vai?
— Bem. – Ele apertou a mão dela.
— Como está sua mãe? – Ela quis saber com carinho.
— Está bem – ele olhou para mim quando ficou ao meu lado
—, a doutora Rossoni é obstetra há muitos anos, eu nasci pelas
mãos dela.
— Exatamente – a mulher sorriu com orgulho —, vamos nos
sentar.
Andreas puxou a cadeira para que eu me sentasse e seu
primeiro ato de cavalheirismo me surpreendeu. Sentei e ele ficou ao
meu lado.
— Em que posso ajudá-los? – a mulher perguntou ao se
acomodar do outro lado da mesa.
— Nós estamos grávidos – Andreas contou com um sorriso
—, e queremos saber se está tudo bem com o bebê.
— Claro – ela me fitou e pegou um papel em cima da mesa
—, qual é seu nome completo Senhorita O’Brien?
E nos dez minutos seguintes ela fez perguntas pessoais e
depois quando foi minha última menstruação, sobre eu tomar
medicação ou ter algum problema de saúde. Fiquei constrangida
nesse momento, mas não podia mentir para a mulher, estava
apenas constrangida pela presença de Andreas. Mas liguei a tecla
do foda-se. Disse o nome do remédio que eu fazia uso contínuo e
ela me fitou surpresa.
— Há quanto tempo você está tomando?
— Desde os quinze anos – comentei.
Ela assentiu devagar.
— Algum problema cognitivo? – Ela quis saber.
Ela era médica e estava apenas fazendo uso do seu trabalho
para me ajudar. Comprimi os lábios e a encarei para responder,
sentindo meu rosto queimar de vergonha ao responder:
— Sim – respondi.
Ouvi Andreas remexer na cadeira ao meu lado e não
consegui sequer olhar para ele. A última situação que eu precisava
era ver no rosto dele a reprovação e o julgamento. Respirei fundo e
controlei o tremor das minhas mãos.
— Entendi – a doutora assentiu —, vou querer que passe por
um psiquiatra para saber se será necessário o uso desse remédio
ou se podemos mudar para outro mais leve ou simplesmente parar
durante a gestação.
Aquiesci e compreendi perfeitamente. Provavelmente, o
médico pararia com a medicação ou alguma terapia alternativa.
— Você fazia uso do anticoncepcional – ela comentou ao ver
as anotações da minha ficha —, o médico lhe explicou que esse
remédio de uso contínuo pode diminuir o efeito do contraceptivo?
— No meu caso, esqueci de tomar um comprimido, por isso
fiquei grávida – fiquei mais envergonhada ao revelar aquele detalhe
na frente de Andreas —, só notei quando descobri que estava
grávida e vi o remédio caído dentro da bolsinha.
— Acontece mais do que imagina – ela me consolou.
Se eu não tivesse bancado a orgulhosa e tivesse ido à
consulta, Andreas não estaria ali e ele não precisaria saber
daqueles detalhes constrangedores.
— Vou dar uma camisola a você para se trocar e vamos ver
como está esse bebê pelo ultrassom…
Fiquei nervosa naquele momento, eu não queria ver o bebê.
— Precisamos fazer isso mesmo? – perguntei nervosa e
apertei os braços da cadeira.
— Claro que temos. – Andreas se levantou.
Olhei para ele e vi uma sobrancelha erguida. Sabia que com
ele não havia conversa. Ou fazíamos do jeito dele ou estaria perdida
o resto da minha vida, ele me levaria pelada para aquela mesa.
Respirei fundo e me ergui sem coragem de encarar a médica.
Estava tão tensa que meu corpo tremia como se eu estivesse com
frio. Ela tirou uma camisola da gaveta e me entregou.
— Pode se trocar atrás do biombo – apontou para o outro
lado do consultório —, eu a aguardo na sala ao lado.
Assenti e fui tirar aquela roupa ridícula e me trocar. Estava
me sentindo tão vulnerável como há muito tempo não me sentia. Era
uma situação que não esperava viver: ver que havia uma vida
dentro de mim. Parecia loucura, mas estava apavorada. Fechei os
olhos e fiz uma prece antes de começar a me trocar: que Deus me
ajudasse a passar por aquilo sem surtar.
Andreas
CAPÍTULO 9
Eu a observei ir até atrás do biombo e a médica indicou que
passássemos para uma sala adjacente, onde havia uma maca e o
aparelho de ultrassom. Não demorou e ela surgiu, sem graça, com
aquela camisola aberta na frente. A doutora lhe indicou a maca e ela
deitou, se ajeitando. Rossoni abriu a camisola e uma barriga um
pouco saliente surgiu, fazendo meu coração bater mais forte. Não
havia notado o quanto tinha crescido e pensar que meu filho estava
ali dentro fez meu coração se encher de amor.
Meu bebê. Um Cardinali, sangue do meu sangue estava se
formando dentro daquela pequena barriga. A doutora passou um gel
e então ligou o ultrassom. Ela deslizou o aparelho sobre a barriga de
Kirsten e olhei para a tela, imagens borradas se formavam até que
começamos a ouvir um som forte, rápido, como uma…
— Isso que vocês estão ouvindo são as batidas do coração
desse bebê forte – Rossoni disse e deu um sorriso para Kirsten e
depois para mim.
Senti uma emoção tão aguda que um nó se formou na minha
garganta. Meu filho tinha o coração batendo intenso, como um
touro. Dei um meio sorriso quando ela o apontou.
— Estão vendo? Aqui é a cabeça, os braços, as pernas, os
dedos já estão se formando – ela narrava enquanto eu ficava cada
vez mais encantado. — E ele tem 7,4 centímetros, vai ser um bebê
grande…
Era lindo, a coisinha mais poderosa que podia mudar minha
vida para sempre e eu o queria comigo. Tinha certeza disso.
— Já dá para ver o sexo? – perguntei para esconder a
emoção que havia me tomado.
— Dá, mas podemos fazer isso em um exame mais moderno
e detalhado – ela explicou.
— Eu quero saber o sexo – falei rápido —, quero comprar mil
coisas para o bebê.
Kirsten arregalou os olhos. Acreditei que ela não esperava
uma reação como aquela da minha parte, mas eu faria tudo pelo
meu filho, se ela pensou que estava lidando com um canalha do tipo
aberração que abandona sua cria, estava muito enganada. Sou o
tipo de possessivo onde a família é a coisa mais importante do
mundo e zelaria pelos que amo até a minha morte.
— Calma, ainda tem muito tempo pela frente – a doutora me
freou —, vocês vão ter bastantes semanas pela frente para curtir
cada momento. Cada semana será uma nova descoberta enquanto
o bebê se desenvolve!
Estava empolgado, mas quando olhei para Kirsten, seus
lábios estavam crispados, como se ela não concordasse com nada
daquilo. Pouco me importava, ela que se tratasse com o psiquiatra
dela, eu teria o meu filho! Era a primeira vez que eu via uma
situação como aquela: o homem querendo o bebê e a mulher não. A
maioria dos meus amigos era ao contrário, eles não queriam a
responsabilidade de ser pai enquanto as mulheres sonhavam com a
maternidade.
A doutora Rossoni gravou o ultrassom e me enviou. Eu
mandaria para a minha mãe e toda a família. Ficariam todos felizes
em saber que o bebê estava bem, com exceção do meu pai, eu
ainda não havia dado a notícia para ele. E não estava com pressa
em dar, a última situação que eu precisava era meu pai falando de
seu caso com Kirsten, fazendo comentários grosseiros e eu tendo
que quebrar o nariz dele.
Meu pai não tinha limites e eu precisava colocar alguns.
Quando saímos da clínica, Kirsten foi andando na frente, de
mau humor. Desliguei o alarme do carro e ela entrou batendo a
porta com força. Qual era o problema dessa mulher? Respirei fundo,
me recordando que ela estava grávida e eu não podia explodir com
ela e entrei no carro. Liguei e saí, deixando o ambiente pesado no
mais completo silêncio.
— A médica lhe deu vários exames para fazer – comentei
quando paramos no primeiro semáforo —, vou pedir à minha
secretária que veja um laboratório em Nova Iorque para você poder
fazer enquanto estiver em viagem com meu irmão.
Ela bufou e revirou os olhos, cruzando os braços.
— Não estou a fim de fazer merda de exame nenhum! – ela
respondeu atravessado.
Não sou um cara paciente, definitivamente. E Kirsten me
mantém perto da loucura. Apenas avancei o sinal, fazendo uma
série de carros frearem bruscamente, atravessei o cruzamento e
parei ao lado da calçada, muito furioso.
— Seu maluco! Você quase matou a gente! – ela gritou.
— Minha vontade era essa! – menti.
Ela tentou sair, mas travei as portas.
— Abra a porta! – ela mandou com o dedo em riste.
Abaixei seu dedo.
— Olha, Kirsten! Não quis essa gravidez, não tinha planos de
ser pai tão cedo em minha vida, mas agora que vou ser eu quero
esse bebê!
Ela passou a mão pelo rosto e me encarou.
— Mas o corpo é meu!
Estreitei o olhar.
— Será que mesmo vendo seu filho naquele vídeo,
conseguiu quebrar esse seu coração feito de pedra? – eu a
questionei.
Ela não respondeu, apenas desviou o olhar para frente.
— Qual é o seu problema? – precisei perguntar.
— Não posso ter esse bebê, Andreas! – ela explodiu. — Não
ouviu o que eu disse à médica? Eu tomo remédio controlado, tenho
um problema de saúde e ter o bebê pode ser arriscado!
Ela tentou não chorar, mas as lágrimas rolaram por seu rosto
de forma dolorida. Aquilo tocou meu coração e não gostei de me
sentir manipulado.
— Por favor – ela pediu —, seja razoável?
— Você corre risco de vida por causa da gravidez? –
perguntei sério.
— Não é isso – ela garantiu enxugando as lágrimas.
— O bebê corre risco?
— Não – ela fez que não com a cabeça —, a medicação
provavelmente pode ser mudada, embora não seja recomendado!
— Então, vamos ter a criança! – sentenciei.
— Você é um imbecil! – ela me xingou.
— E o que quer que eu faça? Que eu pague pelo aborto? –
perguntei revoltado.
— É o que os homens fazem! – Kirsten justificou.
— Não sou todos os homens! – disse com o dedo em riste. —
Aprenda isso sobre mim. Faço o que quero e como quero, Kirsten! E
não brinquei que se tiver que amarrá-la a uma cama pelas próximas
semanas até meu filho nascer, eu farei!
— Eu o denuncio! – devolveu também com o dedo em riste.
— Você está sendo repetitiva e me fazendo ficar chato! –
reclamei. — Vamos ter esse filho e pronto! Por bem ou por mal! – a
desafiei.
— Sabe que não pode me obrigar… – Um sorriso de
desprezo surgiu em seus lábios.
— Quer apostar?
Nós nos enfrentamos com o olhar, eu não tinha apenas mais
poder financeiro, eu tinha apoio político e social. Eu era uma
celebridade na Itália, e se precisasse usar da mídia para garantir
que meu filho nascesse, eu o faria.
Ela se calou e cruzou os braços novamente, virando para
frente.
— Me leva para o apartamento do seu irmão – ela mandou.
A minha vontade era de mandá-la à merda. Mas me controlei.
Mulher teimosa do caralho! Se não havia nenhum problema para ter
o bebê, o que eram nove meses? Liguei o carro novamente e saí
devagar, tentando controlar a minha raiva e revolta.
— O que você quer em troca do bebê, Kirsten? – perguntei
de repente.
— O quê? – ela perguntou como se não tivesse entendido.
— Você me entendeu – eu disse enquanto dirigia,
recuperando minha calma —, cada pessoa tem um preço, qual é o
seu?
Ela engoliu em seco quando a fitei rapidamente antes de
voltar a atenção para o trânsito.
— Qual é o seu sonho? O que você mais quer nessa vida, eu
lhe dou. Para mim não há limites… eu pago o preço que for para
você desistir da ideia maluca de interromper a gravidez e permitir
que meu filho nasça!
Ela não respondeu de imediato. Mas descruzou os braços e
observei que ficou olhando para as mãos e pensando. Todos os
humanos sobre a Terra tinham algo que queriam muito. Eu poderia
dar qualquer coisa a ela. Não importava o que fosse, meu dinheiro
compraria qualquer coisa.
— Posso pensar? – ela perguntou de repente me deixando
surpreso.
Pensei que ela fosse gritar comigo de novo, mas ao invés
disso, pareceu mais calma também.
— Tudo isso ainda é muito para mim – ela confessou —,
nunca quis ter filhos, juro. Nunca sonhei com a maternidade, então,
preciso ponderar, Andreas.
Meu sexto sentido dizia para não confiar nela, mas meu lado
humano lhe dava o benefício da dúvida.
— Quanto tempo precisa?
— Pensarei durante a viagem aos Estados Unidos – ela
observou circunspecta —, ficaremos fora quinze ou vinte dias, será
tempo suficiente para quando eu voltar, a gente conversar sério.
— Não sei se posso confiar em você – eu fui sincero —, você
é uma mulher obstinada, Kirsten, e temo que esteja fazendo isso
para me enganar e abortar quando eu virar as costas. Sei que
existem centenas de clínicas de aborto nos Estados Unidos…
— Me dê um voto de confiança, por favor… – ela pediu com
uma voz doce que eu desconhecia.
Fiquei calado, não confiava nela. Na verdade, eu mal a
conhecia, Kirsten era um total mistério para mim e acreditar que ela
não agiria nas minhas costas seria como dar um tiro no pé. Não
respondi e a levei para o apartamento do meu irmão. Subi em sua
companhia e quando entramos, Stefano estava bebendo na sala e
assistindo TV. Aproveitei a deixa para mostrar a ele o ultrassom.
Como eu, ele ficou emocionado.
— É um bebê forte, Andreas – ele disse orgulhoso —, é um
Cardinali!
— Ele já tem quase oito centímetros, Stefano – falei
empolgado.
— Sete e meio – Kirsten corrigiu.
Ergui o olhar e então notei que ela havia voltado para a sala.
Tinha colocado um pijama maior e estendia a minha camisa.
— Obrigada pela camisa – ela falou com ironia.
— Não há de quê! – respondi com a mesma zombaria e fiz
sinal para que ela jogasse em cima do sofá e voltei a dar atenção
para o meu irmão. — Os dedos estão se formando, está vendo?
— O bebê é como um touro! – ele disse animado.
Nós sorrimos um para o outro. Era tão bom ter uma família e
com quem contar. Eu e meu irmão pensávamos da mesma forma e
eu ficaria feliz quando ele e Luna se acertassem e tivessem filhos
também. Meus sobrinhos seriam como filhos para mim. O amor da
família era algo poderoso e forte, inexplicável. Quanto mais o tempo
passava, mais intenso ficava.
— Sim – concordei e então desliguei o celular e olhei para
Kirsten que ainda estava de pé esperando por mim.
Aquela mulher era a mãe do meu filho e sequer o fato de
estar com raiva dela fazia com que eu a odiasse, ao contrário, eu a
desejava mais. Agora mesmo seria capaz de jogá-la sobre o ombro,
levá-la para aquele quarto e despi-la, beijar seu corpo todo, chupá-la
bem gostoso e foder com tanta força que ela gozaria fácil e eu
também.
Não reparei que Stefano olhou de um para o outro e deu um
sorriso malicioso. Ele se afastou sem que eu percebesse, e acreditei
que Kirsten também não o viu sair dali. Estávamos nos encarando
não apenas com desejo, mas havia desprezo por pensarmos
diferente um do outro e nossos objetivos serem opostos.
— Vai me dar um tempo para pensar? – Ela quis saber.
— Não – dei alguns passos em direção a ela —, você vai ter
esse bebê, você não tem escolha.
Ela fechou os olhos e suspirou pesadamente.
— Vai tornar tudo mais difícil?
— Já está sendo complicado – garanti —, você está agindo
de forma irracional. Eu quero o bebê, eu pago, você me dá e vai
embora? Qual o problema?
— Não quero passar pela gravidez… – explicou ansiosa.
— Pago uma plástica com o melhor cirurgião plástico do
mundo e seu corpo ficará até mais bonito do que já é – proferi com
sarcasmo —, e como eu disse, vou dar o que você quiser…
— Então, vai ser na base da guerra – ela concluiu.
— Você quer assim! – encolhi os ombros mostrando que eu
estava sem alternativa.
Ela bufou.
— Está me fazendo odiá-lo, Andreas!
— Que pena! – falei com ironia. — Não dou a mínima! Pode
me detestar, fazer até vodu se quiser, contanto que meu filho venha
para os meus braços, o resto é problema seu!
Ela deu alguns passos para trás e encostou o corpo no móvel
perto da parede.
— Você acha que o mundo gira ao seu redor, não é? Que
você pode comprar tudo…
— Sim, eu posso – respondi arrogante —, e vou me certificar
até que você faça o que eu quero, Kirsten. Terá notícias minhas
antes mesmo de subir naquele avião para a América, pode apostar.
É guerra que você quer… eu vou te dar, meu bem.
Pisquei para ela e fui embora sem olhar para trás.
Kirgtin
CAPÍTULO 10
Não posso acreditar que Andreas fez isso.
Sentada dentro do avião particular de Stefano durante a
viagem para os Estados Unidos, eu li mais uma vez a manchete do
principal jornal de Roma:
CEO DA TECNOLOGIA PROCESSA AMANTE
E na linha fina:
Andreas Cardinali processa a amante para que ela leve a gravidez
até o fim.
Respirei fundo pela milésima vez e amassei o jornal antes de
olhar pela janela e ver o oceano lá embaixo. Não era possível que
ele tivesse ido tão longe, mas ele foi. Fiquei sabendo porque
naquela manhã um oficial de justiça apareceu na porta do
apartamento de Stefano e fui intimada a depor na delegacia onde
ele prestou queixa antes de entrar com o processo. Fiquei por uma
hora dando depoimento, estava sendo acusada de ameaçar abortar
o bebê que levava, o que na Itália era crime.
Fui obrigada a assinar um termo diante dos advogados de
que eu não poderia comparecer a nenhuma clínica de aborto nos
Estados Unidos sujeita à pena e detenção caso a ordem judicial
imediata fosse quebrada. Eu teria que voltar para a Itália e me
apresentar perante a justiça e não poderia fazer nada sem
conhecimento do juiz, até que a sentença fosse dada.
Não se falava em outra coisa nas redes sociais do mundo
todo. Todos os sites comentavam sobre a mulher louca que queria
abortar a criança e o pai que queria o bebê.
Até onde vai a escolha da mulher quando o pai quer a
criança? Perguntou um jornalista durante o jornal da hora do
almoço.
Eu estava sendo xingada de todos os nomes possíveis e
impossíveis na internet, a sorte é que ninguém sabia meu nome
porque o processo corria em sigilo. Desliguei meu celular, passaria
os próximos seis meses sem entrar na internet até esquecerem o
assunto. Mesmo assim, uma sensação de impotência e raiva me
tomava. Minha vontade era de chegar na América e desaparecer no
mundo, mas isso daria muito trabalho, e não duvidava que os
Cardinali me encontrariam. Às vezes, tinha a sensação de que
Andreas na verdade era um mafioso perigoso e não apenas um
CEO e herdeiro rico.
E ele era insolente e determinado e eu o subestimei, nunca
imaginei que ele fosse tão longe, que faria um escândalo a ponto de
me colocar contra a parede. Só consegui deixar a Itália porque
Stefano assinou um termo que estaríamos de volta e ele me traria.
A que ponto cheguei… eu me sentia sequestrada, refém dos
meus erros e da loucura de um homem possessivo. Stefano
também não estava de bom humor, desde sua briga com Luna na
festa de sua mãe, ele mal falava, por isso sequer conversamos.
Aquela loucura toda do Andreas atrasou a viagem e quando
chegamos em Nova Iorque fomos direto para reuniões. Chegamos
no hotel de madrugada e fui direto para o meu quarto tomar uma
ducha, os enjoos haviam diminuído naquela semana e eu me sentia
melhor. Além disso, a doutora Rossoni havia me dado vitaminas e
um remédio para vômito em casos extremos.
Estava exausta quando finalmente deitei na cama e peguei
meu celular desligado. Liguei e assim que pegou rede, uma
mensagem chegou atrás da outra. Era Andreas perguntando como
eu estava e como tinha sido a viagem, se estava tudo bem. O que
me irritava era que tudo que ele fazia era pelo bebê, não que tivesse
que ser por mim, mas chegava a ser irritante.
Revirei os olhos, pensei em não responder. O que ele queria
que eu dissesse? Obrigada por me processar e me obrigar a ter um
bebê? Que ódio! Respirei fundo e joguei o celular de lado. Ele que
perguntasse para Stefano, eu pouco me importava. Acabei
dormindo e acordei cedo para uma sucessão de reuniões com meu
chefe mal-humorado.
— Nenhuma notícia de Luna? – ele me perguntou quando
voltávamos para o hotel no fim da tarde no táxi.
— Não, senhor – respondi com pesar.
Eles estavam tão felizes naqueles últimos meses e então
tudo acabou e Luna não dava notícias há dias, isso estava matando
Stefano.
— Por que não liga para ela? – eu me intrometi.
Ele apenas balançou a cabeça em negativa.
— Ela me pediu para deixá-la resolver as coisas do seu jeito
e eu vou respeitá-la – ele comentou olhando para as ruas
movimentadas de Nova York.
Soltei um doloroso suspiro, por que Andreas não era sensato
como seu irmão e me deixava em paz para pensar em tudo aquilo?
Ele fazia uma proposta e sequer me deixava pensar, no outro
segundo estava me empurrando para fazer a vontade dele. E eu
odiava isso: não ter escolha.
Fiquei surpresa quando não vi nenhuma mensagem dele em
meu celular. Estava deixando o aparelho no hotel para evitar mexer
e ficar vendo o que falavam da suposta amante de Andreas e sua
escolha em querer interromper a gravidez. Era uma mistura de ódio
e amor. Alguns queriam me jogar na fogueira e me queimar, outros
me apoiavam. Fiquei me perguntando por que as pessoas não
cuidam da própria vida ao invés de ficar nas redes sociais discutindo
a vida dos outros.
O que mudava na vida delas a minha decisão? Para o bem
ou para o mal, o problema era meu. Mas parecia que a internet e
toda essa exposição exacerbada tirou nosso direito de ir e vir sem
ter que dar satisfação aos outros. Nossa vida parecia um circo que
todos se sentiam no direito de assistir, e por fim, da sua opinião
limitada em suas próprias experiências.
Desliguei o celular outra vez.
Nos dias seguintes, Andreas não me mandou mais
mensagem e comecei a relaxar e a ficar em paz. Com certeza ele
estava falando com Stefano, mas meu patrão era discreto demais
para tocar no assunto, ele dizia que já havia se metido o suficiente
no começo e agora era a hora de resolvermos tudo sem
interferência dele.
Completei quatorze semanas de gestação. Fiz a besteira de
entrar na internet e pesquisar. O bebê agora deveria ter nove
centímetros e os órgãos sexuais estavam mais desenvolvidos e já
era possível saber o sexo. Ao ler essa informação, levei um choque.
Já dava para saber se dentro de mim havia um menino ou uma
menina? Fechei o notebook depressa e olhei ao redor, nervosa. O
que eu estava fazendo?
Eu me ergui e comecei a andar de um lado para o outro no
quarto de hotel. Depois de sete dias, eu conseguia pensar com
frieza relativa. A verdade era que realmente eu nunca quis ser mãe
ou ter um bebê, mas tinha motivos para isso. Não foi apenas um
não querer, havia algo que me atormentava mais do que qualquer
outra coisa.
Talvez se eu contasse a verdade a Andreas, ele pudesse
compreender meus motivos, mesmo que ainda quisesse ter um
filho. Caso eu fosse franca, saberia que ele estava sendo muito bom
comigo querendo o bebê, afinal, que homem lutava por uma criança
ainda se formando no ventre da mãe?
Recebi uma mensagem no celular e a abri.
Para minha surpresa não era Andreas ou qualquer outra
pessoa que fizesse parte do meu presente.
Eu te vi.
Três palavras que fizeram meu corpo ficar todo tenso. O
número era de Nova Iorque, mas desconhecido para mim. Contudo,
eu sabia quem era. Como me encontrou? Nova Iorque era enorme!
O que você quer?
Respondi.
Vamos tomar um drinque, estou no seu hotel.
Enviou novamente.
Não era a resposta que eu esperava. Com certeza. Como ele
me descobriu? Eu estava há dois anos na Europa, nunca mais nos
falamos e ele conseguiu me ver quando eu coloquei os pés na
cidade? Tirei meu pijama, vesti uma calça jeans, uma camiseta
folgada e chinelos e desci. Era verão e estava bem quente, meus
cabelos amarrados no alto da cabeça de quem está muito cansada
e precisava dormir, porque no dia seguinte teria um dia todo de
trabalho. Cheguei ao saguão movimentado e procurei pelo mendigo,
ou um cara vestido com roupas rasgadas ou sujas. Ou até mesmo
com o cabelo imundo e penteado para trás como ele costumava
fazer.
Contudo, havia um homem de terno e gravata, o cabelo ruivo
bem aparado, os olhos azuis incandescentes e um sorriso tão largo
que eu não o reconheceria se não tivesse convivido com ele nos
últimos vinte e três anos da minha vida antes de partir sem olhar
para trás.
— Dylan? – perguntei me aproximando dele.
— Não a culpo por não me reconhecer. – Ele deu um sorriso
perverso.
Parei diante dele, perplexa.
— O que é isso, maninha? Pensou que era só você que
estava cansada daquela vida?
Meu queixo estava caído, ainda mais quando ele me abraçou
e me deu um grande beijo no rosto.
— Senti saudades… – ele disse.
Afastei dele e o fitei realmente surpresa.
— Quando parti você mal escovava os dentes! – argumentei.
— As coisas mudaram – ele garantiu e moveu a cabeça em
direção ao restaurante do hotel —, vamos tomar um drinque…
— Ainda não abriu – era final de tarde e abriria para o jantar
dali algumas horas.
— Eu mando abrir. – Ele piscou para mim, todo poderoso e
segurou minha mão, me puxando em direção ao restaurante.
Funcionários esperavam por nós.
Dylan, meu irmão mais velho, o cara mais tranqueira e semvergonha que eu tinha conhecido na minha vida, agora parecia um
gentleman.
— Um uísque doze anos, duplo com gelo – ele pediu ao
barman quando nos sentamos ao balcão —, o que você vai querer?
Um Martini?
— Não estou bebendo – garanti —, apenas um suco de
laranja.
Dylan estreitou o olhar para mim, ele parecia um homem
muito bem-sucedido, um galã de cinema.
— Como me encontrou? – precisei perguntar.
— Sou sócio da empresa com quem Stefano Cardinali está
negociando – ele contou com um sorriso travesso.
— O quê? – Balancei a cabeça em negativa. — Quando eu
deixei Nova Iorque você tinha sido preso por tráfico.
— Fui solto e aquilo nunca ficou provado, a verdade é que foi
apagado da minha ficha – ele me contou —, sou um homem limpo,
acima de qualquer suspeita. O prefeito almoça na minha casa…
— Sério? – Eu comecei a rir.
— Pode acreditar – ele me mostrou o Rolex legítimo no pulso
—, não foi roubado.
Nós rimos e o barman entregou as bebidas e depois se
afastou.
— Mas o que aconteceu? – Eu queria saber. Estava surpresa
com aquela mudança radical.
— Bem, quando eu saí da cadeia, descobri que a mamãe
tinha fugido de novo e você tinha ido embora – ele ficou sério e
sorveu a bebida antes de seguir —, comecei a viver nas ruas. Daí
um dia conheci uma garota que trabalhava com assistência social.
Bem, ela era linda, gentil, seu nome é Sara. Começamos a ficar
amigos, e eu senti que podia ser um homem melhor por causa da
Sara…
— E onde ela está agora?
— Calma, eu não matei a Sara – ele disse e riu —, a verdade
é que ficamos amigos e meses depois de recuperado e longe das
drogas, a beijei e disse que queria dividir o pouco que tinha com ela,
se ela toparia…
— Ela te deu o fora? – perguntei com receio.
— Não, ela aceitou e então descubro que a minha Sara é
herdeira única de um dos maiores conglomerados de indústrias da
América – ele finalizou e bebeu mais.
Dei um gritinho e depois tampei a boca, rindo.
— Isso é hilário? É a Cinderela ao contrário?
— Digamos que sim, mas não fiquei com ela por interesse,
aliás, nós brigamos quando eu descobri que ela me escondeu a
fortuna para que tivesse certeza que eu a amava tal como era – ele
revirou os olhos —, mulheres, você sabe…
— Não estou acreditando – toquei o braço dele em cima do
balcão —, eu fico muito feliz por você, de verdade. Pensei em você
todos esses anos, mas não tive coragem de ligar.
Ele ficou sério e assentiu devagar.
— Compreendo, Kirsten – ele me encarou com pesar —, eu
soube que você estava em Roma trabalhando para Stefano
Cardinali, pedi que um detetive a encontrasse e preferi ficar fora da
sua vida quando vi que estava bem…
Fiquei emocionada, de repente. Uma novela passou pela
minha cabeça. Nossa infância difícil, tudo o que passamos, a
pobreza, e agora estávamos em um hotel de luxo nos
reencontrando. Era surreal.
— Eu estou bem – garanti.
Grávida de um homem que odeio, mas estou bem.
— Não parece, achei você tão triste…
Ele me conhecia muito bem e seria difícil esconder a verdade
de Dylan. A gente viveu um pelo outro durante muito tempo.
— Uma bobagem… – resolvi mudar de assunto —, você tem
notícias da mamãe?
— Tenho – ele fez que sim com a cabeça —, depois de
alguns meses casado com Sara, eu refiz minha vida, voltei a
estudar, e então me integrei em alguns negócios dela e com o meu
dinheiro – apontou o dedo indicador —, procurei por vocês e achei a
mamãe.
Por que eu sentia que a notícia não era boa?
— E como ela está?
— Daquele jeito que você conhece… – ele forçou um sorriso
amargo —, se quiser visitá-la, eu a levo…
— Ela ainda mora no Bronx, em Hunts Point? – perguntei
sentindo meu coração apertado me recordando do lugar fétido e
horrível que vivemos durante muito tempo.
— Não – ele respondeu —, agora ela tem um endereço bem
diferente.
Nós conversamos pela próxima hora e então o celular do
meu irmão tocou. Era Sara. Ele me passou o celular e tive meu
primeiro contato com minha cunhada, e pela voz, ela parecia ser um
doce. Combinei jantar com eles naquele fim de semana.
— É muito bom te ver assim – afirmei.
— Também estou feliz de te ver bem – ele me abraçou forte e
quando se afastou, disse —, eu decidi deixar o passado para trás,
Kirsten. Algo me diz que você não conseguiu fazer o mesmo.
Meu estômago revirou pelo meu irmão me conhecer tão bem
e respirei fundo quando ele se afastou e foi embora. Lindo e
poderoso. Nunca imaginei que veria Dylan tão bem, pensei que seu
fim seria dentro de uma vala, suicídio ou overdose. Mas a vida sorriu
para ele, e com Sara ele parecia estar bem.
Ele deu a volta por cima.
Subi para o meu quarto pensativa.
Eu decidi deixar o passado para trás, Kirsten. Algo me diz
que você não conseguiu fazer o mesmo.
Era verdade. Não consegui. A cada segundo meu passado
estava impregnado em minha mente, em meu ser e me impedia de
querer aquela gravidez. Sem pensar duas vezes, ao entrar no
quarto, peguei meu celular e enviei uma mensagem para Andreas.
Me ligue. Precisamos conversar.
E enviei. Meu coração batia forte e minha garganta estava
seca. Pelo fuso horário, deveria ser noite na Itália, talvez Andreas
estivesse se divertindo com muitas mulheres e veria a mensagem
dali alguns dias, ou ele podia me ignorar. Não sei o que era pior, o
ciúme que senti ou o medo dele não me dar atenção.
Para me deixar fazer o que eu queria, Andreas precisava
saber a verdade sobre mim e eu tinha certeza que ele concordaria
comigo quando lhe contasse tudo.
O problema foi que ele leu a mensagem, mas não me ligou.
A indiferença dele mexeu comigo pela primeira vez.
CAPÍTULO 11
Estava sentado na mesa de jantar da casa da minha mãe
com seu novo namorado, Alfredo. Estava cansado de ver aqueles
jovens acreditarem que haviam conquistado o coração de Sophia
Cosmo, eles só serviam para saciar a necessidade dela pela
juventude. Minha mãe não parecia ter a idade que tinha, ela era
confundida com uma irmã mais velha e adorava isso. Revirei os
olhos quando o boy a chamou de meu amor depois de dois dias de
namoro. Não era aquele da festa, já era outro.
Então chegou uma mensagem diferente no meu celular que
me fez levar um choque. Havia salvado o contado de Kirsten como
RUIVA. Há mais de uma semana eu a havia deixado em paz. Não
porque eu quisesse, foi uma ordem do meu advogado para não
prejudicar o processo e a situação se revertesse a favor dela.
Se eu exagerei?
De forma alguma. Eu fiz o que um pai desesperado faria,
avisei Kirsten para não me desafiar, mas ela insistiu com aquela
história de interromper a gravidez. Fui ao extremo e estava certo, eu
queria muito meu filho e ela teria que acatar isso, querendo ou não.
Peguei o celular e abri a mensagem.
Me ligue. Precisamos conversar.
Ergui uma sobrancelha, satisfeito. Isso significava muito para
uma mulher orgulhosa como Kirsten.
— O que aconteceu? – a voz da minha mãe me despertou
dos meus pensamentos.
— Nada… – menti balançando a cabeça em negativa.
— Você estava sorrindo enquanto olhava para a tela do seu
celular – ela comentou.
— Não. – Eu franzi o cenho como se nada estivesse
acontecendo.
— Quem era? A mãe do seu filho?
Havia certo deboche em sua voz. Sophia estava irritada de
ser avó tão jovem. Com certeza, ela apoiaria Kirsten com o fim
daquela gravidez.
— Ela mesma – respondi e empurrei a cadeira para trás para
me levantar —, vou encontrá-la.
Minha mãe me fitou com incredulidade.
— Mas ela não está nos Estados Unidos?
— Sim – respondi empurrando a cadeira para frente.
— Vai atravessar o oceano apenas porque ela te mandou
uma mensagem? – indagou indignada. — Você já foi mais esperto,
Andreas!
— Do que está falando? – perguntei colocando a mão no
bolso da calça.
— O óbvio – minha mãe falou brava —, essa moça está
fingindo que não quer o bebê apenas para tirar dinheiro seu!
Somente você não percebe isso. É um jogo para você se
desesperar e, por fim, dar tudo o que ela quiser!
Eu não era o homem mais esperto do mundo, tinha meus
defeitos e sabia que arrogância era um deles, mas nunca me
considerei mais argucioso que as outras pessoas. Talvez essa
minha humildade tenha me dado certa vantagem porque sou
suscetível a erros, embora não demonstre isso a ninguém. Prefiro
que até minha mãe pense que sou um maldito atrevido e
grandíssimo filho da puta a me passar por fraco. Infelizmente, em
nossa sociedade, a modéstia é confundida com fraqueza.
— Como não pensei nisso! – Levei a mão à cabeça, minha
voz carregada de cinismo. — Ela é a primeira mulher no mundo a se
interessar pelo dinheiro de um homem rico!
Minha mãe fez uma careta de desgosto ao notar minha ironia.
Kirsten não queria meu dinheiro, simplesmente porque por três
vezes fiz a proposta de dar o que ela quisesse e em nenhuma ela se
aproveitou. Ao contrário, estava agarrada à ideia de colocar um fim
à gravidez e nenhum dinheiro parecia capaz de tirá-la do seu
objetivo.
— Não seja irônico! Com tantos homens no mundo e ela foi
engravidar justo de você? Um dos homens mais ricos da Europa? –
ela escarneceu.
Sério que ela queria discutir meu problema na frente daquele
frango? Olhei para ele que estava no mais completo silêncio
olhando para o próprio prato, fingindo não estar ali, menos mal.
Olhei para minha mãe.
— É bom saber que não sou capaz de despertar o amor ou o
mais puro desejo em uma mulher, mãe – falei com desprezo.
— Não quis dizer isso, Andreas! – Ela gesticulou e suas
pulseiras fizeram um barulho irritante.
Aliás, naquele momento, tudo estava me irritando.
— Não? Engraçado, se uma garota pobre engravida de um
cara de sua classe não é interesse, mas porque sou rico, passa a
ser?
Ela me fitou irritada e comprimiu os lábios.
— As mulheres vão querer o que você tem…
— Fico surpreso com suas palavras, como se uma mulher
não tivesse capacidade de conseguir seu dinheiro sozinha –
defendi.
— Deve estar muito apaixonado para permanecer cego
desse jeito! – ela falou brava.
— Não. Estou sendo justo. Muitas mulheres usam o golpe da
barriga? Sim! Algumas, mas com as leis de hoje, os benefícios são
mínimos. Ela não quer a criança, eu quero!
— Só você não percebe que é um jogo, meu filho! – ela
insistiu naquela ideia ridícula.
— Então acha que devo apoiá-la a abortar? – perguntei
bravo.
— Não! Claro que não – ela fez o sinal da cruz —, sabe que
sou contra. Mas não deve correr atrás dela como um cachorrinho
toda vez que ela mandar uma mensagem! – me repreendeu.
Fiquei puto com aquelas palavras.
— Não sou um cachorro e Kirsten é a mãe do meu filho e vou
tratá-la como eu quiser. E se tratá-la bem fere seus conceitos, eu
não dou a mínima!
Dei as costas para sair e a ouvi dizer.
— Você ainda vai chorar no meu ombro, Andreas! – ela me
amaldiçoou.
Odiava quando ela fazia isso. Se ela sabia me irritar, eu sabia
como feri-la. Olhei por cima do ombro e soltei:
— Para uma mulher que era amante de Álamo Cardinali e
engravidou dele a ponto de ele largar a esposa, você é muito
hipócrita!
Ela não esperava por aquele ataque. E não era uma mentira
e sequer uma falta de respeito. Sophia sabia que há muito tempo
deixei de ser o filho bonzinho e me tornei o homem que era, e não
tolerava falta de respeito sequer da minha mãe.
— Se quiser me apoiar, é bem-vinda na minha vida, caso
contrário, não faz diferença, gente para tentar me derrubar tem uma
filha atravessando Roma! – avisei e fui em direção à saída.
Saquei o celular do bolso da calça quando entrei no carro e
liguei para Cicci.
— Boa noite, Senhor Cardinali – ela atendeu de pronto.
E feliz, eu pagava um bônus toda vez que ela atendia o
celular fora do horário de trabalho e ela amava isso.
— Mande arrumar o avião particular, quero partir para Nova
Iorque imediatamente.
— Sim, senhor.
E desligou. Fui para o meu apartamento arrumar minha mala.
Demoraram para conseguir a liberação da pista e sai da Itália de
madrugada. Cicci cuidaria de Zeus e de Asthor enquanto eu
estivesse fora. Não era exagero da minha parte ou posse. Apenas
tinha certeza que uma conversa séria entre eu e Kirsten tinha que
ser ao vivo, e não por telefone. Olho no olho…
Cheguei em Nova Iorque às seis da manhã e fui direto para o
hotel onde ela e meu irmão estavam hospedados. Cheguei na
recepção e consegui um quarto no mesmo andar que o deles. E
algumas notas de euros me garantiram a chave do quarto de
Kirsten. Sorri maldoso quando passei o cartão na porta e abriu. Cicci
havia assegurado que a primeira reunião deles seria às nove da
manhã, então eu teria tempo para falar com ela.
Entrei no quarto sem fazer barulho e fechei a porta. Kirsten
ficaria furiosa quando me visse ali e imaginá-la tendo um ataque de
nervos me deixou satisfeito. Era infantil, eu sei, mas era bom vê-la
agitada na minha presença.
Avancei pela sala e entrei no quarto onde ela jazia sobre a
enorme cama de casal. Prendi o fôlego quando vi aquela deusa de
cabelos vermelhos enrolada nos lençóis, uma perna para fora
naquele pijama curto de renda. Céus! Kirsten tinha ideia do quanto
eu amava renda? A forma como o tecido roçava sua pele macia
quando ela se movia sobre a cama durante o sono?
Ela era gostosa, deliciosa, maravilhosa e meu pau acordou
com vontade de me enterrar dentro dela e ouvir aquela boca linda
dizer meu nome. Era inevitável. E por pensar que ela estava grávida
de um filho meu, a excitação era maior.
Como se sentisse a presença de alguém no quarto, ela
acordou lentamente e abriu os olhos lindos. Ficava muito gata
acordando daquele jeito. Contudo, quando ela virou o rosto para trás
e me viu encostado na porta de seu quarto, ela saltou e se sentou
de uma vez.
— Andreas? O que faz aqui?
Encolhi os ombros e dei um passo para dentro do quarto,
meus olhos lambendo aquele corpo feito para o amor. Ela notou e
puxou o lençol contra o peito.
— Como entrou no meu quarto?
— Muitas perguntas – eu ergui as mãos no ar —, fique calma!
Você me mandou uma mensagem dizendo que queria conversar e
eu apenas acatei sua vontade.
Ela arregalou os olhos, embaraçada.
— Eu disse para você me ligar, e não para viajar e vir até
aqui!
— Não gosto de conversar por telefone – falei parando aos
pés da cama —, você fica linda quando acorda, sabia?
Kirsten mordeu o lábio inferior e me fitou indecisa. Ela
também sentia o desejo tomá-la. Ela era uma mulher ativa, devia
estar sem sexo há semanas, afinal, eu mantive um detetive atrás
dela desde o dia que Stefano me ligou dizendo que ela estava
grávida. Tirando o piloto do avião que foi duramente ameaçado
pelos meus seguranças e nunca mais se aproximaria dela, não
havia mais ninguém. Então, ela estava em abstinência de prazer e
sexo do melhor.
— Isso é invasão! Posso chamar a polícia e prestar uma
queixa! – Ela ergueu uma sobrancelha em desafio.
— Pode. – Tirei meu paletó e joguei no chão, depois desatei
o nó da minha gravata.
Tirei os sapatos empurrando com o pé e fiquei de joelhos na
beirada da cama.
— Mas acredito que antes a gente pode se divertir juntos…
Ela se encolheu, dava para sentir que um lado dela queria
fugir de mim, mas o outro ficou tentado a aceitar a proposta. Aquele
desafio fez meu sangue ferver, adoro quando tenho uma boa aposta
e sentia que podia perverter aquela porcentagem de sacanagem
que havia em Kirsten. Como eu, ela era uma jogadora e gostava
muito de sexo.
— Não quero – ela disse séria e apertou mais o lençol.
— Eu sei que não, e minha consciência me diz para ficar bem
longe de você, Kirsten – andei de joelhos e fiquei diante dela.
Kirsten ergueu a cabeça para me encarar —, mas tenho pensado
muito naquela noite que ficamos juntos e quero te foder gostoso.
Ela entreabriu os lábios e um gemido escapou levemente.
Seus olhos ficaram escuros e eu sabia que se enfiasse a mão entre
suas pernas, a encontraria molhada. Segurei seu lindo rosto entre
as mãos e a fitei com cobiça, a mais crua e poderosa necessidade
de ter uma mulher entre os meus braços.
— Seja minha – pedi acariciando seu rosto com o polegar —,
brigamos depois.
— Vou me odiar se permitir que aconteça – ela sussurrou
fitando os meus lábios.
— Então não vamos perder tempo… é só sexo, Kirsten. Não
se preocupe… – minha voz soou num tom mais baixo e rouco.
E abaixei meus lábios sobre os dela. Ela soltou o lençol e se
agarrou nos meus braços correspondendo ao beijo com tanta paixão
que meu corpo pegou fogo e abdiquei de resistir àquilo que era
insuportável para mim: olhar Kirsten e não poder tocá-la. Havia algo
naquela mulher que me incendiava desde a primeira vez que a vi e
depois que experimentei o fruto proibido, eu queria me saciar dele.
Um beijo pode mudar a vida de um homem. Fazê-lo perder o
bom senso e completamente seus objetivos. Mas era mais forte do
que eu. Como era bom sentir o sabor de seus lábios e me afundar
neles, tocar sua língua e vê-la corresponder com a mesma paixão.
Era uma conexão inexplicável quando nos tocávamos. Eu a
empurrei contra a cama e fiquei sobre ela, mas Kirsten me empurrou
até que eu me deitasse de costas. Ela veio para cima de mim,
montou sobre os meus quadris e roçou sobre o meu pau, se
esfregando gostoso. Voltou a me beijar e ela começou a se esfregar
cada vez mais, se masturbando.
— Andreas – ela gemeu contra a minha boca.
E tudo mais foi esquecido.
Até mesmo os motivos que me levaram ali.
CAPÍTULO 12
Não era para ser assim. Não era. Nos meus planos
conversávamos por telefone e tudo estaria se resolvendo. Ele teria
tempo para pensar sobre o assunto enquanto eu estivesse na
América e quando voltasse para a Itália, poderíamos deliberar tudo
como dois adultos que éramos: responsáveis e maduros.
E não dois animais irracionais no cio.
Acordar e ver Andreas na porta do meu quarto pareceu algo
irracional e promovido por um psicopata. Que tipo de homem
atravessava um oceano apenas para ter uma simples conversa?
Apenas um doente, possessivo e controlador! E sempre quis ficar
longe desses tipos. Mas havia algo em Andreas que me perturbava
mais do que os outros homens, era aqueles olhos carregados de
tanta intensidade que ficava difícil até mesmo respirar.
Aquele maldito italiano era lindo, infelizmente. Se aos vinte e
cinco anos ele conseguia ter esse poder sobre as mulheres, fiquei
imaginando quando chegasse aos quarenta, elas fariam fila para
chupá-lo. E não gostei dessa ideia, mesmo que não fosse problema
meu o que ele faria da própria vida no futuro.
O problema foi quando ele me fitou daquele jeito gostoso e
perverso, se aproximou e começou a tirar a roupa, sem esconder
que me desejava. Estava sem sexo há semanas e queimando de
vontade de trepar bem gostoso. Ele era um inimigo, e pessoas más
e ruins deveriam ser mantidas em longa distância. Contudo, não era
de ferro e eu sentia um tesão louco por ele, inexplicável. Parecia
que parte dele estava em mim, e talvez fosse isso por causa da
gravidez, eu estivesse mais vulnerável.
— Seja minha – pediu acariciando meu rosto com o polegar
—, brigamos depois.
Oh, Deus! Como uma mulher pode sobreviver a um pedido
desses? Adorava sexo e fazia pirraça aos montes para ter um
momento quente de prazer com um homem gostoso como Andreas.
Mas ele estava me processando e eu estava grávida dele e queria
provar que estava certa em interromper aquela gravidez. Transar
não era saudável para a situação e não nos ajudaria em nada.
— Vou me odiar se permitir que aconteça – sussurrei com a
voz embargada de desejo sem conseguir evitar. Olhei para aqueles
lábios lindos e já o imaginei nos meus países baixos…
— Então não vamos perder tempo… é só sexo, Kirsten. Não
se preocupe… – sua voz soou num tom mais baixo e rouco, me
deixando mais molhada.
Quando seus lábios me devoraram, o pouco de bom senso
que restava se diluiu em mil centelhas de prazer. Eu me agarrei a
ele com tanta fome que poderia rasgar sua roupa em pedaços.
Lembrei do refrão daquela música do INXS, Never Tear Us Apart.
Era bem isso: ele estava lá parado, eu estava lá e nossos mundos
se colidiram.
E trombaram carregados de más intenções.
Andreas tinha uma pegada tão agradável, o jeito que ele
beijava me subjugava de uma forma tão avassaladora. Sua boca
parecia me dizer que eu era dele e faria coisas inimagináveis
comigo, havia algo nele que despertava minha libido com um estalar
de dedos, como se eu estivesse hipnotizada, e se ele me mandasse
gozar, eu faria sem hesitar. Ele me empurrou contra a cama e se
deitou sobre mim sem deixar de me beijar, mas eu queria mais,
precisava externar todo aquele tesão que estava preso dentro de
mim.
Eu o empurrei sobre a cama e ele caiu de costas. Fui para
cima dele e o montei, me esfregando em seu pau duro enquanto
voltava a beijá-lo. Andreas apertou minha bunda com força e me
empurrou para que eu me masturbasse mais contra ele. Meu corpo
queimou e meu clitóris se arrastou pelo tecido do meu pijama e
contra a calça dele.
Enquanto nos beijávamos, eu comecei a abrir sua camisa,
botão por botão. Afastei para beijar seu peito e olhei para cima para
vê-lo com os lábios entreabertos enquanto minha boca e língua
deixavam um rastro de prazer em seu corpo. Quando cheguei na
altura de sua barriga, ele segurou meus cabelos e me puxou para
cima para me beijar de novo. Uma mão masculina enredou meus
cabelos, a outra apertou meu seio.
Ele me virou de lado, para que tivéssemos mais acesso ao
corpo um do outro. Gemi de frustração por não poder me esfregar
mais, mas fui beneficiada quando ele enfiou a mão debaixo da
minha blusa e apalpou meu seio com paixão e puxou o bico até que
ficasse duro. Pranteei contra sua boca e levei a mão ao cinto de sua
calça para abrir.
Quando sua calça ficou aberta, massageei seu pau grosso e
ereto e ele levou a coxa entre as minhas pernas e voltei a me
esfregar nele. Como era bom… poderia morrer fazendo isso…
nossas bocas ainda unidas, a gente não queria parar de se beijar.
Afastei dele e fiquei de joelhos para tirar a blusa.
Andreas também ficou de joelhos e tirou a camisa. Aproveitei
para me livrar do short e jogá-lo longe, mostrando que eu estava
sem calcinha.
— Safada, gostosa – ele murmurou com a voz tão
embargada de desejo que meu clitóris pulsou.
Já fui chamada de muitas coisas na cama, mas nada me
deixou tão louca de cobiça e com vontade de ser fodida com força.
Sentindo-me a mulher mais gostosa do mundo, eu fiquei de joelhos
diante dele. Andreas passou a língua pelos lábios e desceu até o
meu seio para beijar o bico, passar a língua e depois chupá-lo com
vontade. Sua mão escorregou entre as minhas pernas e ele
começou a me tocar. Primeiro, seus dedos deslizaram pela minha
fenda molhada e seu polegar girou pelo meu clitóris. Ele chupava
meu seio no mesmo ritmo que me masturbava, e comecei a me
perder.
— Andreas… – eu murmurei perdida no prazer —, isso… é
uma delícia…
Ele deixou um seio para chupar o outro e segurei sua cabeça
contra mim, meus quadris se movendo para cima e para baixo, eu
acabaria gozando daquele jeito e queria guardar meu desejo para
quando ele me fodesse com força.
O empurrei contra a cama e ele tirou a calça, jogando-a no
chão. Seu pau duro se exibiu, e abaixei a cabeça, esfomeada para
chupá-lo e fazê-lo sentir o mesmo que eu. Caí de boca com
vontade, chupando tão gostoso, deixando bater no fundo da minha
garganta apenas para ouvir seus gemidos perdidos.
Ele me puxou pelos cabelos de novo.
— Assim vou gozar, gostosa – ele avisou e se ergueu para
tomar minha boca.
— Essa é a intenção – eu murmurei entre os beijos.
— Não desse jeito – ele determinou.
Ele me puxou para o colo, fazendo com que minhas pernas
ficassem ao lado de suas coxas fortes. Sem deixar de me encarar,
seus olhos presos nos meus, Andreas me ergueu e me fez sentar
sobre o seu pau, devagar, firme e fundo. Fechei os olhos e arqueei o
corpo para trás quando o senti me preencher.
Essa parte em que o homem penetrava era muito bom.
Poderia fazer isso mil vezes que não me cansaria. Sua boca tomou
meu seio e comecei a me mover sobre seu pau, rebolando gostoso,
ele me segurou pela bunda e começou a meter sem piedade, e eu
me entregando, sabendo que a parte boa estava apenas
começando. Ele beijou um seio e depois o outro cada vez mais forte
enquanto nossos corpos se chocavam.
Puxei sua cabeça para trás e nossas bocas se encontraram
naquele vai vem gostoso. Quando um homem sabia foder, girando
os quadris, indo fundo com força era tudo de bom, não há como não
gozar. Deixei minha mente se perder, não pensei nos problemas,
nada, era apenas eu e ele naquela cama tomados pela paixão que
tínhamos um pelo outro, apesar de tudo. O tesão e a química são
coisas que não se explicam.
De repente, ele me virou sobre a cama, ficou de joelhos entre
as minhas pernas e me penetrou de novo, com tanta força que meu
gemido saiu muito alto. Mas não conseguia me segurar. Passei os
dedos na minha boca e levei no meu clitóris. Ele agarrou minhas
coxas em volta dos seus quadris e começou a entrar e sair sem
parar.
Não sabia dizer onde começava o meu corpo e terminava o
dele.
Ele deitou sobre mim e me abraçou, me agarrei a ele e deixei
meu corpo saltar para longe, nossos gemidos, os urros que ele dava
quando o orgasmo o tomavam era um tesão. Apertei suas costas e
senti seus dentes no meu ombro, ele me mordeu quando atingiu o
orgasmo e eu explodi em seguida, meu corpo se entregando ao
prazer de forma avassaladora.
Quando voltamos ao normal, ele beijou meu ombro onde
havia mordido, chupou meu pescoço, me provocando arrepios de
prazer e por fim a minha boca. Depois ele saiu de cima de mim e se
deitou de costas. Ficamos olhando o teto, ofegantes. O que era
aquilo? Por que nós nos entregamos ao prazer quando deveríamos
nos odiar apenas?
— Vou tomar um banho – foi tudo o que consegui dizer para
fugir daquela situação constrangedora.
Nós dois perdemos o controle. Como naquele dia na festa na
casa dele. Não fazia sentido, mas mesmo assim nos entregamos.
Liguei o chuveiro e enfiei a cabeça debaixo da água fria. O quarto
parecia pegar fogo, mas acredito que era o meu corpo, tudo estava
fora do eixo dentro de mim e na minha cabeça.
Ouvi o barulho da porta do boxe sendo aberta e olhei por
cima do ombro. O que ele fazia ali? Andreas não me deu tempo
para pensar, ele apenas me abraçou por trás e beijou meu pescoço.
— Vamos conversar durante o café da manhã – ele disse
contra a minha pele —, acabei de pedir.
Travei os dentes para não gemer.
— Você deveria ir para o seu quarto e me esperar lá – falei
tentando não demonstrar a excitação que me tomava outra vez.
— É isso o que você quer? – ele perguntou quando sua mão
ousada tocou o centro das minhas pernas.
A pergunta ambígua me deixou perdida. Ele falava do sexo, e
não de ir para o próprio quarto. Eu era submissa ao prazer que ele
me dava. Meu clitóris respondeu ao toque quando ele roçou de leve.
Como isso era possível? Eu havia acabado de gozar, precisava pelo
menos de meia hora para voltar a sentir prazer. Ele agarrou meu
seio, sua boca sugando e beijando meu pescoço, meu rosto.
— Você quer gozar de novo, Kirsten? – sua pergunta soou no
meu ouvido.
— Sim… – foi tudo o que consegui responder.
— Boa garota – ele mordeu de leve a minha orelha —, goza
para mim, vai. Eu quero ver você dizer meu nome enquanto goza…
Eu não diria, apenas para contrariá-lo. Fechei os olhos e a
boca quando seus dedos começaram a se mover contra mim.
Estava mais sensível e tudo que ele fazia roubava meu fôlego, os
dedos trabalhando sem parar no meu prazer. Era apenas disso que
eu precisava, qualquer coisa que me fizesse esquecer os problemas
que tinha naquele momento, mesmo que o problema fosse ele.
— Para cima e para baixo – ele sussurrou no meu ouvido
fazendo exatamente esse movimento com os dedos, como se eu
estivesse cavalgando sobre eles.
Rebolei contra ele, precisando de cada vez mais, perdida, a
fricção do meu clitóris contra os dedos era maravilhosa e poderosa.
Meu corpo estremeceu me apoiei nele, minha cabeça em seu ombro
largo, meus quadris se movendo sem parar.
— Diz meu nome, Kirsten! – ele mandou.
— Não… – sussurrei perdida.
— Diz meu nome! – ele determinou aumentando o ritmo. Sua
mão apertando mais o meu seio, puxando o bico.
Resisti o quanto podia, mas quando revirei meus olhos,
minha voz saiu estrangulada.
— Andreas… – eu falei sem querer —, por favor…
Ele aumentou o ritmo de uma forma tão intensa que gozei
choramingando seu nome várias vezes sem parar.
CAPÍTULO 13
Stefano descobriu que eu estava em Nova Iorque e ligou para
mim, me chamando para o café da manhã. Fiquei constrangido de
dizer a ele que estava no quarto de Kirsten e tínhamos acabado de
tomar banho. Desliguei o celular, com a toalha ainda enrolada em
volta dos quadris. Olhei para ela, estava já usando a lingerie e uma
saia linda comprida até os joelhos que a deixava com cara de
secretária gostosa. Que tesão de mulher.
Ela evitava olhar para mim, e era perfeitamente
compreensível, afinal, nenhum de nós esperava explodir de desejo
daquela forma. Dei as costas para ela e comecei a vestir a roupa.
Kirsten se esqueceu que eu estava de frente para o espelho e podia
ver o seu reflexo olhando para a minha bunda. Sorri quando terminei
de colocar a calça.
— Gosta do que vê? – perguntei.
Kirsten ergueu o olhar e então me viu observando-a pelo
espelho. Vi que seu rosto ficou rubro de vergonha e ela encolheu os
ombros, desviando o olhar para a camisa branca que vestia, sem
me dar mais atenção. Coloquei minha camisa amassada, teria que
passar no meu quarto para pegar outra ou meu irmão não precisaria
fazer perguntas para saber onde eu estava.
O que era uma surpresa minha própria reação, afinal, nunca
me importei com a opinião de ninguém. Contudo, senti necessidade
de proteger a mãe do meu filho. Eu a observei pelo reflexo do
espelho outra vez enquanto fechava a camisa, a barriguinha estava
ali, meu filho estava crescendo lindo e forte. Havia um orgulho que
esquentava meu coração de uma forma tão familiar, como se
estivesse predestinado àquele encontro.
Virei e ainda descalço caminhei até ela. Kirsten levantou o
olhar assustada e ficou tensa, arregalando os olhos quando eu parei
diante dela. Estava até mesmo constrangida, aborrecida pelo desejo
que a tomava quando nos aproximávamos um do outro. Aquelas
horas de sexo foram fantásticas. Sentia-me da mesma forma e não
a recriminava.
Para surpresa dela, eu espalmei a mão em sua barriga
saliente. Ela olhou para baixo, sentindo minha mão quente sobre
sua pele. Meu coração bateu forte de uma forma inesperada, meu
bebê estava ali, crescendo, esperando para ser amado por mim.
— Você já o sente mexer? – perguntei ofegante como se
tivesse corrido uma maratona.
Ela balançou a cabeça de um lado para o outro.
— Ainda não – ela respondeu tensa olhando para a minha
mão em sua barriga. A camisa dela estava aberta e ela podia ver
exatamente o que estava acontecendo.
— Ouvi falar que é a partir de dezesseis semanas – comentei
sentindo meu corpo vibrar diante da ideia que meu filho estava bem
ali.
Não consegui parar de me perguntar se o bebê seria um
menino ou uma menina. Se teria os cabelos vermelhos de Kirsten
ou seria mal-humorado como eu era. Mil pensamentos passaram
pela minha cabeça. Eu queria tanto aquela criança que chegava a
doer. Nunca tinha sido tomado de um amor tão grande.
— Kirsten – eu falei sem pensar —, não me prive de ter meu
filho nos meus braços…
Nunca pedi nada a ninguém. Por ser rico, me tornei
autossuficiente desde criança. Aos sete anos, já tinha meu próprio
cartão de crédito e já sabia escolher o que queria. Nunca precisei
pedir um celular ou qualquer presente. O menino mimado sempre
teve o que almejava sem precisar fazer esforço.
Contudo, agora era diferente. Era o meu filho ali, sangue do
meu sangue. Nunca pensei que ao descobrir que seria pai, eu ficaria
tão possessivo e apaixonado pela ideia.
— Eu quero esse bebê mais do que já quis algo em minha
vida – confessei olhando para a barriga dela.
Podia sentir a pulsação dela acelerar debaixo da minha mão.
Ela estava nervosa com tudo aquilo.
— Andreas…
Sabia que ela falaria algo ruim e eu ficaria irritado e por fim,
ao invés de excitados e envolvidos com o momento, estaríamos nos
odiando. Relutante, tirei a mão de sua barriga e dei as costas para
pegar meus sapatos e vesti-los.
— Vou tomar café da manhã com Stefano – avisei por cima
do ombro, mas sem fitá-la —, podemos conversar quando terminar
seu trabalho?
Ela sabia que não tinha escolha e eu também não. Estava em
Nova Iorque apenas para isso, e um café da manhã não seria
suficiente para convencê-la de que ter aquele bebê era mais
importante para ela do que para mim. E também eu precisava ouvir
o que ela tinha a dizer. Às vezes, ela havia cedido e entraríamos em
um consenso.
— Sim – ela cedeu —, pode ser.
— Nós nos vemos mais tarde, então – passei por ela e fui
embora sem olhar para trás.
Depois de me trocar, fui ao encontro de Stefano que me
esperava no restaurante do hotel. Ele estava sentado perto da
janela e acenou quando me viu. Caminhei por entre as mesas, sem
notar quem estava presente, e o restaurante estava bem
movimentado para àquela hora da manhã. Ele se ergueu e nos
abraçamos, antes de me sentar de frente para ele.
— Não vai comer nada? – ele perguntou com o prato cheio
de comida.
— Só um café. – Fiz sinal para a atendente e fiz o pedido.
— O que faz aqui?
— Kirsten me mandou uma mensagem dizendo que queria
conversar – contei a ele e cocei a barba por fazer.
Ele me fitou pasmo.
— Atravessou o oceano só para ter uma conversa?
— Ela é a mãe do meu filho, o que esperava que eu fizesse?
– eu o questionei.
Stefano meneou a cabeça de um lado para o outro.
— Eu atravessaria o oceano se Luna me ligasse agora
dizendo que quer me ver – falou amargo.
— Nenhuma notícia? – perguntei surpreso.
— Nada – ele falou e bufou —, estou ficando louco.
— Liga para ela, por que se torturar?
— Tenho que respeitar o espaço dela, Andreas – ele
argumentou.
— Respeitar o espaço? – questionei indignado. — Você a
quer, ela te ama, qual o sentido?
— As pessoas precisam de tempo para pensar, para gerir o
que aconteceu. Não posso obrigá-la a ficar comigo – ele justificou
sua atitude pacífica.
— Para mim, sua atitude não faz sentido. Se eu quero estar
com uma pessoa, eu vou atrás… – devolvi meu argumento.
— Mas se a pessoa não quer?
Encolhi os ombros dando pouca importância.
— Eu a convenço do contrário – determinei —, o que eu não
vou fazer é perder meu tempo!
— Por isso está aqui – ele compreendeu finalmente.
— Sim, claro. Quero resolver esse assunto e ficar tranquilo
pelas próximas semanas que Kirsten não fará um aborto – expliquei
—, acha que gosto de processá-la? Acredita que gosto de mandar
vigiá-la vinte e quatro horas com medo que ela vá em uma farmácia
e compre um remédio abortivo?
Ele recostou na cadeira e me ouviu.
— Não gosto, porque mostro a ela apenas o pior de mim –
continuei —, mas que escolha eu tenho, Stefano? Eu quero esse
filho mais do que já quis qualquer coisa na minha vida!
Ele deu um meio sorriso.
— Tenho orgulho de ser seu irmão.
— Mas é verdade – falei sem graça —, quero o bebê. Gosto
de Kirsten, mas se ela não quer fazer parte da vida dele, não vou
obrigá-la e nem a punir se um dia ela mudar de ideia, mas agora eu
tenho que lutar pelo que quero e pelo que acredito.
— Se todas as pessoas no mundo fossem determinadas
como você, as coisas estariam melhores – ele comentou.
— Bobagem – disse quando a atendente trouxe o café. —
Obrigado.
Ela piscou para mim e apenas sorri de volta. Não estava com
tempo para flerte. Tinha acabado de transar com a mulher mais
gostosa do planeta, mãe do meu filho e ia dar moral para uma
desconhecida? Não fazia sentido.
— Falou com Kirsten? – Stefano quis saber.
O que eu deveria dizer? Nós acabamos de ter a trepada do
século?
— Sim, eu avisei que estou aqui, a gente vai conversar mais
tarde…
— Quer que eu dê folga a ela? – ele indicou.
— Não. Ela já está com raiva porque estou aqui, se ela for
obrigada a deixar de fazer o que gosta para estar comigo, vai surtar
– ponderei —, é mais fácil conversar quando ela estiver mais calma
e ter engolido o fato de que…
Parei de falar. Eu ia dizer que invadi seu quarto nessa
manhã.
— De quê? – Stefano estranhou.
— De que estou a processando e vou comprar até mesmo a
terceira geração do juiz para ter o veredicto a meu favor. – O que
não era mentira.
— Ela ficou muito brava – ele me contou.
— Mesmo?
— Furiosa, eu a acompanhei à delegacia, ela queria te matar,
Andreas – ele riu de mim —, então se prepare, quando vocês se
encontrarem, ela vai fazer você mastigar suas bolas!
Minha mente voou para aquela manhã, com Kirsten
ajoelhada no chuveiro chupando minhas bolas. Meu pau pulsou com
vontade de mais. Tinha a sensação que eu poderia passar dias
trancado num quarto de hotel com Kirsten que não teria qualquer
problema. Seria ótimo, uma experiência única para ambos,
desvendar os mistérios daquele corpo seria perfeito.
— Vou me preparar – limitei a concordar enquanto tomava
meu café.
Logo Stefano partiu. Liguei para Cicci e resolvemos algumas
questões por telefone e tive uma conferência online até a hora do
almoço. Depois, fui almoçar fora e acabei andando pelas ruas de
Nova Iorque. A cidade fervilhava de gente. Tantas que fazia com
que eu me sentisse vivo. Reunia todo o tipo de gente, era incrível
como o coração da cidade podia atrair tantas pessoas de diferentes
tribos e lugares.
Passei pela porta de uma loja de roupas de bebês. Voltei e
olhei o boneco vestido com roupa de bebê. Fiquei pensando em
como seria o meu e acabei entrando na loja.
— Em que posso ajudá-lo? – A vendedora veio em minha
direção.
— Acabei de descobrir que vou ser pai e queria comprar
alguma coisa – falei empolgado.
A jovem loira sorriu para mim e olhou ao redor.
— Bem, pode começar com um body ou sapatinhos. É o que
os pais compram pela primeira vez – ela indicou.
Ela foi até o balcão e pegou algumas peças e me mostrou.
— Sou italiano – eu disse a ela —, você tem alguma coisa
que remeta à Itália?
— Claro que tenho – ela pegou outro monte de roupinhas e
me mostrou o tal body de time de futebol, meu time, o Juventus.
Peguei a peça da mão dela e meu queixo caiu. Já podia
imaginar meu bebê dentro daquele pedaço de tecido, sentado
comigo em frente à TV, junto com Zeus e Asthor, assistindo a uma
partida decisiva, uma final!
— Perfeito, vou levar!
— Temos o chapéu, o casaco, a camisetinha…
— Levo tudo – avisei —, tudo que você tiver do Juventus, eu
levo.
Ela sorriu satisfeita e foi tirando os produtos. Nunca imaginei
que eles tivessem tantas coisas para crianças. Até mamadeira, bico,
chocalho. Comprei até mesmo o cobertor para o caso de fazer frio
na época que ele nascer. Estávamos na primavera, então
provavelmente nasceria no inverno. Saí da loja cheio de sacolas e
satisfeito com a minha compra. Meu bebê já tinha sua primeira
roupa.
Voltei para o hotel e fui direto para o meu quarto. Não
mostraria à Kirsten ou ela surtaria. Em minha última consulta com
Ivina, ela me disse para ser mais paciente e saber tratar a situação,
ou todos teríamos a perder, porque desesperada como estava
Kirsten poderia fazer uma besteira e eu ainda não sabia o que a
motivava a não querer um filho.
— Descubra o que a faz ter tanta aversão de ser mãe – Ivina
me disse —, muitas mulheres não nasceram com instinto maternal,
mas topariam levar a gravidez até o final sem a responsabilidade do
filho por seguinte. Se ela está desesperada pelo aborto, pode ser o
indício de algo mais sério.
Devido à minha mania de resolver tudo atropelando quem
estivesse na minha frente, eu realmente não parei para ouvir seus
motivos, eu apenas reagi como uma bomba atômica quando ela
falou sobre o aborto. Não tinha muita paciência para ouvir, mas pelo
bom senso da minha terapeuta e pelo meu filho, eu faria esse
pequeno sacrifício.
CAPÍTULO 14
Nunca me senti tão culpada ao foder gostoso com um
homem. Mas naquela manhã me senti a mulher mais perversa e
sem caráter da face da Terra. Quando Andreas tocou na minha
barriga e me pediu de um jeito inesperado para deixá-lo ficar com o
bebê, senti que a muralha ruiu. Pedras grossas rolaram do alto e
racharam até a base. Pude sentir o tremor das minhas convicções.
Nunca vi um homem querer tanto um filho, qual era o problema
dele?
Não consegui concentrar meu trabalho e por duas vezes
tropecei nos meus sapatos de salto alto e no fim do dia, além de
cansada, sentia o corpo dolorido. Dylan tinha enviado o endereço de
onde minha mãe se encontrava e meu coração bateu mais forte. A
última vez que a vi, há dois anos, nossa despedida não foi nada
amigável. Aliás, minha relação com minha mãe era bastante
complicada. Reencontrá-la por minha própria vontade e não por
obrigação exigia mais do que coragem. Exigia força e bom senso.
E naquele momento, minha vida estava muito confusa. Meu
irmão me encorajou a reencontrá-la nem que fosse a última vez.
Tenho certeza que ela vai gostar de te ver.
Tinha minhas dúvidas. Minha mãe não era muito fã dos filhos
e deveria ter se tornado uma puxa saco do Dylan porque ele se deu
bem na vida, do contrário, ela o humilharia como sempre fez. Devia
ter deixado o celular no hotel, mas fiquei com medo de Andreas
entrar no meu quarto novamente e mexer nas minhas mensagens e
descobrir mais sobre a minha vida ou o que não precisava saber.
Ele atravessou o mundo para poder falar comigo e resolver
nossa situação. Esse tipo de determinação me assustava, mas
estava causando certa admiração depois que a muralha ruiu, afinal,
quantos homens conheci que morriam pelo bebê ainda na barriga,
que seria capaz de tudo para ver o filho nascer? Não encheria uma
mão se eu contasse.
A única situação boa durante o dia foi que almocei com
minha cunhada Sara que estava ansiosa para me conhecer. Nós
fomos ao shopping e eu tinha duas horas de intervalo, por isso,
conversamos bastante. Ela era linda e delicada, parecia uma
princesa, o oposto do ogro do meu irmão. Mas ela combinava com
ele. Os cabelos loiros, os olhos pequeninos e verdes, uma beleza
tão suave e simples.
E em tudo ela era assim, plácida. Seus gestos eram calmos,
sua fala tranquila. Ela parecia viver numa ilha do bem, tipo, com os
ursinhos carinhosos. Eu temia que a qualquer momento ela fosse
brilhar e soltar purpurina como uma fada.
Ela só falava de Dylan e o quanto se amavam e que estava
feliz por me conhecer. Era difícil sentir-se mal perto dela. E fiquei
feliz pelo meu irmão e por ela.
— Dylan sempre falou de você – ela comentou.
— Espero que tenha falado bem. – Sorri enquanto comíamos
a sobremesa.
Eu geralmente não como doce, não por dieta, mas prefiro
comida salgada. Contudo, quando vi no menu a lista de doces,
escolhi aquele abençoado mousse de maracujá, mesmo sabendo
que não daria conta de comer, meu olho foi maior que a boca e
estava saboreando com vontade, como se nunca tivesse
experimentado algo tão bom e saboroso.
— Sempre bem – ela disse com carinho —, eu o incentivei a
procurá-la, mas ele sempre dizia que você precisava do seu tempo
fora do domínio dele e de sua mãe.
Apenas forcei um sorriso. Não gostava de falar sobre o
passado. O único que conseguia isso era Dylan e na tarde passada
tivemos tempo para falar sobre assuntos que ainda me
machucavam ou eram um tabu para mim.
— Espero que daqui para frente você sempre venha nos
visitar – ela disse com carinho —, é muito importante para ele e para
mim também. Quero tê-la como uma irmã.
Fiquei com vontade de chorar. Aquela gravidez estava me
matando.
— Eu prometo que sempre estarei por perto – disse com o
mesmo carinho —, vocês também podem me visitar na Itália.
Provavelmente estarei presa lá pelas próximas vinte e cinco
semanas se o juiz decidir que tenho que levar a gravidez até o fim.
Pensei. Então me fiz a pergunta que nunca tinha feito antes. E se eu
realmente levasse aquela gravidez até o fim? Como seria depois
que eu entregasse o bebê? Como seria trabalhar para Stefano e ver
meu filho crescer nas mãos do pai e sob a supervisão de outra
mulher?
— Nós iremos, eu amo a Itália, mas seu irmão ainda não
conhece!
— Ele vai amar, é um lugar fascinante – comentei.
— Muito – ela concordou.
E nossa conversa girou em torno de viagens e meu trabalho.
E então ela me contou como era viver ajudando os pobres com sua
instituição filantrópica. E que foi através disso que conheceu Dylan e
ele sequer sonhava que ela fosse a dona de tudo.
— Ao me subestimar, ele me fez apaixonar por ele – ela
contou e riu.
E pelo visto ela também era apaixonada pelo meu irmão e
fiquei muito feliz com isso.
Na hora de ir embora, passamos diante de uma loja de bebês
e meu olhar se perdeu na vitrine toda azul. Algo me dizia que eu
estava grávida de um menino, não sabia explicar, apenas sentia.
Levei a mão à barriga e mordi o lábio inferior enquanto admirava
toda a decoração como se fosse um quarto de verdade. O berço
com mosquiteiro, e o bebê era um boneco de cabelos castanhos,
que me fazia lembrar Andreas. Podia vê-lo parado ao lado daquele
berço, sorrindo para o bebê e orgulhoso do filho…
— É lindo, não é? – a voz de Sara soou ao meu lado.
Olhei para ela, sem graça. O que eu estava fazendo?
Pensando num bebê de Andreas? Não fazia sentido! Não
combinava comigo e com meus sonhos para o futuro. Pigarreei e
precisei mudar o rumo dos meus pensamentos.
— Você e Dylan não pretendem ter filhos? – perguntei.
— Ah, sim – ela respondeu triste.
— O que foi? Desculpe-me se fui indiscreta. – Fiquei sem
graça.
— Ah, não, tudo bem – ela tocou meu braço com delicadeza
—, eu fui casada com um homem antes de Dylan e ele me deixou
porque não consigo ter filhos, não consigo engravidar – contou para
o meu desespero —, estamos tentando, já fiz inúmeros tratamentos
e não consigo…
Senti a angústia na sua voz e minha muralha ficou pela
metade. Tive vontade de chorar com ela. Sara enxugou uma lágrima
depressa e forçou um sorriso.
— Confio que Deus me concederá esse milagre e logo
teremos um bebê – ela disse emocionada e olhou para a vitrine com
aquela tristeza no olhar.
Eu me senti o mosquito do cocô do cavalo. Pela primeira vez,
de verdade. Ela queria tanto um filho, perdeu o primeiro marido por
causa disso, estava lutando com todas as suas forças para ter um e
eu estava disposta a desfazer do meu sem olhar para trás, sem
pestanejar.
Fui direto para o meu quarto e entrei olhando ao redor, mas
estava tudo limpo e organizado, e não havia sinal de Andreas. Fui
ao banheiro, tomei uma ducha e escolhi uma roupa para me vestir.
Tudo que eu colocava deixava minha barriga à mostra. Não estava
grande, mas já dava para perceber a diferença, que havia algo
errado ali naquela voltinha para frente.
Acabei desistindo de me esconder e coloquei um vestido
preto e sapatilhas, porque meus pés estavam moídos. Fui até o
quarto de Andreas e ele abriu a porta. Estava escovando os dentes
e sem camisa, os cabelos molhados de quem tinha acabado de
tomar banho e aquele cheiro gostoso de perfume de homem no ar.
— Entra – ele disse de boca cheia —, eu já volto.
E caminhou apressado para o quarto. Fiquei olhando para as
costas musculosas e bronzeadas enquanto ele se afastava. Deus
quando fez Andreas realmente estava inspirado. Ele era bonito e
mais um pouco. Um corpo feito para o sexo com todo o prazer do
mundo. Por isso que muitos homens eram ruins de cama, a maior
parte boa ficou para Andreas Cardinali.
A suíte dele era o dobro da minha, claro. Homens como os
Cardinali não ficavam em suítes simples, ficavam nas presidenciais.
Caminhei pela sala e não vi nada de diferente a não ser as sacolas
de compras em cima do sofá. Curiosa, eu me aproximei para dar
uma olhada e fiquei surpresa quando li o nome da loja: Cia Baby.
Não era apenas uma sacola, eram mais de cinco. Contei, na
verdade, eram oito sacolas. Ele havia comprado coisas para o
bebê? Dei um passo para frente e me recriminei. Para que olhar?
Mas a curiosidade foi maior. Olhei em direção ao quarto e vi que não
havia sinal dele, se eu fosse rápida, Andreas sequer notaria que eu
havia mexido em uma das sacolas. Homens não se atentam a
detalhes.
Enfiei a mão que tremia na sacola, agarrei o tecido macio e
puxei para fora. Uma pequena peça surgiu, um body como eu vi na
internet na lista de enxoval que teimei em dar uma espiada, mas
tudo contra minha própria vontade, apenas uma curiosidade tola.
Abri totalmente a peça, era de manga comprida, de listras pretas e
brancas e na frente escrito: JUVENTUS. Com certeza o time de
futebol para o qual Andreas torcia.
Olhei para dentro da outra sacola e tirei mais uma peça, era
um enorme cobertor do time de futebol também. Nas outras sacolas
havia várias peças apenas para o bebê, tudo do time. E ele comprou
para o bebê que eu carregava na barriga, sem se importar se era
menino ou menina, se eu queria aquela gravidez ou não.
Ele fez porque queria o filho e acreditava que o teria. Por que
um homem gostaria de ter um filho se não fosse pela necessidade
de amar? Fiquei emocionada e um nó se formou na minha garganta.
Minha muralha foi levada pela enxurrada de emoções que me tomou
e comecei a chorar de forma compulsiva. Nunca vi uma pessoa que
amasse tanto um filho que sequer conhecia, que sequer havia se
formado direito. Como isso era possível? Ainda mais um pai querer
um filho acima de todas as coisas?
Abracei o cobertor e senti seu cheiro de bebê. Era um
perfume gostoso, os bebês sempre cheiravam bem, eram fofinhos e
macios como aquela manta. Talvez, eu demorei para compreender a
intenção de Andreas e o amor que ele sentia porque nunca tive isso.
Eu não conheci meu pai. E toda a lista de padrasto que passou pela
minha casa, foram homens abusadores e drogados.
Respirei fundo e controlei as lágrimas. Quando afastei o
cobertor, Andreas estava parado do outro lado do sofá, usando uma
camisa polo preta que o deixava ainda mais bonito do que já era.
Ele era sexy de todas as formas. Uma vez, eu assisti uma partida de
polo em que ele e Stefano jogavam e me masturbei por muito tempo
lembrando a forma como Andreas conduzia o cavalo e jogava com
fúria, poder. Aquele homem acabava com todo meu bom senso há
muito tempo, engravidar dele apenas piorou a situação.
— Está tudo bem?
Estava morta de vergonha. Era para ver apenas uma peça e
eu acabei daquele jeito. Minha maquiagem deveria estar toda
borrada. Ainda tremendo, guardei o cobertor dentro da sacola.
— Comprou tudo isso para o bebê? – perguntei para quebrar
o silêncio pesado enquanto enxugava minhas lágrimas.
— Sim – ele assentiu —, e vou comprar mais. Vou dar o
mundo para ele.
Tive que rir.
— Não duvido que você compre o mundo e dê de presente a
ele – ironizei.
Ele deu a volta no sofá e segurou meus ombros, abaixando a
cabeça para me encarar.
— Não gostou?
— Ao contrário, achei tudo muito lindo – admiti para o meu
próprio desespero —, hoje foi um dia intenso.
— Você está se sentindo bem?
Até mesmo a preocupação dele estava acabando comigo.
Respirei fundo, derrotada.
— Preciso lhe mostrar algo e contar coisas a você que nunca
disse a ninguém – eu o encarei —, e então depois de tudo, nós
conversaremos.
Ele aquiesceu devagar.
— Estou aqui para te ouvir, e não vou embora sem ter
certeza que iremos até o fim – ele falou decidido.
A determinação naqueles olhos verdes era assustadora. Mas
ao mesmo tempo reconfortante, porque eu sabia que se o bebê
viesse ao mundo, teria um pai e tanto, capaz de tudo por ele. Estaria
seguro para sempre e ninguém ousaria mexer com ele.
— Então vamos, eu preciso ir a um lugar…
Ele assentiu e me seguiu para fora do quarto.
CAPÍTULO 15
O meu motorista particular, Alban, nos levou até aos
arredores de Nova Iorque, em uma propriedade privada. Os portões
de ferro foram abertos quando Kirsten se identificou. Ela não havia
dito uma palavra durante o trajeto e eu a deixei em seu próprio
silêncio, afinal, algo me dizia que ela estava prestes a ceder, tudo
dependeria do que acontecesse nas próximas horas. O veículo
entrou na propriedade arborizada, fria e que me lembrava aquelas
histórias em quadrinhos sombrias. O jardim iluminado por postes
possuía gramas verdes, vazias.
Paramos diante de uma mansão e desci do carro para ajudar
Kirsten em seguida. Uma mulher de jaleco branco nos aguardava.
— Senhorita O’Brien? – ela se aproximou de nós e estendeu
a mão para Kirsten —, sou a doutora Joanne Scott.
— Como vai? – Kirsten parecia ansiosa. — Este é Andreas
Cardinali, ele fará a visita comigo.
Apertei rapidamente a mão da mulher de meia idade e ela
sorriu para mim por trás dos óculos como se reconhecesse meu
nome.
— Sejam bem-vindos ao hospital psiquiátrico – ela nos
recebeu —, venham comigo.
Hospital psiquiátrico? Mirei Kirsten que olhava para frente,
me evitando. Ela sabia que veria no meu rosto todas as dúvidas
acerca de estarmos em um hospital psiquiátrico.
— As visitas são pela tarde, mas a pedido de seu irmão abri
uma exceção e com autorização do médico responsável – a médica
disse por cima do ombro enquanto caminhávamos pelo corredor
branco de piso também branco —, o Senhor O’Brien é nosso maior
benfeitor.
Kirsten deu um sorriso e olhou para mim, como se apenas o
dinheiro permitisse que ela estivesse ali. Não sabia que o irmão de
Kirsten era um homem bem-sucedido. A verdade era que eu
compreendia tudo sobre ela deitado numa cama, mas não fora dela.
A médica tirou um cartão do bolso, o passou pela porta e
colocou a digital antes que abrisse para passarmos. Havia apenas
alguns funcionários e enfermeiros aqui ou ali, tudo em silêncio e
calmo, nada de gritos e horrores como se via nos filmes. Chegamos
no fim do corredor e paramos diante de uma porta onde havia um
vidro para espiar lá dentro.
— Ela está aqui – a médica se voltou para nós —, hoje ela
teve um dia calmo. A medicação que estamos usando agora a está
ajudando muito com a abstinência das drogas e os surtos psicóticos.
Kirsten assentiu e respirou pesadamente olhando para a
porta com ansiedade.
— Pode ser que ela não a reconheça ou se a reconhecer,
dependendo da lembrança que trouxer, ela fique desconfortável –
precaveu —, tudo é possível. Então não se assuste, seu irmão disse
que não a vê há dois anos.
— Sim – Kirsten respondeu comprimindo os lábios.
— Se não se sentir confortável, Senhorita O’Brien, pode sair
a qualquer momento e voltar outro dia – explicou com calma.
— Está bem, doutora.
A mulher sorriu daquele jeito apático e então abriu a porta.
Um quarto todo branco, muito limpo e arejado se abriu diante dos
nossos olhos. Kirsten deu um passo para dentro e eu a segui,
devagar, esperando que a paciente trancada ali dentro surgisse
histérica e pulasse em cima de nós. Mas havia apenas uma mulher,
agora grisalha, sentada de costas para nós, jogando paciência com
cartas de baralho em cima da mesa de madeira redonda. Havia uma
televisão ligada no alto da parede, um lugar onde ela não poderia
alcançar, estava no canal de perguntas e respostas e a mulher riu
quando o participante errou.
— Abigail – a médica a chamou e ela olhou para trás.
Os mesmos olhos azuis de Kirsten e eu soube naquele
momento que aquela mulher que parecia ter uns sessenta anos era
a mãe dela. Levei um choque. Poderia ser avó, mas algo me dizia
que era a mãe, não uma tia ou prima. Até mesmo uma irmã mais
velha. Não. Aquela mulher de olhar perverso, mesmo sob o efeito
das drogas, era a mãe de Kirsten e a causa de ela odiar estar
grávida.
Matei a charada na hora.
Fiquei parado perto da porta apenas observando a cena.
Kirsten tremia quando a médica disse à mulher:
— Abigail, veja quem veio visitá-la.
— Kirsten? – a mulher a reconheceu.
— Olá, mãe – Kirsten disse indiferente.
— Você quer conversar com ela, Abigail? – A médica quis
saber.
— Pergunte se ela quer conversar comigo, Dolores.
— É meu segundo nome – a médica explicou à Kirsten —,
então vou deixá-la a sós, está bem?
Abigail assentiu e a doutora saiu do quarto, deixando a porta
aberta. Algo me dizia que ela estava ali, bem atrás, apenas
aguardando Abigail surtar em algum momento. Ninguém era
drogado e colocado em um hospital psiquiátrico por causa de férias,
o problema deveria ser sério.
— Até que enfim resolveu dar as caras – Abigail disse à filha
e a fitou dos pés à cabeça —, ao menos arranjou um homem rico
para te sustentar como aconselhei!
Kirsten revirou os olhos e me fitou, constrangida. Abigail
olhou na mesma direção que ela.
— Não vou me apresentar seu… – ela hesitou —, o que ele
é? Seu amante, seu marido?
— O pai do filho dela – eu respondi de onde estava.
Kirsten estreitou o olhar para mim, como se me mandasse
calar a boca.
— Vocês tiveram um filho? – ela perguntou com ironia. —
Realmente decidiu passar a maldição para frente? Parabéns!
Kirsten puxou a cadeira e sentou-se ao lado da mesa. Abigail
voltou a jogar, como se não tivesse importância a filha estar ali.
— Você é louca, sempre foi – Abigail continuou a falar —, e
agora vai ter outro maluco…
Um sorriso amargo surgiu nos lábios de Kirsten.
— Eu estava morando na Itália nos últimos dois anos – foi
tudo o que ela disse.
— E daí? Você foi embora sem olhar para trás, abandonou
sua mãe e seu irmão! – reprovou.
— Você sabe que não abandonei, mãe – Kirsten disse com
uma calma que estava longe de sentir —, você preferiu viver nas
ruas. Como se chamava seu amante da época?
Abigail respirou fundo e a encarou.
— Estou aprendendo a conviver com meus fantasmas,
Kirsten – ela a cortou —, espero que não tenha vindo aqui para me
atormentar como eles fazem…
As duas se enfrentaram com o olhar.
— Não vim. Eu estava na cidade e apenas quis vê-la…
— Mentirosa! – Abigail se ergueu e a cadeira caiu no chão.
Eu dei um passo à frente para poder proteger Kirsten, mas
ela fez sinal que estava tudo bem.
— Seu irmão te obrigou a vir aqui não foi? – Abigail a
questionou.
— Ao contrário, eu quis vir – Kirsten assegurou.
Abigail foi até o outro lado do quarto e sentou-se na cama.
— O que você quer de mim, Kirsten? – ela perguntou
erguendo uma sobrancelha.
— Quero que diga a Andreas o porquê eu não deveria ter
filhos – Kirsten pediu.
Fiquei surpreso e franzi o cenho. Abigail olhou para mim.
— Você deveria estar muito bêbado para ter engravidado
uma maluca como a minha filha! – Abigail riu e levou a mão à boca
quase sem dentes. — Ela não te contou sobre mim? O uso de
drogas? E sobre a doença?
Coloquei as mãos no bolso da calça social e encarei a
mulher.
— Vim aqui para ouvir a história – eu disse finalmente.
Abigail sorriu e passou as mãos nos cabelos. Aquela mulher
deveria ter sido tão linda quanto Kirsten era, mas pelo visto os
caminhos errados da vida a deixaram acabada, infelizmente.
— Bom, por onde começo? – Ela olhou para cima pensando.
— Ah, é! Eu sempre fui viciada em drogas, nunca escondi de
ninguém – começou a falar com um sorriso travesso, como se
existisse alguma vantagem em ser viciado —, e no tempo que estive
limpa, meu filho Dylan estava com uns cinco anos, eu acho. Talvez
quatro. Conheci um cara durante uma reabilitação e tivemos uma
noite quente, regada a droga. Todo mundo sabe que essas clínicas
deixam entrar drogas facilmente… fiquei limpa e voltei para casa,
devolveram meu filho e descobri que estava grávida!
Ela bufou e soprou para cima.
— Trabalhei até os cinco meses de gestação, então não pude
mais esconder a gravidez e fui demitida – ela continuou a falar —,
voltei para as ruas, me prostitui, e para aguentar aquela vida de
merda, voltei para as drogas. Morávamos no pior lugar do Bronx, em
Hunts Point, mas era o único maldito lugar que eu conseguia pagar.
Não fui uma boa mãe para Dylan, ele cresceu revoltado, não
conheceu o pai porque o idiota morreu nas mãos de um traficante
por dívida.
Ela se ergueu e foi servir um copo com água. Tomou e olhou
para mim.
— Daí esse monstro nasceu. Ela nasceu com abstinência de
drogas e tiraram meus filhos de mim, tive que me internar de novo.
Kirsten desenvolveu vários problemas, mas eu não podia imaginar
que ela havia herdado a bipolaridade do pai. Aquele maldito que eu
mal sabia o nome! – Ela riu e olhou para Kirsten. — Pense em uma
criança problemática e perversa.
Olhei para Kirsten e ela enxugou as lágrimas.
— Todas as minhas idas e voltas para a droga depois disso
foi por causa dela! – Apontou o dedo para Kirsten. — Os remédios
eram caros, e se ela não tomasse ficava louca, me deixava fora de
mim! Eu sei que eu me prostituía para sustentar a casa, mas uma
vez ela atacou um dos meus clientes, ele me bateu e depois levou
todo o meu dinheiro do aluguel embora! – Olhou revoltada para
Kirsten. — O conselho tutelar vinha, buscava e depois a trazia mais
calma, aí o remédio acabava e ela surtava de novo… e de novo…
Abigail olhou com raiva para Kirsten e colocou o dedo em
riste.
— Você acabou com a vida do seu irmão e a minha! – Ela se
aproximou mais. — E seu filho vai…
— Chega! – minha voz soou imperiosa e me coloquei entre
elas. — Não preciso ouvir mais nada, senhora!
Segurei Kirsten pelo cotovelo e a fiz se erguer e quando olhei
para a porta a médica já estava lá.
— Eu ainda não terminei, rapaz! – Abigail disse enquanto eu
conduzia Kirsten para fora.
— Acabou quando eu disse que acabou – avisei por cima do
ombro e passamos pela porta, deixando-a aos cuidados da médica.
Kirsten estava tremendo e mal conseguia andar. Por isso, eu
a peguei no colo.
— O que está fazendo? – ela perguntou envergonhada.
— Facilitando as coisas para você – respondi bravo e ela
escondeu o rosto no meu ombro. Morta de vergonha.
Ela me conhecia o suficiente para saber que nada me faria
colocá-la no chão. Os funcionários foram abrindo as portas para
nós, uma a uma, e fomos deixando aquele local horrível, onde se
dependesse de mim, Kirsten não voltaria nunca mais. Meu sangue
fervia ao lembrar das palavras daquela mulher. Saímos da mansão
e Alban nos aguardava e abriu a porta para que eu entrasse com
Kirsten.
Sentei com ela ainda no meu colo. Ela não fez menção de
sair e não disse nada. Apenas quando o veículo se colocou em
movimento foi que ela deu vazão às lágrimas e chorou muito. Um
choro tão dolorido que fez minha alma arder em ira e indignação.
Como uma mãe podia falar assim da própria filha? Uma criança?
Como podia lhe desejar mal? Nunca imaginei que Kirsten pudesse
ser bipolar, e concluir o que ela havia passado nas mãos daquela
mãe perversa não era difícil. Uma criança, meu Deus! Mil
pensamentos me tomaram enquanto o carro voltava para o hotel.
Ela ficou quietinha no meu colo o tempo todo e não reclamou
quando chegamos e sob o olhar curioso dos hóspedes, eu a
carreguei para o quarto.
Num silêncio carregado de cumplicidade, eu a levei para o
próprio dormitório. Despi o vestido, as sapatilhas e notei que seus
pés estavam inchados. Tinha lido que era normal as mulheres
incharem um pouco durante a gravidez. Peguei uma camisola nas
coisas dela e a vesti. Eu a fiz deitar e arranquei o sapato para me
deitar ao lado dela.
Kirsten estava de lado e me assistiu fazer tudo aquilo. Deitei
e fiquei de lado também.
— Entendeu o porquê não posso ter filhos? – ela me
perguntou triste.
Deus! Ela pensou por toda a vida que era um monstro e que
se tivesse um filho ele seria igual a ela. Aproximei devagar e beijei
sua testa com imenso carinho. Era tudo o que eu podia fazer. Mudar
sua concepção sobre si mesma levaria tempo e eu não podia culpála, não mais. Eu a entendia agora, mais do que nunca.
— Você não é um monstro e eu não sou seus pais – disse
contra a pele dela —, vamos ter esse bebê, Kirsten, e vamos ajudálo a ser uma pessoa melhor do que você é…
Ela voltou a chorar e me abraçou. A mantive contra mim para
que ela soubesse que não estava mais sozinha. Nunca mais.
CAPÍTULO 16
Acordei na manhã seguinte me sentindo como se tivesse sido
atropelada. Meu corpo todo doía e sentei na cama, olhei ao redor,
mas não vi sinal de Andreas. Peguei meu celular e respirei fundo ao
ver que havia mensagens de Stefano.
Tire o dia de folga, vou para a casa de Greg McCallister.
Respirei fundo e apaguei a tela do celular. Levei Andreas até
o hospital psiquiátrico para que ele compreendesse meus motivos
para não querer ter um filho e nada melhor do que a louca da minha
mãe para dar a sua versão da história. E ela era boa em dramatizar
e deixar claro que tipo de monstro eu era.
Levantei da cama e fui tomar uma ducha, quando saí do
banheiro envolta no roupão, Andreas estava parado no meio do
quarto empurrando o carrinho com o café da manhã. Ele estava com
os cabelos molhados vestindo apenas calça jeans, uma camiseta
preta e tênis. Até mesmo com uma roupa que deixaria outro com
aparência simples, ele parecia um deus grego. Os cabelos estavam
penteados para trás e aqueles olhos verdes me tomaram com
desejo.
Ignorá-lo era simplesmente impossível, ainda mais depois da
forma como ele me tratou na noite anterior, com tanta afeição e
carinho. E pelas coisas que disse. Meu coração bateu mais rápido,
mas de uma forma diferente, como se o reconhecesse como alguém
importante e senti um bolo na garganta. Devia ser a gravidez que
estava me deixando tão sensível e boba. Ele era apenas um homem
comum, como tantos outros com quem eu já havia trepado, nada
demais. E o fato de ele ser o pai do bebê que crescia dentro de
mim, não mudava nada.
— Bom dia – eu o cumprimentei apertando o pente que
segurava na mão, afastando aquela emoção sem sentido.
— Bom dia – ele parou ao lado da pequena mesa e apontou
para o carrinho —, não tinha certeza do que você gosta ou o que
está conseguindo comer, então eu trouxe tudo.
Aproximei dele e olhei o carrinho com tantas coisas que
estavam quase caindo. Não consegui esconder o sorriso diante do
exagero.
— Não precisava tanto – puxei a cadeira e me sentei,
deixando o pente sobre o meu colo —, eu como qualquer coisa.
Andreas sentou-se de frente para mim e franziu o cenho.
— Não sabe do que gosta? – ele me questionou pegando os
morangos e colocando em cima da mesa, depois o suco de frutas,
os pães, os brioches.
— Não disse isso! – eu o precavi. — Falei que como qualquer
coisa, não sou enjoada. Quando a gente nasce pobre, come o que
tem, quando tem.
Ele assentiu pensativo.
— Agora você não é mais pobre, não leva mais a vida que
levava, pode escolher o que gosta – articulou se servindo de café.
— Mesmo assim, eu como até pão amanhecido – contei a ele
enquanto me servia de suco e pegava um pedaço de bolo de
chocolate que parecia maravilhoso.
— Eu gosto de café puro com queijo – ele revelou.
— Mesmo?
— Sim, aprendi a gostar em uma viagem que fiz ao Rio de
Janeiro e foi maravilhoso! O café brasileiro é muito bom e me
acostumei – Andreas explicou enquanto pegava uma fatia do queijo
que parecia delicioso.
— Parece bom… – comentei.
Ele se ergueu e colocou o queijo diante da minha boca para
que eu desse uma mordida. Fiquei sem graça no primeiro momento,
mas depois me lembrei que minha boca já tinha ido parar no corpo
dele e me senti uma boba. Abri os lábios e mordi.
— Hum… delicioso – elogiei.
Ele piscou daquele jeito charmoso e voltou a se sentar.
— Queijo canastra, esse é o único hotel em Nova Iorque que
serve, não poderia ficar hospedado em outro – ele me avisou.
— Bom, daqui para frente me atentarei mais para os detalhes
do café da manhã – disse com ironia.
— Deveria – ele me aconselhou —, quando voltar para a
Itália, seria bom ir a uma nutricionista, para saber o que faz bem
para o bebê e para você! Não para dieta e essas loucuras de ser
magra , você é linda com as curvas que tem e vai ficar ainda
mais bonita grávida…
Fiquei surpresa com o elogio e sorri novamente sem
conseguir evitar. Andreas tinha um jeito tão sincero de ser que me
fazia admirá-lo mesmo que eu não quisesse. Esse jeito
determinado, oito ou oitenta, extremo em tudo, apaixonado até
mesmo no jeito de andar, fazia com que eu tivesse certeza que ele
era diferente de todos os homens que conheci.
— Já que tocou nesse assunto sobre eu voltar para a Itália…
– disse e ele ergueu o olhar para mim.
— Quero que meu filho seja italiano – ele me explicou —,
talvez você queira a nacionalidade norte-americana, mas gostaria
muito que ele nascesse em Milão ou Roma.
Ele era louco? A certeza dele de que o bebê nasceria era tão
grande que estava me contaminando.
— Não é isso – corrigi —, é justamente sobre o bebê nascer.
Ele recostou na cadeira e ficou sério ao me encarar.
— Não acha mesmo que aquele show de horrores que me
levou para assistir serviu para me fazer mudar de ideia – não havia
qualquer humor em sua voz.
— O que minha mãe disse não foi exagero, Andreas. Ela diz
que herdei a bipolaridade do meu pai, ele era viciado em drogas por
causa disso e se conheceram na clínica…
— Eu não dou a mínima… – ele me cortou.
— Deixe-me falar – eu pedi erguendo a mão.
— Mesmo sabendo que nada do que disser me fará mudar
de ideia? – ele me questionou.
Que homem teimoso, caralho! Pensei irritada.
— Quem tem o gene de mula empacada na sua família? –
perguntei.
— Determinação não é teimosia – ele se defendeu.
— Então, pelo menos, me ouça – pedi.
— Atravessei o mundo só para isso, querida – ele falou com
cinismo —, então estou disposto a ouvir seus argumentos para
querer interromper essa gravidez.
Assenti, mas tranquila.
— Não tenho nada contra ser mãe, ou o bebê, Andreas.
Minha mãe não mentiu sobre eu ser maluca e ir do amor ao ódio –
ela estalou os dedos no ar —, em questão de segundos. É verdade.
Até que me diagnosticassem com o transtorno, eu fui expulsa de
escolas, ataquei pessoas por muito pouco, fazia escândalos e
perdia a cabeça por causa de uma camiseta fora do lugar, ou pelo
modo que alguém me olhava. E quando descobriram, os remédios
eram caros! Tudo isso aliado à vida que eu levava… minha mãe era
uma viciada e meu irmão seguiu o mesmo caminho. Nossa casa era
um desfile de homens com quem ela fazia programas ou para pagar
as drogas! Eu sou uma pessoa desestruturada!
Ele se remexeu na cadeira incomodado com a história.
— Os remédios podem fazer muito mal e não é fácil se
adaptar. Todo mundo ao redor sofre e…- falei nervosa.
— Kirsten – ele me interrompeu —, compreendo que tenha
medo de ter o bebê, que ele herde seu problema, mas entenda: eu
quero esse filho – Andreas se ergueu e eu o acompanhei com o
olhar. Ele se sentou na cadeira ao meu lado e segurou minha mão
—, sou diferente da sua mãe, do seu pai, ou do seu irmão. Venho de
um lugar em que nós morremos pela família, e vou cuidar do meu
filho com todo amor e força que possuo aqui dentro, independente
se ele tenha sua doença ou não – apontou para o próprio peito.
Prendi a respiração quando ele disse isso e tive dificuldade
para engolir.
— Mas tem mais uma coisa. – Mordi o lábio inferior.
Era muito difícil falar sobre isso, mas ele precisava saber.
— Fale – ele passou o polegar pelas costas das minhas
mãos.
Olhei para aquele contato de carinho. Deveria repeli-lo,
mandá-lo à merda e correr para a primeira clínica de aborto. Porém
algo se quebrava dentro de mim, sentia como se uma tola
esperança ardesse em meu peito. Não queria me sentir assim, toda
vez que deixei a esperança entrar em minha vida deu tudo errado e
sofri muito. Acabei quebrando a cara.
Hesitei e tomei coragem para dizer. Já podia sentir as
lágrimas queimando os meus olhos.
— Se… – minha garganta fechou e precisei pigarrear —, se
eu levar a gravidez adiante, vou me apaixonar pelo meu filho e não
vou conseguir dá-lo a você…
Ele ajeitou a postura e me encarou perplexo, como se eu
tivesse jogado um balde de água gelada sobre sua cabeça.
— Desde muito nova, quando eu via minhas amigas tendo
seus bebês, tomei consciência que jamais poderia ser uma boa
mãe, a minha mãe não era e não achava justo carregar um filho
para o meu mundo maluco…
— Kirsten…
— Por favor – enxuguei a lágrima teimosa —, deixe-me
terminar.
— Está bem – ele concordou.
Soltei das mãos dele e precisei me erguer. Dei alguns passos
para longe e então me voltei para dele.
— Eu vou da alegria exagerada à depressão muito rápido e
posso ficar assim por semanas – puxei o roupão e mostrei o pulso
—, está vendo essa cicatriz? Aos dezesseis anos tentei me matar
em minha depressão mais profunda. Minha vida familiar nunca
cooperou, eu sei, mas há algo dentro de mim, Andreas, que me faz
odiar tudo e todos e depois amar sem explicação alguma. Essa
minha libido exagerada é porque não estou para baixo e por mais
que tome remédios, muitas vezes, eu perco o bom senso… consigo
me controlar, mas não é tão simples. A minha sorte foi que nunca
usei drogas porque odiava minha mãe e tudo o que ela fazia, ou
teria piorado minha situação. A história que ouviu que ataquei o
cliente da minha mãe é verdade, eu o ataquei porque estava fora de
controle… Agora estou controlada por causa dos tratamentos, mas e
amanhã?
Voltei para perto dele e o encarei:
— É essa a mãe que você quer para o seu filho? Uma mulher
que precisa de psiquiatras? Remédios? Que pode ser a pior mãe do
mundo? E se eu amar meu filho e depois fizer da vida dele um
inferno? E se o tratamento não surtir efeito e eu enlouquecer?
Ele se ergueu depressa e me puxou de encontro ao peito
másculo, fiquei surpresa e sem reação no primeiro momento. Não
esperava por um abraço no meio da conversa.
— Vai ficar tudo bem – ele beijou meus cabelos fazendo meu
corpo virar gelatina —, você está ficando ansiosa com situações que
sequer aconteceram – ele me afastou o suficiente para olhar nos
meus olhos —, eu também faço terapia desde os quinze anos…
— Sério? – indaguei surpresa.
— Todos nós precisamos de ajuda psicológica mais cedo ou
mais tarde…
— Mas, eu tenho um transtorno!
— E daí? Está sendo tratado, e você não é como a louca da
sua mãe! Você não vai repetir os mesmos erros que ela, Kirsten, ou
você estaria no Bronx se prostituindo e viciada em drogas, já parou
para pensar nisso?
Fiquei surpresa com as palavras dele.
— Podemos sim levar essa gravidez até o fim, termos nosso
filho nos braços, Kirsten – ele me segurou pelos ombros e olhou nos
meus olhos —, você pode se apaixonar pelo bebê e ser a melhor
mãe do mundo. E se mesmo depois de carregá-lo nove meses aqui
– ele colocou a mão sobre o roupão na altura da barriga —, e ainda
não o quiser, decidir que a maternidade não é para você, vou cuidar
dele com todo amor do mundo, prometo.
Comprimi os lábios com vontade de chorar. Andreas era tão
incrível quanto Stefano.
— Eu…
— Por que não?
— Ainda pergunta depois de tudo o que lhe disse?
— Eu quero e como disse, estou disposto a fazer o que você
quiser em troca do meu filho – ele me garantiu.
Pela primeira vez naquelas semanas cogitei em levar a
gravidez até o fim e meu coração bateu forte, senti as pernas
tremerem e me afastei dele para me sentar.
— Lembra daquela história de que eu queria trabalhar no
governo norte-americano e estava juntando dinheiro para fazer o
curso?
— Claro – ele voltou a se sentar ao meu lado.
— Jura que não vai rir? – perguntei.
— Não seja boba! Por que eu riria?
Estava abrindo para ele um segredo que jamais disse para
outra pessoa.
— Andreas, eu queria trabalhar no Pentágono porque eles
têm um banco de informações de pessoas, secreto, sabia?
— Eu não duvido…
— Cada pessoa que nasce ou morre nesse país está
registrada nesse programa…
— Como soube disso?
Não podia contar a ele que transei com um agente do FBI
enquanto cursava a faculdade e ele me contou. Então respondi de
outra forma.
— Eu queria trabalhar lá para encontrar o meu pai…
— Você ia sacrificar sua vida apenas para encontrar seu pai?
Assenti depressa.
— Você disse para eu pedir qualquer coisa em troca da
gravidez – tomei coragem ao dizer. —, esse é o meu preço.
Encontre o meu pai e eu levo a gravidez até o fim.
CAPÍTULO 17
— Encontrar o seu pai? – perguntei demorando para
acreditar.
Ela não queria dinheiro? Não queria um luxuoso apartamento
em Roma ou uma casa de praia? O carro do ano, uma mesada? Ou
uma indenização? Nada financeiro?
— É o que eu mais quero – ela afirmou com convicção me
fitando com certo constrangimento. — Sempre foi meu sonho
encontrá-lo e dizer que eu era filha dele. Saber quem ele era,
descobrir se éramos parecidos… minha mãe nunca contou a ele que
estava grávida, quando ela descobriu, já estava em casa. Não tinha
como falar com ele…
Naquele segundo, eu enxerguei uma mulher tão vulnerável.
Até agora, ela se mostrou forte, enfrentou a mãe viciada, uma
doença, os transtornos que teve ao longo da vida sem saber do que
se tratava e uma gravidez indesejada. O fato de não querer o bebê
era para proteger a si mesma e a criança de alguma forma. Porém,
ambicionar conhecer o pai mostrava o quanto ela era frágil. A
menina abandonada e solitária ainda estava ali, em busca do amor
que nunca encontrou.
Então algo que minha terapeuta disse em uma das sessões
fez todo o sentido: Kirsten não podia dar o que ela nunca teve. Ela
não conhecia a força do amor de uma família unida, como a minha
família era. E não tinha nada a ver por sermos ricos, não. Eu e
Stefano éramos leais aos nossos sentimentos e não tínhamos
vergonha de admitir que morreríamos um pelo outro, que havia
admiração entre nós, que éramos irmãos, parceiros, amigos de
verdade.
Kirsten nunca teve ninguém por ela e eu me perguntei se
alguém algum dia disse que a amava. E se ao procurar o pai, ela
não esperava por isso. Mas se era o preço para ter meu filho, eu
faria.
— Está bem – concordei.
— Tem certeza? – ela devolveu com surpresa.
— Não deve ser tão difícil encontrá-lo. Temos que descobrir
em qual clínica seus pais se encontraram e revirar os arquivos e
então, começar a procurar – expliquei como se fosse a coisa mais
fácil do mundo.
Não era. Encontrar uma pessoa podia ser como achar uma
agulha no palheiro. Mas pelo meu bebê, eu encontraria até uma
agulha no inferno se fosse preciso.
— Acredito que chegamos a um consenso. – Ela moveu a
cabeça um pouco de lado e virou-se para a mesa para voltar a
comer.
Podia parecer uma grande besteira, mas para quem nunca
teve uma família de verdade, encontrar parte dela deveria ser um
tesouro. Tentei me colocar no lugar dela. Não ter o louco do meu pai
ou da minha mãe na minha vida parecia tão sem sentido. Apesar de
duas pessoas extremamente egocêntricas e vaidosas, ainda assim,
eles me amavam no sentido todo da palavra. Cuidaram de mim, me
deram a vida que eu tinha. Meu pai sempre foi um ordinário e
continuava sendo, mas isso não interferiu na forma dele de amar os
filhos.
E ele era um grande homem.
Kirsten cresceu sem a imagem do pai, sempre fantasiando
como ele deveria ser e como teria sido sua vida se ele estivesse
presente. Até eu mesmo me perguntei se ele a teria tirado das mãos
da mãe viciada ou simplesmente não se importaria. E isso me
causou certo receio com o que ela poderia se deparar no futuro.
Recostei na cadeira, passei a mão pelo queixo com barba e a
encarei enquanto ela devorava o pedaço de bolo. Kirsten comia com
tanta vontade que fiquei excitado sem uma explicação plausível.
Jamais olhar uma mulher comendo me deixou com tesão.
— Já pensou que você pode não gostar do que vai
encontrar? – eu a questionei —, existem duas possibilidades e…
— Eu sei – ela me cortou —, mas depois de tudo o que
passei, se ele me rechaçar, não vou me sentir devastada. Talvez,
triste, porque para sobreviver sempre fantasiei que ele era um
super-herói ocupado e que um dia me salvaria da minha mãe…
Engoli em seco ao ouvir tais palavras tão duras para uma
criança.
— Mas ele tinha um ponto a favor – ela comentou cortando
mais um pedaço do bolo —, minha mãe não contou a ele sobre
mim, então – encolheu os ombros —, tenho que fazer isso e saber
se eu estava errada.
— Ela disse algo sobre ele, qualquer coisa além de falar mal
por ele ser um viciado e bipolar? – tive que perguntar.
Ela meneou a cabeça.
— Não muito – falou com pesar —, e sempre que eu tocava
no assunto, ela ficava histérica e me chamava de malcriada, me
batia. – Sorriu amarga. — Eu só queria saber mais sobre ele, nunca
entendi por que ela odiava tanto falar sobre isso, mas acredito que
era por minha causa.
— Sua mãe é completamente perturbada – garanti sério —,
deixo claro de antemão que ela não vai conhecer nosso filho.
Kirsten me fitou de uma forma diferente quando eu disse
nosso filho. Até mesmo eu fiquei surpreso da forma natural como
aquelas duas palavrinhas saíram da minha boca. Pelo menos, pela
primeira vez em semanas, ela não disse algo relativo a interromper
a gravidez. O feitiço virou contra o feiticeiro, ela me fez conhecer a
mãe dela para me convencer de não ter o bebê e agora quem
estava cedendo era ela. Claro, eu teria que cumprir com minha parte
no acordo.
— Ela me deu para a adoção uma vez, sabia?
— Sério? Não sei por que estou surpreso. Dez minutos na
presença da sua mãe e percebi que ela era prima do demônio – falei
sincero.
Kirsten riu do meu jeito de falar, mas era verdade. A mulher
era muito doida e descontrolada. Eu me perguntei se a bipolaridade
era realmente um fator que Kirsten herdou do pai, talvez fosse a
mãe. Algo me dizia que eu não estava errado, quase nunca erro.
— Deveria ter uns seis ou sete anos, mas eu era uma criança
muito desequilibrada e a família me devolveu – ela contou antes de
tomar o suco —, daí o conselho tutelar descobriu que minha mãe
estava limpa há alguns meses e decidiram que seria melhor eu
voltar para casa…
— E imagino que sua mãe não ficou feliz – concluí.
— Não – ela fez que não movendo a cabeça de um lado para
o outro —, e a desculpa para voltar a usar drogas foi que eu tinha
voltado para casa e a estressava muito, ela precisava espairecer…
— Cadela – xinguei e fiz uma careta —, era mais fácil culpar
você do que admitir para si mesma que estava se enfiando na
merda porque queria…
— A culpa era dela, ela colocava em quem quisesse –
encolheu os ombros ao dizer, como justificando a atitude da mãe.
— E seu irmão no meio disso tudo?
— Dylan? – ela perguntou e comeu o último pedaço antes de
responder —, ele foi fruto do meio que vivíamos. Enquanto eu pirava
e dava trabalho, ele era o filho que se drogava muito, passava dias
fora de casa, voltava com uma grana do tráfico que fazia – suspirou
pesadamente —, mas ele me protegia muito. Ele era bom em lutar,
ganhou muito dinheiro naquelas lutas underground, poderia ter sido
profissional se não voltasse para casa para ouvir que era um verme
como o pai dele e jamais deixaria de ser um drogadinho de merda.
Bufei irritado.
— Sua mãe deveria escrever um livro – ergui a mão no ar —,
como destruir um filho em dez dias. Passo a passo e detalhado.
— Acredito que sim – ela concordou —, mas Abigail não se
dava conta disso. Ela também era fruto de seu meio.
— Não justifica. Conheço muita gente viciada que sequer
levantou a voz para alguém ou ficou agressivo – argumentei —, a
droga não te faz mal, ela potencializa a sua maldade.
Ela concordou comigo.
— Eu sei.
— Sua mãe é uma pessoa má – falei convicto —, e não vou
pedir desculpas por minha sinceridade se isso a ofende – avisei —,
você quis que eu a conhecesse.
— Tudo bem, você ainda está sendo gentil, já ouvi coisas
piores sobre ela. – Kirsten forçou um sorriso, mas já havia percebido
que ela escondia a tristeza atrás de uma simpatia falsa.
— Não deve ser fácil, eu odiaria se falassem mal dos meus
pais – comentei solidário.
— A gente se acostuma…
— Não deveria…
— No seu mundo, você é o dono dele, Andreas. Você foi
criado para ser o líder, o dinheiro lhe dá essa segurança, o poder de
seus pais… no meu mundo, a gente aceita o que tem e sobrevive…
— Não tem a ver com o dinheiro, Kirsten…
— Com o que então? – ela perguntou incrédula. — Claro que
é, você pode fazer o que quiser.
— Posso. O dinheiro me dá essa vantagem. Mas eu não
conseguiria ser dono da minha vida se não fosse pelo meu amor
próprio – argumentei novamente encarando aqueles olhos azuis
lindos —, o que sempre me fez destacar foi porque eu me agrado
em primeiro lugar e sei o meu valor.
Ela ficou calada.
— Eu posso ter todo o dinheiro do mundo, mas ele não
preenche o vazio da minha alma – disse sério.
— Profundo – devolveu com certo deboche.
— Mas não estou errado – disse convicto —, sem amor,
somos como árvores sem raiz.
Kirsten não olhava para mim. Aquele assunto mexia com ela
mais do que qualquer outra coisa. Ela não conhecia o amor de
forma alguma e tinha medo de conhecer, era nítido e isso me
instigou a me aproximar mais. A dar mais um passo em direção a
ela, sem saber onde eu ia parar com toda aquela conversa, mas
precisava dizer.
— Amar e ser amado é muito bom, Kirsten – finalizei.
— Não me diga que é um romântico? – ela continuou a
debochar, mexendo nas bolachinhas em cima da mesa.
— Apenas sou com quem vale a pena – minha voz saiu mais
baixa do que eu esperava.
Ela olhou finalmente para mim.
— Quem é você, Andreas Cardinali? – ela perguntou
incrédula.
— Por quê?
Kirsten balançou a cabeça levemente.
— Qualquer outro homem estaria satisfeito por eu preferir
interromper a gravidez – pontuou.
— Não sou como os outros homens – aleguei —, tenho
preguiça de ser igual a qualquer outra pessoa. Como eu te disse,
gosto de mim do jeito que eu sou.
— Homens têm medo de falar sobre amor – considerou se
virando para mim.
Ela não percebeu que a fazenda do roupão se abriu e seu
cabelo roçou a pele delicada feita para ser tocada por mim.
— Porque o amor é visto como um compromisso ou como
uma fraqueza, eu vejo o amor como uma consequência. Posso
amar quantas pessoas eu quiser e ficar mais forte com isso. O que
me torna fraco é aquilo que não posso controlar…
O que queria dizer que aquele tesão que sentíamos um pelo
outro era umas das coisas que eu não podia controlar, mas não
tinha medo. Ao contrário, depois de descobrir tanto sobre Kirsten na
noite anterior, eu queria saber mais e mais. Queria desvendar todos
aqueles mistérios que haviam por trás dos olhos azuis sedutores
que agora me fitavam sem saber o que fazer com o desejo que
sentia por mim.
Depois de uma conversa tão intensa, era normal que a gente
se sentisse mais íntimo, que se conhecesse mais. E eu estava
adorando esse novo caminho na minha vida. Não sei se era por
causa do bebê ou da história de Kirsten, mas algo me conectou a
ele de uma forma única e inexplicável. A única coisa que eu sabia
era que precisava estar perto.
Então ela fez aquele movimento lindo com a boca, a abriu
levemente e escorregou os dentes sobre o lábio inferior, mordendoo. Ela possuía a noção do quanto ficava linda com um simples gesto
como aquele? Minha boca salivou de vontade de beijá-la, de
deslizar minha boca por seu corpo e me perder enterrado nele com
força.
Num gesto rápido, segurei Kirsten pelo pulso e a fiz sentar-se
em meu colo, de frente para mim, as pernas pendendo sobre o
chão. Agarrei a nuca, sentindo os cabelos molhados contra os meus
dedos e trouxe sua boca linda contra a minha. Não havia qualquer
sentido fazer sexo naquele momento, mas simplesmente eu queria.
Ela fazia isso comigo, sempre desejei Kirsten e depois que ficamos
juntos, querer mais era algo natural para mim, como respirar.
Minha outra mão deslizou pela coxa macia, cingi o quadril e
avancei até a bunda gostosa para apertá-la e ouvi-la gemer contra a
minha boca. O problema não era treparmos, era o fato de que,
talvez, pela primeira vez, eu estivesse prestes a agir com a vontade
do meu coração, e não do meu pau.
CAPÍTULO 18
Quando eu fiz dezoito anos, eu fugi do Bronx, da minha mãe
e de Dylan. Comecei uma vida longe deles e nunca falei com
ninguém sobre isso. A não ser com o meu psiquiatra, e então,
quando eles voltaram para a minha vida anos depois, fugi para a
Itália. Não havia contado tudo para Andreas, mas o simples fato de
ter desabafado e tirado toda aquela merda de dentro de mim, me fez
sentir mais leve e mais próxima a ele.
Tudo com Andreas parecia fácil. Ele era duro e determinado
quando almejava algo, mas notei que ele compreendia tudo ao seu
redor com uma naturalidade ímpar. Apesar de viver em um mundo
completamente diferente do meu, isso não o tornou um homem
alienado, ao contrário, ele era mais humano do que eu supus. Até
mais que Stefano.
E desejá-lo ficou mais intenso e verdadeiro.
Pela primeira vez, senti o sabor da paixão na minha pele.
Não era apenas sexo, era uma entrega, uma troca. Ele conhecia
parte da minha vida que ninguém mais sabia, através da verdade
nua e crua e não me dispensou por isso. Ele não concordou que era
melhor interromper a gravidez diante de todas as circunstâncias,
riscos e probabilidades. A força dele era contagiante, pareceu
impregnar-me e pela primeira vez desde o dia que descobri que
estava grávida eu não me senti a pior pessoa do mundo, como um
verme.
Posso amar quantas pessoas eu quiser e ficar mais forte com
isso. O que me torna fraco é aquilo que não posso controlar…
Aquelas palavras queimaram dentro de mim de forma
avassaladora. Por um instante frágil, eu quis ser amada com essa
intensidade, com essa certeza de que o fato de ter uma doença que
me fazia ter ápices e quedas de humor terríveis não faria ninguém
mais me odiar. Estava cansada de ser odiada e incompreendida. A
única pessoa que me aceitou tal como eu era foi meu irmão, mas
até mesmo ele perdeu a paciência comigo várias vezes.
Eu só fechei os olhos naquele momento carregado de luxúria
enquanto Andreas me beijava e imaginei que pelo menos, uma
única vez, alguém poderia me aceitar tal como eu era sem me odiar.
Passei as mãos por seus ombros e enredei as mãos em seus
cabelos sedosos, beijando com toda a paixão que havia em mim.
Permiti que o desejo falasse mais alto e me entreguei.
As mãos dele desfizeram o nó do roupão e deslizaram para
baixo do tecido felpudo. Encolhi a barriga e meu corpo estremeceu
diante do toque quente, a sensação era tão gostosa, ainda mais
quando ele subiu pelas costelas até segurar os seios.
— Você me deixa louco! – ele sussurrou contra a minha boca.
— Quero me afundar em você – puxou o bico do seio e ofeguei —,
diga que me quer – ele exigiu.
Sua boca tocou meu queixo e queimou meu pescoço com
uma chupada gostosa. Meus gemidos ficaram mais altos do jeito
que sei que ele gostava de ouvir.
— Quero você…
Ele afastou o rosto e ergueu o olhar para me encarar. Seus
olhos estavam escuros pelo desejo e seus lábios entreabertos, a
respiração ofegante.
— Por que você me quer, Kirsten?
Senti a resposta queimar no meu peito com tanta força que
minha boca secou. Precisei passar a língua pelos lábios e ele
acompanhou o movimento.
— Seja boazinha e me diga o porquê você quer que eu te
foda gostoso – exigiu.
Adorava o som da voz dele, firme e rouca quando exigia
qualquer coisa. Era impossível resistir. Senti o centro das minhas
pernas queimarem e me arrastei contra sua calça.
— Eu preciso de você – confessei.
— Boa menina – ele sussurrou antes de descer os lábios
sobre os meus seios.
Meu corpo ficou todo arrepiado quando senti que ele me
chupava e em seguida mordia o mamilo. Abri o cinto da sua calça e
puxei para baixo, movida pelo desejo insano de senti-lo duro. A
cueca também cedeu e então o pau duro saltou para fora e pude
pegá-lo com a mão e esfregá-lo para cima e para baixo. Ele ofegou
e chupou meu outro seio com mais força.
— Andreas – eu murmurei ofegante acariciando-o mais
depressa.
Ele empurrou o roupão para fora dos meus braços e em
segundos eu estava nua. Eu o ajudei a tirar a camiseta e passei as
mãos pelo peito másculo e forte, tudo nele era firme e gostoso, uma
visão maravilhosa que me deixava excitada. A mão dele procurou
pelo meu clitóris e ele empurrou ali, girando o polegar sobre o botão
inchado e joguei a cabeça para trás, segurando nos ombros fortes
enquanto ele me incendiava completamente. Vi quando ele levou
dois dedos à própria boca e os enfiou na minha boceta e comecei a
cavalgar sobre ele.
— Isso é tão bom… – falei apertando seus braços.
— Eu sei, aproveite a viagem… – ele mandou.
Essa firmeza na voz dele me deixava louca de prazer e
comecei a me mover para frente e para trás. Andreas parecia estar
em todos os lugares do meu corpo, sua boca contra a minha, no
meu pescoço, no meu seio, entre minhas pernas, eu estava
perdendo o controle. Ele então tirou os dedos e gemi frustrada. Ele
cuspiu no próprio pau e então me ergueu para que eu sentasse
nele.
Ofeguei alto quando ele me preencheu. Ainda estava louca
de tesão por causa das carícias e precisava de mais e mais. Arqueei
contra ele, abraçando-o e comecei a mover meus quadris. Andreas
segurou minha bunda e começou a ditar o ritmo, entrando e saindo
rápido, forte, a cadeira escorregando pelo chão. Senti seus dentes
no meu ombro quando o vai e vem começou a ficar cada vez mais
intenso, rápido.
— Como eu adoro te foder – ele murmurou e apertou minhas
costas.
Nesse momento, eu soube que ele estava gozando antes de
mim. E para minha surpresa, ele tirou antes e gozou para fora.
Pensei que ficaria na mão, que ele me levantaria dali e iria embora,
mas ao invés disso, ele se ergueu comigo e me colocou sobre a
mesa. Soltei um Oh! de surpresa e ele se ajoelhou entre as minhas
pernas.
— Acabei gozando depressa, vou te compensar – ele falou
antes de descer os lábios sobre o meu clitóris.
Olhei para baixo e vi aquela boca maravilhosa trabalhando
em mim, passar a língua na minha fenda e começar a me chupar
com paixão. O barulho das chupadas se misturando aos meus
gemidos. Andreas abriu mais as minhas pernas e colocou sobre os
ombros dele. E logo eu estava me empurrando contra o rosto dele.
Ele novamente enfiou os dois dedos dentro de mim e os apertei. Ele
entrava e saía, terminando o trabalho que havia deixado de lado.
— Eu vou gozar – avisei quando meu corpo começou a
tremer e tive que apoiar as mãos para trás na mesa para não cair.
Ele abraçou meu quadril e seguiu chupando e fazendo aquela
mágica maravilhosa com os dedos dentro de mim e então o
orgasmo veio.
— Isso… é… bom – eu falei e meus olhos reviraram de tanto
prazer.
Andreas se ergueu, beijou minha boca e me pegou em seu
colo, minhas pernas ao redor de seu corpo, suas mãos
enganchadas na minha bunda. Eu o enlacei pelo pescoço e senti
que ele me levava dali até que me colocou sobre o colchão macio.
Ele se livrou das calças, das meias e cueca e veio para cima de
mim, aquele corpo perfeito, os ombros largos, quadris estreitos e as
pernas longas.
Eu o aceitei e nos beijamos até quase ficar sem fôlego.
— Podíamos ficar o dia todo fazendo isso… – ele avisou.
— Seu irmão me deu folga – avisei ofegante. — Mas à noite
tenho que jantar com meu irmão.
— A gente pode parar para jantar…
Oh, não! Não queria que ele fosse comigo na casa de Dylan.
— É um jantar de família – eu pontuei.
Ele assentiu pensativo.
— Sou praticamente da família – ele falou beijando meu
pescoço, meu ombro. — Sou o pai do seu filho.
Desse jeito, eu não conseguia pensar. Não queria que meu
irmão soubesse que eu estava grávida.
— Não quero que Dylan saiba que estou grávida – avisei.
— Não acha que é um pouco tarde? Eu contei para sua
mãe…
Havia me esquecido disso.
— Que merda! – xinguei levando a mão à testa.
Minha explosão estragou o clima. Andreas saiu de cima de
mim e ficou deitado de lado de bruços.
— Desculpa… – eu admiti meu erro —, não é sobre você. Eu
só não quero que eles saibam que estou grávida e disposta a deixar
o bebê com você. Pelo menos, essa ainda é minha intenção.
Andreas estava sério agora, o cabelo todo em desalinho,
lindo como nunca.
— Você não quer ser julgada pelo que vai fazer…
— Isso, meu irmão vai me reprovar e teremos uma briga –
expliquei.
— Por que a opinião dele é tão importante? – Ele quis saber.
— Ontem, a esposa dele, Sara, me contou que estão
tentando um bebê há dois anos, e embora ela não tenha nenhum
motivo aparente que a impeça, não consegue engravidar…
Ele compreendeu meu ponto de vista.
— Não quer magoá-los com sua decisão…
— É – admiti.
— Mas e se sua mãe disser qualquer coisa?
— Digo que ela mentiu – encolhi os ombros.
Quando eu soube que estava grávida, a certeza de não ter o
bebê era tão viva em mim que não poderia imaginar que semanas
depois me sentiria culpada pelas decisões que estava tomando. Já
havia dado um grande passo ao aceitar a gravidez e estar disposta
a levá-la até o fim. Porém, pensar em deixar o bebê com o pai e não
poder mais vê-lo parecia tão cruel. Mesmo que eu não quisesse ser
mãe, eu me sentia mal. Era como se eu fosse como a minha mãe.
O clima de paixão se perdeu e eu arruinei totalmente o tesão.
— Tudo bem, Kirsten. Só de você já ter aceitado levar essa
gravidez até o fim, foi um grande passo – ele garantiu.
Levei a mão ao peito e me senti sufocada. Seriam, pelo
menos, vinte e três semanas pela frente, quase seis meses de
gravidez em que eu teria que lidar com o fato que um bebê de
Andreas Cardinali crescia dentro de mim. E quando entregasse para
ele, meu bebê teria outra mãe. Mordi o lábio inferior e respirei fundo,
angustiada.
— Espero estar fazendo a coisa certa, Andreas – disse
sincera.
Ele ficou de lado. Apoiou o cotovelo sobre o colchão e a
cabeça na mão para me encarar.
— Está fazendo – ele sorriu charmoso —, o melhor pai do
mundo feliz…
— Vejo que a modéstia não passou em sua casa – brinquei.
— Não. Eu vou ser o melhor pai do mundo – ele fechou o
punho livre no ar —, estou apaixonado pelo meu filho, Kirsten.
E para minha surpresa, desceu a grande mão sobre o meu
ventre. Prendi a respiração. Não era o mesmo que ser tocada com
prazer. Ser acariciada com afeição era algo sem palavras, não
saberia descrever que tipo de emoção me tomou.
— Eu estou aqui bebê! – ele disse olhando para a minha
barriga levemente arredondada. — Sou o papai e estou esperando
você aqui, com todo amor do mundo.
Meu estômago queimou e senti algo arder em minha
garganta e tive que fazer um esforço enorme para engolir de novo.
Eu me perguntei se meu pai soubesse que minha mãe estava
grávida, se ele teria sido tão amoroso quanto Andreas, se ele teria
esperado por mim com tanto amor e carinho, ansioso pela minha
chegada. E quando descobrisse que eu havia herdado sua doença,
ele teria me acolhido e me dito que ficaria tudo bem, que ele me
protegeria do mundo cruel em que fui inserida sem querer.
Ver Andreas falar com o bebê me deixou emocionada e
permiti que as lágrimas escorressem livremente. O que eu poderia
fazer? Acreditava que no fundo foi o que sempre quis que meu pai
fizesse por mim, que me salvasse da minha mãe maluca. Senti
vergonha naquele momento, porque ao rejeitar meu filho, eu estava
agindo como Abigail.
— O que foi? – ele perguntou secando as minhas lágrimas
com o polegar.
Andreas agora estava com o corpo inclinado sobre o meu e
me fitava com o cenho franzido.
— Me perdoe – eu disse entre os soluços —, só não queria
ser uma péssima mãe como Abigail foi – admiti para ele —, só não
almejava fazer meu filho se sentir miserável como eu me senti a
vida toda, mas acabei fazendo isso…
— Kirsten – ele balançou a cabeça em negativa devagar —,
você teve seus motivos, mas amar seu filho não vai machucá-lo.
Nunca ouvi falar que o amor matou.
Assenti devagar. Andreas era incrível. Ele falava de amor
como se estivesse trocando de roupa ou falando sobre o tempo. Era
algo que fazia parte dele, não era um tabu, era apenas amor…
toquei seu rosto e ergui o meu para capturar seus lábios e beijá-lo.
CAPÍTULO 19
O irmão de Kirsten morava em Long Island. Ela realmente
tentou me demover da ideia de participar do jantar, mas eu apenas
fingi não ouvir e a obriguei a me levar. Ela me fitava como se eu
fosse um louco enquanto o motorista nos levava para a propriedade.
— Por favor, não diga nada sobre a gravidez – ela pediu pela
milésima vez.
— Não vou dizer – prometi impaciente —, se você pedir mais
uma vez, vou acabar falando.
— Está bem – ela respirou fundo e olhou pela janela do carro
as mansões pelas quais passamos —, deveria ter imaginado que
Dylan estava morando bem. Sara é herdeira de banqueiros. Não,
mentira. Algum conglomerado de indústrias, não me recordo agora…
– Moveu a mão no ar, nervosa.
Stefano sempre a elogiou por ter uma memória excelente.
Era óbvio que ela estava nervosa por causa daquele jantar. Segurei
a mão dela no ar e ela me fitou com surpresa. Levei sua mão aos
meus lábios e beijei devagar.
— Fique calma, vai dar tudo certo. Não vou mastigar de boca
aberta ou arrotar depois que comer – brinquei para aliviar a tensão.
— Me perdoe – ela admitiu que estava exagerando —, mas
minha família tem esse poder sobre mim – lamentou.
Não soltei sua mão, fiquei com ela em cima da minha coxa
enquanto ela fitava a rua. A opinião do irmão era importante e até
mesmo da mãe. E imaginava que o julgamento do pai que ela
sequer conheceu teria um peso maior. E me vi querendo que minha
opinião também fosse importante para ela. E dificilmente não
consigo o que quero.
O carro avançou pela propriedade suntuosa, e antes mesmo
de pararmos, um homem e uma mulher abriram a porta da mansão
e saíram para nos receber. Kirsten desceu animada para abraçá-los,
mas meu sorriso desapareceu quando reconheci a mulher, Sara
Greenberg. Ela também estava sorrindo para Kirsten, mas seu
sorriso desapareceu quando ela colocou os olhos sobre mim. A loira
esbelta me fitou com a sobrancelha erguida, pronta para me matar.
— Andreas? – ela perguntou surpresa.
Era melhor que ela não fingisse que éramos estranhos, seria
constrangedor.
— Como vai, Sara?
Ela sorriu sem graça. Tinha certeza que se ela pudesse, me
chutaria dali sem piedade. Dylan e Kirsten nos olharam com
curiosidade.
— Eu e Sara nos conhecemos em Roma – resolvi contar para
não ficar um mal-entendido.
— Ele foi namorado da minha prima Betsy – ela terminou de
explicar.
E o namoro de verão não terminou bem. Betsy estava
apaixonada, queria se casar e ter filhos, estava até mesmo com
planos de se mudar para a Itália para ficar comigo, enquanto para
mim não passava de uma curtição. Eu tinha somente dezenove
anos. Betsy tentou se matar e ficou depressiva por meses, seus pais
me ligaram fazendo ameaças, que eu tinha destruído a vida da filha
deles. Mas era apenas um namoro, nunca prometi casamento e
relacionamentos acabam. Mas saí como o canalha da história.
— Eu sou Dylan – o homem alto e ruivo se apresentou e
estendeu a mão.
— Andreas Cardinali – eu me apresentei —, sou o namorado
de Kirsten.
Kirsten me olhou de lado, me reprovando por me apresentar
como namorado. Mas o que ela queria que eu dissesse? Sou o
amante da sua irmã? Apesar de estar bem vestido, o irmão dela
tinha cara que não hesitaria em pegar uma arma e atirar em mim
bem no meio do peito, primeiro porque ele pensou que eu tinha
comido a mulher dele e agora porque estava comendo a irmã dele.
Por que o cara gostaria de mim?
— Vamos entrar – Dylan convidou.
Sara estava de braços cruzados. Ela não havia mudado nada
naqueles anos, perguntei o que ela acharia se eu contasse que o
flerte dela foi com Stefano?
Dylan segurou no cotovelo da esposa e a conduziu para
dentro contra a sua vontade. Tinha certeza que Sara preferia comer
marimbondos vivos a me deixar entrar em sua casa depois do
estrago que fiz na vida de Betsy. Kirsten olhou para mim e diminuiu
os passos para sussurrar:
— O que foi que você fez com a prima dela?
Encolhi os ombros.
— Nada, a gente só namorou alguns meses e ela pensou que
era para sempre.
Kirsten estreitou o olhar.
— Só isso?
— Ela ficou obcecada, queria casar e ter filhos e eu não
pensava em outra coisa que não fosse trepar, na época – expliquei
depressa enquanto entrávamos na casa —, o que se espera de um
rapaz de dezenove anos?
Kirsten meneou a cabeça concordando comigo. Eu não era
santo, nunca fui, mas jamais fiz promessas que não poderia cumprir.
E Betsy não foi a primeira americana que namorei nas férias de
verão, aliás, eu sempre tive queda por americanas, e ruivas agora
eram as minhas preferidas. Na verdade, uma ruiva era a minha
favorita no momento.
— E Sara é tão rica quanto eu. O avô dela era banqueiro e o
pai dono de uma indústria farmacêutica – contei à Kirsten.
— Mesmo? Sabe tudo isso como? Por causa da prima?
— Ela e Stefano – falei movendo a boca, mas sem deixar o
som sair.
— Sério? – Kirsten respondeu do mesmo jeito e rimos. —
Não conte a Dylan ou ele vai matar seu irmão. Meu irmão costuma
ser ciumento.
— Pode deixar. – Pisquei para ela.
Ela sorriu daquele jeito charmoso que me fez aproximar
depressa e roubar um beijo rápido. Kirsten parou de andar e ficou
me olhando sem entender nada, afinal, nosso caso era apenas na
cama.
— Você não vem? – perguntei como se não tivesse feito nada
demais.
Ela veio ao meu encontro, entramos pela casa luxuosa e
fomos para a sala de visitas. Dylan serviu uísque para nós dois. Eu
e Kirsten nos sentamos em um sofá e eles no outro. Sara
continuava com os braços cruzados e com cara de poucos amigos.
A loira estava disposta a demonstrar o quanto minha presença a
ofendia.
— Você não me contou que estava namorando, Kirsten –
Dylan comentou num tom de brincadeira.
— Esqueci – ela respondeu.
— Esqueceu? – ele debochou dela.
— Na verdade, Dylan, você tem que concordar comigo que
Kirsten é uma mulher muito discreta…
— Discreta e corajosa – Sara observou com secura.
Não me sentia ofendido, eu tinha vontade de rir. Foi a prima
dela quem pirou, mas fazer o quê? Eles precisavam culpar alguém.
E se passaram seis anos, e ela ainda remoía o que aconteceu? Era
muito ódio para um homem que sequer fazia parte do rol de amigos
delas.
— Está nos Estados Unidos a trabalho, Andreas? – Dylan
ignorou a esposa e continuou com a conversa amigável.
— Não – coloquei a mão no ombro de Kirsten —, eu vim
apenas para ver Kirsten.
— Pelo visto a coisa é séria – Dylan disse satisfeito.
— Mais séria do que você imagina – garanti.
— Adorei a decoração da casa – Kirsten falou tentando
mudar de assunto.
— Tome cuidado, Kirsten. O Senhor Cardinali gosta de fazer
promessas que não pode cumprir…
— Sara! – Dylan a reprovou.
A loira fitou o marido com indignação.
— Não me diga que vai ficar do lado dele? Ele destruiu a vida
da minha prima!
— Calma aí! – decidi me defender. — Não foi bem assim. Era
apenas um romance de verão…
— E vai me dizer que nunca prometeu a ela um casamento?
— Por que eu faria isso aos dezenove anos?
— Para tirar a virgindade dela! – ela me acusou com o dedo
em riste.
— Sara! – Dylan pediu com o dedo em riste.
— Talvez seja melhor eu ir embora – falei consciente de que
minha presença não era bem quista e eu não queria estragar a noite
de Kirsten mais do que já havia feito.
Eu me ergui e Dylan também.
— Não há necessidade disso! – ele pediu. — Sara está
sendo indelicada, ela não tem o costume de fazer isso…
— Ele fez minha prima sofrer, Dylan! E vai fazer sua irmã!
Não viu nos jornais? Ele está processando a amante grávida!
O silêncio pesado caiu por toda a sala. Pela primeira vez, eu
não sabia o que dizer. Kirsten ficou rubra de imediato. Dylan olhou
de um para o outro.
— Do que está falando? – ele perguntou à esposa.
— Está em todos os sites de fofoca, tabloides, até mesmo
falaram sobre isso no noticiário! – ela disse nervosa, gesticulando
sem parar. — Ele está processando a amante porque ela quer
abortar e ele quer ter o filho!
Dylan olhou para Kirsten que permanecia sentada de cabeça
baixa. Depois ele olhou para a esposa.
— O que há com você, Sara? – Ele se virou para ela. — Ele
está fazendo o certo, lutando pelo bebê!
Ela abriu a boca para falar, mas a voz demorou para sair.
— Mas ele está tirando o direito dela de escolher – ela
gaguejou.
— E por que ele não pode escolher se o filho é dele também?
– Dylan quis saber com uma suavidade para não ofender a esposa.
— Dylan…
— Não, Sara. Andreas e Kirsten vieram nos ver essa noite,
querida. E não importa o que fizeram, nós vamos recebê-los muito
bem – ele beijou a testa dela —, vá lavar seu rosto e se refazer,
você está nervosa à toa.
Ela ficou sem graça, de repente. Sara ficou envergonhada
por notar que estava estragando a noite de todos por algo que
sequer havia acontecido com ela.
— Está bem, eu já volto – ela falou sem graça e se retirou
sem olhar para mim ou para Kirsten.
Dylan colocou as mãos no bolso da calça de linho e nos
encarou.
— Alguém vai me contar o que está acontecendo aqui?
Kirsten bufou irritada.
— Eu estou grávida de Andreas – ela contou ao irmão.
— Entendi – ele olhou para mim —, e você quer esse filho?
— Muito – respondi —, mais do que já quis qualquer outra
coisa na vida.
Dylan se aproximou de mim. Eu era mais alto que ele e nos
encaramos.
— Há uns anos, eu te daria um tiro por ter engravidado a
minha irmã – ele respirou fundo —, mas cara, sua atitude mudou
tudo. Obrigado por não deixar Kirsten agir como uma idiota.
— O quê? – Ela se ergueu depressa.
Dylan sorriu para mim e bateu no meu ombro antes de olhar
para a irmã.
— Estava escrito nas estrelas que você faria isso – ele
comentou —, fico feliz que tenha encontrado um homem
determinado que não dá a mínima para o que você pensa…
— Dylan! – ela o reprovou chocada pelas palavras do irmão.
Ele me encarou.
— Minha mãe destruiu a autoestima de Kirsten, aliás, depois
que ela nos deixou ao completar dezoito anos, estava devastada –
ele me contou.
— Eu estou aqui, Dylan – ela o fez lembrar se aproximando
de nós.
Ela se aproximou de mim, pegou o copo com uísque da
minha mão e virou de uma vez.
— Você não deveria beber – Dylan a repreendeu.
— Falou o maldito viciado! – ela disse brava, devolveu o copo
vazio para mim e se afastou. — Vou falar com Sara e explicar a
situação.
Eu a observei se afastar e então olhei para Dylan.
— Geniosa – comentei.
— Muito. – Ele pegou o copo da minha mão e foi servir mais
para nós dois. Voltou para perto, devolveu o copo cheio e apontou
para o sofá. Eu me sentei de um lado e ele na poltrona. — Ela lhe
contou sobre a doença, sobre nossa mãe?
Meneei a cabeça.
— Na verdade, ela me levou para conhecer sua mãe, e
Abigail contou a versão dela dos fatos – descrevi.
— Kirsten estava mesmo disposta a te convencer a não ter
esse filho – ele ponderou surpreso —, ela odeia a nossa mãe. E não
a culpo. Abigail fez da vida dela um inferno.
— Imagino que sim…
— A doença demorou para ser diagnosticada, então todos
pensavam que Kirsten era pirada, maluca – balançou a cabeça em
negativa devagar, desolado —, não tinha maturidade para lidar com
isso e sequer estrutura. Eu a protegia na rua, mas em casa cobrava
dela uma postura que ela não era capaz de ter.
— A culpa também não é sua…
— Mas me sinto responsável. Uma vez, quando ela quebrou
o quarto todo depois de uma briga com nossa mãe, eu a chamei de
aberração – falou com pesar —, ela ficou arrasada por vários dias, e
me senti um grande desgraçado. Mas ao invés de acolhê-la, eu
enfiava o nariz na carreira de cocaína…
— Vocês fazem parte de uma família desestruturada, Dylan.
Não tem culpa, mas agora estão fazendo diferente, isso que
importa…
— Fico feliz que tenha cruzado o caminho de Kirsten… ela
precisava de um homem maduro ao seu lado – ele bebeu o uísque
—, quando vão se casar?
— Casar? – eu perguntei sem perceber.
— Não é isso que pretendem fazer agora que vão ter um
filho? – ele perguntou me impondo a condição.
Mas não me senti pressionado.
— Dylan, eu tive que processar sua irmã para que ela
levasse a gravidez até o fim – falei sem qualquer humor —,
casamento é algo que vou ter que pensar bem, ela vai surtar…
— Ela vai – ele sorriu com malícia —, mas eu gostaria de ver.
Juro!
A ideia não parecia tão ruim, mas casamento era uma
situação muito séria para ser tomada de supetão e no calor da
emoção. Um filho não podia ser motivo para um casamento, mas a
necessidade do casal de estar juntos.
— Seja lá que decisão tomar – ele prosseguiu —, não deixe
Kirsten pensar que não vale a pena – ele me aconselhou.
Sorri para ele e assenti. Até agora eu tinha feito valer a pena.
Apenas queria saber em que lugar realmente essa loucura toda nos
levaria.
CAPÍTULO 20
Encontrei Sara no corredor, na frente do lavabo, lavando o
rosto.
— Sara – eu a chamei.
Ela ficou tensa quando ouviu a minha voz, pegou a toalha e
enxugou as mãos lentamente, evitando me olhar. Eu também estaria
brava no lugar dela, porque escondi que estava grávida. Aproximei e
disse:
— Eu sinto muito por ter escondido a verdade – falei sincera.
— Por qual motivo? Por que sentiu pena de mim, porque não
consigo engravidar?
— Não – respondi constrangida —, porque eu estava
disposta a interromper a gravidez.
Sara ficou sem reação no primeiro momento. Depois ela me
fitou com incredulidade.
— Por quê?
— Você conhece minha história, Dylan deve ter lhe contato…
— Mas…
— Eu só não queria que meu filho sofresse o que sofri – eu a
cortei —, só não almejava que ele fosse devastado por ser diferente
e ter um problema que ele nunca pediu.
Senti vontade de chorar de novo. Meu apelido deveria ser
bica d’água dali para frente. Eu só fazia chorar o tempo todo, como
se partes da minha alma estivessem sendo coladas novamente e
me causasse certo incômodo. Não era dor. Eu senti dor quando
minha alma foi quebrada, era uma insegurança, uma tristeza sem
fim, e o nascimento da esperança que tudo poderia ser diferente
agora.
Andreas me fez enxergar isso.
— Sinto muito – Sara disse e segurou minha mão —, me
desculpe pelo show lá fora e por ser tão insensível.
— Não se preocupe. Eu compreendo.
— Mas seu irmão tem razão, você não está aqui para brigar,
e sim para ter uma noite agradável, não sei o que deu em mim… –
Ela forçou um sorriso.
— Vai ficar tudo bem, Sara. Se uma pessoa destrambelhada
como eu consegue ser mãe, você também conseguirá – eu a
confortei.
— Não diga isso, merece ser mãe quem quer ser, Kirsten,
apenas isso – ela respirou fundo —, vamos ver se o jantar está
pronto? Estou morta de fome!
— Sim – concordei e a acompanhei até a sala de estar onde
o jantar já estava sendo posto.
Logo estávamos todos sentados ao redor da mesa,
conversando animadamente e deixando de lado todas as
diferenças. Sara tratou Andreas bem e não o atacou mais, embora
vez o outro ela escarnecesse de algum comentário dele, mas logo
ela consertava e voltava a si, agindo normalmente.
A certa altura do jantar, Andreas pediu licença e se ergueu
para atender o celular. Voltou minutos depois, não consegui ouvir
nada do que ele dizia, mas entendi que era com Cicci, sua
secretária. Para ela ligar àquela hora, deveria ser muito sério. Ele
voltou para a mesa e não disse nada, apenas sentou ao meu lado e
sorriu, voltando a conversar normalmente.
Nós ainda ficamos por horas conversando, mas por fim, eu
estava cansada. Foi o dia todo fazendo sexo, e meu corpo pedia por
uma boa cama e uma excelente noite de sono. Antes da gravidez,
eu passaria a noite toda acordada, agora, eu mataria por algumas
horas de sono.
— Nós iremos visitá-los na Itália – Dylan falou quando nos
acompanhou até a porta.
— Estaremos esperando – Andreas respondeu como se
realmente fôssemos um casal.
Abracei Dylan e depois Sara. Fiquei emocionada outra vez,
mas me controlei. Quando o carro se afastou, eu dei um cutucão em
Andreas.
— O que estava pensando quando disse que éramos
namorados? – perguntei brava.
— E o que queria que eu dissesse quando seu irmão tem
cara de psicopata? – ele devolveu.
— Dylan não parece um psicopata! – Eu ri do que ele disse.
— Sei, você que pensa… Sequer faz ideia do que ele me
disse quando ficamos a sós – exagerou.
— Ele te ameaçou?
— Com todas as letras! – afirmou.
Estreitei o olhar desconfiada, algo me dizia que Andreas
estava exagerando.
— Não acredito que ele fez isso! Por que ele faria?
— Para defender a irmã e o sobrinho! – falou o óbvio e
mudou de assunto. — Cicci me ligou, vou ter que partir para casa.
Senti um aperto no peito. Como se me separar de Andreas
fosse um mal e não um alívio. Mas me incomodou.
— Algum problema? – perguntei tentando não demonstrar
minha decepção.
— Tenho uma reunião importante com os chineses – ele
respondeu sem dar mais explicações —, quanto tempo acha que
ainda vão ficar na América? – Quis saber.
— Talvez mais uma semana… por quê? Está com medo que
eu mude de ideia? – Ergui uma sobrancelha.
— Não. – Sua mão pousou na minha coxa de forma atrevida
e ele se virou para mim. Fiquei tensa quando a boca se aproximou
do meu ouvido e ele disse:
— Quero fazer as contas de quanto tempo vou ficar sem te
tocar…
Aquela voz fez meu clitóris pulsar e fechei os olhos. Não era
para ser assim, tão fácil, tão simples. Porém havia algo que eu não
conseguia compreender e era o desejo avassalador que ele me
despertava.
— Por favor, Alban – ele disse ao motorista —, pode parar o
carro um minuto? Kirsten está passando mal.
— Claro, Senhor Cardinali – o homem respondeu e jogou o
carro no acostamento.
— O que está fazendo? – sussurrei para ele.
Ele não respondeu. Apenas desceu do carro e deu a volta
para abrir a porta para mim.
— Não estou passando mal – murmurei para que apenas ele
ouvisse.
— Eu sei – ele garantiu —, agora saia…
Sem entender nada, eu desci do carro. Andreas segurou
minha mão e me levou para o canto da estrada onde uma fileira de
árvores se formava para entrar em um tipo de mata ou floresta. Não
sabia dizer onde estávamos. Algum lugar entre Long Island e Nova
Iorque, uma hora de viagem até o hotel onde estávamos
hospedados. Sem me dar direito a perguntar nada, ele chegou em
meio àquela escuridão de árvores, me empurrou com força contra o
tronco de uma delas e me beijou de forma selvagem.
Pensei em mil coisas, menos que ele estivesse disposto a
transar bem ali. Pensei até que ele estivesse com algum tipo de
desconforto intestinal e precisasse disfarçar, menos que suas
intenções fossem de passar a mão grosseiramente pela minha
perna subindo a minha saia, depois de abrir o zíper e deixar as
próprias calças caírem no chão.
Correspondi com a mesma fúria, ele mordeu minha boca,
estava tão quente que eu podia sentir a ponta do seu pau contra a
minha virilha, quando ele me pegou pela bunda e me ergueu no ar,
eu o abracei com as pernas. Um dos meus scarpins caiu do meu pé
com o movimento brusco e ele mordeu meu pescoço no instante em
que bateu novamente meu corpo contra o tronco da árvore. Seu
beijo era tão indecente que ele deveria ser preso por me deixar tão
molhada.
Era sempre assim com ele, eu sentia um calor no estômago
que se espalhava para baixo, deixando minhas pernas bambas.
Senti o cheiro dele, seu perfume forte e também o nosso cheiro, o
quanto nos queríamos e isso tomava o ar. Ele parecia ter fome de
mim, sempre faminto para me foder gostoso, e quanto mais isso
acontecia, mais queríamos uma próxima vez. Geralmente eu perdia
o interesse logo, mas agora tudo estava mais intenso.
Pela primeira vez, quis que fosse de verdade, que eu
pudesse sentir algo por um homem e me perder. Era loucura, eu
sabia, mas se tivesse que me apaixonar pela primeira vez na vida,
que fosse por Andreas Cardinali, ninguém mais. Quando ele colocou
a calcinha de lado e me penetrou, soltei um grito e apertei seu pau
dentro da minha boceta. Ele gemeu e travou os dentes, se
controlando.
— Sua cadela – ele falou ofegante contra a minha boca —,
assim vou gozar muito rápido.
Eu ri e ele começou a se mover, arqueei o corpo e ele desceu
a língua quente pelo meu peito e mordeu o meu seio por cima do
tecido da blusa. A sensação foi deliciosa e ofeguei seu nome.
Gostava da pegada dele, era intensa, ele não escondia quem era,
não tinha medo de eu ser uma mulher livre e experiente como
outros homens que se intimidaram e tentaram mostrar que eram
melhores em tudo.
Ele tomou minha boca de novo e então senti o orgasmo me
rasgar, muito rápido, eu queria me controlar, mas aquele sexo sem
hora, no meio do nada, e de forma inesperada mexeu com a minha
libido e me entreguei. O vento frio bateu contra o meu seio quando
ele o colocou para fora e chupou o bico enquanto gozava também.
Nunca havia gozado com um homem chupando meu seio e foi
maravilhoso!
— Sim! – eu disse com a voz estrangulada.
Ele enfiou a cabeça no meu decote, entre os meus seios e
gozou, seus gemidos se perdendo contra a minha pele.
— Como eu precisava disso – ele lamentou —, quis te foder
na casa do seu irmão, mas ele estava nos vigiando, decidi não
provocar.
Eu ri. Ele saiu de dentro de mim e com cuidado me colocou
no chão, ajeitou meu vestido e depois a própria roupa.
— Você é louco! – falei balançando a cabeça devagar.
— Estou louco por você, Kirsten, não vou mentir – ele
segurou meu rosto entre as mãos —, e quando você voltar para a
Itália, vou estar te esperando…
E antes que eu o questionasse, ele me puxou para um beijo
forte e gostoso. Sua língua invadiu minha boca e meu cérebro
entrou em curto como se eu tivesse quinze anos e não vinte e cinco
e fosse uma mulher experiente e grávida. Nada do que vivi me
preparou para enfrentar a tempestade que Andreas era. Ele
passava por cima das minhas emoções levando tudo que tinha pela
frente sem se importar com as consequências e isso era assustador.
— Não diga nada – ele pediu ao se afastar —, por favor.
— Está bem – concordei sabendo que eu não tinha o que
falar.
Não esperava transar com ele no meu retorno para a Itália,
mesmo que quisesse que nossos encontros quentes se repetissem.
— Vou retirar o processo e Cicci já está vendo o investigador
para começar a procurar seu pai. Acredito que em alguns dias
teremos alguma resposta.
Aquilo me animou. Ele estava disposto a tudo para ficar com
o bebê, e eu encontraria meu pai. Meu coração bateu mais forte e
dessa vez fui eu quem o beijou. Ele foi pego de surpresa, mas suas
mãos desceram pela minha cintura e me puxaram para mais perto,
se esfregando em mim. Como era gostoso beijar esse homem.
Poderia fazer isso a vida toda, e diante desse pensamento
incoerente com meu modo de vida, eu estremeci. Eu seria uma
mentirosa se não admitisse que Andreas estava mexendo comigo
como nenhum outro.
— Você está com frio, vamos voltar para o carro – ele avisou
e segurando minha mão voltamos para o carro.
Ele abriu a porta e esperou que eu entrasse para fechar a
porta e dar a volta para entrar pelo outro lado.
— Pode ir, Alban – ele pediu.
— Sim, senhor.
Para minha surpresa, ele pegou minha mão e a beijou como
fez no caminho de ida para a casa do meu irmão. Andreas sabia
como fazer uma mulher se sentir especial.
— Cuide-se – ele pediu —, vou te ligar todos os dias.
— Não precisa fazer isso, Andreas – falei séria —, não vou
quebrar minha parte no acordo.
— Não vou te ligar para te vigiar, se eu quisesse fazer isso
era só colocar alguém atrás de você – ele retrucou me encarando
—, vou te ligar porque quero saber como você está, só isso, ruiva.
Sorri quando ele me chamou de ruiva. Havia algo muito
íntimo nisso.
— Está bem – concordei.
— E quando voltar, você vai fazer os exames que a doutora
Rossoni te pediu – ele me avisou —, esqueci de avisar, ela ligou
para Cicci e pediu o telefone do seu psiquiatra, ela quer conversar
com ele.
— Vou ligar para ela e passar – certifiquei.
— Vai dar tudo certo – ele prometeu.
Tinha certeza que daria. Andreas de repente cercava meu
mundo de uma tal forma que eu não conseguia deixar de me sentir
segura ao lado dele. Tentei me recriminar, mas meu coração
empurrou a razão para o lado e a mandou calar a boca. Eu sabia
que me envolver demais com Andreas quebraria meu coração em
mil pedaços, mas pela primeira vez, eu simplesmente não me
importava e não estava com medo.
CAPÍTULO 21
Foi uma semana agitada. Daquelas que eu queria matar o
tempo e fazê-lo correr para que o fim de semana chegasse e
finalmente me encontrasse com Kirsten. Eu a senti distante em
nossas conversas por telefone e em uma delas, ela chegou a dormir
enquanto conversávamos, me deixando falando sozinho. No dia
seguinte, mandou mensagem pedindo mil desculpas, e alegando
que a gravidez a estava deixando exausta. Claro que fui ler sobre
isso na internet e era verdade, um dos principais sintomas da
gravidez era o excesso de sono e muitas mulheres reclamavam de
dormir sem perceber.
A verdade é que desde que nos separamos eu só conseguia
pensar nela e na vontade de reencontrá-la e passar a noite fazendo
o melhor sexo da minha vida, ou durante o dia também valia. Não
importava, desde que estivéssemos juntos. Pedi a retirada do
processo contra ela e pedi que Cicci preparasse o contrato em que
ela assinava os termos de que levaria a gravidez até o fim e eu tinha
a responsabilidade de encontrar o pai dela.
Eu já estava me dirigindo para o aeroporto em Roma quando
Cicci me avisou que o avião particular de Stefano desceria em
Florença.
— Quero matar meu irmão – falei bravo —, por que ele
mudou a rota?
— Não faço ideia, senhor – Cicci respondeu o óbvio.
Mas imaginei que seria por causa de Luna, a família dela era
de lá e ela estava escondida na casa da tia, como ele havia me
contado. Torcia para que eles fizessem as pazes, eles mereciam ser
felizes.
— Peça para liberarem meu avião – mandei —, estou indo
para o aeroporto.
— Quer que eu envie sua bagagem de emergência, senhor?
– Ela quis saber.
— Não. Não pretendo ficar muitos dias e se eu decidir ficar,
compro tudo por lá. – avisei e desliguei.
Duas horas depois, eu desci do meu avião um pouco irritado
e impaciente. Só queria reencontrar Kirsten e saber se ela estava
bem, abraçá-la e tocar sua barriga para sentir meu filho. Agora ela
estava de dezesseis semanas, quase dezessete. Não demoraria e
eu poderia sentir o bebê mexer. Estava ansioso por isso. Como
sempre, meu irmão ficava hospedado no Four Seasons. Os quartos
eram um estilo colonial, e os jardins eram de acordo com os antigos
palácios.
— Poderia me dizer em qual quarto está a assistente do
Senhor Stefano Cardinali? – perguntei à recepcionista.
— Suíte trezentos e oitenta, senhor, quer que eu avise que
está aqui?
Pensei por um instante, em Nova Iorque eu fiz uma surpresa.
Era fim de tarde, portanto, um encontro mais romântico seria mais
marcante do que pular em cima dela na cama.
— Diga a ela que Andreas está esperando por ela na Poul
Garden Suite, na piscina privativa – avisei e passei uma gorjeta para
a jovem que sorriu diante da nota alta.
— Sim, senhor. Mais alguma coisa?
— Mande servir champanhe e morangos – eu pedi.
— Claro, senhor.
Sorri satisfeito e me dirigi para a piscina privativa. Isso a
remeteria à primeira vez que ficamos juntos e algo me fez ser
perverso. Atravessei os corredores com suas decorações coloniais e
antigas e saí pelas portas duplas abertas, caminhando pelo jardim
que me levaria até minha suíte exclusiva, fora do prédio principal.
Tirei o paletó e joguei nas costas da cadeira e desfiz da gravata e
abri os primeiros botões, dobrando a manga até os cotovelos
enquanto caminhava pela borda da longa piscina de água quente.
Não demorou e ouvi o funcionário bater à porta e trazer o
champanhe e os morangos. Agradeci e assinei a nota e então ele se
retirou. Servi a bebida e tomei, precisando molhar a garganta,
estava ansioso para reencontrá-la. E então ela apareceu, usava
apenas uma calça pantalona preta e uma blusinha branca e a
maldita estava sem sutiã. Meu pau acendeu como uma bomba
relógio, na contagem regressiva até eu me afundar nela, o sangue
correu mais rápido e apertei a taça para não perder a cabeça tão
rápido.
— O que está fazendo aqui? – Ela se aproximou devagar.
Os cabelos estavam presos num coque frouxo e alguns fios
caíam ao redor do rosto. Como eu senti saudade dessa maldita!
— Vim encontrá-la – respondi como se fosse a coisa mais
óbvia do mundo.
Ela me fitou sem graça.
— Stefano te avisou para vir me ver? – perguntou parando
diante de mim.
Enchi a outra taça com champanhe e entreguei a ela. Era
pouco alcoólico e não faria mal a ela.
— Obrigada – ela agradeceu quando lhe entreguei a taça.
— A resposta à sua pergunta é não. Não falei com o meu
irmão. Quem me avisou que estaria aqui foi Cicci…
Ela sorriu.
— No futuro quero ser uma secretária como Cicci, ela
descobre tudo, sabe absolutamente tudo que a cerca – ela elogiou.
— Ela é a melhor – garanti e ergui a taça para brindar —, ao
nosso reencontro?
— Ao nosso reencontro – ela sorriu e ergueu a taça batendo
levemente contra a minha.
Kirsten sorveu a bebida e passou a língua pelos lábios. Não
fez nada, mas aquele movimento foi o suficiente para que eu tivesse
uma desculpa sexual para beijá-la. Eu a enlacei pela cintura e a
puxei para mais perto e tomei posse dos seus lábios com gosto de
champanhe. O que era para ser um simples beijo, se tornou algo
mais quente, meu pau subiu e ela se esfregou contra mim.
— Senti sua falta – eu mordi seu lábio inferior e sussurrei.
— Eu também – ela quase não conseguiu falar.
Passei a língua por sua boca e beijei seu queixo. Deixei a
taça sobre a mesa e ela também. A virei de encontro à mesa e ela
apoiou as mãos no tampo enquanto eu a abraçava pelas costas,
minhas mãos enfiaram debaixo de sua blusa e eu sentia sua pele
estremecer, escutei sua respiração sair mais pesada e compreendi
que ela sentia o mesmo que eu.
— Quero rasgar sua roupa e morrer enterrado nessa sua
boceta apertada! – disse contra sua pequena orelha.
Ela soltou outro gemido. Segurei seu pescoço e debaixo dos
meus dedos senti a sua pulsação acelerada. O que era isso que
sentíamos? Era como se não conseguíssemos pensar em mais
nada ou nos controlar e isso era bom. Era terrivelmente sedutor
saber que com ela eu não precisava estar no controle e ao mesmo
tempo não tinha qualquer receio das consequências. Tirei sua blusa
e a joguei longe. Ela voltou a se apoiar na mesa, sua bunda
esfregando no meu pau.
Passei as mãos por suas costas e alcancei os cabelos,
enredando neles e virando sua cabeça de lado para tomar sua boca
com luxúria. Ela se entregou ao beijo e quando enfiei a outra mão
em sua calça, um gemido escapou dos meus lábios.
— Você está sem calcinha, sua puta gostosa?
Ela riu com maldade. Adorava esse lado perverso dela.
— Não gosto de perder tempo – ela murmurou enquanto
minha boca tomava seu pescoço e seus lábios de novo.
Novamente, ela girou aquela bunda contra o meu pau e eu
travei os dentes para gemer. Sua mão deslizou para trás e segurou
meu pau sobre a calça e acariciou, sabendo exatamente o que
fazer.
— Vamos acabar com isso – ela murmurou perdida nas
carícias, ainda me fazendo delirar sobre o meu pau.
Abaixei sua calça e ela ficou toda nua, chutando a peça para
longe. Eu aproveitei para abaixar as minhas que caíram no chão e
chutei as peças para o lado. Ela se virou para mim e nos beijamos
enquanto ela me ajudava a desabotoar a camisa, que logo foi tirada
pelos braços e pude finalmente abraçá-la e sentir seu corpo quente
contra o meu. Os seios mais cheios contra o meu peito, ela enfiou
uma perna no meio da minha e ergui minha coxa, fazendo suas
pernas penderem.
Kirsten começou a se esfregar contra a minha pele, se
masturbando.
— Sua egoísta – sussurrei contra a sua boca e ela riu.
Ela voltou a pegar meu pau e o acariciou com uma
experiência tão deliciosa que revirei os olhos. Afastei o suficiente
para segurar seus cabelos e olhar em seus olhos. Ela tentou me
beijar, mas mantive seu rosto longe do meu, queria assistir a forma
como ela se perdia enquanto se esfregava em mim e me
masturbava, era enlouquecedor.
— Por favor – ela implorou quando tentou me beijar outra vez
e não deixei.
— Quero te ver chegar lá…
Ela estava se esfregando cada vez mais rápido e se
continuasse assim terminaríamos os dois gozando.
— Não pare – eu mandei quando a vi hesitar.
Os olhos de Kirsten ficaram escuros como tempestades e ela
jogou a cabeça para trás, fechando os olhos, os seios ficando
entumecidos, os bicos eriçados que fui obrigado a descer os lábios
sobre eles e chupá-los. Ela então gozou e me abraçou, escondendo
seu rosto no meu ombro enquanto o orgasmo a engolia.
Eu a virei sobre a mesa, seu peito espalhado sobre o tampo,
sua bunda gostosa virada para mim. Agarrei e abri suas pernas o
suficiente para cuspir na sua entrada molhada e enfiar meu pau de
uma vez. Ela gemeu alto.
— Preciso de você, Kirsten. Como eu senti sua falta… –
minha mão escorreu pelas costas dela e agarrou seu cabelo.
Ela gemeu e comecei a me mover sem parar.
— Faça o que quiser. – Ela se entregou.
Aquilo foi o suficiente para me enlouquecer e eu remeter
cada vez mais fundo e forte, os gemidos dela cada vez mais altos
também até que ela choramingou meu nome e eu soube que não
poderia ficar sem ela, nem agora ou nunca. Esse pensamento
possessivo me deu mais tesão e gozei forte e gostoso, levando nós
dois à loucura.
Quando terminamos, eu a peguei no colo e a levei até a
piscina, entramos e ela riu, se lembrando exatamente como tudo
começou, nada precisava ser dito.
A água quente ajudou a relaxar e ela se soltou de mim para
mergulhar. Eu também mergulhei e nadei com ela, a abracei
debaixo da água e nos beijamos, vindo à tona e ela me abraçou
com as pernas, para manter o beijo intenso.
— Ser rico tem seu lado bom – ela ironizou e nadou para o
outro lado.
Como um caçador, eu nadei atrás dela e tentei pegar seu pé.
Ela se encolheu e riu e nadou até chegar do outro lado. Kirsten
apoiou os braços na borda e esperou que eu ficasse ao seu lado
para podermos olhar o jardim iluminado lá fora, começava a
escurecer.
— Deu certo o negócio com os chineses? – ela perguntou
curiosa.
— Não. Quer dizer sim, em partes – contei —, na primeira
reunião, eles pensaram que eu não falava mandarim e debocharam
dos italianos. Saí da reunião e cortei relações, mas para entrar no
mercado eles precisavam de mim e acabaram pagando o dobro do
estipulado inicialmente.
— Você é mais esperto do que parece… – ela elogiou.
— Eu apenas me vinguei – expliquei a ela —, sou bom nisso.
— Espero nunca ficar no seu caminho, embora eu tenha que
admitir do que sei do que você é capaz. – Ela sorriu com cinismo.
— Retirei o processo contra você – contei e ela ficou
surpresa —, mas em contrapartida, fiz o contrato em que você se
compromete a ir com a gravidez até o fim e me entregar o bebê e eu
lhe dou seu pai.
Era impressão minha ou vi um traço de decepção em seu
olhar?
— Tudo bem. – Ela forçou um sorriso.
— Algum problema?
— Nada – ela garantiu sem muita convicção —, alguma
notícia sobre o meu pai?
— Ainda não. Cicci disse que conseguiram descobrir a clínica
que sua mãe estava internada, mas o engraçado é que não
encontraram nenhum paciente com transtorno bipolar – contei.
— Talvez não estivesse na ficha dele – ela supôs.
— Pode ser… – mas minha teoria ainda era outra. O tempo
provaria se eu estava certo ou errado —, você tem algum
compromisso essa noite?
Ela sorriu com malícia.
— Um certo italiano vai me chamar para jantar com ele e
passar a noite em seu quarto – ela fingiu que era sério —, não sei
se aceito.
Sorri diante da brincadeira e a abracei por trás.
— Ele tem mais coisas em mente, mais safadas… – falei
contra seu pescoço.
Ela riu e desfez o laço da minha mão.
— Estou com fome – avisou e nadou até a escada larga de
mármore para sair da piscina.
Fiquei admirando o corpo lindo e perfeito dela nu para mim.
Contudo algo chamou minha atenção, havia sangue escorrendo
pela perna de Kirsten. Meu coração parou de bater.
— Kirsten – eu a chamei preocupado.
Ela se voltou para mim e olhou na mesma direção que eu
olhava.
— Deus! – foi tudo o que ela disse ao ver o sangue.
CAPÍTULO 22
Nunca senti tanto medo na minha vida.
Talvez uma vez, quando as garotas da rua debaixo da minha
juraram me matar porque um dos traficantes do Bronx disse que me
achava bonita. Eu fiquei duas semanas sem ir à escola por causa
disso, a última situação que eu precisava era ser morta por um
bando de garotas malucas e possessivas por uma cara que sequer
sabia o nome delas direito e fodê-las era apenas um passatempo.
Mas de algum modo as fazia sentirem importantes, por isso me
matar seria a solução do problema do mundo.
Fiquei apavorada quando vi o sangue. Eu estava perdendo o
bebê. Não precisava ser tão inteligente para saber disso, sangrar
durante a gravidez não era normal. E apesar de ter corrido para
vestir a roupa e sairmos do hotel direto para o hospital mais
próximo. Tudo parecia em câmera lenta. O medo pode criar
monstros na nossa cabeça e, na minha, ele veio para me castigar.
Eu tanto disse que não queria a gravidez que o universo resolveu
me dar uma lição.
Eu me mantive em silêncio. Não chorei ou fiz qualquer
comentário, enquanto Andreas estava histérico ligando para a
doutora Rossoni que indicou o médico para sermos atendidos de
imediato e estava acompanhando tudo pelo telefone. Chegamos ao
hospital e eu fui colocada em uma maca e levada para uma sala de
emergência. O amigo que a doutora Rossoni indicou, doutor Silvestri
Grimaldi, me atendeu.
Eu estava acostumada com o cheiro do hospital, muitas
vezes fui parar em um por causa do que fazia, das crises. Mas
naquele momento, eu sentia como se estivesse entrando em um
tribunal e eu seria sentenciada pelo crime que cometi: cuidado com
os desejos do seu coração, eles podem se realizar. Andreas ficou
ao meu lado o tempo todo, segurando a minha mão.
Quando o ultrassom começou, meu coração batia acelerado.
Mordi o lábio inferior.
— Vamos ouvir o coração do bebê? – o médico sugeriu
primeiro. — Assim saberemos se ele está bem ou não.
Eu e Andreas assentimos. A maldita câmera lenta e eu senti
como se o médico demorasse séculos para colocar o ultrassom
contra a minha barriga. Prendi a respiração e apertei a mão de
Andreas mais um pouco. Nós nos fitamos e eu fiz uma pequena
prece: que Deus não permitisse que o bebê se ferisse por causa das
minhas escolhas e atitudes. Embora eu tenha querido muito
encerrar aquela gravidez, agora almejava ir até o fim. E muito. E não
era pelo meu pai, era porque o bebê merecia ter um pai como
Andreas.
Meu coração já estava na boca e minhas mãos suando
quando ouvimos as batidas do coração que foram ficando cada vez
mais fortes. Andreas estava emocionado e beijou minha mão e
depois minha cabeça.
— Graças a Deus – eu agradeci.
— Agora, vamos descobrir o que causou esse sangramento –
o médico disse satisfeito.
Então depois de algumas horas, os exames saíram e
descobrimos que foi um descolamento de placenta.
— É muito normal, mais do que imaginam. Mas terá que ter
repouso absoluto, Senhora Cardinali – o médico falou comigo como
se eu fosse esposa de Andreas.
— Eu não sou…
— Ela ficará, doutor – ele me cortou —, posso garantir que
vou amarrá-la à cama se for necessário.
— E o meu trabalho? – questionei.
— Stefano vai te dar férias, tenho certeza – Andreas
determinou arrogante como se fosse meu dono.
Comprimi os lábios para não o mandar ir à merda na frente
do médico.
— E quando digo repouso absoluto pelas próximas quatro
semanas, é de verdade – o médico garantiu —, sequer sexo ou
atividades como caminhada, nada. É da cama para o banheiro e
pronto. Seu descolamento foi considerável e se não tomar cuidado,
pode correr risco de não apenas perder o bebê, mas ter
complicações.
Apenas assenti.
— Em caso de sangramento, volte ao hospital, não hesite –
ele mandou.
— Não hesitaremos… – Andreas respondeu na minha frente.
Olhei para ele e revirei os olhos. Ele mandou trazer uma
cadeira de rodas e me levou até a porta do hospital onde Alban nos
aguardava com o SUV.
— Boa noite, Alban – eu o cumprimentei.
— Como vai, Senhorita O’Brien? – ele perguntou e abriu a
porta do carro.
Para minha surpresa, Andreas me pegou no colo e me
depositou no banco de trás e depois se sentou ao meu lado. Esperei
Alban fechar a porta e disse a ele:
— Posso andar, não perdi a mobilidade das pernas! –
reclamei.
— Não reclame – ele falou sério —, faço isso pelo meu filho.
As palavras dele soaram tão indiferentes que sequer parecia
o comedor de horas atrás. O que teria acontecido?
— Preciso pegar minhas coisas no hotel e voltar para Roma…
– falei séria.
— Não – ele respondeu quando Albans colocou o veículo em
movimento.
— Como não?
— Já mandei retirarem suas coisas do hospital – ele me
avisou —, vai ser levado para meu avião no aeroporto, vamos para
Milão.
— O quê? – perguntei perplexa. — Você ficou louco? Eu não
vou morar em Milão…
— Ah, vai…
— Isso é sequestro…
— Nós temos um acordo e estou resguardando meu filho –
ele permanecia bravo —, em Milão você ficará no meu apartamento
e terá pessoas à sua disposição vinte e quatro horas por dia.
— Não quero morar com você! – relutei em aceitar. — Isso
não faz sentido!
Ele me encarou, furioso, os olhos verdes brilhando perigosos:
— O que não faz sentido é você falar de aborto o tempo todo
e agora ter um sangramento – ele disse com o dedo em riste.
Finalmente compreendi o motivo daquela raiva gratuita.
— Está achando que eu tentei abortar?
— Não foi o que disse que faria o tempo todo? – ele me
questionou bravo. — Confiei em você, Kirsten!
— Não tentei abortar – eu me defendi —, foi um acidente!
— Não confio em você… – ele proferiu olhando para frente.
Podia ver a veia saltar em seu pescoço, ele estava realmente
furioso comigo e pensava que eu tinha causado aquele mal-estar
todo.
Não poderia culpá-lo, eu realmente disse que queria abortar e
estava disposta a tudo para isso. Mas era antes. Quando eu ainda
não o conhecia melhor, quando ainda acreditava que meu filho
sofreria o preconceito que sofri por ser bipolar caso ele nascesse
com a doença, com medo de ser como minha mãe foi. Eu estava
perdida entre o meu passado, o meu medo e as verdades que
sempre acreditei: que eu não era digna de nada porque não era
normal como as outras pessoas. Mas agora era diferente. Eu estava
disposta a levar a gravidez até o fim e não pensei em ferir o bebê.
Não trocamos uma palavra durante todo o trajeto. Quando
chegou na pista de decolagem, ele saiu do carro e eu abri a porta
para sair do outro lado, ele fez menção de se aproximar e me pegar
no colo e eu fugi dele e estendi o braço entre nós.
— Você tem todo o direito de desconfiar de mim, mas se me
tocar depois de me acusar de algo que não fiz, eu juro que vou
sumir nesse mundo de uma forma que seu dinheiro nunca poderá
me encontrar. – No fim da frase eu estava com o dedo em riste.
O vento da noite bateu contra os meus cabelos e os dele e eu
fui para o avião pisando duro. Entrei e sentei na cadeira, a
comissária veio falar comigo e me oferecer uma bebida. Em outros
tempos, eu tomaria uma boa dose de vodca para esfriar os meus
ânimos, mas preferi não começar, a última coisa que eu precisava
era me tornar uma alcoólatra por causa de babaca que não sabia
nada sobre mim.
Ele sentou na cadeira ao meu lado e colocou o cinto. Havia
outras cadeiras, mas ele fez para provocar.
— Quantos anos você tem? Cinco? – perguntei irritada.
Ele não respondeu. Apenas pediu uma bebida para a
comissária que o lambeu com os olhos. Andreas sequer notou ou a
fitou uma segunda vez, mas minha vontade era de quebrar a cara
dela na escada do avião e jogá-la do alto quando estivéssemos a
três mil pés de altura. Respirei fundo, controlando meu gênio
terrível. Eu podia ser o demônio quando queria.
A comissária trouxe água para mim e uma vodca para
Andreas. Ele bebeu de uma vez e eu tomei minha água folheando
uma revista como se nada estivesse acontecendo, mas estava. Ele
estava me levando para passar as próximas quatro semanas sob o
mesmo teto que ele, eu sentia que seria o inferno na Terra.
Decolamos e devido ao fuso horário, todo o cansaço da
viagem e o estresse que passei no hospital, acabei dormindo.
Sonhei que eu estava com a barriga enorme e fazia muita força e
um bebê saía de dentro de mim. De repente, ele estava nos braços
de Andreas, e ele tinha ao seu lado uma linda mulher, como uma
modelo, eles sorriam para o bebê e ele mostrava para ela, como
aquele casal de propagandas de margarina, lindos e perfeitos.
O ciúme me corroeu, não apenas por causa de Andreas e
sua felicidade com outra mulher, mas também porque eles estavam
com o meu bebê!
Gritei para ele devolver o meu bebê, mas ele apenas ria de
mim e se afastava de mãos dadas com a perua metida. Corri atrás
deles, mas acabei caindo. Quando levantei estava sozinha, eu ouvia
o choro do bebê, mas não encontrava em lugar algum.
— Devolva o meu bebê! – esbravejei e caí de joelhos no
chão, chorando. Minha voz ecoou no vazio e ninguém me ouviu. Eu
estava sozinha de novo.
Quando abri os olhos estava sentada, demorei alguns
segundos para enxergar Andreas diante de mim, seu rosto diante do
meu, me fitando preocupado, suas mãos nos meus braços.
— Está tudo bem, Kirsten – ele falou sério —, ninguém vai
levar o seu bebê!
Fiquei atordoada até compreender que eu realmente havia
gritado. Olhei ao redor e vi a comissária e encolhi sem graça.
— Traga água para ela! – Andreas mandou.
Ainda estávamos no avião e respirei fundo, obrigando meu
coração a desacelerar.
— Eu tive um pesadelo…
— Deve ser por causa do que aconteceu – ele limitou a dizer.
Senti falta daquele carinho de antes. De sua mão sobre a
minha, não gostei de perdê-lo para uma perua qualquer no sonho,
fiquei realmente enciumada. Mas o que me assustou foi o vazio ao
ver meu filho ser levado. Como era possível, eu nunca quis ser mãe,
por que meus sentimentos estavam mudando tão depressa? O que
estava acontecendo comigo?
— Juro que não fiz nada para abortar, Andreas – eu precisei
dizer —, pode não acreditar em mim, mas eu não fiz.
Ele me fitou e respirou, cansado.
— Acredito que estou sendo muito duro com você – ele
admitiu —, eu só não quero perder o bebê, Kirsten, sou capaz de
tudo por ele.
Encostei a cabeça de lado no banco e o fitei com pesar.
— Sinto muito se mostrei o pior de mim e você não tem
motivos para confiar, mas não quero o mal do bebê – falei com
pesar e novamente com vontade de chorar.
Respirei fundo e quando fiz menção de me virar diante do
silêncio dele, que doía mais que uma facada, ele tocou minha mão
sobre o braço do banco.
— Não estou te sequestrando, Kirsten. Só estou cuidando de
você e do bebê – ele me encarou com aqueles olhos cor de
esmeralda —, vocês são importantes para mim.
Meu coração saltou e tive que fazer um esforço sobrehumano para não gritar de felicidade. Algo que eu desconhecia.
Quantas vezes eu experimentei o sabor da alegria, de ser querida
de verdade por alguém? Era algo inexplicável, me deixava
atordoada e ao mesmo tempo perdida. Então, pela primeira vez em
anos fiz algo que não tinha o costume. Eu o abracei. Apenas isso.
Abraçar com carinho, sem vontade de fazer sexo ou más intenções,
apenas a afeição gratuita por gostar de alguém de verdade.
E dar era melhor do que receber.
Dar carinho era muito bom e nunca tive a oportunidade de
fazer isso muitas vezes. Algumas raras com Dylan. Mas com um
homem com quem eu estava transando, nunca aconteceu, afinal,
era apenas trepar, não era namoro ou carinho. Era apenas
satisfação física. E aquele abraço era um contentamento para a
minha alma.
Suspirei e Andreas me abraçou também. Sequer vimos a
comissária se aproximar, ver a cena e se afastar discretamente. Eu
estava perdida nos braços dele e ele nos meus.
CAPÍTULO 23
Mesmo contra a vontade de Kirsten, eu a levei no colo até o
meu apartamento. O elevador abriu e sorri quando vi Cicci
esperando por nós. Zeus e Asthor correram até mim, latindo,
balançando o rabo como se não me vissem há dias, e eu havia
saído há apenas dois dias.
— Boa noite, senhor – Cicci me cumprimentou enquanto eu
soltava as pernas de Kirsten e a colocava no chão —, Senhorita
O’Brien.
— Como vai, Cicci? – Kirsten sorriu para ela e se inclinou
para acariciar Zeus que lambeu sua mão com imenso carinho.
Asthor latiu e rosnou para ela.
— O que foi, garoto ciumento? – ela brincou com ele.
E pela primeira vez, vi Asthor também balançar o rabinho
para alguém que não fosse eu. Um sorriso de satisfação se formou
nos meus lábios e olhei para Cicci.
— Já deixei os pertences da Senhorita O’Brien no quarto de
hóspedes como pediu – ela avisou.
— Obrigado. Amanhã pode tirar folga, eu não vou cuidar dos
negócios – avisei.
Ela assentiu, se despediu e se foi. Peguei Kirsten no colo
outra vez e ela soltou um gritinho de susto.
— Andreas! – ela me reprovou. — Eu posso andar até o
quarto!
— Eu sei – eu disse contra a pele de seu rosto, roçando
meus lábios propositalmente —, mas eu quero ter o prazer de te
carregar.
Ela se encolheu no meu colo e ergueu os olhos para o meu
rosto.
— O que pensa que está fazendo? – ela sussurrou passando
o braço pelos meus ombros enquanto Zeus e Asthor nos seguiam.
— O que estou com vontade de fazer – devolvi no mesmo
tom e sorri.
— Você não presta…
A porta do quarto amplo e arejado estava aberta, bem como
a janela da varanda. Asthor correu e saltou sobre a cama, como se
fosse dono dela. Era um atrevido. Zeus foi até a varanda olhar ao
redor e depois voltou para perto da cama esperando o que eu ia
fazer. Era tão gostoso sentir o corpo de Kirsten contra o meu que
tive que me obrigar a colocá-la sobre a cama. Mas inclinei meu
corpo sobre o dela de propósito, apenas para provocar, contudo, o
feitiço virou contra o feiticeiro e eu já estava de pau duro.
— Acredito que essas semanas vão ser uma tortura –
comentei sério.
Ela riu.
— Mantenha suas mãos longe de mim – ela me desafiou
erguendo uma sobrancelha.
Eu me afastei tirando as mãos.
— E quem disse que eu preciso te tocar para te desejar,
Kirsten?
Ela respirou pesadamente e sentei na ponta da cama. Fiquei
encarando-a com um desejo tão profundo que ela não conseguiu
desviar o olhar, sofria do mesmo mal. Levantei a mão e coloquei o
cabelo atrás de sua orelha e ela se arrepiou.
— Prometo que quando o médico liberar, vou te foder bem
gostoso – falei e ela riu levando a mão à boca.
— Você é terrível! – Ela balançou a cabeça levemente.
— Você não quer? – perguntei como se fosse um assunto
sério.
Ela se inclinou na minha direção e tocou meu rosto com a
ponta dos dedos, me provocando.
— Pode apostar, Andreas, que quando esse período de
repouso passar, você vai estar implorando para eu te chupar…
A cena daquela boca rosa em volta do meu pau queimou em
minha fantasia como uma bomba. Agarrei sua nuca e a puxei para
um beijo. E tive que me segurar para não esquecer que ela
precisava realmente de repouso e agir como um animal selvagem
naquela cama e literalmente comê-la. Parecia que quanto mais eu
tinha de Kirsten, mais fome eu sentia. Eu a soltei relutante.
— Vou arranjar algo para a gente comer – avisei, me
levantando depressa.
Peguei o controle sobre o móvel e entreguei a ela.
— Vai ter que maratonar séries – avisei.
— Não assisto televisão, mas vou fazer um esforço.
— Quer alguma coisa?
— Poderia trazer meu notebook? E meu celular? Quero dar
uma olhada no meu trabalho. Preciso falar com seu irmão e explicar
o que está acontecendo…
Eu já havia feito isso, mas não contaria a ela. Kirsten ficaria
furiosa por eu estar agindo em nome dela. Mas era por um bem
maior, fazia apenas para proteger a ela e ao meu filho, era
inevitável.
— Está bem – olhei ao redor e imaginei que Cicci deveria ter
colocado as coisas pessoais dela no closet.
Fui até lá e encontrei o notebook e o celular em uma
prateleira. Quando voltei para o quarto, Asthor estava sobre o colo
de Kirsten exigindo carinho. Cachorro safado! Coloquei tudo ao lado
dela.
— Eu já volto – avisei.
— Imagino que sim – ela debochou e sorriu para mim
daquele jeito charmoso que a fazia ficar mais bonita do que já era.
Pisquei para ela e saí do quarto. Zeus veio atrás de mim e
não demorou para Asthor surgir na cozinha, esperando que eu
colocasse comida em suas vasilhas. Eu os servi e eles foram
devorar a refeição, e claro, Asthor terminou a ração dele primeiro e
foi infernizar Zeus.
— O dia que Zeus descobrir quem ele é, você vai se ferrar,
mocinho! – eu avisei e ele apenas rosnou baixinho e voltou a
importunar Zeus.
Preparei sanduíches e voltei para o quarto. Entrei no quarto e
Kirsten estava ao telefone, a televisão e o notebook ligados. Sentei
ao lado dela na cama e abri a mesinha para apoiar sobre o colchão.
Na TV passava o noticiário e a jornalista falava sobre o calor
insuportável no sul da Itália que estava levando pessoas ao hospital.
— Está bem, enviarei tudo no e-mail de Luna se não se
importar, ela pode me ligar a qualquer momento – Kirsten falava
com Stefano, provavelmente —, sinto muito pelo transtorno, Senhor
Cardinali… – ela fez uma pausa —, está bem, obrigada.
Ela desligou e jogou o celular no móvel ao lado da cama.
— Você já tinha avisado que eu estava doente, não é? – ela
perguntou séria.
— Sim – respondi sem dar importância ao assunto —,
mandei mensagem em Florença avisando que estávamos a
caminho de Milão e que você estava de licença até o médico liberar.
Ela revirou os olhos e bufou.
— Stefano e Luna fizeram as pazes e ela vai cuidar de tudo
enquanto eu estiver fora – ela disse com pesar. — Confio em Luna,
ela já me substituiu uma vez em uma reunião na França e deu tudo
certo.
— Aquela que o negociador passou a mão nela? – eu
perguntei pegando o sanduíche.
— Essa reunião – ela afirmou —, por que será que alguns
homens se acham no direito de passar a mão no corpo de uma
mulher sem a autorização dela?
— Falta de respeito – respondi o óbvio —, muitos homens
acham que o corpo da mulher é domínio público.
— Machismo…
— Coma também. Qual foi a última vez que fez uma
refeição?
— Em Nova Iorque – ela respondeu pegando o sanduíche.
— A partir de amanhã vai se alimentar bem. Vou contratar
alguém para cozinhar e você terá a melhor refeição possível.
Ela mordeu o sanduíche e mastigou devagar antes de dizer.
— Andreas… – ela respirou fundo —, agradeço muito o que
está fazendo por mim, mas precisamos conversar sobre isso.
Eu sentia o cheiro de limites no ar e isso não era meu ponto
forte, ela deveria ter percebido há muito tempo.
— Diga – pedi olhando para a TV.
Ou seja, eu não estava dando importância. Kirsten percebeu
e desligou a TV. Olhei para ela, surpreso.
— Agora pode prestar atenção em mim? – Ela deixou o
sanduíche sobre a mesinha e cruzou os braços.
— Pode falar – eu respondi como se não tivesse feito nada
de errado.
— Estou aceitando sua ajuda porque confio em você – ela
começou a falar —, mas – colocou o dedo em riste —, não tome
decisões sobre mim sem falar comigo antes, entendeu?
Eu havia entendido, mas prometer algo que eu não cumpriria
estava fora de cogitação.
— Estou sempre agindo para o bem de todos – eu me
justifiquei.
— Mas você faz coisas sem me perguntar se quero.
— Você ouviu o que eu disse?
— Ouvi…
— Fiz algo que te prejudicou até agora? – eu a questionei.
— Não tente me manipular para que eu pense que você não
é controlador! – O dedo dela continuava em riste. — Lembre-se que
tive a mais louca das mães e conheço esse jogo.
Respirei fundo procurando paciência onde não havia. Deixei
meu sanduíche sobre a mesinha e a encarei, virando meu corpo
todo em sua direção.
— Vamos deixar uma coisa bem clara entre nós – apontei
para ela e para mim —, não sou de perguntar se posso, eu faço,
aprendi a tomar atitudes rápidas e que beneficiem a todos. Não vou
prometer que vou perguntar tudo para você, porque realmente não
vou fazer isso – fui sincero —, mas estarei aberto a discussões
posteriores.
Ela bufou, irritada.
— Isso não faz o menor sentido! As coisas não podem ser do
seu jeito sempre!
— Se você me convencer de que o que fiz até agora a
prejudicou, eu mudo meu jeito de ser – eu a desafiei.
Ela ergueu uma sobrancelha e cruzou os braços novamente,
se protegendo da minha determinação.
— Não concordo com seus pensamentos e atitudes – ela não
aceitou —, mas pelo visto, você não está aberto a discussões.
— Não nesse caso. Até agora você agiu contra todo tipo de
bom senso – deixei claro —, não faço isso para puni-la, mas
protegê-la.
— Grande merda! – ela xingou e encolheu as pernas sobre a
cama para abraçar os joelhos.
Ela estava realmente furiosa e nas últimas horas ela foi da
raiva ao carinho em questão de segundos. Perguntaria se ela estava
sem o remédio que controlava seu humor e a doença, mas fiquei
receoso de perguntar e ofendê-la. Lidar com Kirsten e toda aquela
situação era como pisar em ovos. Decidi comer pela borda, para
chegar aonde queria, ao invés de avançar com raiva.
— Coma, Kirsten – aconselhei —, você está pálida.
Contra a própria vontade, dominada pelo orgulho de ter que
se submeter às minhas vontades, ela pegou o sanduíche e comeu
em silêncio. Liguei a TV outra vez, e ela apenas resmungou. Esperei
que ela terminasse para voltar a falar.
— Ainda está com fome?
— Não. – Ela tomou o suco.
— Conversou com a doutora Rossoni sobre a medicação? –
perguntei aleatório.
Ela me olhou de lado como se eu tivesse pedido permissão
para transar com outra mulher que não fosse ela.
— Conversamos, diminuímos a dosagem… e vamos ver
como vou ficar.
Na mosca. Eu teria que ter paciência se quisesse que Kirsten
tivesse uma gravidez tranquila. Não seria fácil para nenhum de nós,
mas eu estava disposto a tudo para que meu filho nascesse debaixo
das minhas asas. E estava preocupado com Kirsten, precisava dela
bem, não apenas pelo bebê, mas porque eu estava gostando da sua
companhia mais do que esperava. Mantê-la ao meu lado era um dos
objetivos da minha vida naquele momento.
— Tudo bem, qualquer coisa que precisar, estarei no quarto
ao lado – avisei e me ergui para pegar a mesinha e sair do quarto
para deixá-la descansar.
— Está bem – ela respondeu olhando para a TV e me
ignorando.
Paciência, eu disse a mim mesmo. Fui até a cozinha e deixei
tudo sobre o balcão. Quando voltei pelo corredor, pronto para ir para
o meu quarto, ouvi um soluço. Ela estava chorando. Meu bom senso
me avisou que era normal, ela estava grávida, tomando uma
dosagem menor do remédio. Ela precisava de ajuda e não de
repreensão. Entrei no quarto e o atravessei a passos largos.
Ver Kirsten daquele jeito me deixou péssimo. Sentei na cama
e a puxei para o meu colo. Ela tentou lutar, mas a mantive firme até
que ela escondeu o rosto contra o meu pescoço e ficou ali chorando
até se sentir vazia e mais calma. Quando a crise passou, eu me
deitei ao lado dela e me enrosquei nela. Meu corpo inflamou de
desejo, mas me recordei que agora ela precisava de repouso
absoluto. Ela se aconchegou e acabou dormindo. Beijei seus
cabelos.
— Vai ficar tudo bem, Kirsten. Você não está mais sozinha…
– eu disse a ela.
Não houve resposta. Ela estava adormecida, mas minhas
palavras foram verdadeiras. Soube naquele momento que eu não
poderia tirá-la da minha vida, mesmo que ela quisesse partir. Seria
uma guerra, mais uma. Contudo, eu estava disposto a lutar e
vencer. Como sempre.
CAPÍTULO 24
Pensei que morreria de tédio deitada naquela cama. Mas ao
contrário, a cada dia Andreas fazia da minha vida uma loucura. Ele
sequer me deixou sair de casa para ir ao médico, ele trouxe a
doutora Rossoni até o apartamento. E também um terapeuta, o
doutor Capoli. Eu sabia que as diminuições das doses do remédio
estavam mexendo com meu humor, mas tentaríamos tratamentos
alternativos até o nascimento do bebê.
Num dia eu completava dezesseis semanas e no outro
passava das vinte. Agora era a contagem regressiva para o
nascimento do bebê. Havia passado da metade da gestação e
estava muito ansiosa pelo que estava por vir, eram tantas coisas
para decidir. A doutora Rossoni me deixou voltar para o meu
trabalho, desde que eu não viajasse para fora. O descolamento de
placenta havia parado, mas estava muito baixa e ela preferiu não
arriscar, então Stefano encontrou uma forma de eu trabalhar do
apartamento e contratou uma assistente temporária e eu a auxiliaria
em tudo.
Pela minha saúde e do bebê, decidi aceitar aquele novo
desafio de ficar mais em casa do que viajando pelo mundo como me
acostumei nos últimos dois anos.
E também me acostumei com a presença de Andreas em
tudo na minha vida. Descobri que ele não era muito de falar sobre si
mesmo, e desde que fiquei grávida, sua vida de solteiro errante
chegou ao fim. Ele não saía mais com os amigos ou paquerava
outras mulheres. Nas vezes em que saímos de casa, notei que as
mulheres o paqueravam, mas ele não devolvia o olhar, ao contrário,
sequer parecia notá-las.
Desde a atendente da loja, onde fomos comprar roupas para
o bebê ou até mesmo onde compramos os móveis para o quarto.
Ele se derretia diante de tantas coisas, elas ficavam encantadas,
mas Andreas não dava a mínima, ele só se importava com o bebê.
Em uma tarde, eu precisei comprar roupas novas. Esperei ele
sair de casa para fazer isso sozinha, precisava de um tempo para
mim e não contei a ele onde estava. Apenas peguei um táxi e fui
para o shopping. Precisava de roupas mais folgadas, as minhas
começaram a ficar apertadas. Entrei em uma loja apenas para
gestantes e meu celular tocou quando eu estava no provador.
Era Andreas. Recusei a primeira ligação. E então, ele ligou
de novo. Respirei fundo, não havia nenhum problema em dizer a ele
onde eu estava.
— Oi – eu disse com pouco caso.
— Onde você está? – ele perguntou bravo.
Pensei em dizer que estava com meu amante, mas algo
refreou minha língua. Não gostaria de ouvir isso dele. Saber que
Andreas estava com outra mulher me devastaria e então, preferi ser
sincera.
— Precisava de roupas novas e de ficar sozinha – frisei.
— E tem que sair de casa sem dizer aonde foi e me deixar
preocupado? – ele me questionou.
Eu só queria ter um tempo para mim, só isso. Mas ele tinha
razão. Qual era o problema de dizer aonde tinha ido? Ele estava
zelando por mim e fazia o mesmo. Sempre que saía, ele me dizia
onde estava e se eu ligasse, ele atendia em vídeo chamada
provando – mesmo sem querer – que não havia me enganado.
Estava sendo infantil.
— Desculpa – falei séria olhando no espelho o reflexo do
vestido preto longo preso debaixo do busto e que caía fluído.
Era o tipo de roupa que eu poderia usar até o fim da gravidez
sem problemas.
— Eu queria tanto ficar sozinha que…
Parei de falar. Senti uma tremidinha na minha barriga.
— Kirsten…
— Espera – eu pedi sem respirar.
Novamente, senti tremer. Sentei no banco do provador e olhei
para a minha barriga. Algo se moveu dentro dela. Era o bebê? Meu
coração disparou.
— Kirsten, o que está acontecendo? – ele perguntou quase
sem fôlego, realmente preocupado.
— Andreas…
— Você está bem?
— O bebê mexeu…
Não pensei que tal ato mexeria comigo tão profundamente.
Desliguei o celular e o deixei de lado para poder levar as mãos à
barriga e sentir o bebê mexer de novo. Eu já estava ficando
preocupada depois que li na internet que muitas mães sentiram o
bebê mexer com dezesseis semanas e eu estava com vinte e duas.
Mas a doutora Rossoni me disse que algumas crianças costumavam
demorar mesmo e o bebê estava bem e não tinha que me
preocupar.
Ele mexeu de novo e respirei fundo, emocionada, um bolo se
formou na minha garganta. Era a sensação mais louca da minha
vida, havia um bebê dentro de mim e ele estava vivo e se mexendo.
Até então, eu tinha consciência da gravidez, mas senti-lo mudou
todo o meu conceito.
Havia uma vida se formando dentro de mim, alguém ia
crescer e nascer em alguns meses. Meu Deus! Comecei a chorar.
Era uma sensação tão maluca de… de… amor? Era isso que eu
estava sentindo dentro de mim? Me senti conectada ao bebê pela
primeira vez, ele era meu, pensei de forma possessiva como nunca
antes. Até agora, tudo parecia ser para Andreas, para sua
paternidade. Meu plano de deixar o bebê com ele e seguir minha
vida ainda estava ali, embora nunca mais tenhamos tocado no
assunto desde que assinei aquele maldito contrato na manhã
seguinte a que cheguei no apartamento dele.
Lembrava de forçar um sorriso, fingir que estava lendo e
assinar com raiva. Não queria assinar aquele maldito contrato,
almejava que Andreas confiasse em mim como eu confiava nele.
Era estranho, os sentimentos estavam mudando dentro de mim bem
como meu bebê crescia, pareciam sincronizados. O bebê crescia
mais um pouco e quando eu notava a barriga um pouquinho maior,
me sentia mais possessiva em relação a Andreas e agora com o
bebê.
Meu… essa palavra queimou em meu peito enquanto eu
chorava.
— Está tudo bem, senhorita? – a atendente perguntou do
outro lado da porta.
Enxuguei as lágrimas depressa e respirei fundo me
recompondo.
— Está, eu já estou saindo – avisei.
— Caso precise de algo, é só chamar…
— Obrigada.
Diante daquela novidade, eu me forcei a tirar o vestido e
colocar a minha roupa de volta. Quando saí do provador segurando
as peças, vi Andreas entrando na loja, e não estava surpresa por ele
estar ali. Havia concordado de ele registrar meu celular em um
aplicativo de rastreamento para o caso de eu passar mal ou ter
algum surto. Ele saberia onde me encontrar.
Nossos olhares se encontraram enquanto eu entregava as
roupas à vendedora e meu coração bateu mais forte. Como um
simples homem podia entrar na minha vida daquele jeito e devastar
tudo que sempre acreditei? Sempre tive certeza que não seria mãe,
que não teria uma família, que não gostava de crianças. E ali estava
eu, grávida de vinte e duas semanas, apaixonada pelo meu bebê e
pelo pai dele.
A presença de Andreas me deixava atordoada. Ele
atravessou a loja e sequer notou a atendente que se aproximou e
ofereceu ajuda. Ele veio em minha direção e tirou as roupas da
minha mão e entregou para a vendedora.
— Vamos levar tudo – ele a avisou.
— Sim, senhor – ela respondeu e nos deixou sozinhos.
— O que aconteceu? – perguntou preocupado segurando
meu rosto entre as mãos.
Ele me fitava procurando por qualquer coisa que eu dissesse
que estava acontecendo.
— Senti o bebê mexer – disse num fio de voz.
Lágrimas arderam nos meus olhos e suspirei.
— Mesmo? – Ele se afastou e olhou para a minha barriga.
— Sim. – Eu sorri para ele entre as lágrimas.
Ele me beijou na boca, ali na frente de todos. Naquelas
semanas que eu precisei de repouso, ele não se aproximou,
cheguei a pensar que ele havia se cansado de mim, mas agora,
diante do um beijo tão apaixonado, compreendi que ele estava
lutando contra si mesmo para não me comer inteira. Eu me derreti
em seus braços e o enlacei pelo pescoço e ele me puxou para si,
colocando seu corpo gostoso ao meu.
Foi como se a gente tivesse se tocado no dia anterior e não
há semanas. Meu corpo pegou fogo de uma forma arrebatadora e o
dele também, podia sentir seu pau contra o meu ventre e
esquecemos completamente que estávamos dentro de uma loja
dando um beijo cinematográfico.
Ele se afastou de mim, ofegante.
— Vamos embora para casa…
Assenti e então notei que todos nos olhavam. Andreas não se
importou nem um pouco, foi até o caixa pagar a conta e pegar
minhas roupas e saímos dali a passos largos. Entramos no carro e
ele mandou Alban dirigir para casa. Nós voltamos a nos beijar com
paixão selvagem, carregada de saudade e cumplicidade. Porque foi
isso que aconteceu naquelas semanas que passamos juntos,
embora houvesse grandes diferenças entre nós, criamos uma
cumplicidade única. Nós nos tornamos amigos acima de tudo.
Sermos amantes era consequência do tesão que tínhamos um pelo
outro.
Ele apertou meu seio e ofeguei contra sua boca. Sua mão
escorregou para debaixo da saia do vestido que eu usava, abri mais
as pernas e deixei que ele roçasse os dedos em minha calcinha.
Como era bom…
— Como senti sua falta – ele sussurrou contra a minha boca.
Alban parou o carro em uma rua estreita e paramos de nos
beijar. Ele olhou pelo retrovisor e disse a Andreas:
— Vou até a farmácia, senhor. Precisa de alguma coisa?
— Não, obrigado – Andreas respondeu.
O motorista mal saiu e Andreas voltou a me beijar. Ele me
puxou para o seu colo. Minha saia subiu pela minha bunda e ele a
agarrou, enquanto eu o montava.
— Estamos em uma rua movimentada – eu reclamei contra a
boca dele.
Mas se ele parasse eu o mataria.
— O vidro impede que nos vejam – ele alegou.
— Que bom… – tinha certeza que parar me mataria de tanto
tesão. Eu imploraria se ele tivesse concordado comigo.
Voltamos a nos beijar de forma selvagem e comecei a abrir o
zíper dele. Andreas me ajudou e ergueu um pouco os quadris para
abaixar as calças. Ele mordeu meu queixo e passou os dentes pelo
meu pescoço enquanto me erguia e me colocava sobre seu pau.
Andreas se afastou o suficiente para olhar nos meus olhos e me
encarar enquanto me descia sobre seu pau, senti a dor por não
estar molhada o suficiente, contudo, o desejo era tão grande que
comecei a me mover e ele também.
Agarrei seus ombros e joguei o corpo para trás, ele mordeu
meu seio sobre o tecido e depois puxou o decote junto com o sutiã
para baixo. Enquanto ele me chupava com força e ardor, eu me
movia cada vez mais rápido, meu corpo queimando de prazer.
— Poderia morrer trepando com você – ele falou ofegante e
ergueu a cabeça para segurar meus cabelos e me obrigar a beijá-lo
outra vez.
Ele levou a mão entre nós e tocou meu clitóris, girando o
dedo sobre o botão inchado e então me perdi.
— Andreas… – eu disse ofegante, louca de paixão.
— Goza para mim, Kirsten. Não vou gozar enquanto não
sentir essa sua boceta gostosa tremer no meu pau – ele falou com
maldade.
Agarrei-me a ele e comecei a me mover sem parar, rebolando
em seu pau duro que ia cada vez mais fundo. O gozo veio rápido,
eu estava em abstinência há semanas e nunca tinha ficado tanto
tempo sem transar. Mordi o casaco sobre seu ombro e ele então
agarrou minha bunda e moveu rápido, dando-se ao direito de gozar
também. Ele me agarrou de um jeito tão intenso que senti que
poderia gozar de novo. E foi o que aconteceu.
Estávamos ofegantes quando desci de seu colo e me
arrumei. Ele fechou a calça e então a porta foi aberta e Alban
entrou.
Eu abaixei o vidro para sair o cheiro de sexo no ar e olhei
para Andreas.
— Ele saiu de propósito, não foi? – questionei.
— Sim – eu adorava a sinceridade de Andreas. Ele nunca me
escondia a verdade.
— Dê um aumento a ele – sugeri.
Andreas sorriu malicioso.
— Estava pensando, meu bem – ele me chamou com carinho
pela primeira vez — o que acha de fazermos o ultrassom para
descobrir o sexo do bebê?
— Você quer saber? – Havia me esquecido desse detalhe,
foram tantas coisas que aconteceram naquelas semanas.
— Você não?
— Claro que quero… – Sorri para ele.
Andreas sorriu para mim e segurou minha mão com força.
— Vamos fazer o ultrassom e deixarei Luna saber o sexo, e
então faremos um chá de bebê, aquele que revela sexo…
Eu ri.
— Não precisa…
— Mas eu quero – ele beijou minha mão —, não me prive de
mostrar aos meus amigos e minha família o quanto estou orgulhoso
de ser pai – pediu.
Sorri com carinho. Como eu poderia privá-lo de demonstrar o
amor pelo filho?
— Está bem – concordei e ele me deu um beijo rápido.
Um chá Revelação. O que poderia dar errado nisso?
CAPÍTULO 25
Desde o jantar naquele dia na casa da minha mãe, nós não
nos falamos mais. Por isso, se sentindo culpada por ter me
afastado, ela pediu que eu fizesse o Chá Revelação em sua casa.
Contudo, eu tinha uma surpresa para Kirsten e decidi fazer em
minha propriedade próxima a Ozzero. Deixei Cicci e Kirsten
cuidarem de tudo, mas a surpresa final ficou por conta do meu irmão
e de sua noiva, Luna.
E eu estava ansioso por tudo. A cada segundo que se
aproximava de descobrir qual era o sexo do bebê, eu fervia de
emoção. Se fosse uma menina, eu seria possessivo com a minha
presença, se fosse um menino seria como um leão feroz da mesma
forma e eu os amaria de qualquer jeito. Sangue do meu sangue…
— Você parece que vai explodir – a voz da minha mãe soou
ao meu lado.
Olhei para ela. Sophia ficou diante de mim e ajeitou minha
camisa branca sem gravata e o paletó verde escuro.
— Você está lindo – ela olhou ao redor —, mais parece um
casamento do que um Chá Revelação.
Olhei ao redor também, os convidados começaram a chegar.
Eram meus amigos próximos, minha família. Algo para no máximo
cinquenta pessoas, mas sabia que chegaria aos cem, sempre
aparecia gente que não chamei, mas um amigo chamou. Além
disso, a imprensa foi proibida de entrar e deixei seguranças
espalhados pela propriedade para assegurar que não estariam ali.
Os convidados tinham que deixar os celulares na entrada e estava
seguro que nenhuma foto pessoal escaparia dali.
— Gosto de ostentar – admiti —, para que ter dinheiro se não
posso ostentar? – eu a questionei.
— E onde está a noiva? – ela debochou.
Já não era a primeira vez que ela chamava Kirsten de noiva
porque estávamos morando juntos. Isso não significava muito, mas
ao mesmo tempo, era tudo. Eu estava amando viver com ela, cada
momento que trocávamos era prazeroso, ver a barriga dela crescer,
a cada ultrassom descobrir que nosso bebê estava bem e saudável.
Eu me enchia de um orgulho incomum.
Kirsten não falava mais de ir embora após o nascimento do
bebê, e eu tinha esperança que ela desistisse da ideia e estivesse
disposta a criar o bebê ao meu lado. Sim, ao meu lado. Não estava
querendo questionar muito essa minha mudança de atitude em
aceitar Kirsten em minha vida não apenas como a mãe do meu filho,
mas uma mulher especial com quem eu queria dividir os meus dias.
Às vezes, vinha aquela ideia de que eu era muito novo para me
apegar, mas depois me recordava que não havia idade para
reconhecer que alguém era especial e valia a pena passar meus
dias ao lado dela.
— Está se arrumando – respondi.
— Você ainda não me apresentou a ela oficialmente – minha
mãe reclamou.
— Você conhece Kirsten, cansou de vê-la nas festas da
família com Stefano – comentei.
— Eu sei, digo como nora e sogra – ela insistiu naquela
história.
— Você vai assustá-la com esse assunto – eu avisei sério.
— Vocês jovens são tão problemáticos. Se querem ficar
juntos, qual é o problema de terem títulos? – ela me questionou. —
Ela mora com você há mais de dois meses, vocês transam, vão ter
um filho. Do que se chamam?
Eu sorri.
— Não chamamos de nada – respondi.
— Claro que são namorados! – Ela revirou os olhos,
impaciente. E então seu olhar parou do outro lado. — Oh, Deus!
Sua noiva é linda…
Olhei na mesma direção e meu sangue ferveu ao vê-la.
Kirsten saiu da casa com um vestido verde da cor do meu paletó.
Ele era preso debaixo do busto e descia até os joelhos. Ela estava
de sandálias baixas e os cabelos presos em um rabo de cavalo.
— A mulher fica bonita de qualquer jeito – minha mãe elogiou
—, você tirou a sorte grande.
Sim, eu ganhei na loteria quando me apaixonei por Kirsten,
quando naquela manhã, naquela mesma casa onde estávamos
agora, eu a levei para a piscina e transamos. E tudo mudou. Foi um
pesadelo, mas até agora estávamos fazendo dar certo.
Ela me viu e abriu um sorriso lindo. Fui ao encontro dela e
quando me aproximei, eu a beijei com paixão. Ela me empurrou e
riu.
— Assim você vai estragar minha maquiagem – ela reclamou
—, e sei que contratou fotógrafos.
— Cicci é uma linguaruda – falei sem me importar —, quero
um álbum com todas as fotos da revelação do sexo do bebê.
— Nunca vi um homem tão empolgado…
Minha mãe se aproximou de nós.
— Lembra-se da minha mãe, não é, Kirsten?
— Claro, como vai Senhora Cosmo?
— Oh, por favor, pode me chamar de mãe – ela pediu
simpática e abraçou Kirsten que foi pega de surpresa —, estou
muito feliz por vocês, minha querida. Sinto que meu filho nunca
esteve tão feliz.
Kirsten me fitou satisfeita.
— Mesmo?
— Andreas é o homem mais mal-humorado que já conheci.
Não sei para quem ele puxou, eu e o pai dele somos tão agradáveis
– ela riu —, mas depois que te conheceu, eu o sinto mais relaxado.
Minha mãe tocou meu braço com carinho e piscou para mim.
— É melhor eu te apresentar aos meus amigos antes que
minha mãe acabe com a minha reputação. – Segurei no braço de
Kirsten e a tirei dali.
— Com licença, Sophia – ela foi educada com minha mãe.
Sequer me dei ao trabalho de responder.
— Tentei trazer seu irmão, mas eles não poderão vir – contei
a Kirsten.
— Por quê? – ela perguntou preocupada.
— Sara está grávida – contei.
— O quê? – Ela ficou eufórica.
— Acalme-se, eles enviaram um vídeo, depois a gente
assiste – avisei e então fomos cumprimentar os convidados.
Ela conhecia algumas pessoas, afinal, eram também amigos
de Stefano. Outros eu a apresentei com muito orgulho ao dizer.
— Essa é Kirsten, minha namorada – disse a primeira vez e
ela me fitou com aqueles grandes olhos azuis arregalados.
— É um prazer conhecer a namorada do Andreas – disse
uma tia.
Na quinta vez, ela mesma dizia que éramos namorados. E o
título foi introduzido sem maiores consequências. Fiquei satisfeito
por ela não reclamar e sequer odiar a ideia. Ao contrário, depois do
primeiro susto, ela estava orgulhosa porque eu dizia a todos que
estávamos juntos. Culpa da minha mãe. Não sabia dizer se ela era
uma ótima ou péssima influência para mim, mas a verdade era que
fiz uma mulher feliz por horas.
Em dado momento, ela foi roubada por minha cunhada Luna
para poder olhar os presentes que havíamos ganhado. Minha
família toda estava presente, inclusive minha avó paterna, Aurora
Cardinali que abraçou Kirsten como fez com todas as esposas do
meu pai.
— Obrigado por não ter chamado Álamo – Stefano
agradeceu quando parou ao meu lado.
Olhei para o meu irmão e assenti.
— Não podia obrigar você e Luna a encará-lo depois do que
ele fez na festa – comentei —, acredito que ele tem que pagar pelo
que fez, e ficar de castigo por um tempo. Além disso, não quero vêlo olhando para Kirsten, eu teria que quebrar o nariz dele.
Stefano riu.
— Eu sei muito bem como é isso.
Meu pai era legal, mas quando o assunto eram as mulheres,
ele não tinha escrúpulo algum, sequer com suas noras. E ele e
Kirsten tiveram um caso, preferia ignorar esse fato, mas me
incomodava o assunto. Meu pai ficou chateado quando eu lhe disse
que não era para ele ir ao chá. Mas compreendeu que encarar
Stefano agora não era uma escolha. Meu irmão ainda estava furioso
com o que ele fez.
— Kirsten está linda – Stefano elogiou com orgulho —, a
gravidez fez bem a ela.
Eu a fitei do outro lado, perto da mesa com o bolo, onde um
DJ tocava músicas agradáveis para a família. Ela ria para Luna e
para outras mulheres da minha filha, inclusive minha mãe, elas
tiravam fotos e faziam caras e bocas e riam depois. Senti algo
queimar em meu peito e naquele momento eu soube que era ela.
Não me pergunte o motivo, eu apenas sabia.
Era com ela que eu queria passar o resto da minha vida.
Tomei o uísque e ela ergueu o olhar para mim e sorriu mais,
acenando devagar. Movi a cabeça lentamente e ela voltou a atenção
para Luna.
A festa continuou e chegou a hora de revelar o sexo do bebê.
Estava mais ansioso que Kirsten, tinha certeza disso. Meu coração
disparou e me aproximei dela com ansiedade, ficando perto da
mesa onde havia um enorme bolo prata.
— Como vai ser revelado? – ela perguntou.
— Não sei, deixei tudo por conta do Stefano e da Luna –
contei parte da verdade.
Eu havia dado uma ideia, não sabia se eles haviam acatado
ou se deu certo. Também estava ansioso para saber. Stefano pegou
o microfone e o DJ desligou o som.
— Boa tarde, a todos – ele falou e os convidados olharam
para ele. — Quero agradecer a presença de todos, hoje é um dia
muito importante para nossa família. Mais um Cardinali está vindo
ao mundo através da união e do amor de Kirsten e de Andreas.
Kirsten olhou para mim, constrangida diante das palavras
dele. Mas não era mentira. Aos poucos eu estava mostrando a ela
que amor era muito mais que sexo, era estar juntos, dividir os
problemas, as loucuras, as frustrações. Ou o que ela achava que
era morar junto comigo? Férias?
— E hoje nós vamos descobrir qual é o sexo do bebê! –
Stefano falou empolgado e todos aplaudiram. — Mas antes, nós
temos uma surpresa.
Ele apontou para o telão atrás de nós. Sorri satisfeito quando
notei que meu irmão havia acatado minha ideia. Ele e Luna fizeram
uma montagem de fotos minhas e de Kirsten desde a infância até os
dias de hoje. Mas o que mais me surpreendeu foram as fotos que
ele tinha nossa, a gente se beijando na loja de roupas, outra em
Nova Iorque, e até mesmo no meu apartamento em Milão.
Olhei para ele sem entender como ele conseguiu as fotos e
ele apenas encolheu os ombros, mais tarde teria que me explicar
como conseguiu tudo aquilo. No fim da montagem, apareceu a
imagem de Dylan e Sara em uma linda mensagem.
Kirsten levou as mãos aos lábios e começou a chorar.
— Minha querida irmã – Dylan dizia sentado ao lado de Sara
—, quando me pediram para gravar esse vídeo eu não sabia ao
certo o que dizer – ele também estava emocionado —, mas estou
muito feliz por você, pelo Andreas e pelo bebê. Durante muito tempo
tanto eu quanto você achávamos que não seria possível ser mais
que um número nesse mundo. Então é bom saber que o amor nos
fez descobrir que podemos mais…
— E nós temos uma boa notícia – Sara disse feliz —,
também vamos ter um bebê, e contamos para o Andreas, mas
pedimos para ele guardar segredo para você saber agora. Então os
nossos filhos vão brincar muito juntos…
— Nós te amamos – Dylan disse emocionado —, e logo
estaremos juntos celebrando tantos milagres. Descobri que a gente
não precisa ser o que o mundo quer, mas o que queremos ser. Nós
somos a prova disso…
Kirsten escondeu o rosto no meu peito e chorou. Eu a abracei
e todos nos aplaudiram.
Até Stefano estava emocionado. Ele ligou o microfone de
novo e respirou fundo controlando as emoções. Luna estava ao lado
dele e também chorava.
— Agora ao grande final – ele declarou —, vamos descobrir
qual é o sexo do bebê…
Todos olharam ao redor esperando balões, uma explosão,
qualquer coisa. Mas simplesmente as pessoas foram dando
passagem para um homem de cabelos brancos, cavanhaque, não
deveria ter cinquenta anos. Ele estava com um terno azul bebê. Por
essa eu não esperava. E também carregava um lindo buquê de
rosas azuis Royal nos braços. Ele parou diante da mesa e nos
encarou.
Kirsten se soltou de mim e deu um passo à frente.
— Vai ser um menino, filha – o homem disse.
As lágrimas escorreram pelo rosto de Kirsten e ela correu
para abraçar aquele que era seu pai. Nós o havíamos localizado há
uma semana, eu o convidei, mas ele não sabia se poderia ir, a
história era mais longa do que eu poderia supor. Kirsten o abraçou e
ele também fez o mesmo e os dois choraram nos braços um do
outro.
Olhei para Stefano que piscou para mim, todos ali estavam
emocionados. Não poderia ter sido um chá de revelação mais
perfeito. Até eu que nunca era de chorar sentia o bolo na garganta e
uma forte vontade de chorar. Respirei fundo.
— Obrigado – agradeci ao meu irmão e fui cumprimentar meu
sogro.
CAPÍTULO 26
Aquele dia foi uma mistura de emoções em minha vida. Eu
não sabia se ria ou chorava. Meu pai! Andreas havia encontrado o
meu pai! Aquele homem lindo era o meu pai e tinha vindo dos
Estados Unidos, do estado do Texas para me ver. Fui apresentada a
sua esposa, Marisa, uma mulher agradável e gentil. Eles tinham
cinco filhos, todos mais novos do que eu, e o caçula já estava na
faculdade.
— Eu me casei com Marisa depois que me divorciei de sua
mãe, Kirsten – ele falou para minha surpresa.
— Vocês foram casados? – perguntei enquanto estávamos
sentados na sala da casa de forma confortável. Precisei colocar os
pés para cima. Minhas pernas doíam e meus pés começavam a
inchar.
Andreas estava sentado ao meu lado, a noite já havia caído e
a família Cardinali e os amigos ainda curtiam a festa lá fora.
— Ela não lhe contou? – ele indagou surpreso.
— Não – respondi decepcionada —, ela falou que vocês se
conheceram na clínica e quando ela voltou para casa descobriu que
estava grávida.
— É mentira, eu lhe asseguro – assegurou com seriedade.
Meu coração apertou no peito e o bebê mexeu. Nosso
menino estava se esticando dentro de mim e minhas costelas
doeram.
— Está tudo bem? – Andreas perguntou com seu carinho de
sempre.
Sorri para ele e assenti.
— Está, o bebê só está mexendo – falei com afeição e ele
colocou a mão na minha barriga para sentir o bebê enquanto eu
olhava para o meu pai —, conte-me tudo, por favor.
— Bem, eu devia ter uns dezoito anos quando sua mãe
apareceu no Texas, sozinha. Não havia sequer seu irmão. Fiquei
surpreso quando Stefano e Luna me contaram que você tinha um
irmão mais velho – ele contou e sorriu —, vocês se parecem muito
com ela.
Meu pai devia ter sido loiro quando era mais novo. Não fazia
ideia de como era o pai de Dylan, e acredito que ele também não.
— Abigail nunca me falou que tinha um filho e naquela época,
1996 não havia internet ou redes sociais, a gente não investigava a
vida dos outros – ele meneou a cabeça —, eu era apenas um
cowboy e me apaixonei por aquela bela ruiva… sua mãe era linda,
ela ainda está viva?
— Está – assegurei —, mas parece pelo menos vinte anos
mais velha. Ela teve Dylan aos quatorze anos e eu aos dezenove, e
seu vício em drogas piorou sua vida.
— Quando a conheci, ela estava limpa. Nós nos
apaixonamos e nos casamos, como tinha que ser. Meus pais
gostavam dela. Então, ela engravidou e fiquei muito feliz. Foi aí que
ela começou a mudar. Ela tinha ataques de humor terríveis, chegava
a ser insuportável, eu tinha paciência e achava que era por causa
da gravidez, que ela estava com os hormônios à flor da pele. Um dia
ela atacou uma das empregadas da casa sem motivo algum, pegou
a camionete e desapareceu. Voltou dois dias depois completamente
drogada e a levei para o hospital. Foi quando descobri sobre a
bipolaridade e que ela era viciada. Ela mesma me contou.
Levei as mãos à boca e Andreas passou o braço pelos meus
ombros para me confortar.
— Ela disse que você era bipolar…
— Não duvido – ele concordou —, ela sumiu mais algumas
vezes para usar drogas, e quando ameacei interná-la para o bem
dela e o seu, ela sumiu para sempre.
— Você não a procurou?
— Todos os dias – ele garantiu e Marisa tocou seu braço com
cumplicidade —, ela deu o nome de solteiro falso. Abigail Sunders.
Não encontrei nenhuma, nem os detetives que contratei. Cheguei
até a fazer um apelo nas emissoras, fui aos jornais, mas ela
simplesmente desapareceu.
Eu respirei fundo e olhei para Andreas que me olhou com
compreensão e assentiu para que eu contasse a minha versão ao
meu pai. Contei tudo, cada detalhe do que passei e do quanto eu o
esperei todos os natais ou aniversários.
Meu pai se ergueu, se sentou na mesa de centro, de frente
para mim e segurou minha mão.
— Juro por minha alma, Kirsten, que se eu soubesse onde
você estava eu não a teria deixado com sua mãe, nunca.
Assenti e comprimi os lábios para não chorar, mas naquela
altura da gravidez, eu não tinha qualquer poder sobre as minhas
emoções. Ele me puxou para um abraço e eu aceitei. Agora, eu
sabia o que era um abraço de amor, Andreas me dava um todo dia
de manhã. Ele nunca disse que me amava, mas eu sentia que sim.
Talvez não me amasse para ser sua esposa, mas por ser a mãe do
filho dele e isso já estava bom. Para quem não teve nada de amor
na vida, toda forma de afeição pura era bem-vinda.
Nós conversamos tanto naquela noite. Descobrir que minha
mãe foi a grande vilã da história não foi uma surpresa, ao contrário,
somente me dava certeza que o fato de sempre esperar meu pai era
a nossa forte ligação, mesmo que ele nunca tenha me visto, ele me
amava.
Quanto à minha mãe, esperava nunca mais vê-la. Fizemos
uma ligação para Dylan e eu o apresentei ao meu pai e contei a ele
a verdade. Ele ficou tão surpreso quanto eu e apenas se recordava
que nessa época que Abigail dizia estar em uma clínica, ele estava
em algum orfanato, mas era velho demais para ser adotado. Então,
quando ela retornou para casa grávida, eles o mandaram para casa
de volta.
— Ela não tinha o direito de me roubar o que roubou, Dylan –
eu disse ao meu irmão —, ela me fez sentir culpada porque eu era
igual a ela. Ela é um monstro.
— Agora você tem a chance de mudar isso, Kirsten – ele me
aconselhou —, ser diferente para o seu filho.
E isso significava ficar com a criança e Andreas. Lembrei do
contrato assinado, de que eu entregaria a criança assim que a
tivesse e não teria qualquer poder sobre ela e me senti péssima.
Onde eu estava com a cabeça quando assinei aquela merda? Não
queria mais que fosse assim, mas como dizer isso a Andreas?
Como dizer a ele que descobri que queria ficar e ser a melhor mãe
que meu filho poderia ter? Eu morreria se meu bebê fosse de outra
mulher e o ouvisse a chamando de mãe.
As coisas estavam boas entre nós, mas será que estava
estável o suficiente para que eu ficasse? Para que eu pedisse para
ele rasgar o contrato e tentar formar uma família comigo? Os
deuses deveriam estar rindo de mim ao me verem mudar de ideia
depois de tanto tempo.
— Eu sei – admiti para Dylan durante a ligação —, eu só não
quero vê-la mais e não quero que me dê notícias dela, Dylan.
Acabou. Todo o mal que ela me fez termina aqui.
Ele concordou e sei que me respeitaria. Dylan sabia o que ela
tinha feito comigo e se eu quisesse uma vida nova, tinha que
esquecer e seguir em frente. Ou ficaria louca. Quantos erros eu
cometi por causa dela.
Andreas foi se despedir dos convidados. Meu pai e Marisa
dormiram no quarto de hóspedes e eu acabei cochilando no sofá,
sequer notei todos se afastarem quando apaguei. Acordei com um
lindo cavalheiro de blazer verde me pegando no colo.
— Pode me soltar – eu disse sonolenta aconchegando minha
cabeça naquele ombro que foi feito para mim.
— Sei… – ele debochou de mim.
Deixei ser levada, eu estava exausta, meu corpo todo pedia
por um descanso depois de um dia tão intenso. A cada minuto que
se aproximava do parto, eu parecia mais cansada, só queria dormir.
Ele me colocou sobre a cama, sequer vi quando trocou minha roupa
e me cobriu. Acordei na manhã seguinte e quando virei na cama, lá
estava o corpo quente de Andreas, dormindo ao meu lado.
Ele poderia ter dormido no quarto dele e me deixado sozinha
ali. Mas já há algum tempo ele dormia na minha cama todas as
noites. E não era ruim, ao contrário, o calor dele era gostoso e
adorava acordar com minhas pernas enroscadas nas dele, ou seu
braço em cima da minha cintura bem redonda no momento.
Apoiei a cabeça na mão e fiquei de lado olhando-o dormir. Se
alguém me dissesse que um dia eu estaria na cama de Andreas
Cardinali, grávida dele, eu jamais acreditaria.
— Pode olhar, eu deixo – ele sussurrou ainda de olhos
fechados.
Eu ri e ele também.
— Bom dia – falei e ele abriu aqueles olhos verdes lindos.
Fiquei me perguntando se o bebê teria os olhos dele.
— Bom dia – ele me deu um beijo rápido —, preciso de um
banho, estou sujo de ontem ainda.
— Eu também…
Ele se ergueu e foi em direção ao banheiro e eu o segui. Ele
ligou a ducha e se enfiou debaixo dela, entrei no boxe e fechei a
porta de vidro. Andreas se voltou para mim e me abraçou me
puxando para baixo da água gelada.
— Seu cretino! – xinguei e ele riu me soltando. — Não queria
molhar meu cabelo! – reclamei. — Agora vou ter que lavar! – falei
com mau humor.
— É só chamar um cabeleireiro aqui e ele virá – ele falou
simplesmente.
— Ah, é… – ironizei —, o senhor que é rico aqui, eu vivo do
salário que seu irmão ainda me paga!
Stefano estava me mantendo na retaguarda, já havia
encontrado outra assistente, mas me mantinha com salário, pelo
menos até o bebê nascer. Depois eu veria o que fazer. Apenas tinha
certeza de uma coisa, eu não queria mais ir embora e essa certeza
me deixou atônita. Quanto mais o parto se aproximava, mais
chegava a hora de partir.
— Por que ficou triste? – Andreas perguntou me observando.
— Não fiquei – menti. — Eu preciso te agradecer por ter
trazido meu pai, você não tem ideia do que fez por mim.
— Eu prometi que faria – ele disse ensaboando o próprio
corpo —, está no nosso contrato.
O maldito contrato.
— Meu pai me convidou para passar um tempo com ele
depois que o bebê nascer – contei a Andreas.
Ele me fitou de forma impassível.
— Tenho certeza que tem muito que conversar – ele falou
apenas.
Queria que ele dissesse que queria ir comigo, qualquer
indício de que pensava em nós no futuro para que eu tivesse
coragem de dizer o que estava preso na garganta: eu quero ficar.
— Temos – assenti devagar —, são vinte e cinco anos.
— Você terá muito tempo depois que o bebê nascer – ele
concordou.
Uma facada no meu peito, forcei um sorriso e assenti. Mas
minha vontade era de chorar. Dizer que eu era namorada dele foi
apenas uma forma de não chocar a família, e não porque éramos,
afinal, pessoas comprometidas caminhavam para frente e não
ficavam paralisadas.
— Terei, com certeza. – me agarrei ao fio de orgulho que me
restava —, vou poder voltar a viajar. Não vejo a hora! – mostrei uma
empolgação que estava longe de sentir, ao contrário, a cada palavra
eu me sentia mais miserável —, quero voltar a trabalhar logo e
poder acordar cada dia em um lugar. Ser livre novamente…
Ele ficou sério e me deu as costas para se enxaguar. Senti o
clima ficar pesado entre nós e Andreas não disse mais nada.
Terminou seu banho e saiu do boxe para pegar sua toalha e se
secar. Ele sequer tentou me tocar ou beijar, o carinho parecia ter
evaporado no ar e me senti sozinha.
Toda aquela cumplicidade que conquistamos ao longo das
semanas evaporou com as minhas palavras, com a minha
insegurança. Não sabia o que fazer, afinal, nunca tive um
relacionamento e o que eu e Andreas tínhamos não era uma relação
profunda. Era apenas um vínculo por causa do bebê e do sexo, não
era?
— Espero por você na sala – ele avisou —, vou ver se seu
pai já se levantou.
Não era. Apenas da minha parte. Porque a cada passo que
ele dava para fora daquele banheiro, eu sentia uma espécie de malestar, um vazio tão grande que me sufocava. O bebê mexeu de
novo e toquei minha barriga. Olhei para ela, a água do chuveiro
caindo sobre a minha pele.
— Estou apaixonada pelo papai e por você, bebê – confessei
num sussurro —, e eu não sei o que fazer com isso…
CAPÍTULO 27
— Acredito que nunca estive tão frustrado – declarei andando
de um lado para o outro muito bravo. Eu gesticulava sem parar —,
já se passou uma semana do chá revelação, o pai de Kirsten foi
embora e voltamos à vida normal.
— E isso não é bom? – Ivina me questionou.
Olhei para a minha terapeuta.
— Nós moramos dentro do mesmo apartamento, mas não
nos falamos mais! – Voltei a me sentar e passei a mão pelo
cavanhaque. — Ela fica dentro do quarto, ou vai fazer as coisas
dela, mas não me coloca mais no meio!
— Estão transando?
— Não, desde o chá. Naquele dia, transamos de manhã no
meu quarto, na casa de campo, eu disse a minha família que ela era
minha namorada! – falei revoltado. — Fiz o pai dela revelar o sexo
do nosso bebê e, no dia seguinte, ela veio com o papo de que vai
visitar o pai e não vê a hora de ficar livre!
— Ah… – ela falou como se compreendesse algo.
— Ah, o quê? – perguntei impaciente.
— Ela não está fazendo o que você quer e você não está
sendo claro como ela precisa que seja – Ivina me disse.
Apoiei os cotovelos no joelho e uni as mãos para pensar.
— Está querendo dizer que…
— Como ela pode saber que a ama, que quer que ela fique
se não falou?
— Eu não amo… quer dizer.. eu a amo… mas…
Constatar que eu amava Kirsten me deixou atônito. Ela era
uma mulher especial, linda, eu a amava por ser mãe do meu filho, a
queria ao meu lado. Realmente a amava, do contrário, por que
estaria tão frustrado?
— Você tem que deixar isso bem claro, Andreas, uma pessoa
que nunca foi amada não sabe reconhecer o amor, mesmo que ele
esteja pintado de ouro na sua cara, além disso, ela deve estar
insegura com tantas mudanças, já pensou? Uma hora ela é sua
amante, na outra, mãe do seu filho e você a trata com carinho. Ela
também deve estar envolvida, só não sabe como demonstrar…
Pense sobre isso…
E eu pensei o dia todo. Era tão simples, era somente chegar
em Kirsten e dizer: eu te amo. Mas ela era tão resistente a tudo que
nunca gostou, que eu estava ressabiado de dizer assim de cara.
Precisava ser o momento certo.
Eu estava na cozinha tomando uma cerveja quando ela
entrou. Levou um susto quando me viu e fez menção de voltar,
Kirsten estava me evitando.
— Boa noite – eu a cumprimentei.
Ela se voltou para mim. Sua barriga aparecia por causa do
top e o short curto que usava. Estava calor e o ar condicionado do
apartamento ligado. Ela estava cada vez mais linda e eu só
conseguia pensar no quanto seria bom colocá-la em cima daquele
balcão e foder gostoso. Mas tínhamos pendências a acertar.
— Ainda está claro – ela me corrigiu indo em direção à
geladeira.
— Mas já passa das seis da tarde… – justifiquei.
Ela pegou a jarra de suco e serviu no copo.
— Não temos nos falado muito ultimamente – comentei
quando ela ficou em silêncio —, não está se sentindo bem?
— Não muito, o calor não tem ajudado.
— Logo o frio chega – falei por falar.
— É – ela limitou-se a responder.
O meu celular começou a tocar em cima do balcão e ela
olhou de relance. Estava escrito HAVANA. O que minha ex queria
comigo agora? Franzi o cenho e atendi.
— Oi, Havana – eu falei.
Só vi Kirsten deixar o suco em cima do balcão e sair da
cozinha pisando duro. Havana só queria o telefone de um amigo
meu que é diretor em uma emissora de TV, passei para ela. Ela
disse que ficou sabendo do meu filho e desejou tudo de bom.
Apenas isso. Mas Kirsten não havia resolvido o problema comigo.
Fui atrás dela e quando cheguei no quarto, ela simplesmente
estava arrumando a mala.
— O que está fazendo? – perguntei entrando no quarto.
— Indo embora – ela disse socando as roupas na mala.
— Por que está fazendo isso?
— O combinado é que eu ficaria aqui por quatro semanas. Já
se passaram quase quatorze, eu preciso ter meu espaço e você o
seu – ela falou indo buscar mais coisas no closet.
Como assim, ela ia embora da minha vida? Corri e me
coloquei no caminho dela.
— Sai da frente, Andreas! – ela mandou.
— Ou o quê? – eu a desafiei.
— Sai da minha frente! – ela disse por entre os dentes e
tentou me empurrar, mas eu fui mais rápido e segurei seus pulsos.
— Para! – mandei. — Por que está fazendo isso? – A soltei.
— Você não fala comigo há uma semana! Finge que não me vê,
qual é o seu problema?
Ela se afastou de mim e me deu as costas, indo para o outro
lado do quarto.
— Pensei que nessas semanas juntos algo bom tivesse
acontecido entre nós! – precisei desabafar.
— O que, por exemplo? – ela perguntou se voltando para
mim.
— Que você tivesse se apaixonado por mim… por exemplo…
— Para com isso…
— Como eu me apaixonei por você, Kirsten – eu a cortei.
Ela arregalou aqueles olhos azuis como sempre fazia quando
levava um susto.
— Ouviu o que eu disse?
— Não sou surda. – Ela abraçou o próprio corpo.
Fui me aproximando devagar. O calor estava insuportável e
se não fosse o ar condicionado, estaríamos cozidos dentro daquele
apartamento. Eu usava apenas um short e ela evitava me fitar, ainda
mais para o meu corpo, tive vontade de rir da situação, mas ela me
mataria.
— Não tem nada a dizer? – perguntei.
— O que quer que eu diga?
— A verdade, porra! – Parei diante dela e a segurei pelos
ombros. — Que você sente o mesmo, qual o problema?
— Sua ex acabou de te ligar, por que não fica com ela?
Estava com ciúme? Isso fez bem para o meu ego ferido nos
últimos dias.
— Porque não quero, por isso ela se chama ex – acariciei
seus ombros com o meu polegar —, escute, Kirsten, a mulher que
quero está bem diante de mim, e nada vai mudar isso, sequer o seu
mau humor ou a sua indiferença. Eu te quero, mulher, de todas as
forças, como minha amante, como mãe do meu filho, e
principalmente – aproximei minha boca dos lábios bonitos —, como
minha mulher. Minha amiga, minha companheira…
Não terminei a frase. Kirsten ficou na ponta dos pés e me deu
um beijo.
Ela se afastou e disse.
— Eu te amo, Andreas – ela falou olhando nos meus olhos.
Foi como se eu tivesse levado um soco no estômago. Ela me
amava?
— Há quanto tempo sabe disso? – eu tive que perguntar.
— Desde o chá revelação quando você me deixou sozinha no
banheiro – ela me contou —, eu soube naquele minuto que queria
rasgar aquele maldito contrato e ser sua namorada de verdade.
Era tudo o que eu precisava ouvir. Dei as costas para ela e
caminhei em direção ao meu escritório.
— Andreas? – ela me chamou.
Como não respondi, ela foi atrás de mim. Abri a gaveta da
minha mesa e peguei o maldito contrato que nos magoava. Eu
porque acreditava que ela queria se livrar de mim e ela porque
pensava que eu precisava daquela merda como garantia.
— Está falando disso? – Eu peguei, ergui no ar e rasguei
duas vezes.
— O que está fazendo? – ela perguntou sem entender nada.
— Colocando um fim no nosso tormento! – falei e joguei o
papel para trás.
Em segundos, eu estava diante dela e ofegante pelas
emoções que me tomavam.
— A partir de agora, se um de nós quiser ficar vai ter que
deixar isso claro, se alguém quiser sair por aquela porta – apontei
para fora do escritório —, vai ter que falar.
Fiz uma pequena pausa.
— Eu quero ficar com você e com o bebê, Kirsten, porque eu
simplesmente amo vocês dois! – O queixo dela caiu. — E agora?
Você fica ou vai?
Ela respirou fundo e me encarou:
— É claro que eu fico, Andreas. Para sempre…
Eu a puxei pela nuca e a beijei com ardor. Deus como era
bom. Ela era linda e deliciosa, era inteligente e espirituosa, amiga,
adorava cachorros e estava grávida do meu filho. O que mais eu
poderia querer?
Eu a agarrei e a coloquei sentada sobre a minha mesa.
Ajoelhei no meio das pernas dela para tirar o short e a calcinha, e
cair de boca naquela boceta gostosa. Ela arqueou a cabeça para
trás e segurou meus cabelos enquanto eu beijava e chupava. Sabia
que ela gostava que eu enfiasse os dedos na sua boceta molhada e
a chupasse ao mesmo tempo e foi o que fiz.
— Andreas – ela choramingou.
Pensei a língua em círculos pelo clitóris, bem devagar, de um
lado e depois do outro. Ela abriu mais as pernas. Não podia me ver,
a barriga já não deixava, mas ela podia sentir. Lambi uma vez, duas
vezes, e depois da terceira, quando o botão estava bem inchado,
comecei a chupar e a mover os dedos. Ela apoiou as mãos para trás
no tampo da mesa e começou a mover os quadris e logo estava
gozando.
— Vou te foder agora – eu avisei quando me ergui e empurrei
meu short para baixo.
Segurei meu pau duro e acariciei antes de puxá-la para a
borda da mesa, ela se deitou completamente para me dar acesso a
sua boceta linda. De outro jeito não conseguiria por causa da
barriga.
— Faz daquele jeito gostoso, rápido e fundo – ela pediu.
Assenti e a penetrei. Ela fechou os olhos. Comecei a me
mover como ele gostava bem rápido e indo fundo. E depois de uma
semana em abstinência, gozei fácil. Ela era tão quente e apertada,
tão gostosa. Eu a ajudei a erguer e beijei sua boca.
— Vamos para a cama – aconselhei.
— Sim, tem razão…
Eu a peguei no colo e a levei para a cama.
— Andreas – ela apontou Asthor e Zeus sentados aos pés da
cama.
Não dava para transar com o cachorro olhando. Imagine dois.
Era broxante.
— Para fora os dois! – mandei.
Zeus saiu sem reclamar, mas Asthor latiu bravo antes de
ceder. Quando fechei a porta, olhei para Kirsten com os olhos
ardendo de desejo.
— Vamos passar o resto da noite nessa cama…
— Pensei que você diria o resto da vida – ela corrigiu.
Eu me joguei ao lado dela e ela abriu os braços para me
receber. Apoiei o troco contra o dela e rocei meus lábios nos dela.
— É isso mesmo que quer, Kirsten O’Brien? Se tornar a
Senhora Cardinali?
Ela encolheu os ombros.
— Se eu disser que não, vou estar mentindo – ela confessou
com charme.
— Então vamos nos casar…
— Depois que o bebê nascer – ela condicionou.
— Por que não pode ser agora?
— Por que quando as revistas de fofoca me mostrarem quero
estar usando algum vestido caro – ela disse e riu.
— Eu sabia que você estava comigo pelo dinheiro e pela
fama – retruquei beijando seu colo e descendo para o seio.
— Não, querido, desde o começo eu só fiquei por causa do
sexo – ela suspirou quando passei a língua pelo bico eriçado.
— Vou puni-la por desprezar o meu amor… – sussurrei contra
sua pele.
— Então me mostre o quão mau você pode ser – ela me
desafiou.
Eu a fitei com todo o desejo do mundo e afundei minha boca
na sua, selando de uma vez aquela luxúria carregada de amor que
sentíamos, inevitavelmente.
CAPÍTULO 28
Stefano e Luna se casaram em uma manhã de sol do fim do
outono, na ilha, perto de Portoferraio. Apesar da ilha pertencer a
Álamo, ele não foi convidado para a festa, a briga entre os filhos e o
pai seguia firme. Eu e Andreas fomos padrinhos e minha barriga
estava enorme, de trinta e seis semanas, minhas pernas inchadas,
mas usei vestido longo e pude ficar descalça, nada cabia no meu
pé.
Foi uma cerimônia restrita, apenas família e amigos mais
chegados e eles estavam lindos e felizes. Nunca vi um casal com
tanta sintonia. Eu e Andreas nos amávamos, era evidente, mas a
gente discutia por causa de tudo e sentia que eu era sempre a chata
do contra e estava aprendendo a me controlar.
O quarto de Vittorio estava pronto e estávamos apenas
aguardando o momento certo para o seu nascimento, estava
apenas contando os dias, ansiosa para ver o rostinho do meu filho.
Nunca pensei que poderia me sentir tão apegada a alguém como
me sentia por aquele bebê. Cada movimento dele, a cada
ultrassom, eu ficava mais ansiosa imaginando com quem ele se
pareceria. Descobri que eu odiava a maternidade por causa da
minha mãe e não por não gostar de crianças. Eu aprendi a não
gostar para não me iludir e me ferir. Era diferente de realmente não
ter nascido para ser mãe.
O padre disse palavras lindas acerca do casamento, da união
e a todo o momento Andreas me fitava com cumplicidade. Isso era
um ponto forte entre nós, a gente se conhecia apenas pelo olhar.
Transei com tantos homens pensando que isso era intimidade, mas
descobri que sexo não é a prova de que alguém é certo para você, é
apenas uma consequência ou de uma necessidade fisiológica ou do
amor. E sexo com amor era bem melhor.
Ser amada por um homem especial, maduro, me fez acreditar
que havia esperança para mim, para formar uma família e ter um
filho. No fundo, eu sempre quis isso, apenas fingi não gostar para a
frustração ser menor ao longo da vida.
— Eu os declaro marido e mulher – finalizou o padre.
Todos aplaudiram e ovacionaram o casal. Stefano beijou
Luna e a virou de uma vez, como se faziam nos filmes e todos
gritaram em êxtase. Ela riu quando ele a colocou de pé e apenas
balançou a cabeça de forma reprovadora, mas apaixonada.
— Preciso me sentar – eu disse a Andreas quando os
convidados começaram a se dispersar e formar fila para
cumprimentar os noivos —, minhas costas estão me matando.
— Tudo bem – ele segurou minha mão e me levou para
dentro da casa sofisticada e ficamos no sofá, minhas pernas
esticadas sobre a mesa de centro.
Andreas pegou um copo com uísque e água para mim e
sentou-se ao meu lado.
— Gostou da cerimônia? – Ele quis saber.
— Muito bonita…
— Você quer se casar de um jeito especial? – Ele quis saber
passando o braço pelo meu ombro. — Tipo, uma festa grande ou
uma discreta, como essa?
— Nunca pensei sobre isso – confessei.
— Deveria pensar, a gente vai se casar assim que estiver
melhor depois do parto – ele me avisou.
Eu apenas sorri. Andreas tinha mania de atropelar tudo, e eu
era mais ponderada, sem pressa. Por ele, a gente teria se casado
naquela noite em que eu quase parti por causa do ciúme que senti
pela ligação de Havana e ele rasgou o contrato. Aquela foi a maior
prova que ele confiava em mim e sabia que eu não mentiria para
ele. Foi quando eu tive certeza que queria passar o resto da minha
vida ao seu lado.
— Já sei que não adianta discutir, então, tudo bem –
concordei e tomei a água.
— Vocês não vão lá para fora? – a voz de Sophia se fez
presente.
— Depois, Kirsten está descansando… – Andreas respondeu
à mãe.
— Está se sentindo bem, querida? – ela perguntou
preocupada.
— Apenas aquele cansaço de fim de gravidez que não passa
nunca – expliquei.
Há alguns dias, comecei a sentir as primeiras contrações.
Elas ainda estavam bem espaçadas, embora eu e Andreas
tenhamos ido para o hospital umas dez vezes naquela semana. Os
médicos de plantão até já nos conheciam. Era a ansiedade, o fato
de sermos inexperientes com o primeiro filho, tudo junto e
misturado. E ele estava mais ansioso do que eu, com certeza. Era
eu dizer que estava tendo contrações, que Andreas começava a
passar mal e sentia dores de barriga também.
Era hilário.
— Entendi. – Sophia sorriu para nós.
Um homem alto loiro, que parecia um deus grego, um
verdadeiro Adônis entrou na sala e foi em direção à Sophia. Ele
sorriu para nós e nos cumprimentou, como Andreas dizia, era o
namorado da vez, a diferença era que ele era um pouco mais velho
que os outros que estávamos acostumados a ver com frequência.
Minha sogra adorava estar nas colunas sociais.
— Vamos nos divertir, então – ela avisou e pegou na mão do
homem e saiu.
— Sua mãe só sai com homens bonitos, não é? – comentei.
Andreas olhou para mim e estreitou o olhar.
— Achou esse pangaré bonito? – perguntou com ciúme.
— Ele é – eu respondi o óbvio.
— Então prefere os loiros? – ele me questionou.
— Não, seu tolo, eu prefiro um italiano arrogante. – Sorri e
aproximei para beijá-lo.
Tinha esquecido a garrafa de água aberta e a derrubei no
chão, fazendo barulho de água escorrendo.
— Que descuidada eu sou – falei e olhei para a garrafa.
Mas estava fechada.
— Ah, meu Deus! – eu exclamei atônita.
— O que foi? – Andreas ajeitou a postura procurando algo de
errado em mim.
— Acho que a bolsa estourou. – E apontei para o chão.
Os olhos verdes de Andreas se arregalaram como pratos e
ele abriu a boca para falar, mas a voz não saiu. Agora não era falso,
Vittorio estava nascendo. Ele segurou minha mão com força e
apertou.
— O que vamos fazer?
— Veja se tem um médico na festa, se não tiver, vamos para
o continente! – falei aflita.
E então a primeira contração veio e parecia um choque nos
meus rins que desceu para a base da coluna. Coloquei a mão na
minha barriga que estava muito dura e meu estômago revirou.
— Vai, Andreas! – Eu tive que acordá-lo do choque.
— Está bem. – Ele se ergueu e foi em direção aos
convidados.
Respirei fundo controlando as dores. Havia um médico amigo
de Stefano na festa, ele era um clínico geral, mas poderia me
auxiliar até chegarmos ao continente.
— Mande notícias – Sophia disse quando nos acompanhou
até o helicóptero.
— Mandarei – Andreas disse enquanto me carregava e as
dores pioravam.
A festa tinha que continuar e seguimos viagem. O médico
garantiu que não havia risco do meu filho nascer em pleno voo
porque eu ainda não tinha dilatação completa, mas estava evoluindo
bem.
As dores foram se tornando cada vez mais fortes durante a
viagem de helicóptero, mas era a maneira mais rápida de chegar até
a cidade de Portoferraio, onde uma equipe médica nos aguardava
no hospital.
Não deixaram Andreas ficar comigo na sala de parto, ele
estava muito nervoso e mais atrapalhava do que ajudava os
médicos e a mim. Nunca pensei que poderia sentir tanta dor em
minha vida, pensei que fosse morrer, eu gritei, chorei, prometi a mim
mesma que nunca mais teria filhos depois daquele dia, xinguei até
mesmo o médico quando o corpinho do meu filho saiu de mim.
Contudo, quando eu ouvi seu chorinho, esqueci de tudo. A
enfermeira o limpou e o enrolou em uma manta e trouxe para perto
de mim, então Vittorio parou de chorar. Estava todo enrugado, mas
era o bebê mais lindo do mundo e tinha os cabelos escuros do pai.
Comecei a chorar emocionada. Deixaram Andreas entrar e ele se
aproximou.
Aquele homem daquele tamanho estava chorando como uma
criança. Ele não perguntou se podia, ele tirou Vittorio do colo da
enfermeira e o pegou, e chorou muito de uma forma que fez todos
os presentes ficarem emocionados.
— Meu filho – ele dizia enquanto chorava —, meu filho!
Naquele instante eu soube que Vittorio não poderia ter outro
pai. O bebê não chorou e ficou quietinho no colo do pai, até que a
enfermeira o convenceu que precisava levá-lo para os testes
necessários após o nascimento. Depois de entregar Vittorio à
enfermeira, Andreas se aproximou de mim e se ajoelhou ao meu
lado. Segurou minha mão e acariciou meus cabelos.
— Ele é lindo, não é? – perguntei também emocionada.
— Obrigado – ele beijou minha mão —, você me deu o maior
presente que eu poderia ter nessa vida.
— O presente é nosso – corrigi.
— Você mudou minha vida, Kirsten – ele falou com imenso
carinho —, você me fez enxergar que posso sempre ser melhor…
— Assim você me faz chorar, querido – acariciei seu rosto —,
mas de todas as coisas, a mais forte foi o que aprendi com você…
— O quê? – ele perguntou com incredulidade.
— Que o amor existe e ele pode vencer qualquer coisa –
confessei.
Estávamos muito emocionados e respirei fundo para me
controlar.
Minutos depois a enfermeira pediu que Andreas saísse e tive
que passar por alguns procedimentos habituais antes de ir para o
quarto e Vittorio ir em seguida. Ele era um bebê grande e forte,
quando o peguei no colo, já com a roupinha do hospital e enrolado
no cobertor, ele preencheu meus braços.
Não demorou e Sophia chegou, depois Stefano e Luna. Foi
uma festa para conhecerem o primeiro neto. Até mesmo a nona
Cardinali apareceu.
— Não vai avisar seu pai? – eu perguntei a Andreas quando
ficamos a sós.
Ele balançou a cabeça em negativa.
— Eu enviei uma foto e avisei para ele não aparecer…
Não fiz nenhum comentário. Eu tinha sido amante de Álamo,
e forçar para que Andreas deixasse o pai conhecer o neto, poderia
pegar mal. Eu só queria que todos ficassem bem.
Fomos para casa no dia seguinte. Em Milão, tanto eu quanto
Vittorio passamos pelos médicos e começamos uma nova vida. Os
primeiros dias foram os mais difíceis, mas Andreas me ajudava em
tudo. Ele buscava Vittorio no berço para que eu desse de mamar,
trocava fraldas, dava banho, ele se preparou para o momento mais
do que eu. Era encantador.
Uma noite, acordei sozinha na cama. Fui até o quarto de
Vittorio e encontrei Andreas sentado na poltrona ao lado do berço,
um livro de história sobre o colo, completamente adormecido. Fiquei
apaixonada. De todas as minhas fantasias sobre o futuro, nunca
pensei que a felicidade poderia ser mais simples do que parecia. Eu
só precisei aceitar que o amor existia e ele poderia curar todas as
minhas inseguranças.
Peguei um cobertor no baú e cobri Andreas, beijei sua testa e
ele apenas resmungou. Busquei tantas coisas na vida, e descobri
que a única coisa que eu precisava era amar e ser amada.
// LIVRO

A Secretaria Grávida do CEO
EU QUERO ESSE FILHO!
Desde o dia em que meu irmão, Stefano, me ligou dizendo que sua
assistente. Kirsten O’Brien, estava grávida de mim, a única coisa
que eu tinha certeza era que queria esse bebê como jamais quis
qualquer coisa na minha vida. Deixei bem claro que eu faria
qualquer coisa para ter meu filho, mesmo que Kirsten relutasse em
aceitar.
Senti ódio de Kirsten por ela não querer o bebê…
E o que era para ser uma simples gravidez com final feliz, virou um
pesadelo sem fim em meio a mentiras e segredos que Kirsten
escondia tão bem de mim.
Meu filho nasceria de qualquer jeito, nem que eu tivesse que
amarrar Kirsten ao pé da cama. O problema é que me vi ardendo de
desejo pela bela assistente, e almejando aquela linda mulher entre
os meus lençóis mais uma vez, e sem perceber, quem estava
amarrado naquela história era eu.