Capítulo 1
Nicolas
Sentado em minha varanda com meu notebook no colo, fiquei prestando atenção na babá das
minhas sobrinhas enquanto ela brincava com as duas no quintal de casa. Sarah era uma garota doce e
encantadora, mas parecia esconder uma tristeza no olhar. Ela tinha os olhos mais lindos que já vi,
mas ao mesmo tempo eram olhos tristes. Percebi isso em todas às vezes que ela ficava olhando as
crianças correndo, a garota se perdia nesses pequenos momentos. Não sabia como, mas via sua alma
dolorosa, uma menina solitária que criava o irmão sozinha depois que a mãe morreu e o padrasto
sumiu no mundo. Foi isso o que ela disse para Camila.
Sobre ser solitário, eu também sabia como era. Por mais que eu sempre tivesse meus irmãos
próximos a mim, além de morarmos no mesmo quintal, por vezes, sentia o quão solitário era. Até emrelação às amizades eu era muito seletivo, mas tinha os amigos a quem podia contar quando
precisasse.
Pensei que nunca mais me apaixonaria novamente. Depois de ter sido deixado no altar pela
minha noiva e ter sentido a dor de ser rejeitado, pensei que jamais amaria de novo. Entretanto, nunca
me fechei para o amor, apenas não queria ser precipitado e me entregar logo de primeira. Me
considerava uma pessoa centrada, e quando sentia que algo mudaria minha vida, eu corria atrás, mas
também sabia separar o amor do desejo de ter alguém. Fiquei esperando a pessoa certa aparecer. E
como eu saberia que ela era a pessoa certa? Não saberia. A única certeza que eu tinha era que
quando vi a babá das minhas sobrinhas brincando com as duas no quintal fiquei admirando-a
enquanto segurava a mãozinha da minha sobrinha Julia de pouco mais de um ano. A pequena já
ensaiava os primeiros passos e já queria correr; ela caminhava atrás de Maria Flor e do pequeno
Valentim o seu irmãozinho de seis anos.
Deixei o notebook em cima da mesa e fiquei parado observando aquela cena e me peguei
sorrindo. Julia gritava querendo correr sozinha atrás da irmã. Sarah cuidava muito bem delas; quando
minha cunhada Camila a contratou, eu logo soube que ela tinha um irmãozinho e que não poderia
deixá-lo com ninguém, então Camila sugeriu que ela o trouxesse para o trabalho. Minha cunhada tinha
o coração muito bom, então quando soube da história da babá, Camila propôs que ela morasse na
casa de número dois, pois assim facilitaria a vida das duas. E foi o que a garota fez, se mudou com o
pequeno irmão para a casa entre a minha e a do Vinícius, se tornando a minha vizinha.
Assim que notou minha presença, ela sorriu timidamente pegando a Julia no colo. Maria e
Valentim ficaram correndo. Percebi um sorriso se formando em seus lábios quando olhou para mim,
estávamos nos conhecendo melhor, na verdade, eu estava apaixonado por ela. Será que ela tambémsentia algo por mim? Vinícius disse que também percebeu os olhares dela em minha direção quando
almoçávamos juntos aos domingos, mas acreditei que pudesse ser coisa da cabeça dele. Julia jogou
seu corpinho em minha direção assim que me viu se aproximar, ela estava com um ano e um mês e
balbuciava palavras desconexas. Peguei ela no colo e Sarah saiu de perto de mim se sentando na
cadeira olhando seu irmão brincar.
— Está muito quente hoje, não é? — Comentei olhando para Sarah. Julia começou a querer
morder minha bochecha, e como não conseguiu começou a gritar me babando todo.
— Sim, está muito quente. Por isso trouxe eles para ficar brincando no quintal. — Sarah disse
baixo. Notei quando se levantou, seus olhos verdes olharam para mim, eu sentia um misto de
sentimentos quando isso acontecia. Estava parecendo um adolescente bobo. Julia começou a chorar
pela Sarah, então entreguei a pequena em seus braços. Nossos dedos tocaram um no outro, estávamos
bem próximos, mas me aproximei um pouco mais e depositei um beijo em sua bochecha, peguei uma
mecha de seu cabelo e coloquei atrás da sua orelha. Ela chamou a Maria Flor e o Valentim, que
voltaram correndo. Eles estavam mais vermelhos do que camarões ao Sol. O pequeno era loirinho e
tinha muitas sardas no rosto.
— Tio Nico, olha… eu e o Valentim colhemos essas duas rosas, vou pôr no vaso para quando
meu pai chegar dar para minha mãe. Ela adora rosas vermelhas. — Maria disse, segurando a rosa
pelo caule.
— Cuidado com os espinhos e os insetos, sabe que você é alérgica e não pode mexer nas
roseiras sozinha. Seu pai já avisou. — Falei, enquanto tocava em seu nariz. Também fiz um carinho
na cabeça do Valentim, ele era um garotinho bonito e falava feito uma matraca igual minha sobrinha
Maria Flor, os dois combinaram certinho.
— Os insetos nem nos picaram, tio, eles são bonzinhos. Eu ajudei a Maria segurando o
banquinho para ela alcançar a flor, eu sou forte. — Valentim disse, limpando a testa suada com a
palma da mão. Sorri da forma como ele falou.
— Eu sei, tio Nico, mas cortei com cuidado e usei as luvas que meu pai deixou no meu
pequeno jardim perto das plantas. Ele disse para eu usar sempre que fosse cuidar delas. O senhor
quer uma rosa? — Me virei para ela e olhei para Sarah.
— A quem eu daria esta rosa? — Maria ficou pensando, e disse:
— Não sei, o senhor tem que arrumar uma namorada. Ou pode dar para tia Sarah. A senhora
aceita, tia? — Perguntou, se virando para Sarah, ela era bem mais esperta. Sorri, balançando a
cabeça, fiquei sem graça. Sarah ficou pensando.
— Aceito sim. — Não pensei que uma simples resposta fosse me causar tamanha sensação.
Estendi a rosa em sua direção, que pegou olhando rapidamente em meus olhos, algo dentro de mimvibrava com força.
Sarah entrou com as crianças e eu ainda fiquei no quintal tentando fazer meu coração parar de
bater tão rápido. Eu estava feliz pelo simples fato de ter dado uma flor para a garota ao qual estava
me apaixonando. Voltei para dentro de casa e me sentei no sofá; fiquei pensando sobre a forma como
eu e Sarah estávamos nos aproximando um do outro; mesmo que fosse devagar sentia que ela estava
tão apaixonada quanto eu. Feliz, decidi tomar um banho. Depois disso fui fazer algo para comer antes
de ir para academia dar aulas. Abri a geladeira e me lembrei do Vinicius, que sempre reclamava das
comidas que eu comprava, dizia que malhava para comer bem, não para viver de dieta. Sorri,
sentindo falta dele reclamando pela casa que eu acordava muito cedo e fazia barulho, mas estava
feliz, porque se casou e se tornou um pai de família. Terminei de preparar meu pré-treino e comecei a
comer, em seguida, lavei a louça, peguei – minha mochila e saí. Já fora de casa, subi em cima da
moto e a liguei. Olhei mais uma vez para a casa da Camila, mas não vi a Sarah. Saí pelo portão da
garagem e parti rumo à academia. Eu dava aulas à noite na academia do bairro, três vezes na semana,
tinha uma turma de cinco pessoas, duas mulheres e três rapazes. Em uma semana a escola em que eu
era professor de educação física entraria de férias, então a molecada toda ficaria em suas casas.
Veria Sarah com mais frequência, pois ficaria mais tempo em casa durante esses últimos dias.
Apenas esse pensamento fez meu coração acelerar.
Capítulo 2
Sarah
Em pé, fiquei olhando Valentim e Maria Flor terminarem de pintar o desenho que eu tinha
acabado de desenhar para eles dois. Quando eu era menor levava jeito para fazer desenhos, sempre
desenhava o rosto feliz da minha mãe quando éramos apenas nós duas. Depois que Raul entrou na
vida dela, tudo ficou cinza, a única parte boa foi o nascimento do meu irmãozinho. Olhei para a rosa
no vaso e me lembrei do momento em que Nicolas também me deu uma… tudo bem que Maria Flor
deu um empurrãozinho, mas tinha certeza de que ele quis me dar. Deixei a minha dentro do vaso lá
em casa e algumas pétalas dentro do livro de romances que estava lendo. Sentia meu estômago gelar
quando ele se aproximava de mim tirando uma parte do meu cabelo do meu rosto, ou quando ele
beijava meu rosto. Nicolas era tão honrado que sempre respeitava meu tempo. A cada dia que se
passava, eu me apaixonava mais por ele.
Tinha desenhado a casa grande, na frente, e as três casas pequenas logo atrás, eles pintaramconforme a pintura real de cada uma delas. Durante esses meses que eu estava trabalhando na casa do
Átila e da Camila percebi que eles eram uma família muito unida, todos os domingos se reuniam para
almoçarem juntos, eu notava o quanto eles se amavam. Camila e Anne eram as melhores amigas e, emsegredo eu desejava, um dia, encontrar uma amiga que nem elas duas. Me sentia tão sozinha… tinha
os fantasmas que sempre vinham me atormentar nas madrugadas. Anne era tão feliz, a todo tempo que
a via, ela estava sorrindo. Ainda não tinha voltado ao trabalho, o bebê dela não tinha completado
seis meses de vida. O Davi era a cara do Vinícius, mas os olhos eram da mesma cor dos de Anne.
Dava para sentir o quanto eles se amavam, o cuidado que ele tinha com Anne e o filho… Fiquei me
perguntando se algum dia seria feliz assim.
— Maninha. — Olhei para o Valentim, que me chamava, notei que ele estava um pouco
abatido. Desde quando acordou pela manhã notei que ele estava um pouco tristinho, pensei que devia
ser pela falta que nossa mãe fazia, ele não sentia falta daquele homem asqueroso que lhe deu a vida,
ao contrário, tinha medo quando ele chegava bêbado brigando. Sempre dormia comigo, abraçadinho,
eu sempre cuidei dele desde quando nasceu.
— Oi, meu amor. — Falei, passando a mão em seus cabelos, completamente loiros, da mesma
cor dos da nossa falecida mãe e dos meus. Em seguida, peguei em sua testa e notei que estava quente.
— Está sentindo alguma coisa? — Peguei em sua mão e fui até o sofá me sentando com ele emmeu colo. Julia estava dormindo e já estava quase na hora de seus pais chegarem. Maria Flor se
aproximou de nós, preocupada.
— O que ele tem, tia? — Perguntou, sentando-se ao meu lado.
— Ele está com febre. Maria você pode ir até o quarto da Julia para pegar o termômetro?
Quero medir a febre dele. — Ela se levantou e seguiu até o quarto. Depois voltou com o objeto na
mão.
Assim que apitou tirei de debaixo do braço de Valentim, olhei e vi que indicava trinta e oito
graus de febre. Fiquei assustada. Valentim não havia tido febre nos últimos dias. Um alívio tomou
conta de mim quando Camila abriu a porta e entrou, me viu aflita com preocupação no olhar. Átila
também notou e ambos ficaram me esperando falar alguma coisa.
— O que aconteceu com o Valentim? — Perguntou ela, colocando a bolsa em cima da mesa de
estudos.
— Ele já acordou abatido, mas pensei que fosse coisa de crianças, sabe? Talvez saudades da
mamãe. Mas agora ele está com trinta e oito de febre. — Disse, mostrando a ela o termômetro.
Camila foi até sua bolsa, tirou o estetoscópio e começou a examinar meu irmãozinho, fiquei
admirando aquela mulher de coração tão bom. Quando cheguei à Limoeiro, fiquei na pousada da
dona Conceição e, em poucos dias fiquei muito próxima dela, lhe contei um pouco sobre minha
história, não a parte feia, contei que minha mãe tinha morrido e que resolvi sair de Santo Agostinho
atrás de uma vida nova. Ela me ajudou muito e quando soube que a Camila estava à procura de uma
babá para cuidar de suas filhas, ela me indicou sem pensar duas vezes. Aquela senhora se tornou uma
segunda mãe para mim. Aos domingos, eu sempre passava em sua pousada para conversar com ela.
— Ele não está com a garganta inflamada e nem problema algum com a respiração. Examinei o
ouvido e nada também. Pode dar esse antitérmico para ele, logo essa febre vai passar. Não é mesmo,
Valentim? — Camila disse, apertando seu nariz e forçou um sorriso.
— Mas acaso persista, segunda-feira vamos dar um jeito de você levá-lo até o hospital para
uma consulta. Podemos deixar as crianças com o Nicolas, pela manhã, já que ele está livre. Está de
férias da escola, então tenho certeza de que ele não vai se opor. — Ela disse, tocando meu ombro.
Sorri em agradecimento.
Como era sábado, domingo eu não trabalhava. Resolvi que passaria o dia em casa cuidando do
meu irmãozinho, talvez se ele melhorasse poderíamos visitar a dona Conceição. Valentim gostava de
brincar com os netos dela. Ali, ele tinha a Maria Flor, mas, às vezes, ele reclamava querendo brincar
com meninos, ele dizia que Maria era muito mandona.
Agradeci a Camila, me despedi de todos e segui para nossa casa. Peguei Valentim em meus
braços, ele estava pesado… dali uns tempos não conseguiria mais carregá-lo. Assim que cheguei na
porta de casa, desci Valentim e abri a porta, ele entrou e eu fui até o varal de roupas para pegar as
roupas que tinha estendido no período da tarde. Senti alguém trás de mim… meu estômago esfriou e,
sem olhar para trás, eu soube muito bem quem estava atrás de mim. Com as roupas nas mãos, me
virei e vi Nicolas em pé me olhando. Ele era alto e muito bonito. Seu corpo era forte, muito forte, ele
estava todo suado com os fones de ouvidos em torno do seu pescoço. Ele abriu o sorriso, e era o
sorriso mais lindo que eu já tinha visto. Disfarcei colocando uma mecha de cabelo para trás da minha
orelha. Senti todo meu corpo formigar. Às vezes, eu custava a acreditar que ele estava gostando de
mim. Sorri para ele.
— Tudo bem, Sarah? — Perguntou, ainda parado em minha frente. Balancei a cabeça, mas ele
ficou me esperando falar. Era sempre assim, ele sempre queria que eu falasse ao invés de fazer
gestos.
— Tudo bem. — Disse, me virando para entrar, ele ainda ficou parado como se tentasse me
dizer mais alguma coisa. Assim que eu ia entrando sua voz rouca me fez parar, não acreditei no que
ele havia acabado de me dizer.
— Mais tarde vai ter uma apresentação de uma banda de música acústica no restaurante da
dona Conceição, pensei de convidá-la para ir comigo. Desde que chegou aqui não saiu para nenhumlugar para se divertir. — O rosto dele estava com um tom vermelho quando me virei para encará-lo.
— Meu irmão está doente, me desculpa, mas não posso deixá-lo sozinho. Sinto muito, eu até
gostaria de ir com você. — Notei que seu semblante ficou triste, e meu coração doeu um pouquinho.
— É algo grave? Está precisando de alguma coisa? — Assim que ia respondê-lo, Valentimgritou por mim, chorando. Corri para dentro deixando as roupas caírem no chão da sala.
Me aproximei do quarto e ele estava chorando, e todo sujo de vômito. Nem percebi quando
Nicolas entrou, quando dei por mim ele já estava atrás de mim me ajudando com meu irmão. Nicolas
me ajudou a tirar a roupa e os sapatos dele. Nossos joelhos se tocaram e senti uma corrente elétrica
percorrer meu corpo.
— Está tudo bem, garotão? — Perguntou, limpando a boca do meu irmão com a parte da
camisa que estava limpa. Valentim balançou a cabeça afirmando que sim.
— Ele deve ter comido alguma coisa que não fez bem para ele. Quer que eu chame a Camila
para examiná-lo?
— Agora a pouco ela o examinou. Me disse para dar um antitérmico para ele. — Ele
concordou.
— Você tem algum remédio para enjoo? Se não tiver, a Camila com certeza deve ter. Ela temtodos os tipos de remédios em casa — perguntou para mim. Em seguida, voltou sua atenção ao meu
irmão: — Vem, me deixa te ajudar a limpar essa sujeira lá no banheiro enquanto sua irmã limpa a
sujeira do chão.
Nicolas era tão cuidadoso… pegou meu irmão pela mão e o levou até o banheiro, logo ouvi o
chuveiro sendo ligado. De alguma forma, ele estava tentando me ajudar. Depois que limpei a sujeira
do chão, peguei a toalha do Valentim e fui até o banheiro. Ele já tinha acabado e saiu do banheiro
indo ao quarto procurar por sua roupa, ele já sabia se vestir sozinho, então fiquei na sala comNicolas.
— Obrigada, vou dar o remédio de enjoo para ele e fazer com que ele durma. — Nicolas
balançou a cabeça e saiu pela porta, mas antes parou.
— Eu sei que hoje você não pode aceitar meu convite, mas espero que uma próxima vez você
aceite. — Disse e deu um beijo no meu rosto. Depois saiu fechando a porta em seguida.
Meu coração acelerou e senti algo no meu estômago como nunca senti na vida; eu nunca tinha
me apaixonado por ninguém, não sabia como era a sensação. Todas as vezes em que eu olhava para o
Nicolas sentia coisas estranhas, minhas mãos suavam e, eu também sentia um calor nas partes
íntimas. Estava me sentindo muito estranha.
Voltei para o quarto e notei que Valentim já tinha vestido a cueca e uma camisa. Me aproximei
dele, o peguei no meu colo e o abracei, deitando-nos na cama. Ficamos assim até pegar no sono. Meu
irmão era tudo o que eu tinha, e por ele faria qualquer coisa, sempre o protegeria. Antes de fechar
meus olhos a visão do rosto de Nicolas se formou em minha mente… seus olhos amendoados me
olhando sem que eu estivesse percebendo, suas mãos grandes passeando pela minha cintura… senti
um calor enorme, coisa que nunca tinha me acontecido. Suspirei profundamente e dormi.
Capítulo 3
Nicolas
Por fim, criei coragem e chamei Sarah para sair comigo; tinha tido uma conversa com Átila
quando estava voltando da academia, me abri com ele, declarando que estava interessado na babá
das filhas dele. Ele sorriu tocando meu ombro, me encorajando… disse que notou que eu olhava para
ela de maneira diferente. Afirmou que se ela fosse a mulher por quem eu estava me apaixonando era
para eu lutar; Sarah era uma menina bacana e merecia um homem como eu. Sorri, pois ele e Vinícius
diziam que eu era um homem que entendia as mulheres e que sempre as respeitava, mesmo tendo sido
abandonado no altar. A verdade era que eu não gostava muito de ficar expondo meus problemas
pessoais.
Assim que cheguei da academia, no sábado, eu a vi recolhendo as roupas do varal, então
entendi que era a melhor hora, pois ela estava sozinha. Átila me disse que se ela aceitasse, eles
ficariam com Valentim para ela sair comigo, me animei e parei atrás dela; senti que seu corpo
enrijeceu e logo ela se virou me olhando de forma tímida, eu amava seu jeito. Sorri para ela e
perguntei se estava tudo bem, ela estava um pouco triste. Depois de me responder, ela se virou para
entrar, criei coragem e a convidei, ela me disse um não. Meu coração murchou dentro do peito. Sarah
disse que seu irmão estava doente, então me preocupei, pois tinha um carinho imenso por ele. Assimque ouvimos o choro da criança, ela correu jogando as roupas pelo chão da sala, entrei logo emseguida e vi que Valentim estava vomitando. Tentei ajudar, me abaixei, peguei o pequeno pela mão e
o levei até o banheiro; ajudei ele a se lavar. Após o pequeno se limpar, ela me agradeceu. Saí de sua
casa sentindo meu peito queimando, mas antes, eu disse que na próxima vez esperaria que ela
aceitasse meu convite e lhe dei um beijo no rosto. Quando entrei em casa, não parava de pensar nela,
tão linda e, ao mesmo tempo tão inocente. Meu celular vibrou e abri a mensagem no WhatsApp, era
Ângelo perguntando se eu estava a fim de tomar um chope com ele. Mandei a mensagem de volta
dizendo que não estava muito animado, ficaria para outro dia. Depois de tomar um banho, me deitei,
mas não consegui dormir. Liguei a televisão e vi que estava passando um filme, fiquei assistindo até
que o sono veio.
***
Estávamos todos reunidos na mesa, no almoço de domingo. Maria Flor estava contando que
Valentim e Sarah tinham ido visitar a dona Conceição na pousada onde eles moravam antes. Minha
sobrinha não disse, mas ela sentia falta do Valentim, pois os dois estavam se tornando grandes
amigos. Brigavam, mas logo faziam as pazes. Fiquei pensando em Sarah, na verdade, ela não saía da
minha cabeça.
— Está pensativo. Aconteceu alguma coisa? — Vinícius disse, sentando-se ao meu lado e
deixando uma lata de cerveja perto de mim. Peguei, abri e tomei um gole. Átila também se sentou ao
nosso lado. As mulheres já tinham saído, Anne entrou com Davi e Camila foi dar banho nas meninas,
e nós, homens, ficamos responsáveis pelas louças. Resolvi desabafar com eles.
— Tem quase sete meses que estou gostando da Sarah, e estou pensando em pedi-la emnamoro. Naquele dia que fui chamá-la para sair, ela só não aceitou, pois seu irmão ficou doente.
Quando Valentim passou mal, entrei em sua casa, porque ela saiu correndo para ir vê-lo, eu temi que
tivesse acontecido algo de muito grave, então fui atrás dela. A ajudei com o menino, nunca tinha
agido assim com mulher alguma, vocês sabem que eu sempre fui tranquilo. Só que agora estou
completamente apaixonado, pensando até em casamento. — Os dois se entreolharam e riram.
— Desde quando ela começou a trabalhar aqui em casa, senti que vocês dois iam se apaixonar,
ela é uma menina cheia de vida, alegre e cuida do irmão com todo amor. Já te disse que se ela for a
mulher da sua vida, vá em frente, tem todo meu apoio. — Átila falou abrindo mais uma lata de
cerveja.
— Ela é uma pessoa muito bacana mesmo, sempre ajuda Anne quando pode. Esse jeito quieto
dela, com certeza deve ser porque não saía para nenhum canto sozinha, talvez nunca tenha namorado,
ou teve amigas. E depois que a mãe morreu teve que ter responsabilidades. Torço muito para vocês
dois darem certo, você merece ser feliz, meu irmão. — Vinicius disse, bebendo o restante da cerveja.
— Camila me disse que esse final de semana vai chamar Sarah para sair, ela mesmo me disse
que também está precisando espairecer. Tenho certeza de que ela e Anne vão dar um toque nela. —Átila e Vinícius colocaram as mãos sobre meu ombro e me senti mais calmo. Tinha certeza de que
tudo iria se resolver.
Após terminar de lavar as louças, fiquei na casa do Átila para assistir futebol que passava na
televisão; Vinicius também ficou e começamos a beber mais cervejas. Eu nunca tinha ficado bêbado e
nem ficaria a essa altura da minha vida, era muito difícil eu beber, mas naquele dia eu queria que
algo me entorpecesse, que me fizesse esquecer o que estava sentindo por Sarah. A minha cabeça não
parava de pensar nela. Uma menina bonita que cuidava bem do irmão… devia ter passado por vários
problemas depois que a mãe morreu. Tomei mais umas cervejas, o jogo acabou e fui para casa.
Estava me sentindo cansado e a bebida me pegou um pouco. Quando entrei em casa fui para meu
quarto e me joguei em cima da cama, dormi sentindo todo meu corpo relaxado. A bebida ajudou para
que eu dormisse logo.
Capítulo 4
Sarah
Camila não ia trabalhar, pois era sua folga, ela me disse que queria falar comigo. Fiquei
nervosa, pensando que ela pudesse querer me demitir. Estava em casa arrumando as coisas; Valentime Maria Flor estavam estudando na mesa de estudos onde, aos domingos todos se reuniam para
almoçar. Fiquei observando meu irmão, ele estava tão feliz, de tanto ele ficar olhando para Maria
Flor andando de bicicleta no quintal, ele me pediu uma. Disse a ele que quando terminasse de pagar a
cama que eu tinha comprado para ele, compraria a bicicleta, ele concordou. Valentim tinha apenas
seis anos e entendia perfeitamente que naquele momento não tínhamos dinheiro para comprar uma
bicicleta. Mas notei o quanto ficou triste; Maria o deixava brincar na bicicleta dela, mas como era
grande, ele não sabia andar. No dia que ele me pediu a bicicleta Nicolas ouviu, eu tinha certeza de
que ele também notou a tristeza em seu olhar. Só de olhar para o Nicolas sentia que meu coração
podia parar a qualquer hora, ele era muito educado e me olhava como se eu fosse a mulher mais linda
do mundo. Eu ficava tão envergonhada quando sentia seus olhos em mim.
Quando ele me chamou para sair aquela vez, fiquei tentada a aceitar só para saber como era ter
um encontro; eu já namorei quando tinha quinze anos, mas nunca fiz sexo, por isso tinha receio de sair
com ele, já que não sabia nem como agir caso as coisas esquentassem entre nós. Todas as vezes que
ele olhava para mim, seus olhos brilhavam, seu sorriso começava a aparecer. Era um sorriso de
emoção. Teve um momento em que eu quis correr para seus braços e beijar todo seu rosto, dizer o
quanto ele era um homem maravilhoso, foi no dia em que ele chegou com uma bicicleta para meu
irmão, Valentim me olhou pedindo permissão para aceitar o presente, eu dei a permissão e ele foi
correndo e abraçou Nicolas, e agradeceu. Tive que fazer um grande esforço para fazer com que
minhas pernas me obedecessem para chegar perto dele e agradecê-lo pelo presente; beijei seu rosto
quando fiquei na frente daquele homem de coração tão bom. Eu sorri para ele, que me devolveu
sorrindo de volta. Foi naquele dia que descobri como era estar apaixonada por alguém.
— Está pensando em quê mulher? Estou falando com você há alguns minutos. — Camila disse,
parada à minha frente. Ela entrou em casa e eu nem percebi.
— Estava olhando o meu irmão e percebi que ele está muito feliz. — Disse, sorrindo e
tentando disfarçar, ela não acreditou que eu estava pensando somente em Valentim.
— Hoje, eu, você e Anne vamos sair. E não se preocupe, porque Átila vai ficar com as
crianças e com Valentim também. Ele pretende fazer a noite do cinema. Hoje à noite é nossa, vamos
ao barzinho do Manuel nos divertir. — Ela disse indo em direção à janela e ficou encostada olhando
para a casa da frente.
— Mas você é a minha patroa, não sei se devo aceitar. — Falei e me arrependi, pois Camila
me olhou séria.
— Sou sua amiga também, nos conhecemos há quase um ano, Sarah. Achei que já tínhamos
passado dessa fase de patroa e empregada, eu gosto muito de você, e não é só porque você cuida
muito bem das minhas filhas, mas porque você me passa muita confiança. E eu sinto que você tambémgosta de mim como amiga. Ou estou errada? — Disse, ainda me olhando nos olhos com as mãos na
cintura. Sorri do seu jeito.
— Não, você está certa. Eu gosto muito de você, das suas filhas, de cuidar delas. Você me
ajudou quando eu mais precisei, então é claro que a considero mais do que uma amiga. E para onde
vamos? — Perguntei, animada. Nunca saí a noite com amigas, sorri enquanto Camila puxava a minha
mão e me levava até o pequeno sofá.
— Beber, dançar, nos divertir. Eu não sei o que é isso há mais de ano. Será que ainda sei
dançar? — Comecei a rir da cara dela.
— E a Anne? O Vinícius não vai achar ruim de ela sair e deixar o bebê com ele? — Camila
balançou a cabeça, negando.
— Vinícius deu todo o apoio para ela, disse que ela estava merecendo se divertir. Vinícius é o
segundo homem mais compreensivo que eu já conheci, porque o primeiro é meu marido. — Ela
disse, se levantando.
— Vou para casa, às oito saímos. — Avisou, antes de sair pela porta. Fiquei sentada, me
sentindo feliz. Camila era minha amiga e eu sairia a noite pela primeira vez na vida.
Fui até meu quarto e abri o pequeno armário onde guardava as poucas roupas que eu tinha;
algumas estavam novas e eu nem tinha usado ainda. Escolhi um vestido que eu tinha comprado para
minha formatura do ensino médio, usei apenas uma vez e com certeza ainda serviria em mim; era umvestido azul de malha com alcinhas finas, a cintura era de elástico. Como estava um pouco amassado,
resolvi passar, deixei no cabide e fui até a sapateira e peguei a caixa com o primeiro sapato de salto
que ganhei, foi a minha mãe que deu. Tirei o pequeno sapato da caixa e logo um monte de
recordações encheu meu peito. Na ocasião, ela me disse que era o mínimo que poderia me dar
naquele momento, e foi o melhor presente. Enxuguei algumas lágrimas e deixei o sapato no canto.
Valentim entrou com a mochila nas mãos.
— Já terminei minha tarefa, agora estou com fome, mana. — Disse, colocando a mochila emcima de sua cama. Ele olhou para meu sapato no chão, então comecei a explicar para ele.
— A mana vai sair com a tia Camila e a tia Anne, você vai ficar com o tio Átila. Tudo bem? —Fiquei apreensiva esperando por sua resposta.
— A Maria Flor já tinha me dito. Ela contou que hoje vai ter cinema e pipoca na casa dela, e
que eu vou dormir lá. — Me abaixei e o abracei beijando suas bochechas. Ele logo reclamou que eu
estava o apertando.
— Eu te amo. — Falei olhando para ele. Ele sorriu, me abraçando.
— Também te amo. — Disse de volta com sua vozinha de criança.
Depois que dei almoço para o Valentim, ele foi brincar no quintal com sua bicicleta. Quando
deu por volta das sete, ele foi tomar banho e vestir seu pijama; me deu um beijo na bochecha e foi
direto para a casa da Camila. Eu fui tomar um banho e me arrumar. Ainda tinha que fazer meu cabelo,
tinha lavado pela manhã.
Saí do banho, vesti uma lingerie, sutiã e calcinha combinando, passei hidratante no meu corpo
e coloquei meu vestido. Me olhei no espelho e me achei bonita. Soltei meus cabelos e eles caíram até
minhas costas. Em seguida, prendi uma pequena mecha, passei uma maquiagem bem leve, meus olhos
se encheram de lágrimas, mas não as deixei cair, eu estava linda e era a primeira vez que me sentia
feliz. Coloquei meus sapatos, peguei meu celular e o coloquei dentro da minha bolsa, borrifei umpouco de perfume e saí, me sentindo realizada. Ao sair pela porta, desci a pequena escada. A noite
estava tão linda e a Lua estava cheia… fiquei olhando para o céu e quase caí, porém, mãos fortes me
seguraram pela cintura, não me virei para saber quem era, o cheiro do seu perfume era único.
Nicolas.
Eu tive a impressão de que ele cheirou meus cabelos, saí do seu aperto e me virei sentindo a
costumeira sensação de borboletas voando no meu estômago. Seus olhos me avaliaram e vi que ele
gostou, pois sorriu. Nessa hora, Anne saiu da sua casa e ficou nos observando. Ela estava linda
usando um vestido.
— Uau! Você é a Sarah mesmo? — Disse, brincando.
— Você está muito linda, Sarah. — Nicolas disse, me admirando. Meu coração começou a
acelerar e minhas mãos suavam.
— Obrigada. — Falei, deixando um pequeno sorriso surgir em meus lábios.
— Espero que vocês se divirtam essa noite. — Nicolas disse antes de nos deixar sozinhas.
Eu me virei para ir até Anne, ela me olhava com admiração nos olhos. Também se aproximou
de mim.
— Ele te olha com paixão — disse.
— Eu não sei o que dizer quando ele fala comigo, a minha voz não sai. Me sinto tímida na
frente dele. Queria ser assim… toda pra frente que nem você.
— Relaxa! Uma hora você consegue. Mas quero que saiba que Nicolas é um príncipe, ele
jamais iria te elogiar se não fosse verdade, e jamais faria nada que você não quisesse. Dos três
irmãos, ele é o mais romântico. Não estou dizendo que os outros dois não são, Vinícius mesmo não é
muito, mas ele tem o seu valor. — Ela disse me fazendo sorrir.
— Meu marido tá mais para safado, do que romântico, mas safado só comigo. — Disse,
pegando no meu braço para se apoiar, o seu salto era enorme, ela era baixinha, mas com salto estava
bem alta.
— Como soube que ele era o amor da sua vida? — Perguntei a Anne, já na porta da casa da
Camila.
— Desde que bati os olhos nele no hospital, mas ele foi muito difícil. Outra hora te conto a
minha história. Tomara que meus seios não vazem, ainda estou amamentando Davi. — Disse, olhando
para os seios.
Entramos no carro da Camila e partimos rumo ao bar. Maria Flor e Valentim acenaram se
despedindo de nós três. Fiquei pensando se ele sentiria a minha falta. Mas relaxei, pois sabia que ele
seria muito bem cuidado. Anne aumentou a música que tocava no som do carro, e cantava junto. Ela
era muito engraçada.
Camila estacionou o carro no estacionamento do bar, e descemos logo em seguida. Já dava
para ouvir o som de música ao vivo tocando; imaginei que fosse ali que Nicolas pretendia me trazer
naquele dia, caso eu houvesse aceitado seu convite.
Entramos no local, que já estava lotado, e logo um rapaz nos levou até uma mesa, nos sentamos
e as meninas perguntaram o que iríamos beber. Eu nunca tinha bebido nada alcoólico, então Anne
pediu um drinque para ela, me disse que não tinha nada de álcool, pois ela estava amamentando
ainda, mas se eu quisesse, ela poderia pedir um drinque com álcool. Camila pediu um coquetel e
pedi o mesmo que ela. Começamos a beber e coloquei no meu pensamento que aquele era ummomento para me divertir, que naquela noite esqueceria tudo. Com nossas bebidas na mesa dei umgole no meu brinque, era docinho; na borda da taça tinha um morango. Anne quase gritou quando
começou a tocar forró, eu achei engraçado. Um senhor que ela devia conhecer muito bem a chamou
para dançar, ela foi. Ficamos observando a danada dançar.
— Se eu fizer esse movimento, a minha coluna quebra. — Camila disse tomando o restante do
drinque da sua taça.
— Aquele rapaz está vindo na nossa direção, acho que ele quer te convidar para dançar. —Olhei na direção em que o rapaz estava vindo, e fiquei pedindo, em silêncio, que ele não me
chamasse, pois eu não iria. Não queria ser mal-educada. Nem sabia dançar.
— Está tudo bem, Sarah? — Camila perguntou tocando meu braço. Sorri, disfarçando. Mas ela
percebeu meu nervosismo.
— Está sim, só estava pensando. Eu não sei dançar. Ainda bem que o rapaz desistiu. — Bebi
meu drinque.
— Vou pedir umas iscas para gente comer, me deu fome. — Anne voltou para a mesa e se
sentou pedindo mais bebida.
— Nossa! Me cansei muito rápido, preciso voltar a malhar. Você não quer ir dançar, Sarah?
— Não, eu não sei dançar e não quero pagar mico. — Anne me olhou e compreendeu o que eu
queria dizer.
Nossas iscas chegaram, começamos a comer e beber. Depois fomos ao banheiro. Quando
saímos um rapaz esbarrou em mim e sorriu quando me virei. Ele passou a língua nos lábios… achei
aquilo nojento.
— Sai fora Roger, ela já tem pretendente. — Anne disse para o rapaz, que saiu andando semgraça.
— Desculpa dizer que você já tinha pretendente, mas esse cara ali gosta de pegar as mulheres
e falar mal delas depois. E tenho certeza de que você e o Nicolas estão se paquerando. — Sorri da
maneira como ela falou… eu e Nicolas nos paquerando.
— Você já namorou alguma vez? — Anne perguntou quando nos sentamos à mesa novamente.
— Uma única vez quando tinha quinze anos, mas ele teve que se mudar para outra cidade e não
nos vimos mais. — Respondi, pegando uma batata frita e colocando na boca. Percebi que Anne ficou
de boca aberta. Eu me sentia à vontade para conversar com elas.
— E sobre o Nicolas? Você gosta dele? — Olhei para ela sentindo minhas bochechas
esquentar.
Fiquei um pouco pensativa, mas tinha plena de certeza de que gostava dele, na verdade, eu
mais que gostava. Porém não queria admitir.
— Vocês sabem que sim, ele é muito educado, e muito bonito também. Ele falou alguma coisa
de mim? — Perguntei, curiosa. Elas sorriram e Camila começou a falar.
— Ele gosta de você também. Mas é só isso que posso dizer. Agora está na hora de voltarmos
para casa, porque é uma hora da madrugada e estou com sono. Não sirvo mais para amanhecer emfestas, estou ficando velha.
— Estou com saudades dos meus meninos. — Anne disse, se levantando.
Mas meu único pensamento foi sobre o fato de Nicolas gostar de mim também. Sorri, me
levantando e imaginando como seria ser beijada por ele.
Capítulo 5
Nicolas
Estava de férias da escola e por isso aceitei trabalhar durante o dia na academia. Era sextafeira e, eu estava saindo do trabalho quando um dos meus colegas me enviou uma mensagem me
convidando para tomar um chope com eles. Ângelo estava noivo e iria se casar dentro de duas
semanas; sua noiva trabalhava na escola dando aulas de histórias para o quinto ano. Meu amigo
estava muito feliz, pois ele e Sandra namoravam desde a adolescência. Estacionei a minha moto
assim que parei em frente ao bar do Manuel. Ângelo, a noiva e mais dois colegas estavam me
esperando. Assim que cheguei à mesa me sentei depois de cumprimentar a todos.
— Pensei que não viria mais. Quando André disse que tinha te enviado uma mensagem e você
tinha respondido que em meia hora chegaria, pensei que fosse uma desculpa esfarrapada sua, pois
ultimamente você tem ficado enclausurado na sua casa. Porém você está aqui. É um milagre. —Ângelo disse, se levantando e me cumprimentando.
— Como vai, meu amigo? Tudo bem? — Falou depois de me abraçar.
— Nas outras vezes, eu estava muito ocupado, e vocês são muito dramáticos. Quando vai ser a
despedida de solteiro, Ângelo? — Perguntei mais para pirraçá-lo, pois ele não faria despedida de
solteiro. Resolvemos nos juntar naquela noite para pôr as ideias do casamento em prática, eu seria
um dos padrinhos de casamento dele.
Pedimos uma rodada de chope com iscas; Ângelo estava nos contando que a viagem dele coma noiva para França estava tudo certo, era o sonho dos dois conhecerem o lugar. Eu já tinha estado lá
uma vez, fui em uma viagem com colegas para conhecer e gostei muito. Pensei que se um dia me
casasse passaria minha lua de mel em Veneza por ser uma cidade romântica; pensei logo em Sarah,
tinha certeza de que ela ainda não havia conhecido nada do mundo, me parecia ser uma “menina
mulher” que vivia apenas para cuidar do irmão. Se ela me aceitasse, eu mostraria o mundo para ela,
só para vê-la sorrir.
— Ei, está pensando em quem? — Senti um toque no meu braço. André me chamava, os outros
começaram a rir.
— Estava pensando em viajar final do ano. — Comentei, olhando para todos.
— Já fazem mais de ano que eu não tiro férias, e estou precisando. — Completei, tomando o
resto da cerveja do meu copo.
— Me pareceu outra coisa, seu rosto ficou vermelho. Aposto que estava pensando em mulher.
— Sorri, balançando minha cabeça.
Ficamos conversando por mais algumas horas e resolvi ir para casa quando o bar já estava
praticamente fechado. Me despedi de todos e saí ligando minha moto, chegando logo em casa. Após
abrir o portão da garagem, entrei e estacionei minha moto. O tempo estava nublado avisando que
logo cairia uma chuva. Depois de um banho, me deitei e rapidamente peguei no sono.
***
Abri meus olhos e logo ouvi várias vozes falando ao mesmo tempo do lado de fora de casa; de
repente, uma batida na porta me fez levantar da cama. Olhei no relógio e percebi que ia dar oito
horas da manhã. Me levantei e vesti uma camiseta. Abri a porta e vi que era Maria Flor vestida comroupas de banho.
— Tio Nico, nós vamos para o riacho. O papai mandou eu vir perguntar se o senhor quer ir
com a gente, todos vão, inclusive Valentim e a tia Sarah. Vamos, tio Nico. Vai ser divertido. — Olhei
para a área de serviço e vi Átila colocando alimentos dentro da caixa térmica. Não seria uma má
ideia ir para o riacho com eles, fazia tempo que eu não ia.
— Vou só tomar um banho, não vão sem mim. — Maria Flor saiu correndo dizendo a todos que
eu iria.
Voltei para dentro, tomei um banho, vesti uma camiseta e uma bermuda de banho, penteei meus
cabelos, peguei meus óculos de sol e saí, trancando a porta. Todos estavam me esperando; quando
avistei Sarah segurando Julia em seu colo, me aproximei dela, logo minha sobrinha esticou os
bracinhos para que eu a pegasse no colo, e foi a oportunidade perfeita para chegar mais próximo da
Sarah e sentir seu cheiro doce; olhei dentro de seus olhos e sorri para ela. Seus lábios repuxarampara o lado e ela sorriu timidamente; seus cabelos estavam soltos e ela usava um vestido leve e vi a
alça do seu biquíni aparecendo.
— Maria Flor, Valentin e Julia vão conosco no meu carro. Nicolas e Sarah vão no carro do
Vinícius. — Átila falou colocando as caixas dentro do porta-malas.
Anne entrou depois de colocar o Davi na cadeirinha. Abri a porta para Sarah entrar e, emseguida, foi minha vez. Me sentei ao seu lado. Senti que ela ficou um pouco tensa, mas logo relaxou
quando o carro começou a seguir o do Átila. Como estávamos no banco de trás, tentei puxar assunto
com ela.
— Sabe nadar, Sarah? — Perguntei, olhando para ela. Ao responder, ela não olhou para mim,
mas respondeu.
— Sei sim. Onde eu morava íamos sempre ao riacho, depois que minha mãe se casou de novo,
nós paramos de frequentar. — Notei uma certa tristeza em sua voz ao mencionar a mãe, e vi quando
ela olhou para o lado, para as árvores que ficavam para trás conforme o carro ia andando.
Descemos do carro e fui ajudar a carregar as caixas com comidas e bebidas. Andamos por uma
estrada estreita e logo chegamos ao riacho; o bom era que naquela hora que não dava muita gente.
Escolhemos um lugar onde tinha bastante sombra por causa das crianças. Camila abriu uma pequena
cadeira e colocou Julia sentada. Valentim e Maria Flor correram para a beira do riacho para fazer
castelo de areia. Eles trouxeram baldes e pazinhas para brincar. Vinícius terminou de amarrar a rede
e Anne colocou Davi, que estava dormindo. Me perdi na visão da garota que a cada dia fazia meu
coração acelerar somente com sua presença na casa ao lado; ela não tinha ficado só de biquíni, mas
usava um short curto e estava com a parte de cima da peça. Era linda e eu não conseguia parar de
olhá-la. Ela percebeu que eu estava olhando, mesmo assim, eu não tirei os olhos; seu jeito tímido
mexia muito comigo… queria tanto conhecê-la mais profundamente.
Sarah entrou na água e eu fui para dentro também, me aproximando dela. Logo Maria Flor e
Valentim estavam perto de nós, o riacho não era tão fundo.
— Tio Nico, me coloca em seu ombro e depois me joga como o senhor fez naquela vez na
piscina?
— Eu também quero, tio Nicolas. Mas tenho medo. — Valentim falou. Depois que joguei
Maria Flor pedi para ele montar em minhas costas, porque iria nadar com ele.
— Olha, mana, eu estou nadando. — Sarah olhou para ele e sorriu. Vi orgulho dentro dos seus
olhos do pequeno irmão. Depois de brincarmos muito dentro da água fomos comer alguma coisa.
Me sentei perto da Sarah e comecei a comer meu sanduíche, tomei um pouco do suco. Olhei
para ela e levei minha mão até seu rosto, tirei um pedaço de alface que grudou em sua pele.
Aproveitei que ela não afastou o rosto e fiz um pouco de carinho, vi suas bochechas ganharem umtom de vermelho, ela já estava corada pelo Sol e a cor verde dos seus olhos ganhou um destaque a
mais. Quando ela ficava muito tímida, eu sentia vontade de beijar suas bochechas e dizer quão linda
ela ficava. Peguei a garrafa de suco e estendi em sua direção, ela pegou e tomou um gole. Nemparecia que estávamos rodeados de muitas pessoas, pois eu tinha a sensação de que estávamos
apenas nós dois.
Capítulo 6
Sarah
As aulas na escola já tinham retornado e agora ficávamos só eu e Julia; a casa ficava tão
silenciosa que chegava a ser estranho. Antes, eu via Nicolas com mais frequência, mas nos últimos
dias, eu mal o via. Às vezes, eu ficava acordada esperando-o chegar somente para olhar pela fresta
da janela e saber que chegou bem. Semana passada tive uma conversa com Anne sobre meus
sentimentos, ela me aconselhou dizendo que se no caso Nicolas me chamasse para sair, era para eu
aceitar, pois só assim teria a certeza dos meus sentimentos por ele. Valentim e Maria Flor iam para a
escola pela manhã e quando chegavam começa a bagunça, mas logo ficava silêncio novamente, pois
Maria ia para aula de inglês.
Depois de pôr Julia para dormir, me sentei no sofá e peguei o livro que estava lendo, e voltei a
leitura de onde tinha parado; a história era de um casal de jovens em que a família da mocinha não
permitia o romance deles, porque o rapaz era de família humilde, mas eles não estavam dispostos a
se separar. Ouvi o barulho da moto entrando na garagem e meu coração quase saltou pela boca, era
ele. Será que tinha acontecido alguma coisa com ele para estar a essa hora em casa? Fiquei tentada a
sair pela porta e perguntar se estava tudo bem com ele, mas fiquei onde eu estava. Eu era uma
medrosa mesmo. Ouvi passos pelo corredor, então me levantei. Exatamente quando abri a porta, ele
passou com a mochila nas costas. Nossos olhares se encontraram e, por um breve segundo
mergulharam um no outro; os olhos de Nicolas não desviaram dos meus um segundo sequer. Ele
parou chegando bem perto de mim.
— Está tudo bem? Você chegou cedo. — Perguntei, sem tirar os olhos dele.
— Hoje, eu não tenho aulas para dar, fui apenas para resolver um assunto externo na escola. O
que está lendo? — Perguntou, olhando para o livro em minha mão.
— Um romance. — Respondi, erguendo o livro para que ele visse a capa.
— Amor impossível. — Ele leu o título em voz alta.
— Acha que todos os amores são impossíveis? — Perguntou, se aproximando um pouco mais
da porta. Senti o cheiro do seu perfume. Nicolas parou a centímetros de mim esperando-me
responder.
— Na verdade, eu não sei responder. Me diz você. — Seus lábios abriram um pequeno
sorriso.
— Quando amamos alguém nada é impossível. — Ele segurou minha mão, a mesma que eu
estava segurando o livro. Assim que pegou o livro, ele abriu onde eu estava lendo e viu as pétalas da
rosa que ele tinha me dado uns dias atrás.
— Você guardou a rosa que eu te dei. — Não foi uma pergunta, mas uma afirmação.
— Eu nunca tinha ganhado uma flor antes. Então quis guardar mesmo ela estando murcha —expliquei.
Senti quando seus lábios beijaram meus dedos, em seguida, ele ergueu o olhar entrando dentro
de casa; eu fui afastando para trás até que não houvesse mais espaço. Senti quando minhas costas
bateram na parede. Devagar, Nicolas aproximou os lábios dos meus; como ele viu que eu não iria me
afastar, me beijou, seus lábios puxaram os meus e começamos a nos beijar. Era um beijo romântico.
Eu não sabia como agir nessa hora, então deixei com que ele me guiasse. Sua língua invadiu a minha
boca, devagar, procurando pela minha. Ele sugou me despertando arrepios por todas as partes do
meu corpo, senti quando os bicos dos meus seios ficaram rígidos. Suas mãos agarravam minha
cintura como se nunca mais fosse soltá-la. Nicolas pegou minhas mãos levando até seu pescoço, sua
boca me beijava como se eu fosse o ar para ele respirar; o beijo era lento e, ao mesmo tempo
urgente. De repente, ele me suspendeu me fazendo sentar em cima da mesa de estudos, ficou entre
minhas pernas e senti que ele estava ficando excitado. Parei o beijo. Seus olhos me avaliaram.
— O que foi? Não gostou do meu beijo? — Ele perguntou, cheirando meu pescoço. Estremeci
quando sua língua sugou minha pele.
— Eu nunca fui beijada dessa forma com tanto desejo. — Afirmei, e Nicolas olhou dentro dos
meus olhos. Na hora vi seus olhos brilhando.
— Posso te beijar novamente para você ter certeza de que o beijo foi real?
Ele não esperou eu dizer nada e atacou minha boca novamente, mas dessa vez o beijo foi mais
delicioso do que minutos antes. Da mesma forma de antes, sua língua habilidosa sugava a minha; seus
lábios eram doces e macios. Uma de suas mãos passeava pelas minhas costas enquanto a outra estava
na minha perna, mas ele não fez nenhum movimento. Só paramos o beijo, porque ouvimos um som na
babá eletrônica. Julia tinha acordado. Depressa, desci de cima da mesa.
— Preciso ir vê-la. — Falei, saindo de perto de Nicolas.
— O que acha de sairmos sábado à noite para conversar, nos conhecer melhor e aproveitar à
noite? — Sua mão tirou uma mecha de cabelo que caiu sobre meu rosto. Sorri, pois queria muito que
ele me convidasse novamente.
— Tudo bem, eu aceito. Mas agora preciso ir ao quarto da Julia para buscá-la, ou ela pode
descer sozinha do berço. — Na hora que ia saindo de perto dele, ele me agarrou novamente e me
beijou mais uma vez fazendo todo meu corpo reacender novamente.
Assim que ele saiu pela porta fui até o quarto da Julia, ela estava em pé no berço. Quando me
viu, sorriu balançando os bracinhos. Peguei ela do berço, troquei sua fralda e levei ela para a sala;
iria esquentar a sopa de legumes para ela. Em menos de meia hora os dois bagunceiros desceram da
van escolar e entraram em casa. Maria Flor foi para o banho e, enquanto ela tomava banho, Valentimficou esperando a vez dele. Depois todos nós fomos almoçar.
— A senhora está sorrindo para quem, tia Sarah? — A curiosa perguntou.
— Para ninguém. Só estava lembrando do filme que assisti pela manhã, era muito engraçado.
— Menti, pois estava me lembrando do beijo de Nicolas, dos seus lábios macios nos meus. Suspirei
me sentando à mesa com eles. Não via a hora de sábado chegar para ficar perto dele novamente, e
sentir o gosto do seu beijo de novo.
Capítulo 7
Nicolas
Era a terceira vez que me olhava no espelho para ver se a roupa que escolhi para sair estava
combinando. Eu não era vaidoso, entretanto gostava de me vestir bem. Coloquei uma calça jeans
desbotada e uma camisa social branca; enrolei as mangas até o cotovelo, penteei meus cabelos,
passei um pouco do meu perfume, peguei a chave da moto, meu celular e saí fechando a porta. Bati na
porta de Sarah e ela apareceu me dando a visão mais linda da noite. Ela estava usando uma calça
jeans com alguns rasgos no joelho, um par de tênis e uma blusa de alças finas que combinava
perfeitamente com seu jeito de menina. Em torno do seu pescoço havia uma gargantilha com umpingente em formato de coração.
— Pronta? — Seu sorriso aumentou de tamanho assim que me viu. Seu irmão logo apareceu
com um carinha de bravo.
— O que aconteceu, garotão? — Perguntei, alisando seu cabelo.
— Eu também quero ir, mas a mana disse que hoje, eu não posso. E Maria Flor disse que eu
não posso ir, porque vou atrapalhar o beijo de vocês. Você vai beijar minha irmã, tio Nicolas? —Tinha que ser coisa da Maria Flor.
— Outro dia levo você para andar de moto comigo, tudo bem? — Ele sorriu, e percebi que
estava banguela, tinha arrancado um dente.
— Vai mesmo me levar para andar de moto? — Balancei a cabeça, afirmando.
— Mas você tem que se comportar muito bem hoje. — Ele uniu as duas mãos dizendo que
prometia. Então desceu as escadas e foi em direção à casa da Camila dizendo que ia contar para
Maria Flor que no dia seguinte eu iria levá-lo para andar na minha moto.
— Não quero te assustar nem nada, mas saiba que amanhã bem cedo, ele vai bater na tua porta.
— Sarah disse pegando o capacete e colocando em sua cabeça. Já estávamos na garagem.
Me sentei na moto e logo ela se sentou também segurando com força em minha cintura, percebi
que ela estava com medo, então fiz com que seu aperto fosse mais forte. Saí na rua e, em poucos
minutos estacionei em frente ao restaurante da dona Conceição. Não queria ir para o bar do Manuel,
pois queria um lugar mais tranquilo onde pudéssemos conversar à vontade. Assim que desci, ajudei
Sarah. De mãos dadas, nós entramos no lugar, escolhi uma mesa de canto. O rapaz trouxe o cardápio,
pedi dois chopes enquanto escolhia o que iríamos comer.
— Depois que nos beijamos ontem, eu não consegui dormir, estou gostando muito de você e
quero te conhecer melhor. Não sou de estar ficando com ninguém, sempre gostei de namorar, assumir
meus compromissos. Desde que te vi pela primeira vez, eu me interessei por você, não sei se
percebeu. — Assim que terminei de falar, nossas bebidas chegaram.
— Eu também fiquei pensando em nosso beijo. Você é um homem maravilhoso, e quando te
conheci também senti algo muito forte. Mas minha vida é muito complicada, há situações que
ninguém sabe, e não quero te trazer problemas. Você e sua família são muito importantes para mim, e
não quero envolvê-los em nada. Camila e Anne me deram todo o apoio para estar aqui com você
hoje, mas não sei se o mereço. — Fiquei observando suas feições enquanto ela falava.
— Todo mundo tem a vida complicada, Sarah. Podemos resolver os problemas juntos, só não
se afaste de mim. Durante quase sete meses, eu venho nutrindo esse sentimento por você, e agora que
demos o primeiro passo não vamos recuar. Promete para mim que vai me dar a oportunidade de
provar que não vou soltar da sua mão no primeiro obstáculo? — Falei, alisando sua mão. Ela bebeu
um pouco da bebida e sorriu lindamente, seus olhos brilharam.
— Prometo. Você promete que não vai se afastar de mim quando as coisas ficarem difíceis?
— Prometo. — Disse, olhando dentro dos seus olhos para que ela visse que eu estava falando
a verdade.
Dei a volta na mesa e me sentei ao seu lado, não queria estar longe dela nem mais um segundo.
Comecei a beijar seu rosto e vi que os pelos do seu braço ficaram arrepiados. Ela era tão cheirosa,
eu estava me sentindo um adolescente apaixonado pela primeira vez.
— Vamos escolher o que vamos comer? Depois quero te levar para passear.
Escolhemos frango grelhado com saladas. Sarah pediu suco de laranja, percebi que ela não
gostava de cerveja. Depois que terminamos de comer saímos em direção à pracinha, a pé mesmo.
Deixei a moto no estacionamento, o restaurante era praticamente do lado. Nós nos sentamos em umdos bancos da praça, o lugar estava um pouco escuro, mas dava para notar que tinha vários casais
namorando. Me aproximei um pouco mais da Sarah e tirei um pouco de cabelo do seu rosto, ela
levantou a cabeça olhando em meus olhos e umedeceu os lábios com a língua; olhei diretamente para
sua boca e, devagar, fui me aproximando. Passei uma das pernas para o outro lado do banco e a puxei
mais para perto de mim. Dessa forma facilitou o nosso beijo. Devagar, coloquei meus lábios dos seus
aproveitando o sabor doce que vinha deles, ela entreabriu e coloquei minha língua dentro. Sarah
girou a cabeça colocando as suas mãos em volta do meu pescoço. Eu a queria tanto… queria provar a
ela que a amava desde a primeira vez que a vi, mas algo dentro de mim pedia para ir devagar, ou a
assustaria. Mesmo a contragosto, parei o beijo com um selinho em seus lábios, depois em seu rosto e,
em seguida, desci minha boca até seu pescoço. Desde que a conheci, e soube que ela era a mulher
perfeita para mim, não saí mais em busca de sexo. Antes, eu sempre ficava com algumas mulheres
para me satisfazer, mas depois de Sarah não quis mais mulher nenhuma.
— Você não tem noção do quanto eu te quero, do quanto imaginei estar assim com você, umdia. — Sarah ficou de costas e apoiou a cabeça em meu peito. Fiquei inalando o cheiro da sua pele,
distribuindo leves beijos.
— Você fala tão bonito. Eu me sinto especial quando estou com você. Me sinto única, nem sei
o que dizer para você. Mas gosto muito de você, adoro quando você fala que sempre quis estar
comigo, pois eu sinto a mesma coisa.
Sarah se virou novamente e olhou dentro dos meus olhos; colou os lábios nos meus e me
beijou. Gostei muito da sua iniciativa. Fiz com que ela se sentasse em meu colo, então ficamos nos
beijando até o ar faltar, e quando recuperávamos o fôlego, nós nos beijávamos novamente.
Capítulo 8
Sarah
Acenei para Valentim enquanto Nicolas o levava para andar de moto na rua, sim, meu
irmãozinho não sossegou enquanto Nicolas não cumprisse com o combinado. Fiquei esperando eles
voltarem, pois só iam até a esquina e voltavam. Maria Flor estava andando de patins quando se
sentou ao meu lado.
— O tio Nico é seu amor também? — Me virei para olhar para ela. De onde essa garota tirou
isso?
— Por que você está me perguntando isso, pequena? — Ela me olhou para responder.
— Porque a tia Anne é o amor do tio Vini, e a mamãe é o amor do papai. E eu vi quando você
e tio Nico se beijaram ontem. Então ele é o seu amor. — Ela me deixou sem palavras.
— Você é muito esperta, Maria. Mas esse é um assunto para uma pessoa adulta. — Falei,
avistando Nicolas e Valentim chegando.
— Eu já vou fazer nove anos, então não sou mais uma criancinha, sei de muitas coisas. Mas o
papai briga quando eu conto algo que ouvi das meninas mais velhas na escola. Ele diz que esse
assunto não é para eu estar escutando. Quero crescer logo, ser criança é muito chato, porque não se
pode nada. — Olha, o Tim e o tio Nicolas estão vindo. Tia Sarah, você pode deixá-lo dormir aqui emcasa hoje? É que vamos brincar de cabana, meu pai me deu uma lanterna que muda de cor, aí quero
brincar de festa debaixo do lençol.
— Só se a sua mãe deixar. Outras vezes vocês fingiram que estavam dormindo e ficaram até de
madrugada aprontando.
— Eu juro que vamos dormir cedo, prometo de dedinho. Por favor, tia Sarah. — Ela me olhou
com uma carinha de inocente que fez meu coração derreter, em seguida, me abraçou.
— Se a Camila deixar, pode ir lá em casa buscar ele. — Ela me abraçou mais apertado,
agradecendo. Esses dois estavam inseparáveis ultimamente.
— Mana, você me viu andando de moto? Foi tão legal, eu nem tenho medo. — Valentim disse
enquanto Nicolas o descia da moto.
— Você não vai acreditar, Tim. — Maria disse pegando na mão dele e o levando para longe,
mal deu para ouvir o que comichavam.
— O que esses dois estão aprontando? — Nicolas perguntou me abraçando e cheirando meu
pescoço. Me virei para olhar para seu belo rosto. Eu não me cansava de admirar sua beleza.
— Maria Flor quer que ele durma na casa dela, pois ela quer brincar de festa de baixo do
lençol. Disse que ganhou uma lanterna do pai. Mas falei que Valentim só vai se a Camila deixar, eles
estão aprontando demais juntos. — Mal terminei a frase e Nicolas atacou minha boca. Logo ouvimos
risadas e cochichos, eram os dois que estavam nos observando.
— Já está na hora de entrar para tomar banho, Valentim. E você também, mocinha, seu pai já
está quase chegando.
Maria e Valentim entraram correndo. Nicolas me puxou pela cintura sussurrando em meu
ouvido que assim que Valentim fosse dormir na casa da Camila, ele iria lá em casa para pedirmos
pizza e namorar um pouco. Gostei da ideia. Achei melhor entrar e ir tomar banho.
***
Assim que Valentim desceu para ir pra casa da Camila, vinte minutos depois escutei a porta
batendo. Quando abri vi Nicolas parado na porta com uma caixa de pizza e uma garrafa de vinho emsuas mãos. Seus cabelos estavam molhados, sinal de que ele havia acabado de sair do banho. Dei
passagem para ele entrar. Assim que entrou deixou a pizza e o vinho em cima da mesa, e me agarrou
fazendo minhas pernas rodearem sua cintura. Devagar, ele se sentou comigo no sofá, eu estava usando
um vestido e assim facilitou para que eu sentisse sua ereção se formando perto da minha intimidade.
Eu sentia esses desejos quando lia os livros de romances, mas nunca havia estado com um homemantes, e estava gostando muito da sensação.
A língua de Nicolas sugava a minha e dava para ouvir seus gemidos; suas mãos ganharam vida
no meu corpo. Quando tirou a boca da minha foi beijando minha pele chupando, me permiti gemer
quando sua boca parou perto do meu seio e senti quando ele depositou um beijo bem no bico, eu
estava sem sutiã e logo os bicos ficaram duros. Ele parou o beijo, me olhou e afastou a alça do
vestido para o lado, um dos meus seios saiu para fora, ele ficou olhando sussurrando o quanto era
lindo. Quando sua língua rodeou meu mamilo, eu estremeci jogando a cabeça para trás gemendo e
agarrando seus cabelos. Suas mãos apertavam minha cintura para encostar-me à sua ereção. Senti
todo meu corpo pegar fogo quando Nicolas chupou meu seio. Sentia tanta vontade, tanto desejo que
eu queria me libertar daquela sensação prazerosa.
De repente, olhei para o rosto de Nicolas e, depressa, saí do seu colo ajeitando meu vestido,
não queria olhar em seu rosto. Estava me sentindo envergonhada. Eu não iria conseguir fazer nada
enquanto aquela noite onde aquele desgraçado tentou abusar de mim não saísse da minha mente.
Mesmo de longe, ele me atormentava. Fiquei de costas evitando olhar para Nicolas.
— Eu fiz algo que você não gostou? — Sua voz estava carregada de culpa. Me virei para olhar
para ele.
— Não, você não fez nada, aliás, o que você estava fazendo eu estava gostando muito. O
problema é que eu não consigo. Me desculpa.
Nicolas se levantou e me abraçou. Ficamos assim por um breve momento. Ele não me
perguntou nada, então não contei.
— Vamos comer a pizza, ou vai esfriar. Vem!
Nós nos sentamos à mesa e ficamos comendo a pizza. De vez em quando, Nicolas me olhava e
eu disfarçava, sorrindo. Tomei umas duas taças de vinho e fiquei um pouco alegre, dava risada de
tudo. De repente, senti sono, então Nicolas me levou até o quarto e deitou comigo na cama. Me
abraçou e inalei o cheiro do seu perfume até cair no sono.
Capítulo 9
Nicolas
— Me solta! Me solta, seu desgraçado, fedorento. Socorro! Socorro! Sai de cima de mim.
Sarah gritava se batendo na cama. Lágrimas desciam dos seus olhos me deixando assustado,
então comecei a chamá-la para que acordasse. Ela estava tendo um pesadelo com alguém que estava
tentando abusar dela.
— Sarah, acorda! Ei, acorda! Não tem ninguém te segurando. Sou eu, o Nicolas. — Ela deu umgrito e abriu os olhos. Sua respiração estava muito acelerada, parecia que ela tinha corrido uma
maratona. Ficou me olhando sem entender nada, e foi quando sua respiração foi se normalizando.
Senti quando ela relaxou ao me ver. Olhei no relógio e notei que estava perto das quatro horas da
madrugada.
— Me desculpa se te assustei. — Ela se levantou e foi até a cozinha. Pegou um copo, foi até o
bebedouro e encheu de água; ela estava envergonhada, pois nem me olhava nos olhos. Me sentei na
cadeira, passando as mãos no rosto, por Deus, ela tinha que me contar alguma coisa, ou eu iria
perguntar. Eu a vi sofrendo no sonho. Tinha certeza de que isso já tinha acontecido na vida dela.
— Quer conversar? Se quiser, eu estou aqui para te ouvir. Vi o quanto você sofre com isso, não
precisa sofrer sozinha, pois estou aqui com você, e é pra valer. — Peguei na sua mão e fiz carinho
nela, enquanto a arrastava para o sofá. Sarah se sentou primeiro, e me sentei em seguida. Fiquei
esperando que ela falasse alguma coisa.
— Você sabe que minha mãe morreu quando eu tinha dezenove anos, Valentim tinha cinco.
Desde que ela se juntou com o pai dele, não foi mais a mesma pessoa; foi ficando triste, se isolando
de tudo. Eu quem criei meu irmão, porque o porco do marido dela só vivia bêbado. Quando chegava
em casa, ele a fazia chorar todas as noites; eu me trancava no pequeno quarto com meu irmão, pois
ele tinha medo do pai. Até que um dia, ela morreu, depois de um longo período sem comer direito e
chorar muito. Ainda tentei procurar ajuda, mas o médico disse que o estado da depressão dela já
estava muito avançado, e que era difícil reverter. Até que um dia, ela amanheceu morta. Eu não
entendo, ela era uma mulher linda, feliz, e quando meu irmão nasceu, ela foi ficando cada vez mais
triste. — Os olhos de Sarah se encheram de lágrimas e rolavam por suas bochechas. Me aproximei e
comecei a secá-las com as pontas dos dedos. Então, ela continuou a falar.
— Depois que a enterramos fui para casa com meu irmão, o Raul não estava, então me tranquei
com o Valentim no nosso quarto, dormimos. De repente, senti um enorme peso em cima de mim, algo
lambendo meu rosto, me beijando. Senti o cheiro de cachaça e abri meus olhos, o desgraçado estava
rasgando minhas roupas e se esfregando em mim. Eu comecei a gritar, pedir por socorro e os
vizinhos me ouviram e chamaram a polícia. Prestei depoimento, fiz corpo de delito e fui liberada.
Ele foi preso em flagrante por tentativa de estupro. Na delegacia, depois que dei meu depoimento,
chegaram mais duas vítimas dele. Uma era menor de idade. Com essas duas, ele conseguiu abusar
delas. Fui instruída pela conselheira tutelar a pedir a guarda definitiva do meu irmão, pois eu já era
de maior, e foi o que fiz, pedi a guarda do Valentim, pois meu irmão, praticamente, não conhece o
pai. Ele sabe quem é, mas amor mesmo, ele só recebeu de mim. Valentim passou por psicólogos, e
em todas as perguntas feitas para ele, ele sempre dizia que eu era mana dele, e que ele queria ficar
comigo. Afirmava ter medo do pai. Graças a Deus, eles me deram a guarda dele. Depois de tudo
resolvido, decidi sair da cidade de Santo Agostinho com meu irmão, não tínhamos casa, morávamos
de aluguel e as poucas coisas que tinha na casa, eu vendi. Quando cheguei aqui encontrei um anjo que
foi a dona Conceição, ela me abrigou em sua pousada. Depois vim trabalhar para a Camila, conheci
você e fiquei encantada, porque você me transmite paz, uma paz que nunca tive. Quando estou perto
de você, não tenho medo. Sua família acolheu a mim e ao meu irmão como se fôssemos parte da
família de vocês. Mas tenho medo de que aquele desgraçado nos encontre, tenho medo de que ele
leve meu irmão com ele. Você acha que ele pode levar o Valentim com ele? Porque ele é o pai, mas a
guarda é minha. Se ele requerer a guarda e ganhar, vou ter que ir junto, porque não deixaria meu
irmão sozinho com ele. — Ela terminou de falar, chorando muito, dava para ver o medo estampado
em seu rosto. Sarah tinha muito medo de perder o irmão.
— Ei, não fique assim. Me deixa dizer uma coisa. Você tem a guarda, mesmo ele entrando na
justiça as chances dele são mínimas. Eu te prometo, Sarah, ele não vai levar o Valentim. Se acalme.
Vem se deitar. Amanhã é um novo dia e você estará melhor. — Sarah se levantou do sofá e foi até o
seu quarto, deitando-se na cama.
— Vou ficar aqui com você até que pegue no sono. Depois vou para casa. — Ela abriu os
olhos e me olhou de repente.
— Não, quero que fique aqui comigo. Tenho medo de sonhar novamente. Deite-se aqui ao meu
lado. — Dei a volta na cama, e me deitei ao seu lado. Ela se aninhou em meu peito e eu a abracei,
senti quando ela relaxou.
Fiquei fazendo carinho em seus cabelos até que ela pegou no sono. Eu não consegui dormir, só
pensava naquele maldito homem que tentou abusar dela. Graças a Deus que ela tinha vizinhos que se
preocupavam com ela. Fiquei olhando-a dormir, tão inocente e, ao mesmo tempo tão protetora. Só
nas últimas horas, eu já tinha me apaixonado por ela várias vezes novamente.
Capítulo 10
Sarah
Me despertei sentindo a mão do Nicolas segurando minha cintura, me virei devagar e pude
vislumbrar seu belo rosto. Ele dormia sereno, seus lábios entreabertos deixavam escapar sua
respiração leve. Nicolas era o mais bonito dos três irmãos, bem, ao menos era minha opinião. Me
levantei devagar e fui na direção do banheiro para fazer xixi, aproveitei e tomei um banho. Ao me
despir lembrei do nosso pequeno momento no sofá e só esse pensamento me fez ter cócegas entre as
pernas. Sorri pensando que na próxima vez em que nos beijássemos eu o deixaria me despir semmedo.
Me enrolei na toalha e fui até o guarda-roupa para pegar roupas limpas, Nicolas ainda dormia,
voltei ao banheiro e me troquei. Ao retornar para o quarto vi que ele já estava sentado na beirada da
cama passando as mãos pelos cabelos bagunçados.
— Bom dia. — Saudei, terminando de fazer um coque no cabelo.
— Bom dia. Nunca acordei tão tarde como hoje. Já são quase nove horas da manhã. — Ele
disse olhando em seu relógio de pulso.
Se levantou, pegou o celular da mesinha verificando as mensagens. Fiquei admirando-o por
alguns minutos. Ele viu que eu estava olhando para ele e sorriu, se aproximando de mim. Me abraçou
cheirando meus cabelos; ficamos assim por alguns minutos até que ouvimos batidas na porta. Devia
ser o Valentim. Me desvencilhei do aperto do Nicolas e fui abrir a porta. Assim que abri, Valentimentrou.
— Bom dia, mana. Eu já tomei café, só vim perguntar se posso tomar banho na piscina da
Maria Flor, o tio Átila vai encher daqui a pouco. — Disse e notou que o Nicolas estava em casa.
— Oi, garotão. — Nicolas disse, bagunçando os cabelos dele.
— Podemos andar de moto hoje de novo? — Nicolas sorriu.
— Hoje não vai dar, mas prometo que outro dia a gente brinca. Tá bom? — Valentim balançou
a cabeça e foi para o banheiro tomar banho. Ele ainda estava de pijama.
— Quer tomar café? Vou preparar para nós dois. — Nicolas segurou meu braço e olhei para
ele.
— Adoraria tomar café com você, mas preciso ir pra casa. Podemos nos ver mais tarde.
Será que eu tinha feito algo que ele não tinha gostado?
Nicolas me abraçou, beijou meus lábios e saiu pela porta. Fiquei olhando-o entrar em sua casa
e fui ver o que meu irmão estava aprontando. Quando cheguei no quarto dele, o vi procurando a
roupa de banho, fez a maior bagunça. O ajudei a procurar, ele vestiu e foi para a casa da Camila. O
almoço seria lá na casa dela. Enviei uma mensagem perguntando se ela iria precisar de ajuda, ela
respondeu que sim. Então fui para sua casa, passei pela piscina da Maria, que estava enchendo e
entrei na casa. Julia estava sentada na sua cadeirinha tomando café, quando me viu começou a me
chamar. Ela ainda não falava direito, mas eu sabia que estava me chamando. Depois de dar atenção a
ela, fui para a cozinha.
— Hoje, nós vamos de churrasco, é o aniversário do Nicolas, então vamos fazer uma surpresa
para ele, o bolo acabou de chegar e está na geladeira. Por falar nele, eu o vi saindo da sua casa. Pode
ir logo me contando tudo. — Ela disse, limpando a mão no guardanapo. Se virou para mim esperando
que eu começasse a contar tudo para ela.
— Não aconteceu nada, além de uns amassos bem gostoso. Na verdade, eu não quis ir mais
fundo, mas me arrependi. Para ser honesta, eu me abri com ele, contei toda minha história para ele.
Só não tive coragem de contar que eu ainda sou virgem. — Olhei para Camila, que me olhou comadmiração. — Tenho vergonha, sei lá. Têm homens que não gostam de namorar com moças virgens
— falei.
— Não fala assim. Como você sabe que ele não vai gostar se não contou para ele? — Na hora
que iria falar alguma coisa, Vinicius e Anne entraram na cozinha sentindo o clima estranho.
— Bom dia, cunhadas. — Vinícius falou deixando uma sacola em cima da mesa. Depois de
respondermos, ele saiu nos deixando sozinhas.
— Alguém morreu? — Anne perguntou mordendo a maçã logo em seguida.
Fechei a porta da cozinha e comecei a relatar toda minha história para elas, cada detalhe, a
mesma coisa que contei para o Nicolas. Depois que finalizei, olhei para elas, que estavam enxugando
as lágrimas dos seus rostos. As duas vieram em minha direção e me abraçaram, eu me senti tão
acolhida por elas.
— Se eu encontrar esse filho da puta na minha frente, eu corto o pau dele. — Anne disse comraiva, mas não deixou de ser engraçado a forma como ela falou. Era baixinha, mas era muito brava.
— Não se preocupe, Sarah, a guarda do Valentim é sua. Ele pode até tentar entrar com o
pedido, mas não vai ganhar. Se ele se meter a besta com você, eu só lamento para ele, porque nós
vamos com tudo pra cima dele. Homens do tipo dele, não podem nem estarem soltos convivendo emsociedade. — Camila disse me confortando.
— Agora, amiga, eu acho tão romântico uma mulher na sua idade ainda ser virgem. Eu perdi a
minha com dezesseis anos, e não me arrependo. Não posso dizer: “Sarah vai lá e dê para o Nicolas”,
porque a decisão é sua. E saiba que ele não vai deixar de te querer por isso. Confie em você e tire
todo pensamento desse homem asqueroso, não o deixe, mesmo de longe, te fazer mal. Promete que
não vai mais pensar nesse homem? — Anne disse de forma carinhosa.
— Prometo. Quantos anos o Nicolas está fazendo?
— Trinta e três. — Camila falou, mostrando as velas com os números da idade ele.
Depois de preparar tudo, encher balão e decorar a mesa, Anne enviou mensagem para Vinícius
trazer Nicolas para fora. Quando ele viu toda a arrumação ficou um pouco envergonhado, mas logo
abriu o sorriso mais bonito que ele tinha. Começamos a cantar os parabéns para ele. As duas
enxeridas começaram a cantar: “com quem será que o Nicolas vai se casar” e, no final gritaram meu
nome. Depois de todos darem os parabéns a ele foi a minha vez, deixei a vergonha de lado e o beijei
na frente de todo mundo. Ouvimos gritos e aplausos.
— Se eu soubesse que hoje era o seu aniversário poderia ter comprado um presente para você.
Mas você não me disse. — Ainda estávamos no quintal comendo carne e bebendo cerveja. Eu não
bebi mais que uma latinha, na verdade, não gostava da bebida.
— Eu não ligo para presentes. Mas se você quiser me dar algo que eu vá gostar muito, me dê
um beijo. — Nicolas disse se aproximando de mim, ele estava vermelho do Sol, pois ficou dentro da
piscina brincando com as crianças, até Julia entrou na água, porém, no momento já estavamdormindo.
Olhei para ver se tinha alguém olhando e levei minha boca até a de Nicolas, era para ser
apenas um beijinho, mas ele me puxou e prolongou o beijo. Logo ouvimos cochichos ao nosso lado.
Era Maria e Valentim. Quando viram que percebemos a presença deles, saíram correndo.
Quando deu por volta das quatro da tarde, limpamos e tudo entramos em casa. Não demorou
muito para que Valentim caísse em sua cama e dormisse. Ele estava tão cansado, mas também brincou
a tarde toda. Fiquei olhando para ele dormindo, e jurei que nunca o abandonaria e não deixaria
ninguém o tirar de mim. Beijei sua testa e fui tomar banho.
Capítulo 11
Nicolas
A semana tinha começado e os trabalhos na escola também; estava reunindo as crianças da
minha turma na quadra para aula de educação física, iríamos jogar queimadas. Eu sempre tentava
resgatar as brincadeiras da época da minha infância. As separei, cinco para o lado e cinco para
outro. Maria Flor pegou a bola e jogou na direção do colega, que se desviou, mas foi atingida logo
depois e ficou chateada, olhei para ela, sorrindo, pois, todas as vezes que perdia ficava chateada. Ela
sempre vinha para as aulas de educação física usando tranças no cabelo, a daquela manhã quem fez
foi a Sarah, e ficou muito bonita. Por falar nela estávamos nos encontrando há quinze dias. Eu não
gostava desse negócio de ficar, gostava de manter compromisso. E era justamente isso que eu estava
pensando, em pedi-la em namoro.
— Olha, professor Nicolas, a Sandrinha está roubando. Ela já morreu, acertei a bola nela.
— Foi mesmo, professor, eu vi. — Isabela e Rodrigo estavam reclamando.
— Sandrinha, você está fora desta rodada. Quem venceu foi a turma do Alex. Agora vamos
formar outra turma e partir para a próxima brincadeira.
A maioria reclamou, porque perdeu, mas era sempre assim. Todas as vezes eles reclamavam.
Depois da turma voltar para a sala de aula, eu fiquei anotando a presença na agenda escolar.
Quando deu por volta do meio-dia, saí da escola. Porém, antes, conferi se Maria e Valentim entraram
na van escolar. Depois de tudo certo subi na moto e fui em direção à academia, iria almoçar no
restaurante da dona Conceição. Às quatorze horas tinha aulas para dar como personal trainer.
Depois de pagar a conta saí para a academia, chegando lá comecei a montar o treino dos meus
alunos. Conforme eles chegavam iam se preparando para o treino. Por volta das dezessete parti para
casa. Não demorou muito e cheguei. Encontrei Maria e Valentim ainda brincando com suas bicicletas
no quintal. Assim que me viram pararam suas bicicletas bem perto de mim.
— Oi, tio Nico. Amanhã o senhor quer andar de bicicleta na pracinha com o Valentim e eu? A
tia Sarah vai nos levar — Maria perguntou.
— Poxa, meu anjo, bem que eu queria. Mas amanhã tenho trabalho. Podemos ir outro dia. Está
certo? — Os dois ficaram me olhando.
— O senhor promete? — Depois que prometi, eles deram a volta e ficaram brincando na
bicicleta.
— Valentim, vem tomar banho. — Sarah gritou da porta chamando o irmão. Deixei os dois
sozinhos e fui na direção dela. Assim que fiquei bem perto, ela sorriu e saiu de dentro da casa.
— Vem, Valentim, eles vão se beijar agora. — Maria Flor disse arrastando Valentim para
longe. Tinha certeza de que os dois iriam se esconder para ficarem nos olhando.
— Oi. — Falei, puxando na cintura da Sarah.
— Oi. — Ela respondeu, sorrindo.
— Pensei que ainda estava na casa da Camila. — Falei e beijei seus lábios devagar, foi só umselinho, pois logo escutamos risadas baixas, os dois estavam nos observando.
— Camila chegou cedo. Mais tarde quando o Valentim dormir quero que venha buscar o seu
presente. Eu sei que já passou muitos dias, mas só agora eu pude comprá-lo. Espero que você goste.
Fiquei olhando para ela e me apaixonei ainda mais. Estava ansioso para saber o que ela tinha
comprado para mim. Segui para casa pra tomar um banho e iria ficar esperando a sua mensagem.
***
Olhei no relógio e já passava das nove e meia quando Sarah me enviou uma mensagem me
pedindo para ir até sua casa, pois Valentim já estava dormindo. Coloquei o celular no bolso da minha
bermuda e saí de casa. Sarah já estava me esperando com a porta aberta. Assim que entrei vi a
cozinha escura e a mesa iluminada com velas, era um jantar romântico. Olhei para ela sem acreditar,
sorri e a abracei beijando sua boca sedento por ela; suas mãos puxavam meus cabelos, e depois
tentavam arrancar minha camisa.
— Nicolas, eu quero terminar de fazer o que começamos no sofá naquele dia. — Sarah disse e
eu vi suas bochechas ficarem vermelhas.
Fiquei olhando para ela; eu sabia o que ela estava tentando fazer. Peguei na sua mão e fomos
para a mesa comer. Estava tudo muito bem arrumado.
— Vamos comer primeiro, você fez esse jantar com muito carinho e eu estou com fome. —Puxei a cadeira para ela, que se sentou. Abri a garrafa de vinho e servi as duas taças. Sarah serviu os
nossos pratos com salada e peito de frango grelhado.
— Vinícius me deu umas dicas do que você gosta de comer. Ele disse que você segue uma
dieta rígida, e que é difícil comer besteiras. Então fiz essa salada. Espero que esteja boa e que você
goste. O vinho foi a Camila que me deu, ela me disse que é o preferido de vocês. Ela e Anne me
deram a maior força. — Percebi que ela estava muito animada.
— Quando Vinicius morava comigo sempre reclamava que na geladeira não tinha pizza nemrefrigerantes, era só verduras e legumes. — Ao terminar de falar, levei uma garfada da salada à boca
sentindo o gosto maravilhoso dos legumes. Gemi e Sarah sorriu.
— Está delicioso. Obrigado por me proporcionar esse momento especial, você é uma pessoa
maravilhosa. Não é à toa que estou apaixonado por você. Já estamos juntos há mais de quinze dias,
tempo suficiente para ter certeza de que a quero como minha namorada. Quer namorar comigo,
Sarah?
Peguei na sua mão, que me olhou com os olhos expressivos e emocionados. Dei a volta na
mesa, Sarah se levantou. Ficamos um de frente para o outro.
— Eu quero sim, quero muito namorar com você. — Peguei as taças de vinhos e nos sentamos
no sofá enquanto bebíamos. Depois peguei a taça da mão dela e a depositei sobre a mesinha de
centro. Puxei Sarah para meu colo e começamos a nos beijar. Nosso primeiro beijo como namorados.
Sarah passou uma das pernas para o lado, coloquei a mão na sua cintura enquanto
prolongávamos o beijo. Meu pau começou a crescer dentro da cueca; sabia que estava a muito tempo
sem sexo, mas queria que ela tivesse certeza do que queria fazer.
— Sarah… — gemi, parando o beijo. Suas mãos apressadas tiraram minha camisa, ela ficou
olhando para meu peito desnudo, então baixou a cabeça e depositou vários beijos em minha pele,
evitei um gemido e tentei raciocinar enquanto ela estava me levando à loucura. Peguei sua cabeça e
fiz com que ela me olhasse nos olhos.
— Eu quero muito fazer amor com você, mas também quero que você tenha certeza do que
estamos prestes a fazer. Não quero que faça nada para me agradar, quero que queira isso tanto quanto
eu.
— Eu quero Nicolas. Quero ter minha primeira vez com você. — Eu já desconfiava que era
ela virgem, mas ela me confessando, era outra história. Olhei para ela segurando seu rosto e voltando
a beijá-la de forma mais sensual. Sarah se entregou ao beijo e senti quando sua cintura começou a se
movimentar fazendo sua vagina encostar-se ao meu pau. Sem pensar duas vezes, me levantei com ela
em meu colo, mas não paramos de nos beijar. Já dentro do quarto, coloquei Sarah em cima da cama;
o tecido do seu vestido subiu revelando sua coxa e a cor da sua calcinha, não pude deixar de
observar. Levantei Sarah e tirei seu vestido. Seus seios se revelaram, então aproveitei para beijar
cada um deles fazendo sua respiração subir e descer. Fiz com que ela se deitasse na cama novamente,
e tirei a única peça que cobria seu corpo. Senti que ela ficou envergonhada, mas tentei a todo
momento deixá-la confortável.
Depositei pequenos beijos em sua barriga subindo até chegar aos seios, onde chupei bemdevagar; primeiro um, em seguida, o outro. Sarah se contorcia atrás de alívio.
— Você já gozou alguma vez? — Falei olhando em seus olhos verdes. Ela balançou a cabeça
em afirmação.
Sarah estremeceu quando cheguei bem perto da sua intimidade, beijando abrindo os lábios comminha língua. Suas pernas tremeram quando suguei seu clitóris bem devagar, depois chupei e Sarah
gozou falando meu nome. Engatinhei, subindo em seu corpo chegando até sua boca sussurrando o
quanto ela era deliciosa e viciante, suas bochechas coraram. A puxei para mim e a abracei. Ela
colocou a mão no botão da minha bermuda e começou a abrir. Fiquei apenas de cueca, mas ela tirou
também, vi o exato momento em que seus olhos aumentaram de tamanho quando viu meu pau duro.
Fui até minha carteira e tirei um preservativo de dentro, em seguida, coloquei no meu pau. Sarah se
deitou e, eu me posicionei em cima dela me encaixando devagar. Ela reclamou um pouco de dor,
perguntei se queria que eu parasse, mas ela disse que não, insistiu para que eu continuasse. Devagar,
eu a penetrei fazendo movimentos enquanto a beijava; em nenhum momento deixei de pensar que eu
era um sortudo da porra por ter essa garota na minha vida, que se entregou para mim, fui o seu
primeiro. Por incrível que pudesse parecer, nós gozamos juntos. Estaria sempre disposto a fazê-la
feliz, dia após dia. Puxei Sarah para meu colo e adormecemos abraçados.
Capítulo 12
Sarah
Acordei e vi Nicolas ao meu lado na cama, ele estava dormindo e o lençol cobria seu corpo.
Me levantei devagarzinho indo na direção do banheiro, senti uma leve dor e vi que o lençol da cama
estava manchado com uma pequena gota de sangue. Precisava colocar na máquina de lavar antes que
o sangue ficasse grudado e manchasse o tecido. Fui ao banheiro, fiz xixi e, em seguida, tomei banho.
Vesti minhas roupas que tinha catado do chão antes de vir ao banheiro. Quando voltei, acordei
Nicolas, que se espreguiçou se levantando; o lençol que cobria seu corpo caiu, coloquei as mãos nos
olhos para não o ver sem roupas. Ele sorriu, balançando a cabeça pegando suas roupas do chão.
Vestiu a cueca, em seguida, a bermuda e sua camisa. Já ia dar cinco horas da manhã, ele iria trabalhar
e eu também. Às seis, eu tinha que acordar o Valentim para se arrumar pra ir para a escola. Nicolas
se aproximou de mim e me abraçou atacando minha boca. Após o beijo, encostou a testa na minha.
— Como se sente? — Ele desceu as mãos e apalpou minha bunda.
— Um pouco dolorida, mas estou bem. Você foi maravilhoso. Quero repetir o que fizemos
mais vezes. — Ele sorriu, lambendo a pele do meu pescoço, estremeci quando ele sugou. Senti que
ele já estava ficando duro novamente.
— Vamos repetir quantas vezes você quiser. Mas agora preciso tomar um banho, pois ainda
tenho que ir para academia treinar. Quando chegar passo aqui para te ver. Você apareceu na minha
vida na hora certa. — Falou, alisando meu rosto com as costas das suas mãos. Fechei os olhos
sentindo uma sensação boa.
Nos beijamos um pouco mais, e Nicolas saiu pela porta deixando meu corpo pegando fogo.
Precisava conversar com as meninas para contar que tive minha primeira vez, e que foi maravilhosa.
***
Fiquei em frente ao portão com Julia no meu colo acenando para Maria Flor e Valentim quando
a van escolar saiu levando os dois para a escola, a pequena acenava, jogando beijo para eles.
Só ficamos eu e ela. Entrei em casa e a deixei brincando; ela já andava bem melhor e ficava
sempre atrás de mim pela casa. Liguei a televisão e vi que estava passando desenhos, Julia ficou
assistindo e eu fui colocar as roupas na máquina de lavar. Anne já tinha voltado a trabalhar e o Davi
ficava na casa da dona Solange, vizinha da casa ao lado. Preparei a papinha da Julia, coloquei o
almoço no fogo, depois tirei as roupas da máquina e coloquei no varal do lado de fora. Por volta das
onze horas, dei o almoço da Julia e a coloquei para dormir. Peguei o livro que estava lendo e
comecei a ler, iria almoçar quando Valentim e Maria Flor chegassem da escola. Meu celular vibrou
com uma mensagem nova, peguei ele de cima da mesinha e desbloqueei a tela. O nome do Nicolas
brilhou no visor. Sorri, toda boba.
“Bom dia! Estou aqui trabalhando, mas meu pensamento está em você e no seu corpo
delicioso”
Sorri, terminando de ler sua mensagem. Senti um formigamento entre as pernas e comecei a
escrever uma resposta.
“Estou no trabalho, mas meu pensamento está em você e na sua língua habilidosa”
Apertei enviar e notei quando ele estava digitando. Fiquei esperando.
“Até agora estou pensando no que escrever como resposta, mas não tenho nada a dizer a
não ser que posso muito bem usar minha língua habilidosa hoje à noite”
Ficamos trocando mensagem por mais alguns minutos quando ouvi o barulho da van parando
em frente de casa. Fui abrir o portão, e notei que Valentim passou triste por mim. Maria entrou logo
em seguida.
— Aconteceu alguma coisa? — Perguntei, quando eles já estavam dentro de casa.
Os dois ficaram em silêncio, então fiz a pergunta novamente.
— É que vai ter a festa dos pais na escola, e vamos ter que escrever uma cartinha falando
sobre nossos pais. E o Tim me disse que não tem pai para levar. E eu falei que meu pai pode ir à
festa dele também. Mas ele disse que não quer. — Olhei para meu irmão, que estava de cabeça baixa,
meu peito doeu só de vê-lo naquele estado.
— A mana vai na festinha, amor, não precisa ficar triste. Pode escrever uma cartinha para mim.
Vem cá me dar um abraço… agora vá tomar um banho que logo nós vamos comer. Fiz bifes combatatas fritas. — Ele nem se animou, e adorava bifes com batatas fritas. Fiquei olhando para ele indo
em direção ao banheiro. Fiquei com o coração doendo.
Valentim deixou a metade da comida no prato, disse que não estava com fome. Eu não briguei
com ele. Compreendi muito bem o que ele estava sentindo. Quando eu estudava, também ficava triste,
pois nem sabia quem era meu pai, mas depois me acostumei. Não precisava de pai para ser a garota
que eu era. Depois dos dois fazerem os deveres de casa, ficaram deitados assistindo televisão no
quarto da Maria. Assim que passei para ver a Julia, percebi que eles estavam dormindo.
Já passava das seis quando Camila chegou, e logo Anne apareceu empurrando o carrinho como Davi dentro. Vinicius não estava com ela. As duas me olharam e ficaram me esperando contar
alguma coisa.
— Fiquei o dia todo esperando a bonita começar a contar, no nosso grupo, sobre o que rolou
ontem no jantar romântico. — Anne falou tirando o bebê do carrinho e o deixando sentado junto comJulia no piso emborrachado onde ela brincava.
— Ainda bem que ela não contou nada no grupo, pois não tive nem tempo de olhar o celular, o
hospital estava lotado, muitas crianças doentes. Mas agora pode ir nos contando. — Me sentei no
sofá perto delas e comecei a falar.
— Ai que romântico, Nicolas foi um príncipe. Você tem muita sorte, Sarah, espero que o
namoro de vocês dê muito certo; estou na torcida. Você tem que ir ao ginecologista para se prevenir.
Posso agendar para você no hospital.
— Isso que eu ia falar. Mas por que você está parecendo um pouco triste? — Anne notou
minha tristeza.
— Valentim chegou da escola triste, porque vai ter a festinha dos pais, e ele precisa escrever
uma cartinha para ler no dia, mas ele não tem pai. Ter um, ele até tem, mas não convive. Em santo
Agostinho, ele nunca ficou assim, eu sempre fui à festinha da escola, mas agora ele está maior e
convivendo com Nicolas, Átila e Vinícius. Meu irmão é meu ponto fraco, não sei o que fazer até a
festinha. — Elas me abraçaram. Anne foi para sua casa, e eu para a minha com Valentim ainda triste.
Fiz pipoca e coloquei um filme para ver se ele se animava, e deu um pouco de resultado, mas
ele dormiu cedo. Fiquei pensando o que iria fazer para animá-lo.
Capítulo 13
Nicolas
Parei o carro no estacionamento do shopping, abri a porta para Sarah sair e logo Maria Flor e
Valentim desceram do banco de trás. Quando cheguei em casa na segunda-feira, minha sobrinha veio
falar comigo, ela sempre foi muito avançada para a idade que tinha, sempre foi muito inteligente e
sempre gostou de ajudar ao próximo. Como vi que ela estava um pouco triste dei atenção para o que
ela tinha a dizer naquele momento. Eu a tinha como uma filha, pois a vi nascer e ajudei a criá-la. Ela
me disse que seu melhor amigo estava muito triste, e queria ajudá-lo a melhorar. Então me contou
sobre a festinha dos pais na escola, e da carta, e tive uma ideia, eu iria à festinha da escola. Mas
antes iria perguntar ao Valentim se ele queria que eu fosse. Depois de me contar tudo, Maria pediu
que no sábado, eu a levasse, juntamente com Tim, como ela o chamava, para ir ao cinema, pois ele
nunca tinha ido. Eu achei a atitude dela bem madura, isso só provava que ela estava se transformando
em uma pessoa resiliente. Concordei, a parabenizando. E ali estávamos, ela e Valentim estavam tão
felizes que não se desgrudavam um minuto.
Peguei na mão de Sarah, olhando para ela; dia a pós dia, eu amava mais e mais essa garota.
Maria e Valentim andavam na nossa frente. Chegamos à fila do cinema para comprar os ingressos,
pipocas e refrigerantes. O filme em cartaz era Toy Story. Como Valentim e Sarah nunca tinham vindo
ao shopping, tudo para eles era novidade, estavam encantados com tudo. Na fila, afastei os cabelos
da Sarah do seu pescoço e comecei a beijar sua pele branca observando os pelos dos seus braços
ficarem arrepiados. Ela era tão cheirosa, não me cansava de beijá-la. Comprei quatro ingressos e
fomos para outra fila, para entrar no cinema.
— Depois podemos ir até a praça de alimentação, tio Nico? Quero que o Valentim experimente
sushi, ele vai gostar. — Maria Flor perguntou, e eu concordei.
— Você me disse que isso é peixe cru. Eu não gosto de peixe cru! — Valentim falou sério.
Entramos no cinema. Eu nem estava prestando atenção no filme, só queria beijar minha
namorada, e dizer em seu ouvido o quanto ela estava linda, e que eu não via a hora de chegar em casa
para arrancar sua roupa. Seu rosto ficou corado e ela olhou para os lados para ver se alguém tinha
ouvido. Depois do filme fomos a praça lanchar; Valentim não gostou de sushi e Maria ficou
decepcionada, pois como ela mesmo dizia: quem não gosta de sushi experimentou errado. Nem Sarah
gostou, ela e o irmão comeram sanduíches. Levei os dois para brincarem um pouco no parquinho
enquanto eu e Sarah permanecemos sentados de olho nos dois.
— Vou falar com o Valentim sobre a festa do dia dos pais da escola. Se ele quiser, eu posso ir
com ele. Mas quero que ele me diga que quer. — Sarah me olhou com os olhos emocionados.
— Você faria isso por ele mesmo? Tenho certeza de que ele vai concordar, ele gosta muito de
você, amor. — Ela beijou meu rosto, me abraçando, e não pude evitar um sorriso quando ela me
chamou de amor.
— Faço por você, por mim, por Maria e, principalmente, por ele, que não tem culpa do pai que
tem. Eu amo você e amo o Valentim, é o mínimo que posso fazer por ele. — Sarah me olhou e disse:
— O que eu fiz para merecer um cara tão maravilhoso como você? Achei que tinha escolhido
Limoeiro por ser uma cidade pequena, mas não, eu escolhi Limoeiro, porque você estava aqui me
esperando. Eu me sinto em casa quando estou ao seu lado. Também te amo, Nicolas, amo muito. O
meu primeiro amor e único. — Ela disse, me beijando. Logo ouvimos risos e cochichos, e já
sabíamos quem eram.
— Se divertiram? Querem mais alguma coisa? — Perguntei aos dois.
— Quero fazer xixi — Valentim disse.
Fomos ao banheiro. Entrei com Valentim e Maria foi com Sarah no das mulheres. Aproveitei
que estava nós dois e comecei a falar sobre a festinha da próxima semana.
— Sabe o que eu estava pensando, amigão? — Levantei Valentim para lavar as mãos. Ele me
olhou e eu comecei a falar. — Se você quiser, eu posso ir com você na festinha da escola do Dia dos
Pais. O que acha? Eu iria me sentir muito sortudo se você aceitasse. Nunca fui em uma festinha
dessas, deve ser bem legal. — Percebi seus olhinhos brilhando enquanto eu falava.
— De verdade, tio Nicolas? O senhor quer mesmo ir comigo? — Fiquei emocionado, era
apenas uma criança.
— Claro que quero, eu sempre quis participar. — Fiz carinho na sua cabeça.
— Então tá bom, vamos nós dois. Vamos que eu quero contar para Maria e a mana. Elas vão
ficar tão felizes. — Ele disse, pegando na minha mão e me levando para fora do banheiro.
Do lado de fora, Maria e Sarah estavam nos esperando. Valentim correu e começou a contar a
novidade para elas.
— Mana, o tio Nicolas vai ir comigo na festa dos pais da escola, né, tio Nicolas? — Sarah me
agradeceu com os olhos marejados.
— Agora precisamos escrever a cartinha, Tim, eu vou te ajudar. Está bom? — Ele concordou,
todo animado.
Sarah me abraçou e notei que estava chorando. Eu sabia o quanto aquilo era importante para
eles dois. Ela me agradeceu e disse que nunca ia conseguir pagar pelo que eu estava fazendo para ela
e o irmão.
Depois de deixar Maria Flor em casa, entrei com Sarah, carregando o Valentim que tinha
dormido durante a viagem de volta para casa. Depois de tirar os sapatos dele, Sarah o acordou para
escovar os dentes e colocar o pijama. Depois, ele se deitou na cama e dormiu, ele estava cansado
mesmo.
Sarah tirou o vestido, se enrolou na toalha e foi para o banheiro, eu fiquei esperando por ela,
deitado na cama. Tinha tirado a calça jeans, a camisa e fiquei apenas de cueca. Ela entrou no quarto
usando uma camisola curta, apagou a luz e se deitou ao meu lado. Fiquei por cima dela, beijando sua
boca, descendo os lábios por todo seu corpo, em seguida, tirei sua camisola percebendo que ela
estava sem calcinha. Tirei minha cueca me encaixando dentro de Sarah. No mês passado, ela foi ao
ginecologista, e já fazia um mês que estava tomando anticoncepcional, então podíamos transar semcamisinha. Seu jeito tímido me deixava cada dia mais louco. Enquanto fazia movimentos de vai e
vem, Sarah gemia meu nome perto do meu ouvido me deixando todo arrepiado. Era incrível como a
cada dia nossa conexão na cama ficava melhor.
Capítulo 14
Sarah
Era a festinha dos pais na escola. Às nove horas os alunos teriam que chegar com os pais.
Valentim estava eufórico, não parava de falar um minuto sequer do assunto, acordou cedo e ficou
perguntando se Nicolas iria mesmo com ele. Átila iria com a Maria Flor e levaria a Julia. Eu
aproveitaria para ir com Nicolas e Valentim, queria estar perto do meu irmão nesse dia tão
importante para ele. A cartinha, ele não quis me mostrar, disse que Maria Flor o ajudou a escrever.
Ele ainda estava aprendendo a ler e escrever.
Valentim foi no carro com Átila, Maria Flor e Julia, eu fui de moto com Nicolas. Chegamos
minutos depois que Átila estacionou o carro. Valentim saiu pegando na minha mão e na de Nicolas.
Entramos na escola indo na direção do pátio onde a maioria das crianças estavam com seus pais. A
professora do Valentim o chamou para perto dela, a turma dele seria a primeira a se apresentar. Me
sentei enquanto Nicolas foi ver se alguém estava precisando dele, ele voltou e se sentou ao meu lado;
ficou segurando minha mão o tempo todo. Algumas mulheres ficavam olhando e cochichando umas
com as outras. Átila se sentou perto de nós com Julia querendo sair do seu colo e ir até onde a irmã
estava. Mas ela ficou quietinha quando a diretora começou a falar e o som da sua voz saiu pelo
microfone.
“É com muita alegria que hoje realizamos a festinha dos pais da escola Limoeiro. Cada
turma vai fazer suas apresentações e, em seguida, os alunos irão ler as cartinhas que fizeram para
seus pais. Depois das apresentações, nós vamos servir um lanche.”
A turma do Valentim, do primeiro ano, foi chamada e eles começaram a cantar a música: “Fico
Assim Sem Você”. A cada frase, eu me emocionava, era lindo ver meu irmão daquela forma, ele
estava tão feliz. Depois da música, nós aplaudimos e cada um foi ler sua cartinha. Quando chegou a
vez do Valentim, ele se encaminhou para perto do microfone, abriu a cartinha e começou a ler. Às
vezes, ele ficava soletrando, mas deu para entender.
“Tio Nicolas, eu gosto muito do senhor. O senhor não é o meu pai, mas eu gostaria que
fosse, porque o senhor gosta de mim, e me leva para andar de moto.”
Ele encerrou a cartinha olhando para o Nicolas, eu estava bastante emocionada e chorava.
Nicolas se levantou e foi até ele e o abraçou segurando-o em seu colo.
Quando me mudei para Limoeiro, não pensava que encontraria um homem de coração tão bomquanto o de Nicolas. Valentim veio correndo em minha direção e eu o abracei sentando-o em meu
colo. Ficamos esperando a vez da Maria Flor. Quando ela começou a falar do pai todos se
emocionaram, porque já conheciam a história deles. Átila criou a filha sozinho, mas depois encontrou
a Camila e viviam muito felizes. A história deles era linda. Depois da festinha, nós fomos lanchar.
Em seguida, fomos para casa. Como Átila não iria mais voltar para a farmácia, fui direto para casa
com Nicolas e Valentim. Senti que depois da apresentação, eles se aproximaram mais um do outro.
Enquanto Valentim foi tomar banho, me aproximei, abraçando Nicolas.
— Obrigada por hoje. Você mudou a vida do meu irmão, ele está muito feliz. O que eu posso
fazer para te agradecer? — Ele sorriu e falou bem perto do meu ouvido.
— Quero muitos beijos, e te amar a noite toda. — Ao terminar de dizer isso, ele mordeu o
lóbulo da minha orelha me deixando excitada.
As mãos de Nicolas desceram até minha bunda e ele ficou alisando minha pele. Valentimchegou na sala e se sentou no sofá ligando a televisão.
— Que tal uma pizza? — Ele perguntou, se sentando ao lado de Valentim.
— Oba! Eu gosto de Mussarela. — Meu irmão disse, animado. Nicolas tirou o celular do
bolso mandando mensagens e nos disse que em meia hora a pizza chegaria. Era tempo de eu ir tomar
um banho. Deixei os dois na sala e fui até o quarto pegar as roupas.
Depois que retornei, a pizza já estava na sala. Valentim ajudava o Nicolas a pegar os pratos,
garfos e facas. Fiquei parada observando os dois se ajudando na cozinha, um sentimento de
realização tomou conta de mim. Eu estava muito feliz, tinha certeza de que onde minha mãe estivesse,
ela também estaria feliz por nós.
Depois que Valentim dormiu, lavei as louças enquanto Nicolas foi tomar banho. Depois,
desliguei a televisão e as luzes da cozinha seguindo para o quarto. Fui até o guarda-roupa e coloquei
uma camisola fina, era transparente, ganhei da Anne. Ela disse que eu precisava ter mais dessas
peças no meu guarda-roupa. Assim que Nicolas entrou, ele ficou na porta do quarto, enrolado na
toalha, e usava outra para secar os cabelos. Sorri timidamente para ele, eu estava quase me tremendo
toda. Tinha soltado meus cabelos. Me deitei na cama e fiquei o esperando apagar as luzes e se deitar
ao meu lado. Mas ele não apagou a luz, ao contrário, me levantou e ficou me olhando, os seus olhos
brilhavam.
— Você não tem que se esconder, você é linda. Quero fazer amor com você, mas olhando para
você. — Nicolas começou a me beijar e sua toalha caiu no chão, senti sua ereção na minha barriga.
Suspendi meus braços para que Nicolas tirasse minha camisola. Depois que ele a tirou, se
sentou na cama e me fez sentar em seu colo de pernas abertas para ele. No começo, eu fiquei tímida,
mas depois fui me soltando. Enquanto sua língua chupava meus seios, seu dedo deslizava para dentro
da minha vagina; com o outro dedo, ele fazia pressão no meu clitóris causando-me uma sensação
gostosa. Ele foi me guiando até que seu membro estivesse todo dentro de mim. Devagar, ele me fazia
remexer em seu colo. Aquela posição era tão gostosa que logo peguei o ritmo, rebolava fazendo seu
pênis entrar e sair. Olhando dentro dos seus olhos, eu gozei e ele gozou em seguida. Ficamos nessa
posição por mais uns minutos, nos beijando.
Capítulo 15
Nicolas
Já fazia quase dois meses que eu e Sarah estávamos namorando. Eu, praticamente tinha me
mudado para sua casa, dormia lá quase a semana toda, mas ela também dormia na minha casa quando
Valentim dormia na casa da Maria Flor. Esses dias, conversando, ela me confidenciou que gostaria
de fazer faculdade, queria fazer pedagogia, pois sempre foi seu sonho, só não pôde começar, já que
foi bem na época que a mãe adoeceu, e ela teve que cuidar do irmão. Então, eu a aconselhei e disse
que ela poderia começar a fazer na cidade, eu poderia levá-la e buscá-la sem problema algum. E
quando ela fizesse amizades com os colegas poderia vir de ônibus com eles. Eu sabia que isso iria
fazer bem a ela, conhecer pessoas novas e sair sozinha sem que eu, ou o irmão estivéssemos juntos.
Sarah ficou muito contente e concordou, então fomos fazer a matricular mais cedo. Também passamos
na papelaria e compramos os materiais que ela precisaria para os estudos, ela me agradeceu e eu
disse que sempre iria ajudá-la a realizar seus sonhos, pois eu a amava mais que tudo. Só queria ver
essa garota feliz e aproveitando a vida de forma correta.
No outro dia, as aulas dela começaram e eu fui deixá-la. Estacionei em frente à faculdade e
Sarah desceu da moto, me despedi dela e voltei para Limoeiro para dar treinos na academia.
Chegando lá encontrei Vinícius fazendo musculação. Quando me viu entrando tirou os fones de
ouvidos parando de treinar.
— Foi levar a Sarah na faculdade? — Perguntou, pegando sua garrafa e bebendo um pouco de
água.
— Sim, ela estava toda animada. Cara, eu nunca pensei que fosse amar alguém como amo a
Sarah, A cada conquista dela, eu fico muito feliz.
— É, meu irmão, o bichinho do amor te pegou com força. Seja bem-vindo ao clube dos eternos
apaixonados. — Ele disse e meus alunos chegaram.
Após terminar o trabalho na academia, retornei para casa. Ao chegar, Valentim me acompanhou
e entrou comigo em casa; ele ficava na casa da Camila e quando eu chegava, ele ia comigo para
minha. Ele gostava de vir para ficar jogando videogame.
— A minha irmã ainda vai demorar muito para chegar, tio Nicolas? Estou com saudades dela.
— Comentou, enquanto escolhia qual jogo iria jogar. Olhei no relógio para responder sua pergunta;
Sarah viria de ônibus, pois a filha da dona Ângela, da casa ao lado, estudava junto com ela, então
voltariam juntas. Ela me disse que iria ficar muito cansativo se eu fosse buscá-la todas as noites.
— Um pouco. Mas não se preocupe que logo ela chega. — Ele balançou a cabeça e voltou
para o jogo.
Fiz janta para nós dois. Depois do jantar, fomos para a casa dele. Valentim foi escovar os
dentes, colocou o pijama e foi se deitar, ele era um garoto muito obediente, poucas vezes o vi
teimando com a Sarah. Fiquei na sala assistindo o jornal, esperando-a chegar. De vez em quando
dava umas cochiladas. Senti beijos pelo meu rosto e uma voz que eu conhecia muito bem chamando
meu nome. Abri meus olhos e vi a mulher mais linda do mundo sorrindo para mim, não acreditava
que tinha dormido no sofá. Me ajeitei passando as mãos no rosto.
— Não acredito que dormi no sofá! Sério, eu estava assistindo um filme enquanto te esperava
e de repente dormi — expliquei.
— Você estava roncando. — Disse brincalhona.
— Eu não ronco, meu anjo, ao contrário de você, que fala enquanto dorme. — A puxei para
meu colo. Ela deu um gritinho e ataquei sua boca.
— Estava sentindo sua falta, não só eu, mas o Valentim também. Ele queria te esperar, mas não
aguentou e dormiu. Ele é tão apegado a você, mas quem não se apega, não é mesmo? — Ela sorriu, se
ajeitando no meu colo. Ainda estava com a roupa da faculdade, calça jeans, blusa branca e tênis.
— Ficou quente de repente? O que acha de nós dois tomarmos um banho, hum? — Convidei,
mordiscando a pele do seu pescoço, enquanto Sarah se segurava em mim jogando a cabeça para trás
e me dando mais acesso a sua pele. Começamos a nos beijar e o clima foi esquentando; tirei minha
camisa, em seguida, tirei a blusa da Sarah, ela ficou apenas de sutiã. Fomos para o banheiro e nos
despimos por completo, a cada dia ficávamos mais excitados quando estávamos um perto do outro.
Debaixo do chuveiro, nós nos beijávamos com toda paixão; fiz com que Sarah subisse em meu colo
enrolando a perna em volta da minha cintura, estava tão duro que acreditava que gozaria a qualquer
momento. Devagar, meu pau foi deslizando para dentro da sua boceta apertada, ela gemeu enquanto
eu arremetia dentro dela. Era tão gostoso que eu não queria acabar nunca. Quando gozamos, juntos,
eu a desci do meu colo devagar, ainda beijando sua boca. Após o banho fomos para a cama e
começamos tudo de novo. Eu não me cansava, amava ouvir os sons dos seus gemidos e meu nome
saindo da sua boca.
Capítulo 16
Sarah
Em dois meses, minha vida tinha mudado drasticamente, e para melhor; eu tinha um namorado
que me incentivava a estudar para realizar meus sonhos, me ajudava a estudar para as provas, e se
fosse preciso passava a noite estudando comigo. Também cuidava do meu irmão para eu ir pra
faculdade, tinha todo o cuidado comigo. Quando podia, ele me levava e ia me buscar. Eu me sentia
tão feliz… desde que começamos a namorar ele só tinha me feito feliz. Valentim também mudou
muito, era outro garoto, se transformou em um rapazinho responsável, estudava e atualmente estava
fazendo futebol. Nicolas me disse que o ajudaria a ter mais responsabilidades e que Valentim iria
conhecer mais garotos da idade dele. E deu muito certo; meu irmão estava mais solto, mais confiante
de si.
Julia tinha acabado de acordar; a tirei do berço e a coloquei no sofá enquanto trazia a
mamadeira com seu mingau. Já estava quase na hora do Valentim chegar do futebol; Maria Flor
estava terminando de fazer suas tarefas. Ela me olhou e começou a fazer perguntas:
— Tia Sarah, se a senhora se casar com o tio Nico, Valentim vai ser meu primo, né? — Olhei
para ela, pensativa.
— Sim, primo de consideração, porque Valentim não é filho do Nicolas. Mas vocês podem ser
primos. — Ela me olhou confusa.
— Por que a senhora não se casa logo com meu tio? Porque se a senhora se casar com ele, o
Tim nunca iria embora daqui, e aí vamos crescer sempre juntos. Quando eu fizer nove anos, ele vai
fazer sete, porque nosso aniversário é no mesmo mês. — Sorri e me aproximei mais dela.
— Você gosta muito do Valentim, não é? — Ela colocou o lápis na boca e ficou pensativa.
— Ele é meu melhor amigo e será para sempre. Nunca diz que sou chata, os meninos da minha
sala sempre falam isso, mas o Tim me defende. As meninas da minha sala querem ser todas amigas
dele, mas ele é meu amigo mais do que delas. — Ela disse com os olhos brilhantes.
— Eu fico muito feliz que vocês se tornaram melhores amigos, um cuidando do outro. Tem que
ser assim sempre, nunca brigarem. — Falei, indo pegar a mamadeira da Julia, ela tinha acabado de
mamar todo o mingau.
— Mas a senhora não me respondeu, tia. A senhora vai ou não se casar com o tio Nico? — Ela
não esqueceu mesmo da pergunta.
— As coisas nem sempre acontecem como queremos. Mas se depender de mim e do seu tio,
daqui uns anos a gente pode se casar sim, primeiro tenho que concluir minha faculdade. Mas não se
preocupe, nunca irei tirar o Valentim de perto de você. Agora termine sua tarefa que assim que o
Valentim chegar podemos ir até a pracinha para passear um pouco. Quero levar a Julia para brincar
com as amiguinhas dela, e vocês podem ficar andando de bicicleta. — Ela sorriu e começou a
escrever rapidamente. Enquanto isso fui dar banho na Julia e deixá-la arrumado.
Pouco tempo depois chegamos à pracinha; Maria e Valentim ficaram andando de bicicleta e eu
fiquei com as outras mães das criancinhas, mas sempre de olho neles. Coloquei a Julia no
escorregador e segurei sua mão enquanto ela deslizava pelo brinquedo. Depois fomos no balanço, ela
gritava toda feliz. Depois que ela se cansou fui pegar água para ela tomar. Passou um vendedor
vendendo picolé e comprei para nós. Enquanto ficamos sentados, chupando picolé, tive uma leve
sensação de estar sendo observada, poderia ser coisa da minha cabeça, mas senti medo. Uma
sensação o qual eu já tinha vivido antes. Olhei para todos os lados, mas não vi ninguém, só algumas
crianças jogando bola, outras soltando pipas, algumas mães com as suas filhas nos brinquedos. O Sol
já estava se pondo, então resolvi voltar para casa. No caminho, fiquei sempre olhando para todos os
lados, algumas senhoras estavam caminhando e fiquei do lado delas, não sabia o que podia
acontecer. Entramos em casa, pedi para Valentim ir tomar banho e Maria também, pois seus pais
estavam quase chegando. Depois de Julia dormir, a coloquei em seu berço. Não demorou muito e
Átila e Camila chegaram, falei com eles e fui para casa. Ainda tinha que tomar banho e me arrumar
para ir pra faculdade.
Depois de me arrumar, ouvi o barulho da moto do Nicolas, não demorou muito para ele chegar
em casa. Quando me viu, sorriu e entrou; ele sempre passava na minha casa primeiro antes de ir para
a sua; sempre trazia pão ou bolo para comer com o Valentim.
— Ainda a peguei em casa. Trouxe sonho para você, vem comer antes de sair, amor. Tenho
certeza de que você não comeu nada. Está tudo bem? — Perguntou, me dando um beijo e deixando a
mochila em cima do sofá. Depois colocou as sacolas em cima da mesa. Valentim apareceu bem na
hora.
— O senhor trouxe bolo de chocolate? — Perguntou, remexendo nas sacolas.
— Trouxe sim, pode ir comer. — Nicolas disse. Depois de colocar os sonhos em uma vasilha
pegou um e me deu. Coloquei suco em um copo e comecei a comer. Ele ficou me olhando reparando
algo em mim.
— Por que está me olhando tanto? — Perguntei, mordendo um pedaço do sonho.
— Você é tão linda. E vestida assim com roupas de estudante fica ainda mais linda. Não é,
Valentim? —Meu irmão engoliu o pedaço de bolo e respondeu.
— A minha irmã é muito linda mesmo, parece uma modelo. — Fiquei emocionada. Esses
meninos da minha vida só me faziam feliz a cada dia.
Me despedi deles dois e fui para a parada de ônibus. Lá, encontrei Susana, filha da dona
Ângela, estudávamos na mesma sala. O ônibus não demorou muito a passar. Depois de descer
próximo à faculdade parei na banquinha da dona Marli, ela vendia balas e água; comprei chiclete.
Quando ia entrando, senti novamente aquela sensação de alguém estar me olhando. Olhei para trás e
vi apenas os estudantes andando logo atrás de mim. Ignorei o medo e segui para minha sala. De vez
em quando o pensamento voltava, mas o espantava para longe. Eu estava tão feliz que não iria
permitir pensamentos negativos circularem em minha mente.
Fui a primeira a terminar a prova, e não quis esperar a Susana sair, então a avisei que iria para
casa, pois estava ansiosa para contar ao Nicolas que fui muito bem nas provas. Iria preparar uma
comidinha para nós dois em agradecimento pela força que ele me deu ajudando-me a estudar esses
dias. Segui o caminho do ponto de ônibus notando que a luz do poste tinha queimado, ou alguémjogou pedra, pois estava cheio de cacos de vidro no chão. Achei estranho. Cheguei no ponto e fiquei
olhando torcendo para que o ônibus chegasse logo, não gostava de ficar no escuro. Eu estava sozinha.
Vi um homem andar apressado em minha direção, fiquei receosa e tentei disfarçar meu nervosismo. O
homem gordo usava um gorro na cabeça, seus cabelos eram compridos e ele estava sujo. Ao se
aproximar um pouco mais senti o cheiro forte vindo dele, só podia ser um mendigo. Mas quando seus
olhos negros me avaliaram da cabeça aos pés, o reconheci na hora, era o Raul. Ele estava solto e
bem na minha frente. Não tive forças para correr, porque minhas pernas travaram. Como ele sabia
que eu estaria ali? Será que a sensação de ter alguém me observando já era ele me seguindo? Me
afastei, tentando correr, mas sua mão segurou meu braço com força.
— Finalmente te achei, sua puta. Cadê meu filho? — Seu bafo podre penetrou em minhas
narinas e tive a sensação de que iria vomitar a qualquer momento. Ele estava horrível, barbudo e
com os dentes quase todos podres.
— Responda, sua desgraçada! — Rugiu e bateu com algo na minha cabeça, não vi mais nada,
tudo ficou escuro. Meu único pensamento antes da escuridão me engolir foi em Valentim e Nicolas.
Capítulo 17
Nicolas
Fiquei em frente à faculdade da Sarah esperando-a sair, tinha mandado mensagem, mas ela não
tinha respondido, deveria estar em aula. Resolvi vir assim mesmo, sem avisar, pois, queria fazer uma
surpresa para ela, nunca mais tinha vindo buscá-la. Mais cedo, ela tinha dito que teria uma prova
muito importante para fazer, e na noite anterior ficamos acordados até tarde; enquanto ela estudava,
eu ficava a ajudando. Tinha certeza de que ela se sairia muito bem. Olhei no relógio e vi que já
estava na hora de ela sair; os alunos estavam saindo. Vi a filha da dona Ângela saindo e resolvi
perguntar pela Sarah, ela me disse que Sarah terminou a prova antes de todos os alunos e saiu há
mais de uma hora. Agradeci a ela e peguei meu celular para verificar se Sarah tinha visto minha
mensagem, mas ela não tinha visualizado. Deduzi que ela estivesse sem bateria, pois ela nunca
deixava de me responder. Disquei seu número, mas caiu na caixa postal novamente; crente de que seu
celular tinha descarregado voltei para Limoeiro. Começou a chuviscar e acelerei a moto, mas o
trânsito estava ficando congestionado, o que me obrigou a abrir caminho no meio dos carros. De
repente, senti uma sensação estranha, como se fosse receber uma notícia ruim a qualquer momento.
Espantando o pensamento negativo entrei na estrada que dava acesso à Limoeiro. Cheguei em casa
em alguns minutos. Deixei a moto na garagem e, depressa, passei pela casa do Átila, que estava
fechada, já era quase vinte e três horas. Abri a casa da Sarah e, logo que entrei fui direto para seu
quarto, não tinha ninguém. Corri para o quarto do Valentim e vi que ele também não estava. Que
estranho! O que será que estava acontecendo? Sarah nunca iria a outro lugar sem me avisar antes.
Desci a escada e fui bater na porta da Camila, acreditando que talvez ela estivesse lá com o
irmão; Valentim podia ter adoecido e Camila resolveu medicá-lo. Dei duas batidas e Átila abriu a
porta; ele já estava de roupão, pronto para dormir. Segurava uma xícara nas mãos. Tinha certeza de
que ele não estava dormindo ainda.
— Aconteceu alguma coisa? Por que está tão agitado? — Perguntou, me dando passagem para
entrar.
— Fui buscar a Sarah na faculdade e me disseram que ela tinha saído mais cedo. Antes de sair,
mandei mensagem pra ela avisando que ia buscá-la, mas ela não respondeu. Enviei a mensagemquase dez horas. É muito estranho ela não ter chegado em casa, alguma coisa muito séria aconteceu.
Valentim está aqui com vocês? — Terminei de falar, me sentando no sofá.
— Sim, ele está dormindo no quarto com a Maria. Você custou a chegar, então não deixamos
ele ir pra casa para ficar sozinho. Mas Nicolas… ela pode ter saído com os amigos para comemorar.
Mais cedo, ela comentou com a Camila que estava pensando em comemorar com os amigos da
faculdade. Pode ter sido isso. Relaxa, meu irmão, logo ela chega, ou liga. — Átila disse, enchendo
uma xícara de chá na cozinha e me entregando.
— Beba um pouco, você irá relaxar. Logo ela chega. — Ele disse e Camila apareceu na sala.
— Ouvi vozes, o que houve? — Disse, se sentando na poltrona.
— Sarah ainda não chegou. E ele está preocupado. Eu disse que talvez ela esteja
comemorando pelas provas finais que estava fazendo na faculdade. — Átila disse, depositando umbeijo na testa da Camila.
— Mas ela não comentou nada comigo, isso é muito estranho. Outra coisa, ela nunca iria
deixar de atender uma chamada minha, isso não está normal. — Declarei, me levantando e ligando
para ela mais uma vez. Novamente, não atendeu.
— Espera, me deixa ligar do meu celular, vamos ver se ela me atende. — Camila disse indo
pegar seu celular no quarto. Voltou minutos depois.
— Ela não me atende também, vamos aguardar mais um pouco. Pode ser que ela esteja em umlugar com música alta. — Camila disse, mas eu notei uma certa preocupação em sua voz.
Fiquei andando de um lado ao outro, já estava bastante preocupado, Sarah nunca agiria dessa
forma. Nunca largaria o irmão para ir comemorar, ela com certeza me avisaria e o avisaria também.
— Vou na delegacia, não tem outro meio para buscar ajuda a não ser esse. Eu já estou
preocupado. Fora que ela tinha medo do padrasto vir atrás dela. Mesmo ele estando preso, pode ter
fugido, sei lá. Só sei que isso está muito estranho e eu não vou ficar sentado esperando. — Falei, me
levantando.
— Calma, Nicolas, não vai adiantar nada você ir à delegacia, sabe que para dar queixa de
desaparecimento tem que ter no máximo vinte e quatro horas. Não tem nem três horas que Sarah está
sumida. Vamos aguardar mais um pouco, e tentar ligar para as amigas dela, alguém deve saber. —Átila disse e foi vestir umas roupas. Camila também.
Eu não tinha nenhum número de telefone de amiga dela, a mais próxima era a Susana, filha da
vizinha da casa ao lado. Mas ela já tinha me dito que Sarah saiu mais cedo, pois tinha terminado a
prova primeiro. Realmente eu já estava muito preocupado.
Peguei meu celular e comecei a navegar na Internet em busca de alguma notícia da cidade onde
ela morava, que inclusive era onde seu padrasto abusador estava preso. Logo uma notícia sobre
rebelião e fuga de dez presos apareceu na tela, imagens de fumaças e homens trepados no teto comfacões e rostos cobertos com as próprias camisas. Meu coração, que já estava acelerado dentro do
peito se agitou ainda mais. Claro que um desses foragidos era o ex-padrasto, tinha certeza de que ele
foi até uma das vizinhas de Sarah e fez ameaças para contarem onde minha garota estava morando
atualmente. Vi meu mundo, que eu tinha acabado de construir, desabar aos poucos bem na minha
frente. Me levantei apressadamente, bem na hora que Átila apareceu. Peguei o celular mostrando a
notícia para ele; assim como o meu, seu rosto ficou mais branco do que um papel.
— Eu sabia que algo de muito sério estava acontecendo, ele descobriu onde ela estava e ficou
a cercando, até a hora certa chegar e ele atacar. Claro, ele a viu sozinha no ponto de ônibus e foi a
deixa para agir. Com certeza Sarah está com ele. Ela está correndo risco de vida. Talvez, sabe-se lá
o que ele esteja fazendo com ela neste exato momento. Meu Deus! — Falei, e desabei no sofá
passando as mãos no rosto e nos cabelos.
— Temos que ir à delegacia. Agora sabemos, de fato, o que está acontecendo. Vou ligar para o
Vinícius, ele também irá conosco. — Átila falou, discando o número do Vini. Em poucos minutos, ele
e Anne apareceram, com Davi dormindo no colo dela.
— Como assim, Sarah desapareceu? Meu Deus! Isso só pode ser um pesadelo. Vou colocar o
Davi no quarto da Julia, junto com ela. Tudo bem, Camila? Eu não vou aguentar ficar lá em casa
sozinha. Prefiro ficar aqui com você. Vamos orar muito para Sarah ser encontrada, e bem.
Entramos no carro do Átila e partimos rumo à delegacia. Em poucos minutos, o carro foi
estacionado e ambos descemos apressados. Em seguida, entramos na delegacia.
— Boa noite. Gostaríamos de falar com o delegado, é um caso urgente — Vinícius falou na
recepção.
— Só um minuto. — A policial saiu do seu posto e entrou na sala do delegado. Ao sair nos
disse para entrar. Ainda bem que ele nos conhecia.
— Boa noite, delegado Rômulo, temos uma ocorrência de máxima urgência. Meu irmão
Nicolas vai lhe contar tudo. — Átila disse me passando a palavra.
Me sentei na cadeira e comecei a relatar tudo, a mesma coisa que contei para meus irmãos; a
escrivã digitava tudo. Ao final, mostrei a matéria sobre a rebelião em Santo Agostinho, inclusive
sobre as fugas de dez presos, inclusive o ex-padrasto da Sarah. Contei também sobre a tentativa de
abuso quando ela morava com ele. O delegado Rômulo fez uma ligação para a penitenciária de Santo
Agostinho confirmando a rebelião e as fugas. Com o coração dolorido ouvi a resposta de que
devíamos esperar Sarah entrar em contato, pois com certeza ela entraria e à mando dele. Talvez ele
quisesse o filho para fugir com os dois. A única coisa que eu poderia fazer naquele momento era orar
e pedir para que Deus a protegesse.
Capítulo 18
Sarah
Acordei, sentindo muita dor na cabeça. Eu estava amarrada. Percebi que estava no meio do
mato; sentia respingos da goteira caírem no meu rosto, me vi em uma espécie de cabana que foi feita
com folhas. Devagar, abri meus olhos e vi o Raul em pé, me olhando, rapidamente passei os olhos
pelas minhas roupas e senti alívio quando vi que ainda estava vestida. Uma sensação de medo me
tomou, lágrimas grossas caíram dos meus olhos embaçando minha visão. Comecei a lembrar do meu
irmão, ele devia estar sentindo minha falta, pensei em Nicolas.
— Ainda não fiz nada com você. Dessa vez vou saber esperar pelo nosso casamento, quero
você como minha esposa, pois já que sua mãe morreu, você é minha por direito. Você ainda é virgem,
não é? Pura e intocável. Espero que você não tenha se deitado com ninguém, que tenha me esperado.
Entretanto, eu a vi em cima de uma moto, agarrada àquele homem. Você deu para ele? Aposto como
deu e gostou, comigo ficava gritando chamando pelos vizinhos. Responda, sua vagabunda. — Ele
gritou, puxando meu cabelo com força.
— Me solta, seu desgraçado! Como você conseguiu me encontrar? Você não ia apodrecer
naquela prisão? — Falei, cuspindo em sua cara. Senti o peso da sua mão em meu rosto e comecei a
chorar sentindo minha pele arder.
— Está vendo o que você me faz fazer? Não quero te machucar. Vim até aqui apenas para
buscar você e meu filho. Não quero mais nada, só vocês dois comigo. Agora ligue para o seu macho
e diga para ele trazer o menino. Não quero que você conte nada a ele sobre o que aconteceu, diga
apenas que vai embora com seu irmão, e que não quer mais nada com ele. Se você tentar alguma
gracinha, eu te mato sem pensar duas vezes, pois não quero mais voltar para aquela cela fedorenta.
Agora tira esse telefone, que não parou de tocar a noite toda, de dentro dessa sua bolsa. Anda, faça o
que estou mandando, porra! — Raul gritou e os pingos da sua saliva foram direto para meu rosto.
Meu estômago se embrulhou, mas me mantive forte pelo meu irmão.
Tirei o celular de dentro da minha mochila e, ao desbloquear o aparelho vi que tinha mais de
trinta chamadas do Nicolas, Anne, Camila, Átila e Vinícius. Por um breve momento me senti feliz ao
saber que eles estavam procurando por mim, mas ao mesmo tempo sentia medo pelo que pudesse
acontecer se acaso Nicolas viesse ao meu encontro. Estava morrendo de medo, mas disquei o número
do Nicolas. Ele atendeu de primeira, sua voz estava cansada e preocupada.
— Sarah, por favor, mantenha a calma, a polícia já está sabendo de tudo. Fique o máximo de
tempo que puder na linha, pois eles irão rastrear seu celular. Vamos te buscar, meu amor. Só confie
em mim. — Ouvi sua voz e comecei a chorar. Mas comecei a falar com ele.
— Quero que você traga o Valentim até mim, estou indo embora com ele, para bem longe. Foi
um erro me aproximar de você, só quero meu irmão para ir embora em paz. Por favor, traga ele. Vou
ficar na beira da estrada esperando. — Falei, desligando o celular. Esperava que houvesse dado
tempo para eles rastrearem. Eu precisava fazer com que Raul não desconfiasse de nada, tinha que me
controlar.
— Vou ficar escondido. Mas saiba que tenho uma arma bem na sua mira, então, sem gracinhas.
Acho bom você não aprontar nada. Ou serei obrigado a acabar com tudo.
Raul disse-me explicou onde eu deveria ficar. Nervosa, fui para a beira da estrada, ele era umidiota, achando que o mundo parou que nem ele, ainda bem que existia Internet, facilitando o fluxo de
informações de tudo o que acontecia no mundo. Eu tinha um namorado tão inteligente, que entendeu
que eu não abandonaria meu irmão, e nem passaria a noite fora de casa sem avisar nada para ele.
Fiquei na estrada por mais ou menos dez minutos, e vi um carro se aproximar, com certeza os
policiais já deveriam estar com Raul na mira, pois eles pegaram a localização. Mas o medo me
dominou, e senti quando Raul se aproximou de mim. Foi tudo muito rápido… escutei dois tiros e me
joguei no chão sentindo alguém ficar por cima de mim. Olhei para o rosto, o qual eu estava
acostumada a ver todas as manhãs quando acordava. Era o meu salvador, era o Nicolas. Ele me
abraçou e, em seguida, me levantou quando o Raul já estava algemado, gemendo no chão, os tiros
foram na perna dele, ele gritava de dor. Não olhei para trás quando ele chamou por mim, dizendo que
iria voltar para me matar. Eu não estava mais com medo, pois estava protegida, nos braços do homemque eu amava.
— Eu acho que vou desmaiar. As minhas pernas estão tremendo. O meu irmão está bem? —Perguntei, entrando no carro da polícia. Nicolas se sentou ao meu lado segurando minha mão.
— Como soube do Raul? Como soube que eu estava com ele? — Perguntei, depois de levar a
garrafa de água aos lábios. Bebi todo o líquido, estava morrendo de sede.
— Ontem eu fui à faculdade te buscar, e não entrava na minha cabeça que você tinha saído comos colegas para comemorar. Essa foi uma das suposições de Átila e Camila, mas eu sabia que você
não faria isso sem ao menos nos avisar, não deixaria seu irmão sozinho. E comecei a pensar, e
pensar. Então me lembrei que você contou que seu padrasto estava preso, busquei por notícias sobre
fugas de preso e rebeliões em Santo Agostinho e logo apareceu várias notícias sobre o assunto.
Depois disso fui até a delegacia e o delegado ligou, confirmando. Quando você me ligou, a ligação
foi rastreada. Graças a Deus, ele não pediu para você pôr no viva-voz. Foi isso que nos salvou. —Nicolas disse e me abraçou em seguida. O abracei tão forte, agradecendo por ele ter sido tão
inteligente. Chegamos à delegacia, desci do carro. Átila e Vinícius estavam nos esperando. Eles me
abraçaram, aliviados por tudo ter ocorrido bem.
Fui prestar depoimento. Depois de tudo relatado fomos para casa.
— Valentim sabe que aquele monstro apareceu? — perguntei, com a cabeça apoiada no peito
do Nicolas.
— Não, e nem é bom que ele saiba. Ele é muito pequeno e não vai entender nada. Deixa como
está. Ele ainda deve estar dormindo. — Nicolas disse, beijando minha cabeça.
Chegamos em casa. Desci do carro sentindo-me uma pessoa de muita sorte, por ter essa família
ao meu lado. Quando Anne e Camila me viram correram e me abraçaram, elas estavam emocionadas.
Eu agradeci mais uma vez à Deus por ter colocado essas pessoas na minha vida. Em meu peito só
transbordava gratidão.
Capítulo 19
Nicolas
Assim que chegamos em casa, por volta das sete e meia da manhã, depois de ter tirado Sarah
das mãos daquele desgraçado, a levei para minha casa e lhe ajudei a tomar um banho; peguei uma
camisa minha no guarda-roupa e a ajudei a vestir. Ela precisava comer alguma coisa e se hidratar;
preparei um suco de abacaxi com hortelã, e ovos mexidos enquanto ela estava deitada na minha
cama. Assim que ficou pronto, escutei uma batida na porta. Ao abrir, me deparei com Valentim, ainda
de pijamas.
— A minha irmã está aqui? Fui lá em casa e vi que ela não estava. — Ele disse, entrando.
— Eu estou aqui, maninho. — Sarah apareceu, se inclinando e abrindo os braços. Valentimcorreu e a abraçou.
— Eu fiquei te esperando, mas nem você ou o tio Nicolas apareciam. Aí fiquei dormindo na
casa da Maria. Onde você estava? — Sarah se levantou com ele no colo e se sentou no sofá.
— Quando eu cheguei, você já estava dormindo, então não quis te acordar. Mas agora estou
aqui. Vamos tomar café aqui na casa do tio Nicolas. Olha quantas coisas deliciosas ele está fazendo.
Vem, vamos para a mesa. Sarah colocou café para o irmão e começou a comer também. Me sentei ao
seu lado observando enquanto ela comia; não parava de fazer carinho no irmão.
Depois do café, ela dormiu e eu fui ajudar Valentim no banho. Era sábado e Camila estava em
casa, pois era folga dela. Valentim foi brincar com Maria Flor e, eu fui me deitar ao lado de Sarah.
Também estava morrendo de sono.
***
Acordei e um par de olhos verdes estava me observando; sorri levando a mão ao seu rosto,
tirando a mecha de cabelo que caiu em sua bochecha. Ela sorriu.
— Ontem, eu tive tanto medo de não voltar para você. Achei que fosse viver naquela vida
infernal de antes. Mas você não deixou, me salvou mais uma vez. Eu te amo tanto, Nicolas, que chega
a doer. Nunca fui tão feliz na minha vida como estou sendo agora. Obrigada. — Ela disse, beijando
minha mão.
— Não tem nada que me agradecer, eu que não saberia viver sem você. Também tive muito
medo. Mas você foi tão forte, te admiro tanto. — Puxei seu rosto e começamos a nos beijar. Ela se
levantou e foi trancar a porta do quarto, em seguida, se deitou ao meu lado novamente tirando minha
camisa que vestia, revelando os seus seios. Tirei a bermuda que estava vestido.
Sarah montou em mim e começou a me beijar; ela nunca tinha ficado por cima. Devagar, ela foi
se sentando no meu pau e começou a subir e descer; seus olhos não se desviavam dos meus, ela
estava mais ousada, e gostei. Coloquei as duas mãos em seus seios, apertando-os; Sarah abaixou e
novamente me beijou. Gemidos baixos escapavam de seus lábios conforme ela se movimentava,
peguei na sua cintura determinando um ritmo. Observei quando ela jogou a cabeça para trás, gritando
ao gozar, e, em seguida, foi minha vez. Após o sexo fomos tomar banho juntos. No chuveiro,
voltamos a nos amar novamente. Eu já tinha certeza de que Sarah era a mulher da minha vida, mas o
sentimento se aflorou ainda mais. Olhei dentro de seus olhos, fiquei atrás dela, afastei seus cabelos e
sussurrei em seu ouvido:
— Você quer se casar comigo? — Ela se virou com os olhos emocionados, sorrindo. Pulou emmeu colo, beijando todo meu rosto. Encostei suas costas contra a parede de azulejo esperando por
sua resposta.
— Sim, Nicolas, eu aceito me casar com você. Você é o homem da minha vida. Aceito ser a
sua mulher.
A desci um pouco do meu colo somente para meu pau deslizar todo dentro dela; a água do
chuveiro caía sobre minhas costas enquanto meu pau entrava e saia, nossos gemidos eram o único
som a ser ouvido naquele momento. Me senti o homem mais sortudo da face da Terra quando ela
disse sim para meu pedido. Depois de nós dois gozarmos, a desci do meu colo. Comecei a lavar seu
corpo, passar sabonete em suas costas, esfregar seus braços… e tudo isso dando vários beijos em sua
pele. Em seguida, ela fez o mesmo comigo. Depois saímos do banho.
— O que acha de hoje, eu, você e Valentim saímos para jantar fora? Comemorar o nosso
noivado? — Perguntei, enxugando seu cabelo.
— Eu vou adorar. Vou para casa me arrumar e arrumar o Valentim. Depois, você passa lá para
nos buscar. Outra hora, devolvo seu roupão. — Ela disse me abraçando, em seguida, saiu pela porta.
Sorri que nem um bobo.
Como não dava para irmos nós três de moto, Átila me emprestou o carro. Antes de jantar, eu
iria passar em uma joalheria para comprar um anel de noivado para Sarah, além de nossas alianças.
Valentim iria me ajudar a escolher. Depois de chegar no shopping fomos direto à joalheria; comprei o
anel. As alianças, eu mandei fazer, porque queria nossos nomes gravados dentro dela. Depois fomos
jantar. Antes da comida chegar contei para Valentim, e ele me perguntou algo.
— Vamos morar na sua casa depois que você se casar com minha irmã? — Bem pensada a sua
pergunta.
— Você acha melhor morar na minha casa, ou na sua? — perguntei a ele.
— Na sua, né? Pois vou jogar videogame todos os dias. — Ele disse nos fazendo sorrir. O
nosso jantar chegou e começamos a comer.
Depois do jantar, nós três fomos passear pela cidade; Valentim corria na nossa frente, enquanto
eu e Sarah o seguíamos, de mãos dadas. Paramos em uma barraca para comprar algodão doce e
seguimos comendo. Ficamos sentados no banco da praça enquanto Valentim se balançava no balanço.
Fiquei o observando brincando, ele tinha mudado muito, tinha se transformado em um garoto muito
especial. Eu o amava como se fosse meu filho, e faria de tudo para que ele fosse feliz e vencesse na
vida. Seria seu espelho como exemplo. E minha missão na vida, seria fazer ele e a sua irmã, felizes.
Capítulo 20
Sarah
Dois anos depois…
Calcei meus sapatos e fiquei em frente ao espelho me encarando; meus olhos se encheram de
água, e elas deslizaram pelas minhas bochechas. Eu estava linda, vestida de noiva, nunca me
imaginei nessa posição um dia. Olhei para o anel em meu dedo e fiquei brincando com ele. Lembrei
da minha mãe e tinha certeza de que ela estaria feliz por mim, pela filha que ela colocou no mundo,
pela mulher no qual me transformei. Enxuguei minhas bochechas, bem no momento que Anne, Camila,
Maria Flor e Valentim entraram no quarto. Eu estava pronta e logo entraria na igreja para me casar
com o homem que amava, com meu melhor amigo, com meu amor. Meu peito estava transbordando,
eu estava muito feliz.
— Nossa, tia Sarah! A senhora está tão linda, parece uma princesa. — Maria Flor disse. Ela
também estava linda vestida de dama de honra. Valentim também estava vestido de terno, os dois
iriam entrar comigo.
— Maria tem razão, você está linda, Sarah. — Anne disse, enxugando os olhos com o lenço.
— Eu nunca vi uma noiva tão bonita. Agora vamos, pois já está quase na hora de você entrar
na igreja. Se não formos agora, é capaz de o Nicolas vir atrás de você. — Camila disse, passando o
lenço devagar em meu rosto.
Entramos no carro e Camila foi dirigindo. No caminho fiquei pensando em como tudo
começou. Desde o momento em que saí de Santo Agostinho para vir para Limoeiro… jamais imaginei
que era ali que estava minha felicidade. E ali estava eu, prestes a me casar. O carro parou em frente à
igreja. Camila deu a volta abrindo a porta para mim, Anne me ajudou com o buquê, e as crianças
desceram e foram na minha frente. Parei na entrada da igreja, e esperei a marcha nupcial tocar. Átila
me deu o braço e, em seguida, entramos. Como eu não tinha pai nem mãe, ele perguntou se podia
entrar comigo, concordei.
Ergui meu olhar e eles foram de encontro com o olhar do Nicolas, sorri para ele; seus olhos
ficaram emocionados ao me ver. Caminhei até chegar até ele, nossas mãos se entrelaçaram e viramos,
ficando de frente para o padre. As minhas pernas tremiam, mas me mantive firme. Depois do padre
começar a cerimônia, a igreja ficou toda em silêncio, eram poucos convidados.
— Nicolas Malfacini e Sarah Carvalho, é de livre e espontânea vontade que desejam se casar?
— Olhamos um para o outro e respondemos juntos.
— Sim.
— Sarah, aceita Nicolas como seu marido, para amar e respeitar, na alegria e na tristeza, na
saúde e na doença, todos os dias da sua vida, até que a morte os separe?
— Aceito — respondi.
— Nicolas, aceita Sarah como sua legítima esposa para amar e respeitar, na alegria e na
tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da sua vida, até que a morte os separe?
— Aceito — respondeu.
Valentim nos entrou nossas alianças.
— Sarah, receba esta aliança em sinal do meu amor e da minha fidelidade, em nome do Pai, do
Filho e do Espírito Santo. Amém. — Deslizou a aliança pelo meu dedo, beijando a peça. Suspendi
meu olhar e o vi emocionado.
— Nicolas, receba esta aliança em sinal do meu amor e da minha fidelidade, em nome do Pai,
do Filho e do Espírito Santo. Amém. — Coloquei a aliança em seu dedo, e beijei onde a peça estava.
Escrevemos nossos votos, e eu decorei cada linha do meu. Então me virei de frente para o Nicolas e
comecei a falar:
— Quando pensei que um dia fosse te encontrar, meu amor? Quando pensei que estaria aqui
hoje me casando com você? Você é a realização dos meus sonhos. Obrigada por me fazer tão feliz. A
partir de hoje começa uma nova história em nossas vidas, e ela será a nossa melhor versão de todos
os tempos. Eu te amo muito, e quero viver o resto da minha vida com você.
Nicolas pegou na minha mão e começou a falar:
— Sarah, minha doce Sarah. Eu sabia que a vida estava reservando o melhor para mim, por
isso eu não tinha pressa em me casar, pois sabia que quando a pessoa certa chegasse na minha vida,
eu saberia de imediato. E você chegou e eu soube que era você. Batalhei para te conquistar, sempressa. Construímos o nosso amor de degrau a degrau, e hoje estamos fortalecidos, alicerçados umno outro. Eu te amo para sempre.
Nos beijamos e selamos o nosso amor, um amor puro e verdadeiro.
***
Dentro do quarto do hotel, abri a porta da varanda, estava chovendo muito e o vento entrava no
quarto; a minha esposa estava deitada na cama, nua, apreciando o tempo chuvoso, estávamos
bebendo vinho. Resolvemos passar nossa lua de mel na cidade do Rio de Janeiro, Sarah me disse
que conhecer a cidade era um dos seus sonhos. Estávamos ali há uma semana; já havíamos conhecido
vários lugares; fomos às festas e passamos o dia na praia. Como o dia estava nublado decidimos
ficar no quarto, trancados, e nos amando. Partiríamos no dia seguinte para Limoeiro.
Me aproximei da minha mulher, na cama, e a puxei para cima de mim; sua boca desceu na
minha e senti o gosto do vinho. Sua língua desceu pela pele do meu pescoço me causando arrepios.
Ela foi descendo, passando a língua por todo meu corpo até chegar ao meu pau, onde passeou a
língua bem devagar pela glande. Fechei meus olhos gemendo a cada lambida dela. Depois que eu já
estava a ponto de gozar, Sarah montou em mim mais uma vez, se sentando lentamente. Sua vagina me
engoliu por completo. Minha garota rebolava em sincronia comigo; não resisti e a coloquei de
quatro, e investi com força. Seus gemidos eram altos, devagar, sai e arremeti com força novamente.
Senti o jato quente do gozo sair, e logo minha esposa veio junto. Saí de dentro dela fazendo-a se
deitar ao meu lado na cama. Cobri nosso corpo e sussurrei o quanto a amava. Ela se aninhou em meu
peito e segurou a minha mão. Era assim que iríamos ficar para sempre, um segurando a mão do outro.
// LIVRO
Altar ao Lado
Nicolas Malfacini é o mais tranquilo dos três irmãos; formado em educação física dá aulas
para crianças do colégio de Limoeiro, além de ser personal trainer na academia do bairro. No
passado, ele foi noivo, mas um acaso do destino fez com que sua noiva fosse embora deixando-o
desolado e sem perspectivas para um novo romance. Ao contrário do que se imaginou que
aconteceria, ele não se fechou para o amor, mas permaneceu esperando a mulher perfeita aparecer.
Só não contava que ela seria a babá de suas sobrinhas e, consequentemente, a vizinha da casa de
número dois.
Entre olhares e risos, ele se vê encantado pela garota doce e cheia de sonhos.
Sarah Carvalho tinha tudo para viver uma vida diferente; uma jovem linda e, ao mesmo tempo,
triste. Após a morte da mãe, ela se responsabiliza pela criação do irmão Valentim de apenas seis
anos de idade, pois um fato ocorrido fez o pai da criança sumir no mundo. Sarah tem vinte anos e
nunca amou ninguém. Quando conhece Nicolas o desejo aflora dentro de si, porém Sarah tem traumas
do passado que a faz fugir dos homens.
Duas vidas diferentes em busca de um amor. Venha descobrir em: Casei com o vizinho.