// LIVRO

Coração Negado.177Z

Coração Negado

Beatrice Pagett e Edward Maddock se casaram através de um contrato, apesar disso, ela sempre foi completamente apaixonada por ele. Mas três anos vivendo um casamento sem amor, apenas por aparência, levou Beatrice a pedir o divórcio e tentar uma nova vida, longe de Edward e do sofrimento de ter seu amor não correspondido. Quando Edward percebe que cometeu o maior erro de sua vida, ele tenta a todo custo reconquistar a sua esposa e recuperar o tempo perdido e a mulher que ele realmente ama. Resta saber se Beatrice está disposta a dar uma nova oportunidade ao homem que a rejeitou.

Capítulo 1 – Esqueça que eu te amo
Beatrice
Olhei para o closet repleto com roupas caras, todas das grifes
mais famosas, apenas o melhor que o dinheiro pode comprar, mas
nada daquilo seria possível levar comigo.
Coloquei na mala apenas as coisas que eu trouxe para
aquela casa, três anos atrás, e escolhi para usar naquele momento,
o mesmo vestido com o qual cheguei à elegante mansão dos
Maddock.
Mas diferente daquele dia, onde cheguei com o coração
repleto de amor e esperança, eu agora tinha apenas amargura e dor
dentro do meu peito, a desesperança tinha tomado conta de todo o
meu ser, e agora eu iria partir daquela casa, a qual nunca foi
realmente o meu lar.
Após três anos de um casamento frustrado, onde eu nunca
pude realmente saber o que é ser amada por meu marido, eu tomei
a difícil decisão de pôr um fim naquela relação fadada ao fracasso,
onde apenas um estava lutando pela felicidade do casal, e esse
alguém era eu.
A partir de hoje, Edward não mais faria parte da minha vida,
nem eu da dele e cada um seguiria o seu próprio caminho, e foi
pensando nisso, que dispensei todos os funcionários da mansão
naquela tarde de primavera, e esperei pela chegada do meu marido,
ansiando pelo momento em que o veria pela última vez como meu.
Olhei em torno da sala espaçosa, ricamente mobiliada, o
lustre principal uma verdadeira obra prima da arte, com seus cristais
ofuscando a visão daqueles que inocentemente se atreviam a olhar
para o seu esplendor.
Assim era também Edward Maddock, o meu marido, o
homem mais rico e bonito de toda a Grã-Bretanha, mas que
ofuscava qualquer um desavisado que se atrevesse a se colocar em
seu caminho.
Lembrei da nossa rápida conversa ao telefone, ainda naquela
tarde, quando eu supliquei para que ele chegasse mais cedo, e ouvi
a sua promessa de que assim o faria. Mas Edward já havia me feito
aquela mesma promessa antes, sem a cumprir, assim como estava
acontecendo hoje.
Quantas noites eu já não havia esperado pela chegada do
meu marido, desejando que tivéssemos uma relação normal, como
qualquer casal, onde ele fizesse o possível para estar comigo, mas
isso nunca aconteceu durante aqueles três anos.
Servi-me de uma dose do seu whisky preferido, tomando
coragem para fazer aquilo que decidi, pois tinha certeza de que sem
aquele estímulo líquido, eu não seria capaz de ir tão longe.
Busquei todas as recordações dos nossos momentos juntos,
estas eram poucas, afinal, ele sempre me evitava, usando as mais
variadas desculpas para estar fora de casa o maior tempo possível,
mas me serviam como um lembrete de como eu não era amada
pelo Edward.
Foram tantas as vezes em que o Edward chegou tarde em
casa, alegando sempre compromissos profissionais, e a mim
restava apenas aceitar que o meu próprio marido não sentia a
minha falta, tampouco queria estar em minha companhia.
Tomei um último gole da bebida, justamente no momento em
que ouvi o ronco silencioso do seu carro estacionando na frente da
nossa casa, mas hoje o motorista não iria levar a Mercedes
preferida do patrão para a garagem.
Vejo ele entrar, e saio das sombras, acendendo o abajur na
mesa de apoio ao lado da poltrona e depois me levantando, com o
único intuito de o enfrentar de igual para igual, por mais que o meu
um metro e setenta não chegasse nem mesmo perto dos seus um
metro de noventa de altura.
— Oh! — Ele exclama, surpreso com a minha presença na
sala escura, sentada em seu lugar de direito. — O que faz aqui?
Eu poderia ter respondido tantas coisas, entre elas o fato de
que morava naquela casa, e tinha todo o direito de estar sentada na
sala, aguardando pela chegada do meu marido.
Não o fiz, contudo.
— Estava o esperando. — Informo, tentando manter a voz
isenta de toda a tristeza que carregava comigo. — Precisamos
conversar.
— Hoje não é um bom momento para isso. — Ele descarta a
minha presença, algo que já se tornou rotina. — Amanhã você pode
dizer o que deseja, pois hoje estou cansado.
Ele não espera para ouvir a minha resposta, já se
encaminhando para o primeiro degrau da escada em espiral, com
corrimão entalhado em um intrigado arranjo artesanal, disposto a
subir para o seu quarto, do qual eu nunca tive o privilégio de
compartilhar.
— Eu preciso falar agora! Não posso mais esperar. — Digo,
alto o suficiente para me fazer ouvir.
Ele para, parece pensar sobre a situação, e acaba retornando
ao centro do cômodo, um suspiro de resignação escapando
audivelmente de seus lábios convidativos, mas os quais só tocaram
os meus apenas uma vez.
Edward nunca desejou consumar o nosso casamento,
sempre me tratando com cordialidade, ele é um homem
extremamente gentil…, mas frio.
— Diga-me. — Ele aceita me ouvir. — O que você tem de tão
importante para me falar?
— Eu quero o divórcio. — Proponho, me sentindo quebrar em
mil pedaços.
Eu sempre fui completamente apaixonada pelo Edward, pois
as nossas famílias sempre foram amigas, e o meu pai era o melhor
amigo do seu.
As lembranças mais uma vez me assolam, e os últimos anos
passam por minha mente, desde o dia em que o meu pai me pediu
para fazer o que ele considerou como um pequeno sacrifício em
nome de algo que ele amava como a um filho, a sua empresa.
O senhor David Maddock e o meu pai, George Phillips, eram
grandes amigos de infância, e juntos construíram um grande
patrimônio, onde um sempre ajudou o outro, de várias formas.
E por esse motivo, quando o pai do Edward morreu, ele ainda
é muito jovem para assumir tamanha responsabilidade e o meu pai
fica à frente da empresa dos Maddock e consegue com que esta
cresça e aumente ainda mais o seu patrimônio líquido.
Enquanto o meu pai cuidava da empresa da sua família,
Edward foi para a França, terminar os seus estudos e quando o meu
pai ficou doente, o chamou de volta a Londres, para que ele
pudesse assumir o seu lugar de direito à frente dos negócios.
Mas papai estava sofrendo de uma doença terminal, onde o
diagnóstico havia sido revelado neste momento e ele, temendo que
sua empresa fosse a falência, pois além de não conseguir manter o
seu controle de modo satisfatório, eu era a sua única filha e não me
sentia nenhum pouco preparada para tomar as rédeas da situação.
E George Pagett aproveita o retorno do filho do seu melhor
amigo para fazer uma proposta, que ele aceite dirigir seus negócios,
e case-se comigo, pois somente assim ele poderia assumir a
empresa.
Eu amava o Edward e não seria sacrifício algum me casar
com ele, e fiquei extremamente feliz de saber que ele estava de
volta a Londres e eu poderia enfim reencontrar o meu grande amor.
Edward, no entanto, estava em um relacionamento sério com
uma francesa, Louise Orleans, a quem ele amava verdadeiramente,
mas ainda assim, aceita a proposta feita pelo melhor amigo do seu
pai, a quem deve muito respeito e gratidão, por ter ajudado seu pai
a construir o patrimônio que hoje era seu por direito e também por
ter cuidado do mesmo, quando ele ainda não se sentia preparado
para tal encargo.
Mas ele nunca se conformou realmente por ter que se
separar da mulher que amava, e eu sentia que esse era o motivo
pelo qual ele sempre me desprezou, não fazendo nada para que
nós dois fôssemos de fato uma família.
Mas Edward se tornou ainda mais frio e indiferente comigo,
depois de ter recebido o convite de casamento da sua amada, que
decidiu que não poderia esperar para que as coisas na empresa do
meu pai ficassem mais tranquilas e encontrou outro homem para
amar, e com o qual se casou.
E eu não podia mais conviver com a sua indiferença, e as
suas desculpas para nunca estar em casa, sempre trabalhando até
tarde e me evitando de modo ferrenho quando estava em casa.
Com as mãos trêmulas pela emoção trazida pelas
lembranças, seguro entre os dedos a aliança que mantive em minha
mão até agora, e a entrego para o Edward, como uma forma de dar
um ponto final em nossa história.
— O que pretende com isso? — Ele questiona.
Ele se sente, mas não parece triste, tão pouco preocupado
com o meu pedido, e ao perceber o copo usado ao lado da garrafa
de sua bebida preferida, me encara com desconfiança, mas nem ao
menos questiona se bebi.
— Pretendo deixar o seu caminho livre, para que você possa
finalmente encontrar a sua felicidade. — Declaro, tentando conter o
choro. — Estou saindo dessa casa, Edward.
— E para onde você vai? — Apesar da pergunta, ele não
parece realmente preocupado com o meu destino.
— Essa é uma pergunta que não pretendo responder. —
Digo, já sentindo o primeiro pingo em meu rosto. — Estou saindo da
sua vida e dessa casa, e isso é tudo o que importa.
Coloco a aliança no aparador e espero que ele me peça para
não partir, diga que me ama e que vai mudar, vai tentar fazer com
que o nosso casamento possa enfim ser algo real, mas nenhuma
palavra sai de sua boca.
— Essa é uma decisão muito séria, Beatrice. — Edward
afirma, seu tom gentil. — Deve pensar muito bem antes de tomar
uma decisão como essa, para não se arrepender depois.
Se eu não estivesse sofrendo tanto, eu teria rido de seu aviso
gentil.
— Eu pensei muito bem sobre isso, Edward. Eu pensei por
três anos. Três longos anos!
Tento não alterar o tom de voz, mas é tão difícil ser fria,
quando tudo por dentro está prestes a explodir.
— Vejo então que tem certeza do que está fazendo. — ele
fala com tranquilidade.
— O nosso advogado preparou toda a papelada do divórcio e
eu já assinei tudo. — informo — Ele enviará a documentação para o
seu escritório, você só precisa assinar também e estaremos
oficialmente separados. Você estará livre de mim.
— É isso mesmo que deseja? — ele pergunta — Sei que diz
que está certa sobre a sua decisão, mas eu preciso ter certeza.
Tenho uma dívida de honra com os nossos pais e a sua história, e
não quero que sofra.
— Sim, eu tenho convicção do que estou fazendo. — Eu
confirmei, mesmo que o coração grite que não! — Eu não quero me
separar de você, Edward! Mas eu preciso fazer isso. Eu preciso
recomeçar longe de você, e esquecer o grande amor que sinto em
meu peito.
— Entendo a sua angústia, Beatrice. — Ele tem o desplante
de dizer, mas o seu rosto era uma máscara de frieza e educação.
— Eu ainda te amo, Edward. — Eu precisava tentar
amolecer aquele coração duro. — Eu sempre te amei.
A resposta a minha declaração apaixonada foi apenas um
esgar de lábios, uma tentativa de sorriso, mas que estava claro que
era apenas uma maneira de demonstrar compaixão pelo meu
sentimento, uma vez que ele mesmo não sentia nada.
— Espero que fique bem. — É tudo o que recebo em
resposta, mas não há surpresa em mim. — Espero que possa
encontrar aquilo que procura, Beatrice.
— Adeus, Edward. — falo, o coração sangrando. — Espero
que também encontre aquilo que procura.
Saio da mansão luxuosa, e caminho para a escadaria de
pedra, chegando ao pátio central, onde um carro me espera,
conforme a minha orientação ao motorista.
A minha única mala já está acomodada dentro do veículo e
entro no banco traseiro, contendo bravamente o pranto e tentando a
todo custo não desabar.
Mas o meu coração está dolorido, o pranto rola do meu rosto
e eu preciso de muita força de vontade para não desabar
completamente, quando estou sofrendo tanto com a separação.
Como poderei viver sem o grande amor de toda uma vida?
Capítulo 2 – Começando de novo
Beatrice
Com um sentimento de perda irreparável me corroendo por
dentro, e apenas com uma única e solitária mala, chego à casa da
minha melhor amiga e seu marido.
Janet me aguarda na sala da mansão, e me recebe de
braços abertos, me oferecendo aquilo que eu não tenho há anos,
que é o sentimento de ser acolhida e amada.
Eu iria morar com o casal de amigos por algum tempo, até
encontrar um apartamento adequado para mim e estar com eles me
faria muito bem, pois eu os amava e sempre fui muito bem recebida
naquela casa.
E ao entrar na majestosa sala da mansão imponente dos
meus amigos, Janet já me aguarda de braços abertos, pronta a me
acolher e a me ajudar em um momento tão doloroso da minha vida
e eu aceito prontamente o seu carinho.
— Tudo isso vai passar, Beatrice. — ela diz, tentando me
consolar.
— Dói tanto, Janet. — confesso, e deixo as lágrimas
seguirem o seu fluxo contínuo. — Como poderei viver sem o
Edward?
— Como tem vivido até hoje, amiga. — Janet fala, apertando
ainda mais o seu abraço em torno de mim. — Edward nunca esteve
realmente presente na sua vida. É sempre tão relapso e distante.
Apesar de aquelas serem palavras que me machucam muito,
são totalmente verdadeiras e eu só tinha a agradecer pelo apoio que
estava recebendo da minha querida amiga.
— Mas eu vou te ajudar, e você vai conseguir superar esse
momento tão difícil na sua vida, Beatrice. Você verá!
A Janet, assim como eu, é uma pessoa bastante otimista e
eu precisava desse estímulo agora, eu precisava acreditar que tudo
daria certo.
— E como o Edward reagiu, quando você pediu o divórcio?
— Janet quer saber, e me olha com expectativa.
— Ele não se importa, realmente. — conto, e sinto a tristeza
se instalar em mim. — Mas prefiro não falar mais sobre o meu
marido, Janet. Preciso esquecer que um dia o amei.
E com essa decisão em mente, eu consigo me fortalecer o
suficiente para enfrentar os dias seguintes, que eu tenho
consciência de que não seria nada fácil, mas em momento algum eu
acreditei que seriam.
A minha amiga me levou ao quarto que ela disponibilizou
para mim, onde irei ficar até encontrar o meu próprio lugar para
morar, e mostra onde devo colocar todas as minhas coisas.
— Trouxe comigo apenas o mesmo que levei, Janet. — digo
para ela, explicando assim porque só trouxe uma mala.
— Não há problema, eu entendo você. — ela me conforta. —
Mas tem algumas roupas, que providenciei para você.
Eu já imaginava aquilo, afinal, a Janet sempre considerou a
forma como me visto muito discreta e sem cor e vive tentando me
convencer a ser um bom mais ousada.
— Obrigada por me receber e me ajudar. — agradeço, a
abraçando mais uma vez.
Depois de guardar os poucos pertences, eu vejo as poucas
fotos que tenho comigo, todas tiradas no dia do nosso casamento e
lembro o quanto aqueles três anos foram dolorosos e angustiantes,
vivendo ao lado de um homem que não me amava, sem ao menos
ter qualquer ocupação que pudesse me distrair da realidade do meu
relacionamento.
Mesmo sabendo que nunca fui amada pelo meu marido, toco
com carinho a face do Edward na foto, mas logo as empurro para o
fundo de uma gaveta qualquer, pois aquelas lembranças não me
faziam bem, contudo, eu não tinha coragem de jogar todas elas no
lixo.
Quem sabe um dia, em um futuro próximo, eu conseguisse
superar aquele amor não correspondido e pudesse finalmente me
desfazer daquelas fotos, penso.
Mas eu também não poderia me entregar à melancolia, afinal,
eu precisava procurar alguma forma de seguir em frente e
recomeçar a minha vida.
Para isso, eu tinha entrado em contato com o meu ex chefe
do jornal para o qual trabalhava, quando meu pai decidiu que eu
deveria casar com o filho do seu melhor amigo.
Mas a empresa do meu pai estava à beira da falência, ele
precisava de ajuda, por estar debilitado devido a sua doença, e
como me sinto culpada por não ter feito conforme a sua vontade e
estudado administração, para poder gerir os negócios da minha
família, como ele tanto insistiu que eu o fizesse, aceito a sua
vontade de casar me com Edward.
O senhor Joel Smith é um homem muito bom e gentil, dono
de um jornal de alcance em toda a Grã-Bretanha e eu fiquei muito
triste em ter que deixar o meu emprego, pois eu havia conquistado
um lugar de bastante destaque, tudo através de mérito próprio.
Quando comuniquei ao senhor Smith que estava pedindo
demissão, pois iria me casar com um amigo de infância, ele tinha
deixado claro que, caso eu quisesse um dia voltar a trabalhar na
publicação do jornal, era só falar com ele, que eu teria um lugar para
mim.
E foi exatamente isso que eu fiz, ao procurar o meu antigo
chefe e, apesar de não ter conseguido a mesma colocação de
antes, eu tinha um emprego e aquilo por si só, já me deixou
bastante feliz e satisfeita.
Pensando nisso, tomei um banho revigorante no banheiro da
suíte na mansão dos meus amigos e deitei na cama que seria minha
por algum tempo, tentando não pensar no que tinha feito hoje,
deixando tudo para trás e começando uma nova vida.
O fato é que decidir algo é muito fácil, difícil foi colocar a
cabeça no travesseiro e não pensar no grande amor da minha vida
e nos anos que vivemos juntos.
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No dia seguinte, comecei o trabalho no Diário de Notícias, e
agora eu trabalhava na coluna de fofocas do jornal, na sessão de
entretenimento, algo que precisaria me adaptar bastante.
Apesar de não gostar exatamente dos assuntos relacionados
às pessoas famosas, eu precisava daquele trabalho para conseguir
sair da melancolia em que estava, e não me importava o fato de que
eu não estivesse no mesmo cargo de antes.
O retorno ao trabalho foi um pouco complicado, pois eu
estava há três anos longe das atividades e eu diria que um pouco
“enferrujada” no que diz respeito a agilidade para digitar os meus
artigos, mas aquilo fazia parte do processo do meu recomeço.
É difícil pegar o ritmo, ainda mais quando os meus
pensamentos insistem em sempre voltar para o Edward, os seus
olhos azuis cristalinos me deixando ansiosa para o ver novamente,
por mais errado que isso fosse.
— Esquece isso, garota! — eu me repreendo em voz alta.
Volto a minha tarefa, digitando vagarosamente um artigo para
a edição que seria lançada no dia seguinte, e ouço alguém bater à
porta do meu escritório.
— Pode entrar. — autorizo, curiosa para saber de quem se
tratava.
Um belíssimo homem entra em minha nova sala e me encara
com um sorriso bastante simpático, assim como ele também parecia
ser.
— Olá, sou Andrew Smith. — ele se apresenta de maneira
cordial. — Você deve ser a nova contratada aqui do jornal, estou
certo?
— Sim, isso mesmo. — confirmo, também sorrindo. — Sou
Beatrice Pagett.
Nós trocamos um aperto breve de mãos, mas ainda assim,
posso afirmar que gostei bastante do meu novo colega de trabalho.
— Seja bem-vinda! — ele me saúda, de modo educado —
Fico muito feliz em tê-la conosco, Beatrice.
— Obrigada, Andrew. — agradeci, desviando os olhos, um
pouco tímida pela situação.
— Pediram-me para te entregar isso. — explica, me
entregando uma pasta de arquivos.
Andrew Smith é um belo homem de cabelos castanhos e
sorriso contagiante, bem mais alto que eu, e assim como com
Edward, eu também preciso olhar para cima, para conseguir encarar
o seu rosto.
Mas, por estar me sentindo um pouco envergonhada, eu não
o faço e apenas me contento em olhar para qualquer outro lugar,
menos para os bonitos olhos verdes claros do Andrew.
— Se precisar de qualquer coisa, é só chamar, que estamos
aqui para ajudar uns aos outros. — ele oferece.
— Eu agradeço bastante por sua oferta e vou me lembrar
dela, quando me sentir em dúvida sobre qualquer coisa. — eu
respondo, em tom divertido. — Nunca escrevi para a coluna de
fofocas e estou me sentindo um pouco perdida.
Eu realmente estava me sentindo bastante desatualizada,
após três anos fora do mercado de trabalho e nessas
circunstâncias, toda e qualquer ajuda será bem-vinda.
— Então você pode contar comigo. — reforça a sua oferta. —
Estou aqui na sala ao lado, então, só é preciso avisar que tem
alguma dúvida.
Depois que Andrew saiu da sala, eu voltei a me concentrar
nas minhas tarefas e a tentar concluir ao menos um artigo para
aquele dia, mas os meus pensamentos teimam em voltar para o
meu ex-marido e o nosso casamento fracassado, onde eu amei por
dois, e sofri muito com a rejeição do Edward.
Mas logo tratei de dissipar aqueles pensamentos e lembrei
das palavras da minha amiga, que me fez ver que eu precisava
pensar no futuro e tentar recomeçar a minha vida, longe do Edward
e tentar construir a minha felicidade, a partir de agora.
Quando terminou o expediente, voltei para a minha casa
temporária, onde fui recebida para o jantar pela Janet e o seu
marido, Charles, o que me deixou muito feliz, pois aquele carinho
era tudo o que eu precisava.
— Como foi o seu primeiro dia de trabalho? — Charles
pergunta, parecendo verdadeiramente interessado na minha
resposta.
— Eu me senti muito insegura sobre algumas coisas, mas foi
tudo muito bem. — contei para eles. — Estou feliz em ter
conseguido o emprego no jornal novamente. Sempre gostei
bastante de trabalhar lá.
— Eu também fico muito feliz que esteja gostando, Beatrice.
— Janet comemora. — É bom ocupar a cabeça com coisas úteis.
— Eu preciso me ocupar, afinal, a vida continua, não é
mesmo?
Edward
Após a saída de Beatrice da mansão, eu caminho até o bar
disposto quase no centro da minha sala de estar e despejo uma
dose do meu whisky mais caro em um copo, tomando todo o
conteúdo de um único e ardente gole.
Consegui manter uma expressão de neutralidade, mas por
dentro, o único sentimento que prevalece em mim é o mais puro e
genuíno alívio.
Uma coisa é certa, eu não fiquei nem um pouco triste com a
decisão da Beatrice de partir, pois eu realmente nunca a amei, e o
nosso casamento foi apenas um contrato de negócios, algo que fiz
exclusivamente em consideração ao antigo amigo de meu pai.
Eu só tinha amado uma única mulher na vida, Louise, uma
francesa linda e interessante, e aquilo, assim como a minha esposa,
estavam agora no passado.
O mais importante agora é que estou livre, para viver a minha
vida da forma como desejar, mas preciso abafar as notícias sobre a
situação e impedir que qualquer jornal no país fale sobre este
assunto.
Eu não quero que o meu nome esteja ligado a qualquer
escândalo, afinal, eu tinha uma reputação nos negócios a zelar e a
minha vida pessoal só diz respeito a mim mesmo.
Consegui que a notícia do meu divórcio não fosse divulgada,
e a partir daquele dia, eu passei a ter a melhor vida de solteiro que
um homem poderia sonhar, e as mulheres mais lindas do país
passavam por minha cama, algo que não pude aproveitar enquanto
estava casado, em respeito à minha esposa.
Agora, tudo é diferente e estou realmente aproveitando a
minha vida da melhor forma possível.
Capítulo 3 – Aceite o inegável
Andrew
Logo que Beatrice começou a trabalhar no jornal que
pertencia ao meu pai e do qual eu sou o único herdeiro, era
perceptível a sua dificuldade de acompanhar o ritmo frenético das
notícias da alta sociedade, assim como a abordagem usada para
atrair o público leitor desse tipo de coluna de jornal.
Mas ela estava cada dia mais adaptada, florescendo em
todos os sentidos e até mesmo superando todas as minhas
expectativas, me deixando encantado com a forma como ela fazia
suas perguntas, sem ser invasiva, sempre cativando aqueles os
quais ela estava entrevistando.
Mas a verdade é que desde o primeiro momento em que
coloquei os olhos sobre a Beatrice, eu me encantei pelo seu jeito
tímido, que ficou completamente ruborizada quando eu ofereci toda
a minha ajuda, caso ela se sentisse perdida em seu retorno ao
jornal.
Os seus olhos cinzentos, que desviaram dos meus durante
todo o tempo que eu tentei encarar a sua beleza estonteante,
deslumbrado que eu estava com a mais nova funcionária do jornal.
Percebi aos poucos o quanto ela era naturalmente tímida e
recatada, e deduzi que deveria ter sido educada de maneira
tradicional, e quanto mais o tempo ia passando, mais nos tornamos
próximos, e quando ela me confidenciou um pouco do seu passado,
fiquei realmente chocado ao saber que ela já havia sido casada.
Isso, no entanto, não foi impedimento para que eu ficasse
cada dia mais apaixonado por seu sorriso e desejasse ser algo mais
além de apenas amigo dela e, quando ela foi se tornando menos
melancólica e mais segura de si, decidi que iria convidá-la para me
acompanhar a um evento de gala.
Mas antes de fazer isso, me certifiquei de que o seu marido,
Edward Maddock, não estaria presente, para evitar qualquer tipo de
constrangimento para a Beatrice e apenas depois de ter a certeza
de que ele estava fora do país, eu fui até a sala dela, fazer o
convite.
— Oi. — falei, depois de entrar em sua sala após bater
brevemente.
— Oh… Olá! — Ela sorri ao me ver. — Não sabia que já
estava de volta.
Eu tinha estado viajando nos últimos dias, e a maneira como
a Beatrice reagiu ao me ver após alguns dias longe um do outro, fez
aumentar as minhas esperanças com relação ao que ela poderia
estar sentindo por mim também.
— Cheguei em Londres ontem à noite. — explico. — Como
foram as coisas aqui durante a minha ausência?
Ela parece um pouco desanimada ao ouvir a minha pergunta,
mas logo se recupera.
— Senti falta do meu amigo aqui no jornal.
— Você não tem nem mesmo ideia, do quanto fico feliz ao
saber disso. — falo, com um largo sorriso.
Nos encaramos sorridentes e, pela primeira vez em meses,
Beatrice não desvia o olhar.
— Quero te fazer um convite. E vou logo avisando que não
irei aceitar uma recusa de sua parte.
Beatrice
Andrew tinha acabado de sugerir um convite, e me senti
imediatamente tensa, pois não esperava por tal atitude de sua parte,
pois ele era sempre tão inibido quando falava comigo, que eu
realmente não esperava algo assim de sua parte.
— O que seria? — Pergunto, apesar de estar bastante
receosa com a resposta.
— Gostaria que me acompanhasse em um evento
importante.
— Algo relacionado ao jornal? — Eu não estava sabendo
sobre nenhum evento que eu precisaria fazer a cobertura jornalística
nos próximos dias.
Andrew sorri, e percebo que está envergonhado.
— Não tem nada a ver com o jornal, ou qualquer coisa que
diga respeito ao trabalho. Será apenas eu e você.
A resposta veio de maneira automática.
— Eu agradeço imensamente o convite, mas eu acho melhor
recusar.
O rosto de Andrew ficou instantaneamente triste com a minha
resposta.
— Eu sei que não devo insistir, mas o farei ainda assim. —
ele disse, e percebi que ele estava constrangido com a minha
resposta negativa. — Peço que pense com carinho na minha
proposta. Eu ficarei muito honrado em tê-la como minha
acompanhante nesse evento.
Tentei fazer da maneira como ele disse e depois que ele saiu
da minha sala, analisei calmamente a sua proposta inesperada,
mesmo quando eu não desejava ir a esse tal evento, por este ser do
mesmo tipo que o Edward costuma frequentar, onde a alta
sociedade está presente.
Apesar de ter sido casada por três anos com o Edward, foram
poucas as vezes em que ele me levou como sua acompanhante e
eu não me sentia preparada para voltar a frequentar aquele meio,
agora que não era mais apenas uma socialite como antes.
Lembrei dos últimos meses e como, sem que eu nem mesmo
percebesse, mas sentindo cada dia o meu coração mais pesado e
triste, o tempo foi passando, deixando para trás os momentos mais
dolorosos e tristes após o meu divórcio.
A minha amizade com o Andrew foi algo que me ajudou a ir
me fortalecendo cada vez mais, nos tornamos mais próximos um do
outro, e o fato dele estar em um cargo hierarquicamente melhor que
o meu, nunca interferiu de maneira negativa em nossa relação.
Na verdade, Andrew estava sempre elogiando o meu
trabalho, o que me estimulava a melhorar cada dia mais e eu estava
progredindo bastante na minha nova função, conseguindo escrever
boas matérias e conseguindo realizar entrevistas interessantes, que
conseguiam cativar ao público.
—- E então? O que me diz? — Andrew perguntou, já no final
do expediente daquele dia. — Será a minha acompanhante
amanhã?
Olhei com atenção para o Andrew, admirando a sua beleza
suave, seu jeito sempre gentil de me tratar e concluí que deveria
aceitar o seu convite, afinal, já haviam se passado meses desde que
me separei do Edward e era chegado o momento de dar mais um
passo adiante.
— Tudo bem, Andrew. Eu aceito ser a sua acompanhante.
A minha resposta deixou um sorriso enorme no rosto do meu
colega de trabalho.
— Excelente, obrigada por pensar com carinho na minha
proposta. — ele agradece. — Nos vemos amanhã à noite, então.
Vou buscá-la às dezenove horas.
Mas não foi apenas o Andrew que ficou extremamente
satisfeito por eu ter aceitado o seu convite para sair, pois quando
contei à minha amiga Janet, ao chegar na sua casa naquela noite,
ela também ficou muito feliz em saber sobre a festa.
— Isso é maravilhoso, Beatrice! — Janet comemora, batendo
palmas em aprovação. — Finalmente você decidiu viver um pouco,
minha amiga. Precisamos sair para comprar um vestido novo para
você!
Apesar de concordar com a Janet sobre a necessidade de
comprar uma roupa apropriada para a ocasião, quando saímos
juntas no dia seguinte para fazer compras, nós discordamos em
todas as suas escolhas, assim como ela não aprovava nada que eu
mesma escolhi.
— Não gostei. — ela disse, olhando com desaprovação para
o vestido que escolhi.
Elas estavam fazendo algumas compras na loja preferida da
Janet e enquanto a sua amiga havia selecionado alguns modelos
mais ajustados ao corpo e com decotes e transparências, eu havia
optado por seguir o mesmo padrão de vestimenta que vinha usando
desde sempre, que consistia em modelos discretos, com
comprimento sempre abaixo do joelho mais fluidos no seu corpo.
— Mas eu me sinto mais confortável usando algo que já
estou habituada. — insisto.
— Precisa entender que não está mais casada, Beatrice. —
Janet diz, e apesar da dureza de suas palavras, o seu tom é
delicado.
Diante da insistência da Janet, acabo por aceitar a sua
escolha e quando me arrumo para esperar o Andrew chegar, é com
um dos vestidos que foram escolhidos pela minha amiga.
— Você está deslumbrante, amiga! — Janet diz, animada por
eu estar usando o modelo escolhido especialmente por ela — O
vestido é lindo e você está simplesmente perfeito.
— Obrigada. — agradeço, sentindo as bochechas quentes.
— Todos irão admirar a sua beleza na festa, tenho certeza. —
Janet diz, sorrindo.
Alguns minutos depois, Andrew chega para me buscar e
quando abro a porta para atendê-lo, ele me olha de uma maneira
que me deixa constrangida, e percebo que ele também se sente da
mesma forma.
— É… hum… boa…noite. — Andrew diz de maneira
pausada, praticamente gaguejando, o que sempre acontecia quando
ele ficava nervoso.
— Boa noite, Andrew. — eu o cumprimentei, sorrindo. — Já
estava à sua espera. Podemos ir?
— É… Cla-ro! — novamente ele fala de maneira insegura.
Eles se despediram da Janet e logo estavam já ao lado do
carro do Andrew e ele, de maneira gentil e simpática, abriu a porta
do carro para mim, algo que percebi que ele fez com grande
satisfação, diferente de Edward, que parecia sempre o fazer apenas
por mera questão de etiqueta, como uma obrigação qualquer.
Mas Andrew era sempre tão gentil, me tratava com
deferência, fazendo sempre com que me sentisse alguém especial e
única.
Dentro do carro, a caminho da festa, nós conversamos
tranquilamente, o clima era bastante agradável e tudo era tão
diferente de quando eu estava casada com o Edward, que sempre
parecia estar incomodado com a minha presença e fazia toda
questão de se manter em silêncio, sem nunca conversar comigo
sobre nada.
E quando chegamos ao luxuoso hotel onde estava
acontecendo o evento de gala, percebi que o lugar estava repleto de
pessoas com as quais eu já havia tido algum tipo de contato, no
tempo em que era casada com Edward Maddock, um dos homens
mais importantes de toda a Grã-Bretanha, mesmo que essas
ocasiões tenham sido raras.
A decoração do lugar estava perfeitamente encantadora e
tudo era muito bonito e requintado, assim como todas as pessoas
que ali estavam, e quando começamos a caminhar por entre os
convidados, Andrew segurou a minha mão, me deixando um pouco
apreensiva, já imaginando o que diriam as pessoas ao verem tal
cena.
A verdade é que eu não me sentia parte daquele mundo,
ainda mais agora, que não estava mais casada com Edward, e a
maioria das pessoas que estavam aqui deveriam ter conhecimento
desse fato, acredito até mesmo que estavam comentando sobre
isso, enquanto me encarava com seus olhos cheios de julgamentos.
Capítulo 4 – Eu não superei
Beatrice
Agora que eu estava no salão de festas, tinha a forte
desconfiança de que os olhares na minha direção eram todos
especulativos, e que o foco principal era o fato de o Andrew o
arrependimento começou a se fazer presente, me deixando
desconfortável.
Pensei seriamente em voltar atrás e ir embora o mais rápido
possível, mas Andrew teve a sensibilidade de perceber o meu receio
e com um simples olhar em minha direção, deixou claro que eu não
deveria me preocupar com nada, ele estava ao meu lado e isso era
tudo o que importava.
Aquela mensagem em apenas uma troca de olhar me deu
coragem de seguir em frente e enfrentar os olhares sobre nós.
Caminhamos juntos, as mãos unidas e Andrew foi
cumprimentando várias pessoas pelo caminho.
Pela forma que as pessoas o tratavam, era perceptível que
não era apenas o fato dele ser um homem rico e herdeiro de uma
grande fortuna que fazia com que todos o tratassem com respeito e
fizessem questão de ter um pouco da sua atenção, enquanto ele os
cativava com a sua gentileza e charme, assim como vinha
conseguindo fazer comigo.
O fato de Andrew estar sendo bastante requisitado por várias
pessoas na festa, acabou por me deixar alguns momentos a sós,
em meio a todas aquelas pessoas, e o desconforto inicial voltasse
com força total.
Eu não estava à vontade no meio de todas aquelas pessoas
com seus olhos julgadores, mas onde nenhum deles teve coragem
suficiente para vir até mim e perguntar aquilo que eles tanto
desejavam saber e considerei que o melhor era me dar um tempo a
sós, e resolvi ir até o banheiro, onde eu poderia me esconder, ao
menos por alguns minutos.
O banheiro era algo extremamente luxuoso, e entrei em um
dos reservados, e me sentei para tentar colocar os meus
pensamentos em ordem.
A minha paz não durou nem mesmo um minuto completo,
pois duas mulheres entraram no banheiro e com apenas uma frase
proferida, percebi que elas falavam sobre mim.
— É claro que ele não está mais com aquela mulher sem
graça. — disse uma delas. — Ainda não entendo como o Edward
passou tanto tempo com ela.
— Você viu que ela já estava de mãos dadas com Andrew
Smith? — a outra mulher comenta, e parece estar surpresa. — Ele
também não é de se jogar fora!
Eu não conseguia permanecer parada, apenas ouvindo
calmamente enquanto as duas mulheres falavam de mim daquela
forma tão maldosa.
Abri a porta do reservado de maneira abrupta, chamando a
atenção das duas mulheres, que não tiveram nem mesmo a
decência de parecerem envergonhadas por eu estar ouvindo o que
falavam de mim.
Mas apesar de estar muito chateada, eu não tive coragem de
as confrontar, e caminhei calmamente até a pia de mármore
elegante e lavei as mãos, enquanto elas me observavam com suas
expressões de cinismo velado.
Saí do banheiro me sentindo ao mesmo tempo atordoada e
envergonhada, pois aquilo que falavam conseguiu atingir um ponto
sensível em mim.
— Oh, desculpe!
Acabei por tombar em alguém no corredor, o que só me
deixou ainda mais atordoada.
— Beatrice!?
Era o Edward! O que ela mais temia, aconteceu… ela
encontrou o seu ex-marido naquela festa e agora estavam cara a
cara um com o outro, algo que ela desejava ardentemente evitar.
— Não imaginei que estaria aqui. — ele diz.
Eu não penso em responder ao seu comentário, só quero sair
dali o mais rápido possível, mas Edward me impede de fazer o que
desejo, ao segurar firmemente em meu pulso.
— Solte o meu braço, por favor. — eu peço, tentando
controlar o tremor na minha voz.
Edward faz o que pedi, e naquele momento, Andrew se
aproxima de nós, e sem perceber o clima de tensão reinante.
— Estava a sua procura, Beatrice.
Ele traz em seu rosto o seu sorriso simpático, seu tom é
delicado, mas logo ele se dá conta de quem está segurando o meu
pulso, e encarando Edward de modo direto, ele
— Oh! — Andrew demonstra surpresa com a cena à sua
frente, mas logo se recupera do choque e estende a mão para
Edward, em forma de cumprimento. — Andrew Smith.
— Edward Maddock.
Apesar de terem se dado as mãos em cumprimento, eles se
encaram como dois rivais em um ringue, mas logo uma loira, de
longos cabelos lisos e olhos verdes se aproxima do Edward,
encaixando o seu braço no dele e o olhando com curiosidade, mas
sem emitir nem mesmo uma única palavra.
— Vejo que não perdeu tempo. — Edward fala, em tom ácido,
olhando de mim para o Andrew. — Devo dizer que está de
parabéns.
— Você também está muito bem acompanhado. — eu
devolvo no mesmo tom.
A mulher que estava acompanhando o seu ex-marido é
ninguém menos que uma modelo francesa muito famosa, Mila
Durant, que por uma brincadeira do destino, ela havia entrevistado
no dia anterior.
— Peço desculpas, eu não a apresentei. Essa é Mi….
— Não há necessidade de apresentações, afinal, nós
estivemos juntas ontem à tarde, quando eu entrevistei a sua
acompanhante para uma matéria do jornal onde estou trabalhando
atualmente.
Mila Durant apenas sorriu em concordância, e sem nem
mesmo se dar ao trabalho de ser discreta, olha para o Edward com
uma nítida expressão de desagrado e pergunta:
— Sua ex-mulher, querido?
Andrew acaba abafando a resposta do meu ex-marido, ao se
aproximar de mim e segurar em minha mão novamente.
— Podemos ir, Beatrice?
— Claro!
Com grande alívio, eles se afastaram do casal, mas Beatrice
sentiu em suas costas o olhar quente de Edward, e tinha certeza de
que ele, assim como a modelo francesa, estava acompanhando os
seus passos, sem nem mesmo precisar virar de costas para
confirmar.
Edward sempre gostou das francesas, pensei com
desolação, lembrando da namorada que ele precisou deixar para
trás ao aceitar se casar comigo e no quanto ele não se abriu para a
possibilidade de ser feliz comigo, por ainda estar preso ao passado.
E no final das contas, enquanto eu preocupava sobre como
ele estava vivendo desde que se separaram, ele aparentemente
estava muito bem, seguindo com a sua vida de homem livre, rico e
solteiro, se divertindo com mulheres que ele realmente desejava.
Uma sensação de aperto no peito trouxe lágrimas aos meus
olhos, mas as controlei enquanto pude, e Andrew, mais uma vez
agindo como o cavalheiro que é, caminhou junto comigo em direção
a uma das varandas, em um lugar mais afastado das outras
pessoas e tentando consolar o pranto que agora descia
incontrolável.
— Eu sabia que não deveria ter vindo. — lamento — Já
imaginava que o Edward poderia estar aqui hoje e que não seria
fácil para mim vê-lo agora, quando os meus sentimentos ainda
estão tão confusos na minha cabeça.
— A culpa foi minha. — Andrew diz, encostado à grade de
proteção da varanda, assim como eu mesma também estava
admirando a noite. — Eu tinha tentado me antecipar a essa situação
e fui informado de que o Maddock estava fora do país.
A confissão do Andrew me pega totalmente de surpresa, mas
também me deixa emocionada com o seu carinho e preocupação
comigo, tentando me preservar da situação que acabou por
acontecer de qualquer jeito.
— Gostaria de ir embora. — eu peço, sem o encarar. —
Estou cansada. Foi uma longa noite.
— Claro. — ele concorda prontamente.
Quando chegamos em frente à casa dos meus amigos,
Andrew dá mais uma vez a volta no carro e abre a porta para mim,
como o homem gentil que ele é, e eu não poderia ficar com raiva
dele, pois ele estava com a melhor das intenções quando me levou
aquela festa.
— Obrigada por tudo, Andrew. — agradeço, já do lado de fora
do carro.
— Eu… hum-hum! — Andrew limpa a garganta e percebo
que ele pretende falar algo, mas está envergonhado e aguardo, em
expectativa. — Você está linda, Beatrice.
— Oh! — fala, surpresa ao perceber do que se tratava. —
Obrigada!
— Queria te dizer isso durante toda a noite, mas sou um
bobo e não disse antes. — Ele estava vermelho!
Eu também me sinto constrangida pelo momento e decidi me
despedir do Andrew, antes que aquilo fosse ainda mais longe.
— Nos vemos na segunda-feira? — digo, em tom de
despedida.
— Sim, com certeza. — ele concorda.
Mas ao invés de caminhar de volta para o carro, Andrew se
aproxima ainda mais de mim e, sem eu esperar, me dá um beijo
rápido na bochecha, se afastando logo em seguida e agora sim,
caminhando para o veículo.
— Até segunda-feira, Beatrice! — Disse, entrando no carro
Mas quando eu já estava deitada em minha cama, no quarto
de hóspedes da casa da Janet, a última coisa que passou pela
minha cabeça foi o beijo roubado pelo Andrew.
Tudo o que eu conseguia pensar era no Edward e no quanto
eu ainda o amava, apesar de todos os meus esforços para o
esquecer, e no quanto foi doloroso ver ele em companhia da modelo
francesa, que estava muito à vontade em seus braços, o que
indicava que eles já eram bem íntimos, como nós nunca fomos,
mesmo após três anos de casamento.
Enquanto eu me sentia à beira das lágrimas, o meu exmarido exalava felicidade por todos os poros, como nunca esteve
enquanto nós éramos casados e aquilo me machucava, tal qual uma
lâmina cortando o meu peito.
O fato é que Edward estava sempre introspectivo, triste e
abatido, nos poucos momentos em que ele estava em casa,
dividindo o seu tempo comigo, bem diferente de agora, quando o vi
na festa, radiante e aparentemente vivendo de maneira intensa a
sua nova vida, longe de mim e do peso da responsabilidade que ele
assumiu, ao aceitar um casamento por contrato.
Agora eu sabia que ir aquela festa foi uma péssima decisão,
que pôs fim a minha paz de espírito, exatamente quando eu
acreditava estar praticamente curada, conseguindo superar o fim do
meu casamento e o amor que eu sentia pelo Edward.
Agora, parecia que tudo tinha voltado à estaca zero e eu
precisaria de muita força de vontade para começar todo o processo
de novo.
Capítulo 5 – Encontro Inesperado
Beatrice
Após a noite da fatídica festa na qual fui com Andrew, me
sinto de volta ao dia seguinte do meu divórcio, quando cheguei a
casa de Janet me sentindo vazia e sem ânimo, e mesmo sabendo
que preciso seguir com a minha vida, mas deixaria isso para
amanhã.
Hoje é domingo, para o meu completo alívio, e penso
seriamente em passar todo o dia trancada no meu quarto, mas logo
ouço uma batida à porta do meu quarto e, consigo imaginar com
clareza de quem se trata.
— Está pensando em me deixar curiosa até quando, amiga?
— Janet pergunta, confirmando a minha suspeita. — Quero saber
tudo o que aconteceu ontem naquele baile!
Suspiro resignada, e tento me levantar, ao menos até ficar
sentada de encontro ao encosto da cama, e a minha amiga faz o
mesmo, sentando-se ao meu lado.
— Pela sua cara de enterro, vejo que não foi nada agradável.
— Janet percebe que não estou com o meu melhor humor.
— Encontrei com o Edward na festa. — eu conto, deixando
que ela perceba o quanto aquilo me afetou.
— Mas nós suspeitávamos de que ele poderia estar presente.
— Ele estava acompanhado de Mila Durant e os dois
pareciam ser bem íntimos. — conto, e Janet cobre a boca com a
mão, horrorizada.
— Que pena, Beatrice! — ela se compadece da minha
situação. — Pelo jeito, ele realmente gosta das francesas, não é
mesmo?
Apesar da ironia velada das palavras da minha amiga, eu
também tinha chegado à mesma conclusão e aquilo estava
realmente me deixando magoada.
— Penso que você deveria tentar esquecer o que houve e
voltar a viver como se Edward não existisse. — ela sugere, tentando
me animar. — Por mais que você o ame, Beatrice, não deve deixar
que ele perceba que ainda tem o poder de te afetar e o quanto você
ainda o ama.
Ouvi os conselhos da minha amiga com total atenção e
concluí que ela estava certíssima. Eu não poderia deixar que o
Edward soubesse o quanto eu estava sofrendo por ver que ele já
está seguindo com a vida dele, como se eu nunca tivesse existido e
faria o mesmo.
Quando chegou a segunda-feira, já de volta ao trabalho, me
entreguei com determinação ao meu trabalho, procurando agir de
maneira profissional e ser a melhor jornalista que aquele jornal já
teve.
— Como você está? — Andrew me pergunta, ao entrar na
minha sala no final do expediente.
— Estou ótima, obrigada — Eu finjo estar bem, mesmo que
os meus pensamentos estejam bem longe dali.
— Posso te levar em casa? — ele oferece, de maneira gentil.
— Eu aceito sim, a sua carona.
Após aquele dia, Andrew passou a me levar em casa sempre
que estava em Londres e nós fomos nos aproximando cada vez
mais.
Nós éramos bastante compatíveis e gostamos das mesmas
coisas e assuntos, e quando Andrew me convidou para jantar, eu
não fiquei nenhum pouco surpresa.
— Isso é um encontro? — pergunto, tentando descontrair o
seu jeito sério.
Andrew é um homem muito bonito e gentil, e eu já tinha
percebido que ele chamava bastante atenção de outras mulheres,
sempre que estamos juntos, mas ele nunca prestava atenção ao
fato, pois os seus olhos verdes estavam sempre em mim, o que me
deixava feliz, pois eu não tive tal privilégio com o homem que foi o
meu marido por três anos.
— Sim, eu gostaria de te levar em um encontro. — ele
confirma.
Como sempre acontece quando estamos juntos e falamos,
mesmo que timidamente, sobre a nossa relação, ele está
visivelmente nervoso e até mesmo com o rosto vermelho.
— Você aceita sair comigo, Beatrice?
— Claro. Será maravilhoso sair para jantar com você,
Andrew.
Sorriu em sinal de prazer e Andrew devolve o meu sorriso,
agora parecendo mais à vontade.
— Passo na sua casa às dezenove horas. Está bom para
você?
— Está ótimo.
Nós combinamos os detalhes do nosso jantar e no horário
marcado, ele está em frente à casa da Janet para me buscar.
O jantar foi excelente e nós conversamos muito, e mais uma
vez, Andrew segura a minha mão, desta vez por sobre a mesa, e
sorrimos um para o outro em entendimento.
Passa um pouco das vinte e duas horas quando Andrew vai
me deixar em casa, e ainda dentro do carro, trocamos mais algumas
palavras.
Eu me sinto leve, como há muito tempo não me sentia e
aquilo se deve a companhia agradável do meu grande amigo, e
quando ele toca o meu rosto de maneira delicada, eu não me
esquivo ao seu carinho.
— Espero que possamos sair novamente em breve. — ele
sugere, enquanto coloca uma mecha dos meus cabelos atrás da
orelha. — O que me diz?
— Acho uma ótima ideia. — eu aceito prontamente.
— Até amanhã, Beatrice.
Antes que eu possa responder, Andrew traz a sua boca de
encontro a minha, e toca delicadamente os meus lábios, em um
beijo casto de início, mas que se torna mais intenso à medida que
abro um pouco mais a minha boca.
— Obrigada pela noite maravilhosa. — ele diz, ao afastar os
nossos lábios.
Seus olhos brilham ao olhar para mim e eu me sinto
realmente amada por ele, mesmo que ele não tenha dito as
palavras.
— Até amanhã. — Me despeço, saindo do carro um pouco
atordoada pela intensidade das emoções que ele conseguiu me
despertar.
Nos dias que se seguiram, Andrew continuou a me deixar em
casa após o trabalho e quando chegou a quinta-feira, mais uma vez
ele me convidou para jantar com ele.
— O que me diz e saímos amanhã à noite? — pergunta, em
expectativa. — Pensei que poderíamos ir ao teatro e depois jantar.
— Sim, eu acho uma ótima ideia. Tenho certeza de que será
muito agradável. — digo, me sentindo tímida ao lembrar do nosso
último encontro e o beijo que trocamos quando ele me deixou
naquele mesmo local em que estamos agora.
Nós combinamos então de sair à noite seguinte e eu fui
dormir pensando sobre o nosso próximo encontro e se ele iria me
beijar novamente, desejando ardentemente que eu conseguisse
esquecer o Edward logo de uma vez.
Mas no dia seguinte, já no final do expediente, Andrew me
mandou uma mensagem avisando de que precisava se ausentar de
Londres, por precisar resolver alguns negócios importantes e
desmarcou o nosso encontro.
— Não posso acreditar que ele vai desmarcar o nosso
compromisso assim de última hora! — falei para mim mesma, a
indignação me fazendo suspirar contrariada.
Nesse caso, ele também não poderia me levar em casa,
decidi então pegar um táxi, só assim talvez eu conseguisse me
acalmar e até mesmo pensar um pouco, com tranquilidade.
Pelo visto, Andrew e Edward são iguais e tudo o que importa
são os seus negócios importantes, e eu também não sou prioridade
na vida do meu novo pretendente.
Estou tão imersa em pensamentos, que acabo não prestando
atenção para onde o motorista do táxi está me levando, e quando
percebo, ele está parando o carro em frente a um dos hotéis mais
luxuosos de Londres e sem que eu pudesse ao menos ter alguma
reação, a porta do veículo é aberta e sou levada para fora do carro.
— O que está acontecendo aqui? — ainda consigo perguntar.
São pelo menos quatro homens altos e desconhecidos, todos
usando terno sem gravata e imagino que parecem seguranças
particulares e começo a me debater, ao sentir a pressão que um
deles faz em meu pulso, me mantendo presa.
— Me solta!
Tento chamar a atenção de alguém, mas estou sendo cativa
do cerco ao meu redor, e antes que possa fazer um escândalo e
gritar a plenos pulmões, como tinha pensado, eu sinto um pano ser
encostado a minha boca e nariz e não vejo mais nada.
*******❤ *******
Uma estranha claridade me desperta e chega até mesmo a
doer em meus olhos sensíveis, e os abro lentamente, e logo as
lembranças do que aconteceu me tomam de assalto, me deixando
atordoada e com medo.
Olho em torno do quarto desconhecido, mas extremamente
luxuoso e me pergunto onde estou e o que aqueles homens fizeram
comigo, pois aparentemente, eu tinha sido sequestrada em plena
luz do dia e inacreditavelmente diante de várias pessoas.
Ouço passos abafados vindos do corredor e o medo se
intensifica, me fazendo tremer de pavor, e coisas horríveis passam
pela minha cabeça naquele momento.
Eu não estou amarrada, mas ainda assim eu sei que estou
presa e à mercê de quem quer que tenha a mínima ideia de quem
seja, mas algo me diz que logo irei conhecer o meu raptor.
Parece até que tudo está acontecendo em câmera lenta,
quando a porta do quarto vai se abrindo, até que eu fico cara a cara
com ninguém mais, ninguém menos que o meu ex-marido.
— Edward! — digo, alarmada, ficando de pé no meio do
quarto.
— Como está, Beatrice? — ele pergunta de maneira
extremamente cínica, um sorriso no canto da boca. — Espero que
esteja bem.
— O que faz aqui? — Eu não respondo a sua pergunta, pois
me sinto perdida. — Veio para me resgatar?
O que o Edward estava fazendo ali? Ou melhor, o que
estávamos fazendo os dois naquela suíte luxuosa de hotel?
Ele também não responde aos meus questionamentos e se
aproxima de mim a passos largos, ficando muito próximo e eu me
sinto sufocada com a sua presença, pois os meus pensamentos,
bem como o que eu estava sentindo naquele momento é totalmente
contraditório e confuso.
— Qual a sua relação com o Smith, Beatrice? — ele pergunta
de modo rude.
— A minha relação com Andrew só diz respeito a nós e a
ninguém mais! — eu respondo bravamente.
— Mas eu preciso saber o que há entre vocês dois! — ele
insiste, me segurando de maneira firme pelos dois braços e
trazendo seu rosto bem próximo ao meu. — Diga-me, vocês são
amantes?
Eu o encaro chocada com aquela sugestão grotesca, sem
poder acreditar no que está acontecendo naquele momento.
— Já disse que não devo satisfações sobre o que faço ou
não da minha vida. — repito, me debatendo para sair do seu agarre.
— Considera que isso seja apropriado para uma mulher que
se dá ao respeito, Beatrice? — Edward insinua, mostrando algo em
seu celular.
Só então eu paro de me debater e pego o aparelho de suas
mãos, onde vejo fotos do Andrew e eu aos beijos, em cenas que
realmente não aconteceram!
— Isso é impossível! — aponto, sem entender como pode ser
possível a existência de tais imagens.
— Eu exijo que me respeite, Beatrice! Não vou aceitar tais
atitudes de sua parte.
— Não devo satisfações da minha vida a você, Edward. —
grito em resposta. — Nós não somos mais casados e eu sou livre
para fazer o que bem quiser. Como pode falar de mim, quando você
estava no baile abraçado com outra? Uma francesa!
— É totalmente diferente do que você está fazendo com a
sua vida, Beatrice. E digo que você está redondamente enganada e
que me deve explicações sim’. — ele diz, me deixando ainda mais
tensa. — Eu não assinei os papéis do nosso divórcio. Nós ainda
somos casados.
— Não posso acreditar que foi capaz de me deixar na
ignorância sobre isso por todo esse tempo, Edward. — eu digo,
indignada com a sua atitude mesquinha.
— Eu a quero de volta, Beatrice.
— Mas eu não o quero mais!
— Farei com que se apaixone por mim de novo.
Sem que eu esperasse, ele me beija de maneira impetuosa,
me deixando totalmente sem ar.
Capítulo 6 – Pequeno aviso
Beatrice
Toda a situação em torno do meu sequestro foi bem estranha
e eu não consegui realmente compreender as intenções do Edward
ao tomar tal atitude.
A todo o momento as cenas do que aconteceu no quarto de
hotel voltavam a me perseguir e eu não estava conseguindo me
concentrar em nada durante aquele fim de semana.
Relembro o nosso beijo e do que ele me falou, exigindo que
eu não voltasse a me encontrar com o Andrew novamente.
Ainda não consegui entender como ele pôde não assinar os
papéis do nosso divórcio e eu não ter ficado sabendo disso até
aquele momento.
Depois do seu aviso, ao mostrar as fotos do meu encontro
com o Andrew, Edward havia me enviado para casa da Janet
através do seu motorista e eu ainda estava atordoada, quando me
reuni para tomar café da manhã com a minha amiga.
— O que acha, Beatrice? — Janet pergunta, chamando a
minha atenção, ao segurar o meu pulso de maneira delicada.
Eu a encaro sem ter a menor ideia do assunto em questão e
fico envergonhada por não estar atenta ao que a minha melhor
amiga está conversando comigo.
— Estou perguntando o que você acha de pintar o quarto do
bebê de verde. — ela esclarece, me encarando com um amplo
sorriso.
Janet está grávida de trinta e cinco semanas e o nascimento
do bebê já está relativamente próximo, mas pelo visto, ela estava
pensando em trocar o branco do papel de parede por algo verde, o
que me trouxe um sorriso aos lábios.
— Mas já está tão perto, faltam apenas algumas semanas
para o bebê nascer. — eu opino, sem conseguir realmente pensar
em nada melhor para dizer.
— Mas foi você mesma que considerou o quartinho um pouco
sem graça, amiga! — ela reclama, parece triste com o meu e
esquecimento.
— Tem razão! Me perdoe, eu realmente havia esquecido
esse detalhe.
Os meus amigos optaram por não saber o sexo do bebê
antes do parto e eu realmente havia comentado alguma cor neutra,
tendo em vista esse fato.
— Você está muito distraída desde que chegou ontem à
noite, Beatrice. — Janet aponta, parecendo intrigada. — Aconteceu
algo?
Penso um pouco antes de contar sobre o que aconteceu,
mas acabo por contar a Janet sobre o que aconteceu no dia
anterior.
— Minha nossa! — Janet parece em choque ao ouvir o meu
relato. — Jamais poderia imaginar que o Edward foi capaz de algo
assim.
— Eu também não. — concordo com ela. — Mas ele deixou
bastante claro que não devo me envolver com o Andrew fora do
trabalho e isso me deixou bastante preocupada.
Janet sorri, parece encantada com a atitude do Edward.
— Enfim, ele percebeu que você é a mulher que ele ama! —
ela parece bastante surpresa e até mesmo animada, por saber o
que Edward fez.
— Estou tão confusa, Janet. — digo, cobrindo o rosto com as
mãos. — Não sei o que pensar.
— Ele está apaixonado, amiga. É isso o que está
acontecendo. — Janet diz, sorrindo. — Mas acho que ele chegou
um pouco tarde, é isso?
Eu penso um pouco antes de responder, mas as emoções
estão alvoroçadas e realmente não sei o que dizer.
— Não sei, Janet. — confesso, e o meu tom deixa
transparecer um pouco da confusão perturbadora de sentimentos.
Nós terminamos de tomar o café da manhã em silêncio, cada
uma absorta em seus próprios pensamentos e durante todo o fim de
semana, continuei a me sentir insegura sobre os rumos da minha
vida a partir de agora.
O que o Edward desejava de fato? E a mulher que estava o
acompanhando no evento, qual a relação entre eles? Eram tantas
perguntas sem respostas!
Andrew
Devido alguns negócios urgentes, acabei por desmarcar o
meu encontro com Beatrice e após retornar para Londres, constatei
que ela estava chateada comigo, provavelmente por esse mesmo
motivo.
Tentei ligar para ela, como também enviei mensagens, mas
Beatrice não me atendeu em nenhuma das vezes e tampouco
respondeu as minhas mensagens e agora eu me sentia preocupado,
pois eu estava realmente apreciando a sua companhia e sentia que
a nossa relação estava se fortalecendo um pouco mais a cada dia
que passava.
Agora, tudo mudou e parece que voltamos ao primeiro nível.
No sábado à noite, acabo então por aceitar sair para jantar
com um antigo amigo, com quem tenho grande amizade e quando
chego ao restaurante, vejo o ex-marido da Beatrice, Edward
Maddock e aquilo consegue piorar ainda mais o meu humor, que já
não estava dos melhores.
— Conhece o Maddock pessoalmente? — Justin Campbell,
com quem cursei a faculdade em Oxford, pergunta.
Não é estranha a sua questão, afinal, Maddock não tirava os
olhos da minha mesa e aquilo já estava me incomodando
demasiadamente.
De qualquer forma, me mantive à parte e tentei não encarar o
meu rival, para não gerar ainda mais tensão, pois sou um cavalheiro
e jamais entraria em uma briga em um local público.
As minhas boas intenções não duraram por muito tempo, pois
quando estava saindo do restaurante, agora sozinho, pois o carro do
Campbell foi o primeiro a ser trazido pelo manobrista, sou abordado
pelo Maddock, que está visivelmente irritado.
— Quero falar com você em particular, Smith. — Não é um
pedido e aquilo me deixa também bastante contrariado.
Considerando-se que não havia uma companhia ao meu
lado, nós já estávamos conversando a sós, mas não apontei aquele
fato.
— Não tenho nada para tratar com você. — Eu deixo clara a
minha posição, pois sinto que ele está em busca de confusão.
Não iria bater boca com o Maddock, mas também não
aceitaria que ele tentasse me pressionar de alguma forma.
Antes que eu pudesse me defender, tendo em vista que eu
não esperava por tal atitude partindo dele, Maddock me acertou um
soco, que eu revidei de maneira totalmente instintiva.
Logo tínhamos dois seguranças nós afastando um do outro, e
um Maddock bastante irritado avisa:
— Exijo que se afaste da Beatrice! — ele me intima, o dedo
em riste em direção ao meu rosto. — Não o quero próximo a ela,
está me entendendo?
Eu acabo por soltar uma gargalhada sem humor, diante de
tamanho absurdo.
— A Beatrice é uma mulher livre, Maddock. — digo, o
contrariando. — É ela quem decide as pessoas de quem ela se
aproxima, ou não.
Nesse momento, eu exijo que o segurança me solte, o que
ele faz, mas permanece ao meu lado, e vejo que Maddock faz o
mesmo, me encarando com ódio no olhar.
Nós já estamos do lado de fora do restaurante, e não há
muito o que ser feito por parte dos dois homens.
— Vocês estão tendo um caso, é isso? — ele pergunta,
bastante alterado.
Penso em negar, afinal, foi apenas um beijo que trocamos e
eu não desejava ter um “caso” com a Beatrice, pois as minhas
intenções eram as mais sérias possíveis.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Maddock expõe
uma foto, onde estamos a Beatrice e eu aos beijos, e vejo que se
trata da única vez em que aquilo aconteceu, pois estamos dentro do
meu carro, parados em frente à casa da Janet, amiga dela.
— Você a está seguindo!? — é mais uma constatação do que
uma pergunta, propriamente.
Sinto-me extremamente indignado, pois tenho a mais
absoluta certeza de que ele estava seguindo a Beatrice, o que é
bastante preocupante, na verdade.
— A Beatrice é minha mulher, e tenho todo o direito de saber
por onde ela anda e com quem ela sai.
Ele não parecia estar blefando, o que me deixou bastante
confuso, pois a Beatrice tinha me contado que eles estavam
divorciados.
— Isso é ela que tem que me dizer. — eu digo de maneira
afrontosa.
De qualquer forma, o manobrista me entregou as minhas
chaves e eu caminhei lentamente em direção ao meu carro, pois
não queria que ele pensasse que eu tinha medo dele.
Eu não tenho, nenhum pouco.
Mas jamais iria me envolver com uma mulher comprometida,
caso o que ele estivesse falando fosse realmente verdade.
Mas eu estava verdadeiramente apaixonado pela Beatrice e
se fosse necessário, eu a esperaria pelo tempo que fosse
necessário, pois jamais iria envolvê-la em uma relação clandestina.
Capítulo 7 – Reviravoltas
Andrew
Após as palavras do Maddock, na segunda feira a primeira
coisa que faço é ir à procura da Beatrice, para buscar uma
explicação sobre as palavras do seu ex-marido e tenho a frustrante
confirmação de que ele estava falando a verdade é que eles
realmente continuam casados.
—- Cretino! — praguejei em voz alta, sem conseguir me
conter. — Desculpa, Beatrice. Não deveria falar esse tipo de coisa
na sua presença.
Ela parece envergonhada e seu rosto está ruborizado e eu
me sinto mal por minha falta de controle, mas a raiva tinha me
dominado naquele momento.
Como ele pôde simplesmente não assinar os papéis e agora
querer tomar o seu lugar ao lado da Beatrice? Aquilo é inadmissível,
e eu não pretendo desistir dela de forma alguma.
— Mas você pretende ir em frente com o divórcio? — A
resposta àquela pergunta é o que de fato é mais importante para
mim.
— Claro que pretendo ir em frente. — ela afirma, me
deixando mais aliviado.
Depois dessa conversa, nós acabamos nos afastando um
pouco e alguns dias depois, quando chego ao escritório após o final
do expediente, não consigo resistir e vou até a sala da Beatrice, ao
menos para ver um pouco o seu belo rosto, em uma fotografia que
ela tem em cima da sua mesa.
Para a minha grande surpresa, a encontrei cochilando, a
cabeça deitada em cima da sua mesa de trabalho e as mãos ao
lado do seu rosto bonito e agora, amassado e vermelho.
Não consigo resistir, ela parece uma bela adormecida e
penso em beijar os seus lábios, ao menos um toque, mas quando
estou a milímetros de distância, as palavras do Maddock vêm a
minha cabeça e desvio a minha boca e toco em seu rosto delicado.
Eu só voltaria a beijar a Beatrice quando pudéssemos fazer
aquilo de maneira honesta, sem maiores danos.
Beatrice
Os últimos dias têm sido muito desgastantes e eu tenho
trabalhado em excesso, para atender toda a demanda por furos de
notícias das celebridades nacionais e até mesmo das internacionais.
Como também não tenho dormido bem nas últimas noites,
acabo adormecendo em cima da minha mesa de trabalho, sem ao
menos perceber o que estava fazendo.
Desperto após algo cálido tocar o meu rosto e me assustou
terrivelmente com tão inesperada sensação.
— Desculpe, não queria te assustar. — Andrew diz, seu rosto
a poucos centímetros de distância do meu.
Fiquei apreensiva com aquilo, pois as palavras do Edward
não saiam da minha cabeça e me afasto rapidamente, bastante
nervosa.
— Eu acredito que devo pedir desculpas a você, por estar
dormindo em pleno horário de trabalho — falei, me sentindo muito
constrangida por ser pega em uma situação tão imprópria.
Andrew olha para o relógio em seu pulso e sorri em minha
direção.
— Na verdade, o horário de expediente já se encerrou faz
bastante tempo. — ele fala com um sorriso divertido.
Fico alarmada com a sua informação e olho para o meu
próprio relógio, constatando que ele está certíssimo e que já está
bastante tarde, na verdade.
—- Preciso ir embora! — falo, horrorizada por ter dormido
tanto assim.
— Não deve ficar tão mal assim, imagino que tem trabalhado
bastante nos últimos dias — Andrew diz, mostrando mais uma vez o
quanto é um homem gentil e compreensivo.
— Mas nada justifica ter dormido aqui no escritório, eu
realmente sinto muito — insisto, coberta de vergonha — Até
amanhã.
Eu me despeço, juntando as minhas coisas de maneira
apressada e não espero por sua resposta, tampouco deixo que ele
tenha a oportunidade de me oferecer uma carona para casa.
Eu não quero mais problemas com o Edward pois,
honestamente, eu não sei do que ele é capaz, depois da história
surpreendente do sequestro, e prefiro não arriscar que algo mais
possa acontecer.
Quando chego em casa, vou diretamente para o meu quarto,
me sentindo desorientada após a cena com o Andrew no escritório,
ainda mais quando já fazia dias que ele estava se mantendo
distante de mim, o que eu realmente agradeci.
Estava tudo tão confuso na minha cabeça, que a tentativa de
aproximação do Andrew só iria complicar ainda mais toda a minha
situação.
Depois de trocar a roupa de trabalho por uma mais
confortável, desço ao andar inferior da casa, à procura dos meus
amigos, mas não encontro a Janet, tampouco o Charles e sinto a
preocupação me invadindo.
Lembro então que o meu celular estava sem carga e logo
voltei ao quarto, colocando-o na tomada e ligo o aparelho para
constatar as várias chamadas perdidas dos meus amigos,
informando que estão no hospital.
Fico ainda mais apreensiva agora, imaginando mil cenários
diferentes, ao saber que a minha amiga havia entrado em trabalho
de parto de maneira prematura.
Bastante nervosa, pois a situação poderia ser bastante séria,
eu tento a todo custo encontrar um táxi, mas já está bastante tarde e
não consigo encontrar nenhum deles disponível.
O medo do que pode ter acontecido com a minha amiga e o
seu bebê é enorme, e quando tocam a campainha, chego a ficar
nervosa, antecipando mil coisas horríveis.
— O que faz aqui? — pergunto para o visitante indesejado.
A pessoa era ninguém mais, ninguém menos, que Edward,
que estava mais lindo do que nunca, usando um terno completo na
cor cinza chumbo e uma gravata vermelha, que se destacava na
sobriedade do traje.
— Soube que a Janet foi levada às pressas para o hospital.
— ele explica, me deixando boquiaberta. — Posso te levar lá, se
você desejar.
Estar diante do Edward, ainda mais no estado de nervos em
que me encontro, é algo que me deixa ainda mais instável e
insegura, pois há tantas coisas acontecendo entre nós agora, que
eu não sei nem mesmo o que esperar daquele homem lindo e frio.
Eu gostaria muito de ter recusado a generosa oferta, mas
diante da dificuldade em encontrar um outro meio de transporte,
rápido e eficiente, acabo aceitando a oferta e entro no carro do
Edward.
Mas estar no mesmo carro que o Edward, olhando para o seu
perfil compenetrado na direção, me desperta várias sensações
diferentes, mesmo sabendo o quanto aquilo é errado e totalmente
fora de hora.
Para o meu conforto, a viagem até o hospital é rápida e
silenciosa, mas o clima é tenso e me sinto desconfortável ao seu
lado, pois ainda além de ainda ser bastante recente e dolorosa a
nossa separação, agora tudo mudou e eu não tenho mais certeza
sobre nada.
Quando chegamos ao hospital, com bastante facilidade eu
encontro o mais novo papai e sou liberada para visitar a Janet, que
já teve o bebê e me sinto realmente feliz por ver que os dois estão
bem, apesar de tudo.
—- Esse rapaz é muito apressadinho. — digo para o bebê,
que permanece quietinho em meus braços. — Já decidiram qual vai
ser o nome? Afinal, é um rapaz muito bonito e merece um nome à
sua altura!
— Archie — Janet diz, visivelmente emocionada com a
chegada do seu primeiro filho.
Eu também me sinto estranhamente emocionada com o bebê
indefeso e minúsculo em meus braços, e meus olhos chegam a ficar
marejados pelo amor que ele consegue me despertar, apenas por
tê-lo ali, comigo.
— Eu escolhi o nome. — Charles diz, parecendo muito
satisfeito consigo mesmo. — Você gostou?
— É um lindo nome. — digo, e estou sendo bastante sincera.
Ver aquele casal unido em torno do seu bebê é algo que
mexe com as minhas emoções e quando a enfermeira pede com
bastante delicadeza para que eu deixe o quarto, pois o horário é
completamente impróprio para visitas, eu me sinto até mesmo um
pouco triste, ao pensar no meu casamento fracassado e nos filhos
que eu gostaria de ter tido com o meu marido.
De volta a sala de espera do hospital, fico novamente
surpresa por encontrar ainda o Edward lá, como se estivesse me
aguardando.
—- Posso te levar de volta para casa. — ele oferece,
bastante solícito.
Eu não sei mais o que esperar daquele homem, ele só pode
estar tentando tirar a minha sanidade mental!
Mas o meu coração traiçoeiro não entende todas as
implicações da situação e bate descompassado dentro do peito.
Eu gostaria realmente de recusar, pois quanto mais contato
eu tenho com o Edward, mas o sentimento que tenho por ele
cresce, mas eu sei que dificilmente irei encontrar um táxi a essa
hora da noite, e acabo novamente aceitando a sua estranha
gentileza.
— Porque você me sequestrou, Edward? — pergunto,
quando ele para o carro em frente à casa da Janet. — O que você
pretendia com uma atitude tão descabida como aquela?
Ele apenas me encara em silêncio, sem responder o meu
questionamento e eu aproveito que o carro já está parado e saio do
veículo, bastante contrariada.
Quando abro a minha bolsa em busca das minhas chaves,
não as encontrei e só então eu percebo que não as trouxe comigo,
na pressa para ir até o hospital.
—- Algum problema?
Novamente o Edward, tentando bancar o cavaleiro que salva
a donzela em apuros e, mesmo que eu não queira admitir, aquilo
mexe comigo.
Eu me sinto nervosa em sua presença, os meus sentimentos
em polvorosa.
—- Não consigo achar as minhas chaves. — explico,
mexendo na bolsa em busca do molho de chaves.
— Como fará para entrar em casa, agora? — ele pergunta.
Eu não sei como farei, mas olhando em torno do terreno, vejo
a árvore que fica bem ao lado da janela do meu quarto, no primeiro
andar, e lembro que não a fechei, quando saí apressada para o
hospital naquela noite.
Pensei em subir, pois ela não era tão alta assim e seus
galhos pareciam ser firmes, mas quando caminho até próximo da
árvore, não consegui nem mesmo chegar até o primeiro dos galhos.
— Quer ajuda? Posso tentar subir. — Edward se prontifica.
— Não é necessário. — recuso, ele já fez demais por hoje.
A verdade é que ele está tentando se aproximar de mim de
qualquer jeito, mas eu não o desejo mais em minha vida.
Mas fingir que não o amo mais é muito complicado, quando
ele está sempre por perto, como agora e também é doloroso.
Sinto o frio da noite me assaltar e coloco os braços em torno
do meu próprio corpo, e logo que percebe o que está acontecendo,
Edward se aproxima ainda mais de mim e senti seus braços firmes e
grandes me rodarem.
Era bom estar nos braços dele, mas eu não podia aceitar
isso, uma vez que não havia mais possibilidade de ficarmos juntos,
depois de tudo o que já aconteceu entre nós dois, então me afasto
do conforto quente e aconchegante do seu abraço.
— Está muito frio agora e a sua roupa não é apropriada para
esse tempo. —- ele aponta o óbvio.
Na pressa para ir ao hospital, acabei não pegando nenhum
casaco antes de sair de casa e eu realmente não esperava ter que
ficar exposta por tanto tempo ao frio, ainda naquela noite.
Eu permaneço firme e não aceito que ele tente me
“esquentar”, pois não há a menor chance de que eu venha a entrar
em seu jogo novamente.
Acredito que ele percebe que não vai conseguir me ganhar
daquela maneira, pois ele logo parece disposto a me ajudar.
— Vamos encontrar alguma forma de você entrar em sua
casa, então. — São suas palavras.
Edward também me entrega o seu próprio casaco, e mesmo
desejando recusar, como fiz com as suas outras investidas, eu
acabo aceitando, pois estou tremendo de frio já e ele tem outras
camadas de roupas sobre o corpo, não ficará tão exposto quando
eu mesma estou agora.
— Obrigada. — agradeço de maneira sincera.
Ao invés dele me entregar o seu casaco, ele faz questão de
me ajudar a vestir e como a peça é bem maior que o meu tamanho,
dessa vez eu aceito a sua oferta generosa de ajuda.
—- Agora, vamos tentar entrar. — ele diz, exibindo o seu
lindo sorriso e mexendo com as minhas emoções.
— Vamos!
Capítulo 8 – Ele me quer
Beatrice
Apesar de todo o esforço do Edward, nós não conseguimos
entrar na casa onde estou morando e devido ao adiantado da hora,
não achei conveniente retornar para o hospital, apenas para buscar
a chave dos meus amigos, pois não queria os incomodar daquela
maneira.
Ainda assim, quando Edward me convida para ir para a casa
que dividimos por três anos, eu não considerei a minha melhor
opção no momento.
— Não acho uma boa ideia, Edward. — eu disse, bastante
insegura sobre os meus sentimentos diante de tal possibilidade.
— Não vejo uma opção mais conveniente do que essa,
Beatrice. — ele insiste. —- Vamos, prometo que não vou fazer nada
que você não queira.
O problema era justamente esse, pois eu queria, e muito!
Mas eu não deveria querer e aquilo me amargurava, pois,
voltar à casa onde vivemos durante o nosso casamento, me traria
muitas recordações amargas e que fariam com que eu me sentisse
triste, verdadeiramente deprimida.
— Prefere voltar ao hospital e pegar as chaves do Charles?
— Edward oferece, mesmo sabendo que aquela não é uma boa
ideia.
Diante de sua oferta, percebo que ele tem boas intenções e
que estou fazendo uma tempestade em copo d’água, afinal, durante
três longos anos, ele nunca se aproximou de mim, não seria agora
que ele o faria.
Com esse pensamento em mente, aceito a sua oferta e
entramos novamente em seu carro, agora em direção a minha
antiga morada e de onde eu não tenho nenhuma boa recordação.
Quando chegamos a mansão do Edward, me sinto vazia e
triste, ainda mais do que eu imaginei, e até mesmo o frio que eu
estava sentindo antes, se tornou insuportavelmente mais torturante.
— Vou aumentar a temperatura do aquecedor. — Edward
avisa e eu considero o seu gesto bastante atencioso. — Vejo que
ainda está com muito frio.
— Obrigada. — é tudo o que consigo dizer naquele momento.
Depois de regular a temperatura do aquecedor da sala,
Edward me encara de uma maneira diferente e me sinto
desconfortável com a forma que ele está me olhando, e cruzo os
braços em frente ao peito.
— Vou preparar o seu antigo quarto. — ele diz e eu agradeço
mais uma vez pela sua atenção.
Edward sob as escadas de dois em dois degraus e eu
permanece de pé, o esperando na sala de estar enorme da mansão,
que parece ainda mais fria do que antes, e mais uma vez as
recordações amargas me inundam, e eu balanço a cabeça tentando
afastar os pensamentos desagradáveis.
Alguns minutos depois, ele está de volta, e sorri para mim,
fazendo um gesto para indicar que devo subir também.
— Vem. — ele me chama, do alto da escada. — O seu quarto
já está bem quentinho, apenas à sua espera.
A maneira como ele diz aquelas palavras é charmosa demais
para que eu possa manter a minha sanidade, e me sinto ainda mais
confusa do que antes, diante deste Edward completamente disposto
a me agradar de todas as formas.
Busco novamente o meu autocontrole e subo os degraus
lentamente, sem pressa alguma de chegar ao topo, onde me espera
o homem que já me destruiu antes, e que agora tenta me
enlouquecer.
Edward me esperou caminhar à sua frente, para só então me
seguir e quando entrei em meu antigo quarto, antes que eu pudesse
fechar a porta, ele entrou junto comigo, me surpreendendo uma vez
mais naquela noite.
— Se desejar, posso te fazer companhia… posso ser
bastante útil, quem sabe até mesmo esquentar os seus pés gelados.
— ele me provoca, com um sorriso tentador em seus lábios.
— Agradeço bastante por sua oferta gentil, mas eu posso
esquentar os meus próprios pés. — eu recuso, tentando usar o
mesmo tom leve que ele.
Fingir que não sentia nada diante das investidas daquele
Edward divertido era algo muito difícil, porém bastante necessário.
Eu não poderia permitir que ele me magoasse novamente,
justamente quando eu estava quase curada de todas as feridas
causadas por ele mesmo.
— Se mudar de ideia, só precisa chamar. Estou logo ali, atrás
daquela porta. — ele indica a porta do seu quarto, que fica bem ao
lado da minha.
Eu dou um breve sorriso de condescendência, tentando
parecer despreocupada, fingindo que a sua provocação não me
perturba, quando na verdade eu estou completamente perdida e
apavorada, diante do turbilhão de emoções complexas que estão
me afligindo naquele exato instante.
— OK. — Respondo apenas.
Somente então Edward libera para que eu possa fechar a
porta do quarto e eu me encosto a madeira, tentando controlar as
batidas desenfreadas do meu coração tolo, que se deixar enganar
pelo mínimo de atenção que recebe.
— Edward, Edward… não brinca com os meus sentimentos,
por favor… — faço um pedido silencioso, totalmente insano.
Quando me afasto da porta, percebo que ainda estou com o
seu casaco e, mesmo sabendo que o melhor é deixar para entregar
a peça ao seu dono no dia seguinte, eu decido ir até o quarto do
Edward, apenas para devolver logo de uma vez a roupa
emprestada.
Estou prestes a bater delicadamente na porta do quarto do
Edward, quando percebo que ela está aberta, e empurro a madeira,
procurando por ele.
— Edward… — o chamo, sem resposta. — Edward?
Pela falta de resposta eu deduzo que ele não está no cômodo
e penso em ir procurar pela casa, quando o vejo sair do banheiro,
trazendo consigo apenas uma toalha nas mãos, com a qual ele seca
os cabelos, mas o seu corpo está completamente nu.
— Oh! — exclamou, alarmada, virando de costas para a
cena.
— Mudou de ideia sobre eu esquentar os seus pés? — O
descarado brinca, aparentemente, sem se importar de estar sem
nada cobrindo o seu corpo.
— Claro que não! — neguei veementemente. — Você pode
por favor vestir algo?
— Por que eu faria isso? Gosto de ficar à vontade quando
estou em casa.
— Então, eu vou voltar para o meu quarto. — eu digo, já
pegando na maçaneta da porta, que está logo à minha frente.
Mas os passos de Edward foram abafados pelo carpete do
quarto e ele já está bem atrás de mim, seus braços segurando os
meus e girando o meu corpo, nos deixando frente a frente.
— Qual o problema, Beatrice? — ele pergunta, seus olhos
fixos em meus lábios. — Sou seu marido. É absolutamente normal
que me veja assim.
— Nós estamos separados, Edward. — Eu tento trazer um
pouco de racionalidade à situação.
— Porque você assim o quis. Apenas atendi ao seu desejo.
Penso em apontar mais uma vez todas as razões que me
levaram a tomar aquela decisão, mas a boca de Edward se apossa
dos meus lábios, em um beijo intenso e cheio de desejo, que eu não
consigo resistir.
Retribuo com a mesma intensidade, meus lábios
praticamente sendo esmagados por sua boca, ao mesmo tempo que
ele suga a minha língua em movimentos frenéticos e lascívia, que
me deixam completamente excitada e sem conseguir pensar em
nada mais além do homem que me segura firmemente em seus
braços, seu corpo nu totalmente de encontro ao meu.
— Eu te quero, Beatrice. — ele diz, sua boca agora
distribuindo beijos por todo o meu pescoço.
— Não podemos, Edward. — Ainda tento usar um pouco a
razão.
Mas aquilo se torna realmente impossível, com suas mãos
acariciando todo o meu corpo, tocando-me de maneira sensual e
quando sinto seus dados massageando os meus seios por baixo da
roupa, um gemido de desejo escapa dos meus lábios abertos.
Ao sentir que ele retira a primeira camada de roupa do meu
corpo, que por coincidência é o seu próprio casaco, aquele que vim
deixar no seu quarto, a razão volta a se instalar e eu o empurro
delicadamente, mas de maneira firme.
— Não posso, Edward. — explico — Não com tudo tão
confuso ainda entre nós.
Ele me encara com os olhos brilhantes pelo desejo, mas
suspira resignado, enquanto passa as mãos pelo rosto e depois
assanhando os próprios cabelos.
— Tudo bem. — ele aceita, evidentemente a contragosto.
— Eu vou para o meu quarto. — digo — Vim apenas deixar o
seu casaco.
Depois de entregar a peça, evitando a todo custo olhar para o
corpo despido do meu marido, eu saí do quarto praticamente
correndo, temendo mais uma recaída.
A noite é longa e angustiante, pois os pensamentos giram em
torno do que aconteceu no quarto do Edward, a incerteza sobre o
que ele realmente quer me deixando ansiosa e perdida.
E logo que o dia amanhece, decido voltar para a casa onde
moro, evitando dessa forma, mais um encontro com o Edward.
Desço as escadas lentamente, tentando ser a mais silenciosa
possível, temendo acordá-lo.
Desejo apenas ir embora sem ser vista, mas quando chego
ao primeiro andar, encontro a governanta do Edward, a senhora
Smith, que exibe um grande sorriso ao me ver.
— Que bom vê-la de volta a esta casa, senhora Maddock! —
ela diz, bastante animada.
Eu sorrio sem graça, pois a senhora parece tão feliz por me
ver, e acredita que voltei definitivamente para aquela casa, quando
na verdade eu não tinha pretensão alguma de fazer aquilo.
— Não voltei para esta casa, senhora Smith. — digo para a
governanta. — Tive um contratempo e acabei por aceitar a ajuda do
Edward, mas foi apenas isso.
— Ah! Que pena. — ela lamenta, parecendo verdadeiramente
triste agora. — O senhor Maddock tem sentido muito a falta da
senhora.
A encaro em dúvida, imaginando ter entendido errado as
suas palavras.
— Acredito que a senhora está enganada. Edward nunca
sentiria a minha falta, ele pouco se importava em estar em casa,
quando eu morava aqui.
— A senhora está equivocada, senhora Maddock. — ela
contesta as minhas palavras. — O senhor sempre se preocupou
muito com o seu bem-estar, fazendo de tudo para que a senhora se
sentisse bem e feliz nesta casa. E desde que foi embora, ele parece
tão perdido e sozinho, vagando pelos cômodos, sempre admirando
a foto do casamento de vocês, aquela que está no aparador da sala
de estar.
Como poderia o Edward sentir a minha falta, quando ele não
fez nada para me impedir de ir embora?
— Deve estar enganada, senhora Smith. — Eu não aceito o
que a governanta diz. — Eu mesma o vi com uma outra mulher, há
poucos dias atrás.
— O senhor Maddock a ama, mas sabe que errou muito com
a senhora também. Por isso ele estava tentando deixá-la seguir com
a sua vida e tentando refazer a dele.
Aquelas informações só contribuíram para me deixar ainda
mais angustiada que antes, sem saber no que acreditar realmente.
— Eu preciso ir embora. — digo, já caminhando para a porta
de saída. —- O táxi que chamei há alguns minutos já deve estar à
minha espera.
— Espero que vocês se entendam, senhora Maddock e que
logo a senhora esteja novamente em casa. — A governanta ainda
insiste.
— Até mais, senhora Smith. — Eu me despeço, sem
comentar nada em relação ao seu desejo de que eu volte para
aquela casa em que tanto sofri, ao ser ignorada pelo mesmo
Edward que agora parecia perdido sem mim, ao menos era aquela a
impressão da sua governanta.
Quando Edward acordasse, eu não estaria mais ali, afinal, eu
não arriscaria mais uma vez o meu coração.
Capítulo 9 – Dolorosa DISTÂNCIA
Beatrice
Depois do que aconteceu na casa do Edward, evitei a todo
custo qualquer contato com o Edward e até mesmo pensar sobre
ele, o que acabou se tornando mais fácil, tendo em vista que a
minha amiga estava de volta em casa, trazendo consigo o pequeno
Archie, que encheu a casa de alegria.
Como Janet não poderia cuidar sozinha do bebê, afinal, não
tinha experiência alguma com crianças, a sua mãe, a Margareth, fez
questão absoluta de se mudar para a casa da filha e cuidar
pessoalmente do neto recém-nascido, o que deixou a casa bastante
movimentada.
A rotina de trabalho no jornal estava bastante cansativa, e eu
estava me esforçando ao máximo para conquistar novamente a
posição que eu tanto desejava, que era a de repórter de notícias
internacionais, e agora sem ter nem mesmo o apoio do Andrew.
Ele estava se dedicando a um novo projeto do jornal, que o
levou a viajar para o exterior, sem data certa para o retorno.
A agitação do meu dia a dia estava me deixando com pouco
tempo em casa, e eu me sentia agora um pouco desconfortável na
casa dos meus amigos, por não ser tão presente quanto gostaria e
decidi ter uma conversa franca com a minha amiga.
— Como está o bebê mais lindo do mundo? — digo, mas falo
baixinho, ao entrar no quarto do pequeno.
— Amiga! — Janet se empolga com a minha chegada. —
Quase não te vi nos últimos dias.
— Os últimos dias têm sido intensos no jornal. — explico, me
sentindo um pouco culpada. — Como estão?
A minha amiga está de pé, andando de um lado a outro do
cômodo, imagino que ninando o bebê, e sorri em resposta a minha
pergunta, parecendo estar bem feliz, algo que também me deixa
muito feliz.
— É maravilhoso estar em casa com o meu filho. — ela
conta, animada. — Mas é tudo tão novo, que eu não sei o que seria
de mim se a mamãe não estivesse aqui conosco.
A culpa me invade, pois não tenho podido estar presente e
menos ainda ajudar a minha amiga com os cuidados com o Archie.
— Sinto-me mal, por não estar ajudando com o bebê. — eu
digo, em tom de lamento.
— Não deve se sentir, afinal, você tem uma carreira a
perseguir e sonhos a realizar. — Janet me incentiva. — Eu torço
muito para que você consiga de volta um lugar de destaque no
jornal.
Eu caminho até onde ela está e a abraço, enlaçando a minha
amiga e o seu pequeno pacotinho de amor.
— Obrigada, amiga. Não imagina o quanto é bom saber que
tenho alguém que me apoia, e me incentiva.
— Você merece apenas o melhor, Beatrice. — ela diz.
Eu me afasto do abraço e a encaro com seriedade, me
preparando para tocar no assunto que estive durante todo o dia me
preparando para dizer.
— Eu quero agradecer todo o carinho, assim como o apoio
que recebi de você e do Charles desde que me separei do
Edward…
— Por que eu sinto que há um “mas”, nas suas palavras? —
Janet sugere.
— Porque há um “mas”. — concordo, com um sorriso
divertido. — Mas eu acredito que chegou o momento de eu ter o
meu próprio canto. Um lugar só meu. Deixar vocês a vontade, agora
que há o Archie.
— Você tem certeza de que é isso mesmo que você deseja
nesse momento? — Janet pergunta, demonstrando preocupação.
— Eu pensei muito sobre esse assunto e concluí que já
chegou o momento de seguir com as minhas próprias pernas, a
partir de agora. — explico, verdadeiramente agradecida por todo o
carinho que recebi dos meus amigos por todo aquele tempo.
— Eu jamais irei impedir que siga o seu coração, mas quero
que saiba que é muito bem-vinda aqui, para ficar o tempo que
desejar. — ela reitera aquilo que sempre fez questão de dizer.
O bebê dorme, e a Janet o coloca no berço, girando o seu
corpo e me encarando com um sorriso cheio de afeição e carinho.
— Eu sei que sim e agradeço de coração. — digo,
emocionada. — Obrigada por tudo, minha amiga querida.
Nós sorrimos uma para a outra e nos abraçamos, como uma
despedida prévia dos dias que passei naquela casa, que me foi tão
acolhedora, mas que já havia chegado o momento de partir.
Decisão tomada, eu começo a procura por um lugar para
morar, algo bem difícil, tendo em vista o pouco tempo que tenho
disponível.
Mas entre a correria do jornal e a procura por um novo lar, eu
consigo encontrar uma casa encantadora e perfeita para mim.
— É exatamente o que eu estava procurando. — digo para a
corretora.
Olho novamente em torno da casa de dois andares, que
mistura os estilos contemporâneo com o clássico, de maneira
harmônica e bastante agradável.
— Fico feliz que tenha gostado. — A corretora diz, bastante
satisfeita. — E então, podemos fechar negócio?
— Sim. Eu ficarei com a casa. — digo, decidida.
Após a compra da casa, o segundo passo foi deixar a minha
nova residência do jeito que eu queria, e usei o meu pouco tempo
livre para sair em busca dos artigos que combinasse comigo e com
a minha nova fase.
Com muito empenho, consegui realizar toda a minha
mudança em um tempo razoavelmente curto, após a conversa com
a Janet e já estava instalada em meu novo lar, apenas duas
semanas depois.
Eu nunca havia morado sozinha, pois havia saído da casa
dos meus pais apenas quando casei com o Edward e passei então a
morar com ele, e aquela estava sendo uma experiência que ao
mesmo tempo era nova, também é algo que já vivi.
No final das contas, morar com o Edward era o mesmo que
estar sempre só, mas fiz questão de esquecer aquelas lembranças
e aproveitar o meu novo cantinho, só meu e onde eu poderia me
sentir em paz.
Alguns dias após a minha mudança, quando estava entrando
em casa, ouço o meu celular tocar e ao constatar que se trata da
minha melhor amiga, eu atendo rapidamente, pois jamais poderia
deixar passar aquela oportunidade de falar com a Janet, após dias
sem que nós tenhamos contato algum.
Ao ouvir a animação com que a Janet fala, só então me dou
conta do quanto estava sentindo saudades das nossas conversas,
de quando eu chegava do trabalho e nós jantamos juntas.
— Está realmente gostando da sua nova casa? — é a sua
primeira pergunta ao telefone.
— Sim! É maravilhoso ter algo para chamar de meu. — eu
confesso, animada.
— Isso é o que realmente importa, no final das contas. — ela
diz, e sinto um sorriso na sua voz.
— Como está o Archie? Charles? Todos bem? — pergunto,
enquanto vou retirando os sapatos e jogando-os pelo caminho.
— Sim. Está tudo bem. — ela confirma. — Mas sinto muito a
falta da minha melhor amiga aqui comigo.
— Ah, não fala isso que eu fico triste! — protesto em tom de
brincadeira.
— Então vem me visitar! Amanhã o Archie está completando
um mês.
— Tem razão. Vou sair um pouco mais cedo do jornal e dar
uma passada aí, para dar um beijo nele.
Nós conversamos mais um pouco, eu marco de ir visitar os
meus amigos, e já vestida apenas em um roupão felpudo, desligo a
chamada, mas fico olhando atentamente para o celular, lembrando
que amanhã também faria um mês que eu não tinha contato algum
com o Edward.
Depois que saí da sua casa, na noite em que dormi na
mansão, ele não mais me procurou, nem tentou nenhuma
aproximação comigo.
Eu senti o coração doer de saudades dentro do peito, ainda
mais agora, que não tinha nem mesmo o Andrew, para me fazer
companhia no trabalho.
Ele estava fazendo muita falta e eu estava ansiando pelo seu
retorno o mais breve possível, pois tudo era tão diferente sem ele
em Londres.
Queria que ele estivesse aqui, para podermos conversar
longamente, como fizemos várias vezes, pois ele me ouvia
atentamente, como se aquilo que eu falo fosse realmente
importante.
Tão diferente do Edward!
Eu estava confusa, o coração dividido, mesmo que eu não
quisesse admitir.
Tratei de tomar logo o meu banho e me preparar para dormir,
afinal, todos os dias no meu trabalho agora exigiam mais e mais de
mim e eu precisava estar preparada, pois quanto mais eu me
dedicasse, maiores seriam as minhas chances de conseguir a
posição que eu tanto desejava.
Foi nisso que tentei me concentrar antes de ir dormir, mas
tudo o que veio a minha cabeça, quando a encostei ao travesseiro,
foram as imagens do Edward e a forma como o seu corpo tocou o
meu, sua boca invadiu a minha e as suas mãos me tocaram de
maneira enlouquecedora.
E quando adormeci, foi com ele que eu sonhei durante toda a
noite, e acordei suada e triste, ao pensar em tudo o que poderíamos
ter vivido.
E eu precisei me arrastar da cama e começar mais um dia,
exibindo uma postura profissional e centrada, quando na verdade o
meu coração estava sofrendo com a dolorosa distância do homem
que eu tentava não mais amar, mas que até agora eu não tinha
conseguido esquecer.
CAPÍTULO 10 – SONHO OU SAUDADE?
Beatrice
Já estava trabalhando há algumas horas em minha sala,
quando recebo uma ligação da Lucy, a secretária do senhor Smith,
pedindo-me para comparecer ao escritório do nosso chefe, e de
modo imediato eu já estou saindo apressadamente para ir ao
encontro do dono do jornal, a cabeça criando mil teorias para
explicar o porquê de ter sido chamada para ir até lá.
— O senhor Smith está à sua espera, Beatrice. — Lucy diz,
indicando a porta que ligava a sua sala a do senhor Smith.
Lucy bate à porta e avisa sobre a minha chegada, e eu entro
na sala, após ser convidada por ele.
— Sente-se, Beatrice. — ele me convida, com um sorriso
cordial.
Eu faço como ele sugere e sento-me na cadeira de frente
para a sua mesa, colocando as mãos sobre o colo, tentando passar
a impressão de tranquilidade que eu estava longe de sentir, e as
minhas pernas eram a prova clara disso, pois eu as estava movendo
sem cessar, tamanho o nervosismo que eu sentia por estar naquele
lugar.
— O senhor queria falar comigo? — pergunto, diante do seu
silêncio ao me observar atentamente.
— Sim, Beatrice. — ele confirma — A chamei aqui para falar
sobre uma oportunidade excelente que tenho para te oferecer e
acredito que você irá gostar bastante da minha proposta.
— Imagino então que seja algo de bom. — O suspense do
senhor Smith me deixa ainda mais aflita do que já estava antes. —
Mas sobre o que seria essa oportunidade?
O senhor Smith suspira, como se para dar mais ênfase ao
suspense.
— Acredito que a senhorita saiba que a Maddock Corporation
tem desenvolvido um novo produto, o qual está gerando bastante
expectativa no mercado. Todos estão aguardando ansiosamente por
esse lançamento. — ele diz, bastante empolgado.
Ele estava falando sobre a empresa do Edward!
Eu realmente já tinha ouvido falar nesse novo produto, e o
senhor Smith tinha toda razão em dizer que estava sendo bastante
esperado pelo mercado, mas o que isso tinha relação comigo, foi
algo que me deixou preocupada.
— O fato é que o nosso jornal pode sair na frente de todos os
outros veículos de comunicação, pois Edward Maddock concordou
em nos conceder uma entrevista exclusiva sobre este novo produto.
— ele explica — Mas ele tem uma condição.
Eu tinha certeza de que havia algo perturbador naquela
história.
— Qual a condição? — Eu faço a pergunta que ele deseja, o
coração batendo descompassado no peito.
— Para que o nosso jornal seja privilegiado com tal furo de
reportagem, senhor Maddock impôs a condição de que a repórter
seja a senhorita. — ele conta — Caso contrário, ele não irá nos
conceder esta entrevista.
Mas que absurdo!
— Eu não irei entrevistar o Edward, senhor Smith! — eu
protesto veementemente — Eu não posso fazer isso, afinal, trata-se
do meu ex-marido, como o senhor sabe.
— Eu imaginei que a senhorita iria recusar. — O senhor
Smith parece descontente com a minha negativa. — No entanto, eu
devo dizer que caso essa entrevista corra tudo bem, a senhorita
poderá ser promovida para repórter da nossa coluna de assuntos
internacionais. É uma oportunidade excelente, como eu disse no
início.
Ser repórter da coluna de assuntos internacionais sempre foi
o meu sonho, o qual eu havia conquistado quando trabalhei
anteriormente no jornal, e havia perdido o meu posto ao desistir do
meu emprego no Diário de Notícias para atender ao desejo do meu
pai e casar com o Edward.
Agora eu poderia voltar a fazer aquilo que eu mais amava, ter
a minha carreira de repórter internacional de volta, mas a que
custo? Eu não queria conseguir aquilo usando artifícios.
— Eu não posso aceitar ser promovida mediante essas
condições, senhor Smith. — eu digo, me sentindo um pouco
ofendida com aquela proposta do meu chefe. — Desejo conseguir o
meu posto anterior de volta sim, mas às custas do meu esforço e
empenho e é exatamente por isto que trabalho de maneira exaustiva
aqui no jornal todos os dias.
O senhor Smith deixou claro, apenas pela expressão de seu
rosto, que ele não gostou das minhas palavras, mas eu tinha sido
sincera, dizendo aquilo que eu pensava e no que acreditava ser o
certo.
— Essa é a minha condição, Beatrice. — Ele fala de modo
determinado — E deve pensar com calma, e não sob o calor da
emoção. Eu entendo que se trata do seu ex-marido, mas é uma
oportunidade única e o jornal depende de você para conseguir essa
exclusiva de imprensa. Precisa ir ao encontro do seu ex-marido e
agir de modo profissional, como a repórter profissional que eu sei
que você é.
O senhor Smith tinha acabado de me colocar contra a parede
e eu fiquei sem palavras, pois ele estava falando sobre o meu
profissionalismo e aquilo é algo muito importante para mim.
Pensar em ficar frente a frente com o Edward, entrevistandoo, me deixava em polvorosa, realmente nervosa e até mesmo um
pouco excitada, com o coração batendo loucamente no peito, só em
imaginar aquele momento, quanto mais estar lá, fazendo
exatamente isso!
Fazia já um mês que eu não o via, desde que saí de sua
mansão, após dormir lá e eu não tinha a mínima ideia de como ele
iria reagir ao me ter em seus domínios daquela maneira.
— Tudo bem, então. — eu acabo por aceitar. — Eu irei fazer
esta entrevista e trazer a matéria para o jornal, como o senhor
deseja.
— Eu sabia que podia contar com você, Beatrice. — O
senhor Smith comemora, sorrindo abertamente.
Agora eu só precisava me preparar para enfrentar esse
momento e a incerteza sobre esse encontro começou a causar um
carrossel de emoções em mim.
— Para quando será essa entrevista, senhor Smith? —
pergunto, já pegando a minha agenda para anotar o compromisso.
— O senhor Maddock está esperando por você agora, em
seu escritório.
— Agora!? — pergunto, realmente horrorizada.
— Na verdade, a entrevista está marcada para às quinze
horas. — Ele olha para o relógio em seu pulso — Você tem
exatamente trinta minutos para estar lá no escritório do senhor
Maddock.
Eu não teria nem mesmo a possibilidade de me preparar para
aquele encontro!
*******❤ *******
Como o tempo é curto, pois tenho apenas trinta minutos para
estar no escritório do Edward, eu passo na minha sala apenas o
tempo necessário para buscar a minha bolsa e ao chegar em frente
ao prédio do jornal onde trabalho, eu aceno para o primeiro táxi que
passa na minha frente e por sorte, ele está livre.
O percurso até a empresa do Edward é relativamente rápido,
pois não fica tão distante e o trânsito está tranquilo ainda naquele
horário, e quando o táxi para em frente ao prédio imponente e de
designer moderno, com vários andares a perder de vista, eu desço,
sentindo as minhas pernas como se fossem gelatina, de tão nervosa
que me sinto.
Estar em frente ao prédio onde o Edward dirige os seus
negócios me deixa triste, pois logo várias lembranças do tempo em
que éramos casados me assola, me deprimindo ao recordar das
vezes em que já estive ali e de como sempre fui tratada por ele.
O Edward sempre foi gentil e frio comigo, como se eu fosse
apenas uma estranha para ele, e isso era algo que não mudava,
nem mesmo quando estávamos em público, como era o caso
quando eu vinha à sua empresa.
Senti um calafrio de emoção passar por meu corpo, me
deixando deprimida, pois era duro lembrar a forma como sempre fui
tratada pelo meu marido, mas tratei de afastar aqueles sentimentos,
afinal, sou uma repórter profissional e estou ali para realizar um
trabalho.
Eu precisava deixar essa questão pessoal entre nós de lado,
e focar apenas no que de fato importava, que era a entrevista para o
jornal e a minha consequente promoção e vou fazer exatamente
isso, custe o que custar.
Na recepção do prédio eu tenho o meu acesso liberado de
forma rápida e eficiente, mas ao chegar na antessala do escritório
do Edward, me deparo com outra secretária, uma garota
desconhecida, que eu nunca havia visto antes ali, e não a Margot, e
sinto novamente a incerteza tomar conta de mim.
— Pois não, senhora? — a secretária pergunta, como se não
me reconhecesse.
Eu me sinto desconfortável com a sua atitude, mas tento
manter a postura profissional, afinal, eu estava ali para realizar um
trabalho e talvez ela realmente não soubesse quem sou, pois era
nova no cargo.
— Boa tarde, Jennifer. — Eu a cumprimentei de maneira
simpática, após olhar o seu nome no crachá — Tenho uma
entrevista marcada com o senhor Maddock, para as quinze horas.
— Não há nada na agenda do Edward sobre esse
compromisso. — ela diz, claramente duvidando das minhas
palavras.
Eu mal posso acreditar que a secretária do Edward está
mesmo insinuando que eu estou mentindo para poder ter acesso a
ele. Mas que atitude absurda!
— Você pode tentar ligar para ele, então. — eu sugiro, me
sentindo ainda mais desconfortável com a sua postura arrogante —
Tenho certeza de que ele pode confirmar o que eu estou dizendo.
Ela me encara em dúvida, e cheguei a pensar que não irá
nem mesmo tentar avisar ao Edward sobre a minha chegada, mas
após alguns segundos em expectativa, ela acaba por pegar o
aparelho de telefone sobre a sua mesa e disca um número.
— Qual o seu nome mesmo, senhora? — ela pergunta.
— Beatrice Phillips.
Uso o meu sobrenome de solteira, mesmo que o Edward
tenha me dito que não assinou os papéis do nosso divórcio.
— Diga, Jennifer. — Ouço a voz do Edward pelo viva-voz do
aparelho telefônico e o coração parece paralisar em meu peito.
— Senhor Maddock, há uma mulher aqui chamada Beatrice
Pagett e ela diz ter uma entrevista marcada com o senhor para às
quinze horas. — ela fala, sem nem mesmo disfarçar o tom crítico.
Capítulo 11 – Uma chantagem
Beatrice
Aguardo com grande expectativa pela resposta do Edward,
que vem rapidamente.
— Se a Beatrice está aí, por que então você ainda não a
deixou entrar, Jennifer? — ele a repreende, o que me deixa mais
aliviada.
A secretária me encara com visível irritação, mas está atenta
às palavras do seu chefe.
— Não havia nada na sua agenda, senhor Maddock. — ela
tenta se desculpar. — Eu precisava confirmar com o senhor
primeiramente.
— Não está na minha agenda, porque eu não considerei
necessário agendar. — ele explica de maneira arrogante. — Traga-a
aqui na minha sala, imediatamente.
— Está bem, senhor Maddock. — ela concorda, nitidamente
contrariada.
Após recolocar o telefone na base, a secretária me olha
novamente e sua expressão não é das melhores, como se ela não
tivesse gostado que o chefe iria me receber.
— A senhora pode me acompanhar, por favor. — ela convida,
e o seu tom está bem mais ameno agora.
— Claro. — eu digo prontamente.
A secretária abre a porta do escritório do Edward e o vejo já
de pé, dando a volta em sua mesa para me receber.
— Beatrice! — ele diz com animação. — Fico feliz que tenha
vindo.
Ele me aguarda no meio da sala, e após entrar no ambiente,
eu paro alguns passos de distância dele.
— Agradeço por me receber, Edward. — eu digo, enquanto
tento controlar as batidas loucas do meu coração.
Edward sorri diante da minha resposta, e segura a minha
mão, me levando até a cadeira em frente a sua mesa.
— Você já pode sair, Jennifer. — ele diz de maneira bastante
fria para a secretária, que ainda permanecia parada próximo a porta.
— E desmarque todos os meus compromissos para hoje, Jennifer.
Estarei bastante ocupado.
Ao ouvir as instruções do chefe, a secretária parece um
pouco abalada pela maneira fria como está sendo tratada, mas sai
da sala em silêncio e Edward não se dá conta de que ela nem
mesmo concordou com as suas instruções.
Quando já estou sentada na cadeira que ele me indicou,
Edward me encara com um sorriso gentil e cheio de carinho, tão
diferente dos que sempre recebi dele antes, os quais eram sempre
tão sem emoção.
Como ele permanece de pé, eu decido ir direto ao ponto e dá
início a entrevista.
— Bem, como sabe, estou aqui para fazer a sua entrevista
exclusiva com o Diário de Notícias.
Como essa afirmação, eu tento começar o meu trabalho e
acompanho com o olhar quando Edward caminha para sentar-se na
sua cadeira de CEO.
— Vou começar fazendo algumas perguntas sobre a
empresa, e depois passamos de fato ao produto que será lançado
em breve. Tudo bem, assim? — sugiro, com um sorriso profissional.
— Você está linda, com esse traje de repórter de sucesso. —
ele elogia em um tom ao mesmo tempo divertido e sincero, me
deixando constrangida.
— É… hum-hum — pigarreio — … obrigada. — agradeço, e
estou completamente sem graça — Como eu estava dizendo
antes…
Edward busca a minha mão sobre a mesa, puxando-a e
segurando com extrema delicadeza.
— Eu sinto muito sua falta, Beatrice. — ele diz, e agora eu
sinto o rubor se espalhar por toda a minha face — A minha mansão
é tão triste e vazia, sem você lá.
Ouço suas palavras com o coração pesado, e me pergunto
indignada, como ele poderia estar falando aquelas coisas para mim?
Ele desejava me deixar louca?
Eu estava aprendendo a viver sem o Edward e estava
conseguindo, mas quando ele falava esse tipo de coisa, era como
se tudo voltasse ao início.
— Edward, eu vim até aqui para fazer uma entrevista com
você e não para tratar sobre nós dois. — eu o repreendo de maneira
delicada — Podemos falar apenas sobre o seu novo projeto?
Ele sorri com gentileza, seus olhos parecem brilhar e eu não
posso resistir ao charme avassalador do meu ex-marido.
— Mas eu quero falar sobre nós, Beatrice. — Edward fala de
modo apaixonado.
— E a nossa entrevista? Foi para isso que eu vim até aqui,
Edward.
— Eu tenho uma boa proposta para fazer.
Edward solta a minha mão, que ainda estava segurando e sai
de sua cadeira, agora sentando-se na que estava ao lado da minha
e me encara com redobrada atenção.
Eu fiquei indecisa se iria realmente querer ou não saber da tal
proposta. A última que recebi foi para estar ali, e eu ainda não tinha
certeza se era realmente algo positivo para mim.
— Não vai perguntar qual? — Ele me provoca, um sorriso
encantador no canto da boca.
— Você vai dizer de qualquer maneira. — eu tento usar o
mesmo tom leve dele.
— Está certa. — ele concorda. — Então, eu estive pensando
e a minha proposta é de que você jante comigo e dessa forma, eu
prometo que terá todas as suas perguntas respondidas.
Bem, era uma proposta estranha e bastante inconveniente,
ainda mais considerando-se que já estávamos em uma reunião que
foi marcada para que ele fizesse exatamente o que estava
prometendo fazer apenas no jantar, que era responder às minhas
perguntas!
Contudo, por mais que ele realmente não estivesse fazendo
conforme o esperado, considerei que o melhor caminho seria fazer
como ele desejava e colaborar para conseguir a minha entrevista.
— Tudo bem, então, Edward. Eu aceito jantar com você. —
eu concordo, entrando no seu jogo.
Edward exibe um sorriso enorme e nitidamente satisfeito, ao
ter suas vontades seguidas por mim e eu só espero sinceramente
não me arrepender depois.
— Eu vou buscá-la às vinte horas na sua casa, então. — ele
combina o horário.
Eu percebo que nenhuma das minhas perguntas serão
respondidas naquela tarde, menos ainda quando eu já concordei em
sair com o Edward e considero que já está na hora de sair daquele
escritório e me preparar para o nosso jantar, fortalecendo todas as
minhas defesas.
Eu me levanto da cadeira, o encarando com um sorriso
tímido.
— Não é necessário. — recuso a oferta. — Posso ir
diretamente para o restaurante onde vamos jantar e nós nos
encontramos lá.
Faço menção de caminhar até a porta de saída do escritório,
e o Edward me acompanha.
— Eu faço absoluta questão de ir buscar você em sua casa
Beatrice. — Edward diz, seu tom cheio de determinação.
Nós saímos juntos do escritório do Edward nesse momento, e
chegamos à ante sala onde está a mesa da sua secretária, que logo
fica de pé ao ver que o chefe está ali.
— Senhor Maddock! — a secretária chama, se prostrando ao
seu lado. — Anotei alguns recados importantes. Podemos ir até a
sua sala?
Edward olha para a secretária com cara de poucos amigos e
faz um gesto de mão para dispensar a garota.
— Agora não vê que eu estou ocupado, Jennifer? — ele a
repreende de modo bastante rude.
Penso em caminhar para o elevador, mas Edward me
impede, ao segurar em meu braço.
— E então, como eu estava dizendo, às vinte horas eu posso
buscá-la em sua casa, Beatrice. — ele volta a insistir. — Faço
absoluta questão disso.
Percebo que ele não aceitará de outra forma e decidi
encerrar o assunto, pois a secretária continua parada ao lado do
Edward, nos observando com atenção e desagrado.
— Tudo bem, Edward. Eu o aguardo nesse horário.
Eu me incomodo com aquela mulher ali, ouvindo nossa
conversa, mas Edward não parece nem mesmo se dar conta da sua
presença, a sua atenção totalmente voltada para mim.
— Iremos ao Bello ‘s. — ele diz, sua mão ainda em meu
braço. — Você sempre gostou de lá.
Ele tinha razão e o Bello ‘s sempre foi o meu restaurante
preferido, mas foram raras as vezes em que ele me levou até lá.
— Ok. — eu respondo apenas.
— Até mais tarde, querida.
Ele toca a minha face com um beijo delicado e eu sinto todo o
meu corpo respondendo aquele pequeno gesto.
— Esperarei com ansiedade o nosso jantar.
Eu apenas sorri em resposta e caminho apressada para o
elevador, ainda dando uma olhada em direção a secretária a tempo
de ver o Edward e dispensar novamente e entrar em sua sala.
Pelo visto, a secretária do Edward não gostou nada da minha
vinda ao escritório dele, algo que só poderia indicar que existe
algum tipo de interesse dela pelo chefe.
Mas eu precisava admitir que Edward não a incentivou em
momento algum e a tratou com extrema frieza a todo momento, o
que me deixava mais tranquila, pois só mostrava que ele não
correspondia às expectativas da sua funcionária.
De qualquer forma, eu não podia ficar me preocupando com
o que Edward faz ou não, afinal, não somos mais casados e ele é
livre, assim como eu também sou.
Lembrei do Andrew e como sentia a sua falta, após quase um
mês que ele está fora de Londres e de como era bom os momentos
que passávamos juntos.
Eu precisava ser muito forte para resistir às investidas do
Edward, ainda mais agora, sem o apoio do meu bom amigo.
E por todo o caminho de volta ao jornal, aqueles
pensamentos me perseguiram, me deixando nervosa e preocupada
com o encontro daquela noite, que seria uma grande prova de
resistência para mim.
Mas eu iria focar apenas na minha promoção, que no
momento é a coisa mais importante da minha vida.
Capítulo 12 – Desentendimento amoroso
Beatrice
Mesmo sem desejar me deixar levar pela mudança de atitude
do Edward, eu não consigo parar de pensar nele e em nosso jantar
naquela noite e ao sair do escritório do meu ex-marido, pego um táxi
e vou diretamente para a minha nova casa.
Entro na sala silenciosa e após jogar a minha bolsa sobre
uma poltrona, eu me deito no meu sofá confortável, e agarro uma
almofada, como se ela fosse algo muito especial.
— Por que está fazendo isso comigo agora, Edward? O que
mudou? — pergunto para o cômodo vazio, como uma lunática
falando sozinha.
Mas aquela pergunta girava de maneira ininterrupta por
minha cabeça e não me deixava em paz.
Ouço naquele momento o toque do meu celular ao longe e
percebo que não o retirei de dentro da bolsa ainda e acabo soltando
um suspiro de irritação, pois não desejava falar com ninguém agora.
Olho no visor do aparelho, após retirá-lo de dentro da minha
bolsa e constato que se trata de uma chamada por vídeo do
Andrew, o que me deixa um bastante nervosa e até deixo o celular
cair, mas por sorte, o carpete consegue amenizar a queda e ele não
quebra.
Sento-me no sofá, tento arrumar um pouco o meu aspecto,
tentando melhorar a minha aparência que só agora percebi que está
bastante abatida e com olheiras, e atendo a chamada, dando início
ao vídeo.
— Oi, Andrew! — Eu tento colocar bastante animação nas
minhas palavras, pois eu realmente me sinto assim, apenas por
estar falando com ele novamente. — Onde você está agora? Como
estão as coisas?
Andrew parece estar em um quarto de hotel, pela decoração
que consigo perceber através do vídeo e sentado de encontro ao
encosto da cama.
— Eu estou bem, minha querida. Muita agitação e trabalho.
— ele responde, sua voz aquecendo o meu coração triste — Mas eu
não liguei para falar sobre trabalho. Quero saber como você está e o
que tem feito, Beatrice.
Sorriu para a câmera do aparelho, realmente feliz por estar
conversando com o Andrew naquele momento.
— Eu também tenho trabalhado bastante, muitas horas por
dia, mas estou reclamando, hein, Andrew! — Eu brinco, afinal, ele é
o filho do dono do jornal e não quero que pense que estou
insatisfeita com o meu trabalho — Estou gostando muito do fato de
estar sempre ocupada, na verdade.
Aquilo que eu estava dizendo é a mais completa verdade,
pois eu preferia estar sempre ocupando os meus pensamentos com
outras coisas, assim eu não ficava pensando em coisas das quais
eu não tenho controle algum e que no final das contas, só me
trazem dor e sofrimento.
— Então se você está feliz, isso é maravilhoso! — Andrew
diz, sorrindo lindamente para mim — E a sua promoção? Imagino
que está cada dia mais próxima, não é verdade?
Aquele era um assunto que eu realmente não queria tratar
com o Andrew e imaginei até que ele nem tem conhecimento sobre
a proposta feita pelo seu pai, para que eu entrevistasse o Edward e
se tudo saísse bem, eu enfim poderia conquistar o meu tão
desejado cargo de volta.
— Acredito que em breve conseguirei a minha colocação de
volta. — eu disse apenas, e logo tratei de mudar de assunto — Já
sabe quando retorna à Londres, Andrew?
Acredito que ele percebe a minha estratégia de mudança de
assunto, mas apenas sorri gentilmente para mim.
— Ainda não tenho uma data certa, mas posso dizer que logo
em breve irei de te ver.
A sua expressão agora passa a ser de seriedade e o seu
olhar está fixo em meus lábios, o que logo consegue me deixar
envergonhada e pelo calor nas minhas faces, eu já estou ruborizada
também.
— Estou com saudades de você, Beatrice. — ele diz,
demonstrando sinceridade — Sinto muito a sua falta.
Eu fico indecisa sobre o que responder, pois não quero darlhe falsas esperanças, ainda mais agora que eu estou tão confusa,
após a mudança de atitude do Edward.
Ao mesmo tempo, sei que não devo dar espaço para que o
meu ex-marido possa me magoar novamente, visto que nós fomos
casados por três anos e ele nunca houve esforço algum de sua
parte, para que a nossa união pudesse dar certo.
— Eu também estou sentindo a sua falta, Andrew. — Acabo
por confessar.
Sorrimos um para o outro em um entendimento tácito, e
ficamos os dois por alguns segundos em um silêncio confortável.
— Espero que quando eu retornar para Londres, a sua
situação já esteja resolvida, Beatrice. — ele diz, em um tom um
pouco melancólico — Você está em meu coração, mas preciso fazer
as coisas da maneira correta, quando você for realmente uma
mulher completamente livre.
O Andrew está coberto de razão e eu também preferia
daquela forma, pois apesar de não concordar com a forma escolhida
pelo Edward para demonstrar que não aceitaria que eu continuasse
a me encontrar com o Andrew, por nós ainda estarmos casados, eu
sabia que essa também não é uma atitude correta da minha parte,
estar casada com um homem e me encontrando de maneira
romântica com outro.
— Eu tentarei falar com o Edward sobre o nosso divórcio,
pois estamos separados e o único caminho a ser seguido é
oficializar isso de maneira jurídica. — falo para o Andrew, como uma
maneira de demonstrar que também tenho interesse em ser livre,
para viver aquilo que eu desejasse.
— Fico feliz em saber que pretende resolver essa questão. —
Andrew diz, demonstrando sua satisfação com um sorriso radiante.
Nós conversamos por mais alguns minutos, e ele me coloca a
par dos bastidores da sua viagem, e os planos que tem para o futuro
do jornal, nos quais já me coloca como repórter da coluna de
notícias internacionais e eu acabo por rir bastante de toda aquela
sua empolgação.
Mas enquanto converso com o Andrew, a todo o momento eu
olho para o cantinho da tela do meu aparelho celular, para conferir
que horas são, já sentindo uma certa ansiedade pelo momento em
que precisaria encerrar a ligação com o meu amigo querido e ir me
arrumar para encontrar o Edward.
— Parece um pouco ansiosa. — Andrew comenta,
percebendo o meu nervosismo — Pretende sair hoje ainda?
Ele levanta o pulso e também olha que horas são e eu fico
totalmente constrangida em falar a verdade, mas tampouco posso
mentir sobre algo tão importante como aquele jantar com o Edward,
ainda mais quando se tratava exclusivamente de trabalho.
— Eu irei fazer uma entrevista para o jornal, ainda essa noite.
— Eu opto por falar a verdade.
— Um jantar? — Andrew sugere sabiamente.
Ele não parecia nenhum pouco confortável com a
possibilidade e ainda nem tinha conhecimento de quem seria o
entrevistado, e novamente eu senti as minhas faces pegarem fogo.
— Sim. — confirmo a sua sugestão — O senhor Smith me
designou para realizar uma entrevista com um grande empresário,
que em breve irá fazer o lançamento de um produto completamente
inovador e eu não poderia me recusar a fazer de forma alguma.
Acredito que Andrew tem conhecimento absoluto sobre o tal
novo produto que será lançado e que está causando tamanho
alvoroço, pois seus olhos logo demonstram toda a sua surpresa com
a informação.
— Você vai sair para jantar com o Maddock? — ele pergunta,
e seu tom transparece contrariedade com o fato. — Não posso
acreditar que é com o seu ex-marido que você pretende sair esta
noite!
Eu me sinto envergonhada com a situação realmente e me
sinto encolher, tamanho o desconforto com a forma que ele colocou
os fatos.
— Eu não vou a um encontro com o Edward! — eu digo, e
estou completamente na defensiva — Será um jantar de negócios,
onde eu irei entrevistá-lo para uma matéria importante.
Andrew balança a cabeça em uma negativa, está claramente
insatisfeito.
— Ele continua sendo o homem com o qual você ainda está
casada, Beatrice. — Seu tom é de profundo lamento.
— Será apenas uma entrevista. — eu insisto no meu ponto —
Uma entrevista exclusiva, que todos os jornais desejam e nós
teremos em primeira mão.
— Tudo bem, então. — ele diz, parecendo realmente
desolado — Vá em frente com a sua entrevista. Desejo boa sorte e
muito sucesso.
Eu não compreendo o que ele quer dizer com aquela
despedida, e não sei nem mesmo o que responder diante de suas
palavras tão definitivas.
— É… obrigada. — Foi tudo o que consegui dizer, no final
das contas.
A chamada de vídeo é encerrada pelo Andrew e eu fico ainda
algum tempo apenas olhando para a tela escura do aparelho, sem
saber o que pensar sobre tudo o que aconteceu há apenas alguns
minutos.
Em um momento, estávamos praticamente fazendo planos
para quando o Andrew retornasse, e no momento seguinte, tudo
desandou e nós nos despedimos de maneira fria e totalmente
impessoal.
Suspirei, estava cansada e ainda tinha um jantar de negócios
para ir, onde eu precisaria de todo o meu autocontrole e de muito
profissionalismo, para conseguir obter a melhor entrevista possível,
fazendo as perguntas certas e esperadas pelos leitores do jornal.
Após algum tempo apenas parada no mesmo lugar, eu enfim
me levantei do sofá e fui para o meu quarto, pois eu tinha que me
arrumar e faltava apenas uma hora para o horário marcado pelo
Edward.
Logo ele estaria tocando a campainha e eu precisava estar
pronta e com a minha melhor máscara de impessoalidade, pois eu
mostraria para o Edward que eu podia fazer aquilo e que faria muito
bem!
Capítulo 13 – Ele realmente mudou?
Beatrice
O vestido que escolhi para o jantar daquela noite é um dos
modelos que a Janet fez questão de que eu comprasse, em uma
das vezes em que saímos juntas.
A minha amiga costumava reclamar muito sobre a forma
como eu me vestia, que segundo ela, era muito discreta e sem
graça, apesar de discordar completamente dela, acabei por seguir
as suas orientações e mudei todo o meu guarda-roupa.
Então, resolvi ousar naquela noite, ao escolher um modelo
justo, que apesar de chegar até os joelhos, tinha um decote muito
bem elaborado, com bastante transparência em meu colo e também
na parte de trás da peça.
Fiz uma maquiagem discreta, para diminuir o impacto da
roupa, e calcei sandálias de saltos altíssimos, na mesma cor do
vestido, preta com detalhes dourados, assim como também tinha na
peça de roupa.
Quando já estava pronta, me olhei mais uma vez no espelho
do meu closet e depois de alguns segundos parada lá, apenas
refletindo sobre o jantar no qual eu estaria frente a frente com
Edward mais uma vez, eu acabei por concluir que não estava
vestida de maneira adequada para um compromisso de trabalho.
Decidi que o melhor seria trocar o vestido um tanto quanto
sexy, por uma roupa mais formal, como o momento exigia, mas
naquele instante, a campainha tocou e constatei que não haveria
mais tempo para fazer tal coisa.
Senti o nervosismo tomar conta de mim, mas respirei fundo,
peguei a minha bolsa de mão, e caminhei até a porta, abrindo-a logo
em seguida, para me deparar com Edward ainda mais belo do que
eu me lembrava, e eu o tinha visto ainda hoje á tarde.
— Boa noite, Edward. — O cumprimentei com simpatia.
— Boa noite, Beatrice. — Ele sorriu, mexendo um pouco com
o meu autocontrole — Está absurdamente linda esta noite.
Eu sorri pela escolha das palavras, e agradeci, mas não
deixei que o elogio subisse à minha cabeça, tirando de mim toda a
racionalidade que eu lutava tanto para manter, principalmente na
presença do meu ex-marido.
— Podemos ir. — eu falo, tentando quebrar o encanto que
ainda tinha conseguido se formar.
— Vamos, então.
Depois que fecho a porta da minha casa, Edward segura
discretamente em meu braço, me guiando até o seu carro, que está
estacionado logo em frente.
No caminho até o restaurante, Edward tenta por vezes puxar
assunto, mas eu o respondo de maneira monossilábica, sempre
tentando manter o controle das minhas emoções, que estava por um
fio.
— O que estamos fazendo aqui? — eu pergunto alarmada,
ao deduzir para onde ele estava me levando para jantar.
O Edward estava estacionando o seu carro em frente ao
restaurante que sempre foi o meu preferido em toda Londres, um
lugar onde eu tinha muitas lembranças boas, todas anteriores ao
meu casamento com ele, e existem aquelas após a nossa união, e
estas não eram nada agradáveis.
— Eu lembrei das vezes em que você me convidou para vir
até aqui, para jantarmos juntos. — ele explica, parecendo bastante
tranquilo em me trazer aquele local — Imaginei que você gostaria de
jantar no seu restaurante preferido, sempre fez questão de repetir
isso para mim.
É bastante nítido que Edward não tem a menor ideia de tudo
o que já me fez sofrer, durante o tempo em que estivemos casados
e não seria agora que eu o diria, afinal, nós estávamos em processo
de separação e aquele é apenas um jantar profissional, onde ele irá
me conceder uma entrevista para o jornal onde eu trabalho.
Foi a isso que me prendi e pensei, para não me iludir,
acreditando em qualquer outra coisa que ele tentasse me dizer hoje.
Eu dou apenas um sorriso em entendimento, novamente
guardando para mim os meus pensamentos tumultuosos e antes
que eu possa abrir a porta do carro, novamente Edward está agindo
como o cavalheiro de sempre e dando a volta no veículo, para abrir
a porta para mim.
O Mansuri é um pub pequeno e bastante acolhedor, e eu
conhecia os donos há muitos anos, desde quando eu era apenas
uma adolescente e passava pelo local para ir ao colégio e logo que
me viu, a Julieta, uma senhora na casa dos cinquenta anos e por
quem eu tenho grande carinho, veio imediatamente ao meu
encontro, para me cumprimentar.
— Minha querida Beatrice, há quanto tempo não te vejo! — A
expansiva senhora diz, me abraçando e depositando um beijo de
cada lado do meu rosto — Acreditei que tinha nos abandonado.
Eu encaro a senhora com um largo sorriso e só então me dou
conta do quanto senti saudades de vir até o local, jantar com meus
queridos amigos.
— Peço desculpas, Juliete. — eu digo, me sentindo culpada
— Tenho estado muito ocupada nos últimos meses.
Ela sorri em retribuição, fazendo um gesto com a mão como
se para indicar que eu estava perdoada.
— Vamos esquecer isso, querida. — Ela diz — Acredito que
veio para jantar, não é mesmo?
Só então a Julieta olha realmente para o homem ao meu lado
e sorrindo para o Edward, nos ofereceu uma mesa e nos levou
pessoalmente até ela, fazendo questão de nos atender ela mesma.
Depois que já estávamos diante dos nossos pratos, havíamos
optado por um bom beef Wellington e com uma garrafa do melhor
vinho, Edward olhou em torno de modo apreciativo e depois voltou a
me encarar, um questionamento em seu olhar.
— Percebo que você é realmente uma frequentadora assídua
do lugar. — ela aponta, e percebo que está tentando extrair mais
informações sobre mim.
— Eu gosto bastante do Henry e da Julieta, os conheço já há
alguns anos. — eu confesso.
Na verdade, eu me sinto um pouco envergonhada por ele
estar interessado em saber um pouco mais sobre mim, ainda mais
agora, quando aquilo não mais importava.
— Mas estamos aqui para falar sobre você, Edward. — eu
protesto logo em seguida — Ou melhor, para falar sobre a sua
empresa e o seu produto inovador.
Tomo mais um gole do vinho maravilhoso, apreciando o sabor
da bebida, e várias coisas passam por minha cabeça, mas eu tento
a todo custo mais uma vez afastar aquelas lembranças tristes.
— Esse beef Wellington está verdadeiramente divino. — Mais
uma vez, Edward estava fugindo ao assunto que deveria ser o
nosso verdadeiro foco — Lembro que esse sempre foi o seu prato
preferido, e quando viajávamos com nossas famílias para Kent, a
sua mãe cozinhava.
Aquela referência ao nosso passado, de quando éramos
crianças e as nossas famílias sempre estavam juntas, foi algo que
ficou fundo em meu peito e eu precisei tomar mais um gole do
vinho, tentando conter as lágrimas nostálgicas.
Edward estava jogando sujo, pois aquele homem charmoso e
galante a minha frente se torna muito difícil de resistir,
principalmente quando ele falava sobre a nossa infância juntos.
— Você já tem uma data para lançamento deste novo
produto? — eu pergunto, com o único objetivo de trazer um assunto
mais seguro e apropriado para a nossa conversa.
Ele sorri lindamente, seus olhos parecem brilhar.
— Para isso, eu preciso da sua opinião, Beatrice. Quando
você considera que será o momento perfeito para lançar o meu
novo produto? – ele devolve em tom de pergunta
Eu o encaro chateada com a forma como ele estava fugindo
a todo o momento daquele assunto, que é o que realmente
importava naquele instante.
Tomo mais um gole do meu vinho, refletindo sobre ter feito ou
não, uma boa escolha, ao concordar em jantar com o Edward
aquela noite e concluindo que pelo visto, eu não teria a minha tão
esperada matéria.
— Eu não posso determinar algo tão importante como a data
de lançamento de um produto tão esperado quanto esse, Edward!
— eu digo, tentando trazer ele de volta para o que realmente
importa.
— Por que não? — ele pergunta com pouco caso — Lembrome que quando estudamos no mesmo colégio, mesmo que em
turmas diferentes, afinal, você é alguns anos mais jovem que eu,
você sempre queria estar à frente de tudo, decidindo todas as
etapas das apresentações dos trabalhos escolares.
— Isso é bem diferente do que você está me pedindo agora,
Edward!
Apesar de considerar uma comparação ridícula, aquilo me faz
rir muito das nossas lembranças e o clima se torna descontraído de
imediato.
Edward parece se aproveitar desse fato, e traz mais
lembranças como aquela, onde eu sempre acabo rindo da forma
como ele relembra os fatos, escolhendo os mais hilários de nosso
passado.
O vinho é delicioso, a comida está excelente e a conversa
agradável, o que faz com que eu me sinta feliz e completamente à
vontade com ele, e percebo que ele também parece diferente, mais
maleável que antes.
— Precisamos marcar de ir em Kent, visitar a nossa família
que ainda mora lá.
Eu senti o desejo de contrariar aquela sua versão dos fatos,
dizer que eu não tenho nenhum familiar em Kant, mas rapidamente
controlo as minhas palavras.
Decidi, sob o efeito esfuziante do vinho, aproveitar aquela
noite ao lado da companhia agradável do meu quase ex-marido e
deixar para me preocupar com as outras questões em um outro
momento.
Amanhã é um novo dia.
Capítulo 14 – eU A Quero DE VOLTA
Edward
Olhei com grande admiração para a bela mulher a minha
frente, minha esposa Beatrice e sorri junto com ela, ao lembrarmos
de um episódio de nossa infância.
— Ah, Edward! — ela reclamou, sorridente — Você sempre
conseguia convencer a todos da sua inocência, mesmo quando
tinha sido você o responsável pelas nossas peraltices.
Beatrice soltou uma sonora gargalhada e olhou em torno do
pub, já bastante vazio àquela hora e me encarou com o cenho
franzido.
— Acho que já passou da hora de irmos embora, Edward. —
ela apontou, tentando uma expressão de seriedade que não
combinava com o bonito sorriso em seu rosto.
Olho em torno, constatando que além de nós dois, havia
apenas mais uma mesa ocupada por um outro casal e concluí que
estava na hora de irmos embora.
O fato é que a conversa estava bastante agradável, que eu
não percebi o tempo passar e agora já deveria ser tarde e confirmo
que já são quase meia noite, ao olhar para o meu relógio.
— Tem razão, querida. — digo, ainda olhando ao redor do
pub, mas não tenho nenhuma resposta.
Quando volto a olhar para a Beatrice, percebo que ela parece
estar quase cochilando sentada, seus olhos fechados.
— Beatrice!? — a chamo, alarmado e surpreendido.
O banco em torno da mesa é completo, mas ela tinha
sentado na ponta mais distante possível da minha e eu me aproximo
dela, usando meu corpo como encosto para o seu.
— Beatrice? — tento mais uma vez.
Eu realmente não consigo acreditar que a Beatrice
simplesmente dormiu, assim, do nada, quando ela estava
conversando comigo há menos de um minuto atrás!
— Parece que alguém tomou mais vinho do que o
recomendado. — a proprietária do pub, amiga da Beatrice, disse, ao
se aproximar da mesa.
— Ainda não posso acreditar que a Beatrice caiu no sono,
aqui. — Falo para a mulher, me sentindo perdido sobre qual atitude
tomar.
Ela sorri e senta-se na outra ponta, sua mão desliza
delicadamente pelos cabelos da minha esposa.
— Você não deve se preocupar. Logo ela acorda, totalmente
recuperada e você poderá levá-la embora.
A mulher diz aquilo de maneira tranquila, como se já
houvesse acontecido antes, o que me deixa bastante curioso.
— Isso já aconteceu antes?
— A menina já foi casada com um homem que a fez sofrer
muito. — ela diz, ainda afastando os cabelos que caiam no rosto da
mulher encostada ao meu corpo.
Sinto uma pontada de culpa ao ouvir as suas palavras, pois
eu sou o único marido que a Beatrice já teve.
— Como sabe sobre isso? — eu pergunto, mas não explico
que sou o seu marido, pois aparentemente, a mulher não me
conhece.
— Porque durante o tempo em que esteve casada com esse
homem, a Beatrice esteve aqui algumas vezes, sempre a espera do
marido que não vinha. — ela conta — Chegava sempre muito
bonita, radiante, dizendo que enfim nós poderíamos conhecer o seu
amado marido, e ficava por horas aqui à espera desse homem
desumano.
Eu olho para o rosto adormecido da mulher em meus braços
e as lembranças de suas ligações e mensagens, me pedindo para
encontrá-la no seu lugar preferido me vêm à memória.
Mas eu estava sempre tão ocupado, várias coisas se
interpondo entre a minha esposa e eu, que acabava arrumando
várias desculpas para não ir, ou mesmo quando eu desejava estar
lá, aconteciam coisas que me impediam de estar com a Beatrice.
— A Beatrice sempre encontrava desculpas para justificar a
ausência do seu marido, mas eu percebia que às vezes ela acabava
recorrendo ao vinho, como uma forma de tentar consolar o seu
coração magoado.
O arrependimento vem em ondas dolorosas, pois percebo o
quanto errei com a minha esposa, ao desprezar a sua companhia
daquela forma e decido que preciso ter a minha mulher de volta,
tentar recuperar o tempo perdido e compensar a Beatrice por tudo o
que a fiz sofrer, nas vezes em que fui um idiota arrogante e
egocêntrico.
— Acho melhor levar a Beatrice embora. — eu digo para a
mulher, que sorri em concordância.
— Acredito que seja o mais correto.
Nós aproveitamos que não há mais ninguém no pub e depois
de pagar a conta, algo que faço mesmo diante dos protestos da
Julieta, eu coloco a Beatrice em meu colo e a carrego para o carro.
Quando ela já está bem acomodada no banco da frente, me
despeço da senhora e entro no meu carro, os pensamentos em uma
total confusão.
O percurso do pub até a casa da Beatrice é relativamente
perto e em menos de meia hora, já estou parando em frente a
fachada discreta, em um bairro tranquilo de Londres.
Desligo o carro, prestes a dar a volta no veículo e pegar
novamente a Beatrice no colo, quando percebi que ela está
despertando.
— Oh! — fala surpresa, ao ver que já estamos em frente à
sua casa. — Como chegamos aqui?
— Você adormeceu. — eu digo, e percebo que ela fica
bastante ruborizada com a informação.
Beatrice passa a mão no rosto, nitidamente envergonhada
pela situação.
— Que vexame!
— Não pense nisso agora. — Eu tento consolá-la.
Ela balança a cabeça, como se negando aquela sugestão,
mas antes que eu possa abrir a porta para que ela saia só carro,
Beatrice já está descendo, agora parecendo completamente
recuperada das taças de vinho.
Eu a sigo até a sua casa e quando ela abre a porta, mesmo
sem convite, eu também entro em sua casa.
— Eu estou bem, acredite. — ela fala, imagino que por
desejar me dispensar — Você pode ir embora tranquilo.
Não me importo de responder, e menos ainda de seguir a sua
orientação sobre ir embora e ingresso totalmente dentro da sala, e
percebo o quanto ela está escassamente mobiliada, apesar de ser
perceptível o bom gosto das poucas peças existentes no ambiente.
Senti a tristeza apoderar-se de mim, ao constatar que a
minha esposa estava morando em um lugar tão diferente daquilo
com o qual ela estava acostumada, tanto antes de ter se casado
comigo, quanto após a nossa união, quando ela passou a morar em
minha mansão.
— Não entendo como você pode ter escolhido morar em um
lugar assim, quando poderia estar no conforto da minha casa,
Beatrice. — falo aquilo que está me incomodando.
Ela me encara de modo sério, está nitidamente contrariada, e
sorri sem humor.
— Exatamente por esse motivo, Edward. — ela fala com
tristeza — Porque sempre foi a sua casa. Nunca me senti bem-vinda
naquela mansão e agora sim, neste lugar, eu me sinto em casa.
Eu acabo sorrindo pelo absurdo de suas palavras, afinal, nós
éramos casados.
Eu me aproximo dela naquele momento, seguro em seu rosto
com delicadeza, admirando a beleza singela do seu rosto.
— Você é minha esposa, Beatrice. A casa é tão sua quanto
minha e você sabe disso. — eu aponto o óbvio — Volte para casa,
vamos reconstruir o nosso casamento.
Encosto minha boca à sua, sentindo a maciez dos lábios dela
e deposito um beijo leve, mas a verdade é que o meu desejo era ir
muito além disso, mas me contive, não queria assustá-la e preciso ir
com calma.
— Eu a quero de volta, Beatrice. Não apenas na minha casa,
mas também na minha vida. — Declaro com honestidade — Preciso
de você ao meu lado… uma segunda chance para fazer as coisas
da maneira correta.
Nossos lábios estão quase unidos e eu recebo o seu suspiro
praticamente dentro da minha boca, engolindo-o com ânsia e
devorando-a em um beijo faminto e cheio de desejo.
Nos beijamos com paixão, Beatrice correspondente a todo o
meu ardor, seus braços em torno dos meus ombros e seu corpo
totalmente encostado ao meu, enquanto nossos lábios travavam
uma disputa deliciosamente sensual.
Beatrice afastou sua boca da minha em busca de ar, e
aproveitei o momento para reforçar o meu pedido.
— Você volta para casa comigo? — pergunto, a encarando
com expectativa.
A minha esposa se afasta imediatamente dos meus braços, e
aquilo não parece ser ainda suficiente, pois ela coloca alguns
passos a mais de distância entre nós e mesmo antes que ela
responda ao meu pedido, seus olhos já me dizem tudo o que eu
preciso saber.
— Eu não posso, Edward.
Eu não esperava ouvir a sua recusa após a forma
apaixonada com que a Beatrice correspondeu aos meus beijos e
sinto algo como uma sensação de traição, afinal, eu estou pedindo a
minha esposa que volte para o seu lugar de direito e o que ouço
dela é uma inesperada negativa.
— Você não pode… ou você não quer? — pergunto, e minha
voz sai mais dura do que eu tinha pretendido.
— Nós já tivemos a nossa chance e agora é tarde demais
para tentar recuperar uma relação falida. — Beatrice parece
abalada, mas não me sinto comovido — Não há mais possibilidade
de consertar aquilo que você fez toda a questão de estraçalhar
completamente, Edward.
Suas palavras são duras e exageradas.
— Para tudo na vida há conserto, querida esposa. — Eu
contesto as suas palavras — Só é preciso ter o desejo de fazer isso.
Ela reage com um balançar de cabeça, como se a indicar que
não pretende tentar, o que me deixa bastante irritado.
— Vou deixar que pense com calma sobre a minha proposta,
Beatrice. — eu acabo por conceder.
Estou chateado e caminho em direção a porta sem me
despedir, realmente sem conseguir entender o que prende a
Beatrice ao firme propósito de se manter distante de mim, afinal, eu
entendo que errei, mas estou tentando consertar os meus erros, só
preciso que ela me permita fazer isso.
Capítulo 15 – Visitante inesperado
Beatrice
Cheguei ao jornal na manhã seguinte ao meu jantar com o
Edward me sentindo terrivelmente culpada, pois não haveria matéria
alguma para publicar, afinal, eu me deixei levar pelo charme do meu
ex-marido e esqueci totalmente do principal motivo para estarmos
juntos.
Agora, quando o senhor Smith me chamasse até a sua sala,
algo que eu tenho absoluta certeza de que ele fará mais cedo ou
mais tarde, como eu vou explicar que não há nada? Nem mesmo
uma única resposta para todas as perguntas que a mídia está
levantando nos últimos dias.
Dizer que eu me sentia péssima não definia o estado em que
eu estava naquele momento, ao entrar na minha sala no jornal no
qual trabalho e jogar a minha bolsa sobre a cadeira em frente à
minha mesa.
Liguei o computador, a todo momento aguardando uma
ligação da Lucy, a secretária do senhor Smith, para avisar que ele
está me chamando em sua sala, o nervosismo tomando conta de
todo o meu ser.
Os segundos foram passando, se tornando minutos e depois
horas, enquanto eu tentava trabalhar em alguma matéria alternativa,
como uma forma de atenuar o fato de eu não ter conseguido a
entrevista com o Edward, mas eu sabia que não iria escapar de
maneira definitiva, é claro.
Quando eu estava prestes a sair para o almoço, o telefone
em cima da minha mesa toca e atendo já imaginando muito bem
quem seja do outro lado.
— Beatrice? — Lucy pergunta.
— Oi, Lucy. — eu a cumprimentei, sentindo um giro de cento
e oitenta graus dentro do meu estômago e tento adiar um pouco
mais o momento da verdade — Como está?
— Estou ótima, querida. — Lucy responde com simpatia —
Acredito que você já deve estar de saída para o almoço, e peço
desculpas por te atrapalhar, mas o senhor Smith a aguarda em sua
sala.
A Lucy realmente parece envergonhada por estar me ligando
e acredito em suas palavras, mas eu já previa que o senhor Smith
iria me chamar em algum momento e não faria diferença alguma ser
agora ou após o almoço, eu continuaria sem ter uma boa matéria
para oferecer, como uma compensação a que perdi.
— Não tem problema algum, Lucy. — eu digo, resignada —
Irei até a sala do senhor Smith agora mesmo.
Caminho sem pressa pelos corredores extensos e
movimentos, pessoas apressadas seguindo suas próprias direções
e eu apenas tento adiar um pouco mais o momento de estar frente a
frente com o meu chefe.
— Pode entrar, querida. — Lucy convida, levantando-se de
sua mesa e abrindo a porta do escritório do nosso chefe para indicar
que eu deveria seguir — O senhor Smith está à sua espera.
Eu tento um sorriso tranquilo e sigo na direção indicada,
entrando na sala espaçosa e elegante na qual já estive em outras
ocasiões de menos tensão.
O meu sorriso morreu em meus lábios, ao ver que além do
senhor Smith, também está na sala o Edward, me olhando com um
belo sorriso.
— Olá. — É tudo o que eu consigo falar.
— Entre, Beatrice. — O senhor Smith reforça as palavras da
sua secretária — Estávamos falando sobre você.
Mesmo temendo a resposta, eu sabia que não poderia
simplesmente me manter em silêncio, então eu tentei agir
naturalmente, mesmo que o meu cérebro estivesse gritando a
pergunta: o que o Edward está fazendo na sala do meu chefe?
— Espero que o assunto seja agradável. — falei,
demonstrando uma tranquilidade que eu estava muito longe de
sentir.
— O Maddock estava me contando que mesmo com todo o
seu empenho para conseguir a entrevista exclusiva com ele, houve
um imprevisto, algo de última hora, que o impossibilitou e agora ele
veio pessoalmente ao nosso jornal, para fazer isso.
Eu pensei que o meu coração tivesse parado de bater, ou até
mesmo que as minhas pernas não iriam conseguir conter o peso do
meu corpo, pois elas estavam completamente moles, mas para o
meu total alívio, nada disso aconteceu e eu continuava viva e de pé,
encarando o Edward com surpresa.
— Hum-hum… — eu pigarrei, sem saber realmente o que
dizer diante da nova informação — Eu., agradeço bastante a sua
gentileza.
— Eu precisava tentar corrigir algo que foi única e
exclusivamente uma falha minha. — Edward disse, novamente, o
charme devastador fazendo um grande estrago — Podemos
almoçar juntos e eu respondo a todas as suas perguntas, o que me
diz?
— É uma ótima ideia. — Jamais poderia falar algo diferente,
diante das circunstâncias.
— O senhor também está convidado, Smith. — Edward inclui
o meu chefe em seu convite, mas algo me dizia que ele estava
torcendo para que o senhor recusasse.
— Eu adoraria, Maddock, mas já tenho um compromisso para
almoçar. — O senhor Smith recusa, como já era esperado — Fica
para uma outra oportunidade.
— Uma pena. — Edward parece ser um ótimo ator, pois eu
quase acreditei em seu lamento resignado — Então, vamos,
Beatrice?
— Preciso apenas ir buscar a minha bolsa.
— Eu a espero em frente ao elevador.
Agora mais apressada que antes, eu fui até a minha sala e
peguei a minha bolsa, e entrei junto com o Edward no elevador que
nos levaria ao andar térreo do prédio.
Logo que as portas se fecharam, eu tentei colocar a maior
distância possível entre o Edward e eu, e fiquei praticamente colada
a uma das paredes da cabine.
Ele, no entanto, encurtou a pouca distância existente entre
nós, e me encarando de cima, pois era bem mais alto que eu,
Edward coloca a mão na parede de aço atrás de mim e sorri, me
deixando sem fôlego.
— Como ontem nós fomos ao seu lugar preferido, pensei em
almoçar no meu restaurante preferido hoje. O que acha?
— Pensei que estivesse chateado comigo. — eu fujo da
pergunta direta — Pelo menos foi o que deu a entender, ao sair da
minha casa ontem à noite.
No mesmo instante que ouve as minhas palavras, o seu
sorriso é substituído por uma carranca de desagrado, deixando claro
que eu estava certa em minha suposição.
— Estou apenas tentando aceitar as suas vontades, Beatrice.
Mesmo sendo totalmente contra a que permaneça em uma casa
que não te oferece todo o conforto a que está acostumada. — Ele
explica.
— É a minha casa, Edward.
— Mas não precisa ser!
O elevador parou no andar térreo e as portas se abriram, nós
deixando a única possibilidade de sair do seu interior, e eu fui a
primeira a aproveitar a oportunidade de fugir da intimidade gerada
pelo pequeno espaço.
O Edward logo está ao meu lado e quando estamos os dois
em frente ao prédio do jornal, eu o encaro com determinação no
olhar.
— Se pretende realmente me conceder essa entrevista, não
vejo problema algum em almoçar no restaurante aqui ao lado.
Eu não pretendia ter mais momentos como meu ex-marido
como os da noite anterior, e estava claramente me esquivando de
que pudesse acontecer novamente.
Ele não parece nenhum pouco satisfeito, mas acaba
aceitando a minha sugestão e juntos nós caminhamos alguns
metros, até o pequeno e acolhedor restaurante vizinho ao prédio do
jornal.
Nós realmente almoçamos, enquanto eu fazia algumas
perguntas estratégicas, antes de dar início à entrevista propriamente
dita.
Nós dois permanecemos em silêncio enquanto o garçom
retirava os nossos pratos e nos trazia um café, e com as nossas
xícaras já em mãos, eu pensei com melancolia sobre todas as vezes
em que desejei ter um momento tão simples e cotidiano como
aquele com o meu marido, mas ele evitava a todo custo, sempre
ausente… sempre distante.
Aquelas lembranças magoavam de uma maneira bastante
dolorosa, mas eu sempre tentava as afastar, dizendo a mim mesma
que aquilo era passado e que não importava mais, afinal, eu tinha
decidido seguir em frente, superar o forte sentimento que sempre
nutri pelo filho do melhor amigo de meu pai.
Mas agora, olhando para o Edward ali, bem diante de mim,
aquelas lembranças voltavam com força total, me machucando,
maltratando o meu coração.
— Podemos começar? — eu pergunto, empurrando as duras
recordações para longe.
— Pensei que já estava me entrevistando. — Edward
comenta secamente e percebo que ele está irritado, por mais que
tente disfarçar com um sorriso logo após a frase irônica.
— Agora vamos começar verdadeiramente. — eu digo
apenas.
Tentando agir de modo mais profissional possível, dou início
a entrevista e faço muitas perguntas, as quais Edward responde de
modo bastante direto e sem enrolação.
Enquanto ele fala, eu fico admirando o seu belo rosto, a boca
lindamente desenhada, de lábios finos e tentadores, e mesmo sem
desejar, a lembrança do nosso beijo apaixonado, quando ele foi me
deixar em casa na noite anterior, vem a minha memória, me
deixando desconfortável pela forma como o meu corpo reage tão
rapidamente como está acontecendo agora.
— Acredito que já tenho material suficiente para a matéria. —
aviso, encerrando a entrevista.
— Imagino que sim. — Mais uma vez o tom de ironia
presente em sua voz — É muito boa em sua profissão, Beatrice.
Acredito que muito em breve conseguirá alcançar patamares mais
altos na sua carreira.
— Eu estou torcendo para isso.
Tento conter o sorriso enorme que está prestes a escapar de
meus lábios, ao ouvir o seu elogio, mas não consigo.
Edward nunca prestou atenção ao meu trabalho, muito pelo
contrário, pois quando ficamos noivos, a primeira exigência foi de
que eu saísse do jornal e me tornasse esposa em tempo integral.
— O fato de voltar para casa não vai atrapalhar em seus
projetos, querida. — ele diz de maneira surpreendente — Você pode
continuar a trabalhar como repórter.
— Eu não penso em voltar para casa. Edward.
Achei melhor deixar aquilo bastante claro, logo de uma vez
por todas.
Novamente a carranca de contrariedade volta ao seu
semblante.
— Eu estou tentando agir do modo correto dessa vez,
Beatrice.
— É tarde demais, Edward.
Capítulo 16 – É tarde demais para nós
Edward
O almoço com a Beatrice não saiu exatamente como eu
esperava e lamentei a forma como ela estava se afastando mais de
mim a cada dia que passava, sem que eu conseguisse alcançar seu
coração.
O jantar da noite anterior não poderia ser considerado como
um total fracasso, mas eu tampouco diria que também foi como eu
esperava, e depois de ter saído da sua casa extremamente irritado
com a recusa da minha esposa em voltar para casa, eu tinha
esfriado a cabeça e voltado atrás na minha posição intransigente.
Pensei calmamente em uma maneira de me aproximar mais
uma vez da Beatrice, de preferência sem que ela tivesse a opção de
fugir de mim, como tentava fazer em todas as oportunidades, e
lembrei que a entrevista não tinha acontecido, no final das contas e
por esse motivo eu fui ao jornal naquela manhã, conversar
pessoalmente com Joel Smith.
Apesar do relativo sucesso, considerando-se que eu tinha
realmente conseguido que a Beatrice saísse comigo para almoçar,
como planejei, eu não tinha conseguido nada além disso, e acabei
por sair do restaurante com mais uma recusa de sua parte.
Contudo, eu não poderia aceitar aquilo que ela insistia em
repetir, tenho certeza de que não é “tarde demais” para nós dois e
eu vou provar isso para a minha esposa.
Eu tinha conseguido afastar completamente do caminho o
meu oponente, ao sugerir a Joel Smith uma parceria, e através dos
meus contatos no meio empresarial, o dono do jornal tinha enviado
o filho, Andrew, em uma jornada por várias cidades da Grã-
Bretanha, nas quais ele estava negociando alguns acordos
milionários.
E apesar de Andrew já estar longe da minha esposa há
algumas semanas, eu ainda não havia conseguido me aproximar da
Beatrice e conquistá-la novamente como tanto desejo, o que estava
me deixando bastante contrariado.
Lembrei de semblante belo, mas cansado, da minha esposa,
algo que já tinha conseguido me chamar atenção antes, quando ela
esteve no meu escritório na tarde anterior, mas que naquela manhã,
constatei que estava ainda mais gritante e uma certa angústia se
apossou de mim.
Será que Beatrice está doente? É a pergunta que está
martelando insistentemente em minha cabeça.
Por uma questão de desencargo de consciência, decidi
contactar o investigador mais uma vez e encarregá-lo de verificar
como estavam os exames da minha esposa, afinal, ela poderia estar
sofrendo de algum problema de saúde e talvez esse fosse o real
motivo de Beatrice andar tão abatida nos últimos dias.
Ao me lembrar que tínhamos feito suas refeições juntos, eu
excluí a possibilidade de ser por uma questão de má alimentação,
pois eu a havia visto comer e ela o tinha feito normalmente.
Mas talvez ela não o estivesse fazendo com a regularidade e
a constância necessária, agora que estava sempre correndo em
busca de seu objetivo profissional dentro do jornal.
Logo eu estava pegando o aparelho de telefone na minha
mesa e solicitando à minha secretária que entrasse em contato com
o senhor Jones, o investigador particular que eu havia contratado
para seguir todos os passos da Beatrice e me manter informado de
qualquer coisa fora do comum.
— Quero que entre em contato com o senhor Jones e me
passe a ligação, Jennifer — eu peço — Caso não consiga, deixe
recado. Preciso falar com ele o mais rápido possível.
— Claro, senhor Maddock — Jennifer responde prontamente
— Estou aqui para atender a todos os seus pedidos.
Eu não gostei nenhum pouco da maneira insinuante com que
a minha secretária disse aquelas palavras, e mais uma vez concluí
que ela poderia se tornar um problema para mim, pois estava cada
dia mais nítido o interesse da minha funcionária, algo que eu jamais
poderia admitir.
— Apenas faça o seu trabalho — falei de modo frio.
Jennifer é uma secretária bastante eficiente, sempre
antecipando-se às minhas necessidades, e ela havia sido promovida
a esse cargo justamente por seu desempenho em outros setores da
empresa.
Eu gosto de reconhecer os esforços dos meus colaboradores,
mas eu precisava ter uma conversa urgente com a Jennifer, pois
caso aquela sua postura se tornasse mais inadequada, eu teria que
tomar uma atitude mais rígida, algo que eu realmente não gostaria
de ter que fazer.
Pensei em repreendê-la mais firmemente agora mesmo, mas
me contive. Precisava pensar melhor sobre esse assunto, mas tudo
o que eu consegui pensar nas últimas semanas foi em minha
esposa e no quanto eu desejava ter o nosso casamento de volta.
Sou um homem arrependido, em busca de uma segunda
chance.
Beatrice
Suspirei resignada, algo que fazia com bastante frequência
nos últimos dias, e continuei a digitar a matéria para o jornal, com a
entrevista exclusiva com o meu ex-marido.
Aquilo parecia uma piada de mau-gosto, mas é a minha
realidade e eu precisava fingir que estava tudo bem e seguir com a
minha vida, mesmo que sentisse que nada estava realmente como
eu gostaria.
Eu estava tentando viver sem o Edward, superar o grande
amor que sempre senti por ele, mas isso se tornava muito difícil
quando o universo parecia conspirar contra mim, e até o meu chefe
me dava uma tarefa como a que eu tinha realizado naquele dia.
Mas eu precisava ser otimista, acreditar que aquela tinha sido
a última vez que eu precisei estar com o Edward, e que o fato de
que eu tinha deixado bastante claro que era tarde demais para
tentar novamente, quando não há mais volta.
Naquele instante, senti uma leve tontura se apossar de mim e
me mantive quietinha no mesmo lugar, aguardando que o mal-estar
fosse embora.
Que coisa estranha! Eu me alimento bem e tenho dormido
relativamente bem, também. Por que esse mal-estar repentino?
Deitei a cabeça sobre o tampo da minha mesa de escritório, e
mantive os olhos fechados, na tentativa de melhorar mais
rapidamente, o que realmente aconteceu.
Continuei na mesma posição por alguns minutos, e quando
percebi, tinha cochilado mais uma vez em meu trabalho.
Dessa vez, no entanto, não fui surpreendida por ninguém,
como aconteceu antes, que o Andrew me pegou em flagrante,
dormindo sobre a minha mesa.
Pensar no Andrew me deixou ainda mais triste do que eu já
estava me sentindo e depois de consultar as horas, resolvi que eu
precisava fazer alguma coisa para afastar aquela sensação de
melancolia.
Estava no horário de encerrar o expediente naquele dia e foi
exatamente isso que fiz.
Mas não fui para casa, não queria ficar sozinha, precisava de
companhia e ninguém melhor que os meus queridos amigos e o
pequeno Archie.
Vou para o metrô e alguns minutos depois, eu estava
chegando ao bairro onde a Janet mora.
A casa da minha amiga fica próxima a estação de metrô,
apenas a um quarteirão de distância, e eu realmente não tenho
pressa de chegar, por esse motivo, caminho a passos lentos.
Repentinamente, sinto um desconforto, olho algumas vezes
para trás, não consigo notar nada fora do comum ao meu redor, mas
a sensação de que algo não está certo persiste, me deixando
apreensiva.
Sinto-me como se estivesse sendo observada, e a lembrança
das fotos que o Edward me mostrou e principalmente a forma como
ele mandou me sequestrar, porque essa é a palavra correta para
definir o que ele fez, me deixou ainda mais apreensiva.
Eu não queria pensar sobre isso, mas é tudo tão confuso!
Como o Edward pode estar fazendo tudo isso que vem
fazendo, quando ele passou três anos me evitando? É algo que eu
não consigo entender de maneira alguma e o motivo pelo qual não
desejo aceitar os seus pedidos insistentes para que eu volte para a
sua casa.
Nem mesmo a casa onde morei enquanto estávamos juntos
eu consigo sentir como se fosse minha, de tão desgastante que foi
aquele período da minha vida.
Cheguei à casa da Janet ainda com a mesma sensação de
que estava sendo observada e desabafei com a minha querida
amiga sobre isso.
— Será que o Edward colocou alguém para te seguir? — É a
sugestão surpreendente da Janet — Eu só posso pensar que é isso
que está acontecendo.
— Mas por que o Edward faria algo assim? — pergunto com
o cenho franzido.
Isso é tão louco!
— Para manter o controle sobre todos os seus passos,
Beatrice — Janet fala, como se aquilo estivesse bastante claro —
Edward parece ter percebido a grande besteira que fez, não quer
aceitar que você se envolva com outro homem e por isso está
tentando garantir isso, com vigilância constante sobre você.
— Isso é um completo absurdo, Janet. Ele não tem esse
direito! — eu digo, realmente indignada.
— Não tem o direito, mas aparentemente está fazendo.
As palavras da Janet me deixam verdadeiramente revoltada
com a situação toda, mas fazia bastante sentido.
— É aquela velha história, minha querida, ele só está dando
valor agora, depois que te perdeu — ela conclui.
A verdade é que a Janet não tem culpa alguma se o meu
marido é um idiota arrogante, que decidiu agora, tarde demais, que
ainda me quer na sua vida.
Mas eu não estava disposta a dar uma segunda chance ao
sofrimento.
Capítulo 17 – Um homem charmoso
Beatrice
Por alguns dias, eu não vi mais o Edward, e eu poderia
acreditar que ele finalmente tinha entendido que eu não mudaria de
ideia sobre a nossa reconciliação, mas algo me diz que ele só
estava nos dando um tempo.
Eu não estava enganada, e no domingo seguinte, pela
manhã, eu recebi uma ligação do Edward, me convidando para
almoçar com seus tios em Kent, pois todos estariam reunidos hoje
para o aniversário da sua tia Maggie.
— Eu não acho que seja uma boa ideia, Edward — digo,
recusando de maneira delicada o seu convite — Estamos separados
e o fato de irmos juntos à Kent pode gerar comentários maldosos.
— Você ainda é a minha esposa, Beatrice. — Edward diz —
Qual o problema em estarmos juntos com a minha família?
— Apenas oficialmente, pois você não assinou os papéis do
nosso divórcio, como eu acreditei que havia feito. Algo que eu
gostaria que fizesse o mais breve possível, devo acrescentar.
— Eu não pretendo assinar papel algum — Edward não me
surpreende nenhum pouco ao dizer isso.
Suspirei, cansada de tudo aquilo e sem conseguir entender o
que estava se passando na cabeça do meu, ainda, marido.
— Edward… — comecei a dizer, tentando manter a voz
calma e tranquila, por mais que por dentro eu estivesse
extremamente exasperada por suas atitudes — eu gostaria de
entender o que mudou para você, porque eu não consigo, de
verdade.
Houve um momento de silêncio do outro lado da ligação, mas
aguardei até que ele dissesse algo, sem o pressionar.
— Vamos a Kent, que no caminho eu respondo a qualquer
pergunta que você tenha — ele sugere.
Mais uma vez, Edward tentava conseguir aquilo que deseja
através de manipulação, mas eu não iria cair novamente naquela
armadilha, mesmo desejando ardentemente entender qual a
verdadeira motivação por trás da mudança repentina de
comportamento do meu marido.
— Talvez em uma próxima oportunidade, quando tudo estiver
devidamente esclarecido entre nós, nós sejamos amigos, e eu o
acompanhe em uma visita a Maggie, pois eu gosto muito de sua tia.
— Nós somos amigos e as coisas podem ser esclarecidas
hoje, só depende de você, Beatrice — Edward insiste.
Eu tentei resistir, mas ele tornava tudo ainda mais difícil. Não
queria admitir, mas eu o amo e dizer não sempre é algo que me
machuca.
— Você realmente sabe ser insistente, quando quer! —
reclamo, um pouco irritada.
— Passo na sua casa dentro de quarenta minutos — ele diz,
sem se importar com a forma com que falei — É suficiente para se
arrumar?
— Uma hora — eu digo, na tentativa de que ao menos
alguma coisa fosse decidida por mim — Não antes disso.
— Está ótimo — ele concorda prontamente, um sorriso
perceptível em seu tom de voz — Eu estava contando de que você
iria pedir ao menos duas horas.
Eu tento não sorrir da sua confissão, mas acabo por soltar
uma discreta risada, pois ele realmente era um bom negociador.
— Até mais tarde, Edward — me despeço, e sem esperar
para ouvir a sua resposta, encerro a ligação.
Como eu gostaria de ser mais forte, e resistir a tentação
constante do meu marido, mas estava se tornando quase
impossível, quando ele estava me cercando de todos os lados.
*******❤ *******
No horário combinado, Edward passou na minha casa e
juntos fomos para Kent, para o aniversário da sua tia Maggie, uma
pessoa por quem eu tenho um grande apreço.
Ao contrário do que me prometeu, Edward não respondeu a
nenhuma das perguntas que tentei fazer, mudando de assunto e até
mesmo fazendo algumas brincadeiras, para tentar me distrair.
Eu já esperava por essa atitude de sua parte, o conhecia bem
o suficiente para saber que ele não é dado a confissões e conversas
sobre si mesmo, então apenas apreciei o passeio, admirando a vista
e respondendo a um ou outro comentário seu, sobre momentos da
nossa infância e adolescência juntos.
Acreditei que a nossa chegada iria causar algum tipo de
burburinho entre os presentes, mas estava completamente
equivocada, pois todos agiram como se nem mesmo tivessem
ficado sabendo sobre a nossa separação.
Apesar de não apreciar o fato de ser alvo de comentários,
tampouco gostei de que todos agissem como se o Edward e eu
ainda estivéssemos juntos, algo que não é real, mas não houve
momento adequado para corrigir qualquer informação, uma vez que
ninguém também falou diretamente sobre a nossa situação, até
aquele momento.
— O Edward está tão diferente… — Abigail, filha da Maggie,
comentou ao se aproximar de mim — Aliás, vocês dois estão
diferentes hoje.
Mesmo com a intromissão sobre o assunto, Abigail não usava
um tom maldoso, apenas admirado e como sempre gostei bastante
dela, afinal, tínhamos crescido todos juntos em Kent, eu não fiquei
chateada.
— E isso é algo bom? — pergunto, pois realmente gostaria
de ouvir o que a Abigail tem a dizer.
— No caso do Edward, eu diria que sim, é algo excelente —
ela explica, parecendo animada até — Ele está mais tranquilo,
aparentemente menos sisudo e frio.
Acredito que por estar vivendo uma fuga constante dos
sentimentos que ainda nutro pelo Edward, eu realmente não tinha
conseguido notar essa tranquilidade que ele aparenta estar
sentindo.
— E sobre mim, o que você considera que mudou?
— Ao contrário do Edward, você agora parece ser mais…
determinada. Acho que essa palavra te descreve bem —Abigail sorri
— Não sei o que está acontecendo com vocês, ou melhor, entre
vocês, mas eu arrisco a dizer que os papéis se inverteram.
Diante da afirmação da Abigail, eu cheguei à conclusão de
que em Londres as pessoas até poderiam ter tomado conhecimento
sobre a nossa separação, mas em Kent, todos pareciam ainda não
saber sobre nada.
— Acredito que saiba que estamos separados… — eu
precisava dividir aquilo, uma vez que senti tanta verdade nas boas
intenções da prima do Edward.
— Separados!? Você e o Edward? — Pelo olhar horrorizado
da Abigail, eu tive a confirmação de que ninguém ali estava
realmente sabendo sobre nós — Não posso acreditar.
Contei para a Abigail sobre o que tinha acontecido alguns
meses atrás, e a mudança repentina que vinha acontecendo em
toda a situação, e ela se mostrou além de surpresa, também um
pouco triste.
— Eu sempre me perguntei o que fez o Edward agir daquela
maneira durante todo o casamento de vocês, Beatrice — ela
confessou, após todo o meu relato — Vocês sempre foram
apaixonados um pelo outro.
— Está enganada, Abigail. Apenas eu o amava.
— Não, Beatrice — Ela insiste, com determinação — Todos
viam a forma como o Edward tentava sempre estar ao seu lado. Ele
até morria de ciúmes do Sebastian, e eles viviam se estranhando.
Aquela informação me pegou completamente de surpresa,
pois eu nem mesmo sabia que o meu primo Sebastian e o Edward
tinham contato, e somente agora me dei conta desse fato.
— Sempre que o Sebastian chegava à sua casa para passar
alguns dias, o Edward ficava emburrado e de cara feia, um pouco
como o Edward dos últimos anos, depois que retornou de seus
estudos na França.
— Eu… estou surpresa — digo, pois ainda estou um pouco
chocada com aquelas revelações inusitadas — Diria até que…
Não pude completar o meu raciocínio, pois naquele
momento, ouvimos o mordomo avisar a todos, que o almoço seria
servido.
Nós estávamos no jardim, assim como vários dos parentes
do Edward, mas não poderíamos ignorar o chamado, seria muito
indelicado de nossa parte, por mais que eu desejasse conversar
mais um pouco com a Abigail.
Só ao caminhar em direção ao interior da casa, percebo o
Edward me observar com atenção, o seu rosto uma máscara
indecifrável e os meus pensamentos voltam as palavras da Abigail
sobre a relação entre ele e o meu primo, da qual eu nem mesmo
tinha conhecimento.
— Fico feliz que estava conversando com a Abigail… —
Edward comenta de modo discreto, ao sentar-se ao meu lado,
quando chegamos à sala de jantar enorme — Sempre foram
amigas.
— A vida às vezes nos afasta de algumas pessoas.
— Estou tentando evitar que ela nos afaste, Beatrice —
Edward não perde a oportunidade de dizer.
Eu evito responder ao seu comentário, e fico bastante
satisfeita ao perceber que tinham designado o lugar ao meu lado
para a Abigail sentar-se.
— Como estão as coisas com o Bailey, Abigail? — Edward
pergunta, se dirigindo à prima.
Só naquele instante eu me dei conta do quanto fui indelicada,
ao não perguntar a Abigail sobre o seu marido, que somente agora
eu percebi que não estava presente.
— Ele está em Sydney para uma competição, querido primo
— Abigail responde de modo bastante tranquilo, o que indica que
realmente está tudo bem entre eles — Optei por não o acompanhar
dessa vez, pois não queria perder o aniversário da mamãe.
O marido da Abigail é um tenista mundialmente famoso e
eles sempre estavam viajando para competições internacionais, o
que fez com que nos víssemos raramente nos últimos anos.
A conversa transcorreu animada e tranquila, com a Abigail
contando um pouco sobre alguns fatos engraçados do torneio de
tênis, e como sempre foi bastante expressiva, ela conseguiu entreter
a todos durante o almoço.
Apesar de ter recusado o convite inicialmente, eu gostei
bastante do programa daquele domingo, e como a Abigail destacou,
o Edward estava diferente, mais atencioso comigo e simpático com
todos.
Na verdade, no caminho de volta para Londres, eu diria que o
Edward se mostrava cada vez mais charmoso, e aquilo estava
conseguindo abalar, mesmo que apenas um pouco, a minha
resistência.
É difícil resistir a alguém que amamos, ainda mais quando ele
está tentando a todo custo conseguir isso.
Capítulo 18 – Resistindo ao Amor
Beatrice
Após o domingo em que acabei aceitando acompanhar o
Edward a Kent, as coisas começaram a tomar um rumo bastante
diferente e eu diria que de uma maneira bastante metódica e até
mesmo pragmática, ele estava conseguindo se encaixar na minha
nova vida.
O fato é que todos os dias, quando eu me arrumava para ir
para o jornal, Edward já estava batendo à minha porta, pronto a me
levar ao trabalho, sempre charmoso e gentil, e até mesmo
incentivava a me dedicar cada vez mais àquilo que eu escolhi para
fazer, algo bem diferente do que aconteceu no início do nosso
casamento, quando precisei largar tudo para ser apenas esposa.
Ele também me mandava algumas mensagens bastante
atenciosas durante o dia, perguntando sempre se eu já havia
almoçado e coisas do tipo, passando a impressão de que se
importava comigo, o que conseguia aquecer o meu coração bobo.
Edward também sempre estava à minha espera, quando eu
saia do jornal no final do expediente, algo absolutamente
impensável antes, pois Edward nunca tinha horário para chegar em
nossa casa, alegava que o trabalho o prendia além do que gostaria.
Edward também me convidava para jantar, mas eu ainda
estava conseguindo resistir às suas propostas de um novo encontro,
e sobre ele me levar e trazer do jornal, eu fingia que era apenas um
bom amigo, me auxiliando com caronas todos os dias.
Para não me deixar levar pelas atitudes desse novo Edward,
sempre presente e me mimando de todas as formas possíveis, eu
me apegava às lembranças do nosso passado juntos, quando
moramos debaixo do mesmo teto, mas éramos como completo
estranhos um para o outro, e era isso que impedia que eu
concordasse em dar uma nova oportunidade ao nosso casamento.
Mas eu não tinha certeza de que conseguiria fazer isso por
muito tempo, afinal, o meu marido sabe ser bastante persuasivo
quando deseja, e por isso, eu tentava sempre me manter o mais
ocupada possível, para não ficar pensando besteiras.
Mas a verdade é que eu estava também um pouco
desanimada com o meu trabalho, após o senhor Joel Smith não ter
cumprido com a sua parte em nosso acordo, quando me propôs que
eu entrevistasse o Edward, e eu ainda continuava a ser uma
repórter da coluna de fofocas do jornal.
Então quando o meu chefe me chamou novamente à sua
sala, me incumbindo de ir a um evento bastante tradicional em toda
a Grã-Bretanha, a minha primeira resposta foi uma negativa
bastante determinada.
— Acredito que você entenda que trabalha para o meu jornal
e por este motivo, precisa atender aquilo que lhe é solicitado, e que
demandam da sua função conosco, Beatrice — O senhor Smith fala,
usando de sua prerrogativa de chefe para me pressionar.
Eu não gostei nenhum pouco da maneira como ele colocou a
situação, porém, entendo que sou apenas uma funcionária do jornal,
e como tal, preciso atender as solicitações que me são feitas, então
tentei racionalizar melhor, e acabei voltando atrás em minhas
palavras.
— Peço desculpas, senhor Smith — digo, sentada em frente
a mesa do meu chefe, as mãos unidas sobre o colo — Eu agi por
instinto, pois não aprecio esse tipo de evento, mas entendo que faz
parte das minhas atribuições como repórter.
— Entendo, e agradeço por colaborar com o jornal — ele
parece extremamente satisfeito agora — Então, como eu estava
dizendo, trata-se do festival de verão, que irá acontecer em Notting
Hill no feriado.
O senhor começou a me passar as instruções sobre o que eu
deveria fazer, e eu o ouvi de maneira atenta, enquanto ele falava
sobre um dos festivais que acontecem no verão londrino, e eu
precisaria acompanhar os últimos três dias, no caso o sábado,
domingo e a última segunda-feira no mês de agosto, que era uma
data comemorativa na cidade.
Eu busquei minha agenda eletrônica, e fiz algumas
anotações mais importantes sobre o que ele esperava de mim e que
eu trouxesse como matéria do evento, e depois de ter considerado
satisfeito, ele me dispensou para voltar à minha sala.
Saí da sala do senhor Smith bastante irritada, pois eu
realmente não gostava daquele tipo de evento, mas trabalho é
trabalho e eu precisava também fazer algumas coisas de que não
gosto, como naquele caso em especial.
Quando Edward veio me buscar no final do expediente, eu
ainda não estava no meu melhor momento, mas tentei não
demonstrar o meu aborrecimento, pois não pretendia dividir com ele
os meus problemas.
Eu não conseguia entender por que eu não tinha conseguido
ainda dar um basta em tudo aquilo e me afastar do Edward logo de
uma vez, mas uma voz interior disse baixinho dentro da minha
cabeça: “hipócrita” e eu bufei, sem nem mesmo perceber que o
fazia.
— Algum problema? — ele logo perguntou, sem perder o
pequeno gesto.
— Não. Nenhum — nego de imediato.
Ele para o carro em frente à minha casa e agradeço aos céus
por já ter chegado ao meu destino, pois dessa forma, eu poderia
fugir do Edward e das suas perguntas.
— Sei que está chateada com algo, está bastante claro — ele
insiste, como eu já imaginava que faria — Por que não me conta?
Talvez eu possa ajudar.
— Não, Edward. Você não pode me ajudar — eu falo de
maneira bastante rude, e logo me arrependo, afinal, ele não tem
culpa alguma pelo que aconteceu — Desculpe-me. Eu só estou um
pouco cansada. Um banho quente e a minha cama farão maravilhas
por mim. Obrigada pela carona.
Falo tudo isso e saio do carro, sem ao menos esperar por
qualquer reação de sua parte, claramente fugindo de qualquer
diálogo que ele possa desejar, pois não me sinto em condições de
conversar com o Edward hoje.
— Beatrice! — Ouço ele me chamar, e acredito que tenha
saído do carro — Beatrice!
Eu não olho para trás, prefiro fingir que não o ouvi, é o jeito
mais fácil para mim.
Procuro loucamente pela chave de casa dentro da minha
bolsa, mas antes que eu consiga abrir a porta e entrar, sinto a
presença de Edward já ao meu lado, e tento controlar a irritação que
se apodera completamente de mim naquele momento.
– Por que está fugindo desse jeito, Beatrice? Eu só estou
tentando ajudar! — ele reclamou, me fazendo girar em sua direção e
encará-lo de frente.
— Eu não quero a sua ajuda, Edward! Não mais — falo de
maneira grosseira — Eu posso me virar sozinha, hoje eu sei que
consigo fazer isso. Gostaria que você entendesse também e me
deixasse em paz, de uma vez por todas.
— Eu estou tentando dar o meu melhor, corrigir tudo o que eu
fiz de errado, mas você não me permite — Edward parece estar
também bastante aborrecido, assim como eu me sentia — Você não
está sozinha. Eu estou aqui para você, é só isso que eu quero que
você entenda.
Eu estava prestes a dizer mais uma vez que era tarde demais
para isso, quando senti uma lágrima cair, e levei a mão até o meu
rosto, tentando impedir que ela chamasse a atenção do Edward
sobre esse detalhe.
Mas quando a minha mão tocou o meu rosto, já não era
apenas uma lágrima a cair, e sim um pranto copioso e
constrangedor, que eu inutilmente tentei esconder.
— Não fica assim, por favor! Eu não quero te fazer chorar,
Beatrice… — Edward fala, sua mão sobre as minhas, que tentavam
esconder o choro.
Logo o Edward está me abraçando, e eu o aceito, e mesmo
sem querer admitir, eu estava precisando daquilo.
— Vamos entrar — ele diz de maneira delicada.
Não sei como ele consegue fazer, mas Edward abre a porta
da minha casa e juntos nós caminhamos até a sala, e ainda
abraçados, sentamos sobre o sofá, que apesar de não ser um
modelo elegante e luxuoso, é bastante espaçoso e confortável.
— Eu sinto muito por tudo, Beatrice. De verdade — Edward
diz, e sua boca está bem próxima ao meu ouvido — O que eu posso
fazer para você acreditar em mim?
— Eu acredito em você, Edward — confesso tristemente —
Mas isso não é o bastante para me fazer esquecer tudo o que
passei durante três longos anos.
— Por que não tentamos? — ele sugere — Vamos devagar,
aos poucos nos habituando novamente um ao outro e eu tenho
certeza de que posso reconquistar a sua confiança.
— Eu não sei…
Sinto a mão do Edward erguer o meu queixo, seus olhos nos
meus, e admiro mais uma vez o quanto ele é belo, um homem
imponente em todos os sentidos da palavra, e sinto a pulsação
aumentar, junto com a ansiedade de algo que eu nem mesmo
poderia afirmar o que é.
— Seja minha mulher, Beatrice.
Aquelas palavras tocaram fundo em meu coração sensível, e
eu sinto as muralhas que ergui em torno dele se desvanecendo aos
poucos.
Capítulo 19 – Reconquistando-me
Beatrice
Eu gostaria de responder que não, que ele teve a
oportunidade e perdeu, mas eu não consegui dizer as palavras.
Havia um nó em minha garganta, o meu coração batia
acelerado e eu sentia um frio tremendo na barriga, que estava me
deixando ao mesmo tempo apreensiva e em expectativa.
Edward parece ter percebido que as palavras me faltaram,
pois ele toma os meus lábios de assalto, beijando-me com
intensidade, me deixando completamente à mercê das sensações
que estavam sendo despertadas em meu corpo.
— Edward… — Seu nome saiu dos meus lábios em um
lamento incompreensível.
Senti suas mãos subirem para o meu pescoço, acariciando
aquela região sensível, e depois chegarem a minha nuca,
segurando-me firmemente, seus dedos tocando também o meu
couro cabeludo e me causando arrepios por todo o corpo.
— Eu preciso de você, Beatrice…
Foi a vez de Edward falar, em um gemido estrangulado, seus
lábios esmagando os meus, e a pulsação entre as minhas pernas
aumentou ainda mais.
O beijo foi ficando cada vez mais sensual, suas mãos
tocavam o meu corpo agora, chegando aos meus seios, e antes que
eu pudesse raciocinar sobre aquilo que estava acontecendo entre
nós, Edward retirou o meu blazer e a minha blusa, me deixando com
a saia e o sutiã de renda.
Edward me deitou sobre o sofá, colocando o seu corpo sobre
o meu, não me dando tempo para pensar, seus toques me levando
a um patamar de excitação onde era completamente impossível
usar a razão.
Com agilidade e grande perícia, ele consegue tirar a minha
roupa rapidamente, assim como a sua própria, e antes do que eu
esperava, as carícias se tornaram ainda mais íntimas, suas mãos
agora tocando delicadamente em minha intimidade.
— Diga que também me quer, Beatrice — Edward pediu com
uma voz estrangulada e rouca — Eu preciso ouvir essas palavras da
sua boca, querida.
— Eu te quero, Edward — confesso.
Edward exibe então um lindo sorriso ao ouvir a minha
confissão, e volta a me beijar com ainda mais vontade, e o seu
desejo refletia o meu.
Estar com o Edward daquela forma, entre beijos quentes e
abraços apertados, suas mãos passeando por todo o meu corpo,
demorando-se em lugares que estimulava cada vez mais a minha
entrega total, é algo que eu não acreditei ser mais possível, mas
estava acontecendo agora, na sala da minha nova casa.
Sua mão estava de volta ao lugar que pulsava
descontroladamente em meu sexo, e dedicou-se a tornar aquela
sensação ainda mais forte e intensa, me deixando ansiosa por mais
e mais.
— Edward, não aguento mais… — eu precisava dele!
Ele afastou a sua boca da minha, me olhando com desejo, e
se ajeitando melhor entre as minhas pernas, ele tocou a minha
fenda, já úmida pelo desejo devastador, seu dedo praticamente
escorregando em meus líquidos.
— Pronta e toda minha — ele disse, seu tom demonstrando
uma possessividade que me era totalmente estranha.
O meu estômago pareceu se contrair em expectativa, o
latejar pulsante entre as minhas pernas me deixando ansiosa por
ele, que prontamente atendeu ao meu desejo desenfreado por tê-lo
dentro de mim.
Edward começou a me penetrar aos poucos, seus
movimentos delicados, e sua boca estava novamente na minha,
engolindo os meus gemidos torturados de prazer.
Senti algo se romper dentro de mim, uma sensação dolorosa
de invasão, mas ao mesmo tempo também era prazerosa, e afastei
meus lábios dos seus, em busca de ar e Edward interrompeu seus
movimentos e me encarou com seus olhos brilhando com algo
incomum, que me deixou totalmente fascinada.
— Logo essa dor vai passar e só haverá prazer — ele falou
baixinho em meu ouvido, e senti um arrepio de prazer com sua voz
potente.
Dessa vez, fui eu a procurar os seus lábios, tentando
esquecer a dorzinha incômoda por ter o seu corpo dentro do meu,
me acostumando aos poucos com o seu tamanho.
O meu corpo foi relaxando lentamente, e na mesma medida
que isso ia acontecendo, Edward passou a se mover dentro de mim,
e como ele mesmo avisou, agora só havia prazer.
Seus movimentos começaram a seguir um ritmo cada vez
mais intenso, e na mesma medida que os meus gemidos o
acompanharam, e uma sensação de ânsia também foi crescendo
em mim, me deixando em uma expectativa deliciosamente
angustiante.
Logo o meu corpo foi tomado por um êxtase alucinante e
maravilhoso, e o meu corpo subiu ao ápice do prazer.
Edward não demorou a me acompanhar, e logo seu corpo
pareceu tremer sobre o meu, em um clímax poderoso.
— Você é minha, Beatrice — ele disse, me beijando.
Continuamos a nos beijar lentamente, sem a ansiedade de
antes, agora que estávamos saciados em nosso desejo.
Sem que eu esperasse, Edward levantou a nós dois do sofá,
e depois de perguntar onde ficava o meu quarto, ele me colocou em
seu colo e me levou pelo caminho indicado,
Mas ele não me colocou na cama, como eu imaginei que
faria, passando direto pelo quarto e entrando no banheiro anexo.
Tomamos banho juntos, um banho longo, realmente
demorado, e entre beijos e carícias, fomos nos livrando dos
vestígios do nosso encontro apaixonado no sofá e só depois disso,
fomos para o meu quarto e ficamos deitados, apenas a precisando a
companhia um do outro.
— Sente fome? — Edward perguntou, em determinado
momento.
Não precisei pensar muito na resposta àquela pergunta, pois
me sentia faminta, depois de toda aquela movimentação.
— Sim, muita — respondi sorrindo — A minha última refeição
foi há mais de oito horas, apenas um sanduíche.
Edward não pareceu gostar nenhum pouco daquela
informação, sua expressão fechando-se em uma carranca e eu não
podia culpá-lo
— Eu mandei mensagem, perguntei se você havia almoçado
direito e você respondeu que sim, que o havia feito, Beatrice — ele
reclamou, cruzando os braços sobre o peito — Mentiu para mim
sobre algo tão pequeno, e isso não é algo bom.
Eu sorri sem graça, afinal, havia realmente contado o que
considerei uma pequena mentira, mas acabo de chegar a conclusão
que não existe pequena ou grande mentira, são todas iguais.
— Desculpe-me — peço, envergonhada — Eu estava tão
atarefada, e preferi não sair para almoçar, me contentando em
comer um lanche rápido.
Após alguns segundos em que me encarou demonstrando
todo o seu aborrecimento com a informação, Edward pulou da cama
e mesmo sabendo que aquele não é o momento apropriado para
isso, eu admirei toda a exuberância do seu corpo, e meus olhos
estavam focados em uma parte específica dele, aquela que me
levou ao êxtase, há pouco tempo atrás.
— Beatrice! — Edward me chamou a atenção e senti o calor
tomar conta da minha face, por ser pega em flagrante — Ouviu o
que eu disse?
— Não — confesso em uma única palavra, constrangida
demais para me explicar melhor — O que foi?
— Poderíamos sair para jantar, o que acha? — ele repete a
pergunta feita anteriormente, e não parece ter achado engraçado o
meu pequeno lapso vergonhoso.
Pensei brevemente em seu convite, pensando seriamente se
aquela era uma boa ideia, mas acabei concordando, afinal, eu
precisava jantar, de qualquer forma.
— Tudo bem, então.
Edward parece bastante satisfeito por eu ter concordado com
a sua ideia de sair para jantar e esquece até mesmo que estava
chateado pela mentira sobre o almoço daquele dia, pois volta a
deitar-se ao meu lado, e após me puxar para o seu peito, me beija
com sofreguidão.
Sinto o coração acelerar novamente, e suas mãos passeiam
agora por meus cabelos, tocando em minha nuca, e aquilo, por si
só, já me deixa bastante excitada, agora que eu já sei exatamente o
prazer que ele pode me proporcionar.
— O nosso jantar? — pergunto, a respiração acelerada pelo
desejo latente.
Edward também parece afetado pelos nossos beijos, mas
suspira de modo resignado, como se tentasse se controlar, e após
dar um beijo rápido e delicado em meus lábios, ele levanta
novamente da cama.
— Precisa sair dessa cama também, Beatrice — ele diz.
Edward está me encarando agora com uma repreensão em
seu olhar, me deixando momentaneamente confusa pela mudança
brusca de comportamento, mas logo ele explica
— Está tentadora demais, deitada entre os lençóis, e será
impossível saímos de casa desse modo.
Fico surpresa por suas palavras, mas logo se faz um sorriso
em meu rosto e sinto a alegria me invadir, ao constatar que o meu
marido me acha tentadora ao ponto de não saímos de casa para
jantar.
— Desculpe? — pergunto em tom divertido.
— Vou procurar minhas roupas — Edward diz com um
sorriso, saindo do quarto rapidamente.
Coloco as mãos sobre o meu rosto e soltei uma gargalhada,
feliz demais para me controlar.
Olhei em torno do meu quarto, ainda sem acreditar em tudo o
que aconteceu nas últimas horas, e penso no quanto as coisas
mudaram.
Mas não vou analisar nada agora, estou feliz como há muito
tempo não me sentia, e isso é tudo o que importa, afinal, Edward é
meu marido, somos casados, não estamos fazendo nada de errado.
Com a animação pulsando em meu corpo, enfim me levanto
da cama e vou a procura de algo para usar em nosso jantar, pois
logo o Edward estaria de volta ao quarto e algo me dizia que ele
estava falando a verdade sobre dizer que se eu ainda estivesse
deitada, nós realmente não iríamos sair daquela casa hoje.
Capítulo 20 – Planos Frustrados
Beatrice
Diferentemente da outra vez em que jantamos juntos, o
Edward agora me levou a um dos seus restaurantes prediletos, um
ambiente extremamente luxuoso, frequentado apenas pela mais alta
elite londrina.
Alguns rostos olham discretamente em nossa direção,
quando entramos no restaurante, mas nada que possa realmente ter
me incomodado, afinal, eu já esperava por isso.
Edward é uma pessoa bastante conhecida em todo o país, e
como raramente saímos juntos durante o nosso casamento, o fato
de estarmos fazendo isso agora, só poderia despertar a curiosidade
das pessoas sobre a nossa relação.
Lembrei do evento em que nos encontramos, apenas
algumas semanas atrás, e cada um de nós estava com um
acompanhante, e cheguei a baixar a cabeça por me sentir um pouco
constrangida com a situação toda.
— Está estranha, desde que chegamos — Edward comenta,
me olhando atentamente — Não gostou do lugar?
Já estávamos sentados à mesa do restaurante, aguardando
os nossos pedidos, e o seu olhar era totalmente avaliativo.
— Não há problema algum com o restaurante — eu fujo da
pergunta.
Ele percebe que não respondi diretamente, e toca a minha
mão por sobre a mesa, segurando-a delicadamente.
— Se não aprova a minha escolha, podemos ir a outro lugar
— oferece, enquanto seus olhos ainda procuram segurar os meus
— Não quero que se sinta desconfortável de qualquer maneira.
O fato de Edward perceber o meu desconforto é algo novo e
que deixa o meu coração aquecido e bobo, pois ele nunca se
preocupou antes com a minha opinião sobre qualquer coisa, ou
melhor, durante o nosso casamento ele não o fez.
O Edward com quem convivi por anos em Kent era bem mais
atencioso, sempre estava preocupado com o meu bem-estar, e a
sua mudança realmente só aconteceu após voltar da França,
quando meu pai ficou doente demais para cuidar da empresa que o
seu amigo, pai do Edward, havia deixado de herança para o filho.
Lembrar desses fatos trazia uma pontada de dor ao meu
peito e concluí que o melhor era tentar deixar aquilo no passado,
afinal, o momento presente é o que verdadeiramente importa, e
agora, Edward voltou a ser a mesma pessoa com quem convivi em
minha infância e adolescência, e isso é algo verdadeiramente
reconfortante.
— Não é necessário sairmos daqui — eu acabo por dizer —
Na verdade, aonde quer que a gente vá, sempre haverá curiosos
especulando sobre a nossa relação, afinal, estamos separados.
— Algo que pode ser facilmente resolvido, Beatrice — A
expressão de Edward é de desagrado e eu me encolhi na cadeira
ao ouvir o tom de voz duro e inflexível — Você precisa apenas voltar
para casa.
Eu consegui fugir de ter que comentar sobre o que o Edward
tinha acabado de dizer, pois os nossos pratos chegaram naquele
momento, e após Edward provar o vinho, aprovando a qualidade
deste, e o sommelier saiu, tentei mudar de assunto.
— Eu estou realmente faminta — digo com um sorriso, ao
sentir o cheiro agradável do belíssimo prato a minha frente — E
imagino que a comida esteja bastante apetitosa.
— E eu imagino que esteja tentando evitar que falemos sobre
a sua volta para casa e vou aceitar isso, ao menos por enquanto —
Edward continua com a mesma inflexibilidade na voz — Mas isso é
algo que precisamos voltar a falar em algum momento, Beatrice.
Você sabe disso.
— Em algum momento falaremos, então — tento soar
divertida, para quebrar o clima tenso que se formou em torno de
nós.
Edward me olha de maneira dura, e lembro do homem com
quem convivi por três anos.
Um questionamento importante se insere em minha mente e
me pergunto: Qual o verdadeiro Edward? Aquele que esteve me
cortejando nos últimos dias, sempre atento às minhas necessidades
e desejos, ou o homem frio e distante, com quem vivi durante todo o
meu casamento?
Mas aquela é uma pergunta que não poderia ser respondida
tão facilmente.
O restante do jantar transcorre de modo mais tranquilo,
falamos sobre vários assuntos aleatórios, e eu consigo dessa
maneira evitar que falemos sobre nós mesmos, quando eu ainda
não tinha certeza sobre o que de fato eu desejo.
Tivemos sexo ou nós fizemos amor? Eu realmente não
saberia responder, quando o meu marido não se abria sobre os
seus pensamentos, se resumindo a pedir por uma reconciliação,
mas sem abrir verdadeiramente o coração.
O barulho seco da taça de vinho sendo posta sobre a mesa
com mais força do que o necessário conseguiu chamar a minha
atenção, e olho para o Edward sem entender o motivo de tal gesto.
— É perceptível que não está tudo bem, Beatrice — ele fala,
nitidamente aborrecido — Eu preciso que me diga o que a está
atormentando, pois apenas assim poderei fazer algo em relação ao
que está te afligindo.
Suspiro resignada, e olho em torno do ambiente, admirando
as pessoas elegantes e educadas à nossa volta, e apesar de ter
crescido em meio a elas, conclui que o melhor para nós dois hoje,
teria sido ficar em casa.
Em meio a todos, uma mulher em especial consegue chamar
a minha atenção, tanto por sua beleza exuberante, como pela forma
como ela estava olhando em direção a nossa mesa, mas imaginei
que estava aficionada com a ideia de que estava sendo observada
pelas outras pessoas.
No final, Edward estava com toda a razão, sem diálogo
jamais poderíamos nos entender realmente.
— Você tem razão, Edward — concordo, prestes a abrir o
jogo sobre aquilo que estou sentindo — Precisamos conversar. Mas
os dois precisam falar, entende?
Edward não pôde responder a minha pergunta, no entanto,
pois naquele momento ouvimos uma voz feminina e vibrante falar
bem próximo a nós.
— Edward, mon chéri! — diz a bela mulher que chamou a
minha atenção — Há quanto tempo não nos vemos, mon amour!
Aparentemente, eu não estava imaginando coisas e a bela
mulher realmente estava nos encarando, a prova disso é que ela
estava agora parada ao nosso lado, os braços agitados no ar, como
se a espera de que o Edward se levantasse para a cumprimentar de
maneira esfuziante.
Aguardei pela reação do meu marido, que parece estar em
choque pela aparição repentina da mulher, mas logo consegue se
recuperar, e de maneira surpreendente, ele realmente levanta-se de
seu lugar, e eles se cumprimentam à moda francesa, com dois
beijinhos na bochecha, é claro.
— Como está, Louise? — Edward pergunta, com um sorriso
que considerei largo demais.
Aquele nome ressuscitou algumas lembranças
desagradáveis, pois Louise é o nome da namorada com quem o
Edward precisou terminar a relação, a deixando em Paris, para
voltar a Londres, e assumir a sua posição na empresa e
consequentemente, também casar-se comigo.
Sem sombra de dúvida, eu estava diante da mesma pessoa e
aquilo conseguiu mexer ainda mais com as minhas emoções, logo
quando estávamos tentando nos entender.
— Maravilhada por encontrá-lo após tanto tempo, mon chéri.
Tento me manter tranquila diante do fato de que a tal Louise
não estava nem um pouco preocupada de que o homem com o qual
estava conversando de maneira tão “carinhosa” estar acompanhado
de uma mulher, o que diz muita coisa sobre a situação.
— Você sempre tão exagerada, Louise — Edward a
repreendeu, mas o seu tom era bastante afetuoso, o que me
incomodou excessivamente — Mas, veja, eu quero que você
conheça uma pessoa.
Nossa! Enfim, Edward lembrou da minha existência, e eu
pensei seriamente em me manter sentada, algo que seria
considerado extremamente rude de minha parte, mas que eu estava
bastante tentada a fazer naquele momento.
Contudo, me levantei, enquanto Edward me apresentava a
mulher que foi tão importante em seu passado e de quem eu
sempre tive muito ciúme, mas ele não sabia disso.
— Beatrice, quero que conheça uma grande amiga, Louise
Orleans — ele diz — E essa é Beatrice, a minha esposa.
Louise parece extremamente surpresa com a maneira com a
qual eu fui apresentada, e não se preocupa em disfarçar o fato, e
depois de um breve e bastante impessoal aperto de mãos, ela se
volta na direção do Edward, uma expressão indagadora em seu
rosto.
— Soube que estava separado, mon chéri — ela
simplesmente solta aquela informação diante de nós — E, até
mesmo estava se relacionando com uma de minhas amigas íntimas,
Mila Durant. Então, eu estou mal-informada?
Eu sinto uma pontada de decepção se instalando em mim, ao
me dar conta do extremo mal-estar que se formou a partir das
palavras da amiga de Edward, afinal, ele tem uma parcela muito
grande de culpa por estarmos agora em tão delicado momento.
Eu decidi que não iria aguardar que ele pudesse contornar a
situação, não me submeteria a isso. Simplesmente, sem nenhum
tipo de aviso, peguei a minha bolsa e deixei os dois sozinhos, para
que conversassem à vontade.
— Beatrice — Edward ainda fala de maneira discreta, ao me
ver virar-lhe as costas.
Eu conhecia o meu marido o suficiente para saber que ele
não iria chamar a atenção de todos no restaurante, então continuei
a caminhar para a saída, e já do lado de fora do prédio, chamei um
táxi e voltei para o meu porto seguro: a minha casa.
Capítulo 21 – O Retorno do Rival
Edward
Um sentimento de incredulidade total se apossou de mim ao
ver a forma como Beatrice simplesmente foi embora do restaurante,
sem me dar qualquer satisfação, me deixando falando sozinho, após
a maneira infeliz com que a Louise questionou a nossa relação.
Beatrice nunca havia feito nada parecido antes, e eu jamais
poderia imaginar que ela seria capaz de tal ato, e apesar de estar
me sentindo extremamente irritado com a sua atitude, eu tampouco
poderia dizer que ela estava totalmente errada por ter feito aquilo.
Louise tinha passado de todos os limites, ao me questionar
daquela maneira sobre algo que não lhe diz respeito.
— Por que está me olhando com essa carinha de bravo, mon
chéri? — Louise tem a audácia de me perguntar, fingindo-se de
desentendida.
— Não se faça de boba, Louise, não combina com você.
Devo dizer que estou bastante decepcionado com a sua atitude —
Faço questão de dizer para a minha ex-namorada — A Beatrice é
minha esposa e se você estava curiosa sobre qualquer coisa, não
deveria ter feito isso dessa forma. Foi de extremo mau gosto.
Louise não parece se importar nenhum pouco com a minha
repreensão, muito pelo contrário, ela sorri de maneira
espalhafatosa, chamando a atenção de algumas pessoas mais
próximas a nós.
— Ah, mon chéri! — Louise toca o meu braço em um gesto
íntimo demais — Eu não tive intenção alguma de ferir os
sentimentos de Beatrice, me perdoe, por favor.
Apesar do pedido de desculpas, as palavras diziam o oposto
das atitudes e não havia pesar em seu rosto e considerei melhor
não perder mais tempo com aquela mulher, que não faz mais parte
da minha vida há bastante tempo e ir atrás da minha esposa.
Peguei a minha carteira do bolso interno do meu blazer e
acenei para o garçom, que prontamente se encaminhou até a mesa,
e enquanto Louise me olhava, paguei a conta
— Aonde vai? — ela perguntou, o sorriso enorme que tomava
conta de todo o seu rosto, agora diminuindo de tamanho.
— Até mais, Louise — foi a minha resposta.
Caminhei apressado em direção à saída, talvez Beatrice
ainda não tivesse conseguido encontrar um táxi e eu pudesse
alcançar a minha esposa, e tentar pedir desculpas, mesmo que eu
não tivesse realmente tido culpa alguma sobre o que aconteceu.
Para o meu completo alívio, ela realmente ainda estava em
frente ao restaurante, próximo à guia da calçada, provavelmente
com a intenção de chamar algum táxi que fosse passando.
Adiantei ainda mais os passos, mas quando cheguei mais
próximo de onde ela estava, constatei que conversava com alguém,
um homem, e aquilo foi suficiente para me deixar bastante irritado.
Mas quando reconheci o homem com quem ela estava
conversando, fiquei realmente possesso.
Se tratava de Sebastian, primo de Beatrice, alguém que eu
preferia que ficasse bem longe dela e que eu tinha providenciado
pessoalmente para que isso acontecesse, afinal, ele não é o tipo de
homem com quem a minha esposa deveria manter contato.
Beatrice não sabe disso, mas seu primo tem gostos bastante
excêntricos, além de sempre se envolver com prostitutas e
frequentar clubes de sadomasoquismo desde que se tornou maior
de idade.
Quando eu assumi a presidência da empresa dos Pagett, a
minha primeira ação foi mandar Sebastian para bem longe de
Londres, para uma das filiais da empresa, na Irlanda para ser mais
específico, e, consequentemente, da minha esposa, com quem eu
não gostaria que ele mantivesse nenhum tipo de relação, nem
mesmo de amizade.
Eu tinha conseguido fazer isso, e para ter absoluta certeza de
que eles não se encontravam mais, eu sempre mantive um
investigador sempre atento a todos os passos da minha esposa,
pois eu precisava ter certeza sobre todos os seus passos.
Fiquei indeciso sobre seguir até onde eles estavam e mostrar
a minha presença, intimidando-os, ou fingir que não os tinha visto e
ir embora para casa, para aguardar qual seriam os próximos passos
dos dois primos.
Olhei em torno, procurando por todos os lados, na tentativa
de localizar o investigador particular e ter a certeza de que eu
realmente iria descobrir o que aconteceu a partir dali, caso eu fosse
embora, mas não encontrei ninguém suspeito.
Enquanto eu ficava nessa dúvida, antes de conseguir me
decidir sobre qualquer coisa, Beatrice e Sebastian saíram
caminhando até um carro parado um pouco mais à frente, entrando
no mesmo, que saiu na direção oposta a que eu estava agora.
A decisão foi tirada de minhas mãos e eu não pude nem
mesmo ver que direção eles pegaram, pois naquele momento o
manobrista trouxe o meu carro, tirando a minha atenção do carro
conversível vermelho.
Eles tinham ido embora!
Peguei rapidamente o meu celular de dentro do bolso da
roupa e liguei para o investigador Jones e fui prontamente atendido
por ele, o que me agradou bastante, confirmando mais uma vez que
o homem estava sempre a postos, afinal, eu pagava um valor
bastante alto para ter esse controle sobre a minha esposa.
— Estou acompanhando os dois bem de perto — foi a
resposta eficiente de Jones.
— Fico satisfeito em saber disso — parabenizo o investigador
— Logo que tiver a informação sobre onde eles foram, me mande
uma mensagem, por favor.
— OK.
Encerro a ligação e depois de já estar dentro do meu carro,
dirigi até a minha casa, onde só poderia dormir depois de saber qual
o destino tomado por Beatrice e Sebastian, e mais uma vez lamentei
o que aconteceu após a chegada intempestiva de Louise para
atrapalhar o que estava sendo uma noite bastante agradável ao lado
da minha esposa.
Eu tinha tido uma relação bastante intensa com Louise,
quando estava estudando em Paris, mas fui chamado a voltar para
Londres e assumir as minhas responsabilidades, e não pensei duas
vezes em terminar tudo com ela e aceitar o contrato de casamento
proposto por George Pagett, pai de Beatrice.
Sempre acreditei que tinha amado Louise loucamente, pois
ela tinha sido a minha primeira namorada de fato, e por ser ela uma
mulher bastante experiente e cheia de artimanhas, conseguiu me
encantar, me deixando cheio de paixão e desejo.
Quando recebi o convite para o casamento de Louise com
outro homem, me senti traído, pois ela tinha prometido que iria me
esperar, algo que claramente não aconteceu, e cheguei a pensar
que aquele seria o dia mais triste da minha vida, após a morte dos
meus pais.
Eu estava enganado, pois ver pessoalmente a Beatrice com
Andrew Smith em um evento, foi dez vezes mais doloroso que o
casamento de Louise, e naquele dia eu tive a certeza de que eu não
era tão imune a minha esposa quanto acreditei por tanto tempo.
Eu já sabia que a minha esposa estava saindo com outro
homem e que ele costumava levá-la em casa, mas aquilo não tinha
me afetado, realmente.
Mas ver os dois juntos trouxe uma dor desconhecida ao meu
peito, eu me senti sem chão e possesso de raiva, ao ponto de até
mesmo mandar que sequestrassem a Beatrice, de modo a dar um
susto grande o suficiente para que ela não ousasse mais se
encontrar com aquele homem, algo que consegui ter sucesso, de
fato.
Mas agora o Sebastian estava em Londres e os dois estavam
juntos, algo que estava me incomodando de uma maneira bastante
desagradável e eu não sabia se poderia me controlar por muito
tempo mais, sem fazer nada para afastar os dois, como já tinha feito
há três anos atrás, quando nos casamos.
O fato é que eu descobri que estava me enganando por todo
aquele tempo e só após estar com os papéis do divórcio em minhas
mãos foi que eu percebi que não era aquilo que eu queria e que na
verdade eu amava a minha esposa e precisava tentar recuperar o
tempo perdido e o seu amor de volta.
Da mesma forma que fiz com o Sebastian, através da minha
amizade com Joel Smith, também consegui que ele enviasse seu
filho Andrew para bem longe de Beatrice também, deixando o
caminho completamente livre para mim de novo.
E eu não deixaria que o primo de Beatrice atrapalhasse os
meus planos, ainda mais agora, quando estávamos nos entendendo
novamente.
Quando cheguei a minha casa, fui diretamente até o bar que
fica na sala de estar da minha mansão e despejei no copo uma dose
dupla de whisky, tomando praticamente em um único gole.
O meu telefone celular tocou naquele instante com uma
notificação de uma nova mensagem e eu o peguei apressado,
esperando ardentemente que fosse Jones, ou ainda melhor que
isso, a Beatrice, para dizer que se arrependeu por sua atitude no
restaurante, reconhecendo que eu não tive culpa naquela situação
bizarra.
Se tratava de uma mensagem do Jones e eu abri
rapidamente, ansioso em saber o que ele tinha para me dizer.
Jones: Ele a deixou em casa e foi embora.
Edward: O seguiu?
Jones: Sim… ele acaba de entrar em um clube sado.
Suspirei aliviado ao saber que a Beatrice não o estava
acompanhando.
Capítulo 22 – Revelações surpreendentes
Beatrice
Quando eu saí do restaurante, a primeira coisa que fiz foi
tentar chamar um táxi, pois não queria correr o risco de que o
Edward me alcançasse, mas após alguns minutos sem conseguir
encontrar nenhum deles, cheguei a conclusão de que não seria
nada fácil.
Apesar de não acreditar que o Edward realmente viria atrás
de mim, ele nunca o fez, ainda assim, eu fiquei a todo momento
olhando em torno, na expectativa de que ele aparecesse na entrada
do restaurante.
— Beatrice? — ouvi uma voz chamar por meu nome.
Girei na mesma direção do chamado, e vi que na verdade se
tratava do meu primo Sebastian, o que conseguiu me deixar
bastante surpresa, pois já faz anos que eu não o via e
coincidentemente estive falando sobre ele com a Abigail apenas
alguns dias atrás.
— Sebastian! — falei com animação, feliz em vê-lo.
Meu primo me puxou para um abraço e depois de alguns
segundos onde ficamos apenas matando um pouco das saudades,
ele me afastou, olhando diretamente em meu rosto, como se
estivesse à procura de algo.
— O que está fazendo aqui fora? — pergunta demonstrando
estar ao mesmo tempo preocupado e feliz — Ainda mais sozinha!
— Estava procurando um táxi — digo apenas, sem entrar em
maiores detalhes.
— Estava chorando? — perguntou, o cenho franzido.
Ao ouvir a sua pergunta, lembrei que realmente deixei
algumas lágrimas teimosas descerem pelo meu rosto, e aquele fato
me deixou bastante envergonhada agora.
— Eu tropecei e quase torci o pé, mas estou bem, não se
preocupe — menti descaradamente — Não posso acreditar que está
em Londres e não entrou em contato comigo, Sebastian.
Fiz questão de colocar logo outro assunto na pauta, para que
o meu primo esquecesse as lágrimas traiçoeiras, pois não quero
que ele descubra sobre o que tinha acabado de acontecer dentro
daquele restaurante, era demasiadamente vergonhoso para mim.
— Peço desculpas por ser tão relapso, querida prima —
Sebastian usa um tom jocoso e eu acabo sorrindo pela expressão
engraçada em seu rosto — Mas o destino intercedeu e cá estamos
nós.
— Está perdoado, então — digo e realmente não estou
chateada, queria apenas mudar de assunto — Quando chegou?
Sebastian pareceu ficar sem graça com a pergunta, o que me
deixou intrigada e agora eu realmente fiquei bastante curiosa por
saber.
— Não quer me dizer quando chegou, ou é apenas uma
impressão minha?
— Não — ele responde rapidamente, e eu o encaro
abismada com a sua negativa, mas logo volta atrás em suas
palavras — Quero dizer, sim, é impressão sua!
O meu primo estava até mesmo gaguejando agora, o que me
deixou ainda mais curiosa sobre o que estava acontecendo e por
que todo aquele suspense repentino.
— E então, quando chegou? — insisti — Não entendo por
que você trabalha tanto, ao ponto de não poder visitar sua própria
família, Sebastian.
Sebastian parecia querer me falar algo, mas eu percebi que
estava com receio de o fazer, decidi então que iria tirar aquela
história a limpo naquele exato momento, estava cansada de meia
palavras.
— Muito trabalho, prima — ele desconversa.
— Já faz tanto tempo que não nos vemos, Sebastian — Só
agora me dou conta do quanto — Para ser mais exata, desde o meu
casamento…
Uma desconfiança começa a se insinuar em minha cabeça, e
começo a juntar o que a Abigail me contou, com a atitude estranha
do Sebastian e a suspeita se torna ainda mais forte.
Encaro Sebastian atentamente, o pressionando a me dizer o
que está acontecendo, até que ele parece prestes a me contar.
— Tudo bem, Beatrice — ele diz, como se estivéssemos em
uma batalha e ele tivesse acabado de ser derrotado — Talvez eu
esteja apenas tentando não causar problemas para você.
— Mas que absurdo! — digo, abismada com a mera sugestão
dele — Por que você me causaria problemas?
Sebastian olha em torno, parece indeciso ainda, mas logo
segura em meu braço, me instigando a caminhar.
— Vamos, vou deixar você em casa — ele sugere —
Conversamos melhor no caminho.
Aceito a sua sugestão e juntos caminhamos até o seu carro.
— Para que direção devo ir?
Fico tensa com a pergunta, mas logo me dou conta de que o
Sebastian nunca me visitou durante todo o meu casamento, isso
quer dizer que ele não sabia onde eu morava antes, então passei o
meu atual endereço, sem me preocupar em explicar que havia me
mudado recentemente.
— Quero que me explique melhor o que quer dizer com essa
história de não desejar me incomodar, Sebastian — digo logo que
ele coloca o carro em movimento.
Ele leva algum tempo para responder ao meu
questionamento, mas acaba por me esclarecer o significado de suas
palavras.
— Eu tenho visitado a minha família, Beatrice — ele diz — E
tenho visitado Londres também.
— E por que eu não o tenho visto?
Eu não estava entendendo nada!
— Porque o Maddock nunca gostou da nossa proximidade, e
quando assumiu a empresa do tio George, a primeira coisa que fez
foi me mandar para a filial mais distante — ele conta, sem me
encarar — Entendi que ele me queria distante e achei melhor não
atrapalhar o seu casamento, Beatrice.
Eu fiquei realmente chocada com as revelações
surpreendentes do meu primo, pois jamais poderia imaginar que o
Edward tinha sido o responsável por enviar o Sebastian para uma
filial da empresa do meu pai que ficava na Irlanda, apenas para o
manter longe.
Na verdade, nem mesmo agora, que o Sebastian estava me
contando, eu consegui acreditar que essa tenha sido a motivação do
meu marido para tomar tal decisão.
— Eu acredito que você tenha confundido tudo, Sebastian. O
Edward não seria capaz de te transferir de cidade apenas por um
motivo tão bobo quanto esse.
Eu não queria dizer ao Sebastian a verdade sobre os fatos,
que quando casei com o Edward, ele não me amava, e menos ainda
seria capaz de sentir tamanho ciúmes, ao ponto de mandar o meu
primo embora de Londres dessa forma, apenas para nos afastar.
— E ainda mais quando nunca houve nada além de uma
amizade de primos entre nós — completei.
— Se você prefere pensar assim, não iria tentar mudar a sua
cabeça.
— É a verdade.
— Está tudo bem, Beatrice — ele faz um gesto de pouco
caso, dando de ombros —Mas, me diga, o que estava fazendo
sozinha em frente aquele restaurante? Onde está o Maddock?
Desde que me casei com o Edward, aquela pergunta sempre
foi algo difícil de responder, antes porque todos estranharam o fato
de eu sempre estar sozinha, raramente ele estava comigo.
Hoje, a pergunta tinha uma resposta que deveria ser bem
mais fácil, afinal, eu tinha pedido o divórcio e nós estávamos
separados. Mas, será que eu poderia afirmar isso, quando ainda
naquele mesmo dia, nós tínhamos tido a nossa primeira relação
sexual?
Parece até que tinha sido há mais tempo, pois tantas coisas
tinham acontecido nas últimas horas. Ainda assim, optei pela
verdade.
— O Edward e eu estamos separados há meses, Sebastian.
— Eu não sabia — ele diz, genuinamente surpreso — Aliás,
eu não ouvi nenhum comentário sobre isso, algo que seria bastante
normal, considerando-se que o Maddock é um empresário bastante
poderoso em toda a Grã-Bretanha.
Eu me mantive em silêncio, realmente não tinha a menor
ideia de como aquele assunto tinha se mantido longe da mídia, mas
o Sebastian logo estava fazendo suas próprias suposições.
— Com toda a certeza, Maddock usou de seu poder para
manter esse assunto em sigilo, completamente longe dos holofotes
— ele sugeriu — Ele não quer que fiquem especulando o motivo do
término, afinal, ele jamais aceitaria que alguém pudesse questionar
a sua perfeição e que ele não é digno do pedestal que ele mesmo
se colocou.
Naquele momento, ele estava parando o carro em frente a
minha casa, sem nem ao menos se dar conta de que eu tinha ficado
extremamente chocada com as suas palavras, afinal, ele estava
coberto de razão sobre isso.
Edward não aceitava não ser o melhor em tudo o que se
propunha, e o fato de não ter conseguido manter o seu casamento
poderia realmente levar a questionamentos por parte das pessoas,
sugerindo que pudesse ser dele a culpa pela nossa separação.
Será que esse era o verdadeiro motivo por trás de toda a sua
insistência em que eu voltasse para casa e retomasse o nosso
casamento? Ele teria se dado conta de que poderia ser considerado
como fracasso, o final da nossa relação?
— Está entregue, prima — Sebastian diz, sorrindo, sem se
dar conta dos pensamentos que estavam me atormentando agora
— Eu te ligo amanhã e podemos almoçar juntos. O que acha?
— Uma… ótima ideia — consegui dizer, fingindo uma
animação que eu não conseguiria sentir agora de forma alguma.
— Até amanhã, então.
Nós nos despedimos rapidamente e o Sebastian espera
apenas que eu abra a porta, para sair rapidamente com o seu carro,
me deixando confusa e completamente perdida em pensamentos.
Como eu não pensei sobre aquilo antes?
Capítulo 23 – PARE DE CONTROLAR A MINHA VIDA!
Beatrice
Mal preguei os olhos e quando o dia amanheceu, já estava
de pé, ansiosa para que chegasse o horário no qual eu precisava
estar no jornal, pois somente assim eu poderia ocupar os meus
pensamentos com algo que não fosse o meu marido, que na
verdade é ex-marido, mas não é.
Que tremenda confusão eu estava fazendo!
E ainda tinham as palavras do Sebastian, que não saiam da
minha cabeça um só minuto.
Agora tudo fazia sentido, pois desde que o Edward mudou
completamente a sua atitude comigo, eu me questionei quais tinham
sido os motivos que o levaram a isso, quando ele nunca tentou fazer
com que o nosso casamento pudesse dar certo.
Sempre lutei sozinha, sempre amei sozinha.
A verdade é que o Edward sempre me deixou sozinha, em
todos os sentidos, e agora tentava recuperar algo pelo qual ele
nunca fez questão alguma e o motivo só poderia ser aquele que o
Sebastian tão sabiamente apontou.
Com aqueles pensamentos me atormentando a todo
momento naquela manhã, eu fiz todo o caminho para o jornal no
automático, sem prestar realmente atenção a nada, e nem mesmo
sabia como consegui chegar na minha sala e dar início a mais um
dia de trabalho.
Tampouco eu percebi o tempo passar, tão decidida estava em
me concentrar totalmente na reportagem que estava preparando
para a coluna de fofocas, como uma forma de esquecer aquilo que
estava tirando a minha tranquilidade.
Somente quando o Sebastian me ligou para confirmar sobre
o nosso almoço, foi que percebi que já estava no meio do dia e eu
não tinha comido nada ainda.
Confirmei o encontro com o meu primo e concluí aquilo que
estava escrevendo, e meu estômago chegou a roncar naquele
instante, apenas com o pensamento de ter uma refeição decente,
afinal, a última vez que comi foi na noite anterior.
Outra coisa que só agora me chamou a atenção foi o fato de
o Edward não estar me esperando em frente a minha casa, para me
levar para o trabalho, como ele vinha fazendo há dias, e aquilo dizia
muito sobre nós.
Várias possibilidades começaram a rondar os meus
pensamentos, e a mais plausível, diante dos acontecimentos da
noite anterior, é que ele deve ter aproveitado o reencontro com a
sua ex-namorada e ter terminado a noite com ela.
Eu poderia fingir para todos, até mesmo para o próprio
Edward, mas para mim mesma era quase impossível, e a verdade é
que apenas em pensar naquela possibilidade, o meu coração batia
descompassado no peito e uma ânsia de vômito tomava conta de
mim.
Será que o Edward seria capaz de ter terminado sua noite
com a Louise, mesmo após o que tínhamos feito ontem? Ele seria
capaz de algo tão repugnante assim?
Peguei minha bolsa e saí apressada da minha sala, querendo
fugir daqueles pensamentos extremamente dolorosos, ainda mais
quando o Edward nem mesmo tinha tentado falar comigo desde que
saí do restaurante e o deixei sozinho com a mulher que ele tanto
amou.
Mas ao dar o primeiro passo para fora da minha sala,
esbarrei em um corpo forte, realmente grande e de imediato
reconheci o perfume amadeirado do meu marido.
— Edward! — falei, assustada — O que faz aqui?
Como era possível que o Edward estivesse no corredor,
prestes a entrar em minha sala no jornal? Ninguém deveria ter
acesso àquele andar sem autorização e eu não autorizei ninguém a
subir.
— Vim buscá-la para almoçarmos juntos.
Eu chego a soltar uma risada de escárnio, ao ouvir a sua
explicação estapafúrdia.
— Eu não marquei nada com você — falo, sem me importar
em ser delicada, depois de tudo — Aliás, você não é alguém com
quem eu queira fazer qualquer coisa hoje, muito menos almoçar,
depois do que aconteceu ontem. Caso você tenha esquecido, eu
não.
— Nós precisamos conversar, Beatrice — Edward diz e olho
em torno, indicando as pessoas que passavam por nós.
Eu não tinha prestado atenção, mas o corredor realmente
estava bastante movimentado, afinal, aquele era o horário onde
quase todos os funcionários saiam para almoçar, e o fato de
estarmos conversando ali era um prato cheio para os curiosos.
— Vamos para minha sala — acabei cedendo.
Não iria sair para almoçar com ele, e tinha certeza de que ele
não me deixaria simplesmente sair, sem que tivéssemos mais uma
conversa em que apenas eu falava e ele não dizia realmente nada.
Edward entrou no cômodo que ele provavelmente iria
considerar pequeno demais, mas que eu achava perfeito, pois era a
minha sala, e depois de analisar cada pequeno detalhe, ele sentou
na cadeira em frente a minha mesa.
— Você merece uma sala maior que essa, Beatrice — ele
comenta, não me surpreendendo de maneira alguma.
— Tenho certeza de que não veio até aqui para analisar a
minha sala e o lugar no qual trabalho, Edward — o cortei, ansiosa
para pôr logo um fim a nossa conversa.
— Claro que não, Beatrice — ele concorda, mas não parece
nenhum pouco disposto a dar início ao assunto que deseja discutir.
— Eu vou voltar a perguntar, Edward — falo, um suspiro
cansado escapando da minha garganta — O que faz aqui?
— Somos casados. É normal que um marido queira almoçar
com a sua esposa.
— Não foi esse o motivo que o trouxe aqui — falo com
convicção — Mas se você não quer falar, eu posso fazer isso por
nós dois.
— O que isso quer dizer? — Agora ele pareceu um pouco
preocupado.
— Eu estou cansada dessa incerteza, Edward. Cansada de
não saber o que esperar de você, de ficar insegura sobre o que
esperar de você.
— Estou apenas tentando recuperar o nosso casamento,
Beatrice.
— Por quê? — faço a pergunta que está me atormentando.
Antes que ele pudesse me responder, o meu telefone tocou
alto, só agora eu percebi que tinha deixado sobre a minha mesa, e o
nome do Sebastian apareceu na tela, o que chamou a atenção do
Edward de imediato.
— O que o Sebastian quer com você? — ele pergunta, sua
postura relaxada mudando completamente, a tensão visível em seus
ombros — Vocês têm se falado?
Ele tinha o cenho franzido, como se o fato de eu e o
Sebastian estarmos nos falando fosse algo totalmente sem chance,
quando na verdade deveria ser considerado algo bastante normal,
tendo em vista que ele é meu primo.
Não apenas isso, o Sebastian e eu sempre fomos muito
amigos e nos comunicarmos deveria ser algo que fazia parte do
meu cotidiano.
— Eu não considero que devo qualquer coisa a você,
Edward… — comecei a dizer.
— É claro que você me deve explicações — ele me
interrompe — É minha esposa.
— Não mais — digo apenas, mas a minha frase é bastante
definitiva.
— Até que assinamos os papéis, somos legalmente casados,
Beatrice — o seu tom de voz é duro e inflexível.
Eu fico estarrecida com a mudança brusca de humor, não há
mais sorrisos e até mesmo o homem charmoso que ele vinha se
mostrando ser, acaba de vir ao chão a máscara.
— Você não pode exigir de mim algo que você mesmo não
faz —eu ponderei, tentando trazer um pouco de sensatez ao
momento.
— Pergunte o que quer saber de mim, e eu direi, Beatrice —
ele oferece corajosamente — Esse é o momento de colocar todas
as cartas sobre a mesa. O que me diz?
Minha respiração se tornou mais rápida, mas eu realmente
não acreditava que ele fosse capaz de revelar tudo aquilo que ele
sentia e pensava, ainda assim eu não poderia perder aquela
oportunidade e fiz mais uma vez a pergunta de milhões.
— O que mudou, Edward? — Meus olhos seguram o seu
olhar — Qual o motivo de toda a sua mudança, quando até algumas
semanas atrás, você estava pouco se importando se eu estava com
você ou não. Inclusive, tenho certeza de que deve ter aproveitado
muito bem a nossa separação e a prova maior disso é a sua
acompanhante naquele evento.
— Eu descobri que a amo, Beatrice — Edward declara, me
deixando em choque mais uma vez com as suas palavras — E
quero lutar por nosso casamento.
Ao invés de me trazer alegria, aquela declaração me deixou
indignada. Completamente indignada e fiz questão de demonstrar
isso para ele e todos aqueles que quisessem me ouvir.
— Porque só agora, quando nós estivemos juntos por três
anos? Três anos, Edward!
— Porque só agora eu percebi que a vida sem você não tem
graça nenhuma, meu amor, e que eu preciso de você comigo, para
que possamos fazer toda e qualquer coisa juntos.
Eu queria ser forte, resistir às palavras que ele me dizia, mas
é tão difícil, quando o meu coração parecia ter se aquecido
totalmente, apenas com aquilo que o Edward me falou, causando
uma comoção conhecida dentro de mim.
Capítulo 24 – Reconstruindo a confiança perdida
Edward
Abri o meu coração para Beatrice, ao menos sobre os
sentimentos que estavam me dominando desde que percebi o erro
que cometi, ao não cuidar do meu casamento e deixar que a minha
esposa chegasse ao ponto de pedir o divórcio.
Mas havia algumas coisas que a Beatrice não gostaria
nenhum pouco de saber, e essas era melhor continuarem em sigilo,
pois nada de bom viria de sua revelação e eu esperava
ardentemente que a minha esposa não me pressionasse por
respostas a certas perguntas capciosas.
Mas estava claro no olhar que ela me deu, que seus
sentimentos estavam confusos, ela estava confusa, sem entender o
que fato estava se passando, além da insegurança que estava
presente sempre que falávamos sobre nós dois.
— Eu entendo a sua desconfiança, meu amor — achei
melhor dizer — Não posso exigir que você acredite em mim, que
mude tudo novamente, mas espero que possamos nos entender.
Beatrice se afastou de mim, ficando de costas e colocando o
máximo de distância possível, dado o tamanho minúsculo de sua
sala, algo que me deixou inconformado, pois ela poderia estar
apenas se dedicando a nossa casa, mas eu entendia a sua
necessidade de provar para si mesma que é capaz de cuidar de si
própria e que ela não iria encarar com bons olhos uma interferência
minha.
— Vamos almoçar juntos, conversamos melhor, com mais
privacidade no restaurante — sugiro, me aproximando de suas
costas, e segurando em seus ombros de modo delicado, sem querer
assustá-la.
Ela pareceu pensar um pouco, mas acabou concordando, e
saímos juntos do prédio, sendo acompanhados de perto por alguns
olhares curiosos, que parecem incomodar a minha esposa, e mais
uma vez senti a necessidade de resolver de uma vez a nossa
situação e deixar claro para todos que não apenas estamos juntos,
como também somos casados e nunca realmente nos separamos
de fato.
Estou perdido nesses pensamentos, quando já estávamos
dentro do meu carro, a caminho do restaurante, mas percebi que
Beatrice não parava de digitar em seu celular e aquilo me chamou
atenção, ou para ser bastante honesta, me incomodou
demasiadamente.
— Está conversando com a Janet? — sugeri, mesmo que
algo me dissesse que não era com a amiga que a Beatrice falava.
A sua expressão de culpa a denunciou, provando que eu
estava certo em meu pressentimento, mas eu não pretendia
intimidar a minha esposa de maneira alguma, e apenas sorri, para
demonstrar que estava tudo bem.
Eu poderia descobrir aquilo facilmente, afinal, eu tinha o
controle de todos os passos da Beatrice e uma conversa ao telefone
era algo banal, que eu poderia ter acesso a qualquer momento.
— Na verdade, estou apenas digitando algumas informações
sobre a matéria que preciso escrever para a coluna de amanhã —
ela diz, seu rosto coberto por uma coloração rosa, denunciando a
mentira deslavada.
— Entendo — falo, um sorriso amenizando a resposta
monossilábica — O que acha de irmos ao seu Pub favorito? Gostei
bastante da comida de lá.
Prefiro não bater de frente com ela, após a conversa tensa
que tivemos apenas alguns minutos atrás e mudo de assunto,
optando por algo que a deixe mais descontraída e feliz, e por esse
motivo faço a sugestão.
Acerto na minha escolha e Beatrice exibe um sorriso
satisfeito.
— Eu adoraria, Edward — concorda prontamente, seu rosto
todo se iluminando com o belo, e agora raro, sorriso em seu rosto
perfeito.
A conversa passa a girar em torno das histórias de sua
adolescência, depois que viajei para a França e ela saiu de Kent,
vindo morar em Londres e eu aproveito o clima de melancolia para
relembrar os nossos momentos juntos, durante os anos que
moramos na mesma rua e que nossas famílias compartilhavam de
vários momentos juntas.
Esse clima nos acompanhou durante o nosso almoço e
mesmo depois que já estávamos no carro novamente, voltando para
o prédio onde ficava o jornal no qual a Beatrice trabalha, a nossa
conversa ainda era amena e agradável.
— Foi bom rever a Abigail após tanto tempo — ela fala, mas
logo exala um suspiro triste.
Eu tinha acabado de parar o carro em frente ao edifício, e
pretendia perguntar o motivo da sua expressão triste, mas Beatrice
já estava segurando na maçaneta da porta, prestes a sair do
veículo.
— Eu preciso me apressar, pois tenho uma reunião com o
senhor Smith dentro de apenas alguns minutos — ela explica,
abrindo a porta sem esperar por qualquer resposta — Até mais,
Edward.
— Eu…
Não esperou nem mesmo que eu me despedisse de modo
mais apropriado e já estava caminhando para a entrada modesta do
prédio, e aquilo me deixou com uma sensação de impotência
extrema, pois quando eu acreditava que as coisas estavam
progredindo entre nós, algo acontecia para nos afastar de alguma
maneira.
— O que foi dessa vez? — fiz a pergunta em voz alta, falando
sozinho dentro do carro e esmurrando o volante, para tentar
amenizar a frustração que estava sentindo agora.
Beatrice
Saí do carro do Edward apressada, não queria chegar
atrasada à reunião com o senhor Smith e depois de praticamente
correr para conseguir entrar ao elevador antes que as portas se
fechassem, consegui chegar ao andar no qual estava a sala do meu
chefe com apenas um minuto de antecedência ao horário marcado
por ele.
— Chegou bem na hora, Beatrice — Lucy diz com um sorriso,
ao me ver chegar afobada na sala de espera.
Eu sorri de volta, passando a mão no cabelo, tentando
melhorar um pouco a minha imagem, imaginando que estava
desarrumada, tendo em vista a pressa com a qual cheguei até ali.
— O senhor Smith está à minha espera, Lucy — eu disse,
mesmo sabendo ser desnecessário.
Como imaginei, Lucy sorri diante dos meus modos, e indica a
porta da sala do nosso chefe.
— Não precisa se preocupar com a aparência, querida — ela
diz, me surpreendendo — está linda, como sempre.
Fico mais tranquila ao ouvir as palavras da secretária. Às
vezes, tudo o que precisamos é de uma frase de incentivo.
A reunião com o senhor Smith foi exatamente como imaginei
que seria, e ele me passou mais algumas tarefas, com a promessa
de que eu poderia obter a minha promoção, caso cumprisse com
aquilo que ele me incumbiu e eu saí da sala do meu chefe mais
confiante e esperançosa de que logo em breve eu estaria
trabalhando exatamente com aquilo que eu desejava.
Lembrei das várias notificações de mensagens no meu
telefone e constatei que se tratava de mensagens do Edward,
querendo saber o motivo pelo qual eu fiquei triste de repente.
Expliquei que foram apenas algumas lembranças ruins, mas
que estava tudo bem, afinal, eu não queria que ele ficasse insistindo
sobre aquele assunto, ainda mais quando eu não poderia encontrar
com ele aquela noite, pois tinha outros planos.
E aparentemente o destino estava conspirando a meu favor,
pois Edward me avisou que tinha várias reuniões hoje a tarde e que
não sabia que horas sairia, o que eu considerei algo excelente. Eu
precisava de um tempo longe do Edward e de seu poder sobre mim.
O restante da tarde passou rápido demais, e quando o meu
telefone tocou com uma ligação do Sebastian, eu atendi ainda com
a mesma animação que me acompanhou desde que eu tinha saído
da reunião com o senhor Smith, algumas horas atrás.
— Oi, primo — o cumprimentei — Por que já está me
ligando?
— Estou esperando por você na frente do jornal — ele diz,
me surpreendendo — Onde você está?
Olhei assustada para a tela do meu aparelho celular, só
agora percebendo que já tinha passado alguns minutos do horário
que final do expediente.
— Nossa, como está tarde!
— Desce logo, Beatrice — Sebastian diz, achando graça das
minhas palavras — Estou em frente ao prédio.
Sebastian encerra a ligação e eu pego a minha bolsa
apressada.
Eu tinha desmarcado o almoço com o meu primo, por causa
do Edward e para compensar o fato de ter feito aquilo tão em cima
da hora, combinei de que o Sebastian iria me buscar no trabalho e
depois eu faria um jantar para nós na minha casa, como nos velhos
tempos em Kent, quando eu cozinhava o único prato que eu sabia
fazer: uma massa, receita de família.
Encontro o Sebastian no lugar combinado e juntos vamos
para a minha casa, onde com a ajuda do meu primo, preparo o
nosso jantar, em meio a muitas risadas e brincadeiras, além de
muitas recordações dos tempos em que eu morava em Kent com a
minha família e ele vinha nos visitar com a sua mãe, a minha tia
Léia, irmã do meu pai.
E quando já estávamos jantando, a conversa ainda seguia
animada, com ele me contando várias histórias engraçadas que
aconteceram com ele desde que foi trabalhar na Irlanda.
— Eu ainda não entendi muito bem por que você decidiu ir
trabalhar tão longe de casa — digo, levando mais uma garfada à
boca, toda a minha atenção voltada ao Sebastian.
A sua expressão fica séria instantaneamente e o encara de
maneira interrogativa, sem conseguir entender a sua mudança
brusca de comportamento.
— Já falamos sobre isso e, se me lembro bem, foi ontem
mesmo — ele diz, usando um tom irônico, algo bastante incomum
para ele — E se não estou enganado, você não acredita em mim.
— Mas que bobagem, Sebastian! — digo, tentando quebrar o
clima desagradável que se formou — É claro que eu acredito em
você, é meu primo. Mas acho que você está se precipitando,
pensando dessa forma. Talvez tenha sido realmente o Edward que
decidiu te transferir, mas apenas por não ter mais ninguém com
capacidade suficiente para assumir a filial da Irlanda.
A expressão no rosto do meu primo dizia claramente que ele
não pensava dessa forma, mas ele nada comentou e eu preferi não
prosseguir com o assunto, e tentar trazer de volta o clima bom de
antes daquele assunto.
— Você precisa conhecer o filhinho da Janet, Sebastian —
digo, mudando completamente de assunto — O Archie é um bebê
lindo.
— Imagino que sim — Sebastian concorda.
Mas o clima já não é mais o mesmo, e depois que
terminamos o jantar, Sebastian arruma uma desculpa qualquer para
ir logo embora, e eu aceito prontamente, o acompanhando até a
saída e me despedindo dele com um beijo frio no rosto.
Capítulo 25 – Estou sendo vigiada
Beatrice
Depois de me despedir do meu primo, fechei a porta, me
encostando a ela e fiquei pensando sobre aquilo que o Sebastian
disse sobre o Edward o ter enviado para longe, insinuando que tinha
sido motivado por ciúmes, o que era um total absurdo, levando-se
em conta que ele só havia casado comigo por causa de um
contrato.
Mesmo agora, eu ainda não tinha conseguido acreditar nas
declarações que Edward havia feito e o seu suposto amor por mim,
depois de tudo o que aconteceu entre nós e a forma como ele me
tratou durante o tempo em que estivemos casados.
Estou completamente distraída, os pensamentos longe, ainda
recostada a porta de entrada, quando ouço a campainha tocar na
sala de estar, me deixando intrigada, pois não havia nem mesmo
cinco minutos que o Sebastian tinha saído.
Deduzi então que só poderia ser ele que voltava,
provavelmente se sentindo mal pela maneira como nos despedimos
e me afastei da porta, abrindo-a com um sorriso, também me
sentindo culpada pelo que aconteceu.
— Edward? — falei surpresa, ao me deparar com o meu
marido parado do outro lado da porta.
Ele não me respondeu, entrando no hall sem ao menos
esperar por um convite.
— O que está acontecendo, Edward? — pergunto, o
seguindo até a sala de estar, sem entender a sua atitude
intempestiva.
Edward parou bem no centro do cômodo, com as mãos nos
bolsos de sua calça social preta, e me encarou parecendo estar
bastante irritado.
— Onde está ele? — Edward pergunta, me deixando ainda
mais confusa.
— Eu não sei sobre quem você está falando, Edward — digo,
completamente atordoada — Está me deixando atordoada com essa
sua atitude estranha.
— Estou falando sobre o Sebastian, Beatrice — ele
esclarece, e só então as coisas começam a fazer algum sentido —
Não adianta negar, pois eu sei que ele estava aqui, até alguns
minutos atrás.
— Você está certo, o meu primo estava aqui, realmente —
confirmo, afinal, não há razão para esconder isso do Edward — Nós
jantamos juntos, mas como você pode perceber, ele já foi embora.
Edward deixa visível o seu aborrecimento com a minha
explicação, e exala um suspiro forte, como se estivesse se
controlando para não explodir, algo totalmente sem sentido.
Eu me mantenho em silêncio, não vejo razão alguma para
estar tentando me justificar diante de algo tão banal como uma visita
do meu primo, e depois de alguns segundos deste silêncio
incômodo, ele começa a andar de um lado a outro da sala,
parecendo um leão enjaulado.
— Preciso que me diga o que está acontecendo, por que está
aqui, se nós não tínhamos combinado nada para hoje à noite —
falo, tentando impor alguns limites às suas atitudes totalmente
arbitrárias — Você não pode vir aqui sempre que desejar, Edward.
Ele para imediatamente, seu olhar parece me queimar, sua
raiva evidente pela respiração pesada.
— Você às vezes esquece que eu sou o seu marido e tenho
todo o direito de vir onde está, afinal, esta casa é da minha esposa
— ele diz de maneira arrogante.
— Nós estamos separados, Edward! Você não deve tentar
controlar a minha vida dessa forma — eu falo, me sentindo exausta
de tudo aquilo.
— Isso não é totalmente verdade, e você sabe bem disso,
Beatrice — Ele me contradiz.
— Você quer negar que eu pedi o divórcio?
— Mas eu não assinei!
Edward passou as mãos pelo rosto e depois pelos cabelos,
desarrumando-os, e entendi que ele deveria estar bastante irritado
realmente, realmente fora de si, mas ainda assim, não pretendia
baixar a cabeça para o seu autoritarismo.
— Como você pode dizer que estamos separados, quando
ontem mesmo, nós estávamos nos amando aqui, nessa mesma
sala?
— Isso não muda o fato de que estamos separados,
oficialmente — digo, teimosa, mesmo sabendo que ele tem um
pouco de razão naquilo que está falando — Essa é a verdade e
ponto.
— Nós não estamos morando juntos, apenas isso — insiste
em seu ponto — E eu não aceito que esteja recebendo homens
nesta casa.
De repente, um detalhe gritante me vem à mente, algo que
estava a todo momento diante de mim, mas eu não liguei os pontos,
pois sou uma tonta completa, e decidi que já estava passando da
hora de confrontar o Edward sobre aquilo.
— Como você sabe que o Sebastian estava aqui? — Franzi o
cenho, uma desconfiança se tornando a cada segundo mais clara —
Você está me seguindo, Edward?
— Mas é claro que eu não estou te seguindo, Beatrice —
Edward nega veementemente.
Eu o encaro, analisando a sua expressão, na tentativa de
conseguir decifrar se ele está falando a verdade, ou não, mas ele
parece tão sincero, que eu chego a me sentir mal por estar
julgando-o dessa maneira.
Mas logo volto atrás, pois é claro que ele está mentindo!
— Então, se você não está me seguindo, como sabe que o
Sebastian estava aqui? — Eu o estou encarando atentamente, ele
nem mesmo tenta desviar o olhar — Como você explica isso,
Edward?
— Eu vi quando um homem saiu daqui e entrou em um carro,
e deduzi que só poderia ser o seu primo — ele explica.
Eu analiso as suas palavras e logo consigo detectar a mentira
deslavada.
— Você não sabia que o Sebastian já tinha saído, quando
chegou aqui.
Eu tinha pegado o Edward na mentira e agora sim, ele parece
não ter uma resposta pronta, e desvia o olhar, me dando as costas.
— Você está tentando mudar de assunto, quando temos
tantas coisas mais importantes a tratar, Beatrice — Ele tenta virar o
jogo — Não é certo que traga homens a sua casa, e é sobre isso
que temos que falar.
— Só tem uma pessoa aqui fugindo do assunto
verdadeiramente importante, e esse alguém é você, Edward.
Aquela situação em que chegamos só servia para comprovar
que apenas sentimentos não conseguiam manter uma relação,
quando havia tantos assuntos pendentes, palavras não ditas e, o
mais importante, os dois não chegavam a um consenso sobre algo
tão simples, como uma visita de um familiar.
Eu estava insegura, não conseguia me decidir sobre o que
era o melhor para mim naquele momento, se voltar para a casa do
Edward e tentar reerguer o nosso casamento, ou me afastar dele de
uma vez por todas, e seguir com a minha vida bem longe do homem
que eu sempre amei, mas que hoje eu já não tinha tanta convicção
sobre os meus sentimentos por ele.
Ficamos naquele impasse, cada um perdido em seus
próprios pensamentos e quando o Edward voltou a me encarar, eu
realmente não tinha a menor ideia do que ele diria, mas ele
conseguiu realmente me surpreender.
— Eu acredito que precisamos de um tempo só para nós
dois, Beatrice.
— Se você vai sugerir novamente que eu volte para casa, já
sabe a minha resposta e ela não mudou — Eu não iria fazer algo de
que pudesse me arrepender.
— Não é sobre você voltar para casa — ele nega, e surge até
mesmo um pequeno sorriso em seu rosto, sua expressão agora
mais tranquila — Estou convidando você para uma viagem de luade-mel, aquela que não tivemos quando nos casamos.
Eu o olhei verdadeiramente incrédula, sem poder acreditar no
seu convite tão… Eu não tinha nem mesmo palavras para descrever
a sua proposta de uma lua-de-mel, quando nós estávamos em um
momento tão turbulento da nossa relação.
— E então, o que me diz? — ele me pressiona por uma
resposta.
— Não acho que esse seja um bom momento para fazermos
tal coisa, Edward — falo aquilo que estou pensando, pois não havia
outra coisa que eu pudesse dizer — Nem poderia, tampouco.
— Por que não, Beatrice?
Edward se aproxima de mim, seus braços segurando os
meus, suas mãos entrelaçando as minhas, enquanto o seu olhar
mantém cativo o meu, apenas sendo o suficiente para que o meu
coração batesse mais rápido no peito, uma emoção já conhecida
tomasse conta de mim, trazendo consigo aquela ânsia, minha velha
conhecida, de volta, comprovando que o meu cérebro e o meu
coração não estavam na mesma sintonia.
— Por que não tentar? Vamos fazer isso dar certo, nos dar
uma oportunidade…
Eu me repreendi mentalmente por estar deixando que o
Edward me controlar daquela forma.
— Eu não posso simplesmente viajar, assim, do nada —
tento usar a razão — Tenho o meu trabalho, Edward.
Ele pareceu pensar um pouco sobre o meu argumento, e logo
voltou com a solução.
— Viajamos por poucos dias, apenas, então — argumenta —
Você tem horas extras acumuladas e eu tenho certeza de que o seu
chefe não irá negar um dia de folga.
A suspeita de que o Edward estava de alguma forma
acompanhando todos os meus passos, talvez até mesmo me
controlando de alguma forma, voltou com força total.
— Como você sabe sobre isso, Edward? Tem contato com o
senhor Smith?
— É apenas uma dedução, afinal, você trabalha tanto!
Numa clara tentativa de me fazer esquecer aquele assunto,
Edward sorri de modo carinhoso, e seus lábios tocam os meus em
um beijo que começa delicado, mas que logo vai se tornando
apaixonado, despertando em mim o desejo traidor.
Meu corpo toma vida própria e quando Edward solta as
minhas mãos para enlaçar a minha cintura, os meus braços sobem
diretamente para o seu pescoço e ombros, enquanto ele torna o
beijo ainda mais quente e erótico, sugando a minha língua de
maneira tórrida.
As suas mãos apertam a minha cintura, o beijo vai tomando
todo o meu fôlego, me deixando ansiosa por mais e mais, e as
sensações se espalham numa rapidez impressionante e logo estou
totalmente entregue aos beijos e carícias enlouquecedoras do meu
marido.
— Você aceita viajar para uma verdadeira lua-de-mel? —
Edward pergunta, afastando a sua boca da minha e me encarando
em busca de uma resposta.
Capítulo 26 – Planejando uma viagem
Beatrice
Edward aguardava a minha resposta ao seu pedido, mas eu
realmente não tinha certeza sobre o que dizer, pois o meu coração
dizia sim, e a razão insistia no contrário, me levando a um difícil
dilema.
— Prometo que não irá se arrepender e que farei o possível
para proporcionar uma experiência inesquecível para nós dois —
Edward me pressiona.
— Eu não sei o que dizer, Edward — digo, verdadeiramente
indecisa.
— Diga apenas que sim, e vamos fazer isso dar certo, meu
amor.
Sinto o coração em descompasso, e mesmo acreditando que
eu deveria resistir, mas não consigo, diante do olhar encantador do
meu marido, essa é a verdade.
— Tudo bem, eu aceito viajar com você — concordo.
O sorriso que se abre lindamente no rosto do Edward aquece
o meu coração sensível demais aquele homem e sinto uma alegria
enorme se espalhar por todo o meu ser, e quando os lábios dele
tocaram os meus mais uma vez, eu correspondi de maneira intensa,
completamente apaixonada.
Esqueci de qualquer outro assunto ou anseio e me entreguei
completamente ao momento, sentindo as mãos do Edward me
tocando em lugares sensíveis, que me deixavam desejando sempre
mais.
Mas eu não queria que acontecesse como da vez anterior, e
me afastei do Edward, que me olhou visivelmente confuso.
— Vamos para o meu quarto? — chamei, e seu rosto logo se
suavizou.
— Estou inteiramente à sua disposição.
Mais uma vez o charme do Edward se faz presente, e me
cativa com uma facilidade vergonhosa, mas eu afasto aquela
constatação para o fundo da minha mente. Tudo o que importa é o
aqui e o agora, nada de ficar remoendo o passado.
Eu estava aceitando dar uma segunda chance para o nosso
amor, e ficar se prendendo ao que aconteceu antes não iria ser
benéfico para nenhum de nós dois.
Seguro na mão do Edward e juntos vamos para o meu
quarto, onde retiro a roupa do Edward, enquanto ele faz o mesmo
com a minha, e quando já estamos completamente expostos aos
olhos um do outro, nós nos entregamos a momentos de paixão
intensa.
Dessa vez, o amor foi mais tranquilo e também mais gostoso,
sem os temores de antes, pois agora eu me sentia mais segura da
nossa relação, e confiante de que o Edward estava tentando de
todas as formas se redimir dos erros passados.
E quando já estávamos completamente saciados dos nossos
desejos, eu adormeci nos braços do meu marido, e dormimos juntos
na minha cama, algo que me passou uma sensação maravilhosa de
proteção.
*******❤ *******
Sinto um corpo quente e firme ao meu lado na cama, e
mesmo já acordada, mantenho os olhos fechados, apenas para
poder aproveitar mais um pouco a intimidade daquele momento
bom.
— Está tão preguiçosa ultimamente — ouço a voz divertida
do Edward dizer, ainda rouca pela noite de sono — Já passa das
oito horas, querida.
Aquela informação me pega completamente de surpresa e
abro os olhos de imediato, verdadeiramente assustada com o
adiantado da hora.
— Não posso acreditar! — digo apressada, tentando me
levantar.
Edward, no entanto, segura em minhas mãos e impede o
movimento, me mantendo cativa em seu abraço quente, junto ao
corpo macio e maravilhosamente aconchegante.
— Ainda temos algum tempo — ele diz, e sinto sua boca
encostando em meus cabelos, onde deposita um beijo estalado.
O carinho consegue me tranquilizar, e o abraço forte, me
aconchegando mais ao seu corpo, aproveitando ao máximo o que
estamos vivendo agora.
— Preciso estar no jornal às nove, Edward — digo, imitando
o seu gesto, mas ao invés de beijar os seus cabelos, eu deposito
um beijo no seu peito nu.
— Eu vou deixá-la no trabalho, não se preocupe — ele
oferece — Sobre a nossa viagem, para onde gostaria de ir?
— Não sei… — Levanto o rosto para olhar para o Edward,
totalmente em dúvida sobre o nosso destino — Acho melhor deixar
em suas mãos essa escolha. Sou sempre tão indecisa sobre essas
coisas.
— Pensei em Paris, afinal, é a nossa lua de mel — Edward
sugere, em seu rosto, uma expressão de suavidade que em poucos
momentos eu pude ver — Ou talvez fosse mais interessante viajar
para algum lugar quente, como as ilhas gregas. O que me diz?
A sugestão do Edward me é totalmente agradável, e eu
realmente preferia um destino quente, onde pudéssemos aproveitar
as praias, um lugar totalmente diferente do que estamos
acostumados.
— Eu gostei da ideia das ilhas gregas — eu digo, já me
sentindo animada — Seria maravilhoso poder aproveitar um pouco
mais o sol.
— Então, está decidido. Vamos às ilhas gregas no próximo
fim de semana — Edward também parece estar bastante animado,
assim como eu.
Estou prestes a concordar, quando lembro que ainda não
falei com o senhor Smith e dessa forma, não posso dar uma certeza
sobre a nossa viagem.
— O que foi? Sua expressão mudou de repente — Edward
logo percebe a minha relutância em confirmar a nossa viagem.
— Eu preciso antes conversar com o senhor Smith —
expliquei — Não posso combinar nada antes de falar com ele.
A expressão de Edward muda de maneira instantânea, mas
ele nada diz, me deixando um tanto quanto desconfortável, a
sensação de insegurança voltando com força total.
— Eu não posso arriscar o meu trabalho, menos ainda a
minha promoção, Edward — tento me justificar — Mas se não
formos neste final de semana, haverá outros, não é mesmo?
— Tem razão — ele concorda, mas a sua expressão não
corresponde às suas palavras.
Apesar disso, ele me beija longamente, e correspondo com
entusiasmo.
— Se apresse, caso contrário irá realmente se atrasar para o
seu trabalho tão estimado — me alfineta.
Eu não respondo a sua indireta, mas faço aquilo que ele
pede, e levanto da cama, indo diretamente para o banheiro, onde
me preparo rapidamente para mais um dia e quando retorno ao
quarto, Edward já está pronto, apenas a minha espera.
— Podemos ir — digo para um Edward completamente
introspectivo.
Apenas agora eu consigo ver o quanto Edward deseja que
tudo seja à sua maneira e que quando isso não acontece, ele se
torna uma pessoa fechada, o seu charme esquecido e isso é algo
que devo colocar na balança, quando chegar o momento de tomar
uma decisão definitiva em relação a nós dois.
Voltava a minha mente o questionamento sobre como o
Edward conseguia tomar conhecimento sobre tudo o que eu fazia,
as pessoas que me visitavam, os lugares que eu frequentava.
Mesmo com esses pensamentos me perturbando, aceitei a
sua carona e fomos juntos até o jornal, em um percurso longo
demais devido ao silêncio no interior do veículo, e quando ele parou
o carro em frente ao prédio em que eu trabalho, segurei a maçaneta
imediatamente, disposta a sair dali o mais rápido possível.
Fui impedida por sua mão segurando em meu pulso, e olhei
assustada para Edward.
— Desculpe-me, Beatrice — ele pede, me deixando
espantada — Eu fiquei chateado por não termos a certeza de que
iremos viajar neste fim de semana, mas entendo o quanto o seu
trabalho é importante para você. Não deveria estar aborrecido por
esse motivo.
Suspirei aliviada por ele entender que sua atitude era
totalmente descabida e tinha conseguido trazer a minha
insegurança de volta.
— Exatamente, Edward — concordo com ele, é claro — Eu
não quero ter que fazer escolhas, quando não há a menor
necessidade disso, entende?
— Claro, você está absolutamente certa — ele diz, um
pequeno sorriso se insinuando em sua face — Tentarei controlar
esse meu temperamento difícil, afinal, o que importa é que estamos
tentando fazer o nosso casamento dar certo.
Sorriu em retribuição ao reconhecimento ao seu, e dessa vez
sou eu a tomar a iniciativa de um beijo.
— Almoçamos juntos? — ele sugere.
— Não posso — eu recuso, de maneira delicada — Pretendo
me dedicar integralmente ao trabalho hoje e já vou começar a
adiantar algumas coisas, para que seja possível a nossa viagem.
Tudo bem?
— Claro, claro — concorda rapidamente, voltando a me
beijar.
Depois que saí do carro do Edward, já estava me sentindo
novamente animada e disposta a começar mais um dia de trabalho
puxado, mas gratificante, como eram todos os dias desde que voltei
a trabalhar.
Abri a porta da minha sala com um sorriso ainda presente em
meu rosto, acredito que trazia comigo também uma expressão
sonhadora, a esperança de que tudo iria dar certo e que eu poderia
ser feliz ao lado do homem que sempre amei, mas tenho uma
grande surpresa ao me deparar com alguém sentado em uma das
cadeiras que ficam dispostas em frente á minha mesa de trabalho.
— Andrew! — exclamei assustada — O que está fazendo
aqui?
— Estava à sua espera — ele diz de modo tranquilo,
levantando-se de seu lugar, mas o seu rosto traz uma estranha
expressão de frieza.
— Nossa, como estou feliz em ver que você está de volta —
digo, e estou sendo bastante sincera — Senti tanto a sua falta.
Entrei completamente na sala, largando a minha bolsa sobre
a cadeira desocupada, na intenção de dar um grande abraço em
meu bom amigo.
— Não parece que estava sentindo a minha falta — ele
contradiz as minhas palavras, me deixando bastante espantada com
a sua fala.
— Por que diz isso? — Parei a meio caminho de estender
meus braços para o abraçar.
— Imaginei que o fato de passar tanto tempo dentro do carro
com o seu ex-marido indicasse que está muito bem sem mim aqui.
Capítulo 27 – Perdi minha oportunidade
Andrew
Após várias semanas longe de Londres, eu não suportava
mais estar distante das coisas que me eram familiares, mas
principalmente de Beatrice, então decidi que estava na hora de tirar
um tempo para mim e passar alguns dias em casa.
Mas para ser bastante honesto comigo mesmo, o fato de não
conseguir conversar com Beatrice como sempre fazíamos logo que
saí de Londres, foi o maior motivo da minha decisão, pois eu estava
sentindo que ela estava se afastando cada dia mais de mim, e eu
não poderia deixar que isso acontecesse.
Nem mesmo arrumei uma mala, vim apenas com a roupa
trazia em meu corpo, e em momento algum passou pela minha
cabeça que o motivo do afastamento repentino da mulher pela qual
eu estava apaixonado poderia ter sido uma reconciliação com o seu
ex-marido.
Quando eu ligava e ela não atendia, ou demorava a
responder as minhas mensagens, eu apenas tinha deduzido que ela
estava trabalhando muito, para conseguir a sua tão sonhada
promoção no jornal e sentia bastante orgulho de seu esforço.
Aparentemente, eu estava bastante equivocado e a causa do
seu afastamento não tinha nenhuma relação com a quantidade de
trabalho, e sim com o homem com quem ela estava conversando
dentro do carro, em frente ao prédio do Diário de Notícias, quando
eu cheguei há alguns minutos atrás.
Ainda assim, eu demorei muito a acreditar naquilo que os
meus próprios olhos estavam mostrando, mas eu sabia que não
estava delirando e que a cena diante de mim só poderia ser
totalmente real e não uma ilusão de ótica, pensei com ironia.
Eu tinha vindo ao trabalho naquela manhã de táxi, e quando
desci do veículo, me deparei com um casal apaixonado, trocando
um beijo demorado dentro do carro e cheguei a paralisar de
espanto, ao constatar que a mulher era ninguém menos que
Beatrice.
— Somos amigos, Andrew — ela diz, me deixando ainda
mais triste com a sua atitude — E é claro que estava sentindo a falta
do meu amigo.
— Amigos? — Deixei escapar uma risada de escárnio —
Então, somos apenas amigos, agora. Obrigada por me atualizar
sobre isso.
— Por que está falando assim, Andrew? — Beatrice
pergunta, visivelmente confusa — Sempre fomos amigos, não?
Analisei Beatrice de maneira minuciosa, cada traço do seu
rosto demonstrando que ela não estava usando de nenhum tipo de
cinismo ou algo do tipo, mas isso não diminuiu o meu aborrecimento
e cheguei à conclusão que o melhor a ser feito agora era usar de
toda a honestidade possível.
— Acontece que eu estava criando fantasias na minha
cabeça — sorri sem humor — Acreditava que assim como eu, você
também desejava algo além de uma amizade, mas pelo visto, eu
estava sozinho nisso.
Beatrice não precisava dizer nada, a sua expressão de culpa
deixava bastante claro que ela sabia das minhas intenções, eu
nunca fingi o contrário, mas que ainda assim, ela optou por voltar
para o marido e nem mesmo teve a decência de me dar algum tipo
de explicação.
— Desculpa, Andrew — Sua voz é baixa e demonstra
indecisão.
— Isso é tudo o que você tem a dizer? Um simples e único
pedido de desculpa?
Olhei para Beatrice com o cenho franzido, e tinha certeza de
que mostrava uma expressão de incredulidade em meu rosto.
— Eu estou tão confusa sobre o que fazer… não sei
realmente o que eu quero agora, Andrew — Apesar de tudo, parecia
sincera em suas palavras — Mas eu quero que saiba que você é um
homem muito gentil e que a sua amizade é muito importante para
mim… e ficarei muito triste se acaso você fique chateado comigo.
Ela só poderia estar brincando! Mas é claro que eu estava
com raiva, verdadeiramente aborrecido, mas ao mesmo tempo, eu
sei que não posso cobrar da Beatrice algo que não condiz com a
nossa situação.
A verdade é que Beatrice não tem nenhum tipo de
compromisso comigo, no final das contas, e se ela preferiu voltar
para o Maddock, mesmo após o ter visto acompanhado de Mila
Durant, só me restava aceitar que ela ainda nutria um forte
sentimento por ele.
— No momento, eu estou sim, muito chateado com tudo —
admito, a verdade sempre é o melhor caminho — Você poderia ter
me dito a verdade, que tinha se reconciliado com o seu marido e
que estavam juntos novamente. Eu não estaria aqui, agora, exigindo
explicações suas.
— Eu sinto muito — Beatrice diz, me encarando com um
olhar sincero.
— Acho que é isso… — falo em forma de despedida —
Desejo sorte, você vai precisar.
Viro as costas e saí daquela sala o mais rápido possível,
antes que eu dissesse mais alguma coisa horrível, como a que eu
acabava de deixar escapar agora.
Sabia que estava sendo pessimista, até mesmo maldoso com
ela, mas não consegui me impedir de dizer aquilo e sinto-me até
mesmo envergonhado, pois Beatrice é sim, uma boa garota, só que
completamente dependente emocionalmente de um homem que
não a merece.
Ainda assim, eu segui para a sala de meu pai, precisava tirar
uma dúvida com ele e seria agora. Algo me dizia que eu estava
certo em minha suspeita e precisava tirar aquilo a limpo.
— Andrew! — Lucy diz com verdadeira animação — Não
sabia que estava de volta a Londres.
Mesmo estando com um vulcão prestes a entrar em erupção
dentro de mim, tentei agir naturalmente e sorri em retribuição ao
cumprimento espontâneo e cheio de alegria da secretária do meu
pai.
— Eu cheguei hoje de manhã, querida Lucy — expliquei —
Meu pai está disponível?
— Seu pai sempre está disponível para você, querido.
— Obrigada, Lucy — agradeci, antes de bater à porta do
escritório do meu pai.
Não esperei por uma autorização, já entrando rapidamente
na sala espaçosa e confortável, onde meu pai estava totalmente
concentrado em algo na tela do computador, que nem mesmo
percebeu a minha entrada no ambiente.
— Olá, papai — chamei a sua atenção, puxando uma
cadeira.
— Oh, filho… não o tinha visto entrar — Joel Smith diz,
parecendo verdadeiramente surpreso — Quando chegou?
— Há poucas horas — falei de modo vago — Soube que
temos um novo anunciante, que está investindo pesado no jornal.
De quem se trata?
Eu já havia entendido todo a jogada, mas precisava pescar
mais algumas informações, afinal, eu quero ter certeza daquilo que
estou julgando.
Meu pai teve a decência de parecer constrangido com a mera
sugestão de um anunciante com fortes investimentos no jornal.
— Sim, sim — ele confirma, remexendo em alguns papéis
sobre a mesa e imaginei que ele queria disfarçar algo — Como
estão os negócios na Irlanda? Conseguiu bons contratos?
— Eu poderia dizer que até agora não tinha entendido a
necessidade de ter que me instalar em outro país, por causa de
algumas reuniões com investidores.
Eu estava sendo honesto, mais uma vez.
— O que mudou? — Joel Smith é um homem astuto, já
percebeu aonde quero chegar.
— Agora, eu já entendi o motivo por trás de tudo isso — falei,
encarando-o abertamente.
— E qual seria?
— Edward Maddock comprou a sua colaboração… o senhor
está fazendo tudo conforme ele deseja — lancei a minha teoria um
pouco maluca, mas totalmente verdadeira, eu tenho certeza — E
por esse mesmo motivo, muitas coisas aconteceram nas últimas
semanas, e outras deixaram de acontecer, como por exemplo, a
promoção de Beatrice a repórter de notícias da coluna internacional.
Enquanto eu falava aquilo, meus olhos estavam
completamente atentos a mínima expressão que passasse pelo
rosto do meu pai, e vejo o momento exato em que ele recebe a
notícia e por um pequeno esgar, eu constatei que estava certa sobre
aquele assunto.
— Está certo sobre o Maddock ter escolhido o nosso jornal
para fazer toda a divulgação de sua empresa — ele confirma o que
eu descobri facilmente — mas isso não tem relação alguma com a
promoção de Beatrice.
— O senhor quer me dizer que Edward Maddock não o
proibiu de mudar a Beatrice de cargo? — sugeri com ironia, convicto
de que o Maddock tinha sim, exigido exatamente isso do meu pai —
Não diga nada, papai. Já está tudo muito claro para mim.
Eu acabei saindo da sala do meu pai quase uma hora depois,
após descobrir a forte ligação entre ele e Edward Maddock, mesmo
que contra a vontade dele, meu pai me contou sobre a proposta do
meu concorrente e suas artimanhas para conseguir um tempo a sós
com a Beatrice.
Pelo visto, suas artimanhas estavam dando bons frutos, pois
Maddock tinha conseguido a sua esposa de volta, enquanto eu me
sentia péssimo por ter passado tanto tempo longe, ao ponto de
agora ser tarde demais para tentar provar que poderíamos ser muito
bons juntos.
Capítulo 28 – Ele me domina
Beatrice
Eu estava me sentindo horrível, desde o momento em que o
Andrew e eu conversamos pela manhã e nada conseguiu me distrair
da sensação de culpa que me perseguiu por todo o dia.
Passei as mãos sobre os meus cabelos, e depois as levei
para o meu rosto, escondendo-o de mim mesma, afinal, não havia
mais ninguém na pequena sala.
— O que eu estou fazendo com a minha vida? — pergunto
para as paredes — Como posso ser alguém tão… boba!
Eu estava com raiva de mim mesma, por sempre me deixar
levar pelo Edward, pois mesmo o amando ainda, eu não deveria me
deixar convencer tão facilmente.
Não aguentava mais ficar ali naquela sala apenas me
martirizando e decidi que iria aproveitar que faltava apenas meia
hora para o final do expediente e iria embora logo de uma vez.
Decisão tomada, levantei da minha cadeira em um salto, a
irritação chegando ao nível máximo, e depois de pegar a minha
bolsa, saí apressada daquela sala.
Não iria esperar que o Edward viesse me buscar. Não daria a
oportunidade de provocar ainda mais tensão, caso o Andrew
também nos encontrasse na saída do jornal.
Já me bastava o que aconteceu pela manhã.
— Está de saída, querida? — Lucy perguntou, ao nos
encontramos dentro do elevador.
Eu não consegui evitar uma careta diante do questionamento
inoportuno.
— Desculpe-me, Beatrice — Lucy rapidamente voltou atrás
— Eu não queria ser inconveniente.
— Não tem do que se desculpar, Lucy — Tentei consertar a
situação — Apenas não estou em um bom dia e você não tem nada
a ver com isso. Eu que devo um pedido de desculpas.
— Está tudo bem, não me deve nada — Ela gentilmente
aceitou a minha explicação — Até amanhã, querida.
O elevador tinha chegado ao andar que ela selecionou no
painel e Lucy se despediu, acenando para mim antes das portas
voltarem a se fechar.
Só me faltava isso, descontar a minha frustração em pessoas
que não tinham relação alguma com os meus problemas!
Respirei profundamente quando já estava do lado de fora do
prédio, uma sensação de liberdade totalmente fora de hora tomando
conta de mim.
Estava tudo tão fora de lugar, que até mesmo o trabalho que
eu tanto prezo, hoje me causou aborrecimento sem nenhum motivo
aparente.
Parada na calçada do jornal, fico perdida em pensamentos,
sem realmente ter certeza sobre o que eu irei fazer agora, decidindo
se deveria voltar para casa de táxi, ou apenas caminhar, tentar
desanuviar os pensamentos andando a ermo por Londres.
Naquele momento, uma sensação estranha se apoderou de
mim, como se eu estivesse sendo observada, um calafrio
desagradável se espalhou por todo o meu corpo, e mais uma vez
me questionei se Edward tinha mesmo colocado alguma para me
vigiar, o que seria um completo absurdo.
Caminhei então apressada, agora decidindo chegar na
estação de metrô o mais rápido possível, e a todo momento eu
olhava para os lados, na tentativa de localizar qualquer pessoa
suspeita, que pudesse estar trabalhando para o Ethan.
Não vi realmente ninguém que eu classificaria como um
possível detetive ou algo do tipo, e me questionei se eu não estava
ficando paranoica.
Dentro do metrô, pensei na hipótese de ir até a casa da
Janet, eu estava realmente precisando desabafar, colocar para fora
todas as coisas que estavam me atormentando.
Volto atrás imediatamente, não é justo levar mais
preocupações para a minha melhor amiga, agora que ela estava
completamente realizada com a sua família completa, desde a
chegada do seu primeiro filho.
Não iria estragar a felicidade dela, com assuntos dos quais
eu nem mesmo tinha certeza, quando ela já tinha feito tanto por
mim, ao me acolher em sua casa, no momento que decidi me
separar do Edward.
A verdade é que eu precisava aprender a ser mais
independente, caminhar com as minhas próprias pernas, e não ficar
esperando que outras pessoas tomassem decisões que eram
apenas minhas.
E ao descer do metrô na minha estação, aquela convicção
estava ainda mais firme, além da certeza de que os rumos da minha
vida devem ser responsabilidade única e exclusivamente minha.
Mas quando cheguei na rua da minha casa, a primeira coisa
que percebi foi o carro do Edward estacionado em frente a
residência, o que me deixa verdadeiramente irritada.
— O que faz aqui, Edward? — As minhas mãos estão
cruzadas na frente do peito e a minha cara não deve ser das
melhores.
— Estava à sua espera — Edward tem uma expressão
imperturbável em seu rosto, como se eu o tivesse apenas
cumprimentado normalmente.
— Como sabia que eu já estava chegando em casa? — Essa
pergunta estava me gritando na minha cabeça — Afinal, nesse
horário eu ainda estou saindo do jornal.
Apesar de estar fazendo a pergunta para eles, algo me dizia
que não havia outra explicação possível, a não ser o fato de que o
Edward estava sim, me seguindo e isso ficava cada dia mais claro.
Edward também cruza os braços à frente do peito.
— Eu liguei para você, mas você não atendeu.
— Isso não explica como você simplesmente deduziu que eu
estaria chegando em casa mais cedo que o horário normal.
Edward teve a decência de parecer, ao menos um pouco,
desconfortável, mas eu continuei o encarando atentamente,
aguardando por uma boa explicação de sua parte.
— Podemos entrar em sua casa, ou você prefere continuar
conversando em plena rua? — Edward olhava para todos os lados,
estava incomodado pelas pessoas que passavam por nós.
Ele estava certo em sua reclamação, mas eu não tinha
pretensão alguma de estender aquele assunto. Pelo menos não
naquele momento.
— Tudo o que eu preciso hoje é da minha cama, Edward.
Nada além disso — recuso de maneira determinada — Nós
precisamos ter essa conversa, mas em um outro dia.
Aquela noite eu não o deixaria entrar na minha casa e me
fazer esquecer todas as questões mal resolvidas entre a gente.
— Deixe-me entrar, Beatrice — ele ainda insiste — Prometo
que serei breve.
— Hoje eu preciso de um tempo sozinha — Não me deixaria
convencer mais uma vez — Amanhã nós podemos conversar e,
quem sabe, tudo se esclareça. Tudo bem?
Edward não ficou satisfeito com a minha sugestão, estava
bastante nítido.
— Eu entendo a sua necessidade por um tempo apenas seu,
mas se estamos tentando buscar uma relação mais próxima e
honesta, devemos fazer isso juntos e não cada um em um canto,
guardando coisas para si mesmo.
Eu teria achado graça das palavras dele, se não estivesse
me sentindo tão pressionada pela situação toda.
Edward estava sendo hipócrita, para dizer o mínimo, pois
estava cobrando de mim, algo que ele claramente não estava
oferecendo, visto que até agora, eu ainda não conseguia entender o
que se passava na cabeça de meu marido, pois ele não se abria de
fato sobre aquilo que sentia ou pensava.
— Será apenas hoje, Edward — eu pedi, em uma última
tentativa de acordo.
— OK!
Soltei a respiração que nem mesmo tinha percebido que
estava prendendo e consegui até mesmo exibir um sorriso, tamanho
o alívio por ter imposto a minha vontade.
— Virei buscá-la amanhã, para deixá-la no trabalho — ele
avisa, em expectativa.
— Eu irei esperar por você.
Ele se aproxima de mim, suas mãos segurando em cada lado
do meu rosto, seus olhando prendendo os meus no seu olhar
compenetrado, mas não diz nada.
Ele me beija com ímpeto e desejo, de maneira intensa e
arrebatadora, não consigo ficar impassível diante do desejo que ele
consegue despertar em meu corpo, mesmo contra a minha vontade.
Nos beijamos com ânsia, e nossos corpos se moldam um ao
outro e suas mãos passeiam por minhas costas, me fazendo querer
mais e mais, me deixando sem fôlego e trêmula, e quando sua boca
se afasta da minha, estou sem fôlego.
Foi um beijo rápido, mas como sempre, Edward consegue
abalar a minha determinação de me manter firme no propósito de o
fazer se abrir mais.
— Até amanhã, Beatrice.
— Até amanhã… Edward — digo de maneira débil.
Ele se afasta lentamente, voltando ao seu carro e saindo de
maneira tranquila, e apenas depois de aguardar que ele dobrasse a
esquina, eu entrei em casa praticamente me arrastando, pois o meu
coração ainda batia acelerado no peito, novamente a constatação
de que o Edward consegue me dominar muito facilmente me
deixando com uma sensação de desânimo sem igual.
Horas depois, já deitada em minha cama, Edward não saia
da minha cabeça, e não eram pensamentos agradáveis.
Cada vez mais, eu tenho a certeza de que preciso tomar uma
atitude drástica, que imponha ao meu marido todos os meus limites
e restrições, e que mostre para ele que eu tenho vontade própria,
ficava mais forte dentro de mim e não me deixava em paz.
E depois de horas rolando de um lado a outro da cama,
decidi o que faria a partir de agora, para deixar claro ao Edward que
mesmo com todo o seu poder e arrogância, eu posso sair do seu
cerco.
Capítulo 29 – Ele me controla
Beatrice
A primeira coisa que faço na manhã seguinte ao despertar, é
fazer uma ligação para a Janet, e mesmo não desejando incomodar
a minha amiga ou até mesmo nublar toda a sua felicidade com os
meus problemas, eu preciso da sua ajuda hoje e tenho certeza de
que ela não irá se opor ao que tenho em mente.
Depois de alguns toques, a minha amiga atende a ligação, e
suspiro aliviada ao ouvir o seu tom animado de sempre.
Nós conversamos um pouco, ela me conta sobre o pequeno
Archie e como ele está cada dia mais esperto e saudável e quando
ela me pergunta como estão as coisas, eu digo a verdade e sobre
como estou confusa com tudo o que está acontecendo.
— Você pode contar com a minha ajuda, Beatrice — Janet
diz, após ouvir o que planejei fazer naquele dia.
— Eu fico feliz que possa me ajudar, Janet — digo,
verdadeiramente aliviada.
Depois de combinar tudo com ela, faço a minha higiene
matinal e tomo um desjejum leve, mesmo sem vontade alguma de
comer, sei que preciso me alimentar direito, pois tudo ficaria ainda
mais complicado, caso eu acabasse ficando com algum problema
de saúde.
Como prometido, Edward chega para me buscar no horário
normal, e me recebe em seu carro com um beijo faminto, que me
deixa balançada mais uma vez, e também bastante dividida entre
seguir o fluxo ou tentar tomar as rédeas da minha vida.
— Estava com saudades — ele diz, ao afastar os seus lábios
dos meus.
— Nós nos vimos ontem, Edward! — eu brinco, apesar de
tudo, fico feliz pelo clima leve entre nós.
— Mas eu gostaria de que você tivesse passado a noite em
meus braços — ele explica, deixando uma sensação de calor em
mim.
Eu apenas sorri, não poderia fazer nada além disso, tendo
em vista os meus planos para aquele dia e logo uma sensação de
culpa começou a se insinuar, pois talvez eu estivesse prestes a
cometer um grande erro.
— Parece mais relaxada hoje — ele comenta, quando o carro
já estava em movimento.
— Resultado de uma boa noite de sono — eu menti
descaradamente.
Eu não tinha dormido quase nada!
A conversa continuou nesse mesmo tom, e em vários
momentos o Edward uniu as nossas mãos, até mesmo beijando o
meu pulso em alguns momentos, quando o trânsito permitia.
E ao chegar em frente ao prédio do jornal, antes de descer do
carro, mais uma vez ele me puxou para um beijo, e quando ele
tentou afastar os nossos lábios, eu me aproximei ainda mais,
prolongando aquele beijo ao máximo.
Apenas quando eu estava sem fôlego, afastei as nossas
bocas, já sentindo uma certa saudade do nosso contato apaixonado.
— Almoçamos juntos? — faço a sugestão, mas espero
ardentemente que ele recuse.
— Não posso, querida — Há uma expressão de legítimo
pesar em seu rosto — Tenho um almoço de negócios muito
importante hoje.
A explicação era totalmente plausível e vinha em um bom
momento.
— O que acha de viajarmos amanhã pela manhã?
Eu estava torcendo para ele não tocar nesse assunto, mas
aparentemente não foi o suficiente.
— Eu vou falar com o senhor Smith sobre a minha folga —
mais uma mentira — Não posso confirmar nada antes de saber se
realmente irei conseguir esses dias livres.
— Não há razão para ele negar isso para você, Beatrice —
Edward já parece um pouco aborrecido.
— Eu envio uma mensagem, quando obtiver algum retorno
do meu chefe — tentei desconversar.
— Tudo bem, então.
Aproveitei que ele tinha enfim aceitado a situação e sorri para
indicar que estava tudo bem.
Nós nos despedimos, e Edward prometeu que viria me
buscar, e eu aceitei prontamente a sugestão, ele não precisa saber
agora que isso não seria possível. Eu me justificaria depois.
Saí do carro e olhei para todos os lados, mais uma vez na
tentativa de ver o que acreditava ser certo já, alguém estava me
espionando, mas novamente nada fora do lugar me chamou a
atenção e uma pontada de culpa também se insinua.
Edward
Beatrice tinha acabado de sair do meu carro e uma frustração
tremenda já se mostrava presente em mim.
Ela estava diferente, não parecia confortável e mesmo
tentando disfarçar, eu consegui botar algo estranho na minha
esposa.
Eu conheço a Beatrice suficientemente bem para saber que
não estava tudo tão tranquilo quanto ela tentou passar a impressão
para mim, ela estava distante, e o seu sorriso não tinha o mesmo
brilho de sempre, assim como os seus gestos pareciam um pouco
forçados.
Definitivamente, ela não é uma boa atriz, como tentou
parecer.
Busquei o meu celular no bolso do paletó. Ligaria para uma
pessoa que estava sendo de grande valia desde que percebi o
tamanho da besteira que fiz, ao deixar que Beatrice fosse embora
da minha casa naquela tarde de primavera, há alguns meses atrás:
Joel Smith.
Como sempre, Smith atendeu prontamente a minha ligação,
e depois que nós nos cumprimentamos brevemente, eu fui direto ao
ponto.
— Preciso que Beatrice tenha alguns dias de folga, pois
iremos fazer uma viagem — explico o que preciso — Ela deve falar
com você, eu já estou adiantando o assunto, mas Beatrice não deve
saber que estou intercedendo, é claro.
Eu não iria esperar pela ajuda do destino, é mais fácil garantir
que tudo sairá como desejo.
— Claro, sem problema algum — ele concorda rapidamente
— Deixarei Lucy de sobreaviso, para que ela informe ao setor
responsável e Beatrice será dispensada sem maiores
questionamentos.
— Ótimo — Aquilo me tranquiliza um pouco — Saberei
recompensar a sua colaboração, como sempre.
— Sei reconhecer um bom parceiro de negócios, Maddock e
o seu prestígio como empresário tem aberto algumas portas para o
nosso jornal.
Nós nos despedimos rapidamente e encerramos a chamada,
agora me sinto bem menos apreensivo.
Olho em torno de maneira minuciosa e localizo Saymon
Jones parado de maneira bastante discreta bem próximo a entrada
do restaurante, há alguns metros de distância, e constato que ele
estava atento a toda a movimentação próxima.
Só após isso eu coloco o carro em movimento, em direção a
minha empresa.
Agora, mais do que nunca, preciso saber de todos os passos
da Beatrice e ter certeza sobre os seus movimentos, para onde vai e
com quem se encontra, é algo que me deixa bastante tranquilo.
Somente dessa forma consigo trabalhar despreocupado e
Jones está bem orientado a entrar em contato comigo ao menor
sinal de atividade suspeita, como também sobre qualquer novidade
em relação a algum possível pretendente que surja na vida da
minha esposa, o que é um completo absurdo, mas sempre tem um
idiota desavisado, querendo arranjar problemas.
Apenas por esse motivo eu aceitei ir embora ontem, mas
Beatrice não precisava saber disso.
Eu não teria concordado em ir embora na noite anterior, se
não tivesse um dos homens de Jones a postos, para me informar
caso ela recebesse alguma visita ou decidisse sair de casa, algo
que o investigador me garantiu que não aconteceu.
Não queria que situações como a de algumas noites atrás se
repetissem, como aconteceu na noite em que o investigador me
avisou sobre a visita do primo da Beatrice a sua casa, o Sebastian.
Rapidamente tratei de criar uma situação de extrema
urgência na filial da Irlanda, algo que demandou o retorno de
Sebastian para o país, o fazendo partir de Londres e colocar muitos
quilômetros de distância entre ele e a minha esposa.
Não quero que ele tenha contato com a Beatrice e menos
ainda que tente influenciar ela de alguma forma, para fazer aquilo
que ele tanto gosta.
Agora, ele não iria mais me causar problemas, eu tinha
garantido o seu retorno para a Irlanda e não me sentia nenhum
pouco culpado por ter feito isso.
Eu sempre iria manter todas as ameaças o mais distante
possível da minha esposa, pois a Beatrice é crédula e confiante
demais nas pessoas, não consegue discernir as más intenções por
trás de suas ações.
Da mesma forma que consegui afastar Sebastian de Londres,
também o fiz com o idiota do Andrew Smith, ao conseguir que o seu
pai o enviasse para bem longe e esperava que ele continue muito
tempo por onde está.
Caso ele voltasse a cidade, eu precisava ser informado o
mais rápido possível, pois ainda existia o agravante de que ele
trabalha no mesmo local que a minha esposa e eu não tinha como
controlar a relação deles dentro do jornal, algo que me desagrada
em grande medida, e que eu precisaria resolver, assim que ele não
mais pudesse ser mantido longe.
Mas eu pensaria nisso quando Andrew Smith estivesse de
volta. No momento, tenho coisas muito importantes a tratar, como
por exemplo, a minha viagem com a Beatrice.
Precisava ser um destino romântico e onde eu pudesse fazer
com que a Beatrice esqueça de todas as suas preocupações.
Capítulo 30 – Buscando uma saída
Beatrice
Como a sala do Andrew ficava ao lado da sala do seu pai, a
Lucy servia como secretária para os dois homens, então logo que
cheguei a minha sala no jornal, entrei em contato com ela e pedi
para que ela avisasse ao Andrew que eu estava precisando falar
com ele.
Passei toda a manhã em uma angustiante expectativa, mas o
Andrew não apareceu em minha sala e tampouco me ligou, como eu
imaginei que ele faria.
Agora já era hora do almoço e eu ainda estava aguardando
por uma ligação que não viria, pelo visto.
Pensei na possibilidade de ele ter viajado novamente sem me
comunicar, afinal, ele está chateado comigo, tenho certeza, pois
nem mesmo me atendeu quando liguei diversas vezes para ele.
Por esse motivo eu havia decidido a falar com a Lucy, pois
assim talvez ele entendesse que eu realmente estava precisando
falar com ele.
Acreditei que um recado dado por sua secretária tornaria
mais fácil dele me dar atenção, mas aparentemente não surtiu o
efeito esperado.
Eu não quero enviar mensagens, pois o assunto que eu
precisava tratar com ele é algo que quero conversar pessoalmente,
ouvindo a sua voz e, consequentemente, a sua reação às minhas
palavras.
Apesar de já estar no horário do almoço, decidi ir até a sala
da Lucy, quem sabe eu encontrasse ainda o Andrew por lá, ou então
a Lucy, que poderia me dar alguma explicação sobre o fato dele não
ter ainda entrado em contato comigo.
Talvez ela até me dissesse que não tinha conseguido passar
o meu recado, e eu estivesse criando bobagens na minha cabeça.
Ao chegar à sala onde a Lucy tinha a sua mesa, encontrei o
lugar vazio, e teria voltado imediatamente para o corredor, se não
tivesse ouvido algumas vozes através da porta entreaberta da sala
do senhor Smith.
Identifiquei de imediato que se tratava da Lucy e do nosso
chefe, pareciam conversar, e eu não poderia continuar ali parada,
pois caso a secretária voltasse ao seu posto, iria imaginar que eu
estava apenas ouvindo por trás das portas.
Eu gostaria muito de falar com ela, mas não iria correr o risco
de ser mal interpretada, então era melhor voltar em um outro
horário, pois era possível ouvir claramente o que diziam.
Voltei atrás imediatamente ao ouvir o meu nome ser citado
pelo senhor Smith, agora realmente atenta ao que eles
conversavam.
— Você também informa ao setor de Recursos Humanos que
a Beatrice estará de folga nos próximos dias — ele informa para a
secretária.
Mas que grande coincidência! Eu estava recebendo dias de
folga, exatamente quando o Edward havia me pedido para solicitálos.
— Que estranho — Lucy comenta com aparente curiosidade
— Eu não vi nada sobre essa solicitação de folga da Beatrice. Ela
falou diretamente com o senhor?
Era normal que a Lucy estivesse curiosa, afinal, assuntos
como esse sempre passavam por ela e até eu mesma fiquei, pois
não havia falado nada sobre isso com o senhor Smith, ou qualquer
outra pessoa do jornal.
— Estou atendendo a um pedido pessoal de Edward
Maddock, marido de Beatrice — O nosso chefe explica — Não
posso negar um pedido vindo de Maddock, quando ele tem aberto
tantas portas para o nosso Diário de Notícias, concorda?
— Claro — A secretária concorda prontamente — Irei
providenciar isso.
Mesmo completamente em choque com o que acabo de
ouvir, eu precisava sair imediatamente daquela sala, pois tudo indica
que Lucy sairá do escritório do senhor Smith a qualquer momento.
Sinto uma mão segurar meu braço, só agora percebendo a
presença de alguém ao meu lado. Andrew.
— Vamos para a sua sala — ele sussurra.
Ele não precisa falar mais nada, logo estou atendendo a sua
sugestão. Nós podemos ser vistos pela Lucy e ela saberia que ouvi
a sua conversa e coisas que com certeza não eram para que eu
tomasse conhecimento.
Conseguimos deixar a sala antes que qualquer um dos dois
saísse e eu solto um suspiro do mais puro alívio quando já estamos
no corredor, pois ao invés do Andrew, poderia ter sido qualquer
outra pessoa a me flagrar ouvindo conversas praticamente por trás
da porta.
Andrew continua segurando em meu braço e juntos seguimos
em silêncio pelo extenso corredor.
Ainda não consigo acreditar que Edward entrou em contato
com o senhor Smith para pedir que ele me concedesse uma folga,
antes mesmo que eu o fizesse! Ele não tem o direito de se meter em
meu trabalho dessa maneira.
Eu ainda não tinha conversado com o senhor Smith ou
qualquer outra pessoa, mas eu o faria assim que tivesse conversado
com o Andrew, não por causa do Edward e essa sua ideia de fazer
uma viagem de lua-de-mel totalmente fora de hora.
— O que estava fazendo na sala da Lucy? — foi a primeira
pergunta de Andrew, quando ficamos apenas nós dois no elevador.
— Fui a sua procura — explico — Preciso falar com você.
Liguei várias vezes, por que não me atendeu?
Ele não respondeu naquele momento, pois as portas do
elevador se abriram, e nós saímos para o corredor bastante
movimentado do andar no qual fica a minha sala, e mais uma vez
nós seguimos lado a lado, em silêncio.
Apenas quando já estamos discretamente dentro da sala,
com a porta devidamente fechada, é que o Andrew volta a me
encarar, respondendo enfim ao meu questionamento.
— Eu não queria falar com você — ele diz de modo direto e
brutalmente honesto, me deixando praticamente sem palavras.
— Eu… — gaguejei — ainda cheguei a duvidar que a Lucy
tivesse passado o meu recado…
Apesar de ter ficado muito triste com a atitude inesperada do
Andrew, eu tentei compreender.
— O que quer falar comigo? — ele pergunta de modo brusco.
Eu fico momentaneamente sem saber o que dizer, agora em
dúvida se devo ainda pedir a sua ajuda, diante das suas atitudes.
— Desculpe-me, Beatrice — ele diz, suspirando longamente
e passando as mãos pelo rosto, parecendo um pouco perturbado —
Eu não deveria te tratar dessa forma. Perdoe-me.
Sinto um peso sair do meu peito, ao ver que ele voltou atrás
nas suas ações, mas ainda não tenho certeza se devo prosseguir
com o que eu tinha planejado.
— Tudo bem.
Andrew se senta sobre o pequeno sofá, as pernas afastadas
uma da outra e os cotovelos sobre os joelhos, me encarando
atentamente, como se a espera de que eu dissesse mais alguma
coisa.
— O que achou da história que meu pai estava comentando
com a Lucy? — ele diz, por fim.
— Estou bastante surpresa, para falar a verdade — eu
confesso.
— Esperava que estivesse também indignada, ou qualquer
coisa assim — Andrew usa um tom cheio de sarcasmo ao dizer isso
— Não se incomoda que o seu marido esteja se metendo dessa
maneira em seu trabalho?
A sua pergunta é bastante válida.
— Eu estou sim, indignada, chateada, horrorizada com a
forma como o Edward simplesmente está tentando controlar a
minha vida — digo aquilo que estou sentindo — E é exatamente
sobre isso que preciso falar com você. Preciso de sua ajuda,
Andrew.
Ele me olha com curiosidade.
— Diga-me, então — ele pede — Em que eu posso te
ajudar?
Chegou a hora da verdade.
— Eu quero sair de Londres, mas não quero que o Edward
saiba que estou fazendo isso — estou nervosa e minhas mãos
tremem um pouco — Tenho a impressão de que estou sendo
constantemente vigiada.
Andrew solta uma risada sem humor.
— Você tem a impressão? — pergunta de maneira irônica —
Você está sendo constantemente vigiada, Beatrice. Isso é claro.
Como acha que o Maddock conseguiu as nossas fotos? Como ele
fica sabendo de tudo o que você faz? Ele tem uma pessoa no seu
encalço, isso é absolutamente certo.
— Você tem toda a razão — confirmo as suas palavras — E
agora eu quero saber: você irá me ajudar?
— Eu jamais poderia me recusar a fazer isso, Beatrice — seu
tom é baixo e um pouco rouco, mas sem hesitação alguma.
— Obrigada, Andrew — agradeço, e o meu coração fica
acelerado de repente.
— E então, como você fará para sair de Londres e enganar
os homens do Maddock? — ele pergunta, um sorriso se insinuando
em seus lábios.
— Eu pedi para a Janet que fosse até a minha casa,
aproveitando que estou aqui no jornal, e pegasse uma mala que
deixei pronta — explico — É preciso apenas que você me deixe na
estação, e eu me viro sozinha.
— Para onde irá? — Andrew pergunta, a testa franzida.
— Irei para Manchester — contei — Preciso de algum tempo
sozinha, pensar com calma em tudo o que está acontecendo.
— De que horas iremos?
Olho para o pequeno relógio em meu pulso e vejo que faltam
apenas meia hora para o horário que eu tenho que sair do jornal,
para encontrar a Janet na estação e digo isso para o Andrew.
— Então, vou apenas organizar algumas coisas mais
urgentes e estarei disponível — ele se levanta, ajeitando melhor o
paletó — Nos encontramos na garagem do prédio?
— Sim — confirmo — Eu acredito que é melhor que não nos
vejam saindo juntos.
— Concordo.
— Então, em meia hora.
Capítulo 31 – Devolva a minha liberdade
Beatrice
No horário marcado, esperei por Andrew na garagem do
edifício em que trabalhamos e pontualmente ele também estava lá,
e a sua expressão estava bem diferente do homem que conversou
comigo em minha sala.
Nós dois entramos no carro, mas ao invés de sentar no
banco da frente, ao lado do motorista, eu entrei na porta de trás,
optando por sentar ali.
— Acredito que seria melhor que tentasse se esconder, para
que a pessoa que está te vigiando não a veja dentro do meu carro, e
acabe nos seguindo — Andrew sugeriu — Afinal, a ideia é despistar
quem quer que seja que a está espionando, não é mesmo?
— Claro, você está certo — concordei, mesmo não gostando
nenhum pouco da ideia de que alguém me vigia constantemente.
Entendi então que deveria me deitar sobre o banco, de modo
que não me vissem saindo no carro e assim segui por vários
minutos, mesmo sabendo que já tínhamos virado a esquina da rua
onde ficava localizado o jornal.
Levantei aos poucos, e sentei normalmente sobre o banco,
percebendo que mesmo concentrado em dirigir o carro, Andrew
estava o tempo todo olhando para mim pelo espelho retrovisor, o
que me deixou um pouco envergonhada.
A verdade é que somente agora eu me dei conta do quão
constrangedora era aquela situação a qual eu estava me
submetendo para tentar fugir do controle que Edward estava
impondo sobre a minha vida.
Aquilo gerou uma espécie de revolta em mim, afinal, eu não
precisava estar me escondendo daquela forma, apenas para ter o
direito de ficar um tempo sozinha, longe de tudo e todos.
— Imaginei que ficaria feliz em conseguir passar
despercebida pelos homens do Maddock — Andrew comenta, ainda
me encarando através do espelho retrovisor.
— Por que diz isso ? — perguntei, não estava entendendo
aonde ele queria chegar.
— É que você não parece uma pessoa feliz no momento —
ele explicou — Muito pelo contrário.
Bem, não havia motivos para esconder do Andrew a verdade
de como eu estava sentindo e considerei que o justo era abrir o jogo
e expor os meus pensamentos.
— A verdade é que agora eu estou com raiva. Muita raiva —
confesso — Porque a cada minuto que passa, eu me dou ainda
mais conta do quanto é absurda toda essa situação.
— Claro, eu entendo você perfeitamente — ele está com uma
expressão de gravidade tão, ou até maior que a minha — Ter que
sair escondida do seu trabalho, como uma foragida, não é algo
agradável.
— Exatamente! — concordo, pois ele descreveu muito bem a
situação — Tudo isso porque o Edward se acha no direito de
controlar todos os meus passos.
Fechei os olhos e encostei a cabeça ao encosto do banco,
tentando acalmar os nervos. Só agora estava caindo a ficha sobre
tudo o que eu estava precisando fazer, para fugir da obsessão que o
meu marido parecia ter por controle.
Nós permanecemos em silêncio durante todo o restante do
percurso até a estação. Mas não era um silêncio confortável e sim
daqueles cheios de palavras não ditas e pensamentos guardados.
Quanto mais se aproximava do meu destino, mais nervosa eu
ficava e quando o carro parou em frente a estação onde eu me
encontraria com a Janet e pegaria o trem para Manchester, eu
segurei na maçaneta da porta com mais força do que o necessário.
Mas o meu telefone tocou naquele instante, atrasando um
pouco a minha partida e temi que fosse uma chamada do Edward,
querendo saber onde eu estava.
Para o meu alívio, era a Janet, querendo saber onde eu
estava e se ainda iria demorar a chegar.
A tranquilizei, informando que já estava em frente a estação e
depois de garantir que em poucos minutos encontraria ela no local
combinado, nos despedimos e olhei para o Andrew, realmente
desconfortável com a estranheza daquela situação bizarra.
— Eu preciso te agradecer, Andrew — falei — Não sei como
teria feito para sair do jornal sem ser vista, se não fosse a sua ajuda.
Ele estava completamente voltado em minha direção,
sorrindo em retribuição as minhas palavras e observando-o com
atenção, mais uma vez pude constatar o quanto ele era lindo e
gentil.
Por que eu tinha que ser completamente apaixonada pelo
Edward? Por que eu simplesmente não seguia em frente e deixava
o passado no lugar dele? Eram questões que eu não conseguia
entender.
— Saiba que pode sempre contar comigo, Beatrice — ele diz,
seus olhos atentos, me observando com total atenção — Jamais te
negaria nada que venha a me pedir.
As palavras pareciam sinceras e tinham uma profundidade
que me deixou embevecida e envergonhada ao mesmo tempo.
— Obrigada — Foi tudo o que pude dizer.
Ficamos nos encarando por alguns segundos, até que eu
quebrei o nosso contato visual, e quando voltei a olhar na sua
direção, ele tinha o seu olhar baixo, demonstrando que também
estava um pouco desconfortável, assim como eu também me sinto.
— Onde pretende se hospedar em Manchester? — ele
perguntou, me surpreendo.
— A Janet reservou uma suíte de hotel, mas eu não sei ainda
qual o nome — Era a verdade.
— Posso te ajudar em mais alguma coisa? — Andrew parecia
querer estender a nossa despedida.
— Não — eu neguei — Você já me ajudou muito, ao me
trazer aqui.
— Tem certeza?
— Tenho, sim — confirmei, agora com um sorriso por sua
insistência.
— É bom te ver sorrindo, Beatrice — Ele estava sério — É
bom, e raro também.
Baixei o olhar, sem querer entrar naquele assunto.
— Eu preciso ir — eu estava fugindo — A Janet está à minha
espera.
O olhar que o Andrew lança em minha direção é cheio de
significado e me sinto novamente desconfortável com toda a
situação, então abri a porta rapidamente, saindo do carro sem mais
palavras.
Não me sentia à vontade para um abraço, tampouco
considerava adequado um “adeus” ou mesmo um “até logo”.
Caminhei apressadamente até a estação, sem nem mesmo
olhar para trás, até chegar ao local onde tinha combinado de me
encontrar com a minha melhor amiga.
Pude vê-la já a distância, ela parecia olhar para todos os
lados, como se a procura de algo ou alguém, sentada em um dos
bancos próximos a plataforma de embarque, uma mala grande ao
seu lado.
Quando me viu, a Janet ficou imediatamente de pé e me
abraçou, como se não me visse há dias.
— Que bom que você chegou — ela disse, seu abraço
apertado — Já estava ficando preocupada de que algo havia saído
errado.
Nós nos afastamos e eu sorri para indicar que estava tudo
bem, apesar de tudo.
— Como você é exagerada… — brinquei — Nos falamos há
menos de dez minutos.
Mesmo percebendo que a Janet estava falando realmente
sério, seu rosto demonstrava preocupação, eu já estava me
sentindo mais leve, apenas em ver a minha amiga e sentir o seu
carinho por mim.
— E você falou que já estava em frente a estação — ela me
repreendeu, severa — Isso foi há quase dez minutos!
Eu sorri sem graça, afinal ela estava com a razão, mas preferi
não tocar no nome do Andrew agora, aquilo iria desencadear várias
perguntas que eu não estava disposta a responder agora, então era
melhor mudar de assunto.
— Onde está o Archie? — O bebê da Janet era um assunto
seguro e belo.
Ela sorriu ao ouvir o nome do seu pequeno, demonstrando
todo o amor que sentia apenas com aquele gesto.
— Eu achei melhor deixá-lo com a mamãe — ela contou,
olhando para o pequeno relógio de ouro em seu pulso — Vamos nos
sentar, ainda temos algum tempo antes do trem que vai para
Manchester sair.
A Janet me contou sobre o quanto o Archie estava crescendo
rápido e todas as novidades sobre o seu pequeno, assim como
também me atualizou sobre o Charles e como estavam todos na sua
casa.
Nós tentamos manter o assunto apenas em coisas
agradáveis, mas era simplesmente impossível não perceber o
quanto a Janet parecia tensa e preocupada, a todo instante olhando
para os lados, como se estivesse sendo perseguida.
— Janet! — eu a repreendi, quando ela ficou olhando de um
lado a outro sem cessar — Você está paranoica, já.
— Não sei como você consegue ficar tão calma desse jeito,
sabendo que todo o tempo estava sendo seguida — ela disse, me
encarando com severidade.
— Eu não estou calma, Janet! — desabafei, deixando
transparecer em minha voz toda a minha indignação com a situação
— Eu estou com raiva, muita raiva. Mas eu não sei ainda o que
fazer, então decidi fugir. Essa é a verdade.
— É completamente compreensível que fique com raiva,
Beatrice — A minha amiga segura a minha mão, em uma clara
tentativa de deixar claro que está comigo naquela situação — O fato
é que você está tendo cessado o seu direito de ir e vir livremente,
algo que é essencial para qualquer pessoa, mas o Edward não
parece compartilhar dessa ideia.
Capítulo 32 – Quero distância dele
Beatrice
Depois de fazer um verdadeiro desabafo para a minha amiga,
no qual ela não se posicionou ou opinou de nenhuma forma, eu me
sentia mais leve e otimista sobre tudo o que estava acontecendo na
minha vida nos últimos meses.
— Eu devo dizer que foi muito sábia a sua decisão de se
afastar por alguns dias, longe de tudo e de todos, com o único
objetivo de pensar — Janet diz de maneira simpática — Sei que te
fará bem e quando você voltar, quem sabe não estará mais forte e
decidida sobre o que você realmente quer? Um tempo para você é
algo que vai ser muito positivo, tenho toda a certeza.
Eu estava esperando exatamente por aquilo que a Janet
estava dizendo e esperava de maneira bastante ansiosa que
acontecesse de fato. Eu estava muito esperançosa mesmo e feliz
por ter alguém como ela em minha vida.
— Fico muito feliz em ter a sua amizade e por sempre estar
me apoiando em tudo o que faço, minha amiga — eu agradeci,
segurando as mãos da minha amiga nas minhas — E mais feliz
ainda por estar feliz com sua família e tendo um ótimo momento da
sua vida.
A Janet e eu conversamos até o último minuto antes de que
eu entrasse no trem com destino a Manchester, e quando chegou o
momento da despedida, ela me deu um abraço forte e carinhoso.
Nossa amizade vem de longa data e nós sempre fomos
assim, unidas em todos os momentos, e ela tinha me apoiado muito
em todo esse tempo.
— Eu estou indo passar apenas alguns dias fora de Londres,
Janet — eu brinquei, sorrindo com a forma como ela estava se
despedindo de mim — Não vou embora de vez!
— Eu não concordo com você — ela protesta de maneira
veemente — Não sei dizer, mas você estar em outra cidade é
diferente de quando eu sei que você está aqui em Londres e eu
posso te ver a qualquer momento, bem mais acessível do que
Manchester.
— No final das contas, você está certa — concordei, olhando
para o aviso de que o trem já estava partindo — Agora eu realmente
preciso ir. A gente se fala por telefone.
Segurei as minhas malas com o coração bastante acelerado,
e entrei no trem, mas também tinha no peito um sentimento de
melancolia terrível, mas ainda assim com a certeza de que logo isso
iria passar, afinal, seriam apenas alguns dias e eu estaria de volta a
Londres e a minha vida normal.
A viagem para Manchester levou menos de três horas, o que
pode ser considerado por muitos como uma viagem bastante rápida,
mas contrariamente, aquele foi tempo suficiente para que eu
pensasse em um monte de coisas, e até mesmo me martirizar com
algumas coisas que fiz nos últimos dias, e que agora não tinha tanta
certeza sobre ter sido o melhor.
Uma delas era sobre ter dormido com o Edward, quando a
verdade é que nós estamos vivendo uma relação um tanto quanto
conturbada, com a maneira como ele quer sempre saber de todos
os meus passos e com quem me encontro, assim como tomar
decisões em meu nome.
Ainda assim, sobre isso eu não tinha arrependimento de
verdade, afinal, nós fomos casados por três anos e nunca tivemos
sexo, o que é algo que sempre me deixou triste, e até mesmo
conseguiu abalar a minha autoconfiança.
Então, no final das contas, eu precisava daquilo, e foi como
se concluísse uma etapa importante da nossa vida a dois com o
Edward.
Uma delas era sobre o meu primo Sebastian, algo que agora
eu via como um completo absurdo, mais um dos cometidos pelo
Edward, na verdade. E por esse exato motivo, quando ele me ligou,
quando eu ainda estava no trem, eu propositalmente recusei a sua
chamada duas vezes, antes de atender, diante de toda a sua
insistência.
— Oi, Edward — Atendi a ligação usando um tom firme e
seguro.
— Onde você está? — O seu tom, por outro lado, é cheio de
arrogância e agressividade — Fui ao jornal e você não estava.
Ele já deve saber de tudo mesmo.
— Saí mais cedo do trabalho hoje — eu disse simplesmente,
sem nenhum remorso.
— Também não está em casa, eu já me certifiquei sobre isso.
— Está certo sobre isso.
— Então se você não está no trabalho e menos ainda na sua
casa, eu volto a perguntar, onde você está, Beatrice? — ele insiste,
claramente já sabe que não estou em casa.
— Eu estava precisando ficar longe de tudo e de todos,
Edward — expliquei, testando a sua reação.
— Acabo de falar com Joel Smith e ele me informou que você
tirou alguns dias de folga, pois pretendia viajar. E agora eu quero
saber onde você está, Beatrice. Diga-me e eu irei aonde você
estiver e nós teremos nosso tempo juntos, longe de tudo o que está
te perturbando desse jeito.
— Eu queria algum tempo sozinha — falei de maneira mais
clara — Estou confusa.
— Nós iríamos viajar juntos, seria apenas você e eu, então
por que fazer isso sozinha? Sem mim?
— Você me deixa confusa, Edward.
— Não entendo por que está agindo dessa maneira, meu
amor.
— Eu não me sinto bem com a sua maneira de agir, sempre
tentando me controlar de todas as formas, então por isso eu decidi
que preciso desse tempo, apenas eu e os meus pensamentos, sem
nada para me distrair.
— Mas você não me disse nada sobre isso.
— Espero que me compreenda. Logo eu entrarei em contato
com você, prometo.
Encerrei a ligação, pois percebi que quanto mais eu tentava
me explicar, mais ainda o Edward tentava me manipular, e se eu
viajei para longe, era justamente para ficar longe da sua influência
perturbadora.
Ele ainda me ligou várias outras vezes, mas eu optei apenas
por bloquear as suas chamadas e mensagens, não posso me deixar
levar por suas palavras.
Quando cheguei à cidade na qual eu pretendia passar os
próximos dias, a primeira coisa que fiz foi ir até o hotel onde a Janet
havia feito a minha reserva e descansar, pois o meu psicológico
pedia tranquilidade e paz.
Mandei mensagem para a Janet, avisando que cheguei bem
e que já estava devidamente instalada, e aproveitei para agradecer
mais uma vez por sua amizade, afinal, além de reservar a suíte de
hotel, ela também se deslocou de sua casa até a minha, usou a
chave que eu convenientemente deixei embaixo do tapete da porta
de entrada e pegou as minhas malas e as levou até a estação.
Aquele trabalho todo demandou esforço e eu precisava
reconhecer que foi muito importante para que eu tivesse conseguido
chegar em Manchester sem que o Edward soubesse onde eu estava
e para onde eu tinha ido.
Respondi também algumas mensagens do Andrew,
perguntando se eu tinha chegado bem em Manchester e reforçando
a sua oferta de apoio, ao que agradeci muito.
Depois de falar com essas duas pessoas, eu apenas
desliguei o meu celular.
Já era noite na cidade e eu pedi o meu jantar no quarto, onde
permaneci todo o tempo depois, pois dormi cedo e, por incrível que
pareça, rapidamente, logo após me deitar na cama larga e
confortável da minha suíte de hotel modesta.
Eu não podia fazer grandes extravagâncias no momento,
afinal, todas as minhas economias haviam sido investidas na
compra da minha casa, por mais simples que ela fosse, na opinião
do Edward, mas ela não saiu barata, afinal, Londres é uma cidade
cara, como são todas as grandes cidades desenvolvidas.
Apesar de tudo o que estava acontecendo e todas as coisas
com as quais eu precisava me preocupar, consegui dormir durante
toda a noite e no dia seguinte me acordei no horário de sempre,
mas completamente disposta a passar o dia bastante ocupada,
conhecendo melhor a cidade.
Eu tinha escolhido Manchester por acaso, apenas pensei em
um nome, qualquer um destino distante de Londres, mas ainda no
Reino Unido iria servir, e uma reportagem sobre da coluna de
esportes do jornal me chamou a atenção, a qual falava sobre o time
de futebol local, o Manchester United FC.
Apesar de a sede do clube não ficar na cidade realmente, e
sim em Trafford, um dos distritos da região metropolitana do
condado de Greater Manchester e que fica a uma pequena distância
da região central, apenas vinte e cinco minutos com o trânsito leve.
Eu me informei sobre tudo isso, exatamente porque aquele
seria o meu primeiro destino em Manchester, eu iria até a região
para fazer algo que sempre tive vontade, mas como nunca segui os
meus verdadeiros instintos, sempre deixei aquele desejo guardado
nos recônditos da minha mente, ou seria mais justo dizer, coração?
Mas uma das minhas resoluções agora era de aproveitar
aquele tempo para fazer isso, seguir as minhas vontades e fazer o
que eu verdadeiramente desejo, e nesse momento eu estava
colocando um tênis e uma malha confortável para pegar um ônibus
com destino a Trafford.
Capítulo 33 – Descoberta Chocante
Edward
Passei todo o dia me sentindo tenso e preocupado, era como
se algo não estivesse certo, mas ao mesmo tempo me sentia
satisfeito com o andar das coisas, pois tinha conseguido encontrar
um destino para ir com a Beatrice e que eu tenho certeza de que ela
irá apreciar bastante: Paris.
Que mulher não gostaria de Paris, uma cidade considerada
como um dos lugares mais românticos do mundo e no qual nós
poderíamos ter bons momentos juntos?
Não pude almoçar com a minha esposa, mas iria buscá-la
após o horário de trabalho e iríamos juntos para a sua casa, onde
poderíamos combinar a nossa viagem já para o dia seguinte.
Eu tinha encarregado a minha secretária de organizar tudo
para a minha viagem, como um lugar para se hospedar e o contatar
o meu piloto, para que o jatinho estivesse pronto amanhã bem cedo,
para a minha viagem de lua-de-mel.
A Jennifer ainda estava naquele cargo, eu estava ocupado
demais com outras coisas
Apesar da expressão de desagrado da minha secretária, ela
saiu da minha sala com a promessa de que faria tudo conforme eu
tinha solicitado.
— Apenas o melhor para a minha esposa — reforcei antes
que ela saísse — Não esqueça.
E com a certeza de que as coisas entre a Beatrice e eu
seriam resolvidas com a nossa viagem a Paris, eu estacionei o meu
carro o mais próximo possível do prédio onde ela trabalha, mas não
a encontrei à minha espera, como imaginei que estaria.
Fiquei me perguntando se ela teria perdido a hora ou ainda
estava ocupada com alguma revisão de última hora, mas após
alguns minutos esperando sem que a Beatrice aparecesse na
entrada do edifício, eu desci do carro e entrei no lugar a procura de
Beatrice.
Quando cheguei ao andar onde a minha esposa trabalha,
informei a recepcionista que estava ali para buscar Beatrice, mas a
sua fala me deixou intrigado, pois até então, eu imaginei que ela
estava completamente equivocada.
— A senhorita Phillips foi embora há algumas horas, senhor
— ela informou — E disse-me que só estará de volta na segundafeira.
— Estranho — falei baixo, mais para mim mesmo — Ela não
me falou nada sobre já ter ido embora.
Liguei para a Beatrice então, para saber onde ela estava,
mas como ela não atendeu, deduzi que deveria já estar em sua
casa e voltei para o elevador apressado, disposto a ir até onde ela o
mais breve possível.
Mas quando entrei no elevador, que só tinha uma pessoa
nele, me deparei com Joel Smith, meu parceiro de negócios
grandiosos e nós nos cumprimentamos com cordialidade, com um
aperto de mão entre cavalheiros.
— Que surpresa ver você aqui, Maddock — Smith diz,
sorrindo satisfeito — Imaginei que estaria com a Beatrice,
organizando as coisas para a viagem. A Beatrice saiu há algumas
horas.
Eu fiquei tenso novamente, agora que o próprio dono do
jornal confirmou que ela realmente tinha ido embora e que isso
havia acontecido há horas.
— Como sabe que foi há horas?
Eu fiquei desconfiado com a revelação, afinal, Joel Smith não
trabalha no mesmo andar em que a Beatrice, então como ele iria
saber a hora que ela saiu do jornal aquela tarde?
— A Lucy comentou que a via saindo mais cedo.
— Entendo.
— Parece contrariado — o velho comentou — Algum
problema?
— Não — neguei — Depois entro em contato com você,
Smith.
Não prolonguei a conversa com o homem e saí apressado
logo que as portas do elevador se abriram.
Antes de falar com Smith sobre qualquer coisa, eu precisava
falar com o Jones e entender o que aconteceu, como a Beatrice
tinha saído do jornal sem que ele me avisasse e com a Beatrice pelo
mesmo motivo.
Liguei primeiramente para o Jones, antes mesmo de entrar
no carro, e quando sentei no banco do motorista já estava sabendo
da incompetência da equipe da equipe de investigadores de
Saymon Jones, que não conseguiram perceber que a minha esposa
saiu do prédio e que só agora constataram que ela também não
estava em sua casa.
Como isso pôde acontecer? E quantas vezes antes já tinha
acontecido, durante o nosso casamento? Eu me perguntei de
maneira repetida, pois sempre acreditei saber de tudo o que
acontecia com a Beatrice, mas parece que ela tem suas artimanhas
para me enganar e só agora eu estava percebendo isso.
— Quero que coloque uma pessoa de prontidão em frente à
casa da Beatrice e não retire a que já estão vigiando a frente do
jornal — orientei ao incompetente máximo do Jones — Quero saber
qualquer mínima movimentação que aconteça nos dois lugares.
— Farei isso imediatamente, Maddock — Jones promete —
Também irei tentar conseguir algumas informações com vizinhos da
senhora Phillips.
— É senhora Maddock! — Corrigi com raiva.
— Claro… perdão pelo lapso, senhor.
Agora eu iria tentar falar diretamente com a minha esposa, já
que estava em posse de todas as informações prévias e dessa
forma ela não poderia mentir para mim.
Mas apenas depois de várias tentativas a minha ligação foi
atendida e eu já estava bastante irritado quando isso finalmente
aconteceu, o que me impossibilitou de usar ao meu favor todo o
meu charme e os sentimentos que eu sabia que a minha esposa
sente por mim.
Agora, ao perceber que ela encerrou a chamada antes
mesmo que eu pudesse retirar dela todas as informações que eu
pretendia e me deixando no escuro sobre qual o destino ela tinha
tomado, para ter esse seu “tempo sozinha”.
Fui para o meu escritório em casa, na expectativa de que o
Jones entrasse em contato para dizer que conseguiu alguma
informação sobre o paradeiro da Beatrice, mas aquilo não
aconteceu por mais de duas horas, o que achei o mais completo
absurdo.
Liguei para o homem, mas recebi a mesma resposta de
antes.
— Estamos tentando localizar a sua esposa, senhor Maddock
— Jones diz — Mas ainda não temos nenhuma resposta sobre o
seu paradeiro.
— Espero que essa informação venha em breve — falei,
encerrando a chamada com verdadeira ira.
Eu não iria aguentar ficar em casa andando de um lado a
outro, aguardando que a equipe de Jones conseguisse algo que me
interessasse, então decidi que o melhor a fazer naquele momento
era procurar algo para me distrair daquele problema.
Mesmo imaginando que a minha ligação seria direcionada a
caixa de mensagens mais uma vez, eu tentei novamente entrar em
contato com ela por telefone, mas como eu imaginei, a ligação não
foi completada, da mesma forma que as outras vezes e eu joguei o
celular sobre a mesa com raiva.
Como ela podia estar me evitando daquela maneira? Eu não
conseguia entender a minha esposa, afinal, ela sempre tentou que o
nosso casamento desse certo, e quando eu chego a conclusão de
que aquele é realmente o melhor para nós, Beatrice simplesmente
está confusa e indecisa.
Saí do meu escritório com uma decisão tomada e peguei as
chaves do carro em cima do aparador da sala, depois de colocar um
sobretudo por cima do terno. Iria sair e tomar alguns drinques.
Cheguei a uma das casas noturnas mais badaladas de
Londres, que estava bastante cheia, mesmo que ainda não
estivéssemos no fim de semana propriamente dito, ainda era quintafeira.
Sentei em um dos bancos do bar e com muita sede, pedi o
meu primeiro drinque daquela noite, que logo foi seguido por outro e
mais outro. Mas logo após o terceiro, pedi mais um e me mantive
apenas bebericando a bebida.
Comecei a observar o ambiente, tentando encontrar alguém
interessante. Preciso de uma distração muito boa, pois o meu
temperamento poderia me levar a fazer coisas das quais eu poderia
me arrepender depois e eu não apreciava nenhum pouco esse
sentimento.
Já basta a maneira como me sinto por ter desperdiçado três
anos da minha relação com a Beatrice, tudo por medo de que ela só
tivesse casado comigo por causa da exigência de seu pai e para
salvar a empresa da sua família.
Outro temor que me perseguiu durante todo o tempo, desde
que entramos naquela igreja para selar os nossos votos de
matrimônio, foi de que além de Beatrice não me amar, ela amasse o
seu primo Sebastian, como eu sempre suspeitei desde que éramos
apenas dois adolescentes, quando morávamos em Kent.
Foi isso que me motivou a me manter afastado de Beatrice e
evitar que eu me apegasse a alguém… mais uma mulher que iria
trair os meus sentimentos e a minha confiança. Para não me ferir,
acabei ferindo a minha esposa.
Mas eu estava tentando compensar os meus erros e fazer
com que o nosso casamento pudesse enfim ser uma relação
verdadeira, mas agora ela fugiu de mim e eu não conseguia
acreditar que no final das contas, a Beatrice vai de fato ferir os meus
sentimentos.
A minha confiança ela não tinha e agora eu constatei que
estava certo todo o tempo, por não a ter depositado em minha
esposa.
Capítulo 34 – Passeio interessante
Beatrice
Cheguei a Trafford rapidamente e caminhei tranquilamente
pelas ruas, até chegar ao estádio do grandioso time e acompanhei o
grande fluxo de pessoas até a arquibancada, sentindo uma emoção
muito forte invadindo o meu peito.
Eu nunca tinha feito nada parecido antes e aquele era como
um ato de rebeldia, mesmo que ninguém além de mim soubesse
onde eu estou agora.
Não liguei meu telefone, mesmo que estivesse bastante
curiosa em saber se o Edward me ligou novamente ou
simplesmente tinha desistido, após a minha recusa em atender as
suas chamadas.
Quando já estava sentada confortavelmente na arquibancada
do estádio de futebol, algumas garotas sentaram ao meu lado, eram
três e pareciam ser muito amigas, a julgar pela forma como
conversavam alegremente, mesmo que eu não pudesse entender o
que falavam.
As garotas falavam italiano, língua que eu não tinha
conhecimento algum, pois só tinha estudado francês e sabia um
pouco alemão, mas pela forma como elas conversavam e olhavam
para alguns rapazes sentados mais abaixo de nós, deduzi que
estavam falando sobre eles.
O primeiro tempo do jogo começou e logo nós estávamos
todos concentrados no campo, olhando os movimentos dos
jogadores e torcendo pelo time da casa, mas o intervalo chegou
sem nenhum gol, nem do Manchester, nem do time rival.
— Você está sozinha? — Uma das garotas me perguntou,
falando em inglês e me surpreendendo grandemente.
As três garotas eram morenas de olhos claros, mas a que
falou comigo tem os cabelos muito lisos e também bastante longos,
acredito que cheguem a sua cintura, quando ela está de pé.
— Sim — confirmei, me sentindo envergonhada e ao mesmo
tempo temerosa.
Apesar de se tratarem de três garotas apenas, eu tive receio
de confessar que estava sozinha, afinal, eu não conhecia a cidade e
talvez elas estivessem ali apenas como um disfarce, ou sabe-se lá o
quê.
Logo me repreendi mentalmente por pensar o pior das
garotas, quando elas nada fizeram para que eu as estivesse
julgando.
— Nós somos da Sicília — outra das garotas contou, essa
tem os cabelos cacheados e na altura dos ombros.
— Que interessante — foi tudo o que pude dizer.
— E você, de onde é? — Agora a pergunta veio da garota de
cabelos curtos e lisos, também na altura dos ombros — Mora aqui
mesmo na região?
Fiquei em dúvida sobre falar algo tão particular sobre mim, e
mais uma vez me sentindo receosa sobre entabular uma conversa
com estranhos.
— Não moro na região — eu disse, sem mentir.
As três garotas soltaram uma sonora gargalhada e eu fiquei
completamente sem reação, assim como também sem entender
qual foi o motivo das risadas.
Olhei para os lados, procurando para ver se havia algo
engraçado acontecendo e eu não tinha percebido, mas além de não
ver nada de mais ao nosso redor, elas também já estavam todas
olhando para mim.
— Desculpem-nos, senhorita — A de cabelos longos pediu.
Agora ela estava me deixando ainda mais perdida e confusa
sobre o que estava acontecendo e porque ela estava me pedindo
desculpas, quando não havia feito nada contra mim.
— Não entendo — confessei — Por que está me pedindo
desculpas? Por acaso estavam rindo de mim, é isso? — Só então
eu pensei naquela possibilidade tão improvável para mim.
A de cabelos cacheados segurou em uma de minhas mãos
com delicadeza e mesmo querendo puxá-la de volta, me contive e a
deixei lá, aguardando ansiosa por sua explicação.
— O que a Giovanna está tentando dizer, sem sucesso — ela
olha para a garota de cabelos lisos — é que nós estávamos sim,
rindo de você, e que isso foi totalmente errado de nossa parte,
então, pedimos que nos desculpe.
— É… nem sei o que dizer, na verdade — falei, ainda
indecisa sobre tudo aquilo.
A garota soltou a minha mão e sorriu, aceitando facilmente a
minha resposta, ou seria a falta dela? A outra garota, agora a de
cabelos curtos e lisos, apontando para si própria, disse:
— Sou Fiorella, essa, como acabei de dizer, é a Giovanna —
apontou para a de cabelos longos novamente — e essa garota linda
e sorridente aqui — apontou para a de cabelos cacheados — é a
Sienna. Somos trigêmeas.
— Nossa! — Eu não consegui esconder a minha surpresa.
Mas ao ouvir a informação, eu realmente prestei atenção nas
três garotas e constatei que elas pareciam sim, bastante entre si. A
única coisa que nos permitia identificar claramente quem era cada
uma delas, eram apenas os cabelos, que elas usavam
completamente diferente uma da outra.
—Eu sou a Beatrice — me senti na obrigação de retribuir a
cordialidade das garotas e me apresentei também, mas aproveitei
para entender melhor o que aconteceu há poucos instantes — E
então, por que vocês estavam rindo de mim?
— Nós estávamos rindo porque, mesmo sem que você
precisasse dizer que é uma garota inglesa, foi possível identificar
apenas pela sua forma de agir — Fiorella explicou — Você é de
Londres? Ou estamos enganadas?
Tentei ser mais espontânea e ao perceber que o segundo
tempo do jogo de futebol estava prestes a ter início, falei
rapidamente.
— Sou de Londres, sim.
Agora foi a vez de todas nós cair na gargalhada, e aquilo me
fez um bem enorme, pois era algo tão raro de acontecer,
principalmente nos últimos dias, que eu cheguei a soltar um suspiro
de contentamento com o gesto.
— Só mais uma curiosidade — Sienna perguntou, ainda rindo
— Nós temos vinte e quatro anos. E você, quantos anos tem?
— Eu também tenho vinte e quatro anos.
O jogo começou naquele exato instante e mesmo assim, eu
me peguei refletindo sobre como eu ainda sou jovem, e como me
sinto uma velha, apesar disso. Agora, ao observar as três garotas
da mesma idade que eu, percebo que as considerei jovens e cheias
de vida, quando eu mesma tinha a mesma idade que elas, mas me
considerava com uma bagagem grande demais para me sentir tão
livre daquela forma que elas pareciam ser.
Durante todo o segundo tempo do jogo, as três irmãs me
incluíram em suas conversas e também em seus cochichos sobre
os homens que estavam próximos a nós.
Eu não conseguiria mudar o meu comportamento apenas por
estar com pessoas tão diferentes de mim, mas precisava admitir que
elas eram muito divertidas e que a animação delas estava
conseguindo me contagiar de uma maneira completamente nova e
inesperada.
E mesmo quando o jogo terminou em um empate, elas
continuaram empolgadas com a partida de futebol e o quanto alguns
jogadores eram bonitos e pareciam ser bastante simpáticos
também.
— O que você vai fazer agora? — Fiorella perguntou,
enquanto saímos juntas do estádio.
— Pretendo voltar para o hotel e descansar um pouco —
falei, agora um pouco constrangida, por se tratar de uma pergunta
tão pessoal como aquela.
— E você está cansada? — Giovanna foi ao ponto central da
questão.
— Confesso que estou sim, ao menos um pouco.
— Mas não o suficiente para recusar um café com suas
novas amigas — Sienna brincou, me deixando em uma situação
bastante delicada.
As garotas eram bem legais e eu gostei realmente das três
irmãs, mas ainda assim não me sentia à vontade para fazer
amizades assim tão facilmente e já sair para um café quando
tínhamos acabado de nos conhecer como agora.
— Eu não sei… — admiti, indecisa.
— Vamos, Beatrice — Giovanna insistiu — Podemos
conversar mais um pouco e trocar nossos contatos. Tenho certeza
de que você vai ficar mais animada depois disso.
Achei a Giovanna uma garota bastante otimista, mas para ser
bem honesta, eu realmente estava me sentindo mais animada e
disposta que antes de conhecê-las, então, olhei em torno do
estádio, tentando calcular o quão longe seria o café mais próximo
dali, para então tomar a minha decisão.
— Eu notei que tem um café bem próximo daqui — Fiorella
pareceu ler a minha mente — Acredito que apenas dois quarteirões
para ser mais exata.
— Tudo bem, então — acabei dizendo — Eu irei com vocês,
meninas.
Coincidentemente, as três bateram palminhas animadas e
mais uma vez a semelhança entre elas me chamou a atenção, pois
até mesmo nos trejeitos e gestos que faziam, elas eram parecidas e
se misturavam uma à outra.
— Então vamos logo, antes que essa nossa amiga inglesa
mude de ideia — Sienna disse, nos instigando a caminhar com ela.
Ela estava falando a verdade e com bastante precisão, pois
após andar exatos dois quarteirões, nós encontramos não apenas
um café, e sim vários estabelecimentos como esse, que ofereciam
serviços diversos e para todos os públicos, desde o mais
requintado, até aqueles que estavam apenas fazendo turismo, como
nós.
O lugar que escolhemos tinha mesas com vista para a rua,
pois a fachada era de vidro e nós escolhemos a mais próxima da
entrada, para ficarmos olhando o movimento da rua enquanto
conversávamos animadamente.
Lá nós não apenas tomamos café, como também
conversamos durante mais de uma hora, mas ao invés de escolher
o café, como as minhas mais novas amigas escolheram, eu optei
por um chá com torradas.
Foi um encontro muito agradável e eu me senti alegre e viva
como há muito não me sentia e tudo isso graças as três irmãs
gêmeas, que insistiram em me incluir no seu programa de férias.
Cheguei ao hotel já era de tarde e ao entrar no saguão
simples do lugar, a primeira pessoa que vi, e que claramente estava
à minha espera, foi o Andrew, o que me surpreendeu de maneira
realmente espantosa.
— O que faz aqui? — perguntei, sem nem mesmo
cumprimentá-lo.
Capítulo 35 – Visitante Inconveniente
Beatrice
Não estava conseguindo acreditar que o Andrew veio de
Londres para Manchester para me ver, quando eu deixei tão claro
que gostaria de ficar sozinha.
— Estávamos todos bastante preocupados com você,
Beatrice — Andrew diz, em resposta a minha questão — Você viu
suas mensagens pela última vez ontem e todas as vezes que
ligamos as chamadas foram encaminhadas para a caixa postal.
Fiquei imediatamente preocupada com as palavras do
Andrew, afinal, ninguém além dele e a minha amiga Janet deveriam
saber sobre o meu destino.
— Quem seriam “todos”!? — pergunto com estranheza.
— A Janet e eu.
— Não foi essa a impressão que você passou, ao se referir a
vocês como “todos” — o repreendi, deixando claro o meu
desagrado.
Andrew ficou visivelmente envergonhado, afinal, ele
realmente se expressou mal e me deu um grande susto.
— Perdão — pede, seus olhos falando por si só, como ele
estava se sentindo mal com a situação toda — Eu realmente não
soube usar as palavras.
— Tudo bem — concedi, afastando os cabelos do rosto e
sentindo a minha testa um pouco quente.
Olhei em torno, percebendo apenas naquele instante que nós
estávamos conversando no saguão de um hotel, enquanto várias
pessoas passavam, e mesmo que ninguém estivesse realmente
prestando atenção na gente, aquele não era o lugar ideal para isso.
— Vamos para o restaurante — Andrew convidou,
percebendo o meu desconforto — Não quero causar mal-estar para
você.
Analisei a situação, pesando os prós e os contras de ir com
ele ao restaurante para estender aquela conversa e se eu realmente
eu quero falar com ele.
— Vamos — acabo concordando.
Nós saímos do saguão do hotel e nos encaminhamos até o
pequeno e bastante discreto restaurante que ficava no final de um
longo corredor.
O ambiente era simples, mas bonito, apesar de ser
modestamente decorado e quando fomos atendidos por um garçom
uniformizado, o Andrew pediu um chá completo, depois de me
consultar brevemente com um olhar indagador.
— Porque não envia uma mensagem para a Janet, avisando
que está bem? — Andrew pergunta, com uma ponta de acusação
em sua sugestão — Ela está realmente muito preocupada com
você, Beatrice.
Eu sabia que ele estava certo, ainda assim não gostei
nenhum pouco da maneira como ele estava me fazendo sentir
culpada simplesmente por estar tendo o meu tempo sozinha e sem
contato com ninguém, conforme eu avisei para eles que faria.
— Eu não estou com o meu celular aqui nesse momento —
explico — Porque você mesmo não avisa para a Janet que estamos
tomando um chá? Assim ela ficará despreocupada, e não será
necessário esperar até que eu suba aí meu quarto para fazer isso.
— Farei isso — Andrew concorda, já pegando o seu celular
no bolso do casaco — Enviarei uma mensagem, a tranquilizando
sobre você.
— Ótimo — digo, mas agora vou direto para aquele que a
meu ver é o principal assunto naquele momento — Agora eu me
pergunto, como a Janet conseguiu falar com você, se ela não tem o
seu contato?
— A Janet ligou para o jornal e me contou sobre a sua
apreensão, pois desde que acordou hoje, que ela tentava falar com
você, mas sem sucesso.
A explicação era totalmente plausível e até mesmo
compreensível, tendo em vista a personalidade ansiosa e
imediatista da minha melhor amiga.
Ainda assim, eu não gostei que ela tenha envolvido
novamente o Andrew nessa história. Eu já estava devendo-lhe um
grande favor e agora mais essa.
— E você simplesmente decidiu sair de Londres e dirigir por
mais de quatro horas até aqui?
Andrew não respondeu de imediato, pois o garçom chegou
novamente, desta vez para nós servir, e apenas depois que
estávamos novamente a sós, foi que eu obtive a minha resposta.
— Nós estávamos preocupados com você, Beatrice —
Andrew parece contrariado com a minhas palavras — Não minimize
a situação, por favor. E eu não vim de carro.
Bem, aquela informação me deixou bastante surpresa.
— Então, como?
— Eu não quis arriscar que alguém estivesse me seguindo e
por isso optei por contratar um voo rápido e levei apenas uma hora
de Londres até aqui.
Eu não tinha nem mesmo pensado nessa possibilidade, mas
agora que o Andrew trouxe a questão para a nossa conversa,
percebi que ele foi de fato bastante sensato, enquanto eu ficava
questionando a sua atitude.
— Desculpa, Andrew — eu pedi, um pouco envergonhada —
E devo te agradecer por ter tido esse cuidado, obrigada mesmo.
Andrew apenas sorriu em reconhecimento ao meu pedido de
desculpas, e depois bebericou um pouco do seu chá e eu fiz o
mesmo.
Nos minutos que se seguiram, enquanto tomávamos o nosso
chá e comemos também os deliciosos biscoitinhos que os
acompanhava, o Andrew me perguntou como eu estava me
sentindo e eu acabei contando-lhe sobre o programa bem diferente
que fiz naquele dia.
— Jamais poderia imaginar que você apreciaria assistir a um
jogo de futebol diretamente no estádio — ele comentou, ao terminar
de ouvir o meu breve relato — Estou realmente surpreso com isso.
Ele sorriu, me encarando com curiosidade e eu sorri de volta,
sem me importar de que ele estivesse tão surpreso assim com a
minha atitude.
Eu não pretendia me importar mais com os julgamentos das
pessoas sobre aquilo que eu fazia, e estava começando a colocar
isso em prática com o Andrew.
— E essas garotas italianas? Gostou realmente delas?
— Sim. Gostei bastante — confirmo.
— Isso é bom. Assim você terá alguma companhia nos
próximos dias.
Concordei com um sorriso e decidi que já estava na hora de
nos despedir. Eu não desejava que o Andrew ficasse em
Manchester, e esperava ardentemente que isso não estivesse em
seus planos.
— Eu preciso ir — ele avisou, olhando para o relógio em seu
pulso — Voltarei no mesmo jatinho e o piloto está à minha espera.
Suspirei aliviada ao constatar que ele iria embora e eu não
precisaria ter que praticamente mandá-lo fazer isso.
Nós pedimos a conta e de volta ao saguão do hotel, nos
despedimos brevemente.
— Por favor, mantenha o telefone ligado — ele pediu e seus
olhos demonstravam uma genuína preocupação — Apenas isso.
Dessa forma nós não ficaremos apreensivos e ninguém virá mais te
atrapalhar, prometo.
Sorri pela forma como ele fez aquela promessa, mas aceitei
aquilo que ele estava pedindo.
— Tudo bem. Manterei o celular sempre ligado, a partir de
agora — prometi.
Só então Andrew foi embora, enquanto eu continuei
pensativa, apenas acompanhando-o até a saída, e mais uma vez a
constatação do quanto o Andrew é lindo e gentil, tendo saído de
Londres até Manchester apenas para garantir que eu estava bem e
confortar a minha amiga.
Apesar dessa constatação, e mesmo sentindo um pouco de
atração pelo Andrew, o meu coração pertence a outro e esse outro é
alguém que me fez sair de Londres e estar agora em uma cidade
completamente fora daquilo que eu estava acostumada.
Mas eu não perderia mais meu tempo com isso. Vim para
Manchester para fugir desses pensamentos e ainda mais dos
sentimentos que o Edward desperta em mim e é isso que farei.
Caminhei para o elevador e em poucos minutos eu estava
deitada na cama da minha suíte, celular agora ligado,
acompanhando todas as mensagens e ligações perdidas.
Eu tinha bloqueado o meu marido para não receber
chamadas dele, mas as mensagens continuavam ativas e ele tinha
tentado falar comigo através daquele meio.
Decidi não ler nada que ele enviou, não me faria bem
naquele momento, então ignorar seria mais sábio da minha parte.
Todas as outras eu li e respondi também. Eram da Janet, do
Andrew e havia até mesmo mensagem do meu primo, o Sebastian,
perguntando como eu estava e me contando que já tinha viajado
novamente, mas com a promessa de que logo que estivesse em
Londres, iria me procurar.
Eu respondi que ele seria sempre bem-vindo na minha casa,
e me senti um pouco mal pela forma como nos despedimos da
última vez.
No final das contas, o Sebastian deveria ter razão sobre a
sua suspeita de que o Edward foi o principal responsável por sua
transferência para outra cidade, mesmo que eu jamais tivesse
suspeitado de algo assim da parte dele.
Cada dia eu entendia menos o Edward e as suas atitudes
conflitantes e realmente imprevisíveis.
Fiquei deitada, refletindo sobre tantas coisas, mais uma vez
perdida em pensamentos, acabei então perdendo completamente a
noção do tempo, só saindo daquela bolha em que me coloquei de
maneira espontânea quando percebo que o telefone está tocando
insistentemente.
O número era desconhecido e pensei duas vezes antes de
atender a ligação, temendo se tratar do Edward, que estava
tentando falar comigo através de outro número de telefone.
Demorei tanto analisando se atendia ou não a chamada, que
o telefone parou de tocar, o que acabou me deixando aliviada, na
verdade.
O alívio, no entanto, demorou pouco, pois logo o aparelho
estava ficando novamente, e dessa vez acabei me decidindo
rapidamente por atender e acabar logo com aquela dúvida.
Capítulo 36 – Voltando a vida real
Beatrice
Surpreendentemente, não era o Edward ao telefone, como eu
acreditei logo de início, e sim uma das garotas que eu conheci no
estádio de futebol hoje. Na verdade, dizer que era uma das garotas
que estava falando ao telefone comigo era ser bastante equivocada
e imprecisa.
As três falaram ao mesmo tempo, o que me deixou até
mesmo um pouco zonza, mas ao mesmo tempo também me diverti
com a situação.
— Garotas, vocês estão usando o viva-voz, é isso? —
pergunto de maneira delicada — Eu não consigo entender o que
dizem, se todas vocês falam ao mesmo tempo.
Elas começaram a gargalhar com a minha pergunta, como
sempre, as três irmãs conseguem se divertir com exatamente tudo.
— Estamos, sim — Sienna confirma o que perguntei —
Estamos te ligando para saber se você quer ir a uma casa noturna
aqui em Manchester conosco.
— Vamos com a gente, Beatrice — Fiorella logo reforça o
convite da irmã, antes mesmo que eu possa responder qualquer
coisa — Eu tenho certeza de que você vai gostar muito da nossa
companhia.
— Eu ainda nem recusei o convite feito pela Sienna, mas
você já está tentando me convencer a não o fazer, é isso mesmo,
Fiorella? — brinquei, e estava realmente achando muito engraçada
a maneira como ela se comporta.
— É apenas para garantir que você não recuse o nosso
convite — Giovana explica, mas também está sorrindo, assim como
as irmãs estavam.
— Gostamos muito de você, Beatrice, e por isso queremos te
mostrar como se divertir um pouco.
Mesmo que Giovana não tivesse dito, com todas as palavras,
ela tinha conseguido deixar subentendido que sou uma pessoa que
não tem o hábito de sair para se divertir. Apesar disso, eu não fiquei
nenhum pouco chateada com isso afinal aquela é a mais pura
verdade e quem sabe, agora eu realmente estivesse precisando
disso.
Um pouco de diversão não faria mal e além de tudo, as três
irmãs eram pessoas realmente agradáveis, além de serem também
muito animadas, e somente assim eu poderia esquecer um pouco a
verdadeira turbulência que estava acontecendo na minha vida no
momento.
— Não se preocupem, eu irei com vocês — Acabei aceitando
o convite — Não precisam ficar insistindo tanto.
— Olha só, se não é a nossa amiga inglesa que está fazendo
piada com a gente — Fiorella aponta, de maneira bastante
dramática.
— Ah, não me perturbem — Eu realmente estava entrando
no clima descontraído das irmãs.
— Pois, está combinado então — Giovana completa,
nitidamente satisfeita por eu ter aceitado acompanhá-los hoje a
noite — Esteja pronta às 20 horas, que iremos enviar a nossa
localização.
— Antes que desliguem, quero saber melhor para onde
iremos — perguntei com curiosidade, preocupada delas encerrar a
chamada — Preciso entender o que devo usar para o nosso
programa.
— Qualquer roupa de férias, Beatrice — Sienna responde,
sem realmente explicar nada na verdade.
— E o que seria “roupa de férias”, gente? Porque a Sienna
me deixou realmente confusa agora.
— Você é uma garota inteligente, querida Beatrice. Tenho
certeza de que saberá o que usar para ir em uma balada — foi a vez
de Giovanna dizer — Até a noite.
As outras seguiram a irmã em coro, e depois de responder o
cumprimento delas, encerramos a ligação sem mais demora.
Olhei em torno do quarto pequeno, procurando por minha
mala e já analisando entre as opções disponíveis o que eu poderia
usar para aquela noite. Não pensei mais em Edward, e menos ainda
no Andrew.
Eu estava precisando tirar aqueles dias inteiramente para
mim, e apenas quando eu voltasse para Londres, o que eu
pretendia fazer no domingo à tarde, é que eu iria tomar algumas
decisões de fato importantes sobre como agir em relação às
atitudes controladores do meu marido, mas enquanto isso, eu iria
aproveitar ao máximo os momentos ao lado das minhas novas
amigas.
Com aquela resolução em mente, eu não apenas aproveitei a
noite ao lado das três irmãs, como também os dias que se
seguiram.
Foram duas em que eu pude desfrutar de momentos
maravilhosos, nos quais eu me diverti bastante, e pude contar o
quanto Fiorella, Giovana e Siena são três pessoas extraordinárias,
que me ajudaram a esquecer os dilemas atuais da minha vida e
apenas curtir aqueles dias em Manchester.
Mas é claro que o domingo chegou, e com ele a necessidade
de voltar para a minha vida real, onde eu precisava enfrentar a
realidade, afinal, os dias que eu tento idealizado para descansar
haviam chegar ao fim e agora eu preciso enfrentar os meus
problemas de frente, mesmo desejando ficar mais alguns dias e
aproveitar aqueles momentos ao máximo.
Contudo, eu sabia muito bem que aquilo seria possível de
forma alguma, ainda mais quando percebi que Edward estava
calado demais nesses dias, ainda mais se levando em conta toda a
situação.
Algo me dizia que isso era tudo muito estranho, mas eu não
queria pensar nisso agora, e tendo em vista que dentro de algumas
horas eu estaria de volta ao mundo real, eu não precisava adiantar o
que já estava prestes a acontecer.
As minhas malas estavam prontas e agora eu estava apenas
aguardando o momento de ir para a Estação, pegar o trem de volta
para casa, quando a Siena me liga para avisar que está no saguão
do hotel à minha espera.
Mesmo bastante intrigada com a visita, ainda assim desço
apressada, aproveitando para usar o elevador para ir ao encontro
dela, que como eu imaginei, não estava sozinha lá, e sim com a
Giovana e a Fiorella ao seu lado.
Depois de nos abraçar, nos cumprimentando de maneira
bastante efusiva, como eu já tinha aprendido a fazer com elas,
perguntei o motivo que as levou até ali.
— Nós não poderíamos deixar que você viajasse sem antes
nos despedir de maneira apropriada — Giovana explica, segurando
em minha mão de maneira carinhosa.
— A noite ontem foi realmente maravilhosa, mas nós não nos
atentamos para o fato de que hoje você estaria voltando para casa
— Sienna complementa.
Nós tínhamos saído juntas na noite anterior, para aproveitar
um show de verão que estava acontecendo na cidade e que atraiu
um público bastante eclético e que tinha nos proporcionado
momentos bastante agradáveis.
— Ahhh! Nem me lembra! — a repreendi de maneira divertida
— Ontem foi muito bom mesmo.
— De que horas sai o seu trem, Beatrice? — Fiorella
pergunta.
— Daqui a duas horas — eu digo, depois de confirmar que
horas eram no relógio preso à parede do saguão do hotel.
— O que você acha de irmos tomar um chá e conversamos
um pouco? — Sugeriu Sienna, sempre tentando prolongar ao
máximo os momentos.
— Eu adoraria — aceitei prontamente, também desejando
prolongar o nosso tempo juntas dessa vez.
Depois de conversamos por mais de uma hora, comentando
sobre todas as coisas engraçadas ou interessantes que
aconteceram nas vezes em que saímos juntas, as garotas e eu nos
despedimos, mas com muitas promessas de que não perderíamos
contato.
Só assim eu pude me despedir de maneira apropriada das
três irmãs, pessoas que me ajudaram a desfrutar de alguns dias
maravilhosos em Manchester, longe de tudo aquilo que me deixava
triste ou preocupada.
— Obrigada por tudo, meninas — digo, sendo bastante
sincera sobre isso — Eu adorei os dias que passei aqui e tudo isso
eu devo principalmente à companhia de vocês.
— Que bobagem! Nós é que precisamos te agradecer você é
uma pessoa incrível, linda, gentil — Fiorella me elogia de maneira
vibrante, e sinto o rosto esquentar de vergonha
— Ah! Vocês é que são lindas.
— Preciso dizer, no entanto, que você precisa se soltar um
pouco mais e ter mais fé em você, porque tudo vai dar certo —
Giovana falou, como sempre muito sábia.
— Eu sei que sim — concordo — Mas é tão difícil romper
com velhos hábitos.
Todas nós sorrimos, o clima continua leve, independente do
que estava sendo conversado antes.
— Eu espero que você não esqueça de nós, Beatrice, e que
logo em breve decida visitar Florença — Sienna diz, reiterando um
convite que foi feito na noite anterior, no show em que estávamos
juntas.
— Será muito bem-vinda em nossa casa, Beatrice — Como
sempre, um reforçado as palavras ditas por minha irmã.
— Eu não vou esquecer — prometi.
Depois que as garotas foram embora, eu voltei para o meu
quarto, agora apenas para buscar a minha mala e após encerrar a
minha estadia naquele hotel, comecei a me preparar
psicologicamente para tudo aquilo que estava por vir… de novo.
Durante toda a viagem de trem, me apeguei com unhas e
dentes aos bons momentos que passei em Manchester. Sentia que
esses estavam prestes a acabar.
E quando desci na estação mais próxima a minha casa, a
primeira pessoa que vi foi o Edward, de pé em uma das plataformas,
as mãos nos bolsos da calça social que ele estava vestindo, mesmo
aquele sendo um dia de domingo, e consequentemente, onde ele
poderia estar vestido de maneira menos formal.
Mas esse era o Edward.
Capítulo 37 – Fugindo dos meus sentimentos
Edward
Quando o trem que vinha de Manchester parou na estação
daquele domingo à tarde, eu já estava esperando por sua chegada
há quase uma hora. O fato é que eu estava me sentindo ansioso
demais para aguardar calmamente em casa por um horário mais
aproximado.
Mas ao ver a minha esposa caminhando em minha direção,
conforme eu já tinha imaginado que ela faria, eu penso seriamente
em romper com a minha determinação e seguir aquilo que o meu
peito clamava, que era ir ao encontro da mulher que amo e a
abraçar, confessando todo o sentimento que tenho guardado dentro
do meu peito.
Mas eu não faço isso, e permaneço pacientemente
aguardando que ela pare ao meu lado e quando ela me questiona,
bastante contrariada, o que estou fazendo ali, claramente à sua
espera, eu respondo de maneira bastante direta.
— Como já deve imaginar, eu estava esperando por você,
Beatrice.
— Não posso aceitar que você continue me perseguindo
dessa maneira, Edward! — Beatrice está muito chateada — Você
está ultrapassando todos os limites.
— Desta vez você está enganada, Beatrice. Eu vim apenas te
buscar — expliquei, indicando que ela deve seguir a minha frente —
Preciso contar algo e considerei melhor fazer isso pessoalmente,
antes de viajar.
— Então, diga-me de uma vez e pode ir embora — Beatrice
tenta me dispensar, sem nenhum resquício de pesar ou qualquer
coisa parecida.
Eu não atendo ao seu pedido, no entanto, e indico mais uma
vez o caminho que ela deveria seguir, que parece contrariada, mas
dessa vez eu tenho a minha solicitação atendida.
Beatrice seguiu o caminho que eu indiquei para ela e quando
chegamos ao meu carro, abri a porta para a Beatrice e depois sentei
no banco do motorista, tudo isso em silêncio, mesmo percebendo
que Beatrice parece inquieta e descontente com a situação.
— Onde vamos? — ela insiste mais uma vez.
— Estou apenas te levando para casa, Beatrice.
— E quando pretende me contar o que tem a dizer?
Eu suspirei resignado, constatando o quanto a minha esposa
parecia insatisfeita apenas por estar ao meu lado, mas aquilo seria
por pouco tempo. Logo ela ficaria sem a minha presença
aparentemente tão incômoda.
— O marido de Abigail sofreu um acidente aéreo — contei
logo de uma vez, diante da insistência de Beatrice.
— Bailey!? —Beatrice falou de maneira assustada — E como
ele está?
— Ainda não sabemos, pois o jatinho em que ele viajava está
desaparecido e não temos informação alguma até o momento —
expliquei, mantendo o tom de voz calmo — Abigail está agora
mesmo a caminho do aeroporto, onde vamos pegar um voo até a
Austrália, onde ocorreu o acidente.
Eu não desejava deixar Beatrice ainda mais assustada do
que já aparentava estar e por esse motivo decidi dar aquela notícia
pessoalmente, antes de viajar com Abigail para a Austrália e estava
soltando a notícia aos poucos.
— Minha nossa! Imagino como a Abigail está se sentindo…
— Os olhos de Beatrice estão marejados e sinto muito em ver
tamanha tristeza em seus olhos.
Mas me sinto também um hipócrita, pois mesmo sem desejar,
eu a fiz sofrer muito e ainda estava fazendo, com a minha obsessão
doentia em controlar a sua vida e ao mesmo tempo proteger o meu
coração do sofrimento que sempre acompanha o amor tão de perto.
— Ela não está nada bem, isso é um fato — concordo de
maneira analítica — Por este motivo eu pretendo acompanhar a
minha prima, caso seja necessário resolver alguma questão
burocrática, ela não precisará ter que lidar com isso, pois eu cuidarei
de tudo.
— É muito gentil de sua parte, ficar ao lado da Abigail neste
momento tão delicado — Beatrice me olha com admiração.
Era chegado o momento de conversar sobre outro assunto, e
esse diz respeito a nós dois e a ninguém mais.
— Há algo que também preciso conversar com você, Beatrice
— digo, me preparando para o momento delicado — Sobre nós.
— Podemos deixar esse assunto para quando você retornar
de viagem, Edward — ela se recusa — Estou cansada, após quase
três horas dentro daquele trem.
Eu não poderia mais postergar…. Já tinha esperado por
longos três dias, tempo em que a Beatrice esteve em Manchester e
que foi suficiente para que eu refletisse melhor sobre tudo e
decidisse que o melhor para nós era realmente que cada um segue
com a sua própria vida.
— Eu preciso conversar sobre isso agora — protestei — É
importante e não pretendo deixar para depois.
— Tudo bem, então. Mas antes também há algo que eu
preciso dizer e que está engasgado aqui — aponta para o seu
pescoço, e entendo que ela está se referindo a sua garganta — Eu
sei que você tem pessoas me seguindo, Edward. Agora mais que
nunca, eu tenho a certeza, pois ninguém além de mim mesma sabia
sobre a minha chegada a Londres hoje e nesse horário exato e
mesmo assim, você descobriu.
— Eu confesso que você está certa sobre tudo isso —
confirmo a sua suposição — Mas não se preocupe, pois a partir de
hoje não haverá mais nenhum dos meus homens à sua espreita,
como também eu mesmo não irei mais tentar impor a minha
presença em sua vida, Beatrice.
Ela me encara com expressiva confusão, parece não
entender sobre o que eu estou falando.
— Isso é algo que nunca deveria ter acontecido, na verdade
— apontei aquilo que entendo que ela mesma deseja colocar —
Mas só agora eu me dei conta do quanto fui fraco, por não confiar
em você e até mesmo em mim.
— E o que mudou? — É uma ótima pergunta a dela —
Porque aconteceu algo para te fazer entender que estava errado e
por uma questão de paz de espírito, eu desejo entender o que foi,
Edward.
— Você fugiu de mim, Beatrice — desabafo com tristeza —
Você arquitetou um plano, contou com a ajuda de outras pessoas, e
simplesmente fugiu para Manchester… tudo isso para ficar o mais
longe possível do seu próprio marido.
A verdade não se resumia apenas àquele fato, mesmo que
este também tenha tido um peso importante na minha decisão, não
foi o único motivo.
Depois que me embriaguei completamente, na primeira noite
em que a Beatrice sumiu de Londres, eu tive a sensatez de não
dirigir o meu próprio carro para ir embora do lugar onde eu estava e,
no dia seguinte, a ressaca foi algo insignificante, comparada a
minha consciência gritando que a minha esposa não me quer perto
dela.
Naquela mesma manhã, Jones entrou em contato comigo, e
informou que Andrew Smith não só estava de volta à Londres, como
também acreditava que ele tinha ajudado a minha esposa a fugir de
mim.
Aquela informação me pegou completamente de surpresa,
além de ter me levado ao nível mais alto de ira, e alguns copos
foram quebrados no processo de superar o fato de que Beatrice
tinha pedido ajuda ao seu amante para me enganar, algo
verdadeiramente humilhante.
Mas aquilo não foi a pior parte, e muito mais estava por vir.
Jones descobriu que o filho de Joel Smith, meu sócio e aliado,
estava indo para Manchester, se encontrar de maneira clandestina
com a minha esposa.
Mas eu estava em uma reunião importante de negócios, e
quando a informação chegou até mim, Smith já estava a caminho de
Londres novamente, e eu precisei refletir sobre tudo o que eu fiz, e
ainda continuava a fazer, com o meu casamento e com a vida da
mulher que amo.
Mas Beatrice não precisava saber de todos os detalhes. Já
era demasiado constrangedor que apenas eu soubesse.
— Eu precisava de um tempo sozinha, Edward — ela repetiu
aquilo que já tinha falado antes — E foi algo que fez muito bem para
mim.
— Fico feliz que tenha conseguido encontrar aquilo que
procurava.
— Eu não estava realmente procurando nada, Edward —
Beatrice agora parece contrariada — Apenas queria ficar sozinha.
— Mas não ficou — a contradisse — Mas isso não vem ao
caso, Beatrice.
Eu tinha acabado de estacionar o carro em frente a sua casa
e não poderia mais demorar, pois logo a Abigail me ligaria, para
avisar que estava à minha espera. Já havia dito aquilo que
desejava.
— O que você quer dizer com isso, Edward?
Naquele mesmo instante, o meu celular tocou com uma
ligação da minha prima, e eu não poderia prolongar ainda mais
aquela conversa. Abigail precisava de mim, algo que não era o caso
de Beatrice, que estava vivendo sua vida plenamente sem mim.
— Eu a estava vigiando, como você já descobriu —
Confessei mais uma vez — Agora preciso realmente ir. Desejo
apenas coisas boas para você, Beatrice. Adeus.
— Adeus, Edward…
Beatrice desceu do carro e eu segui para o meu destino,
tentando fechar aquele ciclo da minha vida e encerrar de uma vez a
nossa história, agora com a certeza de que alguns erros não podem
ser esquecidos e eu errei demais com Beatrice.
E ainda mais importante que isso, eu não quero passar
novamente pela angústia causada pela desconfiança e o medo de
traição.
Capítulo 38 – Um grande dia
Beatrice
Eu ainda não conseguia dizer com precisão o que senti
quando Edward confessou sobre estar me vigiando, ao mesmo
tempo em que deixava claro que isso não mais iria acontecer, pois
estava tudo muito confuso em minha cabeça.
O alívio de saber que ele enfim tinha entendido quão errada
era a sua atitude, somado a um sentimento de tristeza pelo fim
definitivo de um casamento que desde o começo foi fadado ao
fracasso, me deixavam angustiada e perdida.
Mas se tinha algo de muito bom eu tirei da viagem a
Manchester, era o fato de que agora eu tinha a certeza de que era
possível viver plenamente, independentemente de estar ou não com
um homem ao meu lado, e que eu não podia pular de uma relação
para outra, antes de ter certeza sobre o que eu queria realmente.
E isso eu ainda não sabia.
De qualquer forma, a notícia de que o marido de Abigail
estava desaparecido, e as probabilidades não eram nada boas, me
fez esquecer a minha constante indecisão e focar em tentar ajudar a
uma grande amiga, alguém com quem vive bons momentos na
minha infância e adolescência, mesmo que nos últimos anos não
tenhamos sido tão presentes na vida uma da outra.
Tentei acompanhar toda e qualquer novidade pela internet e
noticiários na televisão, olhando a todo o momento os sites
especializados em notícias, mas a informação era sempre a mesma
em todos os lugares: não há informações sobre o paradeiro do
jatinho no qual Bailey estava viajando com sua equipe técnica e o
seu agente, de uma parte a outra da Austrália.
Estava tentando evitar ocupar a Abigail com perguntas sobre
um assunto tão delicado, mas ainda assim, mandei uma mensagem
de apoio, e caso ela desejasse conversar ou até mesmo desabafar
sobre esse momento tão difícil, ela poderia contar comigo.
Não recebi retorno algum, algo bastante compreensível, eu
no lugar dela não iria estar respondendo ninguém também. Deveria
estar recebendo horrores de mensagens desse tipo, e por mais que
todos parecessem ter boa intenção, nem sempre o que parece, é o
que é realmente.
A noite chegou e depois mais um dia, e nada de notícias do
Bailey, o que só aumentava toda a angústia que ela estava sentindo.
Quando cheguei ao jornal, estava um grande movimento de
pessoas, todo mundo frenético pelo início de mais uma semana de
muito trabalho, com grandes possibilidades de matérias que seriam
desenvolvidas ao longo da semana, eu pretendia ir diretamente para
a minha sala, mas recebi um recado da recepcionista do andar, que
me deixou bastante apreensiva.
— O senhor Smith deseja falar com você, Beatrice — Emma
me avisou.
— Andrew? — ainda tentei ter esperanças.
— Não — ela negou com um sorriso de compreensão — O
pai dele.
Eu não havia feito nada de errado, afinal, como eu mesma
ouvi ele conversar com a Lucy, os dias de folga me foram
concedidos, e eu apenas não os usei da maneira que o Edward
havia pretendido, quando convenceu o senhor Joel Smith para me
liberar do trabalho.
Ainda assim, fiquei nervosa com a solicitação do dono do
jornal e decidi que era melhor saber logo do que se tratava, pois não
havia motivos para adiar aquele encontro, quando ele era o meu
chefe.
— Beatrice, querida! — Lucy me cumprimentou com o seu
jeito expansivo de sempre — O senhor Smith quer mesmo vê-la.
— A Emma me deu o recado — eu expliquei.
— Ah, que ótimo então — ela sorriu em compreensão —
Venha, ele disse que a chamasse assim que você chegasse ao
prédio hoje.
Nossa, então parece que é algo realmente muito importante e
aquela constatação só contribuiu para aumentar ainda mais o meu
nervosismo, mas ainda assim, aguardei que a Lucy avisasse sobre
a minha presença e entrei na sala tentando passar uma imagem
completamente diferente daquilo que eu estava sentindo.
— O senhor deseja falar comigo, senhor Smith?
— Minha querida Beatrice! — Joel Smith me cumprimentou
de maneira alegre, levantando-se do seu lugar por trás da mesa e
caminhando até onde eu ainda estava parada, tal qual uma estátua,
inerte — Tenho ótimas notícias para você.
Aquela informação me pegou completamente de surpresa, e
quando o senhor Smith me comunicou que eu estava sendo
promovida a repórter de notícias internacionais, eu quase desmaiei
de tamanho espanto.
— Está feliz com a novidade?
— Mas é claro que estou muito feliz, senhor Smith —
confirmei, me sentindo emocionada por finalmente estar
conseguindo realizar aquilo que tinha se tornado um sonho para
mim.
Nós conversamos um pouco mais sobre as perspectivas e
desafios da minha nova função e depois de me passar todas as
orientações necessárias, ele me liberou para dar início ao meu
primeiro dia na posição de repórter internacional, algo que eu
desejei muito e que agora estava acontecendo.
Mas quando retornei para a minha sala, logo me veio a
lembrança do que estava acontecendo com a Abigail e a primeira
coisa que fiz foi ligar o computador e procurar por alguma
atualização sobre o acidente com o jatinho do tenista Bailey
Dawson.
“Avião que levava o tenista Bailey Dawson em uma curta
viagem entre duas cidades na Austrália, foi localizado em uma
região desértica do país”
A notícia me deixou novamente nervosa, mas dessa vez pela
expectativa do que eu iria ler naquela reportagem tão esperada, e
ao mesmo tempo que a angústia da certeza estava me levando a
não ter coragem suficiente de abrir a matéria e ler o que estava
escrito ali de maneira tão fria e impessoal, mas que mudaria a vida
de várias pessoas por quem eu tenho imenso carinho.
Pensei em ligar para o Edward e ouvir diretamente dele,
qualquer que seja a notícia, isso iria amenizar um pouco o impacto
do que estava por vir, mas não me permiti ir adiante com essa
atitude. Eu preciso aprender mais uma vez a viver sem o Edward.
Cliquei no link da matéria.
— Como assim? — perguntei em voz alta, mesmo que
apenas as paredes estivessem na sala para me ouvir — Como o
Bailey não estava no avião?
Eu fiquei de pé e comecei a andar de um lugar a outro, agora
ainda mais perturbada que antes, mesmo que as notícias não
fossem tão ruins quanto todos já estavam imaginando.
A verdade é que o avião tinha sido realmente localizado em
uma região de deserto australiano, uma área inóspita e parcamente
habitada, e por esse motivo a demora em localizá-los.
Todas as cinco pessoas que estavam no voo foram
encontradas com vida, apesar de apresentarem ferimentos e terem
sido levadas para o hospital, mas ainda não se sabe o estado de
saúde real de cada um deles.
A única informação confirmada até agora é que o Bailey não
estava entre eles e ninguém soube dizer onde ele estava e porque
não foi encontrado juntamente aos outros que estavam no avião,
entre eles o piloto e copiloto, o agente do Bailey e dois técnicos
responsáveis pelo treinamento físico e técnico.
Mas a pergunta que não quer calar é: onde estava Bailey,
então?
Eu me senti novamente tentada a ligar para o Edward,
precisava entender o que estava acontecendo e se eles tinham
alguma notícia, que por alguma estranha razão não havia ainda sido
divulgada pelos noticiários, mas me controlei mais uma vez.
Alguém bateu à porta da minha sala naquele momento e
depois que pedi para que entrassem, vejo Andrew colocar a cabeça
no vão da porta, uma expressão de indecisão e um sorriso tímido
em seu rosto.
— Posso entrar mesmo? — ele tenta brincar.
Estava nervosa demais para sorrir em resposta e precisava
conversar com alguém, então Andrew seria muito bem-vindo agora.
— Entre, por favor — pedi, sem esconder o quanto me sentia
abalada naquele momento.
Andrew terminou de abrir a porta e entrou, parecendo
curioso, ao me ver andar em círculos mesmo dentro da minúscula
sala.
— Pensei que estaria feliz, afinal, conseguiu sua promoção,
ou estou enganado?
— Não está enganado, Andrew — eu confirmo a sua
suposição — E eu estou sim, muito feliz e satisfeita por finalmente
ter conseguido a posição que estava almejando desde que voltei
para o jornal.
— Então, qual o problema? — ele faz um gesto amplo com
os braços abertos — Porque está bastante claro que você tem um, e
não me diga que é algo sem importância.
Suspirei pesadamente, me preparando para colocar para fora
aquilo que estava me afligindo de maneira tão dolorosa.
— O marido de uma grande amiga minha sofreu um acidente
de avião ontem a tarde — comecei a explicar — Mas todos foram
encontrados hoje pela manhã, ainda com vida. Menos ele, que não
estava no avião e ninguém ainda conseguiu entender o porquê.
Andrew demonstra grande espanto.
— Esse marido da sua amiga, por acaso seria… o tenista,
Bailey Dawson?
— Exatamente — confirmei — É ele mesmo. E agora estou
aqui ainda mais preocupada que antes.
Capítulo 39 – O amor machuca
Edward
Acompanhar de perto todo o sofrimento pelo qual a minha
prima estava passando só me fazia ter ainda mais convicção de que
fiz a coisa certa ao me afastar de uma vez por todas de Beatrice.
Era uma dor muito grande estava tirando toda a racionalidade
de Abigail e era difícil ver o quanto ela parecia estar a beira de um
abismo que a qualquer momento poderia despencar debaixo dos
seus pés.
— Mas como ninguém sabe onde o Bailey está? — perguntei
de maneira grosseira para o homem do outro lado da linha —
Nenhum dos passageiros está em condições de falar qualquer coisa
sobre isso?
— Não, senhor Maddock — o homem negou, sem parecer
nenhum pouco abalado com a minha grosseria — Estamos fazendo
buscas por todo o entorno da área onde o jatinho foi encontrado,
mas ainda não tivemos nenhum sinal do senhor Dawson.
Eu tentei controlar o meu temperamento, que se tornava mais
explosivo a cada hora que passava sem que tivéssemos nenhuma
informação sobre o paradeiro do marido de Abigail e resolvi encerrar
de uma vez aquela ligação completamente infrutífera.
— Então só volte a me ligar quando tiver algo melhor para
dizer! — encerrei a ligação sem me preocupar com gentilezas e
coisas afins.
Encarei a minha prima, sentada de maneira displicente sobre
o sofá da suíte do hotel em que nos hospedamos, enquanto olhava
fixamente para a TV, e constatei que ela estava totalmente alheia a
tudo ao seu redor.
A única coisa que poderia fazer Abigail sair daquele estado
lastimável seria receber qualquer informação que fosse sobre o seu
marido. O que a estava deixando doente era a incerteza sobre o que
aconteceu e onde ele estava.
Mas as possibilidades eram promissoras, tendo em vista que
todos que estavam no avião foram encontrados com vida e
encaminhados para o hospital.
Segundo as informações preliminares, o avião tinha perdido
contato com a torre devido a problemas mecânicos, mas o piloto
conseguiu voar ainda vários quilômetros, na tentativa de fugir do
deserto e aterrissar em algum lugar mais acessível para os
primeiros socorros que pudessem vir a precisar.
Mas acabou fazendo um pouso forçado no deserto mesmo, o
que os salvou de um destino pior, como uma queda de milhares de
metros de altura e agora todos tinham chances de sobreviver,
mesmo com os ferimentos e a demora no atendimento de urgência
que eles tanto precisavam.
Sobre a Abigail, era melhor tentar animá-la de alguma forma.
— Nenhuma notícia ainda — comentei de maneira tranquila,
chamando a sua atenção — Mas as possibilidades são bastante
animadoras, concorda comigo?
Abigail apenas sorriu sem humor, mas não me deu nenhuma
resposta realmente, então mais uma vez, comprovei o quanto ela
amava o marido e estava sofrendo com tudo o que está
acontecendo.
O meu telefone volta a tocar, e acredito inicialmente que
poderia se tratar do responsável pelas buscas do marido de Abigail,
mas logo constato que é um número desconhecido e eu penso
sinceramente em não atender, mas logo volto atrás, pois poderia ser
qualquer pessoa, até mesmo alguém com notícias sobre o Bailey.
— Alô? — Atendo, sem conseguir disfarçar a impaciência.
— Senhor Maddock? — uma voz masculina do outro lado da
ligação me questiona.
— Sim — confirmo, logo tentando arrancar alguma
informação da pessoa — Quem é?
— Sou Robert O’Brien do Gazeta de notícias — ele se
identifica.
Antes que ele prossiga com sua conversa, eu encerro a
chamada sem nem mesmo pensar duas vezes.
— Quem era?
A última ligação parece ter despertado a atenção de Abigail,
pois ela me encara com uma expressão questionadora e ao mesmo
tempo curiosa ao perceber que eu encerrei a chamada de repente.
— Um repórter.
Ela faz uma careta de desagrado, mas eu não considerava
certo mentir, afinal, Abigail entende que um caso como esse já
desperta a curiosidade da mídia mesmo quando se trata de
desconhecidos, e se havia alguém minimamente conhecido ou
famoso, eles não iriam sossegar até conseguir alguma entrevista
com a família dessa pessoa.
— Eu não desejo falar com nenhum deles — Abigail reforça
aquilo que já disse várias vezes desde que chegamos a Sidney, na
Austrália.
— Não se preocupe, eu cuido de tudo — reforcei aquilo que
já tinha dito para a minha prima desde o primeiro momento em que
ela me procurou, pedindo apoio.
O telefone voltou a tocar e mais uma vez atendi, acreditando
se tratar de alguma novidade sobre o caso, e novamente era um
repórter e eu desliguei sem mais demora.
Mas o meu telefone e até mesmo o de Abigail não parou mais
de tocar insistentemente depois disso, e eu já estava pensando
seriamente em não atender a mais nenhuma ligação, pois aquilo já
estava se tornando ridículo!
— O que está acontecendo? Porque vocês não param de nos
ligar!? — acabei gritando com um dos repórteres, pois já não
suportava mais tantas ligações — Assim como vocês, nós também
não temos nenhuma informação sobre Bailey.
— E o que o senhor me diz sobre o fato de Dawson estar nas
ilhas Maldivas, enquanto todos pensavam que ele estava no avião
que caiu na Austrália? — o homem perguntou, me deixando irado
com tamanho absurdo.
— Está ficando louco!? — realmente gritei para a pessoa do
outro lado — Como você pode criar uma história como essa, quando
todos estamos aqui ansiosos, mas sem notícia alguma?
Não esperei por nenhuma resposta, não queria continuar a
ouvir a voz daquele verme imundo, capaz de levantar tamanha
calúnia contra o Bailey, em um momento tão delicado quanto o
atual.
— O que a pessoa disse, Edward? — Abigail perguntou, seu
rosto repleto de ansiedade — Por que estava gritando com o
repórter?
— Nada que valha a pena ouvir — tentei desconversar —
Acho melhor desligar essa TV, Abigail.
Antes que a minha prima possa protestar, eu já estou
desligando a TV e até mesmo retirando o equipamento da tomada
de maneira decidida, temendo que a Abigail acabe assistindo algo
terrível como o que acabei de ouvir ao telefone.
Aquilo era tão absurdo, que agradeci internamente por minha
prima não está olhando o celular ou tentando encontrar informações
na internet, pois a esta hora, todos os sites de fofocas e
sensacionalistas já deveriam estar divulgando hipóteses e teorias
horrendas sobre o fato de Bailey não está no avião no momento em
que ele foi localizado pela equipe de buscas.
— O que está acontecendo, Edward? Você está muito
nervoso!
Eu não estava conseguindo me conter e andava de um lado a
outro da suíte, tentando extravasar a fúria que eu senti pelo repórter
mal intencionado que tinha me ligado alguns minutos atrás.
— Essa falta de notícias que me deixa agitado — eu menti —
Vou pedir um chá.
— Uma ótima ideia — Abigail apreciou a minha iniciativa.
Liguei para o serviço de quarto e realmente pedi um chá
completo com biscoitos e quando a Abigail tomava o chá e até
mesmo comia os biscoitos, algo excelente, tendo em vista que ela
não tinha conseguido comer nada desde que chegamos a Sidney,
eu procurei pelas páginas de buscas o que estava sendo dito sobre
Bailey Dawson e o resultado das imagens me deixaram ao mesmo
tempo surpreso e preocupado.
Será que aquelas imagens eram realmente recentes? Não
pode ser! Abigail ficaria completamente arrasada e eu não queria
nem mesmo pensar no quanto aquilo iria afetar a minha prima,
afinal, ela é completamente apaixonada por seu marido.
As imagens divulgadas mostram Bailey ao lado de uma
mulher muito bela e jovem, aproveitando o pôr do sol em uma praia
nas ilhas Maldivas, e segundo a reportagem, aquela foto tinha sido
tirada há apenas algumas horas, e até então, Bailey ainda não sabia
sobre o acidente.
Como isso era possível? Era algo que eu realmente não
estava entendendo de maneira alguma, mas quando vi que havia
mais uma ligação em meu celular, mas que desta vez era o número
de Bailey na tela do aparelho, tive certeza de que as reportagens
não estavam mentindo.
Antes de atender, olhei em direção a minha prima, que
tomava chá de maneira plácida e triste, acreditando que o grande
amor da sua vida estava correndo risco de vida, quando na verdade
ele a estava traindo com uma ninfeta em uma ilha paradisíaca.
— Maddock falando — atendi a chamada, caminhando para a
porta e entrando de maneira discreta para o quarto em que eu
estava instalado.
— Edward meu amigo! — a voz inconfundível de Bailey falou
do outro lado da ligação — Eu preciso muito falar com Abigail. Ela
precisa me ouvir, antes de tirar qualquer conclusão precipitada. Mas
o celular dela está na caixa postal e eu sei que você está com ela
em Sidney.
— Você não estava naquele voo, não é mesmo, Bailey?
— Eu posso explicar!
— Estava, ou não? — eu insisti mais uma vez.
— Surgiram algumas questões de última hora e eu acabei
não pegando o voo junto com o restante da minha equipe. Mas as
coisas não são da forma como a mídia está alardeando!
— Você quer dizer que aquelas fotos são antigas? É isso? —
Eu estava sendo irônico, é claro — E também quer dizer que você
não está nas Maldivas neste exato momento, com uma garotinha
qualquer, traindo a minha prima? É isso mesmo que você quer dizer,
Bailey!?
— Bailey!? — Abigail perguntou, entrando no quarto de
maneira silenciosa e me pegando totalmente desprevenido — Você
está falando com o meu Bailey?
Não havia cor alguma em seu rosto, ela estava pálida igual a
uma folha de papel branca e eu temi que ela fosse desmaiar a
qualquer momento.
O amor realmente só machuca e nos trai.
Capítulo 40 – Uma escolha difícil
Beatrice
Depois que o Andrew saiu da minha sala, tentei me
concentrar no trabalho, finalizando algumas tarefas pendentes, para
poder então me dedicar completamente ao meu novo cargo no
jornal e já antecipando a sensação maravilhosa de estar em contato
com vários outros jornalistas ao redor do mundo, em busca de
notícias internacionais.
Ainda assim, a todo momento eu procurava por atualizações
sobre o acidente com o avião em que o Bailey estava, até que uma
notícia me deixou bastante apreensiva, ao saber que ele não estava
junto com os outros passageiros que foram localizados com a
aeronave de pequeno porte em que estavam viajando a equipe dele.
Imaginei mais uma vez como a Abigail deveria estar abalada,
diante dessa incerteza terrível, e mais uma vez tentei falar com ela,
dessa vez eu realmente queria falar com a minha amiga de alguma
forma, mas o celular aparentemente estava desligado.
Todas as tentativas de ligações eram encaminhadas
automaticamente para a caixa postal e as mensagens também não
eram entregues e agora eu estava muito preocupada com a minha
grande amiga.
Eu tinha prometido a mim mesma que não iria incomodar a
Abigail em um momento tão delicado, mas era difícil se manter a
parte, quando eu conseguia entender perfeitamente o que ela
estava sentindo, pois mesmo que o Edward não tivesse sofrido
acidente algum, eu tinha a convicção de que nunca mais iria vê-lo, e
isso me machucava tremendamente.
Agora tudo estava se repetindo, mas ele tinha sido o
responsável por colocar uma distância entre nós e só me restava
aceitar o seu desejo, pois era o melhor para nós dois.
Tentei novamente voltar ao trabalho, a todo momento
prestando atenção na tela do telefone, na expectativa de receber
alguma ligação ou mensagem da Abigail, mas nada acontecia.
Até que o telefone em cima da minha mesa tocou, mas não o
meu celular, e sim o usado apenas para comunicação interna e
fiquei curiosa sobre quem seria.
— Alô?
— Tenho uma informação muito importante sobre Bailey
O’Brien — Andrew falou do outro lado da linha.
— Localizaram ele? — perguntei, ficando de pé
imediatamente, tão ansiosa eu estava.
— Um de nossos repórteres — ele contou — Achei melhor
contra para você antes que essa notícia se espalhe por todos os
veículos de comunicação.
— Eu estou indo a sua sala!
Pelo tom usado pelo Andrew, aquela notícia não era nada
boa e eu não queria ouvi-la por telefone, então caminhei apressada
até o elevador que me levaria ao andar da diretoria.
Cheguei à sala de Andrew em menos de cinco minutos e
como Lucy não estava em seu posto, eu bati rapidamente na porta
dele e entrei, antes mesmo que ele pudesse autorizar.
— Diga-me como Bailey está — falei de supetão, nervosa
demais para agir de maneira tranquila ou calma.
Andrew estava sentado por trás de sua mesa, as mãos sobre
a mesa e os dedos entrelaçados, e seu olhar parecia incerto, como
se não soubesse a melhor maneira de falar aquilo que ele desejava.
— Ele está ótimo, na verdade — disse, usando um estranho
tom de ironia — Eu diria até que melhor que todos nós.
Eu não entendi a maneira como Andrew estava abordando a
questão, mas ele não parecia ter noção da gravidade do que
aconteceu com o marido de Abigail.
— Fico feliz, então — digo de maneira incerta — Afinal, não
são todos os dias que alguém escapa de um acidente aéreo e fica
tão bem assim… como você está dando a entender.
— Veja por si mesma — Andrew diz, girando a tela de seu
computador, a colocando de frente para mim.
Eu fico sem conseguir entender a imagem, ainda mais
quando a tela é grande ao ponto de não deixar dúvida alguma sobre
a identidade das pessoas que estão na foto.
— O que Bailey está fazendo nessa … ilha? É isso mesmo?
— perguntei, o cenho franzido em dúvida.
— Eu acredito que ele deva estar aproveitando o cenário e a
companhia também… — Andrew estava sendo sarcástico.
Eu não gostei nenhum pouco da maneira como Andrew
estava agindo, ainda mais quando se trata de um assunto de
tamanha seriedade como aquele.
— Andrew, eu não estou entendendo nada! — desabafei, já
me sentindo aborrecida.
— Então eu vou te explicar — ele enfim resolve me ajudar
verdadeiramente — Um dos nossos repórteres, que estava cobrindo
um casamento de suas celebridades americanas nas ilhas Maldivas,
conseguiu fazer esses cliques do O’Brien em viagem romântica com
essa modelo australiana e descobrir que ele não apenas escapou
do acidente com o jatinho e a sua equipe, como também que ele
está tendo um caso extraconjugal.
— Não posso acreditar! — Disse alto demais, completamente
chocada com aquela descoberta absurda e levando a mão para
cobrir a boca.
— Nós acabamos de lançar a bomba na internet, em nosso
site e redes sociais e eu acredito que a repercussão será tremenda
— Andrew prevê de maneira acertada — E logo estará em todos os
jornais do mundo.
É claro que o Andrew tinha toda a razão, afinal, Bailey é um
tenista mundialmente famoso e reconhecido por seus prêmios no
esporte.
Agora, mais do que nunca, eu precisava falar com a Abigail e
prestar todo o meu apoio e solidariedade, pois não seria nada fácil
para ela, não apenas descobrir que está sendo traída, isso ainda iria
acontecer de maneira totalmente pública.
Eu me sento na cadeira em frente a mesa do Andrew, os
pensamentos gritando em espiral e me fazendo ficar tonta e
enjoada, pois eram tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo,
que eu nem mesmo sabia o que fazer a partir de agora.
— Há algo mais que preciso falar com você — Andrew avisa,
me trazendo de volta para o momento presente.
— Não me diga que ainda tem mais coisas além disso! — eu
protestei, indignada.
— Não! Não é nada disso — ele nega, e exibe um sorriso de
diversão — É sobre a sua nova posição aqui no jornal.
O encaro com atenção, temendo que viesse algo
desagradável por aí, mas as suas próximas palavras me deixam ao
mesmo tempo feliz e triste.
— Como repórter da coluna de assuntos internacionais
agora, você terá algumas obrigações que acredito que você já tenha
conhecimento — ele começou a dizer, mas eu já podia antecipar do
que se tratava.
— Sim, eu posso imaginar.
— Há uma viagem programada para daqui a dois dias para
Paris e que você precisa ir, pois o meu pai acredita que você possa
fazer algo diferente de todos os outros, mesmo em se tratando de
um lugar tão conhecido e falado por todos.
— Eu não sei se serei capaz… pelo menos, não nesse
momento, com toda essa história da Abigail e do Bailey — eu
confessei de maneira honesta.
Andrew parece ficar insatisfeito com a minha resposta, mas
eu não poderia me comprometer com algo tão grandioso, quando eu
não conseguia nem mesmo falar com a Abigail ainda.
— Acredito que chegou o momento de você decidir entre
trabalho e vida pessoal, Beatrice — ele aponta de maneira dura —
Ainda mais quando a Abigail nem mesmo da sua família é. E pelo
que me contou, vocês não são tão próximas assim, como eram
antes do seu casamento.
— Isso não anula os meus sentimentos pela Abigail, Andrew
— eu protesto, aborrecida — Nós sempre fomos amigas e ela está
passando por um momento muito delicado agora. Não posso
simplesmente viajar para Paris e deixar a minha amiga sofrendo,
sem a apoiar em nada!
— Você está mesmo preocupada com a Abigail? — Andrew
me colocou contra a parede — Ou a sua preocupação maior é o
Edward e o fato de Abigail ser prima dele?
A pergunta de Andrew ficou sem resposta, pois naquele
instante a Lucy bateu em sua porta e entrou, algo compreensível,
pois ela não sabia que ele tinha companhia e ao me ver sentada em
frente a mesa dele, ficou bastante envergonhada e me pediu
desculpas várias vezes, antes de falar o que desejava para o filho
do seu chefe.
— O senhor Smith deseja falar com você, Andrew — ela
então explica — Ele disse que é urgente.
Fiquei curiosa sobre o que poderia ser considerado como
urgente para Joel Smith, mas não comentei nada, afinal, não era da
minha conta e eu não tinha sido intimada a comparecer à sala dele,
como ele fez com o filho.
— Preciso voltar para a minha sala — digo, a título de
despedida.
— Tenta refletir um pouco sobre o que ouviu aqui e não faça
nada antes de pesar todos os prós e os contras — ele pede, me
encarando com seriedade.
— Farei isso — prometi, antes de sair da sala e voltar
imediatamente para a minha própria.
E a primeira coisa que pensei ao entrar em minha sala e
conferir as notícias, é que o Andrew estava coberto de razão e eu
não podia deixar que a minha oportunidade de fazer aquilo que eu
gosto escapasse novamente entre os meus dedos.
Era o momento de seguir em frente e esquecer tudo o que
vive, e sofri, com o Edward.
Capítulo 41 – Interferências do destino
Beatrice
Como Andrew já tinha antecipado, a notícia de que Bailey
não estava no avião junto com a sua equipe no momento da queda,
causou um grande alvoroço na mídia, e aliado a isso, o fato de ele
estar, na verdade, nas ilhas Maldivas na companhia de uma jovem e
bela modelo australiana caiu como uma bomba em todas os
veículos de comunicação.
Diante de tudo o que estava acontecendo e toda a pressão
da mídia para que a esposa de Bailey se pronunciasse sobre o
caso, eu optei por não incomodar a Abigail com mais tentativas de
contato.
Estava bastante óbvio que ela não desejava falar com outras
pessoas de fora da sua família, naquele momento tão delicado que
ela estava vivendo e eu não iria ficar insistindo sobre isso.
Se em algum momento ela desejar falar comigo, saberá onde
e como me encontrar, afinal, eu tinha enviado várias mensagens
para ela, as quais permaneciam sem resposta até agora.
Eu também tinha chegado à conclusão de que Abigail deveria
estar com muita dificuldade em lidar com tudo o que estava
acontecendo, algo absolutamente compreensível, pois ela sempre
amou o seu marido e descobrir que ele a estava traindo através da
mídia e ainda da forma como isso aconteceu não era nada fácil, e
um sinal disso era que ela tinha desativado as suas redes sociais,
algo que sempre percebi que ela gostava muito.
Eu a seguia em uma dessas plataformas e sempre
acompanhava as suas postagens, as quais eram basicamente sobre
o esporte praticado pelo Bailey, o tênis, e sobre as viagens que ela
costumava fazer com o seu até então marido, e tendo em vista o
fato de que não deve ser fácil ter que lidar com uma traição daquela
proporção em público, com uma plateia tão ativa como eram as
pessoas adeptas das redes sociais, era normal ela se resguardar.
Sem falar que Abigail também não tinha concedido nenhuma
entrevista até agora, mesmo com toda a insistência dos jornalistas
que eu sabia estarem tentando contato com ela.
Andrew havia me contado sobre isso, quando nos
encontramos na terça-feira à tarde, para combinar alguns detalhes
da minha viagem à França, e eu admirei a maneira como Abigail
estava conseguindo se manter à parte, sem cair na tentação da
vingança e dos comuns desabafos públicos que alguns acabam se
deixando levar por eles.
Mas eu também não fazia mais parte daquela família e,
portanto, estava alheia a tudo o que estava acontecendo com eles
em decorrência das atitudes do marido de Abigail, e todo o meu foco
estava em cuidar da minha própria vida e carteira, que agora estava
dando os primeiros passos para tudo o que sempre desejei.
Não apenas aquela viagem, como tantas outras que se
seguiram a ela, estavam me mantendo ocupada e feliz, afinal, eu
estava fazendo aquilo que realmente amo, em um momento de
transição muito importante da minha vida.
Tudo acontece no momento certo, e eu tinha que admitir que
a minha promoção tinha sido algo que chegou para mim no melhor
momento possível, quando eu estava precisando de motivações
maiores e mais instigantes do que apenas criar reportagens sobre a
vida das celebridades e seus casos.
Eu realmente não me interessava em saber quem estava
namorando quem, ou quem está traindo quem. Tudo o que eu
queria era elaborar matérias realmente interessantes em termos
culturais, e agora eu tenho conseguido atingir o meu maior objetivo.
A primeira viagem que fiz como nova correspondente de
notícias internacionais foi para a França e os preparativos daquela
viagem me mantiveram bastante ocupada logo nos primeiros dias
em que a situação com o Bailey aconteceu, e mesmo que eu tinha
me preocupado muito com o estado em que estava a minha amiga
depois de tamanha decepção, precisei deixar aquilo de lado por
enquanto.
Afinal, se Abigail não queria falar comigo, eu decidi seguir em
frente com a minha vida, agora sem sinal algum de Edward e sem
as tentativas de Andrew de se aproximar de mim em termos
românticos.
A verdade é que eu precisava me resolver sozinha primeiro,
aprender a me conhecer e saber com clareza o que eu realmente
desejava para a minha vida.
Depois da viagem à França, fiz outras tantas e variadas
viagens, sempre conseguindo oferecer o melhor de mim para o meu
trabalho, e oferecer ao público reportagens mais atrativas e
interessantes, me divertindo bastante em todo o processo.
Outra coisa que mudou de maneira drástica foi a minha vida
social, que antes era praticamente inexistente, mas que tinha se
tornado bem mais ativa e movimentada que antes, pois estar em
outros países e cidades me levava a conhecer um pouco de cada
lugar que eu estava e das pessoas, o que levava também a novas
amizades.
Eu ainda continuava a me comunicar com as três irmãs
gêmeas que conheci em Manchester, e que também fazia absoluta
questão de manter o contato entre nós bastante ativo.
Elas tinham também criado até mesmo um grupo para troca
de mensagens entre nós quatro, de maneira que a nossa
comunicação pudesse fluir melhor, o que acontece de maneira muito
espontânea e divertida, e isso também é algo que consegue me
manter ocupada, assim como me alegrar todos os dias.
E por um absurdo golpe de sorte, apenas algumas semanas
depois, o jornal me enviou para a Itália, Florença para ser mais
específica, o que me deixou muito feliz e ansiosa para que o dia em
que eu viajaria para fazer esse trabalho em especial chegasse logo
de uma vez.
O fato de estar em constante contato com as trigêmeas, após
os dias que passamos juntas em Manchester, me fazia gostar cada
dia mais e mais das minhas novas amigas e eu já conseguia
imaginar como seria divertido estarmos novamente as quatro juntas,
dessa vez na cidade em que as garotas moram.
Mas antes que eu pudesse ir a essa viagem em especial, a
minha amiga mais antiga me intimou a fazer compras com ela, pois
segundo Janet, a Itália pedia todo um repertório de roupas
completamente diferente das que eu costumava usar em Londres,
ou até mesmo nos outros países que visitei desde que assumi a
função de jornalista internacional.
— Eu não sei por que insisto tanto em fazer compras com
você, Beatrice — Janet começou a sua reclamação de todas as
vezes — Nunca segue as minhas dicas e na maior parte das vezes
prefere usar roupas mornas…
Nós estávamos agora em uma famosa loja de roupas
femininas, um lugar frequentado pela elite Londrina e que era
conhecido por todas as pessoas que vinham a Londres e podiam
pagar por roupas de grife.
— Eu pensei que sempre estava usando roupas quentes,
agora que o outono chegou com tudo em Londres — eu brinquei,
tentando descontrair o clima.
— Você está muito cheia de gracinhas agora, Beatrice —
Janet continua com a expressão contrariada, mas eu percebo um
sorriso se insinuando — E tenho certeza de que entendeu muito
bem o que eu estou falando. Não tente fugir!
Claro que eu entendi sobre o que ela falava, mas as vezes
Janet exagerava nas suas escolhas, por mais belas e que
estivessem na última moda, eu não me sentia bem usando algumas
das roupas que ela escolhia para mim.
— A Itália é um país esfuziante e alegre, você precisa de
roupas que combinem com o lugar — continuou o seu sermão, já
segurando um vestido floral e curto demais para o meu gosto.
Peguei o cabide com o vestido de suas mãos e coloquei
rapidamente na frente do meu corpo, para mostrar que a peça não
chegava nem mesmo até o meu joelho.
— Veja, é muito curto!
— Ficou lindo em você, Beatrice.
— Oh! — exclamei surpresa.
Para a minha consternação, não foi a Janet que disse isso, e
sim a Abigail, que tinha acabado de parar ao nosso lado e com ela
estava Edward.
— Abigail! — eu finalmente consegui dizer, quando me
recuperei parcialmente da surpresa por vê-la ali.
Nós nos cumprimentamos com um abraço apertado, algo que
há semanas eu gostaria de ter feito, mas que somente agora surgiu
a oportunidade.
Nós nos separamos, mas ainda continuamos próxima uma da
outra e eu entrei o rosto da minha querida amiga, que estava bem
mais magro que da última vez em que a vi, quando fui a Kent com
Edward.
Parecia que tinha acontecido há anos, mas fazia menos de
dois meses apenas.
— Como você está? — não pude deixar de perguntar.
Tentei me concentrar totalmente na Abigail e não reparar no
seu primo, parado logo atrás dela e olhando para a cena em
silêncio.
— Hoje posso dizer que estou bem — foi a resposta bastante
esclarecedora de Abigail.
— Isso é tudo que importa, então.
Ela sorriu em reconhecimento às minhas palavras e se
afastou, olhando para de Edward para Janet, ainda sorrindo.
— Oi, Janet — Abigail cumprimentou — Faz anos que não a
vejo!
— Tem razão, querida — Janet concordou — Acredito que
faz mais de três anos mesmo.
Edward aproveitou aquele momento para nos cumprimentar
de maneira breve e bastante sucinta.
— Olá, Janet… Beatrice… — ele disse, e logo em seguida —
Vou deixar vocês à vontade. Preciso mesmo olhar algumas
gravatas.
Quando ele saiu, parecendo fugir, eu admirei a mudança total
em seu comportamento e naquele momento ficou bastante claro
para mim que cada um estava realmente seguindo o seu caminho.
Capítulo 42 – A distância cura
Beatrice
Após a saída de Edward em direção a sessão masculina da
loja, uma dor estranha se fez presente em meu peito, mas consegui
abafar esse mal-estar e continuei conversando de maneira
despretensiosa com Abigail e Janet.
Enquanto terminamos de escolher as peças que
pretendemos comprar, a conversa com a Abigail girou em torno de
vários assuntos, e em momento algum nós tocamos no nome do
marido da nossa amiga ou falamos sobre o escândalo em torno da
sua traição pública e constrangedora de Bailey.
Abigail foi se tornando mais descontraída à medida que
percebeu que não iríamos tocar naquele assunto tão desagradável
para ela, o que foi muito bom, pois era nítido que ela estava
precisando esquecer tudo o que aconteceu em sua vida nas últimas
semanas.
— Poderíamos organizar um chá com biscoitos — Janet
sugeriu, quando terminamos de fazer nossas compras — Amanhã à
tarde, o que vocês me dizem?
— Uma ótima ideia! — concordei prontamente — Onde está
hospedada, Abigail?
Abigail contou então que não estava em um hotel, e sim na
casa do seu primo, algo que não me deixou nenhum pouco
surpresa, afinal, eles sempre foram bons amigos e Edward com
certeza fez absoluta questão de que ela ficasse em sua casa.
— Podemos aproveitar que o meu primo irá fazer uma longa
viagem e marcar lá mesmo na mansão.
Uma longa viagem? Eu realmente não esperava por algo
assim e olhei de maneira discreta na direção em que ele estava
sendo auxiliado por uma jovem vendedora na escolha de algumas
gravatas. Ele realmente não mentiu ao dizer o que pretendia
comprar na loja.
— Eu gosto bastante dessa ideia — Janet concorda com a
sugestão de Abigail — Tenho certeza de que a mamãe não vai se
importar em cuidar do Archie para mim. E dessa forma teremos
mais privacidade, não é mesmo?
— Será maravilhoso jogar conversa fora enquanto tomamos
o chá da tarde — Abigail diz, em tom saudoso — Como nos velhos
tempos, quando morávamos em Kent, Beatrice.
Eu sorri em concordância, atenta demais ao homem do outro
lado da loja, e apenas prestando atenção parcialmente na conversa
ao lado entre as minhas amigas.
Eu não considerava uma boa ideia voltar a mansão onde
morei com Edward, são várias lembranças e a grande maioria delas
bastante desagradável, mas como eu já estive na casa após a
nossa separação, creio que isso não será realmente empecilho aos
planos que as minhas amigas estavam fazendo entre si.
No momento eu estava completamente centrada na interação
de Edward com a vendedora, que estava sorrindo de maneira
bastante insinuante para o meu marido, e eu não estava nenhum
pouco satisfeita com esse fato.
Eu jamais admitiria para qualquer pessoa que a cena estava
me causando um grande mal-estar, algo bastante conhecido pelo
nome de ciúmes.
— O que acha, Beatrice?
Encarei as minhas amigas, as duas em expectativa pelo que
eu iria dizer, mas sem ter a menor noção de qual havia sido a
pergunta, se é que realmente se tratava de uma.
— Desculpem-me — acabei pedindo, antes de confessar —
Eu estava distraída. O que diziam?
As duas me olharam com desconfiança, como se estivesse
me analisando, mas logo Abigail explicou.
— O que estamos querendo saber é se há algum problema
para você, nos encontrar na casa do Edward — ela parecia
realmente em dúvida — Ou você tem outra sugestão?
— Se o Edward não vai estar em casa, eu não vejo nenhum
problema — afirmo de maneira honesta.
Nós conversamos mais um pouco, combinando o nosso chá
para a tarde do dia seguinte e depois disso a Janet e eu fomos
embora da loja, deixando Edward ainda conversando com a mesma
vendedora, jovem e bonita demais.
Edward
O destino gostava de pregar boas peças e em mais uma
delas, encontrei a Beatrice em uma loja, parecendo feliz e bastante
animada ao lado de sua melhor amiga, a Janet.
Quando sugeri para Abigail que ela deveria sair um pouco,
tentar se distrair de alguma forma, ao invés de ficar o tempo todo
dentro de casa, revivendo a traição do Bailey, jamais poderia
imaginar que isso nos levaria a encontrar a minha esposa.
Nós ainda somos casados.
Como a Abigail não parecia disposta a sair sozinha, nem
tampouco desejava fazer aquilo sozinha, eu me ofereci para a
acompanhar, na tentativa de fazer com que ela saísse do marasmo
em que estava vivendo, sofrendo de maneira visível com o fim do
seu casamento.
Como se não bastasse Abigail ter sido traída pelo seu marido
e a quem ela sempre amou, isso ainda teve que acontecer de
maneira pública e se tornar um escândalo em escala internacional.
Minhas boas intenções me levaram diretamente até a
Beatrice e agora tudo o que eu mais desejava era ir embora e
esquecer o sentimento que estava tomando conta de todo o meu
ser.
Eu estava com ciúmes, essa era a única verdade. Ciúmes de
ver o quanto ela parecia linda, sorrindo de maneira espontânea e
cheia de vida, radiante em sua beleza e felicidade.
Ela estava provando mais uma vez que consegue viver muito
bem sem mim.
Aparentemente, eu não faço bem para a minha esposa e
quando estamos juntos, tudo o que eu consigo é deixá-la infeliz,
seja por ignorar o sentimento que trago dentro de mim, na tentativa
de fugir do sofrimento, como fiz durante todo o nosso casamento,
seja tentando recuperar o tempo perdido e privar que a amo mais
que tudo, eu só conseguia trazer tristeza e infelicidade para
Beatrice.
Essa constatação me levou a tomar uma difícil decisão, mas
que eu acredito ser a mais sábia e correta, diante das
circunstâncias. Eu sairia de Londres, sem previsão alguma de
quando iria retornar novamente para a cidade.
Eu tinha cometido muitos erros e agora não conseguia nos
ver em um relacionamento saudável, quando tinha tanta coisa entre
nós.
Quando se trata de Beatrice, eu não consigo agir da maneira
certa, pois todo o meu bom senso desaparece.
Mas eu tinha conseguido dar o primeiro passo quando
dispensei o investigador particular.
Agora eu estava dando um passo ainda mais importante, ao
colocar uma distância maior entre ela e eu, de forma que a saudade,
junto ao destino, não conseguisse mais me surpreender, ao tornar
uma simples visita a uma loja de roupas para acompanhar a minha
prima, em uma grande tortura.
E o último passo e não menos importante, eu tinha deixado o
cargo de CEO da empresa da família Phillips e convocado
Sebastian de volta a Londres, para que ele assumisse o cargo em
meu lugar, cortando assim um laço muito forte entre a Beatrice e eu.
E quando a Abigail se aproximou de mim, eu ainda fingia
estar atento a vendedora jovem e bonita que estava me atendendo
e flertando comigo de maneira descarada, mas a verdade era outra
totalmente diferente.
— Vou levar essas duas aqui — falei para a vendedora —
Você pode embrulhar para presente?
— Claro! Irei agora mesmo fazer isso — a garota se
prontificou, bastante prestativa.
Depois que a jovem saiu, Abigail me encarou com expressão
sarcástica e a sobrancelha erguida, me fazendo entender que ela
não tinha acreditado na minha encenação.
— Demorou bastante para escolher duas gravatas, não é
mesmo?
— Estava em dúvida sobre as cores — menti — Encontrou
alguma coisa que você goste?
A mudança de assunto não convenceu Abigail, que deixou
isso bem claro.
— Eu sei que estava o tempo todo de olho na Beatrice,
Edward — ela me desmascarou — Mas vamos esquecer isso. Ao
menos por enquanto, eu concordo que vocês precisam de um tempo
para pôr os pensamentos e sentimentos em ordem.
Não concordo com as palavras de Abigail, mas não iria
discutir esse assunto com ela, tampouco.
— Não encontrou nada que você goste? — perguntei para a
minha prima, tentando mais uma vez fazer ela esquecer a minha
situação com Beatrice.
Ela me encarou com um meio sorriso e me chamou para
pedir uma opinião sobre duas opções de vestidos, e depois que dei
a minha opinião sobre a peça que considerei mais interessante e
que combina mais com o seu estilo de se vestir, ao que ela aceitou
rapidamente a minha modesta opinião.
Ainda visitamos outras lojas e eu insisti para que Abigail
comprasse várias coisas interessantes, pois a minha intenção era
que ela ficasse com a sua autoestima cada vez mais alta e se
sentisse mais disposta a sair e voltar a viver a sua vida.
A palavra correta é superação. Abigail precisa superar o que
aconteceu com Bailey, e seguir em frente com a sua vida, do
mesmo jeito que eu pretendia fazer com a minha.
Viver em stand by não é a maneira mais inteligente para se
fazer e pretendo convencer a Abigail deste fato. Essa é para mim
como uma missão.
Amanhã, no entanto, eu estaria viajando para a Irlanda, onde
pretendo passar uma longa temporada, cuidando dos meus
negócios e revendo alguns conceitos.
Capítulo 43 – Um novo começo
Um ano depois
Beatrice
Olhei para a criança sentada no banco de trem ao meu lado,
e senti mais uma vez a tristeza me invadir com força total.
Mas eu precisava ser forte. Não era o momento de fraquejar,
pois agora eu tinha alguém que dependia totalmente de mim e por
ele eu seria capaz de tudo.
— Está com sono? — perguntei.
Timothy era apenas uma criança, tinha só dez anos, mas a
vida tinha sido muito dura com ele e sua bagagem não era das mais
belas.
Era feia e triste.
— Estou bem — ele disse, sem responder diretamente a
minha pergunta.
— Você pode deitar a cabeça em meu colo — ofereci — Eu
gosto quando você faz isso.
Eu tinha absoluta certeza de que ele estava cansado e com
sono, mas ele não diria isso para mim. Como insistia em dizer
sempre, ele não quer me incomodar.
— Eu não quero incomodar você, Beatrice — veio a frase já
esperada — Já está fazendo muito por mim.
— Você não me pediu nada, Timothy — digo aquilo que há
dias tento colocar em sua cabecinha teimosa — Eu estou fazendo
porque eu quero fazer. Tudo bem?
— Tudo bem… — ele não parece muito convicto.
Faço um gesto indicando para ele deitar o corpo em sua
poltrona e usar o meu colo como travesseiro e após alguns
segundos de reflexão, Timothy acaba fazendo aquilo que sugeri
desde que saímos de Budapeste no dia anterior.
Apesar da pouca idade, Timothy tentava sempre parecer
como alguém mais velho, o que é bastante compreensível, tendo
em vista os horrores que viveu há alguns meses atrás.
Timothy e sua mãe sempre moraram em Kharkiv, na Ucrânia,
mas o prédio onde residiam foi completamente destruído por um
bombardeio russo, o que os deixou desabrigados e sem nenhum de
seus pertences pessoais, mas com vida.
Eu conheci a mãe de Timothy quando estava fazendo uma
reportagem sobre a guerra russo-ucraniana, a partir da Hungria,
mais precisamente em Budapeste, a capital do país.
Eu estava hospedada em um hotel próximo ao centro da
cidade e Yana estava vendendo flores, na tentativa de manter a si e
ao seu filho, que tinha fugido da sua cidade natal com medo dos
conflitos armados e ao entrevistá-la sobre esse assunto, acabamos
fazendo amizade.
Por alguma estranha razão, Yana e eu nos identificamos uma
com a outra e conversamos todas as vezes em que eu passava na
frente do local onde ela estava, junto com o pequeno Timothy, um
menino maduro demais para a sua idade.
E em uma dessas ocasiões em que estava conversando com
Yana, ela se sentiu mal de repente e eu busquei ajuda para ela, que
foi levada ao hospital as pressas.
A situação de mãe e filho era bastante complicada, eles não
estavam de maneira regular no país, mas ainda assim ela conseguiu
todo o atendimento necessário e eu me ofereci para cuidar de
Timothy enquanto ela estava hospitalizada.
A cada visita que eu fazia a Yana, eu a notava que ela estava
cada vez mais debilitada e durante a minha última visita, ela me fez
um pedido bastante inusitado, mas que eu jurei atender.
— Você cuida do Timothy? — ela disse com voz fraca —
Você promete cuidar do Timothy?
Eu não entendi o pedido logo de imediato, afinal, eu já estava
cuidando do garoto há quase uma semana, desde que ela tinha
passado mal na minha frente.
— Eu estou fazendo o melhor que posso, Yana — falei com
toda a minha sinceridade — Nunca cuidei de uma criança, mas
acredite, estou fazendo o meu melhor.
— Você me promete que vai cuidar do meu filho? — ela
insistiu, como se eu não tivesse dito nada em resposta.
— Eu estou cuidando dele, não deve ser preocupar — falei
novamente — Quando você sair desse hospital, vai encontrar o
Timothy do jeitinho que você deixou.
Ela fechou os olhos com força e percebi que estava contendo
as lágrimas, mas ouvi um gemido estrangulado sair da sua
garganta.
— Eu… — começou a dizer de maneira incerta — … não
estou bem. Eu perdi tudo o que tinha…
— Eu imagino como deve ser doloroso ter que deixar tudo
para trás, Yana — falei de maneira compreensiva — Precisa ser
muito forte para lidar com tantas perdas.
— Eu preciso que me prometa que vai cuidar do meu filho —
ela segurou com força em minha mão, seus olhos duas poças de
lágrimas — Você promete?
— Eu prometo!
Yana tinha sofrido um Acidente Cardiovascular, ou seja, um
AVC, e alguns dias após ter sido internada, logo após a minha
última visita, quando ela insistentemente me pediu para prometer
que cuidaria do Timothy, ela veio a falecer.
Nós não sabíamos, mas Yana tinha uma grave doença
cardíaca e não conseguiu resistir as perdas da sua vida diante da
guerra em seu país.
Agora eu estava voltando para Londres com uma criança a
qual prometi cuidar e que tinha conseguido ganhar todo o meu amor
e carinho, e ninguém poderia tirá-lo de mim agora.
Mesmo que para isso eu tivesse que ir em busca do Edward
na Irlanda, a quem eu não via há exatamente um ano, mas que
ainda continuava a ser meu marido e de quem eu precisaria da
ajuda para adotar o meu menino e torná-lo legitimamente meu filho.
************ ❤ ************
Quando chegamos na estação de metrô mais próxima a
minha casa, eu suspirei de alívio e cansaço. Havia sido quase vinte
horas de viagem e eu me sentia realmente exausta, mas precisava
me manter firme e aguentar só mais um pouco.
— Você está me levando para um lar de crianças Órfãs? —
Timothy perguntou de maneira triste, mas tentando manter a postura
de durão.
Mesmo cansada, o fiz parar de caminhar e baixei meu rosto
na mesma altura que o seu, olhando diretamente em seus olhos e
tentando passar a máxima confiança possível.
— Você está indo para a minha casa, Timothy — expliquei de
maneira paciente — Isso significa que vai morar comigo e eu
cuidarei de você. Sou totalmente responsável por você, me
entende?
— Eu entendo inglês, Beatrice — Timothy falou com toda a
sua gloriosa inocência.
Apesar de na Ucrânia o idioma oficial ser o ucraniano, o pai
de Timothy era inglês, e ele falava o nosso idioma fluentemente,
mesmo que não tenha contato com o seu genitor há anos.
Yana me contou que eles haviam se separado quando
Timothy tinha apenas seus anos, e que desde então ela tinha
perdido todo o contato com o pai do seu filho.
Ele tinha saído de casa para viver um romance com uma
bailarina russa e nunca mais deu notícias, e Yana não fez questão
alguma de procurar pelo homem que a abandonou em troca de uma
aventura.
Mas Timothy sabe falar inglês e quando perguntei se ele me
entende, eu queria apenas saber se ele tinha a compreensão do
que estava realmente acontecendo ao seu redor.
— Eu sei que sim, Timothy — falei com um sorriso — E sobre
você ficar comigo, na minha casa? O que você acha sobre isso?
— Eu acho uma boa opção — ele responde com seriedade.
— Fico feliz em ouvir isso — eu digo com um sentimento tão
forte dentro de mim, que chega a se tornar uma dor física — Então,
podemos ir?
— Claro.
Sorri pela forma séria que ele usou para dizer aquilo e
voltamos a caminhar em direção ao novo lar de Timothy.
A primeira coisa que fiz ao chegar em casa foi levar Timothy
até o quarto que eu tinha pedido para que Janet organizasse para
ele.
— Ah! — Timothy exclamou com espanto ao olhar para o seu
novo quarto.
Janet tinha caprichado na decoração do quarto de hóspedes
da minha casa, e escolhido corujas, tapete e papel de parede em
tons de azul claro e azul escuro, com uma cama de solteiro coberta
por uma colcha com um tema de desenho infantil que eu sabia ser o
preferido do Timothy, tudo conforme eu tinha orientado a minha
amiga.
— Você gostou?
— É meu? — ele perguntou parecendo incrédulo — Esse é
meu quarto, Beatrice!?
— Sim, Timothy… é todo seu.
O pequeno se jogou em meus braços, em um abraço
apertado e que comprova o quanto ele ficou feliz com a surpresa.
Capítulo 44 – Um novo amor
Beatrice
Depois de voltar a Londres, agora de maneira definitiva, eu
passaria a trabalhar de casa, ao menos por alguns dias, conforme
tinha sido combinado entre Andrew e eu.
No período em que estive viajando constantemente a
trabalho, muitas coisas tinham acontecido, e várias dessas
mudanças foram para mim notícias maravilhosas. Entre elas, o fato
que agora Andrew tinha assumido o lugar de Joel Smith na direção
do jornal, pois o seu pai tinha decidido que era chegado o momento
de se aposentar, após tantos anos de trabalho.
Eu não poderia reclamar, Andrew é um chefe incrível e a
nossa relação de amizade se fortaleceu ainda mais agora que ele é
de fato o meu chefe, e aquela fagulha de romance que surgiu logo
que nos conhecemos, foi aos poucos se desvanecendo e agora nós
somos apenas amigos e nada mais que isso.
Então, quando falei com Andrew e contei o que estava
acontecendo em Budapeste e a surpreendente reviravolta que a
minha vida sofreu, ele me apoiou de maneira incondicional, e me
permitiu mesclar o meu trabalho presencial com o home office, da
maneira que fosse mais conveniente para mim.
— Você tem certeza de que é isso mesmo que você quer,
Beatrice? — ele tinha perguntado, quando liguei para contar sobre
os últimos acontecimentos — Deve pensar muito bem e analisar a
situação com todo cuidado.
— Eu tenho certeza, sim, Andrew — falei com toda a
convicção do meu ser — Nunca tive tanta certeza em toda a minha
vida.
— Eu fico muito feliz por você, então, e desejo que tudo
possa se resolver da melhor maneira possível — Sinto que há um
sorriso em seu rosto ao dizer isso — E acredito que não preciso te
abrir os olhos sobre todas as implicações dessa sua decisão,
correto?
— Meus olhos estão completamente abertos, acredite —
respondi com divertimento — Inclusive, meus olhos agora veem
uma criança linda, fazendo o seu desenho mais lindo, e isso é algo
que torna tudo mais fácil, acredite.
— Se você está feliz, então isso é tudo o que importa —
Andrew falou com um suspiro resoluto — Quero que saiba que pode
contar comigo para qualquer coisa. Eu estou ao seu lado nisto.
Após todo o tempo em que eu trabalhava com Andrew e toda
a nossa amizade, eu podia atestar que ele não estava falando aquilo
apenas da boca para fora, e um dia após o meu retorno para casa,
Andrew ligou para saber se estava tudo bem e se poderia me visitar,
pois estava ansioso para conhecer Timothy.
Aproveitei a oportunidade e o convidei para jantar comigo,
afinal, seria uma boa oportunidade para decidirmos alguns pontos
do meu trabalho e também para conversar com alguém em que eu
confio totalmente em suas opiniões.
Decidi que eu mesma iria preparar o jantar, algo mais
elaborado e como nunca fiz antes e para isso procurei na internet
algumas receitas tradicionais da nossa culinária e depois de
providenciar todos os ingredientes, coloquei a mão na massa,
literalmente.
Eu não sabia cozinhar, afinal, sempre houve empregados em
minha casa tanto antes do meu casamento quanto depois, e até
mesmo durante o tempo em que morei sozinha, sempre optei por
algo simples e de fácil preparo, mas eu estava obstinada a fazer
aquilo, a aprender a cozinhar verdadeiramente.
Agora tem uma criança em minha casa e não é saudável
estar sempre pedindo comida fora ou comer qualquer coisa rápida,
e Timothy precisa de uma alimentação balanceada e refeições
completas, e eu desejava fazer o meu melhor para aquela criança.
Passei toda a tarde concentrada em minha tarefa e precisei
então ficar a todo momento consultando vídeos na internet com o
passo a passo de todo o preparo dos pratos escolhidos para aquela
noite, mesmo que fosse apenas o Andrew que viesse.
— Pensei que estava cozinhando, Beatrice — Timothy
comentou, ao entrar na pequena cozinha da minha casa.
Eu estava agora sentada, assistindo a um vídeo em meu
celular, com os passos seguintes do cozido de carne que eu estava
preparando, enquanto a carne descansava em uma panela sobre a
mesa, já com todos os temperos.
Ao ver o pequeno entrar, pausei o vídeo e sorri para recebêlo.
— Eu estou cozinhando.
— Mas você estava assistindo! — ele apontou, parecendo
confuso.
— Estou tentando seguir o passo a passo da receita, pois
não sei cozinhar, Timothy — expliquei, indicando a cadeira ao meu
lado — Sente-se aqui. Você pode ser o meu ajudante, o que acha?
— A mamãe sempre me pedia para ajudá-la — ele disse com
um tom de voz cheio de tristeza, fazendo o meu coração revirar
dentro do peito — Mas ela não assistia vídeos para cozinhar.
— Ela não precisava ver vídeos, porque já conhecia a receita
— falei com um sorriso, tentando não chorar — Mas eu não sei. E
por isso estou tentando aprender, assistindo a vídeos e pegando
dicas de como cozinhar uma comida saborosa.
— Então, você não sabe mesmo cozinhar? — Timothy
perguntou com assombro.
A forma como o garoto perguntou aquilo conseguiu
descontrair o clima triste e acabei rindo de maneira espontânea.
— Não. Eu não sei cozinhar — confessei com um sussurro —
Mas é um segredo, só nós sabemos. Você não conta para ninguém?
Timothy também riu da maneira como eu disse aquilo e sua
expressão se tornou mais descontraída.
— Você não precisa ficar triste, Beatrice — ele tentou me
consolar — Eu também não sei fazer muitas coisas. Mas a mamãe
disse que nós não nascemos sabendo tudo. Ela sempre disse isso.
E que é normal não saber de tudo.
Foi difícil conter a onda de choro, e o meu telefone tocando
naquele momento foi algo providencial. Eu estava tentando não
chorar a cada minuto, precisava ser forte, afinal, agora tem alguém
que depende de mim e da minha força.
Retirei o celular do apoio no qual eu o havia posto e atendi a
ligação, vendo antes que se tratava de Abigail.
— Oi, Abigail! — a cumprimentei, fingindo um tom de alegria
que estava longe de sentir — Boa tarde!
— Boa tarde, Beatrice! — respondeu sorrindo — Acredito que
já esteja em Londres…
— Sim, estou em casa — confirmei — Cheguei ontem a
tarde. E você, continua conosco em Londres?
Abigail estava morando na casa do seu primo desde a sua
separação do Bailey e o escândalo envolvendo isso. Apesar de
evitar tocar no nome do Edward, ela deixava escapar uma
informação ou outra e até a última vez em que conversamos, soube
que ele ainda estava na Irlanda, enquanto Abigail continua cuidando
de sua casa.
— Sim, estou em Londres. E estou ligando para te convidar a
jantar comigo hoje a noite — ela revelou, me surpreendendo — O
que me diz?
Eu ainda não havia contado para todos sobre a adoção de
Timothy e que agora tenho um garoto de dez anos sob a minha
responsabilidade, mas o convite de Abigail me trouxe uma ideia
bastante agradável.
— Eu aceito a ideia do jantar, sim, Abigail — falei com um
sorriso — Mas gostaria de que fosse em minha casa.
Após alguns segundos de silêncio, Abigail volta a falar em um
tom delicado, provavelmente para não acabar me magoando.
— Mas você não sabe cozinhar, amiga — ela aponta de
maneira sincera — Não seria melhor um restaurante ou aqui em
casa?
O fato de ela me convidar para jantar em sua casa me dizia
claramente que Edward ainda não estava de volta a Londres e senti
um conhecido aperto em meu peito ao pensar sobre isso, mas logo
tratei de colocar essa sensação de lado e focar em coisas
importantes.
— Prefiro que seja em minha casa — eu digo em um tom que
não admite réplica — E sobre eu cozinhar ou não, talvez você tenha
uma surpresa.
Abigail deixou escapar uma sonora gargalhada com a minha
insinuação.
— Eu espero sinceramente que seja uma boa surpresa.
Agora foi a vez de nós duas cair na risada, enquanto Timothy
me encarava também com um sorriso em seu rosto infantil, mesmo
sem saber do que nós estávamos falando.
Após nos despedirmos e encerrar a ligação, me dei conta de
que não avisei para Abigail que haveria outra pessoa para o jantar.
Na verdade, seriam outras pessoas. Mas sobre Timothy eu
realmente pretendia fazer uma surpresa e contar apenas quando ela
estivesse frente a frente com o meu pequeno.
Mas sobre Andrew, bem, isso eu deveria ter avisado, pois
talvez ela não se sentisse bem em jantar com alguém que ela não
conhece, mas eu mandaria uma mensagem para avisar, pois ao
olhar a hora em meu celular, percebi que eu precisava me apressar,
afinal, eu tenho um jantar para preparar.
— E então, Timothy? Será meu assistente? — falei em tom
de brincadeira para o menino sentado ao meu lado.
— Eu posso tentar ajudar, mas eu não sei se serei um bom
assistente, Beatrice — ele diz em um tom de dúvida.
— É claro que você será um bom assistente — eu tento
animá-lo — O melhor assistente que eu poderia ter!
Olhar para o pequeno Timothy e ver aquela tristeza em seu
rosto me faz desejar o abraçar sempre e é exatamente isso o que
eu faço naquele instante. O puxei para um abraço apertado e depois
o afastei apenas o suficiente para o encarando com um sorriso de
compreensão.
— Somos amigos e somos parceiros — digo com sinceridade
— E sempre estaremos juntos em tudo… e cozinhar juntos faz parte
disso.
Timothy abre um sorriso, um lindo e brilhante sorriso em
resposta às minhas palavras.
— Nós somos como uma dupla, é isso, Beatrice? —
pergunta.
— Sim! Isso mesmo – confirmei — Somos uma dupla de
parceiros e amigos, e nunca vamos nos separar. Certo?
— Certo!
Capítulo 45 – Um encontro de amigos
Beatrice
Por mais incrível que isso pudesse parecer, todos os pratos
que fiz para o jantar ficaram aparentemente divinos e eu estava
muito feliz com o resultado da minha empreitada culinária, assim
como o pequeno Timothy, que sorria feliz e satisfeito com o nosso
trabalho conjunto.
— Nós somos uma dupla muito boa, Beatrice!
— Somos mesmo — concordei, enquanto estávamos pondo
a mesa de jantar.
O clima tinha melhorado muito desde o momento que
resolvemos nos dedicar a preparação do jantar, pois até então, a
tristeza era algo palpável e bastante compreensível, afinal, fazia
poucos dias desde que Timothy tinha perdido a sua mãe.
Eu também não conseguia esquecer o que aconteceu, e
apesar do pouco tempo em que convivi com Yana, sua perda
também é algo bastante doloroso para mim e a todo momento eu
relembrava do nosso último encontro e do seu pedido desesperado
para que eu cuidasse do Timothy.
Mas era melhor colocar aquelas recordações ainda amargas,
ainda estava tudo muito recente e as lembranças eram dolorosas
demais ainda.
— Sua ligação acaba de me deixar um pouco preocupada…
— digo em tom leve — Ou trata-se apenas de uma ligação de
cortesia?
Janet entende a minha tentativa de piada e entra na
brincadeira.
— Não deve se preocupar, trata-se apenas de uma ligação
de cortesia mesmo — ela logo me tranquiliza — Queria apenas
saber como está e como está sendo a adaptação de Timothy.
— Ah, fico feliz em saber que está tudo bem e ainda mais
feliz com a sua preocupação com Timothy — a campainha toca
nesse momento — Só um momento, Janet…
Timothy percebe que pretendo me levantar para atender a
porta e logo fica de pé.
— Eu posso atender a porta, Beatrice — ele se oferece.
— Não acho uma boa ideia, Timothy…
Por mais que eu estivesse esperando visitas, não
considerava adequado ou seguro que uma criança atendesse a
porta e preferi encerrar a chamada com a minha amiga e ir eu
mesma atender a porta.
Apesar do meu aviso, Timothy saiu correndo em direção ao
hall de entrada.
— Não corre, Timothy! — o repreendi o mais gentilmente que
pude — Você pode se machucar.
Ele me atendeu de imediato, e me olhou com expressão
culpada, se desculpando logo em seguida, mas não parecia
chateado, algo que eu temia, afinal, aquela era a primeira vez que
eu chamava a sua atenção.
— Está tudo bem — eu falei, em resposta ao seu pedido de
desculpas.
A campainha tocou mais uma vez, sem que eu tivesse saído
ao menos do lugar e fiquei me sentindo dividida entre três pessoas
ao mesmo tempo e decidi voltar a ligação.
— Desculpa, Janet. Vou precisar desligar — falei, me
sentindo envergonhada.
— Está esperando visitas? — Janet perguntou ainda assim, e
caminhei até o hall, com o celular ainda no ouvido — Ouvi a
campainha tocar…
— Convidei Abigail e Andrew para jantarem comigo —
expliquei, já em frente à porta, abrindo-a e me deparando com a
Abigail.
— Você convidou Andrew e Abigail!? — Ela perguntou,
parecendo bastante espantada.
— Mas eu não pude questionar o motivo de tamanho
espanto, pois tinha acabado de indicar com um gesto que Abigail
deveria entrar, enquanto tentava me despedir de Janet, da maneira
mais gentil que conseguisse.
— Janet, eu realmente preciso desligar…
— Eles já chegaram?
— Estou olhando para a Abigail nesse instante.
Abigail atendeu ao meu pedido silencioso e entramos juntas,
caminhando até a sala de estar, onde nos aguardava Timothy, que
ainda estava de pé no centro do cômodo.
Janet parece soltar um profundo suspiro e se despede com
um “me chama quando suas visitas forem embora”.
— Um beijo pra você também — digo com um sorriso, antes
de finalmente encerrar a chamada.
Olhei com estranheza para o telefone, sem conseguir
entender o motivo de todo o espanto da Janet por eu ter convidado
os meus amigos para jantar em minha casa, e diferentemente de
Abigail, ela não se surpreendeu devido aos meus dotes culinários,
eu tinha absoluta certeza.
— Desculpe-me Abigail — falei para uma Abigail sorridente e
a cumprimentando com um rápido abraço.
— Não se preocupe, eu entendo que Janet deve estar
ansiosa para conversar, agora que você está de volta a Londres.
Apesar de estar tentando prestar atenção em mim, estava
nítido que Abigail estava também bastante curiosa sobre o Timothy
parado ao meu lado e logo tratei de responder ao questionamento
mudo em seu olhar.
— Eu quero que conheça uma pessoa muito importante,
Abigail — falei, sorrindo para Timothy e segurando em sua mão para
que ele ficasse ao meu lado — Esse rapazinho aqui chama-se
Timothy e eu recebi o privilégio de ser a pessoa responsável por ele
agora.
Foi notável a surpresa estampada no rosto de Abigail, mas
que foi convertida rapidamente em um sorriso de felicidade, que
espelhava o que eu mesma tinha no meu e apesar de saber que as
circunstâncias que nos levaram ao estado atual de coisas não
tinham sido nada agradáveis, muito pelo contrário, foi extremamente
dolorosa, eu não quero ficar a todo tempo lembrando o Timothy da
tragédia que aconteceu em sua tão curta vida.
— Oi, Timothy — ela o cumprimentou, baixando-se para ficar
na mesma altura do meu pequeno — Fico muito feliz em te
conhecer.
Depois desse primeiro momento, que eu considerava como
sendo o mais difícil para Timothy, a conversa fluiu normalmente e a
Abigail fez várias perguntas sobre ele, e usando de muito tato,
falamos sobre o que aconteceu com Yana.
Abigail também falou algumas palavras de conforto e quando
percebemos que ele estava prestes a chorar, ela pediu-lhe para ver
suas revistas em quadrinhos, quando Timothy contou sobre o
presente que eu o tinha dado.
Por mais que fosse difícil falar, era necessário não tratar
aquilo como um assunto proibido e tentar esclarecer qualquer
dúvida que existisse sobre a situação toda e não fingir que nada
daquilo tinha acontecido.
Timothy foi buscar as revistas ao mesmo tempo que a
campainha voltou a tocar, e eu fiquei de pé rapidamente, para evitar
a demora com que eu tinha atendido a Abigail.
— Você espera mais alguém para o jantar? — Abigail
perguntou com curiosidade e senti que até mesmo um pouco de
apreensão.
— Sim — confirmei com um sorriso alegre, pois estava feliz
em ter meus dois amigos comigo — Esqueci de avisar, me
desculpe. Espero que não se importe.
Mas acabei não contando exatamente de quem se tratava,
pois a campainha soou novamente e eu me apressei para atender.
Mas quando voltei a sala de estar, a Abigail já estava de pé,
aguardando por meu retorno e o seu olhar horrorizado ao ver
Andrew me deixou totalmente confusa.
Olhei para Andrew, pretendia pedir desculpas, e a sua
expressão não era melhor que a da Abigail e aquilo me deixou ainda
mais intrigada.
O que estava acontecendo entre os meus amigos? Eu não
estava entendendo nada!
— Desculpe-me, Beatrice, mas não poderei jantar com você
esta noite — Andrew falou, parecendo bastante contrariado —
Depois conversamos melhor.
— Você não precisa ir embora dessa forma — Abigail falou,
parecendo ainda mais contrariada que o meu amigo — Eu mesma
me retiro.
Abigail pegou a sua bolsa, parecendo realmente disposta a ir
embora daquela forma.
— Você fica, afinal, é amiga de Beatrice — a palavra amiga
pareceu amarga na boca de Andrew — Eu me recuso a estragar a
noite de Beatrice, uma vez que ela pretende manter a amizade entre
vocês.
Andrew já estava prestes a sair pelo mesmo lugar que tinha
acabado de entrar, quando eu o impedi de continuar a sua
pretensão.
— Espera aí! — falei de maneira enérgica — O que está
acontecendo aqui? Eu não estou conseguindo entender nada e não
vou ficar neste impasse sem saber o que está se passando entre
vocês.
Os dois pareciam duas crianças, cruzando os braços e se
encarando com nítida irritação.
— Acredito que a única pessoa que pode esclarecer tudo é a
sua amiga — Andrew foi o primeiro a se pronunciar — Afinal, ela
tem muito a dizer sobre tudo o que aconteceu durante os meses que
você passou viajando a trabalho, não é mesmo, Abigail?
Capítulo 46 – Um novo casal
Beatrice
Apenas naquele momento, ao me deparar com o clima
extremamente tenso entre Abigail e Andrew em minha sala de estar,
consegui entender o que Janet tinha tentado me dizer, mas em
minha ânsia de atender a porta, acabei não permitindo.
— Vocês podem me explicar o que está acontecendo entre
vocês dois? — voltei a insistir — Nós somos todos adultos e
acredito que o diálogo sempre é a melhor opção.
Andrew passou a mão pelo rosto, como se estivesse
cansado, trazendo o mundo nas costas, mas acabou sentando-se
em meu sofá e até mesmo convidando Abigail a fazer o mesmo, ao
indicar o lugar ao seu lado.
— Beatrice tem razão, Abigail — ele disse, e agora a sua
expressão estava bem mais carinhosa que antes — Nós precisamos
conversar, de verdade, e esse é um ótimo momento para isso.
Apesar de estar bastante curiosa em saber como foi que
Abigail e Andrew chegaram àquele ponto, sem que eu nem mesmo
soubesse que eles ao menos se conheciam, eu cheguei a conclusão
de que eles precisavam realmente de algum tempo a sós para
conversar, se entender primeiramente e só então, eles poderiam me
contar como se conheceram e toda a história por trás disso.
— Eu vou deixar vocês conversarem a sós — eu comuniquei
aos meus amigos — Depois que tudo estiver mais claro para vocês,
aí sim, podem me dizer tudo, mais calmamente.
Abigail me encarou com um olhar resignado e parecendo até
mesmo um pouco envergonhada, mas como não houve nenhum
protesto de ambas as partes, caminhei até o quarto do Timothy,
onde o garoto ainda estava desde que saiu para buscar as suas
revistas em quadrinhos para mostrar a minha visitante.
Ao chegar lá, constatei que Timothy de fato ainda estava
sentado em sua cama, rodeado por várias revistas em quadrinhos,
parecendo bastante indeciso. Só naquele momento eu me dei conta
de que talvez tenha exagerado um pouco na quantidade de revistas
que comprei para o garoto.
Pensando bem, da próxima vez em que a gente fosse às
compras, eu não aceitaria trazer tudo aquilo que ele gostasse, pois
aquela não era uma atitude muito sábia, quando se pensava na
questão de educar uma criança da maneira correta.
— O que está fazendo, querido?
— Estou aqui tentando decidir qual a minha revista preferida,
para mostrar a sua amiga Abigail — Havia um sorriso de desculpas
em seu rosto infantil.
— Ah, só agora entendi o motivo de toda a sua demora em
voltar para a sala — tentei brincar, me sentando ao seu lado na
cama.
— A sua amiga já foi embora, Beatrice?
– Ainda não, nem mesmo jantamos ainda, Timothy — falei
sorrindo — Mas nós vamos ficar um pouquinho aqui, no seu quarto,
até que você consiga decidir qual a sua revistinha favorita.
Aquela foi uma ótima desculpa para manter Timothy no seu
quarto por alguns minutos, enquanto Abigail e Andrew conversavam
na minha sala de estar, e apenas quando o garoto apontou qual a
revista que ele mais gostava, foi que decidimos voltar para onde
estavam os meus amigos.
Eu esperava ardentemente que aquele tempo tivesse sido o
suficiente para que eles se entendessem e quando chegamos lá,
Timothy e eu, percebi que tudo já parecia bem mais tranquilo que
antes, e o clima estava tão ameno, que os dois estavam até mesmo
sorrindo um para o outro. Eu diria até mesmo que havia um clima de
romance no ar.
— Tudo bem? — a pergunta foi apenas por desencargo de
consciência.
— Sim, está tudo bem — respondeu Abigail.
Suspirei aliviada e apresentei Timothy ao meu amigo, que ele
ainda não tinha visto desde que chegou.
— E então, Timothy? Onde estão as suas revistinhas?
Timothy logo se animou, sentando-se entre Abigail e Andrew,
que sorriam para o pequeno com entusiasmo pela maneira alegre
com que ele falava sobre os seus desenhos favoritos, parecendo
estar verdadeiramente interessados no assunto.
O jantar transcorreu no mesmo clima, e depois que todos
saímos da mesa, pedi licença aos meus amigos e fui colocar o
Timothy na cama, só depois voltando a sala, já com o café
prontinho.
— E então? — fui logo dizendo ao entrar na sala novamente
— Quero que vocês contem para mim o que aconteceu em Londres
enquanto eu viajava pelo mundo?
Andrew foi o primeiro a se pronunciar e contou todos os
detalhes de como ele e Abigail tinham se conhecido no clube,
quando ele estava almoçando com alguns amigos, enquanto Abigail
estava com a Janet, que acabou sendo a ponte de ligação entre o
casal.
Alguns dias após se conhecerem, eles já deram início a uma
relação bastante próxima, mas o fato não agradou nenhum pouco
ao Edward, que quando descobriu que a prima estava se
encontrando com Andrew, imediatamente foi se queixar da relação e
pedir que ela não mais se encontrasse com o seu rival, segundo as
palavras dele.
— Como você sabe muito bem, Beatrice, o meu primo me
apoio bastante em um momento extremamente delicado da minha
vida — Abigail tentou mostrar o seu lado da história — E eu não
desejava bater de frente com Edward, pois seria muita ingratidão da
minha parte fazer tal coisa com alguém que me ajudou tanto.
— Eu entendo, Abigail — falei com sinceridade.
— Mas eu não gostei nenhum pouco que a Abigail
terminasse comigo apenas porque o seu primo estava contra a
nossa relação — foi a vez de Andrew desabafar.
— Mas também havia um outro fator importante demais para
mim — Abigail acrescentou, me olhando atentamente — E diz
respeito ao relacionamento que teve com Andrew, Beatrice. Eu tinha
dúvidas se houve, ou não, algo de mais sério entre vocês, como
Edward deixou bastante claro.
A confissão de Abigail me pegou completamente de surpresa,
pois jamais eu poderia imaginar que tudo isto estava acontecendo
em Londres, pois ninguém me contou nada sobre isso e fiquei
momentaneamente sem fala, até mesmo com o que ela tinha
acabado de dizer sobre o meu ex-marido.
— Eu deixei claro para Abigail que nada aconteceu entre nós
dois, Beatrice — Andrew me tranquilizou — Mas ainda assim, ela
tinha medo de que você pudesse ficar chateada, ao saber sobre nós
dois.
Sorri para a minha amiga, segurando a sua mão e tentando
passar toda a sinceridade daquilo que eu iria dizer.
— Não deveria ter se preocupado com isso, Abigail — eu
falei — Na verdade, se eu soubesse do que estava acontecendo, eu
mesma teria dito que não havia motivos para que você temesse
qualquer reação de minha parte, que não fosse a alegria por vocês
dois estarem juntos.
— É claro que vocês dois estão certos — Abigail reconhece
com um tom de pesar nítido — Acredito que Edward estava ainda
tomado pelos ciúmes de você, Beatrice, e acabou me envenenando
também.
— Mas não deve ficar triste, afinal, o mais importante é que
agora vocês estão conversando e se entendendo e tudo vai ficar
bem — eu digo com animação genuína — Não é mesmo?
Eu estava realmente muito feliz por meus amigos. Saber que
eles estavam juntos me deixou além de feliz, também bem menos
culpada, pois eu gostava verdadeiramente do Andrew, mas apenas
como um bom amigo, e como ele tinha se provado um homem bom
e gentil, no fundo eu sentia um pouco de remorso por não ter
conseguido corresponder aos seus sentimentos, logo que nos
conhecemos.
— Eu sei que não é realmente da minha conta — brinquei —
Mas quero saber mesmo assim… agora que vocês conversaram e
estão se entendendo… pretendem ficar juntos ou será apenas uma
bela amizade?
— Eu quero ficar com o Andrew e ele também me quer —
Abigail disse com convicção — Então não há motivos para que
fiquemos longe um do outro, não é mesmo, meu amor?
— Claro que sim — Andrew concordou prontamente, os dois
trocando um olhar apaixonado.
— Então não deve se deixar levar por aquilo que o Edward
possa dizer, Abigail — tentei abrir os olhos da minha amiga — Ele
deseja controlar a vida de todos à sua volta. É algo que faz parte da
personalidade de Edward.
— O Edward mudou muito, Beatrice — Abigail comenta com
alegria — Está um outro homem e tenho certeza de que ficará feliz,
agora que aprendeu que o amor é tudo o que realmente importa.
Ouvir que Edward tinha aprendido sobre o amor me levou a
uma interrogação desagradável. Será que ele tinha se apaixonado e
agora já estava com um novo amor? Quem seria a pessoa
responsável por mostrar para Edward as coisas verdadeiramente
importantes na vida?
Eu não deveria estar pensando no meu ex-marido, mas
aquilo se tornou particularmente difícil após aquele comentário
misterioso da Abigail, e agora, após mais de um ano sem que eu
conseguisse me manter distante de Londres e de Edward, eu mal
consegui dormir naquela noite, pensando onde ele estava e o que
estaria fazendo.
Quem era a mulher responsável por tão drástica mudança de
Edward? Seria novamente a Louise? Afinal, na noite em que nos
encontramos no restaurante, ela estava solteira e bem-disposta a
reconquistar o seu ex-namorado.
Ou ele estava novamente com a Mila Durant?
Também poderia se tratar de alguma outra, alguém que ele
conheceu nesse um ano em que estamos distantes, afinal, ele é um
homem livre…. ou melhor dizendo, quase livre. Nós ainda não
tínhamos assinado os papéis do divórcio…
Capítulo 47 – Longe um do outro
Edward
Olhei em torno do restaurante sofisticado e repleto de
pessoas conversando alegremente entre si, todas parecendo estar
se divertindo, felizes com a companhia um dos outros. Menos eu.
— E ela se vestia muito mal, mon cher [1]— A mulher à minha
frente continuou com o seu monólogo interminável — Eu não
consigo nem mesmo imaginar onde ela comprova todas aquelas
roupas horríveis e démodé[2]
.
Levo a mão até a taça de vinho, já quase vazia, eu já tinha
tomado algumas naquela noite, e levei o cristal mais uma vez até os
lábios, sedento.
Apenas o vinho era capaz de me fazer suportar todas as
coisas que saiam da boca de Louise desde que ela se sentou à
minha frente naquele restaurante.
— Você se lembra daquela sua colega de quarto na
faculdade?
Admirei o fato de que ela estivesse enfim me fazendo a
primeira pergunta da noite e estava prestes a dizer que lembrava
vagamente da garota com quem dividi um quarto por algumas
semanas quando estudei em Paris, mas ela não esperou que eu
pudesse fazer isso.
— Ela usava aquele pulôver horrible[3]! — o monólogo
continuava — Ela usava aquela peça com tudo. Você lembra?
Mais uma vez eu não pude responder, pois Louise falava
apenas para si mesma e eu continuei me embebedando cada vez
mais também.
Como eu pude acreditar que um dia eu a amei? Louise era
extremamente fútil e desagradável, mas eu só estava me dando
conta disso agora, anos depois.
E pensar que não apenas eu acreditei nessa ideia ridícula,
como também a Beatrice acreditou nisso, me deixa triste e infeliz.
Eu não soube aproveitar o meu casamento, como também
não soube recuperar o amor da minha esposa e agora estava
pagando muito caro por isso.
Um ano distante de Londres e distante de Beatrice me
fizeram ver todas as coisas com mais clareza e agora eu me
perguntava se ainda poderíamos ser felizes juntos. Se ainda havia
alguma chance para nós.
— Veja quem está chegando, Edward — Louise chamou a
minha atenção.
Eu não me movi, nem olhei para a direção indicada de
maneira discreta por ela, pois com certeza ela estaria falando sobre
alguém que seria irrelevante para mim, mas que por algum motivo
ela quer apontar os atentados a moda que esta pessoa estaria
cometendo.
Essa era a segunda vez que em um ano que eu aceitava
acompanhar Louise para um jantar, e como aconteceu da outra vez
em que estivemos juntos, eu gostaria de estar fazendo qualquer
outra coisa, ao invés de estar sentado naquela cadeira, ouvindo-a
falar mal de outras pessoas de maneira incessante e totalmente
descortês.
— Ela se veste muito mal — comentou Louise — Não
entendo como um homem de tão bom gosto pôde ser casado com
essa mulher sem graça.
Eu não estava prestando atenção ao que Louise dizia,
perdido em meus próprios pensamentos. Só tinha aceitado aquele
jantar por não desejar ficar em casa, relembrando o fato de que hoje
é o aniversário de Beatrice. Mais uma aniversário em que eu não
posso a parabenizar pessoalmente, dar-lhe um beijo e desejar que
possamos ficar muitos anos juntos.
Mas decisões precipitadas e muitos erros cometidos tinham
causado a nossa separação e agora só me resta aceitar que não há
mais nenhuma chance de ficarmos juntos.
Beatrice está vivendo um excelente momento em sua vida,
exercendo com grande talento e perspicácia a sua tão sonhada
profissão de repórter internacional e Londres não era um lugar no
qual poderia se encontrá-la facilmente.
Esse foi o motivo que me fez retornar para Londres no dia
anterior e aceitar sair com Louise foi um erro levado pelo desespero
de esquecer que hoje eu não estaria com a mulher que realmente
amo e com quem gostaria de estar.
Um grande erro, eu repeti em pensamento, ao olhar para
Louise e prometi a mim mesmo que aquela seria a última vez que
eu cedia a insistência dela para sairmos juntos, pois estava claro
que nem mesmo bons amigos nós poderíamos ser.
— Mas não vamos mais falar sobre o passado — A encarei
um pouco confuso ao ouvir a referência ao passado naquele
momento — Acredito que esse seja um bom momento para nos
darmos uma outra oportunidade, Edward…
Bem, agora ela tinha toda a minha atenção e entendi que era
chegado o momento de deixar bastante claro para Louise que não
há a menor chance de que venhamos a nos envolver novamente,
nem mesmo com amantes.
Eu não a suporto, este é um fato incontestável.
Beatrice
Eu não podia acreditar em meus olhos, mas eles jamais me
enganariam daquela maneira. O homem sentado à mesa do
restaurante no qual acabei de chegar para jantar com Timothy era
sim, Edward.
A mulher com ela era inconfundível, pois sua postura
aristocrática e nariz sempre em pé eram característicos da mulher
com quem Edward teve um relacionamento e que nunca conseguiu
superar o término e o fato deles estarem jantando juntos, mais de
quatro anos depois, dizia muito sobre isso.
— Porque ficou tão triste de repente, Beatrice?
Olhei para o garoto ao meu lado, responsável pela pergunta
bastante precisa sobre a situação e me senti um pouco culpada por
ter deixado transparecer os meus sentimentos em uma noite que eu
desejava que fosse apenas comemorativa.
— Foi um pequeno mal-estar — menti, descaradamente e a
pontada de culpa só aumentou — Mas já estou melhor, não se
preocupe.
Timothy ficou me olhando com atenção, provavelmente na
tentativa de analisar se eu estava mesmo me sentindo melhor, como
eu tinha acabado de dizer. Apesar da pouca idade, Timothy é um
garoto extremamente atencioso e sempre disposto a ajudar
qualquer pessoa que ele considere que precisa.
Os horrores da guerra o tinham tornado uma criança bastante
sensível, essa era a minha opinião.
— Vamos pedir o nosso jantar e você pode escolher qualquer
uma das sobremesas dispostas no cardápio.
— Não vamos esperar Andrew e Abigail?
Eu tinha esquecido completamente do casal de amigos que
eu havia convidado para jantar conosco em comemoração ao meu
aniversário, tão atordoada me sentia por ter encontrado justamente
o meu ex-marido naquele restaurante.
Quando os meus amigos chegaram, alguns minutos depois, a
primeira coisa que fizeram foi me encarar com uma expressão de
dúvida, como se estivessem me perguntando se estava tudo bem e
se eu gostaria de ir para outro lugar, pois os dois permaneceram de
pé ao lado da mesa por alguns instantes.
— Está tudo bem — falei e só então eles sentaram-se.
Evitei o assunto, conversando animadamente sobre qualquer
outra coisa, na tentativa de que eles não me perguntassem aquilo
novamente e de maneira mais direta. Eu não tinha certeza se
poderia repetir que estava tudo bem. Porque não estava nada bem!
Louise estava segurando a mão de Edward sobre a mesa, de
uma maneira íntima demais e aquilo estava me machucando de
uma maneira extremamente dolorosa. Eu ainda o amava? Ou aquilo
era apenas ego ferido, por ele estar novamente com a mulher que
sempre detestei, por acreditar que ele a amava, e não a mim, a sua
esposa?
Os meus amigos perceberam que eu não desejava falar
sobre aquela coincidência absurda, pois o assunto girou em torno
das mais variadas coisas, e Timothy participou ativamente de nossa
conversa. Andrew fazia questão de sempre o questionar sobre
vários assuntos, todos adequados para a sua idade, como esportes
e filmes de super-heróis, assim como revistas em quadrinhos.
Estava tão perdida em meus pensamentos, mas sempre
tentando fingir que estava tudo bem, que nem mesmo me dei conta
de que Abigail estava me encarando de maneira atenta, até que ela
segurou em minha mão com discrição e falou algo que despertou a
minha curiosidade de imediato.
— Desculpe-me — ela pediu.
Mas qual o motivo que a levaria a me pedir desculpas? Não
havia acontecido nada, que eu me lembrasse, algo que tentei
duramente fazer, puxando todas as minhas lembranças recentes,
mas nada me vinha à memória, pois a única coisa que poderia
causar mal-estar entre nós duas, estava sentado de costas, a
poucas mesas de distância de nós.
Aquele fato e o pedido de desculpas repentino de Abigail
rapidamente me levaram a uma conclusão nada agradável.
— Você sabia que Edward estaria aqui nesta noite?
— Eu só estava tentando ajudar… — esclareceu Abigail com
uma voz nitidamente triste — Eu não sabia que ele estava vindo
jantar com essa… mulher.
Respirei profundamente, pois aquela atitude foi bastante
irresponsável, mesmo que a Abigail tivesse a melhor das intenções.
— Acreditei que se vocês se encontrassem, talvez…
Abigail estava errada e sua tentativa de colocar Edward e eu
no mesmo ambiente foi completamente frustrada.
— Eu gostaria de ir ao banheiro, Beatrice — Timothy falou
discretamente, apenas para que eu ouvisse.
— Claro — concordei rapidamente — Vamos.
Pedimos licença aos meus amigos, depois eu falaria melhor
com Abigail, e caminhamos em direção ao corredor que levava aos
banheiros do restaurante, e ao passarmos próximo à mesa onde
Edward estava, fiz absoluta questão de que ele me visse, algo
bastante infantil da minha parte, mas que eu não consegui evitar
fazer.
O corredor onde eu já sabia que havia a opção para as
crianças era extenso e os banheiros ficavam no fim dele, e como
Timothy já é grandinho e consegue usá-lo sem auxílio, fiquei
aguardando do lado de fora, enquanto isso.
— Vejo que já está de olho no Edward de novo…
Todo o meu corpo ficou tenso ao ouvir a forma asquerosa
com que a voz conhecida de Louise disse aquilo e quando ela ficou
à minha frente, senti verdadeiro nojo da maneira extremamente
venenosa e cheia de ódio com que ela me olhava.
Capítulo 48 – Uma mulher falsa e dissimulada
Beatrice
Quando decidi sair para jantar com meus amigos para
comemorar o meu aniversário, a última coisa que eu imaginei para
aquela noite é que eu estaria no mesmo restaurante onde o meu exmarido estava jantando com a mulher por quem ele parece sempre
ter sido apaixonado.
Mas aquilo estava passando de todos os limites do aceitável.
— Eu não lhe devo satisfações sobre a minha vida — falei
com arrogância extrema — E nem mesmo a conheço realmente,
para que você venha até onde estou apenas para me insultar desta
maneira!
A outra mulher sorriu cinicamente, sem parecer se incomodar
nenhum pouco com as minhas palavras.
— Porque não assume que está aqui para tentar chamar
atenção de Edward? — ela continuou com os seus insultos.
— Porque eu faria algo assim? — Eu também sabia sorrir
com sarcasmo e o fiz da melhor maneira possível — Está
terrivelmente enganada.
— Não seja tão dissimulada, Beatrice — ela não desistiu e
prossegue com seus delírios de perseguição — Está em companhia
de Abigail, a prima dele, eles moram na mesma casa. Não me diga
que ela não contou para você que ele estaria aqui hoje e por isso
você escolheu justamente o Georgio ‘s como a opção desta noite.
Era ultrajante a maneira como aquela mulher estava
simplesmente me afrontando daquela maneira, sem que eu tivesse
a provocado de maneira alguma. Não era suficiente que estivesse
com o Edward? Ela não estava satisfeita com isso e precisava vir
falar comigo apenas para me ofender com suas especulações?
— Eu não sabia que Edward estaria aqui hoje e jamais teria
vindo se soubesse — Não consegui me conter em deixar aquilo
claro — E se a minha presença te incomoda ao ponto de vir me
afrontar nos corredores do restaurante. é bem simples de se
resolver, você só precisa ir embora com o seu… acompanhante.
A minha vontade era de ter dito amante, afinal, para o bem ou
para o mal, Edward e eu ainda somos oficialmente casados, o que
tornava qualquer mulher que se envolvesse de maneira amorosa
com ele, apenas isso, uma amante.
— Você não pode me mandar embora do restaurante,
Beatrice — ela disse em um falso tom de espanto.
Eu pretendia contestar as suas palavras, afinal, não foi
exatamente aquilo que eu havia acabado de dizer, mas fui impedida
pela chegada surpreendente e repentina de Edward.
— O que está acontecendo aqui? — perguntou o recémchegado, olhando de maneira inquisitiva para nós duas.
A expressão de Louise já tinha mudado de maneira drástica
apenas alguns segundos antes da chegada de Edward, o que me
leva a acreditar que ela percebeu a sua aproximação e por isso
tinha mudado a sua entonação e tentava agora virar a situação ao
seu favor, mas eu não iria perder meu tempo tentando provar nada
para ninguém.
O fato de Timothy ter saído do banheiro naquele momento foi
algo bastante oportuno, pois não havia mais motivo algum para que
eu permanecesse perto do casal perfeito e que parecem ter sido
feitos um para o outro, por suas artimanhas.
— São seus amigos, Beatrice? — o garoto perguntou de
maneira inocente, ao me ver “conversando” com as duas pessoas
paradas ali.
— Não, Timothy — falei, e não estava mentindo de maneira
alguma — Vamos.
Não esperei por nenhuma reação da parte deles e caminhei
junto com o Timothy de volta ao salão principal do restaurante, onde
Abigail e Andrew aguardavam por nós.
— Aconteceu alguma coisa no banheiro? — Abigail
perguntou baixinho — Parece um pouco abalada.
— Nada que valha a pena comentar — desconversei.
Depois que voltamos do banheiro, fiquei atenta a outra mesa,
mas não os vi voltar para o salão e concluí que deveriam ter pagado
a conta e partido, após o encontro indesejado e totalmente
desnecessário no corredor.
Mas a cena não saia da minha cabeça e a todo momento eu
relembrava da expressão com que Edward se aproximou de nós e
aquilo me deixava extremamente irritada, pois tinha certeza de que
aquela mulher falsa e dissimulada seria capaz de inverter
completamente a situação e fazer com que ele acreditasse que fui
eu a dar início aquele confronto e ridículo.
O restante do jantar transcorreu de maneira tranquila e
quando saímos do restaurante, eu optei por ir de táxi, pois pelo
avançado da hora, não desejava voltar para casa de metrô, e
quando chegamos em casa, logo percebi que havia um carro
desconhecido parado em frente.
Senti um leve temor, ao suspeitar de que poderia ser alguém
com más intenções somente à espreita de alguma vítima
desavisada, algo que era bastante plausível, mas a minha
apreensão rapidamente foi substituída por um frio na barriga, ao
reconhecer o homem encostado ao veículo.
— Edward!? — perguntei com espanto.
— Gostaria de falar com você, Beatrice — disse Edward com
a expressão estranhamente atormentada — Preciso explicar o que
você viu no restaurante.
Eu sorri pela audácia dele de ainda tentar se justificar,
mesmo que eu tenha visto com os meus próprios olhos e isso é algo
incontestável, mas não pretendia ficar discutindo aquilo no meio da
rua e por conhecer o Edward muito bem, entendi que era melhor
entrar e conversar aquilo dentro de casa.
O convidei a entrar e logo que estávamos na sala, eu ainda
nem mesmo tinha retirado o gorro e as luvas do Timothy e de mim,
quando Edward repetiu a mesma coisa que disse lá fora, o que
provava que ele estava ansioso e tenso demais para esperar que eu
estivesse pronta para conversar.
— Você não me deve satisfações, Edward — falei com um
sorriso sem humor — Nós não estamos juntos e você é livre para
fazer o que desejar. E isso inclui jantar com a mulher que você
sempre amou.
Eu gostaria de poder voltar no tempo e engolir aquelas
palavras, mas era tarde demais. Eu tinha deixado escapar o quanto
aquela cena me incomodou, algo que eu não pretendia fazer de
maneira alguma.
— Eu não amo Louise — ele protestou com tanta convicção,
que senti o meu coração disparar no peito de maneira louca — E
nós ainda somos casados, Beatrice.
Aquela declaração chamou a atenção de Timothy de
imediato, que estava segurando em minha mão, e o garoto
arregalou os olhos com visível surpresa e não conseguiu conter a
sua curiosidade infantil, e por mais que ele soubesse que aquela
não era uma conversa apropriada para ele, acabou não
conseguindo se conter.
— Esse homem é seu marido, Beatrice? — perguntou
Timothy com visível espanto — Eu não sabia que você era casada!
Não foi possível conter a risada perante a maneira com que
Timothy disse aquilo e até mesmo Edward sorriu junto comigo, pela
inocência nítida do pequeno, e até mesmo se abaixou um pouco, de
maneira a ficar no mesmo nível do garoto e depois de o encarar
com bastante atenção, decidiu mudar um pouco o principal foco da
sua presença ali, ou ao menos adiar.
— Nós somos casados, mas no momento estamos distantes
um do outro — Edward confirmou — O meu nome é Edward
Maddock e como você se chama, pequeno?
— Sou Timothy e a Beatrice é a minha nova mamãe.
A maneira com que Timothy disse aquelas palavras me
deixou instantaneamente emocionada e sensível aquele ainda é um
assunto bastante doloroso, pois a perda de Yana é ainda muito
recente e eu estava tentando com todas as minhas forças manter a
compostura e ajudar aquele garoto tão especial para mim a superar
aquele momento difícil.
Mas me manter impassível quando o assunto voltava à tona
daquela maneira, era quase impossível e mais difícil ainda era para
mim conter o choro e foi preciso que eu levantasse o rosto de
maneira discreta, para não deixar as lágrimas escorrerem por
minhas faces.
Edward me encarou com uma pergunta em seu olhar, mas
para meu alívio, ele não comentou nada nem fez nenhuma pergunta
naquele momento, restringindo a sua atenção totalmente ao
Timothy.
— Fico muito feliz em saber que você tem uma mamãe como
Beatrice — ele falou de maneira alegre — Ela é a melhor pessoa
que eu já conheci, você sabia disso?
— Eu também gosto muito da Beatrice — Timothy disse em
um tom baixo, como se aquele fosse um segredo — Ela é muito boa
comigo.
Eu considerei que aquele era o momento ideal para
interromper aquela interação entre o que pareciam ser dois garotos,
e não um homem e uma criança, e chamei Timothy para o quarto,
onde eu poderia retirar toda a sua roupa de inverno e depois o
colocar para dormir.
Enquanto eu fazia isso, Edward permaneceu em minha sala
de estar, aguardando por meu retorno, que demorou um pouco mais
do que eu previ, pois Timothy estava muito curioso sobre o fato de
eu ter um marido, mas de esse mesmo marido não estar morando
junto com a gente naquela casa.
— São coisas de adulto e que em alguns anos você vai poder
entender, Timothy — respondi sem entrar em maiores detalhes —
Podemos conversar melhor amanhã? Edward está à minha espera
na sala e não é uma atitude cortes de minha parte o deixar
esperando por tanto tempo.
Timothy concordou prontamente e eu prometi que leremos
juntos a sua história preferida na noite seguinte, algo que seria
muito fácil de cumprir.
Já de volta à sala de estar, diante de um Edward de
aparência um pouco desleixada, a barba por fazer e os cabelos
visivelmente à espera de um bom corte, eu voltei ao assunto que o
trouxe até a minha casa naquela noite.
— O que espera conseguir de mim com essa explicação toda
sobre o seu encontro com Louise? — perguntei de maneira direta e
sem rodeios. — Como eu disse, estamos separados e você é sim,
um homem livre.
Capítulo 49 – Beijo de despedida
Beatrice
Encarei Edward à espera de uma resposta, e eu estava
realmente bastante curiosa sobre o motivo que trouxe o meu exmarido até a minha casa, quando ele não deve satisfação alguma
sobre as garotas que ele leva para jantar, ainda mais após um ano
em que não mantivemos contato algum.
— Você está certa, Beatrice — Edward concordou,
parecendo desconfortável — Eu não deveria ter vindo aqui hoje.
Perdoe-me.
Edward ficou de pé, e se aproximou de mim, que tinha
parado de maneira estratégica o mais longe possível do sofá onde
ele havia se sentado quando fui preparar Timothy para dormir.
— Irei embora — avisou Edward — Mas antes, e por mais
que você diga que não é necessário, volto a repetir que Louise e eu
não temos nenhum tipo de envolvimento.
Não pude controlar o riso cínico e cheio de escárnio de que
saiu de meus lábios pela sua insistência no assunto, mesmo após
declarar que reconhece a verdade das minhas palavras.
— Tudo bem, Edward — digo com o mesmo sorriso irônico
ainda em meu rosto — Vou registrar a informação. Ela fará alguma
diferença em minha vida? Não.
Edward soltou um profundo suspiro e agora a sua expressão
era de tristeza e pesar.
— Porque as coisas deram tão errado para nós, Beatrice?
O encarei em dúvida, analisando se aquela era apenas uma
pergunta retórica ou se ele realmente espera por uma resposta de
minha parte, mas a sua expressão era indecifrável agora.
— Você precisa mesmo que eu enumere todas as falhas da
nossa relação, desde o primeiro momento, quando o meu pai o
obrigou a casar-se comigo até quando você contratou um
investigador para seguir todos os meus passos? — Mais ironia, eu
não consegui evitar.
— Novamente, você está certa e eu, errado.
Edward reconheceu a veracidade do que eu disse e sorriu,
mas em seu sorriso não havia nenhum humor ou alegria e senti um
peso em meu peito, mesmo que não devesse sentir nada.
— Vamos — o chamei, não havia mais nada a ser dito — Eu
o acompanho até a porta.
Indiquei a direção que levava até o hall de entrada e aguardei
que ele se movesse de seu lugar, parado à minha frente e me
encarando como se ainda tivesse algo para dizer.
— Eu precisei sair de casa hoje — ele disse de maneira
repentina — Não estava conseguindo esquecer que hoje é seu
aniversário.
Fiquei surpresa por Edward ter se lembrado do meu
aniversário e sorri em reconhecimento às palavras dele, mas me
limitei apenas isso.
— Posso te dar um beijo de parabéns?
Franzi o cenho com o estranho pedido, mas acabei
concordando com um aceno, afinal, era apenas um simples beijo e
não faria mal algum.
Ou ao menos foi o que acreditei, pois quando Edward, de
maneira lenta e dolorosamente torturante, se aproximou de mim, o
seu rosto agora há apenas alguns centímetros de distância do meu,
eu não resisti a fechar os olhos e apenas sentir o beijo.
Mas ao invés de seus lábios tocarem a minha face quente,
sua boca encostou na minha em um roçar delicado, mas que
conseguiu explodir em mim o desejo por mais. Muito mais.
E quando senti suas mãos em minha cintura, apenas um
toque leve, toda a saudade e sentimentos que Edward sempre
despertou em mim voltaram com força total e enlacei o seu pescoço
com meus braços ansiosos.
O beijo mudou imediatamente de um roçar leve e morno,
para um beijo intenso e voraz, onde nossas bocas se
complementam em uma dança louca de línguas, o desejo insaciável
se manifestando em toda a sua plenitude.
Não sei precisar por quanto tempo permanecemos nos
beijando, nossas mãos passeando de maneira ousada pelo corpo
do outro, tocando em todos os lugares em que elas conseguiram
alcançar, até que Edward o interrompeu, me olhando com atenção.
A sua respiração, assim como a minha própria, era rápida e
descompassada, evidenciando o quanto o nosso desejo tomou o
controle da situação.
— Feliz aniversário, Beatrice — ele disse, e agora o seu
sorriso era lindo e amplo.
Sorri de maneira alegre.
O clima no interior da sala era completamente oposto ao
anterior e não havia mais tensão alguma no cômodo, apenas duas
pessoas abraçadas e encarando uma à outra, em expectativa.
— Beije-me mais uma vez.
Era inacreditável, mas aquele pedido tinha partido de mim, e
expressava tudo o que eu mais queria naquele momento e Edward
prontamente o atendeu.
Logo estávamos nos beijando com ânsia e toda a saudade
apareceu eclodir naquele momento, onde os nossos corpos se
tocavam em todas as partes e as nossas mãos viajavam entre nós,
o desejo expresso em cada toque.
Mas a lembrança de que havia agora uma criança em minha
casa fez com que eu colocasse fim aquele desejo desenfreado que
tinha sido despertado pelo meu ex-marido, o empurrando
delicadamente.
— Não podemos fazer isso — falei, tentando afastar a sua
boca da minha — Timothy pode vir aqui a qualquer momento.
Por mais que Timothy já estivesse em seu quarto, eu não
pretendia correr o risco de que fossem flagrados em tal situação,
ainda mais quando ele já tinha se mostrado confuso com a minha
relação com Edward, que me surpreendeu bastante com a sua
reação ao meu afastamento repentino.
— Desculpe-me, querida — disse Edward com pesar genuíno
— Você tem toda razão. Nós não podemos deixar o pequeno ainda
mais confuso do que já parece estar se sentindo.
O fato de Edward compreender o que estava se passando
em minha cabeça naquele momento, antes mesmo que eu pudesse
expor os meus pensamentos em voz alta.
— Obrigada — agradeci com um sorriso genuíno de
agradecimento.
Edward me encarou com um sorriso e, de maneira bastante
divertida e até mesmo engraçada, ele me abraçou com extrema
rapidez e me beijou brevemente, mas com intensidade e paixão.
— Um beijo de despedida — ele explicou a sua atitude, me
fazendo rir da maneira jocosa que ele estava agindo — Eu não pude
resistir.
— Eh… tudo bem — acabei dizendo, pois estava sem reação
diante da intensidade do momento.
Depois disso, Edward se despediu de mim com um sorriso
lindo e eu o acompanhei até a porta, a fechando com um estalo e
me encostando a ela de maneira sonhadora e emocionada, ainda
sem folego.
A lembrança dos beijos que trocamos não saiu dos meus
pensamentos nos dias que se seguiram, e contrariando aquilo que
eu tinha esperado que ele fizesse após o nosso encontro em minha
casa no dia do meu aniversário, Edward não me procurou.
Eu não poderia culpá-lo ou até mesmo imputar a ele a
responsabilidade pela sensação de decepção que eu estava
sentindo, afinal, foi apenas um beijo e nada mais que isso.
Não houveram promessas nem nada do tipo, mas eu tinha
esperado vê-lo novamente, mas dias se passaram sem que eu
tenha encontrado com Edward de novo.
E se por um lado a minha vida amorosa andava estagnada
desde que eu tinha me separado de Edward, a minha vida
profissional continuava em destaque, mesmo agora que estou
trabalhando em home office, por causa de Timothy.
Mas o ano letivo inglês tinha começado após as férias de
verão e Timothy estava já devidamente matriculado e pronto para o
início de suas aulas, algo que estava deixando-o ao mesmo tempo
ansioso e feliz.
— Porque está tão nervoso, Timothy? — perguntei, ao ver a
forma com que o garoto movia sua perna de maneira incessante —
Sei que é um momento importante e totalmente diferente do que
você estava acostumado, mas precisa relaxar, querido.
Nós estávamos quase saindo de casa
— Tenho medo de que os meus amigos não gostem de mim,
Beatrice — confessou o pequeno, me deixando preocupada — Não
sou de Londres e não falo inglês tão bem quanto eles.
Eu não gostei nenhum pouco de saber que Timothy estava
tão preocupado com o que os outros pensariam sobre ele e
esperando por uma aceitação que poderia não acontecer da forma
como ele esperava. A sinceridade das crianças tinha o poder de
magoar.
— Não deve se preocupar tanto com as outras pessoas,
Timothy — falei com seriedade, segurando em seus ombros e
tentando falar na mesma altura que ele — Você sabe que tem
pessoas que gostam bastante de você, não é verdade?
Aquelas palavras parecem ter conseguido confortá-lo, pois
ele abriu um imenso sorriso e concordou com um aceno
entusiasmado.
— Você gosta de mim, Beatrice — ele apontou — Abigail,
Andrew e Edward também gostam de mim, eles me disseram e eu
acredito em todos eles!
— Claro que sim! — concordo rapidamente.
Mas algo me chamou a atenção naquela declaração, e que
não fazia muito sentido para mim, e eu estava prestes a perguntar
sobre isso, quando a campainha tocou, me impedindo de continuar.
— Preciso atender a porta — avisei, ficando de pé — Mas
não podemos demorar…
Capítulo 50 – Uma bonita amizade
Beatrice
Abrir a porta e me deparar com Edward foi uma completa
surpresa, ainda mais após tantos dias sem que ele desse nenhum
tipo de notícias.
— Bom dia, Beatrice! — Ele me cumprimentou com
entusiasmo — Olá, Timothy!?
Edward moveu a cabeça de modo que Timothy o visse de
onde estava, e o cumprimentou com um aceno animado em direção
ao garoto.
— Edward! — Um grito alegre vem do garoto.
Timothy corre até o hall de entrada e se joga nos braços de
Edward, que o recebe em seus braços com nítido carinho, beijando
os cabelos do meu pequeno, ao se ajoelhar no chão para ficar na
mesma altura do garoto.
— Pronto para o seu primeiro dia de aula? — Edward
perguntou para Timothy.
— Estou sim!
Eu não estava conseguindo entender nada do que estava
acontecendo naquela sala, pois até onde eu sabia, Timothy e
Edward só tinham se encontrado apenas uma vez, como eles
poderiam estar tão íntimos assim? Eu também não tinha a menor
ideia de como Edward soube que aquele era o primeiro dia de aula
de Timothy.
— Confesso que estou bastante curiosa sobre a cena diante
de mim — falei em tom divertido — Até onde eu tenho
conhecimento, vocês se viram apenas uma vez, alguns dias atrás,
aqui nesta mesma sala.
Os dois começaram a rir, mas logo Timothy estava me
explicando de maneira bastante simples e com apenas algumas
palavras, como ele e Edward estavam tão próximos um do outro.
— Você esquece que eu estou passando algumas tardes com
a Abigail? — Timothy apontou.
Claro! Como eu poderia ter esquecido que Abigail tinha se
oferecido para cuidar do Timothy nas segundas e sextas-feiras à
tarde, quando eu estava fazendo um curso presencial, junto com
dois outros funcionários do jornal? Mas algo ainda não estava
suficientemente claro.
— Mas, você não deveria estar na empresa nesse horário,
Edward? — eu perguntei com estranheza.
Edward apenas sorriu em resposta, mas voltou à posição
normal e depois de mexer novamente nos cabelos de Timothy,
caminhou de volta ao hall, me deixando inquieta sobre o que ele
pretendia fazer agora. Iria embora? Sem mais, nem menos?
— Depois conversamos melhor sobre isso — Edward
desconversou e logo em seguida, conseguiu me surpreender ainda
mais que antes — Acredito que devemos ir. Timothy não pode
chegar atrasado em seu primeiro dia de aula.
— Você irá nos levar na escola do Timothy? — perguntei
incrédula e sem disfarçar o espanto.
— Claro — Edward confirmou — Foi por este motivo que vim
até aqui. Vamos?
— Vamos! — Timothy comemorou, e caminhou até Edward,
segurando em sua mão — Você não vem, Beatrice?
— Claro — Eu estava chocada — Podemos ir.
E nós realmente fomos à escola do Timothy, e como se
tratava do seu primeiro dia em uma escola inglesa e sendo ele um
garoto ucraniano, tivemos um tempo maior para ficar ao seu lado e
facilitar ao máximo aquele primeiro contato com os outros garotos
da sua turma.
Quando já estávamos voltando para a minha casa – Edward
fez total questão de me deixar – eu questionei Edward sobre o
assunto do qual tinha me deixado sem resposta, antes de saímos
para deixar Timothy na escola e dessa vez ele respondeu
prontamente.
— Eu não sabia que Abigail pretendia levar Timothy até
nossa casa, na primeira vez que ela o fez — ele começou a dizer —
Estava voltando de uma viagem à Escócia e não tinha ido à
empresa. Depois, eu apenas decidi dedicar um tempo para Timothy.
— Por quê?
— Por quê? — ele repetiu a minha pergunta, como se
estivesse refletindo sobre a resposta — Porque eu gostei muito do
garoto. Porque ele é um menino excelente. Porque, apesar da
pouca idade, ele já teve grandes perdas em sua vida. E
principalmente, porque você o ama e eu quero te ajudar na
educação dele, Beatrice.
Edward não poderia ter me deixado mais surpresa e eu
estava sem palavras, tentando digerir o que ele tinha acabado de
me dizer.
— Sei que estamos separados há mais de um ano — ele
continuou mantendo a atenção na direção, mas me olhando a todo
instante — Mas isso não quer dizer que a nossa história acabou. Ela
só tomou novos rumos e nós podemos ser felizes ainda, Beatrice.
— Eu… não sei, Edward — falei de maneira indecisa —
Aconteceu tanta coisa em minha vida, desde que saí de Londres.
Agora também tenho o Timothy e ele é minha maior prioridade no
momento.
— Não estou pedindo para que voltemos a nossa relação
agora — ele insistiu — Sei que está com toda a razão e por isso
tudo o que estou pedindo agora é que me deixe provar que nós
ainda temos uma chance. Podemos ser felizes, juntos.
Eu gostaria muito acreditar em Edward e apesar de tudo, eu
sabia que o tempo não tinha conseguido apagar o sentimento que
eu nutria por ele, desde que era apenas uma adolescente, mas eu
não podia me comprometer, pois não pretendia insistir em algo que
já tinha se mostrado como ser infrutífero.
— Eu não posso te prometer algo assim, Edward — eu disse
com pesar — Mas podemos ser amigos e você é bem-vindo para
ver o Timothy quantas vezes desejar.
— Eu vou aceitar o que está me oferecendo… por enquanto.
Edward não estava tentando ser agradável ou humilde, eu
pude constatar que ele realmente estava falando a verdade. Ele
passou a ser parte da vida do Timothy e, consequentemente, da
minha também.
Todos os dias Edward buscava Timothy em casa e o deixava
na escola, antes de ir para a empresa e na volta fazia o percurso
inverso, saindo da empresa, pegando Timothy e o deixando em
minha casa.
A sintonia entre eles era muito bonita e as vezes trazia
lágrimas aos meus olhos, me fazendo refletir se não seria realmente
o momento de dar mais uma chance para o meu ex-marido, afinal, a
cada dia que passava, Edward se mostrava mais e mais diferente
da pessoa que convivi quando nós éramos casados e depois do
homem controlador e possessivo do nosso relacionamento após a
separação.
Como Timothy estava estudando e passava todo o dia na escola, eu
pude voltar ao trabalho presencial, e ao menos durante a semana
trabalhava todos os dias, e aos sábados, quando necessário eu
trabalhava de casa mesmo.
O meu curso de especialização em jornalismo político, uma
área completamente diferente da qual eu sempre desejei atuar, mas
que desde o que vivi em países de continuava e estava cada dia
mais interessada em conhecer mais sobre esse assunto tão
polêmico e intrigante, para falar com propriedade sobre ele em
reportagens que eu estava desenvolvendo.
E eu estava saindo de uma das minhas aulas, em companhia
de meus dois colegas de trabalho do jornal, enquanto
conversávamos sobre as nossas impressões sobre as colocações
do professor sobre um assunto bastante polêmico sobre a política
externa inglesa, quando notei que já estava em cima da minha hora,
pois logo o Edward passaria em minha casa para deixar o Timothy.
— Desculpem-me, colegas — falei com simpatia — Preciso
me apressar, tenho que estar em casa em no máximo em – conferi
as horas no visor do meu celular – vinte minutos.
— Claro, sem problemas — Justin Collins concordou,
também conferindo as horas — Também estou com pressa. Preciso
buscar a minha esposa no trabalho.
— Eu posso deixá-la em casa, Beatrice — sugeriu
Christopher — Assim não corre o risco de perder o seu
compromisso.
Eu teria explicado que não era propriamente um
compromisso, mas logo voltei atrás, porque Timothy era ainda mais
importante que isso, a minha maior prioridade e mesmo nunca tendo
sido do tipo de aceitar caronas ou coisas do tipo, naquela tarde eu
aceitei, por temer que Edward chegasse para deixar Timothy antes
que eu chegasse em casa para o esperar.
— Eu vou aceitar a sua oferta, Christopher — concordei,
sorrindo em agradecimento — Podemos ir, então?
Rapidamente estávamos no carro a caminho da minha casa,
mas como em toda grande metrópole, o trânsito de final do dia
estava caótico e bastante lento, me deixando apreensiva, como
também arrependida por não ter usado o metrô, como eu sempre
fazia. Acredito que teria sido mais rápido.
— Parece que há um acidente — Christopher comentou com
pesar — Não imaginei que ficaríamos presos no trânsito, quando a
sua casa fica tão próxima de onde estávamos.
Eu tinha a mais absoluta certeza de que ele estava falando a
verdade e teve a melhor das intenções, afinal, eu também aceitei a
sua carona por pensar da mesma forma que Christopher.
— Eu não estou chateada com você, Christopher — eu deixei
claro — Não deve se preocupar. Estou nervosa, afinal, tenho medo
de que Timothy chegue em casa primeiro que eu.
— Timothy? — ele perguntou com curiosidade, o que era
absolutamente normal.
— Meu filho — expliquei com um sorriso terno — Um…
amigo está indo deixá-lo em minha casa.
Eu não poderia me referir a Timothy de outra maneira, afinal,
é isso que ele é desde o momento em que Yana entregou-me a
responsabilidade por sua educação e cuidados. Eu o sentia como
um filho e o amava como tal. Também não achei uma boa ideia
contar sobre a relação entre Edward e eu. Era algo bastante
complexo e particular.
— Entendo a sua apreensão — ele disse em solidariedade —
Por que não liga para o seu amigo e avisa sobre o atraso? Não há
mais como evitar isso mais, afinal.
CAPÍTULO 51 – Quero Distância
Beatrice
Eu fiz conforme a sugestão de Lucky e de fato entrei em contato
com Edward, avisando que provavelmente eu iria chegar bastante
atrasada naquela tarde.
— Acabo de chegar em sua casa — contou Edward — Posso
esperar por você aqui fora, mas não acho uma boa ideia manter
Timothy tanto tempo dentro do carro, depois de um dia inteiro na
escola.
Edward estava certo e eu não gostaria realmente que Timothy
ficasse à minha espera do lado de fora, mas logo veio um estalo.
— Acabo de lembrar que tenho uma chave guardada em um
lugar estratégico, Edward — falei com animação, feliz por ter
encontrado uma solução ao meu dilema — Embaixo do vaso de
flores, ao lado do meu tapete no vão da escada que leva à entrada.
— Não posso acreditar que mantém uma chave de sua própria
casa em um lugar de tão fácil acesso, Beatrice! — Edward me
repreendeu — Você tem alguma noção do perigo que corre,
deixando-a em tal lugar?
Claro que eu tinha consciência de que não era um bom local
para guardar uma chave, mas sempre fazia isso quando estava
viajando e a Abigail e a Janet se revezavam para cuidar da minha
casa. Aquele, no entanto, não era o momento para discutir esse
assunto com Edward, quando o meu colega de trabalho parecia
estar totalmente atento ao assunto.
— Depois nós conversamos sobre isso, Edward — eu
desconversei, afinal, logo estaríamos frente a frente e eu poderia
tranquilizá-lo pessoalmente — Até mais tarde.
Aguardei apenas que Edward se despedisse, mesmo que
contrariado, e encerrei a chamada, olhando para Lucky como um
sorriso constrangido.
— Você tem uma chave reserva em um lugar bem previsível,
Beatrice — ele comentou.
O alerta feito por Lucky comprova a minha impressão de que ele
estava o tempo todo prestando atenção a minha conversa com o
Edward, e eu tentei mudar de assunto logo em seguida.
— Tem razão, não vou mais deixá-la no mesmo lugar — eu
prometi — O trânsito parece que voltou a fluir, não é mesmo?
Lucky concordou com o que eu disse e logo depois passamos a
falar sobre outras coisas, como trabalho e o curso que estávamos
fazendo juntos, e o assunto foi completamente esquecido.
Cheguei em casa vinte minutos depois, algo bastante fora do
esperado, e decidi que não mais aceitaria vir de carro, quando de
metrô era bem mais rápido, concluí, pois não havia o fato trânsito.
Apesar disso, agradeci ao Lucky por sua ajuda, que foi bastante
gentil comigo o tempo todo.
— Espero que não tenha causado nenhum problema para você,
Beatrice — ela disse, e de maneira surpreendente, segurou em
minha mão — A minha intenção foi a melhor possível. Pena que
acabei apenas te atrapalhando.
Eu sorri para o Lucky, sentindo as minhas faces quentes, pela
forma como ele estava me encarando, assim como apenas o calor
da sua mão causou uma sensação incomum em meu corpo, apesar
de não ser nenhum pouco desagradável.
— Obrigada, Lucky — agradeci a vigésima vez, não conseguia
pensar em nada melhor para dizer.
Lucky me surpreendeu mais uma vez ao levar a minha mão até
os seus lábios e beijá-la de maneira galante e bastante lisonjeira e
novamente eu não senti nenhum pouco de repulsa. Muito pelo
contrário.
Saí do carro de Lucky me sentindo leve e estranha, estava
empolgada, mas não entendi como isso aconteceu depois de
apenas um simples gesto, que se tivesse partido de qualquer outro
homem, eu teria considerado desprezível.
Pensando bem, eu estava mentindo ao dizer que nunca tinha
prestado atenção em Lucky, quando por vezes nós ficávamos
sorrindo um para o outro como dois bobos, mas eu tinha acreditado
que era apenas porque passamos tanto tempo juntos, tanto no
jornal, quanto no curso de especialização, que eu sentia aquela
afinidade entre nós.
Acredito que a minha expressão tenha denunciado que havia
algo diferente no ar, pois assim que entrei em casa, Edward, que
junto do Timothy, estavam praticamente deitados sobre o sofá,
vendo TV, e me olhou com uma mistura de curiosidade e estranheza
em seu rosto.
— Está tudo bem? — foi logo perguntando Edward, ficando de
pé e me encarando com atenção.
— Sim, sim — confirmei, me sentindo nervosa e fugindo do olhar
de Edward.
Mesmo sabendo que eu não devia nenhum tipo de explicação a
Edward, assim como eu deixei claro que ele não tinha que me
explicar nada, quando nos encontramos no restaurante e ele estava
jantando com Louise Orleans., eu me sentia como se tivesse feito
algo de errado, o que era completamente insano da minha parte.
— Porque você está tão nervosa, Beatrice? — Timothy
perguntou de maneira inocente.
— Não estou nervosa, querido — neguei, tentando sorrir de
modo tranquilo.
— Está triste, então? — Timothy insistiu.
Aquilo estava fugindo do meu controle. Não tinha acontecido
nada para eu estar uma pilha de nervos!
— Eu estou bem, Timothy! — Tentei colocar um fim naquela
situação — Estou bem, e está tudo bem. E agora, vou preparar o
jantar, você deve estar com fome.
Tentei mudar de assunto.
— Posso ficar para o jantar? — foi a vez de Edward se
pronunciar, depois de acompanhar de maneira bastante atenta a
interação entre Timothy e eu.
Antes que eu pudesse dizer que não achava aquela uma boa
ideia – nós já tínhamos contato o suficiente todos os dias – Timothy
tomou a frente, mais uma vez.
— Pode sim, Edward! — ele concordou — Tenho certeza de que
ela não vai se incomodar, não é mesmo, Beatrice?
Timothy estava passando dos limites ao me deixar naquela saia
justa, mas ao mesmo tempo, era bastante compreensível que ele
desejasse passar mais tempo com Edward e eu não me sentia bem
por privá-lo disso, então não me restou outra opção além de
concordar.
E quando Edward me encarou, perguntando com o seu olhar se
podia ficar, e agradeci por ele fazer isso de maneira discreta, sem
chamar a atenção do Timothy.
— Claro que o Edward pode ficar —- falei sorrindo — Vou para a
cozinha, fazer o nosso jantar.
Nós jantamos juntos e foi bastante agradável a nossa refeição, e
bastante notável a alegria de Timothy por estarmos todos juntos.
Aproveitei o momento de descontração para perguntar sobre a
escola e o que Timothy estava achando, se tinha amigos e estava
conseguindo acompanhar as aulas, e tanto ele, quanto Edward,
responderam, o que demonstrava que o meu ex-marido também
fazia aquelas mesmas perguntas e estava por dentro de tudo que
aconteceu com o meu pequeno, me deixando bastante feliz por
saber disso.
Para o meu alívio, Edward foi embora logo após o jantar, e
mesmo desejando que ele ficasse mais um pouco, eu sabia que
aquele não era o melhor caminho para nós.
E á noite, quando deitei em minha cama, ao invés de pensar no
Edward, como acontecia todas as noites antes de dormir, quem veio
a minha cabeça foi Lucky, a sua gentileza e charme, assim como os
momentos em que trabalhávamos juntos e nossas longas
discussões sobre assuntos políticos em todo o mundo.
Nós tínhamos várias coisas em comum, o que é algo muito bom
e eu cheguei a conclusão de que me abriria um pouco mais para o
mundo, e caso ele me convidasse para sair ou algo parecido, eu iria
aceitar.
Estava passando da hora de deixar a vida seguir em frente e
esquecer Edward, o que se tornaria bem mais fácil se eu estivesse
envolvida em outra relação e com outra pessoa.
Talvez, isso causasse um afastamento de Edward de Timothy,
mas se a sua intenção ao se aproximar do meu garoto era apenas
com intenção em reatar o nosso relacionamento, era melhor que
isso acontecesse antes que Timothy estivesse mais apegado
afetivamente a ele, ou seja, o mais rápido possível
Mas se ele estivesse sendo verdadeiro e realmente tivesse
sentimentos pelo Timothy, eu não poderia ficar mais feliz, afinal,
Timothy precisa de pessoas que o amem de verdade e que possam
dar para ele atenção e carinho, além de mim.
Pensando nisso, resolvi que esse fim de semana tentaria fazer
algum programa com os meus amigos e Timothy, para que ele
tivesse esse outro contato, além do Edward, que estava presente
em seu dia a dia.
Assim como eu tinha decidido antes de dormir, no dia seguinte
liguei para Janet, que prontamente aceitou a minha sugestão e
decidimos ir passear no parque com as crianças, pois Archie adora
o contato com a natureza.
— É uma ótima ideia, Janet — concordei animada — Eu não
tinha pensado nisso, afinal, não tenho experiência alguma com
crianças e o Timothy parece se sentir tão bem em casa mesmo, que
eu acabo falhando nesse ponto.
— Não se culpe dessa forma, Beatrice — Janet disse, me
deixando mais tranquila — Você está fazendo o seu melhor, tenho
certeza. E agora você pode fazer isso sempre, tenho certeza de que
ele irá adorar.
Nós conversamos mais um pouco, e depois de combinarmos
para nos encontrarmos à tarde, eu contei para Timothy para onde
iríamos, e ele deu vários pulinhos de alegria.
— Podemos chamar o Edward para ir com a gente?
Tentei não demonstrar meu desagrado com a sugestão, afinal,
eu estava tentando justamente afastar o Edward.
— Hoje não, querido — sorri para tentar amenizar a recusa —
Mas você vai poder brincar com o Archie, um bebê muito inteligente,
você gosta tanto dele, não é mesmo?
CAPÍTULO 52 – Vida que segue
Edward
Mesmo sem que ninguém precisasse me dizer isso, eu estava
percebendo a maneira como Beatrice tentava manter uma distância
discreta entre Timothy e eu, e uma ainda maior e bem mais
escancarada entre nós dois.
Mas eu entendia que não seria fácil refazer um casamento como
o nosso, cheio de palavras não ditas e silêncios eloquentes, ainda
mais quando eu coloquei os pés pelas mãos ao tentar reconquistála, alguns meses depois da nossa separação.
Agora só me restava aceitar aquilo que eu pudesse ter, mesmo
que fosse pouco e às vezes quase nada de sua parte, qualquer
coisa era bem melhor que nada.
Então, quando Beatrice começou a vir para casa todos os dias
de carona, algo que tinha começado a acontecer desde o dia em
que ela se atrasou e que chegou até mesmo a me ligar para avisar
sobre isso.
Sempre a mesma pessoa, que eu julgava ser um homem, mas
que eu não tinha realmente a possibilidade de ver claramente, pois
eu sempre chegava primeiro e ela um pouco mais tarde, e eu já
estava com Timothy dentro de casa.
Apesar de discordar da sua ideia de segurança, ao deixar uma
cópia de sua chave sempre no mesmo lugar, ainda mais quando se
tratava de um em que não havia dificuldade alguma para encontrar,
eu não protestava, pois era melhor ficar com o garoto dentro de
casa, do que na rua e a Beatrice de hoje jamais aceitaria que eu
tivesse uma cópia da chave.
Então, mesmo me sentindo corroer de ciúmes da minha esposa –
nós ainda éramos casados legalmente e eu não pretendia mudar
isso – eu controlava o meu temperamento, sempre agindo como se
nada demais estivesse acontecendo.
Não importa que por dentro, eu estivesse fervendo de raiva. A
única coisa que eu oferecia para a Beatrice era serenidade.
Até o dia em que Timothy me contou que Beatrice estava
namorando. Isso foi além de qualquer força de vontade que eu
pudesse ter.
Eu tinha acabado de o buscar na escola e mal tinha ligado o
carro, quando ele deixou escapar a terrível informação.
— Como você sabe que Beatrice está namorando? — perguntei
ao garoto — Ela te contou sobre isso?
Eu gostaria muito que Timothy negasse e dissesse que não
passava de uma suposição, mas eu não tive tal ventura.
— Não me contou — Timothy negou, me fazendo abrir um
imenso sorriso, para depois o arrasar com a verdade — Ela disse
que vai levar uma pessoa muito especial para jantar com a gente.
Ela quer que eu o conheça.
Então, além de estar realmente envolvida com alguém, Beatrice
também desejava apresentar Timothy para ele, algo que só pode
comprovar que ela estava em um relacionamento sério e que eu não
tinha mais chance alguma.
— Você ficará chateado se eu aceitar jantar com essa pessoa
especial que Beatrice vai levar para eu conhecer?
Timothy me pegou realmente de surpresa com sua pergunta, que
por sinal era bastante capciosa e me deixou momentaneamente
sem fala, pois eu não sabia mesmo o que responder.
Precisei fazer uma rápida análise de mim mesmo. Eu ficaria com
raiva do Timothy? Mas o pequeno não tinha nenhuma
responsabilidade sobre a situação, tampouco ele tinha poder de
decisão sobre isso também. Então não há razão alguma para que
eu o culpe ou que você fique chateado com ele.
Sobre a Beatrice a situação era bastante diferente. Ela estava
saindo com outro homem e nós ainda somos casados! E enquanto
eu estava todo esse tempo sem me envolver com ninguém, afinal,
eu esperava que nós dois pudéssemos nos entender em algum
momento, a Beatrice estava agora com um novo namorado.
— Não vou ficar com raiva de você, Timothy — neguei de
maneira enfática — Jamais ficaria com raiva de você por algo assim.
Não se preocupem, está bem?
— Sim — o pequeno concordou.
Nós ainda estávamos dentro do meu carro, conversando,
quando o carro parou em frente a casa de Beatrice, bem em frente
ao meu, e foi possível ver o homem saindo do veículo e dando a
volta até o outro lado, para então abrir a porta do passageiro e
receber Beatrice em seus braços.
Jamais imaginei que algo poderia machucar tanto, quanto o fato
de estar agora vendo por mim mesmo a minha mulher nos braços
de outro homem. Eu tinha perdido aquela batalha e constatei
somente agora que a minha tentativa de consertar os meus erros do
passado veio tarde demais e já não havia sentido algum em insistir.
— Você ainda vai me deixar e buscar na escola, Edward? —
perguntou Timothy, parecendo preocupado e triste.
Senti um aperto no peito e algo como um bolo na minha
garganta, que dificultava que qualquer palavra saísse por meus
lábios, mas com muito esforço, consegui emitir uma resposta para a
pergunta bastante preocupada do garoto.
— Claro que irei, Timothy — eu confirmei com um sorriso que
provavelmente deixava transparecer toda a minha tristeza — Nada
mudou entre nós.
— Eu te amo, Edward — o pequeno disse, parecendo
emocionado — E estou triste porque a Beatrice não te ama também.
A inocência e sinceridade das crianças às vezes era bastante
ácida e até mesmo um pouco cruel. Mas a verdade é realmente
dolorosa e aquele caso não era diferente.
Eu puxei o pequeno para um abraço, tentando evitar a todo
custo olhar para onde Beatrice estava, junto com o seu novo
namorado, e Timothy e eu ficamos abraçados pelo que pareceram
minutos.
—- Timothy?
Era a voz de Beatrice. Ela já tinha se despedido da sua pessoa
especial e agora estava ao lado do meu carro, esperando que
Timothy saísse do veículo.
—- Beatrice!
Timothy se apressou a descer do carro e se jogou nos braços
daquela que tinha se tornado a sua mãe, o que me fez ter
consciência de que ela sempre seria a pessoa mais importante da
vida do garoto, afinal, não havia mais nenhuma família do pequeno
para dar-lhe atenção.
— Até amanhã, Timothy — eu falei, quando Timothy já tinha
saído do carro e se jogou nos braços de Beatrice.
Eu não consegui esperar pela resposta do pequeno ou por
alguma tentativa de gentileza de Beatrice. Eu já tive a minha cota de
dor por um dia.
Beatrice
Eu já estava namorando oficialmente com Lucky há algumas
semanas e ele se mostrava um homem cada vez mais agradável e
atencioso, sempre disposto a me agradar de todas as formas.
Ele sempre estava me presenteando com flores, me levando
para jantar e eu já tinha até mesmo sido apresentada aos seus pais,
um casal bastante sisudo, mas que tinham me tratado com a
cortesia necessária a boa convivência entre nós.
Eu estava vivendo uma relação normal, com um homem que já
tinha deixado bastante claro que me ama de verdade.
Então por que eu não me sentia feliz e realizada? Eu não tinha
uma resposta para essa pergunta e evitava pensar sobre isso,
deixando sempre essa reflexão para um outro momento, que nunca
chegava.
E aquele momento também não era nada oportuno, pois eu
estava desligando os equipamentos da minha sala no jornal, para
encerrar mais um dia de trabalho e ir para casa com o meu
namorado perfeito.
Tudo parecia estar maravilhoso, mas não estava, e quando
alguém bateu de maneira discreta na porta, eu já sabia que se
tratava de Lucky, para irmos embora juntos para a minha casa.
— Oi, meu amor — Lucky me cumprimentou, beijando os meus
lábios rapidamente — Podemos ir?
— Claro — concordei sem demora.
Nós descemos pelo elevador até o subsolo e quando já
estávamos dentro do carro, comentei sobre um assunto que sempre
era bastante delicado entre nós, mas agora era algo necessário.
—- A Abigail deseja confirmar a nossa presença em seu
casamento, Lucky — comentei de maneira cautelosa — Não
podemos adiar mais essa resposta.
Percebi que as suas mãos ficar tensas sobre o volante do carro,
mas como sempre, não era necessário que eu prestasse atenção
aos detalhes, pois Lucky não era nenhum pouco discreto sobre os
seus sentimentos em relação a qualquer assunto.
—- Eu realmente não considero uma boa ideia ir para esse
casamento —- ele repetiu as palavras que já tinha dito antes — Na
verdade, eu não considero esse casamento uma boa ideia, afinal, o
Smith e a senhorita Maddock estão sendo bastante precipitados
nessa decisão.
Mesmo que a relação fosse considerada por todos ainda muito
recente, Andrew havia pedido a Abigail em casamento e ela tinha
aceitado, afinal, eles estavam apaixonados e não havia motivos
para adiar essa união.
Mas Abigail desejava que o casamento fosse feito em nossa
cidade natal, Kent, e todas as comemorações em torno disso, então
ela tinha preparado todo um fim de semana de atividades e
convidado alguns amigos mais próximos para estarem juntos com
eles nesse momento tão feliz.
Mas o problema maior é que eu havia sido convidada para ser
madrinha da noiva, enquanto Edward seria o padrinho do noivo, e
isso tinha causado grande desconforto em Lucky, que não desejava
que Edward e eu estivéssemos no mesmo lugar, por todo o fim de
semana e isso já estava me deixando chateada.
— Eu não concordo com você, como também não considero que
somos nós que temos que dizer quando se deve ou não se casar —
reforcei a minha opinião.
— O fato é que eu já não suporto mais ouvir falar no seu exmarido, Beatrice —- Lucky reclamou com expressão aborrecida — E
se formos até Kent, isso vai ser mil vezes pior, pois ele vai estar lá.
Eu não iria perder o casamento da minha amiga por causa de
ciúmes bobos do Lucky. Não mesmo! Chega de pessoas querendo
me controlar.
— Ou você me acompanha ao casamento da minha amiga, ou
irei sozinha com Timothy.
Eu estava realmente fazendo um ultimato e depois que Lucky me
deixou em casa, nitidamente chateado e sem nem mesmo um beijo
de despedida, eu me questionei se ele era realmente tudo aquilo
que eu acreditava que fosse.
Aquela foi a primeira vez em que discordamos em algo e que
Lucky parecia disposto a vencer uma disputa de vontades, algo
totalmente sem sentido, afinal, a vida é minha e posso fazer com ele
o que eu bem entender.
CAPÍTULO 53 – Ele é uma boa pessoa?
Beatrice
A minha relação com Edward é totalmente madura agora, depois
que voltei a Londres e que Timothy tinha entrado em minha vida.
Os dois tem uma ótima relação e Edward sempre me ajuda
bastante em tudo o que se refere ao Timothy, conseguindo me
surpreender bastante ao continuar com a mesma relação de
cuidados com o garoto, mesmo depois que ficou claro que não há
mais nenhuma chance de uma reconciliação entre nós dois.
E eu não seria a responsável por afastá-los apenas por causa de
um ciúme bobo do Lucky, sem motivo algum para tal, ainda mais
quando Edward nem mesmo tentava falar comigo nem fazer
qualquer tipo de aproximação, para se aproveitar disso.
Estamos conseguindo separar as coisas entre nós e isso é algo
muito bom e uma prova do quanto nós dois crescemos em termos
de maturidade ao longo do último ano e isso é algo maravilhoso.
E durante uma visita de Janet a minha casa, em um sábado a
tarde, onde combinamos de colocar a conversa em dia enquanto
tomamos um chá, ela trouxe exatamente aquele assunto para a
mesa.
— Eu confesso que Edward ganhou muitos pontos no meu
conceito, depois que criou esse vínculo com o Timothy — a minha
amiga comentou — E isso é muito importante para o pequeno,
precisamos reconhecer.
— Claro — concordei com suas palavras — Jamais poderia ter
imaginado que Edward seria de tão grande importância na vida do
Timothy e a sua ajuda é algo incontestável.
— Principalmente se levarmos em conta que ele não está
fazendo isso apenas para agradá-la — Janet apontou — Ele já deve
ter entendido que isso não vai te fazer mudar de ideia sobre uma
reconciliação entre vocês.
Eu também tinha chegado à mesma conclusão da minha amiga
e falei isso para ela naquele momento.
A conversa em torno do Edward por bastante tempo ainda, e a
cada nova informação sobre esse assunto, mais surpreendida a
Janet ficava, pois eu não tinha tanto tempo para atualizá-la sobre
tudo o que estava acontecendo, e foi exatamente por esse motivo
que combinamos o chá.
— Uma pena que Abigail não tenha podido vir ao nosso encontro
hoje — lamentou Janet mais uma vez naquela tarde — Mas eu
entendo que a sua vida deve estar uma grande correria com os
preparativos do casamento.
— É verdade — concordei com um sorriso — Eles desejam o
casamento para o mais breve possível.
Segundo Andrew tinha conversado comigo, em uma visita que
fez a minha sala alguns dias atrás, ele tinha dito que não queria
esperar mais nenhum dia além do estritamente necessário, pois
Abigail e ele já tinham perdido muito tempo.
Eu não poderia julgá-los, afinal, quando estamos realmente
apaixonados, tudo o que mais desejamos é estar ao lado da pessoa
amada, o que me levou a questionar algo bastante importante.
Será que eu estava apaixonada por Lucky realmente? Apesar de
gostar muito dele e de sempre aceitar os seus convites para sair ou
passar algum tempo junto, eu não sentia esse desejo urgente de
estar perto. Tampouco aceitaria algo como um casamento agora.
Na verdade, eu nem mesmo poderia pensar em casamento,
quando a minha situação com Edward nesse sentido ainda não
tinha sido resolvida. O que me levou a uma decisão importante: eu
preciso conversar com Edward sobre isso.
Não há o menor sentido em continuarmos casados legalmente,
quando a nossa separação é algo concreto e real. Estamos
seguindo caminhos diferentes, agora.
— Eu preciso ir — Janet comentou, olhando para o relógio
discreto em seu pulso — De que horas Edward ficou de vim deixar o
Timothy?
— Ele vai dormir na casa do Edward hoje, pois tenho um jantar
na casa dos pais de Lucky.
Janet sorriu com a explicação, e mesmo antes que ela colocasse
em palavras o que ela estava pensando, eu já tinha entendido tudo
apenas por seu olhar.
—- Então, Edward também cuida de Timothy enquanto você tem
encontros com Lucky?
Apesar da grande amizade entre nós duas, algo que vinha de
vários anos e onde ela sempre me apoiou bastante quando precisei,
eu não gostei nenhum pouco da forma como Janet colocou as
coisas.
—- Na verdade, Edward tinha planos de viajar a Kent com
Abigail e Andrew — expliquei, um pouco contrariada — E como ele
pediu para levar Timothy, eu aproveitei o momento para combinar
esse jantar. Jamais iria ter tamanha ousadia de pedir algo assim
para o Edward, sei que estaria abusando de sua boa vontade,
Janet.
— Desculpe pela maneira como coloquei as coisas — Janet
pareceu verdadeiramente envergonhada — Eu não deveria ter feito
pré-julgamentos de valor.
Apesar do clima pesado entre nós, Janet se despediu de mim
com um abraço apertado e mais um pedido sincero de desculpas,
que eu aceitei prontamente.
Apesar do desconforto com a situação gerada entre nós duas,
aquele assunto acabou me fazendo refletir sobre alguns fatos
recentes e algo que chamou bastante atenção.
Enquanto Edward fazia total questão de estar sempre com o
Timothy e sua vida agora parece até mesmo ser dedicado ao meu
pequeno, algo bastante surpreendente e que deixa o meu coração
aquecido, Lucky, ao contrário disso, sempre tinha várias desculpas
para não encaixar o Timothy em nossos encontros, mesmo quando
eles eram totalmente inocentes, como ir ao museu.
E quando havia algo que eu desejava fazer com o Timothy, ele
também nunca concordava quando eu o convidava para ir junto
conosco.
Será que o Lucky não gostava do meu filho e eu não tinha me
dado conta desse fato até aquele momento? Como pude ser tão
relapsa?
De qualquer forma, eu iria dar-lhe o benefício da dúvida e nos
próximos dias iria pensar em algo para fazer junto ao Timothy e
mais uma vez convidar o meu namorado para ir junto.
Também iria prestar mais atenção na interação entre eles dois
quando estavam juntos em casa, nos poucos momentos em que
estavam os dois na sala, algo que pensando bem, raramente
acontecia.
Quando eu já estava pronta para sair com o Lucky e ele veio me
buscar em casa, já dentro do seu carro, eu tentei tocar naquele
assunto de maneira discreta, sem despertar a sua atenção para o
que eu pretendia saber realmente.
— Estava pensando em irmos juntos ver aquela peça infantil —
eu falei de maneira tranquila.
— Peça infantil? — Lucky estava completamente atento ao
trânsito.
—- Sim, isso mesmo — confirmei — Sobre a qual o jornal Justin
escreveu na matéria de ontem.
Justin Collins é grande amigo de Lucky, inclusive éramos nós
três que estávamos fazendo a especialização em jornalismo
internacional, mas enquanto Lucky é um dos editores do jornal,
Christopher é repórter da sessão cultural.
— Sim, claro — Lucky confirmou, ao lembrar de qual peça eu
estava falando — Vamos sim, combinar um dia para ir.
— O que você acha de irmos na próxima quinta-feira? — eu
sugeri de imediato — É um ótimo dia e não vai estar tão cheio.
— Está ótimo — Lucky concorda sem nem mesmo pestanejar.
A resposta rápida me faz sentir culpada por ter pensado sobre
uma possível recusa de sua parte e, principalmente, por ter julgado
que ele não gosta do Timothy, quando eu não tenho motivos reais
para isso. Apenas suposições criadas por mim mesma.
O restante do caminho foi feito rapidamente e em um clima
agradável, como sempre acontece quando estamos juntos.
O jantar transcorreu tranquilo, apesar de sempre me sentir um
pouco incomodada com a rigidez dos pais de Lucky, eu não poderia
simplesmente dizer que eles eram desagradáveis ou algo do tipo.
Quando estávamos prestes a ir embora, afinal já passava das
vinte horas, um assunto que foi posto em pauta me chamou
imediatamente a atenção, quando estávamos conversando sobre o
almoço em comemoração ao aniversário do Lucky, que iria
acontecer no próximo fim de semana.
— Espero que Justin não traga seu sobrinho desta vez — A
senhora Thomas disse, me surpreendendo — Detesto quando
trazem crianças para a minha casa.
Eu não poderia ter ficado mais espantada com aquela afirmação
e foi algo espontâneo e incontrolável olhar para o Lucky nesse
momento, eu não saberia dizer por que exatamente. Se eu estava
em busca de uma confirmação de que eu tinha ouvido mesmo
aquilo ou eu estava interpretando de maneira equivocada a
colocação da mãe do meu namorado.
— Não deve dizer isso, mamãe — Lucky rapidamente protestou
— Suas palavras passam uma impressão de que não gosta dos
pequenos. E tenho certeza de que isso não é algo real.
— Não tenho nada contra crianças, meu filho — ela concordou
com um sorriso brando — Mas elas podem destruir uma casa,
quando não são controladas com pulso firme.
Eu realmente não esperava por algo assim e estava
completando sem palavras e sem possibilidade alguma de reação.
— A sua mãe está certa, Lucky — O senhor Thomas interveio —
Não temos problema algum com crianças, veja só, você é nosso
filho e já foi uma criança. O problema está na falta de educação de
alguns, e não somos obrigados a abrigar pequenos vândalos em
nossa residência.
Eu estava prestes a vomitar, de tamanho repúdio àquelas
palavras esnobes e preconceituosas e esqueci completamente
qualquer regra de etiqueta, ao ficar de pé e encarar os anfitriões
com frieza.
— Eu preciso ir — falei sem rodeios, interrompendo o diálogo
grosseiro — Já está muito tarde.
Não esperei por qualquer outra despedida da parte do casal e
caminhei apressada para o hall, e logo o mordomo estava ao meu
lado, para abrir a porta imensa e pesada da residência tradicional e
imponente. Acredito que ele deve estar sempre a postos, para
chegar tão rápido assim.
— Obrigada… Louis.
Lucky também parece ter sido bastante rápido, pois quando eu
comecei a descer a escadaria em frente a casa, ele já estava
chegando ao meu lado e descendo junto comigo.
— Eu quero que me desculpe por aquilo — ele foi logo dizendo
— Os meus pais prezam muito por suas obras de arte e às vezes
acabam se excedendo um pouco nisso.
O encarei sem entender o que ele estava dizendo e Lucky
segurou meu pulso, de maneira que eu parasse de caminhar e lhe
desse atenção.
— O sobrinho do Justin quebrou um jarro pertencente à dinastia
Ming da última vez em que esteve em nossa casa — ele explicou —
E meus pais ficaram traumatizados com crianças depois disso. O
que é bastante compreensível, concorda comigo?
CAPÍTULO 54 – Flores para Beatrice
Beatrice
Apesar das várias tentativas de me provar que os seus pais
eram pessoas boas e que só agiram daquela maneira por estarem
chateados com a perda da obra de arte, Lucky não conseguiu me
convencer disso e eu continuava crente de que eles eram
exatamente o que demonstraram ser: duas pessoas ricas
extremamente esnobes e arrogantes, que não gostavam de
crianças.
Diante do que aconteceu naquela noite, eu deixei bastante
claro para o meu namorado de que não voltaria naquela casa, pois
aquilo me deixou muito chateada e independentemente do fato de
eu ter ou não uma criança em casa, a atitude deles me incomoda de
maneira tremenda.
— Eu entendo perfeitamente a sua reação, querida — Ele
tentou contornar a situação — Mas você não pode ser assim tão
intransigente com os meus pais.
Ele me considera intransigente? Eu cheguei a rir, sem humor
algum, ao ouvir a maneira como ele estava colocando a situação, e
entendi que não adiantaria repetir tudo o que eu pensava sobre o
caso.
Aproveitei então que o carro de Lucky tinha acabado de parar
em frente a minha casa e decidi colocar um ponto final sobre aquele
assunto, pois não iriamos chegar a um entendimento, isto estava
bastante nítido.
— Acho melhor não falar mais sobre isso — falei de maneira
brusca.
Foi impossível evitar falar daquela maneira, quando eu
estava tão chateada com o que aconteceu na casa dos pais do
Lucky. Tampouco estava arrependida por o ter feito, afinal, ele
estava sendo extremamente condescendente com a atitude
grotesca de seus pais e isso é algo que está me incomodando
muito, e ele precisa entender isso.
— Tenha uma boa noite — Ainda falei antes de abrir a porta
do carro e descer.
— Beatrice.!
Ouvi Lucky me chamar, mas fingi que não, e continuei
caminhando pela calçada até a escada da minha casa, quando
percebi que Lucky também havia descido do carro e rapidamente
estava ao meu lado, já na soleira da porta.
— O que pensa que está fazendo? — perguntei com
descontentamento.
— Vou entrar com você — explicou Lucky, um sorriso
tranquilo em seu rosto.
Olhar para Lucky e ver que ele estava tentando fingir que
nada aconteceu foi algo que não me agradou nenhum pouco. Nós
tínhamos tido um desentendimento e eu não iria fingir o contrário.
— Não acho uma boa ideia, Lucky — Não hesitei em apontar
— Nós não concordamos sobre algo muito importante e eu estou
bastante chateada com você por isso. E não quero que fique comigo
esta noite.
As minhas palavras deixaram Lucky claramente espantado,
provavelmente ele não esperava que eu fosse falar abertamente
sobre o que estava sentindo e a minha sinceridade o assustou.
O espanto logo deu lugar a irritação, e eu me senti fria por
dentro, ao perceber isso. Eu não me deixaria levar pelas vontades
de outra pessoa novamente.
Mas os erros do passado me mostraram que eu não deveria
guardar os meus sentimentos nem tampouco anular as minhas
opiniões apenas para não desagradar a pessoa que está comigo.
Lucky percebeu a obstinação em meu rosto, que deixava
claro que eu não iria ceder sobre essa questão, e logo a sua própria
expressão se tornou mais suave.
— Você está certa, Beatrice — disse com mais um sorriso
cortês — É uma pena que a nossa noite não saiu como o esperado.
Eu preferi não comentar nada em relação às suas palavras. A
minha posição já estava clara e quando Lucky se aproximou com a
óbvia intenção de me beijar, antes que a sua boca tocasse os meus
lábios, eu virei o rosto de modo que o beijo fosse em minha face.
Apesar de não estar nenhum pouco contente com Lucky no
momento, ele ao menos não forçou a situação, o que teria sido a
gota d’água, mas foi embora com a promessa de voltar no dia
seguinte para que pudéssemos conversar melhor.
Aquela tinha sido uma longa noite, desde o primeiro momento
e só agora eu me dei conta do quanto foi sempre tão cansativo estar
com os pais do Lucky, inconscientemente tentando sempre estar
perfeita, de modo a agradá-los.
As lembranças das palavras usadas por eles para se referir a
uma criança não saíram da minha cabeça e eu tentei pensar em
outras coisas mais agradáveis, caso contrário não conseguiria
dormir, e a primeira coisa que surgiu foi a imagem do meu pequeno
otimista.
Pensar em Timothy trouxe um sorriso ao meu rosto e a
certeza de que ele é a melhor coisa que já aconteceu em minha
vida, apesar das circunstâncias extremamente tristes, pois eu não
gostava nem mesmo de pensar o que teria acontecido com o meu
pequeno, caso Yana e eu não tivéssemos nos conhecido e a
amizade entre nós não tivesse surgido de maneira tão rápida e
incondicional.
Mas eu sempre deixava esses pensamentos de lado, pois a
felicidade por estar fazendo a diferença na vida de outra pessoa
sempre se sobressai a tudo o mais.
Pensar no Timothy me levou a pensar em uma outra pessoa
também, e no quanto ele também estava fazendo a diferença na
vida do meu garoto, eu não poderia deixar de reconhecer.
Edward e Timothy tem uma conexão muito bonita, e ele fazia
absoluta questão de sempre estar com o pequeno. Abigail me
mantinha informada sobre tudo o que acontecia quando Timothy
estava na mansão do Edward, e segundo me contou, eles eram
sempre inseparáveis quando estavam juntos. O meu ex-marido
estava até mesmo ensinando o Timothy a jogar tênis e eles se
divertiam muito.
Acabei adormecendo com essas imagens criadas pela minha
mente, afinal, eu não os tinha visto pessoalmente, e acordei mais
tarde que o normal, depois de sonhar que nós três estávamos
jogando tênis, como uma família perfeita e feliz, o que acabou me
deixando bastante irritada.
Eu não desejava voltar ao passado, quando eu já estive lá e
não foi nada agradável. Eu tentei mais uma vez, insisti, e posso
afirmar que tudo saiu quase tão horrível quanto a tentativa anterior.
O fato de a campainha estar tocando de maneira insistente
contribuiu para o meu mau humor aumentar e depois de colocar
apenas um penhoar sobre a minha discreta camisola de seda preta
e fui atender a porta me sentindo bastante contrariada.
Só ao chegar ao hall imaginei que poderia se tratar do
Edward, que tinha vindo deixar Timothy, e um conhecido frio na
barriga, assim como o aumento no ritmo das batidas do meu
coração me fizeram parar um pouco e respirar com calma, para
tentar me controlar e não deixar que o meu ex-marido percebesse
que mesmo contra toda a sensatez e racionalidade, ele ainda
conseguia me abalar.
Mas eu não deveria ter me preocupado tanto, pois quando
olhei pelo visor da porta, era na verdade um jovem entregador, que
usava um uniforme de um serviço especializado bastante conhecido
em Londres e um sentimento muito similar a decepção se apossou
de mim.
— Senhorita Phillips? — perguntou o jovem depois que abri a
porta e o cumprimentei de maneira educada e respondi
afirmativamente — Entrega para a senhorita.
Como não havia nenhum pacote em suas mãos, eu me
perguntei o que poderia ser, e só então percebi uma van
estacionada em frente a minha casa, para a qual o jovem
caminhou, trazendo consigo alguns buquês de flores, no plural.
Mas aquilo não era tudo. O rapaz precisou dar ao menos três
viagens até a van, para conseguir trazer todos os buquês de flores
que estavam destinados a mim e eu me perguntei quem poderia ter
feito algo tão insano.
Apesar do desconforto que eu estava sentindo com aquele
presente exagerado, eu deixei que o entregador fizesse o seu
trabalho e ainda tentei oferecer uma gorjeta, ao que ele recusou de
maneira firme, me entregando o cartão que estava em suas mãos.
Bem, agora eu iria descobrir o remetente, pensei, enquanto o
retirava do envelope elegante.
“Espero que estas flores possam apagar o que aconteceu na
noite de ontem, e que possamos ter outras noites maravilhosas
juntos. Lucky.”
Qualquer outra mulher poderia ter ficado muito feliz com as
flores e aquela mensagem, mas não foi isso que aconteceu comigo.
Eu estava me sentindo incomodada, verdadeiramente
desconfortável e o exagero do presente assim como a mensagem
pedindo para que eu esqueça o que aconteceu não me deixou
nenhum pouco feliz.
Como se pode apagar algo como o que aconteceu ontem,
ainda mais quando não chegamos a um entendimento e o Lucky
não compreendeu o ponto principal da questão. Não que eu
estivesse esperando que ele ficasse contra os seus pais e ao meu
lado.
O que eu estava esperando e que não aconteceu até agora é
que ele mostre a sua verdadeira posição em relação ao assunto,
pois eu não poderia continuar com a nossa relação se Lucky me
mostrar que é diferente de seus pais e contra aquela postura
mostrada por eles, mesmo que não fosse brigar com os pais por
causa disso. Se posicionar é importante.
Suspirei me sentindo cansada e tensa, e novamente a
campainha tocou.
Desta vez eu tive o forte pressentimento de que era Edward e
Timothy e meu coração novamente pareceu querer sair do peito,
mas fingi tranquilidade e voltei para o hall de entrada e abri a porta
com as mãos um tanto quanto trêmulas.
— Olá! — Timothy se jogou em meus braços — Parece que
alguém aqui esteve correndo muito.
As palavras saíram tranquilas e com o tom de divertimento
que eu desejei, bem diferente do que eu estava sentindo por dentro
e Timothy soltou caiu na risada, demonstrando o quanto estava feliz,
e não necessariamente por estar voltando para casa.
— Estamos voltando do clube — Edward explicou, olhando
para mim com atenção — Por isso ele está um pouco suado…
Edward interrompeu o que estava dizendo ao olhar em torno
da sala de estar de maneira intrigada.
— Está pretendendo colocar uma floricultura?
Ao ouvir a pergunta do Edward, um alarme soou em minha
mente e me repreendi severamente por não ter dado um fim as
flores de imediato.
CAPÍTULO 55 – Mais uma derrota
Edward
Eu perdi totalmente a linha de raciocínio ao entrar na sala de
estar da casa de Beatrice e me deparar com o cômodo estava
repleto de flores por todos os lados, o que tornou tudo muito colorido
e vibrante, mas que teve o poder de me deixar um tanto quanto
desanimado.
Apesar da minha pergunta, eu entendi perfeitamente o que
significavam todas aquelas flores e quem foi o autor de tamanho
gesto de romantismo, que com certeza conseguiu conquistar a
minha mulher ainda mais.
Ainda assim, o desconforto de Beatrice com a minha pergunta foi
algo notório, o que me levou a acreditar que a minha curiosidade
não foi bem recebida por ela, que nem mesmo conseguiu responder,
pois Timothy se atravessou entre nós.
— Nossa! — Timothy falou com animação, correndo até onde
estava um enorme buquê de rosas vermelhas — Quantas flores
lindas!
Eu estava tão completamente atento às nuances de expressão
em Beatrice, que não percebi que o garoto estava simplesmente
deslumbrado com aquele cenário bucólico e encantador, e seus
olhos pareciam verdadeiramente encantados, o que me fez sentir
duplamente traído.
Era essa a sensação que estava se alastrando por meu peito,
juntamente com uma agora conhecida dor da perda de alguém
especial, como é o caso das duas pessoas que estavam naquela
sala, felizes pela demonstração de carinho do remetente das flores.
— Foram… um presente…
Beatrice parecia insegura sobre dizer aquilo e eu não consegui
entender o que estava acontecendo diante dos meus olhos, pois
naquele instante, Timothy segurava uma rosa vermelha em sua mão
e a acariciava como se esta fosse algo muito importante para ele.
Enquanto isso, Beatrice o encarava com a expressão assustada,
como se a qualquer momento alguma coisa fosse acontecer, e ela
estivesse apenas esperando por aquilo, e tudo parecia estar em
expectativa, quando Beatrice caminhou até onde Timothy estava e
tocou seus ombros com delicadeza, como uma maneira de o
confortar.
Mas confortar por quê? Até alguns minutos atrás, tudo estava
bem e o garoto estava muito feliz, jogamos tênis juntos.
Encarei o garoto com mais atenção, que estava de olhos
fechados e com a cabeça baixa, enquanto ainda segurava a rosa
vermelha entre os seus dedos pequenos e só então percebi uma
lágrima solitária descer por sua face.
Timothy parecia fortemente emocionado com aquele buquê de
rosas e não demorou para que ele derramasse um pranto copioso, e
eu olhei para Beatrice, em busca de alguma explicação para aquele
momento que estava sendo claramente doloroso para o menino.
Beatrice o segurou pelos ombros, passando as mãos
carinhosamente por suas costas e cabelos, consolando-o de suas
dores, e eu só conseguia me sentir perdido, talvez um intruso entre
os dois.
Mas tudo mudou no momento em que Timothy abriu os olhos e
me olhou com os seus olhos ainda marejados, enxugando as suas
lágrimas com as costas de sua mão e sorrindo para mim mesmo
quando estava nitidamente sofrendo.
— A mamãe vendia rosas vermelhas para nos manter, Edward
— ele contou e eu me senti extremamente afetado com a sua
explicação singela — Eu gosto muito de rosas vermelhas e a
Beatrice também. Ela sempre comprava as rosas da mamãe.
Beatrice ainda os segurava em seus braços, enquanto entre
soluços o pequeno tentava explicar o motivo de aquelas flores terem
desencadeado tamanha emoção para ele, mesmo que estivesse
claro o quanto estava sendo difícil para ele fazer isso.
— Yana foi uma grande mulher, Timothy — Falei, também me
sentindo emocionado — E vai estar sempre em seu coração, não é
mesmo?
— Sim — Timothy confirma, mas parece ter um nó na garganta,
ainda tentando conter o choro.
Há um clima pesado na sala, todos parecem afetados pelas
lágrimas do pequeno, mas Timothy acaba nos surpreendendo ao
mudar completamente de assunto.
— Estou com fome, Beatrice — Ele disse, enxugando as
lágrimas mais uma vez. — No clube só tinha comidas que eu não
gostei nada.
Foi impossível não rir da mudança brusca de atitude de Timothy
e o garoto nos encarou como se fossemos dois bobos, por estar
rindo assim, sem motivo.
— O que foi engraçado? — ele perguntou, parecendo confuso.
— Nada, querido — Beatrice desconversou, enxugando uma
lágrima repentina — Estamos felizes e é isso. Sorrimos.
— Entendi — Timothy concordou com seriedade — Agora
podemos ir para a cozinha? Edward também não comeu nada.
Beatrice atendeu ao pedido do Timothy e me convidou a me
juntar à eles, enquanto ela preparava uma refeição rápida, tendo em
vista que já estava no meio do dia e fazer uma refeição completa
demandaria muito tempo.
— O que acha de tomar um banho antes de comer, Timothy? —
Beatrice sugeriu e diante do olhar indeciso do garoto em minha
direção, ela completou — Eu faço companhia ao seu amigo, tudo
bem assim?
— Eu volto logo, Edward — ele se justificou, caminhando
apressado em direção ao corredor — Não vai embora!
Eu sorri para a maneira descontraída de agora e admirei a sua
força, mesmo ele sendo ainda tão jovem.
— Ele chora todas as noites antes de dormir — Beatrice
comentou, enquanto preparava alguns sanduíches de rosbife —
Mas durante o dia ele brinca como qualquer outra criança.
Ela estava triste, provavelmente lembrando do que aconteceu
quando ela estava cobrindo a guerra na Ucrânia, e ainda estava
acontecendo, pois ela continuava como repórter internacional,
apenas não estava mais em campo.
— Ele é um excelente garoto — comentei em resposta às suas
palavras — E já te ama como um filho.
Beatrice sorriu, parecia satisfeita com o comentário e até
pareceu prestes a falar algo, mas voltou a se calar, como se
estivesse indecisa sobre falar ou não aquilo que pretendeu de início.
— É sim — acabou dizendo apenas.
Pensei em algo para dizer, afinal, estava claro que por algum
motivo ela desejava encerrar aquele assunto e para evitar o silêncio
total na cozinha, eu perguntei se ela precisava de alguma ajuda,
mas ela me garantiu que estava tudo bem.
Um silêncio confortável se instalou na cozinha, enquanto ela
terminava de preparar os sanduíches, eu apenas a observava
atentamente, admirando a sua beleza clássica, seu corpo
completamente coberto pelo penhoar recatado e sentindo-me triste
por nossa separação, mas uma vez refletindo sobre o que eu
poderia fazer para trazer Beatrice de volta para a minha vida, para a
minha cama.
Estava claro que o fato de eu estar tentando mudar e ser não
apenas um homem melhor, como também uma pessoa melhor, não
mudava nada em relação aos seus sentimentos por mim, e eu
estava começando a acreditar que não havia mais nenhum de sua
parte.
Continuei a observar Beatrice, enquanto estava também perdido
em pensamentos, lembranças de quando éramos casados e eu não
soube cuidar da minha esposa, praticamente a obrigando a dar um
fim em nosso casamento e de repente Beatrice dá um salto, seguido
de um gritinho, uma faca em sua mão.
— Você se machucou? — perguntei de imediato, ficando de pé
ao seu lado e logo me contradisse — Que pergunta mais boba. É
claro que sim.
Beatrice tinha um pequeno corte em seu dedo indicador e eu
retirei a faca de sua mão, a colocando em cima da mesa e
segurando em seu dedo para analisar a profundidade do corte, que
sangrava um pouco.
— Por sorte, é apenas superficial — comentei.
Ao perceber que Beatrice continuava em silêncio, olhei em seu
rosto e percebi que me olhava de uma maneira diferente, mais
parecida com a mulher com quem estive casado por anos, e não
mais a mulher fria e distante com quem eu estava tendo contato
atualmente.
— É… tem razão — ela comentou, ao se dar conta de que
estávamos apenas nos encarando, sem nada dizer — Foi
superficial.
Mas ela não puxou os seus dedos, que eu ainda segurava,
tampouco se afastou de mim, e sem parecer se dar conta do que
fazia, Beatrice deu mais um passo em minha direção, seus olhos
fixos em minha boca e eu senti que a excitação já se fazia presente
em meu corpo.
— Nós não devemos fazer isso — Beatrice alertou, mais para si
mesma que propriamente para mim.
— Por que, não? — Eu exigi saber — Somos casados.
— Eu tenho namorado, Edward…
— Eu sou seu marido, Beatrice…
Não houve mais nenhuma palavra depois disso, pois Beatrice
tinha trazido seus lábios até os meus e nos beijamos com paixão e
desespero, seus braços enlaçando o meu pescoço, enquanto os
meus a agarraram pela cintura, puxando seu corpo para mais perto
do meu.
— Não podemos… — Beatrice repetiu, mas sua boca estava
novamente correspondendo a minha.
Sentir a maciez do corpo feminino, as curvas que eu sempre
amei e pensar em todo o tempo que estávamos perdendo
separados um do outro trouxe uma urgência ainda maior para o
momento, e minhas mãos passeavam de maneira ansiosa por todo
o corpo de Beatrice, desejando tirar a sua roupa e colocá-la sobre a
mesa da cozinha e amá-la ali mesmo.
Mas o bom senso falou mais alto, ao me lembrar que Timothy
poderia chegar a qualquer momento, e poderia nos pegar em uma
situação completamente constrangedora para todos nós, então
afastei minha boca da sua, no mesmo instante em que ouvimos
passos apressados vindos do corredor.
CAPÍTULO 56 – Incertezas
Beatrice
Eu estava evitando o Edward a todo custo desde o nosso longo
e delicioso beijo na cozinha da minha casa, pois além da culpa por
ter traído o homem com quem eu tinha um relacionamento, eu
também tinha me arriscado ao extremo, ao voltar por aquele
caminho perigoso.
Eu estava sendo covarde ao fugir, mas era melhor para todos
que nós ficássemos distantes um do outro. Eu já sabia onde aquilo
iria dar e eu não precisava voltar lá mais uma vez para quebrar a
cara novamente, então, era melhor evitar toda e qualquer tentação.
A palavra era exatamente essa: tentação.
Edward sempre foi e entendi que ainda é o meu grande ponto
fraco e eu não iria me deixar levar pelas emoções ao ponto de sofrer
por ele de novo.
Então, quando Timothy voltou para a cozinha, eu suspirei
aliviada e os deixei comendo seus sanduíches e voltei para a
segurança do meu quarto. Mas antes de qualquer coisa, eu retirei
todos os buquês de flores da sala, deixando apenas o de rosas
vermelhas, aquele que Timothy pareceu ficar tão emocionado.
Considerei que ele poderia desejar ter queijo como uma
lembrança boa de sua mãe. Mas as outras flores eram um excesso
estranho e indesejado e eu diria exatamente aquilo para Lucky.
Quando eu já me sentia mais segura e forte, Edward e Timothy
já estavam vendo algumas revistas em quadrinhos na sala de estar,
os dois bastante a vontade um com o outro.
— Eu preciso ir — Edward avisou, me analisando com cautela —
Amanhã passo para buscar Timothy e levá-lo à escola.
— Ok.
Eu não consegui dizer nada além disso, quando aquele par de
olhos azuis cristalinos me analisavam com tanto interesse, atento ao
menor traço de insegurança que eu pudesse mostrar.
Depois que ele saiu, Timothy e eu conversamos um pouco sobre
o que aconteceu e depois de tudo, percebi que tinha sido bom para
nós dois falar um pouco sobre aquilo que estava sentindo diante das
circunstâncias em que nossas vidas se cruzaram.
Lucky me ligou alguns minutos depois e nós conversamos um
pouco, e eu deixei claro que flores não apagariam as palavras ditas
por seu país e que esperava ardentemente que ele não pensasse
da mesma forma, caso contrário, eu não desejava mais estar com
ele, tendo em vista a extrema divergência de opiniões.
A palavra correta seria caráter, mas eu preferi não ofender o
casal, afinal, eram os seus pais, no final das contas.
— Claro que eu não concordo com aquilo que os meus pais
disseram, Beatrice — Lucky se defendeu — Só estava tentando
explicar as motivações deles, não estava justificando, na verdade.
— Espero que seja apenas isso mesmo, Lucky.
Nós conversamos mais um pouco e apesar da sua insistência
em vir até a minha casa, eu achei melhor que ele não viesse, afinal,
eu precisava dar mais atenção ao Timothy, tendo em vista que ele
passou quase o fim de semana todo na casa do Edward.
Só voltei a ver Lucky na segunda-feira, quando ele foi até a
minha sala para conversar, algo que eu não estava de acordo de
maneira alguma, pois estávamos em um ambiente de trabalho e não
era o momento para conversar sobre assuntos pessoais.
— Tudo bem — ele concordou a contragosto — Talvez você
esteja certa.
— Mas é claro que eu estou certa, Lucky — Eu reagi com
indignação ao seu tom de dúvida — Não podemos misturar a nossa
vida pessoal com o nosso trabalho. Vamos conversar sobre isso em
outro lugar.
— Você tem razão — Agora ele tinha afirmado — O que acha de
jantarmos juntos? Assim podemos conversar mais à vontade.
Diante da insistência de Lucky, acabei aceitando recebê-lo em
casa para jantar e quando ele saiu da minha sala, fiquei me
perguntando por qual motivo foi tão difícil concordar em passar
algum tempo com ele, quando até dois dias atrás eu o considerava
como alguém importante para mim, afinal, estamos namorando e
claro que namorados desejam estar um com o outro. Ao menos
teoricamente.
Talvez fosse o momento de rever essa relação e pensar se
aquilo ainda é realmente o que quero para a minha vida, pois o
jantar na casa dos pais de Lucky me deixou bastante receosa sobre
continuar com o nosso relacionamento.
Durante o jantar, evitamos conversar sobre qualquer assunto
mais pessoal, tendo em vista que Timothy estava conosco, e a todo
momento eu buscava abordar assuntos mais leves e que fossem
apropriados para a nossa audiência infantil.
Timothy, no entanto, fez questão de passar a maior parte do
tempo falando sobre Edward e como eles se divertiram no fim de
semana, algo que estava deixando Lucky nitidamente
desconfortável, e foi impossível evitar a tensão durante todo o jantar.
A situação era bastante delicada. Eu não poderia simplesmente
dizer para Timothy que ele não deveria falar o nome de Edward na
presença de Lucky, pois aquilo era algo muito estúpido para se dizer
a uma criança.
Mas eu teria apreciado que ele não trouxesse o nome do meu
ex-marido a todo momento para a nossa conversa, e todas as vezes
que Timothy trazia Edward para a mesa, eu falava sobre outra coisa,
na tentativa de fazer com que o assunto seguisse por outro
caminho.
— Sobre o evento na escola de Timothy — Desta vez foi Lucky a
trazer outro assunto — Foi tudo bem?
— Foi um grande momento para o meu pequeno, não é mesmo,
Timothy? — elogiei.
Sorri com satisfação ao lembrar da apresentação que tinha
acontecido naquela tarde, quando Timothy foi um dos alunos
selecionados a participar de uma peça teatral na escola e de como
tudo ficou lindo.
— Eu gostei bastante — Timothy concordou sorridente — Pena
que o Edward precisou fazer uma importante viagem de negócios e
não pode ir ver minha apresentação.
Claro, Timothy tinha que trazer novamente o Edward ao assunto
e a expressão no rosto de Lucky deixava bastante claro o quanto ele
estava ficando chateado com a maneira de agir do meu pequeno.
— Quem sabe em uma próxima oportunidade? — Tentei
contornar a situação — E então? Preparados para a sobremesa?
Apesar da maneira animada e descontraída que usei para fazer
a pergunta, nenhum dos dois que estavam a mesa pareceu estar
interessado e eu me senti um tanto quanto decepcionada, afinal,
aquela era a primeira vez que eu fazia uma torta de maçã e nenhum
deles pareciam interessados em provar do prato.
— Esse silêncio está gritando um sonoro Sim, concordam
comigo?
— Sim — Timothy respondeu sem animação alguma.
— Estou ansioso para saber o que você preparou para nós —
Lucky disse de modo lisonjeiro, me deixando um pouco mais
confiante.
Apesar disso, comemos a torta no mais absoluto silêncio e
Timothy pediu para recolher-se ao seu quarto logo que terminou de
comer.
— Vou colocar o Timothy na cama e já volto — Avisei para
Lucky.
— Vou esperar por você na sala de estar — Lucky avisou, já
caminhando em direção ao local.
— Ótimo.
Já no quarto com Timothy, evitei conversar sobre essa questão,
mas o faria em breve, por mais que eu não desejasse restringir o
pequeno de nenhuma maneira, talvez essa ligação entre ele e
Edward fosse algo a se cuidar melhor.
Por enquanto, deixaria as coisas como já estão e apenas o
orientei a trocar de roupa e li um capítulo do livro de histórias infantis
que Abigail o tinha presenteado há alguns dias e depois que
Timothy já estava devidamente agasalhado e prontinho para dormir
em sua cama, eu voltei para onde estava Lucky, que me aguardava
na sala de estar.
— Voltei… — Comentei, tentando passar uma imagem de
animação que eu estava longe de sentir.
— Está tudo certo com Timothy? — ele perguntou, segurando
em minha mão e me puxando para sentar ao seu lado no sofá
espaçoso e confortável.
— Sim — concordei rapidamente — Ele estava bastante
cansado depois de toda a emoção de hoje na escola.
Eu fiz conforme ele estava desejando, mas logo que me sentei,
Lucky tocou delicadamente em meu rosto, e acariciando os meus
lábios, imaginei que iria me beijar.
— Estou com saudades da sua boca — Lucky sussurrou, seu
polegar delirando o contorno dos meus lábios — Sente a minha falta
também?
A pergunta me pegou de surpresa de todas as formas,
principalmente porque eu não poderia simplesmente dizer que sim,
que estava louca de saudades também, quando fazia apenas alguns
dias que nós não tínhamos contato e que eu não tinha realmente
responsabilidade alguma sobre essa nossa distância.
Se há alguém que causou esse afastamento entre nós, esse
alguém foi ele mesmo, ao ficar ao lado dos seus pais quando eles
estavam totalmente errados, ao falar daquela maneira sobre
crianças.
— Eu diria que sim, mas temo estar mentindo…
— O que isso quer dizer?
— Quer dizer que ainda estou triste com a história dos seus pais,
Lucky… Que não esperava que vocês tivessem uma visão tão
grotesca sobre educação infantil.
— Mas isso é algo que não deveria afetar a gente, Beatrice —
Lucky comentou com irritação — Eu já pedi para esquecermos isso.
— Não é porque você me mandou uma dúzia de buquês de
flores pedindo para eu apagar algo que aconteceu, que eu
simplesmente farei isso, Lucky.
Aparentemente nós não iríamos mesmo chegar a um
consenso sobre este assunto.
capítuLO 57 – Festa de casamento
Beatrice
Eu diria que de uma maneira um tanto quanto torta, Lucky e eu
acabamos nos entendendo, pois ele evitava tocar no assunto
polêmico que eram os seus pais e eu aceitei que ele o fizesse dessa
forma.
Após muita reflexão, entendi que não poderia ficar com raiva de
Lucky para sempre, por algo que ele não fez, ainda mais quando ele
me garantiu de maneira insistente que não compactua com a
maneira de pensar dos seus pais.
Optei então por dar-lhe mais uma chance, mas se antes eu
estava com um pé atrás, depois de tudo o que passei em meu
casamento, agora eu tinha dois pés atrás, verdadeiramente receosa.
Então, alguns dias depois, quando chegou o dia do casamento
de Abigail e Andrew, nós fomos juntos para Kent, mais precisamente
para Higham, onde estava localizada a propriedade rural da família
Maddock, ou seja, a família de Abigail e Edward e onde todos iriam
se reunir pelas festividades.
A viagem a Higham foi rápida e em menos de uma hora nós
estávamos estacionando na propriedade enorme e bem cuidada dos
pais de Abigail, que já estava repleta de outros automóveis, dos
outros convidados.
O mordomo estava à nossa espera e nos levou até a ampla sala
de estar da casa, onde algumas pessoas estavam reunidas,
conversando alegremente, e reconheci vários dos rostos presentes,
mas o que me chamou realmente a atenção foi o fato de Edward
não está entre os presentes, algo bastante estranho, considerandose que era a sua família.
Ao perceber o que eu tinha acabado de fazer, ou seja, procurar
pelo Edward quando eu estava ao lado do meu namorado, me
repreendi em pensamento, afinal, o que o meu ex-marido faz ou
deixa de fazer, aonde vai ou deixa de ir, não me diz respeito e eu
preciso parar de fazer isso.
Acenei para algumas pessoas que reconheci e logo a nossa
chegada chamou a atenção de Abigail, que de imediato estava ao
nosso lado, agradecendo por termos aceitado o seu convite e por
estarmos ali junto com ela em um momento tão importante.
— O Edward ainda não chegou, senhorita Abigail? — Timothy
fez a pergunta que estava me torturando, mas que eu jamais
poderia ter feito — Não vi o carro dele entre os outros.
— Edward logo estará aqui conosco — Abigail respondeu, mas
havia um sorriso suspeito brincando em seus lábios — Ele está
trazendo consigo algumas pessoas de Londres, por isso ainda não
chegou.
Se antes eu já estava curiosa sobre Edward, agora, ao saber
que ele estaria acompanhado de outras pessoas, fiquei ainda mais
curiosa e ao mesmo tempo receosa em saber quem seriam estas.
— Espero que ele chegue logo! — Timothy disse, pulando
animado.
— Eu também — Abigail concordou, sorrindo pela animação do
meu pequeno — Então, vamos subir? Vou mostrar para vocês onde
vão ficar.
— Claro — concordei.
Percebi que Lucky não tinha dito ao menos uma única palavra
desde que chegamos, com exceção da resposta ao cumprimento
inicial de Abigail. Ao menos isso, pensei com desgosto.
— Onde está Andrew? — perguntei.
Estávamos subindo as escadas em direção a ala leste da casa,
onde ficavam os quartos de hóspedes e eu tentei trazer um assunto
comum a todos, de modo que Lucky se pronunciasse, pois logo
Abigail iria me perguntar se havia algum problema e eu não estava
pensando em admitir, ao menos não por enquanto, que talvez eu
estivesse cometendo mais um grande erro em minha vida.
— Ele saiu a cavalo com alguns amigos do jornal — Abigail
contou — Ele desejava esperar por você, Lucky, mas já estavam
todos tão ansiosos por cavalgar pelos campos, que ele acabou
concordando em ir logo de uma vez.
— Não há problema algum — Lucky disse sem emoção — Eu
não sou adepto das cavalgadas. Na verdade, detesto atividades ao
ar livre.
Nossa! Como eu só estava sabendo sobre isso agora? Logo eu,
que amo cavalgar e o fazia isso com bastante regularidade antes de
ir morar em Londres. Não foi nada animador saber que ele não
gostava e que os meus planos de saímos juntos para uma volta pela
propriedade tinham acabado de ser frustrados.
— Ah — Foi tudo que Abigail conseguiu dizer — Chegamos.
Para o nosso alívio, pois acredito que Abigail se sentia da
mesma maneira que eu, tínhamos acabado de chegar em frente a
porta do quarto onde Lucky seria instalado.
— O que separei para você e Timothy é este aqui — indicou uma
porta ao lado — Espero que gostem das acomodações.
— Claro que gostamos — falei com animação genuína — Vamos
só nos instalar e logo descemos, tudo bem assim?
— Levem o tempo que precisar. O casamento será apenas no
domingo à tarde e teremos bastante tempo para aproveitar juntos.
Depois que Abigail desceu, Lucky entrou no seu quarto sem me
dirigir ao menos um aceno e só me restou fazer o mesmo, mas
acompanhada pelo Timothy, que estava de fato bastante animado e
ficou o tempo todo olhando pela janela, de onde era possível ver
algumas crianças brincando nos jardins amplos e muito bem
cuidados.
— Posso descer para brincar, Beatrice? — Timothy perguntou
pela terceira vez depois que chegamos — Todos estão se divertindo
e eu também gostaria de ir.
— Deixe-me apenas guardar algumas coisas e vamos juntos,
Timothy — Respondi novamente.
— Eu sei onde fica… posso descer sozinho — sugeriu
impaciente — Logo você também vai estar lá.
— Não acho uma boa ideia que vá sozinho.
Timothy se jogou sobre a cama, visivelmente contrariado e
cruzou os braços na frente do peito, ficando emburrado pela
primeira vez desde que o trouxe para morar comigo, o que achei
engraçado, pois ele estava agindo realmente como uma criança de
onze anos, algo absolutamente normal, ainda mais quando a
adolescência já estava tão próxima de chegar.
— Precisa aprender a esperar, Timothy.
O garoto baixou os olhos, em reconhecimento ao seu erro, mas
nada disse e alguns minutos depois, fingi que já tinha terminado de
fazer aquilo que pretendia e juntos descemos para onde estavam as
crianças que vimos da janela do nosso quarto.
Eu realmente não tinha concluído ainda, mas não queria deixar
Timothy esperando por mais tempo, e não queria que ele soubesse
que eu deixei de fazer algo apenas para atender os seus desejos,
por mais que tenha acontecido exatamente isso, no final das contas.
Quando chegamos no jardim, várias pessoas estavam do lado
de fora da propriedade, aproveitando o clima ameno de verão,
enquanto conversavam e observavam as crianças correr e brincar.
Fiquei conversando com algumas pessoas que conhecia, a
maioria parentes de Edward com quem convivi por toda a minha
infância e adolescência, como também algumas antigas amigas,
que o tempo e a distância afastaram uma da outra.
Para minha grande surpresa, vi se aproximar de onde eu estava,
ninguém mais, ninguém menos que o meu primo Sebastian,
sorrindo largamente ao me ver conversando com Maggie, a mãe de
Abigail e tia de Edward.
— Olá, belas garotas — nos cumprimentou com entusiasmo —
Como estão?
— Sebastian! Não esperava encontrá-lo aqui.
— Mas eu tinha absoluta certeza de que você não iria perder o
casamento de Abigail por nada — Sebastian rebateu com bom
humor.
Depois de alguns abraços efusivos e cumprimentos animados,
ficamos conversando, e Maggie pediu licença para se retirar, pois
precisava dar atenção aos outros convidados também, algo
bastante compreensível.
— Respondendo a pergunta que está gritando em seu olhar —
Sebastian começou a dizer com divertimento — Abigail e eu
continuamos bons amigos, mesmo depois que você não estava
mais em Kent e ela me convidou para o seu casamento.
— Eu realmente não sabia — expliquei um pouco envergonhada.
— Você esteve muito distante de todos enquanto estava casada
com Edward e ainda mais distante depois que se separaram,
Beatrice.
Sebastian tinha razão, e mais uma vez a consciência de que
talvez eu também tenha contribuído, ao menos um pouco, para a
vida absolutamente sem graça e triste que vivi durante os anos em
que estive casada com Edward.
— Mas isso não mais importa, concorda? — Sebastian disse
com animação renovada — O que importa é que estamos todos
aqui e podemos aproveitar bastante esses dias em que estamos
todos reunidos.
— Está certo, primo — concordei sorridente — Vamos relembrar
os velhos tempos em que ficávamos entre Rochester e Higham, nos
divertindo com tudo o que aparecia à nossa frente.
— Perfeitamente, prima.
Fiquei realmente feliz por ter encontrado com Sebastian e por
enfim termos colocado um ponto final no clima desagradável que
ficou entre nós, quando ele esteve em Londres, há mais de um ano
atrás, conversando bastante sobre tudo o que aconteceu nesse
meio tempo.
— Então, você está à frente da nossa empresa? — Perguntei
com espanto — Eu realmente não tinha conhecimento algum sobre
isso.
— Edward abdicou da presidência da Phillips e agora ele está à
frente apenas da sua própria empresa — Sebastian explicou,
confirmando que os meus ouvidos não tinham me enganado —
Acredito que você tenha sido convidada a participar da reunião do
conselho…
Fiquei envergonhada com a lembrança, pois Sebastian estava
certo sobre isso, mas eu não compareci à reunião por acreditar que
Edward estaria presente e tudo o que eu fiz nesse tempo foi evitar
qualquer lugar que ele estivesse.
— Falando em Edward Maddock, ele acaba de chegar.
Senti o meu coração bater louco dentro do peito e o nervosismo
me consumir, apenas em saber que ele tinha chegado e temendo
descobrir quem eram as pessoas que estavam com ele.
capítulo 58 – Ignorando os sentimentos
Beatrice
Eu permaneci de costas para a direção em que Sebastian
indicou de maneira discreta que Edward estava vindo, mas aguardei
com ansiedade que ele chegasse onde nós estávamos, o que não
aconteceu, me deixando frustrada.
— Pode respirar tranquila, Beatrice — Sebastian brincou — O
seu ex-marido entrou na casa, juntamente com as pessoas que ele
trouxe consigo.
Novamente a palavra “pessoas”. Que coisa horrível, pois isso
não dizia se eram homens, mulheres ou os dois e eu não queria
chamar a atenção para mim, ao perguntar sobre isso, o que me
deixou no escuro mais uma vez, pois apenas sorri em resposta às
palavras do meu primo.
— Eu já estava tranquila, Sebastian — fingi uma calmaria que
estava longe de sentir e tentei mudar de assunto — Diga-me, como
você está? Acredito que anda muito ocupado, pois cheguei à
Londres há semanas e não recebi uma única visita de sua parte.
— Abigail me contou que você havia chegado e que trouxe
consigo um pequeno acompanhante — Sebastian confessou — Eu
estava apenas esperando que vocês se adaptassem melhor, para ir
fazer uma visita.
Encarei Sebastian com desconfiança, sem realmente acreditar
em suas palavras, mas sem deixar isso tão claro, afinal, da última
vez em que nós nos vimos, o clima não foi dos melhores na nossa
despedida.
— Preciso entrar, pois Lucky deve estar a minha procura —
expliquei para Sebastian, já chamando por Timothy, que ainda não
queria voltar para o interior da casa.
— Posso cuidar do garoto, Beatrice — Sebastian se ofereceu
gentilmente e eu aceitei, de fato, precisava conversar com Lucky.
Como uma maneira de adiar ainda mais o encontro com Edward,
aproveitei que alguns primos do meu ex-marido tinham se
aproximado de nós para conversar, me despedi apressadamente e
voltei para dentro da residência pela entrada lateral, de modo a
evitar encontrar com qualquer pessoa que estivesse chegando
agora.
Consegui chegar ao quarto do Lucky sem me deparar com
ninguém além dos funcionários da casa, aos quais cumprimentei
alegremente, pois os reconheci de outros tempos.
Lucky atendeu a porta sem demora, mas parecia estar chateado
e eu já conseguia até mesmo imaginar o motivo.
— Está ficando chato já, a maneira como aquele garoto fala o
tempo todo sobre o seu ex-marido, Beatrice — reclamou, sem me
surpreender nenhum pouco.
— Aquele garoto é o meu filho e não gosto que fale dessa
maneira sobre ele — protestei sem disfarçar o meu aborrecimento
— Ele se chama Timothy e tenho certeza de que ele não faz isso
para te aborrecer, Lucky.
— É claro que Timothy faz isso de maneira proposicional e só
você não percebeu ainda que ele está tentando me aborrecer.
— Ele apenas gosta muito do Edward… — falei, já cansada
daquelas discussões sem fim.
— Estou começando a acreditar que não é só o Timothy que
parece gostar muito do Maddock.
Cada dia estava mais claro que Lucky e eu éramos
incompatíveis e que insistir naquela relação não iria nos levar a
lugar algum. Mas eu não iria falar isso para ele agora, quando
estávamos em outra cidade, convidados do casamento da minha
amiga e cercados por pessoas por quem eu tenho muita
consideração.
Sendo assim, tentei amenizar a situação e manter a paz entre
nós. Pelo menos até segunda-feira, quando voltássemos à Londres.
— Está enganado, Lucky — Falei de maneira firme — Não há
mais nada entre Edward e eu, tampouco voltará a existir. Acredite
em mim.
Lucky aceitou as minhas palavras e o clima entre nós se tornou
um pouco menos tenso, para o meu alívio, e juntos fomos para onde
estavam todos, à beira de uma mesa posta com alguns sanduíches
variados e sucos de diversos sabores, como maçã, laranja e
groselha, como também o bom e querido chá, para que os
convidados se servissem à vontade.
Fiz um pequeno prato com alguns sanduíches e preparei um
chá com leite, e estava prestes a sair à procura de Timothy, quando
Lucky se ofereceu para fazer isso em meu lugar, o que me deixou
bastante satisfeita, pois aquele era um claro pedido de desculpas
pelo que ele tinha falado quando estávamos no quarto, alguns
minutos atrás.
— Você espera aqui, que vou chamá-lo.
— Tudo bem — concordei com um sorriso sincero.
Quando estava sozinha, próxima à mesa, vi que Abigail e
Andrew se aproximavam de mim, parecendo estarem a minha
procura, eu diria.
— Onde esteve? — Abigail perguntou logo que estava próximo o
suficiente — Estávamos à sua procura.
— Temos uma surpresa que sabemos que você vai gostar
bastante — Andrew completou com um sorriso, depois de me
cumprimentar com um abraço afetuoso.
— Estou muito curiosa sobre essa surpresa, então!
Parece até ter sido combinado, pois no mesmo instante vi se
aproximar de nós Sienna e Fiorella, as minhas grandes amigas
italianas.
— Não posso acreditar que estão aqui! — falei com animação
sincera — Por que não me contaram que também viriam? Eu teria
esperado por vocês em Londres, para virmos todas juntas.
Eu já sabia que Abigail e Janet tinham se aproximado bastante
das trigêmeas, pois eu mesma as tinha apresentado e Abigail
chegou até mesmo a viajar comigo para a Itália, em uma das vezes
em que visitei as minhas amigas.
Mas eu não sabia que Abigail as tinha convidado para o seu
casamento e este era o motivo maior da minha surpresa.
— Não precisa se preocupar — disse Fiorella — Abigail pediu
para o seu primo nos trazer. Já estava tudo combinado.
Eu esperava que a minha expressão facial não tivesse
demonstrado todo o descontentamento que senti ao ouvir essa
surpreendente informação, pois seria bastante desagradável que as
minhas amigas soubessem o quanto eu não gostei de que elas
tenham vindo para Higham com Edward.
— Nossa! Estava tudo arranjado mesmo.
Tentei usar um tom neutro de todos os sentimentos confusos que
estavam me atormentando naquele momento, sendo o maior deles
o mais puro e terrível ciúmes.
— Onde está Giovana? — Tentei mudar de assunto, ao perceber
a falta da outra irmã — Não veio com vocês.
Eu torci internamente para que elas confirmassem a minha
suposição, pois a outra opção era que Giovana estaria com Edward
e isso era mais um motivo para eu me sentir traída por todos,
mesmo que isso fosse totalmente irracional.
— Ela está com Edward no jardim — Sienna disse exatamente o
que eu mais temia — Encontraram com Timothy e o garoto está tão
animado com a chegada dele, que não o largou ainda.
Ao menos tinha uma criança junto deles.
— Estou tão feliz por todos já estarem aqui, conosco —
comentou Abigail com alegria — O que acha de uma disputa, como
nos velhos tempos?
Sorri com a animação de todos, só ao ouvir falar em disputa.
— Polo? — Andrew sugeriu de imediato.
— Sim! — Todos concordaram de imediato.
Claro, eu não iria contra todos, quando eu também sou uma
apreciadora de jogos, principalmente quando se trata de algo que
gosto tanto, como cavalos.
Timothy e Lucky chegaram naquele momento e como todos já se
conheciam, com exceção do meu namorado, os apresentei e depois
que Timothy terminou de comer os seus sanduíches, combinamos
todos de nos encontrarmos no campo de que ficava há alguns
metros da residência principal, a caminho do rio que cortava toda a
propriedade.
— Eu a espero aqui mesmo, Beatrice — Lucky sugeriu, quando
estávamos apenas nós dois — Como sabe, não sou um apreciador
dos esportes, mas vou assistir o jogo.
Fiquei mais aliviada por ele ao menos não ficar emburrado por
todos desejarem fazer algo que ele não gostava e aceitou até
mesmo ir assistir, então enquanto subi para o quarto para colocar
uma roupa mais apropriada, Lucky ficou cuidando de Timothy e
combinamos de nos encontrar no jardim.
Eu só esperava que Edward não estivesse mais no local, pois
nós ainda não tínhamos nos encontrado depois do beijo quente em
minha cozinha e eu não me sentia preparada para isso ainda.
Quando todos já estavam no local onde aconteceria o jogo de
polo, procurei de maneira discreta pelo Edward e a Giovanna, que
mais uma vez não estavam junto com os outros e o ciúme mais uma
vez se fez presente dentro de mim. Onde eles estavam que não se
reuniam aos demais? O que estavam fazendo?
Eram perguntas que ficavam girando e girando em minha
cabeça, sem que eu conseguisse pensar em nada mais além disso.
— O que você acha, Beatrice?
A pergunta foi feita pelo Sebastian, que também tinha se reunido
conosco para o jogo, mas eu não tinha a menor ideia sobre o que
ele estava falando e qual resposta todos pareciam esperar de mim.
— Por mim está tudo bem — falei de maneira incerta.
Esperava que essa resposta fosse apropriada para a pergunta
em questão e pelo visto, como ninguém questionou o que falei,
imaginei que era isso mesmo que esperavam que eu respondesse.
— Eu não sei jogar, mas sou uma aprendiz muito esforçada —
Sienna disse, seus cabelos cacheados enrolados em um coque
frouxo, que a deixou ainda mais bonita — Você não vai se
arrepender de ter me escolhido para a sua equipe.
Ah, então eu tinha apenas concordado que a Sienna jogaria do
meu lado, algo que é bastante banal e eu realmente não teria
nenhum tipo de restrição quanto a isso.
— Então, o que estamos esperando para começar? — perguntei
com animação forçada.
— Nada — respondeu Abigail — O Edward já está vindo.
Capítulo 59 – Um jogo emocionante
Edward
Segurei com mais firmeza as rédeas do cavalo e trotei
tranquilamente em direção ao campo gramado onde todos pareciam
me aguardar para dar início a partida de polo amistoso.
De longe pude observar o olhar duro no rosto de Beatrice e
me questionei o motivo pelo qual ela me encarava com tanta
animosidade, quando apenas alguns dias atrás nós estávamos nos
entregando a um beijo tórrido e apaixonado na cozinha de sua casa.
— Pelo visto, estavam apenas nos esperando — comentou
Giovanna com um sorriso culpado — Vamos!?
Apesar do chamado, ela não esperou e instigou o seu cavalo
a galope pelo terreno frondoso e logo estava se reunindo aos
demais no campo gramado.
— Algum problema? — perguntou o jovem Luigi ao meu lado
— Parece estar irritado.
Olhei para o namorado de Giovanna, um rapaz alto e um
pouco mais jovem que ela, apenas vinte e um anos, acenando de
maneira negativa.
— Problema algum — menti — Vamos lá!
Segui o exemplo de Giovanna e galopei até onde estavam
todos à nossa espera, e logo Luigi também fez o mesmo e
finalmente nós estávamos reunidos ao restante dos convidados da
minha prima.
Beatrice olhou para mim e logo depois para Luigi, uma
expressão de confusão em seu olhar, como se não estivesse
entendendo algo ao seu redor e logo compreendi o motivo do
questionamento em seu olhar.
— Olá a todos! — cumprimentei com um sorriso tranquilo as
pessoas ao nosso redor.
Recebi vários comprimentos, principalmente das pessoas
com as quais ainda não tinha tido contado depois que chegou à
propriedade de meus tios em Higham, com exceção de Beatrice,
que fingia estar atenta a sua sela e ao seu namorado, sentado um
pouco mais afastado, concentrado em seu aparelho celular.
— Agora que todos já estão aqui, acredito que podemos
enfim começar o jogo — Abigail disse com animação, e todos
rapidamente concordaram com suas palavras.
Olhei mais uma vez para Beatrice, que agora fingia estar
atenta as orientações da minha prima sobre o nosso jogo amador de
polo, algo que fizemos várias e várias vezes quando ainda éramos
todos jovens e morávamos em Kent. Ou seja, ela já conhecia as
regras e entendia perfeitamente do jogo, e só estava tentando evitar
o meu olhar.
Eu tinha chegado depois que todos já estavam na casa, pois
precisei atender o pedido de minha prima e aguardar a chegada de
suas amigas italianas em Londres e trazê-las para Kent, junto com o
namorado de uma delas, Luigi, um jovem com quem simpatizei
desde o primeiro momento em que o vi.
Timothy também parece ter gostado bastante do namorado
de Giovanna, pois logo que chegamos ao jardim, quando eu estava
ainda a procura de Beatrice, louco para vê-la depois do beijo que
trocamos em sua casa, ele e Luigi não paravam de falar um só
instante, principalmente quando o assunto passou a ser cavalos.
Giovanna logo sugeriu que jogassem um amistoso e Abigail
não perdeu tempo em aceitar a sugestão de entretenimento para os
seus convidados, e eu acabei concordando em ir aos estábulos para
a escolha dos cavalos com os quais iríamos jogar a partida de polo.
Aquilo tinha sido mais demorado do que eu esperava e
somente agora eu pude me aproximar de Beatrice desde que
cheguei, há mais de uma hora atrás.
— Podemos começar! — Cliff, um dos nossos primos que
estava fazendo as vezes de árbitro autorizou o início da partida.
Logo todos estavam correndo em seus cavalos atrás da bola
e entretidos na acirrada disputa pelo primeiro gol, que foi feito por
um Luigi totalmente empenhado em conseguir a vitória para o nosso
time, que além dele e de mim, também estavam Giovanna e
Sebastian, com quem eu tinha conseguido me entender desde que
abdiquei o controle da empresa dos Phillips.
O outro time era composto por Andrew, Abigail, Beatrice e
Sienna, o que considerei desproporcional, mas como a divisão havia
sido feita antes da nossa chegada, imaginei que a ideia era que eu e
Beatrice ficássemos em times opostos.
O babaca do namorado de Beatrice continuava concentrado
em seu telefone, sem ao menos um segundo olhar em direção ao
nosso jogo, algo que eu considerei bastante idiota da parte dele,
mas não diria que estava achando aquilo algo ruim. Muito pelo
contrário.
Decidimos que iríamos parar para um intervalo de três
minutos entre o primeiro e o segundo chucker, tendo em vista que
não iríamos fazer a divisão em quatro chucker, como deveria ser,
por não podermos trocar todos de cavalo, caso fosse o mesmo
tempo de uma partida normal e quando isso aconteceu, todos
estavam suados e sorridentes, e várias outras pessoas já tinham se
juntado a nós para acompanhar a animada partida.
Tentei me aproximar de Beatrice nesse momento, mas logo
que percebeu a minha pretensão, Beatrice guiou o seu cavalo para
o lado oposto onde eu estava, o que me deixou bastante irritado,
mas que considerei bastante sábio de sua parte.
A verdade é que estar em Kent, relembrando os nossos
velhos tempos naqueles campos de Higham, me trouxe a convicção
de quanto tempo eu perdi, quando eu já estava apaixonado pela
Beatrice naquela época, e de maneira concorde, por uma questão
boba de insegurança, eu deixei passar inúmeras oportunidades de
estar ao lado da mulher que amo, como agora mesmo eu estava
fazendo novamente.
Talvez fosse o momento de ir mais uma vez ao ataque e
mostrar para Beatrice que nós podemos mudar a nossa história. Ou
melhor dizendo, mostrar que nós podemos sim, dar um final
diferente a nossa história.
Estava tão atento a Beatrice, ao mesmo tempo perdido em
pensamentos, que percebi antes de qualquer outra pessoa, o
momento em que o cavalo que ela estava usando viu ao longe um
esquilo e sem que ninguém esperasse, menos ainda Beatrice, o
animal saiu em disparada pelo campo.
— Beatrice!
Eu não saberia dizer quem gritou, pois na verdade foram
várias as vozes que falaram ao mesmo tempo, mas todos pareciam
em estado de choque ao ver a maneira como o cavalo que Beatrice
montava sair correndo de maneira preocupante, sem que ela
conseguisse manter o controle de suas rédeas.
Eu, contudo, nem mesmo pensei antes de agir e instigar o
meu próprio animal a seguir na mesma direção em que o cavalo de
Beatrice a levava, por entre as árvores frondosas no terreno
extenso, quase a perder de vista.
Saí em disparada atrás de Beatrice, tentando alcançá-la, o
que se tornou bastante difícil, tendo em vista os vários obstáculos
no meio do caminho, formado pelas árvores e galhos caídos no
terreno agora irregular.
Com grande dificuldade, consegui enfim me aproximar de
Beatrice, que a esta altura já estava quase no controle do animal,
porém já parecia cansada e sem forças, e antes que ela perdesse
novamente as rédeas do animal, eu consegui segurá-las com
firmeza e impedir que o cavalo seguisse levando-a para ainda mais
longe do que já nos encontrávamos agora.
— Você está bem? — perguntei com genuína preocupação,
pareando os nossos cavalos.
— Um pouco assustada ainda — ela disse, respirando
ruidosamente — mas estou bem.
Eu estava verdadeiramente impressionado com a sua
destreza e habilidade, afinal, o cavalo a pegou totalmente de
surpresa e mesmo assim ela ainda conseguiu reaver o controle do
animal de uma maneira bastante firme.
— Preciso dizer que você foi… — procurei uma palavra que
fizesse jus ao feito, de maneira a definir a performance de Beatrice
— Esplêndida!
Beatrice pareceu ficar envergonhada com o elogio sincero e
suas faces, que já estavam rosadas pela corrida e pelo tempo um
tanto quanto gelado, ficaram ainda mais vermelhas, o que me fez
desejar a abraçar e segurá-la em meu colo, depois de tão grande
susto.
— Eu estava apenas tentando não me machucar…
— Qualquer outra pessoa em seu lugar teria ficado nervosa e
tudo me leva a crer que o desfecho teria sido bem diferente…
Eu quase não consegui segurar as palavras e completava a
frase com um sincero e preocupado “meu amor”, mas consegui,
apesar do desejo de expor os meus verdadeiros sentimentos.
— Pensei que meu coração sairia pela garganta, tamanho o
temor que algo te acontecesse com você, Beatrice — confessei
emocionado.
— Eu estava horrorizada, Edward…
Sem esperar por qualquer reação de sua parte, desci do meu
cavalo e pedi para que Beatrice fizesse o mesmo, e ajudando-a na
tarefa.
— Deseja voltar agora? — perguntei, segurando junto ao
meu corpo.
— Não… — Beatrice respondeu sem nem mesmo
pestanejar, seu corpo colado ao meu, sua boca já nitidamente à
espera do meu beijo.
Eu não esperei por um convite mais claro ainda que esse e
simplesmente me afoguei em seus lábios, a beijando
apaixonadamente, deixando que o desejo dominasse todas as
minhas ações, me deliciando com o seu sabor magnífico.
Sem demora eu a encostei na árvore mais próxima, tocandoa intimamente e deixando que ela percebesse por si mesma o
quanto eu estava excitado e o quanto ela conseguia me afetar.
– Eu te quero, Beatrice – falei com fome do seu corpo… de
estar dentro dela, sentindo-a por inteiro.
– Eu também te quero, Edward…
Capítulo 60 – Uma decisão importante
Beatrice
Eu estava mais uma vez nos braços de Edward, completamente
entregue aos seus beijos, derretendo-me com suas mãos em meu
corpo inteiro. Maravilhoso tê-lo segurando-me com firmeza, pois não
há certeza alguma de que as minhas pernas poderiam impedir a
minha queda de maneira literal, diante de tamanha ânsia e paixão.
Mas naquele exato momento, a realidade do que estávamos
fazendo se insinuou através da névoa que estava turvando
completamente os meus pensamentos, e com muito contragosto
afastei os meus lábios dos seus.
— Nós não podemos, Edward… — falei, mesmo que as
nossas bocas ainda estivessem próximas demais uma da outra.
— Não devemos — ele concordou, mas sua boca logo estava
mais uma vez se apossando da minha.
Eu gostaria de ser mais forte, mas o sorriso bobo de Edward
antes de me beijar derrubou todas as minhas defesas, e foi
impossível resistir, quando suas mãos seguravam as laterais do
meu rosto com extrema delicadeza, sua boca atacando a minha
com ânsia, e toda a razão foi esquecida.
Edward me segurou ainda mais junto do seu corpo, se
apoiando em uma árvore e me levando junto com ele, seus
movimentos de encontro a mim deixando claro o quanto ele estava
excitado, assim como eu também me sentia.
Perdi a noção do tempo, aproveitando aqueles momentos
roubados, deliciosamente provocantes e que estavam tirando o meu
fôlego e toda a minha sanidade.
— Beatrice! — Ouvimos uma voz feminina gritar ao longe —
Edward!
— Estão procurando por nós, Edward! — Mesmo assustada,
permaneci nos braços dele — Devemos voltar.
— Sim, tem razão — ele concordou, sem mover nem mesmo
um músculo do seu corpo quente e forte, colado ao meu.
Estava prestes a insistir, quando os meus lábios foram
assaltados de maneira impetuosa pela boca do Edward. Ele estava
jogando baixo.
— Beatrice! Edward!
O chamado agora foi mais próximo de onde nós estávamos,
feito por uma voz masculina, e só então Edward se afastou de mim,
deixando-me livre. Em seu rosto um sorriso travesso, algo tão
incomum que eu sorri junto com ele.
— Estamos aqui! — ele respondeu, alto o suficiente para ser
ouvido mesmo a distância e usando um tom de voz mais baixo,
acrescentou — Vamos conversar melhor quando chegar em casa.
Pelo trote dos cavalos cada vez mais próximo, pudemos
concluir que Edward tinha sido ouvido e logo pudemos ver Abigail e
Andrew chegar até onde estávamos.
— Beatrice! — Abigail chamou, descendo do cavalo
apressadamente e me abraçando com visível preocupação —
Estávamos tão preocupados com você!
— É um alívio ver que está bem, Beatrice — Andrew
comentou, sua expressão também demonstrando genuína
preocupação.
— Felizmente, Edward conseguiu impedir que algo mais
grave acontecesse — expliquei, me sentindo um pouco nervosa.
Para a minha tranquilidade, Andrew e Abigail não pareceram
perceber nada de errado e depois que contamos como tudo tinha
acontecido, voltamos todos juntos para a casa dos Maddock,
conversando de maneira animada, enquanto cavalgamos pelo
terreno extenso da propriedade até o campo gramado onde
tínhamos jogado polo e todos estavam à nossa espera.
As minhas amigas italianas e Sebastian vieram correndo até
onde eu estava, e como todos falavam ao mesmo tempo,
perguntando se eu estava bem e como consegui parar o cavalo,
resolvi falar alto o suficiente para responder logo tudo de uma vez.
— Está tudo bem comigo. Não precisam se preocupar.
Timothy, que estava ao lado de Luigi e Giovanna, correu
imediatamente até onde eu estava, e desci do cavalo para receber o
abraço forte e apertado do garoto.
— Eu fiquei muito preocupado, Beatrice — Timothy falou com
a voz carregada de emoção.
— Eu estou aqui — Repeti com convicção — Não precisa se
preocupar.
Foi possível ver o alívio genuíno não apenas no rosto do meu
garoto, mas também no de todos os meus amigos e daqueles que
também estava lá e até mesmo o namorado de Sienna, que só
durante o jogo, parecia ter ficado preocupado comigo.
Diante do que aconteceu, claramente não havia mais clima
algum para o jogo e ficamos em pequenos grupos conversando
entre si, enquanto Timothy já estava correndo de um lado a outro,
em companhia de outras crianças.
— Vocês viram o Lucky? — perguntei, um sentimento de
culpa se apossando de mim.
Somente naquele momento eu lembrei do meu namorado, o
que era extremamente grosseiro, tendo em vista que ele veio como
o meu acompanhante e não conhece quase ninguém ali.
— Ele avisou que iria estar aguardando por você na casa —
Fiorella comentou, visivelmente contrariada — O que achei bastante
estranho, tendo em vista que não sabíamos se você estava bem ou
não, depois do cavalo ter disparado daquela maneira.
— Ele não teria feito nenhuma diferença aqui — Andrew
comentou, e também era notável que ele desaprovou a atitude de
Lucky — Afinal, não sabe nem mesmo andar a cavalo e tampouco
mostrou interesse em procurar por Beatrice pelos campos.
Depois dessas declarações, o clima ficou bastante tenso
entre nós, pois estava claro que Lucky não era uma pessoa bem
vista pelos que estavam entre nós, e tudo só piorou ainda mais,
diante do pouco caso que ele parece ter feito com o que aconteceu
comigo.
— Eu vou para a casa — Avisei, me sentindo constrangida
pela situação — Nos vemos no jantar.
Não esperei por nenhuma resposta e depois de chamar
Timothy com um gesto, que rapidamente estava ao meu lado,
caminhei pela trilha que levava a enorme residência, sem prestar
atenção alguma nas pessoas que encontrei pelo caminho, apenas
as cumprimentando de maneira automática.
— Você está bem, Beatrice? — Timothy perguntou, me
olhando com desconfiança.
— Estou sim, querido — Respondi com firmeza e tentando
sorrir com tranquilidade.
— Você não parece bem.
A sinceridade das crianças!
É, eu não estava bem. Mas eu não comentaria sobre isso
agora, então comecei a falar sobre flores e tudo o que a gente se
separou em nosso caminho, tentando mudar o foco da conversa
para coisas mais banais, o que acabou acontecendo realmente.
Quando já estávamos no quarto, enquanto Timothy assistia
TV, eu optei por tomar um banho longo e relaxante de banheira,
algo que eu estava realmente precisando, depois de todas as
emoções daquela tarde movimentada.
Lembrei dos beijos que troquei com Edward e do quanto me
senti balançada pelas emoções que ele consegue despertar em mim
com tanta facilidade e me fiz uma pergunta bastante óbvia agora:
Por que estamos separados, quando estava bastante claro que
queremos estar juntos? Por que complicar tanto as coisas desse
modo?
Preciso dar um ponto final a minha relação com Lucky e
atender aos desejos do meu coração, que está clamando para que
Edward e eu voltemos a ficar juntos e da mais uma chance para nós
dois.
Mas eu não poderia fazer isso agora, quando estávamos a
quilômetros de Londres e Lucky era meu acompanhante na
celebração do casamento dos meus amigos.
Esperaria até voltarmos para casa, para só então comunicar
a Lucky sobre a minha decisão de terminar a nossa relação.
Mas apenas o fato de ter tomado uma decisão sobre a minha
vida e o que faria dela a partir de agora, já fez o que eu sentisse
uma nova energia brotar do meu interior, assim como a animação
por estar oportunidade de fazer aquilo que eu desejo.
Saí do banheiro muito mais disposta que antes, feliz por
enfim estar tomando uma decisão arriscada, mas ao mesmo tempo,
uma decisão que é baseada totalmente naquilo que sinto e desejo,
para dar uma nova chance ao amor e tentar verdadeiramente fazer
aquilo dar certo, sem olhar para trás, ou remoer os erros do
passado.
Saí do banheiro pronta e esperançosa, e por mais que eu
ainda fosse continuar ao lado de Lucky por mais dois dias, a certeza
de que logo eu estaria fazendo exatamente o que desejo, me fez
cantarolar ao entrar no quarto, algo que chamou a atenção de
Timothy de imediato.
— O que tem no banheiro que te deixou tão feliz? — Timothy
perguntou sorrindo.
De maneira bastante dramática, ele foi até o banheiro e ficou
olhando para dentro, como se estivesse procurando por algo lá
dentro.
— Eu não tô vendo nada aqui — comentou parecendo
confuso.
— O que me deixou feliz está guardado aqui – apontei para o
meu peito – dentro do meu coração.
Sem que eu esperasse por aquela reação, Timothy correu e
me abraçou, sorrindo feliz.
— Eu também estou feliz agora — disse com uma risada tão
infantil, que me deixou emocionada — Porque você está feliz.
Ficamos abraçados por alguns segundos, até que alguém
bateu à porta, interrompendo o momento.
— Beatrice? — Chamou a pessoa do outro lado.
Reconheci de imediato a voz através da porta e a abri logo
em seguida, me deparando com Abigail e Andrew c expressões
nitidamente preocupadas.
— Olá para vocês — os cumprimentei com tranquilidade.
— Podemos entrar? — Abigail perguntou com olhar
preocupado.
— Claro — concordei, indicando o interior do quarto —
Entrem.
Pela expressão no rosto dos meus amigos, me senti um tanto
quanto impedida a pedir que Timothy aproveitasse aquele momento
para tomar banho, o que nos daria maior privacidade.
Eu não tinha certeza sobre o que eles desejam falar comigo,
mas provavelmente não seria uma conversa apropriada para
crianças ouvirem.
— Viemos pedir desculpas para você — Andrew foi o
primeiro a explicar — Não deveríamos nos meter na sua vida e
menos ainda nas suas escolhas, Beatrice.
Semicerrei os olhos, sem conseguir realmente entender o
que ele estava dizendo e onde queria chegar, então apenas
aguardei para que ele prosseguisse com o assunto.
— O que Andrew está tentando dizer é que não podemos nos
meter na sua relação com o Lucky — Abigail complementou as
palavras do noivo — E erramos ao falar sobre ele quando
estávamos todos juntos…
— Quero pedir desculpas, Beatrice — Andrew reforçou — E
prometo não dar mais a minha opinião sobre o nosso colega… a
não ser que você me peça.
Andrew estava certo sobre eu solicitar a sua opinião, mas
agora eu já estava bem decidida e não usaria mais de subterfúgios
para fazer o que eu quero. Faria a ponto.
Capítulo 61 – Entregando-se a paixão
Beatrice
A programação para a noite que antecede o casamento foi algo
bem diferente e apesar de bastante informal, estava sendo também
muito divertido.
Abigail tinha aceitado uma ideia bastante inovadora que foi
aprovada por todos e eu concordava plenamente com todos eles.
— Só eu que amei a sugestão da sua amiga Giovana de
fazer uma despedida de solteiro em conjunto? — Sebastian
comentou um pouco mais tarde.
— Todos nós gostamos, Seb — Sienna concordou, animada
— Vamos dançar?
Sebastian me encarou com um sorriso zombeteiro, fingindo
estar assustado com o convite audacioso feito pela minha amiga.
— Eu também amei as suas amigas, prima — ele comentou,
antes de segurar na mão de Sienna e caminharem juntos para a
pista de dança instalada no meio do jardim amplo.
Fiquei observando enquanto Sebastian e Sienna dançavam
com bastante desenvoltura ao ritmo da música pop alegre e que
parecia estar contagiando a todos naquele momento, mas todo o
meu corpo ficou imediatamente tenso quando Lucky se juntou a mim
mais uma vez naquela noite.
Mas se antes eu consegui me esquivar de maneira bastante
discreta de estar em companhia do meu próprio namorado, ele não
seria tão fácil agora, que Timothy já tinha se recolhido para o quarto
que estávamos dividindo logo após o jantar.
Eu não queria deixá-lo sozinho, mas Maggie, a mãe de
Abigail e tia de Edward, se ofereceu para ficar de olho no meu filho,
algo que concordei, tendo em vista que o quarto dela também ficava
ao lado daquele em que estamos instalados.
— Estou com a impressão de que passou é que está fugindo
de mim, Beatrice — Lucky disse ao se aproximar.
Fiquei desconfortável com o seu comentário, afinal de contas,
ele estava muito próximo da verdade, mesmo que eu não
concordasse com essa ideia de que eu estava fugindo dele. Eu diria
que estou apenas o evitando.
— É apenas isso — tentei desconversar — Apenas uma
impressão.
Lucky me olhou de maneira bastante analítica e eu cheguei
até mesmo a pensar que ele iria me colocar contra a parede, e exigir
saber o que estava acontecendo, mas eu estava bastante enganada
sobre tudo o que estava acontecendo.
— Tudo bem, então — ele aceitou as minhas palavras com
muita facilidade, algo que me deixou um tanto quanto incerta.
Ficamos lado a lado, apenas observando as pessoas, o que
considerei bastante antissocial de nossa parte e decidi ser um
pouco mais gentil com o Lucky, afinal, ele só tinha vindo para Kent
por minha causa.
— Por que não nos juntamos aos meus amigos? —
perguntei, sorrindo gentilmente e constatei em seguida — Estamos
aqui tão afastadas de todos.
— Os seus “amigos” – fez aspas com os dedos – não
parecem ter apreciado nenhum pouco a minha vinda. Acredito que
estavam esperando que você estivesse em companhia de outra
pessoa.
Quase revirei os olhos de desgosto ao ouvir as palavras de
Lucky. Como ele poderia ser sempre tão… desagradável?
— Você não está sendo justo, Lucky — apontei com irritação
— Todos estão te tratando bem, como a qualquer outro convidado
desta festa.
— Se você acredita no que diz, eu não posso te convencer
do contrário.
Eu realmente me enganei muito com o Lucky e agora mais do
que nunca este fato estava bastante claro. E pelo visto, seria bem
difícil conseguir não terminar tudo com ele antes do casamento de
Abigail e Andrew.
Era difícil até decidir o que dizer, diante do seu ataque tão
direto e apenas exalei um suspiro de exasperação e olhei em torno,
buscando calma e tranquilidade.
— Não vai falar nada? — Lucky agora estava me provocando
— No fundo, você saber que foi uma péssima ideia vir a esse
casamento. Estaríamos bem melhor em Londres.
— Eu não faltaria ao casamento dos meus amigos, Lucky —
falei entredentes.
— Começo a desconfiar que você ainda tenha esperança de
que Andrew desista de se casar com Abigail e talvez, que sabe,
vocês tenham uma nova chance… é isso?
Lucky tinha ultrapassado todos os limites e para não jogar na
cara daquele cretin0 o copo com bebida que eu segurava em
minhas mãos, acabei apenas virando-lhe as costas e o deixando
sozinho no meio da festa.
Não vi nem mesmo para onde estava indo, apenas caminhei
entre os convidados, muitos rostos conhecidos de longa data, as
quais fui impedida a sorrir com cortesia, e entrei na casa
apressadamente, me sentindo fulminante de raiva.
Subi as escadas e quando cheguei ao último degrau, prestes
a seguir pelo corredor da direita, uma mão segurou em meu braço,
me guiando a seguir pelo caminho oposto.
— Edward? — perguntei surpresa, ao ver que se tratava dele
— Não percebi que estava me seguindo.
— Parece bastante contrariada — ele app com precisão,
enquanto seguimos juntos pelo corredor.
— Onde está me levando? — perguntei, sem responder ao
seu questionamento.
— Conversamos quando chegarmos lá.
Apesar da maneira enigmática como ele disse aquilo, eu já
imaginava perfeitamente onde ele estava me levando e não
protestei, pois eu também desejava estar a sós com ele, sem medo
de alguém pudesse chegar a qualquer momento e nos interromper.
Quando paramos em frente a uma porta, que Edward
rapidamente abriu, aproveitamos que não havia mais ninguém
naquele corredor e entramos juntos.
Mas ao invés de conversar, como Edward havia prometido
antes, ele me segurou em seus braços e me beijou
apaixonadamente, e eu não pretendia reclamar de modo algum.
Enlacei o seu pescoço com os meus braços e me entreguei
totalmente ao momento, beijando-o com a mesma intensidade,
louca de desejo.
Suas mãos logo estavam no zíper do meu vestido, abrindo-o
e deixando as minhas costas nuas, deslizando por toda a sua
extensão e me causando arrepios deliciosos de excitação.
— Eu a quero — disse Edward em meu ouvido, sua boca
mordiscando o lóbulo da minha orelha — Já faz tanto tempo…
Aquela frase teve um poder estranhamente perturbador e me
deixou ansiosa por tê-lo dentro de mim, e eu logo estava
desabotoado a camisa de mangas longas e jogando longe o casaco
do seu terno cinza.
— Eu também quero você, Edward — confessei com
desespero.
Mesmo sabendo que aquilo não era certo, afinal, oficialmente
eu ainda namorava o Lucky e aquilo seria claramente uma traição
horrível, aquilo não me impediu de ir em frente e me entregar ao
desejo que sinto pelo Edward.
Não pensei em mais nada, apenas me entreguei as
sensações que ele despertava em meu corpo e quando já
estávamos completamente sem roupas, e Edward me deitou sobre a
cama larga e confortável, eu esperei com ansiedade pelo momento
em que ele estaria dentro de mim mais uma vez.
Contudo, Edward não deitou seu corpo sobre o meu, e de
uma maneira deliciosamente provocante, separou ainda mais as
minhas pernas com suas mãos e levou a sua boca até a minha
feminilidade, me levando ao ápice do prazer com muita rapidez e
previsão.
— Edward! — Gritei, quando ele continuou a sugar o meu
ponto mais sensível, mesmo quando eu já me sentia exausta pelo
clímax — Eu não suporto mais…
Era verdade, o prazer tinha me deixado trêmula e fraca.
Neste momento ele atendeu ao meu pedido e seu rosto logo
estava frente a frente com o meu, um sorriso de canto me deixando
envergonhada e ao mesmo tempo ainda mais apaixonada por
aquele homem surpreendente.
— Você está tão diferente… — Não pude deixar de comentar.
— Sou o mesmo, mas agora com a certeza de que não quero
perder mais tempo longe de você.
Suas palavras exprimiam sinceridade e seu beijo agora
também tinham um sabor diferente, mas ao mesmo tempo, tempo
era excitante e me deixou novamente ansiosa de ter o seu corpo no
meu, e quando seus dedos tocaram a minha entrada, Edward pôde
sentir o quanto eu o desejo.
— Está tão molhada… — constatou, me penetrando com um
dedo e depois outro, me fazendo arquear pelo prazer.
— Agora, Edward…
Edward não demorou em entender o que eu queria e logo os
seus dedos foram substitutos pelo membro grosso e potente, e suas
estocadas em meu centro me levaram a patamares cada vez mais
elevados de prazer intenso, ao mesmo tempo que suas mãos me
abraçavam e sua boca beijava a minha repetidamente,
demonstrando que aquilo não era apenas sexo.
Para mim também não era só sexo, e mesmo enquanto o
meu corpo ficava cada vez mais tenso e perto de mais um orgasmo
alucinante, eu correspondia aos seus beijos e as minhas mãos
acariciavam os seus ombros com amor e delicadeza.
As minhas unhas também estavam fazendo um estrado nas
costas do Edward, mas eu não estava pensando nisso, antes de
chegar ao cume do prazer, e cair sobre a cama exausta e
plenamente saciada.
Edward logo chegou ao seu próprio orgasm0, seu corpo
trêmulo caindo sobre o meu, pesando sobre mim, mas eu estava
ainda em êxtase até mesmo o seu peso sobre mim me causou
arrepios de excitação ainda.
Mas as posições foram invertidas rapidamente por Edward, e
agora ele estava de costas para o colchão e o meu corpo sobre o
seu, em uma intimidade ainda maior do que quando ele estava
dentro de mim.
Capítulo 62 – Você está enganado
Beatrice
Ficamos deitados apenas aproveitando um ao outro, e logo
Edward aproveitou o momento para fazer a pergunta que eu já
estava esperando que fizesse e até mesmo considerei que ele
demorou bastante antes de me questionar sobre isso.
— Entendo que você vai terminar tudo com aquele… — Ele
estava prestes a fazer um xingamento, mas desistiu no último
segundo — Com Lucky.
— Sim, preciso fazer isso o quanto antes — confirmei,
mesmo que um pouco a contragosto — Mas não posso fazer
enquanto estamos aqui, Edward. Preciso apenas de um tempo.
— Claro que você pode sim, terminar um relacionamento —
Insistiu Edward com a voz dura — Não concordo sobre o fato de
você ter que esperar pelo casamento para dar um ponto final nessa
história ridícula entre você e aquele repórter metido. Ele pode muito
bem ir embora, ninguém irá sentir a sua falta.
Claro que Edward estava certo sobre Lucky não ter cativado
realmente ninguém naquela casa, mas ainda assim, eu não faria
isso com ele.
— Eu só estou pedindo um tempo, tudo bem? Logo podemos
ficar juntos novamente.
Edward pareceu pensativo com as minhas palavras, mas logo
estava me beijando mais uma vez e dizendo em meu ouvido.
— Tudo bem… — concordou contrariado — Desculpa,
amor… Eu não deveria te pressionar desta forma. Só não quero ter
que roubar os momentos em que estamos juntos. Quero estar com
você livremente, sem me sentir culpado ou um traidor, afinal, você é
minha esposa, Beatrice.
— Na segunda-feira, quando eu chegar a Londres, vou
resolver tudo entre Lucky e eu. Não vamos precisar nos esconder
novamente.
Edward pareceu acreditar na sinceridade das minhas
palavras e não conversamos mais depois disso, apenas entregues
aos momentos de paixão.
Depois de fazer amor mais uma vez, agora lentamente e com
extremo carinho, ficamos um nos braços do outro de novo, e quando
senti que a respiração de Edward estava compassada, entendi logo
que ele tinha adormecido.
Olhei para o relógio que Edward tinha colocado sobre a mesa
de cabeceira e percebi que já havia se passado bem mais de uma
hora desde que saí da festa, o que era bastante tempo desde então.
Era necessário voltar e ver como estava a festa, assim como
o próprio Lucky, que eu havia deixado sem nada, parado lá no meio
do pátio do jardim, quando ele falou bobagens em excesso, como
ele havia feito naquela manhã.
Tentei me desvencilhar de Edward, que dormia
tranquilamente na cama comigo e consegui tirar as suas mãos do
meu corpo com facilidade, pois ele estava verdadeiramente
adormecido e sair da cama sem que ele acordasse.
Depois de vestir a roupa e dar um jeito na minha aparência,
de modo a não deixar claro para todos o que estive fazendo, eu
caminhei de maneira clandestina de volta para a festa, afinal, Lucky
ainda estava lá e eu precisava manter aquela farsa por apenas mais
dois dias.
Mas eu jamais poderia imaginar a cena com a qual me
deparei ao voltar para a festa e encontrar poucas pessoas ainda no
jardim, no máximo doze, e que pareciam se resumir a casais. Ou ao
menos era aquilo que parecia.
Procurei por Lucky entre eles, vendo que Andrew e Abigail
pareciam estar bastante alheios a tudo e a todos a sua volta,
dançando de maneira romântica e totalmente concentrados um no
outro, o que era bonito de se ver, pois era possível sentir, mesmo a
distância, o quanto eles estavam apaixonados.
Havia mais dois casais na pista, um deles consistia em
amigos de Abigail, os quais eu não tinha contato e o outro era
Fiorella e Sebastian, que pareciam estar quase na mesma sintonia
que o casal principal da noite.
Aquilo me surpreendeu bastante, principalmente quando
percebi que eles estavam prestes a trocar um beijo, o que não
demorou a acontecer.
Sebastian e Fiorella? Eu jamais poderia imaginar.
— Beatrice! — Ouvi quando me chamaram e ao me virar em
direção a voz, constatei que se tratava de Giovanna e o seu
namorado, Luigi.
— Olá! — Os cumprimentei com um sorriso carregado de
constrangimento.
— Você sumiu… — Apontou com diversão — Lucky estava
perguntando de você, mas eu imaginei que já tinha se recolhido.
— Eu precisava de um pouco de tranquilidade — Não estava
mentindo… ao menos, foi aquele o motivo da minha saída repentina
da festa — Mas, pelo que vejo, aconteceu muita coisa depois que
eu saí.
Giovanna percebeu que eu estava me referindo ao fato de a
sua irmã estar beijando o meu primo, enquanto eles dançavam na
frente de todos e deixou escapar uma gargalhada cheia de humor,
sendo logo seguida pelo namorado e por mim.
— Acho que você ainda não percebeu que o seu namorado e
a Sienna estão discutindo próximo a mesa de bebidas… — avisou
Giovana — Eu iria lá agora, mas deixo a tarefa para você, então.
O aviso me deixou alarmada e eu olhei na direção indicada
por ela, logo seguindo para o local, sem poder acreditar nos meus
próprios olhos.
Apesar da piada sem graça, Giovana e Luigi me
acompanharam até a mesa de bebidas onde Sienna e Lucky
estavam realmente discutindo, o que era estranho e desconfortável,
ainda mais quando eles pareciam prestes a sair no tapa.
— … Beatrice não merece um cretino, mal-educado como
você, seu babaca! — Sienna estava gritando.
Apesar das palavras ditas de maneira bastante alterada e em
voz alta, o barulho que saia das caixas de som instaladas em vários
cantos do jardim não permitia que quem estivesse um pouco mais
distante ouvisse, o que era bom, apesar de tudo.
Em compensação, só foi possível perceber que se tratava de
uma discussão entre Sienna e High porque a Giovanna me contou.
— Quem você pensa que é paga falar assim comigo!? —
Lucky perguntou com extrema arrogância.
— O que aconteceu? — perguntei, tentando mediar o clima
tendo.
— Essa garota — apontou Lucky com um gesto cheio de
altivez — Ela derrubou essa bebida barata em mim.
— Bebida barata! — Repetiu Sienna com uma raiva visível e
gritante — Eu tropecei, seu idiota. Não iria jogar bebida em você de
maneira proposital.
Só então eu percebi que a camisa de Lucky estava
completamente molhada de uma bebida vermelha, bem no peito, e a
mancha era realmente enorme.
— Vamos subir, Lucky — sugeri, sem ter nenhuma outra ideia
sobre o que fazer naquele momento —- Não adianta nada ficar aqui
discutindo sobre algo que não tem como voltar atrás. A bebida já foi
derramada e a mancha não vai desaparecer.
Na verdade, eu não estava entendendo nada do que estava
acontecendo ali. Por mais que a situação em si estivesse
esclarecida, Sienna e Lucky estavam tão alterados daquela maneira
apenas por algo tão bobo, era simplesmente incompreensível para
mim.
Lucky me olhou bastante contrariado, mas acabou
concordando com a minha sugestão, porém, quando ele segurou
em minha mão, eu me senti realmente péssima por isso.
— Vamos — ele disse, olhando para Sienna com desagrado
— Melhor subir com a minha namorada do que está aqui discutindo
por bobagem.
Enfim, ele estava certo sobre dizer que aquilo tudo era uma
grande bobagem, mas a maneira como ele disse aquilo soou
bastante estranha para mim ainda assim.
Eu me despedi das minhas amigas de maneira rápida,
prometendo que conversaremos melhor no dia seguinte e nós
caminhamos de volta a casa, seguindo agora pelo corredor que
levava aos quartos onde Lucky e eu estamos instalados.
Mas quando tentei me despedir de Lucky na porta dos
nossos quartos, ele me impediu de imediato.
— Quero conversar com você agora, Beatrice — ele me
intimou, seu tom de voz inflexível.
— Por que não deixamos essa conversa para depois do
casamento? — Ainda tentei adiar o inevitável.
— Eu quero conversar com você agora, Beatrice — ele exigiu
com mais ênfase — Não posso esperar até amanhã!
Diante da maneira como Lucky estava se comportando, achei
melhor concordar com ele e tentar resolver logo aquilo de uma vez
por todas, afinal, não havia mais como adiar.
— Deixe- me apenas me certificar de que está tudo bem com
o Timothy e logo eu irei até o seu quarto.
— Tudo bem, então — ele aceitou, depois do que pareceu
uma eternidade na qual ele estava me avaliando com atenção —
Estarei à sua espera em meu quarto.
Apesar de tudo o que já tinha acontecido naquela noite, ao
entrar no meu quarto e olhar para o relógio pequeno em cima da
mesinha de cabeceira, percebi que ainda não era nem meia noite
ainda e depois de me certificar de que Timothy ainda estava
dormindo tranquilamente, eu me preparei para ir até o quarto de
Lucky e acabar com tudo logo de uma vez.
Quando estava parada em frente a porta do quarto vizinho, a
mão já quase tocando a madeira para viajar a atenção de Lucky,
uma sombra parece me cobrir e percebo na verdade que se trata de
alguém que acaba de parar logo atrás de mim.
— O que pretende fazer no quarto do seu… namorado a esta
hora, Beatrice?
Girei realmente espantada e me deparei com Edward, que
me olhava com extrema frieza, a sua expressão deixando claro o
que ele estava pensando sobre o fato de eu estar parada na frente
do quarto de Lucky naquela noite, logo após sair do seu próprio
quarto.
Capítulo 63 – USANDO O Bom senso
Edward
A primeira coisa que eu vi ao dobrar o corredor em direção ao
quarto de Beatrice foi a própria, parada em frente a porta do quarto
do abominável Lucky, com a mão levantada em direção a madeira,
deixando claro que estava prestes a bater.
Ela parecia realmente assustada em me ver, sua expressão
nitidamente culpada, o que indicava que eu não estava errado em
acreditar que ela pretendia fazer uma visita noturna ao quarto do
seu até então namorado, depois de ter saído do meu quarto, algo
bastante alarmante.
— Eu… é… — gaguejou vergonhosamente e depois
completou de maneira mais firme— Vou conversar com Lucky.
— Agora!?
Antes que Beatrice pudesse responder, a porta a suas costas
foi aberta e Lucky apareceu, estava com uma expressão bastante
irritada e usando apenas um roupão felpudo sobre o corpo, o que
também me fez ficar bastante irritado, eu diria.
— Há algum problema de minha namorada vir ao meu quarto
à noite? — ele interrogou de maneira rude.
Sem nem mesmo perceber o que estava fazendo e sendo
guiado apenas pela raiva, dei alguns passos em direção ao grande
idiota que estava tentando me confrontar, já com o dedo em riste e
prestes a dar-lhe uma resposta à altura de sua pergunta, sem
pensar nem por um segundo nas consequências dos meus atos.
— Escuta aqui, seu…
Antes que eu pudesse concluir o que eu pretendia dizer,
Beatrice se interpôs entre nós dois, suas mãos firmes em meu peito,
olhando de um para o outro com expressão preocupada.
— Não há problema algum, Lucky — ela me interrompeu —
Pensando bem, ninguém vai conversar hoje. Vamos todos voltar
para os nossos quartos e dormir. Ponto.
Encarei Beatrice com contrariedade, assim como percebi que
Lucky também estava fazendo e logo entendi que estava agindo de
maneira errada, logo agora que estávamos nos entendendo.
Apesar de não gostar nada da maneira como Beatrice tinha
tomado a frente na situação, me impedindo de dizer aquilo que
gostaria, eu iria acatar a sua vontade e confiaria nela.
— Amanhã conversamos, então? — perguntei, confesso que
apenas para que Lucky ouvisse.
— Amanhã conversarei com todos que desejarem — ela
disse de maneira condescendente.
Eu não gostei nenhum pouco da forma como Beatrice disse
aquilo, mas em nome da nossa harmonia enquanto casal, afinal,
logo voltaríamos a ser um de maneira pública, eu achei por bem não
contestar.
Beatrice ainda estava entre nós, e Lucky estava nitidamente
irritado, sua expressão era claramente de raiva e eu pensei
seriamente em esperar que ela voltasse ao seu quarto, pois não
confiava que ele iria realmente aceitar a vontade dela, como eu
estava pretendendo fazer.
— Então, vou esperar que você volte para o quarto — falei, a
encarando com atenção.
— Você vai para o seu quarto agora, Edward — Beatrice
falou em um tom que não admitia réplica — E não deve se
preocupar comigo, eu ficarei bem.
Suspirei exasperado, agora ainda mais chateado com a
situação, e como se não bastasse o clima tenso presente naquele
momento e para deixar tudo ainda mais complicado, Sebastian se
aproximou, olhando para todos com uma interrogação em seu
semblante.
— Está tudo bem? — perguntou Sebastian, parecendo
bastante interessado no que está acontecendo.
— Está tudo bem sim, Sebastian — Beatrice prontamente
respondeu ao primo — Edward está de saída para o seu próprio
quarto e Lucky também já está entrando no seu, não é mesmo
rapazes?
Mesmo odiando toda a situação, ainda mais agora que
Sebastian também estava entre nós, eu não tive como protestar
contra a ordem velada da minha esposa e apenas concordei com
um aceno e resolvi sair logo de uma vez, para não irritar Beatrice
ainda mais do que ela já parecia estar.
— Beatrice está certa, eu já estava de saída — falei a
contragosto — Boa noite a todos.
Eu precisei de toda a minha força de vontade para deixar
Beatrice sozinha com aqueles dois grandes babacas, mas um
relacionamento se baseia na confiança e se estamos tentando
reconstruir a nossa relação, é necessário saber o momento de
recuar.
Espero sinceramente que Beatrice não volte atrás sobre dar
uma chance para nós e que aquela história ridícula de namoro com
um grande imbecil como Lucky enfim possa chegar logo ao fim.
Lembrei então do quanto fiquei chateado ao acordar e
encontrar a cama vazia e fria, mostrando que já fazia algum tempo
que Beatrice tinha saído dos meus braços de maneira sorrateira.
Vesti a roupa de maneira apressada e voltei a festa, a
procura de Beatrice, mas Sienna me avisou que ela tinha subido
junto com o namorado, e eu me apressei em ir aonde ela estava,
mas acreditando realmente que ela já estivesse em seu quarto e
não prestes a entrar no dele, como eu a encontrei.
Com os pensamentos ainda no corredor anterior, cheguei ao
principal e quase esbarrei em alguém que vinha no sentido
contrário.
— Fiorella? — foi mais uma contratação que propriamente
uma pergunta.
— Acho que eu errei o corredor…
Fiorella foi logo explicando e olhou para todos os lados, como
se a procura de algo, o que achei estranho, e só então me recordei
que as três irmãs estavam todas na mesma ala que eu, o que
significa que aquele não realmente não era o corredor certo para ela
estar e o flash de uma lembrança rápida de quando estive no jardim
chamou a minha atenção de imediato.
— Entendo.
Não consegui evitar um sorriso diante do que concluí ser
realmente o motivo de Fiorella estar seguindo exatamente naquela
direção, quando há apenas alguns minutos eu a tinha visto nos
braços de Sebastian. Aquilo era algo bastante conveniente para
mim, eu precisava admitir.
— Eu estou indo para o meu quarto — avisei, para que se
sentisse à vontade para continuar com o seu caminho — Boa noite,
Fiorella.
— Boa noite, Edward.
Não olhei para trás, sabia perfeitamente que ela não tinha
pretensão alguma de corrigir o seu “lapso” e eu não pretendia, de
maneira alguma, atrapalhar os seus planos para aquela noite. Já
bastava que eu mesmo não poderia seguir com as minhas próprias
pretensões.
Meu bom humor não durou tanto, e quando cheguei ao
quarto no qual fui instalado por minha tia Maggie, ao invés de
apenas me jogar sobre a cama enorme e confortável, eu segui
diretamente para o banheiro, tomar um banho longo, muito longo,
para conseguir dormir bem depois de todos os acontecimentos
daquela noite.
Mas não tinha sido de todo negativa, tendo em vista que
Beatrice e eu nos entendemos, quase que completamente, e eu
tenho certeza de que logo que fosse possível, ela iria terminar tudo
com aquele grande babaca e nós poderíamos ficar juntos e, no que
depender de mim e da minha determinação, não iremos mais nos
separar depois de tudo o que senti ao tê-la tão longe de mim e por
tanto tempo.
Acordei no dia seguinte bem mais calmo, tinha conseguido
dormir bem, mesmo depois de não ter conseguido que Beatrice
fizesse as coisas da maneira que eu gostaria, algo que comprova
que estou conseguindo seguir com a minha determinação de ser um
homem com mais bom senso, sem me deixar levar pela minha
arrogância, como Abigail por várias vezes tentou me mostrar.
Ela agora estava prestes a casar-se com Andrew e formar a
família que tanto desejava, algo que não foi tirado dela quando o
seu ex-marido a traiu de maneira tão pública e humilhante.
Eu pude acompanhar toda a recuperação de Abigail após
aqueles fatos e admirei a maneira como ela conseguiu superar o
que aconteceu, e ainda seguir em frente sem se deixar abater,
apenas se atendo ao que ela repetiu várias vezes ser o mais
importante para ela: a sua própria felicidade.
Os seus conselhos tinham sido bem-vindos e estavam
provando serem sábios, pois até mesmo Beatrice comentou ontem,
enquanto estávamos na cama, o quanto eu estava diferente, e falou
aquilo como algo positivo e que ela tinha gostado de ver, o que me
deixou bastante feliz.
Quando cheguei à mesa de café da manhã, por uma grande
coincidência, encontrei justamente as duas mulheres sobre quem eu
estava pensando enquanto descia as escadas. Abigail e Beatrice
estavam juntas, conversando de maneira que parecia bastante
confidencial e sorriram com simpatia ao me ver chegar, o que me
dizia que eu não tinha interrompido nada tão importante assim.
— Bom dia, garotas — cumprimentei ao me juntar a elas —
Vejo que dormiram bem.
— Está um lindo dia e dentro de algumas horas seria a
esposa feliz do meu grande amor — Abigail apontou, parecendo
sonhadora — Não há motivos para tristeza aqui nesta casa.
— Tem razão, prima — concordei de imediato com ela —
Estou muito feliz por estar ao lado de todas as pessoas mais
importantes da minha vida.
Disse aquilo olhando diretamente para Beatrice, a minha
intenção claramente aberta de que ela entendesse ser uma destas
pessoas e o seu sorriso me dizia que ela tinha, sim, entendido a
mensagem óbvia.
— Lucky foi embora hoje pela manhã — Beatrice comunica,
sua expressão tentando demonstrar pesar, mas sem sucesso
algum.
— Como eu disse, está um belo dia — Abigail, ao contrário
dela, não disfarçou o seu contentamento com a informação.
Capítulo 64 – Momentos em família
Beatrice
O casamento de Abigail foi lindo e alegre, todos pareciam
verdadeiramente felizes com a sua união com Andrew, assim como
eu mesma também me sentia, afinal, os dois são pessoas por quem
eu tenho grande apreço e que merecem, sim, ser felizes ao lado um
do outro.
O único motivo que eu tinha para não estar plenamente
satisfeita naquele dia, seria a presença de Lucky, algo que era a
minha mais pura culpa, mas para o meu alívio, ele foi embora pela
manhã, e quando acordei, a primeira coisa que percebi foi uma
mensagem sua, avisando que entendeu estar sendo dispensável
naquele fim de semana e que o melhor seria ir embora antes que os
preparativos para o casamento de fato tivessem início.
Mas isso ainda não me isentava de ter a nossa “conversa” e
deixar claro que não havia a menor chance de permanecermos
juntos, pois estava mais do que provado que éramos totalmente
incompatíveis e que era melhor seguir cada um à sua vida.
Mas eu não pensaria nesse detalhe hoje. O dia era apenas
de celebração e alegria, e me entreguei totalmente ao momento,
aproveitando do início ao fim todos os preparativos e ainda mais o
grande momento, quando Abigail e Andrew selaram os seus votos
diante do altar instalado no jardim.
Como madrinha de casamento, assim como as minhas
amigas italianas, acabei sendo parte ativa em todos os momentos, o
que me deixou também bastante ocupada e sem a possibilidade de
conversar realmente com o Edward, como ele tinha sugerido na
noite anterior, mas o fato de Lucky ter ido embora me deixou mais
confortável sobre isso.
No final das contas, as duas conversas que eu havia
prometido para aquele dia, foram adiadas para o seguinte, ou até
depois disso, e estava tudo bem.
Era realmente surpreendente para mim que Edward não
estivesse me pressionando sobre isso, muito pelo contrário, ele
parecia bastante à vontade junto com a sua família e a sua
expressão era de genuíno contentamento.
Mesmo que de maneira discreta, tentando não chamar a
atenção das pessoas para o fato, nós ficamos ao lado um do outro
sempre que possível, e depois da celebração do casamento civil, já
durante a festa em si, não nos desgrudamos, mesmo que eu não
tenha aceitado dançar com o Edward realmente.
— Qual o problema, Beatrice? — Edward perguntou, se
referindo a mais um pedido de dança recusado — Somos livres para
fazer o que bem entender, ou não?
— Não adianta arquear a sua sobrancelha e tentar me
colocar contra a parede a esta altura do campeonato, Edward —
falei com bastante segurança — Eu não desejo ser o centro das
atenções nesta festa, quando para todos ainda sou a namorada de
Lucky.
— Algo absurdo e que ainda não consegui compreender
como aconteceu, tendo em vista o quanto aquele cara é
insuportavelmente desagradável.
Edward soltou essa “pérola” e tomou mais um gole de sua
bebida, aquele já devia ser a terceira, ou seria quarta dose, que
estava em suas mãos, mas ele continuava perfeitamente sóbrio,
sem nenhuma indicação de embriaguez, ou seja, as suas palavras
eram pensadas e não apenas movidas pela emoção da bebida.
— Tendo em vista que você também não é o homem mais
agradável da face da terra — usei a mesma frase que ele — não é
nada surpreendente que eu tenha me envolvido com Lucky.
Ficou bastante claro que Edward não gostou nada da
comparação que fiz e senti seus olhos me queimarem, afinal, eu
tinha acabado de defender o Lucky, mas eu não estava preocupada.
Aquilo estava ficando bastante interessante, na verdade.
— Você realmente gosta daquele… — Edward pareceu
procurar alguma palavra para descrever Lucky, e deduzi que não
seria nenhuma agradável ou elogiosa — ….babaca!?
Sorri pela maneira com que ele fez a pergunta e do quanto
suas veias pareciam prestes a estourar em seu pescoço, por
apenas uma leve provocação como aquela.
— Eu não disse isso, Edward — Eu estava tentando conter
uma risada — Não coloca palavras na minha boca.
Edward já estava bastante vermelho nesse momento, algo
que considerei engraçado e que estava me divertindo muito até,
mas a nossa breve e acalorada discussão foi interrompida pela
aproximação de Sienna, que vinha acompanhada de Timothy, de
quem ela esteve cuidando a maior parte do tempo, tendo em vista
que eu estava ocupada com os últimos preparativos da festa.
Sienna é professora do ensino infantil e ama crianças, e fez
absoluta questão de ficar de olho em Timothy, durante toda a manhã
e durante a festa e quase não tinha visto, assim como o meu garoto
também.
— O que acha de ficar um pouco conosco, Timothy? — pediu
Edward, sorrindo para o garoto — Quase não o vimos na festa.
Timothy sorriu muito ao ouvir a reclamação de Edward, como
se estivesse achando engraçado aquilo que ele havia dito.
— Mas eu estou com as outras crianças na sala de jogos —
ele explicou.
Mesmo sem dizer claramente, o que Timothy estava tentando
dizer é que não iria deixar de estar com os seus novos amiguinhos,
para estar cercado por adultos em uma festa de adultos, o que é
bastante compreensível e nos fez rir pela maneira simples e
bastante sincera como ele disse aquilo.
— Tudo bem, Timothy — falei para o pequeno — Você pode
sim, ficar com os seus amigos, não é mesmo, Edward?
— Claro, pode ir lá — Edward concordou, olhando com
carinho para Timothy — Estaremos aqui quando se sentir cansado.
Como toda criança, Timothy não queria perder um só minuto
de diversão e eu não tinha motivo algum para impedir que ele
aproveitasse ao máximo aqueles dias em Kent, então apenas
reforcei algumas instruções de segurança, as quais ele ouviu
atentamente, para depois pedir licença e sair caminhando
apressado entre os convidados de volta para a casa e a sua
turminha.
— Timothy é um ótimo garoto — comentou Sienna, enquanto
nós três acompanhamos os passos do meu pequeno — Vocês estão
vendo o mesmo que eu?
Como estávamos todos olhando na mesma direção, foi
possível identificar de imediato o que Sienna estava se referindo
com aquela pergunta, mesmo que eu não tenha entendido logo o
motivo de tamanho desânimo em sua voz.
— Não acredito que agora vou ficar sempre segurando vela!
— ela reclamou de maneira engraçada.
Eu realmente estava me sentindo muito feliz naquele
momento, pois até a cara brava de Sienna conseguiu me deixar
ainda mais animada e sorridente!
— Eu não posso ajudá-la nisso, amiga — comentei com um
riso divertido — É nítido para todos que Fiorella e Sebastian estão
se entendendo muito bem um com o outro.
Eu estava até sendo razoavelmente branda ao dizer que eles
estavam apenas se entendendo, quando Fiorella e Sebastian não se
afastaram por um único minuto durante todo o dia. Aparentemente,
foi amor à primeira vista. Não havia outra definição apropriada para
a situação entre eles.
Até poderia apostar que o fato de ter encontrado com Fiorella
no mesmo corredor em que estava o meu quarto dizia muito sobre a
noite passada, pois aquele também é o corredor onde está
localizado o quarto do meu primo.
— Se entendendo é pleonasmo, Beatrice — Sienna protestou
indignada — Eles agora são praticamente uma só pessoa!
Foi impossível não rir das palavras exageradas de Sienna e
até mesmo Edward acabou gargalhando pela maneira como ela
definiu a relação entre a irmã e o meu primo.
— Eu jamais poderia imaginar que Sebastian e Fiorella iriam
formar um novo casal — comentei com humor.
— Foi bem surpreendente mesmo — Sienna concordou com
as minhas palavras — Por falar em casal… Onde está o seu
namorado?
A pergunta de Sienna despertou em mim a lembrança da
noite anterior, quando eu cheguei ao jardim e encontrei Lucky e ela
discutindo de maneira acalorada, como também um pequeno malestar no ambiente, pois percebi que Edward não gostou nada da
menção ao meu até então namorado.
— Lucky foi embora hoje pela manhã — expliquei, com
desconforto.
Eu gostaria de ter perguntado sobre o que aconteceu na noite
anterior, mas por estarmos na presença de Edward, considerei que
seria muito invasivo da minha parte, então optei por fazer esse
questionamento em um outro momento, quando estivéssemos a
sós.
Nós continuamos conversando e Sienna não comentou nada
sobre o assunto, e logo estávamos participando do brinde aos
noivos, que já estavam quase de saída para a sua lua de mel nas
Bahamas.
A festa continuou animada mesmo depois que Abigail e
Andrew já tinham saído e quando estavam apenas os nossos
parentes mais próximos, não consegui mais resistir a uma dança
com Edward, que estava ainda mais charmoso do que eu me
lembrava, e concluí que agora as suas atitudes eram autênticas.
Antes eram movidas pela sua ideia fixa de me ter de volta, mas sem
realmente tentar mudar ou ser realmente o homem que eu precisava
na minha vida.
Quando Timothy voltou para onde estávamos, alegando
agora estar cansado e disposto a se recolher, nós subimos juntos,
mas Edward foi para o seu próprio quarto, após nos deixar em frente
a porta do nosso.
— Estou feliz que o chato do Lucky não está aqui — Timothy
ainda comentou, quando eu terminei de ler um trecho de uma de
suas histórias preferidas — Espero que ele demore bastante onde
ele está agora.
— Timothy! — O repreendi, lutando de maneira bastante
firme para conter o sorriso — Isso não é nada gentil e você não
deve falar esse tipo de coisa sobre as pessoas.
— Tudo bem, Beatrice — ele concordou, parecendo
envergonhado — Não vou mais falar essas coisas sobre as
pessoas.
Suspirei aliviada, feliz por ter conseguido passar a mensagem
certa para o meu filho.
— Mas que ele é muito chato, isso ele é sim.
Capítulo 65 – Não posso acreditar
Beatrice
A volta para Londres foi feita na manhã seguinte ao casamento,
e saímos todos bem cedo de Higham, tendo em vista que todos
tinham compromissos a cumprir na segunda-feira de manhã.
Para evitar maiores comentários, algo que eu realmente não
desejava que acontecesse, Timothy e eu voltamos para Londres de
carona com o meu primo Sebastian, que também trouxe com ele a
Fiorella, e pelo que pude perceber, eles não pareciam dispostos a
se afastar tão em breve, considerando-se a resposta que ela
ofereceu para a minha pergunta sobre o seu retorno para a Itália.
— Eu… — ela começou a dizer de maneira insegura, mas
depois limpou a garganta e usou de mais convicção em suas
palavras — Eu pretendo passar alguns dias em Londres. Aproveitar
um pouco mais as minhas férias do trabalho.
Fiorella é secretária em um escritório de advocacia e
segundo tinha me contado há alguns dias, estava de férias pelas
próximas semanas, o que lhe possibilitaria continuar em Londres,
algo que pude entender que ela realmente faria agora.
Pensei em oferecer a minha casa, mesmo já o tendo feito
antes, mas diante da maneira como ela e Sebastian não tiravam os
olhos um do outro, imaginei que ela pretendia ficar no apartamento
do meu primo e seria bastante inconveniente da minha parte falar
sobre isso, fazer esse oferecimento, pois poderia parecer que eu
estava bisbilhotando, algo que seria completamente equivocado, por
sinal.
De qualquer forma, fiquei muito feliz pelos dois, pessoas de
quem gosto e às quais desejo toda a felicidade do mundo, então
quando Sebastian me deixou em casa, foi exatamente essas
palavras que eu disse para eles.
— Eu também desejo que seja muito feliz, minha prima —
Sebastian falou com alegria — Talvez agora seja o momento de
começar de novo, não é mesmo? Tudo parece ser diferente agora,
de uma maneira bastante positiva, eu diria.
Eu entendi perfeitamente ao que Sebastian estava se
referindo e não achei certo fingir o contrário, afinal, todos devem ter
percebido a reaproximação entre Edward e eu, por mais que não
tenham comentado nada na minha presença.
Outro fator nítido para todos, foi a maneira como Edward
estava agora bem mais suave e descontraído, sorrindo a todo
momento e participando de maneira ativa nas conversas e
atividades, sem aquele sarcasmo e cinismo que sempre o
acompanharam em outros momentos.
— Eu também agradeço pelo apoio, Beatrice — Fiorella
disse, sem nenhum pouco de constrangimento — Mas Sebastian e
eu estamos apenas nos conhecendo, e quem sabe? Vamos dar um
passo por vez.
Admirei a maneira realista como Fiorella estava vendo a
situação, e sorri em concordância as suas palavras, pela maturidade
também que percebi existir nela, apesar de tudo.
Nós nos despedimos, Timothy já parecia impaciente dentro
do carro, onde permanecemos conversando mesmo depois de
estacionado na frente da minha casa. Ainda assim, ele sorriu
alegremente em resposta ao cumprimento de Sebastian e Fiorella
antes de saímos do veículo.
— Você estava demorando muito, Beatrice — ele resmungou,
enquanto eu abria a porta — Podemos nos atrasar.
Timothy era um garoto extremamente inteligente e estava
certíssimo, já estávamos em cima da hora para sair de casa, visto
que eu ainda precisava deixá-lo na escola, para só então poder ir
trabalhar.
Edward tinha uma reunião importante logo que chegasse a
Londres e hoje não poderia fazer isso, então nos apressamos e logo
estávamos de volta a nossa rotina diária em casa.
No final do expediente daquele dia, Lucky me esperava
pacientemente para ir me deixar em casa, algo que eu não
pretendia que acontecesse mais, porém entendi que era necessário
dar um ponto final na nossa relação e isso só poderia ser feito
através de uma conversa madura e civilizada entre duas pessoas
adultas, algo que eu não conseguia enquadrar a pessoa caprichosa
que Lucky se mostrou ser.
Tentei conversar logo dentro do carro a caminho da minha
casa, mas Lucky estava fugindo do assunto de maneira bastante
nítida, o que me deixou contrariada, mas ainda assim, consegui
manter a calma diante da situação irritante.
Quando chegamos a minha casa, o convidei para entrar,
agradecendo por termos conseguido chegar no horário naquele dia,
o que nos daria bastante tempo antes da chegada de Edward e
Timothy, ou ao menos foi assim que eu imaginei.
Mas da mesma forma como Lucky fugiu do assunto antes,
quando estávamos no seu carro, ele fez novamente quando na sala
de estar da minha casa e eu já tinha ultrapassados todos os meus
limites, então fui direto ao assunto, falando tudo o que pretendia
logo de uma vez, sem me importar em está sendo ou não grosseria.
— Você quer terminar tudo entre nós? — Lucky perguntou
fingindo surpresa — Como você pode deixar que o seu ex-marido
tenha tanto poder sobre si? Não o deixe ser tão poderoso, não se
deixe enganar novamente, meu amor!
— Eu quero terminar, não por causa do Edward — Era
verdade — E sim porque eu cheguei à conclusão de que somos
completamente incompatíveis um com o outro. Nós não nos
amamos, tampouco. Não há razão então para estarmos juntos
dessa forma.
Lucky precisava ouvir a verdade e já tinha passado da hora,
esse é um fato.
— Você ainda está chateada pelo que aconteceu na casa dos
meus pais e está confundindo as coisas, querida.
Lucky tentou se aproximar de mim, algo que evitei antes que
ele ao menos tocasse um dedo em mim. Eu não o quero e ele
precisa entender isso o quanto antes.
— Não é apenas isso. É importante que você entenda o que
eu estou tentando te explicar, Lucky — Apontei com irritação — E
não tente me fazer mudar de ideia, pois eu não vou.
Lucky me encarou com atenção, seus olhos analisando o
meu semblante como se estivesse à procura de respostas
importantes e eu não desviei os meus olhos dele tampouco, para
que percebesse que nada do que ele dissesse mudaria a minha
decisão de hoje.
— Eu entendo sim — Lucky enfim falou, seu tom um lamento
nítido — É uma pena que não deseje mudar o rumo da sua vida e
dar uma nova chance para o amor, Oliva. Ainda assim, eu te desejo
sorte. Você vai precisar.
— Obrigada.
Eu gostaria de ter respondido de outra forma, mas usei
apenas de extrema frieza para deixar claro o meu desagrado com
as suas atitudes.
— Eu te acompanho até a porta — ofereço, mesmo que
contrariada por tudo.
Lucky pareceu incerto sobre me acompanhar, mas acabou
pedindo para usar o banheiro antes de ir embora, algo bastante
inconveniente, mas que foi impossível recusar.
Depois que o deixei no banheiro, alguns minutos depois ele
estava me chamando com um tom de voz repleto de uma estranha
urgência.
— O que aconteceu aqui? — perguntei horrorizada.
Ao chegar no banheiro, constatei que havia um grande
vazamento de água na torneira da pia do lavabo e fui até mesmo
pega tão de surpresa, que as minhas roupas logo estavam
molhadas pelo jato de água desordenado e forte.
Quando Lucky por fim conseguiu resolver o problema com o
vazamento, suas roupas estavam arruinadas e ele precisava
urgentemente trocá-las para não acabar pegando um resfriado.
Precisei então entregar um roupão felpudo para ele, e depois
fui para o meu quarto, dar um jeito na minha aparência, após ter
colocado as roupas dele para secar.
Mas que contratempo!
Edward
Após o fim de semana em Kent, acabei acumulando alguns
assuntos importantes para a segunda-feira e não consegui nem
mesmo ir deixar Timothy na escola, algo que eu gosto realmente de
fazer.
Mas fiz o possível para sair o mais cedo da empresa e pegar
Timothy na saída da escola, e tinha planos grandiosos para aquela
noite com Beatrice.
Ela não sabe, mas as suas amigas continuam em Londres,
mais especificamente na casa de hóspedes da minha mansão, onde
deixei Timothy após buscá-lo na escola.
— Eu só não consegui entender uma coisa nisso tudo,
Edward — Timothy falou, parecendo pensativo.
Sorri discretamente pela maneira formal e a expressão séria
com que ele disse aquilo, mas perguntei no mesmo tom o que ele
queria saber, me surpreendendo com a resposta.
— Como você quer namorar a Beatrice, se ela já namora o
chato do Lucky?
Aquela questão me deixou em uma situação delicada, mas
entendi que era melhor ser o mais sincero possível, pois Timothy era
uma criança sim, mas não era nada bobo e merecia uma resposta
honesta.
Contei então, de maneira resumida e mais simples possível,
toda a minha história com Beatrice, sem deixar de dizer que eu fui o
maior culpado pela nossa separação e pelo fato de ela ter acabado
por tentar reconstruir a sua vida ao lado de outra pessoa.
Quando eu terminei de dizer tudo, já estávamos em frente à
minha casa, onde Sienna o aguardava com um sorriso animado logo
na frente da residência, como eu tinha pedido que fizesse e Timothy
se despediu de mim com uma frase muito importante.
— Estou torcendo por você, Edward! — falou ele já do lado
de fora, acenando logo em seguida com animação.
Eu tinha combinado com Sienna para que ela cuidasse do
garoto aquela noite, pois eu desejava sair para jantar com Beatrice
em um restaurante romântico, onde nós poderíamos reatar o nosso
casamento agora oficialmente, afinal, ainda continuamos casados
judicialmente.
Aquela noite eu pretendia pedir a minha esposa para voltar
para a nossa casa e sermos a família que nunca conseguimos ser
antes, mas agora só dependia de nós fazer isso acontecer, dar certo
de verdade.
Estava ansioso pelo momento em que a encontraria e
consegui chegar a sua casa em tempo recorde, e ao tocar a
campainha, apalpei a caixinha de veludo no bolso do meu paletó,
apenas para ter certeza de que ela estava realmente onde eu a
tinha colocado antes de sair de casa naquela manhã.
A porta se abriu após o segundo toque, e mal pude acreditar
em meus olhos ao ver o homem de cabelos molhados e vestido
apenas com um roupão que atendeu a porta.
— O que faz aqui? — Lucky e eu falamos ao mesmo tempo.
Capítulo 66 – Um pedido importante
Beatrice
Após trocar de roupa e secar os meus cabelos de qualquer jeito,
voltei para buscar as peças de roupa de Lucky na lavadora e
entregar logo de uma vez, para que não demorasse mais do que o
estritamente necessário para ele ir embora.
Eu sabia que logo Edward iria chegar com Timothy e não
desejava que ele e Lucky acabassem por se esbarrar, pois tenho
absoluta certeza de que o clima de tensão será bastante
desagradável caso isso aconteça.
As roupas já estavam secas, e não me importava nenhum
pouco o fato de estarem amassadas, ele iria usá-las assim mesmo.
— Lucky, as suas roupas estão…
Comecei a dizer ao entrar na sala de estar, mas percebi que
ele não estava no cômodo, o que me deixou irritada e temerosa ao
mesmo tempo. Onde será que ele estava agora?
Ouvi algumas vozes masculinas e elas me levaram até o hall
de entrada, onde percebi que era Lucky que estava falando com
alguém do lado de fora e para o meu total espanto reconheci a voz
de Edward, e aumentei a velocidade dos meus passos de imediato,
constatando que era realmente ele que estava à porta, mas o fato
de Timothy não está com ele foi o que realmente me deixou ainda
mais preocupada.
— Edward!? — Deixei transparecer toda a minha surpresa e
logo perguntei o que realmente me interessa naquele momento —
Onde está Timothy? Por que não está com ele?
— O que este homem está fazendo aqui, Beatrice?
Edward não respondeu a minha pergunta, mais preocupado
com a presença de Lucky em minha casa.
— Você esqueceu de ir buscar Timothy? — perguntei com
irritação e depois com mais ainda mais preocupação — Aconteceu
alguma coisa com o meu filho? É isso, Edward?
Ao invés de me preocupar com o seu questionamento sobre
Lucky, eu estava mesmo preocupada com o meu garoto e ele
precisava me dizer o que significava a sua presença ali sem
Timothy.
— Eu não esqueci do Timothy, Beatrice! — Edward ficou
bastante contrariado agora — Eu jamais poderia simplesmente
esquecer um compromisso, ainda mais quando se trata de Timothy.
Como você pode pensar isso sobre mim?
Bem, então se ele não esqueceu de ir buscar Timothy na
escola, onde estava o meu filho? Foi exatamente essa a pergunta
que eu fiz, a qual ele respondeu com ainda mais aborrecimento.
— Eu me recuso a ficar conversando sobre isso aqui do lado
de fora — Edward disse, praticamente empurrando Lucky para o
lado e entrando no hall — Timothy está bem, ficou com a Sienna. Ao
contrário de mim, estou extremamente irritado agora.
Edward estava caminhando para a minha sala de estar, como
se fosse o dono da casa e não me restou outra opção a não ser
segui-lo, mas antes olhei em direção ao Lucky, bem a tempo de ver
um sorriso de satisfação em seu rosto carregado de cinismo.
— E então, o que Lucky está fazendo em sua casa, Beatrice?
— Edward perguntou sem rodeios, encarando-nos com um
semblante carregado de fúria.
— Eu tenho todo o direito de estar na casa da minha
namorada — Lucky teve a audácia de dizer — O que não é o seu
caso, afinal, estão separados há muito tempo, mas você ainda
continua rondando-a, sempre à espreita como um lobo faminto!
— Parem já com isso, agora! — gritei como se estivesse
falando com duas crianças rebeldes — Esta é a minha casa e não
vou aceitar esse tipo de discussão ridícula aqui.
Eu precisei agir de maneira firme, ou aquilo poderia fugir
completamente do meu controle, algo que seria um verdadeiro
desastre.
Os dois homens reagiram às minhas palavras de uma forma
bem diferente. Enquanto Lucky tinha um sorriso cínico e parecia
vitorioso, Edward parecia ainda tentar controlar a raiva, suspirando
de maneira audível, mas eu poderia afirmar que ela estava se
resignando a me atender.
— Vamos conversar como adultos — Usei agora um tom
mais brando e paciente — Sentem-se, por favor.
Mesmo estando claro que sentar era a última coisa que
Edward queria fazer naquele instante, ele caminhou pesadamente
até a poltrona mais afastada e atendeu o meu pedido. Lucky apenas
veio até onde eu estava, pegando as roupas que eu ainda trazia em
meus braços e sorrindo com escárnio.
— Lamento dizer, mas não poderei participar deste grande
momento — Ele disse de maneira sarcástica — Quem sabe em
outro dia?
As suas palavras me pegaram de surpresa e fiquei totalmente
sem reação, enquanto Lucky saia da sala, acredito que em direção
ao lavabo mais uma vez, agora para trocar de roupa e se desfazer
do roupão.
A saída de Lucky deixou um silêncio tenso no ambiente e eu
precisei sentar, pois me sentia nervosa ao extremo, e agora também
bastante irritada.
— Mais importante do que o motivo que o trouxe aqui, é o
motivo pelo qual ele atendeu a porta usando nada mais que apenas
um roupão sobre o corpo, concorda Beatrice? — Seu tom agora
estava repleto de tristeza — Acredito que eu mereço uma
explicação.
Agora foi a minha vez de suspirar pesadamente, afinal, aquilo
tudo tinha sido um grande mal-entendido, mas será que Edward iria
acreditar em mim, mesmo depois de encontrar Lucky naquelas
condições tão incomuns!? Eu esperava ardentemente que sim, pois
caso contrário, eu não iria lutar para fazer com que ele acreditasse
na minha versão dos fatos.
Ele precisava confiar em mim, pois nada era mais importante
que isso.
— Você sabe perfeitamente que Lucky e eu precisávamos
esclarecer algumas coisas — comecei a explicar — Eu precisava
deixar tudo claro entre nós e terminar a nossa relação de maneira
definitiva.
— Mas não foi o que pareceu estar acontecendo aqui,
quando eu cheguei a sua casa.
— Aconteceu um pequeno imprevisto com o encanamento do
banheiro e Lucky acabou ficando todo molhado — Contei
pacientemente — Ele estava usando um roupão apenas pelo tempo
em que suas roupas secaram, nada além disso aconteceu.
Senti o olhar de Edward me queimar, enquanto ele me
analisava com extrema atenção, como se através daquilo ele
pudesse descobrir se eu estava ou não, falando a verdade.
Antes que Edward pudesse dizer qualquer coisa, Lucky
estava de volta à sala.
— Podemos conversar agora, Lucky? — perguntei,
imaginando que ele poderia esclarecer tudo o que houve naquele
final de tarde.
— Como eu disse antes, não poderei ficar…
Lucky não parecia nenhum pouco triste com o fato, e sem
mais demora, foi embora e nos deixou a sós, algo maravilhoso, pois
poderíamos deixar tudo claro em paz.
Mas Edward ficou logo de pé, seus passos trazendo-o para o
meu lado, e seus braços rodeando a minha cintura com urgência,
seus olhos nos meus, clamando por uma resposta à sua pergunta
mais importante.
— Eu e Lucky não temos mais nada um com o outro, Edward
— falei, tentando transmitir toda a honestidade contida em minhas
palavras — Eu falei isso para ele, um pouco antes do encanamento
apresentar esse problema grotesco e o causar todo esse
contratempo.
— Eu só preciso de uma resposta honesta, Beatrice — Ele
disse com resignação — Você quer ficar comigo? Pois é isso o que
eu mais desejo para nós dois. Reatar o nosso casamento e firmar
uma família juntos, eu, você e Timothy. Pois eu quero estar com
você e ninguém mais. Sem rodeios ou mal-entendidos, apenas nós
dois.
Senti o meu coração disparar dentro do peito,
verdadeiramente aquecido com aquele pedido tão surpreendente e
inesperado.
— É claro que eu quero ficar com você, Edward — falei ao
me jogar em seus braços — Quero que possamos tentar mais uma
vez e espero que agora seja tudo diferente. E isso começa agora,
quando você está mostrando que confia em minha palavra acima de
tudo.
Nós nos beijamos de maneira ardorosa, nossos corpos
colados um ao outro, as mãos de Edward passeando por minhas
costas, logo chegando à curva do meu bumbum e lá ficando, de
maneira íntima e sensual, causando um friss0n de desej0 em meu
interior.
Enquanto isso, as minhas próprias mãos pareciam ter vida
própria, meus dedos invadindo os cabelos de Edward, enquanto a
sua boca assaltava os meus lábios com ânsia.
Mas, sem explicação, Edward interrompeu o beijo
apaixonado, me deixando respirar após o ataque intenso e
excitante.
— Quero te mostrar uma coisa — Foi a resposta de Edward
ao meu olhar confuso.
Ele levou as mãos até o bolso interno do seu palato cinza e
retirou de lá uma caixinha preta com o logotipo de uma marca
exclusiva de joias e eu suspirei encantada ao ver as peças
belíssimas contidas dentro dele, um conjunto de brincos e colar de
diamantes, que brilhavam quase incandescentes diante dos meus
olhos deslumbrados por tamanha beleza.
— É lindo, Edward! — falei com admiração.
— Tem mais — avisou sorrindo.
O “mais” a que ele estava se referindo era uma caixinha
menor, obviamente de um anel e eu não me surpreendi nenhum
pouco ao olhar para a pedra enorme e brilhante presente no centro
do aro de ouro legítimo no solitário perfeitamente desenhado.
— Do que se trata tudo isso?
Eu precisava entender quais eram os planos do meu exmarido, e o melhor momento era agora.
— Esse anel simboliza o meu desejo de ter a minha esposa
de volta a minha vida – ele explicou e seu tom era de extrema
sinceridade, ao menos eu sentia daquela forma – Quero, com esse
anel, declarar o meu amor e como eu senti a sua falta em minha
vida. Não quero perder mais nenhum dia ao seu lado e torço para
que possa me aceitar de volta na sua, Beatrice.
Capítulo 67 – Uma noite especial
Beatrice
A declaração de Edward me deixou emocionada e não consegui
evitar que algumas lágrimas se formarem em meus olhos, mas o
meu marido não me deixou chorar.
— Eu não quero mais lágrimas em nossa vida, Beatrice —
ele falou com extrema delicadeza.
— Mas são lágrimas de felicidade, meu amor!
— Neste momento, nem mesmo as lágrimas de alegria são
bem-vindas — disse com um sorriso carinhoso.
Eu o encarei sem entender, mas logo Edward estava me
beijando de novo e com seus beijos ele também secou as poucas
lágrimas que estavam nos cantos dos meus olhos, me fazendo
esquecer todo o resto.
Eu me agarrei a ele, o meu coração aquecido demais para
ficar apenas em beijos leves e tentei segurar a sua camisa e tirá-la
de dentro da calça, mas as suas mãos me impediram, o que me
deixou confusa e até mesmo um pouco nervosa com a sua atitude.
— Eu tenho planos para essa noite e tirar a minha roupa não
se encaixa nesse momento — Edward explicou, o seu sorriso
encantador agora era constante.
Aquele homem não cansava de me surpreender e fiquei
verdadeiramente feliz quando ele me contou que tinha deixado
Timothy aos cuidados de Sienna, que está hospedada em sua casa
de hóspedes, por desejar ter uma noite especial comigo.
Seus planos eram de sair para jantar, além de outras coisas
que ele apenas insinuou com malícia, e sem mais demora, pois eu
não desejava mais perder tempo, eu me apressei para voltar ao
meu quarto e me arrumar com cuidado.
Coloquei um vestido que tinha comprado quando estava em
viagem de trabalho em Paris, o qual eu ainda não tinha usado, pois
não queria nada que me lembrasse do passado distante que se
tornou a minha vida com Edward e fiquei muito satisfeita com o
resultado da maquiagem que fiz, assim como também com o coque
frouxo que consegui realizar em meu cabelo.
Coloquei os brincos de diamantes que Edward tinha acabado
de me presentear e eles combinaram perfeitamente com o vestido
creme de mangas até o cotovelo e cumprimento chegando abaixo
do joelho.
Era um modelo simples, onde o maior atrativo era a renda
que cobria toda a parte das costas do vestido, mas bastante
encantador e depois de calçar o par de sapatos mule de salto alto
na cor nude para combinar com o vestido, voltei à sala, onde
Edward me esperava pacientemente.
Ele parecia ler algo em seu telefone e quando me viu, foi
impossível não notar o brilho presente em seu olhar que foi
provocado com a minha presença, algo que aqueceu ainda mais o
meu coração e me deixou com um sorriso bobo nos lábios. Éramos
dois bobos sorrindo agora.
— Pode me ajudar a colocar isso? — perguntei, me referindo
ao colar de diamantes em minhas mãos.
— Claro — Edward concordou prontamente, caminhando até
onde eu estava parada no meio da sala — Eu poderia dizer que
você está linda, mas eu estaria mentindo.
Eu não entendi o que Edward quis dizer com aquilo, mas o
meu corpo ficou rígido de imediato, mesmo que de modo
involuntário, enquanto ele fechava o colar em meu pescoço.
Edward estava atrás de mim e suas mãos agora acariciavam
a minha nuca, exposta pelo coque e senti perfeitamente quando ele
depositou um beijo bem no topo da minha coluna, me deixando
completamente arrepiada.
— Você está sempre linda, meu amor. Sempre maravilhosa
em sua beleza — foram as suas palavras sussurradas em meu
ouvido — E é toda minha.
Os lábios dele voltaram a deslizar por minha nuca, agora
envolvendo também o meu pescoço de maneira provocante e eu
não consegui me controlar mais uma vez.
Girei dentro do abraço de Edward e toquei seus lábios com
os meus, me deliciando com o contato das nossas bocas ansiosas e
com a intimidade que tínhamos desenvolvido entre nós.
— Melhor parar por aqui — Edward disse, interrompendo o
nosso beijo — Ou não iremos jantar fora.
— Eu não me importo de ficar em casa com você… — falei
em um tom repleto de malícia.
Edward sorriu diante da minha atitude ousada, tocou os meus
lábios rapidamente e se afastou, colocando o máximo de distância
possível entre nós.
— Eu quero fazer tudo certo dessa vez, Beatrice — ele
confessou com um tom atormentado — Então vamos jantar, e
depois teremos toda a noite para nós.
Considerei a atitude de Edward intrigante, mas ao mesmo
tempo eu consegui compreender a sua posição, e cheguei à
conclusão que ele não queria provar nada para ninguém e que a
sua maior motivação é a si mesmo, que Edward quer provar algo
para si mesmo.
Fizemos da maneira como ele desejava e a noite transcorreu
tranquila e romântica, com um jantar em um restaurante
aconchegante e íntimo.
Edward não estava exagerando quando disse que pretendia
fazer tudo diferente e foi um perfeito cavalheiro por toda a noite,
sem nada que o desabonasse de alguma forma.
A lembrança de um outro jantar veio a minha memória,
também de quando também estávamos tentando recomeçar a
nossa relação, e que Louise apareceu para estragar tudo.
Tratei logo de expulsar aquela lembrança e esquecer daquele
momento tão desagradável, afinal, agora nós estamos dispostos a
começar do zero e Louise não deve fazer parte da nossa relação
mais uma vez.
Quando terminamos de jantar, após ter conversado por toda
a noite sobre assuntos diversos e aleatórios, voltamos para a minha
casa, onde tivemos uma noite maravilhosa de muito prazer e
entrega.
Dormimos abraçados, juntos como uma só pessoa, fechando
assim uma noite maravilhosa, e se eu não fosse completamente
apaixonada pelo Edward, aquela noite teria conseguido obter isso.
Na manhã seguinte, a primeira coisa que senti ao despertar
foram braços quentes me abraçando, pernas enroscadas às minhas
e um corpo firme de encontro ao meu, o que conseguiu provocar de
imediato uma excitação gostosa, por todas as lembranças dos
momentos da nossa noite.
— Bom dia — Edward me cumprimentou, sua boca bem
próxima da minha orelha — Dormiu bem?
A pergunta não me pegou de surpresa, ainda mais quando os
momentos que passamos juntos tinham sido tão magníficos, os
quais eu seria incapaz de classificar como menos que perfeita.
— Dormi maravilhosamente bem.
— Eu também…
Sorri pela maneira maliciosa como Edward disse aquilo, mas
as mãos em minha cintura logo estamos descendo de maneira
excitante pela lateral do meu corpo, e depois entre as minhas
pernas, enquanto sua boca me enlouquecia com beijos quentes em
meu pescoço e nuca, uma parte bastante sensível do meu corpo.
— Ah! — gemi deliciada.
Edward estava despertando todo o meu corpo, seus dedos
trabalhando em minha entrada e me fazendo gemer descontrolada
ao me levar ao orgasmo apenas com a fricção em meu clitóris.
A minha respiração estava acelerada e eu ainda estava me
contorcendo de prazer quando ele me fez deitar de bruços e sem
que eu esperasse, me colocou de quarto e investiu todo de uma
única vez em minha b0ceta.
— Edward….! — Gritei pela surpresa, mas eu não estava
reclamando — Você não cansa!?
Edward cobriu os meus sei0s com as suas mãos e passou a
est0car dentro de mim cada vez mais forte e rápido.
— Você está cansada? — perguntou sem parar os
movimentos firmes.
— Ahhhh… Não… — falei entre gemidos ensandecidos.
Quanto mais rápido ele entrava e saía de mim, mais o desejo
se tornava potente e o meu corpo incendiava de prazer, e as suas
mãos massageando os meus sei0s eram mais um estímulo
enlouquecedor, tornando mais perto o momento em que o clímax iria
me levar a patamares ainda mais elevados de satisfação.
Cheguei ao orgasm0 muito rápido, mas Edward continuou em
busca da sua própria satisfação e logo eu já estava prestes a chegar
a outro clímax potente, que foi o que aconteceu alguns minutos
depois e dessa vez fui seguida por ele, que estremeceu ao me
puxar para colar as minhas costas ao seu peito e me beijar com
sofreguidão.
— Perfeita, meu amor.
Nós praticamente nos jogamos sobre a cama desfeita, os
lençóis uma confusão total, e Edward continuou abraçado a mim, as
nossas respirações ainda rápidas e inconstantes.
— Vamos para casa hoje? — ele perguntou, alguns minutos
depois.
Nossa casa.
Eu entendi perfeitamente o que Edward queria fazer, ao falar
daquela maneira sobre a sua mansão. Mas não posso me sentir mal
todas as vezes em que ele tentar me incluir em sua vida, como
também entendo a sua necessidade de morarmos juntos. Eu só não
tinha certeza ainda se fazer isso era a melhor coisa.
— Eu não sei se… — comecei a dizer incerta.
Não continuei, não sabia realmente como dizer aquilo e senti
que o corpo de Edward ficava tenso junto a mim.
— Está em dúvida sobre o quê? — ele perguntou de maneira
direta, mas o seu tom de voz ainda era bastante tranquilo e
conciliador.
— Eu não sei se morar juntos agora seja uma boa ideia —
admiti.
— Devemos tentar ainda assim, Beatrice — Edward não
parecia estar irritado, mesmo que a tensão nele fosse algo quase
palpável — Eu quero ter a chance de mostrar para você que tudo
pode ser diferente e que nosso casamento é real, em todos os
sentidos. Nada de distância entre nós, nem física e menos ainda
emocional.
Capítulo 68 – Recomeçar
Beatrice
Eu estava incerta e insegura sobre a mudança para a mansão de
Edward e não neguei isso para ele.
Era importante que ele soubesse como eu estava me
sentindo e o seu apoio a qualquer decisão que eu tomasse iria
provar que as coisas estavam realmente diferentes entre nós agora,
de uma maneira positiva.
Eu não concordei em voltar para a mansão naquele dia, e
voltamos às nossas atividades normais do dia a dia, pois alguns
minutos depois Sienna estava chegando em minha casa com
Timothy, que precisava se arrumar para ir à escola e eu também
precisava trabalhar, pois ainda estávamos no meio da semana.
Timothy tinha roupas diferentes, algo que imaginei ter sido
providenciado por Edward, e seu uniforme escolar tinha sido
devidamente guardado para hoje e o garoto parecia bastante alegre
com a presença de Edward em nossa casa.
Depois de o preparar para ir à escola, enquanto Edward
aguardava o pequeno para ir deixá-lo na escola como fazia todos os
dias, eles foram todos embora juntos, pois o meu marido ainda
precisava passar em casa antes de ir para a empresa naquela
manhã.
Não pude conversar direito com Sienna, pois ela voltaria para
casa com Edward, afinal, ela estava na casa de hóspedes dele, mas
combinamos de tomar chá no final da tarde, junto com Fiorella e
Giovanna.
E foi exatamente o que fizemos naquele dia, e foi tudo muito
agradável e divertido, principalmente que tínhamos muitos assuntos
a conversar, como a relação inesperada entre Fiorella e o meu
primo, com quem parecia estar se dando muito bem.
Mas apesar de tudo, elas voltariam para Itália no dia
seguinte, afinal, todos tinham seus próprios compromissos e
precisavam voltar ao trabalho depois de toda essa folga.
— E o que vocês decidiram sobre essa distância?
A pergunta foi feita por uma curiosa Giovanna, que estava
bombardeando a irmã com questionamentos sobre ela e Sebastian,
enquanto Sienna e eu apenas nos divertimos com isso.
— Não moramos tão longe um do outro assim e sempre que
possível vamos estar juntos — Fiorella disse com simplicidade.
A conversa foi realmente agradável e eu apreciei muito o
nosso encontro, como também reforcei convites para novas visitas,
e combinamos que elas voltariam no feriado de ação de graças, o
que me deixou muito feliz, pois há anos eu não comemorava
realmente esse feriado tão especial, ainda mais agora, que tenho
Timothy comigo.
Os dias passaram em um ritmo bastante agradável, e eu não
poderia reclamar de nada sobre Edward, que estava sendo agora o
homem que sempre idealizei, aquele mesmo que conheci quando
éramos apenas adolescentes em Kent e por quem me apaixonei.
Não existia mais o homem com quem estive casada por três
anos, mas uma coisa não tinha mudado, ele continuava gentil como
sempre, uma característica que eu admirava bastante nele e que
mesmo nos anos em que me senti rejeitada pelo Edward, ele nunca
deixou de ser.
Apesar da minha recusa em organizar a minha mudança de
imediato para a mansão de Edward, as coisas não mudaram entre
nós, e ele continuou carinhoso e gentil, aceitando a minha posição,
mesmo que não perdesse nenhuma oportunidade de tentar me fazer
mudar de ideia sobre isso.
— Você gosta muito de jogar bola, não é mesmo, Timothy? —
Edward perguntou.
Era tarde de sábado, nós tínhamos ido ao parque, aproveitar
um pouco do calor do sol, e Timothy tinha se juntado a outras
crianças para brincar com a bola que Janet havia levado para
entreter Archie.
Eu não tinha visto Timothy jogar bola desde que se mudou
para Londres, algo que tinha acabado por perceber que ele gosta
bastante de fazer, e que o faz com grande habilidade, e por isso
acabei me sentindo um tanto quanto relapsa.
Nós raramente saímos de casa, era sempre tão frio e hoje
Janet tinha feito o convite para que fossemos ao parque com Archie
e Timothy, afinal, crianças precisam de vitamina D e o sol é a melhor
fonte natural disponível.
Então, quando Edward me ligou avisando que iria até a
minha casa, o avisei de que não estaria, devido ao meu passeio
com Janet e as crianças e ele, de maneira surpreendentemente,
perguntou se poderia nos acompanhar também.
Até mesmo Charles, marido da minha amiga, acabou
decidindo também nos acompanhar ao parque e todos pareciam
estar se divertindo a julgar pelos risos constantes e a alegria com
que os homens conversavam enquanto jogavam bola com as
crianças.
Agora todos estavam sentados, pareciam cansados e seus
rostos risonhos e vermelhos pelo exercício físico diz muito sobre a
nossa tarde e o quanto ela estava animada, e Edward havia feito
essa pergunta para o meu garoto, e seus olhos brilharam ao falar
sobre o assunto.
— Eu jogava bola com os meus amigos em Kiev sempre que
as nossas mães permitiam e eu era um dos melhores jogadores da
equipe — ele contou com entusiasmo.
— Pensei que você gostasse quando vamos ao clube jogar
tênis — Edward comentou com curiosidade — É um ótimo jogador
de tênis também.
— Eu também gosto de tênis — ele confessou — Mas o meu
esporte preferido ainda é o futebol.
— Vamos proporcionar mais oportunidades para você jogar,
então — Edward prometeu, antes mesmo que eu o fizesse.
Eu fiquei apenas observando o diálogo entre os dois homens,
o meu coração aquecido com mais essa interação entre eles, que
comprova o quanto eles parecem se entender e gostar um do outro.
Naquele momento, Archie esticou as suas mãozinhas para o
pai, que assim como nós também acompanhava a conversa entre
Edward e Timothy, e Charles teve que levantar novamente para
fazer as vontades do garotinho, que ainda não andava com tanta
segurança e precisava de toda a atenção possível para que ele não
caísse. Edward e Timothy também acompanharam os dois,
deixando Janet e eu novamente conversando à sós, enquanto
observamos eles.
— Edward está tão diferente — Janet comentou — Você
ainda não decidiu sobre ir morar novamente na mansão?
— Na verdade, eu acabo de decidir que esse é o momento
certo para dar mais uma chance de verdade ao Edward e escrever
uma nova história para nós dois.
Comuniquei a minha decisão ao Edward durante o jantar
daquela noite em minha casa e Timothy ficou muito feliz em saber
que iríamos nos mudar para a mansão do Edward, algo que só me
fez ter ainda mais certeza sobre a minha decisão.
Edward então me convidou para ir até a mansão no dia
seguinte, pois ele tinha algo para me mostrar e apesar da minha
curiosidade sobre o que seria, ele não contou de maneira alguma,
me deixando na expectativa pelo outro dia.
Quando chegamos na casa, na manhã seguinte, não
encontrei nada que pudesse chamar a minha atenção ou que
pudesse ser o que Edward estava desejando me mostrar, e apenas
quando ele nos levou, a Timothy e a mim, para o primeiro andar da
casa, foi que me deparei com a sua surpresa.
— Nossa! — Timothy comentou com a mão cobrindo a boca
e os olhos brilhando de deslumbramento.
— Que lindo! — falei encantada.
Mais uma vez Edward estava conseguindo aquecer o meu
coração, derrubando todas as barreiras que ergui para me proteger
dos sentimentos que ele sempre despertou em mim e aquilo não era
ruim, de maneira alguma.
A surpresa que Edward tinha para nós se tratava de um
quarto que ele tinha decorado especialmente para o Timothy, com
todos os detalhes exatamente do jeito que o garoto gosta, sendo o
papel de parede uma referência a revistas em quadrinhos e todo o
restante combinava com o tema.
— Gostou? — Edward perguntou para Timothy — Pedi ajuda
da Abigail e da Janet para conseguir que tudo ficasse exatamente
do jeito que você gostasse.
— Eu gostei muito, Edward!
Enquanto Timothy andava por todo o quarto, eu abracei
Edward e o beijei levemente no rosto, sussurrando em seu ouvido
um “obrigada” bastante sincero.
— Está tudo lindo, não é mesmo, Timothy?
Timothy confirmou com um sorriso enorme e a felicidade com
que ele olhava tudo era algo visível e adorável.
Nós nos mudamos apenas alguns dias depois, pois levei
comigo apenas os meus objetos pessoais, assim como os de
Timothy, pois tinha decidido que iria locar a minha casa mobiliada,
de maneira que não precisaria me preocupar com lugar para
guardar os meus móveis.
E para comemorar a mudança, Edward solicitou que fizessem
um jantar especial, com todos os meus pratos favoritos, assim como
a sobremesa preferida de Timothy, torta de maçã.
— Eu estou muito feliz que a gente está morando aqui com
você, Edward — Timothy falou enquanto jantávamos.
— Essa casa é tão minha quanto de vocês, Timothy —
Edward disse, segurando a minha mão por baixo da mesa, e
tocando com gentileza os cabelos dele — Espero que vocês
também se sintam dessa forma.
— Também estou feliz por vocês serem novamente um casal.
— Eu diria que estou ainda mais feliz do que você, Timothy
— Edward disse com um sorriso sincero, mas também bastante
divertido.
Capítulo 69 – O que você acha de bebês?
Beatrice
Eu ainda estava me adaptando a minha nova casa, ou melhor
dizendo, a minha antiga casa, quando Abigail veio nos visitar.
Edward não estava em casa naquela noite, teve um
compromisso de última hora e ligou avisando que não sabia ainda
que horas poderia estar de volta.
Como Andrew tinha precisado fazer uma rápida viagem de
emergência pelo jornal, a minha amiga entendeu que aquele era um
momento ótimo para conversarmos apenas nós duas.
Andrew costumava dormir sempre após o jantar, e naquela
noite não foi diferente e quando voltei a sala de estar, Abigail já tinha
usado o bar no canto da sala e se servido de uma taça de vinho.
— Desculpe-me pela pressa, mas ainda estou um pouco
elétrica da nossa viagem às Bahamas — Logo ela se justificou —
Foi maravilhosa, mas me deixou mal-acostumada.
— Deve sentir-se em cada, Abigail — Eu estava sendo muito
sincera — Essa foi sua casa, fez companhia ao Edward por mais de
um ano e não desejo que agora, porque eu estou de volta, você se
sinta menos bem-vinda.
Abigail riu de maneira espontânea e extravagante e eu sorri
apenas em vê-la fazer isso. A sua animação e felicidade estava
sendo contagiante.
— Não deveria dizer isso, Beatrice — avisou uma Abigail
ainda sorridente — Posso vir sempre aqui, gosto bastante do jardim
e da piscina coberta desta casa.
— Saiba que o meu convite é totalmente sincero.
A conversa com Abigail foi bastante agradável, ela me fez rir
várias vezes ao contar alguns momentos da sua lua de mel, e eu
fiquei realmente feliz pelos meus amigos.
— Como as coisas podem mudar tanto, não é mesmo? Há
pouco mais de um ano, estava tudo tão diferente de hoje — Eu
refleti para a minha amiga — Eu tenho até mesmo um filho, Abigail!
Tudo estava despertando o riso hoje e a minha frase não foi
diferente e quando Edward entrou na sala onde estávamos
conversando e rindo muito, seu sorriso também foi algo que fluiu
automaticamente.
— A felicidade nesta sala é algo palpável e até mesmo
contagiante — ele comentou, vindo até onde eu estava e tocando os
meus lábios em um beijo — Então, fico feliz que tenha vindo nos
visitar, prima.
— Espera, Edward — Estava claro que pelo jeito que Abigail
disse aquilo, ela estava prestes a fazer uma piada — Se eu
estivesse triste por algum motivo, a minha visita não seria bemvinda? É isto mesmo?
— Também seria muito bem-vinda, pois neste caso, seria a
nossa felicidade que iria contagia-la, Abigail.
Edward tinha razão, a vida estava nos recompensando de
várias formas, mas eu não iria pensar no passado e apagar o brilho
daquele momento feliz que estávamos vivendo.
— Vou deixá-las a sós para conversarem mais à vontade —
Edward avisou — Preciso de um banho relaxante e um bom rosbife,
depois de um dia inteiro de reuniões.
Apesar de a conversa em si não ter nada que nossos maridos
não pudessem ouvir, as vezes precisamos de momentos como este,
onde podemos conversar sobre qualquer assunto a vontade, como
amigas que somos e eu não tentei fingir o contrário para Edward,
apenas o beijei em despedida e ele logo estava subindo às escadas.
— O meu primo tem razão sobre vocês estarem felizes juntos
— Abigail comentou após a saída dele — Eu sempre soube que
ainda havia uma chance para vocês, Beatrice.
— E nós estamos fazendo acontecer essa chance, minha
amiga.
— E que continuem assim. E o Timothy só veio para fazer
vocês ainda mais unidos, percebe?
— Eu sou muito grata por ter comido um garoto tão especial
e que se tornou parte fundamental de mim, Abigail — confessei com
um sorriso cheio de ternura por lembrar do Timothy.
— E Edward também o ama como a um filho, eu tenho
certeza disso.
Agora que Abigail estava comentando sobre isso, parei para
refletir sobre a sua colocação e precisava concordar que ela estava
certa. Mesmo que nós não tenhamos ainda falado abertamente
sobre isso, era notável o carinho de Edward pelo Timothy e aquilo
me deixa extremamente feliz e realizada.
— Você está certa — concordei, a encarando com
curiosidade — Lembro-me agora de que você falou algo sobre um
assunto que gostaria de tratar comigo.
Só naquele momento recordei desse detalhe importante e
aguardei que Abigail dissesse sobre o que ela pretendia conversar
em especial, como ela tinha falado mais cedo, quando combinamos
o jantar.
— Eu acho que quero ter um filho agora — ela disse um com
a voz indecisa.
— Então, você não tem certeza.
— Por que diz isso? — Abigail ficou visivelmente tensa com a
minha fala.
— Você mesma falou que “acha” e não apenas “quero” —
apontei com delicadeza — Filho é algo que requer de nós muita
dedicação e abdicação em alguns pontos, então é necessário ter
certeza de que chegou o momento certo.
Abigail me encarou com um sorriso sem graça, parecendo
envergonhada e eu tentei concertar as minhas palavras.
— Eu não estou dizendo que você não está pronta para isso
— tentei emendar com cautela — Estou apenas apontando a sua
aparente incerteza sobre o assunto. Você quer ter um filho agora?
— Sim, eu quero muito — ela disse com mais convicção
desta vez — Mas eu tenho medo.
Nossa conversa sobre esse assunto foi longa, e apesar de
que eu não tinha passado por todas as etapas da maternidade, eu
vinha estudando muito sobre o assunto, tudo para fazer o melhor
possível pelo meu garoto e ser a melhor mãe possível.
Quando falamos sobre as várias dúvidas que estavam
torturando Abigail, ela pareceu ficar mais tranquila e era novamente
a recém-casada feliz que estava aqui para me visitar.
— Eu sabia que poderia encontrar algumas respostas com
você — Abigail disse em tom de agradecimento — Mesmo que não
tenha tido um filho pelo processo natural, você agora é mãe e isso é
algo incontestável para todos.
— Também deveria procurar a Janet — orientei e peguei
suas mãos para ter um contato mais próximo — Ela passou por
todas as etapas e pode te ajudar a esclarecer todas as dúvidas que
tiver, pois melhor do que ler sobre o assunto, é conversar com quem
está vivenciando o momento.
— Tem toda a razão — Abigail concordou rapidamente.
— Vamos combinar um chá da tarde com Janet e Archie.
Será bastante agradável para você ver um bebê em ação.
Eu estava tentando descontrair o ambiente e as minhas
palavras despertaram novamente as nossas gargalhadas.
— Mas, diga-me — Comecei a dizer com cautela — Você já
conversou sobre isso com Andrew? Sabe o que ele pensa sobre ser
pai?
— Esse é outro ponto que me deixa preocupada — ela
confessou — Nós sempre conversamos sobre nós, mas nunca
sobre filhos e isso é algo que eu só percebi agora, quando voltamos
da lua de mel e eu comecei a pensar sobre filhos.
Depois de desabafar sobre todas as suas dúvidas e medos, e
tomar algumas taças de vinho enquanto isso, solicitei ao motorista
de Edward para ir deixar Abigail em casa.
Subi as escadas pensando continuamente em tudo o que
Abigail me falou, e também em bebês e crianças, em Timothy.
Assim como Abigail, eu não tinha a menor ideia do que
Edward pensava sobre filhos, afinal, nós não tivemos um casamento
normal antes e agora talvez não fosse o momento apropriado para
falar sobre um assunto tão sério e importante para um casal.
Eu não tinha dúvidas sobre o quanto Edward gosta de
Timothy, mas um bebê é bem diferente, tem todo um processo, além
de ser bem mais trabalhoso e exigir uma dedicação total.
Cheguei ao nosso quarto ainda com esses pensamentos em
mente e percebi que Edward já estava embaixo dos lençóis,
aparentemente dormindo já.
Caminhei então diretamente para o closet e fui me preparar
para dormir, e apenas alguns minutos depois me juntei a ele sobre o
colchão macio.
Tentei ser o mais silenciosa possível para não o acordar e
apenas quando já estava totalmente instalada, soltei a respiração
que eu não tinha percebido que estava prendendo.
— Você demorou — Edward disse baixinho.
Senti a sua mão me abraçar pela cintura e me puxar de
encontro ao seu corpo quente, em contraste com o meu que estava
quase gelado.
— Eram tantos assuntos — falei apenas.
Edward depositou um beijo no meu pescoço, um lugar que
ele sabe perfeitamente se tratar de um ponto bastante sensível e eu
me retraí de maneira involuntária.
— Está tudo bem? – logo veio a pergunta carregada de
preocupação.
Eu estava até então de costas para Edward, e estava prestes
a dizer um “está tudo bem”, quando percebi que aquela não seria
uma atitude sensata da minha parte.
Se estamos recomeçando, evitar os mesmos erros do
passado é algo fundamental, pois já sabemos que esse é um
caminho que não leva à felicidade, muito pelo contrário.
Sendo assim, girei o corpo de modo a ficarmos um de frente
para o outro e o encarei com seriedade, iria fazer a pergunta que me
deixou inquieta e até mesmo preocupada e precisava ver como ele
reagiria ao questionamento sobre filhos.
— O que você acha sobre filhos?
Edward ficou intrigado inicialmente, mas respondeu sem
maiores reflexões.
— Uma grande dádiva — falou sem rodeios — Inclusive, nós
temos um. Ou ao menos é assim que me sinto em relação ao
Timothy.
Aquelas palavras conseguiram me deixar menos tensa, mas
ainda não era sobre isso que eu estava falando. Em relação ao
Timothy, eu me sentia segura sobre os sentimentos de Edward, pois
ele deixava sempre claro o quanto o garoto é especial para ele.
— Estou falando sobre nós dois termos filhos, Edward —
expliquei, atenta a cada nuance de expressão em seu rosto — O
que acha de termos bebês?
Capítulo 70 – No momento certo
Beatrice
Senti o coração disparar dentro do peito, a ansiedade
tomando conta do meu ser, tudo isso devido apenas aos poucos
segundos que Edward levou para responder aquela pergunta
simples e direta, mas quando ele o fez, a surpresa substituiu
rapidamente os sentimentos anteriores.
— Eu não consigo pensar em nada que poderia me deixar
mais feliz do que uma família grande e numerosa com você,
Beatrice.
Não apenas as palavras, mas principalmente a maneira como
ele disse aquilo conseguiu me deixar literalmente sem palavras. O
que Edward falou estava repleto do mais puro e genuíno amor, e era
como se aquele amor não fosse dirigido apenas a mim, mas
também aos filhos que ainda iremos ter juntos.
— Ouviu o que eu disse? — Edward me perguntou,
encarando-me com um sorriso e diante do meu silêncio, ele insistiu
com um semblante agora carregado de preocupação — Amor?
— Eu só estou… surpresa — confessei com um sorriso bobo
— Eu estava tão nervosa para fazer essa pergunta e você
conseguiu me deixar extremamente segura sobre isso apenas com
essa frase, meu amor.
— Não deve guardar as suas dúvidas para si — Edward me
embalou novamente em seus braços, e encaixei minha cabeça na
curva do seu pescoço — Temos que sempre compartilhar um com o
outro aquilo que estamos sentindo. E saber o que o outro pensa
sobre assuntos tão importantes quanto “filhos” é algo fundamental.
— Nunca falamos sobre filhos — apontei com um lamento.
— Agora vamos falar e muito sobre isso.
— No fim das contas, eu não o conheço realmente, Edward
— lamentei, me arrependendo logo em seguida — Eu me refiro a
saber sobre o que pensa, o que realmente você gosta… nunca
conversamos, de fato.
Eu aprendi, de uma maneira bastante dolorosa, que assuntos
mal resolvidos e julgamentos não trazem felicidade para ninguém —
Edward confessou depositando um beijo no topo da minha cabeça
— E agora vamos conversar sobre todo e qualquer assunto. Decidir
junto. Nós vamos conversar tanto, que você vai até enjoar.
A risada veio espontânea com o trocadilho feito por Edward
sobre o assunto, e continuamos conversando sobre isso por mais
alguns minutos, o desejo de ter um bebê se tornando mais forte e
urgente.
Saí da posição confortável e cômoda em que eu estava nos
braços de Edward e fiquei de joelhos sobre o colchão, encarando-o
com um olhar propositalmente analítico.
— O que está olhando? — Edward perguntou com um sorriso
aberto — Parece até que está avaliando uma mercadoria.
— Estou analisando as possibilidades… — Disse de maneira
vaga.
Edward me encarou já com malícia em seu olhar, segurando
em minha mão, pedindo com o olhar para que eu sentasse sobre o
seu colo.
— Eu garanto que todas as possibilidades disponíveis hoje
são as melhores possíveis…
Ele não estava brincando e quando me coloquei sobre ele, o
volume em meu ventre era duro e firme, me deixando excitada e
logo as mãos de Edward estava retirando a minha camisola e
segurando os meus seios, passando depois a massageá-los com
perícia, sua boca se apossando dos bicos túrgidos e me fazendo
gemer pelo prazer despertado pela sua sucçã0 faminta.
— Já estava preparada… — ele comentou ao descer as suas
mãos pela minha barriga e chegar até o meu sexo desnudo.
— Sempre estou preparada para você…
Edward não demorou para retirar a sua calça do pijama e
puxar o meu corpo para junto do seu, me mantendo sobre ele e me
beijando com urgência antes de me levantar de modo que os
nossos corpos se encaixassem um ao outro.
**********❤ **********
Nos dias que se seguiram nós entramos em uma agradável
rotina onde tomamos café juntos todas as manhãs e depois saímos
para as nossas respectivas atividades.
Enquanto Edward leva Timothy para a escola e depois segue
para o seu próprio trabalho, eu vou diretamente para o jornal, por se
tratar de direções opostas.
No início Edward insistia bastante para que eu fosse com o
motorista, mas eu não gostava de ir para o trabalho dessa forma e
deixei claro que eu pretendia viver de maneira mais simples, e como
a maioria dos londrinos, apenas pegar o metrô todos os dias para ir
trabalhar.
O meu marido então entendeu que eu não vou me deixar
influenciar pelas suas vontades, algo que não aconteceu através de
brigas ou discussões. Nós apenas conversamos sobre isso, ele
aceitou a minha posição sobre o assunto e está tudo bem.
No final da tarde Edward passava na escola de Timothy e o
trazia de volta para casa e eu sempre chegava um pouco depois
deles, mas o fato de termos uma cozinheira em casa facilitou
bastante a minha vida, pois agora eu não precisava mais me
preocupar em fazer o jantar mesmo quando chegava cansada do
trabalho.
No final de semana era diferente e Edward dispensava os
funcionários e nós ficamos por nossa própria conta, algo que se
tornou bastante divertido, pois Edward e Timothy se juntavam a mim
na cozinha enorme e bem equipada para me ajudar com as tarefas
e o momento era sempre engraçado, por sempre acontecer algumas
situações realmente hilárias, como no dia em que eles decidiram
preparar uma torta de framboesas para mim.
O prato não saiu como o esperado e ficamos todos sem
sobremesa naquela noite de sábado, e depois dessa experiência,
sempre que eles decidiam cozinhar algo, eu também cozinhava um
prato reserva.
Três meses após a minha mudança de volta para a mansão,
no dia de natal, reunimos todos os nossos amigos para
confraternizar conosco em nossa casa, inclusive as trigêmeas
italianas.
A nossa ceia foi um momento carregado de emoção, cheio de
sorrisos afetuosos e muito carinho e fizemos a clássica troca de
presentes que já tinham sido enviados para colocar na árvore.
Giovanna trouxe consigo o seu agora noivo Luigi e o meu
primo Sebastian em companhia de Fiorella, e foi possível notar que
eles estavam ainda mais ligados um ao outro, mesmo após meses
do primeiro encontro no casamento de Abigail.
Nós nunca comemoramos um natal tão especial quanto
aquele e fiz questão de esquecer dos almoços em que só estavam
Edward e eu fazendo a refeição em silêncio. Aquele era um passado
que eu tento sempre deixar exatamente lá, no passado.
— Eu tenho algo para compartilhar com vocês — Abigail
anunciou em determinado momento da nossa ceia — Estão todos
atentos?
Vários de nós deram risadas e Edward disse um “sem
mistério, prima!”.
— Eu estou grávida!
Houve uma explosão de palmas pelo anúncio e muita
comemoração, vários abraços e desejos de saúde e felicidade para
a futura mamãe e o bebê que está em sua barriga.
Apesar do momento ser de grande felicidade para todos os
que gostam de Abigail e conheciam o seu desejo de ser mãe, eu me
senti um pouco triste, e me repreendi mentalmente por isso.
À noite, quando Edward e eu já estávamos deitados em
nossa cama, confessei a ele sobre aquele sentimento ruim que me
acometeu e o quanto me senti culpada por isso.
— Não fica assim, querida — Edward me abraçou e beijou
meus cabelos de maneira carinhosa — Tudo acontece no tempo
certo. E não esquece que temos Timothy e o quanto o amamos.
As palavras ao invés de me deixaram mais confortada
tiveram o efeito oposto e a culpa só aumentou diante disso, pois ele
estava certo sobre já termos um filho.
O fato é que desde que conversamos sobre ter filhos que não
usamos mais nenhum tipo de precaução e mesmo assim eu ainda
não tinha ficado grávida e já estava começando a me preocupar.
— Não será de uma hora para outra, Beatrice — Edward
continuou — Tem casais que levam anos tentando, e está tudo bem.
Não deve ficar pensando sobre isso o tempo todo, pois dessa forma,
só vai conseguir ficar mais tensa, o que afeta também no processo.
— Está certo, me desculpe.
Ao ouvir o meu pedido de desculpas, Edward se afastou de
mim de imediato e sentou-se no colchão, encostando as suas
costas na cabeceira da cama e cruzando os braços na frente do
peito.
— Por que pediu desculpa?
Fiquei sem entender nada, até mesmo muda com a atitude
repentina de Edward diante de um simples pedido de desculpas.
Acredito que ele percebeu o quanto aquilo também não
contribuiu para me ajudar naquele momento, pois logo ele
descruzou os braços e me puxou para o seu colo.
— Agora quem pede desculpas sou eu — Suas mãos
seguraram o meu rosto com delicadeza — O que estou tentando
dizer é que você não me deve nada. Então não tem porque pedir
desculpas por estar se sentindo dessa forma. Só estou tentando
deixá-la mais tranquila com relação a esse assunto. No momento
certo, vai acontecer.
Por mais que racionalmente eu entendesse que Edward está
certo e que uma gravidez não vai acontecer de uma hora para outra,
apenas porque agora nós desejamos isso, a emoção não usava da
racionalidade e quanto mais o tempo passava, menos otimista e
mais preocupada eu ficava.
Capítulo 71 – O que está acontecendo conosco?
Edward
Eu estava bastante preocupado com Beatrice e não era sem
razão, eu tinha certeza.
A cada dia que passa, mais fixa se torna a sua ideia de ter
um bebê e na mesma proporção aumenta a sua preocupação por
ainda não ter conseguido engravidar, algo que eu considerava
bastante precipitado de sua parte, afinal, nós tínhamos tomado essa
decisão há apenas alguns meses e era normal em alguns casos que
demorasse um pouco mais para isso acontecer.
Contudo, a minha esposa não parecia compartilhar do
mesmo pensamento que eu, se tornando quase obsessiva com a
ideia de engravidar o quanto antes, o que estava afetando não
apenas o nosso casamento, como também a sua relação com o
Timothy, algo que é realmente inadmissível.
O garoto já tinha passado por uma grande tragédia em sua
vida e tudo o que ele merece agora é amor, puro e incondicional,
algo que eu tenho certeza de que Beatrice sente, mas que nos
últimos dias ela não estava conseguindo demonstrar na medida
certa.
Aquele fato ficou realmente claro para mim quando em uma
manhã eu estava indo deixá-lo na escola e Timothy passou
praticamente todo o caminho em silêncio, algo que por si só já não
era algo normal para ele. Mas ele também parecia triste e eu tentei
extrair do garoto o que tinha acontecido para que ele estivesse
daquele jeito.
— Não aconteceu nada — ele negou de maneira quase
inaudível.
Aproveitei que naquele momento o sinal de trânsito ficou
vermelho e foi impossível seguir adiante e encarei Timothy com
atenção, mostrando que eu estava totalmente atento ao que
estamos conversando.
— O que acha da escola? — tentei abordar o assunto a partir
de eliminações — Você se sente bem quando está na escola, tem
amigos?
A minha pergunta conseguiu despertar um pouco mais a
vivacidade do garoto, que enfim olhou diretamente em minha
direção, algo que ainda não havia feito desde que entrou no carro
naquela manhã.
Eu já tinha feito essas mesmas perguntas antes, mas não
custava nada tentar mais uma vez, afinal, tudo pode mudar. Mas
senti sinceridade em sua resposta, quando ele afirmou que está
tudo bem com a escola e que gosta muito dos colegas que fez.
— Como você se sente quando está em casa? — Tentei ir
por esse lado agora — Gosta de morar na mansão ou você gostava
mais quando morava na antiga casa de Beatrice?
Eu estava testando uma possibilidade, pois eu não poderia
descartar a hipótese de que ele talvez não estivesse se sentindo
feliz realmente com a nova vida, onde agora eu também fazia parte
e poderia estar despertando algum sentimento negativo, com
ciúmes ou algo parecido.
— Eu gosto que moremos em nossa nova casa. Não há
problema algum nisso.
Eu precisava entender o que estava acontecendo, e
realmente não conseguia pensar em mais nenhuma outra hipótese e
antes mesmo que eu conseguisse pensar em algo mais para dizer,
Timothy me surpreendeu.
— Eu também tenho uma pergunta, Edward — ele disse e
mesmo atento à direção, eu senti que ele estava me encarando com
ainda mais atenção agora.
— Irei responder com toda a sinceridade qualquer coisa que
me pergunte, Timothy.
— O que acha de eu estar morando com você e a Beatrice?
A sua pergunta me pegou completamente de surpresa e
respondi prontamente, pois não havia dúvida alguma sobre qual a
única resposta que eu poderia oferecer para Timothy.
— Eu me sinto muito feliz! Não há dúvida alguma sobre isso
— Por sorte, neste momento eu tinha acabado de parar em frente
ao colégio onde Timothy estuda, podendo assim dar-lhe total
atenção agora — Por que está perguntando isso, Timothy?
Eu não consegui evitar perguntar isso, pois era
extremamente importante entender o que estava se passando com
Timothy para que ele viesse a contestar algo que deveria estar
evidente para ele. Beatrice e eu o amamos e ele precisava sentir-se
amado por nós. Mas Timothy permaneceu em silêncio, não
respondendo ao meu questionamento.
— Você sabe que acima de tudo, nós somos amigos — Senti
a necessidade de deixar aquilo bastante claro para o garoto — E eu
sinto que há algo que está te incomodando, Timothy. Você confia em
mim para falar sobre isso?
Percebi que agora a sua postura anterior tinha sofrido uma
leve alteração e senti que talvez ele conseguisse se abrir comigo.
— Sim, eu confio em você, Edward.
— Nós, a Beatrice e eu, amamos você, Timothy — disse,
olhando diretamente em seus olhos e atento a qualquer nuance de
expressão no semblante infantil — É nosso filho, agora oficialmente,
pois todos os trâmites legais foram seguidos por nós e já estão
agora concluídos. Entende o que isso quer dizer?
— Um pouco…
— Então, diga-me, o que está acontecendo? — Fiz a
pergunta que desejava fazer desde o primeiro momento — Fizemos
algo que te deixou triste ou que o fez não se sentir amado por nós?
Timothy exalou um profundo suspiro e eu senti que agora ele
iria confessar o que tinha acontecido para o deixar daquele jeito.
— Eu ouvi quando a Beatrice falou para a tia Janet que quer
muito ter um filho, mas não consegue — Timothy contou — Ela
estava chorando muito.
Beatrice
Olhei com pesar para o telefone celular em minha mão e de
maneira bastante instintiva e temperamental, acabei jogando o
aparelho longe e esperava que ele não tivesse quebrado, mas o
meu desejo não foi atendido, percebi ao me aproximar e ver que a
tela estava completamente danificada.
Eu tinha acabado de falar com a minha amiga Abigail e
recusado mais um convite seu para tomarmos um chá e conversar
um pouco, após mais de um mês fazendo a mesma coisa, tudo isso
para não me submeter mais uma vez a uma situação que estava me
deixando demasiadamente triste.
A prima de Edward estava grávida de vinte semanas e sua
barriga proeminente por si só já era um lembrete constante de sua
felicidade, enquanto eu estava há meses tentando engravidar, mas
sem conseguir nem mesmo um alarme falso, algo que me desse
esperança de uma gravidez próxima.
Então, eu simplesmente estava optando por não encontrar
com Abigail e em todas as vezes que ela me ligava, eu criava
alguma desculpa esfarrapada para não a encontrar.
Desta vez eu havia justificado com a alegação de um
compromisso com Scarlet, uma vez que dizer que a minha recente
agenda apertada se devia ao trabalho era algo fora de cogitação,
quando o marido de Abigail é o meu chefe no jornal e pode
facilmente derrubar as minhas falsas desculpas.
Mas eu também não pretendia sair com Janet em breve, pois
em nosso último encontro, quando ela veio até a minha casa para
tomarmos um chá, eu tinha acabado falando sobre a minha mais
recente preocupação e acabei até mesmo caindo em um pranto
lamurioso, algo que me deixou bastante envergonhada, mas que
naquele momento foi impossível de conter.
Só me restava continuar a manter aquele desejo insatisfeito
apenas para mim, pois até mesmo conversar com Edward tinha se
tornado complicado, pois ele sempre dava a mesma resposta boba,
de que no momento certo iria acontecer. Mas eu não queria esperar
por esse tal “momento certo”. Eu quero ter um filho e eu quero
agora.
Olhei para a cama enorme e convidativa no meio do quarto e
não pensei nem duas vezes antes de me jogar sobre o móvel e ficar
lá, apenas pensando sobre a minha vida e como as coisas são
sempre tão complicadas e dolorosas na minha vida.
— Sou uma má pessoa? — Expressei o meu pensamento em
voz alta.
— Por que acha isso, Beatrice? — Edward perguntou
entrando no quarto de maneira repentina e silenciosa.
— Nossa! Que susto você me deu, Edward! — Reclamei, me
sentando rapidamente e colocando as pernas para fora da cama.
— Desculpe-me — ele pediu, mas parecia estar um pouco
impaciente — Não era a minha intenção te assustar.
Claro que Edward tinha razão e eu não ficaria chateada com
ele por tal coisa, mas ele parecia estranho, como se estivesse
desejando falar algo, e senti que havia algo diferente no ar, o que
me deixou imediatamente tensa e acabei falando de maneira mais
dura do que o que pretendia.
— O que está fazendo em casa no meio do dia, Edward?
Logo que terminei de fazer aquela pergunta, percebi que
tinha falado de maneira extremamente grosseira, antes mesmo de
Edward demonstrar todo o seu descontentamento com a forma
como eu o recebi.
— Acredito que posso vir em casa sempre que desejar, assim
como você também é livre para fazer o mesmo — ele falou com
frieza — Ou estou enganado? Pois, se não estou enganado, você
também não deveria estar em casa no meio do horário de trabalho.
Aparentemente, estávamos os dois trocando acusações e eu
nem mesmo consegui entender o porquê da minha atitude tão
intempestiva, quanto a do Edward, que até poderia ter sido apenas
a consequência da maneira como eu o recebi, mas que eu não
gostei nenhum pouco.
Capítulo 72 – Descontentamento e incertezas
Beatrice
Olhei para Edward com estranheza, afinal, por que estávamos
com os ânimos alterados daquele modo? Não podemos
simplesmente ficar em nossa casa quando sentimos este desejo?
— Eu ainda estou à espera de uma resposta, Beatrice.
Edward me alertou, pois eu estava tão concentrada em meus
próprios pensamentos, que nem mesmo percebi que não tinha dito
nada em voz alta ainda e então me apressei em fazer isso agora.
— Não havia muito trabalho no jornal hoje — Eu menti de
maneira desconfortável — Então, achei melhor ficar em casa hoje,
organizando algumas coisas pessoais.
Ele não pareceu ficar nenhum pouco satisfeito com a minha
resposta e logo entendi o motivo disso.
— Antes de sair de casa hoje, você estava pronta para ir ao
jornal — Edward apontou nitidamente contrariado — E por este
motivo, quando saí da empresa, sem nem mesmo ligar para você,
eu fui ao jornal, onde fui informado que você não foi trabalhar
porque está doente.
— Eu… é, bem… — gaguejei, sem conseguir falar nada
realmente.
— Minha esposa está doente, mas eu não sabia disso e fui
fazer papel de bobo no jornal, Beatrice.
Agora estava realmente nítido o quanto Edward estava
chateado e explicado o motivo de tanta tensão em seu semblante e
eu me senti realmente culpada por esta situação, afinal, liguei de
fato para o jornal e eu menti sobre isso, alegando está com um
resfriado e que passaria alguns dias em casa.
A verdade é que eu pretendia sim, passar alguns dias em
casa, sem que o meu marido soubesse, apenas pensando na minha
vida e tentando ficar mais tranquila sobre as coisas que estavam me
perseguindo terrivelmente nos últimos meses. Seriam alguns dias
apenas para mim, sem Edward e sem Timothy.
— Eu liguei para o jornal e acabei mentindo estar resfriada e
aproveitei então para me afastar por alguns dias — confessei com
certa dificuldade.
— Não estou entendendo o que está acontecendo com você,
Beatrice — Edward apontou em um tom de lamento, parecia estar
decepcionado — Por que mentiu sobre algo tão… bobo? Porque
simplesmente não pediu alguns dias de férias?
Mesmo ciente do que eu diria a seguir iria machucá-lo, eu
decidi dizer logo toda a verdade de uma vez.
— Eu queria ficar sozinha… apenas eu e os meus
pensamentos e… tem você, o Timothy… e se eu pedisse férias,
você iria insistir em viajarmos juntos…
— Se desejava ficar sozinha, por que apenas não disse isso?
— Edward perguntou agora ainda mais irritado — Eu prometi para
você que jamais iria impor a minha presença a você novamente,
Beatrice. Quero que fiquemos juntos porque é isso que nós
desejamos. Os dois. Não apenas eu.
— Sinto muito…
Imaginei que Edward diria mais alguma coisa, contudo, ele
simplesmente me deu as costas e saiu do quarto, sem mais
nenhuma palavra e sem que pudéssemos conversar de maneira
aberta sobre aquilo que estava claramente acontecendo em nosso
casamento.
Voltei a deitar sobre o colchão, agora me sentindo
terrivelmente culpada por aquela discussão sem sentido, mas sem
disposição alguma para correr atrás do meu marido e tentar
consertar as coisas.
Em um outro momento, quando eu tivesse pensado de
maneira calma sobre tudo aquilo que foi dito e me sentisse também
mais convicta sobre aquilo que eu estava sentindo nesse momento,
nós iríamos conversar e nos entender.
Ele poderia até estar chateado nesse momento, mas logo ele
voltaria e tentaria colocar as coisas em pratos limpos, afinal,
aprendemos com os erros do passado a sempre deixar as coisas
claras entre nós e que o diálogo era muito importante para evitar
novos mal-entendidos entre nós.
*******❤ *******
Mais de uma semana havia se passado desde que Edward e
eu tivemos um estranho desentendimento e até o momento o clima
ainda estava o mesmo daquele dia, sem que eu conseguisse mudar
isso de alguma forma.
Edward estava se mantendo distante de mim e eu não sabia
como trazer de volta o mesmo ambiente agradável de feliz que
tínhamos antes daquela manhã, e só alguns dias depois eu tinha
percebido algo importante, mas que no dia passou despercebido,
que era o fato de Edward não ter me dito o que o levou a me
procurar até mesmo no jornal, quando ele tinha saído de casa e
estávamos na mais perfeita sintonia.
Mas estava se tornando impossível falar com Edward, pois
ele parecia ter erguido uma muralha de gelo entre nós e eu não
sabia como derreter aquela grossa parede, ainda mais quando ele
também não parecia disposto a tentar colocar as coisas entre nós
de volta ao normal.
O meu casamento parecia ter voltado no tempo.
Da mesma forma que tudo começou, estava novamente e
aquilo estava me deixando extremamente preocupada, pois eu não
queria perder a harmonia na qual estávamos vivendo, ao lado do
Timothy.
Até mesmo o meu garoto estava diferente e a maior prova
disso aconteceu naquela manhã, quando eu tentei conversar com
ele antes que saísse para a escola em companhia de Edward, mas
ele parecia indiferente a tudo o que eu estava falando.
Tanto Timothy quanto Edward estavam calados desde que
cheguei à mesa, após alguns dias nos quais não me sentia bem
para descer e me reunir com a minha família. Mas acordei naquela
manhã tão disposta que queria aproveitar, pois há semanas não me
sentia tão bem.
Talvez eu realmente só estivesse precisando de um tempo
para mim mesma, onde eu pudesse me concentrar apenas nas
minhas próprias questões. Agora eu me sentia bem melhor e mais
preparada para lidar também com as outras pessoas. Estava até
mesmo pensando em ligar para Abigail e aceitar o seu convite para
jantarmos todos juntos.
— O que acha de irmos ao parque hoje? — Comentei
durante o desjejum — Podemos aproveitar o sol, faz tanto tempo
que ele não aparece realmente….
— Eu vou para o clube com o Edward — foi a resposta de
Timothy, que nem mesmo levantou os olhos da sua comida para
olhar em minha direção.
— Mas hoje é sábado, querido — comentei com um sorriso
— Vocês sempre vão aos domingos.
Imaginei que Timothy tivesse se confundido, pois aos
sábados nós geralmente nós fazíamos algo juntos, nós três. Às
vezes os nossos amigos também nos acompanham, mas era
principalmente algo nosso.
— Combinei com o pai do Brett de nos encontrarmos todos
no clube hoje — Edward acabou explicando, uma vez que Timothy
continuou em silêncio mesmo depois de quase um minuto do meu
comentário.
— Quem é Brett? — perguntei franzindo o cenho.
— Estuda na mesma sala que Timothy — Edward mais uma
vez explicou — Eu conheci o pai do garoto alguns dias atrás e nós
acabamos combinando esse encontro para hoje.
Apesar de estar esclarecendo para mim os últimos
acontecimentos, o tom do Edward era frio e impessoal, como se
estivesse falando com uma pessoa qualquer, e não comigo, a sua
esposa, e isso me incomodou ainda mais naquele momento.
— Mas o sábado sempre é nosso! — Reclamei abertamente
agora — Como puderam marcar algo sem me consultar? Somos
uma família e deveríamos conversar antes de fazer algo assim.
Timothy pareceu ficar amedrontado diante do meu rompante
e seus olhou para Edward como se em busca de uma defesa, ou
algo assim e isso foi completamente incompreensível para mim.
— Está tudo bem, Timothy — O tranquilizou Edward, visto
que eu não consegui fazer nem mesmo isso e depois se dirigindo a
mim, ele completou — Foi apenas um mal-entendido, pois
acreditamos que você ainda precisava de mais algum tempo para si.
Apesar da maneira delicada com que Edward falou aquilo,
senti como se ele estivesse me criticando de maneira velada, ou
sendo irônico e estava prestes a contestar as suas palavras, quando
Edward, parecendo pressentir isso, se antecipou.
— Isso não foi uma crítica, Beatrice.
— Em momento algum eu cheguei a pensar isso, Edward!
— Nós podemos ir, Edward? — Foi a vez de Timothy se
antecipar, parecendo prestes a sair correndo a qualquer momento.
— Claro, vamos sim — Edward consentiu e depois se dirigiu
a mim, falando em um tom estranho de voz — Vou levar o nosso
filho ao clube. Até mais tarde, Beatrice.
Eu nem mesmo tinha terminado ainda de falar, como Edward
e Timothy me deixavam sozinha daquela forma? No mesmo instante
que aquele pensamento passou pela minha cabeça, uma voz
interior – aquela que sempre nos acusa de maneira sorrateira – fez
questão de soprar a mesma frase usada por mim dias atrás, quando
eu falei claramente para o meu marido que eu precisava ficar
sozinha com os meus pensamentos.
Mas eu não estava mais me sentindo daquela maneira. Já
tinha sido o suficiente e agora eu me sentia novamente como eu
mesma, e desejava ter o meu marido e o meu filho comigo.
O que está acontecendo na minha própria casa? Apenas
alguns dias mergulhada em mim mesma e tudo parecia estar tão
diferente!
Capítulo 73 – Perdendo o controle
Beatrice
Depois que Edward e Timothy saíram de casa, eu fiquei mais
uma vez sozinha naquela casa enorme e sem vida, desejando
encontrar novamente a mesma harmonia de antes, quando
diferentemente de agora, a nossa família buscava a companhia um
do outro.
Mas ficar na sala de visitas apenas olhando para o tempo
também não me faria nenhum bem e decidi ligar para a Abigail e
conversar um pouco por telefone, talvez fazer isso fosse bem
melhor que estar pessoalmente com a minha amiga, olhando para a
sua barriga de grávida, a lembrança constante da minha
incapacidade de engravidar e gerar um filho.
— É uma grande surpresa que esteja me ligando, Beatrice —
Comentou Abigail após os cumprimentos — Chego a acreditar que
tem algo acontecendo com você e não quer nos dizer.
— Não há nada acontecendo — Neguei de maneira
veemente — Apenas estava sem tempo, mas estou ligando para
marcarmos aquele jantar que você sugeriu.
— Uma ótima notícia, então — Abigail comemorou, mas logo
voltou à questão principal — Mas não fuja do assunto, Beatrice.
Está nítido que você vem se mantendo distante de todos nós nas
últimas semanas e eu até mesmo cheguei a falar com Andrew sobre
isso.
— É apenas uma impressão sua, Abigail — Voltei a negar
com ênfase exagerada — Tenho estado um pouco cansada. Apenas
isso.
— Você não tem estado no jornal, tampouco — Ela agora
estava me pressionando e eu não gostei nada daquilo — Estamos
todos preocupados com você. O que está acontecendo?
Eu senti um embargo repentino em minha garganta e os
olhos rasos d’água, mas me mantive firme, afinal, não desejava
chorar exatamente no momento em que eu estava falando com
Abigail e para evitar que isso acontecesse, acabei por encerrar a
chamada após alguma desculpa esfarrapada.
A minha amiga tinha toda razão, mas o que ela não sabe é
que quando eu estava disposta a tentar consertar as coisas, tudo se
tornou difícil e extremamente complicado para mim.
– – – – – – – ❤ – – – – – – –
Decidi que não iria ficar dentro de casa enquanto Edward e
Timothy tinham a sua própria programação, então coloquei um
casaco leve e saí para fazer compras, escolher alguns presentes
para os meus amigos e para o Edward, afinal, o Natal já estava se
aproximando e não faria mal algum adiantar essas comprinhas.
Estava passeando pela Oxford Street, uma das ruas mais
movimentadas de Londres e que reúne um número extraordinário de
lojas de todos os tipos, e que por este mesmo motivo atrai milhares
de pessoas todos os dias, quando senti uma leve tontura.
Encostei depressa a primeira coisa que encontrei pela frente –
uma parede de loja – e tão rápido quanto chegou, o mal-estar
também foi embora, me deixando confusa e preocupada com o que
poderia ter causado aquele mal estar repentino.
Em outras circunstâncias eu poderia ter me sentindo animada
e esperançosa, pois normalmente tonturas e enjoos em grande
parte relacionados a gravidez, mas aquele com certeza não era o
meu caso.
O meu ciclo tinha vindo pontualmente apenas alguns dias
atrás e desde então Edward e eu não tínhamos feito amor nenhuma
vez, pois além do fato de que antes eu não estava me sentindo
disposta, ele também não parecia nenhum pouco interessado, o que
tinha acabado de despertar a minha atenção sobre aquele assunto.
O que estava acontecendo comigo, que eu nem mesmo tinha
notado a falta de contato sexual entre o meu marido e eu? Como eu
poderia estar sendo tão relapsa ao ponto de não sentir falta do
contato com o homem que amo, pensei com angústia.
Não era para menos que o Edward estivesse tão estranho e
distante comigo! Eu mesma estava me encarregando de colocar
essa imensa distância entre nós. Mas aquilo precisa acabar e logo.
No mesmo instante que pensava sobre isso, eu observei
onde eu tinha parado e percebi que se tratava de uma famosa loja
de lingerie e imediatamente decidi entrar e comprar algo especial
para usar naquela noite com o meu marido. Nós merecemos isso.
Escolhi um conjunto de calcinha e sutiã dourado com laços
vermelhos e muita transparência, algo bastante ousado e que eu
nunca antes tinha usado, mas que me encantei de imediato pela
delicadeza das peças e tinha certeza de que Edward também iria
apreciar bastante me ver vestida de maneira tão sensual e feminina.
Ao chegar de volta em casa, fui para a cozinha confirmar se a
cozinheira estava seguindo todas as minhas instruções para o jantar
– as quais eu havia passado antes de sair – e ao constatar que
estava tudo dentro do cronograma e que no horário normal eu
poderia me dedicar a tomar um banho bem demorado e que serviria
para acalmar um pouco mais.
Enchi a banheira e depois de colocar os meus sais
preferidos, coloquei um jazz – meu estilo de música preferido – e
entrei na banheira para relaxar por longos minutos.
Depois de me enrolar no roupão e ir diretamente para o
closet em busca de algo para usar no jantar de mais tarde, enquanto
analisava calmamente as opções, me dei conta de que já era quase
final da tarde e Edward não tinha chegado ainda com Timothy, algo
que já estava começando a me deixar irritada e até mesmo
atrapalhando os planos que eu tinha feito com tanto cuidado.
Liguei então para o meu marido, que atendeu rapidamente e
com o mesmo tom monótono com que vinha me tratando nos
últimos dias e a sua resposta me causou grande irritação, pois
descobri que eles já tinham vindo em casa, nas horas que passei
fora fazendo compras.
— Viemos tomar chá com Abigail e Andrew — Edward
explicou calmamente, como se sair com o meu filho sem me
comunicar fosse algo recorrente.
— Como vocês podem ter ido tomar chá com Abigail sem me
comunicar, Edward!? — perguntei realmente indignada — Melhor
dizendo, sem mim?
— Esperei por quase uma hora, mas você não respondeu às
minhas mensagens, então deduzi que estaria bem ocupada e achei
melhor entreter o Timothy de alguma maneira.
Eu não estava “bem ocupada”, mas não vou tentar me
justificar ou até mesmo mostrar para o Edward o quanto aquela sua
atitude foi precipitada, pois ele precisa enxergar aquilo por si
mesmo.
Contudo, a irritação que eu estava sentindo agora era
realmente esmagadora e eu nunca tinha sentido esse sentimento
com tanta intensidade e isso não é algo normal, o que me deixou
bastante preocupada.
Não jantaria sozinha tampouco e liguei para a cozinheira –
James, o nosso mordomo, estava de folga naquele fim de semana –
e cancelei o jantar. Eu iria me recolher ao meu quarto e ficar sozinha
com a minha indignação.
Quando Edward chegou – na verdade ele não demorou tanto
assim para voltar – ele me encontrou no mesmo mal humor e
indignação, sentada na casa de encontro ao encosto, mãos
cruzadas sobre o peito, à espera de um pedido de desculpas muito
bom e falei isso para o meu marido.
— Eu não vou pedir desculpas, Beatrice — Foi a resposta
surpreendente do Edward — Não há motivo para tal atitude de
minha parte.
— Não há motivo!? — praticamente gritei, ficando de pé —
Vocês me abandonaram aqui nesta casa durante todo o dia, como
se eu não fosse importante para vocês… Como se… – as palavras
me faltaram, tamanha a raiva – Como se não quisessem a minha
companhia!
Antes mesmo que ele pudesse responder a minha crítica,
apenas em olhar para a expressão de contrariedade no rosto de
Edward, eu pude sentir que ele diria algo bastante desagradável.
— Você não vê o que as suas atitudes egoístas estão
fazendo com o nosso casamento, Beatrice? — ele perguntou
parecendo furioso — Não vê o que está fazendo com o nosso filho!?
— Nosso filho!? Eu não estou fazendo nada de errado com
Timothy — protestei de imediato — Mas parece que você quer
afastar o meu filho de mim, Edward. Por que está fazendo isso
comigo?
Edward passou as mãos pelos cabelos várias vezes e de
uma maneira descontrolada eu diria, como se estivesse bastante
nervoso e eu não conseguia entender o porquê de sua atitude,
quando a única pessoa que poderia estar chateada seria eu.
— Ouça as suas próprias palavras, Beatrice…
O tom de voz irritado e grosseiro tinha mudado de maneira
drástica agora. Tinha se tornado mais suave, até mesmo mais
desanimado, eu diria. E eu não conseguia entender o que ele estava
querendo dizer com aquilo.
— Talvez se você perceber que o que você quer com tanto
desespero você já o tem, quem sabe você possa voltar a ser a
mesma pessoa de antes — Edward continuou a dizer se maneira
incompreensível — Quem sabe eu tenha a minha esposa de volta e
o Timothy possa novamente ter a sua mãe.
Eu estava prestes a rebater aquelas acusações tão
caluniosas e desconexas, quando Edward simplesmente me deu as
costas e foi embora do quarto batendo a porta com mais força que o
necessário.
Mas eu não iria atrás de Edward de maneira alguma, pois a
sua atitude era completamente desproporcional ao que estava
acontecendo, mas não estava me sentindo bem para descrever,
tampouco.
Olhei para a poltrona macia ao lado da cama e me joguei
sobre ela de qualquer jeito, pois um cansaço extremo e repentino
tomou o meu corpo de uma maneira que eu optei por não confrontar
o Edward mais uma vez.
No entanto, estava bastante claro que eu precisava ter uma
conversa muito importante com alguém, e essa pessoa não é o
Edward.
Pretendia ir fazer isso logo, afinal, estava claro que eu
precisava ter uma conversa séria com o meu filho, pois a acusação
de que eu não estava sendo uma boa mãe era realmente
preocupante e apenas o Timothy poderia me dizer isso.
Mas uma dor incômoda e insistente no baixo ventre estava
me deixando quase sem forças, fazendo com que eu voltasse para
cama e acabei dormindo sem nem mesmo perceber.
No domingo também não consegui conversar com Timothy
como eu gostaria, pois não estava me sentindo bem ainda, mesmo
que a dor já tenha passado, então fiquei na cama, me sentindo
excluída e solitária dentro da minha própria casa.
Edward não dormiu no mesmo quarto que eu, percebi apenas
pela manhã, ao acordar e ver que o seu lado da cama permanecia
intacto e aquilo me deixou realmente desanimada também.
As coisas estavam saindo cada vez mais do controle.
Capítulo 74 – O sol volta a brilhar
Beatrice
Passei todo o domingo em meu quarto e nem mesmo Timothy
veio ver como eu estava e saber por qual motivo eu não tinha saído
do meu quarto naquele dia, o que me deixou extremamente
abalada.
Nós sempre fomos tão ligados um ao outro e de repente isso
parece ter mudado completamente, o que me deixava triste e
preocupada.
Eu não desci tampouco para procurar por eles, não sabia
nem mesmo se estavam em casa ou não. Mas ao menos o Edward
providenciou para que alguém viesse deixar as minhas refeições no
quarto, algo que me deixou um pouco mais confortada, mesmo que
eu não tenha realmente tocado em quase nenhum dos pratos que
vieram para mim.
Quando a segunda-feira chegou, eu não me sentia bem ainda
para voltar ao jornal, mas uma coisa estava clara, eu precisava ir ao
médico pois não era normal tudo o que eu estava sentindo e aquilo
estava me deixando bastante preocupada.
Edward não apareceu novamente para dormir em nosso
quarto, o que me fez suspeitar de algo que confirmei rapidamente
ao dar uma olhada em nosso closet.
Ele tinha tirado algumas roupas e objetos pessoais, pois as
prateleiras e cabides estavam claramente vasculhados de maneira
apressada. Provavelmente tenha feito isso no sábado à tarde,
quando eu não estava em casa.
Aquela atitude por parte do Edward era bastante
preocupante. Aliás, tudo o que estava acontecendo entre nós era
preocupante e eu não sabia o que fazer para dar um basta nesta
situação toda, ainda mais quando eu estou me sentindo tão fraca,
sem forças realmente.
Entrei em contato com o consultório do meu médico e
agendei uma consulta para a data mais próxima, que para a minha
satisfação era em dois dias. Logo eu entenderia qual o problema e
poderia cuidar de mim mesma com mais atenção.
Já passava um pouco do meio-dia quando eu, ainda deitada
e vendo uma revista sobre decoração de quartos infantis – algo que
eu tinha me habituado a fazer desde que decidi ter um filho – quando
a porta é aberta de supetão e uma Janet de rosto avermelhado e
expressão visivelmente contrariada entra no cômodo de maneira
realmente intempestiva.
— O que está acontecendo com você, Beatrice!? — Ela
praticamente gritou, o dedo em riste – eu diria que de maneira
acusatória – em minha direção.
Coloquei a revista de lado e cruzei os braços na frente do
peito, pois eu não estava entendendo nada!
— Eu acredito que quem deveria fazer essa pergunta aqui
seria eu — apontei com ironia velada — Afinal, você entra aqui em
meu quarto e aponta o dedo em minha direção, quando eu não
tenho a menor ideia sobre o que você está falando.
Janet repetiu os mesmos gestos de Edward ao passar a mão
várias vezes pelos cabelos – os seus longos e encaracolados –
quando ele esteve pela última vez naquele mesmo lugar que a
minha amiga estava agora e eu me perguntei o que está havendo
com as pessoas ao meu redor, porque eu não estava entendendo
realmente.
— Beatrice, você não percebe o que está fazendo?
— Eu não sei sobre o que vocês estão falando! — Agora foi a
minha vez de ficar irritada e novamente uma pequena e incômoda
dor no baixo ventre se fez presente mais uma vez.
Janet pareceu me analisar atentamente e depois do que
pareceram minutos, ela exalou um suspiro cansado e caminhou até
onde eu estava, parando ao lado da cama e sentando-se na
poltrona próxima a mim e soltando a sua bolsa no chão de qualquer
jeito. Ela estava realmente irritada.
— Se você realmente não sabe o que está causando na sua
própria família, estou aqui para te dizer!
Mais um olhar analítico e cheio de desconfiança, do qual eu
continuava sem entender nada e como percebi que a conversa
provavelmente seria longa, eu me acomodei melhor sobre a cama e
aguardei.
— Você está destruindo o seu próprio casamento com a suas
atitudes, Beatrice — Janet disse sem nenhuma delicadeza — O seu
casamento estava maravilhoso, enfim você e Edward tinham se
acertado, mas então você colocou na cabeça que quer ter um
filho…
— Mas qual o problema em ter um filho com o meu marido!?
— eu protestei, a interrompendo — Você tem o Archie, a Abigail
está grávida. Não há nenhum mal em desejar engravidar!
Janet parece ter ficado impaciente ao extremo e levantou da
cadeira, ficando de pé e encarando-me com irritação ainda mais
visível que antes.
— Não há problema algum, se esse seu desejo não estivesse
causando tanto estrago na sua família. Mas está e só você não
percebe que está obcecada com a história da gravidez e esqueceu
de tudo o mais. Esqueceu até mesmo da sua carreira como
jornalista, algo que você tanto prezava antes. Parece que está
fugindo de todos. Dos seus amigos, do seu marido e principalmente
do seu filho!
— Eu nunca me afastei do Timothy. Isso não é verdade!
Aquelas acusações estavam doendo em meu peito, aquilo
não era verdade. Eu jamais iria me afastar do meu garoto. Mas
Edward parecia está tentando fazer isso.
— Claro que é verdade sim! — Janet teimou — Timothy tem
sentido falta da Beatrice amorosa de antes. Aquela que era presente
em sua vida e não essa mulher sempre fechada em si mesma,
isolada dentro deste quarto. Você ao menos viu o Timothy ontem? E
hoje, você tomou café com ele?
Acredito que o meu olhar culpado tenha me denunciado, pois
foi impossível negar aquilo que Janet acabou de dizer, pois eu
realmente não tinha visto o Timothy ontem, e hoje tampouco, antes
que ele fosse à escola.
— Não precisa responder, eu já percebi que não — Seu tom
agora era de extremo pesar — É difícil para mim te ver assim,
Beatrice, neste estado de isolamento e tristeza autoimpostas. Mas é
ainda mais difícil ver o que está fazendo com todos ao seu redor e
eu não consigo mais ficar calada, apenas acompanhando sem me
envolver, quando está claro que a minha melhor amiga não percebe
o que está fazendo.
Eu queria muito protestar mais uma vez. Dizer que tudo
aquilo que Janet estava falando era injusto e irreal, mas…, eu não
poderia.
Senti que as lágrimas estavam nublando a minha visão, mas
consegui controlar o pranto. Não queria demonstrar tamanha
fraqueza mais uma vez.
— Eu vou embora — Janet disse, parecia estar desistindo —
Mas pensa bem sobre uma coisa. Pensa muito bem, mesmo. Você
já tem um filho, Beatrice. E ele está sofrendo, assim como você.
Mas enquanto você decidiu fazer isso, sem olhar para todas as
possibilidades ao seu redor, o seu filho está apenas sofrendo as
consequências diretas das suas ações.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa em minha defesa,
Janet já estava pegando a bolsa no chão e caminhando para a
porta.
— Janet!
A minha amiga já estava com a mão na maçaneta da porta,
mas parou no mesmo instante e me encarou em expectativa,
apenas aguardando pelas minhas palavras.
— Eu não estou bem.
Janet deu um sorriso sem humor e voltou pelo mesmo
caminho, se aproximando de mim e mais uma vez largando a bolsa
de qualquer jeito, mas agora sobre a poltrona.
— Reconhecer que não está bem e que precisa de ajuda é o
primeiro passo, alivia e eu estou muito orgulhosa por você tê-lo feito
agora.
Senti que as lágrimas que eu estava contendo a muito custo
explodiram em um pranto convulsivo e foi impossível conter a
emoção da liberação de todo aquele sentimento e Janet sentou
sobre a cama e nós nos abraçamos, um abraço realmente apertado
e cheio de carinho e cuidado.
Quando enfim o choro cessou, eu me senti mais leve,
também mais tranquila. Era como se um peso enorme tivesse sido
retirado do meu peito.
Meu filho.
Aquelas duas palavras tiveram um poder enorme de me fazer
enxergar algo que deveria ter estado claro todo o tempo, mas que
eu, obcecada com a ideia de engravidar, ainda não tinha realmente
notado e agora eu precisava consertar o estrago que aquilo fez em
minha vida.
— Por que você não troca de roupas e vamos fazer algo
juntas? — ela sugeriu com um sorriso gentil — Tomar um chá, o que
acha?
Somente a menção do chá me deixou enjoada, mas levandose em conta que há dias eu não me alimentava verdadeiramente,
considerei normal e entendi que era algo bastante necessário de ser
feito.
— Eu prefiro um suco — comentei com um sorriso.
— Já é alguma coisa, pois eu soube que você quase não tem
comido nada.
— Quem contou para você sobre essas coisas? — perguntei
com curiosidade — Imagino que Edward?
Eu já tinha ficado de pé e agora toda a cólica havia sumido,
eu estava realmente me sentindo bem melhor que antes da visita da
minha amiga.
— Timothy conversou comigo ontem, quando Edward o levou
para brincar um pouco com Archie, enquanto resolvia alguns
negócios com o Charles.
— Timothy!?
— Sim — Janet confirmou — Eu notei que ele parecia triste e
ele desabafou comigo. Disse que você tinha se tornado muito
diferente da Beatrice que ele conheceu e que estava preocupado.
— É apenas uma criança… E mais uma vez passando por
isso…
— Não fica assim! Não chora mais — Janet me abraçou
novamente, depois se afastando para limpar as primeiras lágrimas
— O importante é que agora tudo vai voltar a ser como antes.
— Irei buscar Timothy na escola e depois podemos nos
encontrar no parque. O que me diz? — eu sugeri ao abrir a janela e
constatar que ainda havia sol naquela tarde e que não estava frio.
Nós fizemos exatamente aquilo que sugeri. Avisei primeiro ao
Edward que estava indo buscar Timothy na escola e depois ao
parque, ao encontro de Janet e Archie, que já estavam lá à nossa
espera, pois eu tinha escolhido o mais próximo a sua casa.
Cheguei a acreditar que Edward iria ao nosso encontro, mas
ele alegou uma reunião com alguns diretores da empresa.
— Será maravilhoso para vocês dois, esse momento junto —
ele falou, me deixando feliz por sentir em seu tom que ele também
parecia estar feliz com a minha ligação — Aproveitem bastante o sol
e conversem. Fará bem para vocês dois.
Edward não precisou ser mais claro e eu me senti novamente
culpada pelo que vinha acontecendo, afinal, eu contribuo
diretamente para a situação que se tornou a minha vida.
Mas logo tratei de esquecer aquele sentimento e ir em busca
de consertar a situação e buscar a minha felicidade mais uma vez.
Capítulo 75 – Reconstruindo a harmonia
Edward
Diante da situação em minha casa, cheguei à conclusão de
que aquele seria um ótimo momento para viajarmos em família, tirar
um pouco Beatrice de dentro de casa e fazê-la esquecer, ao menos
por alguns momentos, o seu desejo de engravidar.
Eu não era contrário à termos mais filhos, adoraria que isso
acontecesse, mas não posso ficar totalmente devotado a isso como
Beatrice estava fazendo, de uma maneira tão nociva, que até
mesmo Timothy estava sendo deixado de lado.
Por alguns dias eu cheguei a acreditar que seria melhor darlhe o tempo do qual ela necessitava, enquanto eu tentava manter
Timothy o mais ocupado possível, para que ele não se sentisse
desprezado de alguma forma pela Beatrice, algo que depois que tive
uma conversa com Abigail acabei descobrindo estar ajudando a
minha esposa, e sim ajudando-a para que ela acabasse se isolando
mais e mais de nós.
A minha prima me apontou alguns pontos nos quais eu
estava errando e até mesmo contribuindo com a crise em meu
casamento com Beatrice, cheguei à conclusão de que ela estava
certa realmente e agora cabia à eu fazer algo para resolver a grande
confusão de palavras não ditas entre a minha esposa e eu.
Mas como fazer isso? Essa é uma pergunta que eu estava
me fazendo de maneira repetida desde que olhei a situação sob
outro prisma, mas que até o momento não consegui chegar a
nenhuma conclusão sobre isso.
— Está chegando a Páscoa e vamos ter férias — Timothy
estava contando, quando seguimos para a sua escola.
Percebi que havia uma mistura de animação e um pouco de
tristeza no semblante infantil e decidi entender o que estava se
passando na cabeça do garoto.
— Serão duas semanas de recesso escolar, não é isso? —
Comecei a sondar de maneira despreocupada.
— Sim, duas semanas.
— E você não gosta de férias?
Timothy pareceu ficar constrangido com a minha pergunta,
algo que me incomodou, afinal, não foi essa a minha intenção.
— Não há problema em dizer o que está sentindo, Timothy.
Por que você não gosta das férias em sua escola? Sente falta dos
seus amigos, é esse o motivo?
— Eu estava pensando…
Sorri com a expressão do pequeno. Timothy parecia ter bem
mais que os seus doze anos quando ficava tão compenetrado
daquela maneira.
— Em que estava pensando? Pode falar para mim?
— Seria bom para Beatrice sair um pouco de casa e
esquecer um pouco daquele assunto que faz ela ficar triste.
Admirei a perspicácia do garotinho, ele tinha conseguido ver
algo que nem eu mesmo estava conseguindo.
— Nossa! — expressei a minha grande admiração com suas
palavras — Claro que essa é uma ótima ideia.
Por que não pensei nisso antes? Provavelmente porque
estava tão concentrado em mim mesmo, em recriminar a atitude da
minha esposa, que nem mesmo me preocupei em tentar ajudá-la a
sair daquela situação.
Agora, duas pessoas diferentes me apontavam isso, cada
uma à sua maneira e eu compreendi que precisava agir o mais
rápido possível.
Timothy sorriu diante da minha animação com a sua ótima
sugestão e eu logo dei início aos planos.
— Hoje e amanhã passarei bastante tempo no escritório,
para organizar alguns assuntos de maior importância e dessa forma
podermos organizar uma viagem em família — expliquei para
Timothy — O que acha da minha ideia?
— Acho que foi minha a ideia — Timothy apontou com um
sorriso enorme e feliz.
— Você é um garotinho muito pedante! Mas tudo bem, vamos
colocar em prática a sua ideia, então!
Acabamos rindo muito da brincadeira e depois que deixei
Timothy na escola, fui direto para o escritório e lá me dediquei
intensamente ao trabalho, de maneira que pudesse viajar por alguns
dias sem nenhum prejuízo a empresa.
Estava próximo ao final da tarde quando Beatrice me ligou
para avisar que estava indo buscar Timothy na escola e aquilo me
deixou extremamente feliz. Primeiramente porque era um sinal claro
de que ela estava tentando sair da sua bolsa de infelicidade e em
segundo lugar porque dessa forma eu poderia me dedicar mais
algumas horas ao trabalho, sem precisar ir embora para buscar
Timothy.
Mas no momento que ela me ligou eu estava em uma reunião
muito importante e acabei não conseguindo conversar direito com a
minha esposa, devido às pessoas que ficaram a minha espera
quando saí para atender a chamada que imaginei ser sobre
importante, pois Beatrice não tinha mais o hábito de me ligar.
Quando vi que era o seu número na tela, pedi licença e saí
apressadamente da sala de reuniões e durante a chamada acabei
não falando para ela o quanto me senti feliz por sua atitude.
Quando chegasse em casa eu tentaria conversar com mais
calma. Esperava ardentemente que ela não estivesse tão chateada
comigo como antes…
Cheguei em casa tarde e acabei jantando sozinho, pois tanto
Beatrice quanto Timothy já o tinham feito mais cedo, como me
avisou o James, o mordomo de nossa casa.
Apesar de estar receoso do nosso encontro após dois dias
em que não nos víamos, eu caminhei para o nosso quarto, mas ao
chegar diante da porta, fiquei sem saber como agir, me sentindo um
intruso ao entrar em meu próprio quarto.
Não queria incomodar a Beatrice, mas não poderia continuar
dormindo no quarto de hóspedes sem que tivéssemos uma longa e
esclarecedora conversa, algo que tinha se tornado de extrema
urgência entre nós.
Acabei batendo levemente na porta, mas não ouvi nenhum
som vindo de dentro do quarto, então acabei girando a maçaneta e
ao encontrá-la destrancada, empurrei a madeira de maneira o mais
silenciosa possível.
Passava um pouco das dez horas da noite e imaginei que
Beatrice já estivesse dormindo, e eu não queria incomodá-la de
maneira alguma. Eu não estava errado em minha suposição, então
passei diretamente para o banheiro e depois de fazer a minha
higiene pessoal, voltei para o quarto usando um pijama completo,
pois ainda estava um pouco frio ainda, apesar do aquecedor.
Parei ao lado da cama e fiquei observando o belo e
harmonioso rosto da minha esposa, que ressonava de maneira
ritmada e tranquilamente, e até mesmo aquilo foi um indício de que
Beatrice estava voltando aos poucos a ser a mesma de antes. Eu
ainda não sabia como, mas aquilo estava sim, acontecendo.
Lembrei das noites anteriores, em que eu a observava dormir
e mesmo durante o sono ela parecia agitada e tensa, se
movimentando de um lado a outro da cama e dizendo coisas
incompreensíveis, como se os seus sonhos não fossem nada
agradáveis.
Olhei de modo analítico para a nossa cama espaçosa, me
perguntando se seria uma atitude correta de minha parte deitar ao
lado da minha própria esposa enquanto ela dormia. Eu não queria
cometer os mesmos erros de antes e impor a minha presença a
Beatrice. Tampouco iria acordá-la para perguntar se eu seria bemvindo em nosso leito conjugal.
Naquele mesmo momento, como se por uma sincronia
perfeita de pensamentos, Beatrice abriu os olhos vagarosamente e
me encarou com atenção.
— Edward — Ela falou em um tom de contentamento que me
deixou radiante.
— Oi — Foi tudo o que consegui responder, tão nervoso me
sentia agora.
— Bem — Apontou o meu lado da cama e me fez o homem
mais feliz da terra naquele exato instante.
Não pensei nem mesmo duas vezes antes de entrar debaixo
dos lençóis e abraçá-la junto a mim, beijando os seus cabelos em
um toque delicado, mas que expressava todo o meu amor.
— Estou tão cansada — ela disse, e até o seu tom era de
exaustão, realmente.
— Vamos apenas dormir — falei de maneira tranquilizadora
— Amanhã podemos conversar. Tudo bem para você?
— Está maravilhoso.
Nós apenas dormimos juntos naquela noite, e foi uma das
melhores noites da minha vida, apenas em ter a Beatrice novamente
ao meu lado, sentir seu corpo junto ao meu e saber que tudo ficaria
bem entre nós mais uma vez.
– – – – – – ❤ – – – – – – –
Acordei na manhã seguinte sentindo um dos meus braços
bastante doloridos e percebi que se tratava do mesmo que estava
por baixo do corpo de Beatrice, que ainda dormia tranquilamente ao
meu lado.
Olhei para o pequeno relógio sobre a mesa de cabeceira e
percebi que já passava um pouco das sete da manhã, horário que
eu precisava levantar para tomar café da manhã com Timothy e ir
deixá-lo na escola, caso contrário, perderíamos o horário de
entrada, que era às nove.
Não queria sair sem antes falar com Beatrice, tampouco
desejava acordá-la quando ela parecia tão serena em meus braços.
Mas quando me movimentei levemente, ela despertou no mesmo
instante, me fazendo sentir culpado.
— Bom dia — Beatrice me cumprimentou com o seu sorriso
suave e do qual eu estava sentindo muita falta.
— Bom dia, meu amor — Respondi com um sorriso também,
mas logo falei em um tom de desculpas — Não vamos poder
conversar agora. Preciso levantar…
Beatrice repetiu o mesmo gesto que eu tinha feito alguns
instantes atrás e ao ver a hora, arregalou os olhos um tanto quanto
assustada e logo deduzi por quê.
— Volta ao jornal hoje?
— Não — ela negou, me deixando confuso agora — Tenho
uma consulta com meu médico.
Aquela informação me pegou completamente de surpresa e
me deixou extremamente preocupado, e sentei na cama,
encostando as minhas costas na cabeceira e a encarando
assustado.
— Está doente?
Lembrei de quando há um ano atrás eu tinha mandado
investigar todos os registros médicos de Beatrice – algo que agora
eu me envergonho – mas não havia nenhuma alteração em seus
exames e ela estava bastante saudável na época. Mas já havia se
passado bastante tempo e as coisas poderiam ter mudado.
— Eu me sinto muito cansada e achei melhor fazer alguns
exames de rotina — ela explicou — Sei que nos últimos dias nem
tem sido fácil para nenhum de nós, Edward.
— Não pense sobre isso agora — pediu, puxando-a para o
meu colo e toquei seus lábios rapidamente com os meus — Farei o
possível para sair mais cedo da empresa hoje e nós conversamos
melhor depois do jantar. O que me diz?
— Eu pedirei que façam o seu prato favorito — Beatrice
prometeu sorrindo — E a sobremesa preferida do Timothy.
— Nós vamos adorar.
Capítulo 76 – Agradável rotina
Edward
Saí para deixar Timothy na escola naquela manhã com uma
sensação maravilhosa de paz e bem-estar, após tornarmos café da
manhã juntos, como a família que somos.
Até Timothy parecia bem mais feliz hoje, agora que Beatrice
voltou a ser a mesma mulher radiante que conhecemos e de quem
estávamos sentindo tanto a ausência.
— Você não me contou como foi no parque ontem…
Comentei para Timothy, quando estávamos a caminho da sua
escola e logo o garoto estava tagarelando sem parar, contando-me
sobre o quando se divertiu com Beatrice, Janet e o pequeno Archie.
— Fico feliz que as coisas estejam voltando ao normal —
comentei, me sentindo realmente satisfeito com tudo.
— Beatrice me pediu desculpas e eu falei que não precisava
se desculpar por estar triste — Timothy contou — Às vezes eu
também me sinto triste.
Mesmo sem que ele precisasse dizer, eu consegui imaginar
perfeitamente o motivo pelo qual ela se sentia triste, afinal, tão
jovem ainda e tinha ficado órfão, algo realmente trágico para uma
criança.
— Conte-me um pouco sobre a sua mãe, Timothy. Gostaria
de saber um pouco mais sobre a mulher que o criou tão
maravilhosamente bem, pois você é um garoto muito especial para
nós, Beatrice e eu, tenha certeza disso.
O restante do caminho até a escola foi todo dedicado aos
relatos de Timothy, que tinha os olhos brilhantes ao falar sobre a sua
mãe e a vida em Kiev antes que a guerra chegasse à cidade.
Quando parei o carro em frente ao colégio no qual Timothy
estuda, suas palavras me surpreenderam grandemente quando ele
disse em um tom emocionado.
— Eu fiquei triste quando vi a Beatrice chorar por querer um
bebê — ele contou, me deixando com uma terrível dor no peito —
Mas eu não estou mais triste, Edward. E vou ficar muito feliz
também se a nossa família aumentar e eu tiver um irmãozinho igual
ao Archie.
Foi difícil falar com a emoção tomando conta de mim, mas
engoli em seco e disse com a felicidade sendo o maior sentimento
de todos.
— Pode ser uma irmãzinha também, Timothy — tentei
brincar.
— Eu vou ficar feliz do mesmo jeito.
— Vem cá, garoto!
Puxei o Timothy para um abraço apertado e cheio de
emoção, antes de me afastar a bagunçar os seus cabelos apenas
para ouvir a sua reprimenda de sempre.
— Sabe que Beatrice não gosta que goste que bagunce os
meus cabelos.
Apesar da reclamação, Timothy sempre achava graça do
meu gesto, sem se incomodar realmente.
— Foi por um bom motivo. A mamãe Beatrice não vai se
importar.
Percebi que Timothy ficou mexido com a maneira como me
referi a Beatrice, mas logo ele abriu um enorme sorriso.
— Vamos lá — o chamei, descendo do carro e indo até o
portão deixá-lo, como Beatrice sempre orientou.
“Nada de ficar no carro olhando o Timothy ir sozinho para o
portão” ela sempre dizia.
Apenas aquela lembrança trouxe um sorriso ao meu rosto,
assim como a lembrança de que a nossa rotina estava voltando a
ser como antes, com harmonia e muito amor entre nós.
Se a família aumentar, ótimo. Mas isso não tem que deixar a
todos naquele estado de constante expectativa, vivendo apenas em
função disso, quando já somos felizes juntos.
Aquele sentimento me acompanhou durante todo o dia, assim
como a certeza de que uma viagem de férias agora seria algo
maravilhoso, pois faria muito bem a todos nós.
Beatrice precisava sair um pouco de casa primeiramente,
mas também de Londres. Passear, conhecer coisas novas, rever
aquelas de que tanto gostamos. Precisava ainda pensar num lugar
para irmos, mas faria aquilo junto com a minha esposa quando
chegasse em casa aquela noite.
Já estava organizando todos os meus compromissos de
forma que eu conseguisse me ausentar ao menos por uma semana.
Precisava também comunicar a Jenifer sobre isso, para que ela não
marcasse nada para os próximos dias, algo que eu tinha esquecido
completamente.
Depois de chamar a minha secretária até a sala e falar sobre
a minha intenção de viajar com a minha esposa e o meu filho na
próxima semana, notei que a expressão no rosto de Jennifer era de
puro despeito e naquele momento recordei do que tinha acontecido
em uma das pouquíssimas vezes em que Beatrice veio me visitar no
escritório.
Aquela recordação conseguiu estragar um pouco a minha
tarde, pois me senti um tanto quanto culpado por ainda não ter
transferido a Jennifer de setor, como eu tinha pretendido naquela
ocasião. Ela acabou passando despercebida por todo esse tempo,
mas a sua expressão agora trouxe de volta todas as lembranças
desagradáveis daquele dia.
— Você tem alguma dúvida, Jennifer? — perguntei, após
notar que ela ainda estava me encarando mesmo após eu ter dito
que ela estava dispensada.
— Não, senhor.
— Então pode voltar para a sua mesa.
Ela saiu visivelmente contrariada do meu escritório, mas
poucos minutos depois voltou a bater na porta, a abrindo antes que
eu desse autorização.
— O que deseja, Jennifer? — perguntei contrariado.
— Há uma pessoa aqui para vê-lo — ela comunicou.
Novamente, sem a minha autorização, Jennifer abriu ainda
mais a porta, dando passagem a pessoa que desejava me ver e se
antes eu estava contrariado, agora eu estava quase possesso de
raiva da falta de protocolo da minha secretária.
— Olá, Edward — Disse Louise como forma de cumprimento,
ao entrar em minha sala sem cerimônia alguma.
— O que faz aqui, Louise?
Foi verdadeiramente impossível manter a calma diante de
uma visita tão inesperada quanto aquela.
— Estava com saudades de você, mon chéri.
Beatrice
No horário marcado para a consulta, eu estava pontualmente
na recepção da clínica, à espera da minha vez de ser chamada.
Eu estava me sentindo bem melhor naquele dia e o fato de
Edward e eu termos nos entendidos foi com certeza um dos fatores
responsáveis pela sensação de bem estar que eu estava sentindo
naquele momento, mesmo que nós não tenhamos ainda conversado
realmente.
Durante a consulta com o meu médico, contei para ele tudo o
que eu estava sentindo e aguardei que ele fosse prescrever vários
exames para identificar qual o problema com a minha saúde –
estava claro que havia algum – mas ele disse apenas uma frase
simples e direta, que conseguiu me deixar gélida e sem reação.
— Você está grávida, Beatrice — foram as palavras
surpreendentes.
Após alguns segundos olhando para o doutor Learns sem
conseguir pronunciar ao menos uma única palavra, eu enfim
consegui protestar.
— Mas isso é impossível, doutor.
— Não tão impossível assim — ele disse com um sorriso
complacente — Afinal, você está sim grávida. Mas vamos fazer um
exame apenas para confirmar o que estou dizendo.
— Mas o meu ciclo está normal — protestei novamente —
Não houve nenhum atraso. Pelo contrário, eu diria. Pois veio até
antes da data certa.
Mais um olhar simpático, mas agora com um pouco de
preocupação, mas depois de confirmar que eu não estava com
sangramento no momento, ele pareceu ficar um pouco mais
tranquilo.
— Acredito que tenham sido sangramentos leves, o que é
bastante comum na gravidez, Beatrice — Ele explicou — Mas vou
prescrever alguns exames apenas para ter certeza de que não há
nada mais sério por trás desse sangramento que você teve.
Durante os exames, que foram feitos de forma rápida e
bastante eficiente pela equipe do laboratório, eu me senti perdida e
ainda sem conseguir acreditar naquilo que o médico havia dito
durante a consulta.
Eu estou grávida!? Não era possível. As palavras da minha
amiga vieram à memória, principalmente quando ela falou que eu
estava obcecada com a ideia de uma gravidez e agora mais do que
nunca eu pude comprovar que sim, eu estava tão focada na ideia,
que nem mesmo percebi todos os sinais de que já estava grávida.
Como eu pude ser tão cega? Não conseguia aceitar que eu
coloquei a minha relação em risco por algo tão… infantil. Eu estava
agindo de maneira completamente imatura e se Janet já tinha me
mostrado isso ontem, agora eu tinha ainda mais convicção do que
eu estava fazendo todo aquele tempo foi realmente insensato.
Após ter colhido o material para os exames de laboratório,
aguardei por quase uma hora até que ficassem prontos, e ao voltar
para a sala do doutor Learns, ele confirmou aquilo que já tinha dito
antes.
— Você está grávida, de fato.
Uma emoção forte e extremamente satisfatória se revolveu
dentro de mim naquele momento, me deixando leve, quase
flutuando de tanta felicidade. Então, eu estou grávida!
O médico então transcreveu uma série de vitaminas e
remédios, assim como fez várias recomendações sobre a rotina de
uma gestante de primeira viagem, explicando pacientemente tudo
aquilo que eu poderia ou não fazer.
Os resultados dos demais exames não apresentaram
nenhum tipo de problema que possa ter causado o sangramento,
que foi então considerado apenas como um “sangramento de
escape”, algo comum de acontecer durante a gravidez, ele tinha
explicado.
De qualquer forma, o doutor Learns pediu que eu retornasse
após quinze dias para fazer uma nova consulta, onde seria feito um
ultrassom para a acompanhar melhor a gestação e o
desenvolvimento do bebê.
Quando saí da clínica, o meu único pensamento era ir direto
até o Edward e contar a grande notícia. Ele ficaria feliz, assim como
eu mesma estava me sentindo. Na verdade, eu estava eufórica,
porque apenas a palavra felicidade não conseguiria expressar tudo
o que eu estava sentindo agora.
Voltei para o carro onde o motorista me aguardava e o
orientei a ir para a empresa de Edward. Eu não suportaria esperar
até a noite para contar sobre o filho que eu estou esperando.
Precisava falar agora.
Capítulo 77 – Desagradável surpresa
Beatrice
Cheguei à empresa do meu marido alguns minutos depois,
sentindo-me ansiosa e feliz com a notícia que estava prestes a
contar-lhe. Muito feliz.
Mas além de estar me sentindo extremamente feliz, agora eu
também me sentia diferente de antes, de quando eu estava
realmente absurdamente obcecada com a ideia de uma gravidez e
tinha até mesmo esquecido de tudo o que eu já tinha de importante
em minha vida. De todas as coisas que faziam a vida valer a pena.
Apenas agora eu tinha realmente entendido que eu possuía
coisas muito boas na minha vida, a começar pelo meu marido, filho,
assim como todos os meus amigos e até mesmo um trabalho que
eu precisava prezar, pois é algo que eu sempre amei e que estava
deixando de lado para me entregar a desolação e tristeza sem fim,
quando eu poderia ter me apegado exatamente a isso antes de
qualquer coisa.
Eu até mesmo me sentia mais forte e madura agora, apenas
por saber que estava carregando um filho em meu ventre, que ele
vai depender totalmente de mim, assim como o meu Timothy, que
amo como se tivesse sido gerado por mim também, como aquele
pequeno ser que agora cresce dentro de mim.
Cumprimentei as recepcionistas com um sorriso educado,
mas não me demorei em confirmar com qualquer uma delas se o
Edward estava na empresa, pois além de ter falado com ele naquele
dia e de ter me garantido que não iria sair do prédio, devido aos
vários compromissos de trabalho, eu também sentia que ele estava
naquele mesmo edifício.
Quando parei em frente à mesa da secretária de Edward e
constatei que ainda se tratava da mesma garota que me atendeu
em uma de minhas visitas e a qual eu tinha esquecido
completamente desde então, me senti bastante incomodada, pois a
experiência não tinha sido nada agradável e só naquele momento
que voltou à minha memória.
— Olá… Jennifer — falei de maneira fria — Quero falar com
o meu marido agora. Avise que estou aqui.
Apesar de não gostar realmente de destratar qualquer
pessoa de maneira gratuita, eu não me sentia nenhum pouco
inclinada a ser gentil com a secretária de Edward, quando ela não
foi nada gentil comigo em um outro momento. Algo não me
agradava na Jennifer e eu não pretendia perder tempo falando com
ela.
Mas claro que Jennifer não iria facilitar a nossa vida e preferiu
abrir um sorriso cheio de sarcasmo e nitidamente maldoso, e eu
pressenti que havia algo de errado naquela tarde, antes mesmo que
ela abrisse a boca para dizer.
— Ah, senhora… Maddock — disse como se tentasse
lembrar qual o meu nome — O meu chefe está muito ocupado no
momento. Com certeza não poderá recebê-la agora.
Eu tentei com muito afinco controlar a raiva que me consumiu
naquele exato instante, mas foi bastante difícil me manter tranquila
diante de tamanha audácia da funcionária do meu marido.
Aparentemente, a gravidez já tinha conseguido mexer com os meus
hormônios, pois quando acreditei que iria falar com leveza e calma,
o que saiu da minha boca foi algo totalmente diferente daquilo que
eu pretendia dizer inicialmente.
— Você vai avisar ao Edward que eu estou aqui — falei, o
dedo em riste para a secretária abusada — Ou eu mesma vou
entrar naquela sala sem nem mesmo bater. Sabe por quê? Porque a
sala é do meu marido!
Jennifer me encarou com uma expressão assustada,
parecendo realmente bastante surpresa com a minha atitude
inesperada e parecendo entender que eu não estava para
brincadeirinhas, ela olhou para a porta da sala de Edward com nítido
receio.
Fiquei ao mesmo tempo espantada e feliz pelas palavras que
acabei por dizer, mesmo que não fosse realmente a minha intenção.
A secretária do Edward precisava entender que ela não tinha direito
algum de falar comigo da maneira que fez.
— Eu não sei se é uma boa ideia a senhora entrar na sala do
senhor Maddock nesse momento…
Ao ouvir as palavras enigmáticas da secretária, franzi o
cenho com um questionamento, sem conseguir ter a mínima ideia
sobre o que ela estava querendo dizer, até que algo me disse que
eu deveria ir em frente com a minha ameaça.
— Eu saberei agora se é ou não uma boa ideia!
Sem pensar duas vezes, caminhei de maneira decidida até a
porta da sala de Edward e abri a porta sem bater. Seja lá o que a
Jennifer quis dizer com aquela sua insinuação velada, eu iria
descobrir agora mesmo.
Para o meu completo horror, Edward não estava sozinho
naquela sala e a cena diante de mim era na verdade bastante
comprometedora, algo que me deixou totalmente sem reação, pois
eu realmente não esperava encontrar Louise Orleans no escritório
do meu marido.
— O que está acontecendo aqui, Edward!?
Edward e Louise estavam de pé um para o outro, as mãos
dela enlaçando o pescoço do meu marido, que segurava as suas
mãos com as dele, e eu não soube realmente o que pensar sobre
aquilo. Eles estavam prestes a se beijar? A cena demonstrava
intimidade, para dizer o mínimo.
— Não é nada do que você está pensando, Beatrice —
Edward disse de imediato, retirando os braços de Louise de seu
pescoço e se afastando dela com extrema rapidez — Na verdade, a
Louise já estava de saída. Não é mesmo, Louise?
Edward olhou de maneira bastante eloquente para a sua examada – é importante lembrar deste fato – de maneira que ela
entendesse que ele estava mandando-a embora, mas Louise não
fez questão de seguir com a sua deixa, fazendo exatamente o
contrário ao caminhar até o sofá no canto da sala e sentar-se de
maneira tranquila, cruzando as pernas de maneira sensual.
— Não, querida Beatrice — Louise disse sem se importar
com a expressão agora horrorizada no rosto de Edward — Eu não
estava de saída. Tenho um importante assunto a tratar com o
Edward e não pretendo ir embora antes de conversar com ele.
— Eu não tenho nada para tratar com você, Louise —
Edward protestou, parecendo realmente furioso com a atitude da
mulher — Já deixei isso bastante claro para você. Por favor, retirese da minha sala.
— E eu já disse que não sairei daqui até que me escute, mon
cherri — ela disse totalmente à vontade, olhando para as unhas
pintadas de vermelho vivo, a saia curta exibindo uma boa parte de
suas pernas torneadas — Não adianta insistir.
Olhei de um para o outro, decidindo-me a ir embora, sair logo
daquele circo ridículo que tinha se tornado a sala de Edward e
deixar os dois completamente à vontade para continuar aquilo que
pareciam prestes a fazerem quando eu os atrapalhei. Mas algo em
meu peito pareceu pesar, meu estômago se revoltando de repente
quando dei o primeiro passo para fazer exatamente aquilo, e de
maneira surpreendente e rápida, eu mudei de ideia. Não seria eu a
ir embora daquele escritório. Mas não seria mesmo!
— Pois eu digo que você vai sair dessa sala, Louise — Falei
alto o bastante para que até mesmo a Jennifer ouvisse da sua sala
— E você vai sair agora, sua petulante!
— Beatrice, você… — Edward começou a dizer, mas diante
do meu olhar em sua direção, ele se interrompeu, apenas
acompanhando de perto o desenrolar da situação.
Caminhei até onde a elegante francesa estava sentada e a
levantei da cadeira, a puxando pelo pulso sem delicadeza alguma.
— Lâchez-moi! — Louise disse em tom pedante, enquanto eu
praticamente a arrastava para fora da sala do Edward.
— Vou soltá-la quando você estiver fora da sala do meu
marido — Falei, depois que abri a porta do escritório e a empurrei
para a sala de espera — E não volte a procurar o Edward ou eu
farei ainda pior.
— Ela está louca! — Louise disse para Jennifer.
A secretária que me encarou como se eu estivesse realmente
fazendo algo horrendo e eu decidi ir logo até o fim com aquilo, e a
encarei com um gesto bastante rude em sua direção.
— E você, garanta que está… senhorita seja acompanhada
até a saída — falei, arrumando a minha bolsa no ombro e voltando
para a sala de Edward.
Não olhei para trás para ver qual seria a atitude de Edward,
mas quando entrei no escritório, logo ouvi passos me seguindo e a
porta ser fechada de maneira discreta, antes que eu sentasse na
cadeira que ficava disposta em frente à mesa no centro da sala.
Acreditei que Edward iria sentar-se por trás de sua mesa e
me encarar com seus olhos acusadores em consequência da cena
que acabei de fazer em seu escritório, e mesmo estando com a
razão, eu seria repreendida por ele e a sua prepotência.
Mas ao invés de seguir até a sua escrivaninha de homem
importante, ele parou ao meu lado, segurando-me pela mão com
extrema delicadeza e me fazendo levantar e logo estava me
puxando para os seus braços, abraçando-me apertado e me
consolando pelo que eu nem mesmo sabia que precisava ser
consolada naquele momento.
— Eu juro que não aconteceu nada além daquilo que você
mesma presenciou — Edward disse baixinho — Acredite em mim.
Capítulo 78 – A última chance
Edward
Ao sentir que Beatrice estava trêmula em meus braços, a
abracei mais forte e apertado, sentindo em meu estômago uma
sensação muito ruim e o meu coração batendo acelerado demais no
peito.
Estava com medo.
Medo de perder a minha esposa por algo completamente fora
do meu controle. Por algo que eu não esperava e não tive então
como evitar, mesmo que ainda assim me sentisse totalmente
culpado pelo que tinha acabado de acontecer em minha sala.
A verdade é que se eu não tivesse voltado a me envolver
com a Louise durante o tempo em que Beatrice e eu estivemos
separados, quando eu a encontrei para jantar algumas vezes, a
minha ex-namorada provavelmente não teria me procurado naquele
dia.
— Você acredita em mim, querida? — perguntei próximo ao
ouvido de Beatrice.
Eu estava me sentindo atormentado com aquela expectativa
e a demora de Beatrice para responder só conseguiu piorar ainda
mais a minha angústia.
— Eu não sei o que pensar…
Ouvir as palavras ditas em um tom baixo e incerto, carregado
de insegurança não melhorou o meu estado de nervos e eu afastei
de mim apenas o suficiente para que pudesse olhar diretamente em
seus olhos, de maneira que Beatrice sentisse em mim a verdade
daquilo que eu estava dizendo para ela, porque era sim, a mais pura
verdade.
— Não aconteceu nada — frisei a palavra “nada” — E nada
também estava prestes a acontecer, caso você tenha entendido
assim.
— Mas você a estava segurando em seus braços, Edward! —
Beatrice protestou, enfim reagindo ao torpor que ela parecia ter
emergido — Eu vi, não me contaram. É claro que estavam prestes a
se beijar.
— Não estávamos prestes a nos beijar, Beatrice!
— Não tente me fazer de idiota, pois eu não sou! Eu quero a
verdade de sua parte. Nada menos do que isso, pois só cabe a mim
decidir o que fazer sobre o que eu vi aqui nesta sala.
Beatrice estava diferente, agora parecia mais viva e radiante,
enquanto estamos discutindo e aquilo era tão estranho, que fiquei
alguns segundos admirando o rosto vermelho e cheio de vivacidade
e coragem. Admirando a forma como ela não mais abaixava a
cabeça para mim, agora sempre defendendo a sua vontade acima
de qualquer coisa. Mesmo quando ela não estava agindo de
maneira mais acertada, Beatrice se manteve firme em sua vontade
e eu só poderia ficar feliz pela minha esposa.
— Você quer saber a verdade? — perguntei tentando conter
um sorriso.
Eu estava feliz, mesmo agora, discutindo com a minha
esposa. Eu estava feliz porque é mais fácil resolver qualquer
divergência com a pessoa que amamos, quando nós sabemos o
que ela está sentindo e pensando, do que quando essa pessoa se
mantém no topo do seu orgulho e não deixa que ninguém saiba
sobre o que acontece em sua cabeça e coração
— Nada menos que a verdade me interessa, Edward — a
minha esposa confirmou, nariz em pé e semblante firme — Como eu
disse, o que vou fazer sobre isso é uma decisão minha.
— Vamos sentar — convidei, diante do visível nervosismo de
Beatrice — e conversar.
Beatrice não protestou e nós nos sentamos no sofá no canto
da sala, mesmo que ela tivesse optado por fazê-lo o mais longe
possível de mim, apenas o fato de estarmos dispostos a esclarecer
tudo entre nós já me deixava bastante satisfeito.
— Eu não falo ou vejo Louise há meses, Beatrice. Mais
precisamente desde aquela noite em que nos reencontramos no
restaurante e ela agiu de modo rude e grosseiro com você, algo que
eu jamais poderia perdoar.
Apesar de parecer prestes a me interromper, chegando até
mesmo a abrir a boca e fechar ao menos duas vezes, Beatrice
conseguiu se manter em silêncio e então continuei com a minha
história.
— Hoje Louise chegou em minha empresa sem aviso algum
e eu a recebi, como receberia qualquer outro conhecido, pois isso é
tudo o que ela é para mim hoje — fiz questão de deixar claro aquele
ponto — Ela desejava um patrocínio forte para a sua carreira de
modelo, aparentemente as suas finanças não estão nada boas e ela
decidiu que apelar para mim e a nossa história juntos seria uma boa
ideia.
— E pelo visto foi sim — Beatrice me interrompeu com
notável irritação — Vocês estavam prestes a beijarem-se.
Respirei fundo e tentei manter a calma, pois tinha certeza de
que perder o controle agora poderia ter consequências terríveis para
o meu casamento e isso era algo que eu não desejava de maneira
alguma. Estava claro que aquele era um momento crucial em nossa
relação. Um divisor de água que eu não pretendia que nos
afastasse um do outro de maneira alguma.
— A Louise estava sim, prestes a me beijar — confessei, e
ao ver Beatrice ficar de pé de imediato, esclareci rapidamente,
também ficando de pé — Mas eu não aceitei as suas investidas e o
que você viu aqui foi eu tentando evitar a sua tentativa ridícula e
vulgar de tentar conquistar o meu apoio através de artimanhas
sexuais. Eu não tenho interesse algum em Louise.
— Mas ela ia beijar você, Edward!
— Eu sou bem mais forte que Louise e não deixei que ela
chegasse nem perto de fazer isso! — Insisti em dizer — Por isso eu
a segurava pelos braços, para que ela não se aproximasse ainda
mais de mim!
Beatrice pareceu pesar as minhas palavras, nitidamente em
dúvida sobre acreditar ou não na minha versão dos fatos, mas eu
não poderia fazer nada além de falar o que aconteceu em meu
escritório. Agora só resta torcer para que ela acredite em mim, e fica
a seu critério da minha esposa confiar em mim ou não. Infelizmente,
não havia outra forma de provar.
— Mesmo quando estivemos separados por tanto tempo, eu
não me envolvi com Louise nesses termos, pois tudo o que eu
conseguia pensar era em você e no quanto eu errei, ao não
conseguir manter o nosso casamento, Beatrice. E fiz uma promessa
para mim mesmo, que se você me oferecesse a chance de fazer
tudo diferente e de consertar as coisas entre nós, eu iria me dedicar
exclusivamente a isso. Porque a minha vida sem você não tem
sentido e eu não quero perdê-la. Nunca.
— Estou tão chateada com o que vi — Beatrice disse,
passando a mão várias vezes pelo semblante cansado — Você foi
apaixonado por ela, Edward. Quem me garante que não gostou de
ela ter procurado por você agora?
— Eu garanto! — falei com firmeza — Não gostei nem
tampouco iria aceitar o que Louise me ofereceu aqui de maneira
bastante clara e direta. Confie em mim, meu amor. Eu não o traí,
nem estive ao menos perto de fazer isso.
Pensei em me aproximar da minha esposa e abraçá-la mais
uma vez, pois a necessidade de tê-la em meus braços era forte
demais para resistir, mas eu temia estar mais uma vez usando de
sex0 para convencer Beatrice a fazer aquilo que eu desejo. Eu
prometi para eu mesmo não fazer isso novamente.
— Você está mesmo falando a verdade, Edward? — Beatrice
perguntou com insegurança — Eu posso realmente confiar em
você?
— Eu juro que não aconteceu nada além do que estou
falando para você — confirmei.
Os olhos de Beatrice diziam que ela acreditava em mim, mas
o seu lado racional ainda teimava em duvidar da veracidade do que
eu disse.
— Eu te amo, Beatrice. E Louise não significa nada para mim
há muito tempo. Desde o dia em que entramos naquela igreja e
você disse sim para mim.
Aguardei pela reação de Beatrice, não queria tomar a
iniciativa daquela vez, pois não desejava pressioná-la e senti o
coração ficar extremamente aliviado quando a minha esposa
diminuiu a distância entre nós e se jogou em meus braços, nossos
corações batendo loucamente em uma sincronia perfeita.
— Eu também te amo, Edward — ela disse em meu ouvido
— E não quero te perder.
— Eu diria que me perder não é uma opção para você no
momento — Brinquei, tentando conter o nó que se formou em minha
garganta — Porque eu amo a nossa família e tudo o que estamos
construindo juntos. Amo você, amo o Timothy…
— E eu tenho certeza de que também vai amar muito o nosso
filho que vai nascer — Beatrice disse, me interrompendo.
— Claro que vou amá-lo! — concordei rapidamente — Eu já
sou um homem feliz e realizado, e quando chegar o momento certo
e vier mais um filho, ele só irá me fazer ainda mais feliz e multiplicar
o amor que sinto por vocês.
— Então já está multiplicando…
— Claro que sim! Eu amo a nossa família. Muito. Demais.
Extremamente. E tantos outros adjetivos você conseguir encontrar
para definir o amor que sinto.
Afastei o rosto dos cabelos de Beatrice e a beijei com
intensidade e amor. Muito amor. Nossos lábios se movendo um
sobre o outro, nossas mãos tateando o corpo um do outro e os
sentimentos transbordando através do toque.
Nos beijamos até ficar sem fôlego, afastando então as
nossas bocas, mas olhando um nos olhos do outro, o amor visível
no olhar da minha esposa refletia o mesmo que eu estava sentindo
naquele momento.
— Eu estou grávida.
Continuei olhando com devoção para Beatrice, as suas
palavras sem fazer sentido algum logo de imediato, tão embevecido
eu estava em admirar a mulher que amo. A sua beleza, delicadeza e
força ao mesmo tempo.
— Você ouviu o que eu falei?
— Sim, sim. Você está… — Uma pontada forte em meu peito
— Espera! Você está… grávida!?
Capítulo 78 – Um presente especial
Beatrice
Apesar de tudo o que já tinha acontecido entre nós, o meu
coração dizia que eu deveria acreditar em Edward. Confiar no meu
marido da mesma forma que ele confiou em mim, quando encontrou
Lucky em minha casa apenas de roupão de banho.
E foi por me sentir segura de seu amor e confiante de sua
fidelidade que eu contei sobre a minha gravidez e a sua felicidade
ficou evidente demais para eu duvidar da veracidade dos seus
sentimentos.
— Precisamos contar para o Timothy — Edward disse com
entusiasmo notável.
— Irei buscá-lo na escola com você — falei, tão animada
quanto ele — E nós podemos contar juntos para ele.
— Claro, vamos — Edward concordou de imediato, já
desligando o computador e segurando a sua pasta de trabalho.
Caminhamos juntos para a porta e quando passamos pela
secretaria de Edward, me recordei de sua atitude grosseira quando
cheguei, e ao entrar no elevador, contei a ele em poucos detalhes o
que tinha acontecido quando cheguei em seu escritório naquela
tarde.
— Para quem vai ligar? — perguntei com estranheza,
enquanto saiamos do elevador.
Edward apenas acenou com a mão, pedindo-me um tempo,
mas me abraçou, segurando-me bem junto ao seu corpo enquanto
fazia a estranha ligação.
— Senhora Steve? Sim, sou eu mesmo. Quero pedir que
providencie a rescisão do contrato da senhorita Jennifer — Edward
falou para a pessoa do outro lado da linha — Eu não a quero mais
como a minha secretária. Providencie também alguém para o seu
lugar… obrigada.
Olhei com espanto para Edward, não imaginei que ele iria
pedir a demissão da sua secretária tão rápido daquela forma. Mas
tampouco seria hipócrita em dizer que eu não tinha aprovado a sua
atitude. Estava mais que aprovada, essa é a verdade.
— Ela não vai mais te incomodar a partir de agora — Edward
apontou, beijando os meus cabelos — Não quero nada em nossas
vidas que possa causar qualquer tipo de desconforto para você.
— Sobre a Jennifer, acho até que você demorou muito para
demiti-la — falei com um sorriso — Mas antes tarde, do que mais
tarde.
A minha fala o divertiu e entramos dentro do seu carro rindo
muito, felizes demais para controlar aquela alegria toda dentro de
nós e quando chegamos em frente à escola de Timothy, Edward fez
questão absoluta de ir buscá-lo sozinho, pois queria fazer uma
surpresa ao nosso pequeno.
Ele realmente conseguiu surpreender Timothy, que ao me ver
encostada junto ao veículo correu apressado em minha direção e
me abraçou forte, ficando alguns segundos no conforto dos meus
braços.
— O que aconteceu? — perguntou Timothy ao se afastar —
Vocês vieram juntos né buscar e isso é estranho.
— Não precisa se preocupar, filho — Edward logo o
tranquilizou — A Beatrice estava em meu escritório e por isso
viemos juntos.
— Que alívio!
Nós rimos da expressão dramática no rosto do pequeno, mas
logo entramos no carro e seguimos em direção ao nosso destino.
Ou pelo menos foi nisso que acreditei até ver que Edward estava
dirigindo em uma direção totalmente oposta.
— Para onde está indo? — perguntei com curiosidade.
Antes que Edward respondesse, ele já estava estacionando o
seu carro próximo a uma elegante loja e sem que ele precisasse
dizer nada, eu deduzi que ele pretendia entrar.
— Vamos comprar um presente — Edward explicou
brevemente — E precisamos de Timothy para nos ajudar a escolher.
Uma leve suspeita se infiltrou em mim e caso se tratasse
realmente do que eu estava pensando, ele tinha tudo uma ideia
excelente.
— Vamos? — Edward disse para Timothy.
— Vamos! — respondeu com muita animação.
Nós entramos na loja juntos e logo Edward estava se
dirigindo a sessão de itens para bebês, confirmando a minha
suspeita e me deixando ansiosa e feliz ao mesmo tempo.
— E então, Timothy? Vamos escolher um presente bem
bonito e especial, o que me diz? — Edward sugeriu.
— O que podemos comprar nessa sessão, Edward? —
Timothy perguntou, agora parecendo confuso — O presente é para
o Archie?
Edward me encarou e entendi que aquele ele estava
pretendendo fazer quando decidiu entrar naquela loja e ir
diretamente para a sessão de artigos para bebê.
— Não, Timothy — Edward negou sorrindo — Vamos
escolher um presente ainda mais especial hoje.
Edward olhou para mim com expectativa e em um
entendimento tácito eu concordei que aquela seria um ótimo
momento para contar a novidade para o Timothy, que olhava de um
para o outro com uma interrogação em seu olhar.
— Então, para quem será esse presente tão especial?
— Será paga o bebê que eu estou esperando, Timothy —
falei, colocando a mão sobre o meu ventre ainda achatado — Eu
estou grávida dentro de alguns meses você terá um irmãozinho.
— Também pode ser uma irmãzinha — Edward corrigiu de
maneira delicada — O que você acha disso?
Estava bastante nítida a surpresa que Timothy estava
sentindo, mas logo os seus olhos brilharam e um lindo sorriso
iluminou todo o seu rosto, provando com isso que ele estava
verdadeiramente feliz com a notícia.
— Eu sempre quis ter um irmão ou uma irmã! — o garoto
disse com grande entusiasmo.
— Então vamos logo escolher o primeiro presente do nosso
bebê — Edward disse.
Logo estávamos nós três escolhendo algo especial para o
bebê que eu estava esperando, mas após quase uma hora, ainda
não tínhamos chegado ao consenso sobre o que escolher.
— Eu tenho uma solução para resolver isso — Timothy disse
de repente — Vamos levar os três presentes.
Edward e eu concordamos prontamente com a solução
encontrada pelo Timothy, pois enquanto o meu marido tinha gostado
de uma mantinha de lã muito charmosa, Timothy desejava levar
uma touca azul verde petróleo belíssima e eu estava segurando um
casaquinho de cashmere azul clarinho que me deixou encantada
desde o primeiro momento em que coloquei os olhos nele.
— Então, cada um leva um presente — eu falei animada —
Vamos, queridos.
– – – – – – ❤ – – – – – –
O jantar daquela noite foi especial e divertido. O clima estava
muito agradável, pois a nossa felicidade era algo palpável e quando
Timothy falou que estava com sono, eu fiz absoluta questão de o
acompanhar até seu quarto e o ajudar e se preparar para dormir.
Não gostaria que o meu filho mais velho se sentisse triste ou
viesse a pensar que poderia perder o seu lugar em nossas vidas,
porque aquilo não era verdade. Edward tinha me contado que
Timothy chegou a ouvir um trecho que uma conversa entre Janet e
eu – na verdade um desabafo desesperado de uma mulher
obcecada com a ideia de engravidar – e que ele tinha ficado muito
triste por isso, o que me deixou bastante preocupada.
Agora eu precisaria de bastante tato para que Timothy se
sentisse sempre seguro sobre o seu lugar em nossa vida e aquele
foi apenas o primeiro dia de muitos onde a gente precisaria ir se
preparando para a chegada de mais um membro em nossa família.
Aproveitamos então o momento em que estávamos juntos no
quarto de Timothy, quando ele já estava na cama, para ter uma
conversa longa e esclarecedora com o pequeno, onde eu pedi
desculpas pela forma como vinha agindo nas últimas semanas, não
apenas ao garoto, mas também ao meu marido.
Apesar da seriedade do assunto, saí do quarto do Timothy
me sentindo mais leve e tranquila. Tudo iria ficar bem, só
precisávamos de nos empenhar para isso e foi exatamente o que
Edward comentou quando estávamos já em nosso quarto naquela
noite.
— Eu estava pensando sobre isso agora — confessei,
juntando-me a ele em nossa cama — No cuidado que devemos ter a
partir de agora, para que Timothy não se sinta um intruso ou
rejeitado por nós, quando o bebê chegar.
Edward me abraçou junto ao seu corpo e me olhou com
visível adoração, em um olhar cheio de carinho e amor, muito amor.
— Eu te amo, sabe? — declarou me apertando ainda mais
em seus braços — Senti muito a sua falta nas últimas semanas.
— Eu também senti muita falta da intimidade que temos
juntos, das nossas conversas…
— Senti falta do seu corpo junto ao meu também —
sussurrou em meu ouvido — De estar dentro de você, de te amar…
Aquelas palavras sussurradas de maneira rouca, enquanto
eu sentia o aumento notável de um volume deliciosamente sexy de
encontro ao meu corpo me deixou toda arrepiada, e os bicos dos
meus seios ficaram rígidos se encontro ao peito de Edward.
— Eu também senti falta disso — admiti com um sorriso de
prazer ao sentir que Edward levantava a minha camisola.
— Acha de devemos? — ele perguntou, beijando o lóbulo de
minha orelha — Ou é arriscado para o bebê?
— O médico não restringiu nenhum tipo de atividade, por
enquanto.
— Então vamos aproveitar enquanto podemos.
De maneira bastante rápido e eficiente, a mão atrevida de
Edward estava se insinuando por baixo da minha camisola longa de
seda e chegando ao meu sex0 quente e já sensível pela excitação
de seus beijos em meu pescoço e quando seus dedos me
penetrarem, eu já estava úmida de prazer.
— Está tão molhada — Edward disse em um arquejo de
prazer — E eu estou louco para estar aqui novamente.
Enquanto falava, os seus dedos trabalhavam de maneira
habilidosa, um deles friccionando o meu clit0ris e o outro dentro da
minha fenda, e eu já me sentia muito próxima ao orgasm0.
Edward me beijou de maneira ardente e logo o seu membr0
substituiu os dedos atrevidos, e suspirei deliciada por tê-lo dentro de
mim novamente.
— Eu te amo, Edward — falei em seu ouvido, minha cabeça
na curva do seu pescoço, enquanto ele se movimentava de maneira
lenta e torturante dentro de mim.
— Sou todo seu, Beatrice. Apenas seu.
Aquelas palavras tiveram o poder de me deixar ainda mais
excitada e enquanto Edward investia em meu corpo de maneira
carinhosa e lenta, eu o abraçava e buscava aumentar o seu ritmo,
em busca do orgasm0 que se aproximava rapidamente.
Logo nós dois chegamos ao ápice juntos, mas continuamos
ligados um ao outro, satisfeitos pelo sex0 fenomenal e pelo prazer
de estarmos juntos.
Capítulo 79 – Transbordando felicidade
Beatrice
Alguns dias depois Edward decidiu reunir os nossos amigos
para um jantar comemorativo, uma ideia que eu apreciei bastante,
afinal, é maravilhoso estar ao lado de pessoas que gostamos em um
momento tão especial quanto esse que estamos vivendo agora.
Eu tinha voltado ao trabalho, mas novamente em home office,
pois a minha gravidez ainda estava na fase inicial e eu temia
qualquer tipo de contratempo caso voltasse a ter uma rotina agitada
de compromissos, e por isso só visitava o jornal quando era
estritamente necessário.
Mas o jantar seria em nossa casa, então estava tudo bem e
eu não iria precisar me esforçar de maneira excessiva para
organizar aquele momento que para mim seria muito especial.
Quando os nossos amigos chegaram, Edward, Timothy e eu já
estávamos à espera deles na nossa sala de estar.
— Vocês parecem todos tão radiantes — Janet comentou,
depois de nos cumprimentar — Trouxe um vinho.
Sorri pela maneira expansiva da minha amiga e recebi de
suas mãos o vinho branco que acompanharia o nosso jantar
naquela noite.
— Estamos felizes — expliquei de maneira simples, mas
verdadeira.
— E nós também estamos muito felizes em saber disso, não
é mesmo, Charles? — perguntou olhando para o marido.
— Claro! É sensacional saber que o Archie terá mais um
amiguinho ou amiguinha para brincar.
— Sentem-se, por favor — eu indiquei com um gesto o
conjunto de sofás — E por falar no pequeno Archie, onde ele está?
Enquanto Timothy e eu sentamos em um dos sofás de três
lugares, Edward optou pela sua poltrona favorita e o casal de
amigos sentaram-se no sofá de dois lugares de frente para nós,
todos muito à vontade, sem falar no clima leve e agradável no
ambiente.
— Ele estava um pouco cansado hoje — Charles explicou —
Saiu com a minha mãe para fazer algumas compras e logo que
chegou já estava quase dormindo no carpete onde esteve brincando
por alguns minutos.
Sorri ao ouvir a explicação, era tão maravilhoso pensar que
em breve nós também teríamos um bebê em nossa casa.
Logo os outros dois casais de amigos estavam chegando,
Abigail e Andrew, assim como Sebastian e Fiorella – a minha amiga
tinha chegado em Londres no dia anterior.
O jantar foi bastante animado, cheio de brincadeiras sobre
filhos e bebês e aquele não era mais um assunto proibido, todos
falavam abertamente agora, o que me fez perceber que antes tinha
se tornado proibido, tendo em vista a minha obstinação em
engravidar, algo que me deixou um pouco envergonhada.
Edward parece ter notado algo diferente em mim naquele
momento, pois segurou em minha mão por baixo da mesa e apertou
com delicadeza, em um claro apoio ao que estava sentindo agora.
Olhei para o meu marido, aquele homem belo e agora
totalmente devotado às minhas necessidades, pensando no quanto
a nossa vida tinha mudado desde o dia em que saí daquela casa
para ir embora, disposta a esquecer os três anos de rejeição que
vivi com Edward e fingir que não o amava mais, quando tudo o que
esse amor fazia era transbordar cada vez mais.
— Enquanto Timothy já é quase um rapaz, Archie é um bebê,
Abigail e Beatrice estão grávidas, e em breve também estarão com
os seus bebês em seus braços — Sebastian disse em um tom
sugestivo e todos ficamos aguardando o que viria a seguir já com
um sorriso de expectativa — Só falta agora a Fiorella aceitar o meu
pedido de casamento, pois eu também quero ter um bebê, amor.
Ele não nos decepcionou, e enquanto nós todos achamos
muito engraçado o que ele disse, Fiorella ficou vermelha igual um
tomate maduro, colocando as mãos sobre o rosto, que foram
retiradas pelo Sebastian, que a beijou no rosto e abraçou.
— Então, já temos pedido de casamento em andamento ou
essa foi a primeira vez que Sebastian falou sobre isso, amiga? —
Janet perguntou com curiosidade, quando por fim o meu primo se
afastou do rosto da namorada.
— Sebastian tem sido aquele namorado que todos os dias
faz a mesma pergunta — Fiorella contou, sorrindo envergonhada —
Se eu quero casar com ele.
— E então, querida? Você quer se casar comigo? —
Sebastian não perdeu a oportunidade de pedir mais uma vez.
— Estão vendo só? Ele não perde uma única oportunidade!
— Fiorella agora sorria abertamente.
— Se você pedir todos os dias, em algum momento ela vai
aceitar, tio — Timothy disse de repente, deixando a todos nós
encantados.
— Por que você acredita que ela vai aceitar em algum
momento, Timothy? — Edward fez a pergunta que eu estava prestes
a fazer.
— Porque você precisou pedir muitas vezes para a Beatrice
voltar para casa e aqui estamos nós.
— Ah, garoto esperto! — Sebastian disse, fazendo um gesto
para que Timothy tocasse em sua mão em um cumprimento bem
masculino.
O jantar transcorreu nesse mesmo clima tão agradável e
quando todos foram embora, Edward e eu acompanhamos Timothy
até o seu quarto, e quando entramos, o meu marido foi logo
pegando uma revista para ler alguma história para o nosso garoto,
que sorriu e pediu a história das mãos dele.
— Hoje eu vou ler a história para vocês — Timothy disse de
maneira surpreendente — Já sou bem grandinho e posso fazer isso
sozinho agora.
A sua colocação me deixou bastante preocupada, pensando
se havia acontecido algo que o aborreceu ou se alguém estava
fazendo algum tipo de pressão sobre o meu filho, dizendo-lhe que
ele não era mais uma criança.
— Por que está falando isso, filho? — Edward perguntou com
nítida preocupação.
— Não está claro? — Timothy disse com um sorriso lindo e
radiante, o que já amenizou a minha preocupação — Eu serei o
irmão mais velho e vou ler histórias para a minha irmã quando ela
crescer um pouco e eu for colocá-la para dormir, assim como minha
mãe fazia comigo e depois a Beatrice.
Foi difícil conter a emoção com a declaração do Timothy e eu
apenas o abracei, feliz que ele não tenha ciúmes do bebê que está
por vir e já esteja até mesmo fazendo planos de como fazer o seu
papel de irmão mais velho.
— Pode ser um irmãozinho, querido — Edward sugeriu, seu
tom também era de emoção — Não vai gostar se for um menino?
— Claro que eu vou gostar, Edward! — Ele protestou — Ele
poderia jogar tênis com a gente, futebol e tantas outras coisas. Mas
eu acho que vai ser uma menina, e que vai parecer muito com a
Beatrice.
— Pois eu acho que será um menino e que vai ser a minha
cara — Edward disse cheio de autoconfiança — E você, Beatrice? O
que acha?
— Eu acho que vocês estão com sono e que deveríamos
todos ir dormir — Falei de maneira divertida — Amanhã mesmo nós
vamos saber se será menino ou menina.
Eles vibraram com a notícia, eu ainda não tinha comentado
sobre o exame de ultrassom que havia marcado para o dia seguinte,
agora que já estava com quinze semanas e já poderia ver qual o
sexo do bebê, pois queria fazer uma surpresa a Edward. Mas diante
da “disputa”, achei melhor não adiar mais.
Amanhã seria um dia maravilhoso e eu saberia se está tudo
bem com o meu bebê e eu já me sentia bastante ansiosa.
– – – – – – ❤ – – – – – – –
No dia seguinte, já na clínica onde eu faria o exame de
ultrassom, Edward parecia uma pilha de nervos, andando de um
lado a outro da sala sem parar um só minuto.
— Você pode parar quieto por alguns minutos, Edward? Já
está me deixando tonta!
— Desculpa, querida — Edward disse prontamente,
aceitando o meu pedido e sentando-se ao meu lado — Não entendi
por que essa demora toda para fazer um simples exame.
— Chegamos aqui na clínica há apenas dez minutos, Edward
— Apontei, olhando para o relógio em seu e conferindo as horas e
depois comentei com um sorriso — Você que está uma pilha de
ansiedade. Nem dormiu bem ontem, que passou a noite toda se
revirando na cama.
— Atrapalhei o seu sono, meu amor? — Perguntou cheio de
preocupação.
— Não se preocupe, estou bem.
Para o meu alívio completo, naquele momento o meu nome
foi chamado no painel e enfim pudemos ir para a sala de exames,
onde um médico bastante gentil já nos aguardava.
O exame foi relativamente rápido, e segundo o doutor, estava
tudo bem com o feto, todos os sinais vitais e órgãos em pleno
desenvolvimento, com indicadores normais. Logo o médico já nos
alertou para o fato de que era possível ver o sex0 do bebê,
perguntando-nos se gostaríamos ou não de descobrir a informação
agora ou se preferimos uma surpresa no parto.
— Queremos saber! — Dissemos, Edward e eu no mesmo
momento.
— Tenho papais ansiosos aqui — O médico comentou com
um sorriso — Então, saibam que tem uma bela garotinha aqui.
Suspirei extasiada em saber que estava tudo bem com o
bebê e que em breve eu teria uma menininha em meus braços. A
emoção teria sido a mesma se fosse mais um garotinho na minha
vida.
— Então, Timothy estava certo e eu errado — Edward ainda
conseguiu comentar, mesmo estando completamente focado em
olhar para a tela onde apareciam as imagens do ultrassom com
notável clareza.
— Sim, Timothy terá a sua irmãzinha…
Como já tínhamos conseguido imaginar, Timothy ficou muito
feliz com a notícia de que seria uma menina e naquele dia foi a
primeira vez que ele acariciou a minha barriga, e estava visível a
sua emoção com a chegada da mais nova integrante da família.
— Beatrice… — Ele começou a dizer de maneira incerta.
— O que acha de chamar a Beatrice de mãe e a mim de pai?
— Edward sugeriu de repente — Claro, se você assim desejar e
sentir esse desejo.
A expressão de Timothy deixou bastante claro que ele não
apenas gostaria, como também ele a sua felicidade com a sugestão
dada por Edward e eu me senti um pouco culpada por não ter feito
essa sugestão antes, mas eu acreditava que ele não se sentiria à
vontade para fazer tal coisa e nem mesmo cogitei a possibilidade de
abrir essa janela.
O meu marido deve ter percebido a minha tensão, pois
segurou em minha mão e me encarou com um sorriso que dizia
“está tudo bem” e aquilo me fez sentir melhor. Eu só estava
tentando fazer o certo, mesmo que às vezes eu acabasse por estar
errando.
— Eu vou gostar muito de chamá-los de… pais — Timothy
disse com a voz embargada — Porque vocês são os melhores pais
que eu poderia ter.
Edward chamou Timothy para um abraço e me levou junto.
— Nunca duvide do nosso amor por você, Timothy — falei
junto ao seu ouvido — Nós te amamos muito, meu pequeno garoto
grande.
– – – – – – – ❤ – – – – – – – –
A pequena Avery nasceu alguns meses depois, com muita
saúde e energia, deixando a todos encantados com o seu sorriso e
temperamento doce. Abigail e Andrew tiveram um menino, estes
três meses mais velho que Avery e eles se tornaram amigos
inseparáveis, pois foram juntos para o jardim de infância e depois
para a escola.
Edward já tinha se mostrado um pai bastante responsável e
presente no que dizia respeito ao Timothy e com a Avery não foi
diferente, sempre provando que é o homem que desejei para mim e
não iria me decepcionar novamente.
A nossa rotina era confortável e os nossos filhos eram
crianças que mostravam estar bastante satisfeitos com a vida que
tínhamos, algo que me deixava extremamente feliz e realizada.
Apesar de todos os erros e acertos, nós ficamos juntos e
tivemos a nossa adorável família feliz.
Capítulo 80 – Epílogo
Dois anos depois
Beatrice
Depois de estarmos casados de maneira oficial por mais de seis
anos, Edward tinha decidido fazer uma renovação de votos,
convidando todos os nossos amigos e até mesmo os associados de
sua empresa para um evento de grande magnitude, algo que eu
realmente não estava esperando.
Eu não tinha a menor ideia de tudo o que ele tinha preparado,
afinal, ele não me deixou fazer nada, pois alegava que eu já estava
bastante ocupada com os nossos dois filhos e o meu trabalho no
jornal e eu realmente imaginei algo simples e íntimo, apenas para os
amigos mais próximos, como foi da primeira vez que nos casamos.
Eu estava redondamente enganada e ao chegar ao grande
salão em que iria acontecer a cerimônia, me deparei com uma
fantástica decoração e tudo muito bonito e organizado, repleto de
pessoas conhecidas e desconhecidas também.
As minhas amigas vieram ao meu encontro, ao perceber o
quanto eu estava surpresa e nervosa, e seguraram a minha mão
com delicadeza.
— Não gostou da surpresa? — Abigail foi a primeira a
perguntar.
— Eu… amei! — eu não tinha outra palavra para definir o que
estava sentindo naquele momento — Eu só não esperava.
— Vem… o Sebastian vai te levar até o altar — Fiorella
avisou, indicando o meu primo parado ao nosso lado, mas que até
aquele momento eu ainda não tinha notado a sua presença.
Eu entrei na igreja em companhia de Sebastian, mas logo vi o
Timothy caminhando atrás de nós, segurando a mãozinha de Avery
pelo corredor central que levava até o altar onde esperava por mim
o homem que eu amo e que sempre amei, até mesmo quando ele
menos merecia.
Mesmo ainda distante de Edward, era possível notar o quanto
ele também parecia emocionado enquanto eu caminhava até onde
ele estava, assim como os nossos filhos, que vinham atrás de mim,
de maneira muito singela.
Quando cheguei ao lado de Edward, Sebastian entregou a
minha mão para o meu marido, que a beijou de maneira carinhosa e
depois me olhou diretamente nos olhos e sorriu de maneira aberta e
sincera.
— Sou o homem mais feliz do mundo desde que você voltou
para a minha vida, Beatrice.
— Eu também sou a mulher mais feliz desde que voltei para
a sua vida, meu amor.
Ouvimos o pigarrear do padre e sorrimos um para o outro,
voltando a nossa atenção ao homem que iria renovar os nossos
votos do matrimônio naquela bela tarde de primavera em Londres.
Depois da cerimônia, Edward tinha também organizado uma
festa grandiosa, no mesmo estilo da cerimônia e que durou por
algumas horas, até que tivemos que ir embora, pois a Avery já
estava dando sinais de que já se sentia bastante cansada, algo raro,
pois ela estava sempre muito cheia de energia.
— Foi tudo maravilhoso, querido — comentei em
agradecimento, sentindo os lábios de Edward em meu cabelo.
Nós estávamos dentro do carro, mas Edward não estava
dirigindo naquela noite e sim o seu motorista, por isso estávamos
livres para ficar nos braços um do outro no banco de trás do carro,
pois Avery já dormia tranquilamente em meus braços.
— Eu fico feliz que tenha gostado — Edward disse e senti um
sorriso em seu rosto — Mas ainda não acabou. Tenho mais uma
surpresa.
— Outra surpresa? — perguntei com admiração — O que
será desta vez?
— Algo que eu tenho certeza de que você vai gostar
bastante…
Edward estava certo e quando chegou o dia seguinte e nós
viajamos sozinhos para as ilhas gregas eu não poderia estar me
sentindo mais apaixonada pelo meu marido, depois de todo o
trabalho que ele teve em organizar a cerimônia, a festa e uma nova
lua-de-mel para nós. Agora sim, uma lua de mel com direito a muito
amor, bem diferente da nossa outra viagem, na qual ele nem mesmo
me tocou.
— Já está sentindo falta das crianças? — Edward perguntou,
enquanto estávamos deitados na areia de uma das praias.
— Eu diria que estou com saudades sim, mas… — comecei a
dizer de maneira sugestiva — Sei que eles estão sendo bem
cuidados pela Sienna e um tempo sozinhos não está sendo nada
mal.
Sorrimos juntos e nos beijamos com paixão e desejo, nos
amando mais uma vez sob a sombra de algumas árvores frondosas.
Passamos cinco dias idílicos na Grécia, mas apesar de saber
que os meus filhos estavam realmente bem cuidados pelas minhas
amigas, eu estava com muitas saudades das minhas crianças e
quando chegamos em nossa casa e encontrei o Timothy brincando
com a Avery com os seus bloquinhos, senti o amor transbordando
do meu peito.
— Mamãe! — Timothy foi o primeiro a nos ver entrar —
Papai!
— Mamãe, mamãe, mamãe… — Avery não perdeu tempo
em seguir o irmão mais velho e correr para os meus braços.
— E o papai aqui, você não sentiu falta do papai? — Edward
queixou-se com um lamento — Eu senti a sua falta, querida.
— Papai! — Avery atendeu ao desejo do pai e correu para os
seus braços, abraçando-o com todo o amor de seus dois aninhos.
Quatorze anos depois
Timothy
Era o meu aniversário de vinte e oito anos e eu estava debaixo
de uma chuva torrencial, pois o meu carro tinha furado o pneu
quando eu estava a caminho de Londres, após uma curta viagem a
Kent, onde eu tinha estado resolvendo alguns negócios para o meu
pai, mesmo que ele não tivesse apreciado nenhum pouco a ideia de
que eu passasse o dia do meu aniversário trabalhando.
Eu só não esperava sair tão tarde da cidade e que a chuva
fosse me pegar completamente desprevenido aquele ponto. Mas
com alguma dificuldade, consegui trocar o pneu debaixo da chuva
mesmo e seguir o meu caminho, chegando a Londres bem mais
tarde do que eu gostaria e encontrando a casa totalmente
silenciosa.
Eu tinha ligado para os meus pais e avisado que iria chegar
bem mais tarde do que o desejado, mas não contei sobre a situação
como ela realmente estava, tudo para que eles não ficassem
preocupados comigo de maneira desnecessária, era apenas um
pneu.
Para a minha mais completa surpresa, quando entrei no hall
da mansão da família, o nosso mordomo me avisou que papai
estava à minha espera e que tinha um assunto muito sério a tratar
comigo, algo que me deixou bastante preocupado. Mas eu estava
totalmente molhado e se não trocasse logo de roupas eu acabaria
pegando um baita resfriado.
— Vou só trocar de roupas e já volto, James — avisei,
subindo a escada correndo, sem aguardar pela resposta do
mordomo.
Alguns minutos depois eu estava descendo a escada
novamente e caminhando apressado até a sala de estar onde o
James avisou que o meu pai estaria me esperando, o coração
batendo feito louco, imaginando mil cenários terríveis nos quais eu
seria chamado a atenção e receberia um grande sermão, algo que
mesmo agora, com vinte e seis anos, eu ainda não gostava nenhum
pouco que acontecesse.
Beatrice e Edward me acolheram quando eu mais precisei e
me deram todo o amor e carinho de verdadeiros pais e eu jamais
faria qualquer coisa que pudesse decepcioná-los. Nada mesmo! E
por isso eu estava tão preocupado.
Mas quando entrei na sala até então escura, ela de repente
se tornou extremamente clara e vozes começaram a entoar um
“parabéns pra você” que me deixou verdadeiramente aliviado.
Era apenas uma festa surpresa de aniversário.
— Feliz aniversário, filho! — O papai foi o primeiro a me
cumprimentar — Estou muito feliz em estar aqui comemorando o
seu aniversário, querido.
— Obrigada, papai — agradeci, aceitando o abraço carinhoso
do homem que me educou — Estou muito feliz também.
— Vem, deixe-me abraçar o meu filho também — A mamãe,
como sempre, ansiosa para demonstrar todo o seu amor pelos filhos
— Te amamos muito, querido.
— Onde está a Avery? — perguntei, procurando minha irmã
por todos os lados — Aqui está você! Não vai abraçar o seu irmão?
— Não sei — Avery disse, fingindo aborrecimento — Você
não é mais o meu irmão legal de antes. Agora você é chato e vive
pegando no meu pé.
Sorri para a cara emburrada da minha irmã mais nova e a
abracei apertado, mesmo ela fingindo que não estava gostando,
pois logo ela voltou a ser a mesma garota doce de antes.
— Sei que você gosta de mim até quando tento te controlar
— falei em seu ouvido, beijando-a no rosto — Alguém tem que fazer
isso e com certeza não serão os nosso pais, que vocês os têm nas
mãos.
— Não falo isso na frente deles, Timothy! — Avery sussurrou
horrorizada, me fazendo rir — Te amo, seu bobão. Feliz aniversário.
Além dos meus pais e da minha irmã, também estavam os
meus tios Andrew e Abigail, e o filho deles, o Paul, que é também
um grande amigo de Avery e sempre cuida dela quando não estou
por perto. Estava também a tia Janet com o Charles, mas o Archie
estava estudando em Oxford, por isso não os estava
acompanhando naquela noite.
— Vamos brindar aos vinte e oito anos do nosso querido
Timothy! — Papai chamou a todos — À sua saúde, meu filho.
— Ao seu sucesso — Andrew continuou a dizer, sendo
seguido pelos demais, cada um à sua maneira.
— A nossa família — Mamãe completou.
— À nossa família!

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