CAPÍTULO 1
DRAKHAR KARAGAN
ORT Angeles costumava ser uma cidade tranquila.
Bem, tão tranquila quanto uma cidade que abriga uma
Alcateia inteira de lobos pode ser.
Nos últimos anos, essa calmaria havia se tornado
cada vez mais rara, porque além de enfrentarmos inimigos
na fronteira ao norte, lidávamos com uma cisão dentro do
nosso próprio clã.
Esfreguei a palma da mão aberta em meu rosto e
mantive meu olhar fixo na janela do escritório, observando
a linha das árvores que margeavam o território da nossa
alcateia, que antes ia até perder a vista, agora a fronteira se
aproximava.
— Drakhar?
Meu irmão Draven me chamou, interrompendo o fluxo
dos meus pensamentos. Ele tinha o talento de aparecer nos
momentos em que eu mais queria ficar sozinho.
— Precisamos conversar.
— Pode falar.
Me direi para ele e encostei na mesa de madeira
antiga.
Draven, o Beta mais proeminente de toda a Alcateia e
meu braço direito, estava parado à porta, braços cruzados e
aquele olhar sério que sempre usava quando queria me dar
alguma notícia que eu preferia ignorar.
— Está acontecendo mais rápido do que previmos.
Ele caminhou para dentro do escritório, fechando a
porta atrás de si.
— Noah, Flynn e Troy deixaram a Alcateia. Kaelan
disse que eles se uniram aos Mordrak, na fronteira ao norte.
Suspirei, pegando o copo de whisky na mão, encarei o
líquido por alguns segundos para logo em seguida virá-lo
garganta abaixando, fazendo meu corpo aquecer.
Eu sabia que isso iria acontecer, é claro.
Lobos mais jovens se dispersando, ignorando nossas
tradições e se aliando aos rivais para além das montanhas.
— A traição do sangue é o maior crime que existe. —
Rosnei.
— Sim, é. E você sabe qual a solução, certo?
Draven caminhou em passos lentos, estudando minha
reação.
Ele sabia exatamente o que estava fazendo ao mexer
numa ferida que eu estava tentando ignorar.
— Eu sei. Mas você vai me dizer mesmo assim, não
vai?
— Você precisa de um herdeiro, irmão. Um filhote alfa
para fortalecer o laço com todos os lobos do nosso território.
A alcateia precisa ver que há um futuro.
— Está me chamando de velho? — Abri um sorriso
irônico.
— Não. Estou dizendo que um alfa precisa de uma
rainha. — Draven parou à minha frente, os olhos cinzentos
fixos nos meus. — Você precisa encontrar uma Ômega.
Aquela palavra outra vez.
“Ômega.”
Um termo que carregava peso, poder e expectativa.
E que eu evitava a todo custo.
Meu estômago revirou ao ouvir Draven dizer isso, mas
ele estava certo, e nós dois sabíamos. Uma Ômega era a
chave para restaurar nosso poder, para unir os lobos sob a
liderança certa. Sem ela, a alcateia continuaria a se
dispersar como folhas secas ao vento.
— Está sugerindo que eu deixe a minha Alcateia,
Draven?
Ele engoliu em seco.
— Passei os últimos 10 anos em busca de uma,
atravessando todos os limites, morando em capitais e
afastado do meu sangue para encontrar uma rainha e o que
isso trouxe? Divisão, enfraquecemos.
— Sim.
— Então, caro irmão, onde exatamente você sugere
que eu encontre essa Ômega? — Farejei ao redor. — Elas
não estão exatamente por aí, esperando para se unir a
qualquer Alfa. Não em um raio de 50km.
— Precisamos da pedra da lua, dentro da montanha.
— Draven encolheu os ombros.
— Os Mordrak e nossos irmãos traidores do sangue
destruíram todas as passagens para o coração da
montanha, você sabe que a única forma de entrarmos é
pela velha casa dos Foster.
— Eu sei.
— Aquele lugar está cheio de encantamentos que até
mesmo o meu poder não alcança. Precisamos de permissão
para entrar e ela nos restringiu.
— O que sei, meu irmão, é que se não a encontrarmos
logo, os Mordrak vão tomar mais do nosso território. Eles
têm várias Ômegas, e você sabe muito bem como isso
fortalece uma Alcateia.
Balancei a cabeça em silêncio.
— Só uma Ômega fértil é capaz de atrair outras
Ômegas. É assim que os Mordrak estão expandindo,
Drakhar. E não vão parar até tomar tudo o que é nosso.
Andei pelo escritório, meu corpo tenso.
Draven estava certo, é claro.
Não era só a questão de um herdeiro, era o poder que
uma Ômega era capaz de trazer para a Alcateia.
Somente a ligação ancestral entre um Alfa e uma
Ômega podia restaurar o equilíbrio de tudo, fortalecer os
laços do nosso clã e nos proteger da ameaça que crescia
para além das sombras das montanhas.
Apenas a presença dela seria uma declaração de
poder e domínio.
E, maldita seja, eu precisava disso.
A
CAPÍTULO 2
BRIANNA FOSTER
CARTA repousava em cima da impressora, como se
desafiasse minha capacidade de ignorá-la.
Enquanto eu me acomodava na cadeira para mais um dia
de trabalho, minha cabeça não conseguia se concentrar nos
tecidos do século XVIII, apenas na propriedade na encosta
da montanha em Port Angeles.
Kira e eu passamos um tempo pesquisando tudo sobre
e tentando entrar em contato com alguma autoridade da
cidade, sem sucesso.
Tudo isso era o tipo de coisa que eu via em filmes, não
na minha vida monótona e presa a um escritório abafado,
cercada por documentos esquecidos e projetos que
ninguém se importava em ler.
Kira olhou para mim, ansiosa.
Eu sabia que ela queria que eu dissesse algo sobre o
assunto, qualquer coisa que mostrasse que eu tinha um
plano ou pelo menos uma ideia do que fazer a seguir.
Mas a verdade era que eu não tinha.
Essa notícia havia caído como um raio em um dia já
chuvoso, e minha mente se recusava a processá-la
completamente.
— O que decidiu?
— Nada, ainda, mas falei com a minha mãe.
— E o que ela disse?
— Que minha avó saiu de lá há muito tempo e
construímos nossa família aqui. Ela me pediu para não ir
para Port Angeles, mas também disse que a casa é valiosa.
— Valiosa quanto?
— Valiosa a ponto de pagar minha dívida estudantil e
me garantir um bom início de vida por aqui.
Os olhos de Kira brilharam. E eu senti um
formigamento.
— Não é como se eu pudesse simplesmente largar
tudo e correr para o outro lado do país, né?
Kira fez aquele som com a boca, aquele “tsss” que
indicava que ela estava prestes a dizer algo irritantemente
sensato.
— Vamos lá, Bri. Seja honesta. O que você tem a
perder? Este emprego? Este… escritório encantador cheio
de artigos sobre toalha de mesa?
Eu ri, apesar de mim mesma.
— Você é habilidosa, criativa, todos os nossos
professores viam tanto potencial em você!
— Não decepcionei, acho. Estou trabalhando em um
dos jornais mais importantes do país.
— Que sequer aproveita todo o seu talento.
Ela tinha razão.
O emprego não era exatamente algo que eu desejava
manter para sempre, e aquele escritório, tão cheio de
papéis quanto de decepções, era um lembrete constante de
que meu potencial estava sendo desperdiçado.
Eu sabia que não era apenas sobre o emprego, mas
sobre a vida que eu estava levando. Uma vida que tinha se
transformado numa sequência sem fim de “bom o
suficiente”, mas que nunca parecia ser realmente o que eu
queria.
— Em quantos anos de trabalho aqui você consegue
pagar sua dívida?
— Uns… 10 anos.
Dizer aquilo em voz alta me assustou.
— E vender essa propriedade resolveria seus
problemas financeiros?
— Se ela for tão valiosa quanto minha mãe disse, eu
poderia ficar pelo menos uns 10 anos sem trabalhar.
Kira bateu a palma da mão na mesa, como se já
estivesse decidido.
Ela estava certa. E essa carta… esse presente
inesperado poderia ser a solução. Se eu vendesse a
propriedade, poderia pagar a dívida estudantil que pairava
sobre mim como um fantasma, e até ter algum tempo e
dinheiro para encontrar um jornal bom que realmente
valorizasse o meu trabalho.
— Ok, vamos entrar em contato com essa Naomi. —
Finalmente disse, endireitando-me na cadeira. — O que
pode dar errado? No mínimo vira uma história estranha para
contar no futuro.
Kira sorriu como se já tivesse vencido a discussão.
— É assim que se fala! Mãos à obra!
Liguei o computador e digitei “Naomi Owens Port
Angeles” na barra de pesquisa. Várias páginas surgiram, a
maioria sem relação alguma com o que eu procurava. No
entanto, depois de alguns minutos de filtragem, finalmente
encontramos algo: um artigo antigo sobre propriedades
históricas em Port Angeles.
E lá estava, um nome que chamou minha atenção:
“Foster Estate”. Ao lado, uma menção rápida a Naomi
Owens como a cuidadora e secretária pessoal da minha tiaavó, Karen Foster.
— Achei algo! — exclamei, apontando para a tela. —
Preciso entrar em contato com o editor dessa matéria.
— Deixa comigo, eu consigo. — Kira correu para sua
mesa.
Alguns longos minutos e ligações depois, ela me
chamou.
— Ótimas notícias!
— O que foi? Conseguiu o contato da Naomi?
— Mais do que isso. O editor do artigo disse que a
casa é uma propriedade histórica, provavelmente deve
haver mais do que um pedaço de terra para vender.
— Tipo o quê?
— Fica na encosta da montanha, ele disse que tem
uma lenda urbana de que há uma passagem da casa para o
coração da montanha, cheia de pedras preciosas.
As palavras de Kira martelaram na minha cabeça.
Eu odiava admitir, mas a ideia de explorar algo
diferente, algo com um toque de mistério, começava a
mexer comigo. Talvez eu precisasse mesmo sair do meu
ambiente sufocante e dar uma chance ao desconhecido.
— E melhor ainda!
— Fala! — Sacodi as mãos, ansiosa.
— O governo e um milionário local já tentaram
comprar o lugar por 5 milhões, mas sua tia recusou. Até
gente de fora da cidade foi lá oferecer valores absurdos,
mas ela não quis.
— Absurdos tipo quanto?
— 10 milhões. — Kira se inclinou sobre minha mesa e
depositou o número de Naomi diante de mim. — Parabéns,
amiga, você nunca mais vai precisar trabalhar na sua vida!
— Isso é sério?
— Foi o que ele disse.
— Vou ligar para ela. — Digitei o número em meu
celular. — Se isso for verdade, vou pegar um avião amanhã
mesmo para esse lugar.
— E o emprego?
— O emprego que se dane!
— Essa é a minha garota.
O telefone tocou várias vezes antes que uma voz
atenciosa e profissional atendesse do outro lado.
— Escritório da propriedade Foster, Naomi Owens
falando.
Engoli em seco, repentinamente nervosa, mas forcei
minha voz a sair firme.
— Oi, aqui é Brianna Foster. Recebi a sua carta…
sobre a propriedade da minha tia-avó em Port Angeles.
— Ah, senhorita Foster! — A voz de Naomi mudou
instantaneamente, tornando-se calorosa. — Estou tão feliz
que tenha entrado em contato. Karen falava muito sobre
você. Estou certa de que há muitas coisas que você precisa
saber, e que só poderão ser explicadas pessoalmente. Eu já
deixei tudo preparado para a sua chegada.
Minhas sobrancelhas se ergueram.
Minha tia-avó falava muito de mim? Naomi estava
preparada? O que isso significava? Eu estava apenas
ligando para obter mais informações, mas Naomi parecia
estar um passo à frente, esperando que eu fizesse mais do
que apenas um telefonema.
— Certo… — Hesitei, trocando um olhar com Kira, que
assentia vigorosamente, encorajando-me. — Bom, então
acho que vou precisar ir até Port Angeles.
— Excelente! — Naomi parecia genuinamente
satisfeita. — Vou passar o endereço e se me fornecer os
seus dados e um e-mail, também enviarei sua passagem.
Tenho certeza de que esta viagem será esclarecedora para
você, senhorita Foster.
— Sim. Naomi, é verdade que tem muita gente
interessada em comprar a propriedade?
— Sim, sua tia-avó vivia expulsando-os daqui. — Riu.
— E o lugar é tão valioso assim?
— As coisas têm o valor que colocamos nelas. O que
posso dizer é que quem deseja comprar, oferece valores
altos. Demais detalhes só trataremos pessoalmente.
— Ok, muito obrigada, Naomi.
Desliguei o telefone, sentindo uma mistura de
nervosismo e empolgação. Olhei para Kira, que já tinha um
sorriso vitorioso estampado no rosto.
— Você vai mesmo? — Ela me cutucou, rindo.
— Acho que sim.
— Até que enfim vou ver a minha amiga se aventurar
fora da capital!
— Mas tem algo estranho. — Franzi a testa. — Se era
algo tão importante assim, por que ela não tentou
conseguiu meu número ou e-mail? Ligar para minha mãe,
talvez…
— Não sei, amiga. Mais uma coisa para perguntar a
ela.
Kira se levantou e me deu um abraço apertado.
— Eu vou sentir sua falta, mas você precisa disso.
Promete me ligar sempre?
— Prometo.
Olhei para minha mesa, para as pilhas de papéis e
artigos tediosos, e sorri. A ideia de me livrar da rotina
sufocante que eu tinha me enterrado agora parecia
libertadora. E pensar que eu solucionaria o problema das
minhas finanças em um estalar de dedos me dava uma
satisfação como há muito não sentia.
A
CAPÍTULO 3
BRIANNA FOSTER
CIDADE estava ficando menor à medida que os dias
passavam.
Os mesmos prédios, as mesmas pessoas, os mesmos
trajetos para o trabalho – e os mesmos artigos enfadonhos.
De repente cada pequena coisa na minha vida parecia
sufocante.
Mas o que realmente me empurrou para tomar uma
decisão foi uma conversa que tive com a minha mãe, depois
de finalmente contar sobre a propriedade e quão valiosa
era.
“Às vezes, a vida te dá oportunidades disfarçadas de
obstáculos. Cabe a você descobrir o que elas realmente
são”.
E foi assim que dei o sinal verde para Naomi comprar
a passagem.
“Qualquer lugar menos aqui” parecia exatamente o
que eu precisava. E quem sabe? Talvez uma pausa para
recarregar as energias e uma vida em uma cidade pequena
pudesse me oferecer a paz que o barulho incessante da
capital nunca poderia.
Pelo menos, era o que eu esperava.
Empacotei minha vida em duas malas e uma caixa de
sapatos cheia de pendrives, porque, claro, você nunca sabe
quando vai precisar de um backup do artigo sobre toalhas
de mesa. Just in case.
Depois da Viagem
O voo foi turbulento, como se a minha decisão de
mudar de vida estivesse, literalmente, me sacudindo. E
quando finalmente peguei a estrada que levava à casa da
minha tia-avó senti um frio na barriga, um formigamento
intenso sobre a pele e uma certa sonolência.
Encarei a cidade pela janela do carro e percebi que
Port Angeles não se parecia em nada com a cidade em que
eu vivia.
A sensação de isolamento era palpável. As ruas
estreitas e os prédios antigos davam um ar de mistério ao
lugar, como se cada esquina escondesse um segredo que
ninguém ousava mencionar.
À medida que o taxista prosseguia, meus sentidos
começaram a captar os detalhes ao redor: o aroma terroso
das árvores, a umidade no ar e o som suave do vento
soprando por entre as montanhas próximas.
Uma neblina fina pairava sobre a cidade, trazendo
uma sensação de calma e uma pitada de inquietação.
Apesar de estar envolta nessa atmosfera
curiosamente tranquila, o desconforto me atingiu logo ao
sair do carro.
Eu estava menstruada, é claro.
Ótimo timing, pensei, enquanto procurava uma
farmácia para comprar absorventes, Tylenol e chocolates.
Tão irritada quanto ansiosa, respirei fundo e tentei
afastar o mau humor que ameaçava se instalar. Era hora de
focar na missão: conhecer a propriedade, falar com Naomi,
entender o que diabos estava acontecendo com a minha
vida.
A casa da minha tia-avó ficava na encosta da
montanha, afastada do centro da cidade, como uma
sentinela solitária.
Quando finalmente cheguei, o motorista parou o carro
em frente ao portão de ferro reforçado e encarei a
construção à minha frente.
Era imponente e antiga, com um telhado inclinado
coberto de musgo e paredes de pedra que pareciam ter sido
esculpidas pelo tempo. Arbustos cresciam ao redor da
entrada, e as janelas altas e estreitas davam à casa um ar
gótico, como se ela estivesse perpetuamente à espera de
visitantes inesperados.
Desci do carro, sentindo a gravilha rangendo sob
meus pés.
O ar ali era mais fresco, impregnado com o cheiro das
árvores e da terra molhada pela neblina matinal. Um arrepio
percorreu minha espinha quando um vento frio me
envolveu, fazendo com que eu abraçasse o casaco ao redor
do corpo.
Enquanto me aproximava da porta, ela se abriu antes
que eu pudesse bater.
Uma mulher mais velha, de postura rígida e cabelos
grisalhos presos em um coque apertado, me encarou.
— Senhorita Foster, seja bem vinda! — Ela veio em
minha direção. — Eu sou Naomi Owens, trabalhei para sua
avó.
Sua voz era calma, carregada de um profissionalismo
que eu não esperava encontrar em uma cidade tão
afastada.
— Obrigada, Naomi. Posso entrar? Está tão frio.
— A casa é sua — ela me deu espaço para passar.
Entrei, e um aroma de madeira velha e chá de ervas
invadiu minhas narinas. O interior da casa era ainda mais
impressionante do que a fachada: piso de madeira escura,
lustres antigos, e objetos antigos e aparentemente valiosos
por todos os cantos.
— Droga. Parece que meu sinal não pega aqui — ergui
o celular acima da cabeça.
— Sem sinal de celular e a internet, quando funciona,
é mais lenta que uma carroça.
— E como as pessoas se comunicam por aqui? Sinal
de fumaça?
— Telefonia local. — Indicou o aparelho antigo em
cima de uma mesa no canto da sala. — Fiquei feliz e
surpresa ao saber que viria tão rápido.
— Sim, é que… — engoli em seco. — Posso ser sincera
com você, Naomi?
— Sempre, por favor.
— Não tenho interesse em ficar.
A expressão dela foi uma mistura de surpresa com um
olhar de desafio, como se soubesse que eu não iria embora
tão cedo.
— Estou feliz que a minha tia-avó deixou essa
propriedade para mim, e ela é… — parei por um segundo e
girei no meu próprio eixo. — Linda.
A cólica menstrual e sensação de dor de cabeça
haviam passado. Na verdade, não me lembrava de ter me
sentindo tão bem, disposta e viva desce que nasci.
— Sim — Naomi concordou.
— Mas quero vendê-la. Preciso do dinheiro e sei que
alguém daqui cuidaria melhor do lugar.
— Tudo bem — me lançou um olhar compreensivo. —
Mas antes de ligarmos para os interessados em comprar,
que tal conhecer o lugar?
— Claro.
— Esse lugar tem estado em sua família há anos.
Eu estava prestes a perguntar o que ela queria dizer
com aquilo quando algo chamou minha atenção do lado de
fora da janela.
Um movimento.
Me aproximei da janela, afastando a cortina com um
toque hesitante. E foi então que eu o vi.
Ele estava parado ao lado de um carro preto, braços
cruzados, como se estivesse perfeitamente confortável
sendo o centro das atenções.
Alto, musculoso e com uma presença magnética,
mesmo à distância ele era impossível de ignorar. Os cabelos
negros caíam desordenadamente sobre a testa, conferindolhe um ar despreocupado, que contrastava com a
intensidade do olhar que ele lançou em minha direção.
Aquele olhar… cinzento e profundo, como se pudesse
enxergar através de mim e, ao mesmo tempo, me desafiar a
decifrá-lo.
Seus traços eram marcantes – uma mandíbula bem
definida e lábios que se curvavam em um meio sorriso, o
tipo de sorriso que sugeria confiança, charme e, talvez, um
toque de perigo.
Era como se ele soubesse exatamente o que queria, e
estivesse acostumado a conseguir.
Eu deveria me sentir desconfortável ou talvez
assustada por um estranho tão… impactante estar do lado
de fora da minha nova propriedade. Mas tudo o que senti foi
um arrepio subindo pela coluna.
Não era medo. Era… curiosidade.
— Quem é ele? — Sussurrei, desviei os olhos por
alguns segundos.
Naomi, que tinha seguido meu olhar, se aproximou da
janela.
— Quem?
— Ele — apontei.
E não havia mais nada lá.
— Será que é cansaço da viagem?
Naomi segurou em meu ombro.
Assenti e tirei um chocolate da minha bolsa, dando
uma mordida logo em seguida.
— Acho que sim.
— Talvez um banho quente resolva — ela sorriu. — E
um café da manhã reforçado também.
— Acho que falamos a mesma língua, Naomi.
Me afastei da janela lentamente, mas o meu coração
ainda batia mais rápido do que deveria. Havia algo naquele
homem que gritava perigo e parecia que não abandonaria
os meus pensamentos tão cedo.
O
CAPÍTULO 4
DRAKHAR KARAGAN
CHEIRO dela estava em toda parte, mesmo antes de vêla. Doce, fresco, intenso, como uma flor silvestre recémdesabrochada.
Era… Humano.
Algo que, normalmente, seria insignificante para mim.
Mas aquele aroma despertou não apenas o meu lobo,
mas um instinto primitivo que eu não sentia havia muito
tempo. Não consegui ignorar, não queria ignorar.
Era cheiro humano, mas diferente. E essa diferença
estava bagunçando todos os meus sentidos.
Enquanto me encostava no carro de Draven que havia
tentado acompanhar minha corrida animalesca até a fonte
do meu desejo, cruzei os braços, observei a casa de sua
família.
A casa que deveria ser minha. Precisava ser minha.
A névoa da manhã envolvia a propriedade, dançando
como um véu protetor. E, naquele instante, eu senti que o
poder da montanha estava mais forte do que nunca.
E então, ela espiou pela janela.
Quando a vi pela primeira vez, fiquei surpreso com o
contraste entre seu cheiro capaz de dominar meus sentidos
e ela.
Era uma mulher jovem de curvas generosas, com um
corpo que exalava feminilidade e fertilidade. Seus jeans
abraçavam suas coxas cheias, e a blusa acentuava a curva
suave de seus ombros e quadris largos.
Seus cabelos castanhos emolduravam seu rosto, com
bochechas coradas e lábios carnudos. Não era o tipo de
mulher que passaria despercebida, a presença que
carregava era hipnotizante.
E, naquele instante, a ideia de que ela era diferente
de todas as outras se enraizou ainda mais em minha mente.
— O que está acontecendo? — Draven resmungou
atrás de mim.
— Não está sentindo?
— Sentindo o quê? Desespero por você ter saído de
uma reunião importante, corrido pela floresta feito um bicho
e chegado aqui mais rápido que meu carro?
A pele dela parecia macia e seu cheiro me deixava
louco, parecia me convidar a atravessar o portão, mas havia
um encanto naquele local que impedia qualquer lobo de se
aproximar sem permissão.
— A presença dela, Draven.
— Que presença? Do que está falando? Entre no carro,
vamos voltar para a reunião.
— Silêncio.
Escutei os pensamentos da velha Naomi Owens,
embora com o passar dos anos ela tivesse se tornado muito
boa em embaralhar as palavras de sua cabeça. Mas ela… eu
não podia ouvi-la.
Eu a sentia, como se seu corpo estivesse a um palmo
e seu cheiro estivesse em minha língua sedenta, pronta
para chupá-la até a última gota.
No momento em que reparei em suas feições, percebi
que ela parecia cansada, como se acabasse de sair de uma
batalha contra os próprios pensamentos. Havia uma linha
de preocupação em sua testa, mas seu queixo erguido e a
maneira como olhava em volta demonstravam
determinação.
Determinação suficiente para acender algo dentro de
mim que eu mantinha enterrado há muito tempo.
Um desejo de proteger… e de possuir.
— Quem é ela, Drakhar? — Draven espiou pela janela.
— Ela é o meu destino.
Quando nossos olhos finalmente se encontraram
através do vidro da janela, eu senti como se tivesse levado
um golpe.
Um calor se espalhou por meu peito, invadindo
minhas veias, pulsando em cada parte do meu corpo. Não
era algo que eu esperava. Não era algo que eu podia
controlar.
Ela me olhou com surpresa, os lábios ligeiramente
entreabertos, como se estivesse tentando entender o que
eu estava fazendo ali.
E eu estava parado, congelado por um momento,
como um idiota.
Um Alfa idiota.
Porque aquele encontro, aquele simples olhar, tinha
acabado de mudar tudo.
Eu deveria virar as costas e ir embora. Deveria deixar
Naomi lidar com ela e voltar para o que restava do meu dia,
como se nada tivesse acontecido.
Mas eu não conseguia me mover.
Não conseguia tirar os olhos dela.
Porque o meu lobo uivou tão alto dentro do meu
coração que eu soube imediatamente que eu era dela, e ela
precisava ser minha.
Observei quando ela se afastou da janela, confusa, e
senti uma pontada de… alívio?
Ou seria medo? Sim, medo. Algo raro para mim.
Porque, pela primeira vez em anos, eu estava diante
de algo que não podia controlar completamente. Ela era
imprevisível, uma variável que poderia fazer com que o
plano cuidadoso que eu havia elaborado desmoronasse. E
isso me perturbava.
Mas também me atraía.
A casa de Karen Foster sempre teve uma aura
peculiar, um magnetismo que influenciava as terras ao seu
redor. Algo que podia mudar o equilíbrio do território, se
caísse nas mãos erradas.
Eu sabia que aquela mulher não fazia ideia do que
estava guardado ali, ou da importância daquela propriedade
para minha Alcateia. E, naquele momento, enquanto a
observava através da vidraça, me dei conta de que teria
que lidar com ela pessoalmente.
Não havia outra maneira.
Ela semicerrou os olhos, como se quisesse me
enxergar direito e eu fiz questão de manter o contato,
deixando que ela sentisse a intensidade do meu olhar.
Queria que soubesse que eu estava ali.
Que eu a tinha notado.
Seus olhos castanhos brilharam em hesitação, na vã
tentativa de decifrar quem eu era e o que estava fazendo
ali. Era fascinante.
Ela era fascinante.
E, naquele momento, algo mudou dentro de mim.
Como se um alarme tivesse disparado. Como se a lua cheia
olhasse para mim em todo seu esplendor e aguardasse
minha entrega de corpo e alma para me tornar um só com
sua natureza.
Ela estava chamando por mim.
A simples ideia era absurda, e ainda assim, eu sabia.
Sabia que havia algo ali, algo que iria nos arrastar para um
turbilhão de problemas. Algo que eu não podia, e não
queria, evitar.
Soltei um longo suspiro, desfazendo a pose relaxada
que eu mantinha. Endireitei-me e dei um passo em direção
à casa, mas hesitei.
Não era o momento. Ainda não. Eu precisava ser
cuidadoso.
Ela precisava ser cuidada. Ela era humana, afinal,
frágil demais para a tempestade que eu estava prestes a
trazer para sua vida. E, por mais que me incomodasse
admitir, eu sentia um impulso irracional de puxá-la para
minha tempestade.
— Entre no carro, Drakhar, precisamos voltar.
— Nossos melhores lobos precisam ficar de olho nela
— entrei no veículo —, coloque-os para patrulhar o território
e me avisar sobre qualquer mudança.
— Por causa de uma humana qualquer?
— Ela não é uma humana qualquer — a olhei uma
última vez, estava de lado conversando com Naomi — ela é
minha.
A
CAPÍTULO 5
BRIANNA FOSTER
SENSAÇÃO de estar sozinha naquele lugar me abalava.
Eu sabia que Naomi estava na cozinha preparando chá,
mesmo assim, a casa parecia respirar ao meu redor, como
se estivesse me cercando em um abraço fantasmagórico.
Tomei um banho quente, vesti roupas limpas e
confortáveis, mas a sensação de algo fora do lugar não
desaparecia. Tinha algo nesse lugar.
Algo que eu não conseguia entender, mas que parecia
me chamar de maneira inquietante.
Caminhei até a janela novamente, procurando por
qualquer sinal daquele homem misterioso. Ele havia
desaparecido, mas sua presença ainda pairava no ar, como
um calor que se recusava a desaparecer.
Era estranho.
Eu podia jurar que senti o toque de sua respiração
quando me olhou, uma onda de calor que atravessou a
distância entre nós e se alojou sob minha pele.
Um arrepio percorreu minha espinha, e meus lábios
formigaram com a memória de um toque que nunca
aconteceu. Como se ele estivesse ali, tão próximo que o
espaço ao meu redor parecia ter encolhido.
Quem era ele? E porque, de alguma forma um simples
olhar parecia capaz de me tirar da realidade e aguçar meus
sentidos?
Balancei a cabeça, tentando afastar a sensação, mas
a verdade era que a presença dele continuava ali, como
uma sombra me envolvendo.
“Você está aqui para vender a casa, nada mais,” disse
a mim mesma.
O problema é que, ao colocar os pés nesta cidade,
comecei a sentir algo estranho dentro de mim. Algo que eu
não queria admitir. Porque, a cada segundo passado neste
lugar, a ideia de partir estava ficando mais difícil.
Enquanto caminhava pela sala, passando os dedos
pelos móveis bem preservados e observando os retratos
antigos pendurados nas paredes, a sensação de pertencer a
este lugar se intensificou.
Havia um peso em estar ali, como se eu estivesse
revivendo histórias esquecidas, tocando segredos que
minha família tinha guardado por gerações.
E, embora estivesse decidida a vender a propriedade,
algo estava acontecendo dentro de mim.
O que havia de tão especial nessa casa? Por que esse
lugar parecia estar de alguma forma… conectado a mim?
Tudo que eu sabia era que, ao ficar aqui, uma parte de mim
estava sendo testada.
— Chá? — A voz de Naomi me trouxe de volta à
realidade.
Virei-me para vê-la parada na porta, segurando uma
bandeja com uma xícara fumegante.
— Obrigada.
Peguei a xícara e rapidamente dei um gole. O sabor
do chá, uma mistura de ervas desconhecidas, fez algo
dentro de mim relaxar. Como se estivesse finalmente em
casa.
— Essa casa tem uma energia, não é? — Naomi sorriu.
— Sim, ela é… diferente. Mais cedo mencionou que
ela está em minha família há gerações?
— Pelo menos três séculos.
— Uau…
— Sim. Sua avó nasceu aqui, mas se apaixonou por
um viajante. Com o tempo fizeram uma vida tranquila do
outro lado do país, seus outros irmãos foram embora, só
restou a Karen…
— Ela era muito sozinha?
— Não, ela era amada por toda a comunidade. Era
sábia, justa, uma pessoa iluminada — Naomi pareceu se
emocionar ao falar da velha amiga. — Ela falava muito de
você.
— O que dizia?
— Que não via a hora da sua chegada. Você esteve
aqui quando bebê e depois disso, nunca mais.
— Sim, é verdade. Mesmo sem manter contato
sempre mantive muito carinho por ela. Agora ela se foi e…
me deixou tudo isso.
Ela apenas assentiu, como se minha resposta fosse
exatamente o que ela esperava.
— Às vezes, o que parece um fardo pode ser uma
oportunidade — ela murmurou, mais para si mesma do que
para mim, enquanto voltava para a cozinha, deixando-me
com meus pensamentos.
Eram exatamente esses pensamentos que estavam
me rasgando por dentro. Eu tinha um plano claro quando
decidi vir para Port Angeles: vender esta casa, pegar o
dinheiro e reconstruir minha vida em um lugar onde eu
pudesse me encontrar.
E agora, tudo parecia… confuso.
Como se eu não tivesse mais certeza do que fazer.
Porque, ao mesmo tempo que queria vender e seguir
em frente, algo estava me puxando para ficar. Como se este
lugar fosse mais do que uma propriedade herdada.
Como se ele fosse uma peça perdida do quebracabeça da minha vida. Algo que eu não sabia que estava
faltando até agora.
Eu odiava a ideia de não ter controle sobre minhas
emoções.
Odiava a ideia de que este lugar, este estranho, esta
cidade… estivessem me afetando de maneiras que eu não
podia explicar.
A vida nunca foi fácil, e talvez isso tenha moldado
minha visão do mundo de uma maneira meio distorcida.
Para mim, tudo sempre foi sobre lutar, sobreviver, se
esforçar para ser a melhor e não motivo de chacota.
Mesmo sendo dedicada e elogiada por meus
professores, nunca houve em mim espaço para sonhos
grandiosos, para o luxo de seguir um chamado, seja ele qual
fosse.
E, então, a ideia de ficar me parecia absurda.
Vender a casa me ajudaria a alcançar meu objetivo
externo: estabilidade, liberdade financeira, uma nova vida.
Mas, ao mesmo tempo, a ideia de vender estava
começando a parecer… errada.
Como se isso fosse contra algo em mim, uma coisa
mais profunda que eu ainda não conseguia entender.
Mas o que estava me impedindo de ir embora?
Meu passado, talvez.
Eu sempre fui a pessoa que seguia as regras, que
evitava riscos desnecessários. A pessoa que planejava cada
passo, que preferia o caminho seguro.
Amar algo ou alguém nunca esteve no meu radar,
porque amor era imprevisível, doloroso. Vi minha mãe lutar
tanto para manter a família unida, enquanto meu pai nos
abandonava.
Amor sempre foi sinônimo de fraqueza, de ceder a
uma vulnerabilidade que eu não estava disposta a aceitar.
Na faculdade, tentei me relacionar com um cara que
admirava, mas ouvi dele que nunca ficaria com uma pessoa
como eu.
O que havia de errado comigo? Por que ele não
conseguia ver beleza em mim?
Não importa. Aqui estou eu, parada no meio de uma
sala cheia de história e de segredos, sendo confrontada com
sentimentos e desejos que me assustam.
Uma parte minha quer se render, quer explorar o que
este lugar tem a oferecer. A outra parte, a parte que
conhece o preço de se deixar levar pelo desconhecido, me
diz para ir embora o mais rápido possível.
— Posso usar o telefone, Naomi?
— Claro, a casa é sua, desfrute dela — disse da
cozinha.
Disquei o número de Kira e coloquei o objeto contra o
meu rosto.
— Quem é? — Ela perguntou do outro lado.
E isso gerou um alívio instantâneo em mim.
— Amiga, sou eu.
— Bri?! Que número é esse?
— Aqui não pega sinal de celular e a internet é
discada. Socorro.
Ela gargalhou do outro lado.
— E aí, como é a casa?
— Grande, espaçosa, parece cheia de memórias. São
dois andares com uma vista privilegiada de toda a cidade,
floresta, lago…
— Incrível.
— Não sei se quero vendê-la — aquilo escapou de
meus lábios em um sussurro.
— Você acabou de chegar, sua doida. Saia um pouco,
vá no bar, conheça as pessoas… e procure pela melhor
oferta. Não aceite nada menos do que 15 milhões.
— Pode deixar.
— Já estou morrendo de saudades!
— Eu também.
Assim que desliguei percebi que fiquei o tempo todo
olhando pela janela, procurando aquele estranho de cabelos
negros, que havia mexido comigo.
Eu não saberia descrevê-lo se me pedissem, mas de
alguma forma, sua imagem não saía da minha cabeça.
E assim, eu me sentia presa entre a segurança do que
eu conhecia e o desejo de descobrir o que havia aqui para
mim. E a presença dele, mesmo que fosse apenas um
vislumbre, era um catalisador.
Eu não sabia quem ele era, ou o que queria, mas de
uma coisa eu estava certa: ele tinha trazido algo à tona.
Algo dentro de mim que eu não poderia mais ignorar.
— Naomi, poderia me mostrar a cidade?
— Claro, vou pegar o casaco e faremos um tour!
S
CAPÍTULO 6
BRIANNA FOSTER
EGUI O conselho de Kira e fui explorar a cidade.
Port Angeles tinha um charme peculiar, suas ruas
estreitas e prédios antigos pareciam ter sido arrancados de
um livro de histórias, e a neblina que pairava no ar dava um
toque quase mágico ao lugar.
Após passar pela livraria-café, mercado e um dos
restaurantes tradicionais da cidade comecei a compreender
por que minha tia-avó havia amado este lugar.
Mesmo assim, a inquietação não me deixava.
Passei algumas horas perambulando, tentando
absorver um pouco do que a cidade tinha a oferecer. Passei
no cartório para assinar os papeis e assumir titularidade da
casa, me aventurei em uma loja de antiguidades que
parecia ter séculos de poeira acumulada e comprei alguns
suprimentos em outro mercadinho.
Tudo ali era diferente do que eu conhecia. Ainda
assim, por mais que tentasse, a sensação de pertencimento
que senti na casa não se repetia aqui.
Era como se a cidade, de alguma forma, estivesse me
testando.
— Por que existe esse símbolo em quase todos os
lugares? — Perguntei para Naomi.
Era a cabeça de um lobo, pelos pretos e olhos
prateados com um leve tom de azul.
— É a heráldica da família Karagan.
— Karagan?
— Eles são donos de quase toda a cidade — Naomi
explicou. — Na verdade, de quase todo o norte dos Estados
Unidos. Eles possuem empresas em vários seguimentos e
mantém a economia dessa e centenas de outras cidades de
pé.
— Entendi. Eles fizeram proposta alguma vez para
comprar a casa da Karen?
— Algumas vezes, sim. Valores muito altos.
— Por que ela não vendeu?
— Ela tinha seus motivos — Naomi sorriu com
gentileza. — E ela sabia que algumas coisas não tem preço
e sim, valor.
No fim da tarde, deixei Naomi em sua casa e ela me
emprestou o carro para que eu voltasse para o alto da
montanha. Dirigi devagar, os olhos fixos na estrada à minha
frente, mas meus pensamentos estavam em outro lugar.
Nele.
Suspirei, balançando a cabeça para afastar a imagem
daquele estranho dos meus pensamentos. Eu não podia me
deixar levar por uma fantasia idiota.
Havia coisas mais importantes em jogo – meu futuro,
minha estabilidade. Vender a casa era a escolha lógica, mas
uma parte de mim estava inquieta, como se algo em Port
Angeles estivesse esperando para ser descoberto.
Algo que eu precisava enfrentar.
Quando virei a última curva que levava à propriedade,
meu estômago se apertou. E lá estava ele, novamente. O
estranho. Parado ao lado do portão da minha casa, os
braços cruzados sobre o peito, como se tivesse me
esperado o dia inteiro.
Parei o carro abruptamente, o motor ainda roncando
enquanto tentava processar a cena.
Ele estava ali, e dessa vez, não havia vidraças entre
nós.
Senti meu coração acelerar, como se estivesse
prestes a saltar para fora do peito.
Saí do carro, mantendo uma expressão séria, mesmo
que minhas mãos estivessem tremendo levemente. Eu não
queria parecer impressionada. Não queria dar a ele essa
satisfação, seja lá quem ele fosse.
— Perdida? — ele perguntou.
A voz grave ressoou no ar frio da tarde.
Assim que me aproximei, percebi que ele era alto.
Assustadoramente alto, com ombros largos que carregavam
um ar de poder e autoridade. Seus movimentos eram
fluidos, predatórios, como se ele estivesse perfeitamente à
vontade no próprio corpo.
O casaco preto que ele usava parecia moldado ao seu
físico, destacando os músculos esculpidos que se moviam
com uma precisão quase animalesca. A cada passo que ele
dava, eu sentia o chão sob meus pés vibrar, como se ele
carregasse a força de uma tempestade prestes a se soltar.
Meu corpo reagiu de um jeito que me deixou confusa.
Houve algo na forma como ele me olhou, com aqueles
olhos cinzentos intensos, que fez o ar ao meu redor parecer
mais denso.
Meu coração bateu forte, minhas mãos ficaram frias e
um calor estranho se acumulou no fundo do estômago.
Eu o odiei por me fazer sentir assim – vulnerável e, ao
mesmo tempo, absurdamente viva.
Eu fechei a porta do carro com um movimento brusco
e cruzei os braços, erguendo o queixo em desafio.
— Não, eu não estou perdida, estou exatamente onde
deveria estar. — Respondi, tentando ignorar o formigamento
que correu pela minha pele quando nossos olhos se
encontraram.
Seus olhos cinzentos eram intensos, fixos em mim
como se pudessem ver cada um dos meus pensamentos.
Era desconcertante.
— Tão pequena e corajosa — umedeceu os lábios com
a língua.
Ele me encarou por um longo momento, e senti como
se houvesse uma guerra não declarada acontecendo ali,
entre nós. A força em sua presença, o jeito como ele
mantinha a postura firme, deixava claro que ele estava
acostumado a conseguir o que queria.
E agora, ele parecia interessado em mim… ou talvez
apenas na casa.
— Quem é você?
— Brianna… Foster.
— E como chegou aqui, Brianna Foster? — Encheu a
boca para pronunciar meu nome, como se estivesse se
deleitando. — Como não fui avisado?
— Por que te avisariam da minha chegada?
— Por que eu sou o dono dessa cidade — descruzou
os braços e veio em minha direção.
Diante de mim, percebi que ele tinha quase o dobro
da minha altura.
— O dono dessa cidade tem nome? — Retruquei,
tentando manter o tom frio e sem ceder à inquietação
crescente em mim.
Ele estava aqui, à minha espera, como se tivesse
algum direito sobre mim ou sobre este lugar, e isso me
irritava mais do que eu gostaria de admitir.
Ele relaxou um pouco, um sorriso se formou em seus
lábios.
— Drakhar Karagan.
Arregalei os olhos e assenti, como se o nome dele
fosse uma ordem cuja resposta fosse sim.
— Acredito que seja a nova dona da casa, Brianna?
— Acredita corretamente. — Dei alguns passos até
ficar entre ele e o portão, como se estivesse protegendo a
propriedade atrás de mim. — E não me parece que isso lhe
diga respeito.
A sobrancelha dele se ergueu levemente, como se
minha resposta fosse algo que ele não esperava, mas que o
estava entretendo.
Ótimo, ele estava me achando divertida.
Eu só queria voltar para casa, tomar um banho quente
e fingir que a presença dele não estava abalando todo o
meu autocontrole.
— Tudo aqui diz respeito a mim, Brianna. — Ele
afirmou, a voz grave e baixa, carregada de um tom perigoso
que fez meus pelos se eriçarem. — Esta cidade, estas
terras… e, aparentemente, você.
Meu peito se apertou com a ousadia dele.
“Aparentemente você”? Era como se ele estivesse me
reivindicando, me puxando para um conflito que eu nem
sabia que existia.
Isso me deixou furiosa e, ao mesmo tempo, algo
dentro de mim respondeu ao desafio.
— Eu não sou problema seu. — Disse, estreitando os
olhos, sentindo meu coração pulsar forte. — A casa agora é
minha, vou decidir o que fazer com ela.
— Entendo. De onde você é?
— Do outro lado do país.
— E como conseguiu a casa?
— Eu a herdei da minha tia-avó.
Ele deu um passo à frente, a proximidade dele
provocando uma onda de calor no ar frio da tarde.
Senti um nó se formar em minha garganta.
Eu não fazia ideia do que ele queria, e isso era
perturbador.
Ele estava certo, eu sabia. Ele era um Karagan, dono
dessas terras, mas a casa era minha. Não deixei que ele
percebesse o quanto aquilo me abalava.
Ele não disse mais nada.
Ele se inclinou em minha direção, e o ar ao nosso
redor pareceu se tornar mais denso. Um calor envolveu
minha pele, como se a presença dele estivesse me
puxando, feito um ímã, irresistível e ameaçador.
— Você tem um cheiro bom.
Dito isso, ficou em silêncio. Os olhos intensos
continuaram cravados em mim. Eu podia ver a tensão em
sua mandíbula, o leve ranger de seus dentes. Então, ele deu
um passo para trás, como se estivesse decidido a recuar.
Um sorriso quase cruel despontou em seus lábios, e
ele balançou a cabeça.
— O gosto deve ser ainda melhor.
Ele se virou e começou a se afastar, deixando-me ali,
no meio da estrada, com o coração martelando no peito e
uma raiva crescente que não fazia sentido.
O que ele queria de mim? Quem ele pensava que era
para me dizer aquelas coisas? Estava debochando? Rindo
de mim?
O problema era que, enquanto ele se afastava, algo
estava me puxando em sua direção, uma teia invisível que
ele havia acabado de puxar, tensionando tudo dentro de
mim. E essa sensação apenas parou quando pisei os pés
portão adentro.
A
CAPÍTULO 7
DRAKHAR KARAGAN
S ÁRVORES ao lado da estrada passavam como vultos
enquanto eu corria de volta para casa, em minha forma
animal.
Havia uma pressão em meu peito, como um incêndio
que recusava a ser apagado. Quem ela pensava que era,
me desafiando daquela maneira? Ela nem tinha ideia do que
estava em jogo.
Ainda assim, não consegui tirá-la da minha cabeça
desde o momento em que a vi. E isso só piorava as coisas.
“Eu vou decidir o que fazer com ela.” As palavras
ecoaram na minha mente, irritantes como um zunido
constante. Como se ela tivesse algum tipo de controle sobre
a situação. Sobre mim.
Não, eu não podia permitir isso. Eu precisava de
controle, manter a ordem. Desde que assumi a liderança
após a morte do meu pai, tudo o que fiz foi garantir a
integridade da minha Alcateia e das nossas terras.
Agora, com ela aqui, parecia que tudo estava prestes
a ruir.
Cheguei à porta de casa em um salto poderoso, os
músculos das patas impulsionando meu corpo com força.
O ar da noite cortava meus pulmões, um lembrete da
liberdade selvagem que a forma de lobo trazia. Mas então,
ao pisar no chão frio da entrada, senti o calor pulsante da
transformação começar.
Minhas articulações estalaram, ossos se realinhando
em um ajuste doloroso e, ao mesmo tempo, reconfortante.
O pelo denso recuou em minha pele, substituído pelo toque
do vento contra a carne nua. A fera se foi, cedendo lugar ao
homem.
Com um suspiro pesado, olhei para a construção à
minha frente, agora em pé em minhas pernas humanas.
Uma fração de segundo atrás, eu era pura força instintiva.
Agora, em minha forma humana, a raiva queimava de
forma diferente, mais contida, mais complicada. A casa
parecia menor do que na visão aguçada do lobo, e ainda
assim, ela me encarava com uma acusação silenciosa.
O lugar tinha se tornado minha fortaleza, o refúgio da
Alcateia e meu. Mas agora, até mesmo o lugar parecia
diferente, manchado pelas memórias recentes de Brianna.
Seu cheiro, suas curvas generosas, o jeito como
ergueu o queixo me desafiando. A coragem que ela
demonstrou, mesmo com o medo cintilando em seus olhos
fazia as extremidades do meu corpo pulsarem, como as
batidas em meu coração.
Odiava o efeito que ela tinha sobre mim.
Ou, talvez, odiasse o que isso significava: que ela,
diferente de qualquer ser humano que já conheci na vida,
podia me afetar. Isso era um sinal de fraqueza, algo que eu
não podia me permitir.
Ser Alfa significava ser implacável, ser mais forte do
que qualquer um. Mas quando ela estava perto, era como
se parte da minha força escorresse pelos meus dedos.
Entrei em casa, caminhei até a cozinha e bebi um
copo de água, tentando esfriar o calor que sua presença
havia provocado. Mas foi inútil.
Fechei os olhos por um momento e a vi nitidamente.
Deitada em uma poltrona, abraçada a uma almofada,
seus cabelos bagunçados ao vento. Isso me queimou como
uma brasa. Eu ainda podia sentir o cheiro dela — doce e
quente.
Odiava o que ela despertava em mim.
Um desejo que eu deveria ignorar, precisava ignorar.
Ao mesmo tempo, algo em mim sabia que afastá-la
não resolveria os problemas que estavam por vir. Porque ela
já era parte disso, parte das terras e do destino deste lugar.
E, de alguma forma que eu não sabia explicar, ela também
havia se tornado parte do meu destino e do meu clã.
Meus pensamentos foram sublimados assim que ouvi
batidas apressadas na porta. Meu corpo ficou tenso, senti o
cheiro de Draven, Kaelan e Markus e fui até a entrada da
casa.
— O que houve?
Draven e Kaelan estavam em sua forma humana, o
outro permanecia como lobo. A transformação era melhor
controlada por aqueles que tinham sangue de Alfa, o que
era o meu caso e dos meus irmãos. Markus era um beta,
sua força dependia da conexão e presença de outros alfas,
mas principalmente do seu líder, eu.
— O que houve? — perguntei.
— Ataque na fronteira norte, Alfa. — Kaelan informou.
— Mordraks.
— Quantos?
— 15 na fronteira.
— Nossos lobos seguraram esses, mas foi apenas para
nos ocupar. 7 começaram a ir para a casa da montanha —
Draven disse.
— Alguma baixa?
— 2 dos nossos estão feridos, mas vão sobreviver.
Precisamos ser rápidos, eles estão a poucos quilômetros da
propriedade Foster.
O mundo parou. Brianna. Eles estavam atrás dela, ou
da casa? Não importava. O fato de terem se aproximado
significava que além de dispostos a tudo para tomar o que
era nosso, estavam desrespeitando o meu poder, porque
esse era o meu território.
Respirei fundo, sentindo o lobo dentro de mim agitarse, a raiva em seu estado puro, incitando-me a agir.
— Protejam a fronteira, não deixem ninguém passar.
— Mas, Alfa…
— Eu vou, sozinho.
Kaelan se transformou em lobo, deu meia volta e
seguiu minhas ordens, Markus imediatamente o seguiu.
— Fale logo — rosnei impaciente para Draven.
— São 7 lobos alfas dos Mordrak.
— E daí?
— Não pode agir sozinho. Você é forte, mas sabe
que…
— Não duvide do meu poder, irmão — segurei em seu
ombro.
— Não duvido do seu poder, mas eles têm ômegas
para fortalecê-los, nós não.
— Eu tenho o que preciso.
Assim que assumi a minha forma de lobo, Draven fez
o mesmo.
— A humana nova…
— O que tem ela?
— Ela precisa saber do que está acontecendo. Se ela
não cooperar, não conseguiremos protegê-la.
Eu sabia disso. E era exatamente isso que me irritava.
Ela tinha se tornado um ponto fraco em todo o meu
plano. Para protegê-la, eu teria que trazê-la para dentro do
conflito. Teria que fazer com que ela entendesse o que
estava em jogo e, o pior, teria que confiar nela.
— Eu vou falar com ela, mas não tudo. Ela não precisa
saber de cada detalhe. Não ainda.
Marcus hesitou mais uma vez, mas não discutiu.
— Precisam de você na fronteira norte e de mim no
alto da montanha — falei e comecei a correr.
Meu irmão foi na outra direção.
A
CAPÍTULO 8
BRIANNA FOSTER
NOITE tinha se instalado, trazendo consigo uma quietude
que eu não conseguia encontrar em mim mesma.
Após ligar para minha mãe e contar como havia sido o
meu dia, preparei um chá de camomila, peguei um livro
para ler, mas não consegui me concentrar, as palavras se
misturaram, ficaram borradas e então cochilei.
Minha mente retornou ao encontro de mais cedo.
Drakhar Karagan. Alto, poderoso, e incrivelmente
irritante. E ao mesmo tempo… instigante.
Meu corpo ainda carregava os resquícios da energia
que ele trouxe consigo, um arrepio subindo pela espinha
quando lembro da forma como me olhou.
Senti um calafrio na espinha e acordei assustada.
— Pare de pensar nisso, tire-o da sua cabeça e foque
em resolver suas coisas e voltar para sua vida — me
repreendi.
Deixei o livro na poltrona, fui até a janela e encarei a
floresta lá fora. A escuridão parecia densa, a neblina se
arrastava pelas árvores e um silêncio, exceto pelo vento,
tomava conta do lugar.
Eu tinha que admitir, havia algo de mágico nesse
lugar. Mesmo assim, aquela sensação inquietante, como se
eu estivesse à beira de um precipício, não me deixava.
Foi então que ouvi.
Um ruído distante, um som profundo e ameaçador
que fez os pelos da minha nuca se arrepiarem.
O silêncio da noite foi quebrado por algo.
— Será um animal? Aqui tem animais?
Tranquei a janela e dei um passo para trás, enquanto
a tensão se acumulava em meu peito.
Corri pela casa fechando tudo o que podia, mas o som
foi ficando cada vez mais alto, mais próximo. Um rosnado.
Algo estava se movendo na escuridão lá fora, entre as
árvores.
A adrenalina começou a pulsar em minhas veias, e
por um segundo, fiquei paralisada.
— Só estou ouvindo coisas — puxei o sofá para fazer
uma barricada na porta. — Não há nada lá fora.
E como todas as decisões que tomei na vida, eu
estava errada.
Houve um baque surdo contra a porta da frente, tão
forte que a casa inteira estremeceu. Meu coração disparou e
dei um salto para trás, batendo na mesa.
— O que foi isso? — murmurei.
Tentei convencer meus pés a se moverem, mas meu
corpo parecia colado no chão.
Então, ouvi outro baque, seguido por um som baixo e
gutural. Algo estava lá fora, algo grande e irritado.
— Isso é um urso? — procurei por qualquer coisa que
estivesse ao alcance para me defender.
No fundo, eu sabia que não era um urso. Havia algo
naquele som, uma sensação quase humana na raiva que ele
carregava.
Respirei fundo, reunindo a coragem que me restava, e
caminhei lentamente em direção à janela ao lado da porta.
Meus dedos tremeram quando afastei a cortina, meu
coração martelou em meus ouvidos.
— Você é ou não é uma jornalista investigativa?
Coragem! — Resmunguei.
Abri uma pequena fresta da cortina e espreitei para
fora. A escuridão era opressiva, engolindo tudo ao redor, e
por um momento, não vi nada. Então, meus olhos se
ajustaram, e eu os vi.
Lobos. Grandes, maiores do que qualquer lobo que eu
já tinha visto, seus olhos brilhando em um tom
avermelhado, quase demoníaco. Eles estavam parados do
lado de fora, os corpos tensos, as patas afundando na terra
como se se preparassem para atacar. Um rosnado profundo
escapou de um deles, e senti meu corpo se congelar.
— Isso não é real —esfreguei meus olhos. — Estou
apenas dormindo!
Era real.
O lobo da frente deu um passo à frente, suas narinas
se alargando enquanto farejava o ar. Ele me olhou
diretamente, e naquele olhar, havia inteligência, como se
soubesse exatamente quem eu era e o que queria.
Meu peito apertou, e por um momento, eu achei que
fosse desmaiar.
Fechei a cortina e recuei até bater na parede do
corredor.
— Tá, o que faço agora? Pego uma faca? Acendo fogo?
Minha respiração saía em curtos arfares. Não tinha
para onde fugir. Eles estavam lá fora, me cercando,
esperando… por mim?
O próximo golpe na porta foi tão forte que rachou a
madeira, e eu gritei, cobrindo a boca com as mãos para
abafar o som. Minha mente corria, procurando
desesperadamente por uma solução. O celular! Corri pela
sala, peguei meu celular e disquei a emergência.
— É claro, fora de área. Mas que droga!
Houve outro golpe, desta vez mais perto.
— Eles vão entrar. Eles vão entrar e estou sozinha!
O próximo golpe contra a porta fez o chão vibrar, e eu
senti a madeira ranger sob o impacto. Antes que pudesse
entender o que estava acontecendo, um uivo estridente
cortou o ar lá fora, tão alto que meus ouvidos zuniram.
Corri para a janela, meu coração batendo como um
tambor, e espreitei através das cortinas. E então, eu o vi.
Drakhar se lançou para o meio do círculo de lobos. Em
sua forma animal, ele era um colosso, muito maior do que
qualquer lobo ao seu redor, com uma pelagem negra que
parecia absorver a luz da lua.
Ele rosnou, um som profundo e reverberante que
ecoou pelo chão e subiu pelas minhas pernas como um
choque.
Os lobos atacaram de uma vez com os dentes
brilhando, e o mundo se tornou um borrão de movimento.
Eu podia ouvir o estalo dos dentes se chocando, o som do
impacto enquanto corpos se arremessavam um contra o
outro com força brutal.
Cada vez que Drakhar se movia, o chão sob meus pés
parecia tremer, como se estivesse absorvendo a violência
da luta.
Ele se esquivou de um ataque, girando o corpo com a
agilidade de um predador, e então se lançou contra dois
lobos ao mesmo tempo, suas garras rasgando o ar com um
silvo assustador.
O cheiro do sangue chegou até mim, metálico e
cortante, fazendo meu estômago revirar.
— Meu Deus… — murmurei, incapaz de desviar os
olhos.
Drakhar estava dominando a luta, mas a cada golpe,
a cada avanço feroz, eu podia ver o esforço em seus
movimentos.
O rosnado de dor escapou de sua garganta quando
um lobo conseguiu morder seu flanco, e um gemido de
horror subiu por minha própria garganta.
Ele não recuou.
Em vez disso, ergueu-se sobre as patas traseiras, uma
figura escura e aterradora contra o brilho da lua, e então
desceu com uma força esmagadora. O impacto fez a terra
vibrar, enviando uma onda de energia pelo solo que subiu
através das solas dos meus pés.
Os lobos hesitaram, mas então atacaram de novo,
com uma fúria renovada. O som das garras rasgando a
terra, dos corpos colidindo, era ensurdecedor.
Eu podia sentir cada fibra do meu ser tensionada,
como se estivesse conectada a tudo o que acontecia lá fora.
A respiração ficou presa em minha garganta quando
Drakhar recuou, os flancos arfando, o sangue escorrendo
por sua pelagem escura.
— Não, não, não… —sussurrei, minhas mãos
apertando a cortina até meus dedos ficarem brancos.
Ele estava sendo empurrado para trás, para fora do
portão, e algo nele parecia estar quebrando, como se cada
passo fosse um fardo insuportável.
Mas então ele parou. Ficou imóvel por um segundo
que pareceu uma eternidade. Os lobos ao redor recuaram
levemente, rosnando baixo, aguardando seu próximo
movimento. A tensão no ar era sufocante, e eu podia sentir
meu coração batendo tão forte que ecoava em meus
ouvidos.
E então, ele avançou.
Com um rugido que parecia surgir das profundezas da
terra, Drakhar se lançou para frente, e o som de sua
investida foi como o de uma onda se quebrando contra
rochedos.
Os lobos se dispersaram, tentando escapar da força
devastadora que ele liberava. O chão tremeu sob o impacto,
e uma onda de poeira subiu ao ar, cegando minha visão por
um momento.
Quando a poeira baixou, eu o vi.
Drakhar estava de pé, solitário e triunfante no meio
do caos. Sua pelagem estava suja de terra e sangue, os
músculos tensos, os flancos arfando.
E então, lentamente, ele se virou em direção à casa,
os olhos prateados encontrando os meus através da janela.
A força e a ferocidade daquele olhar me atingiram como
uma rajada de vento, tirando todo o ar dos meus pulmões.
Pisquei os olhos e vi os pelos começarem a
desaparecer, mas o tamanho não diminuiu. As roupas
rasgadas revelaram os músculos tensionados e feridos, ele
foi diminuindo o tamanho até voltar a sua estatura normal –
ainda assim, um homem alto, forte e pálido.
O poder em sua postura e a ameaça silenciosa em seu
olhar desapareceu quando ele desmaiou.
Soltei a respiração que estava prendendo, sentindo
meu corpo desmoronar em um misto de alívio e confusão.
Saí de casa às pressas e corri em sua direção.
— O que houve? Eles te feriram? O que aconteceu
com você?
Ele não respondeu, foi perdendo a cor, como se
estivesse sendo asfixiado.
— Está frio? Tem algum machucado grave? — Tateei
seu corpo em busca de um ferimento e encontrei um lobo
abaixo de sua costela.
Reuni toda a força dos braços para puxá-lo em direção
à casa. Quando consegui, deixei Drakhar diante da lareira e
fui em busca de um kit de primeiros socorros.
De forma desajeitada e com os dedos trêmulos tirei
sua camisa, limpei sua ferida e coloquei muitos band-aid
para fechar o ferimento.
Então a mão dele, quente e forte segurou em cima da
minha.
— Eu preciso dar pontos nesse ferimento.
— Você? — arregalei os olhos. — Não, você está fraco,
machucado…
Ele me ignorou, pegou na maleta o que precisava e
fez o serviço, tão bem quanto um cirurgião, parecia até que
estava acostumado com aquilo.
A cor em seu rosto voltou, o brilho em seus olhos
aumentou.
— O que foi tudo isso? — Minha voz saiu mais alta do
que pretendia.
— Você está em perigo — segurou em minha mão.
O frio da noite imediatamente desapareceu, foi como
se existissem dezenas de lareiras ao nosso redor, as
chamas bailando pelos nossos corpos, nos aquecendo.
— E não é um perigo que você pode enfrentar
sozinha.
Olhei para ele, tentando encontrar algo que fizesse
sentido. Mas nada fazia. Ele estava ali moribundo e de
repente havia voltado a ser misterioso e poderoso, como se
não tivesse enfrentado 7 lobos, como se ele mesmo não
fosse um lobo gigante.
Aquilo me assustava, mas ao mesmo tempo, me
puxava em direção a ele feito um ímã.
— Você quer a casa? Fique com ela. Eu não quero
mais estar aqui. Só… me diga o que está acontecendo! —
minha voz saiu trêmula.
— Brianna — seu aperto em minha mão aumentou.
E isso me deixou sem fôlego.
— Oi — sibilei, tentando me acalmar.
— Preciso de você aqui.
Olhando no fundo dos olhos dele, pela primeira vez na
vida, percebi que estava à beira de algo inevitável. Algo que
ia além de tudo o que a vida tinha me ensinado.
D
CAPÍTULO 9
BRIANNA FOSTER
RAKHAR dormia pesadamente diante da lareira, seus
músculos tensos finalmente relaxando enquanto eu
terminava de limpar a bagunça da noite.
Olhei para ele, sentindo uma tempestade de emoções
que não conseguia controlar. O ataque dos lobos tinha sido
brutal, violento, e eu sabia que ele havia se ferido
gravemente para me proteger.
No entanto, eu não entendia nada do que estava
acontecendo.
— Por que esses lobos vieram atrás de mim?
Eu me sentei no chão, encostada na parede, tentando
organizar os pensamentos. Meus olhos continuavam a vagar
em direção a Drakhar, mesmo quando eu tentava olhar para
qualquer outro lugar.
Ele era tão… poderoso.
Mesmo agora, com as roupas rasgadas e os
ferimentos ainda visíveis em sua pele, a força que emanava
dele era quase palpável. E era isso que me assustava.
Eu sabia que deveria estar mais preocupada em sair
daqui, em vender a casa e voltar para a minha vida normal.
Mas, ao mesmo tempo, havia algo que me prendia a
esse lugar.
Era como se fugir fosse errado.
Como se houvesse algo que eu precisava entender
antes de tomar qualquer decisão.
E de alguma forma eu sentia que Drakhar era parte
disso.
— Droga — murmurei, esfregando o rosto com as
mãos. — O que está acontecendo com a minha vida?
Foi então que ele se mexeu.
Eu prendi a respiração enquanto seus olhos se
abriram lentamente, e ele olhou diretamente para mim. O
calor de seu olhar foi como um soco no estômago, intenso e
perturbador.
Uma parte de mim queria recuar, queria gritar para
que ele ficasse longe. Mas meu corpo se recusou a se
mover.
— Você está bem? — perguntei, a voz um pouco
trêmula.
Uma parte de mim queria chacoalhá-lo, exigir
respostas. Mas, no momento, tudo o que consegui foi
sussurrar.
— Estou. — Ele se ergueu devagar, apoiando-se nos
cotovelos, e por um segundo vi um lampejo de dor
atravessar seu rosto. — Você está?
Assenti, embora a resposta estivesse longe de ser
verdadeira.
Eu não estava bem. Eu estava apavorada, confusa, e
irritada comigo mesma por estar tão… afetada por ele.
Ele passou a mão pelo rosto, tentando clarear os
pensamentos.
Eu me levantei, cruzando os braços em um gesto
defensivo, mais para me proteger das perguntas que eu
sabia que precisaria fazer.
— O que aconteceu aqui, Drakhar? — Perguntei.
Minha voz estava tensa e não tinha como ser
diferente.
— Por que esses lobos me atacaram? O que eles
querem? E o mais importante… — respirei fundo, forçandome a olhar diretamente nos olhos dele. — O que você é?
Ele suspirou, fechando os olhos por um instante antes
de se levantar, apoiando-se na parede da lareira para se
equilibrar.
Havia uma luta evidente em seu rosto, como se ele
estivesse debatendo internamente o que deveria ou não me
contar.
— Você está pronta para ouvir? — sua voz saiu baixa e
rouca.
Eu me aproximei dele, sentindo a raiva crescer em
meu peito.
Pronta? Eu quase morri e ele estava perguntando se
eu estava pronta?
— E quando vou estar pronta, no próximo ataque?
Depois que mais lobos tentarem me matar? Depois que
enlouquecer com todas essas perguntas sem respostas?
Ele se virou para mim, os olhos brilhando
intensamente.
Por um segundo, pensei que ele fosse gritar de volta,
mas em vez disso, sua expressão suavizou, tornando-se
quase… triste.
— Eles não vieram te matar — ele murmurou, olhando
para o chão. — Vieram te sequestrar.
— Nossa, isso me gerou um alívio…
— Esta casa foi construída em cima da montanha,
mas não é uma simples montanha, é algo muito maior do
que você imagina. Algo que envolve não apenas essa
cidade, mas… nós.
Meu coração deu um salto.
Nós?
O que ele queria dizer com isso?
— Explique melhor.
Ele olhou para mim, e pude ver a luta interna em seus
olhos.
Havia algo que ele queria dizer, algo que ele
precisava compartilhar, mas que parecia difícil demais.
Drakhar olhou para a janela, o olhar perdido na
escuridão da floresta lá fora. Por um momento, pensei que
ele não responderia. Então, ele falou, sua voz soando como
se estivesse arrastando palavras de um lugar profundo e
doloroso.
— Esta casa… — começou, hesitante. Seus olhos se
voltaram para mim, e vi a sombra de algo antigo ali. —
Pertence à sua família há gerações. Você sabe disso, certo?
Mas o que você não sabe é que a montanha onde ela foi
construída… — Ele parou, um músculo se contraindo em sua
mandíbula. — É um lugar sagrado para nós.
— Sagrado?
Minha mente tentou entender, mas o peso de suas
palavras estava esmagando minha lógica.
— A lua é a fonte do nosso poder. A deusa. Ela nos
guia, nos fortalece. E esta montanha… é onde sua energia é
mais forte.
Fiquei em silêncio, tentando encontrar um ponto de
apoio em tudo aquilo. A sala parecia fria de repente, o
crepitar da lareira atrás de mim como um eco distante.
— Mas por que eu? — Minha voz saiu como um
sussurro. — O que eu tenho a ver com isso?
Drakhar se virou, seus olhos prateados brilhando à luz
da lareira.
Havia algo neles, uma espécie de reverência
misturada com medo.
— Porque você, Brianna, não é uma humana qualquer.
Você é… — Ele hesitou, como se a palavra fosse algo
proibido. — Você é a nossa lua.
O chão pareceu se mover sob meus pés.
— A lua?
Quis rir, mas a seriedade em seu rosto impediu o som
de sair. Tudo dentro de mim gritava que aquilo era loucura.
Mas então, um arrepio percorreu minha espinha, como se
algo no ar ao nosso redor estivesse reagindo às palavras
dele.
— Quem é o seu povo?
— Nós somos lobos e a lua é a fonte do nosso poder,
nossa rainha.
Minha cabeça girou. Nada disso fazia sentido.
— E o que você é, Drakhar?
Ele se virou lentamente para me encarar, e quando
seus olhos encontraram os meus, eu senti um arrepio
percorrer minha espinha.
— Eu sou parte disso. Sou o Alfa máximo da minha
Alcateia, sou o guardião dessas terras. E você, Brianna, é a
lua.
A sala pareceu girar ao meu redor.
As palavras dele atingiram meu peito como uma onda,
deixando-me sem ar. Guardião? Eu era a lua? Eu não sabia
se queria rir ou gritar. Isso era ridículo. Era impossível.
E, no entanto, havia algo em seu tom, em seu olhar,
que fazia tudo parecer… verdadeiro.
— Então você está dizendo que agora… eu faço parte
disso?
— Sim. — Ele se aproximou, os olhos cravados nos
meus. — E é por isso que você está em perigo. Outros
querem estas terras, este poder. Eles não vão parar até
conseguirem.
— Por que não fizeram isso com a minha tia-avó? Essa
casa não parece ter sofrido qualquer ataque antes de hoje…
— Karen era uma alfa — explicou. — Raro entre as
mulheres, mas acontece. Mantivemos boas relações em
proteger a cidade, mas ela se foi.
— E eu sou o quê? — Ri de nervoso.
— Ômega.
— Está dizendo que eu sou a deusa lua?
— A minha.
Aquilo havia me deixado toda arrepiada e fraca.
— Eu sou uma loba?
— Será a mãe de toda uma geração de Alfas, meus
filhos.
Arregalei os olhos e senti a boca seca. Muitas coisas
se passaram pela minha cabeça e todas elas despertaram
um desejo ardente e um medo irrefreável.
— E se eu não quiser?!
— O meu poder e o seu vão enfraquecer e os Mordrak
vão tomar essas terras e a montanha da lua — umedeceu
os lábios e me olhou com cuidado. — Eles sequestram as
Ômegas, desrespeitam seus poderes, o corrompem.
— E você respeita o meu poder?
— Desde que atingi a maioridade, Brianna, eu uivo
para a lua, chamando por você.
A tensão entre nós era como uma corda esticada ao
máximo. Meu coração estava batendo tão rápido que
parecia que ia explodir.
Parte de mim queria gritar, empurrá-lo para longe e
dizer a ele para ir embora e me deixar em paz. Mas a outra
parte… queria se aproximar, queria entender. Porque, no
fundo, eu sabia que fugir não era mais uma opção.
— Não confio em você.
Ele fechou os olhos por um momento, respirando
fundo.
Quando os abriu novamente, a determinação brilhava
em seu olhar.
— Não precisa confiar em mim, Brianna — disse
calmamente. — Precisa confiar apenas em si mesma. Há
algo dentro de você e quando se conectar a sua verdadeira
natureza, você chamará por mim. E isso será tão forte que
suas perguntas parecerão nada perto do CIO.
— CIO?
— Você vai chamar por mim e eu atenderei ao seu
chamado. Eu te farei minha rainha e reestabeleceremos o
poder e equilíbrio como deve ser.
Eu não sabia o que dizer.
As palavras dele atingiram algo profundo dentro de
mim, algo que eu não queria admitir. Porque parte de mim
sabia que ele estava certo. Havia uma conexão aqui, uma
ligação que eu não podia mais ignorar. Olhei para ele,
minha mente um caos de pensamentos e sentimentos.
— E se eu não quiser?
Ele se aproximou mais, até que nossos corpos quase
se tocassem. Ele segurou em minha cintura, seus dedos me
apertaram de um jeito possessivo e dominador. Sua
presença era quente, intensa, como uma chama que me
envolvia e me fazia esquecer o frio da noite.
— Eu vou esperar até que você queira, aguardei
muitos anos, te procurei por todos os cantos, sou paciente
— a voz saiu baixa e firme. — Eu sou Alfa, você é Ômega.
Você alimenta o meu poder, e em troca, eu te transformo
numa deusa rainha para governar ao meu lado e curar a
terra.
Meu peito se apertou com as palavras dele.
Era como se ele estivesse me chamando para algo
maior, algo que eu não conseguia entender totalmente. E,
pela primeira vez, eu senti a verdade nisso. Não estava
mais apenas orbitando em torno desse lugar, desse conflito.
Eu fazia parte dele.
Eu respirei fundo e, finalmente, olhei nos olhos dele.
— Então me mostre, Drakhar. Me mostre o que
significa ser parte disso.
E
CAPÍTULO 10
BRIANNA FOSTER
U o encarei, esperando que ele recuasse. Mas Drakhar
não se mexeu. Ele se manteve ali, próximo a ponto do
calor de seu corpo irradiar, como uma brasa prestes a
incendiar tudo o que estivesse ao nosso redor.
Minha respiração acelerou, e por mais que eu
tentasse, não consegui desviar o olhar dos seus olhos
prateados.
Havia algo ali, algo que me puxava para ele como um
ímã.
O ar parecia se tornar mais denso, carregado de uma
energia que fazia minha pele se arrepiar. Meu coração
martelava em meus ouvidos, abafando todos os
pensamentos racionais.
“Não posso,” minha mente protestou, mas meu corpo
se inclinou, se aproximando, quase sem perceber.
Ele ergueu a mão, como se fosse me tocar, e todo o
meu corpo se enrijeceu em antecipação.
Eu prendi a respiração, meus lábios se entreabriram
sem que eu me desse conta. O calor de sua palma se
aproximou da minha pele, como se ele estivesse testando o
quanto podia se aproximar sem quebrar algo invisível entre
nós.
“Isso não faz sentido,” pensei, mas não recuei.
O perfume dele – uma mistura de terra molhada e
algo amadeirado – envolveu meus sentidos, tornando
impossível pensar em qualquer coisa além do homem à
minha frente. Meus nervos ficaram em alerta, cada célula
do meu corpo aguardando o que ele faria a seguir.
Drakhar se inclinou, sua respiração tocando minha
pele, quente e suave como um sussurro. Eu fechei os olhos
por um momento, uma onda de calor subindo do meu
estômago até o meu rosto.
Tudo em mim gritava para recuar, para fugir desse
impulso. Mas, ao mesmo tempo, a ideia de dar um passo
para trás era dolorosa, como se eu estivesse prestes a
perder algo que nunca soube que queria.
— Você está tremendo — ele murmurou.
Eu mal conseguia respirar.
Ele estava tão perto que eu podia sentir o calor dos
lábios dele, a distância entre nós se tornando cada vez
menor. Meu corpo se inclinou mais, como se eu não tivesse
mais controle sobre os meus movimentos.
O mundo ao nosso redor sumiu; não havia mais
floresta, montanha, casa. Só havia nós dois, orbitando em
um momento que parecia prestes a se partir ao meio.
Drakhar se moveu, sua mão tocou meu rosto com
delicadeza. Seus dedos eram quentes, firmes, enquanto
deslizavam pelo meu maxilar, acariciando minha pele. O
toque dele enviou uma corrente elétrica pelo meu corpo,
fazendo com que eu me arqueasse involuntariamente em
sua direção.
Meu coração disparou.
Seus olhos, fixos nos meus, escureceram por um
instante, e a tensão entre nós se tornou quase palpável,
uma corda esticada ao máximo. Eu sabia o que estava
prestes a acontecer. Meu corpo sabia. Meus lábios se
entreabriram, convidando o inevitável.
“Não!” algo gritou dentro de mim, mas era um
sussurro diante do furacão de emoções que me tomava.
Seus lábios estavam tão próximos agora que eu podia
sentir o calor deles, e minha pele queimava em resposta.
Estávamos a um passo do ponto sem retorno. Meus
olhos fecharam por um breve segundo, e naquele instante,
senti que o mundo estava prestes a mudar.
— Brianna! — Uma voz feminina quebrou o momento
como vidro estilhaçado.
Eu recuei, ofegante, enquanto o ar frio da sala invadia
o espaço onde o calor dele havia estado.
O mundo voltou a se alinhar, e, por um segundo, senti
raiva pelo que tinha sido interrompido. E muita raiva de
mim mesma por querer aquilo.
Drakhar também recuou, seu rosto tenso, a mandíbula
travada. Ele fechou os olhos por um instante, respirando
fundo, antes de se virar em direção à porta.
— O que foi? — ele rosnou.
Eu ainda estava ofegante, meu coração martelando
contra as costelas.
— Quem é você? — perguntei.
— Eu me chamo Amber, sou filha da Naomi.
— Ah — a tensão em mim desapareceu. — Prazer,
Amber. Sua mãe me levou mais cedo na livraria-café onde
você trabalha, mas não te vimos lá.
— É, eu precisei sair por uns momentos para renovar
o estoque de leite… — ela lançou um olhar significativo para
Drakhar.
Ele assentiu, passando a mão pelos cabelos em um
gesto irritado, mas mantendo-se calmo.
— Podemos conversar em particular? — Amber
encarou Drakhar.
— Claro.
— Depois quero falar com você, fique aqui — ela
pediu.
Eu fiquei ali, imóvel, enquanto ela se afastava,
seguindo Drakhar. O ar ao meu redor parecia mais frio, mais
vazio sem a proximidade dele. Eu fechei os olhos, tentando
acalmar minha respiração.
“Isso não pode acontecer,” pensei. “Eu não posso… eu
não quero…”
Mas as palavras pareciam vazias diante do que eu
realmente sentia.
Meu peito estava em chamas, e minha mente, em
caos.
“Como ele tem esse efeito sobre mim?”
Ele era perigoso, possessivo, um lobo. Eu sabia que
qualquer coisa entre nós seria um desastre. Mas ao mesmo
tempo, a ideia de me afastar, de não sentir aquilo de novo…
parecia impossível.
Eu sabia que estava em uma encruzilhada.
Eu podia continuar negando o que estava crescendo
entre nós, focar em ir embora, em vender a casa e deixar
tudo isso para trás. Ou podia ficar, aceitar o que sentia,
mesmo que isso significasse enfrentar um mundo que eu
não entendia completamente.
“Duas opções. Ambas ruins.”
E, mesmo assim, eu precisava decidir.
Eu inspirei fundo e caminhei até a janela, olhando
para a floresta lá fora. Senti o peso do que estava por vir,
minha decisão seria capaz de mudar tudo.
“De jeito nenhum,” pensei, com os olhos fixos no
horizonte. “Eu não vou me apaixonar por ele. Eu não posso
me deixar levar. Ele é um lobo.”
Assim que esses pensamentos foram concluídos,
Amber retornou para dentro da casa, fechou a porta e
desenhou com o dedo indicador alguma coisa na madeira
rachada.
— Para onde ele foi? — espiei pela janela.
— Ver como estão as coisas. Ele prometeu que 4 dos
melhores homens dele virão nos proteger.
— Certo — respirei aliviada. — Onde está a sua mãe?
— Eles a levaram, Brianna.
— Eles?
— Os Mordrak. Pelo visto, além de Ômegas, agora eles
também raptam bruxas. Pelo menos as que conhecem as
propriedades das pedras da lua.
— Espera — pedi uma pausa com a mão. — Bruxas?
— Acho que chegou a hora de saber a verdade,
Brianna. Sente-se.
E
CAPÍTULO 11
BRIANNA FOSTER
U fiquei olhando para Amber, esperando ela começar a
falar. Mas a verdade é que eu não sabia se queria ouvir.
Depois de uma noite caótica tudo o que eu queria era fazer
as malas e dar o fora daqui para poder escrever artigos
sobre panos do século XVIII.
— Acho que tudo isso é muito para absorver no seu
primeiro dia…
Amber me olhou com compaixão e segurou em meu
ombro, levando-me até a poltrona. Eu sentei, cruzei os
braços em um gesto automático de defesa.
— Não consigo acreditar em nada disso. Estou em
negação.
— É claro que está em negação, esteve distante da
sua natureza a vida toda que ouvir a verdade entrou em
choque…
— Como assim distante da minha natureza, Amber?
Ela sorriu de forma compreensiva.
— Sua tia-avó Karen uma vez me disse que a primeira
e última vez que você esteve aqui, quando bebê para
receber o batismo da lua, chamou a atenção de todos os
lobos a pelo menos 1000km de distância.
— Espera, batismo da lua?
— Uma Ômega precisa ser apresentada à sua lua de
origem, no local da sua montanha, senão pode sofrer
transformações incontroláveis.
Semicerrei os olhos.
— Está dizendo que eu posso virar uma loba como
aqueles que atacaram a minha casa?
— Sim, mas não agora.
Ela me pediu paciência, pelo visto, tinha mais a
contar.
— Minha mãe é uma das guardiãs da montanha, ela
foi melhor amiga e secretária da sua tia-avó.
— Hum.
— Sempre existiram bruxas que serviam para
proteger o poder da lua, da montanha e das pedras. E agora
ela foi capturada pelos Mordrak.
— Mas você sabe, não é? Proteger os poderes?
— Na verdade, não. Nunca pensei que esse momento
chegaria e eu… estou com medo. Mas você está aqui —
tentou sorrir para me encorajar.
— Não faço ideia do que fazer. Nem sei se acredito,
Amber, desculpa.
— Sua vida foi um grande tédio. Até nas coisas que
era boa, nunca sentiu que era o suficiente. Você se sentiu
deslocada, como se fosse incapaz de achar seu lugar,
ninguém te valorizou ou te olhou como você merecia.
A descrição dela sobre a minha vida me deixou toda
arrepiada.
— Isso tudo ocorreu porque viveu contra sua natureza,
longe do fluxo da sua energia.
— E qual seria o fluxo da minha energia?
— Ser adorada pelos lobos, ser a rainha deles. Ser a
esposa do Alfa supremo.
— Amber, eu sou uma pessoa comum. Sou
preguiçosa, sou jornalista, não estou preparada para nada
disso… por que eu?
Amber inclinou a cabeça, com um brilho no ar.
— Por que você é uma Ômega. E não uma qualquer.
Só uma Ômega pode aumentar a força de um Alfa — ela
apontou para a porta. — Existe um encanto nessas terras,
nenhum lobo pode pisar aqui.
— 8 pisaram. 7 para me matar, 1 para me proteger.
— Aqueles 7 tem Ômegas para si. Eles as
sequestraram, tomaram seus poderes e as mantém como
escravas.
— E o Drakhar?
— Você é a Ômega dele. Ele ficou ferido ao pisar
nessa terra, mas lutou contra todos os poderes que minha
mãe e dezenas de ancestrais colocaram aqui só para te
salvar.
Fiquei em silêncio por um momento, refletindo sobre
isso.
— A barreira agora está enfraquecida. Eles voltarão
para pegar você, porque assim aumentarão seus poderes e
poderão corromper tudo o que esta montanha representa.
Por favor, me ajude a salvar a minha mãe!
“De jeito nenhum”, pensei. “Não posso fazer parte
disso.”
Movi a cabeça em negação quando as palavras de
Amber me atingiram. Levantar e fugir parecia uma opção
cada vez mais distante.
— Não pedi para ser escolhida. Não quero ser uma
Ômega — as lágrimas começaram a se formar, queimando
os cantos dos meus olhos. — Eu só queria vender essa casa
e seguir com minha vida.
Amber suspirou e se inclinou para frente, segurou em
minha mão.
— Eu te entendo. Mas se você fugir, eles vão tomar a
montanha. E não vai demorar até que te sequestrem
também.
Meu peito se apertou.
Eu não queria ser responsável por nada disso. Não
queria carregar esse peso. E então, uma ideia me atingiu
como um soco.
— E o Drakhar? Ele pode enfrentá-los?
— Mesmo sem uma Ômega e com menos lobos, o
único capaz de colocar medo não só nos Mordrak como em
outras Alcateias é o Drakhar. Ele é forte, mas com sua
Ômega, ele será o maior de todos os lobos.
“Então é isso”, pensei. “Eu sou um símbolo, uma
ferramenta, um meio para um fim.”
Uma parte minha queria gritar com ela, com Drakhar,
com o universo inteiro por ter me colocado nessa situação.
Eu me levantei abruptamente, os nervos à flor da pele.
— Eu não posso fazer isso, Amber!
Me afastei quando ela caminhou até mim.
— Eu não sou forte o suficiente para lutar contra
lobos, bruxas ou seja lá o que for, e… não quero ser usada.
Só vou voltar para casa.
— Você não entendeu, Brianna — ela sorriu, nervosa.
— Você não será usada, você é uma fonte inesgotável de
poder e nas mãos do lobo certo, poderá salvar a todos nós.
Se decidir ir, ninguém irá impedi-la, porque você é mais
forte do que qualquer um de nós.
Eu? Forte?
— Mas longe da sua montanha, lua e fonte de poder,
eles irão atrás de você. E destruirão tudo por aqui.
As palavras dela me atingiram como um golpe.
“Duas opções ruins.”
Eu poderia fugir, mas sempre viveria com a sombra
de ser caçada, e a culpa de ter deixado tudo para trás. Ou
eu poderia ficar e enfrentar algo que eu nem sabia se
conseguiria enfrentar.
— Se eu ficar há alguma chance?
— Só há uma chance com você aqui.
Amber deu um passo a frente, os olhos brilhando com
algo que parecia esperança.
— Uma Ômega na Alcateia atrai outras naturalmente.
Se for seu desejo ir embora, faça quando tiver
reestabelecido o equilíbrio e a força dos Karagan.
Respirei fundo, sentindo o peso da decisão que eu
teria que tomar. O medo ainda estava lá, mas eu não podia
esconder que ao pisar naquela cidade, para ser mais
específica, naquela montanha, eu me sentia outra pessoa.
— Drakhar é uma boa pessoa?
— Ele pisou em local sagrado e protegido, vai sentir
dores por anos e mesmo assim, enfrentou aqueles lobos —
ela sorriu. — Ele é um bom lobo.
Eu fechei os olhos, tentando encontrar um resquício
de certeza em meio à tempestade de emoções. Eu não me
sentia preparada, mas também não podia deixar aquilo
acontecer. E mesmo enquanto eu negava isso em voz alta,
no fundo, uma parte de mim já estava aceitando.
“Eu não vou me apaixonar,” pensei mais uma vez,
uma promessa para mim mesma. “Eu não vou ceder.”
— Ok, eu vou ficar.
— É um começo.
— Você vai aprender essas bruxarias e eu vou
aprender a ser a senhora da lua que eles precisam, mas
depois vou embora!
— Tenho certeza que os Karagan e a minha mãe serão
eternamente gratos por isso.
O
CAPÍTULO 12
DRAKHAR KARAGAN
SOL mal havia nascido quando acordei. Meu corpo
permanecia pesado pelos eventos da noite anterior. Eu
sentia as consequências da luta contra os lobos Mordrak, as
dores surdas nos músculos me lembravam de que eu havia
cruzado a barreira sagrada da montanha da lua para
proteger Brianna.
— Alfa? — Kaelan deu algumas batidas na porta do
meu quarto.
— Oi, entre.
— Tem certeza de que não precisa de um médico?
— A dor que sinto não é apenas pelos ferimentos —
sentei na cama e o encarei. — O que foi?
— Temos… visitas.
Eu levantei e me movi lentamente pela casa. Parte
minha, que sentia o cheiro daquela teimosa, desejava que
fosse ela.
— Obrigado — acenei para Vaulkner que me entregou
uma xícara de café quando sentei na poltrona. — Ora, ora,
ora, vejam só quem decidiu aparecer diante de mim…
Encarei quatro figuras, três as quais eu conhecia, a
outa não.
Noah, Troy e Flynn eram bem parecidos quando se
tratava da estrutura física: altos, corpos treinados e pelo
fato de serem betas, um olhar diplomático e quase
carinhoso. Noah era moreno de olhos castanhos, Troy loiro
de olhos azuis e Flynn tinha cabelos pretos longos, olhos
esverdeados.
— Alfa, nos perdoe — Noah se ajoelhou. — Nós…
— Vocês traíram o sangue, o pior de todos os crimes.
Não existe perdão para o que fizeram.
— Nós ouvimos o chamado — Troy explicou.
— Como pode ter escutado o chamado de uma
Ômega antes do seu Alfa? — Kaelan o repreendeu, num
rosnado.
A ideia de qualquer outro da Alcateia ter encontrado
uma Ômega antes de mim era não apenas risível quando
perigoso.
— Não sou uma Ômega — a mulher falou, dando um
passo para frente. — Sou uma Beta. É raro, eu sei, mas os
Mordrak em sua busca por poder, invadiram Forks e me
sequestraram.
— Deixe que falem — disse para que Kaelan abaixasse
a guarda.
— Eu me chamo Skylar. Me tornei amiga das mulheres
que os Mordrak sequestraram, não deles — explicou. —
Noah, Troy e Flynn ouviram meu chamado, me resgataram.
— E o que deseja em minhas terras, Skylar?
— Desejo… fortalecê-los. E prepará-los para a luta que
virá.
— Três lobos para uma Beta? — Kaelan riu.
— Nós somos seus lobos, Alfa — Flynn estufou o peito
para dizer. — Não seguimos seus comandos, mas foi pelo
instinto de autopreservação. O senhor sempre diz que o
instinto está sempre certo.
Concordei de imediato.
— Nos permita voltar para a Alcateia, por favor — Troy
pediu. — Noah, Flynn e eu tomaremos Skylar como nossa
Beta e vamos ficar fortes para honrá-lo.
Entreabri os lábios para responder, mas parei antes
que as palavras saíssem.
— Temos visitas — suspirei.
A campainha tocou um segundo depois.
Levantei quando Brianna entrou em minha casa,
parecia pequena e assustada, mas estava nítido que tinha
vindo por vontade própria.
Quando ela finalmente parou diante de mim, seus
olhos castanhos encontraram os meus. Havia determinação
neles, mas também um toque de hesitação.
Eu fiquei em silêncio, esperando que ela falasse
primeiro.
— Precisamos conversar, Drakhar.
— É claro. Café?
— Com açúcar e leite, por favor — pediu e olhou ao
redor, pareceu surpresa ao ver Skylar.
Vaulkner saiu em busca do café e eu sentei.
Ela respirou fundo, desviando o olhar por um instante
antes de voltar a me encarar.
— Eu decidi ficar — começou. — Vou ajudar você a
proteger a montanha, a manter o equilíbrio, ou o que quer
que seja. Mas… — ela parou, a hesitação retornando. — Eu
vou embora quando tudo isso acabar. Essa é a condição.
Meu peito se apertou com aquelas palavras.
“Ela ainda quer fugir,” pensei, mas assenti
lentamente.
— Contanto que enquanto estiver aqui, cumpra seu
papel.
— Eu cumprirei.
— Aceito sua condição, um lobo só pode ser rei se
tiver uma rainha ao seu lado. E a partir da próxima lua
cheia, você será a minha rainha.
— É por isso que estou aqui — ela descruzou os
braços. — Amber disse que você é o único que pode me
ajudar a entender… isso. Então me ensine.
Uma parte de mim queria sorrir.
“Tão pequena e tão corajosa,” pensei, admirando-a.
— Esses são Noah, Troy e Flynn — apontei com a
cabeça para os homens diante de nós. — São Betas da
minha Alcateia e a abandonaram, dias atrás. Abandonar a
Alcateia é trair o sangue, o pior crime. Eles se juntaram aos
Mordrak e agora estão aqui.
Brianna virou o rosto em direção a eles, atenta e
curiosa.
— Por que voltaram?
— Nunca quisemos ir. Não por vontade própria.
— Ouvimos o chamado da nossa loba.
— O chamado dela… os 3 ouviram?
— Isso.
Brianna assentiu com cautela.
— E você está tranquila com isso? — Perguntou a
Skylar.
— Quando eles se aproximaram de mim, foi como se a
lua estivesse cheia… e quando me tocaram, eu me senti
uma só com os poderes que unem a terra e o céu — ela
respondeu. — Então, sim, estou tranquila com isso.
Brianna me encarou, pensativa.
— Pensei que o chamado fosse algo importante.
— E é.
— Mais importante do que seu Alfa?
Meditei um pouco no assunto.
— Faz parte da natureza do lobo o chamado.
— Então eles foram fieis a sua própria natureza para
serem fieis a você — Brianna concluiu. — Eles são
inocentes.
Noah, Troy e Flynn sorriram, aliviados. Mas eu os
encarei com severidade, então automaticamente fecharam
o cenho e abaixaram suas cabeças.
— Seja bem vinda a Alcateia, Skylar.
— Obrigada, Alfa.
— E agradeçam à sua rainha pela misericórdia —
levantei.
— Obrigado, Alfa — eles repetiram sem parar e depois
se voltaram para Brianna, agradecendo sem parar.
Os três saíram como cachorrinhos felizes, puxando
Skylar. Eu entreguei minha xícara de café para Vaulkner e
peguei a de Brianna, entreguei em suas mãos.
— Difícil ser uma rainha?
— Parece divertido, até agora — ela sorriu.
N
CAPÍTULO 13
BRIANNA FOSTER
O início da madrugada com a lua crescente cintilando
acima de nós no céu eu me vi no topo da montanha,
caminhando entre as árvores, um passo atrás de Drakhar
enquanto ele liderava o caminho.
Confesso que me sentiria mais segura e à vontade
com Amber aqui, mas ela passou o dia na livraria-café da
cidade, enterrada nos livros e anotações da sua mãe para
entender como me ajudar.
Ficar sozinha com Drakhar me deixava inquieta.
Odiava admitir, mas a presença dele era tão intensa
que fazia o ar ao nosso redor parecer mais denso,
dificultando até respirar. Eu estava nervosa, ansiosa e um
pouco irritada por estar diante do desconhecido, pela
primeira vez pensei se não era melhor o meu destino ser
ficar sentada numa mesa de escritório escrevendo artigos
que ninguém queria ler.
— Pronta para começar? — Ele perguntou quando
chegamos diante da velha propriedade da minha família.
— E o que exatamente devo fazer?
Ele me encarou como se fosse óbvio, mas seu olhar
tinha um toque de paciência e diversão, coisa que não
pareceu com todos os outros da Alcateia mais cedo.
— Primeiro precisa encontrar uma pedra da lua,
depois precisa se conectar com ela — ele olhou ao redor. —
Tudo começa por aqui.
— Onde encontro uma pedra da lua?
— A montanha é a pedra da lua — olhou para os
nossos pés. — Até que não tenha uma em suas mãos, pisar
nesse solo, serve. Descalça.
Prontamente tirei meus sapatos e não senti nada de
diferente.
— E como me conecto?
— Precisa sentir. Chamar o seu poder na lua.
Revirei os olhos, levemente irritada pela abordagem
vaga e enigmática. Mas ele não se importou, apenas
começou a andar novamente, me obrigando a segui-lo.
Pisei em folhas úmidas e musgo, nos afastamos da
casa até encontrar uma clareira com vista deslumbrante
para o céu, onde a lua que estava na última fase crescente
para cheia brilhou sobre nós.
A paisagem era imponente, pude ver a cidade em
panorama, sua natureza e beleza a perder de vista, o ar
gélido da noite fez o meu corpo se arrepiar. Drakhar se virou
para mim, observando minha reação com atenção.
— Tire suas roupas.
— O quê? — Falei alto demais, devido ao susto.
— Para tomar um banho de lua — explicou, sua testa
levemente enrugada. — Imagino que não faz isso há anos.
— Eu nunca fiz isso.
— Fez em seu batismo de lua, senão seus poderes
atuariam de forma descontrolada — me olhou dos pés a
cabeça. — Precisa ficar nua.
— Não quero.
— Não vai funcionar se não o fizer — cruzou os
braços.
Eu recuei alguns passos, cruzando os braços sobre o
peito como se pudesse esconder meu corpo das palavras
dele. A ideia de ficar nua ali, ao ar livre, com ele me
observando, me deixou desconfortável.
— Não quero fazer isso, Drakhar — insisti, sentindo o
rosto arder de vergonha. — Meu corpo… eu não gosto de
mostrar meu corpo assim.
Ele me observou em silêncio por um momento, a
expressão séria, mas os olhos suavizaram. Ele deu um
passo na minha direção, mas parou a uma distância segura,
sem me pressionar.
— Por que não?
— Ahn? — Me fiz de desentendida.
— Por que sente vergonha do seu corpo?
Eu hesitei, não sabendo ao certo como colocar em
palavras os sentimentos que me atormentavam há anos.
Respirei fundo e deixei a verdade sair, mesmo que
fosse doloroso.
— Porque ele é… grande, desajeitado. As pessoas
olham e fazem comentários. Nunca me senti bonita, e estar
assim, exposta, me deixa desconfortável — murmurei.
O tempo todo mantive meu olhar voltado para o chão,
evitei os olhos dele.
Drakhar analisou minhas palavras com cuidado e se
aproximou um pouco mais, eu me afastei.
— O seu corpo é… divino.
— Para.
— Ele não é apenas lindo — olhou para o meu quadril,
subiu pelo meu baixo ventre e fixou seus olhos nos meus. —
Ele é forte, poderoso e cheio de vida. É a forma que a lua
escolheu para você, a forma que carrega o poder da
montanha.
— A lua me escolheu assim?
— Precisa aceita-lo, senão continuará bloqueando a
fonte e fluxo do seu poder.
Olhei para ele, encontrando seu olhar fixo em mim.
Não havia julgamento, nem pena. Sempre que se
referiam ao meu corpo, até mesmo minha mãe dizendo que
eu devia fazer uma dieta, eu sentia um tom de maldade. O
que não veio de Drakhar.
— Mas e se… se eu não conseguir aceitar? Eu passei a
minha vida inteira sendo ensinada a me esconder, a não ser
tocada.
Drakhar se aproximou mais, e dessa vez não hesitou
em erguer a mão, tocando meu rosto com delicadeza. O
calor de seu toque me percorreu como uma onda, afastando
o frio que se acumulava dentro de mim.
— Eu quero louvar o seu corpo, quero honrá-lo, quero
te fazer sentir o poder que eu sinto quando toco em você —
murmurou, seus olhos prateados brilhando na luz da lua.
— Drakhar…
— Seu corpo, Brianna, é uma extensão da sua força. A
lua não comete erros. Ela te fez assim por um motivo.
Quando você se olha, vê toda a dor e maldade que te
fizeram no passado, quando eu te olho, eu vejo a minha
deusa.
Meu peito se apertou diante das palavras dele.
Era difícil acreditar que ele poderia ver algo bonito em
mim quando eu mesma não conseguia. Mas ao mesmo
tempo, algo dentro de mim se agitava, uma pequena chama
de coragem que eu não sabia que tinha.
— E se eu não for… boa o suficiente? — perguntei, a
voz falhando.
— Está com medo porque está afastada da sua
natureza, eu entendo. Um lobo que não uiva para a lua
cheia e não corre até os pulmões arderem se esquece de
quem é, assim como um Alfa sem Ômega está perdido.
Meus lábios tremeram.
— Só precisa permitir que seu poder se manifesta e se
lembrará da sua natureza, confie em mim. Deixe a lua te
envolver.
Seu olhar era tão sincero que eu senti um nó se
formar em minha garganta. Como um homem daqueles era
capaz de dizer isso? Uma parte de mim ainda queria resistir,
queria se esconder. Mas a outra parte, a parte que ele
estava chamando, queria confiar, queria sentir essa
conexão que ele dizia estar ali.
Respirei fundo, reunindo toda a coragem que me
restava. Meu coração bateu tão forte que parecia ecoar no
silêncio ao nosso redor.
— Vou tentar.
— É tudo o que precisamos.
— Pode ficar de costas? Olhar para outro lugar?
Drakhar assentiu, recuando um pouco para me dar
espaço.
Seus olhos nunca deixaram os meus, como se
estivesse garantindo que eu sabia que ele estava ali, me
apoiando. Até eu pedir. Então ele se virou e fixou seu olhar
na lua.
Fechei os olhos e, com as mãos trêmulas, comecei a
tirar minhas roupas. Primeiro o casaco, depois a blusa, e em
seguida a calça. A cada peça que caía ao chão, eu sentia o
ar gélido da noite acariciando minha pele, me fazendo
arrepiar. Senti uma onda de vergonha e medo subir em
mim, mas as palavras de Drakhar ecoaram em minha
mente.
Quando fiquei completamente nua, inspirei fundo,
mantendo os olhos fechados. O silêncio ao meu redor era
quase ensurdecedor, e meu coração batia tão alto que
parecia ser a única coisa que eu conseguia ouvir.
Senti uma leve brisa contra minha pele e,
estranhamente, não me senti tão vulnerável quanto
imaginava.
— Não está funcionando. Eu não sinto nada.
— Acalme o seu coração.
— Eu me sinto boba, nada disso tem sentido, é como
se…
Ele deu alguns passos até mim, sem me olhar.
Quando chegou perto do meu corpo, segurou em minha
mão e se posicionou atrás de mim.
Todo o frio e vento do alto da montanha parou de me
afetar.
— Drakhar, o que está fazendo? — perguntei ao
perceber que ele estava tirando sua roupa.
Quando ficou completamente nu, seus braços
envolveram minha cintura. Suas mãos acariciaram meus
braços e lentamente foi subindo até tocar em meus seios.
Ergui o rosto para cima e senti um clarão sair dos
meus olhos até a lua. Foi como uma fração de segundos em
que vi um milhão de imagens de uma só vez e senti como
se meus pés fossem a montanha, meus cabelos o vento,
meus olhos a lua e um calor explosivo girou dentro de mim.
A pulsação que antes era um formigamento agora se
intensificava, como se a energia da lua estivesse fluindo em
cada célula do meu corpo.
Uma lágrima solitária escorreu pelo meu rosto, mas
dessa vez não era de vergonha. Era de libertação. Eu estava
sentindo algo novo, algo verdadeiro.
— Deixe o poder fluir de dentro de você. Aceite sua
natureza.
Deixei escapar um suspiro, uma névoa de vapor
quente se formando no ar frio da noite. A vergonha
começou a se dissipar, substituída por uma sensação de
força e conexão. Fechei os olhos novamente, permitindo que
a lua me envolvesse completamente.
— Você é a minha rainha — Drakhar disse em um tom
baixo ao pé do meu ouvido, quase reverente. — E esse
corpo, essa forma que você tem, é a manifestação da sua
natureza. Abrace-a.
Eu abri os olhos, e dessa vez, olhei para Drakhar com
uma nova sensação de confiança. Ainda havia medo, ainda
havia insegurança, mas eu me sentia poderosa.
— Está acontecendo. Eu posso sentir.
Virei-me para Drakhar para encará-lo. Seu corpo era
escultural, parecia que tinha passado um óleo perfumado,
brilhava à lua da lua. Seus braços eram imensos, assim
como seu peitoral, pernas e coxas, parecia um colosso. Seu
pau era tão grande que era quase do tamanho do meu
corpo.
Me assustei e afastei dele e imediatamente toda a
minha sensação parou, mas ele não diminuiu de forma,
permaneceu assim por um longo tempo.
— Eu… falhei.
Suspirei em frustração. O mundo ao redor voltou ao
normal, menos ele, que parecia grandioso.
— Não, você não falhou — ele respondeu com um tom
surpreendentemente gentil. — Você se conectou. Mesmo
que por um momento. Numa lua que não está cheia.
Eu olhei para ele, buscando algum sinal de que ele
estava mentindo, mas só encontrei sinceridade em seus
olhos. Aquela sinceridade me desarmou, me deixou ainda
mais confusa.
Ele foi diminuindo de tamanho até voltar ao normal –
o que de qualquer forma era muito maior do que eu.
— Na lua cheia eu sentirei mais do que isso?
— Sim. Também sentirá quando nos unirmos.
— Unirmos?
— Quando nossos corpos se tornarem um sob a luz da
lua.
A simples ideia daquilo fez minhas pernas tremerem.
Ele tinha ficado tão colossal a ponto de seu pau ser do
tamanho do meu corpo que me questionei se haveria
possibilidade dele caber dentro de mim.
— Teremos que fazer isso na lua cheia?
— Por que fala como se não quisesse? Sua natureza
não chama por mim, assim como a minha implora pela sua?
— acariciou meu braço.
Antes que eu pudesse responder, algo mudou no ar ao
nosso redor. Um som distante, um ruído baixo e gutural que
fez Drakhar se virar rapidamente, os olhos estreitando.
— O que foi? — Perguntei, sentindo o pânico começar
a subir.
— Incêndio na floresta — ele rosnou. — Fogo.
Meu coração disparou enquanto eu olhava ao redor,
esperando ver lobos surgirem da floresta a qualquer
momento. Drakhar se colocou entre mim e a direção do
som, o corpo dele ficando rígido, preparado para o que
estava por vir.
— Pegue suas roupas e monte em minhas costas.
— O quê? — pisquei, sem conseguir absorver o que
ele dizia.
Drakhar reuniu todas as nossas peças de roupas e
entregou-as em minhas mãos.
— Agora suba em minhas costas.
— Tem certeza?
Ele se curvou sutilmente. Eu abracei seu pescoço e fiz
um impulso para cima. Assim que subi, o corpo dele tremeu.
No lugar de sua pele macia e brilhante pelos pretos
começaram a nascer e sua forma se esticou até ele assumir
a figura de um lobo que era duas vezes maior do que
Drakhar em forma de homem.
— Consegue me ouvir? — ele falou em minha mente.
— Sim — respondi mentalmente.
— Consegue me ouvir? — repetiu.
— Sim — falei em voz alta.
— Segure firme. Vou te levar para um lugar seguro.
A
CAPÍTULO 14
BRIANNA FOSTER
NOITE na montanha estava tranquila, diferente da
floresta em que a mansão de Drakhar estava. Ele me
deixou numa clareira a certa distância de sua propriedade e
voltou a sua forma humana, os olhos prateados fixos em
mim, procurando algum sinal de como eu estava.
Confesso que não esperava sentir uma conexão tão
profunda com ele, mas aconteceu. A forma como ele me
olhou e as coisas que me disse, mexeram profundamente
comigo.
— Como está se sentindo?
— Bem.
— Vista suas roupas — ele disse e pegou as suas,
vestindo-as de forma apressada. — Fique perto.
Conforme caminhamos em direção à casa, percebi
que a floresta ao redor estava em chamas. Uma luz
alaranjada dançava entre as árvores e a parte do fundo da
mansão que era feita de madeira, tinha brasas altas e um
fumaceiro que deixou todo o céu ao redor coberto.
— Drakhar… — murmurei, puxando sua mão.
Ele virou-se rapidamente, os olhos se arregalando ao
ver a fumaça que agora começava a se espalhar pela
floresta.
Mesmo em sua forma humana ele ergueu o rosto para
os céus e uivou tão alto que as folhas das árvores
sacudiram, como se fosse um vento forte tentando varrêlas.
Meu coração disparou.
Assim que chegamos à clareira onde a mansão ficava,
vi as chamas consumindo uma das laterais da casa, os
galhos das árvores ao redor também começavam a se
incendiar e despencar em cima dos detalhes, deixando um
rastro de destruição.
O calor era insuportável, e a fumaça preenchia o ar,
tornando difícil respirar.
— Drakhar! — gritei, tentando me aproximar dele,
mas o calor intenso me fez recuar.
Ele estava na entrada da mansão, os olhos fixos nas
chamas, avaliando a situação.
— Temos que apagar isso, ou a floresta inteira vai
queimar! — ele gritou de volta.
Eu olhei ao redor desesperada. Alguns minutos depois
os lobos da Alcateia Karagan começaram a aparecer, dentre
eles, os que eu havia conhecido naquele dia: Noah, Troy,
Flynn e Skarlet que chegaram juntos, vários outros que eu
desconhecia e por fim, Kaelan e Amber.
— Amber! — corri até ela, angustiada. — Como
chegou aqui?
Ela tentou disfarçar, se afastou um pouco de Kaelan
que seguiu em direção ao Alfa, ela veio até mim.
— Estava… lendo, até tarde. Buscando uma forma de
te ajudar.
— Temos algo mais urgente, pelo visto — indiquei a
mansão. — Conhece alguma magia para fazer o fogo parar?
— Não. E não sou tão poderosa assim, precisaria de
um coven de bruxas inteiro para dominar o fogo.
— Então o que podemos fazer?
Assistir aos lobos tentando entrar na propriedade ou
buscando água pela região para apagar o incêndio
enquanto os bombeiros não chegavam me deixou
desesperada.
— Você está diferente — ela fez uma pausa e me
olhou com atenção.
— Estou?
— Há um poder fluindo de você, algo forte, uma
corrente energética.
— Eu… não sinto nada.
— Me dê sua mão — ela estendeu a mão em minha
direção.
Ao tocá-la, não senti nada. Mas Amber pareceu sentir.
— O que está acontecendo? — Alguém gritou ao
fundo.
— Precisamos apagar o fogo!
— Eu sinto a lua em você, uma força que flui, sua
fonte de poder — Amber sorriu. — Feche os olhos, Brianna.
— Vai me transformar em lobo?
— Não. Feche os olhos. Eu não tenho poder, mas acho
que sei como direcionar o seu.
Mesmo com o pânico subindo pela minha garganta
tentei me acalmar. Respirei fundo, fechei os olhos e
imaginei tudo o que Amber disse.
— Debaixo de nós, nesse solo fértil, há muita água.
Nas folhas das árvores, no céu úmido, nos poços escondidos
ao redor que nunca foram encontrados. Pense na água.
— Tipo um rio? Uma chuva? Uma lama?
— Pense na água. Em sua forma simples. Em cada
gota. Agora faça-as se unir, junto comigo.
Eu me senti boba imaginando tudo isso, mas como
sempre fui criativa, visualizei o que ela pediu. A água saindo
de debaixo do solo, do tronco das árvores, de suas folhas
mais altas, da neblina ao nosso redor.
De repente uma chuva pequena e concentrada
começou a se mover em cima do fogo.
— O que é isso? — Alguém gritou.
— Está apagando o fogo!
— Não pare de pensar na água — Amber pediu. — No
quanto é molhada, fresca, alivia os sentidos e expande os
aromas. Ela cura, ela fertiliza e ela apaga o fogo.
Abri os olhos, curiosa e eu vi. A imagem da chuva que
atingiu os meus pensamentos estava diante dos meus
olhos, encharcando a mansão e apagando o incêndio,
depois as árvores até que não restasse qualquer labareda
de fogo.
O frio que eu sentia antes, retornou. Assim como a
sensação de medo, insegurança e um certo mal-estar.
— Não estou me sentindo bem — disse, com a vista
turva.
Antes que eu pudesse cair, senti as mãos de Drakhar
me envolverem e me pegar em seu colo.
Quando acordei, ainda estava em seus braços fortes,
ele caminhava ao redor da mansão conferindo os estragos.
— Você nos salvou — ele sorriu, grato.
— O quê?
Respirei fundo e tentei lembrar do que havia
acontecido. Era como se eu estivesse flutuando diante da
lua e a montanha enquanto abria meus braços e fazia a
água fluir dos rios subterrâneos.
Drakhar me colocou no chão e Amber apareceu, me
entregando uma xícara de chocolate quente.
— Beba.
— O que houve?
— Tive de guiar o seu poder, apagamos o incêndio.
— Meu poder foi drenado? — Pisquei sem entender.
— Existem muitas formas de recarregá-lo — Drakhar
me acalmou. — Fazendo o que fizemos hoje, é uma dessas
formas. Mas ainda é pouco.
— Pouco? — Arqueei a sobrancelha.
Amber e eu tínhamos feito chover!
— Pouco comparado ao poder que pode concentrar
em você quando nos unirmos.
Minhas bochechas queimaram de vergonha quando
ele disse isso diante de Amber. Ela não pareceu se importar,
na verdade, balançou a cabeça em concordância.
— Minha mãe estava certa em suas anotações —
disse com um ar meio nerd. — Uma Ômega é capaz de
nutrir e ativar os poderes de todos ao redor. Eu… tive medo.
Mas quando segurei sua mão, Brianna, percebi o que
deveria fazer.
Observei que a mansão estava encharcada, a lateral
destruída, mas o fogo havia sido apagado.
— Isso não foi um acidente — Amber analisou,
apontando para as regiões da casa que haviam pegado
fogo.
— Foi proposital — Kaelan veio em nossa direção,
estendeu os dedos para Drakhar, que cheirou.
— Líquido inflamável.
— Encontrei em outras partes da casa — Kaelan olhou
ao redor. — Mas não há cheiro desconhecido, então não
parece ter sido os Mordrak.
— Não sabemos quem foi, mas parece que alguém
quer atrapalhar a evolução de vocês — Amber cruzou os
braços.
Kaelan e ela pareciam uma dupla e tanto. Eles
trocaram olhares rápidos e depois se ignoraram, como se
mal se conhecessem.
— Eles sentem que o seu poder aumentou — Drakhar
acariciou meu braço até segurar em minha mão. — E
quanto mais forte ficar, mais essas terras ficarão
protegidas.
Então era isso, os Mordrak sabiam que eu estava aqui,
sabiam que eu estava me tornando mais forte. E isso
significava que eu não podia mais me esconder. Eu teria
que enfrentá-los, quer quisesse ou não.
Eu duvidava do meu poder até vê-lo em ação.
Não o sentia mais, mas sabia como conseguir mais
uma dose dele.
— Quando posso fazer o próximo batismo de lua,
Drakhar?
— Sempre que houver lua, sempre que quiser.
— Então faremos isso para proteger sua Alcateia,
essas terras e a propriedade da minha família — respirei
fundo. — E também para resgatar sua mãe, Amber.
Ela sorriu e segurou em meu ombro.
— Eu também achei isso.
Ela tirou de dentro do bolso um colar feito de couro e
ao centro, uma pedra branca com algumas marcas em
preto, ao centro dela um tom azul quase fluorescente que
brilhava feito um raio lunar.
Ao tocá-la, o frio cessou. Ele ainda existia, mas não
era capaz de me atingir. Ao colocá-lo em meu pescoço,
todos os lobos que estavam ao redor me olharam com certa
reverência, mas aguardaram seu Alfa se curvar levemente
para mim, então todos ficaram de joelhos.
A
CAPÍTULO 15
BRIANNA FOSTER
PÓS todos os incidentes — o incêndio, o uso inesperado
dos meus poderes, a reverência dos lobos —, Drakhar
me levou para casa em suas costas, na forma de lobo.
O colar que Amber havia me dado estava em meu
pescoço, e mesmo com todo aquele caos que naturalmente
teria me deixado maluca da cabeça, eu sentia uma
sensação de calma e poder.
Assim que atravessamos o portão de ferro, saltei de
cima dele e encarei a lua lá no céu, na esperança de que ela
me fornecesse algum poder, mas não aconteceu.
— Vai conseguir dormir depois disso tudo? — Ele
perguntou.
— Não sei. Vou ficar em alerta, com medo de outro
ataque.
— Vou deixar quatro alfas protegendo o seu portão e
alguns betas nos arredores para interceptar qualquer
perigo.
Assenti, um pouco aliviada.
— Quer passar a noite comigo?
Assim que perguntei isso senti uma vergonha
gigantesca.
Pela forma como me olhou, Drakhar lutou
internamente para decidir se deveria ou não.
— Preciso ir para as fronteiras ver e cuidar dos meus
lobos.
— Entendi. Tudo bem.
— Mas eu volto — ele acariciou meu braço, foi
puxando aos poucos, até me envolver em seu abraço.
Eu o apertei com força, assustada, como se aquele
calor pudesse me livrar de qualquer mal.
— Não estou sentindo meu poder de volta —
murmurei.
— Precisamos ficar nus para isso — ele riu baixinho,
cheirando meu pescoço. — Se com algo tão simples você foi
capaz de tanto poder, imagine quando carregar o meu
bebê.
Me arrepiei inteira ao ouvir isso. Meus olhos brilharam
e eu olhei para cima, hipnotizada pela forma como ele
parecia confiante e protetor.
— Amber vai fechar a livraria amanhã para vir te
ajudar com algumas coisas — ele disse, ao perceber que eu
permaneceria calada.
— Ok.
— Ela não sabe tudo, mas certamente poderá lhe dar
muitas respostas, então aproveite esse momento.
Eu apenas assenti, sentindo o sono e exaustão
tomarem conta de mim.
— Vá dormir e recuperar sua energia, agora você está
segura. Vou ficar mais algumas horas por aqui, depois
partirei para o norte.
— E quando volta?
— Na próxima lua cheia. Espere por mim.
Ele disse antes de se afastar.
— Drakhar? — chamei antes que ele saísse pelo
portão.
Ele parou, olhando-me com uma leve curiosidade no
olhar.
— Obrigada — murmurei.
Ele sorriu, um sorriso pequeno e quase imperceptível,
mas estava lá.
— Boa noite, Brianna.
Entrei em casa, subi as escadas e apaguei, de tanto
sono.
No dia seguinte
Ao acordar, tomei um banho demorado e arrumei toda
a bagunça que havia deixado pela casa. Desfiz as minhas
malas corretamente, vaguei por cada cômodo tentando
imaginar como a minha tia-avó Karen vivia por aqui e fiz o
café da manhã.
No meio do dia, Amber veio me ver, trouxe consigo
vários livros de capa de couro, espalhou-os pela minha
mesa.
— E aí, dormiu bem?
— Apaguei. Apesar de tudo, tive uma ótima noite de
sono.
— Tirou o colar?
— Não. Dormi com ele — acariciei o objeto em meu
pescoço. — Mas não senti nada de diferente.
— É só uma pedra, se você não a carrega com seu
poder — Amber sorriu. Fora isso, tudo bem?
— Sim. Quando Drakhar me ajudou a me conectar
com a lua senti algo se libertando dentro de mim. Amarras,
convicções, não sei…
Ela assentiu, sorrindo suavemente.
— Você está se tornando o que sempre foi destinada a
ser. E há muito mais por vir.
Olhei para o telefone na mesa ao lado e hesitei. Tinha
esquecido de ligar para minha mãe, embora parte de mim
na verdade estivesse tentando ignorá-la para deixá-la de
fora de tudo isso.
Mas eu precisava de respostas, Amber me daria
algumas, mas outras eu precisava ouvir da minha mãe.
— Preciso fazer uma ligação. Fique à vontade.
— Claro, pode deixar — ela deixou a bolsa em cima da
mesa. — Vou para o porão, para te dar privacidade.
Quando Amber saiu, peguei o telefone e disquei o
número da minha mãe. Depois de alguns toques, ela
atendeu.
— Oi, Mãe. Tudo bem por aí?
— Brianna? Sua voz está diferente. Tudo bem por
aqui, e por aí, minha filha?
— Mãe… eu preciso te perguntar algo — segurei o
telefone com as duas mãos, porque comecei a tremer. —
Você sabia? Sabia sobre… tudo isso?
Houve um longo silêncio do outro lado.
Tão longo que por um momento, achei que a ligação
tivesse caído.
— Sabia o quê, filha?
— Sobre a casa. Sobre a montanha, os lobos… eu… eu
sou uma Ômega, mãe. Uma… uma espécie de deusa para
eles. E está acontecendo tanta coisa que eu não entendo, e
preciso saber: você sabia?
Ouvi um soluço abafado do outro lado, e meu coração
apertou.
Minha mãe sempre foi uma fortaleza, forte e
controlada, mas agora, ela estava chorando.
— Mãe?
— Eu… eu sabia — ela finalmente confessou. — E eu
sinto muito, Brianna. Eu deveria ter contado. Deveria ter te
preparado… mas não sabia como. Não sabia como te
proteger. A sua avó saiu daí justamente para que isso não
se perpetuasse em nossa família.
— Proteger de quê, exatamente? De mim mesma?
— Não, Brianna… protegê-la desse mundo.
Comecei a gesticular a cabeça em negação.
— Eu achei que, se você ficasse longe, se vivesse uma
vida normal, tudo isso não te alcançaria. Mas eu estava
errada. Sempre soube que, no fundo, você era especial. Mas
eu tinha tanto medo do que isso significava… — ela soluçou
novamente.
— A senhora conseguiu ter uma vida normal?
Ela engoliu em seco, sua resposta era um claro não.
Tudo na vida da minha mãe deu errado e ela estava em um
emprego infeliz, após um divórcio turbulento, atolada em
dívidas e vícios.
Minha avó teve um destino pior, quando meu avô a
abandonou, ela ficou louca e nunca mais foi vista.
— Você não podia esconder isso de mim — murmurei,
sentindo a raiva e a frustração começarem a crescer. —
Agora estou aqui, no meio disso, e não sei o que fazer!
— Eu sei… — ela sussurrou. — E sinto muito, filha.
Queria ter sido mais corajosa. Queria ter te preparado para
isso. Mas agora… agora você precisa ser forte. Você foi
escolhida por algo maior do que nós.
Houve mais um silêncio, e então ela respirou fundo,
tentando se acalmar.
— A senhora é uma Ômega?
— Não. Eu sou uma Beta.
— E a vovó? Ela era?
— Uma alfa, assim como sua tia-avó.
Lágrimas escorriam pelo meu rosto, e eu tentei secálas rapidamente.
— Te amo, minha menina. Seja forte. E se for muito
para você, volte para a mamãe. Eu sempre vou cuidar de
você.
— Também te amo, mãe.
Depois de desligar, me sentei em silêncio por alguns
minutos, processando tudo. Minha mãe sabia… e escondeu
isso de mim por anos.
E agora eu estava no centro do furacão de algo que
ela tentou me manter longe. E pela forma como Drakhar me
contou, era uma questão de tempo até os Mordrak irem
atrás de mim.
Afinal de contas, quantas outras Ômegas existiam?
Amber voltou para dentro, e eu ergui os olhos, ainda
segurando o telefone.
— Achei uma coisa.
— Achou?
— Sim, vem comigo — ela me chamou.
A
CAPÍTULO 16
BRIANNA FOSTER
CASA estava em profundo silêncio enquanto Amber e eu
caminhávamos em direção ao porão. Eu ainda estava
emocionada depois da ligação com a minha mãe. Tudo o
que ela me disse ficou ecoando na minha cabeça, fiquei
completamente dividida pela raiva por ter sido mantida no
escuro por tanto tempo, mas também a amava por ter
respeitado minha decisão de ter vindo aqui e ter dito que
estaria lá para quando eu retornasse.
Amber parou no fim da escada do porão e me
entregou uma lanterna, mesmo que a luz do lugar estivesse
ligada.
— O que exatamente estamos procurando aqui
embaixo?
— Olha isso — ela terminou de descer os degraus e foi
até uma mesinha, onde pegou um pequeno caderno.
Em sua primeira página estava escrito:
“Chame pela montanha e ela responderá”.
— O que isso quer dizer?
— Acho que só você pode abrir a passagem — ela
explicou. — Chame pela montanha.
— Chamar tipo como?
— Você havia dito que seu poder havia aparecido
porque Drakhar havia lhe ensinado algo…
— Sim, ele me deu algumas instruções.
— Não sentiu em nenhum momento que estava
chamando a lua?
Pisquei os olhos, tentando correlacionar. Não entendi
se precisava ficar nua diante das paredes ou simplesmente
fechar os olhos e deixar meus pensamentos fluírem.
Olhei ao redor, o porão era maior do que eu esperava,
e as sombras que dançavam nas paredes de pedra criavam
um ar sinistro. Meu coração começou a acelerar, uma parte
de mim não estava preparada para lidar com o que quer
que estivesse por trás dessas paredes.
— Tente fazer algo parecido, mas ao invés da lua,
pense na montanha.
Fechei os olhos e tentei afastar tudo aquilo da minha
mente: ao invés das estantes forradas de caixas, móveis
velhos e quebrados e paredes de pedra pura, me concentrei
na montanha. Na relva que crescia por ela, suas árvores,
sua terra fértil… então uma visão singular de uma pedra da
lua com um glifo dourado brilhou.
Senti o chão tremer e me segurei em Amber, foi como
se algo estivesse se movendo no coração da montanha. A
parede de pedra diante de nós foi se desfazendo até se
tornar uma passagem escura.
— Você conseguiu! — Ela comemorou e eu fiquei
animada.
— Isso foi… impressionante — murmurei, dando um
passo para trás enquanto uma parte da parede começava a
se afastar lentamente, revelando uma passagem estreita e
escura.
— Sabia que tinha algo aqui. — Amber sorriu, sua
excitação era palpável. — Vamos?
Olhei para o túnel escuro à nossa frente e senti um
calafrio percorrer minha espinha.
— Tem certeza de que é seguro?
— Sabe, você deveria confiar mais em seus instintos
agora que está se conectando com sua verdadeira natureza
— ela respondeu, com um tom divertido na voz. — Mas se te
consola, eu também estou um pouco apavorada.
Ri, mais de nervoso do que qualquer outra coisa.
Amber entrou primeiro, e eu a segui de perto,
segurando sua lanterna. O túnel era apertado, suas paredes
úmidas e cobertas de musgo. O ar ali dentro era pesado,
cheirando a terra e pedra, e a sensação de claustrofobia
começou a crescer dentro de mim.
— O que será que vamos encontrar?
— Não sei, de verdade. Então, enquanto isso, vamos
conversar…
— Vamos.
— Como se sente com a ideia de ser uma Ômega?
— Apavorada. Teria outro sentimento? — Continuei
rindo de nervoso.
— Não, acho que não — Amber me lançou um olhar
piedoso ao olhar para trás. — É muita responsabilidade.
— Sim.
— Mas pense que vai dividir esse fardo com o seu
Alfa… e no futuro, com seus bebês alfas.
— Bebês alfas… — repeti aquilo, hipnotizada e
assustada.
— O que foi?
— Ter bebês com um desconhecido é tão… assustador.
Nem sei se estou preparada para ser mãe.
— No fundo do seu coração, sente como se Drakhar
fosse um desconhecido?
Era uma boa pergunta. E a resposta, por mais que eu
tentasse racionalizar, era…
— Não. Eu nunca o tinha visto antes, mas desde que
nos conectamos é como se… tivéssemos crescido juntos,
ido aos mesmos lugares, como se…
— Tivessem sido feitos um para o outro? — Ela tirou
as palavras da minha boca.
— Pois é.
— Minha mãe escreveu sobre isso. “A lua escolhe seu
lobo alfa e ele ajuda o poder fluir sobre ela” — recitou.
— Quero pensar em cada coisa de uma vez, primeiro
estou me acostumando com a ideia de que… você sabe…
— O quê?
— Que vamos nos “unir”. Não te parece estranho?
— Na verdade, não. O sexo é a fonte da vida, do
poder, da eternidade. Tem pessoas fazendo sexo há milhões
de anos para podermos ter chegado até aqui — Amber riu e
deixou o assunto mais leve. — Você é…
— Sou.
Ela nem precisou falar a palavra “virgem”. Estava
estampado na minha cara. O mais próximo e íntimo que
cheguei de um cara foi do Matthew Shruds que levei para a
formatura do college, isso porque minha mãe pagou para
ele ficar uma hora comigo.
— Faz sentido. A lua só se entrega ao seu lobo, ou…
— Ou…
— A quem ele permite.
— Como assim?
— Minha mãe fez muitas anotações. Tinha uma de
que toda uma Alcateia transou com a Ômega para carregar
o poder de todos, porque eles estavam sem seu Alfa
Máximo, mas pode ser só loucura da minha mãe.
— Hum… Não sei. Skylar tem vários lobos para si, não
sei se quero isso.
— Mas você quer o Drakhar?
Não havia opção de não querer. Agora eu entendia
quando ele dizia que chamava por mim, porque meu corpo
parecia implorar por ele. Se com o simples toque eu fiz
chover, ao tê-lo dentro de mim do que eu seria capaz?
— Acha que vou me transformar em uma loba?
— Se quiser, provavelmente.
— E os bebês… eles vão nascer lobinhos ou bebês?
— Bebês — Amber disse incerta se aquela resposta
estava 100% correta. — Mas se não der um batismo de lua
neles, vão ficar se transformando sem parar.
— Você sabe bastante, Amber.
— Sei, na teoria. Nunca fui boa na prática, achei que
teria minha mãe para sempre.
— Vamos resgatá-la.
O túnel parecia se estender por quilômetros, mas
finalmente chegamos a uma espécie de câmara aberta. As
paredes feitas de pedra da lua pareciam brilhar levemente
sob a luz da lanterna, e no centro do espaço havia um lago
de água leitosa.
— Que bonito.
O cheiro era bom, tinha o frescor da noite com lírios
do campo. Olhei para cima e havia estalactites feitas de
pedra da lua por todos os cantos e portas desenhadas com
fios de prata em várias direções, como se fossem portas a
serem imaginadas para serem abertas.
— O que é aquilo?
Amber apontou para algo que a princípio não vi e saiu
na frente. Quando me aproximei, vi um baú escondido atrás
de uma rocha.
Abrimos e coloquei a lanterna para ver o que tinha
dentro: uma coroa feita de pedra da lua que brilhava com
uma luz própria, emitindo um brilho suave azul prateado.
— O que é isso? — perguntei, sem desviar os olhos da
pedra.
— Essa é a coroa da montanha e da lua, feita para
uma Ômega usar — Amber disse de forma reverente. — Sua
tia-avó a protegeu e esperou até que você tomasse o poder
dela, eu acho.
Fiquei em silêncio por um momento.
— E esse lago?
— Deve ser um lugar de purificação, vou procurar nas
anotações da minha mãe.
— Se eu usar essa coroa, os Mordrak não vão saber
onde estou? Esse poder não chama atenção?
— Sim, Brianna. Se você usar isso, estará se tornando
um alvo ainda maior. Os Mordrak podem sentir esse tipo de
poder a quilômetros de distância.
— Então… o que faço?
— Mas ao ter seu Alfa do lado, ele lutará por você. A
união dos seus poderes é capaz de coisas mais poderosas
do que a chuva, posso garantir.
Amber suspirou, olhando para mim com respeito.
— E então, o que vamos fazer?
— Acho que não tem mais como fugir, vamos levar a
coroa e descobrir como usá-la.
— Acho que é a melhor opção, mesmo com o perigo,
Brianna. É a única forma de você estar pronta quando o
verdadeiro confronto chegar.
Eu assenti, sentindo o peso da decisão.
Peguei a coroa com cuidado, sentindo uma onda de
energia percorrer meu corpo. Amber me observou em
silêncio, com uma mistura de admiração e preocupação.
— Vamos sair daqui — murmurei. — Antes que a
gente atraia mais atenção do que o necessário.
Amber concordou e, juntas, começamos a caminhar
de volta pelo túnel, pelo resto do caminho conversamos
muito e ela me tirou outras dúvidas. Algumas questões
ficaram em aberto porque ela estava aprendendo, tanto
quanto eu.
A
CAPÍTULO 17
DRAKHAR KARAGAN
FRONTEIRA norte estava fria e úmida, com cheiro familiar
de neve e pinho preenchendo o ar. Kaelan e eu
passamos a noite viajando para chegar.
Entrei no forte que construímos próximo à fronteira e
fui recebido com reverência pelos meus lobos. Conferi como
cada um estava e os estragos que os Mordrak havia
cometido.
A lua ainda não estava cheia, mas o ar estava pesado,
com cheiro de morte e violência.
Draven veio até mim, estava muito bem vestido,
afinal de contas, ele era o meu representante nessas terras.
Mesmo olhando-o de longe, percebi que estava preocupado.
Meu irmão raramente demonstrava emoções fortes,
mas seus ombros estavam tensos e a mandíbula rígida.
— Alfa.
— Irmão — segurei em seu ombro. — Como estão as
coisas por aqui?
— Os Mordrak deixaram um rastro de destruição e
fugiram — suspirou. — Invadiram estabelecimentos,
sequestraram duas mulheres, mas não há qualquer sinal
deles nas últimas noites.
Assenti. O silêncio e ausência desses monstros não
era necessariamente um bom sinal.
— Eles estão esperando o momento certo para atacar.
— Não tenho dúvidas. E a lua cheia está chegando,
eles estarão fortes.
— Nós também.
Draven me observou por um momento, avaliando
meu rosto com aqueles olhos sempre atentos.
— Ouvi falar sobre o incêndio em sua casa — ele
finalmente disse, seu tom cauteloso. — Não pareceu
coincidência.
— Nem acidente — Kaelan se pronunciou. — Havia
líquido inflamável na propriedade e o cheiro se estendeu
aos arredores.
— Quem acha que foi? — Draven me encarou de lado.
— Será que os Mordrak têm um infiltrado na Alcateia?
— Aposto que é aquela Skylar — Kaelan rosnou. — Ou
aqueles traidores, Noah…
Antes que ele terminasse de citar os nomes, o
interrompi.
— Seu Alfa os perdoou.
Kaelan abaixou a cabeça e concordou, mas sua
sobrancelha continuava franzida.
— Não foi acidente — confirmei, a voz baixa e
sombria. — O fogo foi proposital. Não há dúvidas.
— Os Mordrak nunca chegaram perto do coração da
floresta. Então o que pode ter sido? — Draven hesitou, seus
olhos cravados nos meus.
— Estão ficando fortes e perdendo o medo. A Alcateia
deles nesse momento deve ter o triplo, o quádruplo do
tamanho da nossa?
— E Ômegas, muitas delas.
— Todas sequestradas — Kaelan rosnou. — O poder
nem se compara com uma Ômega que se entregue por
vontade própria ao seu Alfa. Quando Brianna estiver
pronta…
— Curioso que todos os males que estão nos afetando
tenham a ver com a chegada dela — Draven bateu com a
mão em meu ombro. — Auspicioso. Uma Ômega chegando,
mais traidores…
Olhei para ele, sentindo a raiva se agitar no fundo do
meu peito.
— Mais traidores? — Rosnei.
— Alguns lobos desertaram na última semana. E há
movimentações estranhas nas nossas terras — Draven
sacudiu os ombros. — Tenho certeza que você resolverá
tudo isso, Alfa. Algo me diz que veio a fronteira não apenas
ver como estavam seus homens, mas parece haver um
outro motivo…
— Vim ver a anciã.
— Ela nunca aceitou vê-lo, por que seria diferente
agora?
— Por que temos uma Ômega — falei e me afastei,
pronto para seguir mais um dia de viagem até encontrar a
anciã. — Se encontrar quaisquer traidores na nossa
Alcateia, Draven, eles devem pagar com sangue.
— Assim será feito.
Kaelan e eu paramos algumas horas para descansar e
depois seguimos viagem para o noroeste, onde já não tinha
membros da minha Alcateia.
Fomos recebidos por 10 lobos Ômega que rosnaram
para nós, em tom ameaçador. Kaelan prontamente se
armou, eu apenas sorri, porque para mim, eles pareciam
como crianças.
— Vim ver a sua Alfa — informei.
— Ela não receberá ninguém.
— Não podemos deixá-los ultrapassar a linha — outro
rosnou. — Essas terras pertencem à nossa Alfa e nós a
protegeremos com as nossas vidas.
Mesmo parecendo jovens e sendo lobos submissos a
uma loba, coisa rara em nosso mundo, eles pareciam fortes
porque estavam nutridos pela energia da lua.
E eu não queria guerra com uma possível aliada.
— Nós dois podemos destroçá-los — Kaelan rosnou.
— Não são nossos inimigos. Odeiam os Mordrak tanto
quanto nós.
Meu irmão recuou um pouco e eu tomei a frente.
— Diga para a sua Alfa, então, que minha Alcateia
agora tem uma Ômega. E na lua cheia ela estará pronta
para se conectar à lua.
— Não vamos lutar a sua guerra, Karagan — um
Ômega disse, mesmo tentando soar ameaçador, ele
também soava respeitoso e reverente.
— Apenas informe à sua Alfa. Diga que a montanha da
lua agora tem uma Ômega.
Queria ter dado a mensagem diretamente para a
anciã, mas eu respeitava seus domínios, assim como ela
respeitava os meus.
Dei meia volta com Kaelan e seguimos rumo a Port
Angeles.
D
CAPÍTULO 18
DRAKHAR KARAGAN
OIS dias depois, antes da lua cheia, eu estava de volta.
As coisas haviam se acalmado e nada mais aconteceu.
Os Mordrak sequer se aproximaram da fronteira e nenhum
outro evento ocorreu na minha ausência.
E isso anda me deixava preocupado.
Sempre que o silêncio se prolongava, era sinal de que
algo pior estava por vir. Mas naquele momento, assim que
pisei os pés em Port Angeles, só consegui pensar numa
única coisa: Brianna.
Ao chegar em sua casa, vi que estava no jardim. O
colar que Amber havia lhe dado brilhava em seu pescoço,
sob a luz suave do fim da tarde.
Seus olhos castanhos se voltaram para mim assim
que entrei no terreno e, por um momento, uma brisa passou
entre nós. Não importasse o tempo que ficássemos
distantes, a conexão silenciosa que compartilhávamos
continua inegável.
Não havia necessidade de palavras ou outras
conexões; eu sentia o desejo crescendo entre nós e agora
que a lua estava quase cheia, chegava a ser avassalador,
algo impossível de controlar.
— Você voltou — ela sorriu de um jeito contido.
— Não poderia ficar longe por muito tempo — me
aproximei.
As bochechas dela ficaram levemente coradas, mas
havia uma sombra de incerteza em seus olhos. Havia algo
diferente nela, uma leveza misturada com tensão, como se
estivesse lutando contra algo.
E eu sabia que não era apenas o poder crescente que
sentia em seu corpo.
— Como estão as coisas na fronteira?
— Silenciosas. O ataque está por vir. Só não sabemos
quando.
Por um momento, nenhum de nós falou.
Ficamos apenas ali, lado a lado, enquanto a luz do sol
se desvanecia no horizonte, tingindo o céu de púrpura
alaranjado. Durante o silêncio eu podia sentir a tensão entre
nós, o desejo que se agigantava a cada segundo.
— E você? Aprendeu coisas?
— Na teoria, sim. Passei os últimos dias revirando a
casa, lendo as anotações da minha tia-avó, li sobre o poder
da montanha, da lua, a diferença entre cada tipo de lobo…
— Bom.
— O Grande Rito. O que é o Grande Rito?
Seus olhos brilharam de curiosidade, ela parecia ter
uma noção do que era, mas precisava de uma confirmação.
— É quando o meu poder encontra o seu e isso
alimenta todo o universo.
— Quando eu estiver grávida de um filhote seu?
— Também. Mas o Grande Rito não gera só bebês, ele
também aumenta o poder de toda a Alcateia.
— Amber falou sobre Ômegas que fizeram sexo com
todos os alfas da Alcateia para fortalecê-los… — parecia
assustada. — Não quero outros me tocando, Drakhar.
— Eu não permitiria — toquei seu rosto macio. — Você
é minha e só minha.
Ela pareceu mais tranquila ao ouvir essas palavras.
— Sim, existem lobas Alfas que tem um verdadeiro
harém de lobos Ômegas, e em casos de grande guerra, os
Alfas de uma Alcateia podem chegar a fazer o Grande Rito
com a loba Ômega que é sua rainha, mas no nosso caso,
garanto que só você e eu seremos o suficiente. Eu não sou
qualquer Alfa… — segurei em sua nuca, puxando-a para
mim. — E você… não é qualquer Ômega.
— Drakhar… — sua voz ficou trêmula.
— Não podemos mais fingir que isso não está
acontecendo — murmurei, minha voz rouca.
Ela me olhou, os olhos se arregalando ligeiramente,
mas sem desviar. Ela sabia do que eu estava falando. A
conexão entre nós, o desejo. O chamado de nossas
naturezas.
— Eu… não sei se estou pronta.
Dei um passo à frente, a distância entre nós quase
inexistente agora. Minha outra mão encontrou sua cintura, e
ela não recuou. Sentir seu corpo contra o meu foi como
finalmente poder respirar de novo.
Eu a queria mais do que qualquer coisa, mas sabia
que precisava ser cuidadoso. Brianna ainda estava se
adaptando ao seu papel, e eu não queria pressioná-la.
— Eu esperarei o tempo que for preciso, Brianna —
sussurrei, inclinando-me ligeiramente para que nossos
rostos ficassem a poucos centímetros um do outro. — Mas
você sabe que isso é inevitável. Nós somos… destinados.
Ela fechou os olhos por um momento, respirando
fundo, como se estivesse lutando contra algo dentro de si.
Quando abriu os olhos novamente, havia uma decisão
ali, uma rendição suave.
— Eu sinto isso também — ela admitiu, sua voz baixa
e hesitante. — Mas… ainda tenho medo.
— Eu também — confessei, minha mão subindo
lentamente pelas suas costas, puxando-a para mais perto.
— Mas eu nunca deixarei que nada aconteça com você. Eu
prometo.
Ela soltou um suspiro, como se estivesse se rendendo
àquele momento, ao que estávamos prestes a nos tornar.
Seus dedos tocaram suavemente meu braço, e por
um breve segundo, parecia que o mundo ao nosso redor
havia desaparecido.
— Drakhar…
— Sim?
— Eu não sei como… não sei se estou pronta para o
que isso significa.
Eu segurei seu rosto em minhas mãos, inclinando-me
até nossos lábios quase se tocarem. O desejo entre nós
estava fervendo, e eu sabia que, eventualmente,
cederíamos.
— Você estudou com a Amber, aprendeu as palavras,
os termos, os conhecimentos. Saber é uma parte. Quando a
lua estiver cheia, você vai sentir. Esse é o maior poder de
uma Ômega, o que ela sente.
— E qual o maior poder de um Alfa?
— O que ele faz. E eu quero fazê-la minha mulher,
minha rainha, minha deusa. A mãe dos meus filhotes, a
soberana dessas terras — apertei sua cintura com meus
dedos, era impossível não ficar duro com nossos corpos
friccionando um contra o outro.
— Eu preciso pensar menos e… me entregar mais.
— Garanto que não irá se arrepender. Você vai se
sentir completa quando o momento chegar, e eu também.
Ela assentiu levemente, e por um momento, nossos
lábios quase se tocaram, o calor entre nós aumentou. Mas
antes que o beijo acontecesse, ela se afastou levemente,
respirando fundo.
Eu conseguia ver e sentir a batalha interna dentro
dela, a luta entre o medo e o desejo. E eu sabia que, mais
cedo ou mais tarde, ela cederia.
Mas naquele momento, havia algo mais forte entre
nós — a tensão. Uma força avassaladora que eu não
conseguia mais conter.
— Brianna… — minha voz saiu rouca.
Eu a puxei de volta para mim, minhas mãos
segurando sua cintura com firmeza de um jeito possessivo.
O calor de seu corpo contra o meu fez meu sangue ferver, e
por um breve segundo foi como se o universo inteiro girasse
ao nosso redor, explodindo em vida.
Não havia mais floresta, nem lua, nem ameaças.
Apenas nós dois, envoltos em algo inevitável.
Ela levantou o olhar para mim, e pela primeira vez,
não vi hesitação. Seus lábios estavam entreabertos, sua
respiração ofegante. O desejo que víamos um no outro
estava prestes a explodir.
— Não lute contra isso — sussurrei, minha voz baixa e
dominadora. — Você me pertence. E eu pertenço a você. Se
entregue a mim.
Brianna soltou um gemido, e antes que pudesse dizer
qualquer coisa, capturei seus lábios com os meus.
O beijo foi profundo, intenso, cheio de todas as
emoções reprimidas. Minha mão subiu por suas costas,
segurando-a com força enquanto seus braços se
enroscavam ao redor do meu pescoço. Eu podia sentir seu
corpo se entregando, cada parte dela se rendendo ao que
ambos sabíamos ser inevitável.
Ela era minha. E eu, dela.
Sua boca era doce, deliciosa e o tesão tomou conta de
mim ao deixar minha língua dominar cada parte de sua
boca, sugando-a e chupando-a.
Quando nossos lábios finalmente se separaram,
ofegávamos, e o desejo que nos consumia era palpável.
— Você é minha, Brianna — murmurei contra seus
lábios. — E eu nunca vou deixá-la esquecer disso. Na lua
cheia, você não só entenderá, sentirá.
Ela assentiu, mesmo parecendo estar com um pouco
de medo.
O destino estava selado.
O
CAPÍTULO 19
BRIANNA FOSTER
DIA havia chegado.
A lua cheia brilhava no céu, prateada, vibrante, parecia
pulsar com energia própria. O colar que Amber havia me
dado começou a brilhar intensamente mesmo sem tocar a
luz lunar.
Havia passado os últimos dias estudando tudo o que
eu podia sobre esse poder, mas era como matemática: eu
via os números, as operações e problemas, nada fazia
sentido em minha cabeça.
Então Drakhar veio me buscar, em sua forma de lobo.
Sob a lua cheia ele parecia maior e mais poderoso do que
nunca, sua presença me preenchia com uma sensação de
segurança e poder.
Seus olhos, prateados como a lua se fixaram em mim
e ele aguardou até que eu saísse de casa e andasse em sua
direção.
— Está pronta? — sua voz ecoou como um sussurro
em minha mente.
Eu inspirei até encher meus pulmões, senti o ar gélido
e perfumado da noite e assenti. Meu coração batia
descompassado, mas não era medo que eu sentia — era
algo mais profundo, mais visceral.
— Estou — minha voz saiu mais firme do que eu
esperava.
— Suba.
— Devo levar a coroa de pedra da lua que encontrei
na montanha?
— Não creio que seja necessário.
Subi no lobo e me segurei firme. Drakhar pegou
impulso e correu para fora da montanha até estar no
coração da floresta, numa clareira a quase um quilômetro
de sua casa, onde árvores altas e antigas cobriam a luz da
lua e tornavam aquele lugar o mais escuro por onde
havíamos passado.
Mesmo na penumbra vi quando o corpo dele começou
a voltar para a forma humana e assim que ocorreu, Drakhar
se aproximou de mim lentamente.
— Mas não há luz da lua — olhei para cima, perplexa.
A lua estava cheia, mas naquele ponto da floresta
parecia que não havia qualquer sinal dela no céu.
— Então chame por ela.
Sua mão quente pousou em minha cintura, me
puxando para mais perto. Senti como se ele estivesse me
guiando, mas sabia que eu precisava aceitar, que o poder
da lua só fluiria se eu me entregasse por completo.
— A lua está chamando por você, Brianna — ele
murmurou, a voz rouca em meu ouvido. — Deixe que ela
guie seu corpo. Deixe que ela te mostre quem você
realmente é.
Fechei os olhos por um momento, tentando me
concentrar na energia ao meu redor. Eu podia sentir o
pulsar da lua dentro de mim quando ele me tocava, como
se fosse um eco do meu próprio coração.
E, ao abrir os olhos, vi o mesmo brilho prateado no
olhar de Drakhar.
Ele segurou meu rosto entre as mãos, seu toque me
fez sentir um arrepio na espinha, e eu podia sentir a tensão
entre nós crepitando no ar. Ele tocou em meu rosto e
acariciou lentamente até chegar em meu queixo.
Ao abrir a boca, seus dentes pareciam os de um lobo,
presas de um monstro, era assustadoramente belo.
— Tire suas roupas.
Meu coração pulou uma batida, e eu senti minhas
bochechas queimando de vergonha.
— E o frio?
— Ele será incapaz de lhe incomodar, porque eu serei
o seu calor — me encarou de um jeito possessivo. — Estou
ansioso para sermos companheiros. Sermos iguais.
Antes que eu pudesse responder, ele se inclinou, seus
lábios roçando os meus em um beijo lento e terno. Era
diferente de tudo que eu já tinha experimentado, uma
conexão profunda que parecia ressoar através da minha
alma.
Enquanto seus lábios se moviam contra os meus,
senti uma onda de poder fluir através de mim, misturandose com a energia da lua. Meu corpo respondeu
instintivamente, minhas mãos se esticando para enredar em
seu cabelo enquanto eu aprofundava o beijo.
Drakhar gemeu suavemente, suas mãos deslizando
para baixo para apertar os meus quadris, me puxando para
mais perto até que não houvesse espaço entre nós. Naquele
momento eu senti o pau duro dele pressionando contra meu
estômago, e uma onda de excitação tomou conta de mim,
deixando meus joelhos fracos.
Ele interrompeu o beijo, sua respiração pesada
enquanto olhava para mim, seus olhos escuros de desejo.
— Chame a lua.
Tirei as minhas roupas com certa dificuldade e quando
estava totalmente liberta de cada peça, o frio da floresta e o
medo cessaram.
Olhei para a redoma escura acima de nós e fechei os
olhos. Vi a lua em minha imaginação, grande e plena,
emitindo sua luz e poder por cada canto daquela floresta,
mas principalmente naquela clareira.
Quando abri os olhos, ela estava acima de nós. Sua
luz aquecia meu corpo e o deixava formigando de poder.
Ao olhar Drakhar eu o desejei de um jeito
desesperado e violento. Fiquei cega de vontade, totalmente
entregue ao seu toque.
— Eu estou pronta — disse.
Com um rosnado de satisfação, ele me levantou sem
esforço e abraçou o meu corpo. Sua boca dominou a minha
com possessividade, não deixando espaço sequer para eu
respirar.
Cada parte de mim aqueceu e o desejou. E a cada
segundo que passava, eu senti seus braços musculosos
aumentarem de tamanho, seu abdômen se estender, até
que ele estivesse muito maior do que antes.
Ele me deitou no chão gentilmente e a sensação que
tive era que estava deitada em uma cama de plumas. Suas
mãos se arrastaram por cada milímetro do meu corpo,
arranhando minha pele com suavidade.
— Abra suas pernas — ele ordenou.
Obedeci, minha respiração cortada.
Drakhar se ajoelhou diante de mim, seus olhos
permaneceram fixos nos meus quando abaixou lentamente
a cabeça, estendeu os braços para abraçar minhas coxas
grossas e me puxou para si, afundando seu rosto em minha
boceta.
O primeiro toque de sua língua contra meu clitóris foi
quase demais para suportar. Um grito de desespero e tesão
escapou dos meus lábios, e eu arqueei minhas costas,
minhas mãos o chão de qualquer jeito.
Após pressionar a língua em meu núcleo, ele a enfiou
dentro do meu canal até chegar ao fim. Sua língua era
macia e quente, pediu por mais espaço dentro de mim até
chegar ao meu limite. Drakhar se lambuzou e começou a
colocar e tirar a língua de dentro de mim, explorando cada
centímetro da minha boceta como se soubesse exatamente
como me dar prazer.
— Drakhar, por favor — gemi, embriagada de prazer.
Ele me olhou como se estivesse estudando os meus
movimentos.
Pressionou meu clitóris com o dedo polegar, apertou e
massageou, rápido como fez com sua língua que entrou em
mim e não parou até crescer cada vez mais e fazer minhas
pernas tremerem de tanto tesão.
— Diga-me o que você deseja — ele rosnou, a voz
áspera de desejo.
— Eu quero… — minhas bochechas arderam de
vergonha.
Por mais que fosse delicioso sentir a boca dele me
chupar feito uma fruta madura e sua língua entrar e me
mostrar todos os pontos sensíveis que eu desconhecia, algo
gritava dentro de mim para ser totalmente preenchida por
ele.
— Preciso de você dentro de mim — meu corpo
tremeu de tanta necessidade. — Agora.
Com um rosnado de aprovação, ele endireitou a
postura, ficou de joelhos diante de mim e retirou suas
roupas. Sem camisa, revelou um tronco gigantesco, trincado
e musculoso que brilhava sob a lua da lua. Ergueu-se um
pouco e retirou os sapatos, as calças e quando se libertou
da cueca, seu pau era um colosso ereto, pulsando de
necessidade.
Mordi meu lábio, meus olhos se arregalaram com a
visão.
Era maior do que eu havia sentido e visto pela última
vez. E o pensamento dele dentro de mim enviou um arrepio
de excitação para cada extremidade do meu corpo.
Drakhar se aproximou de joelhos, posicionando-se
entre minhas pernas abertas. Ele deitou o pau ereto em
cima do meu corpo e a extensão dele ia até meus seios, sua
espessura era como um tronco de árvore.
— E se não entrar? — choraminguei, lambendo os
lábios, desejando ter tudo aquilo dentro de mim.
— Eu tenho a forma do seu prazer — ele beliscou o
bico dos meus mamilos, depois tomou os meus seios e os
massageou. — Não tenha medo, entregue-se a mim.
Imediatamente fiz que sim e abri mais as minhas
pernas.
Com um gemido de satisfação, ele inclinou o quadril
para trás e pressionou a glande gigantesca na minha
entrada, esfregou-a por cima do meu clitóris, contornou
meus grandes lábios e minha abertura até me deixar louca
de tesão e se encaixar.
Quando empurrou o pau para dentro de mim, me
preenchendo em um movimento suave, entreabri os lábios,
mas nenhum som saiu.
Pelo contrário. Foi como se a lua da luz entrasse em
meu corpo, como se o gosto da floresta, o som do ar, a água
que alimentava o solo, o calor do sol que fez cada
vegetação crescer se entranhasse em minha pele e me
fizesse sentir como o núcleo de toda a existência.
A sensação de Drakhar dentro de mim era como uma
explosão de sabores, uma mistura de dor e prazer que fez
minha visão ficar turva. Eu engasguei, meu corpo inteiro
pareceu pequeno demais para ele enquanto tomava espaço.
Drakhar fez uma pausa, me dando um momento para
recuperar o fôlego.
— Você está bem? — perguntou.
— Eu só… preciso de mais — disse, cega de vontade.
Meus olhos tremularam, mesmo fechados, enquanto
me concentrava nas sensações que corriam pelo meu corpo.
Ele continuou a se mover dentro de mim lentamente e
o desconforto inicial deu lugar a um calor latente, crescente,
até que senti meu corpo relaxando ao redor dele.
As mãos dele seguraram firmemente em meu quadril
e me puxaram em sua direção, enterrando o pau até o meu
limite. Eu vi estrelas, senti a cabeça girar e mesmo assim,
chorei por mais.
Drakhar ainda tinha muito para colocar dentro de mim
e ele aceitou o desafio. A cada centímetro foi como se meu
pulmão queimasse. A sensação de ser rasgada,
completamente devorada por aquele monstro era deliciosa
e ao ver que estava entregue ao seu desejo, ele tornou
aquilo mais intenso, mais violento, mais rápido até o ponto
do meu corpo ficar anestesiado de tanto prazer.
Drakhar uivou, mesmo em sua forma humana. Ele
ergueu o corpo para o alto, esticou o pescoço e chamou
pela lua e imediatamente senti meus olhos brilharem, cada
extremidade do meu corpo superaquecer e e ficar
dormente.
Ele me puxou para seu colo, dobrou as pernas,
sentou-se em cima de seus pés e me posicionou sentada
em suas coxas. Seu pau me devorou e pulsou dentro de
mim, como se fosse meu próprio coração.
Eu rebolei suavemente para sentir a grossura dele que
era quase opressora, não deixava qualquer espaço, me
preenchia por completo.
Drakhar abraçou o meu corpo e me fez pular em seu
colo com violência, sua boca tomou os meus seios e chupou
com intensidade e eu pendi a cabeça para trás, imersa em
todo o poder e energia que aquilo produziu.
Sua boca encontrou meu pescoço, seus dentes
roçaram a pele enquanto ele me marcava, me reivindicando
como sua.
— Eu estou… tão perto… — gemi.
Ele respondeu aumentando o ritmo, suas estocadas se
tornando mais fortes e rápidas, suas mãos apertaram minha
bunda com força e me fizeram cavalgar ferozmente em
cima dele.
O som dos nossos corpos batendo juntos preencheu a
floresta, misturando-se aos meus gritos de prazer.
— Jorre em mim, minha lua — ele rosnou, sua voz
grossa cheia de desejo. — Me dê o seu prazer, o líquido da
vida, a força que mantém a existência de pé.
Com um grito de puro êxtase, eu fiz exatamente isso,
meu corpo convulsionou ao redor dele enquanto eu
alcançava um orgasmo cósmico. A sensação foi
avassaladora, uma onda de prazer que me deixou tremendo
e sem fôlego.
Drakhar veio logo depois, suas estocadas se tornaram
erráticas enquanto ele se enterrava profundamente dentro
de mim. Com um último rosnado de liberação, ele me
encheu de porra, seu corpo tremeu com a força do orgasmo
e ainda assim continuou viril e duro, pulsando dentro de
mim, socando até que eu senti.
O poder que obtive da última vez não pareceu nada
perto desse.
Era como se eu fosse maior do que aquela floresta,
mais poderosa do que a gravidade e cada coisa ao meu
redor parecia ser uma extensão de mim.
Drakhar me abraçou e me beijou em desespero e
devoção e eu me entreguei aos seus braços, o que
prolongou o meu prazer. Nossos corpos ficaram assim por
um longo momento, entrelaçados. E nossas respirações se
misturaram ao ar frio da noite, que não me afligia.
Drakhar, por fim, se retirou, seus movimentos foram
gentis enquanto ele me ajudava a levantar. Minhas pernas
estavam trêmulas e eu precisei me segurar nele para me
manter de pé.
— Como se sente? — perguntou.
Eu estava prestes a responder quando meu corpo
começou a ter uma espécie de convulsão. Cada parte minha
se partiu e eu me curvei diante dele. Meus olhos ficaram
turvos e meus sentidos ficaram tão aguçados que eu
parecia ouvir coisas de mais de mil quilômetros, sentir o
cheiro de coisas que nunca tinha sentido antes e enxergar
de forma mais aguçada.
Olhei para minhas mãos e elas se transformaram em
patas de pelugem branca. Drakhar, que era um homem de
estatura alta e imponente, ficou menor do que o meu
tamanho.
Uivei para a lua e minha garganta queimou de prazer
e emoção.
Quase de imediato, Drakhar assumiu sua forma de
lobo preto, exatamente do meu tamanho. Segundos depois,
dezenas de lobos apareceram ao nosso redor, bem menores
do que nós – mas eu lembrava que na minha forma
humana, eles eram maiores do que eu.
Instintivamente comecei a correr pela floresta e sentir
a liberdade em minhas veias, Drakhar me acompanhou,
ficando ao meu lado e os demais lobos correram juntos
comigo enquanto uivavam.
Fui tomada por um sentimento que desconheci
durante toda a vida e o que mais havia chegado perto disso
era minha paixão pelo jornalismo. Um senso de propósito,
uma percepção de um vínculo poderoso e forte com aquela
Alcateia, a certeza de que eu nunca estive, não estava e
nunca estaria sozinha.
O
CAPÍTULO 20
DRAKHAR KARAGAN
UIVO de Brianna ecoou pela floresta, reverberando em
cada fibra do solo, da copa das árvores, do domo do céu
e do meu ser. A lua cheia iluminou seu pelo branco como a
neve, tornando-a a coisa mais linda que eu já havia visto em
toda a minha vida.
Ela parecia plena, imponente, seu simples olhar
emanava poder. Ao vê-la em sua verdadeira forma de lobo,
eu quis adorá-la, servi-la, protegê-la e amá-la.
Ela era, sem sombra de dúvidas, a minha rainha.
Corremos juntos pela floresta, sentindo a terra sob
nossas patas e o vento gélido que cortava as árvores ao
nosso redor. Os outros lobos da alcateia nos seguiram,
respeitando nossa liderança.
A sensação de correr ao lado dela, de sentir sua
presença tão intensamente conectada à minha, era como
reestabelecer a ordem natural das coisas: meus ferimentos
imediatamente cicatrizaram, nos vestígios do incêndio
novos brotos cresceram e a alcateia emanou uma energia
de poder que eu já não me lembrava há muitos anos.
Brianna havia se tornado a Ômega que a lua havia me
prometido, e com ela ao meu lado, eu sabia que a vitória
sobre os Mordrak era garantida.
Paramos à beira de um penhasco, o vento soprou
forte contra nossos corpos. Brianna virou-se para mim, seus
olhos dourados brilhando com o sol. A transformação dela,
tanto física quanto emocional, era evidente. Ela não era
mais a humana insegura que eu havia encontrado. Ela era
uma loba, igual a mim em poder, e juntos, seríamos
invencíveis.
— Sente isso? — perguntei, ainda em nossa forma de
lobo.
Nossas mentes estavam conectadas, e a comunicação
fluía naturalmente.
— Sim. Nunca me senti tão viva, tão… completa. —
Ela ergueu a cabeça em direção à lua, admirada.
— Agora você se vê como eu a vi no primeiro dia.
— É como se eu pudesse fazer qualquer coisa agora.
— E pode.
— Esse poder… ele vai acabar, não é? Como da vez
que Amber me ajudou a fazer chover, o poder vai se
dissolver e sumir de mim?
— Desde que estejamos juntos, a sua fonte de poder
será inesgotável, minha lua.
Ela riu suavemente, sua forma de lobo relaxou um
pouco.
— Quero ter os seus filhotes.
Aquilo me deixou arrepiado. A simples ideia de ter
filhotes com ela era como se a minha vida tivesse sentido.
Era tudo o que eu queria e tinha buscado, mas não tinha
encontrado a minha Ômega.
— Prometo que se sentirá tão poderosa quanto a lua
do céu.
Encostei o focinho no dela e lambi, ela riu.
— Isso faz cócegas.
Ao longe, senti algo. Um cheiro familiar, mas não de
conforto — de perigo. Meu corpo enrijeceu, e Brianna
imediatamente percebeu. Ela se aproximou de mim, seus
olhos me observando com preocupação.
— Chegou a hora.
— Brianna, essa é a sua primeira transformação. Não
podemos enfrentá-los.
— Não acha que é melhor fazermos antes que nos
ataquem primeiro?
Ela estava certa. Eu não tinha medo de enfrentar os
Mordrak, havia feito isso muitas vezes. Tinha medo de
perdê-la, de nunca mais sentir o que havíamos feito aquela
noite, de nos conectarmos profundamente a ponto de
sermos um só.
— Confia em mim?
— Você é o meu Alfa e eu o seguirei.
— E eu vou lutar por você. Para curar essas terras e
deixá-las seguras e prontas para os nossos filhotes.
Os Mordrak não haviam se mostrado desde o incêndio
na minha casa, e eu sabia que aquele silêncio não
significava nada bom. Se o cheiro deles estava próximo
agora, era porque planejavam um ataque.
Não era apenas sobre roubar nossas terras ou desafiar
meu poder como Alfa. Eles queriam Brianna, queriam o
poder dela. E eu nunca deixaria isso acontecer.
Nós dois e toda a Alcateia corremos juntos em direção
a fronteira norte, seguindo o cheiro dos nossos inimigos. E
conforme avançávamos, o cheiro parecia cada vez mais
distante.
Viajamos durante toda a noite e não nos cansamos,
na verdade, nunca tinha visto minha Alcateia tão disposta e
cheia de energia, o que nos economizou tempo e esforço.
Ao chegar nos postos avançados da fronteira com o
norte, tudo o que encontramos foi destruição. Lobos mortos,
violência e sangue por toda a parte.
— Onde está o meu irmão? Draven? — O chamei.
Procurei por todos os cantos, tenso por não encontrar
seu corpo.
— Ele se aliou aos Mordrak — uma voz feminina
chegou aos meus ouvidos.
Fazia tempo que não escutava aquela voz a ponto de
ter esquecido a quem pertencia. Virei o rosto e vi uma loba
branca, gigante, rodeada de seus 10 Ômegas.
A anciã se aproximou cautelosamente.
— Os Mordrak lhe ofereceram uma Ômega e ele
aceitou. Um dos meus Ômegas que o vigiava de longe,
disse que quando ele sentiu o seu poder crescer, traiu os
lobos que estavam ao seu comando, deixou os Mordrak se
aproximar e destruiu tudo.
Eu não pude acreditar. Saber que Draven havia feito
isso foi como um soco em meu estômago.
Meu próprio irmão, um traidor.
As palavras da loba ecoaram na minha mente, criando
um vácuo de incredulidade e raiva. Como Draven, meu
sangue, poderia se aliar aos Mordrak?
Brianna, ainda em sua forma de lobo, veio até mim,
sentindo minha tensão. Ela rosnou baixo, percebendo que a
situação era mais grave do que imaginávamos.
A traição de Draven mudava tudo, afinal de contas,
ele era meu braço direito e tinha bons Alfas sob sua tutela,
ele era instrutor e responsável, em minha ausência.
Aquilo havia deixado de ser apenas uma questão de
enfrentar os Mordrak, agora havia uma ameaça interna —
alguém que conhecia nossas fraquezas.
— Drakhar… — Brianna murmurou em minha mente,
preocupada. — O que vamos fazer agora?
Eu respirei fundo, tentando conter o furacão de
emoções que me dominava. Não podia me permitir
fraquejar, não agora.
— Nós vamos lutar. — Respondi, com uma
determinação renovada. — E vamos vencer, Brianna.
A loba branca deu um passo à frente, interrompendo
nossos pensamentos.
— Eu irei ajudá-los — ela disse, seus olhos dourados
brilharam à luz da lua, tão intensos quanto os de Brianna.
— O que a fez mudar de ideia?
— Sou obrigada a defender o meu sangue.
— Quem é você? — Brianna a encarou, intrigada.
Ela hesitou por um momento, olhando para Brianna
com uma mistura de reconhecimento e tristeza.
— Eu sou Mariel, a mãe de sua mãe, Brianna. Sua avó.
A
CAPÍTULO 21
BRIANNA FOSTER
REVELAÇÃO de que aquela loba branca à minha frente
era a minha avó, me acertou como um raio. Por um
momento minha cabeça inteira entrou em pane e eu lutei
para entender o que aquilo significada.
Tudo o que eu sabia, tudo o que eu pensava sobre
minha família, estava sendo desmontado peça por peça.
Eu mal conhecia minha avó, e o que sabia vinha de
histórias desconexas vindas da minha mãe. Histórias de
abandono, de desaparecimento, de que ela ficou louca e
sumiu.
Agora, ali estava ela, diante de mim, com um poder
tão palpável que me deixava sem palavras.
— Você… você é minha avó?
Mariel deu um passo à frente, sua forma de loba
brilhando à luz da lua cheia. Seus olhos dourados,
semelhantes aos meus, me encararam com uma
intensidade que fez meu coração pular uma batida.
— Sim, Brianna. Não nos vemos há muito tempo,
acredito até que sequer se lembre, pois era tão pequena.
— Eu lembro…
— Lamento profundamente por nunca ter estado ao
seu lado quando você mais precisou. — Ela disse, cheia de
tristeza que me afetou.
De repente, senti uma onda de emoções me invadir:
raiva, tristeza, confusão. Por que ela havia desaparecido?
— Por que… por que você se foi?
Senti um nó na garganta ao confrontá-la.
— Por que me deixou sem saber de nada disso? Sem
saber sobre quem eu realmente era?
Foi impossível segurar as lágrimas, meus olhos
arderam e desse incômodo elas brotaram e começaram a
cair pelo meu rosto.
Minha avó tomou a forma humana primeiro, ela era
uma mulher de cabelos brancos curtos, baixinha como eu,
usava uma calça jeans e blusa branca, jaqueta de couro. Ao
me desestabilizar, também retornei à minha forma original,
mas ao invés de estar nua, eu estava com a roupa de antes.
— Quando eu soube do seu nascimento, eu sabia que
você seria a mais poderosa de nós — sorriu de um jeito
contido. — Sabia que a montanha da lua iria chamá-la. Mas
havia uma guerra acontecendo, Brianna, uma guerra que eu
não poderia te trazer. Minha decisão de ir embora foi uma
tentativa de proteger você e sua mãe.
— Então mentiu para nós?
— Menti. Para deixá-las seguras até que estivessem
prontas. — Ela me olhou, seu olhar penetrante, mas cheio
de arrependimento. — Mas entendo que, ao fazer isso, eu
também as privei da verdade. E por isso, peço desculpas.
As palavras dela mexeram comigo.
Por mais que uma parte de mim quisesse sentir raiva,
outra parte até compreendia. Minha vida inteira tinha sido
marcada por uma busca inconsciente pela minha
identidade, por respostas que minha mãe não pode ou não
quis me dar.
E agora, diante de mim, estava a pessoa que poderia
finalmente me ajudar a compreender tudo.
— Quem são esses lobos? — Espiei os 10 atrás dela.
— São a minha Alcateia. Nós vivemos ao noroeste da
fronteira. Mas em toda essa região, a maior Alcateia é a
Karagan — ela encarou Drakhar com respeito. — Mesmo
assim, os Mordrak são infinitamente mais volumosos agora,
com quase 500 lobos.
Isso gerou um burburinho entre todos os presentes,
minha cabeça foi tomada por várias vozes assustadas e
surpresas com a informação.
— O que faço agora, então? Como eu luto contra os
Mordrak? Como eu projeto essas terras?
Mariel ergueu a cabeça, seus olhos refletindo a luz da
lua, cheios de uma sabedoria antiga.
— O que você e Drakhar possuem juntos é um poder
raro, algo que não é visto há gerações. A união de um Alfa
supremo com uma Ômega de linhagem antiga, como você,
pode trazer equilíbrio não só à alcateia, mas a toda a região.
Vocês dois, juntos, têm a força necessária para derrotar os
Mordrak. Mas… — ela fez uma pausa, me olhando
profundamente nos olhos — isso exigirá sacrifício.
Drakhar, ao meu lado, permaneceu em silêncio, mas
senti a tensão em seu corpo aumentar com aquelas
palavras. Eu sabia que ele estava pronto para lutar até a
morte por mim, e essa certeza me dava força.
— Que sacrifício? — perguntei.
Mariel suspirou, seus olhos ficando sombrios por um
instante.
— Os Mordrak não são apenas uma alcateia inimiga.
Eles estão corrompidos, tomados por uma escuridão antiga
que não se extinguirá facilmente. Para vencê-los, vocês
precisarão se conectar com a montanha de uma forma que
vai além do poder comum. Vão precisar convocar o poder
da lua em sua forma mais pura. — Seus olhos brilharam, e
ela continuou: — E isso só pode ser feito se vocês dois se
unirem completamente. O Grande Rito que une o poder de
vocês dois, corpo e alma.
— Nós fizemos o Grande Rito — falei, me sentindo
seguro. — O poder da lua corre em mim.
— Eu sinto o poder da lua — ela assentiu. — Mas O
Grande Rito ao qual me refiro, não foi o que vocês fizeram.
— Não? — Olhei Drakhar, em busca de respostas.
Minhas mãos tremeram levemente ao ouvir isso.
— Fiz corretamente o Grande Rito, anciã — Drakhar se
pronunciou, irritado por seu conhecimento ser colocado à
prova.
— Não a fecundou — minha avó foi simples na
resposta.
— Eu preciso carregar um bebê de Drakhar? —
Suspirei.
Eu sabia que essa união com Drakhar era inevitável, e
de certa forma, eu a desejava profundamente. Mas ouvir
que isso precisava ser feito imediatamente fez meu
estômago se revirar com uma mistura de medo e
expectativa.
Drakhar deu um passo à frente, sua voz firme e
imperturbável.
— Como pode ter tanta certeza?
— Vejo em seus olhos de lobo que você não sabe.
— Não sei? O que eu não sei? Diga claramente.
— Essa não é a sua forma final — Mariel cruzou os
braços. — É apenas a forma intermediária. Você deve
alcançar sua forma final para o Grande Rito e sua Ômega
precisa estar na forma humana.
— Eu vou transar com ele enquanto ele está… na
forma de um lobo?
— A forma final é uma mistura entre humano e lobo.
Ele terá o rosto humano, certamente, e o mesmo corpo do
umbigo para cima, com exceção das orelhas, caninos e
pelos, é claro.
Dei um passo para trás, assustada com essa ideia.
— As patas serão de lobo, com certeza, a cauda
também. E nessa forma, você como Alfa Supremo exercerá
todo o seu poder para fecunda-la. E quando fizer isso,
poderá enfrentar um exército de 1000 lobos sozinho, se for
o caso.
— Eu estou preparado para isso, Mariel. Brianna e eu
estamos prontos para qualquer coisa que precise ser feita
para proteger essa terra e nossa alcateia. — Ele olhou para
mim, seu olhar tão intenso que quase me fez vacilar. — Não
há nada que eu não faria por ela.
Meu coração acelerou. Parte de mim se sentia grata
pelo comprometimento inabalável de Drakhar, mas ao
mesmo tempo, ter de fazer o Grande Rito com ele na forma
de uma fera me deixava sem fôlego.
Eu não sabia se conseguiria.
— Algum problema, Brianna?
— Não. Só é… demais para assimilar.
— Então assimile rápido. A lua não permanecerá cheia
para sempre — virou as costas e se transformou na loba de
antes. — Eu estarei aqui o aguardando, Drakhar. Meus lobos
e eu iremos para a batalha com você, mas apenas após o
Grande Rito. — O ato deve acontecer dentro da montanha,
a abertura fica debaixo da casa da minha família. Se não
fizerem isso rápido, acabou…
Eu respirei fundo, tentando absorver tudo aquilo. Ter
Drakhar dentro de mim já era assustador o suficiente
porque em sua forma humana, talvez pelo privilégio de ser
um lobo, ele já era colossal em muitos sentidos.
Mas numa mistura meio-homem-meio-lobo? Eu não
sabia o que pensar.
— Brianna? — Ele veio atrás de mim. — Algum
problema?
— Não, nenhum. É só que… é muito para assimilar.
— Vamos voltar para a montanha — ele encostou o
focinho em meu rosto. — Está cansada? Eu a levo, suba em
minhas costas.
— Não, acho melhor correr de volta a Port Angeles, a
adrenalina me faz bem — sorri.
Levei um bom tempo até retornar a forma de lobo, eu
gostava da sensação, me sentia livre e poderosa como
nunca antes.
Assim, corri ao lado de Drakhar, de volta a montanha
da lua. Mas eu não estava totalmente certa se conseguiria
fazer aquilo. Drakhar era atraente, sedutor, seu corpo era
de tirar o fôlego. Mas na forma de uma fera-humana? Aquilo
me deixou incerta se eu realmente embarcaria nessa
jornada.
O
CAPÍTULO 22
BRIANNA FOSTER
SILÊNCIO da noite se estendeu como uma manta ao
redor da montanha. Drakhar, parte da Alcateia e eu
havíamos retornado para Port Angeles, mas apenas ele e eu
fomos para a casa da minha família.
Tentei esconder o máximo que pude os meus
sentimentos divididos, mas eu não era tão boa assim em
dissimular algo que não estava sentindo.
Minha mente estava uma loucura. Eram tantas
informações novas, tantas decisões a serem tomadas em
tão pouco tempo que eu ainda não sabia como não tinha
tido um colapso nervoso.
A presença de Drakhar ao meu lado era reconfortante,
mas ao mesmo tempo, aumentava a pressão que eu sentia.
Assim que chegamos à casa, Drakhar se transformou
de volta em sua forma humana e se aproximou de mim.
Seus olhos prateados me observaram com cuidado,
procurando alguma reação minha, algum sinal de que eu
estava pronta para o próximo passo.
Mas eu não estava.
Eu precisava de tempo, de espaço, de uma chance
para entender o que estava acontecendo e o que aquilo
significava para mim.
— Você mudou.
— Eu não mudei eu só… estou assustada.
— Mas há uma guerra se aproximando, você precisa
tomar uma decisão.
— Eu sei — suspirei e abaixei a cabeça. — Quanto
tempo eu tenho?
— A lua cheia passará em 7 dias, ou fazemos isso logo
ou só teremos o próximo mês. Acho que precisa de espaço
para decidir.
— Sim, eu preciso.
Senti um nó se formar na minha garganta. O peso das
expectativas, o medo do desconhecido… tudo parecia maior
do que eu conseguia lidar.
— Quando tiver uma resposta, vou te chamar.
Ele se aproximou mais, suas mãos grandes seguraram
meus braços com delicadeza. Eu sentia o calor dele, a
segurança que emanava de sua presença. Ele queria me
proteger, isso era claro. Mas o que ele estava pedindo de
mim era imenso.
— Você não tem muito tempo para pensar — ele
disse, a voz grave. — Eu não quero te pressionar, mas essa
é uma decisão que precisa ser tomada logo.
Afastei-me dele suavemente, os olhos fixos no chão
enquanto tentava acalmar a tempestade que se formava
dentro de mim.
— Eu sei. Eu só… preciso ficar sozinha por um tempo.
Drakhar assentiu lentamente, respeitando minha
necessidade de espaço, embora eu pudesse ver a
preocupação e decepção em seus olhos. Ele sabia que o
tempo estava se esgotando, mas também sabia que forçar
algo poderia afastar tudo que estávamos construindo.
— Não faço ideia de como seja essa forma que a sua
avó citou, mas mesmo que seja um monstro… serei eu.
Lembre-se disso.
Ao dizer isso, ele deu um passo para trás, permitindo
que eu entrasse em casa e ele seguisse seu caminho.
Assenti, e sem dizer mais nada, subi as escadas e me
tranquei no quarto. O mundo parecia pesar sobre meus
ombros, e eu não sabia como lidar com tudo aquilo.
No dia seguinte
Na manhã seguinte, depois de uma noite mal dormida
e sem saber qual decisão tomar, fui atrás de conselhos.
Amber, com sua sabedoria, talvez tivesse alguma
resposta para minhas dúvidas. Dirigi até a livraria-café que
ela gerenciava no centro da cidade, crente de que ela
conseguiria clarear meus pensamentos.
Quando entrei no estabelecimento, o cheiro de café
recém-passado e livros antigos me recebeu como um
abraço, mas nem isso conseguiu aliviar o peso que sentia
no peito. O local estava um pouco parado, haviam três
pessoas sentadas lendo livros, uma mulher em um laptop;
Amber estava atrás do balcão, limpando algumas xícaras.
Quando me viu, seu sorriso habitual se apagou.
— Brianna… o que houve? Parece que viu um
fantasma.
— Não me fala que eles existem, não consigo mais
descobrir nada sobre esse novo mundo — vibrei os lábios,
na esperança de que aquilo me distraísse.
— Sim, fantasmas existem, assim como dezenas de
outras criaturas. Mas tenho certeza de que não é isso que
está te afligindo.
Eu me sentei à mesa mais próxima, apoiando a
cabeça nas mãos, tentando encontrar as palavras certas.
— Eu não sei o que fazer, Amber. O Grande Rito, o
sacrifício, tudo isso… é demais. E eu não sei se estou pronta
para isso. Para ter filhos, para ser essa… deusa deles.
Amber se aproximou e puxou uma cadeira, sentandose ao meu lado.
— É muito para processar — ela concordou, sua voz
suave. — Mas você não ia fazer o Grande Rito? Disse que
Drakhar a levaria até a floresta…
— Não, esse não valeu — fechei os olhos. — Quer
dizer, valeu. Será que consegue sentir o meu poder?
Estendi a mão para que ela segurasse. Amber olhou
minha palma com curiosidade, segurou após relutar. E
nesse instante seus olhos se arregalaram.
— Com esse poder, não seria uma chuva pequena em
cima da mansão dele que faríamos e sim uma tempestade
em metade da floresta.
— Pelo visto, posso ficar ainda mais poderosa do que
isso — sorri de nervoso. — Uma tempestade no país inteiro,
talvez.
— E qual o problema?
— Drakhar precisa estar numa forma meio lobo meio
homem, tipo uma fera, um monstro — murmurei, sentindo
as lágrimas se acumularem novamente. — Eu não sei se
posso seguir em frente com isso, Amber. E se ele for feio? E
se ele for monstruoso? Assustador?
— Ah, Brianna — apertou minha mão com gentileza.
— Drakhar vai se transformar em uma fera. Eu não sei
como ele vai ficar. Pior! Minha avó disse que essa é a forma
final dele, ou seja, ele pode ficar assim para sempre.
Amber fez uma expressão pensativa, olhando para o
chão por um momento antes de voltar a me encarar.
— Não sei se quero que meus filhos tenham uma fera
como pai.
— Eu entendo o medo, Brianna. Mas o poder que você
tem, que vocês dois têm juntos, é algo raro. E isso pode ser
a única coisa que vai salvar essas terras. Salvar todos nós.
Eu balancei a cabeça, tentando afastar os
pensamentos de dúvida, mas eles voltavam de imediato.
— Você tem alguma ideia de como ele vai ficar?
Alguma imagem, foto, algo que me ajude a entender? —
perguntei, tentando achar algum fio de lógica em meio ao
caos.
Amber balançou a cabeça.
— Não, não tenho. Minha mãe escreveu em seus
diários sobre como os Alfas Supremos tomam sua forma
final durante o Grande Rito, mas as descrições são vagas. A
maioria das anotações fala sobre o poder, não sobre a
aparência.
Suspirei, frustrada. Tudo parecia tão nebuloso, tão
incerto.
— Eu não sei se posso fazer isso — admiti, olhando
para Amber com honestidade. — Eu pensei em abandonar
tudo. Deixar Drakhar, a alcateia, a montanha… e voltar para
a minha vida de antes.
Ela não pareceu surpresa com a minha confissão, mas
seus olhos ficaram sérios.
— E você acha que seria capaz de viver com essa
escolha?
Minha garganta apertou. Eu sabia a resposta, mas
dizer em voz alta parecia impossível. Não. Eu não
conseguiria voltar à minha vida antiga sabendo que havia
algo tão grandioso à minha espera. Algo que eu precisava
fazer. E pessoas, como a mãe de Amber que precisavam de
socorro. Mas o medo era real, a dúvida também.
— Não sei. Talvez não. Mas, ao mesmo tempo, eu não
sei se consigo seguir em frente.
Amber apertou a minha mão gentilmente com as suas
duas.
— O que você sente por Drakhar?
A pergunta me pegou de surpresa. O que eu sentia
por ele? Além do desejo, além da conexão? Era amor? Era
algo ainda maior? Ainda estávamos nos conhecendo!
— Eu… eu me sinto conectada a ele. Como se, de
alguma forma, sempre estivéssemos destinados a isso. Mas
ao mesmo tempo, tenho medo de me perder nesse
caminho.
Amber assentiu, compreendendo.
— Eu acho que é exatamente isso que o poder da lua
faz. Ele nos guia para algo maior, mas também nos testa.
Você me disse, naqueles dias que ficamos juntas estudando,
que Drakhar falou que você era perfeita para ele, do jeito
que ele pediu a lua. Não acha que a forma final dele ao
invés de medo vai te despertar… o que você realmente
quer?
— Um monstro? — Falei alto demais e cobri a boca. —
Uma fera?
Fechei os olhos, tentando encontrar a resposta dentro
de mim. Eu sabia que estava fugindo, que o medo estava
me impedindo de ver com clareza. Mas talvez Amber tivesse
razão. Talvez fosse a hora de enfrentar meus medos e
descobrir o que eu realmente queria.
— O ato na floresta… foi prazeroso?
Movi a cabeça mostrando um sim, mas mantive minha
boca coberta.
— Eu tenho uma amiga… — ela me olhou com os
olhos estreitos. — Que disse que quando faz algo com seu
lobo, o pau dele fica uns 40cm e grosso.
— Não era menos de 75cm, eu juro — cobri a boca
após dizer isso, morrendo de vergonha. — E sabe-se lá
como, mas coube. E foi… mágico.
— Na forma final ele pode ter quase um metro —
arregalou os olhos. — Que assustador… minha boca chega
enche de água — ela se abanou.
— A minha também. Acho melhor pedir um café — fiz
um bico. — Tenho muito o que pensar.
— Relaxa, amiga, é por conta da casa.
Amber se levantou e voltou para detrás do balcão
onde começou a produzir uma xícara de café fresquinho
para mim. E eu me enterrei naquela cadeira, perdida em
meus pensamentos, sobre o que deveria fazer.
A
CAPÍTULO 23
DRAKHAR KARAGAN
DÚVIDA estava estampada no rosto de Brianna, como
uma sombra que não podia ser ignorada. Ela se afastou
de mim na noite anterior, pedindo tempo para pensar, mas
eu sabia. Sabia que seu coração estava tomado por medos
que não era só dela, mas de todos os Ômegas, que um dia,
tiveram que tomar essa decisão.
Eu queria dar-lhe tempo, espaço. Queria ser o Alfa
compreensivo, aquele que respeitava a boa vontade da sua
companheira, mas… a lua não esperaria por ela. E cada dia
que se passava era um risco maior para todos nós, porque
os Mordrak não paravam de ficar fortes. E a qualquer
momento avançariam por Port Angeles, para usurpar as
terras.
Na manhã seguinte, Noah, Troy, Flynn e Skylar vieram
até mim.
— O que desejam?
— Queremos provar o nosso valor, com sua
permissão, Alfa — Noah disse.
— Nós já estivemos entre os Mordrak, então queremos
retornar — Troy disse e isso levantou a minha fúria. —
Vamos provar nossa lealdade a esse clã, a nossa Alcateia —
completou.
— Queremos libertar a bruxa, mãe da Amber — Skylar
explica. — E quaisquer outras Ômegas que estiverem por lá.
— E como farão isso?
— Poucos lobos protegem o acampamento dos
prisioneiros, que nem fica no coração do clã Mordrak. Eles
só vão até lá para drenar o poder daquelas pobres mulheres
e depois retornam para os seus negócios, invadindo outros
territórios mais ao norte.
— Não posso perder mais nenhum homem. Somos
poucos e precisamos de cada lobo — decidi.
— É a única forma de enfraquecê-los e deixá-los
vulneráveis — Skylar tentou ser firme.
— Sem as Ômegas eles ficarão fracos — Noah tentou
apelar para o lado racional.
— Essa é a minha decisão. Se deixarem a Alcateia
sem as minhas ordens, nunca mais poderão voltar.
Eles saíram e eu fiquei sozinho, de volta às minhas
sombras.
Nesse momento, minha mente tentou se conectar
com Brianna. Tudo o que eu sentia era que ela estava
distante, e esse vazio me corroía.
Kaelan veio me fazer companhia, ao perceber que eu
estava perturbado.
— O que te aflige, Alfa?
— Ela está fugindo — lamentei. — Ela está se
afastando, e eu não sei se consigo trazê-la de volta.
Minha forma humana já não me satisfazia naquele
momento. Era como se estivesse à beira de perder o
controle, como se a fera dentro de mim clamasse por sua
companheira de uma maneira que eu não poderia mais
conter.
Brianna era a chave para tudo, para o poder que
precisávamos para vencer os Mordrak, para a sobrevivência
da minha alcateia… para minha própria alma. E agora ela
estava considerando abandonar tudo. Abandonar a mim.
— Ela quer partir.
Eu já tinha lidado com traições e abandonos antes,
principalmente pela escassez de Ômegas nos últimos anos,
mas isso… isso era diferente.
Ela era minha Ômega. Ela era a mulher pela qual eu
esperei minha vida inteira. E o pensamento de perdê-la me
enchia de uma fúria que eu não conseguia controlar.
— Deixe-a partir e chame outra Ômega. Uive para a
lua! — Kaelan sugeriu.
— Não é assim, Kaelan. Um Alfa precisa de uma
Ômega. Vai entender quando encontrar a sua.
— Eu não preciso de uma Ômega — ele foi firme. —
Eu me sinto completo com a mulher que tenho.
— Então nunca chegará ao ápice do seu poder. E eu
não poderei enviá-lo para formar outra Alcateia quando
chegar a hora.
— Mas eu não quero isso, irmão — ele segurou em
meu braço. — Eu quero a mulher que gosto e quero servir a
essa Alcateia. Não preciso chegar ao ápice do meu poder,
tenho o meu irmão, o meu Alfa e o servirei até minha morte.
Às vezes eu esquecia o quanto ele era tão jovem e
tolo. Mas também corajoso e leal.
— Assim como você quer a aprendiz de bruxa, meu
coração quer Brianna.
Eu sabia que não podia pressioná-la, mas cada fibra
do meu ser gritava para fazer exatamente isso. Para segurála em meus braços e fazê-la entender que ela não podia
fugir de seu destino, de nós. De mim.
Enquanto lutava com meus próprios demônios, a
vontade bestial de sequestrá-la, aprisioná-la e deixá-la
solitária numa cela até decidir ceder a mim, a loba branca
apareceu.
Sua presença não era surpresa, mas o olhar sério e
calculista em seus olhos me alertou de que algo estava
acontecendo.
— Eu sinto a sua forma final gritando para sair — ela
disse, sem rodeios. — Passou tanto tempo como homem e
tanto tempo como lobo, que não faz ideia de como será
viver nessa forma dual.
— De fato, não faço, Mariel. O que veio fazer aqui?
— Jovens lobos foram a minha procura, perguntando
se poderiam pertencer à minha Alcateia caso fossem
expulsos da sua.
— Noah, Troy, Flynn e Skylar… — massageei a testa,
irritado.
— Não aceitei. São leais a você, não a mim. E lealdade
por medo não me interessa.
— Eles vão ouvir muito!
— Deixe-os ir, Alfa. É o melhor plano que você tem
caso Brianna decide não concluir o Grande Rito.
— Não posso colocá-los em perigo, Mariel.
— Estamos todos em perigo e fugir é tolice. Eles já
estiveram entre os Mordrak antes, compartilham o mesmo
cheiro ainda, então…
Suspirei, irritado.
— Você já foi um líder mais sábio, Drakhar. Mas no
momento, a pressão da fera crescendo em você fala mais
alto do que qualquer coisa. E sem a sua Ômega para
equilibrar o monstro, está sendo tomado por sua fúria.
— Ela está com medo. Ela não confia em seu próprio
poder, não confia em mim.
— E você? Confia nela? Confia na montanha? Na lua?
— Mariel me olhou, seus olhos cortantes. — Porque, de onde
eu vejo, você está tão perdido quanto ela. Você pode ser o
Alfa Supremo dos Karagan, mas está com tanto medo
quanto um filhote. Se não controlar essa incerteza, Drakhar,
ela sentirá isso em você. E isso só vai alimentar os medos
dela.
Minha mandíbula travou. As palavras de Mariel eram
duras, mas lá no fundo eu sabia que ela estava certa. Eu
tinha que ser o pilar, a rocha em que Brianna pudesse
confiar, mas meu próprio desespero estava enfraquecendo
essa conexão.
— O que faço, então?
— Aceite sua forma final, transforme-se.
— Você disse que não há volta. E eu gosto da minha
forma humana, gosto da minha forma de lobo.
— A sua natureza está lhe chamando, aceite.
Transforme-se e uive para a lua, chame por ela.
— E se isso não for o suficiente, Mariel? E se ela
decidir ir embora?
Mariel se aproximou, e pela primeira vez, sua
expressão suavizou.
— O seu destino e o destino da minha neta estão
entrelaçados, mas isso não significa que você não precisará
lutar por ela.
Eu respirei fundo, as palavras de Mariel ecoando em
minha mente. Brianna estava lutando suas próprias
batalhas, e eu estava aqui, mergulhado no medo de perdêla, em vez de fazer a parte que me cabia.
— Ela não virá até você. Pare de pensar que o destino
fará tudo sozinho. Lute por ela. Transforme-se na fera e
chame por ela. Mostre que você é digno de ser o Alfa dela,
que você é o único complemento da natureza dela.
As palavras de Mariel me despertaram. Eu estava tão
focado no que poderia perder que esqueci quem eu era.
Esqueci que eu era o Alfa Supremo. E Brianna precisava ver
isso, sentir isso. Não havia mais espaço para incertezas.
— Vá para a luz da lua e aceite quem você é.
Eu não precisei ouvir mais nada.
Caminhei para fora da mansão, o vento da noite
cortando minha pele exposta. A lua, plena e poderosa,
pairava sobre mim, seu brilho me chamando, quase me
implorando para que eu aceitasse o que estava prestes a
acontecer.
Respirei fundo, permitindo que o ar gelado enchesse
meus pulmões até que quase doesse. Fechei os olhos, e
naquele instante, a fera dentro de mim acordou, clamando
pela liberdade que eu havia negado por tanto tempo.
Uivei.
O som saiu de mim com uma força que sacudiu o ar,
reverberando entre as árvores com a força selvagem que eu
vinha reprimindo. Meu corpo reagiu de imediato.
O primeiro estalo foi quase inaudível, mas o segundo
veio acompanhado de uma onda de dor que me fez dobrar
os joelhos. Meu peito arfava, meus músculos tensionados,
enquanto o mundo ao meu redor parecia tremer junto
comigo.
Senti meus ossos se partirem e se moldarem
novamente. A dor era intensa, mas ao mesmo tempo, havia
algo profundamente libertador nela. Minhas mãos, antes
humanas, começaram a se alongar, as unhas se tornando
garras afiadas, e o pelo negro e grosso emergiu, cobrindo
meus braços e peito. Meus pés se alongaram, tornando-se
patas, a terra sob mim rangendo enquanto minhas garras
perfuravam o solo.
A transformação era selvagem, brutal, e cada parte do
meu corpo parecia explodir de poder.
O mundo ao meu redor começou a mudar conforme
eu mudava.
O vento, antes suave, agora parecia rodopiar
violentamente, como se a própria natureza reconhecesse o
que eu estava me tornando. As árvores pareciam se curvar,
sombras dançavam nas bordas da clareira, e a lua, alta no
céu, pulsava com uma intensidade que eu nunca havia
sentido antes.
Minha mandíbula se alongou, criando um focinho que
carregava a ferocidade de um lobo. Meus dentes se
transformaram em presas, afiadas como lâminas, e a
respiração quente escapou dos meus pulmões em nuvens
que subiam até o céu. Senti a mudança em cada fibra do
meu corpo, um poder avassalador que me preenchia,
pulsando em meu sangue, em meus ossos.
Quando a transformação finalmente terminou, eu me
vi refletido no pequeno lago à minha frente. A criatura que
me encarava não era nem homem nem lobo — era algo
entre os dois, uma força primordial, selvagem, maior do que
qualquer forma que eu já havia tomado.
Meus olhos, agora brilhantes como a própria lua,
fixaram-se na água, e o reconhecimento de quem eu
realmente era se infiltrou em cada célula.
Eu me ergui, respirando profundamente. Cada
músculo em meu corpo estava tensionado, pronto para a
batalha, e o poder que emanava de mim fazia a terra vibrar
sob meus pés.
Uivei novamente, dessa vez com uma força renovada,
e o som reverberou pelo céu, como um trovão chamando
Brianna. Eu sabia que ela poderia me ouvir, que sentia esse
chamado. Eu a queria ao meu lado, agora mais do que
nunca.
Toda a minha Alcateia ficou de joelhos e eu uivei para
a lua a plenos pulmões. O som do meu chamado ecoou pela
copa das árvores, sobrevoou os céus como pássaros e
reverberou por toda a Port Angeles.
— Os lobos tem a minha permissão para entrar no
acampamento Mordrak e resgatar as Ômegas — falei para
todos eles.
— Muito bem — Mariel aprovou, orgulhosa.
— Agora irei até Brianna.
— Ela ouviu o seu chamado uma vez, Drakhar —
Mariel me encorajou. — Faça-a ouvir novamente.
Q
CAPÍTULO 24
BRIANNA FOSTER
UANDO abri os olhos, percebi que estava na entrada da
floresta. Pisquei tentando me lembrar do que havia
acontecido e então o uivo ecoou mais uma vez. De alguma
forma, aquilo havia me deixado hipnotizada e me feito sair
de casa sem nem perceber e vagar pela descida da
montanha até entrar nos domínios de Drakhar.
Tentei convencer a mim mesma de que estava pronta,
de que a conexão que sentia por Drakhar poderia superar
qualquer coisa. Mas a verdade era que eu não sabia o que
estava por vir. E esse desconhecido me aterrorizava.
Quando cheguei à clareira, o vento foi tão voraz que
era como se cortasse a pele do meu rosto como uma
lâmina, e o frio se infiltrou em meus ossos. Eu senti a
presença dele antes de vê-lo. O som de seus passos
pesados, o roçar das árvores ao seu redor, um ruído que
parecia uma ameaça silenciosa, como se a floresta
estivesse se preparando para testemunhar algo grande,
algo monstruoso.
E então, ele apareceu.
Drakhar… ou melhor, a fera em que ele havia se
transformado.
Meus olhos se arregalaram ao vê-lo.
Ele era gigantesco, uma mistura de homem e lobo,
com patas poderosas, garras afiadas que refletiam o brilho
da lua, e um corpo coberto de pelos negros que se moviam
como sombras ao vento. Mas o que mais me assustou foi o
olhar. Os olhos de Drakhar, que antes eram prateados e
suaves, agora estavam tomados por uma ferocidade
animalesca. Um brilho intenso e feroz que parecia consumir
tudo ao seu redor, inclusive eu.
Eu tentei respirar, mas meu peito apertou. O medo
me paralisou, congelando cada parte do meu corpo. Ele deu
um passo em minha direção, e cada músculo meu gritou
para correr, mas meus pés estavam colados ao chão.
— Brianna — ele disse, mas sua voz soou diferente,
muito mais grave e animalesca do que eu me recordava.
— O que é isso?
— Sou eu. Drakhar.
Eu queria acreditar nisso, queria enxergar o homem
que eu havia começado a me apaixonar por trás daquela
monstruosidade. Mas tudo o que eu via era a fera. Uma
parte de mim sabia que ele era mais do que isso, que por
trás daquela transformação havia o Drakhar que prometeu
me proteger, o Drakhar que me segurou quando eu tremia
de medo.
Mas naquele momento, o medo foi maior.
Ele se aproximou, mais um passo, e eu me afastei
instintivamente, recuando.
— Você ouviu o meu chamado.
— Não, Drakhar, eu não sei se posso…
A fera se ajoelhou diante de mim, sua mão gigantesca
estendida, tentando me trazer para perto. Mas tudo o que
eu conseguia ver eram as garras. Aquelas garras que
poderiam me destruir com um único movimento.
Meu coração batia tão forte que parecia que ele iria
sair do peito. O calor de seu corpo irradiava até mim, e
mesmo em meio ao frio da noite, eu suava de pavor.
— Não… eu… não consigo.
— Confie em mim.
— Não, Drakhar, você não é… não pode ser…
Ele deu mais um passo, os olhos fixos nos meus, sua
expressão tão intensa, tão cheia de uma necessidade que
me aterrorizava.
Eu não estava pronta para isso, não estava pronta
para aceitar a monstruosidade que ele havia se tornado.
Cada parte de mim gritava para fugir, para me afastar
dessa coisa que, apesar de tudo, eu sabia que ainda era
Drakhar.
Mas era grande demais. Assustador demais.
— Brianna, você não precisa ter medo de mim. Eu
nunca te machucaria — sua voz era um pedido, uma
súplica.
Eu queria acreditar, mas não conseguia. Não naquele
momento.
Com um impulso de desespero, eu me virei e corri.
Minhas pernas pareciam fracas, mas a adrenalina me
deu forças. O vento cortou meu rosto enquanto eu corria de
volta para a montanha, os galhos das árvores me
arranhavam, mas eu não parei, mesmo quando meu corpo
pediu. Eu podia ouvir Drakhar atrás de mim, o som de seus
passos pesados me seguindo, mas não olhei para trás. Eu
não podia. Não agora.
— Brianna! — a voz dele ecoou pela noite, uma
mistura de agonia e desespero. — Volte! Não fuja de mim!
Mas eu não conseguia parar. O pavor que me
dominava era mais forte que qualquer outra coisa. A única
coisa que eu sabia era que precisava fugir. Fugir antes que
ele me alcançasse, antes que eu fosse consumida pela fera
que ele havia se tornado.
Quando finalmente parei, sem fôlego, nos portões de
ferro da antiga propriedade, as lágrimas escorreram pelo
meu rosto. Me encostei nelas, meu corpo inteiro tremia, e só
então me permiti chorar de verdade.
Eu tinha me apaixonado por Drakhar. Disso, eu sabia.
Mas a forma que ele havia assumido, o que ele havia
se tornado… era mais do que eu conseguia suportar. E
naquele momento, naquele pequeno instante de terror, eu
percebi que não podia mais fazer isso. Eu não podia seguir
em frente. O medo havia me vencido.
A lua brilhava acima de mim, impassível, e seu brilho
só parecia aumentar o peso que eu sentia em meu peito. Eu
tinha falhado. Tinha falhado com Drakhar, comigo mesma,
com a Alcateia. E o pior era que eu sabia que isso
significava mais do que apenas perder o amor dele.
Significava perder tudo.
Se eu não fosse capaz de superar esse medo, como
poderia proteger essas terras? Como poderia enfrentar os
Mordrak? Eu não tinha resposta para essas perguntas,
apenas a certeza de que, se continuasse fugindo, o ciclo de
destruição não pararia.
Entrei em casa, desesperada e puxei o telefone, liguei
para Amber.
— Oi… é tarde, né? — Ela riu, meio sem jeito.
— Como faço para comprar uma passagem de volta
para Washington? Preciso sair daqui. Essa noite. O quanto
antes.
Ela murmurou, parecia estar afastando o sono.
Acabou bocejando.
— Teríamos que ir no aeroporto, e…
As palavras dela desapareceram quando senti presas
em meus pés e uma força animalesca me puxar, a ponto de
eu cair no chão. Por reflexo, uni os braços diante do rosto
para protegê-lo e senti aquela besta feroz me arrastar até o
porão.
— Drakhar?
Não era ele. Percebi pela pequena roda de lobos que
se formou diante dos meus olhos. Eram os Mordrak.
— Mostre-nos a caverna sagrada! — Eles rosnaram,
ameaçadores.
— Abra o caminhou ou nós a mataremos! — Latiram,
ferozes.
Naquele momento, lá embaixo no porão, encarei a
parede de pedra e abri a passagem, na esperança de que
me soltassem. Mas o que eles fizeram foi me arrastar
caverna adentro.
A
CAPÍTULO 25
DRAKHAR KARAGAN
NOITE havia se tornado insuportavelmente fria, mas o
gelo que consumia o meu coração era ainda mais cruel.
Eu ainda podia ver Brianna fugindo de mim como se fosse
um monstro, seu coração errando as batidas de tanto pavor
e sua mente tentando se desconectar da minha a qualquer
custo. Isso doía mais do que tudo o que tinha
experimentado na vida.
Ela tinha escolhido o medo.
Eu sabia que era aterrador para ela me ver naquela
forma. Eu sabia que, por mais que ela sentisse a conexão
entre nós, o peso do desconhecido e o terror que o poder da
lua trazia era demais para suportar. Mas isso não tornava a
rejeição menos dolorosa.
Quando seu cheiro desapareceu na distância, senti
meu corpo desmoronar, como se a lua, que antes me dava
força, tivesse se apagado no céu. Era isso. Eu tinha perdido.
Brianna, havia escolhido me deixar.
Minha forma monstruosa era tudo o que eu não queria
ser para ela. Eu a tinha afastado, e a dor de sua perda era
insuportável.
Eu rugi para o céu, sentindo meu peito queimar de
agonia, mas nada apagava o vazio que agora habitava
dentro de mim.
— E então? — Mariel perguntou assim que retornei
para a mansão.
— Ela fugiu de mim. Não a julgo, nessa forma, eu
também fugiria.
— O que pretende fazer agora?
— Usar todo o poder que me resta para alcançar os
lobos que invadiram o acampamento dos Mordrak. Isso aqui
é um caso perdido.
Minhas mãos — ou melhor, minhas garras —
cerraram-se em punhos, a raiva e a frustração tomaram
conta de mim. Mariel, a loba branca, que entendia mais
sobre a lua e o poder do que qualquer um, concordou com
minha decisão.
Mas eu não podia mentir, não para mim mesmo. A
minha vontade era a de destruir tudo ao meu redor, assim
como o destino estava me destruindo.
— Vamos uma última vez para a fronteira norte e
vamos lutar até o fim — rugi.
Aqueles da minha Alcateia que não estavam em sua
forma de lobo, começaram a transformação. Os que já
estavam, começaram a se organizar para nossa última
jornada.
Saímos de Port Angeles em marcha quando minhas
orelhas se ergueram. Um cheiro de sangue e de morte
começou a perfurar o ar. Instantaneamente olhei para trás,
senti meus instintos aflorarem.
— O que houve?
— Não está ouvindo isso? — Encarei o horizonte atrás
de mim, a montanha da lua no centro dele.
— Não. Não ouço nada.
— Lidere a Alcateia na minha ausência, Mariel — dei
alguns passos para trás. — Eu preciso voltar.
— Seus lobos não serão fortes sem você! — Ela
advertiu.
— Ela está me chamando!
Cada célula do meu corpo queimou com a fúria
avassaladora que cresceu dentro de mim. Não. Eles não
podiam ter tocado nela. Não podiam ter machucado a
minha Brianna. Minhas garras cravaram-se no chão, e todo
o meu ser vibrou com uma nova determinação.
Por um momento, o medo congelante ameaçou voltar,
mas dessa vez, eu o afastei. Eu não podia me dar ao luxo de
hesitar. Não mais. Brianna precisava de mim, e eu a traria
de volta, mesmo que isso custasse a minha vida.
Brianna Foster
A ESCURIDÃO me envolvia completamente enquanto
era arrastada pelos lobos Mordrak caverna adentro. Meus
pés arranhavam o chão, e eu lutava para me livrar das
garras que me seguravam, mas era inútil.
Eles eram muito mais fortes do que eu.
O medo corroía cada fibra do meu ser, mas no fundo,
uma outra voz começou a emergir. Não era a voz do medo,
era a da raiva, da frustração por ter fugido, por ter escolhido
o caminho mais fácil. Drakhar estava certo. Eu não confiei
nele. Não confiei em nós.
Agora, eu estava pagando o preço.
— Mostre-nos o caminho, Ômega — um dos lobos
rosnou.
— Eu não sei de nada — minha voz saiu entrecortada,
mas eu sabia que era inútil negar.
Eles queriam o poder que a montanha guardava, o
mesmo poder que eu estava destinada a proteger.
— Não minta para nós! — outro lobo rosnou, puxandome com mais força.
Minha cabeça girava de medo, mas a dor nos olhos de
Drakhar, a maneira como ele me olhou antes de eu correr,
estava cravada em mim. Ele havia me dado a chance de
confiar nele, e eu havia escolhido fugir.
Eu não podia mais fugir.
Fechei os olhos e tentei encontrar algum resquício do
poder da lua que senti antes, aquele poder que Drakhar e
eu havíamos compartilhado. Mas estava distante. Eu estava
sozinha. Perdida. E pela primeira vez, percebi que não podia
fazer isso sozinha. Eu precisava de Drakhar. Eu precisava
confiar nele.
— Achei o caminho! — Um dos lobos que havia se
separado do restante, voltou. — Sigam por aqui.
Eles correram até encontrar o coração da montanha.
Minutos depois, diferente de todo o tempo que Amber e eu
levamos, eles chegaram até a câmara. Me largaram num
canto qualquer e começaram a examinar cada centímetro
daquele lugar.
— Aqui estão os portais. Destruam tudo. Vamos
colocar essa montanha abaixo e destruir esse poder!
Antes que pudesse reunir mais pensamentos, um uivo
ensurdecedor ecoou pela caverna. Os lobos Mordrak
pararam, seus olhares arregalados. Eu sabia o que aquilo
significava.
Drakhar estava vindo.
— Destruam! — O líder deles incentivou. — Não
deixem nenhuma pedra de pé, arranhem os escritos
antigos, contaminem a água leitosa do lago!
Fui tomada por uma profunda vergonha com a ideia
de reencontrar Drakhar depois da minha atitude. Ele iria
lutar por mim? Mesmo depois de eu ter fugido, de ter
escolhido o medo em vez do amor?
Naquele momento, algo dentro de mim se quebrou.
Eu não podia mais negar o que sentia por ele, mas também
não podia continuar agindo assim, com medo, fugindo de
quem eu era.
Eu sabia que Drakhar não conseguiria derrotar todos
os Mordrak sozinho, mesmo com todo o poder que ele
possuía. Mas eu também sabia que, se uníssemos nossas
forças, se confiássemos um no outro, talvez houvesse uma
chance. Uma pequena, mas real, chance de vencer.
Quando ele passou por aquela porta da caverna, o
poder da lua retornou para mim. Eu senti o poder da lua
preenchendo cada célula do meu corpo, queimando como
fogo e gelo ao mesmo tempo.
Minhas mãos formigaram, o som dos ossos se
ajustando reverberaram em meus ouvidos enquanto elas se
transformavam em patas.
Minha visão ficou mais nítida, meus sentidos
aguçaram, e, pela primeira vez, eu não estava apenas
aceitando a mudança — eu a estava reivindicando. A loba
branca emergiu de mim como uma força que sempre esteve
lá, aguardando ser libertada.
Drakhar e eu uivamos um para o outro e depois
encaramos os lobos Mordrak, encurralados. Eles pareciam
pequenos, quase crianças diante do nosso tamanho.
De alguma forma percebi que aquele momento não
era apenas sobre o amor que tínhamos ou não coragem de
aceitar. Era sobre salvar tudo e todos que importavam. E eu
tinha uma escolha a fazer, e desta vez, não escolheria o
medo.
Os Mordrak uivaram para aumentar o seu poder e nos
amedrontar, mas com um passo as garras de Drakhar
rasgaram o chão rochoso, cada passo que deu parecia uma
explosão de poder.
Os lobos Mordrak hesitaram por um segundo, mas
logo avançaram, seus dentes à mostra. O rosnado profundo
de Drakhar sacudiu as paredes da caverna, ecoando como
um trovão.
— Você veio — eu o admirei, mesmo assustador.
— Você chamou por mim.
Drakhar disparou para frente com um rugido primal,
seu corpo enorme parecia uma sombra mortal. Suas garras
afiadas rasgaram o ar antes de colidirem com o primeiro
lobo Mordrak, arrancando um grito de dor. Um segundo lobo
tentou atacá-lo pela lateral, mas Drakhar girou
rapidamente, esmagando o inimigo no chão com um golpe
poderoso. A caverna foi preenchida por rosnados, o som de
garras encontrando carne, e a fúria pura que emanava de
Drakhar enquanto ele lutava por sua alcateia — e por mim.
D
CAPÍTULO 26
BRIANNA FOSTER
RAKHAR rugiu e avançou contra os Mordrak com uma
fúria que parecia saída das entranhas da própria terra.
Ele não era mais apenas o Alfa da Alcateia, era uma força
da natureza, com um poder superior ao que já havia
demonstrado.
Os lobos Mordrak hesitaram por um momento,
intimidados pelo tamanho colossal de Drakhar em sua
forma final, mas logo rosnaram e se atiraram sobre ele.
Suas garras cortaram o ar e o ambiente foi tomado
por um som agudo e metálico. Drakhar se ergueu, seus
músculos tensionados, e em um único golpe de suas garras
enormes, derrubou dois lobos de uma só vez.
Eu tive medo de me envolver na briga física, mas
senti que não podia ficar parada. Corri até o lago leitoso e
quando entrei nele o ar ficou mais denso, o poder da lua
fluiu dentro de mim, queimando com uma intensidade
fenomenal.
Um lobo enorme que tinha cicatrizes que
atravessavam seu corpo veio em fúria para cima de mim.
Seus olhos vermelhos como brasa me encararam, sedentos.
Agachei meu corpo e senti as patas se fecharem. Uma
onda de energia vibrou na água que começou a formar
círculos ao meu redor. Ele rosnou e tentou me atingir com
uma mordida, abrindo bem sua boca em direção ao meu
pescoço. Então concentrei minha atenção nas águas abaixo
de mim e de repente essa energia estourou de uma só vez,
empurrando o lobo para longe, jogando-o contra a parede
do outro lado da caverna.
— Não vai me derrubar tão fácil! — ele rosnou e se
levantou, mesmo cambaleando.
Drakhar que estava ocupado com três lobos que
tentavam derrubá-lo, voltou sua atenção para o lobo que
voltou a avançar contra mim, mas dessa vez com uma fúria
implacável.
Não consegui me concentrar, tampouco senti a
energia anterior sob meu domínio. Fechei os olhos quando a
bocarra estava diante do meu rosto e prendi a respiração.
Ao abrir os olhos vi os dois, Drakhar e o maior lobo
daquela matilha, lutando no chão. Mesmo mordendo
Drakhar, o lobo foi dominado no chão ao ponto de ficar
imóvel e indefeso. O Mordrak choramingou e os demais
lobos encararam Drakhar com medo.
— Chame o poder da lua, Brianna. Use-o — a voz de
Drakhar ecoou pela câmara.
As palavras dele me atingiram com a força de um
trovão. Chamar o poder da lua em uma situação como
essa… o que isso significava? Eu senti seu fluxo dentro de
mim, mas nunca o controlei completamente. Da última vez
tive o apoio de Amber e o tempo todo deixei que esse poder
me guiasse. Mas Drakhar tinha razão. Esse era o momento
de tomar o controle.
Fechei os olhos por um breve instante, ignorando a
batalha ao meu redor. Senti a lua acima, sua luz pulsando, e
então eu a chamei. Não era um simples pedido. Era uma
ordem, uma exigência. Eu era sua filha, sua escolhida. Ela
precisava me dar sua força.
Quando abri os olhos, o brilho da lua me envolveu
completamente. Minha pele brilhava, e um calor começou a
crescer dentro de mim, uma energia tão poderosa que eu
mal conseguia contê-la.
Um dos lobos Mordrak vendo o que eu estava
fazendo, saltou para cima de mim. Bati com as patas no
lago e isso gerou um raio de luz prateada que explodiu e
lançou todos eles contra as paredes, fazendo pequenas
crateras.
— Saiam das minhas terras — Drakhar rosnou.
Dois lobos que estavam conscientes fugiram de
imediato.
Drakhar veio em minha direção, ele ainda era a fera
de antes, mas agora não me assustava. Meu coração ainda
estava acelerado, mas envolvida pela lua, eu sentia seu
poder, nossa conexão.
Ele era o meu destino. E o poder que fluía em minhas
veias também vinha dele.
Ao aceitar isso, minha forma de lobo se desfez aos
poucos até que restasse a minha forma humana,
aparentemente indefesa, mas eu me sentia forte como
nunca antes.
— Deixem as minhas terras agora! — Drakhar rugiu a
ponto de despertar todos os lobos. — Ou enfrentem o pior
destino.
Os lobos Mordrak trocaram olhares, mas a decisão foi
tomada em segundos. Um por um, eles recuaram, fugindo
pela caverna e desapareceram na escuridão.
O silêncio se instalou. O som das garras deles se
distanciando foi o último eco da batalha que havíamos
vencido.
Eu olhei para Drakhar, e ele olhou para mim. Algo
entre nós havia mudado. Algo profundo. Ele não era mais a
fera que me assustava, e eu não era mais a mulher
assustada que fugia. Nós éramos iguais agora.
— Eu pensei que tinha perdido você — ele disse,
aproximando-se e tocando meu rosto com suas garras
suavizadas.
— Eu acho que me perdi — admiti, a voz trêmula. —
Mas você me encontrou.
A
CAPÍTULO 27
BRIANNA FOSTER
LUZ da lua brilhava intensamente acima de nós, mesmo
com o teto da caverna sendo feito de pedras. Essa
energia se refletia no lago leitoso que parecia pulsar de
energia.
Drakhar estava diante de mim em sua forma
monstruosa em toda a sua grandeza. Era impossível não
sentir o medo me invadindo completamente, mesmo
sabendo que era ele, que aquela fera diante de mim era o
homem que eu havia começado a amar.
Ele era gigantesco, onde antes havia um homem,
agora estava uma besta colossal, elevando-se sobre tudo ao
seu redor. Sua pele coberta por um pelo denso, como a
noite sem estrelas. Suas patas, enormes e afiadas, se
moviam com uma suavidade que contradizia a força bruta
que emanava de seu corpo. Os músculos, antes humanos,
agora estavam tensos, esculpidos de uma maneira quase
selvagem, sua forma metade homem, metade lobo era uma
visão aterradora e, ao mesmo tempo, estranhamente
hipnótica.
Seus olhos, que antes eram prateados e acolhedores,
agora brilhavam como dois faróis intensos, carregados de
uma intensidade quase impossível de suportar.
Eles me observaram, fixos em cada movimento que
eu fazia, e por um breve momento, eu me perguntei se ele
ainda era capaz de reconhecer a mulher diante dele, ou se
havia sido totalmente consumido pela fera.
Meu coração bateu descompassado. A cada
respiração, eu sentia o medo se misturar com algo mais
profundo. Algo mais primal. Era como se a energia ao nosso
redor estivesse me puxando, como se a lua me chamasse
para um destino que eu não podia evitar.
Drakhar deu um passo à frente, suas garras raspando
suavemente contra o chão de pedra, produzindo um som
baixo, quase como um sussurro. Eu recuei instintivamente,
a sombra dele cobrindo meu corpo por completo, mas algo
dentro de mim gritava para não fugir.
— Você está com medo de mim — sua voz soou rouca,
um eco grave que reverberou na caverna.
— Sim — admiti.
— Não fuja.
— Não vou.
— Se entregue a mim, completamente. Por que eu fui
feito e moldado para o seu prazer.
Aquelas palavras atravessaram minhas defesas. Eu
queria fugir. Queria sair correndo daquela caverna e nunca
mais olhar para trás. Mas ao mesmo tempo, eu sabia que,
se o fizesse, perderia algo muito maior do que apenas
Drakhar. Eu perderia a mim mesma.
— Eu não vou machucá-la, Brianna. Nunca.
Eu recuei, meu coração batendo forte no peito.
O tamanho dele era avassalador, mas eu não
conseguia negar a estranha atração que sentia por ele. Era
uma atração instintiva, uma que desafiava a lógica diante
de um poder tão bruto.
Meu corpo tremia, mas não apenas de medo. Havia
um desejo sombrio e primitivo agitando-se dentro de mim,
um que combinava com o que eu via nos olhos de Drakhar.
Apesar da forma imponente e monstruosa, apesar da
fera, Drakhar ainda era o homem por quem eu sentia algo.
Aquele que havia prometido me proteger, e de quem eu, no
fundo, sabia que podia confiar.
Inspirei fundo, fechando os olhos por um momento,
tentando encontrar coragem para dar o próximo passo.
O ar ao meu redor parecia vibrar com a energia
carregada da lua e da montanha que nos cercava. Eu podia
sentir o chamado, a força que nos ligava de uma maneira
tão profunda que me dava vertigens.
Dei um passo à frente.
Senti os olhos de Drakhar sobre mim, acompanhando
cada movimento. Quando ele pisou no lago leitoso, logo o
líquido frio se tornou quente, agradável, aqueceu o meu
corpo.
O medo ainda estava ali, pulsando sob minha pele,
mas havia algo mais forte que o medo agora. Uma certeza,
um desejo profundo de me entregar ao que estava por vir.
De aceitar o que eu era, o que nós éramos.
Senti a água morna envolver meus pés, depois
minhas pernas, subindo lentamente até meus quadris. A
água parecia viva, pulsante, como se estivesse reagindo à
minha presença. Cada passo que eu dava era uma rendição,
um reconhecimento de que não havia mais volta.
Respirei fundo, meu coração batendo forte no peito.
— Eu não vou mais fugir. Eu quero… eu quero ser sua,
completamente.
Um sorriso lento se espalhou por seus lábios,
enviando uma emoção através de mim.
— É mesmo?
Eu assenti, minhas bochechas corando com o calor.
— Sim, eu vou me entregar a você.
Ele se inclinou, sua respiração quente contra minha
pele.
—Então deixe-me mostrar o que significa realmente
pertencer a um Alfa.
Antes que eu pudesse responder, sua boca cobriu a
minha em um beijo ardente. Não era nada como as carícias
gentis que havíamos compartilhado antes. Isso era cru,
faminto, alimentado pela intensidade de nossas emoções e
pelo perigo que nos cercava.
Suas mãos vagaram pelo meu corpo, explorando cada
curva com intenção possessiva. Eu gemi em sua boca,
minhas próprias mãos agarrando seus ombros enquanto eu
me derretia nele. A caverna desapareceu, deixando apenas
nós dois em um mundo que nós mesmos criamos.
Ele se afastou o suficiente para olhar nos meus olhos.
— Tem certeza?
Eu assenti, minha respiração saindo em suspiros
curtos.
— Sim, eu quero você.
Não havia mais medo, não havia mais dúvidas. O que
quer que estivesse por vir, eu estava pronta para aceitar.
Porque sabia, no fundo do meu ser, que estávamos
destinados a isso.
Eu podia sentir a respiração de Drakhar no meu
pescoço, quente e firme, enquanto ele pressionava seu
corpo musculoso contra o meu.
Suas mãos traçavam meus lados, deslizando sobre as
curvas dos meus quadris, me fazendo tremer de
antecipação. A caverna começou a ficar fracamente
iluminada pelo brilho da lua que se infiltrava pelas
rachaduras nas rochas, lançando sombras que dançavam ao
nosso redor como espectadores silenciosos.
Virei-me para encará-lo, nossos olhos se encontrando
na semi-escuridão. Seu olhar era intenso, cheio de uma
mistura de desejo e urgência.
Meu coração disparou quando levantei a mão para
segurar seu rosto, sentindo os pelos ao redor, seu cheiro
másculo começou a me deixar fraca.
Gemi, inclinando-me para fechar a lacuna entre nós.
Nossos lábios se encontraram em um beijo feroz, faminto e
desesperado. Sua língua empurrou meus lábios, explorando
as profundezas da minha boca com uma paixão que me
deixou sem fôlego. Suspirei no beijo, sentindo um calor se
espalhar pelo meu corpo a partir do ponto de contato.
Suas mãos percorreram meu corpo, uma deslizando
sob a bainha da minha blusa para acariciar minha pele nua.
A aspereza do seu toque enviou choques de eletricidade
através de mim, me fazendo arquear contra ele
instintivamente.
Ele gemeu, aprofundando o beijo enquanto seus
dedos subiam até meu sutiã, habilmente o desabotoando
com um movimento hábil.
O tecido caiu, expondo meus seios ao ar frio da
caverna. Os olhos de Drakhar escureceram de desejo
enquanto ele olhava para eles, suas mãos se movendo para
gentilmente segurá-los.
Seus polegares roçaram meus mamilos, enviando
ondas de prazer através de mim. Eu gemi, me pressionando
mais perto dele, desejando mais de seu toque.
Ele interrompeu o beijo, arrastando os lábios pelo meu
pescoço, mordiscando a pele sensível ali.
Eu engasguei, inclinando minha cabeça para trás para
dar a ele melhor acesso. Seus dentes roçaram por meus
seios, uma breve picada que rapidamente se transformou
em uma sensação inebriante. Ele se moveu mais para baixo,
seus lábios capturando um dos meus mamilos, sugando-o
em sua boca com um fervor que deixou meus joelhos
fracos.
— Isso, eu quero sentir isso — choraminguei,
passando minhas mãos pelo seu abdômen musculoso. —
Por favor, me possua completamente.
Ele respondeu mudando para meu outro seio,
esbanjando-o com a mesma atenção. As sensações duplas
eram quase insuportáveis, cada puxão de sua boca enviava
choques de prazer irradiando através do meu baixo ventre.
Eu podia sentir minha excitação crescendo, acumulando-se
entre minhas coxas, implorando por liberação.
Sua mão deslizou pelo meu corpo, mergulhando sob o
cós da minha calça para encontrar o calor do meu clitóris.
Eu gritei quando seus dedos encontraram seu alvo,
esfregando círculos demorados enquanto me encarava no
fundo dos olhos. A pressão que ele aplicou era
enlouquecedora, me levando cada vez mais perto do limite.
— Tão molhada para mim — ele admirou. — Você está
pronta para mim, não está?
— Sim — eu engasguei. — Mas primeiro, deixe-me
sentir…
Segurei em seu pau colossal. Mesmo usando as duas
mãos eu era incapaz de contornar toda a sua grossura.
Friccionei meus lábios na glande inchada e o cheiro me
deixou sedenta. Passei a língua aberta pela superfície macia
e lisa e abri minha boca ao máximo para engoli-la. Foi difícil
e eu precisei fazer um esforço sobre humano para
abocanhá-lo.
— Eu posso dar o que você quer — murmurou.
Seu pau diminuiu um pouco para caber em minha
boca. Eu babei de tanto desejo, salivei na glande quando
ocupou toda a minha boca e implorei por mais, eu queria
senti-lo descer pela minha garganta, ocupar cada espaço.
Drakhar o fez habilmente, segurou em minha cabeça
e guiou o meu prazer, me fazendo chupar e engolir seu pau
quente. Ele fodeu a minha boca com vontade, me deixando
excitada para sentir o que viria depois.
— Eu não consigo mais esperar — engasguei em
minhas próprias palavras, me entreguei em suas mãos por
completo. — Eu preciso de você, agora.
Ele me deitou no lago, segurando-me com uma de
suas mãos e se afastou para me avaliar. Eu assisti,
paralisada, enquanto seus músculos ondulavam sob o luar,
sua ereção impressionante voltando ao tamanho
descomunal. Sem uma palavra, ele se ajoelhou entre
minhas pernas, arrastando minhas calças e calcinhas para
baixo para liberar meu sexo dolorido.
— Abra as pernas para mim, amor — ele ordenou.
Obedeci, abrindo minhas coxas para dar a ele acesso
total. Seus olhos queimaram de fome enquanto ele me
observava, brilhando de desejo, e eu fiquei ali, esperando
seu toque.
Com uma respiração trêmula, ele se inclinou,
pressionando sua boca em meu ponto sensível.
O primeiro movimento de sua língua contra meu
clitóris me fez gritar, minhas mãos agarrando seus ombros
em busca de apoio. Ele me estimulou com uma combinação
de língua e dedos, sua boca talentosa me levando à beira
do êxtase de novo e de novo. Cada estocada, cada
chupada, me empurrava mais para o precipício, até que eu
estava oscilando na borda, mal conseguindo pensar direito.
— Eu não consigo… eu vou…
— Liberte-se, Brianna — ele pediu, encarando-me com
aqueles olhos intensos. — Goza para mim, amor.
Foi só isso que precisou.
A combinação de suas palavras e seu toque habilidoso
me fez ir além do limite. Gritei seu nome, meu corpo
convulsionou com uma onda após outra onda de prazer
enquanto eu gozava forte contra sua boca.
Ele me bebeu, não deixando uma única gota ser
desperdiçada, sua satisfação ficou evidente na maneira
como seus ombros relaxavam enquanto ele me dava prazer.
Sem fôlego e saciada, eu quase afundei no lago,
minha visão ficou embaçada vendo estrelas.
Drakhar rastejou pelo meu corpo, posicionando-se
acima de mim, sua ereção pressionando contra minha
entrada toda molhada. Nossos olhos se encontraram mais
uma vez e eu o desejei como a fera que era, precisava de
toda sua força.
— Eu quero sentir o poder da lua — murmurei. —
Quero sentir todo o seu poder, Drakhar, dentro de mim.
Envolvi minhas pernas em volta de sua cintura e senti
ele pressionar a glande na minha abertura, me preparando
para o que estava a vir.
— Como a minha rainha desejar.
Com um movimento lento ele entrou em mim, ocupou
todo o meu espaço até me preencher completamente e
ainda empurrou mais, para ampliar meus limites.
A sensação era avassaladora, uma mistura perfeita de
dor e prazer que me fez ofegar. Ele fez uma pausa, me
dando tempo para me ajustar, suas mãos alisando meu
quadril em círculos calmantes.
— Você está bem, amor?
— Sim, eu quero sentir. Eu quero você por inteiro
dentro de mim, me consumindo sem parar — implorei.
Ele o fez, retirando-se lentamente antes de empurrar
de volta, criando um ritmo que me deixou sem fôlego. Cada
empurrão e puxão de meus quadris trouxeram novas
sensações, o prazer cresceu dentro de mim a cada
estocada. A caverna ecoou com nossos sons, nossos
gemidos e suspiros.
— Você é tão gostosa — enterrou seu rosto em meus
seios, abocanhando-os e chupando-os em desespero.
— Isso, me dê o que eu preciso — o abracei pelo
pescoço.
Ele me levou ao delírio. Seus movimentos ficaram
mais frenéticos, alimentados por nossa necessidade mútua.
Eu podia sentir a tensão se enrolando cada vez mais forte
dentro de mim, a pressão aumentando até que pensei que
poderia explodir. Drakhar pareceu sentir isso, acelerando
ainda mais o ritmo, suas estocadas se tornando erráticas e
desesperadas.
— Me encha com o seu poder, Brianna.
— Me preencha com o seu — eu implorei.
Essas palavras finais me levaram ao limite. Uma onda
ofuscante de prazer me percorreu, meu corpo se apertou
em volta do dele enquanto eu gozava com um soluço de
alívio. Drakhar veio logo depois, seu orgasmo veio com um
grito gutural, seu corpo todo tenso enquanto ele jorrava
quente e poderoso dentro de mim.
Ficamos ali, sem fôlego e emaranhados, nossos
corpos ainda fundidos enquanto recuperávamos o fôlego. O
mundo ao redor da caverna retornou aos poucos.
Fechei os olhos, permitindo que aquela sensação
tomasse conta de mim. O calor da água, a energia da
caverna, o poder da lua… tudo parecia se fundir dentro de
mim em uma única explosão de luz e calor. Eu não era mais
apenas Brianna. Eu era algo mais. Algo maior. Algo
destinado. Algo eterno.
Abri os olhos e encontrei os de Drakhar novamente.
Eu olhei para ele, ainda em sua forma monstruosa,
mas agora, eu o via de forma diferente. Não era mais uma
fera assustadora. Ele era meu companheiro, meu Alfa. E
juntos, havíamos transformado o nosso poder em um só.
Eu sorri, ainda ofegante, e ele sorriu de volta, seu
olhar cheio de amor e devoção. Foi então que realmente
percebi como ele me enxergava: como sua Ômega, sua
igual, sua deusa. Melhor do que isso, ele me fez sentir como
se fosse a única, a escolhida, a própria lua.
A
CAPÍTULO 28
BRIANNA FOSTER
PÓS o nosso momento na caverna, vesti as roupas e subi
nas costas de Drakhar e ele saiu como um raio caverna
afora, pela floresta, pela estrada que levava a fronteira
norte, percorrendo quilômetros em questão de segundos
devido ao seu grande poder que havíamos emanado juntos.
Eu sentia o poder da lua dentro de mim, uma força
que nunca tinha imaginado. Era como se cada célula do
meu corpo estivesse carregada de energia, mas ao mesmo
tempo havia um peso: a responsabilidade de enfrentar os
Mordrak, regatar a mãe de Amber e de proteger essas
terras.
Quando chegamos à fronteira, a visão que nos
aguardava fez meu estômago revirar. Havia uma horda de
lobos Mordrak, muitos mais do que imaginávamos.
Eles se estendiam por toda a planície, eles eram de
todos os tipos e tamanhos, mas independente disso seus
olhos brilhavam como brasas no meio da noite. Eram uma
força de destruição implacável, e por um momento, o medo
tentou se enraizar em meu coração.
Drakhar rosnou baixo, sentindo minha tensão, e eu
respirei fundo, tentando manter o foco. Eu sabia que não
podíamos hesitar.
— Estamos juntos nisso, Brianna — a voz grave de
Drakhar ecoou em minha mente. — Não há mais volta.
— Eu sei — murmurei, apertando os dedos contra o
pelo dele. — Eu estou pronta.
E eu realmente estava.
O Grande Rito tinha nos conectado de uma forma que
eu jamais imaginei. Drakhar era meu Alfa, meu
companheiro, e com ele, eu sabia que poderíamos enfrentar
qualquer coisa.
Até mesmo o exército imenso que se estendia diante
de nós.
Drakhar deu o primeiro passo, um uivo profundo
saindo de sua garganta, chamando sua alcateia para a
guerra. A resposta dos lobos foi instantânea. Todos os lobos
Karagan uivaram ao mesmo tempo, e a energia da lua
pareceu aumentar, tornando a noite quase clara como o dia.
Os Mordrak, do outro lado, uivaram de volta,
desafiando nossa força. E então, a batalha começou.
Drakhar correu em direção ao exército inimigo, senti
seus músculos poderosos impulsionando-o com uma
velocidade assustadora. Eu estava firme em suas costas, o
vento chicoteando meu rosto enquanto ele avançava. Ao
nosso redor, a alcateia Karagan se lançou sobre os Mordrak,
e o choque entre os dois exércitos foi violento.
O som de dentes rasgando carne, de garras
arranhando a terra, e os gritos de batalha preencheram o ar.
Tudo ao nosso redor se tornou um grande caos, rodeado de
uma tempestade de poeira.
Drakhar enfrentou o primeiro grupo de lobos Mordrak
com uma fúria inigualável. Suas garras rasgaram os
inimigos com uma precisão mortal, e seu corpo, agora
transformado na mistura de lobo e homem, parecia
invencível. Mas, por mais forte que ele fosse, os Mordrak
eram muitos. Mais do que imaginávamos.
Enquanto ele lutava, eu me concentrei em canalizar o
poder da lua dentro de mim. Eu sabia que não podia ficar
apenas observando.
Os Mordrak não eram apenas uma ameaça física; eles
estavam corrompidos por uma escuridão antiga, algo que
eu agora compreendia melhor. E, para derrotá-los, eu
precisava usar tudo o que havia aprendido sobre a lua, a
montanha e o poder que agora fluía em minhas veias.
Levantei as mãos, sentindo o poder da lua pulsar
dentro de mim, e o projetei em direção aos lobos que nos
cercavam. Um brilho prateado emanou de minhas mãos,
atingindo dois dos Mordrak que se aproximavam,
derrubando-os no chão. Mas, mesmo com a força da lua,
parecia que a cada lobo que derrotávamos, mais cinco
surgiam em seu lugar.
— Eles são muitos! — gritei para Drakhar, tentando
ser ouvida em meio ao caos.
— Não desista! — ele respondeu, sua voz ressoando
em minha mente. — Temos que continuar.
Mas, conforme a batalha avançava, eu podia sentir
que estávamos sendo sobrecarregados. Por mais poder que
tivéssemos, os Mordrak continuavam surgindo, incansáveis,
implacáveis. Drakhar continuava lutando, mas até ele
estava começando a mostrar sinais de cansaço.
Foi quando um dos líderes dos Mordrak avançou.
Um lobo imenso, com cicatrizes por todo o corpo,
muito maior do que qualquer outro que havíamos
enfrentado até agora. Seus olhos vermelhos brilhavam com
uma malícia que eu não havia visto antes, e ele se lançou
sobre Drakhar com uma fúria incontrolável.
O impacto foi brutal.
Drakhar foi jogado para trás, derrubado no chão com
uma força que fez a terra tremer. Ele tentou se levantar,
mas o lobo Mordrak foi mais rápido, cravando suas garras
nas costas de Drakhar.
Eu gritei, sentindo a dor como se fosse minha. Saltei
das costas de Drakhar e me coloquei entre eles, levantando
as mãos novamente para canalizar o poder da lua. Mas o
lobo Mordrak era muito forte, e ele se aproximou de mim
com um sorriso cruel nos lábios.
— Você não é nada — ele rosnou, sua voz cheia de
desprezo. — O seu poder não significa nada!
Ele me atacou, suas garras prontas para me rasgar,
mas no último segundo, uma onda de energia prateada
explodiu de dentro de mim. Eu nem sabia como, mas o
poder da lua, agora fortalecido pelo vínculo que eu tinha
com Drakhar, se manifestou de uma forma que nunca havia
acontecido antes. O lobo foi jogado para trás com tanta
força que ele bateu contra uma rocha, sua cabeça caindo
inerte.
Drakhar se levantou, cambaleante, mas determinado.
Ele veio até mim, suas garras ainda sujas de sangue, mas
seus olhos estavam fixos em mim com uma intensidade que
fez meu coração parar.
— Brianna… você está bem?
— Estou. Vamos continuar.
— Não posso deixar que eles a machuquem.
— Não temos tempo para pensar nisso agora.
Mais lobos Mordrak se aproximavam, mas agora havia
algo diferente em mim. Eu não era mais a garota assustada
que tinha fugido. Eu era a Ômega da montanha, filha da lua,
e com Drakhar ao meu lado, sabia que podíamos vencer.
Juntos, voltamos para a batalha. Drakhar com sua
força bruta, e eu com o poder da lua fluindo através de
mim. Ao nos envolver em meio ao caos, aos corpos sendo
jogados com brutalidade de um lado para o outro e auxiliar
os lobos Karagan, senti que fazia parte de uma doença de
violência e luz.
Conforme os Mordrak caíam um por um, eu sabia que
estávamos mais perto de vencer. Mas o líder deles ainda
estava em pé, observando de longe, esperando o momento
certo para atacar.
O
CAPÍTULO 29
BRIANNA FOSTER
CAOS da batalha ao nosso redor era quase impossível de
descrever. Os rugidos e uivos dos lobos soaram mais
fortes do que o vento, o sangue manchou a terra sob nossos
pés e o cheiro de violência se impregnou no ar.
Eu estava concentrada em manter o poder da lua
fluindo através de mim, tentando usar cada grama de força
que restava para ajudar Drakhar e a alcateia a repelir os
Mordrak.
De repente, vi algo que me trouxe um lampejo de
esperança.
Correndo na nossa direção, surgiram mulheres —
muitas mulheres, suas roupas rasgadas e seus rostos
marcados pelo sofrimento, mas elas estavam livres.
Correndo atrás deles, Noah, Troy, Flynn e Skylar
protegiam a retaguarda e repeliam uma horda Mordrak que
tentou impedi-los de chegar; seus corpos estavam cobertos
de arranhões, mas seus rostos radiantes de vitória.
— Nós conseguimos, libertamos todas as Ômegas! —
Eles disseram e continuaram a protegê-las enquanto saíam
da cena de batalha.
Minhas pernas ficaram fracas de alívio. Por um
momento, a esperança acendeu dentro de mim como uma
chama quente. As Ômegas eram poderosas e era através do
poder delas que os Mordrak haviam se tornado tão fortes.
No meio do grupo de mulheres, havia uma figura que
eu reconheci instantaneamente: Naomi, a mãe de Amber.
Ela correu até mim, pálida e exausta. Seu cabelo
prateado esvoaçava ao vento, e seus olhos, cheios de
sabedoria antiga, encontraram os meus com uma clareza
que me fez parar.
— Brianna, você tem o poder — ela disse, a voz firme.
— O poder da lua. E precisamos que você faça algo que
nunca foi feito.
Meus olhos se arregalaram, atônita com o que aquilo
poderia ser.
— O que quer que eu faça?
— Você precisa apagar a lua — ela falou, me
encarando seriamente. — Apague sua luz. Faça a lua cheia
desaparecer. Se conseguir, todos esses lobos… — ela
indicou os Mordrak — voltarão a ser homens. Vulneráveis.
Minha visão ficou embaçada e a minha mente pareceu
se desligar por um momento. Apagar a lua? Como eu faria
isso? A ideia parecia impossível. A lua era o centro de tudo,
a fonte de nosso poder. Retirar sua luz… e se isso afetasse
Drakhar também? E se ele perdesse o poder, o controle?
— Eu… eu não sei se consigo. E se eu perder a
conexão com Drakhar? E se isso me enfraquecer também?
— Não pense nisso — Naomi apertou minha mão. —
Sinto em você um Grande Poder.
— Eu fiz o Grande Rito — expliquei.
Os olhos dela se clarearam, como se houvesse
entendido de onde havia vindo a minha força.
— Então confie em mim. A lua já lhe deu seu poder,
mas agora você precisa controlá-la. Domá-la. Não é a lua
que te controla, Brianna. É você quem controla a lua.
Amber apareceu ao nosso lado, igualmente exausta,
mas determinada. Ela abraçou a mãe com carinho e
saudade. Naomi lhe explicou o que havia me pedido, então
Amber também segurou minha mão, tentando me transmitir
confiança.
— Vamos fazer como naquele dia do incêndio.
Estamos com você.
— Encontre o poder dentro de si e apague a lua. Seja
a única fonte de poder nesse campo de batalha!
A pressão em meus ombros aumentou, mas também
senti um fio de esperança. Talvez, com a ajuda delas, eu
pudesse realmente fazer isso. Senti o calor de suas mãos
nas minhas, suas energias se fundindo com a minha.
Fechei os olhos e respirei fundo, concentrando-me na
imagem da lua acima de nós. Eu a visualizei brilhando
intensamente no céu, sentindo sua força sobre todos nós,
alimentando cada lobo que lutava. Mas, lentamente,
comecei a imaginar essa luz diminuindo. Visualizei a lua
cheia tornando-se nova, sua luz desaparecendo
completamente, até que nada restasse no céu além da
escuridão.
Por um instante, tudo pareceu imóvel.
E então, senti uma onda de energia intensa. A mão de
Amber apertou a minha, e Naomi murmurou palavras de
poder ao meu lado. Era como se algo dentro de mim
estivesse se expandindo, alcançando a lua, tocando-a.
— Agora, Brianna — Naomi sussurrou. — Apague-a.
E com um último esforço, imaginei a luz da lua se
apagando, como uma chama que é sufocada, como um
eclipse poderoso.
O céu acima de nós escureceu repentinamente. A luz
prateada desapareceu, e a lua… sumiu.
Eu abri os olhos, ofegante. Ao nosso redor, um silêncio
tomou conta da batalha. Olhei para os lobos Mordrak,
esperando que algo acontecesse.
E aconteceu.
Um a um, os lobos começaram a vacilar, seus corpos
tremendo enquanto suas formas lupinas desapareciam.
Garras se transformaram em mãos, e focinhos em rostos
humanos. Eles caíram de joelhos, agora homens comuns,
desprovidos do poder que antes os tornava ferozes.
O exército Mordrak, que havia nos esmagado com sua
força bestial, agora era vulnerável, indefeso.
Drakhar Karagan
A TRANSFORMAÇÃO deles foi instantânea. Senti o
poder deles desvanecendo, o controle que a lua exercia
sobre seus corpos desaparecer. Olhei ao meu redor, vendo
os inimigos caírem, não mais como lobos poderosos, mas
como homens. Fracos e desesperados.
Minha respiração estava pesada, minha mente ainda
em estado de fúria pelo que tinha ocorrido antes, esperei
perder a minha forma, mas isso não aconteceu. Procurei por
Brianna e a vi acompanhada de Naomi e Amber, que
estavam concentradas conjurando algo, então entendi o
que tinha ocorrido.
Ela tinha arriscado tudo. Por nós.
Com um último impulso de força, me atirei sobre os
líderes dos Mordrak. Eles tentaram lutar, mas sem a força
da lua em seus corpos, eram inofensivos para mim. Eu os
esmaguei um por um, sem piedade, com a determinação de
alguém que protegeria seu povo, sua alcateia, sua
companheira, até o fim, independente das consequências.
E no fim, quando o último deles caiu, o silêncio se
instalou.
Tudo o que restou foram homens covardes fugindo
para longe enquanto seus líderes jaziam inertes no chão.
Sem sua forma lupina, sem suas Ômegas e sem a lua, eles
não tiveram opção além de partir em retirada.
Eu me aproximei de Brianna lentamente, ainda sentia
os efeitos da batalha em meu corpo. Os arranhões e
sangramentos em meu corpo doíam como uma queda, não
como uma ferida aberta. Quando estava diante dela, a vi
reluzir diante dos meus olhos, o centro de todo o poder que
emanava naquele lugar vinha dela.
— Você chegou ao ápice do seu poder — a admirei. —
E se tornou a própria…
Ela se jogou nos meus braços antes que eu pudesse
terminar a frase, e o mundo ao nosso redor pareceu parar.
Não havia mais batalha, não havia mais perigo. Só nós dois.
— Eu não podia deixar você lutar sozinho — ela
sussurrou contra meu peito. — Não depois de tudo.
Eu a abracei com força, sentindo seu coração batendo
acelerado contra o meu. Ali, no meio do campo de batalha,
em meio aos restos da destruição, eu soube que não
importava o que viesse a seguir. Nós tínhamos vencido.
— Brianna — murmurei, minha voz carregada de
gratidão e amor —, você é a minha lua.
Ela sorriu contra minha pele, e me beijou, como se
aceitasse a fera que eu havia me tornado. Dentro da pele e
principalmente no coração, eu era o mesmo:
completamente dela. Mas era realizador ver que ela
conseguia enxergar isso agora.
O
CAPÍTULO 30
DRAKHAR KARAGAN
SILÊNCIO da vitória ainda ecoava no ar. Toda a fronteira
norte estava quieta, os corpos dos Mordrak caídos, suas
formas humanas derrotadas. Brianna estava em meus
braços e, pela primeira vez em muito tempo, a sensação de
paz começou a se instalar no meu peito.
Mas essa calmaria durou apenas um instante.
O cheiro de traição e sangue queimando no ar foi a
primeira coisa que percebi. Um rosnado baixo e ameaçador
ecoou da escuridão, e antes que pudesse reagir, uma
sombra colossal avançou em nossa direção. Eu soube
imediatamente quem era. O cheiro, o ódio, a ferocidade
incontrolável.
Draven.
Meu irmão.
Ele surgiu das sombras, em sua forma final, metade
lobo, metade homem, um monstro de proporções brutais.
Sua pele era coberta por um pelo denso e escuro, os olhos
vermelhos de fúria. As garras afiadas apontadas para mim.
Ele parecia ainda maior do que a última vez que o vi, mais
sombrio, mais tomado pela escuridão.
— Se proteja em algum lugar — coloquei Brianna
atrás de mim.
Assim como Draven veio com suas garras apontadas
para mim, eu segurei em seus ombros, o girei no ar e o
lancei do lugar aonde tinha vindo.
— Achou mesmo que tinha terminado? — ele rugiu.
— Isso não precisa terminar assim, Draven.
— Como ele é prepotente. O alfa perfeito. O irmão
mais velho. O mais amado dos nossos pais. Sempre acima
de todos. Acha que pode me vencer?
Só tranquilizei o meu coração quando vi Brianna se
afastar e se proteger atrás de Kaelan e os outros lobos. O
rosto dela mostrava o pavor que sentia ao ver Draven em
sua forma monstruosa.
— Não sou eu quem deseja usurpar essas terras,
irmão — murmurei. — Você traiu o seu próprio sangue, a
sua Alcateia. Por quê?
— Por quê? — ele riu. — Porque estou cansado de
seguir um tolo que acredita que precisa da permissão de
uma medrosa para obter os poderes da lua. Cansei de viver
à sua sombra! Você é fraco, entregou seu coração para uma
mortal fraca cujo sangue Ômega nem é tão forte assim.
A forma como ele olhou para Brianna acendeu meu
instinto protetor.
— Acha que pode ser o Alfa Supremo, Drakhar?
Acredita que merece isso? Eu mereço. Eu sou o verdadeiro
líder, o verdadeiro herdeiro. E vou provar que sou mais
forte.
Seus olhos brilharam com um ódio profundo, e antes
que eu pudesse reagir, ele avançou. Sua força era tão brutal
que o impacto me jogou para trás, caí com força no chão e
me arrastei por metros.
O sabor ferroso de sangue encheu minha boca quando
minhas costas bateram contra a terra. A dor se espalhou,
mas eu a ignorei.
Levantei-me com um rosnado, sentindo meus
músculos queimarem, minha mente tomada pela fúria.
Aquele não era mais o meu irmão. Ele estava transformado,
sua energia era poderosa, mas corrompida.
— Você sempre foi fraco, Drakhar — ele rosnou,
avançando novamente. — Sempre o favorito, o protegido.
Mas agora, eu vou mostrar quem é o verdadeiro Alfa.
Pressionei o chão com as patas e avancei para cima
dele. Nossas garras se encontraram no ar, o impacto fez
uma onda de ar soprar ao redor e o chão tremer, quando
caímos. As faíscas de raiva e poder se misturaram ao redor
de nós enquanto lutávamos. Draven tentou me morder a
todo custo, mas eu o acertei com golpes carregados em
suas regiões mais fracas.
Ele estava cheio de ódio e rancor e isso o tornava
mais violento e ágil. E a cada segundo que aquela briga
demorava, mais eu sentia meu corpo fraquejar.
Ele era implacável.
Me jogou contra uma rocha e veio para cima de mim,
para quebrar meu corpo, o impacto me fez perder o fôlego.
O mundo ao meu redor girou por um momento, mas eu
sabia que não podia parar. Não podia desistir. Não enquanto
Brianna estivesse ali, observando. Não enquanto minha
alcateia dependia de mim.
— Eu sempre soube que você estava destinado a mais
— reconheci, limpando o sangue do meu rosto. — Mas
nunca pensei que seria um traidor.
Ele me encarou, seus olhos brilhando com uma fúria
animalesca.
— Traidor? Você é quem ignorou o fato de que poderia
ter a Ômega que quiser, drenar seu poder e descartá-la.
Admita, Drakhar, sou tão poderoso quanto você. E quando
vencer, todos terão de se ajoelhar, inclusive a sua Ômega
nojenta!
Draven avançou novamente, suas garras prontas para
rasgar minha garganta, mas dessa vez, eu estava
preparado. Desviei no último segundo e girei meu corpo,
cravando minhas garras em seu peito. O grito de dor que
ele soltou ecoou pelo campo de batalha, mas ele não parou.
Com uma força que eu subestimei, Draven se ergueu
e me lançou ao chão novamente, suas presas roçando meu
pescoço, pronto para me matar. O peso do seu corpo me
pressionava contra a terra, e por um momento, tudo
pareceu perdido. O cheiro de sangue, o som de sua
respiração ofegante, tudo indicava que ele estava
vencendo.
— O seu reinado acabou, irmão — ele riu. — E você
vai morrer como sempre viveu. Na sombra!
Eu senti o mundo escurecer, a força em meus braços
desaparecendo. Mas então, algo mudou.
Brianna.
Ela estava ali. Seus olhos se encontraram com os
meus, e eu soube que não podia desistir. Ela não tinha
fugido. Ela estava comigo, ao meu lado. E com ela, meu
poder se renovou.
Com um último rugido, usei toda a força que me
restava e empurrei Draven de cima de mim. Meus músculos
queimavam, minha mente gritava, mas a fúria me
impulsionou. Eu me ergui, sentindo o poder da lua retornar
com força total. Draven tentou me atacar novamente, mas
dessa vez eu estava preparado.
Numa sequência rápida, me movi com precisão.
Desviei de seus golpes, cravando minhas garras em seu
peito, em suas pernas, rasgando sua pele com uma fúria
que eu não sabia que possuía. Draven gritou de dor, caindo
de joelhos diante de mim.
— Você nunca foi o verdadeiro Alfa, Draven —
murmurei. — E subestimou os poderes de uma Ômega que
se entregou de bom coração ao seu Alfa e do Alfa que se
entregou a ela. Desrespeitou os poderes sagrados da
montanha da lua. Você sempre foi movido pelo ódio. E é isso
que vai te destruir.
Com um último golpe, derrubei Draven no chão,
derrotando-o. Ele ficou imóvel, seu corpo tremendo
enquanto sua respiração vacilava, até se apagar
completamente e não ser mais uma ameaça.
A batalha estava acabada. Nós havíamos vencido.
Me virei para Brianna, o ar pesado ao meu redor. Ela
me olhou com uma mistura de alívio e compreensão. Eu não
era apenas o Alfa da alcateia, eu era o Alfa dela. E juntos,
tínhamos vencido.
O
CAPÍTULO 31
BRIANNA FOSTER
SILÊNCIO que se instalou após a queda de Draven era
palpável, quase surreal. Havia restado pouco, quase
nada dos Mordrak. Os últimos que haviam sobrado fugiram
para as sombras, derrotados, sem um destino certo.
Mesmo quando a lua retornou ao alto dos céus,
nenhum deles voltou à sua forma de lobo. Pelo contrário,
pareceram confusos e sem rumo enquanto se afastavam em
desespero.
Drakhar estava de pé, ofegante, seus músculos tensos
e cobertos de suor. O corpo de Draven caído a seus pés, a
respiração pesada do meu Alfa… tudo indicava que a
guerra, por fim, tinha acabado. Mas a sensação de vazio
que se seguiu foi inesperada.
Por um longo momento, ficamos assim, apenas
observando o que restava do conflito. O campo, antes cheio
de vida e movimento, agora parecia desolado, como se
tivesse sido drenado de toda energia. As árvores ao redor
estavam cobertas de cicatrizes da luta, os corpos dos lobos
que haviam caído ainda jaziam ali, uma lembrança cruel de
tudo o que havíamos perdido.
Caminhei lentamente até Drakhar, meu coração
batendo em um ritmo desconcertante. Ele me olhou quando
me aproximei, seus olhos prateados refletindo um cansaço
profundo, mas também uma sensação de alívio.
Quando cheguei perto, seus braços me envolveram
instintivamente, e por um momento, ficamos assim, apenas
nos abraçando.
— Acabou — murmurei. — Finalmente acabou.
Drakhar assentiu, suas mãos acariciaram minhas
costas. Eu podia sentir a tensão ainda presente em seu
corpo, mas também havia algo mais ali. Uma aceitação,
uma compreensão de que, apesar de tudo, tudo havia
ocorrido como deveria ter sido.
— Acabou — ele repetiu, a voz grave e profunda. —
Mas não sem sacrifícios.
Meu peito apertou ao ouvir isso. Sabíamos que a
vitória nunca viria sem perdas, mas ainda assim, o peso
daquelas vidas perdidas era esmagador. Ainda mais quando
se tratava do irmão dele.
— Nós fizemos o que era necessário, Drakhar. —
Toquei seu rosto e o guiei par aos meus olhos. — Fizemos o
que tínhamos que fazer.
Ele respirou fundo, como se absorvesse minhas
palavras, e então olhou ao redor. Eu sabia que ele estava
pensando nas vidas que não conseguiríamos trazer de volta,
nos lobos que lutaram ao nosso lado e que não estavam
mais ali.
— Vamos enterrar os nossos mortos e uivar seus
nomes para a lua — ele disse, cheio de emoção.
As horas que se seguiram foram assim, a Alcateia
Karagan retornou para Port Angeles e lá enterrou seus
mortos e os honrou, enviando seus nomes para a energia
cósmica.
No dia seguinte
A RESSACA da grande batalha pareceu cair sobre
todos nós. Alguns lobos ainda estavam em alerta, à espera
de um contra-ataque, mas Drakhar e eu sabíamos que
aquilo tinha acabado.
A única energia lupina que reverberava em um raio de
mil quilômetros era a dos Karagan, qualquer sombra dos
Mordrak se apagou.
— Você não recuou, tampouco sentiu medo. Lutou ao
meu lado e venceu a guerra — Drakhar passou as mãos
pela minha cintura.
Senti o calor subir pelo meu rosto. As palavras dele
me atingiram com força, mas não de uma maneira que me
deixasse orgulhosa. Era mais uma confirmação do que já
sabia: nós éramos mais fortes juntos.
Levei um tempo até aceitar que Drakhar e eu éramos
duas partes de algo maior do que qualquer um de nós
poderia ser sozinhos e a noite de ontem foi uma
confirmação de que eu havia escolhido certo ao permanecer
com ele.
— Eu não poderia ter feito isso sem você — admiti,
com a voz falhando. — Eu estava assustada, Drakhar. Houve
momentos em que achei que não conseguiria. Mas você…
você sempre esteve comigo, até quando duvidei.
Ele sorriu, acariciou meu rosto e aproximou seus
lábios dos meus. Depositou um leve beijo e apertou minha
cintura com suas garras, de um jeito possessivo, me
reivindicando, me fazendo sentir sua.
— E eu sempre estarei — ele afastou meus cabelos e
beijou a minha testa. — Você é minha Ômega. Minha
parceira. Minha força. A minha lua.
As palavras dele, mesmo diretas, me tocaram
profundamente. Tudo havia acontecido muito rápido e como
Alice no País das Maravilhas, eu passei dias sem me
reconhecer. Mas naquele momento eu sabia muito bem
quem eu era: dele.
Drakhar e eu havíamos nos encontrado, nos
conectado, firmado uma união que ia muito além da
escuridão e incerteza. Finalmente eu me sentia completa.
Naquela manhã, várias audiências foram marcadas
para o rei dos lobos e eu me sentei ao seu lado. Quando
toca a Alcateia se reuniu ao nosso redor, todos abaixaram a
cabeça para nós e só ergueram quando seu Alfa permitiu.
— Kaelan — Drakhar o convocou.
O irmão imediatamente deu um passo adiante e veio
até nós. Quando ficou diante de mim, abaixou a cabeça e eu
sorri, num gesto para que ele pudesse ficar à vontade.
— Quero enviá-lo ao território antes dominado pelos
Mordrak para que faça a sua Alcateia — Drakhar disse. —
Quero que estenda o poder dos Karagan para além do norte
e governe.
— Meu Alfa, temo em recusar — Kaelan disse com
humildade. — Um Alfa Supremo precisa de uma Ômega,
mas eu não preciso de uma.
Ele olhou para Amber, que estava ao lado da mãe.
— Eu o servirei aqui, como um Alfa desta Alcateia,
obedecendo os seus comandos. É o que desejo.
Drakhar pareceu frustrado por um segundo, mas
depois sorriu, feliz pelo irmão. Se levantou, segurou em
seus ombros e disse com um grande sorriso.
— Eu respeito a sua decisão e união. Que ela seja
abençoada e lhe traga o poder da lua.
Os olhos de Kaelan brilharam ao receber a aprovação
do irmão. Lágrimas rolaram de seu rosto quando Drakhar o
puxou para um abraço.
— Troy, Noah, Flynn e Skylar — ele os convocou, após
liberar o irmão.
Os lobos ficaram diante dele, aguardando seus
comandos.
— Sua bravura e lealdade a esta Alcateia foi provada.
A partir de hoje serão lembrados como heróis da guerra e
poderão escolher qualquer pedaço de terra para
construírem seu lar.
— Obrigado, Alfa — eles agradeceram.
— Quanto às Ômegas resgatadas, elas estão livres —
Drakhar as encarou.
As mulheres pareciam assustadas e temerosas.
— Se desejarem ficar e se unir aos lobos Karagan,
ficaremos felizes em aceitá-las. Mas se quiserem retornar às
suas casas e famílias, nós as levaremos e as protegeremos
para que nunca mais sejam violentadas e seu poder
usurpado — o rei decretou.
Após uma longa sessão em que atendeu aos pedidos
de seus lobos com diligência e ouviu suas questões dando
respostas cheias de sabedoria, ficou unânime entre a
Alcateia que Drakhar era o líder adequado e poderoso que
eles esperavam.
Assim que tudo terminou, Amber e Naomi se
aproximaram de mim.
— Obrigada, Brianna — Naomi disse cheia de
gratidão. — Você fez mais do que qualquer uma de nós
poderia esperar.
Amber sorriu para mim, seus olhos brilhando com
alívio e orgulho.
— Acho que todos nós fizemos mais do que
esperávamos — respondi, sentindo um peso sendo retirado
dos meus ombros. — Mas conseguimos. E isso é o que
importa.
Naomi assentiu, segurou nos ombros da filha e
suspirou aliviada.
— Caso queira vender a casa…
— Não, eu mudei de ideia — a interrompi antes que
continuasse.
Sim, era tentador pagar todas as minhas dívidas
estudantis e retornar para a vida pacata em Washigton para
escrever artigos sobre pedaços de pano do século XVII, mas
eu estava satisfeita com uma vida mais agitada ao lado do
meu Drakhar.
— Vamos continuar nossos estudos sobre como ser
uma Ômega? — Amber perguntou.
— Estou ansiosa para isso — pisquei.
Quando todos se foram e só sobramos Drakhar e eu,
ele veio até mim, me pegou em seu colo e depois me
ajeitou em suas costas. Nós corremos pela floresta e eu
senti a liberdade em meu rosto, o poder da lua fluindo sobre
nós e cada paisagem ao redor parecia curada.
Não havia qualquer vestígio, seja da guerra, dor ou
violência.
— Sabe o que isso significa, não é? — ele perguntou.
Eu olhei para ele, confusa.
— O quê?
Ele sorriu novamente, dessa vez de um jeito mais
brincalhão.
— Significa que agora podemos finalmente começar
nossa vida. Sem guerras, sem batalhas… só nós dois.
Meu coração acelerou com aquelas palavras. Depois
de tudo, depois de tanto caos, a ideia de uma vida tranquila
ao lado de Drakhar parecia quase surreal.
— Sim — murmurei, apertando seus ombros. —
Finalmente. E eu estou ansiosa para passar o resto da
minha vida ao seu lado.
A
CAPÍTULO 32
BRIANNA FOSTER
VIDA em Port Angeles e arredores havia mudado
totalmente desde aquela grande batalha. A sensação de
paz e tranquilidade envolveu todo o território e para além
da fronteira norte, onde nunca mais se ouviu falar dos
Mordrak.
A escuridão e o caos dos últimos meses agora
pareciam um pesadelo distante. A brisa parecia mais leve, o
ar mais limpo e o único barulho aterrorizante eram o silvo
das árvores durante as noites.
A calmaria que estávamos vivendo era diferente do
tédio do meu trabalho de jornalismo. Eu me sentia útil,
estava envolvida com novas amigas Ômegas que decidiram
ficar e treinava os meus poderes com Naomi e Amber. E
todos os dias eu retornava para os braços de Drakhar, sem
medos ou batalhas interferindo.
Drakhar e eu estávamos livres para viver o que
queríamos. Juntos.
O sol estava se pondo quando Drakhar apareceu na
varanda, os olhos prateados brilhando à luz dourada do fim
de tarde.
Ele tinha passado o dia preparando os novos
vigilantes da fronteira, assegurando que tudo estava em
ordem agora que a paz havia sido restaurada. Seus ombros
estavam relaxados, sua postura era de líder e vê-lo
preocupado com seus lobos fazia o meu útero ferver. O peso
da guerra, das responsabilidades extremas, parecia ter
finalmente se dissipado.
Eu o observei por um momento, sentindo meu
coração se aquecer com a simples visão dele. Drakhar não
era mais apenas o Alfa que carregava o mundo nas costas.
Agora, ele era meu. E eu era dele.
— Está tão linda à luz do entardecer — sua voz grave
ecoou pela varanda quando se aproximou.
Eu sorri de volta, encostando minha cabeça em seu
peito enquanto ele me envolvia em seus braços. A sensação
de segurança e pertencimento que seus abraços traziam
era algo que eu achava que nunca teria na vida e agora que
era realidade, eu me sentia viva. Estar com ele era como
finalmente encontrar o lar que eu nem sabia que estava
buscando.
— O que está pensando? — ele perguntou.
— Só… sobre como as coisas mudaram — respondi, a
voz baixa, quase em um sussurro. — Há alguns meses, eu
estava tão perdida, sem saber o que fazer com a minha
vida. E agora… parece que tudo finalmente está no lugar,
tudo se encaixou.
Drakhar fez um som baixo em concordância,
acariciando minha pele com ternura.
— Nós dois mudamos, Brianna. Ambos crescemos com
tudo o que enfrentamos.
E ele estava certo. Não éramos as mesmas pessoas
que éramos quando nos conhecemos. A Brianna que chegou
a Port Angeles, assustada e incerta, agora estava
completamente diferente. Eu não era mais aquela mulher
que temia o poder que a lua me oferecia.
Não era mais a humana assustada que não sabia
quem era ou o que queria. Agora, eu era uma mulher forte,
confiante em meus poderes e em minha capacidade de
proteger o que e quem amava.
— Sabe o que seria perfeito?
— Hum.
— A minha rainha linda como a lua, totalmente minha,
carregando os futuros Alfas dessa Alcateia.
Eu ergui o olhar para ele, sorrindo.
— Acho que isso soa perfeito.
— Não é mesmo? Nós dois e… vários filhotes correndo
pela casa, correndo com os lobos… — ele me abraçou por
trás e acariciou a minha barriga, um brilho malicioso no
olhar.
Meu coração deu um salto ao ouvir isso, e um sorriso
involuntário se espalhou pelo meu rosto.
— Filhotes, hein? — brinquei, fingindo pensar no
assunto. — Acho que não seria uma má ideia. Mas
precisamos ter certeza de que todos estejam prontos para
lidar com um Alfa e uma Ômega tão poderosos quanto nós.
Ele riu, o som grave e suave, enquanto abaixava a
cabeça para beijar o topo da minha.
— Todos vão se acostumar. Vamos encher o mundo
com nossa linhagem e dominaremos a todos.
— Pois eu estou satisfeita em ser rainha deste
território — acariciei por cima das mãos dele.
Passamos os dias seguintes nessa harmonia tranquila,
cuidando da Alcateia, assegurando que tudo estava em
ordem após a batalha. Descobri que Drakhar era muito
querido e respeitado, não apenas em Port Angeles, mas eu
toda a região.
A Alcateia, Naomi e Amber se uniram para reconstruir
e consertar qualquer coisa afetada pela guerra e isso atraiu
a simpatia dos moradores da cidade e arredores.
A Alcateia, agora mais unida do que nunca, também
parecia florescer. Os lobos estavam mais fortes, mais
determinados, e havia um senso de lealdade e respeito que
antes não era tão claro. Novos Alfas se uniram sob a
liderança de Drakhar e com as novas Ômegas o poder se
espalhou e curou tudo ao nosso redor.
Drakhar tinha se tornado não apenas o Alfa Supremo,
mas um verdadeiro líder, alguém que inspirava confiança e
respeito, não apenas com seus lobos, mas com toda a
comunidade no norte dos Estados Unidos. E eu, ao seu lado,
sentia que finalmente estava cumprindo meu papel, não
apenas como sua Ômega, mas como parte fundamental
dessa nova era que estávamos construindo juntos.
Algumas semanas depois da batalha, recebemos uma
grande cerimônia em nossa honra, organizada pelos lobos
da Alcateia e políticos locais.
Era uma forma de agradecimento por tudo o que
havíamos feito, e eu não pude evitar o orgulho que sentia
ao estar ao lado de Drakhar enquanto éramos
homenageados e reconhecidos.
Kira veio cobrir a cerimônia e eu quase a joguei em
cima de um dos lobos mais charmosos que haviam entrado
na Alcateia.
— Então… nada de artigos chatos? — Ela riu,
colocando o gravador diante da minha boca.
— Nada de escritórios chatos, chefes enfadonhos e
artigos que ninguém quer ler. Agora eu faço as notícias, não
escrevo mais — tive de rir.
No fim da entrevista ela me abraçou com força.
— Amiga, você faz tanta falta…
— Você também, Kira, você também.
— E o Drakhar, hein? Que lobão! Homão! O que ele é?
— Tudo isso e um pouco mais — tive de rir.
— Você está diferente. Eu te conheci como uma
menininha assustada e agora… você é um mulherão — ela
se mostrou orgulhosa de mim.
— É o poder da lua, amiga. Venha numa lua cheia e
prometo que irá sentir.
— Acho que estou precisando de um pouco disso, sim.
— Nós estamos vivendo o que a lua sempre nos
prometeu — Drakhar se aproximou e passou o braço por
cima do meu ombro. — A lua sabe das coisas, ela chama
quando é a hora. E você tem cara de que vai ouvir um
chamado.
— Eu? — Kira arregalou os olhos.
Eu assenti, sorrindo enquanto entrelaçava meus
dedos nos dele.
— Amiga, fala a verdade. Vai dizer que nunca teve
vontade de dormir em cima de um lobão gigantesco, que te
esquenta, te alimenta, faz tudo por você e…
Dei uma voltinha, exibindo meu casaco de pele feita
com o couro dos líderes Mordrak.
— Tem um senso de moda apurado?
— É um casaco chique, preciso admitir.
Drakhar riu e apertou minha mão.
— Talvez um dia você encontre um Karagan obcecado
por você e que mova céus e terra pelo seu bel prazer. Mas
sabe qual é a melhor parte?
— Qual, Bri?
— Quando você corre com os lobos, aí é que a gente
se sente em casa.
O
EPÍLOGO
Alguns meses depois
BRIANNA FOSTER
SOL da manhã invadia suavemente o quarto, seus raios
acariciando minha pele enquanto eu me mexia
preguiçosamente na cama.
E, claro, havia outra coisa que me trazia um conforto
ainda maior — ou, neste caso, alguém.
Meus dedos deslizaram instintivamente sobre minha
barriga, que agora estava arredondada, sinal claro da vida
que crescia dentro de mim. Uma nova vida. Nossos filhos.
Era quase surreal pensar que estava grávida, que Drakhar e
eu estávamos prestes a nos tornar pais. A sensação era ao
mesmo tempo avassaladora e reconfortante, uma mistura
de ansiedade e expectativa, mas acima de tudo, havia uma
alegria que tomava conta de mim sempre que pensava nos
nossos pequenos.
— Bom dia, minha lua — Drakhar disse com sua voz
rouca em meu ouvido.
Ele estava ali, deitado ao meu lado, os olhos
prateados brilhando com uma mistura de carinho e
adoração. Seus dedos já haviam se movido para acariciar
minha barriga, algo que ele fazia constantemente, como se
estivesse se conectando com nossos bebês a cada toque.
— Bom dia — respondi, minha voz suave enquanto me
inclinava para dar um beijo rápido em seus lábios.
Drakhar retribuiu o beijo, mas logo sua mão estava de
volta à minha barriga, um sorriso se espalhando por seu
rosto enquanto ele sentia o leve movimento de um dos
nossos filhotes.
— Eles estão agitados hoje — ele comentou, os olhos
fixos em minha barriga como se estivesse encantado com
cada pequeno chute ou movimento que pudesse sentir.
— Sim, parece que estão competindo para ver quem
consegue se mexer mais — brinquei, rindo levemente. —
Acho que herdaram a energia do pai.
Ele riu, o som profundo reverberando em seu peito
enquanto ele se inclinava para beijar minha barriga.
— Bem, eles terão que ser fortes como o pai e
espertos como a mãe — ele disse, a voz baixa e cheia de
carinho. — Mas espero que puxem o seu coração. Eles não
poderiam ter um exemplo melhor de força e amor.
Minhas bochechas coraram com o elogio, e eu me
senti tomada por um calor que vinha não só de suas
palavras, mas de tudo o que Drakhar significava para mim.
Ele não era apenas o Alfa Supremo, o líder da nossa
alcateia.
Ele era o homem que havia se entregado a mim por
completo, que me amava e que me mostrava todos os dias
o quão profundo nosso vínculo era. E agora, estávamos
prestes a criar uma família juntos.
— Você tem sido tão incrível, Brianna — Drakhar
continuou, seus olhos sérios enquanto acariciava meu rosto.
— Sei que as coisas não foram fáceis no começo, mas… ver
você abraçando tudo, seu poder, meu coração, nossa
Alcateia… me faz te amar ainda mais a cada dia.
— Você também, Drakhar — murmurei, sentindo a
emoção crescendo dentro de mim. — Eu não seria nada
disso sem você ao meu lado.
Ele se inclinou e me deu um beijo suave, seus lábios
quentes contra os meus ainda me despertavam desejos e
vontades indescritíveis, e eu suspirei, relaxando
completamente em seus braços.
O amor que sentíamos um pelo outro estava tão
presente, tão forte, que às vezes era quase esmagador de
tão grande. Era um amor que transcendia qualquer coisa
que eu pudesse ter imaginado.
— Você quer descer e tomar o café da manhã? —
perguntei, sorrindo enquanto ele se afastava levemente.
— Só se você prometer não levantar sozinha — ele
disse, levantando uma sobrancelha em advertência. — Sei
que você é forte, Brianna, mas estamos perto de trazer
nossos filhotes ao mundo, e quero ter certeza de que você
está descansando o suficiente.
Revirei os olhos, mas o sorriso no meu rosto era
inevitável.
Drakhar tinha se tornado ainda mais protetor desde
que descobrimos a gravidez, e embora às vezes fosse um
pouco demais, eu amava o jeito cuidadoso que ele tinha
comigo. Ele estava sempre atento, sempre certificando-se
de que eu estava confortável, bem alimentada e
descansando o máximo possível.
— Tudo bem, vou aceitar sua ajuda — brinquei,
estendendo a mão para ele.
Ele riu e, com a maior delicadeza, me ajudou a sair da
cama, me pegou no colo e me carregou por toda a casa.
Logo estávamos caminhando em direção à cozinha, onde o
aroma de café fresco e pães recém-assados nos envolveu
imediatamente.
Amber tinha vindo nos visitar naquela manhã e estava
preparando o café da manhã para nós.
— Bom dia, futuros papais! — Amber nos
cumprimentou.
— Bom dia — respondi, sentando-me à mesa com a
ajuda de Drakhar. — E o Kaelan?
— Saiu para buscar algumas carnes. Você sabe,
enquanto não aprendo a voar numa vassoura, faz bem ter
um lobo para correr no supermercado para você.
— Eu sei muito bem.
— E como estão os pequenos hoje? — Amber
perguntou, olhando com carinho para a minha barriga.
— Ativos, como sempre — respondi, rindo. — Acho
que estão ansiosos para conhecer o mundo.
Amber riu junto e voltou ao que estava fazendo.
Desde que libertamos sua mãe e trouxemos a paz à
Alcateia, Amber parecia mais feliz e tranquila do que nunca.
Também não precisava mais esconder seu relacionamento
com Kaelan, que era aprovado por Drakhar, então ela se
sentia em família.
A conexão entre nós havia se fortalecido, e ela agora
fazia parte da Alcateia.
Enquanto tomávamos o café da manhã, senti uma
leve pressão em minha barriga, como se um dos bebês
estivesse se mexendo novamente. Mas desta vez, foi
diferente. Era um movimento mais forte, mais insistente.
Drakhar imediatamente percebeu a mudança e se
aproximou, seus olhos prateados brilhando de preocupação.
— O que foi?
— Eles estão se mexendo? — Amber pareceu ansiosa.
— Acho que… estão prontos — murmurei, sentindo o
nervosismo paralisar meu corpo.
O sorriso que se espalhou no rosto de Drakhar e ele
me envolveu em seus braços para me acalmar. Ele olhou
para mim com uma intensidade que só ele tinha, uma
mistura de amor profundo e uma felicidade incontrolável.
— Não se preocupe, eu vou cuidar de você e dos
nossos filhotes. Vou garantir que tudo ocorra bem.
— As contrações… — gemi de dor e vi o chão se
encher de líquido quando minha bolsa estourou. — Chegou
a hora!
— Vou chamar a loba anciã! — Amber saiu correndo
pela casa.
Assenti, sentindo a excitação crescer dentro de mim.
Por mais que houvesse alguma dor, eu não sentia nenhum
medo. Era uma expectativa quase mágica. Nossos filhos
estavam prontos para chegar ao mundo, prontos para
completar a família que estávamos construindo juntos.
Drakhar se abaixou e me pegou em seus braços,
beijou minha barriga mais uma vez, e eu senti a força de
nosso amor nos envolvendo, nos unindo de uma forma que
nada jamais poderia quebrar.
— Eu te levo para a montanha da lua.
— Por favor, meu amor.
A
E assim, ele saiu como um raio pela floresta, me
levando para o local sagrado onde nossas crianças haviam
de nascer e um dia, anos depois naquela mesma montanha,
assumirem seu grande poder para dominarem o mundo.
Três anos depois
LUZ da lua prateada banhou a noite sobre a montanha,
iluminando toda a terra com um brilho sereno. Toda a
Alcateia estava reunida ao redor da clareira diante da
mansão Karagan, performando a batalha final que havia
acontecido na fronteira norte.
Eu estava sentada na varanda da nossa casa, com
meus filhos nos braços, assistindo a cena diante de mim
com um sorriso suave. Dois meninos e uma menina, meus
pequenos milagres.
No decorrer desses três anos, Port Angeles começou a
ter cada vez mais filhotes de lobos e isso mudou o ambiente
por completo, agora as noites na montanha eram cheias de
vida e risos, além de pequenas travessuras.
Após o fim da apresentação, Drakhar pegou suas crias
para se divertirem um pouco.
Os pequenos correram atrás dele, com seus risinhos
contagiantes. Após o batismo da lua que ocorreu quase que
de imediato após o nascimento, os três assumiram formas
humanas que eram uma perfeita mistura entre o meu rosto
e o do pai.
Os meninos, dois alfas, eram muito mais parecidos
com ele. Tinham cabelos escuros, olhos prateados e um
rosto já bem demarcado e viril. Já a menina, tinha puxado a
mim, o rosto mais arredondado, olhos grandes e um jeito
fofo, como uma Ômega deveria ser.
Mas o pai não fazia diferença alguma entre eles. Na
verdade, os meninos até reclamavam de Drakhar não
conseguir esconder que a irmã menor era sua filha favorita,
a quem ele não escondia ser superprotetor e sempre
ameaçar qualquer um que tentasse se aproximar dela.
Esse era Drakhar, um pai maravilhoso, tão amoroso e
cuidadoso quanto feroz e protetor. Ver essa faceta dele, tão
diferente do Alfa imponente que todos temiam, era um
presente que só eu e nossos filhos conhecíamos
verdadeiramente.
— Vocês querem tentar uivar de novo? — Drakhar
perguntou.
Abaixou-se até o nível deles com um sorriso largo nos
lábios.
Os dois meninos, Kieran e Fenrir, assentiram com
empolgação, seus olhinhos vibrando de emoção. Eles
haviam visto os adultos uivando para a lua e queriam
desesperadamente aprender a fazer o mesmo.
Era como se a própria lua estivesse os chamando, e o
desejo de se conectarem com ela já começava a se
manifestar, mesmo sendo tão pequenos.
A pequena Selene, nossa menina Ômega, estava nos
braços do pai, observando tudo com curiosidade. Seus olhos
verdes e brilhantes seguiam cada movimento dos irmãos, e
eu podia sentir que, em breve, ela também tentaria se
juntar à brincadeira.
Ela era uma luz suave, como se a própria lua tivesse
dado um pedaço de si para nós ao presenteá-la com sua
presença.
— Prontos? — Drakhar os incentivou.
Ele ergueu a cabeça para cima e soltou um uivo
profundo, cheio de força e poder. Imediatamente, os dois
meninos tentaram imitá-lo, seus pequenos lábios formando
um som fino e adorável que me fez rir. Eles ainda não
sabiam como uivar de verdade, mas isso não importava. O
que importava era a felicidade que irradiava deles.
Selene, percebendo a diversão, começou a balançar
as perninhas no colo do pai, que a colocou delicadamente
no chão. Ela correu até os irmãos, com um risinho tímido, e
olhou para cima, tentando, como eles, chamar pela lua.
— Não vá machucar suas cordas vocais!
— Deixe-a tentar, Brianna — Drakhar disse, virando-se
para mim com um sorriso carinhoso.
Eu assenti, observando minha pequena Ômega erguer
a cabeça para os céus. Ela fechou os olhinhos, respirou
fundo, e soltou um pequeno som de uivo, bem suave, como
uma música vinda de seu coração.
Kieran e Fenrir riram e a acompanharam, tentando
harmonizar com ela.
Meu coração se encheu de amor ao ver a cena diante
de mim. Drakhar, os meninos, Selene… Era um momento
perfeito, e eu sabia que essa paz era o fruto de tudo o que
havíamos enfrentado juntos. Drakhar olhou para mim por
um instante, e quando nossos olhares se encontraram, eu
soube que tudo tinha valido à pena.
— Não quer uivar para a lua? — ele se aproximou e
segurou em minha mão, me puxou para os seus braços e
me envolveu com eles.
— Eu não preciso, eu sou a própria lua.
— Tão linda, radiante e poderosa? É, certamente é —
beijou o meu pescoço.
Eu sorri, sentindo meu coração bater mais rápido.
Drakhar sempre encontrava uma maneira de me fazer
sentir como se eu fosse a única pessoa no mundo que
importava. Ele não era apenas um Alfa feroz e protetor. Ele
era meu companheiro, meu amor, e agora, o pai zeloso dos
nossos filhotes.
— Quero que eles aproveitem cada fase, mas
confesso que estou ansiosa para vê-los correr junto
conosco, em forma suas formas de lobo.
— Pela forma como estão evoluindo, isso logo vai
acontecer, amor.
Drakhar me apertou em seus braços, me deixando
colada nele. Ele se inclinou e beijou minha testa, seu toque
suave era cheio de amor.
— Nós conseguimos, minha lua — ele murmurou, sua
voz profunda e calma. — Nossos filhos são perfeitos, sentem
o instinto de sua própria natureza e em breve serão eles
que dominarão a Alcateia.
Nesse exato momento, ouvi passos suaves atrás de
mim, e quando me virei, vi minha avó, Mariel, se
aproximando com um sorriso tranquilo no rosto.
Sua presença era sempre calorosa e alegrava os
pequenos. Desde que os bebês nasceram, ela havia se
tornado uma presença constante em nossas vidas, ajudando
a criá-los, cuidando deles quando precisávamos viajar e nos
oferecendo conselhos quando necessário.
— Eles estão crescendo rápido — ela comentou,
observando com carinho os três tentarem uivar.
— Sim, rápido demais — murmurei, sentindo a mesma
mistura de alegria e saudade de quando mal engatinhavam.
Eu sabia que, um dia, Kieran e Fenrir buscariam seu
próprio caminho, porque o instinto alfa era muito aflorado
neles. E Selene… eu esperava que ela fosse minha
princesinha para sempre, mas eu sabia que um dia ela
também sentiria seu destino, por isso o que me cabia era
aproveitar cada momento da inocência deles.
— Minha menina, você se tornou uma grande rainha
em todos os sentidos — minha avó elogiou, cheia de
orgulho. — Não apenas pela paz nessas terras, mas pelo
poder dos Karagan que agora é mais forte do que nunca.
Antes que eu pudesse responder, mais uma voz
familiar chegou ao meu ouvido, e meu coração disparou.
— E eu também estou muito orgulhosa — minha mãe,
vinda de Washington, disse com os olhos cheios de lágrimas
enquanto se aproximava.
Meus olhos se encheram de emoção ao vê-la ali,
finalmente conhecendo os netos.
— Mãe… — sussurrei, levantando-me e indo até ela
para abraçá-la. — Você veio.
— Me desculpe, minha filha, por não ter vindo antes…
eu ainda tinha muito medo de voltar para essas terras, mas
agora… eu sinto que finalmente as coisas estão tranquilas
em Port Angeles — ela respondeu, apertando-me com força.
Ela olhou para os netos com os olhos brilhando de
orgulho e amor. Kieran, Fenrir e Selene correram até ela, e
minha mãe se abaixou para abraçar cada um.
— Estes são meus netos! — ela exclamou,
emocionada.
Os pequenos riram, felizes com a atenção, e eu me
senti completamente realizada. Nossa família estava unida
e algo me dizia que o retorno da minha mãe era uma forma
dela seguir seus instintos e encontrar um bom Alfa para ela.
A Alcateia ainda tinha muitos deles ainda solteiros.
Naquela noite nós assamos carne sob a luz da lua,
cantamos as nossas canções favoritas e depois assistimos
as crianças assanhando marshmallow na fogueira.
Minha mãe não desgrudou de seus netos, e a minha
avó tirou um tempo para matar a saudade da própria filha
e… lhe apresentar seus 10 Ômegas.
Enquanto íamos noite adentro, Drakhar me puxou de
lado e ficamos observando nossos filhos brincarem com os
lobos da alcateia, seus risos ecoando pela montanha. A lua
brilhava sobre nós, mas desta vez, não havia mais medo,
apenas amor e esperança.
Drakhar apertou minha mão, e eu olhei para ele,
meus olhos cheios de amor.
— Vários lobos continuam a chegar… — comentei.
— É, a nossa família não para de crescer — aprovou.
— Desde que você chegou, parece que os planetas se
alinharam. E como várias Ômegas raptadas pelos Mordrak
permaneceram conosco, isso fortaleceu o poder coletivo e
atraiu novos lobos…
— Eu fico feliz pelas crianças — assenti. — Estão
cheios de amiguinhos e sempre saem para se aventurar
pela montanha.
Fiz uma pausa dramática e encarei Drakhar.
— Não há mais perigo algum, não é?
— Não em nossas terras. Nós tomamos conta de tudo
e expandimos nosso poder territorial, Brianna. E agora
temos lobos o suficiente para proteger toda a fronteira, dia
e noite.
— Eu durmo tranquila sabendo que nossos bebês vão
crescer livres e fora do perigo — suspirei.
— Então para comemorar — entrelaçou nossos dedos.
— Devíamos fazer mais.
Minhas bochechas coraram. Mesmo após tantos anos
ele permanecia meu, completamente sedento por mim e a
cada ano, nosso amor só crescia.
— Deveríamos correr para a montanha da lua? —
Perguntei.
Ele me pegou em seus braços e pisou firme na terra,
para pegar impulso. Ele era tão poderoso que era capaz de
atravessar quilômetros numa fração de segundos.
— Não precisa pedir duas vezes.
FIM!
// LIVRO

Destinada ao Alfa +18
Drakhar Karagan Ort é o Alfa de uma alcateia em crise. Sob sua liderança, os lobos de Angeles enfrentam ameaças externas e também a dor de uma divisão que corrói o clã por dentro. O território, antes seguro, se estreita a cada dia diante do avanço dos rivais Mordrak e da traição de lobos que deveriam ser família. Quando lobos jovens se aliam ao inimigo, Drakhar precisa enfrentar o dilema mais antigo de sua linhagem: a ausência de uma Ômega, a única capaz de fortalecer, unir e dar futuro à alcateia.
Empurrado por seu Beta e irmão Draven, ele se vê obrigado a buscar aquela que pode ser sua rainha, mesmo que isso signifique desafiar antigos encantamentos, arriscar tudo por um legado ameaçado e mergulhar em segredos ancestrais. Entre lealdades fragmentadas, batalhas pela sobrevivência e o poder místico da Pedra da Lua, Drakhar descobre que nem força nem tradição bastam para proteger o que ama — apenas o vínculo inquebrável entre um Alfa e sua Ômega pode restaurar o equilíbrio e salvar seu mundo de ser tomado pela escuridão.